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1 Conhecimento e Intenção de Compra de Produtos Transgênicos: O Impacto do Novo Sistema de Rotulagem no Valor Percebido pelo Consumidor Autoria: Roberto Fava Scare, Rodrigo Agustini Orati Resumo Este estudo descritivo quantitativo analisa o possível comportamento dos consumidores brasileiros em relação ao sistema de rotulagem de alimentos transgênicos proposto pela em lei n.10.688 de 2003. Por meio de um símbolo especial de identificação, tal sistema, já é utilizado nos elos iniciais do Sistema Agroindustrial da Soja para facilitar a identificação de sementes de soja geneticamente modificadas. Para tanto, foi medido o relacionamento da intenção de compra de alimentos geneticamente modificado (OGMs) com marcas líderes de mercado e se- guidoras, a confiança em entidades envolvidas com o assunto, e o interesse por OGMs. Por meio de um levantamento via questionário eletrônico disponível na internet, 1.635 par- ticipantes geraram resultados analisados de maneira descritiva e estatística. Os resultados mostraram que a disposição brasileira a consumir OGMs é menor que a de consumir ali- mentos não modificados. Quando apresentada uma marca forte, sua reputação não foi sufi- ciente para neutralizar a disposição negativa a comprar OGMs. Consumidores com alta confi- ança em empresas de biotecnologia, governo e pesquisadores têm mais disposição em consu- mir OGMs. Não encontra-se diferença significativa na intenção de compra entre aqueles com confiança elevada e indiferente-baixa nos cultivadores, consumidores e grupos ativistas. 1. Situação Problema A questão da comercialização de alimentos transgênicos e da informação ao consumidor ganhou importância nos últimos anos, pois ela desperta conflitos entre grupos com interesses diversos. De um lado alguns produtores rurais e indústrias com interesses comerciais na produção e comercialização. De outro, grupos formados por organizações não-governamentais que tentam criar dificuldades e buscam bloquear qualquer ação no sentido de sua liberação. Esse conflito ocorre há quase 10 anos em diversas frentes. Seu primeiro momento se deu quando da proibição do plantio e a comercialização de transgênicos no Brasil em 1998, por conta de uma sentença judicial resultante de uma ação civil do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e do Greenpeace. Desde então, essa discussão tem ocorrido em nos âmbitos do poder Legislativo (principalmente no Senado Federal 1 ), no poder Judiciário 2 , e principalmente na própria Comissão Técnica Nacional de Biossegurança 34 (CTNBio). Por sua vez, desde 2003, produtores de soja, principalmente da região sul do Brasil, passaram a ignorar qualquer decisão, e tem produzido soja transgênica a partir de sementes contrabandeadas da Argentina e do Paraguai. Tal fato e a existência de grandes estoques de soja OGM nas safras consecutivas criaram uma enorme pressão sobre o governo que em 2003, editou as medidas provisórias MPs 113 e 131, convertidas posteriormente nas Leis 10.688 e 10.814. Essas leis resolveram provisoriamente o problema desses agricultores liberando a comercialização daquela safra específica com uma série de limitações. O fato é que anualmente essa liberação vem sendo renovada e as limitações por elas impostas não são cumpridas. Também nesse período foi promulgada a lei n.10.688 de 2003 tratando da sinalização e da informação ao consumidor. Esse aparato institucional regula a questão e garante ao consumidor o direito a informação. Desde 2003, foi definido um símbolo especial a ser utilizado nos produtos que contenham mais de 1% de ingredientes transgênicos em sua composição. Ela especifica a rotulagem a ser usada em pacotes de alimentos e de ingredientes Figura 1: Símbolo de Identificação de OGMs no Brasil

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Conhecimento e Intenção de Compra de Produtos Transgênicos: O Impacto do Novo Sistema de Rotulagem no Valor Percebido pelo Consumidor

Autoria: Roberto Fava Scare, Rodrigo Agustini Orati

Resumo Este estudo descritivo quantitativo analisa o possível comportamento dos consumidores brasileiros em relação ao sistema de rotulagem de alimentos transgênicos proposto pela em lei n.10.688 de 2003. Por meio de um símbolo especial de identificação, tal sistema, já é utilizado nos elos iniciais do Sistema Agroindustrial da Soja para facilitar a identificação de sementes de soja geneticamente modificadas. Para tanto, foi medido o relacionamento da intenção de compra de alimentos geneticamente modificado (OGMs) com marcas líderes de mercado e se-guidoras, a confiança em entidades envolvidas com o assunto, e o interesse por OGMs. Por meio de um levantamento via questionário eletrônico disponível na internet, 1.635 par-ticipantes geraram resultados analisados de maneira descritiva e estatística. Os resultados mostraram que a disposição brasileira a consumir OGMs é menor que a de consumir ali-mentos não modificados. Quando apresentada uma marca forte, sua reputação não foi sufi-ciente para neutralizar a disposição negativa a comprar OGMs. Consumidores com alta confi-ança em empresas de biotecnologia, governo e pesquisadores têm mais disposição em consu-mir OGMs. Não encontra-se diferença significativa na intenção de compra entre aqueles com confiança elevada e indiferente-baixa nos cultivadores, consumidores e grupos ativistas.

1. Situação Problema

A questão da comercialização de alimentos transgênicos e da informação ao consumidor ganhou importância nos últimos anos, pois ela desperta conflitos entre grupos com interesses diversos. De um lado alguns produtores rurais e indústrias com interesses comerciais na produção e comercialização. De outro, grupos formados por organizações não-governamentais que tentam criar dificuldades e buscam bloquear qualquer ação no sentido de sua liberação. Esse conflito ocorre há quase 10 anos em diversas frentes. Seu primeiro momento se deu quando da proibição do plantio e a comercialização de transgênicos no Brasil em 1998, por conta de uma sentença judicial resultante de uma ação civil do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e do Greenpeace.

