68
0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS BILÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA TÚLLIO DIAS DA SILVA MAIA CONHECIMENTO ECOLÓGICO TRADICIONAL SOBRE DÍPTEROS HEMATÓFAGOS EM UMA COMUNIDADE DE PESCADORES ARTESANAIS NO POVOADO DE AREIA BRANCA (SERGIPE, BRASIL) São Cristóvão/SE 2013

Conhecimento Ecológico Tradicional

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Conhecimento Ecológico Tradicional

0

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS BILÓGICAS E DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA

TÚLLIO DIAS DA SILVA MAIA

CONHECIMENTO ECOLÓGICO TRADICIONAL SOBRE

DÍPTEROS HEMATÓFAGOS EM UMA COMUNIDADE

DE PESCADORES ARTESANAIS NO POVOADO DE

AREIA BRANCA (SERGIPE, BRASIL)

São Cristóvão/SE

2013

Page 2: Conhecimento Ecológico Tradicional

1

TÚLLIO DIAS DA SILVA MAIA

CONHECIMENTO ECOLÓGICO TRADICIONAL SOBRE

DÍPTEROS HEMATÓFAGOS EM UMA COMUNIDADE

DE PESCADORES ARTESANAIS NO POVOADO DE

AREIA BRANCA (SERGIPE, BRASIL)

Monografia apresentada referente à disciplina

Iniciação à Pesquisa em Biologia II da Universidade

Federal de Sergipe e requisito parcial para obtenção

do título de Bacharel em Ciências Biológicas.

Orientador (a): Profª Dra. Roseli La Corte dos Santos

São Cristóvão/SE

2013

Page 3: Conhecimento Ecológico Tradicional

2

TÚLLIO DIAS DA SILVA MAIA

CONHECIMENTO ECOLÓGICO TRADICIONAL SOBRE

DÍPTEROS HEMATÓFAGOS EM UMA COMUNIDADE DE

PESCADORES ARTESANAIS NO POVOADO DE AREIA

BRANCA (SERGIPE, BRASIL)

Monografia apresentada referente à disciplina

Iniciação à Pesquisa em Biologia II da

Universidade Federal de Sergipe e requisito parcial

para obtenção do título de Bacharel em Ciências

Biológicas.

Monografia apresentada em: _____/______/______

Banca examinadora

_____________________________________________________

Profª Dra. Bianca Giuliano Ambrogi

Universidade Federal de Sergipe (NEC/UFS)

______________________________________________________

B.ela biol. Ingrid Mendes Guimarães

Universidade Federal de Sergipe

_______________________________________________________

Profª. Dra. Roseli La Corte dos Santos

Universidade Federal de Sergipe (DMO/UFS)

Orientadora

Page 4: Conhecimento Ecológico Tradicional

3

Trabalho dedicado aos pescadores e pescadoras do Povoado de Areia Branca.

Page 5: Conhecimento Ecológico Tradicional

4

AGRADECIMENTOS

Gostaria de começar os agradecimentos refletindo sobre a figura mitológica do

Oroboro, representada por uma cobra mordendo a própria cauda. O desenvolvimento

deste trabalho pode ser análogo a essa cauda, marcando um ponto final no meu processo

enquanto graduando, mas ela deve ser saborosamente deglutida para a construção de

uma nova caminhada. Nesse longo ciclo pude contar com algumas pessoas e esta

singela homenagem é insuficiente para expressar o meu sentimento de gratidão.

Agradeço primeiramente à minha base, meus pais: Jeanne e Rosenberg,

essenciais na minha construção enquanto ser humano, cientista e cidadão; aos meus

irmãos Júnior e Tham, por todo o apoio e afeto; às amadas avó e tia, respectivamente:

Marieta e Jack, por todo o carinho; a minha cunhada Ruas pelos momentos de

descontração; aos queridos Brutus e Obina, por seu amor não verbalizado e pela

harmonia que trazem ao lar. Por fim, agradeço a meu irmão Yann, pelo suporte

estrutural e companheirismo, que foram essenciais na construção e no desenvolvimento

deste trabalho.

Agradeço à amiga e orientadora Roseli La Corte, que confiou e me deu total

liberdade para desenvolver o projeto à minha maneira, pela paciência, pelas conversas

construtivas e até pelos “puxões de orelha” sem perder a ternura que lhe é peculiar. Um

obrigado especial também aos professores Sílvio e Luciene, sempre tão atenciosos,

divertidos e solícitos.

Ao Professor Eraldo Costa Neto, sem o qual o meu encontro com o

etnoconhecimento, sobretudo a etnoentomologia, não teria sido possível.

À Equipe LEPaT, lab girls e boys, em especial Gabi, Letícia, Liz, Mércia, Ranna,

Helaina, Jucy, Jurema, Mari, John, Thales e Danilo por tornarem a árdua rotina, no

insetário ou no laboratório, dinâmica e divertida.

À grande mestre e tutora 荒牧マリ ナ , por me apresentar com paciência e

perspicácia à gramática e cultura nipônicas, pelas sugestões sempre acertadas de

músicas e filmes e por me apoiar sempre em minhas escolhas e caminhos.

Às grandes amigas que fiz na biologia: Bené, Camila, Dani, Dryca, Isabela, Ísis,

Jaci, Monalisa e Yule. À ENEBio, nos nomes de Kelvyn, Vivi, Guilherme e David,

dentre tantos outros/as companheiros e companheiras espalhados/as por esse Brasil, por

me apresentar a importância de pensar numa ciência emancipatória e compromissada

com o povo e com a classe trabalhadora.

Page 6: Conhecimento Ecológico Tradicional

5

Ao Coletivo Mão Roxa de diversidade sexual, nos nomes de Emilly, Leo, Iago,

Thay, Rafa e tantxs outrxs roxinhos e roxinhas, por apresentar uma forma mais colorida

de encarar a realidade heteronormativa ainda presente na nossa cultura, sobretudo nas

nossas universidades.

À companheirada do Levante Popular da Juventude, nos nomes de Jessy, Tatá e

Bananinha.

Aos irmãos e irmãs que não compartilham consanguinidade, mas que são minha

família: Aninha, Xinxas, Tito, Palominha, Palomão, Analys, Bidu, Jordas, Thyago,

Rural, Jotapê, Larissa, Iza, Igor, Jess, Olga, Amanda; às boas e recentes surpresas que a

vida me apresentou: Mônica, Artur e Tiago. Sem vocês essa caminhada teria sido um

tanto mais tortuosa.

Ao Posto de Saúde do Povoado de Areia Branca, nos nomes de Rubens e Hélio,

por colaborar ativamente com o trabalho. Por fim, aos pescadores e pescadoras, pelo

carinho e receptividade.

Page 7: Conhecimento Ecológico Tradicional

6

“Não há saber mais, nem saber menos, há saberes diferentes.”

Paulo Freire

Page 8: Conhecimento Ecológico Tradicional

7

RESUMO

Os dípteros hematófagos apresentam importância na saúde pública pelo

incômodo de sua picada ou como vetores de patógenos. A valorização do

conhecimento tradicional em questões epidemiológicas propõe uma nova

epistemologia no combate aos insetos vetores. O objetivo deste trabalho foi

investigar o conhecimento ecológico tradicional local sobre dípteros hematófagos e

de que maneira esses animais foram classificados pela comunidade. O Povoado de

Areia Branca (Sergipe, Brasil) é localizado na Zona de Expansão da cidade de

Aracaju, sendo habitado por comunidades tradicionais de pescadores artesanais. Foi

montada uma caixa entomológica com espécimes de dípteros hematófagos de

ocorrência no povoado. Os animais foram enumerados e separados de acordo com a

taxonomia padrão própria para cada grupo. Foram, então, realizadas entrevistas,

através da aplicação de questionários baseados na metodologia geradora de dados.

As entrevistas foram gravadas e transcritas. Os pescadores entrevistados

demonstraram classificação própria para as diferentes espécies de dípteros

hematófagos da região. Apresentaram também ciência a respeito da ecologia destes

animais, algumas convergentes com o que se tem na literatura científica, outras

divergentes; além de apresentarem medidas profiláticas próprias. Dados

etnoepidemiológicos demonstraram falhas nas campanhas de combate aos vetores e

promoção de saúde. A pretensão deste trabalho foi apresentar uma nova forma de

abordar questões epidemiológicas no controle de insetos vetores sem abrir mão do

rigor científico.

Palavras-chave: Comunidade Tradicional, controle de vetores,

etnoentomologia, etnotaxonomia, etnoecologia, etnoepidemiologia.

Page 9: Conhecimento Ecológico Tradicional

8

ABSTRACT

Hematophagous dipterans are important for public health for the discomfort

caused by their sting or as pathogen’s vectors. The appreciation of traditional

knowledge purposes a new epistemology for the combat against vector insects. The

objective of this study was to investigate the traditional local ecological knowledge

about hematophagous dipterans and how these animals were classified by the

community. Areia Branca village (Sergipe, Brazil) is located on Aracaju city’s

expansion zone and is inhabited by artisanal fishermen’s traditional communities. An

entomological box was built containing specimens of hematophagous dipterans from

the village. The animals were ordered and separated according to the specific taxonomic

classification for each group. Interviews were applied, trough the realization of

questionnaires based on the data generator methodology. The interviews were recorded

and transcribed. The interviewed fishermen showed their own classification for region’s

different hematophagous dipterans species. They also presented appropriation about the

animals’ ecology, some of them converged with available scientific literature, others

diverged; also showed their own way of prophylaxis. Ethnoepidemiologic data showed

fail on local campaign against vectors and for health promotion. This study’s intention

was to show a new way to approach epidemiologic questions on vector insects control

without abandoning scientific rigor.

Keywords: Traditional communities, vectors control, ethnoentomology,

ethnotaxonomy, ethnoecology, ethnoepidemiology.

Page 10: Conhecimento Ecológico Tradicional

9

SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO ............................................................................................ 12

2- REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................... 13

2.1- DÍPTEROS HEMATÓFAGOS ................................................................... 13

2.1.1- Culicidae ................................................................................................... 14

2.1.1.1- Aedes ...................................................................................................... 15

2.1.1.2- Culex ...................................................................................................... 15

2.1.1.3- Mansonia ............................................................................................... 16

2.1.1.4- Anopheles ............................................................................................... 16

2.1.2- Psychodidae .............................................................................................. 17

2.1.3- Ceratopogonidae ....................................................................................... 17

2.1.4- Tabanidae .................................................................................................. 18

2.2- EPIDEMIOLOGIA ...................................................................................... 18

2.2.1- Epidemiologia Ambiental ......................................................................... 19

2.3- CONHECIMENTO ECOLÓGICO TRADICIONAL E POPULAÇÃO

TRADICIONAL ................................................................................................. 20

2.4- ETNOBIOLOGIA, ETNOECOLOGIA E ETNOTAXONOMIA .............. 21

2.5- METODOLOGIA EM ESTUDOS ETNOECOLÓGICOS ......................... 24

2.5.1- Metodologia Geradora de Dados .............................................................. 24

2.5.2- Interpretações ética e êmica ...................................................................... 25

2.6- ETNOEPIDEMIOLOGIA ........................................................................... 26

3- JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 28

4- HIPÓTESE ..................................................................................................... 28

5- OBJETIVOS ................................................................................................... 29

3.1- OBJETIVO GERAL .................................................................................... 29

3.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................... 29

6- MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................... 30

6.1- ÁREA DE ESTUDO E POPULAÇÃO ....................................................... 30

6.2- COLETA DE DADOS ................................................................................ 31

Page 11: Conhecimento Ecológico Tradicional

10

6.2.1- Elaboração do guia ético ........................................................................... 31

6.2.2- Elaboração do guia êmico ......................................................................... 32

6.3- CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ..................................................................... 33

7- RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 34

7.1- ETNOCONHECIMENTO ........................................................................... 34

7.1.1- Etnotaxonomia .......................................................................................... 34

7.1.2- Etnoecologia ............................................................................................. 39

7.1.2.1- Percepção Ambiental ............................................................................. 39

7.1.2.2- Conhecimento ecológico local ............................................................... 40

7.1.3-Etnoepidemiologia ..................................................................................... 45

7.1.3.1- Percepção da comunidade a respeito da competência vetorial .............. 45

7.1.3.2- Medidas profiláticas .............................................................................. 48

7.1.3.3- Perspectiva etnoepidemiológica ............................................................ 49

8- CONCLUSÕES .............................................................................................. 52

9- REFERÊNCIAS ............................................................................................. 53

10- ANEXOS ...................................................................................................... 64

Page 12: Conhecimento Ecológico Tradicional

11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Representação esquemática da Etnoecologia como um campo científico na

interface entre os campos do conhecimento científico e tradicional, em que “a”, “b”, “c”

e “d” representam as diferentes vertentes de cada disciplina ........................................ 23

Figura 2: Ortofotocarta de Aracaju com localização da Zona de Expansão Urbana ..... 31

Figura 3: Caixa entomológica com dípteros hematófagos. 1- Psychodidae, 2-

Ceratopogonidae, 3- Aedes aegypti, 4- Anopheles sp., 5- Mansonia sp., 6- Culex

quinquefasciatus, 7- Tabanidae ..................................................................................... 32

Figura 4: Pluviosidade mensal e números de Lutzomyia longipalpis machos e fêmeas,

capturados no povoado do Mosqueiro (Sergipe, Brasil) ............................................... 44

Figura 5: Mapa dos casos humanos de leishmaniose visceral em Aracaju (Sergipe,

Brasil) de 2005 a 2010 ................................................................................................... 51

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Fatores ambientais que podem afetar a saúde .............................................. 19

Quadro 2: Diferenças entre a abordagem êmica e ética ................................................ 25

Quadro 3: Equivalências entre as nomenclaturas da etnotaxonomia e taxonomia padrão

baseadas nas identificações visuais de dípteros hematófagos por pescadores artesanais

do Povoado de Areia Branca (Sergipe, Brasil) .............................................................. 35

Quadro 4: Equivalências entre as nomenclaturas da taxonomia padrão e etnotaxonomia

de dípteros hematófagos baseadas nas identificações visuais e dados fornecidos por

entrevistas semi- estruturadas e conversas informais com pescadores artesanais do

Povoado de Areia Branca (Sergipe, Brasil) ................................................................... 36

Page 13: Conhecimento Ecológico Tradicional

12

1. INTRODUÇÃO

Os insetos constituem o maior grupo de animais, sendo conhecidas um milhão

de espécies no mundo e 90.000 no Brasil (RAFAEL et al, 2012). Especula-se que ainda

há milhares de espécies a serem descritas (ERWIN, 1997). Esses animais desempenham

papel ecológico significativo, podendo atuar como polinizadores, herbívoros,

decompositores, predadores, parasitoides, ou como vetores de patógenos.

Como vetores, os insetos desempenham tal função por meio da hematofagia ou

de forma mecânica. O hábito hematofágico é desempenhado pelas fêmeas, com exceção

dos Hemiptera, Siphonaptera e algumas espécies de Diptera, ordens nas quais o hábito é

desempenhado por ambos os sexos (SILVA, 2009).

A ordem Diptera representa uma das maiores ordens de insetos, com cerca de

100 famílias descritas e 85.000 espécies conhecidas (NEVES, 2005). Apresentam

importância médica tanto por serem vetores mecânicos ou hematófagos.

A epidemiologia, ciência amplamente aplicada no combate aos insetos vetores, é

o estudo da distribuição e dos determinantes de estados ou eventos relacionados à saúde

em populações específicas, e sua aplicação na prevenção e controle dos problemas de

saúde (LAST, 2001). Esta ciência usa métodos quantitativos para estudar a ocorrência

de doenças nas populações humanas e para definir estratégias de prevenção e controle

(BONITA, BEAGLEHOLE & KJELLSTRÖM, 2010).

O conhecimento ecológico tradicional (CET) pode ser entendido como “um

corpo cumulativo de conhecimento, práticas e crenças, sobre as relações entre os seres

vivos e o meio ambiente, que evolui e é repassado por gerações pela cultura” (BERKES,

COLDING & FOLKE, 1998). O CET é característico de comunidades tradicionais

(MORAIS, MORAIS & SILVA, 2009), que podem ser entendidas como aquelas que se

reconhecem a um grupo social particular (DIEGUES & ARRUDA, 2001).

A valorização do conhecimento tradicional traz consigo a proposta

epistemológica de que os dados fornecidos pela comunidade estudada tenham

relevância, no sentido de complementar o conhecimento acadêmico, além de poderem

gerar dados mais completos para as questões epidemiológicas e nortearem ações como o

combate aos insetos vetores.

