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Consciência financeira ebook

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Este livro, em particular, tem a pretensão de ser uma palavra profunda, verdadeira e sincera no campo das Finanças Pessoais, uma opção para auxiliá-lo a mergulhar mansa e profundamente no universo da reflexão e do autoconhecimento, aumentando sua velocidade de ação e a dinâmica de entendimento de como nosso mundo verdadeiramente funciona e como internamente reagíamos a ele, conduzindo a uma VIDA REALIZADA, fundamentada no equilíbrio espiritual e material

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ConsCiênCiaFinanCeira

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São Paulo 2015

ConsCiênCiaFinanCeira

Fernando Campos

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Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda

Criação de Capa Fernando Campos / Jacilene Moraes

Diagramação Jacilene Moraes

Revisão Fabiana Giacometti

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________C218c

Campos, Fernando Consciência financeira / Fernando Campos. - 1. ed. - São Paulo Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0401-2

1. Contabilidade gerencial. 2. Administração de empresas. I. Título.

15-21353 CDD: 658.1511 CDU: 657.05________________________________________________________________26/03/2015 31/03/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

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A vós, a Terra oferece seus frutos, e nada vos fal-tará se somente souberdes como encher as mãos.

É trocando as dádivas da Terra que encontrareis a abundância e sereis satisfeitos.

E, contudo, a menos que a troca se faça no Amor e na Justiça, ela conduzirá uns à avidez e outros à fome.

Gibran Khalil Gibran

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Amigo,

Gostaria de agradecer por você ter chegado até aqui.Na verdade, as possibilidades mais plausíveis para

esse fato são:

• Ou realmente fui muito bom vendedor, e minha conversa conseguiu persuadi-lo de que valeria a pena investir “uns trocados” nas palavras e nos conceitos apresentados a seguir. De qualquer modo, para isso ter acontecido, devemos ter conversado um pouco, então volto a agradecer o dispêndio de seu tempo e a oportunidade de termos debatido algumas ideias;

• ou o título deste trabalho despertou algo em você, e a curiosidade associada à sua sede de co-nhecimento o trouxe até aqui;

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• ou você pode, ainda, ter recebido o livro de pre-sente de parentes, amigos ou namorada(o) e, desse modo, sente-se na “obrigação” de lê-lo.

Para esses casos, desde já, sinto que é minha respon-sabilidade garantir que sua confiança ou curiosidade e seu conhecimento sejam não apenas satisfeitos, mas ain-da mais cativados.

Muito obrigado,Fernando Campos.

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Este livro é dedicado à minha família:À minha esposa, pela confiança,E a meus filhos, pela paciência.

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PREFÁCIO

Antes de iniciarmos, eu gostaria de compartilhar com você uma frase que li algum tempo atrás e atua como uma constante mensagem em minha consciência: Um jeito fácil de enriquecer é ensinar aos outros como enriquecer, cobrando pelas lições, é claro!

Receber dinheiro por um serviço prestado, por que não? Mas em hipótese alguma é o meu propósito.

Sabem por quê? Porque as pessoas valem a pena! Acredite, muitas pessoas se importam. No entanto, quan-do estamos com dificuldades financeiras dificilmente en-contramos alguém em nossa vida que nos inspire, que nos faça enxergar alternativas, que nos faça manter a fé, que promova nossa reflexão e ainda nos motive a ir em frente.

Sou tão especial como todos o são, mas possuo a fir-me pretensão de que os exemplos e reflexões apresentados neste livro sejam uma fonte de inspiração para muitos.

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Sou grato demais a Deus e a todos com quem com-partilho minha existência para apenas focar meu esforço em satisfazer fúteis prazeres materiais, os quais de ma-neira alguma me preenchem como ser humano ou me conduzem à felicidade.

O sentimento despertado em mim por amigos e co-legas que me transmitiram seus agradecimentos, e com os quais também pude compartilhar minhas reflexões sobre o tema deste livro, foi indescritível. Eles aprofundaram o sentimento e a certeza de que seria possível auxiliar as pessoas em assuntos aparentemente tão conflitantes e im-portantes, como a espiritualidade e a riqueza material; esta é, na verdade, a grande propulsora que me levou a escrever este livro.

Doar(-se), dividir e compartilhar são muitas vezes as únicas possibilidades ao nosso alcance de definitivamente encurtarmos a distância que nos separa de Deus. Não é uma questão de religião ou crença, é uma questão de fé e convicção. Talvez sejam esses os propósitos que mais façam valer a pena viver esta existência.

Gostaria de chamar sua atenção ao fato de que li muitos livros sobre a relação humana perante a rique-za material e o dinheiro. Uma boa parte deles afirma, de modo quase categórico, que todos temos o poten-cial para sermos materialmente ricos, que a riqueza está à nossa disposição e que a oportunidade está na nossa porta todos os dias etc.

A reflexão que faço é a de que se isso for realmente verdade, por que, desde os primórdios da vida em co-

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munidade dos seres humanos, uma parte esmagadora da população é pobre ou, no máximo, classe média?

A explicação que encontrei nos livros é simples: a culpa é de cada um de nós!

Será?

Um dos maiores engodos do capitalismo é a ilu-são de que qualquer pessoa pode ganhar milhões. Mas no topo só há espaço para poucos, e poucos têm a aptidão para reivindicar um lugar.

Michael Foley

Frases como: não há limites para seu potencial; você pode ter tudo o que quiser; Deus quer que você enrique-ça; o Universo colabora com você; etc. permeiam os livros de autoajuda. Embora, no fundo, sejam afirmações até certo ponto verdadeiras, em meu entendimento são EX-TREMAMENTE DIFÍCEIS de serem operacionalizas e implementadas com resultados factíveis em uma vida.

Não quero levantar uma polêmica com as vertentes que insistem em enveredar pela maravilhosa estrada da infindável potencialidade e divindade do ser humano. Na verdade, em parte concordo com todas elas. No en-tanto, a meu ver, factualmente, a realidade com a qual nos deparamos todos os dias é que, embora todos os se-res humanos tenham fantásticos talentos e potencialida-des a serem desenvolvidos, nem todos são valorizados do ponto de vista financeiro.

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Por um lado, entendo que existem dons maravilho-sos ligados à solidariedade, à capacidade de transmissão de conhecimento e à coragem que são impagáveis, e tal-vez por isso mesmo assim o sejam; por outro lado, vejo que o mundo prefere pagar uma pequena fortuna a um atleta ou cantor pop.

Nossa sociedade do “fast tudo” e da prerrogativa de direito pode constante e realmente nos surpreender e for-necer uma falsa sensação de oportunidades infinitas de riqueza material, no entanto não é o que observamos na prática. Embora inegavelmente os padrões de vida atuais, sobretudo em países mais desenvolvidos economicamen-te, sejam sensivelmente melhores do que no passado, é facilmente verificável que uma enorme parcela da popu-lação mundial ainda hoje não tem acesso a essas melho-rias de qualidade de vida.

A esperança que me leva a escrever este livro é bas-tante simples: embora todo o processo de busca de auto-conhecimento, da transformação do indivíduo e de sua consciência seja lento e difícil, qualquer coisa que com-bata nossa letargia atual VALE A PENA!

O filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard sempre defendeu o equilíbrio entre necessidade e possibilidade. Reduzir nossas necessidades é um desafio quase impossí-vel de equacionar para os indivíduos pertencentes à so-ciedade pós-revolução industrial alicerçada no consumo, e quanto à possibilidade de se tornar milionário, embora esta pareça muito promissora, é realmente bem pequena.

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Este é o desespero da possibilidade. A possibili-dade então parece ao ser cada vez maior, mais e mais coisas se tornam possíveis, porque nada se torna real. No fim, é como se tudo fosse possível.

Soren Kierkegaard

Embora histórias não faltem de privilegiados que venceram todo tipo de dificuldades para alcançar a ri-queza material, elas são infinitamente ultrapassadas em número pelas histórias (que não estão nos livros) do dia a dia de milhões, se não bilhões, de pessoas que não alcan-çaram esse objetivo.

Neste livro não há fórmulas mágicas nem promessas mirabolantes, há apenas alguns alertas e muitas reflexões práticas para auxiliá-lo na busca de seu equilíbrio espiri-tual e material, além de uma visão da sociedade na qual vivemos e de alguns autocontroles que devemos imple-mentar rapidamente para equacionar nossa qualidade de vida à nossa realidade financeira.

Tudo parece muito fácil e simples, mas não é. Quan-to mais temos, mais queremos, e, pior, não conseguimos passar de uma satisfação de conquista a outra, dando grandes saltos de um desejo a outro em uma espiral aluci-nante de desejos a realizar e insatisfação contínua.

Afinal, nosso próximo desejo satisfeito sempre nos levará finalmente à felicidade e à satisfação, não é mesmo?!

Caso você realmente acredite ser um desses privi-legiados potenciais milionários, não há problema; reco-

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mendo que vá diretamente a seção “Bibliografia” deste livro na qual encontrará alguns títulos que provavelmen-te o auxiliarão ainda mais em seu caminho à riqueza in-finita. Boa sorte!

Já no caso dos demais mortais – como, aliás, eu mes-mo –, recomendo a leitura completa deste livro.

De todas as experiências que vivi até aqui, aquela que mais gostaria de lhe transmitir é que, para a maioria das pessoas, um dos caminhos mais realistas para uma vida plena é aquele no qual uma viva consciência do milagre da vida se move lado a lado com um controle financeiro efetivo.

Eu gostaria apenas de ser um dos catalisadores de seu processo de mudança ou aperfeiçoamento como outras pessoas assim o foram para mim, um meio de auxiliá-lo a pegar alguns atalhos e evitar armadilhas des-ta estrada, caminhando, dessa forma, aos poucos, mas com passos seguros no sentido da consciência espiritual e do equilíbrio financeiro.

Entendo que aqueles que conseguem chegar a um ponto muito estável de equilíbrio entre rendimentos e despesas em seu controle financeiro têm como obriga-ção compartilhar o conhecimento adquirido. O prazer de oferecer e dividir é um dos maiores prazeres de se atingir esse patamar.

Para aqueles que possuem descendentes, um aspec-to adicional fundamental é o de que dificilmente os te-mas ganhos/despesas e controle financeiro são aborda-dos pelas escolas e universidades. Desse modo, caso não

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nos ocupemos do tema em conjunto com nossos filhos, dificilmente alguém o fará.

Que fique claro: uma vez o processo de Consciência Financeira iniciado, ele será lento, demorado, no entanto começará imediatamente a desalojar o estado de sono-lência e inação presente em cada um de nós, e isso será doloroso no início.

Entendo que as palavras a seguir devam ser uma fer-ramenta e um facilitador de seu caminho rumo à consci-ência financeira, e não o fim do caminho em si.

Como veremos adiante, o dinheiro deve ser uma ponte, mas não o objetivo da jornada.

Acima de tudo, eu me sentiria realmente em falta com toda a formação que recebi e com os amigos que me ajudaram se todo o esforço desenvolvido até aqui não fosse compartilhado; não estaria inclusive alinhado coe-rentemente com as ideias propostas neste livro.

Por favor, transporte a essência das palavras a seguir para as futuras atitudes que tomará na vida. Que elas se revertam em frutos à altura de seu esforço.

Vamos lá!

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QUESTIONAMENTOS?

Sempre acreditei que a qualidade das respostas de-pende diretamente do grau de reflexão envolvido nas per-guntas correspondentes.

Caso não tenhamos ao menos uma vaga ideia da resposta ou uma reflexão antecipada às perguntas que realizamos para o mundo, ou às que ele nos propõe, fa-talmente deveremos aceitar suas respostas com poucos questionamentos.

Uma vida sem questionamentos é uma vida vivida na superfície, rasa, sem o desenvolvimento pleno das po-tencialidades para as quais cada um de nós foi criado.

Somos grandes mamíferos no topo da cadeia alimen-tar, resultado de milhões de anos de evolução contínua, vivendo em um fantástico e maravilhoso planeta, cercados por uma infinidade de experiências e oportunidades pos-síveis. Seres abençoados, última palavra da evolução natu-

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ral, únicos neste planeta a receber uma centelha divina de nosso Criador. Com isso em mente, por que se contentar em sobreviver apenas na superfície dos acontecimentos?

Curiosidade, reflexão e uma boa dose de humildade auxiliam a aprofundar e a melhorar a qualidade de nossos pensamentos e questionamentos.

A seguir, deixo algumas questões para incitá-lo a refletir. Mas não se esqueça de que se não tivermos ao menos uma pista para as respostas às nossas dúvidas, de-veremos ou teremos de aceitar pura e simplesmente as respostas que o mundo venha a fornecer.

Algumas reflexões para estes questionamentos estão disponíveis no site www.conscienciafinanceira.com.br.

Ainda, um pedido: leia a questão, reflita por alguns segundos e somente após passe para a próxima questão. Acredito que seja um exercício interessante!

Como estes dois conceitos, CONSCIÊNCIA (espiritual) e FINANÇAS (material), podem caminhar juntos?

Vivo a vida com CONSCIÊNCIA? O tempo todo? Com qual intensidade? Quão profunda ela é?

Se eu morresse hoje, estaria preparado? Estou fazendo tudo o que posso e deveria fazer? Estou sendo a pessoa que gostaria de ser?

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Quantas aulas de EDUCAÇÃO FINANCEIRA eu rece-bi na escola?

O tema FINANÇAS sempre foi discutido abertamente na minha família?

Para uma vida financeira estável devo passar por longos e difíceis anos de privações e controles sem fim, longe das alegrias de viver?

Qual é a base do sistema financeiro em que vivo? Qual é a importância das pessoas para esse sistema?

Se todos deixarem de consumir, a economia do mundo quebrará?

Existe diferença entre “ser pobre” e “estar sem dinheiro”?

Eu nasci para viver ou sobreviver?

Realmente acredito que, em caso de dificuldade financei-ra, “alguém” viria resolver meu problema?

Para quem estou trabalhando? Para uma EMPRESA? Para o GOVERNO? Para o BANCO?

Por que após tocar no dinheiro devo imediatamente la-var as mãos?

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Eu acredito que a única maneira honesta de “ganhar di-nheiro” é somente pelo árduo trabalho do dia a dia?

Minha vida será plena caso eu trabalhe apenas pelo dinheiro?

Eu moldo minha vida por meio de meus pensamentos?

Quando eu me aposentar, realmente começarei a apro-veitar a vida?

Quando um veículo de luxo passa por mim no trânsito, qual o sentimento que ele me desperta?

Eu vivo a vida de modo alinhado com meus propósitos e valores éticos?

Muitos questionamentos?Você pode estar pensando que ao invés de obter

respostas, até este momento, só aumentou seu portfó-lio de perguntas...

Sim!O propósito é despertar ainda mais sua curiosidade

e reflexão. Creio firmemente que o caminho que nossa socie-

dade está tomando é o da falta de boas perguntas e da ausência de exercitar nossos raciocínio e espiritualidade.

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Vivemos em um mundo de frases semiprontas, onde nos empanturramos a cada dia com “informações industrializadas e enlatadas” em notícias predispostas a direcionar intencionalmente nosso pensamento e para-lisar nosso discernimento.

Quem pensa por si mesmo só chega a conhecer as autoridades que comprovam suas opiniões caso elas sirvam para fortalecer seu pensa-mento próprio, enquanto o filósofo que tira suas ideias apenas dos livros, por sua vez, tem essas autoridades como ponto de partida. Com o con-junto das opiniões alheias que leu, ele constrói um todo, que se assemelha então a um autômato constituído com matéria alheia. A construção de quem pensa por si mesmo é, em contraparti-da, como a criação de um ser humano vivo. Pois ela foi gerada à medida que o mundo exterior fecundava o espírito pensante, que depois pro-criou, dando à luz o pensamento.

Arthur Schopenhauer

Focalizamos firmemente nossa existência no sobre-viver e no prazer, acalentados pela distância que nos sepa-ra das tragédias do noticiário.

Realmente não consigo acreditar que é por esse mo-tivo que estamos aqui ou que seja essa a forma mais ade-quada de investirmos nosso tempo e esforço.

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Muitos devem se recordar da célebre cena apresen-tada no filme Uma Odisseia no Espaço, 2001, de Stanley Kubrick, em que um primata, após alguma hesitação, através de suas mãos, é capaz de segurar um pedaço de osso e se utilizar dele como uma extensão da força de seu braço. O fato de termos as mãos livres foi um passo fun-damental para a evolução da humanidade. Esse momento reflete muito bem a determinação e a força desempenha-das pelo trabalho humano em sua trajetória de domina-ção sobre as demais espécies de nosso planeta assim como de seu inexorável avanço em direção ao desenvolvimento tecnológico de nossa civilização.

No entanto, de maneira alternativa, sempre imagino uma possível cena na qual, em uma noite de verão nas savanas africanas, o primeiro hominídeo parou e ergueu seu olhar para o céu estrelado... Um momento mágico, profundo e fantástico e quando, talvez, tenha-se dado o ponto de partida para os nossos questionamentos e refle-xões, iniciando nossa busca pela consciência e pela res-posta à pergunta: Quem somos nós?

De lá para cá, evoluímos em tecnologia e na comu-nicação. No entanto um fato interessante é que os ensi-namentos descritos nos grandes livros sagrados religiosos da humanidade continuam ainda totalmente válidos para o homem contemporâneo. Este fato talvez revele o quão ínfimos foram os avanços que conquistamos em nossa realidade espiritual.

O caminho para a mudança será trilhado através da reflexão constante e persistente; conseguiremos assim ao menos buscar uma consciência básica e suficiente para

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nos projetarmos além da mesmice dos problemas finan-ceiros que nos consomem todos os dias.

Tendo em vista a exorbitante quantidade de tempo de nossa vida que é dedicada apenas com nossa sobrevi-vência (trabalho) e busca de recursos (dinheiro) para sa-tisfação da própria vida, minha proposta é simples; parto do princípio de que cada um de nós, independentemente do nível cultural e das experiências pelas quais tenha pas-sado, é capaz de se transformar por meio de um ciclo de mudanças e, dessa maneira, alcançar um estado de cons-ciência básica e controle financeiro efetivo.

A partir desse ponto, o qual denomino CONSCI-ÊNCIA FINANCEIRA, é possível reequilibrarmos nossa vida de modo a reduzir o tempo investido para assegurar-mos nossa sobrevivência e, então, direcionaremos cada vez mais nossos esforços e tempo para desenvolvermos a arte de viver e conviver.

Somos a ponta do iceberg, a última novidade do pro-cesso de evolução, para muitos somos parte da criação advinda de Deus, e transformamos nossa vida “nisto”? Um simples meio visando obter recursos para subsistên-cia e prazer?

Será que apenas isso nos completará como seres humanos?

Mesmo que muitos não cheguem a grande enrique-cimento material, com o compartilhamento de algumas ideias, ao menos eu os convido a pensar e a organizar sua vida financeira de modo que seja parte de seu pro-cesso de conscientização, não somente um objetivo em

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si, e, como consequência de seus atos, cheguem a um ponto de equilíbrio e estabilidade financeira que lhes permita investir uma parte de seu tempo neste contí-nuo processo de reflexão, resultando em uma vida mais consciente e plena.

Seria realmente um desperdício termos como nosso principal objetivo nesta vida apenas sobreviver financeiramente!

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SUMÁRIO

Introdução ................................................................ 29

1 Dinheiro ................................................................ 35

2 Finanças ................................................................. 53

3 Consciência ............................................................ 59

4 Consciência financeira ............................................ 71

5 Sociedade de “consumo” ......................................... 83

6 Sobrevivendo na sociedade de “consumo” ............. 103

7 Valemos o que temos ou o que somos? ................. 109

8 Integrando a consciência financeira na prática ...... 121

9 Características de desagregação e sincronização ..... 151

10 Ciclo de mudanças e as características de sincronização e Desagregação ........................................................ 163

11 Ainda, alguns conselhos ...................................... 219

12 Conclusão ......................................................... 243

Bibliografia .............................................................. 249

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INTRODUÇÃO

Uma proposta de vida equilibrada: física, intelectual e espiritual.

Esses três pontos são os grandes pilares que perfazem o plano de nossa existência.

Embora eu acredite que o ideal seja o desenvolvi-mento concomitante desses três pilares, uma vez que o tema deste livro é a Consciência Financeira, estarei, so-bretudo, focalizando nossa atenção aos pilares INTE-LECTUAL E ESPIRITUAL.

Quanto à parte física, entendo não possuir legitimi-dade para me expressar. Aconselho: consuma alimentos saudáveis, mantenha seu peso compatível com sua altura, compre um bom tênis e vá correr por aí ou contrate um personal trainer!

Muito antes de iniciar minha vida profissional, eu já procurava desenvolver os aspectos espirituais de minha

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existência; não sou melhor do que ninguém, caí e me le-vantei diversas vezes. Hoje firmemente acredito que essa busca foi fundamental para me auxiliar a encontrar um caminho financeiro estável e satisfatório.

Essa visão me permitiu, após muito esforço, trabalho e reflexão, passar por períodos de menores esforço e traba-lho, e muito mais reflexão até chegar ao que me encontro hoje: trabalho e esforço suficientes e muitíssima reflexão.

E em que ponto chegamos por essa estrada? A um estado de consciência de como o mundo capitalista/em-presarial/corporativo funciona e, em função disso, alinhar expectativas e atividades. Não se trata de uma questão de concordar ou não, trata-se apenas de uma constatação de fato e mudança de postura perante o mesmo. Deixando, porém, sempre claro que as regras que não fazem par-te do acervo ético são automaticamente descartadas. É um estado financeiro suficientemente sólido para que se possa dedicar o tempo a atividades que sejam capazes de preencher a cada um como ser humano.

Sem dúvida, a falta de dinheiro − e consequente-mente compromissos financeiros não honrados − é um dos fatores preponderantes para nossa infelicidade. Sen-timo-nos incapazes, perdedores, verdadeiros páreas da sociedade. Terreno fértil para sentimentos negativos, o medo e a culpa florescem em nosso interior.

Muitas vezes somos pobres não pela pouca quantida-de de coisas que possuímos mas pela enorme quantidade de coisas que desejamos, e não podemos ter. Frequente-mente a pobreza é um estado mental de falta de consci-

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ência de sua realidade, de não suportar viver sua vida de modo compatível, ao menos naquele momento, com essa realidade. A falta de consciência não pode ser saciada pela riqueza material. O caminho para a riqueza passa inexora-velmente pela eliminação da insatisfação mental.

Não devemos viver esta vida como QUEREMOS. Devemos viver esta vida como PODEMOS. Esse cami-nho passa obrigatoriamente por um controle gradual de nossos instintos mais básicos.