Desde então, essa discussão tem ocorrido em nos âmbitos do poder Legislativo (principalmente no Senado Federal1), no poder Judiciário2, e principalmente na própria Comissão Técnica Nacional de Biossegurança34 (CTNBio).

Por sua vez, desde 2003, produtores de soja, principalmente da região sul do Brasil, passaram a ignorar qualquer decisão, e tem produzido soja transgênica a partir de sementes contrabandeadas da Argentina e do Paraguai. Tal fato e a existência de grandes estoques de soja OGM nas safras consecutivas criaram uma enorme pressão sobre o governo que em 2003, editou as medidas provisórias MPs 113 e 131, convertidas posteriormente nas Leis 10.688 e 10.814. Essas leis resolveram provisoriamente o problema desses agricultores liberando a comercialização daquela safra específica com uma série de limitações. O fato é que anualmente essa liberação vem sendo renovada e as limitações por elas impostas não são cumpridas.

Também nesse período foi promulgada a lei n.10.688 de 2003 tratando da sinalização e da informação ao consumidor. Esse aparato institucional regula a questão e garante ao consumidor o direito a informação. Desde 2003, foi definido um símbolo especial a ser utilizado nos produtos que contenham mais de 1% de ingredientes transgênicos em sua composição. Ela especifica a rotulagem a ser usada em pacotes de alimentos e de ingredientes

Figura 1: Símbolo de Identificação de OGMs

no Brasil

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destinados ao consumo humano ou animal, que contenham alimentos transgênicos ou são produzidos de ingredientes geneticamente modificados conforme demonstra a figura 1.

Entre proibições que não se concretizam, liberações constantemente postergadas, discussões com forte apelo ideológico está o consumidor final. O consumidor é um elo fundamental nesse sistema agroindustrial que está sendo deixado de lado nas discussões. O fato é que ele efetivamente consome, nos dias de hoje, produtos elaborados a partir de organismos geneticamente modificados sem que seja informado, e principalmente sem que tenha poder de decisão sobre consumir ou não esse tipo de produto.

E esse é o problema de pesquisa abordado nesse trabalho. Busca-se antever o comportamento desse consumidor quando o sistema especial de rotulagem for implantado, como isso pode influir na opção entre diferentes marcas ofertadas e como sua intenção de compra muda conforme seu grau de confiança nos diversos grupos envolvidos com a questão.

2. Objetivos

Enquanto a rotulagem de alimento transgênico não chega ao supermercado, esse estudo tem como objetivo principal:

Identificar modificações nas intenções de compra de consumidores de produtos possivelmente produzidos com Organismos Geneticamente Modificados e sinalizados como tal pelo símbolo especial determinado em lei.

Além disso, alguns objetivos secundários foram desenvolvidos após pesquisas na literatura existente relacionada à aceitação e à intenção de consumir alimentos geneticamente modificados. Desta forma, foram testadas variações no grau de intenção de compra considerando as seguintes variáveis:

Diferenças de intenção entre marcas líderes contra marcas comuns, sinalizadas e não sinalizadas;

Diferenças de intenção de compra conforme confiança nas instituições, empresas e grupos do governo, cultivadores, consumidores e em grupos ativistas ambientais;

Diferenças de intenção de compra conforme envolvimento e interesse em alimentos transgênicos.

3. Procedimentos Metodológicos

Para Malhotra (2001), uma pesquisa é a identificação, coleta, análise e disseminação de informações de forma sistemática e objetiva. Este estudo foi composto por pesquisas seqüenciais e complementares. Na primeira etapa realizou-se uma pesquisa exploratória visando o entendimento do problema a partir de fontes secundárias, principalmente bases bibliográficas, pesquisas e estudos efetuados sobre o assunto, além de fontes estatísticas. Na segunda fase do estudo, foi elaborado um levantamento de campo utilizando a abordagem descritiva quantitativa.

A partir da revisão bibliográfica, e tendo em mente os objetivos do trabalho, foram identificados fatores relevantes para a criação de um questionário eletrônico (em um website) com o objetivo de avaliar a atitude dos consumidores em relação aos alimentos transgênicos e a utilização do símbolo especial, o qual, deve ser ressaltado, não existe outros países.

A segunda fase do trabalho fez então uso de métodos quantitativos, com algumas características do tipo de pesquisa descritiva, por meio do método de Survey. Para Malhotra (2001), “o método de Survey para a obtenção de informações se baseia no interrogatório dos participantes, aos quais se fazem várias perguntas sobre seu comportamento, intenções, atitudes, percepção, motivações, e características demográficas e de estilo de vida”.

Desta forma, este foi o método escolhido para avaliar as atitudes e o perfil dos respondentes e avaliar a intenção de compra dos consumidores expostos aos alimentos transgênicos rotulados.

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Os entrevistados foram convidados a participar por meio de um correio eletrônico que os direcionava para a página da internet onde um questionário de auto-preenchimento estava disponível. Para os convites utilizou-se diversos banco de dados com emails de pessoas ligadas ao Agronegócio em âmbito nacional. Como estímulo para obter um número elevado de participantes e melhorar o envolvimento e a qualidade da resposta alguns prêmios foram oferecidos aos respondentes que chegassem ao final do questionário. Deve-se ressaltar entre as limitações existentes o fato de que somente pessoas que possuíam acesso a computador e internet puderam participar deste projeto.

Apesar de suas limitações, principalmente por ser uma forma de amostragem intencional, o instrumento de coleta eletrônica de dados via website se mostrou muito eficiente, pois permitiu o alcance de uma amostra bruta de 1983 respondentes.