Page 14: Conhecimento Ecológico Tradicional

13

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. DÍPTEROS HEMATÓFAGOS

A ordem Diptera é composta de insetos que, na forma adulta, possuem um par

de asas funcionais e um par de asas vestigiais, os alteres ou balancins. Representa um

dos grupos de insetos mais diversos, tanto ecologicamente quanto em termos de riqueza

de espécies (PINHO, 2008). Além disso, é cosmopolita, tendo colonizado praticamente

todos os habitats e continentes, com exceção da Antártica (MERRITT; COURTNEY;

KEIPER, 2003).

Quanto à classificação, os dípteros são divididos em duas subordens:

Nematocera, caracterizado por espécimes com antenas longas e Brachycera, com

espécimes de antenas curtas (HALL & GERHARDT, 2002). A primeira subordem é

representada pelos insetos conhecidos popularmente como mosquitos (Culicidae e

Psychodidae) e maruins (Ceratopogonidae) e a segunda agrupa as moscas (Muscidae) e

mutucas (Tabanidae).

Dípteros adultos apresentam vida terrestre e não formam colônias. Possuem

hábitos alimentares diferenciados, como: predadores, parasitoides, detritívoros,

fitófagos (FORATINI, 1962), hematófagos (NEVES, 2005) ou visitantes florais

(REICHERT, 2010). Apresentam importância médica tanto por serem vetores

mecânicos (Muscidae) (NEVES, 2005) ou devido à hematofagia (Ceratopogonidae,

Culicidae, Psychodidae, Tabanidae, etc) (SILVA, 2009).

Com relação à hematofagia, apresentam duas posturas básicas: solenofagia e

telmofagia. A solenofagia é caracterizada pela retirada do sangue diretamente pelos

vasos sanguíneos ou sangue extravascular, utilizando-se de uma probóscide longa e

flexível, já a telmofagia é caracterizada pela sucção do alimento sanguíneo através da

dilaceração de pequenos vasos, produzindo micro-hemorragia, pois os insetos que a

praticam possuem probóscide curta (SILVA, 2009).

Pelo menos 12 famílias apresentam hábito hematofágico, dentre elas: Culicidae,

Psychodidae, Ceratopogonidae e Tabanidae (FORATINI, 1962). Apenas a primeira

pratica a solenofagia, sendo os representantes das outras famílias considerados dípteros

telmófagos (SILVA, 2009).

Page 15: Conhecimento Ecológico Tradicional

14

2.1.1. Culicidae

Os culicídeos são os insetos popularmente conhecidos como mosquitos. Eles são

cosmopolitas, não ocorrendo apenas na Antártica, e podem ser encontrados desde

1250m abaixo do nível do mar até 5.500m de altitude (SERVICE, 1993). Os mosquitos

são conhecidos pelo incômodo de sua picada, fato que, dentre outras consequências,

causa impactos no desenvolvimento turístico de áreas costeiras, por inviabilizar

atividades nesses locais (RUEDA, 2007).

A picada é decorrente do hábito hematofágico praticado pelas fêmeas. Essa

família apresenta o maior número de espécies, dentre os artrópodes, que praticam a

hematofagia (NEVES, 2005). Esse hábito atinge não apenas aos seres humanos, mas

também a outros mamíferos, aves, répteis e anfíbios (RUEDA, 2007). Em humanos, as

picadas podem causar reações alérgicas como: pruridos, endemas e eritemas, devido a

enzimas contidas na saliva desses animais (RUTLEDGE & DAY, 2002). Além da

sensação de desconforto decorrente da picada do mosquito, há o risco de transmissão de

patógenos de doenças como: dengue, febre amarela e encefalites (viroses), malária

(protozoose) e elefantíase (helmintose) (NEVES, 2005). Tem sido investigada também

sua capacidade enquanto vetores de bactérias (ALVES, GORAYEB & LOREIRO,

2010).

A dengue, principal arbovirose no Brasil, levou a óbito, só no país,

aproximadamente 1300 pessoas nos últimos 10 anos (BRASIL, 2012). A febre do Nilo

Ocidental apresentou, nos últimos 10 anos, nos EUA, aproximadamente 30.000 casos de

infecções, estimando-se que 4% das vítimas tenham vindo a óbito (CDC, 2011).

Estimam-se em 200.000 casos de febre amarela por ano, com 30.000 mortes, e em

50.000 por ano os casos de encefalite japonesa, com 14.000 mortes (WHO, 2004;

WHO, 2013). Estima-se também que em 2006 tenham ocorrido 247 milhões de casos de

malária, com 881.000 mortes, dos quais 92% em crianças com menos de cinco anos de

idade (WHO, 2008). Quanto às filarioses linfáticas, também conhecidas por elefantíase,

estima-se que haja um total de 120 milhões de casos da doença, com aproximadamente

30% dos infectados desfigurados ou incapacitados devido às consequências dela (WHO,

2013).

Os mosquitos em geral apresentam importância médica, no entanto alguns

gêneros são mais destacados de acordo com a ocorrência nas localidades. Neste

trabalho, serão destacados quatro gêneros: Aedes, Culex, Mansonia e Anopheles.

Page 16: Conhecimento Ecológico Tradicional

15

2.1.1.1. Aedes

O gênero Aedes compreende aproximadamente 900 espécies distribuídas em 44

subgêneros, sendo um dos mais importantes o Stegomyia (CLEMENTS, 1999;

FORATTINI, 1962). As espécies de maior importância médica são Ae. albopictus,

considerado vetor secundário do vírus da dengue no Velho Mundo (FORATTINI,

1986); e Ae. aegypti, principal vetor da dengue e febre amarela urbana nas Américas,

onde a incidência desses arbovírus tem crescido significativamente nos últimos 25 anos

(GUBLER, 2005). Casos de coexistência entre as duas espécies já foram observados

(BARKS et al, 2003; GOMES et al, 2005; FANTINATTI et al, 2007; PROPHIRO et al,

2011).

A. aegypti originou-se na região etiópica, dispersando-se, posteriormente, para

zonas antrópicas, sendo encontrado, atualmente, em regiões tropicais e subtropicais do

globo (FORATTINI, 1962; CLEMENTS, 1992; CONSOLI & LOURENÇO DE

OLIVEIRA, 1994). No Brasil, foi introduzido no período colonial, adaptando-se com

facilidade em áreas tropicais e subtropicais, principalmente, dentro de zonas isotermais

de 20ºC (CONSOLI & LOURENÇO DE OLIVEIRA, 1994). Desde a década de 70,

quando houve uma reinvasão do Ae. aegypti devido à descontinuidade nos programas de

controle (GUBLER, 1998), esta espécie representa um grande problema de saúde

pública no Brasil. É uma espécie antropofílica e urbana, podendo ser encontrada nos

domicílios ou nos peridomicílios.

2.1.1.2. Culex

Culex é também um gênero cosmopolita, podendo ser encontrado em zonas

tropicais ou temperadas, em todos os continentes, exceto Antártica (VINOGRADOVA,

2000). São os mosquitos mais comuns em áreas urbanas (ANDERSON et al, 1999;

GODDARD et al, 2002; REISEN et al, 2004). A espécie deste gênero de maior

importância médica no Brasil é o Cx. quinquefasciatus, que tem a capacidade de se

adaptar facilmente a ambientes domésticos, sobretudo em ambientes com água poluída,

fontes ou tanques (LEE et al, 1989), uma vez que necessitam de águas ricas em matéria

orgânica para a proliferação (BRASIL, 2011).

São vetores da Wucheria bancrofti, agente etiológico da filariose e do vírus do

oeste do Nilo (WNV) (VAN DEN HURK, RITCHIE & MACKENZIE, 2009), agente

Page 17: Conhecimento Ecológico Tradicional

16

etiológico da febre do oeste do Nilo, doença eminente no Brasil. Seus hábitos noturnos,

associados à alta antropofilia e ao zumbido por eles produzido, fazem destes mosquitos

animais conhecidos por atrapalharem o sono reparador (NEVES, 2005). Devido às

queixas relacionadas ao incômodo causado, as pesquisas em saúde pública

desenvolveram o Fator de Incômodo, que é um índice subjetivo e sujeito a variáveis de

difícil quantificação (BRASIL, 2011).

2.1.1.3 Mansonia

O gênero Mansonia compreende mosquitos robustos, de porte médio ou grande.

Espécies deste gênero costumam depositar seus ovos em vegetação flutuante ou

emergente (GOUVEIA DE ALMEIDA, 2011) e apresentam a peculiaridade de suas

formas imaturas fixarem-se nessas plantas (FORATTINI, 2002), sendo salvínias e erva

de Santa Luzia (Pistia) exemplos delas (CONSOLI & LOURENÇO- DE- OLIVEIRA,

1994).

Embora não sejam vetores de doenças endêmicas no Brasil, alguns arbovírus

causadores de encefalites (CONSOLI & LOURENÇO- DE- OLIVEIRA, 1994) e

filárias (GOUVEIA DE ALMEIDA, 2011) já foram encontrados infectando esses

animais, sendo, assim, vetores em potencial. São considerados mosquitos

predominantemente exófilos (têm preferência por se alimentarem em peridomicílio) e

florestais (FORATTINI, 2002). Seu hematofagismo agressivo inviabiliza, muitas vezes,

a habitação ou criação de animais em determinadas áreas (CONSOLI & LOURENÇO-

DE- OLIVEIRA, 1994). Tendem a se aproximar de ambientes domiciliares, devido à

sua forte atração por luminosidade, sendo esse hábito interpretado como visita

(FORATTINI, 2002).

2.1.1.4. Anopheles

Pertencente à subfamília Anophelinae, o gênero Anopheles é cosmopolita. Este

gênero é composto de aproximadamente 50 espécies que ocorrem no Brasil, agrupadas

em cinco subgêneros (CONSOLI & LOURENÇO- DE- OLIVEIRA, 1994).

Sua importância para a saúde pública se dá por ser o principal vetor da malária

humana no Brasil. A malária é uma doença infecciosa e febril, aguda, causada por

protozoários (PORTES et al, 2010). Endêmica na região amazônica, apresentando quase

100% dos casos registrados (BRASIL, 2001; BRASIL, 2005), apresenta altas taxas de

Page 18: Conhecimento Ecológico Tradicional

17

mortalidade e morbidade, sendo considerada, por isso, a doença parasitária mais

importante da região tropical.

2.1.2. Psychodidae

A família Psychodidae apresenta seis subfamílias, das quais apenas duas são

hematófagas: Sycoracinae, que picam exclusivamente animais ectotérmicos, e

Phlebotominae, que picam de anfíbios a mamíferos, inclusive seres humanos (NEVES,

2005). Os flebotomíneos apresentam vasta ocorrência, em diferentes ambientes, desde

selvagem a urbanos e são endêmicos em Sergipe, sobretudo no Povoado de Areia

Branca, com predominância da espécie Lutzomyia longipalpis (JERALDO et al, 2012).

São vetores de patógenos causadores de várias doenças, sendo os únicos

conhecidos para a Leishmaniose tegumentar americana (NEVES, 2005). Esta doença é

um problema de saúde pública no Brasil desde a década de 1980 e está associada a áreas

de transição entre ambiente silvestre e urbano, uma vez que alguns animais silvestres

atuam como reservatório (COSTA, 2008). Seus diversos nomes populares sugerem que

a população consegue diferenciar os espécimes desta família de outros hematófagos

(NEVES, 2005).

2.1.3. Ceratopogonidae

Ceratopogonidae é uma das mais comuns e diversas famílias de dípteros

hematófagos do mundo, com quase seis mil espécies existentes conhecidas (Borkent,

2009). Conhecidos popularmente como maruins, os ceratopogonídeos estão divididos

em quatro subfamílias, sendo o gênero Culicoides o de maior importância médico-

veterinária, seja pelo grande incômodo da sua picada (NEVES, 2005), seja pela sua

capacidade de transmitir protozoários e vermes filarídios (TRINDADE & GORAYEB,

2005).

Essa família também é associada à transmissão do vírus Oropouche, que causou

algumas epidemias em humanos, sobretudo na década de 60 (PINHEIRO et al, 1976).

Esse vírus causa dor de cabeça, muscular e nas articulações, não levando a óbitos ou

causando sequelas (NEVES, 2005).

Page 19: Conhecimento Ecológico Tradicional

18

2.1.4. Tabanidae

Pertencem à família Tabanidae insetos popularmente conhecidos como mutucas.

São moscas de pequenas a grandes, com distribuição geográfica mundial, sendo

essencialmente hematófagas (NEVES, 2005). Nesta família, o hábito hematofágico

também é desempenhado exclusivamente pelas fêmeas, sendo os machos florícolas ou

nectívoros (KROLOW, HENRIQUES & RAFAEL, 2010).

Sua importância médico-veterinária se dá, tanto por serem vetores mecânicos de

vírus, protozoários e parasitoides, quanto pela hematofagia de equinos, bovinos, cães,

humanos (NEVES, 2005) e até mesmo répteis (FERREIRA, HENRIQUES & RAFAEL,

2002).

2.2. EPIDEMIOLOGIA

Epidemiologia é a ciência que estuda padrões de ocorrência de doença em

populações humanas, bem como os fatores determinantes destes padrões (LILIENFELD

& LILIENFELD, 1980). Ela se originou há mais de 2000 anos, nas observações de

Hipócrates de que fatores ambientais exercem influência no desenvolvimento de

doenças, estabelecendo-se enquanto ciência apenas no século XIX (BONITA,

BEAGLEHOLE & KJELLSTRÖM, 2010). O alvo da epidemiologia são sempre

populações humanas e suas aplicações são diversas, desde a descrição da saúde da

população à avaliação da utilização dos serviços de saúde (MENEZES, 2001).

Atualmente, a epidemiologia se utiliza de métodos quantitativos para estudar a

ocorrência de doenças nas populações humanas e para definir estratégias de prevenção e

controle (BONITA, BEAGLEHOLE & KJELLSTRÖM, 2010). Essas estratégias são

definidas baseadas em três situações: as ações primárias, que se baseiam na prevenção;

as secundárias que, após a instalação do período clínico ou patológico das doenças,

visam fazê-lo regredir ou impedir sua progressão para óbito ou sequela; e as terciárias,

que procuram minimizar os danos já ocorridos com a doença (MENEZES, 2001).

Embora as doenças sejam atribuídas a fatores genéticos, a maioria delas resulta

da interação destes fatores com o ambiente, que é, então, definido da forma mais ampla

possível para permitir a inclusão de qualquer fator, que não genético, na análise do

desenvolvimento das doenças (BONITA, BEAGLEHOLE & KJELLSTRÖM, 2010).

Dessa forma, a casualidade em epidemiologia baseia-se na multicasualidade ou

Page 20: Conhecimento Ecológico Tradicional

19

multifatorialidade na análise da gênese das doenças, defendendo que a maioria delas

advém de uma combinação de fatores que interagem entre si e acabam desempenhando

importante papel na sua determinação (MENEZES, 2001).

2.2.1. Epidemiologia Ambiental

A maneira pela qual um agente do meio ambiente (entendendo ambiente, neste

contexto, como qualquer fator externo promotor de doença) interfere na saúde deve ser

compreendida para o desenvolvimento de delineamentos de programas de prevenção. O

quadro 1 exemplifica alguns destes fatores ambientais:

Quadro 1: Fatores ambientais que podem afetar a saúde.

Fator Exemplos

Psicológico Estresse, desemprego, mudança de turno de trabalho, relações

humanas.

Biológico Bactérias, vírus, parasitas.

Físico Clima, ruído, radiação, ergonomia.

Acidental Situações perigosas, velocidade, uso de drogas e bebidas

alcoólicas.

Químico Tabaco, produtos químicos, poeira, irritantes de pele, aditivos

alimentares.

Fonte: BONITA, BEAGLEHOLE & KJELLSTRÖM, 2010.

Segundo algumas estimativas, entre 25% e 35% da carga global de doenças

podem ser devido à exposição a fatores ambientais (SMITH, CORVALAN &

KJELLSTROM, 1999; PRUESS-USTUN & CORVALAN, 2006), sendo a falta de

saneamento básico e água tratada, por exemplo, dois fatores bastante expressivos

(PRUESS-USTUN & CORVALAN, 2006). A carga de doenças ambientais é maior em

países periféricos em detrimento de países do eixo, o que sugerem ganhos na promoção

de saúde, caso haja estímulo a ambientes saudáveis (BONITA et al, 2010).