Certa vez, um grande guerreiro encontrou um velho sábio em uma de suas incursões de conquista e questio-nou-o como discernir entre os caminhos que nos levam ao céu ou ao inferno. A resposta do ancião veio cortante como o fio da lâmina que o guerreiro carregava: “Como um soldado covarde e ignorante como você entenderia a profundidade de minhas palavras?”; o grande guerreiro, profundamente ofendido, desembainhou sua espada e pre-parou um golpe mortal sobre o sábio. Serenamente e sem se mover, o ancião proferiu estas palavras: “Cuidado, meu senhor, estás às portas do inferno!”. Envergonhado em sua atitude, o grande guerreiro soltou sua arma e prostrou-se diante do sábio. Nesse momento o sábio disse: “Parabéns, meu senhor, este é o caminho ao paraíso!” (Redação do Momento Espírita, com base em conto popular).

Embora tenhamos a tendência de declarar: eu não consigo; eu sou assim mesmo; eu nasci assim, não tenho como mudar; etc., a neurociência se posiciona de uma maneira sutilmente diferente ao afirmar categoricamen-te que as ações estão à mercê dos genes e do cérebro, mas que estes também estão à mercê das ações. Nossa

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programação genética é fixa, mas nosso cérebro se re-programa inúmeras vezes ao longo de nossa vida, e nos-sas ações aparentemente são de nossa responsabilidade através do livre arbítrio.

Na verdade, “o que você é” é o seu temperamento, mas “o que você faz” é o seu caráter. Se realmente qui-sermos mudar, é muito simples, mas não fácil, basta agir de modo diferente de seu temperamento por um tempo suficiente para que esse novo comportamento, em linha com seu caráter, seja assimilado ao seu temperamento!

No entanto é mesmo uma pena que, nos dias de uma sociedade baseada no consumo, CARÁTER seja uma palavra tão em desuso. Nosso tempo busca identi-dade, e não caráter.

O caráter exige postura e está diretamente ligado a obrigações e responsabilidades, já a identidade está alicerçada no sentimento de pertencer a uma tribo ou grupo, cujos companheiros inseparáveis são o dinheiro, o status quo e a celebridade.

Também está comprovado que, em determinados patamares de riqueza, o dinheiro não aumenta o grau de felicidade humana. Em muitos casos, o consumismo e a opulência se acampam em nossa vida.

Os inimigos da pobreza são a ansiedade e o medo de não ter (“como vou pagar minhas dívidas?”); os inimigos da riqueza são o apego e a ganância (“quero tudo, mais um pouco e somente para mim!”).

Compartilho uma frase que sempre me acompanha: A verdadeira definição de sucesso é, em nosso último

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suspiro nesta vida, constatarmos que terminamos nossos dias muito próximos dos princípios éticos e morais com os quais nos propusemos viver e deixamos esses princí-pios fortemente arraigados em nossos descendentes.

Devemos navegar em meio a tudo isso de modo sereno e seguro, buscando, com o auxílio de nossa consciência e tomando por aliados os recursos finan-ceiros deste mundo, entrar em um estado de virtuose em que o CICLO de:

• rendimentos (ganhos mensais), • poupança (dinheiro não gasto todos os meses), • investimentos (o dinheiro investido originando

rendimentos adicionais) e uma vida simples e reflexiva possa ser perpétuo.

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1 DINHEIRO

Não é importante uma alongada discussão ou apre-sentação da definição de dinheiro, pois em si próprio ele não se define como sendo de nenhuma valia.

Ele constitui-se apenas como um meio de troca − pelo menos foi para essa finalidade que foi criado.

O dinheiro é como uma ponte de ligação entre nossos desejos e necessidades e as coisas ou serviços que buscamos.

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Figura 1

Afinal, o dinheiro apenas compra ou nos auxilia a ad-quirir algo que pode ser quantificado; caso contrário, apele para outra coisa, pois ele não solucionará seu problema.

Tudo já foi usado como dinheiro: ouro, prata, pe-dras preciosas, enormes discos de pedra (nas Ilhas Yap), sal (no império de Roma), tijolos de chá (na Mongólia, Sibéria e no Tibete), pedaços de bambu (na China), con-chas lumache (nas Ilhas Maldivas), argolas de metal (no antigo Egito), fios (na Arábia), dentes de cachorro (nas Ilhas Salomão), cerdas da cauda de elefante (na África Ocidental), anzóis (para os inuítes) e, finalmente, em nossa era eletrônica atual, com o surgimento do bitcoin, até NADA pode ser usado como dinheiro!

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É interessante frisar que, normalmente, as “coisas” mais importantes da vida não são quantificáveis; ou me-lhor, como alguém já disse, as “coisas” mais importantes da vida não são COISAS.

Uma vez que o dinheiro em si não possui nenhum valor, sua importância é proveniente do peso que nós confiamos a ele.

Para muitas vertentes de pensamento filosófico e es-piritual, o dinheiro na verdade corresponde a uma troca de energia, a qual deveria ser utilizada de modo pondera-do e sempre para o bem comum.

Por incrível que possa parecer, o ser humano é uma das raras espécies de seres vivos que desenvolveu o “dom” do sentimento. No entanto, utiliza essa fantástica ferra-menta da evolução depositando-a sobre objetos, como carros e joias, status quo, poder, esportes (times de fute-bol), e o dinheiro infelizmente não foge a essa regra.

O “sentimento” das pessoas em relação ao dinheiro vai do desprezo (pouco caso) ao apego (paixão), passando por um estado de preocupação no qual, aliás, encontra-se a maior parte dos indivíduos.

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Figura 2

Para os cristãos, Jesus jamais criticou o dinheiro, mas sim o sentimento de apego e amor que o ser huma-no desenvolve em relação a ele. O Charia mulçumano apresenta regras claras e sem apego da utilização do di-nheiro no dia a dia. O Torá judaico declara de maneira também muito clara o respeito e a utilização apropriada do dinheiro, e não o apego.

“Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e a Mamóm – di-nheiro.” (Mateus 6, 24)

“Deus favoreceu, com Sua mercê, uns mais do que outros; porém, os favorecidos não repartem os seus bens com seus servos, para que com isso sejam iguais.

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Desagradecerão, acaso, as mercês de Deus?” (Alcorão Sagrado 16, 73)

“Se houver um carente entre seus irmãos, numa de suas cidades, na terra que Deus deu a vocês, não en-dureçam seus corações nem fechem a mão a seu irmão carente. Vocês definitivamente devem abrir suas mãos e lhe emprestar o suficiente para o que lhe faltar.” (De-varim 15:7,8)

A PREOCUPAÇÃO é um sentimento que corrói o ser humano, demonstrando sua fragilidade e até impo-tência frente a um problema para o qual não vislumbra solução e que uma boa parte do tempo é deixado de lado no esquecimento na vã tentativa de que ele se re-solva por si próprio.

Quando estamos infusos em um sentimento de preocupação referente ao dinheiro, o medo norteia nos-sa vida, não temos a segurança de que as contas serão pagas no fim do mês, não nos sentimos dignos de olhar de frente nossa família e nossos amigos. No entanto, existe uma saída para escaparmos dos perigos do sen-timento de preocupação sem cairmos na tentação do apego ao dinheiro.

Na verdade, se olharmos com um pouco mais de atenção para o gráfico anterior, perceberemos um senti-mento intermediário entre o estado de preocupação e o de apego. É a AMBIÇÃO.

Palavra muitas vezes mal compreendida, a ambição frequentemente é confundida com sua disfunção, cha-mada de GANÂNCIA.

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Figura 3

A ambição é nosso motor propulsor que nos impul-siona em direção à consciência e ao compartilhamento entre os seres que habitam este planeta. É ela que nos fez descer das árvores, segurar nossos primeiros objetos, olhar para o céu e buscar a compreensão do Universo.

A ambição é querer sempre mais, evoluir, dar e re-ceber. Mas também faz parte de sua definição a arte de usufruir, aprender e compartilhar. Temos um impulso quase que incontrolável de nos deslocarmos para frente e, ao mesmo tempo, somos desejosos de que os outros também venham conosco e aproveitem os resultados e os ensinamentos recebidos.

Em contrapartida, a ganância deseja nos tornar cen-tro deste Universo, é ela que nos leva a distorcer a gran-deza de tudo que o conquistamos, fazendo-nos déspotas

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e “grandes senhores” de nosso mundo; um mundo oco, vazio, centrado em nós mesmos, onde entendemos que temos o direito de nos sobrepormos sobre nossos colegas de jornada pela força econômica e financeira.

A ganância nos aproxima dos animais, desejosos em satisfazer nossos infinitos instintos irracionais, uti-lizando outras pessoas como objetos e ferramentas para alcançá-los. Nesse caso, queremos sempre mais, e so-mente para nós mesmos!

Embora pareça estranho, é real: uma “coisa” cha-mada dinheiro desperta sentimentos em todos nós. Mais bizarro ainda é o fato de que uma vez que o dinheiro é facilmente quantificável e que nossos sentimentos não o são, utilizamos o dinheiro como uma forma de relacionar esses sentimentos à quantidade.

É algo totalmente insano, porém humano.Dessa maneira, passamos realmente a acreditar

que esses sentimentos, como aceitação, amor ou segu-rança, são diretamente ligados à quantidade de dinhei-ro que possuímos.

Podemos então compreender a forte relação e carga emocional envolvidas quando a vida de uma pessoa é li-teralmente sacudida por um problema financeiro ligado à perda de um emprego, um negócio mal encaminhado ou outra fatalidade. A vida literalmente parece ruir aos olhos de quem está vivenciando tal experiência.

É importante compreender que esses sentimentos, na verdade, são frutos das emoções e pensamentos que cada um de nós vivencia dia a dia, assim como de ex-

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periências passadas vivenciadas ou a nós transmitidas pelos nossos pais, familiares ou amigos. O conjunto dessas emoções e pensamentos chamamos de “dimen-sões do dinheiro”.

1.1 Dimensões do Dinheiro

Como vimos demonstrado no gráfico de distri-buição de nossos sentimentos em relação ao dinheiro, a maior parte de nós não aprecia os extremos, os excessos (Apego e Ganância), tampouco as faltas (Desprezo), e nos ocupamos, ou melhor, nos preocupamos, na maior parte do tempo com o dinheiro, dando a este maior ou menor importância de acordo com o momento vivido. Como vimos, por via de regra, a preocupação se sobrepõe aos demais sentimentos.

Na verdade, esses sentimentos são provenientes dos pensamentos que estão fortemente arraigados em nossa mente; e esses pensamentos são as dimensões que estabe-lecemos para o dinheiro.

A dimensão na qual desejamos adquirir alguma coisa ou galgar uma posição social mais elevada é a DI-MENSÃO MATERIAL. Ao fixarmos nossos pensamen-tos sobre o dinheiro no bem comum ou filantrópico, isso caracteriza a DIMENSÃO ESPIRITUAL do dinheiro.

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Figura 4

O interessante é que, para ambos os casos, o dinhei-ro constitui-se de apenas um meio para efetivação de nos-sos objetivos.

1.1.1 Dimensão material

Dimensão mais difundida em nosso mundo atual. Nesta, o dinheiro é um veículo utilizado para facili-tar a efetivação de trocas e negociações entre diferentes povos e culturas, seria como uma linguagem univer-sal ligando as pessoas e possibilitando a obtenção de bens para consumo (objetos), meios de subsistência (alimentos) ou serviços. Outra possibilidade é utilizar

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o dinheiro como um meio de projetar-se socialmente para os “holofotes” da sociedade.

Poucas pessoas conseguem ver uma dimensão dife-rente para o dinheiro além de um meio para obter bens materiais. Essa visão é uma vã tentativa de saciar seus in-finitos sonhos de consumo ou de posição social; ela dá ao dinheiro uma grande importância na vida das pessoas, no entanto no campo dimensional, visando uma realização de vida, apresenta-se claramente limitada e de pouco al-cance, não resolvendo seus problemas existenciais.

Nessa dimensão verificamos que os maiores males que se instalam são o apego, a ganância e o materialismo.

Na dimensão material, o dinheiro necessita de um “mestre”; caso não tomemos o controle, ele próprio o assumirá em nosso lugar. Infelizmente isso ocorre com certa frequência, assim passamos a ser escravizados, in-dependentemente da quantidade de dinheiro que venha-mos a possuir, por nossos desejos e caprichos, vivendo inconscientemente uma vida de servidão.

Os recursos são finitos, porém o mesmo já não se pode dizer de nossos desejos...

Caso o consumo seja alicerçado em objetos e serviços os quais são adquiridos com o objetivo final de preencher um vazio existencial, o dinheiro ganha uma dimensão enorme como meio para aliviar a tensão de nossas carên-cias. Mas o vazio existencial não é preenchido de maneira alguma com bens materiais, e tão logo a sensação de bem--estar é novamente substituída pelo vazio − o que nor-malmente ocorre com muita rapidez −, voltamos a buscar

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outros meios necessários para suprir novos consumos os quais apenas nos fornecerão novos e breves momentos de transe e prazer; esse processo ocorre em uma cadeia sem fim de desejo, prazer momentâneo e frustração.

Nessa dimensão, a grande questão é “qual” ou “o que” posso adquirir! Essa é a dimensão do prazer material.

1.1.2 Dimensão espiritual

Não é por acaso que a elipse dedicada à dimensão es-piritual é de maior ordem de grandeza do que a apresenta-da na dimensão material. Esta é a dimensão da felicidade!

Embora o contexto ideal seja de um avanço lento e gradual, mas firme em ambas as dimensões do dinheiro, será a dimensão espiritual o principal alicerce de susten-tação de um verdadeiro equilíbrio financeiro.

Para algumas religiões, o dinheiro é considerado o fruto da iniquidade, da cobiça, da falta de solidariedade e da injustiça entre os homens. Embora essa afirmação soe para muitos como exagerada e radical, seria interessante refletirmos sobre até que ponto esse pensamento possui suas raízes na existência do dinheiro em si ou na maneira com a qual a humanidade o utiliza.

É inquestionável que o dinheiro em si é amorfo e sem valor. No entanto, quando em posse do ser huma-no, o dinheiro se transforma e, para muitos, torna-se o centro de sua existência. Este é sem dúvida o grande questionamento e desafio da humanidade: o amor des-mesurado ao dinheiro.

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Caso a utilização do dinheiro fosse focada na ob-tenção de bens necessários à sobrevivência e desenvol-vimento e seu excedente disponibilizado para a utiliza-ção pelos menos favorecidos financeiramente, talvez a própria real necessidade da existência do dinheiro pu-desse ser questionada.

A dimensão espiritual abrange os pensamentos que todos nós possuímos, alguns com maior intensidade do que outros, é verdade, em que o foco principal está cen-trado em auxiliar as outras pessoas ou em construir e desenvolver uma entidade para uso comum e em bene-fício de todos.

No caso, os pensamentos que direcionam a di-mensão espiritual naturalmente fazem com que todos se sintam mais preenchidos e energizados como seres humanos. Os recursos são utilizados de maneira coeren-te com um objetivo claro, assim como deveria ser, um meio para se obter um fim.

No entanto, via de regra, as pessoas com esse pensa-mento são reféns dos sentimentos de preocupação e de-sapego ao dinheiro, fato este que pode ser uma barreira para se conseguir os recursos financeiros necessários para a realização de seus objetivos. Creio que pode-se entender que esse modo de agir não colabora para um planejamen-to financeiro sustentável em médio e longo prazos.

O questionamento de si mesmo e da utilidade do dinheiro está no centro dessa dimensão. Aproveitando--se desses pensamentos, em muitos casos impulsiona-dos por certas facções extremistas religiosas, verificamos

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uma atitude de aversão à riqueza e ao materialismo, o que leva algumas pessoas a tratarem o dinheiro e a ri-queza material com desprezo.

Figura 5

Algumas pessoas entendem que não é possível pos-suir bens e riqueza material e ao mesmo tempo “agradar a Deus”. A pobreza e o sacrifício são vistos como prova de fé e perseverança, e, por que não, honestidade. É como se existisse uma percepção de que não há o suficiente para todos. Ao que parece, nesse caso, o pensamento prepon-derante é o de que a riqueza material está intimamente ligada à desonestidade e à vergonha.

Talvez a grande questão seja: Como nos relaciona-mos com uma “coisa” chamada dinheiro e sua influên-cia com nosso plano espiritual?

No caso da dimensão espiritual, aplica-se uma de-finição diferente ao dinheiro. Pode-se imaginá-lo como uma forma de energia, uma energia que flui e nos liga

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a objetos e desejos; no entanto, para aqueles que creem unicamente nessa dimensão, o suprimento dessa fonte de energia normalmente é falho.

Assim, deveríamos buscar uma resposta para “por que” e “para quem” precisamos do dinheiro.

1.1.3 Intersecção das dimensões

Como vimos, para os mais materialistas, na dimen-são material o dinheiro é colocado como o centro nervo-so de sua vida; já para as pessoas mais voltadas para um posicionamento espiritual, o dinheiro está localizado em uma posição muito periférica de sua atenção.

Na verdade, a maior parte de nós vive em um grande e aparente paradoxo, oscilando como uma grande mola entre o espiritual e o material.

Figura 6

Então, qual seria a saída entre esses dois mundos aparentemente tão distantes e de difícil conciliação?

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A alternativa para essa eterna dualidade da realidade humana seria um estágio no qual nossos desejos materiais de status e riqueza fossem suficientemente satisfeitos, totalmente alinhados com nosso padrão de vida, compartilhando e auxi-liando o próximo e, simultaneamente, avançando rumo a um desenvolvimento de nossa consciência e vivência espiritual.

Essa nova dimensão na verdade emanaria da in-tersecção das dimensões MATERIAL E ESPIRITUAL. Apenas essa nova realidade seria capaz de unir e ponderar o materialismo e o lado espiritual, em que não seríamos submetidos às leis da ganância e da servidão ao dinheiro, mas a utilizaríamos como um real propulsor de nosso de-senvolvimento e do bem comum.

Esta dimensão é a: CONSCIÊNCIA FINANCEIRA.

Figura 7

Esse questionamento nos remete a refletir sobre as razões pelas quais o dinheiro existe e em sua missão ori-

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ginal. Trata-se de uma dimensão mais ampla do que a material na qual se busca uma riqueza além da econô-mica; onde a ganância cede lugar à ambição, e o sucesso não é apenas algo para o demonstrarmos aos olhos da sociedade. Esse novo estágio de consciência é alcançado somente com o auxílio da dimensão material associada à dimensão espiritual.

Para se viver plenamente, como já citado por Walla-ce Wattles:

• Nosso corpo necessita de alimentação, abrigo, vestimenta, assim como exercício, descanso e recreação;

• nossa mente precisa de livros e tempo para estu-dá-los, viajar, observar e refletir;

• nossa alma necessita de amor e expressão plena de amor normalmente negada pela pobreza.

Imagine as fantásticas possibilidades provenientes dessa dimensão em que os questionamentos egocêntricos habituais referentes aos ganhos salariais e financeiros, ou ao patrimônio de cada um, sejam substituídos por ques-tões sobre como seríamos veículos compartilhadores des-sa riqueza e como nos reproduziríamos através de nossos descendentes dando continuidade a essa mesma atitude.

Embora a Consciência Financeira pareça, até cer-to ponto, utópica, todos apresentamos condições natas ao crescimento e ao desenvolvimento material e espiri-tual; sem estas não teríamos chegado até aqui em nossa

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evolução. Essa dimensão seria como uma centelha divina, um verdadeiro vetor impulsionador para desenvolvermos de forma otimizada nosso potencial material e espiritual.

O caminho é, no mínimo, tão importante quanto a chegada. O destino em si não é simplesmente atingir uma riqueza material sem fim, fato este que, como vi-mos, é realmente para poucos, mas obtermos uma con-dição de equilíbrio pela qual desejos materiais pensados, planejados e factíveis são satisfeitos e simultaneamente acompanhados de crescimento espiritual e compartilha-mento com o próximo.

Nessa dimensão, a fantástica reflexão a que elevamos nosso pensamento é: Quanto é suficiente e para quem?

Antes de nos aprofundarmos no conceito de Consci-ência Financeira, vamos revisar os conceitos de FINAN-ÇAS e CONSCIÊNCIA.

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2 FINANÇAS

Academicamente falando, FINANÇAS constitui-se de um ramo da economia que lida com a alocação de recursos e investimentos; ao passo que o verbo FINAN-CIAR significa fornecer fundos para negócios e projetos.

Finanças corresponde ao conjunto de meios materiais disponíveis (circulantes) que serão usados em transações e negócios com transferência e movimentação de dinheiro.

O termo finanças pode também ser utilizado para abranger o estudo do dinheiro e outros ativos, o geren-ciamento e o controle desses recursos e a análise e o ge-renciamento de riscos.

As finanças fazem parte de nosso dia a dia, e a princi-pal necessidade de analisarmos os números é o de enten-der a real situação financeira em que nos encontramos.

Surpreendentemente, salvo um direcionamento de grau universitário, essa ciência não é ensinada nem co-

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mentada nas escolas em geral; e, pior, via de regra, em boa parte das famílias não é comentada de modo estruturado. O tema é repassado a crianças e adolescentes como “dá para comprar” ou “não dá para comprar”! Poucos jovens recebem uma resposta adequada aos seus questionamen-tos de consumo ou são incitados a refletir sobre finanças e talvez buscar uma maneira de obter seu objeto de desejo.

“Se você comprar coisas que você não precisa, logo você terá que vender coisas que você precisa.”

Warren Buffett

Em nosso caso, planejar nossas finanças em curto, médio e longo prazos corresponde a gerenciar nosso di-nheiro e recurso com o objetivo claro de alcançar nos-sas metas materiais e evitar incômodos futuros, e deve ser um tema debatido e discutido periodicamente na unidade familiar.

Embora, falar sobre suas finanças, a princípio, não pareça uma ação tão difícil, muitas pessoas a deixam de lado, pois não querem encarar a realidade e readaptar seu padrão de vida, têm medo ou, ainda, não visualizam nenhum benefício de curto prazo nessa prática. Essa vi-são é “míope” e apresenta, a longo prazo, consequências terríveis para o indivíduo e sua família.

A administração financeira tem sempre como obje-tivo a organização do fluxo de dinheiro, como entradas (rendimentos) e saídas (despesas), evitando gastos desne-

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cessários e desperdícios, e o crescimento da riqueza ob-servando as melhores trajetórias e alternativas para isso. Tudo sempre mantendo o foco em associar ganhos e pa-drão de vida compatíveis.