No questionário foram incluídos mecanismos de filtragem para eliminar possíveis duplicações e fraudes nas respostas. Esse mecanismo de bloqueio, por exemplo, obrigava os respondentes a assinalarem todas as questões, diminuindo, portanto as chances de ocorrência de questões sem respostas. Além disso, foram introduzidas duas questões de checagem dos estímulos apresentados (imagens dos produtos com marca e atributo) aos participantes para garantia de que os participantes tinham entendido o estímulo e também para detectar os respondentes que assinalavam as respostas de forma aleatória, apenas visando à participação do sorteio do prêmio. Por meio da checagem e eliminação dos participantes que não responderam corretamente ao estímulo, foi obtida a amostra final de 1635 participantes, sendo essa a base formal de análise.

Estes dois mecanismos permitiram uma melhoria significativa na confiabilidade da amostra. Além disso, esta quantidade final da amostra pode ser considerada bem superior à alcançada pelos estudos tradicionais que geralmente se utilizam de coleta de dados por questionários de papéis.

Assim, para medir as intenções de compra de produtos transgênicos, decidiu-se testar um produto que é feito principalmente de soja e muito popular. Para esta tarefa, a margarina (tipo de manteiga feito de óleos vegetais) foi escolhida.

Enquanto muitas pesquisas têm sido conduzidas para avaliar a influência de benefícios adicionais no comportamento de consumidor (preço baixo, saúde, ambiental, aumentado da vida útil), esse estudo tenta uma abordagem diferenciada porque pretende verificar a influência das marcas na aceitação e na vontade de consumir OGM.

Duas marcas de margarina usadas foram Doriana5, uma marca muito forte e muito conhecida, e Vigor, uma marca com menor participação de mercado e índices de lembrança que a anterior. Desta forma, será possível verificar se alguma daquelas marcas (marca líder de mercado e marca comum) pode atenuar a intenção negativa de consumir OGM.

Figura 2: Imagens de Margarina Expostas Aleatoriamente à Amostra

1 - Transgênica com marca líder/forte 2 – Não Transgênica com marca líder/forte

3 - Transgênica com marca comum/regular 4 – Não Transgênica com marca comum

Fonte: Elaborado pelos Autores

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Na primeira parte do exame eletrônico, cada participante foi exposto aleatoriamente a apenas uma de quatro imagens das margarinas (Figura 2): transgênica com marca líder/forte, não transgênica com marca líder/forte, transgênica com marca comum/regular e não transgênica com marca comum/regular.

Após essa etapa, foi solicitado aos participantes indicarem suas intenções/vontades de comprar o produto por meio de algumas perguntas. Outros fatores como a falta da confiança nos mecanismos de regulamentação e preocupações social, ambiental e ética têm conduzido a recusa de OGM em outros países (Tsay, 2004). Por causa da importância dessas variáveis, algumas perguntas foram desenvolvidas para avaliar o relacionamento delas com a intenção de consumir OGM. Também foram adicionadas para avaliar o conhecimento real e percebido sobre OGM e biotecnologia, mais especificamente detalhado em outro estudo.

Desta forma, este foi o método escolhido para avaliar as atitudes e o perfil dos respondentes e avaliar a intenção de compra dos consumidores expostos aos alimentos transgênicos rotulados.

4. Abordagem Teórica Uma importante característica do agronegócio é o fato de envolver produtos com alto grau de assimetria informacional. Em geral, o consumidor tem pouca ou nenhuma informação a respeito dos atributos de qualidade do produto e questões do tipo: como foi o processo de produção, se foi elaborado a partir de produtos transgênicos, que insumos químicos foram utilizados, quais conteúdos nutricional não são facilmente identificados pelo consumidor (ZYLBERSZTAJN, 2003). Devido a isso, alguns participantes do Sistema Agroindustrial podem atuar de forma oportunista sempre que detiverem informações privilegiadas.

O conceito de Sistema Agroindustrial adotado neste trabalho considera o papel institucional (das leis, das regras do jogo) e das organizações como partes do funcionamento do sistema como um todo e não somente as relações de insumo produto da cadeia produtiva onde se focaliza as relações verticais de agregação de valor. Desta forma, foi de fundamental importância entender como os grupos de interesse se organizam e se manifestam na questão da rotulagem de produtos transgênicos no Brasil, de forma a interferir nas regras estabelecidas pela legislação em vigor, para então identificar a intenção de compra do consumidor para produtos sinalizados como transgênicos. Nesse sentido, o processo de rotulagem de alimentos transgênicos deve ser visto sob a ótica de uma regulação do processo de sinalização de atributos ao consumidor e de certa forma, como um processo de certificação. Conforme cita Nassar (2003), a “certificação é a definição de atributos de um produto, processo ou serviço e a garantia de que eles se enquadram em normas pré-definidas”. Ela é um instrumento de coordenação vertical das cadeias produtivas e procura garantir a qualidade dos seus produtos segundo determinadas necessidades e desejos específicos dos consumidores, que são foco deste estudo. Segundo o autor, a certificação pode ser vista de duas formas. Do lado da oferta oferece procedimentos e padrões, permitindo às empresas gerenciar a qualidade de seus produtos e garantir um conjunto de atributos. Do lado da demanda, a certificação visa informar o consumidor que aquele determinado produto tem certos atributos por ele procurados, ou rejeitados como o caso em estudo, servindo como mecanismo de redução de assimetrias informacionais. Assim, Jank (2003) analisa o crescimento do debate sobre os riscos associados à produção e ao consumo de organismos geneticamente modificados no mundo e cita que duas linhas principais de características podem ser colocadas:

a) os ganhos de eficiência, pelo aumento de produtividade e redução dos custos de produção e;

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b) a melhoria da funcionalidade do alimento, ao dotar as commodities de atributos específicos de interesse dos consumidores ou das indústrias alimentar (humana e animal) e farmacêutica. O autor coloca como aspecto central nesse tema a questão da rotulagem dos alimentos,

pois é direito do consumidor ser informado sobre todas as características intrínsecas dos produtos que está consumindo. Para ele é difícil “rastrear” a origem de grandes volumes de commodities, fato agravado pela deficiência nos sistemas de classificação e armazenagem de grãos do país.