Page 21: Conhecimento Ecológico Tradicional

20

A epidemiologia ambiental fornece as bases científicas para o estudo e a

interpretação das relações entre o ambiente e a saúde nas populações (BONITA et al,

2010). Oferece, também, tanto a possibilidade de calcular riscos pela exposição a

determinados poluentes ambientais como também a implantação de programas de

intervenção e mitigação de riscos (FUNASA, 2002).

2.3. CONHECIMENTO ECOLÓGICO TRADICIONAL E

POPULAÇÃO TRADICIONAL

O conhecimento ecológico tradicional (CET) pode ser entendido como “um

corpo cumulativo de conhecimentos e crenças, passado adiante através das gerações

pela transmissão cultural, acerca das relações dos seres vivos (incluindo os humanos)

entre si e com seu ambiente” (GADGIL et al, 1993 Apud POSEY, 2000). Ele pode ser

percebido, nas comunidades, no “contato direto com os recursos naturais, a observação

diária desses recursos e a dependência econômica de recursos aquáticos e da vegetação

que representam relações ecológicas em seu sentido estrito” (BEGOSSI, 2004). Para

Posey (2000):

O conhecimento ecológico tradicional é muito mais que uma simples

compilação de fatos: é a base para a tomada de decisões no nível local em

áreas da vida contemporânea, incluindo o manejo de recursos naturais, a

nutrição, o preparo de alimentos, a saúde, a educação, e a organização

comunitária e social. O Conhecimento Ecológico Tradicional é holístico,

inerentemente dinâmico e evolui constantemente pela experimentação e

inovação, com discernimentos renovados e estímulos externos (POSEY, 2000

p. 36).

O Conhecimento Ecológico Local (CEL) é a generalização progressiva das

observações dos usuários locais em contextos socioecológicos específicos, não tendo

relação com a transmissão através das gerações (BERKES, 1999). É importante a

abordagem dos conceitos dos dois tipos de conhecimento (CET e CEL), uma vez que,

segundo BERKES (1999), ambos têm se mostrado relevantes para a compreensão dos

processos ecológicos, manejo dos recursos naturais, conservação de áreas protegidas,

conservação da biodiversidade, avaliação ambiental, desenvolvimento social e ética

ambiental.

O conhecimento tradicional na pesca é entendido como o conjunto de práticas

cognitivas e culturais, habilidades práticas e saber-fazer, transmitidas oralmente nas

comunidades de pescadores artesanais em sua relação com o ambiente aquático e com a

própria sociedade (DIEGUES, 2004). Trabalhos com pescadores artesanais, como os de

Page 22: Conhecimento Ecológico Tradicional

21

Ribeiro, Silvano e Begossi (1998), Thé (1999), Montenegro (2002), Moura (2002) e

Cortez (2010), sobretudo do litoral, como os de Souto (2004) e Ramirez, Molina &

Hanazaki (2007), também têm revelado que esses sujeitos possuem conhecimento

profundo a respeito de peixes e outros recursos aquáticos por eles explorados.

O CET, segundo Morais, Morais & Silva (2009), é característico de

comunidades tradicionais. Não há consenso, na literatura, sobre o conceito de população

tradicional. Barreto Filho (2006) conceitua “população tradicional” como “aquela que

expressa um conjunto de valores culturais coletivos relativos ao meio ambiente, às

percepções, aos valores e às estruturas de significação”. Na perspectiva do autor, esses

valores orientam e estão na origem de certas políticas ambientais. Para Diegues e

Arruda (2001), um dos critérios para a definição de culturas ou populações tradicionais

é reconhecer-se como pertencente àquele grupo social particular. Colchester (2000)

associa o termo “tradicional” com longa residência numa determinada área. Na

perspectiva de Vianna (2008), o conceito dessas populações, que as diferencia de outros

grupos sociais, está relacionado ao baixo impacto causado no meio ambiente,

preservando os recursos naturais que são utilizados, bem como, a utilização coletiva dos

recursos naturais.

2.4. ETNOBIOLOGIA, ETNOECOLOGIA E ETNOTAXONOMIA

A etnobiologia, na concepção de Posey (1987), é entendida como o estudo do

conhecimento e das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da

biologia. Segundo o autor, tal ciência enfatiza as categorias e os conceitos cognitivos

utilizados pelos povos em estudo. Toledo (1992) caracteriza a etnobiologia como “um

campo interdisciplinar dedicado à interação entre os seres humanos e seus ambientes:

vegetal, animal e fúngico”. A concepção de Posey (1987) sugere que a etnobiologia seja

capaz de gerar dados que deem suporte para que especialistas nos diversos campos

científicos possam iniciar coletas de dados referentes às suas especialidades, tais como:

etnoentomologia, etnobotânica, etnofarmacologia, etnopedologia, etnogeologia,

etnoapicultura, etnoecologia, etc. O autor também ressalta a importância do estudo

dessa ciência destacando três pontos:

Page 23: Conhecimento Ecológico Tradicional

22

Alguns conceitos defendidos pela comunidade em estudo podem

gerar novas hipóteses a serem testadas;

Algumas ideias, não passíveis de ser analisadas, devem ser

arquivadas;

Algumas crenças, entretanto, por mais ilógicas e absurdas que

possam parecer, podem vir a demonstrar seu papel de mecanismos sociais

para regular o consumo de alimentos ou para a manutenção do equilíbrio

ecológico (POSEY, 1987 p. 303).

Dessa maneira, a etnociência e, neste caso, a etnobiologia, traz uma proposta

epistemológica para a ciência convencional, em que as percepções do meio biótico e

abiótico da comunidade em estudo devem atuar como elementos norteadores dos

planejamentos de intervenções em determinada área.

O conceito de etnoecologia não é unificado e consensual. Na concepção de

Alves & Souto (2010), essa falta de consenso representa aspectos positivos e afirmam:

Tendo em vista que um dos pressupostos da etnoecologia é a

valorização da diversidade cultural que se manifesta dentro de cada

sociedade, isto talvez deva ser aplicado também no interior do próprio meio

acadêmico, através de uma maior tolerância e da tentativa de estabelecer

conexões entre concepções teóricas e metodológicas aparentemente

divergentes (ALVES & SOUTO, 2010 p 19).

Os autores, no entanto, fazem a ressalva de que com o aumento no número de

estudos fundamentados na etnoecologia, é necessária a sistematização de informações

para compreender melhor a grande diversidade de teorias, métodos e técnicas utilizáveis

neste campo de conhecimento.

Segundo Martin (1996), a etnoecologia tem sido usada para designar todos os

estudos que descrevem a interação de uma população local com seu ambiente natural.

Para Toledo (2003), é a aproximação interdisciplinar entre “como a natureza é vista por

grupos humanos através de um conjunto de crenças e conhecimentos e como eles,

através de suas imagens, utilizam os recursos naturais”. Segundo Freschi (2004), “os

estudiosos dessa disciplina são basicamente antropólogos e biólogos de tradição

ocidental, preocupados com a valorização dos sistemas de conhecimento ecológico de

populações tradicionais”. Para Basi, Coelho-de-Souza & Kubo (2010), é um ramo da

etnobiologia que tem como foco as inter-relações envolvendo humanos em seus

ambientes, apresentando maior abrangência em suas abordagens, ou ainda o modo como

os grupos humanos se inter-relacionam, material e intelectualmente com o ambiente em

que vivem, sendo um campo que se propõe a compreender a inter-relação entre os

mundos natural e social. Em qualquer que seja o conceito, a ideia de

interdisciplinaridade está presente, sendo, então, abordada como “um campo científico

Page 24: Conhecimento Ecológico Tradicional

23

que abarca a interface entre diferentes disciplinas, principalmente as situadas no campo

antropológico e ecológico” (COELHO-DE-SOUZA, 2009) (Figura 1).

Figura 1: Representação esquemática da Etnoecologia como um campo

científico na interface entre os campos do conhecimento científico e tradicional, em que

“a”, “b”, “c” e “d” representam as diferentes vertentes de cada disciplina. .

Fonte: BASI, COELHO-DE-SOUZA & KUBO (2010).

Freschi (2004) comenta que é consenso na ciência a necessidade de uma

formação diferenciada, aproximando mutuamente conhecimentos e métodos da

antropologia e da biologia. Defende-se, então, que a etnoecologia, por considerar ambas

as áreas, é capaz de gerar dados mais completos. O desenvolvimento da etnoecologia

tem trazido a perspectiva de adequação do conhecimento tradicional ao manejo e à

conservação local de recursos, seja na elaboração de propostas oficiais de manejo e

conservação (MORIN-LABATUT & AKATAR, 1992), ou para gerar desenvolvimento

com sustentabilidade ecológica e cultural (OVERAL & POSEY, 1996). Tais

perspectivas, considerando a importância da etnoecologia na obtenção de resultados

mais completos, são essenciais para nortear trabalhos posteriores envolvendo educação,

saúde pública, manejo e preservação de recursos naturais.

A etnotaxonomia, segundo Montenegro (2002), caracteriza-se como o

conhecimento biológico sob o domínio intelectual de populações tradicionais

classificando animais e plantas. Segundo Posey (1987), é a área que investiga a

Page 25: Conhecimento Ecológico Tradicional

24

capacidade humana de classificar os seres vivos. O autor também defende que, quanto

maior o grau de importância de determinados seres para uma comunidade, mais refinada

é a classificação etnotaxonômica. O termo inseto demonstra peculiaridades relacionadas

à sua classificação etnotaxonômica, sendo geralmente associado a animais considerados

nocivos pela população estudada (COSTA NETO, 2004). Costa Neto (2003) constatou

que parte dos moradores do povoado de Pedra Branca, Bahia, consideram os

hemípteros, sobretudo percevejos e cigarras, como barbeiros. Sumabila & Lugo (2007)

constataram que os Cuiva, na divisa da Colômbia com a Venezuela, têm um sistema

próprio de classificação para os diferentes gêneros de mosquitos (Aedes, Culex e

Anopheles), diferenciando-os, embora não os associe à patogenicidade.

2.5. METODOLOGIAS EM ESTUDOS ETNOECOLÓGICOS

2.5.1. Metodologia geradora de dados

A metodologia geradora de dados consiste na aplicação de perguntas abertas,

visando obter o máximo de informações e categorias locais (MOURA & MARQUES,

2007). Segundo Molina, Lui & Silva (2007), nessa metodologia, os informantes devem

ser considerados pelo pesquisador como especialistas locais, autoridades em sua área de

conhecimento, devendo-se considerar também as diferenças de saberes de acordo com o

gênero e a idade.

Por ser baseada no diálogo, esta metodologia dá a liberdade de os entrevistados

deixarem evidente sua visão de mundo, sendo importante o esforço do pesquisador em

não impor seus conceitos e ideias durante a entrevista (FRACCARO, SILVA &

MOLINA, 2010).

Tal metodologia propõe a identificação de especialistas dentro da comunidade.

Pessoas mais velhas podem ser elementos-chave na preservação de conhecimentos

locais e os especialistas em um dado assunto costumam ser reconhecidos e indicados

pelos habitantes locais, devendo ser considerados para a obtenção dos resultados

(HANAZAKI, 2004; RODRIGUES, 2006).

Page 26: Conhecimento Ecológico Tradicional

25

2.5.2. Interpretações ética e êmica

Interpretações éticas são aquelas desenvolvidas por pesquisadores com

propósitos analíticos (POSEY, 1992), referindo-se a aspectos de outra cultura a partir

das categorias daqueles que a observam (ROSA & OREY, 2012). Para Harris (1985), a

interpretação ética baseia-se em “conceitos e distinções que são significativas e

apropriadas para os observadores”.

Interpretações êmicas são aquelas que refletem “categorias cognitivas e

linguísticas da comunidade estudada” (POSEY, 1992). Para Harris (1985), elas são

como “os observadores empregam conceitos e distinções que são significativas e

apropriadas para os participantes”. Para Sumbalia & Lugo (2007), a interpretação êmica

no caso de estudo de mosquitos “é focada principalmente na explicação da interpretação

de comunidades ou grupos étnicos específicos sobre os mosquitos”.

Rosa & Orey (2012) elaboraram um quadro (Quadro 2) com as principais

diferenças entre as abordagens e resumem seus conceitos da seguinte maneira:

A abordagem ética é a visão externa dos observadores e

investigadores que estão olhando de fora em uma postura transcultural,

comparativa e descritiva, enquanto a abordagem êmica é a visão interna, dos

observados que estão olhando de dentro, em uma postura particular, única e

analítica (ROSA & OREY, 2012 p. 867).

Quadro 2: Diferenças entre a abordagem êmica e ética.

Abordagem êmica Abordagem ética

Perspectiva dos nativos (internos) Perspectiva dos observadores (externos)

Visão local (interna) Visão global (externa)

Tradução prescritiva Tradução descritiva

Cultural Analítico

Estruturas mentais Estruturas comportamentais

Transcrição cultural Transcrição acadêmica

Fonte: ROSA & OREY, 2012.

Sobre a relação que os pesquisadores podem estabelecer com a comunidade

estudada, Posey (1992) afirma que:

Os nativos podem se tornar conscientes de alguns atos comuns (de

manejo) quando alertados ao fenômeno pelo pesquisador, mesmo se as

Page 27: Conhecimento Ecológico Tradicional

26

terminologias êmica e ética forem diferentes. Mas o informante também

aprende as categorias utilizadas pelo pesquisador e pode modificar a maneira

como olha para sua própria cultura (POSEY, 1992 p. 23).

Posey (1992) afirma que as classificações êmica e ética são difíceis se de dar na

prática e que, para que interpretações mútuas aconteçam, realidades precisam ser

compartilhadas. Ainda afirma que para entender a visão êmica do assunto, deve-se

voltar à análise cognitiva de termos e expressões (da comunidade) relativos a várias

categorias adicionais por nós desconhecidas, anônimas ou inimagináveis.

2.6. ETNOEPIDEMIOLOGIA

A perspectiva de uma base antropológica em estudos de epidemiologia não é,

necessariamente, novidade. Autores como Barreto & Alves (1994), Sevalho & Castiel

(1998) e Almeida Filho (2000) têm contestado direta ou indiretamente os métodos

empregados no estudo epidemiológico, considerando o conhecimento biomédico como

soberano e desconsiderando, ainda que algumas vezes de forma branda, as construções

sociais a respeito dos temas relacionados à saúde.

Considerando o caráter interdisciplinar da epidemiologia (BRASIL, 2002), fica

evidenciada a abertura que se tem dentro da própria epidemiologia para a elaboração de

novas formas de análise. O desafio, no entanto, se dá no desenvolvimento de um

método que consiga abarcar elementos culturais enquanto categoria de análise. Gadelha

et al. (2000) ressaltam os desafios ainda existentes em elaborar este método,

considerando as diferenças entre as duas áreas:

As diferenças metodológicas remetem às finalidades da pesquisa e à

construção de seu objeto. Nesse sentido, não se quer a integração de dois

objetos — o epidemiológico e o antropológico. A possibilidade de integração

supõe a perspectiva de construção de objetos, isto é, de problemas que

possam ser pensados de forma integrada. Os diferentes campos de

conhecimento não são autônomos e, ao mesmo tempo, não conseguem

encontrar uma integração absoluta. Não há como perseguir a construção de

um objeto fechado. O estudo epidemiológico persegue as causas etiológicas

dos problemas de saúde e doença nas populações. Esses problemas são

previamente definidos de acordo com um critério básico de classificação de

doenças, o CID (Classificação Internacional de Doenças). Tal critério

obedece a uma lógica diferente daquela que orienta os estudos

antropológicos, que buscam apreender os diferentes significados culturais do

sofrimento humano ligado ao adoecer (GADELHA et. al.,.2000)

Sobre a base epistemológica que garanta a inter-relação entre as duas disciplinas

em questão, Béhague, Gonçalves & Victoria (2008) concluem que a melhoria da

Page 28: Conhecimento Ecológico Tradicional

27

colaboração entre as duas áreas do conhecimento não é um desafio acadêmico, embora

seja relacionado às pesquisas e práticas na saúde pública. Também afirmam que quanto

mais disciplinas convergirem e modificarem modos padronizados de conhecimento,

estarão melhor preparadas para promover profunda e contextualmente explicações

sensíveis à emergência de padrões de doença e, assim, a solução do problema

(BÉHAGUE, GONÇALVES & VICTORIA, 2008).