Para os casos em que existam rendimentos e despesas não compatíveis, a mudança de padrão de vida ocorrerá mais cedo ou mais tarde. A ruptura é inevitável; no en-tanto, caso a coerência entre ganhos e consumo ocorra de modo gradual, nenhuma família ou individuo passará de modo abrupto por essa traumática experiência

No caso da readequação entre rendimentos e despe-sas, a mudança de patamar do padrão de vida não deverá ser entendida como uma perda, mas como um objetivo a ser conquistado, utilizando-se para isso o motor pro-pulsor do controle financeiro que propiciará a mudança de nossa saúde de um estado de transe e ilusão para um momento presente e consciente.

Em um primeiro momento parece muito mais fácil e sedutor viver o dia a dia, trabalhar a vida inteira e so-nhar com a aposentadoria, o que não é de todo errado, no entanto é uma atitude de alto risco, principalmente se levarmos em conta que uma boa parte dos sonhos da aposentadoria é alicerçada na administração do Estado, factível de falhas e mudanças de legislação.

O primeiro passo para gerenciar o dinheiro é sa-ber “onde se está” em termos de rendimentos e despesas e “aonde se quer chegar”. Por meio da organização da movimentação desses valores em planilhas ou até mesmo livros-caixa, tem-se uma visão clara de como e onde o

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dinheiro está sendo gasto. Somente assim podemos pro-teger nossos rendimentos, através de uma combinação de planejamento e balanço de nossas finanças. Esses núme-ros constituem-se de pilares fundamentais para que deci-sões corretas sejam tomadas quanto ao direcionamento mais apropriado ao futuro financeiro de cada um de nós.

Somente entendendo e controlando nossas finanças, educaremos nossas necessidades de consumo e planejare-mos nosso futuro financeiro.

Embora o ditado diga-nos que quem falha ao pla-nejar está planejando falhar, qualquer tipo de reflexão é “menos ruim” do que deixar de planejar! O mesmo pode ser dito sobre a realidade financeira de cada um, aquele que não sabe onde está fatalmente não possui a menor condição de chegar aonde se quer.

Muitos, talvez, utilizem como pano de fundo para seu total descontrole financeiro a desculpa do desconhe-cimento ou da pouca habilidade na utilização de planilhas de controle. No entanto, a utilização de um livro-caixa, em papel, pode ser, nesses casos, um excelente começo para um plano de controle financeiro.

Uma boa compreensão do conceito de finanças será de extremo auxílio para fazer com que nossos pés, sempre embalados por sonhos e objetos de consumo, voltem a terra.

Por mais que alguns acreditem na existência de uma lei de atração que nos auxilia em nossas realizações, cla-ramente nossos desejos são ilimitados; no entanto, já o mesmo não ocorre com os recursos que dispomos. Dessa

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associação de abrangências tão díspares nascem nossos desejos de consumo insatisfeitos.

Para que a equação entre desejos INFINITOS e re-cursos LIMITADOS seja fechada, além da utilização de maneira disciplinada de um bom controle financeiro, é fundamental a utilização racional e consciente de uma variável adicional chamada TEMPO.

Tempo é um recurso realmente escasso e parado-xalmente desperdiçado no mundo atual. O tempo é um grande amigo da boa administração financeira, pois ele nos estimula a praticar a busca pela consciência, a perseverar, a sermos disciplinados, organizados, pragmáticos e pacientes.

Embora possa parecer que o tempo que nossas fi-nanças levam para desestabilizar não seja o mesmo para voltar à normalidade, a verdade é que essa sensação está muito mais ligada aos nossos atos impensados de consu-mo do que ao fenômeno do tempo em si. Ao controlar-mos nossas finanças deveríamos ter as mesmas alegria e disciplina com que consumimos.

Via de regra, trocamos nossa capacidade de discernir e sensibilidade por alegrias rasas, frugais, e não planejadas.

O conceito de finanças não é incorporado ao nos-so dia a dia pela força ou osmose; esse conhecimento deve ser continuamente exercitado de modo disciplinado com ações concretas. O controle financeiro não é obtido simplesmente pela observação ou contemplação dos fatos que transcorrem em nossa vida, é preciso agir − e agir inteligentemente, conscientemente.

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3 CONSCIÊNCIA

[...] indivíduo soberano, o indivíduo próximo de si mesmo, o indivíduo autônomo e super-moral, numa palavra o homem dotado de vontade pró-pria, independente, persistente, o homem que tem o direito de prometer – e que possui em si mesmo a consciência orgulhosa, que faz vibrar todos os seus músculos, por aquilo que acabou de conse-guir e por se encarnar em si, uma verdadeira consciência de seu poder e de sua liberdade [...].

Friedrich Nietzsche

A consciência é um fantástico mistério da existência, é como se o “algo” pelo qual procuramos fosse mesmo, de fato, aquilo que estamos procurando. É um pouco malu-co e, às vezes, de difícil alcance das palavras!

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São nossos olhos olhando para si mesmos!É como um mantra sagrado a ser repetido

internamente por inúmeras e inúmeras vezes.É estar ciente, é o estado desperto, é a capacidade de

perceber a relação entre si e um ambiente, é estar “liga-do”, é a subjetividade, é ter em sua mente uma sensação automática, espontânea e direta do “eu” enquanto prota-gonista da experiência.

Independentemente das melhores definições que possamos apresentar, a simples menção da palavra CONSCIÊNCIA faz vibrar internamente algo diferente em todos nós. Na centelha de emoções invocadas por esse substantivo é difícil explicar a mistura de sentimentos que nos vem à mente instantaneamente.

Talvez nossa maior dificuldade quanto à consci-ência resida no fato de que pensamos possui-la. Seria complicado, eu diria inadmissível, acreditar que passa-mos uma boa parte de nossa existência em um estado de quase total sonolência, muito distantes da consciên-cia, agindo como unidades automatizadas previamente programadas; nesse estado colhemos apenas impressões fragmentadas de nossa vida e do mundo no qual esta-mos inseridos. E, pior, mesmo em momentos cruciais, quando as decisões a serem tomadas trarão consequên-cias enormes para nosso futuro, arrisco dizer que pensa-mos estar conscientes quando, na verdade, não estamos. Eis a origem do número crescente de casos de separa-ção, homicídios e crianças abandonadas... sem falar dos problemas existenciais e financeiros de nosso dia a dia.

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Não tenho a pretensão de iniciar um tratado sobre um tema de tamanha importância, nem acho que tenho a legitimidade necessária para fazê-lo. Em contrapartida, tenho como firme propósito acender e manter acesa a chama da consciência nos leitores que estarão dispostos a prosseguir comigo neste estreito e sempre desafiador caminho da CONSCIÊNCIA FINANCEIRA.

Seguindo a reflexão do Dr. Augusto Cury, vive-mos como se um dia não fôssemos deixar este mundo, e muitos morrem como se nunca tivessem vivido. Seu momento é agora, neste instante. Reflita, este é o pro-pósito deste momento. Que saiamos da letargia que se acampou em nossa vida.

Quando considero a brevidade da existência dentro do pequeno parêntese do tempo e refli-to sobre tudo que está além de mim e depois de mim, enxergo minha pequenez. Quando con-sidero que um dia tombarei no silêncio de um túmulo, tragado pela vastidão da existência, compreendo minhas extensas limitações e, ao deparar com elas, deixo de ser um deus e liber-to-me para ser apenas um ser humano. Saio da condição de centro do universo para ser apenas um andante nas trajetórias que desconheço [...].

Dr. Augusto Cury

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Convido a todos para um bom momento de refle-xão sobre a tomada de conhecimento de nossa “peque-nez” perante o Universo, mas, ao mesmo tempo em que nos deparamos com a “grandeza” da oportunidade que nos foi dada de pensar, refletir e agir.

O teólogo Dallas Willard nos remete a uma interes-sante reflexão sobre nós mesmos:

Sou um ser espiritual que tem um corpo físico. Eu ocupo meu corpo e seus arredores pela cons-ciência que tenho dele e pela minha capacidade de exercer a vontade de agir com ela e por ela e por meio dela. Eu ocupo meu corpo e seu espaço circundante, mas não posso ser localizado nele ou em torno dele. Você não consegue me encon-trar nem encontrar os meus pensamentos, sen-timentos e características de personalidade em parte nenhuma do meu corpo. Se você quiser me encontrar, a última coisa que deve fazer é abrir o meu corpo para dar uma olhada.

Dallas Willard

Consciência, consciência, onde estás quando nos permite trabalhar sem prazer por horas a fio, apenas pelo dinheiro e pelo status de um cargo, afastando-nos de nos-sos entes mais queridos? Perdendo momentos que jamais se repetirão, permitindo que outros meios, como a TV, auxiliares domésticos, babás ou video games, os quais nem

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sempre compartilham os nossos valores, nos substituam na criação de nossos filhos.

Certa vez, participei de uma reunião com uma reno-mada consultora que se vangloriava de suas longas e lon-gas horas de trabalho, estendidas aos sábados e domingos, que lhe rendiam excelentes ganhos. Quando a questionei sobre como suas filhas encaravam essa postura, a resposta me pareceu vir pronta como um bolo confeitado:

— Senhor Campos, — ainda me lembro do timbre forte e seguro de sua voz — uma vez por ano viajo dez dias de férias com minhas filhas, e posso lhe assegurar que quando elas estão se divertindo como loucas na Disney todo o resto foi esquecido.

Será?Entendo que de um ponto de vista mais reflexivo,

nosso trabalho deveria consistir não apenas de um meio de busca para subsistência, mas sobretudo de uma forma de crescimento interior e autorrealização, simultaneamente disponibilizando e compartilhando essa riqueza e apren-dizado com todos a nossa volta. No entanto, acredito que uma parte significativa da sociedade ainda não tenha atin-gido esse estágio de compreensão ou possibilidade em re-lação ao trabalho. Para a maior parte, o trabalho consiste, com o nosso consentimento (consciente ou não), da troca de nosso tempo (aliás, o melhor dele) por dinheiro.

Caso esse posicionamento se aplique a você, utili-ze seu trabalho ao menos como um meio para o atingi-mento de uma meta (objetivo + prazo de início/término) muito precisa, desse modo ficará claro e estabelecido o

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“por quem” ou “pelo que” se está trabalhando em algo que não se goste e por quanto tempo.

Sem esse tipo de reflexão, somos presas fáceis de um sistema que massageia nosso ego em prol de seus inte-resses, escraviza-nos, muitas vezes com nossa permissão, ao nos prometer um mundo de sonhos e de um ama-nhã maravilhoso. A grande ilusão é que para a maioria de nós este “amanhã” nunca chega, e, quando para poucos escolhidos, este “mundo dos sonhos” se torna realidade, nem sempre estão presentes as pessoas mais importantes e amadas, pelas quais estariam se sacrificando.

Entendo que talvez tenhamos que nos submeter a tarefas e trabalhos não prazerosos para atingir algum ob-jetivo; eu comecei minha jornada de mãos dadas com minha esposa sem um tostão no bolso, e sujeitamo-nos a longas jornadas de trabalho, recheadas de reuniões inú-teis e temperadas por e-mails que apenas empurravam problemas. Todavia possuíamos consciência do porquê de tudo aquilo ser necessário e quanto tempo duraria. Jamais devemos permitir que nosso trabalho nos separe das pessoas que realmente importam.

Com certeza, as ações a serem implementadas para uma organização financeira efetiva levarão algum tem-po para surtirem efeito. Durante esse período, o tempo “vendido” pelo seu trabalho será um pouco maior do que você gostaria, e provavelmente o tempo com sua família um pouco mais escasso, então desafio você a transformar o pouco tempo em que estão juntos em momentos que realmente valham a pena! Este já é um primeiro passo

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em direção à consciência financeira: transformar o pouco tempo disponível em algo muito bem aproveitado.

O caminho da consciência é realmente diferente dos demais, e sua curva de aprendizado e assimilação não obedece à lei de acúmulo de conhecimento na qual nossa base de ensino está alicerçada.

“Nada tem mais poder sobre mim do que aquele que eu atribuo aos meus pensamentos conscientes.”

Tony Robbins

Quando temos consciência de nossos atos, remete-mos nossos pensamentos ao momento presente, paramos de vaguear entre o passado e o futuro; é o único momento no qual, efetivamente, podemos realizar mudanças reais de comportamento que virão a prevenir e a afastar futu-ras ocorrências negativas em nossa vida.

Geralmente, quando nos deparamos com uma im-portante decisão a ser tomada, temos grande dificuldade de sentarmos a sós e refletir pelo tempo que for necessário sobre as circunstâncias que estamos vivendo, os impactos da ação a ser tomada e todas as alternativas.

Mesmo que consigamos vencer a barreira da falta de tempo, deparamo-nos com um obstáculo pratica-mente intransponível: nossa capacidade de reflexão com frequência nos escapa para outras coisas, divagando e sofrendo a interferência de muitos outros temas irrele-vantes para nossa análise.

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Você já passou por essa experiência? É como se, apesar de todo nosso esforço,

conseguíssemos apenas por alguns momentos manter o foco nos pensamentos adequados.

Essa reação me parece, muitas vezes, fruto de nossa própria resistência e contrariedade em refletir. Ela surge como resultado da desarmonia de nosso momento exte-rior e de nossos estímulos internos.

Como se não fosse o suficiente essa barreira, somos condicionados a apenas refletir sobre aspectos básicos da realidade que enxergamos e de forma fragmentada.

Vamos acompanhar uma experiência proposta por Debashis Chatterjee:

Feche os olhos por 30 segundos e visualize a pa-lavra árvore que surgiu na sua tela mental. Ex-plore essa imagem mental nos mínimos detalhes O que você vê? Um pinheiro, um bordo ou um eucalipto? Uma palmeira balançando contra o vento? Ou você não viu nenhuma árvore? Viu apenas a palavra árvore escrita no seu mapa mental? Você provavelmente viu folhas verdes da árvore e galhos alastrando-se como artérias. Você deve ter enxergado o tronco da árvore ou algumas flores. Agora faça a si mesmo essa im-portante pergunta: Visualizei as raízes da ár-vore quando pensei nela? Noventa e nove entre cem de vocês dirá: Não. No entanto, as raízes embora invisíveis para vocês existem. Não

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existem? As raízes são, na verdade, o compo-nente mais importante de uma árvore. Então por que sua mente negligencia uma parte tão importante de uma árvore ao visualizá-la?

Debashis Chatterjee

Somos incapazes de enxergar a imagem COMPLETA. Não poucas vezes simplesmente deixamos de lado fatos fun-damentais para a compreensão de uma situação, mesmo que estejam ao nosso nível de compreensão e entendimento!

Vivenciamos uma existência ambígua, perturbada, como se estivéssemos em um estado de torpor. Quando isso ocorre, nossa reflexão deveria retornar para a análise do problema e das alternativas que estão realmente envol-vidas no processo.

Diante desse cenário, é compreensível a posição pre-ferida pela maioria de nós, a de não perceber a importância de sua existência, focando em quaisquer outros assuntos fúteis e supérfluos, vivendo apenas o dia de hoje sem levar em conta uma dimensão mais profunda de sua realidade.

Um artifício que utilizo nesses momentos é re-petir calma e lentamente para mim mesmo a palavra “consciência”. Pausadamente como se todo o tempo do mundo pertencesse a mim (o que deveria ser verdade). É como um mantra indiano a ser repetido, repetido e repetido, mais calma, pausada e profundamente, e, por que não, conscientemente!

Experimente!

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As questões ligadas à consciência envolvem não ape-nas sua existência em si mas também sua duração, com que frequência e profundidade ela ocorre.

É como se vivêssemos em um estado habitual situado entre o transe e o sono espiritual. Como se não bastasse, quando somos interrogados sobre nossa consciência, poucos têm a coragem de admitir, ou o discernimento de afirmar, a sua inexistência.

Quando houver cessado de ouvir os muitos, po-derá discernir o UM – o som interno que mata o externo.Só então, e não antes, abandonará ele a região de Asat, o falso, para entrar no reino de Sat, o verdadeiro.Antes que a Alma possa ver, deve ser consegui-da a harmonia interior, e os olhos carnais tor-nados cegos à toda ilusão.Antes que a Alma possa ouvir, a imagem tem que se tornar tão surda aos rugidos como aos murmúrios, aos bramidos dos elefantes uivantes como ao argênteo zumbir do pirilampo de ouro.Antes que a Alma possa compreender e recor-dar-se, deve estar unida ao Falante silencioso, como a forma a ser tomada pela argila é primei-ro unida à mente do ceramista.Porque então a Alma ouvirá e se recordará.E ao ouvido interno falará. A Voz do Silêncio

Helena P. Blavatsky

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Todavia, não acredito que tudo esteja perdido para a humanidade, o despertar da consciência não ocorre de maneira intempestiva, arbitrária nem por imposição. O despertar se dará de modo manso e sereno, ele é atempo-ral, no entanto necessitará de uma boa dose de esforço e de mudança de atitude.

Embora do ponto de vista material, a história da hu-manidade seja permeada de fatos marcantes e radicais, como guerras e revoluções, que tenham alterado profundamente seu curso, acredito que no plano espiritual os acontecimen-tos não sigam esse mesmo caminho. As mudanças espiri-tuais ocorrem através de uma lenta e gradual metamorfose interna, que pode até ser forjada a golpes de martelo, mas, para isso, a correta têmpera do metal deve ser continuamen-te fundida, longa e pacientemente trabalhada internamente pelas mãos de um hábil ferreiro (você mesmo!).

Apesar da existência do passado e de suas consequên-cias em nossa vida, é no futuro que refletirá o resultado de nossas atitudes atuais; estar consciente é como “estar no presente”, vivendo cada segundo sem dimensão do tempo.

Somente no estado de consciência podemos perce-ber e usufruir plenamente das experiências extraordiná-rias que permeiam nossa existência e assim, finalmente, ser levados ao caminho da verdadeira evolução espiritual.

Mesmo eventos milagrosos ou catastróficos pos-suem baixa capacidade de nos mover de nossa frequência espiritual − como um elástico, inexoravelmente, retorna-mos ao nosso estado de dormência assim que o efeito desses acontecimentos se extingue. Nossos velhos hábitos

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tomam de assalto o pensar e o refletir, em uma espécie de transe comandado, via de regra, pelo medo.

A consciência nos permite viver despertos, no pre-sente, em um estado de respeito a todos os que nos cer-cam e a nós mesmos. Ela impede que simples diferenças de opiniões, que deveriam ser utilizadas como motores de crescimento individual e geração de riquezas, nos de-sestabilizem e transformem-se em grandes confrontos de consequências desastrosas.

A consciência nos desperta do materialismo, mas nos mantém conectados a este mundo físico. Damos im-portância às coisas que conquistamos, mas não vivemos em razão delas.

A marca e o modelo do veículo não importam, o que importa, sim, é quem está junto de nós na viagem. A comida que está sendo servida à mesa pouco será lem-brada uma vez digerida, o que ficará na memória são as pessoas com as quais dividimos a refeição. O credo e o quão sagrado é o lugar da prece dão lugar ao foco na-queles com os quais compartilhamos a oração. Estas são verdades eternas, mesmo que uma parcela significativa da sociedade insista em dizer que não.

Quando estamos conscientes, acordados, vivemos uma vida livre, somos naturalmente conduzidos a viver do nosso modo, e não como a sociedade, nossos pais, cônjuge, vizinhos e colegas de trabalho gostariam que vivêssemos.

Após essa reflexão, por favor, nunca se esqueça de que: para a consciência se operacionalizar, faz-se necessá-ria a existência de um “agente”, e esse agente é você!

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4 CONSCIÊNCIA FINANCEIRA

“Riqueza e Pobreza; o primeiro é parente da luxú-ria e indolência, e o outro da insignificância e do vício – e ambos da insatisfação.”

Platão

No capítulo 1, foi apresentada uma primeira no-ção das DIMENSÕES DO DINHEIRO (espiritual e material) e de sua intersecção chamada CONSCIÊN-CIA FINANCEIRA. Vamos nos aprofundar um pouco mais nesse conceito, pois ele é a base de todo modo de transitar pela maneira como devemos tratar e controlar nossa vida financeira.

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Figura 8

Muitos seres humanos investem uma quantidade enorme de seu tempo no próprio desenvolvimento espi-ritual, no entanto, quando o tema é finanças ou dinhei-ro, a reação de escárnio ou desapego é imediata. Nesses casos, frases como “o dinheiro não é tudo”, “o dinheiro é papel” ou, ainda, “o dinheiro não traz felicidade” são proferidas com certa constância e firmeza.

Em contrapartida, e em maior número, outros indi-víduos investem uma quantidade substancial de seu tem-po e de sua energia para obter riquezas materiais, pratica-mente desprezando o mundo espiritual. Já nesses casos, o tema apresenta outro refrão, entoado veementemente: “o dinheiro não traz felicidade, manda buscar”.

É como se um grande abismo separasse esses dois lados e o tíquete de passagem para transitar fosse, de um

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lado, o desapego incondicional ao dinheiro e, de outro, o posicionamento da riqueza material e o poder como centro de sua existência.

Em ambos os posicionamentos, histórias não faltam para desmenti-los.

Para os mais apegados aos bens materiais, convido--os a uma breve viagem ao santuário cristão de Lourdes, na França, onde muitos acreditam que Nossa Senhora, mãe de Jesus, apareceu a uma menina por 18 vezes. Inde-pendentemente da fé ou descrença que move o lugar, para lá se dirige uma grande quantidade de visitantes com do-enças terminais, e muitos são extraordinariamente ricos materialmente, o suficiente inclusive para já terem uti-lizado os mais modernos recursos disponibilizados pela medicina, sem sucesso. Essas pessoas por lá permanecem em busca de um milagre de salvação para a vida.

A infusão de sentimentos que habita o lugar é até exotérica e depressiva. Arrisco dizer que esses doentes terminais dariam uma boa parte de sua fortuna mate-rial, se não toda ela, para em troca receberem uma cura ou a extensão de sua permanência na terra, mesmo que por um curto período.

Já para os espiritualistas mais radicais, fica um passeio pela biografia de algumas grandes mentes do desenvolvi-mento humano, nas áreas da filosofia, música, pintura ou até das ciências que tiveram sua vida abreviada ou potencia-lidades limitas em razão dos parcos recursos financeiros que possuíam à sua disposição ou em razão de sua má admi-nistração (por exemplo: Colombo, Mozart, Nietzsche etc.).

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Os bens materiais não são os únicos fatores de feli-cidade, todavia são importantes propulsores da realização do gênio humano e, por que não, da materialização da bondade e caridade existentes dentro de cada um de nós.