Cabe ainda citar que os sistemas de rastreabilidade em geral são voltados para identificação de atributos que agreguem valor ao produto, como no caso dos produtos orgânicos, de origem controlada, ou mesmo dos livres de transgênicos. Fato esse que é contrário ao exposto na legislação proposta onde o sistema de sinalização está baseado na identificação de um atributo negativo, de rejeição ou de diminuição do valor do produto como será percebido ao final do trabalho. Esta definição cria uma situação onde os custos de monitoramento do sistema serão arcados por aqueles que perdem valor ao adicionar a informação ao produto. Desta forma, passamos agora a entender aspectos teóricos relacionados com a intenção de compra de produtos transgênicos.

Estudos sobre atitudes frente a alimentos transgênicos com consumidores brasileiros são quase inexistentes. Em 2002, a pedido de organizações não governamentais que integram a campanha “Por Um Brasil Livre de Transgênicos”, o IBOPE (2002) realizou uma pesquisa pública de opinião onde foi constatada uma alta taxa de desconhecimento dos brasileiros sobre o assunto (apenas 37% já tinham ouvido falar sobre o assunto) e também uma alta taxa de rejeição aos transgênicos (71% alegaram que se pudessem escolher, prefeririam consumir alimentos que não contivessem OGMs). Outro destaque sobre a rejeição mostra que, dentre os que afirmaram conhecer os transgênicos, 65% acha que o plantio dessas espécies deveria ser proibido porque há divergências na comunidade científica quanto aos riscos que os OGMs representam para a saúde dos consumidores e para o meio ambiente.

Partindo do pressuposto de que as atitudes dos consumidores brasileiros em relação aos alimentos transgênicos são em geral negativas, Matos (2004) realizou dois experimentos visando descobrir se essas atitudes poderiam ser atenuadas diante de benefícios adicionais. Para isso, manipulou os fatores modificação (presente x ausente) e benefícios adicionais do produto (nenhum, saúde, preço inferior e maior validade) no produto leite. Os resultados indicaram que:

• a presença de modificação genética no produto gerou avaliações desfavoráveis da imagem e das intenções em relação ao mesmo;

• os benefícios adicionais testados não alteraram a percepção negativa, atuando, no caso do benefício de preço inferior, no sentido contrário;

• consumidores mais envolvidos com OGMs apresentam imagem e intenções comportamentais mais favoráveis;

• as variáveis demográficas como sexo, idade e escolaridade influenciam nas atitudes dos consumidores. Como mostrado em estudos precedentes, a aceitação dos consumidores de OGM foi

negativa na maior parte dos países. De acordo com Bredahl et al.(1998) atitudes negativas para OGM podem ser atenuadas pela presença de um benefício adicional. Onyango e et al. (2004) afirmam que embora a modificação genética seja vista de uma maneira negativa, as pessoas são mais dispostas a consumir quando os benefícios à saúde, ao ambiente e os métodos de cultivo são apresentados.

Os outros estudos internacionais encontrados em geral abordam os conceitos de riscos e benefícios percebidos, as atitudes, e o grau de confiança e de conhecimento dos

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consumidores frente aos transgênicos, os relacionam com o grau de aceitação e intenção de compra. A seguir serão explicitados os estudos mais importantes.

Um dos pontos-chave de muitos estudos sobre atitudes de consumidores frente a alimentos transgênicos é a relação dos riscos e benefícios percebidos. A importância desta relação é retratada por Onyango et al. (2004) afirmando que a situação das atitudes da população frente aos transgênicos é mais bem descrita como uma permanente tensão entre otimismo sobre os benefícios e medo com relação aos riscos imprevistos da sua aplicação. Por meio de abordagem conceitual do modelo aleatório de utilidade discreta de preferência, analisa-se as preferências dos consumidores sobre os atributos dos alimentos banana (alimento fresco de base vegetal), cereal matinal (alimento industrializado de base vegetal) e carne bovina (alimento de base animal). Neste modelo, a utilidade dos consumidores é derivada dos atributos incorporados nos produtos comprados. No contexto do estudo, estes atributos são: se o produto é geneticamente modificado, se envolve modificação genética de plantas ou animais, se há transferências de genes entre plantas e animais, etc. Os resultados sugeriram que embora a modificação genética seja vista de forma negativa, quando se apresentam os benefícios à saúde, ao meio ambiente e aos métodos de cultivo, obtêm-se um efeito positivo na escolha. Entre os tipos de modificação genética de plantas ou animais, as atitudes foram mais positivas envolvendo plantas.

Um estudo com análise de diversas dimensões sobre riscos e benefícios também é encontrado em Traill et al. (2004). Neste trabalho são identificadas oito dimensões sobre a percepção dos consumidores dos EUA, França e Reino Unido: riscos-benefícios para o agronegócio e produtores, o meio-ambiente, os países em desenvolvimento e saúde própria e da família, além de questões morais e éticas. Também analisa como as atitudes gerais influem na compra de alimentos transgênicos. Entre as principais conclusões, ressalta que:

• a maioria dos consumidores percebe somente um nível médio de risco dos alimentos GM.

• há forte correlação entre atitudes positivas em relação a tecnologias e atitudes positivas em relação aos alimentos transgênicos.

• aqueles que confiam no governo e na indústria alimentícia tendem a considerar os alimentos GM com menos riscos. Enquanto que aqueles que confiam mais em grupos ativistas percebem mais riscos.

• os norte-americanos são mais confiantes no governo, enquanto os europeus confiam mais nos grupos ativistas.

• o nível de educação é positivamente associado com percepção de benefícios, enquanto que questões morais e éticas são associadas negativamente. Traill et al. (2004) ainda ressaltam que escalas para medir os riscos e benefícios de

alimentos geneticamente modificados não foram amplamente testadas e aceitas ainda, requerendo o desenvolvimento e aprimoramento de algumas delas pela literatura.