A etnoepidemiologia é uma ciência bastante recente. Ela surge da demanda de

elaboração de métodos qualitativos de análise tão eficazes quanto os quantitativos,

amplamente utilizados na epidemiologia (Fernandes, 2003). Almeida Filho (1992) Apud

Fernandes (2003) conceitua a etnoepidemiologia como:

Disciplina que não será uma mera aplicação de métodos

epidemiológicos à pesquisa transcultural em saúde, nem a introjeção de etno-

modelos dentro de estruturas de explicação baseadas na abordagem de risco.

A etnoepidemiologia poderá dedicar-se a explorar alternativas metodológicas

para a pesquisa sobre processos e práticas sociais ligadas à saúde, aptas a

combinar de modo competente as abordagens qualitativas e quantitativas em

uma única estratégia etnoepidemiológica (ALMEIDA FILHO, 1992 Apud

FERNANDES, 2003 p. 767).

O enfoque etnoepidemiológico no controle de zoonoses faz-se, então, necessário

uma vez que tem uma capacidade maior de diálogo com a comunidade, reforçando a

lógica de complementaridade de saberes, já apropriada pelas etnociências.

Page 29: Conhecimento Ecológico Tradicional

28

3. JUSTIFICATIVA

A vigilância em saúde é a coleta, análise e interpretação sistemática de dados em

saúde para o planejamento, implementação e avaliação das atividades em saúde pública

(BONITA, BEAGLEHOLE & KJELLSTRÖM, 2010) com a finalidade de adotar

medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos. A vigilância epidemiológica

começou a se desenvolver, de fato, no Brasil, a partir da década de 1970 (BRASIL,

2009).

Considerando as zoonoses como um sério problema que ameaça a saúde pública

mundialmente (KAHN, 2009), é consensual a defesa de medidas de alertas precoces de

surtos de doenças em animais com potencial zoonótico, permitindo adotar medidas

preventivas sobre a morbidade e mortalidade humana (GUIMARÃES et al, 2010).

Defendem-se, então, programas de vigilância que incluam animais domésticos e

selvagens, assim como a população humana, permitindo conduzir medidas eficazes de

controle, além da interação entre médicos e veterinários, uma vez que são preparados

para reconhecer, relatar focos e manter a comunicação entre as classes dos profissionais

de saúde, ampliando-lhes os conhecimentos sobre hospedeiros e agentes infecciosos

com potencial zoonótico (KAHN, 2009). Além disso, de acordo com ações e respostas

efetivas para os problemas de saúde pública envolvendo a inter-relação ser humano-

animal-ambiente e a existência de infecções transmitidas pelos animais, insetos, água e

alimentos, exige-se uma forte ligação entre a saúde humana e animal, entre clínicos,

pesquisadores, laboratoristas e demais servidores da área de saúde pública (KING &

KNABBAZ, 2009).

4. HIPÓTESE

Os moradores do povoado de Areia Branca possuíam conhecimento apurado a

respeito da distribuição sazonal e espacial de dípteros hematófagos da região. Esse

conhecimento estaria relacionado às atividades ocupacionais, sobretudo pesqueiras, por

eles desenvolvidas.

Page 30: Conhecimento Ecológico Tradicional

29

5. OBJETIVOS

5.1. OBJETIVO GERAL

Investigar o conhecimento ecológico tradicional local de dípteros hematófagos e

de que maneira esses animais são classificados pela comunidade, de acordo com a

etnotaxonomia.

5.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Investigar o conhecimento ecológico tradicional local sobre a dinâmica espacial

e sazonal de dípteros hematófagos.

Investigar possíveis similaridades entre o conhecimento local sobre insetos

vetores e a literatura científica disponível, reforçando o aspecto de complementaridade

entre estas duas formas de conhecimento.

Registrar possível reconhecimento dos dípteros hematófagos como vetores.

Page 31: Conhecimento Ecológico Tradicional

30

6. MATERIAIS E MÉTODOS

6.1. ÁREA DE ESTUDO E POPULAÇÃO

O povoado de Areia Branca está localizado na Zona de Expansão Urbana do

município de Aracaju, definida pela Lei Municipal de n° 873, compreendendo todo o

litoral costeiro sul do município, tendo como limites, o rio Vaza Barris e o canal Santa

Maria ao sul, o Oceano Atlântico a leste, o município de São Cristóvão a oeste e ao

norte, com o bairro Aeroporto (Figura 2) (FRANÇA & REZENDE, 2012).

França & Rezende (2012) afirmam que a Zona de Expansão Urbana de Aracaju

ainda não dispõe de todo aparato de infraestrutura necessária para proporcionar uma boa

condição de vida, especialmente quanto ao abastecimento de água, drenagem e

esgotamento sanitário. Para comprovar tal afirmação, trazem os seguintes dados:

Isso é comprovado quando se verifica que cerca de 28,10% (2.240)

dos 7.970 domicílios da área, ainda são abastecidos de água através de poços

artesianos, o que, de certa forma, limita o parcelamento, em decorrência da

baixa qualidade da água. (...) Quanto à coleta de esgoto sanitário, esse é,

talvez, o maior dos obstáculos. É realizado em 72,15% das edificações (5.707

domicílios), por meio de fossas sépticas e sumidouro ou fossa rudimentar,

ambas com recolhimento individual, enquanto cerca de 10% das casas não

dispõem de banheiro nem sanitário (IBGE, 2000 Apud FRANÇA &

REZENDE, 2012 p.18).

As autoras também colocam que “a dificuldade de sanar essas questões tende a

se acentuar”, uma vez que as áreas verdes, sobretudo os coqueirais, têm sido

drasticamente reduzidas devido ao crescimento da ocupação atual que, segundo

Wanderley & Wanderley (2003) “impermeabilizará parte dos terrenos que hoje são

superfícies infiltráveis, causando inundações periódicas”.

O posto de saúde do povoado de Areia Branca divide a área em nove micro-

áreas, sendo cada acompanhada por um agente de saúde. Grande parte desses agentes

tem contato direto com, ou são moradores do povoado.

Page 32: Conhecimento Ecológico Tradicional

31

Figura 2: Ortofotocarta de Aracaju (com os limites em linha vermelha) com

localização da Zona de Expansão Urbana (com os limites em tracejado amarelo).

Fonte: FRANÇA & REZENDE, 2012.

6.2. COLETA DE DADOS

6.2.1. Elaboração do guia ético

Para a elaboração do Guia Ético, foi montada uma caixa entomológica (Figura 3)

com espécimes pertencentes às famílias: Psychodidae, Ceratopogonidae, Culicidae e

Tabanidae (Diptera). Para a captura dos dípteros, foi usada a armadilha luminosa tipo

CDC (Gomes et al, 1985) em dois diferentes pontos: um próximo ao manguezal, outro

urbano, em peridomicílio durante 12 horas (das 18h às 6h). Após serem capturados, os

animais foram levados ao Laboratório de Entomologia e Parasitologia Tropical da

Universidade Federal de Sergipe, onde foram identificados de acordo com a

classificação taxonômica padrão para cada grupo. Foram capturados apenas espécimes

de Ceratopogonidae e Psychodidae. Os espécimes de Culicidae e Tabanidae na caixa já

se encontravam no laboratório e foram montados por haver registros destes animais na

própria área ou em áreas próximas. Os grupos receberam diferentes numerações, sendo:

1- Psychodidae, 2- Ceratopogonidae, 3- Aedes aegypti, 4- Anopheles sp., 5- Mansonia

sp., 6- Culex quinquefasciatus, 7- Tabanidae (Figura 3).

Page 33: Conhecimento Ecológico Tradicional

32

Figura 3: Caixa entomológica com dípteros hematófagos. 1- Psychodidae, 2-

Ceratopogonidae, 3- Aedes aegypti, 4- Anopheles sp., 5- Mansonia sp., 6- Culex

quinquefasciatus, 7- Tabanidae.

6.2.2. Elaboração do guia êmico

Para a elaboração do guia êmico, foram aplicadas entrevistas semi estruturadas

(Anexo 1) baseadas na metodologia geradora de dados (Posey, 1987), com

modificações.

Os moradores entrevistados foram indicados pelo agente de saúde que

acompanhou o desenvolvimento do trabalho. Para a aplicação das entrevistas, foram

prioritários os moradores mais antigos da região, pois estes possuíam contato maior com

o ambiente natural anterior às ações antrópicas em larga escala. Essas pessoas

mantinham vínculo com a maré, seja para atividades de pesca artesanal, seja para

atividades de lazer. Não foram identificados especialistas no povoado de Areia Branca,

uma vez que as pessoas manifestaram não possuir conhecimento aprofundado com

relação aos animais abordados.

Foram selecionadas oito pessoas que ainda mantinham ou que mantiveram por

um longo período de suas vidas um vínculo com a maré e a pesca artesanal. Além

dessas oito pessoas, que aceitaram participar da entrevista, foram mantidos diálogos

Page 34: Conhecimento Ecológico Tradicional

33

informais com outros moradores da região com o mesmo perfil, em que foi estimulada a

geração de dados relacionados à etnotaxonomia e às distribuições sazonal e espacial dos

animais. Muitas vezes a aplicação da entrevista serviu como estímulo para as outras

pessoas, que não as entrevistadas, participarem e contribuírem ativamente no

fornecimento dos dados. Outras pessoas se sentiram intimidadas com o fato de ter que

gravar entrevistas e preferiram conversar informalmente sobre o assunto, falando sobre

as suas percepções a respeito dos dípteros hematófagos.

Na aplicação das entrevistas, a caixa entomológica com os espécimes coletados

foi mostrada aos entrevistados, sem menção aos nomes científicos ou populares, para

que fossem posteriormente analisados os dados relacionados à distribuição espacial e

sazonal, na perspectiva da etnoecologia, e à etnotaxonomia dos animais mostrados.

Foram realizadas perguntas (Anexo 1) relacionadas aos insetos coletados. As

entrevistas foram gravadas e transcritas para que o discurso fosse analisado de acordo

com os dados já registrados na literatura a respeito da ecologia dos animais analisados.

Os entrevistados foram informados da natureza do estudo e assinaram um termo de

consentimento (Anexo 2).

Além dos dados relacionados à distribuição sazonal e espacial dos animais,

analisou-se como os moradores classificam os insetos de acordo com a etnotaxonomia,

investigando se havia diferenciações e nomenclaturas próprias para diferentes espécies

ou gêneros, bem como se havia a percepção desses animais enquanto vetores potenciais.

6.3. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres

humanos do Hospital Universitário, protocolo CAAE: 13163313.8.0000.5546.

Page 35: Conhecimento Ecológico Tradicional

34

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os pescadores do Povoado de Areia Branca apresentaram dificuldades para

identificar os espécimes na caixa entomológica devido ao tamanho dos animais. A

maioria dos sujeitos entrevistados apresentava idade avançada e muitos reclamaram que

não conseguiam enxergar bem. Não foram identificados especialistas no assunto, pois as

pessoas não se julgavam conhecedoras o bastante da temática abordada. Sr. JF,

pescador, 72 anos, morador da área há 35, numa conversa informal, afirmou que não

entendia de inseto e que se a pesquisa fosse sobre maré, peixe ou pesca, seria mais fácil

para ele ajudar. Ainda assim, por vezes, Sr. JF foi apontado como referência por ser um

pescador bastante antigo e conhecido na região.

Apesar dos entraves na visualização dos insetos, alguns moradores, sobretudo os

mais antigos, apresentaram convicção ao identificá-los. Outra dificuldade encontrada foi

o número significativo de moradores que não puderam ou quiseram participar da

entrevista. Tais dificuldades sugeriram considerar outros elementos na construção do

guia êmico, como a promoção de rodas de conversa informais (muitas vezes geradas

pela própria aplicação das entrevistas), contemplando aqueles que não puderam

contribuir com as entrevistas semi-estruturadas, em que os dados ecológicos (e.g

distribuição sazonal e espacial) e epidemiológicos (e.g a descrição da intensidade da dor

da picada) servissem como fontes de investigação complementares à identificação

visual dos espécimes.

7.1. ETNOCONHECIMENTO

7.1.1. Etnotaxonomia

A equivalência entre a classificação taxonômica padrão e a etnotaxonômica se

deu em dois processos: a identificação visual dos espécimes e a coleta de dados

ecológicos e epidemiológicos fornecidos na aplicação das entrevistas e nas conversas

informais.

A identificação visual não forneceu dados suficientes para fazer a equivalência

nas duas classificações devido ao tamanho dos espécimes analisados. Outra limitação

apresentada foi a de os entrevistados alegarem dificuldades para visualizar os

espécimes, devido à idade avançada de alguns, variando de 48 a 76 anos. A fragilidade

Page 36: Conhecimento Ecológico Tradicional

35

na identificação dos animais também pode ter se dado devido às diferenças

morfológicas apresentadas entre os insetos, ainda que da mesma espécie, montados e in

natura. As duas situações podem, por exemplo, apresentar diferenças significativas no

padrão de cores, por vezes utilizadas como referência na classificação etnotaxonômica

(Quadro 3). Além desse fator, foi possível perceber a resignificação na noção das

dimensões dos animais, uma vez que, quando montados lado a lado, foi possível ter um

parâmetro em que foi colocada a perspectiva de “um animal maior que outro” e não

mais “um animal pequeno”. Essa problemática ficou perceptível quando muitos

entrevistados tiveram dúvidas no reconhecimento de espécimes de Ceratopogonidae e

Psychodidae, ambos considerados pequenos in natura, até que foi apresentada a

perspectiva de “um maior que o outro”. O quadro a seguir (Quadro 3) demonstra a

equivalência entre a classificação elaborada pelos moradores do Povoado de Areia

Branca e a taxonomia padrão para os animais mostrados durante as entrevistas:

Quadro 3: Equivalências entre as nomenclaturas da etnotaxonomia e taxonomia

padrão baseadas nas identificações visuais de dípteros hematófagos por pescadores

artesanais do Povoado de Areia Branca (Sergipe, Brasil).

Classificação etnotaxonômica Classificação taxonômica padrão

Filhote de muriçoca vermelha, Mosquito,

muriçoca, pernilongo pequeno, pintador.

Lutzomyia longipalpis

Maruim, mosquito, mosquito de mangue,

pintador.

Ceratopogonidae

Filhote de muriçoca, muriçoca preta, pernilongo

pequeno, pintador.

Aedes aegypti

Muriçoca, muriçoca preta, perna-longa, perna-

longo, pernilongo.

Anopheles sp.

Mosquito da dengue, muriçoca, muriçoca preta,

muriçoca vermelha, perna-longa, perna-longo,

pernilongo.

Mansonia sp.

Muriçoca, muriçoca vermelha, perna-longa,

perna-longo, pernilongo, pintador.

Culex quinquefasciatus

Abelha, muriçoca do animal, mutuca, mutuca de

animal, mutuca de mangue, mutuca do agreste,

mutuca mole.

Tabanidae

Page 37: Conhecimento Ecológico Tradicional

36

Apesar da heterogeneidade apresentada na identificação visual, as conversas

informais e as entrevistas sugeriram convergências em cinco categorias

etnotaxonômicas: muriçoca, mutuca, maruim, pintador e mosquito (Quadro 4).

Quadro 4: Equivalências entre as nomenclaturas da taxonomia padrão e

etnotaxonomia de dípteros hematófagos baseadas nas identificações visuais e dados

fornecidos por entrevistas semi- estruturadas e conversas informais com pescadores

artesanais do Povoado de Areia Branca (Sergipe, Brasil).

Classificação etnotaxonômica Classificação taxonômica padrão

Muriçoca Culicidae de grande e médio porte

Mosquito Grupo generalista envolvendo Culicidae

de pequeno porte, Psychodidae e

Ceratopogonidae

Pintador Psychodidae

Maruim Ceratopogonidae

Mutuca Tabanidae

As categorizações muriçoca e mosquito não se apresentaram fixas, sendo, por

vezes, utilizadas como sinônimos. No entanto, as muriçocas, de maneira geral, referem-

se aos culicídeos de médio e grande porte. Foram mencionados também os termos:

pernilongo, perna-longa e perna-longo, usados em geral para designar muriçocas com

“pernas” longas.

Alguns entrevistados mencionaram classificações baseadas nas cores dos

animais (Quadro 3), alegando que existem muriçocas pretas e vermelhas. Srª ON, 55

anos, referiu-se aos espécimes de Mansonia sp. e Culex quinquefasciatus como

muriçocas vermelhas e associou seus hábitos à maré; já os espécimes de Aedes aegypti e

Anopheles sp., denominou muriçoca preta e associou seus hábitos à vegetação

circundante. Sr. CQS, 72 anos, por sua vez, classifica as muriçocas em brancas e pretas,

afirmando que as pretas se originam da sujeira e do esgoto.