Todas as formas de radicalismo têm levado a hu-manidade por caminhos muito perigosos e sem sentido. Após uma longa e contínua reflexão, entendo que a me-lhor opção seja trilhar o difícil caminho alternativo entre esses dois pensamentos; afinal, uma vida não espirituali-zada é uma vida oca e sem sentido, no entanto uma vida financeiramente instável constitui-se uma dificuldade adicional ao desenvolvimento espiritual e de quase im-possível realização pessoal.

Nossas atividades cotidianas, normalmente direcio-nadas à manutenção de nossa sobrevivência, via de regra, não contribuem para que venhamos a desenvolver uma reflexão aprofundada e contínua sobre esses temas funda-mentais da jornada chamada VIDA.

Vivemos afundados em compromissos ligados ao nosso trabalho, em constante transição entre objetivos egoístas de pequena importância de nosso dia a dia e o hábito de apenas “ir tocando em frente”, sem aparente-mente ter tempo de estabelecermos períodos para nos conscientizar do que ocorre à nossa volta.

Como alguém já disse, viver é como estar em um ônibus de turismo passando pelos mais maravilhosos e incríveis cenários, e de nossa parte não temos tempo para observá-los, pois estamos todos brigando entre si para ver quem senta na janela!

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Esta é nossa utopia, o material e o espiritual. Duas dimensões, duas grandes vias em aparente contradição. Precisamos de recursos para sobreviver, mas nos esquece-mos de alimentar consistentemente nosso espírito. Muitos participam de rituais religiosos, aceitando uma vida de pri-vações materiais que chegam a comprometer seu próprio desenvolvimento espiritual, presas fáceis de um sentimen-to de eterna perda em relação à riqueza material. Desperdi-çamos nossa existência apenas lutando para sobreviver ou sem um verdadeiro desenvolvimento espiritual.

Existe uma alternativa para resolver essa equação: as-sumirmos que, como pó da terra que somos, precisamos de recursos materiais assim como da consciência de nossa carência espiritual, e lutarmos pelo seu desenvolvimento.

Em outras palavras, aproveitemos da melhor maneira possível o tempo de vida que nos foi confiado para avan-çarmos concomitantemente espiritual e financeiramente.

E no fim desta estrada?No fim, o que importa mesmo é o que está na inter-

secção do material com o espiritual, termos as pessoas que amamos e nos amam próximas de nós, produzir com prazer e em atividades que nos completem, auxiliar inteligente-mente aos outros, levantar todas as manhãs para trabalhar e realizar algo que vá em direção ao bem comum, sem cair nas armadilhas da cobiça e da ganância. Desenvolvendo-se espiritualmente, buscando respostas para os mais utópicos questionamentos de nossa existência, sem deixar que preo-cupações financeiras destruam essa reflexão.

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4.1 Dualidade e Sincronismo

Uma boa parcela dos problemas de convivência e com-preensão de nossa vida cotidiana, na verdade, possui sua raiz no completo desconhecimento dos conceitos básicos das palavras, fato este que resulta na distorção dos sentidos das mesmas e origina nossos desentendimentos do dia a dia. É o caso para os conceitos de DUALISMO e SINCRONISMO.

Dualismo é uma concepção filosófica ou teológica do mundo baseada na presença de dois princípios ou duas substâncias ou duas realidades opostas e inconciliá-veis, irredutíveis entre si e incapazes de uma síntese final ou de recíproca subordinação.

Sincronismo é o estado daquilo que é sincrônico; simultaneidade de dois ou mais fenômenos ou fatos: sin-cronismo de oscilação de dois pêndulos.

Esses conceitos se aplicam perfeitamente para expli-car o aparente paradoxo entre a intersecção de consciên-cia (dimensão espiritual do dinheiro) e finanças (dimen-são material do dinheiro).

O dualismo remete nossa mente à ruptura, ao de-safio da oposição presente em todos os preceitos éticos inegociáveis dos seres humanos; já o sincronismo nos traz a beleza, a simetria, a coexistência e a simultaneidade. A organização conjunta desses dois conceitos resulta em uma Consciência Financeira não mais baseada em inter-posição e choque, mas em harmonia!

Realizando um ajuste nas figuras 7 e 8 apresentadas nas páginas 49 e 72, teríamos como resultado a abaixo:

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Figura 9

A intersecção entre as dimensões espiritual e ma-terial do dinheiro, limitada pelo conceito de dualidade existente entre elas, transcende-nos a uma figura me-cânica de maior precisão, em que duas engrenagens (coroa e pinhão), mesmo girando em sentidos opostos, trabalham de modo harmônico e sincronizado visando a um objetivo comum.

O relacionamento entre essas duas dimensões deve ocorrer de modo que nosso desenvolvimento financeiro funcione como um mecanismo que mantém assegurada nossa sobrevivência, até certo ponto, de maneira tran-quila, propiciando o foco de nossa atenção na ampliação de nossas potencialidades para evoluirmos espiritual-mente como seres humanos, ampliando os horizontes de nossa consciência.

O desenvolvimento material, por meio de um au-mento de rendimentos e do efetivo controle financeiro,

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deve tornar-se uma importante fonte de inspiração para nossa consciência.

Talvez o mais difícil para operacionalizar a sincro-nização das dimensões material e espiritual seja o fato de não entendermos o modo como nossa dimensão pessoal em relação ao dinheiro está organizada e suas consequências em nossa vida. Sem essa compreensão é praticamente impossível se obter uma consciência clara de sua realidade financeira e suas limitações e empreen-der as mudanças necessárias.

Em nosso cotidiano, não faltam problemas dos quais devemos, primeiramente, reconhecer a existência, buscar uma firme compreensão da situação que os envol-ve e, finalmente, encontrar alternativas para sua solução.

Fazendo um paralelo com os problemas do cotidia-no que nos incomodam, mas com os quais nos acostu-mamos, cito o caso de quando eu sofria da “síndrome de consciência pesada nos sinais de trânsito”! Normal-mente, os sintomas manifestavam-se sempre que, parado em um semáforo, me deparava com um pedinte. Caso eu atendesse à solicitação com uma esmola, logo ficava pensativo: “Havia agido mal? E se o dinheiro fosse para a aquisição de bebidas alcoólicas ou drogas?”. Por outro lado, caso tratasse a pessoa com descaso e uma negativa, imediatamente se instalava em mim um sentimento de culpa, como se EU fosse responsável pelo “pobre” estado em que se encontrava o indivíduo.

Como talvez a maioria de nós, de um jeito ou de outro, eu sempre acabava deixando o incômodo de lado

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e seguia em frente, sem mais pensar nesse dilema, pelo menos até o próximo semáforo...

Discutindo esse pensamento com minha esposa, ela teve uma ideia diferente: comprar biscoitos e distri-buí-los. Colocada em prática, a ideia mostrou-se mui-to eficaz comprovando que a maior parte dos pedintes realmente não é vadia, e sim seres como nós, com uma série de dificuldades financeiras e existenciais. Com o tempo percebi que a questão não estava apenas na entrega do alimento, mas também muito na maneira como isso ocorria. Uma palavra amiga, um desejo de boa sorte, gestos mínimos que mudam drasticamente a face do pedinte. É como transmitir uma singela mensa-gem: “Eu me importo”.

Todos aqueles que, de uma maneira ou outra, em situações semelhantes conseguiram passar essa mensa-gem sabem muito bem do que falo. Algumas frases e expressões faciais desses transeuntes permanecem grava-das em mim até hoje.

Com esse exemplo, não tenho o intuito de transformar os pedintes de nossas ruas em obesos co-medores de bolachas, e sim deixar claro como pequenos “incômodos” de nosso dia a dia podem ser trabalhados e resolvidos de modo simples, e, ao mesmo tempo, nos transformar em seres mais humanizados, sobretudo que se importam com o próximo.

Podemos e devemos por meio de simples gestos per-mitir que se manifeste – e fazê-lo − a ligação entre o ma-terial e o espiritual.

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Quantas vezes por dia temos oportunidades de des-pertar nossa consciência, trazê-la para a realidade, saindo de nossa cômoda vida autocentrada e de pouca atenção para com os outros?!

Não somos naturalmente mesquinhos, esse estado apenas aflora quando nos sentimos ameaçados. Em geral, a ameaça está intimamente relacionada ao sentimento de medo. Por sua vez, o medo possui raiz em nossa incapaci-dade de entender o momento que vivemos.

Existem forças poderosas que auxiliam ou dificul-tam o sincronismo de nossas dimensões material e es-piritual em relação ao dinheiro. Essas forças serão apre-sentadas em detalhe no capítulo 9; neste momento o fundamental é ter ciência de que tais forças existem e estão todas disponíveis em abundância nas prateleiras do fantástico mercado de pensamentos/sentimentos, que é a nossa mente.

Nossa mente é fácil de ser manipulada por estrata-gemas largamente estudados pelos doutores do marketing moderno. Em um mercado galgado no consumo, nossa mente se comporta como o nosso dinheiro: caso não as-sumamos definitivamente o controle sobre ela, alguém o fará com ou sem nosso consentimento.

Necessitamos consumir − faz parte da vida −, no entanto precisamos fechar o ciclo material de dar e re-ceber coerentemente. Devemos utilizar nosso tempo em alguma atividade e, em troca, receber dinheiro pelo nosso trabalho. Devemos disponibilizar esse dinheiro recebido e obter bens ou serviços. Todo o equilíbrio desse ciclo

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é desestabilizado pelo excesso de consumo e pelo papel central que ele toma em nossa vida.

Não somos gastadores perdulários por natureza; pelo contrário, o animal ser humano evoluiu e sobre-viveu graças à sua capacidade genética de adaptação ao meio ambiente e de consumir e guardar o necessário para sua subsistência.

No entanto, somos facilmente conduzidos para esse estado de consumo desenfreado. Apenas um estado de controle de nossas finanças, associado a uma toma-da de consciência das fragilidades e potencialidades de cada um, poderá evitar que sejamos presas fáceis desta sociedade de consumo.

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5 SOCIEDADE DE “CONSUMO”

Em poucas palavras, a sociedade das “COISAS” em detrimento da Sociedade dos “INDIVÍDUOS”.

“Vivemos o tempo dos objetos […] existimos se-gundo o seu ritmo e em conformidade com a sua suces-são permanente.”

Jean Baudrillard

A palavra CONSUMO possui raízes etimológicas francesa e inglesa. Sua origem latina advém da palavra consumere (séculos XII a XVII), composta pela junção do prefixo “con” e de “sumere”. O significado nesse período era: destruir pouco a pouco, tomar completamente, ab-

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sorver, perder, enfraquecer, usar, minar, exaurir. Até me-ados de 1920, a palavra consumo era empregada para a doença mais fatal da época, a tuberculose.

Segundo as citações do economista Jeremy Rifkin, é incrível como essa palavra, em um passado recente, tenha se metamorfoseado em quase uma virtude no século XX.

São inquestionáveis os benefícios da sistemática de uma sociedade de consumo. Sem ela a revolução indus-trial vivenciada por nossa civilização seria um fracasso, e provavelmente teríamos ainda uma ordem social pre-dominantemente camponesa sem acesso a uma melhor qualidade de vida.

Talvez o grande questionamento seja quanto a essa sociedade baseada no consumo e produção ter se desdo-brado e inflado para um consumismo desenfreado, em que TER e AGORA são fundamentais e SER pode ser deixado para AMANHÃ, e a produção em escalas inima-ginavelmente gigantescas empurra a sociedade para uma visão extremamente materialista, individualista e sem preocupação com nosso planeta.

Vivemos um tempo moderno, o qual, de acordo com a velocidade que nossa sociedade avança, será logo parte dos “tempos passados”, mas, de qualquer modo, parece que vivemos uma vida que não controlamos, pas-samos por experiências que não escolhemos, nos apega-mos a valores, a crenças e a modos de ser e pensar que nunca refletimos.

Vivemos muitas vezes sem objetivos ou metas profun-das, sem refletir sobre o que queremos e o que sentimos.

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Muitas vezes, assemelhamo-nos às gigantescas ma-nadas de herbívoros pastando nas planícies africanas. Vivendo o dia a dia, apenas buscando sobreviver de ma-neira irrefletida, alimentando-nos e procriando (e, ainda, pagando contas!). Até o momento em que subitamente uma dessas vidas seja rapidamente extirpada por um pre-dador que desencadeia uma movimentação da manada, a qual, tão logo esses acontecimentos se extingam, retorna-rá ao seu estado de torpor e sonolência.

Paradoxalmente, não queremos que o tempo pas-se, mas estamos ávidos da chegada da sexta-feira ou do próximo feriado, quando, com certeza, digeriremos al-gum programa superficial da TV, recheado por eventos esportivos, que nos faça “vibrar” sem sair do confortável sofá onde nos encontramos.

Vivendo para consumir sem pensar nem refletir em nossa passagem histórica por este mundo... Que triste reali-dade para nós, humanos, que um dia descemos das árvores e nos erguemos em duas patas para conquistar o planeta e nos tornar os seres dominantes de toda a cadeia alimentar!

Presas fáceis para os mecanismos de marketing que norteiam toda a cadeia de consumo de nossa sociedade.

Reflita sobre os lugares públicos pelos quais você transita diariamente, praças, ruas e avenidas, e sobre os meios de comunicação que o atingem, como a TV e o rá-dio. Observe a quantidade de mensagens comerciais a que você é exposto sem ao menos se dar conta. Seria realmen-te toda essa comunicação neutra? Que efeitos todas elas produzem em nosso consciente e em nosso inconsciente?

Você não sabe?

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Pois garanto-lhe que as grandes “cabeças pensantes” do marketing moderno sabem muito bem o que estão fa-zendo e praticamente antecipam nosso modo de pensar e agir em consequência dessas mensagens.

Mas por que tudo isso?

Somos, ao contrário do que é hábito dizer-se, não uma sociedade de consumo, visada ao con-sumidor, mas uma sociedade de produção, vira-da ao produtor e seus interesses.

Agostinho da Silva

A raiz de todo consumo nasce na massificação da produção globalizada, sempre crescente e alimentada pela ganância desmesurada do capitalismo e suas distorções.

Ao realizarmos as previsões anuais de vendas nas multinacionais para as quais trabalhei, costumávamos brincar com o fato de que caso nós mesmos, assim como todos os concorrentes do segmento, realizássemos nossos objetivos de participação de mercado, com certeza tería-mos um mercado muito maior do que 100%!

Desde o início da revolução industrial, a produção outrora artesanal, familiar, de pequena escala e local foi sendo impulsionada aos limites da produção ilimitada em processos altamente sofisticados da industrialização, por unidades fabris estrategicamente implantadas em lo-cais de mão de obra barata, totalmente impessoais, e os resultados desse processo encontram-se espalhados por todo o planeta por meio da bandeira da globalização.

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Todo esse esforço tem um único objetivo: oferecer produtos que devem ser consumidos o mais rapidamente possível e com a maximização extrema de seu lucro.

Sociedade de consumo, ou produção, trata-se de uma excelente reflexão, mas o que realmente importa é termos consciência da manipulação que sofremos, da consequência sobre nossos atos e de como podemos nos proteger diante disso na sociedade atual.

O fato é que em todas as sociedades nas quais es-tamos inseridos, mesmo as consideradas materialmente mais ricas que permitem maior liberdade de escolha, nos-sa mente é manipulada o TEMPO TODO.

Algumas agências de propaganda ainda dissimulam (a meu ver) que a PROPAGANDA não funciona de fato. Tendo em vista as fantásticas somas em dinheiro gasto pelas empresas para alimentar esse sistema de marketing, tal afirmação retórica é difícil de ser aceita por qualquer um que utilize o mínimo de sua capacidade de raciocínio

Somos adultos, com liberdade de escolha e senso co-mum, que argumentam.

Será?Realmente seríamos indiferentes à sedução de um co-

mercial liderado por um artista ou atleta famoso, forrado com lindas paisagens, com uma música especialmente concebida para esse fim e permeado de mensagens subliminares*?

*Tipos de mensagem que não podem ser captadas diretamente pelos sentidos do ser humano, muito utilizados para manipular vontades e desejos de espectadores sem que eles o percebam.

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No meu entendimento, somos todos muito facil-mente conduzidos pelo caminho que nos é proposto a ser trilhado pelo “maravilhoso mundo do marketing e da propaganda”.

No mundo em que vivemos nunca a propaganda foi tão agressiva. Em todos os caminhos que transita-mos ela está presente. Nossos e-mails são maciçamente bombardeados por uma quantidade absurda de mensagens oriundas dos mailings automáticos. Existem: o marketing de guerrilha, o público-alvo e o marketing viral... Uma verdadeira linguagem de guerra, mas quem seriam os inimigos? O MERCHANDISING, mais re-cente, que se infiltra em nossos momentos de lazer com mensagens subliminares em novelas, seriados e filmes, e, a mais vil das novas armas de destruição, digo “consumo” maciço, o NEUROMARKETING, que utiliza modernas técnicas da neurociência para se infiltrar em nosso cére-bro, verificar nossas defesas e controlá-las.

Porém não se preocupe, pois, segundo os mestres do marketing, nada disso funciona efetivamente, embora se gaste anualmente BILHÕES de dólares com eles e suas aplicações! Uma pena, puro desperdício.

Somos tão hipnotizados por esse mundo quanto uma criança com 3 anos de idade diante de um brin-quedo colorido, totalmente articulado eletronicamen-te de um de seus heróis favoritos, que provavelmente não estará mais funcionando após uma semana de uso ou será esquecido em um canto da casa após esse mes-mo período. Esteiras ergométricas funcionando como cabides, instrumentos musicais que jamais foram to-

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cados, utensílios culinários encostados cheios de pó, tudo isso fala por si próprio.

Já que não refletimos sobre o que buscamos, alguém o faz por nós! Seguimos os preceitos já delineados e as estradas já pavimentadas por outros, de modo irrefletido.

Uma aparente contradição é que esta mesma socie-dade é ávida de informações espirituais. Vive-se numa verdadeira explosão de livros religiosos e espiritualistas, e o enorme fluxo semanal ou dominical a diversos cul-tos religiosos é sempre crescente. No entanto, na prática, todo esse ímpeto vive uma letargia, em que muito pouco do que se lê e ouve se manifesta com um mínimo de consciência no dia a dia.

Infelizmente uma boa parte desse ímpeto espiritu-alista é alicerçado apenas em modismos, e uma parcela significativa dos frequentadores desses cultos (ou mes-mo os leitores desses impressos) está mais focada em sociabilizar e aparentar cultura do que buscar realmente o desenvolvimento espiritual.

Aliás, não foram poucas as vezes que meu veículo foi fechado no trânsito por automóveis com adesivos de entidades que se dizem promotoras da espiritualidade ou com dizeres invocando Deus; sem falar do estresse e até do tumulto na saída de diversos cultos ou reuni-ões religiosas, quando fiéis, após receberem “profundos” ensinamentos e reflexões sobre Deus e sua existência, ficam mais preocupados em se empanturrarem em uma churrascaria ou pizzaria mais próxima. Puro desrespeito para com o próximo!

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Trata-se de uma espiritualidade casual/social, “de esquina”, que é acessada visando unicamente a um be-nefício em uma negociação, sendo esquecido o caminho do desenvolvimento pessoal de dentro para fora. Vê-se a espiritualidade centrada no indivíduo, no pouco esforço e em resultados imediatos. Nossa sociedade de consumo sabe muito bem se aproveitar dessa oportunidade.

Essa sociedade sobrevaloriza as aparências, “os esforçados” e os enfartados, atitudes claramente re-fletidas na forma com a qual o mundo dos negócios apresenta-se atualmente.

“Não somos seres humanos passando por uma expe-riência espiritual, somos seres espirituais passando por uma experiência humana.”

Pierre Teilhard de Chardin

Vivemos em um mundo capitalista e, como já está implícito em seu nome, economicamente impulsionado pelo capital, um mundo que possui como uma das pe-ças fundamentais para seu funcionamento a produção/o consumo. Nesse aspecto, os seres humanos são apenas ferramentas ainda não robotizadas para a efetivação da produção e marionetes facilmente manipuláveis.

Embora, realmente, eu acredite que o capitalismo, até o momento, seja o sistema econômico mais adequa-do ao nosso estágio atual de desenvolvimento espiritual e material, não posso em hipótese alguma concordar com

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as fortes distorções desse sistema e, em muitos casos, com sua consequente injustiça social.

É mais uma vez a GANÂNCIA se sobrepondo à AMBIÇÃO.

Vivemos em uma sociedade alicerçada no consumo, o ter sobre o ser, é o valor das coisas em detrimento do nosso valor como pessoa e dos princípios éticos.

O computador, o notebook, o MP3, o celular, o tablet, a televisão, o eletrodoméstico, o veículo só refor-çam mais o individualismo e a solidão. É a superiori-dade das coisas em detrimento dos homens. As relações humanas estão sendo modificadas, banindo as relações afetivas. Os e-mails, MSN, Whatsapp e as diversas re-des sociais estão substituindo os encontros pessoais, face a face. Os homens passaram a ser apenas coisas entre outras coisas. São meios para o cumprimento de algum objetivo material.

Como nos transmite a ideia de Jean Baudrillard, em nossa sociedade, está cada vez mais claro que os homens não se encontram mais rodeados por outros homens, mas por objetos. Uma vez que os objetos são atemporais, vive-mos o “não tempo”!

“Quando a humanidade se aliena da memória, esgotando-se sem fôlego à adaptação do existente, nisto reflete-se uma lei objetiva do desenvolvimento.”

Theodor W. Adorno

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A perda da memória e da lembrança é extremamen-te útil para manter os indivíduos em um caminho prede-terminado, assegurando-se assim o controle da direção e o sentido que os rumos das coisas deverão tomar.

Na sociedade do consumo deseja-se que o indiví-duo seja movido por uma rotina ininterrupta. Os mes-mos gestos, as mesmas atividades, as mesmas diversões. Acordar sempre no mesmo horário, pegar o mesmo ônibus, realizar as mesmas atividades no trabalho, ver os mesmos rostos, seguir para casa seguindo o mesmo trajeto. Sendo altamente previsível e manipulável para apenas reagir a informações (subliminares ou não) que são oferecidas em seu cardápio, não desenvolvendo um raciocínio próprio algum.

O tempo parece não existir.Com a perda da noção de tempo, o indivíduo en-

contra-se alienado em relação à sua vida e à sua espiri-tualidade, vive-se apenas para o trabalho (produção) e para o consumo.

Esse vazio interior, essa falta de sentido da vida tem uma consequência nefasta para a espiritualidade do indi-víduo. Esse vazio interior é preenchido de um modo ou de outro. A maior parte de nós o faz por meio da imersão no trabalho, da alienação das novelas, das partidas de fu-tebol e das compulsões de consumo.