Ainda sob uma abordagem das relações entre percepção de risco e benefícios dos alimentos transgênicos, Moon e Balasubramanian (2001) realizaram pesquisa survey sobre a opinião dos cidadãos dos EUA e do Reino Unido. O estudo examina as percepções públicas e a disposição a pagar um preço prêmio. Os autores concluíram que os consumidores do Reino Unido são significativamente mais dispostos a pagar um prêmio para evitar alimentos transgênicos do que os norte-americanos. Também estabelece que a percepção de risco exerce um impacto maior na disposição de pagar do que a percepção de benefícios.

Apesar dos argumentos em defesa dos transgênicos, a resistência dos consumidores em geral ainda é alta. Por isso, na tentativa de descobrir meios que contrabalançassem estas atitudes negativas, Renton e Fortin (2002) realizaram um estudo onde testam os efeitos em consumidores de benefício adicional (maior prazo de validade) em pão e leite geneticamente

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modificados. Contrariamente às expectativas iniciais dos autores, o benefício não foi suficiente para neutralizar as atitudes negativas.

Algumas pesquisas de representatividade analisaram as atitudes, a confiança e o grau de conhecimento dos consumidores frente aos transgênicos. Neste sentido, Gaskel et al. (2003) e Hallman et al. (2004) realizaram estudos para avaliar o conhecimento, opinião e interesse respectivamente, dos europeus e norte-americanos frente a alimentos transgênicos.

Gaskell et al. (2003) conduziram diversas pesquisas sobre a opinião dos europeus sobre biotecnologia (1991, 1993, 1996, 1999 e 2002). Os resultados da edição de 2002 mostram que a maioria dos europeus considera os alimentos transgênicos sem utilidade e arriscados para a sociedade. No período 1996-1999 houve diminuição do apoio e aumento da rejeição aos alimentos e cultivos transgênicos. Contudo, no período 1999-2002 houve pouca modificação nas atitudes como um todo dos europeus sobre alimentos e cultivos transgênicos e há uma aparente estabilidade. Sobre a intenção de compra, quando aos respondentes eram apresentados benefícios (como menos resíduos de pesticidas, menos danos ao meio-ambiente, sabor melhorado, menos gordura, mais barato), a maioria dos respondentes se mostrou contra a compra ou consumo destes alimentos. De forma interessante, “preço mais baixo” se mostrou o benefício com o menor incentivo à compra de alimentos transgênicos. Das 14 dimensões avaliadas na pesquisa, “valores materiais”, “otimismo sobre biotecnologia”, “confiança em agentes envolvidos em biotecnologia” e “envolvimento com o assunto biotecnologia” se revelaram consistentemente associadas com o apoio às aplicações da biotecnologia, consideradas simultaneamente no modelo.

Hallman et al. (2004) sugerem que a população norte-americana em geral tem pouco conhecimento sobre os alimentos transgênicos e as leis de segurança alimentar e rotulagem, embora conheçam bem as agências responsáveis por fiscalizar e controlar os alimentos. Entre os norte-americanos que conhecem um pouco sobre o assunto, percebeu-se grande incerteza e dificuldade em ter uma opinião concreta e definida sobre o assunto. Em uma parte do estudo, os autores fizeram um “quiz” (teste) sobre conhecimento básico de biotecnologia similar ao aplicado por Gaskell et al. (2003). Como esperado pelos autores, os participantes que não obtiveram um número adequado de respostas corretas neste teste foram os que tiveram mais dificuldade em expressar uma opinião favorável/desfavorável aos alimentos transgênicos.

Com o objetivo de avaliar a disposição dos consumidores em comprar alimentos transgênicos que não contenham qualquer benefício adicional, Hossain et al. (2002) realizaram um estudo com uso de modelo logístico envolvendo as dimensões de características sócio-econômicas e valores pessoais de cidadãos norte-americanos. Os resultados indicam que consumidores mais jovens, com conhecimento sobre biotecnologia, com grau de educação alto são geralmente mais dispostos a comprar alimentos transgênicos. Da mesma forma, indivíduos com confiança nos cientistas e no governo são mais dispostos a comprar alimentos GM. Por outro lado consumidores céticos sobre empresas de biotecnologia e com fortes crenças religiosas são menos prováveis a aceitar esses tipos de alimentos.

Por meio de um levantamento teórico de alguns estudos, Curtis et al. (2004) afirmam que aceitação de consumidores aos alimentos transgênicos em países em desenvolvimento, com exceção aos EUA, é maior que nos países em desenvolvimento e se origina da urgente necessidade em termos de disponibilidade e conteúdo nutricional dos alimentos. Também argumenta que os níveis mais baixos de riscos percebidos pelos consumidores de países em desenvolvimento podem ser devido à confiança nos governos, às percepções positivas da ciência e à influência positiva da mídia.

Em um estudo com uso de análise de preferência de cerveja com consumidores australianos, Burton e Pearse (2002) manipularam os fatores cevada (sem modificação e com genética para menores custos de produção), levedura (sem modificação genética, com modificação genética para menor custo de produção e com modificação genética para

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melhoria nutricional) e preço (diferentes faixas). Concluíram que os consumidores foram aversos à cerveja com modificação genética para menores custos de produção, mas se mostraram dispostos a pagar um preço adicional por uma cerveja geneticamente modificada para possuir melhorias nutricionais.

Sob o enfoque do consumo de alimentos orgânicos e de consumidores que lêem os rótulos dos alimentos Onyango et al. (2004) obtiveram conclusões interessantes. Nesse estudo foi analisada a disposição de norte-americanos a consumir três tipos de carnes: carne de animais alimentados com ração transgênica, carne de animais geneticamente modificados para produzirem menos gordura e colesterol, carne de animais geneticamente modificados para prevenir intoxicação alimentar. Os resultados do trabalho indicaram que consumidores que compram alimentos orgânicos regularmente e também lêem os rótulos dos alimentos com freqüência possuem menos probabilidade de consumir alimentos transgênicos.