Page 38: Conhecimento Ecológico Tradicional

37

O termo dengue é bastante apropriado pelas pessoas do povoado. Na concepção

dos moradores, a dengue é uma muriçoca também chamada de pernilongo devido às

suas “pernas” longas. Sr. PJ conceitua dengue como um animal grande com um

“sistemozinho” branco. A ideia de que a dengue é uma muriçoca grande induziu um dos

moradores afirmar que os espécimes de Mansonia sp. tratavam-se de exemplares da

dengue.

Mosquitos foram categorizados como espécimes muito pequenos. A utilização

mais comum do termo mosquito é para se referir aos espécimes de Ceratopogonidae. No

entanto, por vezes são utilizados para outros animais, como os flebotomíneos e

culicídeos de pequeno porte, como Ae. aegypti. Sendo assim, foi possível perceber o

domínio etnotaxonômico mosquito subdividido em: mosquito (Culicidae de pequeno

porte), pintador (Psychodidae) e maruim (Ceratopogonidae).

O pintador foi o inseto mais citado nas entrevistas e conversas informais. Os

moradores referem-se a ele como um mosquito pequeno ou muito pequeno. Dois

padrões de coloração foram descritos: vermelho (ON) ou amarelado (JF). Além da

dimensão e do padrão de cores, foram descritas as seguintes características: “asinha

muito grandinha e o rabinho grande” (ON), “asinha bem fininha” (CN) e “asinha pra

cima” (moradora da região em conversa informal). JF também descreveu o pintador da

seguinte forma: “ele é pequeno, tipo mosquito que anda em cachorro”.

A maioria das pessoas entrevistadas demonstrou ter apropriação a respeito do

pintador muito mais pela peculiaridade de sua picada que pelos seus caracteres

morfológicos. Sobre a picada, Sr JF descreve: “é um insetozinho miserável pra morder,

de queimar; é que nem fogo”. Os entrevistados também reconheceram diferenças no

ruído produzido pelo pintador e pela muriçoca. Sr. CN, 48 anos, descreve da seguinte

forma: “A muriçoca vem: uuuhhhhh; ele não, ele vem: biiiiiip”. Sra. CeN, 78 anos,

também comenta sobre as diferenças dos ruídos: “(o ruído do pintador é) fincadozinho,

bem de leve! E a muriçoca já é diferente”.

Dados relacionados ao padrão de voo do pintador também foram utilizados na

investigação para realizar a equivalência entre a etnotaxonomia e a taxonomia padrão.

Sr. JF descreveu o voo da seguinte maneira: “é difícil de matar ele porque ele fica só

pulando de um canto pro outro” e complementou: “É que eles fica assim ói (simulou

com as mãos um padrão de voo em que o inseto “pula” de um ponto a outro)... pousou,

mordeu, já voou. Aí já tá em outro canto, cê vai com a mão, já tá cá! É ligeiro”.

Page 39: Conhecimento Ecológico Tradicional

38

Tais dados foram essenciais para fazer a equivalência do pintador à subfamília

Phlebotominae. A ciência convencional afirma que as asas dos flebotomíneos não são

um caracter importante para a distinção de espécies (NEVES, 2005). No entanto, a

posição das asas entreabertas e levantadas quando os animais estão em repouso é uma

característica marcante desta subfamília. A picada dos flebotomíneos causa uma reação

diferente da dos culicídeos, sendo geralmente descrita como extremamente dolorosa

(NEVES, 2005). Outro dado importante para fazer a equivalência taxonômica e

etnotaxonômica foi a descrição do padrão de voo, como “pulos” de um ponto a outro,

que é característico da subfamília.

Considerando que o Povoado de Areia Branca é uma área endêmica para

flebotomíneos (JERALDO et. al., 2012), fica clara a importância que o pintador exerce

na região, sendo, muitas vezes, o primeiro animal a ser mencionado, tanto em

entrevistas como em conversas informais. Este fato condiz com a afirmação de Neves

(2005), de que o conhecimento popular consegue diferenciar os flebotomíneos de outros

dípteros hematófagos. Em termos etnotaxonômicos, esse fato confirma a perspectiva de

Posey (1992) de que quanto mais intensa a relação entre a comunidade e o ser vivo

abordado, mais refinada é a classificação.

O termo maruim é notadamente empregado para os Ceratopogonidae, que

também são chamados de mosquito, muruim e mosquito de mangue. A mutuca,

claramente associada aos Tabanidae, foi também identificada como mosquito do animal.

Dois taxa, qualidades, no linguajar da comunidade, foram apresentados: mutuca de

mangue e mutuca de agreste. A mutuca e o maruim, dentre os dípteros analisados,

foram os que apresentaram maior associação às marés e às atividades pesqueiras.

Houve, ainda, menção a outro hematófago que não estava na caixa: a muriçoca

da testa branca. Esse animal foi bastante citado em conversas informais e Sr. JF refere-

se da seguinte maneira:

A muriçoca que eu tô dizendo, num tem nenhuma dessa aí. Essa que

vai chegar agora é diferente, ela tem a testa branca. (...) Cê anda aí, cê não

vê ninhuma, só vê assim... toda de uma cor só. Agora, depois dessa chuvada,

todas que você ver têm a testa branca (JF, 2013).

As descrições dadas sobre a muriçoca de testa branca sugerem que este animal

seja o Ochlerotatus scapularis, uma vez que esta espécie apresenta manchas claras na

cabeça e no mesonoto (FUNASA, 2001).

Page 40: Conhecimento Ecológico Tradicional

39

O Povoado de Areia Branca, área constantemente alterada por ações antrópicas,

tem o perfil do tipo de ambiente relacionado à maior distribuição do Oc. scapularis

(FORATTINI et. al., 1995). São animais oportunistas e ecléticos com relação aos

hospedeiros e sua maior densidade é relacionada à época chuvosa, utilizando-se de

criadouros naturais majoritariamente, embora existam ocorrências na literatura da

utilização de criadouros artificiais (CONSOLI & LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994).

7.1.2. Etnoecologia

Os moradores do Povoado de Areia Branca enquadram os dípteros hematófagos

na categoria “inseto” e sua percepção é similar à dos moradores de Pedra Branca

(Bahia, Brasil), atribuindo a estes animais sentido negativo (COSTA NETO, 2004). Foi

possível constatar também que existe uma associação ao comportamento dos animais de

acordo com a sazonalidade (no caso dos Culicidae e Psychodidae) e com o ciclo das

marés (no caso de Ceratopogonidae e Tabanidae).

7.1.2.1. Percepção ambiental

Embora não tenha sido possível elaborar o mapa mental da região, alguns dados

relacionados à maneira como os moradores percebem o ambiente foram obtidos. De

maneira geral, os moradores dividem o espaço do povoado entre a zona maré, como a

zona de ocorrência da maré propriamente dita, utilizada para atividade da pesca

artesanal, a zona periurbana, caracterizada pela ocorrência de casas próxima à maré e a

zona urbana, com casas mais afastadas das marés, em sua maioria, casas de veraneio.

Cada área, para os moradores, apresentou eventos ecológicos característicos.

Os moradores mais antigos apresentaram conhecimento próprio relacionado à

dinâmica das marés, mesmo aqueles que não exercem mais a atividade pesqueira, seja

devido às limitações relacionadas à idade ou ao forte processo de expansão e

urbanização que o povoado tem sofrido.

Em conversas informais, foram fornecidos dados a respeito da dinâmica das

marés, indicando que os moradores têm uma explicação própria para a dinâmica das

marés, associando-a a eventos biológicos, sobretudo relacionados à pesca artesanal.

Para eles, a maré apresenta três fases: a maré de lançamento, a maré de quebra e a maré

morta. A primeira fase é caracterizada como uma maré com um alto volume hídrico e

Page 41: Conhecimento Ecológico Tradicional

40

com uma atividade mais expressiva, segundo JA, 52 anos, “é quando a maré tá

potente”. A segunda caracteriza-se pela fase em que o volume hídrico começa a

diminuir, bem como a sua potência. A terceira representa a maré no seu volume hídrico

mais baixo. Os pescadores geralmente utilizam a maré como recurso na maré de

lançamento. O ciclo descrito, segundo os pescadores, acontece quinzenalmente. Embora

não tenham associado a atividade das marés à lua diretamente, eles apresentaram as

classificações: maré de lua, que ocorre quando a lua está cheia e a maré de escuro, que

ocorrem com a lua nova.

7.1.2.2. Conhecimento ecológico local

De maneira geral, os pescadores associaram a origem de dípteros hematófagos a

sujeira ou materiais em decomposição. Foram observadas diferentes explicações da

origem, associando ao hábitat dos animais em questão. As muriçocas, por exemplo,

foram associadas a esgoto urbano, como evidencia Sr. CQS: “Ah, aí... a muriçoca vem é

de água pôdi, é de... esgoto, é de fossa, é dessas coisa”. Os maruins, por sua vez,

tiveram sua origem associada à matéria orgânica do manguezal, como comenta Sr. JF:

“O mosquito do mangue, você sabe de onde ele se gera? De folha pôdi (...)”.

O conhecimento local a respeito do tempo de vida dos animais não foi unânime.

A maioria dos entrevistados afirmou, sem muita convicção, que o que o tempo de vida

dos dípteros mostrados é até que os animais sejam mortos ao praticarem a hematofagia,

como explicou Sr. JAN, 63 anos: “Se num matar, véve uma vida toda”. Sr. CN, por sua

vez, afirmou que o tempo de vida dos animais é de um ano.

O conhecimento a respeito do tempo de vida da mutuca apresentou

peculiaridade, como exposto por Sra. ON, que afirmou que esses animais vivem 48

horas. Ela afirmou também que esse conhecimento foi ensinado pela sua avó. Este dado

não é condizente com o da ciência convencional, que afirma que, na fase adulta, esses

animais vivem pouco mais de um mês (RAFAEL & CHARLWOOD, 1980).

Alguns moradores têm apropriação da necessidade direta da água para

reprodução e desenvolvimento dos dípteros abordados. Sr. PJ afirmou que eles só se

reproduzem na água. Sra. ON, além de reforçar a relação entre a abundância de água e

aumento na taxa reprodutiva, trouxe em sua fala outros elementos como a afirmação de

que os animais põem ovos e formam ninhos nas matas:

Page 42: Conhecimento Ecológico Tradicional

41

Eu acho que (a reprodução) é através de ovo. De ovinho, é. Algum

ovinho que eles têm, que põe, aí gira um bocado de coisa né? Em qualquer,

assim, lugarzinho, no mato escondidinho né? Faz aquele ninhozinho

escondidinho e põe. Nas folhas... mais nas folhas né? Nos mato. Tudo que é

folha! Eles vive nos mato. Pronto, vamo dizê: pegue as planta! Quando é

tempo de chuva, elas reproduze mais, porque car’da água! Elas são vivência

mais de água. Se elas vêri água, tem uma lagoa, com três dia depois, você vê

um monte de muriçoca voando na sua casa, que é reproduzida pela água.

Reproduzi mais ni mato fresco(ON, 2013).

Dados a respeito da reprodução das muriçocas apresentaram peculiaridades,

como a necessidade da matéria orgânica para realizá-la. A associação do domínio

etnotaxonômico muriçoca à sujeira influencia na maneira como os moradores percebem

as características biológicas dos culicídeos. Tal dado ficou claro na fala de Sr. CN, que

afirmou: “Rapaz, eles prodruz por a água né? Ou pela bosta dos animais, parece, né?

A bosta do animal. E pela água, mais pela lama né?”.

Os pescadores apresentaram ciência a respeito do desenvolvimento

holometabólico das muriçocas, denominando as larvas com uma nomenclatura própria:

cabeça de prego, conceituados como “insetinhos que ficam dentro d’água” (JF) ou

animais miúdos com pernas e cabeças transmitidos por muriçocas (Sr. PJ, 76 anos). A

associação dos cabeças de prego às muriçocas se dá de maneira fantasiosa, de modo que

a metamorfose é encarada como um “transformar-se”. Sobre essa relação de mudança,

Sr. PJ fez associações como: “a lagarta é um inseto que vira uma borboleta” e até

mesmo “o rato é um rato e vira morcego”.

Apesar da noção de desenvolvimento holometabólico, alguns moradores

alegaram que espécies de porte menor, como Lutzomyia longipalpis e Aedes aegypti

tratavam-se de formas jovens de espécies robustas como Mansonia sp. e Culex

quinquefasciatus. A respeito das formas jovens, Sr CQS explica: “Porque todos eles é

um jeito só, só porque talvez seja uma filhote, e outra adulto. Que às vezes, o cara né

criança? Ele tem uma folosomia, quando fica adulto muda!”.

Todos os entrevistados apresentaram ciência a respeito do hábito hematofágico,

associando-os, sem muita convicção, a alimentação, como afirmou Sr. RS:

Meu amigo, agora... eu acho... eu acho que é uma coisa que eu não

tenho muita certeza, eu acho que a muriçoca e o mosquito, ele morde a

gente, eles véve alimentado, eu acho que do sangue da gente (RS, 2013).

Apesar da apropriação a respeito do repasto sanguíneo, as pessoas tinham ideia

de que os animais têm outras necessidades nutricionais, embora não conseguissem

explicar do que constituiria essa alimentação, como afirmou Sr. JF, com relação à

mutuca: “Num sei como é que ele se alimenta no mangue”.

Page 43: Conhecimento Ecológico Tradicional

42

Outro fato constatado foi a percepção dos hábitos oportunistas dos animais

relacionados à alimentação, sobretudo das mutucas, como explicitado pela Sra. ON:

Vive de sangue, assim, de animal, de gente... (...) de bichinhos. Sobe

no passarinho, ela chupa o sangue dos bicho. Porque ela não gosta de lama,

não bebe só água, elas chupa o sangue. Você vê que a mutuca é uma

desgraçada pra morder gente, ela com tudo ela morde, chupa o sangue da

sua carne. (...) Você vê quando tem um cachorro, elas cai em cima dum

animal, dum cavalo, tudo aí ela chupa o sangue! (ON, 2013).

Outros dípteros foram apontados como hematófagos em potencial de outros

vertebrados. Alguns moradores, inclusive, associaram esse hábito ao desenvolvimento

de enfermidades em seres humanos e outros animais.

A distribuição espacial dos dípteros hematófagos como um todo foi dividida em

três grupos: os de ocorrência urbana, periurbana e os de ocorrência na maré. O

representante urbano é a muriçoca; o periurbano, o pintador. Os maruins e mutucas, por

sua vez, tiveram sua ocorrência restrita à maré, salvo a mutuca de agreste, que ocorre na

vegetação circundante.

Alguns moradores apresentaram ciência a respeito da característica cosmopolita

da distribuição das muriçocas, como Sr. RS: “Porque a muriçoca, ela roda o Brasil

inteiro (...)”. Embora as muriçocas tenham sido frequentemente associadas a sujeira e

esgoto urbano, seu habitat foi bastante associado a recursos naturais abundantes na

região, como expuseram Sr. RS: “Eu acho que eles véve, como eu falei inda agora, é

dentro do mangue, é debaixo de um pé de árvore (...)” e Sr. CN: “É. A muriçoca véve

em todo canto né? (...). Debaixo de mangueira, assim... elas gosta de tá debaixo de

mangueira”.

Com relação ao pintador, embora, na concepção dos moradores, sua distribuição

se dê nos perímetros urbanos, mas com maior intensidade nas casas próximas à maré,

foi colocado que o crescimento urbano do povoado tem diminuído a ocorrência desses

animais na região.

De modo geral, segundo os pescadores, os animais têm maior ocorrência no

inverno, com exceção do pintador, que tem maior atividade no verão. É importante

esclarecer que o estado de Sergipe não apresenta as quatro estações bem definidas, mas

um período de aproximadamente quatro meses (abril – julho) de chuva, que é chamado

de inverno; e um longo período de estio que dura os oito meses restantes (verão).

Maruim e mutuca, por sua vez, apresentaram especificidades na distribuição, tendo sua

ocorrência associada às atividades das marés.

Page 44: Conhecimento Ecológico Tradicional

43

A respeito da atividade maior das muriçocas durante o inverno, Sr. RS explicou:

Porque a muriçoca no verão, ela não ataca muito mode o calor,

agora no inverno, que chove, aí elas, a chuva bate no... nos pé de árvore,

molha, elas tão embaixo do pé de árvore, das fôia e sai mordendo a gente.