Quando consumimos nos sentimos aliviados de qualquer tensão emocional acumulada. A neurociên-cia comprova que ao comprarmos um produto, partes de nosso sistema límbico (região do cérebro responsável

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pelas emoções e pelo relacionamento social) são esti-muladas, e o resultado é uma sensação real, porém não duradoura, de alegria e bem-estar. Trata-se de um proces-so de satisfação pessoal vindo do exterior para o interior.

Mas seria esta a forma mais adequada de equacio-narmos nossos problemas?

Vivemos na era das compulsões: compulsão por co-mida, compulsão sexual, compulsão por drogas e com-pulsão por compras. Apenas não agimos compulsiva-mente na busca de uma melhor forma de aproveitar o tempo que nos resta a viver!

Chegamos ao absurdo de estabelecermos o Dia do Consumidor (para quem ainda foi lembrado pelas de-zenas de e-mails de marketing que invadem nossa caixa postal dia 20 de março). Para coroar de vez toda essa loucura, poderíamos inclusive tornar esse dia feriado para desfrutarmos de mais um período livre para passe-ar no shopping...

É nos transmitida pela psicanálise freudiana a ex-pressão “Princípio da Constância”, a qual apresenta a tendência do aparelho psíquico em manter sua excita-ção em um nível baixo ou pelo menos o mais constante possível. Já no “Princípio de Prazer”, Freud explica que nosso aparelho psíquico também busca uma satisfação constante de modo compulsivo; ou seja, nesta busca por prazer necessariamente a tensão/excitação aumenta, deste modo somos automaticamente impulsionados a evitar ao máximo que isto ocorra, para isso necessitamos de uma descarga desta tensão/excitação aumenta, então somos

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automaticamente impulsionados a evitar ao máximo que isso ocorra, necessitamos de uma descarga dessa tensão/excitação. Em uma sociedade que cria constantemente impulsos de desejos, estes nos levam a encontrar uma descarga para essa tensão, a qual normalmente ocorre através do consumo, e esse processo torna-se um ciclo vicioso interno altamente destrutivo.

O livro sagrado do budismo, Dhammapada, há mais de dois mil anos já afirmava que a raiz de todos os proble-mas é a IGNORÂNCIA; esta estimula apegos que desen-cadeiam os desejos e as paixões, os quais originam a insatis-fação e o descontentamento. Se a ignorância é o problema, a solução obrigatoriamente deve ser o CONHECIMEN-TO. O conhecimento de si mesmo. A consciência!

Todas coisas são precedidas pela mente, guia-das pela mente e criadas pela mente. Tudo que somos hoje é resultado do que temos pensado. O que pensamos hoje é o que seremos amanhã; nossa vida é uma criação de nossa mente. Se um homem age ou fala com uma mente impura, o sofrimento o acompanha tão de perto como a roda segue a pata do boi que puxa o carro.

Sidarta Gautama − Buda

A saída?

A saída é nos completarmos progressiva e constante-mente para que nossa satisfação ocorra de dentro para fora.

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Devemos substituir nossa programação de “QUANTO MAIS eu preciso para ser feliz” pela alternativa “QUAN-TO MENOS eu preciso para continuar a ser feliz”.

Verifica-se atualmente que acima de determinado limite, o consumo não traz consigo um aumento de sa-tisfação. Muitos inclusive tentam compensar (ou esque-cer) suas frustrações e tristezas consumindo, de modo exagerado, alimentos, bebidas ou objetos os quais não obrigatoriamente necessitam.

O simples fato de PASSEAR no shopping jamais vai nos completar, e ainda nos remete, ou deveria re-meter, a uma reflexão: “que tipo de mensagem estarei passando para meus filhos?”.

5.1 Espiral de Consumo

Os desejos da vontade não têm limites, suas exigências são inesgotáveis, e cada desejo satis-feito gera um novo. Nenhuma satisfação neste mundo pode vencer seus anseios, pôr um limite aos seus desejos infinitos é preencher o abismo insondável de seu coração.

Arthur Schopenhauer

O ciclo no qual estamos inseridos e que rege a so-ciedade de consumo espelha exatamente nossos esforços cada vez maiores para ascender no mercado de trabalho

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ou no empreendedorismo, o que reflete, se tudo correr bem, em GANHOS maiores.

No entanto, o que observamos na prática é que inevitavelmente esses aumentos de rendimentos normal-mente vêm acompanhados de um consequente reajuste no padrão de vida, o que pode ser verificado pelo conse-quente aumento das DESPESAS (consumo).

Novos consumos obrigam necessariamente a con-quista de novos ganhos (rendimentos), e assim por diante, criando uma verdadeira espiral crescente entre rendimentos e despesas.

Todo esse processo é aparentemente coerente com o princípio do crescimento e desenvolvimento humano na busca da riqueza e satisfação social, assim como em linha com a inexorável ambição humana, presente em cada um de nós, e que é um dos fatores que impulsiona nossa so-ciedade a novas descobertas e evoluções.

É muito interessante refletirmos sobre como esse processo, a princípio tão benéfico ao ser humano, é fa-cilmente infectado pelas distorções de nossa sociedade de produção e consumo através da mutação da ambição no incrivelmente poderoso e maléfico vírus da ganância.

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Figura 10

Inexoravelmente nossas despesas do “dia a dia” sempre crescerão para se tornarem iguais ou maiores do que nossos ganhos, é o que chamamos de melhora de padrão de vida.

Será que é tão difícil entender que mesmo os mais ricos não podem realizar todos os seus sonhos só porque possuem muito dinheiro?

É interessante observarmos que independentemente da posição em que a curva se apresenta, os resultados são sempre os mesmos, uma corrida desenfreada entre aumento de ganhos e consequente aumento de despesas em uma espiral sem fim.

Sem fim?

Sempre é preciso saber quando uma etapa che-ga ao final.

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Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário...Perdemos a alegria e o sentido das outras eta-pas que precisamos viver.Encerrando ciclos, fechando portas, terminan-do capítulos.Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos que já se aca-baram.As coisas passam, e o melhor que fazemos é dei-xar que elas possam ir embora.Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.

Fernando Pessoa

Logicamente a espiral do consumo possui um fim.A interrupção da curva normalmente ocorre, como

diz o poeta, no fim de uma etapa, momentos nos quais uma mudança no ciclo de nossa vida se apresenta. Uma perda de emprego, que pode ser agravada pelo fator idade considerada elevada ao buscar uma recolocação no mer-cado de trabalho, um empreendimento que não se desen-volveu como planejado, uma doença grave na família ou qualquer outro acontecimento que venha a abalar nega-tivamente os ganhos financeiros. Esses fatores impedem que o ciclo se perpetue.

Todos esses aspectos levam invariavelmente à pa-ralização da curva. O interessante e perigoso é que essa parada brusca sempre ocorre no lado das despesas, pois o grande impacto negativo desses acontecimentos ocorre

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sobre os ganhos. O mais estranho é que, embora todos estejamos sujeitos a tais eventos, praticamente nenhum de nós realmente acredita que eles ocorrerão conosco, e desse modo muito poucos estão preparados financeira-mente para suportar a situação.

Figura 11

Nesses momentos difíceis o que observamos é uma clara divisão de caminhos:

Caminho da procrastinação: O medo, o orgulho e/ou até mesmo a incapacidade de querer ou poder en-tender a dimensão verdadeira do problema levam a total inação em relação ao ocorrido, os fatos não são compar-tilhados internamente na família, e as despesas são assu-midas em um fluxo normal de pagamentos como se nada houvesse. Nesse caso, um empréstimo emergencial palia-tivo é obtido com algum parente ou no banco, o que nor-malmente agrava a situação a médio prazo. Muitas vezes

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o início do processo de busca de um novo emprego não ocorre imediatamente; de qualquer forma, mesmo com a procura iniciada, os resultados nem sempre são rápidos.

Caminho da conscientização: Normalmente se-guido por aqueles que possuem uma reserva financeira, um “plano B”. A família toma ciência imediata da situ-ação, apresentam alternativas possíveis a fim de reduzir todos os custos, discutem e operacionalizam. Inicia-se o processo de busca de uma nova recolocação no caso de perda do emprego.

Infelizmente, a maior parte das famílias opta in-conscientemente pelo caminho da procrastinação, afinal é, a princípio, o mais fácil e obedece à lei do mínimo esforço, e principalmente não ocorre a perda do status quo da família.

Caso a opção fosse pelo caminho da conscientização, haveria uma redução imediata da hemorragia financeira causada pelas despesas. Em muitos casos, a continuidade desse posicionamento leva à reversão da espiral de consumo.

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Figura 12

No entanto, não devemos esquecer que os cami-nhos que levam aos cortes de despesas e o consequente alinhamento de nossa condição social e padrão de vida com nossos rendimentos não são nada prazerosos quando comparados com a viagem de ida às alturas do consumo.

Esse “passeio” pode ser ainda pior se parte do que “somos” foi alicerçado em pilares do que “temos”, re-presentados pelo interesse material e pelo nível social o qual aparentávamos pertencer.

Ao retornar de uma estadia no Canadá, onde rea-lizei meu MBA, vivenciei esse percurso durante os nove meses em que fiquei desempregado. Acredito que isso tenha algo de realmente enriquecedor e totalmente em linha com os princípios da evolução material e espiritu-al, bases da Consciência Financeira.

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Nesses momentos de dificuldade, realizei uma boa limpeza em minha agenda de “amigos” e “familiares” in-teresseiros e encostados. No fim, quando esse ciclo de dificuldades materiais foi ultrapassado, olhei para o lado e ainda possuía comigo pessoas que me apreciavam pelo que eu realmente era e que estavam em linha com as no-vas atitudes que tomei em minha vida.

Essas verdadeiras mudanças de ciclos podem ser entendidas como de ruptura e readaptação, mas em um primeiro momento assim não o parecem. São altamente enriquecedoras e catalisadoras de profundas mudanças e fortalecimento de nossas atitudes e posicionamento pe-rante o mundo. Uma oportunidade quase única de refor-çar a unidade e praticar o amor no seio de uma família, abrindo-se mão do tangível – material − e recebendo em troca o intangível − espiritual.

Com todas as dificuldades apresentadas por uma sociedade de consumo, sintetizadas na dinâmica da es-piral de consumo, qual seria o comportamento ideal, aquele que associa ambição de crescimento ao contro-le efetivo de nossas despesas? Refletiremos sobre esse tema no capítulo a seguir.

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6 SOBREVIVENDO NA SOCIEDADE DE “CONSUMO”

E tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o meu coração de ale-gria alguma; mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e esta foi a minha porção de todo o meu trabalho.

E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito ne-nhum havia debaixo do sol.

Eclesiastes 2,10-11

Como vimos, estamos inseridos em uma sociedade baseada na produção e no consumo, que pode nos levar

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a uma espiral de consumo sem fim e em que a luta pelo aumento de rendimentos é anulada pelo poder do im-pulso quase instintivo que recebemos de aumentar nossas despesas e melhorar nosso padrão de vida.

Acredito que exista uma saída simples para essa ar-madilha perpétua de aumentos de despesas e ganhos. Esse caminho está alicerçado em firmes pilares de um equilíbrio financeiro e espiritual, caminhos seguros da Consciência Financeira, os quais exigem perseverança, disciplina, orga-nização, pragmatismo e paciência, atitudes normalmente não habituais diante da vida e de suas possibilidades.

É perfeitamente possível transformar a espiral do consumo em um ciclo do equilíbrio financeiro.

Como?Em um primeiro momento, poderíamos pensar em

um equilíbrio perfeito entre nossos rendimentos.

Figura 13

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De fato, como pode ser observado na figura acima, nessa condição alcançamos um balanço bastante razoá-vel entre nossos ganhos e despesas. Ao atingirmos esse estágio, estaríamos em um processo de equilíbrio, daí a origem do nome desse estágio chamado de CICLO DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO.

No entanto, esse tipo de raciocínio é bastante pe-rigoso e apresenta um problema muito sutil no início, mas que, com o passar do tempo, contrapõe-se à pró-pria natureza humana, pois tende a acomodar-nos pe-rante a vida, matando nossa ambição e o desejo pelo crescimento e desenvolvimento. É como se ficássemos parados no tempo e no espaço. Nesse estado, temos um sentimento de que nada acontece, seria como vegetar um dia após o outro sem uma perspectiva de mudança e aprimoramento, características estas intrínsecas a todos os seres humanos. Sem mencionar que, como já visto no capítulo anterior, ainda estaríamos sempre sujeitos a uma abrupta ruptura de nossos ganhos, além do fato de, futuramente, haver possíveis dificuldades de man-termos rendimentos e despesas estáveis.

Desse modo, para alinharmos nossos instintos hu-manos, devemos obrigatoriamente buscar novas oportu-nidades e conhecimentos, que trarão, naturalmente, um aumento de nossos ganhos.

Nesse processo, passamos a aumentar nossos rendi-mentos não apenas na forma de recebíveis, como salário, mas também possivelmente por retorno de investimentos realizados... Sempre procurando manter nossas despesas e padrão de vida inalterados.

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Figura 14

No entanto, também para esse processo existe um fator ao qual devemos nos manter bastante atentos. De nada adianta aumentarmos nossa riqueza material sem que ela não possa vir a ser desfrutada e compartilhada por nós mesmos e pelas pessoas que amamos. Caso isso não aconteça, estaremos entrando no perigoso circuito da cobiça, do apego e da ganância. Sem falar que é praticamente impossível aumentar seus rendimentos sem que isso seja refletido em uma melhora de nosso padrão de vida.

“A despesa se expande junto com a quantidade de renda.”

Cyril Northcote Parkinson

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Cyril Northcote Parkinson nasceu na Inglaterra, foi professor, historiador, escritor e administrador. Ele dedi-cou parte de seu tempo observando como o ser humano realizava suas tarefas diante de suas necessidades e as limi-tações que lhe eram impostas. Na verdade, a frase citada é um desdobramento da chamada de Lei de Parkinson, que diz: “O trabalho expande-se de modo a preencher o tempo disponível para sua realização”. 

Figura 15

O fundamental é que esse ciclo ocorra de modo que o incremento de ganhos, fruto de salários ou rendi-mentos, sempre preceda aos gastos factíveis que venham a alterar positivamente o padrão de vida. Esses ganhos devem ser sempre os mais estáveis e duradouros possíveis, assim como as alterações do padrão de vida jamais devem

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afastar nossa consciência do que realmente importa, ou seja, as pessoas com as quais desfrutamos nossas conquis-tas materiais, espiritualidade e respeito. Com isso, nosso ciclo passa a ser apresentado de uma maneira que enten-do ser a mais próxima da realidade virtuosa financeira.

Embora eu respeite todos os bons ensinamentos apre-sentados nos livros de autoajuda sobre potencial e riqueza infinita da humanidade, e até acredite que esses fatos se-jam, sim, potencialmente realizáveis a todos, vejo que nos-sas imperfeições humanas, seduções e dificuldades apenas tornam trabalhosa essa realidade operacional, dentro do espaço de tempo de uma vida, para a maioria de nós.

“O sábio não aspira o prazer, mas a ausência do sofrimento.”

Aristóteles

Em contrapartida, uma pequena, porém constante, evolução na conscientização individual da realidade que vivemos, limitações e dificuldades momentâneas aliadas a um processo de espiritualização e conceitos básicos do funcionamento da sociedade na qual estamos inseridos podem fazer uma grande diferença nos resultados finan-ceiros obtidos pela maior parte de nós ao longo da vida.

Essa é a base da CONSCIÊNCIA FINANCEIRA proposta.

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7 VALEMOS O QUE TEMOS OU O QUE SOMOS?

Com base em uma forte percepção de que somos constituídos de algo além do material, teríamos uma pri-meira resposta fácil para este questionamento: “ser” é a pedra angular de nossa existência.

Valemos o que somos!Embora eu acredite firmemente no propósito e na im-

portância do SER, no intuito de verificarmos o impacto que sofremos diariamente do TER em nossa vida, gostaria de realizar uma reflexão mais profunda desse posicionamento.

Afirmar categoricamente que não valemos o que te-mos seria apenas desprezar o lado materialista do mundo, e talvez esse tipo de pensamento seja um dos aspectos muito importantes que influencie diretamente nossas atitudes, preocupações e modo de agir em relação ao di-

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nheiro e à riqueza. Afinal, como já verificamos, vivemos em uma sociedade onde as condições materiais são um grande componente de nossa identidade social.

Desse modo, parece-me bem claro que existe certa distância entre como as coisas são e como gostaríamos que fossem. Invariavelmente o dinheiro e os temas a ele interligados apresentam um impacto sobre nosso código de valores e autoestima.

Essa dualidade talvez ajude a explicar nosso com-portamento dúbio ou polarizado em relação ao dinhei-ro e à riqueza material. Pois, em alguns momentos, os colocamos como foco central de nossa vida, parecendo ser tudo o que importa, elementos sem os quais jamais atingiríamos um estado de felicidade, e, em outros mo-mentos, os ligamos a todos os males da humanidade.

Como foi dito, o dinheiro compra prazer, e não felicidade. O dinheiro é importante para atender às nossas necessidades por meio de algum serviço, por exemplo, que, para ser adquirido, exija um dispêndio financeiro, no entan-to não possui nenhum valor quando em certos momentos nossas necessidades não podem ser simplesmente atendidas pela aquisição paga de um bem ou serviço.

Se algo pode ser quantificado, o dinheiro possivel-mente resolverá essa necessidade; caso contrário, deve-se buscar outra solução, pois ele não resolverá o problema.

Embora seja difícil acreditar, as necessidades quanti-ficáveis são as mais simples de parametrizar e buscar uma solução ao longo do tempo pelo esforço de cada um. O que ocorre na prática é que tais necessidades são tratadas

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como dificuldades quase intransponíveis, que quando somadas a sentimentos de ansiedade são atendidas de maneira praticamente imediata, sem um planejamento ou uma reflexão mais profunda, e facilmente se transfor-mam em problemas financeiros.

Assim, os benefícios dessas necessidades demonstram--se não tão importantes como originalmente pareciam, afinal saltamos rápida e constantemente de desejos satis-feitos a novos desejos sem nos darmos tempo para apre-ciar as aquisições, e toda a culpa pelo problema financeiro armado recai impreterivelmente sob a própria pessoa que originou essa necessidade impensada de consumo.

Afinal, as escolhas que fazemos pertencem a cada um de nós, e desse modo cabe a cada um, então, assumir as consequências de seus atos, pois ninguém nos forçou a gas-tar dinheiro com o que foi empregado ou desperdiçado.

Será?Os romanos, já na Antiguidade, estudavam o com-

portamento humano e a melhor maneira de manter seu vasto império. A partir de então, a estratégia de “panis et circenses” assumiu roupagens diferentes, mas está em voga até hoje.

Já em um passado não tão distante, os nazistas uti-lizaram técnicas de marketing, controle comportamen-tal e lavagem cerebral especialmente desenvolvidas para manipular e levar o povo, que até então mais prêmios Nobel havia conquistado, a um estado de êxtase coletivo altamente manipulável, com consequências catastróficas, bem conhecidas de todos nós.

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Não podemos nos esquecer que atualmente a maioria das empresas deixou de vender produtos e passou a vender MARCAS. Suas mensagens são bastante claras: “compre a marca x e seja y”. A associação entre ter e ser é evidente; isso quando uma parte da comunicação não ocorre por mensagens subliminares de efeito altamente nefasto, em-bora pouco perceptível, sobretudo para as crianças.

Os documentários como os de Michael Moore e os livros como os de Naomi Klein, embora possam em um primeiro momento parecer radicais, na verdade, consti-tuem-se em uma forma de reação ao nosso sistema eco-nômico atual, uma maneira de despertar as pessoas para o diálogo e a reflexão.

Com tudo isso, seriam as propagandas maciçamen-te divulgadas, que nos atingem frequentemente, apenas imagens que passam por nossos olhos diariamente em aparelhos de TV e nas ruas? Seriam estas, códigos cifrados que, de um modo ou de outro, alojam-se em nosso sub-consciente fazendo com que mesmo o mais culto dentre nós seja influenciado por suas mensagens subliminares de que “para ser é fundamental possuir”?

Por meio desses breves questionamentos, convido a todos a refletir. A quem interessa que um distorcido sistema econômico gire sem parar gerando recursos para algumas classes privilegiadas? Enquanto uma massa tra-balhadora utiliza seu dia a dia para produzir e consumir sem refletir na brevidade de nossa caminhada, por que não dizer, histórica sobre a face deste planeta?

A resposta não é simples.

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Não penso ser o mais indicado para redigir um tra-tado sobre o porquê de as coisas serem como são, para isso creio existirem excelentes economistas e sociólogos bem mais aptos do que eu para essa missão. No entanto, não posso deixar passar a oportunidade de ao menos in-citá-los a se questionarem sobre este tema de interesse de todos e, sobretudo, a desenvolverem a reflexão de como se posicionar em vista dessa problemática.

Muitos argumentarão que ninguém apontou uma arma para nós, consumidores, obrigando-nos a gastar nossos rendimentos em bens de grande depreciação – sem os quais, via de regra, passaríamos muito bem.

Embora essa lógica seja em parte verdadeira, é também inegável que os consumidores são frequen-temente colocados em contato com a propaganda e o impulso de consumo. Esse contato é particularmente eficaz quando ocorre em momentos de relaxamento e descanso, normalmente após um exaustivo dia de tra-balho. Mensagens subliminares estão sempre presentes conduzindo os sentidos: “Não sofra, gaste”, “Para ser é preciso ter”, e assim por diante.

Uma vez que o marketing fez grandes progressos e aproveita os últimos estudos e tendências da neurociên-cia, todos, independentemente de seu grau de instrução ou nível social, são presas fáceis dessa comunicação.

Como podemos reduzir ou ao menos limitar a in-fluência que recebemos desses meios de comunicação em massa?

Eis aí a grande questão.

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Uma fiscalização mais dinâmica e efetiva dos meios de comunicação seria interessante. No entanto, prefiro fixar o foco em métodos que estejam dentro de nosso círculo de influência. De imediato, minha sugestão é bastante simples: devemos atuar sob os aspectos que se encontram ao nosso alcance.

A mais assertiva mudança a ser implementada é escolher em que nível de frequência desejamos passar nossa existência.

Lembre-se de que a maior parte dos meios de comu-nicação, por trás da fachada de entretenimento e informa-ção, está lá para vender o que seu público “deseja comprar”.