Uma abordagem diferenciada de análise das atitudes frente a alimentos transgênicos foi realizada por Baker e Mazzocco (2005) entre consumidores norte-americanos. Além das dimensões tradicionalmente usadas para se avaliar as atitudes, neste estudo os autores, Por meio de análise conjunta, analisam o efeito de uma marca familiar e de uma certificação governamental para certificar a segurança dos alimentos transgênicos e neutralizar a resistência aos alimentos geneticamente modificados. Concluem que as duas formas são capazes de contrabalançar a percepção negativa dos alimentos transgênicos e atestar segurança para os consumidores, contudo a certificação por um órgão governamental foi mais efetiva que uma marca familiar, sendo, respectivamente, a escolha de 54% e 36% dos norte-americanos. 5. Resultados 5.1. Perfil da Amostra

Analisando o perfil sócio-demográfico dos respondentes, a maior categoria foi “21 a 30 anos” representando 47,5%. Também pode se concluir que 83,7% dos participantes tinham pelo menos 21 anos. A participação do sexo masculino foi ligeiramente superior com 56,6%, enquanto o sexo feminino foi representado por 43,4%.

Em relação ao grau de educação, percebeu-se um elevado grau de instrução dos participantes, sendo que a categoria “universitário completo” foi a mais representativa com 41,6%. A renda familiar dos participantes da amostra também se mostrou relativamente elevada, com 30% dos participantes na categoria “R$ 2.501,00 a R$ 5.000,00”. Se considerarmos que todos os participantes com pelo menos R$ 2.501,00, atinge-se o valor de 76,5% com renda familiar acima deste valor. Entre os que contribuem para a renda familiar, a categoria mais expressiva foi “duas pessoas” com 49,42% do total. Considerando-se os participantes na faixa entre uma e duas pessoas que contribuem para a renda familiar, atingi-se o valor de com 81,41% do total.

A categoria mais expressiva na quantidade de indivíduos sustentados pela renda familiar foi “quatro pessoas” com 30%. Pode-se dizer que 69,2% do total possuem pelo menos três pessoas sustentadas com a renda familiar. Sobre a situação civil, 57,6% dos participantes são solteiros e 36,8% são casados. Quanto ao estado de origem, houve participantes de quase todos os estados brasileiros, atingindo 24 estados no total. Contudo, a participação mais expressiva foi de respondentes de São Paulo (66,8%) Minas Gerais (9,2%), Rio Grande do Sul (5,1%) Paraná (3,7%) e Rio de Janeiro (2,4%).

5.2. Conhecimento e Interesse sobre Biotecnologia

A amostra obtida mostrou que parte expressiva dos respondentes, equivalente a 93,1%, já sabiam previamente do que se tratava transgenia (modificação genética). Ao serem perguntados sobre quanto já ouviram, leram ou assistiram sobre alimentos transgênicos

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(geneticamente modificados), 35,8% assinalaram a categoria “suficiente”, seguida pela categoria “nem muito, nem pouco” com 24,7%. Apenas 21,1% afirmaram ter ouvido, lido ou assistido “pouco” ou “nada” sobre transgênicos.

Os resultados da questão que tratou sobre a “freqüência com que os participantes têm discutido sobre alimentos transgênicos” é muito importante, pois pode ser usada como um instrumento de medida do envolvimento e interesse dos respondentes ao tema. Como identificado anteriormente na literatura sobre atitudes e intenções, o grau de envolvimento é um importante influenciador do comportamento. Neste quesito, as categorias com maior número de respostas foram “raramente”, representando 37,6%, seguida por 33,5% da categoria “às vezes”. Participantes que demonstraram alto envolvimento (interesse) pelo tema atingiram 17,7% (13,3% representados pela categoria “frequentemente” e 4,4% pela categoria “sempre”).

A crença de que já existem alimentos contendo ingredientes transgênicos à venda nos supermercados foi assinalada pela grande maioria (91,3%) dos respondentes. Os participantes que “não sabem” representaram 7,5%, enquanto que 1,2% acreditam que não existem alimentos deste tipo à venda em supermercados.

A maioria dos participantes acredita que já tenham comido alimentos que contenham ingredientes transgênicos (82,6%), enquanto que 3,6% declaram que não acreditam. Os que não souberam responder representaram 13,8%.

5.3. Intenção de Compra e o Poder das Marcas

O exame final da amostra continha 1635 participantes. Antes de apresentar os resultados, é importante ressaltar que apesar do número elevado de participantes, este foi um estudo exploratório e a amostra (não probabilística) não foi representativa de toda a população brasileira. Conseqüentemente, os resultados são indicativos e, portanto não conclusivos. As análises estatísticas foram feitas usando ANOVA.

Para avaliar se a hipótese da modificação genética (transgenia) resultaria em uma intenção de compra desfavorável, compararam-se os grupos de produto transgênico com os grupos de produto não transgênico por meio da técnica de análise de variância univariada. A tabela a seguir mostra os resultados do teste de homogeneidade de variâncias, um dos pressupostos para uso desta ferramenta. O teste indica que o pré-requisito de variâncias iguais é verdadeiro sob um nível de significância de 5%.

Tabela 1: Teste de homogeneidade de variâncias (transgênico e não transgênico)

Test of Homogeneity of Variances

Intenção global de compra

2,264 1 1633 ,133

LeveneStatistic df1 df2 Sig.

Fonte: Elaborado pelos Autores

Por meio do cálculo da análise univariada de variância (tabela 2), percebe-se que a

média da variável intenção de compra é significativamente diferente entre os grupos, considerando um nível de significância de 5%.