(RS, 2013)

E complementou: “No verão num dá por que mode o calor, num é? Aí mata

muito ela”. A ideia da necessidade direta da água para o desenvolvimento é apresentada

no discurso, porém, a associação feita é relacionada à temperatura, em detrimento da

abundância ou escassez de recurso.

Outro dado trazido pelos moradores em conversas informais ou de forma

indireta durante as entrevistas foi a utilização de recursos naturais como árvores,

sobretudo mangueiras, como abrigo por parte das muriçocas. A relação que eles fazem

entre o habitat e a chuva é a de que esta serve como um fator que inviabiliza o abrigo

das muriçocas, fazendo com que estes animais se dispersem no inverno.

Sr. JAN, por sua vez, explicou maior atividade no inverno pelo fato de as

muriçocas gostarem mais de água doce, afirmando que no verão estes animais vão para

o brejo. Esta afirmação transmite a ideia de que os animais necessitam diretamente da

água e reflete apropriação por parte do morador a respeito do caráter oportunista desses

animais.

As percepções a respeito das distribuições sazonal e espacial de culicídeos

condizem com os dados de Guimarães et. al. (2001), que constataram que meses mais

quentes e úmidos foram determinantes na maior distribuição e diversidade de 28

espécies de culicídeos. Devido à baixa amplitude térmica anual de Aracaju, é esperado

que a disponibilidade de chuva seja um fator determinante na distribuição e abundância

de culicídeos em detrimento da temperatura.

Para a comunidade, o verão é a época do ano em que o pintador apresenta

atividade mais intensa, como afirmou Sr. CQS: “Ataca mais no verão; gosta mais de

calor”. Sr. CN e Sra. ON também associaram a atividade intensa do pintador ao verão.

Jeraldo et. al. (2012), no entanto, constataram que nos anos de 2008 e 2009, a

distribuição de L. longipalpis foi diretamente proporcional aos grandes picos de chuva

no povoado do Mosqueiro, vizinho ao de Areia Branca, como mostra a Figura 4:

Page 45: Conhecimento Ecológico Tradicional

44

Figura 4: Pluviosidade mensal e números de Lutzomyia longipalpis machos e

fêmeas, capturados no povoado do Mosqueiro (Sergipe, Brasil).

Fonte: JERALDO et al, 2012.

Os dados discrepantes entre a percepção da comunidade e a coleta

realizada na região sugerem a realização de investigações sobre a relação entre o

maior número de L. longipalpis e seu período de maior atividade.

Os hábitos de maruins e mutucas, de maneira geral, foram associados à

dinâmica das marés, com exceção da mutuca de agreste. Esta última teve sua

maior ocorrência relacionada à distribuição das chuvas, sendo mais frequente no

inverno. Neves (2005) comenta a respeito de distribuições sazonais

características de algumas espécies de tabanídeos. A informação fornecida pelos

pescadores a respeito das mutucas sugere uma investigação a respeito da relação

entre sua sazonalidade e maior ocorrência.

A associação da atividade de maruins e mutucas não é unânime. Alguns

defendem maior atividade destes animais na maré de lançamento, outros na maré

morta. Foi percebido que os sujeitos que ainda exercem a atividade da pesca

artesanal associaram a grande quantidade desses animais à maré de lançamento,

sendo a outra ideia defendida por pessoas que não praticam mais tal atividade.

Page 46: Conhecimento Ecológico Tradicional

45

7.1.3 Etnoepidemiologia

7.1.3.1. Percepção da comunidade a respeito da competência vetorial

De maneira geral, os moradores associaram os dípteros hematófagos a seres

nocivos. A gênese desta associação pode ter se dado devido à visão negativa sobre o

domínio etnotaxonômico inseto, como explicitou Sr CQS: “Porque animal, inseto,

nunca atrai nada bom. Atrai, só traz o que? Ruína pro corpo da gente”. Em conversas

informais, pessoas enquadraram grupos taxonômicos distintos no domínio

etnotaxonômico inseto, como ratos, por exemplo. A visão negativa a respeito desses

animais são, por si, um dado etnoepidemiológico relevante, uma vez que, ao serem

aprofundados os motivos, foram colocadas duas situações: os dípteros enquanto seres

incômodos devido às picadas e enquanto transmissores de doenças.

O incômodo da picada foi o principal fator para a associação a uma imagem

negativa desses animais, como explicitado por Sr. CQS: “Rapaz, esses inseto aqui, eu

acho que num traz nada bom né? Porque... sempre deixa uma coceirinha no corpo da

pessoa”. Sr. RS comentou a respeito do perigo da picada:

Eu acho que é perigoso porque quando morde ele deixa aquela

coceira terrívi, e tem gente que tem elergia. Tem gente lá que vai se bater no

hospital, por picada de mosquito, de muriçoca demais, vai se bater no

hospital (RS, 2013).

Para alguns moradores, a alergia causada pela picada de alguns dos animais, por si, já

pode ser considerada uma enfermidade.

Sra. ON afirmou que os animais não transmitem doenças. Sr. JF complementou

a ideia alegando conviver com os animais há um longo tempo sem que eles lhe

causassem nenhuma injúria a não ser o incômodo das picadas. Sra CeN afirmou:

“Rapaz, tem gente que quando o mosquito morde, o corpo fica meio assim... coça

muito, sabe? Fica aqueles calombo. Mas aquilo ali depois some. De doença nunca ouvi

falar não”.

Muitos moradores, no entanto, afirmaram que os dípteros abordados causavam

doenças, como afirmou Sr. RS: “Todos eles causa doenças”, porém não sabiam dizer o

tipo de doença. A construção cultural a cerca do domínio etnotaxonômico inseto se

demonstrou eficaz na associação à transmissão de patógenos, como explicitou Sr. JF:

“Devem causar doenças porque são insetos”.

Um fator associado à transmissão das doenças é o hábito hematofágico

generalista. Tal dado sugere uma apropriação, por parte dos moradores, de outros

Page 47: Conhecimento Ecológico Tradicional

46

vertebrados como reservatórios naturais de seres patogênicos. Sr. RS comentou: “Meu

amigo, eu acho que... bom, eu acho que... realmente causa (doenças), porque quando a

muriçoca morde a gente, é um inseto que morde tudo, todos bicho, né? Morde cavalo,

morde... tudo!” Para Sr CQS, a única maneira de uma mutuca transmitir doença é: “Se

morder um animal doente e depois vim morder uma pessoa, pode incomodar né?”.

O conhecimento a respeito da capacidade das muriçocas como vetores de

patógenos não foi uniforme, uma vez que majoritariamente, as pessoas não associaram a

muriçoca a doenças, porém, consideraram a dengue como um tipo de muriçoca e foi a

única doença citada. A análise a respeito das muriçocas foi parecida com a dos outros

dípteros, em que as pessoas alegaram que são animais nocivos pelo incômodo de sua

picada. As pessoas entrevistadas, no entanto, deram maior ênfase ao domínio

etnotaxonômico muriçoca e apresentaram sua própria maneira de explicar a febre

causada pela picada desses animais, como explicitou Sr. CN: “Elas, assim, a muriçoca,

se for demais, ela prejudica a pele da pessoa, né? Que fica todo cheio de calombo e tal,

aí pode dar uma febre né?”. Sr CQS, no entanto, expôs seu ponto de vista a respeito da

capacidade das muriçocas enquanto vetores: “Eu acredito que ali eles vêm contaminado

de tudo né? Pode dar uma coceira, pode abrir uma ferida, pode dar uma elergia, e isso

tudo acontece né?”. Apresentaram também hipóteses para a reação alérgica das picadas,

como explicou Sr RS: “Chega nas veia dela, no sangue dela quando ela... aí... dá

arguma reação e quando chega no da gente, fica esse negócio”.

A única doença associada à muriçoca foi a dengue, embora nenhum deles tenha

reconhecido os espécimes de Ae. aegypti na caixa entomológica. Sra CeN, por exemplo,

afirmou nunca ter visto um mosquito da dengue, apenas na televisão. A dengue, na

visão dos moradores, por vezes é abordada como doença, outras como um tipo diferente

de muriçoca ou mosquito. Foi possível perceber que a utilização dos termos “mosquito”

e “pernilongo” para se referir à dengue são influências das campanhas de saúde

realizadas no povoado e assistidas na televisão. Na concepção da parcela entrevistada da

comunidade, a dengue é a única muriçoca patogênica. Tal ideia foi explicitada na fala

de Sr. CN: “Agora, o que ataca mermo, que diz que ataca mermo, é o tal do, tal do... do

mosquito da dengue”.

O domínio etnotaxonômico pintador foi o mais citado nas entrevistas, devido ao

incômodo peculiar causado pela sua picada associada aos seus hábitos periurbanos e o

seu tamanho diminuto. A reação violenta na pele devido à picada desse animal foi a

razão para ele ser chamado de pintador. Sr JF comentou: “Tinha noite que eu não

Page 48: Conhecimento Ecológico Tradicional

47

dormia não, quando amanhecia o dia, eu mermo dizia que eu tava com sarampo”. O

incômodo da picada foi descrito de diversas formas pelos moradores. Sr JF comentou:

“Agora, mermão... né todo mundo que suporta não” e complementou: “(...) é um

insetozinho miserável pra morder. De queimar. É que nem fogo”. Ainda sobre a picada,

Sra ON comentou: “É ardoso! Ele queima mermo que você pensa que... que é a

furadinha, assim, de qualquer injeção”. Sra CeN comenta a respeito da diferença da

picada do pintador e da muriçoca: “(...) eu conheço da dentada dele e é diferente da

muriçoca que é forte e fica queimando”.

O tamanho diminuto do pintador foi outro problema apresentado, uma vez que,

segundo os entrevistados, são capazes de atravessar barreiras mecânicas como telas,

mosqueteiros, lençóis e até mesmo vestimentas. Sra CeN comentou a respeito da

diferença de tamanho entre o mosquito e o pintador, o primeiro consegue ser barrado

pelo mosqueteiro e o segundo atravessa. Sr JF apresentou as seguintes problemáticas:

Não, ele passa na malha do lençol! Na brecha da (...). Uma

camisetinha dessa (apontando para a camiseta de malha sintética de um dos

entrevistadores), meu amigo, ele passa tranquilo! No fundo do pano ele

ainda passa. Às vezes eu tô aqui ói... (...) acendo a luz e fico... quando tem

muito. Eles passando no, no... no furo do, do.. na máia do lençol, no

furozinho, ele ainda passa ali! (CeN, 2013).

Sr JF apresentou bastante apropriação ao afirmar que o pintador praticava

hematofagia em outros vertebrados. Referiu-se ao pintador como “mosquitinho que dá

em cachorro” e mencionou:

Se você quer (...), ouça o que eu tô dizendo: onde tiver um animal

que durma preso, um cavalo ou uma vaca, pode botar o aparelhozinho

(armadilha de CDC) pra pegar... que você vai ver a quantidade que vai pegar

desse mosquitinho aí (JF, 2013).

Reconheceu que existem maneiras de evitar o contato entre vertebrados e o pintador,

afirmando que a armadilha teria que ser colocada perto de criadouros de “gente pobre”,

pois “gente rica” tem como evitar o contato dos vertebrados com o pintador. Sobre a

grande quantidade de pintador na região, ele comentou: “É o que eu tô dizendo, se você

for num lugar que tiver um animal preso por aqui por essa região, aquele

aparelhozinho (armadilha de CDC) num vai caber não”.

Não foi associado nenhum tipo de enfermidade ao pintador. Semelhante ao que

ocorreu em outros grupos, alguns entrevistados associaram o incômodo intenso da

picada à enfermidade, como Sr. CQS: “O pintador também dá (doença)! É uma coceira

danada que eu num gosto, ma rapáiz, ninguém pode dormir não!”. Sra ON afirmou que

o pintador não causa doença alguma. Sr JF, que reconheceu a atividade hematofágica do

Page 49: Conhecimento Ecológico Tradicional

48

pintador em outros vertebrados e reconheceu a forte reação causada na pele, ao ser

questionado sobre manchas na pele de alguns felinos criados por ele, respondeu: “Não,

eles tão pintado assim é... é porque... dorme no chão né? E também, no chão... contém

pulga (...) Eu dei remédio de verme, já tão melhorando (...)”.

Nenhum tipo de enfermidade foi associado ao maruim. As pessoas comentaram

sobre incômodos causados pela picada desses animais, que só são percebidos em

atividades pesqueiras, uma vez que sua ocorrência está restrita às marés.

7.1.3.2. Medidas profiláticas

Os entrevistados apresentaram mecanismos próprios de controle e prevenção dos

dípteros hematófagos. Os primeiros, em geral, baseiam-se no controle mecânico, com a

utilização de calçados ou as mãos para matar os animais, ou controle químico, com a

utilização de inseticidas. Os métodos de prevenção adotados foram a utilização de

mosqueteiros, utilização de cremes (inclusive protetor solar) e a realização de pequenas

queimadas, alegando que o cheiro da fumaça serve como repelente para esses animais.

Com relação á mutuca e ao maruim, Sr. JAN descreveu algumas maneiras que

julga eficazes para evitar o contato com os dípteros: “O cara faz um facho de pati de

coco, de coqueiro ói o peixinho assim ói, o peixinho assim, e amarra e toca fogo, aí é

como (...) aí ele num encosta”; e também descreveu: “Pegava cocô de boi, bota num...

num vaso, d’uma lata assim né... e leva pro mangue, toca fogo e fica fumaçando lá aí

ele num encosta”. Afirmou que aprendeu essas técnicas acidentalmente, quando jovem,

e que as utiliza desde então.

Foi possível observar em uma ida a campo a realização de queimada de folhas e

madeiras. O estudo para desenvolver produtos com capacidade de repelência para

mosquitos é baseado em compostos químicos provenientes de vegetais, sobretudo as

folhas e madeiras. A queima destas últimas libera produtos prejudiciais à saúde humana

e ao meio ambiente (BARBOSA, NASCIMENTO & MORAIS, 2007), deixando clara a

necessidade de acompanhamento dessas atividades.

Page 50: Conhecimento Ecológico Tradicional

49

7.1.3.3. Perspectiva Etnoepidemiológica

A valorização do conhecimento tradicional traz consigo a proposta

epistemológica de que os dados fornecidos pela comunidade estudada tenham

relevância, no sentido de complementar o conhecimento acadêmico, além de poderem

gerar dados mais completos, na perspectiva de Posey (1992), para as questões

epidemiológicas e nortearem ações como o combate aos dípteros hematófagos.

Moradores do Povoado de Areia Branca apresentaram algumas peculiaridades na

maneira como constroem o conhecimento a respeito dos dípteros hematófagos. Apesar

dessas peculiaridades, as campanhas de prevenção e controle desses animais parecem

não dialogar com a realidade local. As formas subjetivas como as populações

interpretam os processos de saúde/doença devem, então, ser consideradas demandas

emergentes na perspectiva epidemiológica.

Posey (1992) comenta sobre a dificuldade metodológica de distinguir a

interpretação ética da êmica, uma vez que as duas interpretações dialogam

constantemente. No entanto, na perspectiva do autor, é importante perceber as duas

formas de conhecimento para elaborar uma medida eficaz de diálogo não só entre os

pesquisadores e as comunidades, mas entre os conhecimentos, numa maneira de, a

longo prazo, criar uma nova cultura em que o conhecimento científico e o popular não

sejam necessariamente discrepantes.

A proposta de considerar aspectos etnotaxonômicos no planejamento do controle

de dípteros hematófagos não é inédita, embora pouco usual. Sumabila & Lugo (2007),

baseados em sua experiência na maneira como os Cuiva, na Venezuela, se relacionavam

com mosquitos, propuseram que:

Os serviços de controle de saúde precisam promover programas

intensivos de identificação de mosquitos e fornecer informações pertinentes

com relação a eles. Isso poderia ser implementado incorporando

conhecimento nativo tanto sobre o meio ambiente quanto sobre os padrões

comportamentais dos mosquitos.

Um melhor entendimento na relação entre o sistema de crença dos

Cuiva e as doenças causadas por mosquitos poderiam possivelmente reduzir

sua incidência (SUMABILA & LUGO, 2007 p. 85).