Alimentando-se de matérias jornalísticas permea-das de acontecimentos violentos, catastróficos e realities shows, naturalmente nossos sentidos e cérebro receberão nutrientes compatíveis com essa informação. Esse tipo de “alimentação” massageará o intelecto deixando-o entre o estado de dormência e o de conforto (afinal, pelo que se vê no noticiário, as coisas na vida poderiam ser bem pio-res!) e, ainda, mais apto a aceitar os apelos de consumo que recheiam tal programação.

Saia dessa frequência, que intoxica sua vida a e de sua família, na qual arquétipos de comportamento são apresentados e direcionados como bandidos ou mo-cinhos das histórias; em que comportamentos éticos e morais são tratados superficialmente e nem sempre por profissionais preparados para isso. Mude sua fre-quência mental e seu canal de TV para uma comuni-cação que seja seu verdadeiro alimento na forma de in-

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formações consistentes e produtivas, que apresentem o mundo de maneira que excitem a sua reflexão e seu aprendizado. Sobretudo, procure por fontes de infor-mação que compartilhem os mesmos princípios éticos e morais em que você acredita.

Não se aproxime de pessoas que apenas tratam a vida de modo superficial e só sabem falar de futebol, futi-lidades da vida dos famosos e reclamar do governo. Lem-bre que temos um oceano para nadar, conhecimentos e aprendizados fantásticos para compartilhar. Por que, en-tão, desperdiçarmos nosso precioso tempo em conversas que não levam a nada, transmitem pessimismo e insistem em nos contaminar com parafraseados televisivos limi-tando e controlando nossa maneira de pensar?

Procure uma vida simples e alicerçada no valor das pessoas e dos relacionamentos que valem a pena.

A contaminação pelo consumismo e controle de nossa maneira de pensar e agir nos atinge somente com nossa permissão ou por nossa omissão. Não é tão difícil assim escaparmos de suas armadilhas. Exigirá um pou-co de esforço aceitar que nunca seremos admirados por nosso modo de se vestir, ou por estarmos informados das últimas fofocas das celebridades ou do placar do jogo de futebol. Tenha uma predisposição para, muitas vezes, passar por sovina nos momentos em que “os ami-gos” estão esbanjando seu salário ou rendimentos em faraônicas comilanças, jogatinas e bebedeiras, e tenha também disciplina para manter esse posicionamento perante a vida, apesar de tudo.

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A recompensa virá com o tempo, na maneira como você passará a encarar a vida e como passará a lidar com o dinheiro e a tranquilidade que isso lhe propiciará.

Não se preocupe em ficar um pouco isolado durante esse processo de “desintoxicação”; gradualmente pessoas que compartilham dessa maneira de pensar e viver serão atraídas a se aproximar de você, e vice-versa.

Adquirir bens que realmente não necessitamos não nos preenche, apenas nos faz saltar indefinidamente de desejo a desejo a ser realizado... Bens desse tipo não alimentam nos-sa espiritualidade, não nos tornam pessoas melhores.

Não se deixe levar ansiosamente por gastos, consu-mos ou necessidades que não foram previstas e pensadas antecipadamente. Não acredite que por “ter” você “será”. Como sabemos, nossos RECURSOS são finitos, no entanto nossos DESEJOS...

7.1 A Carga Emocional do Dinheiro

É intrigante, se não entristecedor, o poder que uma “coisa” chamada dinheiro é capaz de exercer sobre os seres humanos, primeiramente ocupando uma boa parte de seus pensamentos, depois se traduzindo em fortes emoções e fi-nalmente sendo operacionalizada em diversas ações e atitu-des, as quais uma vez finalizadas farão com que se tornem o foco exclusivo dos objetivos de realização do indivíduo.

Já está mais do que comprovado que a partir de um determinado nível financeiro não existe nenhuma cor-relação entre riqueza material e felicidade; no entanto,

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estranhamente, a maioria, ricos ou pobres, emprestadores e endividados, está imersa em um mar de tormentas de sentimentos relacionados ao dinheiro.

A posse do dinheiro ou a falta dele desperta fortes emoções em todos nós, e, por mais incrível e inimagi-nável que possa parecer, esses sentimentos passam a ser quantificados através do dinheiro.

A somatória das emoções ligadas diretamente ao dinheiro, as experiências vividas ou a nós transferidas e o bombardeamento de impulsos de consumo impeli-dos por nossa sociedade produzem, para muitos, uma carga emocional ligada à sua realidade financeira muito difícil de suportar.

Os sentimentos, o corpo e as atitudes estão todos ligados e refletem o modo com o qual conduzimos nos-sa vida financeira. Muito antes de tomarmos consciência das nossas emoções, nosso corpo e a ansiedade já nos tra-em revelando nosso triste estado de espírito.

“Não estimes o dinheiro nem mais, nem menos do que ele vale: é um bom servidor e um péssimo amo.”

Alexandre Dumas

Nossas dúvidas, atitudes e questionamentos acumula-dos desde os tempos de infância estão refletidos em nossos posicionamentos atuais em relação ao dinheiro e à riqueza material, são como algemas invisíveis que nos impedem de agir com liberdade e raciocínio. Vencer essas resistências,

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assim como o medo e a ansiedade é uma rota obrigatória de passagem no caminho de nossa libertação dos senti-mentos negativos que associamos ao dinheiro e à riqueza.

Muitas das experiências negativas repassadas, cons-ciente ou inconscientemente, por nossos pais e familia-res, alojam-se em nosso subconsciente produzindo con-sequências normalmente desastrosas de nossas emoções em relação ao dinheiro.

Pais controladores que evitavam falar sobre as finan-ças da família, pais superprotetores que sempre poupa-ram seus filhos dos problemas financeiros vividos pela família, pais que fornecem de tudo o que é material para seus filhos a fim de amenizar a consciência pesada em razão do pouco tempo disponível para com eles, todos, na verdade, estão enviando poderosas mensagens para os filhos, as quais em maior ou menor intensidade, de acor-do com a sensibilidade de cada um, potencializarão gran-diosos problemas para que estes lidem com o dinheiro e assumam futuramente suas responsabilidades financeiras diante de suas próprias famílias.

Experiências do passado em relação ao dinheiro, as boas e particularmente as ruins, impregnam nossas atitu-des atuais assegurando-nos ingenuamente uma sensação de conforto e segurança de modo muito similar a uma criança que se delicia assistindo ao mesmo filme e relendo o mesmo livro de histórias inúmeras vezes. A grande dife-rença é que os finais desses livros e filmes são conhecidos e imutáveis, já as atitudes repetitivas que assumimos ante a nosso futuro financeiro nos conduzem por caminhos tortuosos e incertos, nem sempre de um final feliz seguro.

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Somente uma conscientização profunda, desenvol-vida passo a passo e de modo persistente é capaz de se infiltrar em nossa mente e trazer à tona nossas mais pro-fundas raízes emocionais, fonte de todo nossos entraves de relacionamento com o dinheiro e a riqueza ou com a po-breza. Freud descreveu essa busca do questionamento de si mesmo como algo semelhante ao estudo arqueológico.

É fundamental a compreensão de que estes senti-mentos em relação ao dinheiro, apesar de estarem presen-tes em nossos pensamentos não nos pertencem!

Um fato muito interessante citado pela maioria das pessoas que resolveu suas experiências e traumas é como, quando ultrapassados esses problemas, uma grande parte da carga emocional relacionada ao dinheiro desaparece. Ele passa a desempenhar o papel para o qual foi criado − obtenção de bens necessários de modo controlado e planejado, nada mais do que isso.

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8 INTEGRANDO A CONSCIÊNCIA FINANCEIRA NA PRÁTICA

É bastante provável que na história do pensamento humano os desenvolvimentos mais fecundos ocorram, não raro, naqueles pontos para onde convergem duas linhas diversas de pensamento. Essas linhas talvez possuam raízes em segmentos bastante distintos da cultura humana, em tempos diversos, em diferentes ambientes culturais ou em tradições religiosas distintas. Dessa forma, se realmente chegam a um ponto de encontro - isto é, se chegam a se relacionar mutuamente de tal forma que se verifique uma inte-ração real -, podemos esperar novos e interessantes desenvolvimentos a partir desta convergência.

Werner Heisenberg

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Como apresentado no capítulo 4, duas correntes bas-tante distintas, como a espiritualidade e o materialismo, podem convergir e interagir em sincronismo. Essa con-vergência resulta em uma maneira de agir e raciocinar que possibilita viver harmoniosamente nesse complexo mun-do de nossa sociedade. No entanto, dada as circunstâncias atuais, tal convergência apenas poderá ocorrer mediante uma profunda mudança pessoal, ou seja, de cada um.

Se é tão simples assim, por que a maior parte dos seres humanos não muda ou evolui com o passar do tem-po? Por que é tão difícil mudar?

Hábito, conformismo, hesitação, procrastinação, alienação, medo, falta de foco, acomodação, ansiedade... A lista de motivos é longa, e não exaustiva.

Por pior que seja a situação atual em que nos encon-tramos, sempre seremos reticentes em mudar, pois mudar nos leva ao desconhecido, longe de onde nos encontra-mos confortáveis, além de corrermos o risco das coisas ficarem ainda piores. Na maioria vezes, é preferível um mal conhecido a um desconhecido.

Podemos pensar que talvez seja necessário passarmos por um grande trauma para, efetivamente, iniciarmos um verdadeiro processo de mudança. Então, seria de se esperar que pessoas que passaram pelo milagre de sobre-viver a um desastre aéreo ou a terrível experiência de uma operação do coração sofressem uma profunda conscienti-zação do real valor da vida e mudassem drasticamente seu modo de viver e enxergar o mundo... Mas essa teoria apa-rentemente não se comprova na prática. De acordo com entrevistas organizadas pelo New York Times a passageiros

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sobreviventes de desastres aéreos e com um estudo dirigi-do pela Escola de Medicina John Hopkins, nos Estados Unidos, envolvendo pacientes que suportaram uma ci-rurgia das coronárias, ambos revelaram que tão logo as lembranças dessas experiências tenham sido “um pouco” apagadas pelo tempo, quase a totalidade dessas pessoas retorna ao seu estilo de vida habitual.

Apenas após o reconhecimento em seu íntimo de que algo ou alguma coisa está realmente errada, seguido de uma profunda reflexão sobre as possíveis razões por que esses problemas ocorrem, pode-se dar início a um ciclo de mudanças com alguma chance de êxito.

O processo de mudança ocorre de modo sistêmico e em etapas. Na verdade, a maior e quase intransponível barreira a ser vencida é a de dar início a toda essa trans-formação. Afinal:

Figura 16

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8.1 O Ciclo de Mudanças

O ciclo de mudanças inicia-se somente a partir do momento em que verdadeiramente entendemos que algo está errado em nossa vida financeira.

Para que esse entendimento realmente ocorra é fun-damental que façamos uma análise com mais profundi-dade da situação na qual nos encontramos; fato este difí-cil de ocorrer em uma sociedade que se contenta em viver e sobreviver na superfície dos acontecimentos.

Isso está claramente refletido no noticiário da TV no qual, via de regra, informações superficiais são in-dustrializadas em notícias muitas vezes sensacionalis-tas, as quais o telespectador é convidado a “engolir” sem muita reflexão, quando não a aceitar a opinião de algum comentarista de plantão. Outros exemplos são facilmente observados no dia a dia quando ficamos atô-nitos ao descobrir que aquele colega ou vizinho tão afá-vel, que sempre sorria e dizia “bom-dia”, revelou-se um verdadeiro golpista/pilantra.

Não quero dar a entender que você deve desconfiar de tudo e de todos − pois nesse caso teríamos como com-panheiros inseparáveis o medo e a desconfiança, afinal, por incrível que pareça, uma boa parcela de nossos rela-cionamentos profissionais ou do cotidiano é alicerçada em uma mínima relação de confiança, que é fundamen-talmente necessária para a dinâmica de nossa sociedade −, mas gostaria de incitá-lo a refletir um pouco mais

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profunda e conscientemente sobre todos os aspectos que estamos vivenciando.

O maior problema dessa falta de profundidade é criar pessoas simplesmente crédulas e facilmente sujeitas a grandes choques e sofrimentos quando deparadas com acontecimentos “surpreendentes” de sua vida financeira.

Quando colocamos um problema em perspectiva, vislumbramos aspectos dos acontecimentos por outro prisma, que realmente nos permitem compreender o que está ocorrendo e possivelmente nossa influên-cia sobre o ocorrido, passamos a aceitar a necessidade de uma mudança em nós mesmos e na maneira como encaramos o dinheiro, nossos gastos atuais e o padrão de vida de que usufruímos. Passamos a analisar e a diagnosticar qual a origem do problema. Planejamos a mudança com o estabelecimento de uma meta clara de quando atingiremos nosso objetivo. Iniciamos a exe-cução do planejado e periodicamente acompanhamos os resultados obtidos.

Uma vez decidida a necessidade da implantação de um ciclo de mudanças, é fundamental que este seja com-partilhado com toda a família.

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Figura 17

As atitudes que serão os propulsores desse processo são as características de sincronização, assim chamadas, pois serão as mesmas que possibilitarão o alinhamen-to de nossas realidades material e espiritual. São elas: a consciência, a perseverança, a disciplina, a organização, o pragmatismo e a paciência. Em contrapartida, os nos-sos posicionamentos e escolhas que impedem o perfeito andamento do CICLO DE MUDANÇAS são aqueles que desagregam a união de nossos mundos material e es-piritual; levam-nos a um aparente estado de conforto, ou melhor, DESESPERO CONFORMADO, mas que em nosso íntimo temos o conhecimento de que algo está er-rado e apenas entendemos que as coisas são assim mesmo,

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sem alternativa para a vida atual. Esses posicionamentos e escolhas são chamados de “características de desagrega-ção”. São estes os estados: alienação, medo, falta de foco, acomodação, procrastinação e ansiedade.

Entenda que não “somos” essas características, mas “estamos” nelas, fato que nos abre uma gama de possibi-lidades e alternativas para mudança!

Para vencer todas as dificuldades e resistências iniciais, o primeiro passo é ter consciência “do quê” está ocorrendo. Os próximos passos vão requerer esforço um pouco menor a cada etapa, pois uma vez a consciência adquirida, esta será o alicerce fundamental para o desenvolvimento das demais características de sincronização a serem aplicadas para dar continuidade ao ciclo de mudanças.

Para os casos em que as condições financeiras estão muito deterioradas, o esforço inicial que possibilitará o início do ciclo deve ser mais intenso, pois a necessidade de transformação é muito mais urgente e deve ocorrer em um intervalo de tempo muito pequeno. Assim, a ate-nuante é que pequenas alterações de rumo repercutem profundamente nos primeiros resultados obtidos.

Um exemplo prático simples:

• Momento 1: Sr. X, 48 anos de idade, casado, tem dois filhos matriculados em escola particular e sua esposa trabalha. Não possui controle finan-ceiro, apenas sabe que seus rendimentos e o de sua esposa juntos são o suficiente para viver. Re-centemente adquiriram um novo automóvel, al-

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guns eletrodomésticos e tiraram férias. Até aqui, nenhum problema aparente, pois parcelaram to-dos esses gastos adicionais no cartão de crédito.

• Momento 2: Sr. X foi demitido. Embora o salá-rio de sua esposa não seja suficiente para cobrir as despesas da família, até aqui também nenhum problema aparente, pois as indenizações recebi-das são suficientes para cobrir os gastos assumi-dos por um período de três meses.

• Momento 3: Passaram-se seis meses, e o Sr. X continua desempregado, o auxílio-desemprego chega ao fim assim como as reservas da inde-nização. Mas, em razão do empréstimo pessoal feito com aquela simpática gerente do banco, nenhum problema pode ser notado, afinal esse empréstimo é suficiente para cobrir suas despe-sas por mais três meses.

• Momento 4: Passaram-se mais três meses. O Sr. X felizmente encontrou um novo emprego, mas o salário é muito inferior ao seu ganho anterior; no entanto, não se vê nenhum problema, pois ele está com emprego novo!

• Momento 5: Estranho, pois, mesmo com o Sr. X empregado, parece que o dinheiro está aca-bando antes de o mês terminar. É a inflação ou o mês que foi mais longo? Qual seria a razão?

• Momento 6: Surpresas! Sra. X (a esposa) rece-be uma carta de cobrança da escola solicitando as mensalidades atrasadas. A gerente do banco

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já não está mais tão simpática como antes. Pro-blemas conjugais e de relacionamento familiar começam a surgir...

Momentos diferentes de uma história perfeitamente cabível em nosso mundo atual. A Família X é honesta e trabalhadora, e mesmo assim se depara com sérios pro-blemas de insolvência.

O que ocorreu?

1) O maior problema que temos é aquele que não conseguimos ou não queremos ver.

2) Grandes problemas começam de maneira quase imperceptível.

A Família X não percebeu a entrada de um novo membro em sua família: os juros devidos ao banco e ao cartão de crédito, os quais somados à redução de salário do Sr. X, à manutenção de um padrão de vida que já não é adequado a essa nova realidade de rendimentos e aos reajustes inflacionários de suas despesas transformaram uma vida aparentemente equilibrada em um caos, no qual diminutos problemas de relacionamento são poten-cializados em razão de problemas econômicos.

A solução é aparentemente simples, mas de difícil operacionalização. Ela constitui-se de:

• ALGO ERRADO - reconhecimento da existên-cia de um problema (CONSCIÊNCIA);

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• NECESSIDADE DE MUDANÇA - entendi-mento e aceitação da necessidade dessa mudan-ça, criando um ambiente familiar que reestabe-leça os graus de confiança e amor entre todos (PERSEVERANÇA);

• DIAGNOSTICAR - análise sistemática do que está errado, buscando um diagnóstico real da si-tuação (DISCIPLINA);

• PLANEJAR - estabelecimento das metas de des-pesas a serem alcançadas e prazo (ORGANIZA-ÇÃO);

• EXECUTAR - realização do que foi planejado, reduzindo as despesas e renegociando a dívida/prazo de pagamento com o banco (PRAGMA-TISMO);

• VERIFICAR - finalmente, o acompanhamento por meio de controles de recebimentos e despe-sas desse processo e ajustes que se fizerem neces-sários (PACIÊNCIA).

Trata-se de um processo de autoconhecimento em que os lados espiritual e material caminham até sua inter-secção, a CONSCIÊNCIA FINANCEIRA.

Um ponto também interessante é que, em muitos casos, um maior investimento de tempo no desenvol-vimento espiritual e no reposicionamento do padrão de vida pode levar o indivíduo e sua família a verem o mundo e a si próprio de maneira diferente. Essa nova visão poderá alterar significativamente antigos relaciona-

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mentos com parentes e amigos, fato que pode represen-tar uma problemática adicional à toda a difícil situação que está sendo vivenciada. Nem todos aceitarão esse novo estado de espírito e padrão de vida. Alguns parentes se afastarão, e muitos “amigos” partirão.

Daí a importância fundamental de ter visão e vivên-cia espirituais, independentemente da fé e/ou religião de cada um, pois é donde sairá o alimento e a certeza de que o caminho escolhido é o correto.

No fim do CICLO DE MUDANÇAS, as relações internas da família serão mais profundas e verdadeiras, todos sairão fortalecidos, as pessoas que realmente im-portam permanecerão e os verdadeiros amigos estarão lá para compartilhar as vitórias alcançadas.

As mudanças são incontornáveis. Todos concorda-mos que o mundo está em constante mudança. Devemos estar sempre atentos às oportunidades que nos são apre-sentadas pela vida para melhor nos adaptarmos às novas circunstâncias que se apresentam.

Permanecer sentado reclamando, com a esperança de que “os bons velhos tempos” voltarão, é perda de tem-po, e não desencadeará pensamentos positivos ou apro-veitáveis para si mesmo. Os nossos “bons velhos tempos” foram, com certeza, tempos de difícil adaptação para gerações antecessoras às nossas, assim como os “difíceis tempos” em que vivemos hoje serão certamente “bons velhos tempos” para outras gerações... Os “bons [velhos] tempos” foram ontem, são hoje e serão amanhã!

Oscar Wilde disse: “A pura e simples verdade é que a verdade raramente é pura e jamais é simples”.

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A história vivida pela Família X é uma ficção, mas é totalmente factível de ocorrer com todos aqueles que não se preparam para possíveis mudanças.

Nesse simples exemplo, há um aspecto que se en-contra sorrateiramente presente, mas imperceptível, du-rante todo o desenrolar da narrativa; este, quando mal avaliado, desencadeia uma série de acontecimentos desas-trosos. Esse aspecto é o RISCO.

8.2 Risco e Margem de Segurança

Ao nascer já começamos a correr riscos!Ele está presente em todos os momentos de nossa vida −

do nascimento ao momento em que deixamos este mundo. O risco traduz a possibilidade de eventos que não

são usuais em nossa vida ocorrerem. Consciente ou inconscientemente todos passamos

nossa vida visualizando, analisando e lidando com os mais variados tipos de riscos.

Para uma parcela significativa de acontecimentos de nosso cotidiano, embora o risco de algo não previs-to ocorrer sempre esteja presente, não se faz necessário um longo estudo estatístico para avaliarmos o que pode ocorrer de bom ou ruim em cada um deles. No entan-to, especificamente em nossa vida financeira, sempre é importante realizar uma reflexão sobre o direcionamen-to que damos ao nosso dinheiro e, sobretudo no lon-go prazo, possíveis impactos positivos ou negativos aos quais estamos sujeitos.

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Todos possuímos uma forte tendência em sermos extremamente otimistas quanto aos resultados esperados de nossos investimentos futuros, ao mesmo tempo em que minimizamos as probabilidades de acontecimentos negativos se tornarem realidade. Somado a esse fato, nos-sa sociedade supervaloriza os vencedores em detrimen-to dos perdedores e incita a competição, contribuindo para nossa miopia em vista do risco de perdas; sem falar no lado emocional, que uma vez acionado, enfeitiça-nos como a luz o faz com a mariposa, embalando nossas ilu-sões de ganhos extraordinários e fáceis.

Esses posicionamentos são altamente nocivos para uma avaliação imparcial e desapaixonada de nossos projetos, decisões e principalmente dos riscos financei-ros a que estamos sujeitos.

Avaliar um risco é, antes de tudo, ter humildade para reconhecer que independentemente de nossos esforços e planejamentos algumas vezes as coisas não acorrem como gostaríamos. Além disso, erros e novas premissas podem surgir. Nesses casos, o pragmatismo, o desapego e uma margem de segurança são fundamentais para amortece-rem uma possível queda, à qual todos estamos sujeitos.

Os que apenas poupam seu dinheiro para “dias di-fíceis” acabam por focar apenas nisso, consequentemen-te, em muitos casos, o único resultado que se obtém é o resultado de sua busca.