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Tabela 2: Análise univariada de variância (transgênico e não transgênico) Intenção global de compra

65,592 1 65,592 6,113 ,01417521,150 1633 10,72917586,743 1634

Between GroupsWithin GroupsTotal

Sum ofSquares df Mean Square F Sig.

Fonte: Elaborado pelos Autores

Através do gráfico a seguir, pode-se inferir que a intenção de compra dos consumidores expostos aos produtos não transgênicos é maior que dos consumidores expostos aos produtos transgênicos. Portanto, a presença da transgenia resulta em uma intenção de compra desfavorável.

Gráfico 1: Média de intenção global de compra (transgênico e não transgênico)

Fonte: Elaborado pelos Autores

Para avaliar se a hipótese da presença de uma marca líder/forte em um produto com

modificação genética (transgênica) atenuaria as atitudes negativas e as intenções de compra desfavoráveis, compararam-se o produto transgênico de marca comum (sem “benefício” e sem “reputação” de ser uma marca líder/forte) com o produto transgênico de marca líder/forte por meio da técnica de análise de variância univariada.

A tabela 3 a seguir mostra os resultados do teste de homogeneidade de variâncias, um dos pressupostos para uso desta ferramenta. O teste indica que o pré-requisito de variâncias iguais é verdadeiro sob um nível de significância de 5%.

Tabela 3: Teste de homogeneidade de variâncias (marca líder/forte transgênica x

marca não líder/comum transgênica) Intenção global de compra

1,157 1 888 ,282

LeveneStatistic df1 df2 Sig.

Fonte: Elaborado pelos Autores

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Por meio do cálculo da análise univariada de variância (abaixo), percebe-se que a média da variável intenção de compra entre as variáveis independentes “marca líder/forte transgênica” e “marca não líder/comum transgênica” não é significativamente diferente (Sig=0,133%), considerando um nível de significância de 5%. Portanto, pode-se concluir que em um produto transgênico o “benefício” e a reputação de uma marca líder/forte não foram suficientes para causar diferença nas intenções de compra, quando comparado a um produto transgênico de marca comum/não líder.

Tabela 4: Análise univariada de variância (marca líder/forte transgênica x marca não

líder/comum transgênica) Intenção global de compra

25,105 1 25,105 2,264 ,1339845,205 888 11,0879870,310 889

Between GroupsWithin GroupsTotal

Sum ofSquares df Mean Square F Sig.

Fonte: Elaborado pelos Autores

Gráfico 2: Média de intenção global de compra

(marca líder/forte transgênica x marca não líder/comum transgênica)

Fonte: Elaborado pelos Autores

5.4. Intenção de Compra e a Confiança nas Organizações

Para avaliar se a hipótese de que maior confiança em empresas, governo e pesquisadores provocaria uma intenção maior de compra de produtos transgênicos, comparou-se a intenção de compra dos grupos de consumidores que foram expostos aos produtos transgênicos e apresentaram confiança alta, com os grupos de consumidores expostos aos produtos transgênicos que tiveram confiança baixa ou indiferente nesses agentes e instituições.

A tabela 7 a seguir mostra os resultados do teste de homogeneidade de variâncias, um dos pressupostos para uso desta ferramenta. O teste indica que o pré-requisito de variâncias iguais é verdadeiro sob um nível de significância de 5%.

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Tabela 5: Teste de homogeneidade de variâncias (confiança em empresas, governo e pesquisadores)

Intenção global de compra

,388 1 888 ,533

LeveneStatistic df1 df2 Sig.

Fonte: Elaborado pelos Autores

Por meio do cálculo da análise univariada de variância (abaixo), percebe-se que a média da variável intenção de compra entre as variáveis independentes “confiança alta” e “confiança baixa ou indiferente” é significativamente diferente (Sig=0,000%), considerando um nível de significância de 5%. Portanto, pode-se concluir que consumidores com confiança alta em empresas de biotecnologia e alimentos, governo e pesquisadores possuem maior grau de intenção de compra de alimentos transgênicos.

Tabela 6: Análise univariada de variância

(confiança em empresas, governo e pesquisadores) Intenção global de compra

946,006 1 946,006 94,131 ,0008924,304 888 10,0509870,310 889

Between GroupsWithin GroupsTotal

Sum ofSquares df Mean Square F Sig.

Fonte: Elaborado pelos Autores

Gráfico 3: Média de intenção global de compra

(confiança em empresas, governo e pesquisadores)

Fonte: Elaborado pelos Autores

Para avaliar se a hipótese de que consumidores com confiança em produtores rurais,

grupos de defesa dos consumidores e meio ambiente provocaria uma intenção maior de compra de produtos transgênicos, comparou-se a intenção de compra dos grupos de consumidores que foram expostos aos produtos transgênicos e apresentaram confiança alta com os grupos de consumidores expostos aos produtos transgênicos que tiveram confiança baixa ou indiferente nessas entidades e agentes.

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A tabela 7 a seguir mostra os resultados do teste de homogeneidade de variâncias, um dos pressupostos para uso desta ferramenta. O teste indica que o pré-requisito de variâncias iguais é verdadeiro sob um nível de significância de 5%.

Tabela 7: Teste de homogeneidade de variâncias

(confiança em produtores rurais, grupos de defesa dos consumidores e meio ambiente) Test of Homogeneity of Variances

Intenção global de compra

1,356 1 888 ,244

LeveneStatistic df1 df2 Sig.

Fonte: Elaborado pelos Autores

Por meio do cálculo da análise univariada de variância (tabela abaixo), percebe-se que

as médias da variável intenção de compra entre as variáveis independentes “confiança alta” e “confiança baixa ou indiferente” não são significativamente diferentes (Sig=0,638%), considerando um nível de significância de 5%. Portanto, pode-se concluir que não há diferença significativa nas intenções de compra de alimentos transgênicos entre consumidores com confiança alta em produtores, grupos de defesa dos consumidores e meio ambiente, e consumidores com confiança baixa ou indiferente.