A falta de esclarecimento dos pescadores do povoado a respeito do Ae. aegypti

alerta para uma deficiência nas campanhas de vigilância epidemiológica e promoção de

Page 51: Conhecimento Ecológico Tradicional

50

saúde. Foi possível perceber que as pessoas não associaram os espécimes mostrados na

televisão com os animais no seu dia a dia. A utilização do nome pernilongo nas

campanhas induziu as pessoas a associarem a espécie a muriçocas com as pernas longas,

o que dificulta na identificação do Ae. aegypti, culicídeo de pequeno porte. A associação

da dengue com culicídeos de grande porte foi percebida na maioria das falas, seja ao

associarem a dengue aos espécimes de Mansonia sp., seja ao afirmarem a ausência de

mosquitos da dengue na caixa entomológica, como colocou Sra CeN: “O que passa (na

televisão) é diferente né? Esses daí são miudinho (...)”. Considerando a diferença

semântica apropriada pela comunidade dos domínios muriçoca e mosquito, fica

evidente a necessidade de conhecer as construções culturais da comunidade a respeito

dos dípteros hematófagos como um todo para um combate eficaz aos insetos vetores.

Para os moradores mais antigos, a dengue é um problema distante de sua

realidade. Esta ideia ficou clara numa conversa informal com uma moradora antiga da

região ao informar que nem eles (responsáveis pela veiculação das informações sobre

saúde) sabem o que é a dengue, pois “a vida inteira cabeça de prego foi muriçoca e

agora eles dizem que é a dengue”. A participação efetiva da comunidade nas

campanhas tem se dado muito mais por imposição que por compreensão, de fato, dos

problemas epidemiológicos. Sra CeN afirmou que toma as medidas de precaução

necessárias porque os agentes podem “dar bronca”, caso as medidas preventivas não

sejam cumpridas.

A leishmaniose visceral é endêmica no estado de Sergipe, com quase 1900 casos

confirmados de 1990 a 2011 (Brasil, 2012). No município de Aracaju, há dois bairros

com maior ocorrência para a enfermidade: Bairro América e Mosqueiro, como mostra o

mapa abaixo (Figura 5):

Page 52: Conhecimento Ecológico Tradicional

51

Figura 5: Mapa dos casos humanos de leishmaniose visceral em Aracaju

(Sergipe, Brasil) de 2005 a 2010.

Fonte: BRASIL, 2013.

De 2003 a 2009, foram registrados 109 casos de leishmaniose visceral em

humanos no município de Aracaju, dos quais aproximadamente 30% foram do bairro

mosqueiro (BRASIL, 2013). O número de caninos infectados de 2004 a 2010 pode ser

considerado alarmante, com 112 positivos, dos 1287 examinados (BRASIL, 2013).

Além dos dados a respeito da doença, foram encontradas quantidades significativas de

Lutzomyia longipalpis na região estudada (JERALDO et al, 2012), ficando evidente a

necessidade de desenvolvimento de programas de controle e prevenção desta

enfermidade.

O estudo realizado por Jeraldo et. al. (2012), no entanto, foi o primeiro a respeito

da fauna flebotomínica na região e requer ações conjuntas com a comunidade. O

controle da doença ainda se dá através da eutanásia dos vertebrados infectados. Em uma

conversa informal com uma moradora, ela demonstrou grande aflição relacionada ao

calazar, nome popular da leishmaniose. Em nenhum momento, no entanto, nem com a

aplicação das entrevistas, nem em conversas informais, o pintador foi associado ao

calazar, o que sugere que tanto o pintador quanto o calazar são domínios bem

apropriados na região, no entanto, as campanhas não foram capazes de conscientizar a

população a ponto de associar os dois fatores.

Page 53: Conhecimento Ecológico Tradicional

52

8. CONCLUSÕES

Os entrevistados demonstraram um sistema próprio de classificação dos dípteros

hematófagos. Os animais estudados foram associados a um aspecto negativo. As

nomenclaturas foram diferenciadas de acordo com o habitat, a intensidade das picadas,

o padrão de voo e caracteres morfológicos como a coloração e, principalmente, o

tamanho. Os maruins e mutucas foram considerados animais de ocorrência apenas nas

marés, o pintador, periurbano e mosquitos e muriçocas, urbanos.

As percepções a respeito das características biológicas e distribuições sazonal e

espacial dos dípteros analisados apresentaram alguns pontos em comum com o

conhecimento acadêmico. De maneira geral, a apropriação a respeito dos culicídeos é

equivalente com o conhecimento acadêmico. Conhecimentos bastante específicos

relacionando as atividades de ceratopogonídeos e tabanídeos à dinâmica das marés, bem

como a afirmação de maior atividade de flebotomíneos no verão, foram consideradas

fontes de investigação para um posterior respaldo científico.

Os moradores entrevistados e abordados não reconheceram o potencial

patogênico dos animais analisados, a não ser a dengue. Tal fato evidencia a necessidade

de trabalhos contínuos com a proposta de complementaridade entre os saberes. Isso se

evidencia no caso dos flebotomíneos, que para a comunidade trata-se do pintador, um

mosquito reconhecido apenas pela sua picada incômoda. Por outro lado, o nome

pintador na academia é inédito, sendo um dado fundamental para nortear ações com o

intuito de controlar esses insetos.

Considerando as discrepâncias entre o conhecimento acadêmico e popular a

respeito dos dípteros hematófagos e a sua capacidade de transmitir patógenos, fica clara

a demanda da elaboração de um método mais eficaz de sensibilização da comunidade. A

incorporação do etnoconhecimento nas demandas epidemiológicas traz consigo a

responsabilidade para os pesquisadores de desenvolverem trabalhos constantes e

contínuos, de forma a diminuir a polarização entre as duas formas de saberes.

Este trabalho não pretende sanar as questões epistemológicas pendentes da

elaboração de um método que considere o etnoconhecimento na resolução de problemas

epidemiológicos. Há de se considerar as limitações devido ao pouco acúmulo na ciência

de trabalhos com essa perspectiva. A pretensão deste trabalho é, então, apresentar uma

nova forma de fazer ciência sem abrir mão do rigor científico, padrão tão necessário

para gerar dados de confiabilidade.

Page 54: Conhecimento Ecológico Tradicional

53

9. REFERÊNCIAS

ALMEIDA FILHO, N. La ciência tímida. Ensayos de desconstruccíon de la

epidemiologia. Lugar Editorial, Buenos Aires, 2000.

ALVES, A.G.C; SOUTO, F.J.B. Etnoecologia ou Etnoecologias? Encarando a

diversidade conceitual; 17-39 In: ALVES, A.G.C.; SOUTO, F.J.B.; PERONI, N.

Etnoecologia em perspectiva: natureza, cultura e conservação. Recife, Nupeea,

2010.

ALVES, W.C.L.; GORAYEB, I.S.; LOUREIRO, E.C.B. Bactérias isoladas de

culícideos (Diptera: Nematocera) hematófagos em Belém, Pará, Brasil. Rev. Pan-

Amaz. Saude, v.1, p.131-142, 2010.

ANDERSON J.F. et al. Isolation of West Nile virus from mosquitoes, crows, and a

Cooper’s hawk in Connecticut. Science v. 286, p. 2331-2333, 1999.

BARBOSA, A.P.; NASCIMENTO, C.S.; MORAIS, J.W. Estudos de propriedades

antitermíticas de extratos brutos de madeira e casca de espécies florestais da

Amazônia Central, Brasil. Rev. Acta Amazonica, v. 37 n. 2, p. 213-218, 2007.

BARRETO, M.L.; ALVES, P.C. O coletivo versus o individual na epidemiologia:

contradição ou síntese?. p. 129-135. in Qualidade de vida: compromisso histórico

da epidemiologia. Anais do III Congresso Brasileiro de Epidemiologia. Coopmed-

Abrasco, Belo Horizonte- Rio de Janeiro, 1994.

BARRETO FILHO, H. Populações tradicionais: introdução à critica da ecologia

política de uma noção 109-43 In: Adams C, Murrieta RSS, Neves WA (Ed.)

Sociedades Caboclas Amazônicas: Modernidade e Invisibilidade. Annablume, São

Paulo; 2006.

BASI, J.B.; COELHO-DE-SOUZA, G.; KUBO, R.R. Etnoecologia contemporânea e

interdisciplinaridade: contribuições da antropologia ecológica de Tim Ingold. In:

Anais do IV Encontro da Rede de Estudos Rurais: Mundo rural, políticas públicas,

instituições e atores em reconhecimento político. Curitiba, UFPR, 2010.

Page 55: Conhecimento Ecológico Tradicional

54

BÉHAGUE, D.P.; GONÇALVES, H.; VICTORIA, C.G. Anthropology and

Epidemiology: learning epistemological lessons through a collaborative venture.

Ciênc. saúde coletiva. v. 13 n. 6, 1701-1710, 2008.

BEGOSSI, A. Ecologia Humana. In: Begossi A. (Org) Ecologia de Pescadores da

Mata Atlântica e da Amazônia. São Paulo, p. 13-36, 2004.

BERKES, F. Sacred ecology: traditional ecological knowledge and resource

management. Philadelphia, Taylor & Francis, 1999.

BERKES, F.; COLDING, J.; FOLKE, C. Rediscovery of traditional ecological

knowledge as adaptive management. Ecol. Appl. v. 10 n. 5, p. 1251- 1262, 1998.

BONITA, R.; BEAGLEHOLE, R.; KJELLSTRÖM, T. Epidemiologia Básica. 2. ed.

São Paulo, OMS, 2010.

BORKENT, A. World species of Biting Midges (Diptera: Ceratopogonidae). 2009.

Disponível em:

http://www.inhs.illinois.edu/research/FLYTREE/CeratopogonidaeCatalog.pdf.

[acessado em 22 de março, 2013].

BRAKS, M.A. et al. Convergent habitat segregation of Aedes aegypti and Aedes

albopictus (Diptera: Culicidae) in southeastern Brazil and Florida. J Med Entomol

v. 40, 2003, 785-794.

BRASIL. FUNASA. A Epidemiologia Ambiental In: MS. Textos de Epidemiologia

para Vigilância Ambiental em Saúde. Brasília, 2002.

______. Ministério da Saúde. Centro de Controle de Zoonoses de Aracaju.

Aracaju/SE, 2013.

______. Ministério da Saúde. Casos confirmados de Leishmaniose

Visceral, Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 1990 a 2011.

Disponível em:

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/2012_11_casos_de_lv_entre_1

990_e_2011_final.pdf [Acessado em 04 de abril de 2013].

Page 56: Conhecimento Ecológico Tradicional

55

______. Ministério da Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. Brasilia, DF, 2011.

______. Ministério da Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. Brasilia, DF, 2009.

______. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Vigilância Epidemiológica.

Manual de Terapêutica da Malária. Brasília, 2001, P. 11-12.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de

Vigilância Epidemiológica. Guia de Vigilância Epidemiológica. Série A. Normas e

Manuais Técnicos. Brasília, 2005, p. 521-522.

______. SUS - Sistema Único de Saúde. Portal da Saúde. Disponível em:

[http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1525]. Acessado

em 23 de maio de 2012.

CDC- CENTER DISEASE CONTROL AND PREVENTION. West Nile virus.

Disponível em: [http://www.cdc.gov/ncidod/dvbid/westnile/index.htm]. Acessado em:

08 de maio, 2012.

CLEMENTS, A. N. The biology of mosquitoes, vol. 1. London, Chapman & Hall, 1992.

________. The biology of mosquitoes, vol.II. London, Chapman & Hall, 1999.

COLCHESTER, M. Resgatando a natureza: comunidades tradicionais e áreas protegidas.

In: Diegues, A.C. (org.). Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza

nos trópicos. São Paulo: Hucitec, NUPAUB-USP, 2000.

CONSOLI, R. A. G. B.; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, R. Principais Mosquitos de

Importância Sanitária no Brasil. Rio de Janeiro, Fiocruz. 1994.

CORTEZ, C.S. Conhecimento Ecológico Local, Técnicas de Pesca e Uso dos Recursos

Pesqueiros em Comunidades da Área de Proteção Ambiental Barra do Rio

Mamanguape, Paraíba, Brasil. Dissertação de Mestrado. João Pessoa, PB, 2010.

COSTA, C. H. N. Characterization and speculations on the urbanization of visceral

leishmaniasis in Brazil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 12, 2008 .

COSTA NETO, E.M. Estudos etnoentomológicos no estado da Bahia, Brasil: uma

homenagem aos 50 anos do campo de pesquisa. Biotemas v. 17 n. 1, p. 117- 149,

2004.

Page 57: Conhecimento Ecológico Tradicional

56

__________. Etnoentomologia no Povoado de Pedra Branca, município de Santa

Terezinha, Bahia. Um estudo de caso das interações seres humanos/insetos. Tese

(Doutorado) São Carlos, UFSCAR, 2003.

DIEGUES, A. C. A pesca construindo sociedades. São Paulo: NUPAUB – USP, p.

315, 2004.

DIEGUES, A.C.; ARRUDA, R.S.V. Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil.

Min Mei Amb, Brasília, 2001.

ERWIN, T. L. A copa da floresta tropical: o coração da diversidade biológica. In:

Wilson, E. O. (ed.). Biodiversidade. Rio de Janeiro, Brasil, Nova Fronteira p. 158-165,

1997.

FRACCARO, L.C.Z.; SILVA, M.P.A; MOLINA, S.M.G. Percepção ambiental sob a

ótica da ecologia humana: o estudo da população rural do município de Ipeúna,

SP. 2010. Disponível em: www.anppas.org.br/encontro5/cd/.../GT2-250-303-

20100903201002.pdf. [Acesso em 03 de agosto de 2012].

FANTINATTI, E.C.S. et al. Abundance and aggregation egg of Aedes aegypti L. and

Aedes albopictus (Skuse) (Diptera: Culicidae) in the north and northwest of the

State of Parana, Brazil. Neotrop Entomol, v. 36, p. 960-965 2007.

FERNANDES R.C.P. Uma leitura sobre a perspectiva etnoepidemiológica. Ciência

& Saúde Coletiva, v. 8 n. 3 p. 765-774, 2003.

FERREIRA, R.L.M.; HENRIQUES A.L.; RAFAEL, J.A. Activity of Tabanids

(Insecta: Diptera: Tabanidae) Attacking the Reptiles Caiman crocodilus (Linn.)

(Alligatoridae) and Eunectes murinus (Linn.) (Boidae), in the Central Amazon,

Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 97, n. 1, p. 133-136, 2002.

FORATTINI, O.P. Entomologia Médica. Vol. 1. Faculdade de Higiene e Saúde

Pública, São Paulo, 1962.

_________. Identificação de Aedes (Stegomya) albopictus (Skuse) no Brasil. Rev

Saúde Pública, v. 20, n. 5, 1986.

_________. Culicidologia médica: identificação, biologia, epidemiologia. São Paulo,

Edusp, v.2, 2002.

Page 58: Conhecimento Ecológico Tradicional

57

FORATTINI, O. P. et al. Studies on mosquitoes (Diptera: Culicidae) and anthropic

environment 9-Synanthropy and epidemiological vector role of Aedes scapularis in

South-Eastern Brazil. Revta Saúde públ., São Paulo, v. 29, n. 3, 199-207, 1995.

FRANÇA, S.L.A.; REZENDE, V.F. Urbanização dispersa da Zona de Expansão

Urbana de Aracaju/SE: materialização de conflitos sócio-ambientais. VITAS, v. 3,

2012.

FRESCHI, J.M. Autoria, interculturalidade e conhecimentos etnoecológicos: o caso

dos agentes agroflorestais indígenas do Acre. Dissertação de Mestrado UnB, Brasília,

DF, 2004.

GADELHA, A.M.J. et al. Integração entre epidemiologia e antropologia. Hist.

Cienc. Saúde – Manguinhos, v.6, n. 3, p. 689-705, 2000.

GODDARD, L. B. et al. Vector competence of California mosquitoes for West Nile

Virus. Em. Inf. Dis., Atlanta, v. 8, n. 12, p. 1385-1391, 2002.

GOMES, A.C. et al. Anthropophilic activity of Aedes aegypti and of Aedes albopictus

in area under control and surveillance. Rev Saude Publica, v. 39, 206-210, 2005.

GOUVEIA DE ALMEIDA, A. P. Os mosquitos em Portugal século XX. Acta Med

Port, v. 24, n. 6, p. 961-974, 2011.

GUBLER, D. J. Dengue and dengue hemorrhagic fever. Clinical microbiology

reviews, Washington, v. 11, n. 3, p. 480-496, 1998.

______. The emergence of epidemic dengue fever and dengue hemorrhagic fever in

the Americas: a case of failed public health policy. Rev Panam Salud Publica, v. 17,

221-224, 2005.

GUIMARÃES, A.E. et al. Ecologia de mosquitos em áreas do Parque Nacional da

Serra da Bocaina. II – Freqüência mensal e fatores climáticos. Rev Saúde Pública,

v. 35, n. 4, 392-399, 2001.