Embora a consolidação de uma reserva financeira seja fundamental para que se tenha uma margem de se-gurança confortável em casos emergenciais não previstos, ela não deve jamais ser criada com esse objetivo; sua

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construção deverá sempre visar à geração de novos re-cursos a serem reaplicados ao montante principal. E, em um futuro, o qual se espera que seja bem distante, caso nos encontremos em uma condição financeira difícil, so-mente então esses rendimentos deverão ser usados como apoio para o pagamento de despesas.

Como meta de longo prazo a ser buscada, deve-ríamos nos esforçar ao máximo para obter rendimen-tos que, em caso de dificuldade, cubram pelo menos 70% de nossas despesas mensais. Esse montante pode parecer utópico e irrealizável para muitos, no entanto a elaboração de um plano de ação fundamentado em valores poupados disciplinadamente, em aplicações de risco moderado, podem operar verdadeiros milagres fi-nanceiros ao longo dos anos.

Esse comportamento talvez possa ser sintetizado na célebre frase de Tony Robbins: “O ser humano superes-tima o que pode realizar em um ano e subestima o que pode ser realizado em dez anos”.

Em caso de emergência, com 70% das despesas sob controle, o que restaria a fazer seria readequar momenta-neamente suas despesas de modo a torná-las compatíveis à nova realidade de rendimentos e, com tranquilidade, buscar novas oportunidades de trabalho ou empreendi-mento que aumentem seus ganhos.

Todas essas afirmações podem parecer ainda fora de propósito, mas imagine por um momento que elas pode-riam ser verdade, o que você mudaria hoje em sua vida para alcançá-las?

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Os riscos fazem parte da dualidade e do sincronis-mo dessa maravilhosa experiência chamada VIDA. As margens de segurança são como redes de proteção contra grandes quedas.

Ao aceitarmos viver é como se assinássemos um pode-roso e grande contrato, repleto de possibilidades fantásticas e inimagináveis, mas também com riscos nas entrelinhas.

8.3 Mudança Rumo à Consciência Financeira

A existência de uma vasta literatura sobre o tema “fi-nanças pessoais” é fruto da intensa procura pelo tema de um enorme público? Ou a existência de um enorme público incita o surgimento de uma vasta literatura sobre esse tema?

Para ambos os casos, independentemente se induzi-do ou induzir, parece-me óbvio que uma grande mudan-ça está ocorrendo.

8.3.1 Qual é a motivação para mudar?

Podemos considerar que a inércia e o stress agem como contrapesos (“stocks”). O equilíbrio entre estes fatores determina a capacidade de mudança. Quando o stress é grande, podemos dizer que a tendência é de aceitar as mudanças a serem efetivadas. Quando a inércia é grande, a capacidade de mudança é pequena, e toda tentativa de mudança esbarrará em barreiras

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que tornaram a mudança proibitiva. Quando o stress é suficientemente grande, a empresa (o indivíduo) estará pronto a mudar.

Taïeb Demers

Para que haja uma mudança no âmbito financeiro individual, deve-se estar face a face com uma situação de extremo “stress” na qual estão em risco sua sobrevivência e conquistas, que são alicerces fundamentais na vida de uma pessoa, desse modo forçosamente busca-se uma so-lução material milagrosa (que pode ocorrer ou não).

Em um caso de desespero financeiro extremo não é difícil se perder nas armadilhas da ansiedade e da depressão.

O interessante é que, na maioria das vezes, caso o problema seja equacionado ou aparentemente resolvido em razão de um aporte através de um empréstimo − o milagre aconteceu! –, percebe-se que existe uma forte tendência do indivíduo em retornar ao mesmo estado de letargia financeira que o acompanhava até então as-sim que o fator estresse cessa, dessa maneira pode-se perceber ainda que a probabilidade de um novo pro-blema ocorrer é muito grande. (Muito similar ao que ocorre com a maior parte de nós que realiza um regime forçado em algum momento da vida e assim que o obje-tivo de peso é alcançado retorna-se aos mesmos hábitos alimentares de antes.)

Isso também ocorre nos casos já apresentados em que passageiros sobreviventes de desastres aéreos e pa-

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cientes que suportaram uma cirurgia das coronárias, e, tão logo o tempo passe, as lembranças são apagadas e es-sas pessoas retornam ao seu estilo de vida habitual. Apa-rentemente somos como elásticos retornando à posição de origem assim que a força que nos impulsiona para.

Desse modo, entende-se que a mudança produzida é apenas aparente, ocorreu “de fora para dentro”, perden-do-se a grande oportunidade de realizar uma verdadeira mudança “de dentro para fora”!

Na verdade, nada ocorre de maneira consistente e verdadeira internamente. Sendo assim, o processo de mudança para e a vida retorna ao seu curso normal.

O caminho alternativo proposto é, mesmo antes que situações de forte estresse financeiro venham a ocorrer, pois elas normalmente acontecem no curso da vida de todos os seres humanos, buscar outra direção através da tomada consciente de pequenas decisões que farão com que o curso financeiro seja desviado de modo lento e gradual, alicerçado em fortes princípios de de-senvolvimento espiritual.

O plano da Consciência Financeira é desenvolver uma consciência básica, mas o suficientemente resistente para a utilizarmos como uma plataforma para assegurar-mos inicialmente nossa sobrevivência financeira de ma-neira estável, contemplando riscos calculados e margens de segurança suficientes a fim de que, a partir desse ponto, sejamos capazes de direcionar cada vez mais nosso tempo e energia na busca de uma consciência superior, um traba-lho mais coerente com nossos propósitos e que realmente

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faça nossa jornada histórica na terra valer a pena mediante uma atividade que verdadeiramente nos complete.

Uma vez esse patamar alcançado, com certeza ele será duradouro, pois estará firmemente enraizado em princí-pios éticos e espirituais, possibilitando um novo avanço em direção a novos ganhos e investimentos financeiros.

A estrada que leva à Consciência Financeira é longa, difícil e cheia de entraves, e, como sempre, inicia-se com um primeiro passo, que apenas e tão somente pode ser dado por VOCÊ!

8.4 O Caminho

Qual caminho seguir?

Consulta ao rio a este respeito, meu amigo! Não estás ouvindo como ele se ri? Achas realmente que cometeste as tuas tolices, a fim de poupá-las a teu filho? Julga-te capaz de proteger o peque-no contra Sansara (Ciclo – nascimento, vida e morte)? De que modo? Por meio de ensina-mentos, de preces, de admoestações? Ora, meu querido, esqueceste por completo uma história que me contaste aqui mesmo, em outra ocasião; a edificante história de um filho brâmane que se chamava Sidarta? Quem resguardou esse Sidarta do Sansara, do pecado, da avareza, da insensatez? A piedade do pai, as exortações dos mestres, a própria erudição, as pesquisas

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que ele fazia – nada disso conseguiu servir-lhe de esteio. Que pai, que mestre poderia evitar que Sidarta vivesse sua vida sujando-se com ela, caindo em culpa e bebendo sozinho a poção amarga, antes de descobrir o seu caminho pe-las suas próprias forças? Pensas, meu caro, que alguém possa escapar à busca deste Caminho? Talvez teu filho, porque o amas e desejas isentá--lo de mágoas, dores e desilusões? Mas, mesmo que morras por ele dez vezes, não lograrás alte-rar nada do destino que o aguarda.

Hermann Hesse

Descobrir seu caminho por suas próprias forças... Mas como trilhar esse caminho?

Não acredito em receitas mágicas, fórmulas mirabo-lantes ou que seja necessário ser uma pessoa superdotada para alcançar uma consciência financeira e, consequente-mente, um ciclo financeiro virtuoso. É uma questão de busca contínua e tranquila associada a um pouco de re-flexão e disciplina.

Como mencionei no início deste livro, eu enten-do que, infelizmente, nem todos estejam preparados ou tenham vindo a este mundo para encontrar o “pote de ouro” da riqueza material no fim do arco-íris.

E daí?!É surpreendente o que uma vida financeira

equilibrada e sem exageros pode oferecer. Pode-se viver

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muito bem e com a consciência leve, fazer valer princí-pios éticos e morais sentindo-se próximo daqueles que tanto amamos. Dificilmente poderemos ter tudo o que queremos do plano material, é verdade, mas para que se preocupar se nossos desejos são infinitos...

Uma vida financeira equilibrada possibilitará a aber-tura de portas para investimentos que alimentarão ain-da mais a solidez financeira, propiciando menos riscos e mais possibilidades de investimentos e, porque não, a satisfação adicional de alguns de nossos desejos.

Logicamente, como foi mencionado, existem muitas dificuldades no caminho, é como o aprendizado de uma nova matéria na escola ou um novo idioma, tocar um instrumento ou mudar de país. As dificuldades iniciais dessas novas oportunidades que se abrem são inquestio-náveis, elas inclusive são partes inseparáveis do processo de amadurecimento desses novos desafios, mas uma vez suplantadas possuem a capacidade de dar um sabor espe-cial à conquista alcançada.

Um novo idioma não apenas exercita nosso cérebro, fazendo-o pensar de modo diferente, como também pos-sibilita a ampliação de nossos conhecimentos sobre outras civilizações como uma ponte de acesso para a descoberta de diferentes culturas. Uma mudança de país também apre-senta suas dificuldades, porém é uma oportunidade única de “renascer na mesma vida”. O sentimento inicial prepon-derante é o de estar perdido, necessitando reaprender coisas básicas como hábitos, caminhos, estações do ano, história, geografia, economia e política locais. Passadas as dificulda-des, mudamos nossa maneira de entender o mundo.

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Ninguém nasce dominando um instrumento mu-sical, no entanto seu aprendizado abre grandes horizon-tes para nossa sensibilidade, leva-nos por caminhos antes não imaginados da música e sua percepção, lógica e rela-ção com o espírito humano.

O aprendizado de uma nova matéria na escola tam-bém se encaixa nesse processo de mudança e crescimento. Mesmo que inicialmente venhamos a nos sentir pouco à vontade com a nova matéria (na verdade, nem entende-mos o porquê de estamos aprendendo essa “coisa”), vários paradigmas são quebrados.

Um exemplo pessoal, que vivi, foi meu primeiro contato com a Química. Essa matéria/disciplina surgiu como uma aparente roupagem nova da matéria de Ciên-cias (“brinquedo de crianças” do ensino fundamental), nada com que se preocupar, e de repente lá estamos nós, às voltas com conceitos fantasmagóricos e misteriosos que mais se assemelham com magia negra... Uma lou-cura! Meus primeiros contatos com essas “forças ocul-tas”, aparentemente sobrenaturais que regem as leis da Química, foram inesquecíveis, minhas notas − não tenho coragem de mencioná-las aqui – levaram-me a um nível de estresse na escola nunca vivenciado.

As metodologias que eu utilizava para estudar as outras matérias não funcionavam com essa “coisa para malucos”! No limiar de um caso perdido, orientado por meu paciente professor, fiz de um compêndio de Química meu livro de cabeceira. Lia-o e estudava-o e literalmente, buscava-o entender de todas as maneiras. Resultado: não apenas recuperei minhas notas como

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também acabei me envolvendo com ela de tal modo que me formei em Engenharia Química!

Após essa experiência, ainda me lembro dos ami-gos e companheiros que ajudei a compreender melhor essa misteriosa parte do saber (ou não saber) humano. Como no caso de uma amiga, com fortes princípios religiosos, que acreditava que essa matéria era obra do “diabo” e mais uma maneira de pretensiosamente o ho-mem querer brincar de Deus. Fiquei profundamente feliz quando pude convencê-la do contrário, como na verdade, por meio da Química e seus mistérios, o ho-mem realmente tem a oportunidade de se deparar com a fantástica manifestação de Deus.

Após essa apologia à Química (juro não ser meu propósito angariar discípulos para a causa!), o caminho da consciência obrigatoriamente passa por um estado ini-cial de desconforto, de diferentes estágios de estresse, pe-los quais verificamos a necessidade de mudança e, então, com muito esforço e através de incontáveis batalhas, de-senvolvemos capacidades, que nem tínhamos ideia de que possuíamos, mas que vão se somando ao longo do tempo até um momento no qual, aparentemente, conseguimos carregar uma massa suficientemente crítica para começar a desencadear mudanças em nossas atitudes e nos modos de agir e pensar naturalmente de maneira diferente!

É como subir em um escorregador: vencer os degraus que nos levam à diversão é sempre um pouco chato, no entanto tudo é esquecido após a excitação e o alívio da descida...

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Figura 18

Um ingrediente fundamental nesse processo de mudança é o TEMPO. Tempo, mercadoria tão escassa atualmente que mereceria para sua obtenção o mesmo esforço do périplo dos grandes navegantes do século XV enquanto buscavam especiarias. No entanto, na socieda-de contemporânea, contrariando todas as leis de oferta e procura, desperdiça-se o tempo de maneira ampla e siste-mática. Todos carecemos da falta de tempo, mas não nos cansamos de desvalorizá-lo em nosso dia a dia de modo, muitas vezes, fútil em frente da TV, no trânsito ou em uma conversa superficial em um bar.

Ainda me lembro que certa vez tive a grata oportu-nidade de viver na França por um período de quase seis anos. Logo nos primeiros dias de adaptação a tudo, já iniciando um processo mental de reclamação diante de todas as dificuldades e burocracia, ouvi uma frase que me marcou: seja como a natureza, que é sábia, não tire

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conclusões ou aprendizados precipitados antes de com-pletar um ciclo de quatro estações. Sábias e verdadeiras palavras! Recordo-me de ser surpreendido poucos dias antes do término da última das quatro estações com um imposto sobre a transmissão de TV! Completado esse ciclo, passamos anos felizes, altamente estáveis e previsí-veis (é muito bom viver em um país onde é muito clara a fronteira que separa seus direitos e deveres).

Como última ilustração, eu gostaria de lhes apresen-tar uma fábula que me acompanhou, e acompanha, por diversos momentos importantes de minha vida e que foi fonte de inspiração e reflexão para as notáveis questões:

• Toda esta história sobre mudanças, esforço e consciência, para quê? Se aparentemente sempre permanecemos o que somos?!

• Para que ler e se esforçar tanto se no fim quase tudo é apagado da memória?

• Será que alguma mudança realmente ocorre?

“Há muito tempo, em um passado longínquo, vi-via entre os monges do deserto um jovem discípu-lo que, sentindo-se pouco inteligente e incapaz de guardar os ensinamentos recebidos, procurou o mais velho sábio e disse-lhe:

— Grave desgosto me acabrunha, meu pai. Apesar dos esforços constantes que faço, não chego a conservar na memória, durante muito tempo, as instruções que, para boa conduta na

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vida, recebo dos mestres. Vão também para o esquecimento os trechos mais belos que leio dia-riamente nas Santas Escrituras!

O monge, que tinha em sua cela dois cântaros de barro vazios, disse-lhe:

— Meu filho, toma um daqueles cântaros; deita-lhe um pouco de água; lava-o depois, cuidadosamente; enxuga-o com tua própria veste e deixa-o no lugar em que está.

Maravilhado, embora, com tais palavras, fez o moço exatamente o que o velho monge lhe determinara.

Concluída a tarefa, o ancião perguntou-lhe qual dos cântaros estava mais limpo, mais claro e mais puro.

O solitário tomou nas mãos o cântaro que aca-bara de enxugar e respondeu:

— Este, por certo, está mais limpo. Lavei-o com muito cuidado.

Retorquiu, então, o sábio:

— E, no entanto, repara bem, meu filho, esse cân-taro não mais retém vestígio algum da água que o purificou. Também aquele que ouve e lê, confian-temente, a palavra de Deus, embora não grave na memória o teor dos santos ensinamentos, traz o coração tão puro como o cântaro lavado.”

Malba Tahan

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Como já enfatizado, o processo de mudança leva tempo, que poderá ser maior ou menor em razão da ra-pidez com que se obtém realmente a consciência de que algo está errado, da perseverança em se acreditar na ne-cessidade de mudança, da disciplina para diagnosticar o problema, da organização para elaborar um plano de mudança, do pragmatismo para executar o plano estabe-lecido e, finalmente, da paciência para utilizar inteligen-temente todas as características citadas e acompanhar a conquista de sua meta.

“Não há nada como retornar a um lugar que em nada mudou para percebermos o quanto nós mudamos.”

Nelson Mandela

Você saberá que algo está errado...... Quando seus ganhos não são suficientes para

cobrir suas despesas mensais; quando constantemente aparecem gastos emergenciais não previstos em seu or-çamento; quando sua família nunca fala sobre dinheiro; quando você tem de ir ao banco para renegociar sua dí-vida do cheque especial, a fatura do seu cartão de crédito não é paga integralmente no dia do vencimento, o limite do seu cartão de crédito estoura.

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Você saberá que existe uma necessidade de mudança...

... Quando se sentir sempre incomodado interna-mente sem saber o porquê; quando seu filho ou filha pede algo que você não pode – talvez nunca − lhe proporcionar, e não consegue explicar de maneira inteligente e coerente; quando fica constrangido ao sair com amigos mais bem--sucedidos financeiramente que você, evita encontrar al-guns vizinhos, briga com sua esposa ou esposo por causa de dinheiro, em um almoço de domingo em família fala de “algo que faria se um dia fizesse algo”, entre outros.

Você saberá que existe uma saída...... Quando sentir brotar de seu interior uma energia

e vontade de realizar uma mudança com a maior rapidez possível, a confiança retorna às suas atitudes, começa a conversar sobre alternativas financeiras com sua esposa ou esposo, surgem em sua vida pessoas que viveram o mesmo drama que você e conseguiram resolvê-lo.

Você saberá que possui um plano...... Quando souber aonde quer chegar, como quer

chegar e quando quer chegar a um objetivo preciso; quando se sentir cada vez mais animado sobre as perspec-tivas que estão por vir; quando perceber que não entende nada de planilhas de controle, e seu gerente de banco não liga mais para saber como “andam” as coisas.

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Você saberá que o plano está em execução...... Quando conversas sobre dinheiro e finanças co-

meçam a se tornar um hábito no seio de sua família; quando todas as suas contas (inclusive a do cartão de cré-dito) são pagas religiosamente dentro do prazo de paga-mento; quando começa a sobrar salário no mês.

Você saberá que está efetivamente controlan-do e verificando sua vida financeira...

... Quando não vê a hora de o mês acabar para po-der conferir seus ganhos ante os gastos previstos do mês; quando começa a ser chamado de “o rei da planilha” por sua família e amigos íntimos; quando sua esposa ou espo-so procura discutir com você temas ligados ao dinheiro.

E, FINALMENTE, você saberá que está vi-venciando a consciência financeira...

... Quando você e sua família estiverem espiritual e financeiramente em paz; quando se sentir preenchido espiritualmente, e o dinheiro for um tema conversado e compartilhado entre os membros da família de maneira positiva; quando novas conquistas materiais e futuras via-gens são planejadas conjuntamente.

Seus controles fazem parte de sua vida, seus ganhos são suficientes para cobrir seus gastos mensais, aconteci-mentos imprevistos já não são tão comuns, mas quando ocorrem são suportados sem haver necessidade de se recor-

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rer aos bancos. O cartão de crédito, além de pago rigoro-samente em dia, é apenas utilizado como meio de otimizar um ganho em uma negociação de aquisição de bens já pre-vistos no orçamento ou postergar pagamentos cuja a soma encontra-se já reservada em uma aplicação financeira.

Os possíveis aumentos de rendimentos não são acompanhados de um aumento de padrão de vida que os consuma. Desse modo, excedentes financeiros são utiliza-dos sabiamente, transformando-os em rendimentos que garantirão um futuro ainda mais tranquilo e sustentável.

Nessa nova fase, será ainda mais importante se apoiar em conhecimentos mais profundos do mercado financei-ro. Ouvir muitos profissionais, e seguir poucos (os esco-lhidos). Esse processo reforça ainda mais nossa percepção de que “sozinhos não podemos”, pois somos seres sociais e abençoados por Deus, compartilhando o mesmo ar, que de algum modo nos faz a todos um pouco irmãos.

Através do convívio, da empatia e da harmonização de objetivos comuns, nossa verdadeira evolução está ape-nas começando!

No próximo capítulo, veremos mais detalhadamen-te os “companheiros” do processo de mudança, estes fa-talmente o acompanharão com maior ou menor brevida-de em seu caminho e serão capazes de impulsioná-lo em direção à sua meta − ou não...

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9 CARACTERÍSTICAS DE DESAGREGAÇÃO E SINCRONIZAÇÃO

Ao falarmos sobre dinheiro, procuramos analisá-lo sob as diferentes dimensões que lhe proporcionamos, DI-MENSÃO MATERIAL E DIMENSÃO ESPIRITUAL. Também verificamos que apenas na região de intersec-ção dessas dimensões podemos encontrar um estado no qual aliamos uma maneira eficiente de controlar nossas finanças e outra de nos desenvolver espiritualmente, para que não caiamos na tentação da ganância e do apego à riqueza... Como vimos, essa intersecção é chamada de CONSCIÊNCIA FINANCEIRA.

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Figura 19

Se aprofundarmos um pouco mais nossa reflexão, po-deremos nos questionar sobre a abrangência dessa área de intersecção. Logicamente, quanto maior ela nos parece, mais bem resolvidos estaremos tanto do ponto de vista do equilí-brio material (financeiro) como do espiritual (consciência).

Uma vez que ambas as dimensões fazem parte de cada um de nós, não são excludentes, e sim complementares.

A extensão dessa intersecção está sujeita à ação de características de sincronização ou desagregação, estas estão presentes em nossa vida com maiores ou menores intensidade e frequência. Tais características fazem com que o ciclo de mudanças, que possui como meta alcan-çar essa Consciência Financeira, se agilize ou estagne, em

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muitos casos até retroceda em razão da potência ou fre-quência com que cada uma delas participa em nossa vida de modo sistemático.

Na prática teríamos:

Figura 20

Desenvolver e praticar habitualmente características de desagregação, leva-nos por caminhos tortuosos e nos quais parecemos perder o controle do direcionamento que gostaríamos de dar à nossa vida. Sentimo-nos espiri-tualmente ocos e dificilmente conseguimos ajustar nossa vida financeira. No entanto, quando nossa vida está pre-ferencialmente norteada pelas características de sincro-nização, a Consciência Financeira é fortalecida e torna-mo-nos pessoas mais completas espiritualmente, menos instáveis e financeiramente mais controladas.

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Figura 21

Embora não seja tão evidente, tudo é uma questão de escolha.

Como já foi explicado, não quero dizer que as de-cisões sejam fáceis e simples, mas são factíveis. Somente por meio da prática processual e contínua, em nossa vida, das características de sincronização é possível trafegar com segurança no caminho que conduz a uma realização pessoal alcançada de modo duradouro.