Tabela 8: Análise univariada de variância (confiança em produtores rurais, grupos de

defesa dos consumidores e meio ambiente) Intenção global de compra

2,456 1 2,456 ,221 ,6389867,854 888 11,1129870,310 889

Between GroupsWithin GroupsTotal

Sum ofSquares df Mean Square F Sig.

Fonte: Elaborado pelos Autores

Gráfico 4: Média de intenção global de compra

(confiança em produtores rurais, grupos de defesa dos consumidores e meio ambiente)

Fonte: Elaborado pelos Autores

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Para avaliar se a hipótese de que o alto envolvimento com alimentos transgênicos provocaria uma intenção maior de compra de produtos transgênicos, comparou-se a intenção de compra dos grupos de consumidores que foram expostos aos produtos transgênicos e apresentaram alto envolvimento com os grupos de consumidores expostos aos produtos transgênicos que tiveram envolvimento baixo ou indiferente.

A tabela 9 a seguir mostra os resultados do teste de homogeneidade de variâncias, um dos pressupostos para uso desta ferramenta. O teste indica que o pré-requisito de variâncias iguais não é verdadeiro sob um nível de significância de 5%. A violação deste pressuposto indica que os resultados da análise da variância não serão totalmente adequados a esta análise.

Tabela 9: Teste de homogeneidade de variâncias (envolvimento com alimentos

transgênicos) Intenção global de compra

55,274 1 888 ,000

LeveneStatistic df1 df2 Sig.

Fonte: Elaborado pelos Autores

Portanto, não se poderá fazer determinar se há diferença significativa nas intenções de compra de alimentos transgênicos entre consumidores com envolvimento alto com estes tipos de alimentos e consumidores com envolvimento baixo ou indiferente. 6. Conclusões Os resultados mostraram que, da mesma forma como acontecem em outros países, a intenção de consumir alimentos transgênicos é menor que a intenção de consumir alimentos regulares. Tal fato terá grande impacto no processo de agregação de valor do sistema agroindustrial da soja, a partir do momento que a sinalização de alimento transgênico chegar como informação até o consumidor. Quando o poder de uma marca forte de neutralizar a intenção negativa de consumir alimento transgênico é avaliado, os resultados revelam que os benefícios e a reputação de uma marca forte não foram suficientes para mudar as intenções negativas de consumir um alimento transgênico comparado a um alimento transgênico com marca comum/regular. As marcas mais conhecidas serão provavelmente as mais afetadas com a introdução do novo sistema de rotulagem.

Por fim, pode-se fazer uma análise frente ao atual conflito entre grupos interessados no assunto, que defendem as suas posições nos mais diversos fóruns. Para o consumidor brasileiro, quando questionado sobre a sua intenção de compra frente à dimensão confiança nas partes envolvidas, os resultados demonstraram que os consumidores que têm a confiança elevada em empresas alimentícias de biotecnologia, governo e pesquisadores, são mais dispostos a consumir alimento transgênico.

Entretanto, nenhuma diferença significativa nas intenções de compra do alimento transgênico foi encontrada quando uma comparação é feita entre consumidores com confiança elevada nos cultivadores, consumidores e grupos ativistas, e consumidores com confiança baixa ou indiferente naquelas entidades.

Desta forma, esse trabalho atinge seus objetivos demonstrando a importância da sinalização do alimento transgênico no processo de decisão de compra do consumidor. Tais resultados têm o poder de colaborar na discussão sobre a liberação ou não dos produtos geneticamente modificados sob a ótica do consumidor, que em última instância é quem percebe o valor ou não agregado pelos agentes do Sistema Agroindustrial da Soja.

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Roberto F. (organizadores) Gestão da Qualidade no Agribusiness. São Paulo: Atlas 2003. 1 Em 27 de Fevereiro de 2007 o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei 327 que diminui o quórum da CTNBio para aprovações comerciais para a maioria absoluta (contra 2/3 na lei original), ou seja, as decisões se darão com 14 votos dos 27 membros para uma aprovação de segurança de um produto para ser comercializado (como é o caso dos OGMs) ao invés de 18 votos. 2 A Justiça Federal do Piauí tomou em 20 de abril de 2007 uma decisão válida para todo o país, onde determina que o governo federal torne obrigatória a rotulagem de "transgênico" em todos os alimentos que contenham ou sejam produzidos a partir de OGMs (organismos geneticamente modificados), independentemente da quantidade. A decisão deu prazo de 60 dias para que a União passe a exigir a rotulagem. 3 A CTNBio é uma instância colegiada multidisciplinar, criada com a finalidade de prestar apoio técnico consultivo e de assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança relativa a OGM. Sua composição atual é: 3 Especialistas da Área de Saúde Humana; 3 Especialistas da Área Animal; 3 Especialistas da Área Vegetal; 3 Especialistas da Área de Meio Ambiente; 1 Representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; 1 Representante do Ministério da Saúde; 1 Representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário; 1 Representante do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; 1 Representante do Ministério da Defesa; 1 Representante da Secretaria Especial da Aquicultura e Pesca da Presidência da República; 1 Representante do Ministério das Relações Exteriores; 1 Especialista na Área de Saúde; 1 Especialista em Meio Ambiente; 1 Especialista em Biotecnologia; 1 Especialista em Agricultura Familiar e; 1 Especialista em Saúde do Trabalhador. 4 A CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) na reunião mensal de abril de 2007, não aprovou nenhum pedido de liberação comercial de variedades transgênicas ou mesmo de autorização para pesquisas de campo. Na fila há pedidos feitos há nove anos. 5 A marca Doriana é líder do ranking de Lembrança de Marca (Topo of Mind) elaborada pela Folha de São Paulo e o Instituto Datafolha desde 1991. A marca Vigor não está classificada como uma marca de recordação entre os consumidores desse tipo de produto e pode assim ser considerada uma marca comum, indiferenciada.