GUIMARÃES, F.F et al. Ações da vigilância epidemiológica e sanitária nos

programas de controle de zoonoses. Vet. e Zootec, v. 17, n. 2, p. 151-162, 2010.

HALL, R. D.; GERHARDT, R. R. Flies (Diptera). In: Medical and Veterinary

Entomology. New York: Els Sci, 2002. p.127-145.

Page 59: Conhecimento Ecológico Tradicional

58

HANAZAKI, N. Etnobotânica. In: Begossi A (org.). Ecologia de pescadores da

Mata Atlântica e da Amazônia. São Paulo, Hucitec, v.1, p. 37-58, 2004.

HARRIS, M. Culture, People and Nature. London, Harper and Row, 1985.

JERALDO, V.L.S et al. Fauna flebotomínica em área endêmica de leishmaniose

visceral em Aracaju, Estado de Sergipe, Nordeste do Brasil. Rev Soc Bras Med Trop

v. 45 n. 3, p. 318-322, 2012.

KAHN, L.H. Confronting zoonoses, linking human and veterinary medicine.

Atlanta, 2009 Disponível em: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/vol12no04/pdfs/05-

0956.pdf. [Acessado em 22 de março de 2013].

KING, L.E.; KNABBAZ, R. Converging issues in veterinary and public health

emerging infectious diseases. Atlanta, 2009 Disponível em: http://www.cdc.gov/

ncidod/Eid/ vol9no4/03-0037.htm. [Acessado em 22 de março de 2013].

KROLOW, T.K.; HENRIQUES, A.L.; RAFAEL, J.A. Tabanidae (Diptera) no dossel

da floresta amazônica atraídos por luz e descrição de machos de três espécies. Rev.

Acta Am., v.40, n.3, p. 605-612, 2010.

LAST, J.M. A dictionary of epidemiology. 4th ed. Oxford, Oxford University Press,

2001.

LEE, D.J. et al. The Culicidae of the Australia region. Aus Gov Pub Ser vol. 7, 1989.

LILIENFELD, A.M.; LILIENFELD, D.E. Foundations of Epidemiology. 2 ed. Chap

1: The Epidemiologic Approach to Disease. London,NY, Oxford University Press,

1980.

MARTIN, G. Etnobotany: a people and plants conservation manual. Chapmam &

Hall, London, 1996.

MENEZES, A. M. B. Noções Básicas de Epidemiologia. Editora Revinter, 2001.

MERRITT, R. N.; COURTNEY, G. W.; KEIPER, J. B. Diptera (Flies, Mosquitoes,

Midges, Gnats). In: Encyclopedia of Insects. New York: Academic Press, 2003. p.

325-339.

Page 60: Conhecimento Ecológico Tradicional

59

MOLINA, S.M.G; LUI, G.H.; SILVA, M.P. A Ecologia Humana como referencial

teórico e metodológico para a gestão ambiental. OLAM Ciência & Tecnologia Rio

Claro/SP, Brasil, v.7, n.7, p. 2-19, 2007.

MONTENEGRO, S. C. S. A conexão homem/camarão (Macrobrachium carcinus e

M. acanthurus no baixo São Francisco alagoano: uma abordagem etnoecológica.

2002. 210f. Tese (Doutoramento em Ecologia e Recursos Naturais). Programa de Pós-

Graduação em Ecologia e Recursos Naturais. Universidade Federal de São Carlos, São

Carlos, SP, 2002.

MORAIS F.F.; MORAIS F.R.; SILVA C.J. Conhecimento ecológico tradicional

sobre plantas cultivadas pelos pescadores da comunidade Estirão Comprido,

Pantanal matogrossense, Brasil. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum. Belém,

v. 4 n. 2, p. 277-294, 2009.

MORIN-LABATUT, G.; AKATAR, S. Traditional Knowledge: a resource to

manage and share. Development, v. 4, p.24-30, 1992.

MOURA, F. B. P. Entre o peixe e o dendê: etnoecologia do povo dos marimbús

(Chapada Diamantina – BA). 2002. 121f. Tese (Doutoramento em Ecologia e

Recursos Naturais). Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais.

Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, 2002.

MOURA, F.B.P.; MARQUES J.G.W. Conhecimento de pescadores tradicionais

sobre a dinâmica espaço-temporal de recursos naturais na Chapada Diamantina,

Bahia. Biota Neotropica, v.7, n.3, p. 119-126, 2007.

NEVES, D.P. Parasitologia Humana. 11. ed. São Paulo, Atheneu, 2005.

OVERAL, W.L.; POSEY, D.A. Práticas agrárias dos índios Kayapó do Pará:

subsídios para o desenvolvimento da Amazônia. In: Uma estratégia Latino-

Americana para a Amazônia. (C. Pavan & M.C. Araújo, eds.). Memorial. São

Paulo, 1996.

PINHEIRO, F.P. et. al. An outbreak of Oropouche virus disease in the vicinity of

Santarem, Para, Brazil. Tropenmed Parasitol. v. 27, p. 213-223, 1976.

Page 61: Conhecimento Ecológico Tradicional

60

PINHO, L.C. Diptera. In: Guia on-line: Identificação de larvas de Insetos

Aquáticos do Estado de São Paulo. Froehlich, C.G. (org.). Disponível em:

http://sites.ffclrp.usp.br/aguadoce/guiaonline, 2008. [Acessado em: 13 de março de

2013].

PORTES, M.G.T. et al . Anofelinos de Santa Catarina (Diptera: Culicidae),

Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 43, n. 2, 2010.

POSEY, D. A. Ethnobiology and ethnoecology in the context pf national laws and

international agreements affecting indigenous and local knowledge, traditional

resources and intellectual property rights. In: ELLEN, R. et al. (eds.). Indigenous

environmental knowledge and its transformations. Hardwood Academic Publishers,

p. 35-54, 2000.

_____. Etnobiologia: teoria e prática. In: Ribeiro BG. (org). Suma Etnológica

Brasileira (edição atualizada do Handbook of south american

indians)Etnobiologia. FINEP, 1987.

_____. Interpreting and Applying the “Reality” of Indigenous Concepts: what is

necessary to learn from the natives? In: Redford KH, Padoch C (Ed). Conservation

of Neotropical Forests: working from traditional resource use. New York: Columbia

University Press, p. 21-34, 1992.

PROPHIRO, J.S. et al. Aedes aegypti and Aedes albopictus (Diptera: Culicidae):

coexistence and susceptibility to temephos, in municipalities with occurrence of

dengue and differentiated characteristics of urbanization. Rev. Soc. Med. Trop., v.

44, n. 3, p. 300-305, 2011.

PRUESS-USTUN, A.; CORVALAN, C. Preventing disease through healthy

environments. Towards an estimate of the environmental burden of disease.

Geneva, World Health Organization, 2006.

RAFAEL, J.A.; CHARLWOOD, J.D. Idade fisiológica, variação sazonal e

periodicidade diurna de quatro populações de Tabanidae (Diptera) no Campus

Universitário, Manaus, Brasil. Act. Amaz., v. 10 n. 4, 907-927, 1980.

Page 62: Conhecimento Ecológico Tradicional

61

RAFAEL, J.A. et al. Insetos do Brasil: Diversidade e Taxonomia. Ribeirão Preto, SP.

Holos Editora, 2012.

RAMIREZ, M.; MOLINA, S. M. G.; HANAZAKI, N. Etnoecologia caiçara: o

conhecimento dos pescadores artesanais sobre aspectos ecológicos da pesca.

Biotemas, v. 20, n.1, p. 101-113, 2007.

REICHERT, M.M.R. A importância de dípteros como visitantes florais: uma

revisão de literatura. Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal de

Pelotas, RS, 2010.

REISEN W. et al. West Nile virus in California. Emerg Infect Dis, v. 10, p. 1369-

1378, 2004.

RODRIGUES, A.S. Até quando o etnoconhecimento sobre as abelhas sem ferrão

(Hymenoptera, Apidae, Melipona) será transmitido entre gerações pelos índios

Guarani M´Byá da aldeia Morro da Saudade, localizada na cidade de São Paulo,

Estado de São Paulo, Brasil. Sitientibus - Série Ciências Biológicas. Feira de Santana,

BA, v. 6, n. 4, p. 343-350, 2006.

ROSA, M.; OREY, D.C. O campo de pesquisa em etnomodelagem: as abordagens

êmica, ética e dialética. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 38, n. 4, p. 865-879, 2012.

RUEDA, L.M. Global diversity of mosquitoes (Insecta: Diptera: Culicidae in

freshwater. Hydro, v. 595. p. 477- 487, 2007.

RUTLEDGE C.R.; DAY, J.F. Mosquito Repellents. University of Florida. IFAS

Extension, ENY v. 671, 2002.

SERVICE, M.W. Mosquitoes (Culicidae). In LANE, R.P. & CROSSKEY, R.W.,

Eds. Medical Insects and Arachnids. Chapman & Hall, London, UK, 1993,120-240.

SEVALHO, G.; CASTIEL, L.D. Epidemiologia e antropologia médica: a

in(ter)disciplinaridade possível. in Antropologia da saúde: traçando identidade e

explorando fronteiras. Fiocruz-Relume Dumará, Rio de Janeiro, 1998.

SILVA, F.S. A importância hematofágica e parasitológica da saliva dos insetos

hematófagos. Rev.Trop. – Cie. Agr. Biol., v.3, n.3, 2009.

Page 63: Conhecimento Ecológico Tradicional

62

SILVANO, R. A. M. e BEGOSSI, A. The artisanal fishery of the River Piracicaba

(São Paulo, Brazil): fish landing composition and environmental alterations. Ital. J.

Zool., v.65, p. 527-531. 1998

SMITH, K.R.; CORVALAN, C.F.; KJELLSTROM, T. How much ill health is

attributable to environmental factors? Epidemiology v. 10, 573-584, 1999.

SOUTO, F. J. B. A ciência que veio da lama: uma abordagem etnoecológica

abrangente das relações ser humano/manguezal na comunidade de Acupe, Santo

Amaro, Bahia. 2004, 219f. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) -

Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Estadual

de São Carlos, São Carlos, SP 2004.

SUMABILA, A.; LUGO, M.R. An emic approach, representation and clasification

of mosquitoes among the cuiva people. Ant. v.107 n.108, p. 71-88, 2007.

THÉ, A. P. G. Etnoecologia e produção pesqueira dos pescadores da represa de

Três Marias – MG. 1999. 101 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Recursos

Naturais) - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Programa de Pós-Graduação em

Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos – SP,

1999.

TOLEDO, V.M. What is Ethnoecology? Origins, scope and implications of a rising

discipline. Etnoecológica, v.1, n.1 p. 5-21, 1992.

TRINDADE, R.L.; GORAYEB, I.S. Maruins (Ceratopogonidae: Diptera) do

Estuário do Rio Pará e do litoral do estado do Pará, Brasil. Entomol. Vect. V.12 n.1

p. 61-74, 2005.

VAN DEN HURK, A.F.; RITCHIE, S.A.; MACKENZIE, J.S. Ecology and

geographical expansion of Japanese encephalitis virus. Ann Rev Ent v. 54, p. 17-35,

2009.

VIANNA, L. P. De invisíveis a protagonistas: populações tradicionais e unidades de

conservação. São Paulo: Annablume - Fapesp. 2008.

Page 64: Conhecimento Ecológico Tradicional

63

VINOGRADOVA, E.B. Culex pipiens pipiens mosquitoes: Taxonomy, distribution,

ecology, physiology, genetics, applied importance and control. Moscow, Pensoft

Pub, 2000.

WANDERLEY, L.; WANDERLEY, M. L. Diretrizes urbano-ambientais para o

futuro sistema de macrodrenagem da Zona de Expansão de Aracaju, capital

doEstado de Sergipe. in: Congresso sobre planejamento e gestão na zona costeira

dos países de expressão portuguesa. Recife/PE, 2003.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Health Report 2004. WHO, Geneva

2004,167 pp.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Health Report 2008. WHO, Geneva

2008, 215 pp.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Fact Sheets. WHO, 2013. Disponível em:

http://www.who.int/mediacentre/factsheets/ [Acessado em 13 de março de 2013].

Page 65: Conhecimento Ecológico Tradicional

64

ANEXOS

Page 66: Conhecimento Ecológico Tradicional

65

Anexo 1- Modelo de entrevista semiestruturada

A. Informações sobre o sujeito entrevistado

Nome:____________________________ Idade:____anos Sexo: ( ) M ( )F

Comunidade/município em que vive: ________________________________

Estado civil:__________________ Possui filhos: Sim ( ) Não ( ). Quantos: ____

Grau de instrução: __________________________

B. Informações sobre a entrevista

Local:________________ Endereço:______________________ Data: _________

Há interferência de outros sujeitos: Sim ( ) Não ( )

C. Informações sobre culicídeos e flebotomíneos

1. O (A) senhor (a) sabe dizer o que está vendo aqui? (O entrevistado observa uma caixa

entomológica contendo espécimes de dípteros hematófagos enumerados de acordo com

a taxonomia padrão para cada grupo). Sim ( ) Não ( )

2. Além desse nome, por quais outros nomes eles são chamados aqui na região?

3. Onde você viu da última vez?

4. Sabe dizer o que eles comem?

5. Sabe dizer quanto tempo eles vivem?

6. Sabe dizer como eles se reproduzem?

7. Sabe dizer de onde eles vêm?

8. Em qual época do ano eles são mais frequentes?

9. Eles causam alguma doença? Sim ( ) Não ( ) Se sim, qual o nome da doença?

10. O que você faz quando o encontra em casa ou no quintal?

11. Sabe o que deve ser feito para evitar que eles apareçam dentro ou perto de sua casa?

Page 67: Conhecimento Ecológico Tradicional

66

Anexo 2:

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Nome da Pesquisa

Conhecimento ecológico tradicional sobre dípteros hematófagos numa comunidade de

pescadores artesanais no povoado de Areia Branca (Sergipe, Brasil).

Pesquisadores responsáveis

Orientadora: Roseli La Corte dos Santos (79) 2105.6626 [email protected]

Graduando: Túllio Dias da Silva Maia (79)9119-7192 [email protected]

Instituição responsável pela pesquisa

Universidade Federal de Sergipe (UFS) – Departamento de Morfologia (DMO)

Informações aos voluntários

O/a Sr/Sra está sendo convidado/a para participar de uma etapa da pesquisa

Conhecimento ecológico tradicional sobre dípteros hematófagos em sua comunidade.

Sua participação não é obrigatória. A qualquer momento, o/a Sr/a pode desistir de

participar e retirar o seu consentimento, sem que haja qualquer prejuízo em sua relação

com os pesquisadores ou com a Universidade Federal de Sergipe.

O objetivo deste trabalho é investigar o conhecimento ecológico tradicional

local sobre a dinâmica espacial e sazonal de insetos.

Sua participação nesta etapa da pesquisa consistirá em participar de uma

entrevista em que serão respondidas perguntas a respeito da relação dos insetos com a

comunidade e as atividades por ela desenvolvidas. A entrevista será gravada e transcrita.

As informações obtidas através desta pesquisa serão confidenciais e

asseguramos o sigilo sobre sua participação.

O/a Sr./Sra receberá uma cópia deste termo onde constam os telefones dos

pesquisadores, podendo tirar dúvidas sobre o projeto e sua participação em qualquer

momento.

Eu: ___________________________________________________________________

RG: ______________________, abaixo assinado, tendo recebido as informações no

verso e ciente dos meus direitos abaixo relacionados, concordo em participar como

voluntário da pesquisa citada.

Page 68: Conhecimento Ecológico Tradicional

67

1- A garantia de receber a resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento a

qualquer dúvida a cerca dos procedimentos, riscos, benefícios e outros,

relacionado com a pesquisa a que serei submetido(a);

2- A liberdade de retirar o meu consentimento a qualquer momento e deixar de

participar do estudo;

3- A segurança de que não serei identificado(a) e de que será mantido o caráter

confidencial da informação relacionada com a minha privacidade;

4- O compromisso de me proporcionar informação atualizada durante o estudo,

ainda que esta possa afetar a minha vontade de continuar participando;

5- Que se existirem gastos adicionais, estes serão absorvidos pelo orçamento da

pesquisa;

Tenho ciência do exposto acima e desejo colaborar com a pesquisa.

Aracaju,_____ de _______________ de __________.

__________________________________________

Assinatura do/a voluntário/a

__________________________________________

Assinatura da coordenadora do projeto