Desse modo, revendo a figura 19, teríamos uma composição de forças agindo concomitantemente, na qual as CARACTERÍSTICAS DE SINCRONIZAÇÃO induziriam a uma maior aproximação das dimensões materiais e espirituais do dinheiro, ao passo que as CA-

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RACTERÍSTICAS DE DESAGREGAÇÃO afastariam sistematicamente essas dimensões.

Figura 22

E, mais uma vez, como consequência da maior ou menor presença dessas forças em nossa vida, teríamos uma maior ou menor superfície de intersecção, ou seja, uma maior ou menor Consciência Financeira.

Do mesmo modo, como o fizemos no capítulo 4, teríamos a representação do funcionamento dinâmico desse processo de mudança e movimento contínuo repre-sentado por um conjunto de engrenagens sincronizadas.

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Figura 23

É pouco provável que, em nossa curta existência, venhamos a conseguir por esforço próprio transformar nossas características pessoais em apenas características de sincronização, mas devemos obrigatoriamente po-tencializar ao máximo nossa força de vontade no sen-tido de que as características de sincronização estejam sempre presentes em nossa vida, sobrepujando as carac-terísticas de desagregação.

É fundamental refletir um pouco sobre como as ca-racterísticas de sincronização e de desagregação atuam sobre todos nós e seus impactos em nossa vida, em nosso modo de pensar, sentir e agir.

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Logicamente, de acordo com a intensidade e a pre-sença/ausência desses componentes em nosso comporta-mento, teremos uma qualidade de vida espiritual e ma-terial que refletirão nossas escolhas, conscientes ou não!

Embora sempre busquemos um “tranquilizador” sentimento de compaixão própria, o fato é que a escolha e a aplicação dessas características dependem apenas e ex-clusivamente de cada um de nós.

9.1 Características de Desagregação

As características de desagregação são forças poderosas que atuam em nossa vida sorrateiramente, e, na maioria das vezes que se manifestam, nem nos aten-tamos à sua presença. Apresentam-se em realidades que não queremos enxergar, atitudes errôneas que nos inco-modam, mas que aceitamos e acabamos nos acostuman-do a elas, vários projetos que começamos, e não damos continuidade, preocupações sem sentido, atitudes que nunca tomamos, pressa para ir a algum lugar, enfim, a lista infelizmente é longa.

Muitos afirmarão com convicção que com a falta de oportunidades ou com o surgimento das desventuras da vida não possuem escolhas e que nada podem fazer para combater essas características que acabam por fazer parte das atitudes que tomam na vida.

De fato, para alguns, a falta de oportunidade e a ocorrência de tristes acontecimentos no caminho são importantes barreiras para seu desenvolvimento espiri-

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tual e financeiro. No entanto, eu gostaria de lembrá-los que nosso objetivo não está em se tornar uma “estrela de Wall Street” ou um milionário admirado de forma efê-mera pela mídia; nossa meta está em caminhar de forma confiante e realista pela estrada desta vida, evoluindo espiritualmente e mantendo uma condição financeira sólida para nossa existência. Desse modo, mesmo os menos favorecidos possuem os atributos necessários para atingir o estágio correto.

A prática demonstra que, das pessoas que atingem um patamar financeiro satisfatório para sua sobrevi-vência e desenvolvimento, a maior parte delas chega a esse estágio após ter iniciado a caminhada “sem um centavo no bolso”!

As características de desagregação são poderosas, e nós acabamos por aceitá-las como parte da “natureza ca-ída” do ser humano. Até certo ponto, parece pouco pro-vável que pessoas comuns sejam capazes de eliminá-las definitivamente de sua vida, todavia, uma vez decidida internamente a mudança, o tempo será um potente alia-do nesse processo. A cada dia, um pequeno avanço, mas com segurança, pois no fundo sabemos quais são as deci-sões e atitudes corretas a serem tomadas.

A grande chave para abrir esse ferrolho (aparente-mente intransponível) é a busca por uma consciência maior perante os fatos que se sucedem em nossa vida.

As características de desagregação, em muitos ca-sos, são “armas” de manipulação poderosas utilizadas

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contra a humanidade desde os primórdios dos tempos. Vale lembrar o panis et circenses dos romanos, e ape-sar de nosso desenvolvimento e evolução (pelo menos do ponto de vista tecnológico) permanecemos no ínti-mo como nossos ancestrais, ou seja, com os instintos animais bem presentes. Esses reflexos, embora aparen-temente adormecidos, tão logo uma oportunidade se apresente, rapidamente, ou melhor, instantaneamente, colocam-se em ação.

As características de desagregação são:

Figura 24

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9.2 Características de Sincronização

Embora não pareçam, as características de sincro-nização são muito mais poderosas do que as de desagre-gação... Não apenas mais poderosas como também, de longe, ultrapassam-nas em intensidade e potência.

Seriam como a LUZ e a ESCURIDÃO. Apesar de as trevas aparentemente serem invencí-

veis, elas simplesmente se instalam na ausência da luz. Quando a luz invade e preenche o vazio, naturalmente não há mais espaço para a escuridão!

No caso das características de agregação, o mesmo fe-nômeno pode ser observado. Contrariamente às caracterís-ticas de desagregação, que são instintos arraigados nas áreas mais primitivas do ser humano e apenas causam sofrimen-to e perda de dissonância espiritual, as características de agregação elevam o ser humano a caminho do divino e da evolução. São forças sutis, que nos trazem leveza. Fazem--nos vibrar em sintonia com o Universo e com os reais propósitos para os quais os seres humanos foram criados.

É importante salientar que essas forças devem tra-balhar de maneira coesa e uniforme; são como os elos de uma grande corrente, todos são importantes, e caso um deles se rompa todo o esforço será perdido. Para que isso não ocorra, os elos não devem ser utilizados exagera-damente. Ser comedido é sempre uma boa virtude para todas as ações que executamos.

Mesmo que possa parecer, sobretudo nas fases ini-ciais desse ciclo de mudanças, que todo esse processo nos

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acorrenta a um grande peso, na verdade a corrente nos alicerça a uma poderosa âncora que permite que nosso navio financeiro permaneça calmo e seguro nos difíceis e revoltos mares do consumo.

Figura 25

A todo momento, essa âncora pode ser elevada per-mitindo que zarpemos rumo a novos patamares de nosso aprimoramento espiritual e financeiro.

Na mecânica, o principal uso de uma corrente é para transmitir a potência em condições de trabalho ex-tremas. Essa corrente formada, além de nos transmitir segurança, permite que todas as características de sin-cronização estejam alinhadas a um mesmo propósito e a uma mesma meta.

Desse modo, sentimo-nos seres humanos mais conscientes, estamos seguros e firmes em nossas convic-

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ções, somos fiéis a nossas metas sem perdê-las de vista, somos objetivos em nossos atos, mas sabemos esperar com firmeza os resultados.

As características da sincronização são:

Figura 26

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10 CICLO DE MUDANÇAS E AS CARACTERÍSTICAS DE SINCRONIZAÇÃO E DESAGREGAÇÃO

Como pudemos verificar no capítulo 8, o ciclo de mudanças é um processo fundamental para todos aque-les que ousarem tentar alterar os rumos de seus estados financeiro e espiritual.

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Figura 27

Analisaremos o impacto das características de desa-gregação e de sincronização em cada uma das etapas desse ciclo de mudanças.

O processo de mudança é difícil e, na maior parte das vezes, doloroso; desse modo, é fundamental com-preender e escolher com quais características poderemos compartilhar e confiar nesta viagem!

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10.1 O Ciclo de Mudanças

10.1.1 Etapa: Algo Está Errado

Nesta etapa nos damos conta pela primeira vez de que algo está nos incomodando. Mas o que está aconte-cendo, o que está errado?

Figura 28

Essa é, sem dúvida, uma das etapas mais impor-tantes de todo o processo, o início de todo o CICLO DE MUDANÇAS.

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O mais comum é que um sentimento suficientemente forte de que algo está errado seja despertado em você em razão da potencialização de um problema financeiro pree-xistente. Nesse caso, o ciclo de mudanças será iniciado pela pura e URGENTE necessidade de solucionar o problema. Via de regra, o desespero criado pela situação levará a uma forte tendência de se esquecer das etapas fundamentais para a mudança e de se transformar o ciclo em apenas mais uma tentativa de resolver um problema financeiro; provavel-mente essa maneira de agir o levará a uma solução paliativa, de curto prazo. Isso ocorre em razão da falta de consciência da abrangência do problema pelo qual se está passando.

Uma alternativa possível para solucionar esse tipo de problema de modo definitivo é desenvolver sua consciência o mais profundamente possível e seguir crite-riosamente os passos do ciclo de mudanças.

De qualquer maneira, o sentimento despertado em você de que algo está errado é um poderoso sinal de que chegou verdadeiramente A SUA HORA de mudar!

Para dar início ao nosso ciclo de mudanças, devemos escolher entre dois “companheiros”, pois cada um nos le-vará a caminhos completamente diferentes. São eles: a característica de desagregação, ALIENAÇÃO, e a carac-terística de sincronização, a CONSCIÊNCIA.

10.1.1.1 Característica de DesagregaçãoAlienação

Alienar-se é viver fora da realidade, é uma quimera, uma fantasia. Artifício muito útil e sutil que permite ao ser

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humano suportar de modo quase satisfatório seu medíocre cotidiano. Pode apresentar-se por meio de atitudes que refli-tam um desespero conformado com sua própria realidade.

É um estado de torpor e ilusão, em que a fuga da rea-lidade é capaz de transformar inverdades em uma “quase” nova realidade. Os seres humanos possuem uma incrível capacidade de acreditar em suas próprias mentiras! Sem falar que estas, ao serem relatadas com grande convicção, acabam por ser aceitas como verdade.

Recordo-me ainda de um programa de entrevistas ao qual assisti cujo apresentador dialogava com um pis-toleiro de aluguel regenerado, que era contratado para “eliminar pessoas sob encomenda”; este havia se transfor-mado em um religioso que cuidava das crianças em uma favela no Rio de Janeiro.

Após uma troca de relatos na qual o entrevistado dis-correu sobre seus crimes praticados e o longo caminho que o levou à sua regeneração, o apresentador, visando fechar seus questionamentos com uma declaração de efei-to do entrevistado, interpelou-o como se fosse apenas um segredo entre eles, meio brincando, meio sério, qual era o sentimento de um ex-matador responsável por tirar a vida de tantas pessoas. O entrevistado fixou o olhar no apre-sentador e solenemente declarou de modo bombástico:

— O senhor me desculpe, mas eu não matei ninguém! O apresentador não se aguentando, literalmente rin-

do para não chorar, emendou: — Então todo este tempo com você, e só agora des-

cobri que entrevistei a pessoa errada!

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Entre os risos do auditório, o entrevistado sacra-mentou a entrevista:

— Eu não matei ninguém, não, senhor! Eu apontei a arma e puxei o gatilho, mas quem matou foi Deus!

Sob o prisma da realidade financeira, essa fuga da verdade dos fatos pode ser vislumbrada pela dura reali-dade das dívidas de uma família, traduzida pela brutal diferença entre o padrão de vida praticado e o padrão de vida que seria coerente aos seus ganhos salariais.

Não há uma realidade financeira que suporte por longo prazo um padrão de vida não coerente com os ganhos salariais.

Para muitas pessoas, a realidade apresenta-se como sendo tão dura que a única alternativa vislumbrada é a fuga. Essa triste realidade está refletida na enorme audiência dos realities shows, que disseminam o lado fútil da vida, e dos jornais sensacionalistas que propagam o medo e a violência. Do ponto de vista financeiro, o que ocorre frequentemente são gastos desnecessários visando ostentar uma posição so-cial incoerente com seus rendimentos mensais.

E como escapar da alienação financeira?A solução é simples, mas não fácil de implantar. Deve-

-se desenvolver uma consciência do seu real padrão de vida e vivenciá-lo a despeito do que dizem ou pensam os outros!

Como descobrir seu padrão de vida verdadeiro? É fá-cil, gastar mensalmente no máximo seus ganhos salariais. As despesas que se enquadrarem nessa realidade compo-rão seu padrão de vida. Na verdade, a despesa ideal seria aquela que contemplasse no máximo 90% do que se ga-

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nha. O excedente deveria ser aplicado com o objetivo de gerar novos rendimentos, todavia, para quem está vivendo de sonhos, cair na realidade já será um grande passo!

Quem paga suas contas no fim do mês é você mes-mo, conscientize-se disso.

10.1.1.2 Característica de Sincronização Consciência

Estar no presente...Embora o tema já tenha sido explorado no capítu-

lo 3, todas as palavras que viermos a adicionar sobre a palavra CONSCIÊNCIA jamais serão em vão! Todas as demais características de sincronização nos tornam seres humanos melhores, no entanto a consciência nos aproxi-ma do divino, uma verdadeira revolução espiritual.

Figura 29

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Se estar no presente representa uma experiência tão fantástica assim, por que fugir tensional ou intencional-mente da realidade? Por dois motivos simples:

• Primeiro, porque existe uma preguiça mental naturalmente instalada em todos nós. Pensar, refletir e viver a realidade cansam!

• Segundo, porque muitas vezes o mundo real pode parecer tão deprimente e sem opção que é melhor nos deixarmos levar pelos mares tran-quilos da sonolência espiritual.

Vivemos em um mundo onde uma infinidade de telas de cinema, computadores, celulares, tablets, tele-visão e “i-tudo” estão cada vez mais presentes e mos-tram uma realidade muito mais sedutora e atraente do que na verdade ela é. Com esses meios de comunica-ção de imagens e sons, as aventuras são fantásticas, o impossível é possível e até mesmo o cotidiano mais sem graça e enfadonho ganha cores esfuziantes e brilho através dos realities shows.

O conteúdo não é tão importante, o fundamental é entorpecer o espectador trazendo-o a uma maravilhosa fábrica de ilusões. Em contrapartida, no íntimo, triste-mente, fica a sensação de que somos seres humanos me-nores, sem importância, e que a vida acontece mesmo em algum lugar do qual não fazemos parte. Afinal, nas telas, aparentemente, os fatos se sucedem a uma velocida-

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de incrivelmente rápida e dinâmica, enquanto em nossa “tediosa” vida tudo acontece de modo lento e gradual.

Como consequência, não viver no presente nos leva inevitavelmente à alienação e ao sentimento de que não somos mestres da vida, apenas vítimas infelizes dos acon-tecimentos do destino.

Por mais cômodo que possa parecer, sabemos e sen-timos em nosso íntimo que toda ilusão é oca e vazia, não satisfaz! Somente a realidade dos fatos e a aceitação de nossa real condição espiritual e financeira, por pior que sejam, podem nos levar a uma solução.

E como vivenciar a consciência em nossa vida espi-ritual e financeira?

Momentos de paz e tranquilidade devem sempre fazer parte de nosso dia a dia. Nesses momentos, repita calma e pausadamente a palavra CONS-CI-ÊN-CIA. Esse mantra ajudará a trazer você para o momento pre-sente. Depois procure refletir profundamente sobre sua vida financeira: existe algo que o incomoda? Procure dar dimensão a esse sentimento, entenda e veja a reali-dade de frente.

Embora os números alocados em planilhas ou até mesmo em livros-caixa sejam capazes de nos trazer à rea-lidade dos fatos, neste estágio o fundamental é conscien-tizar-se totalmente da existência de um problema finan-ceiro e quanto ele o incomoda e as suas consequências para sua vida pessoal, familiar e profissional.

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10.1.2 Etapa: Necessidade de Mudança

Passamos de uma sensação de desconforto e de estar-mos perdidos para um estado desperto em que uma real ne-cessidade de mudança está muito clara. Como “para onde” e “o que mudar” ainda são incertezas, a única coisa que realmente se sabe é que “como está não pode continuar”.

Precisamos mudar!

Figura 30

Nessa etapa, temos dois “companheiros” no ciclo de mudanças: um nos fará avançar rumo à nossa meta; já o outro nos manterá estagnados como que pregados

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ao chão, totalmente imóveis... São a característica de desagregação, MEDO, e a característica de sincroniza-ção, PERSEVERANÇA.

10.1.2.1 Característica de DesagregaçãoMedo

Os cidadãos das democracias ocidentais nunca foram mais saudáveis e seguros – e nunca se sentiram mais doentes e inseguros. Tememos o ar que respiramos, a comida que comemos, a água que bebemos, as pessoas que sorriem para nossos filhos, as ruas em que caminhamos, o transporte público que usamos para trabalhar e os edifícios onde trabalhamos, que podem estar sinistra e toxicamente “doentes”. Quando menos visível a ameaça, mais assustadora ela se torna.

Michael Foley

O medo é uma das emoções mais primitivas a que o ser humano está sujeito.

Ele é companheiro inseparável de todos nós desde os primórdios da evolução, em uma luta constante e brutal pela sobrevivência diária.

Salvo em condições extremas, ele não é, nem de lon-ge, racional, não apresenta nenhuma lógica aparente e consequentemente não é nada intelectual. De um modo ou de outro, todos estamos sujeitos a ele.

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O mal realmente existe neste mundo, e uma de suas principais, se não a principal, armas de controle e submis-são que ele procura impor aos seres humanos é o MEDO.

Ao se manifestar, o medo dificulta nossa respiração, consequentemente inspiramos rapidamente uma menor quantidade de oxigênio, nosso cérebro se ressente dessa oxigenação irregular e nossos pensamentos mais lógicos, alojados na parte mais evoluída do cérebro, dão imedia-tamente lugar aos instintos de sobrevivência mais primi-tivos. Dessa maneira, o medo ligado a um perigo real de sobrevivência é de difícil autocontrole. Algumas pessoas até certo ponto conseguem se adaptar racionalmente a essa situação, mas via de regra nossa reação diante do pe-rigo inesperado é praticamente apenas instintiva.

O medo está inversamente associado ao nosso con-fortável estado de “não saber”. Aqueles que possuem o discernimento claro da situação se sentirão sempre, ir-remediavelmente, obrigados a realizar mudanças funda-mentais em sua existência, e essa possibilidade “apavora nosso medo” interior.

No caso específico da existência do medo associado a dificuldades financeiras, embora não exista um risco real à vida do indivíduo, ele é fortemente associado à sua capacidade de não “honrar seus compromissos”, à perda de status e à sua preocupação com a família.

Estudos realizados apontaram os grandes medos atuais da humanidade civilizada. Por mais incrível que possa parecer, o medo de não possuir dinheiro e o medo de apresentar-se em público estão no topo da lista.

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Esses medos se sobrepõem ao medo de morrer!Seria nosso gerente de banco mais importante do

que nosso cardiologista?Claro que não! Com todo respeito aos gerentes de

banco, em meu entender, esses fatos revelam que temos mais medo da realidade que podemos controlar (no en-tanto, quase NUNCA o fazemos) do que de potenciais doenças, pelas quais, em boa parte, nada ou pouco pode-mos fazer (como um câncer).

Levando-se em conta esses aspectos, existem manei-ras de se minimizar seu efeito antes de começarmos a agir em sua solução:

Figura 31

Após alguns minutos de exercício, começamos a re-cuperar a calma, assim, com certeza, agiremos de maneira menos instintiva e mais racional.

Nossos medos são uma importante fonte de apren-dizado, levando-nos a refletir, ou pelo menos deveriam, em nossas deficiências e por que elas ocorrem.

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O estado de estar consciente persistentemente é fun-damental para encarar nossos medos; sem essa consciên-cia voltamos a um estado de “velhos hábitos”, levando a vida como em um transe ligado no “piloto automático”, presas fáceis de sentimentos negativos que constituem-se da melhor forma de materializar o medo.

Pensamentos negativos

Pensar negativamente de modo sistemático é como envenenar, aos poucos, nossa fonte de vida divina. Sentimo-nos frágeis e infelizes, sem forças para continuar.

“A concepção é um pecado, o nascimento é dor, a vida é trabalho e a morte inevitável...”

Salvador Rosa Deixar os pensamentos negativos tomarem corpo e

força dentro de nós é como entrar em um ciclo contínuo destrutivo que se autoalimenta.

Não se dar conta da importância para nossa vida de se abster, se não ao menos controlar os pensamentos ne-gativos é como pilotar um veículo em altíssima velocida-de sem se importar em manter firmemente as mãos no volante de direção.

Não são poucos os físicos atuais que debatem a teo-ria de que nossos pensamentos são tão reais quanto este

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livro que você está lendo. Esse estudo é fundamentado no fato de que o modo de ver a matéria como uma entidade sólida e palpável nada tem a ver com a realidade obser-vada na prática. A matéria praticamente é composta de “nada” com regiões de campos de energia nos quais esta participa de um fantástico balé subatômico; propagam--se no vazio como uma onda na superfície de um lago e concentram-se imprevisivelmente em um espaço mínimo formando um nó de energia, que na verdade constitui a única, se é que podemos chamar ainda assim, “matéria elementar” do Universo.

Transportando essas teorias para nossa realidade, existem fatos comprovados de que nosso cérebro apre-senta uma gigantesca atividade elétrica pela qual a ener-gia flui através de uma intrincada rede de células neurais (neurônios) que transmitem nossos pensamentos e racio-cínio. É muito interessante entender que a manifestação final dessa energia ocorre no cérebro, mas o pensamento e o raciocínio são funções de nossa mente.

Ao que parece, o que achávamos irreal, de certo modo, agora nos parece mais real do que aquilo que pen-sávamos ser real, que por sua vez agora parece ser irreal!

Seguindo essa forma de entender o funcionamento da matéria, da energia e de nossos pensamentos, parece extremamente importante observar que o fator impulsio-nador de todo esse fantástico e interligado mecanismo parte do fundo de cada um de nós. Pensamentos negati-vos que brotam da mente retroalimentam os medos que os originaram internamente e nos tornam facilmente

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manipuláveis e dependentes de uma “liderança externa salvadora”, que pode ser um líder político ou religioso ou até mesmo seu gerente de banco.

No entanto, reduzindo-se os efeitos do medo e de pensamentos negativos, somos capazes de realizar um ci-clo virtuoso:

Figura 32

São os pensamentos originados em nossa mente os propulsores desse sistema.

Muitos mistérios envolvem a origem da mente e seus pensamentos. A maior parte de nós apenas reflete externa e inconscientemente, como um “estado de dor-mência conveniente protetiva”, o interior de cada um.

Para quase todos nós, o esforço para transpor esse estado de sonambulismo é gigantesco, quase impossível de modo consistente e duradouro, e então opta-se pelo que aparentemente parecer possível de se fazer, ou seja,

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NADA. Esse “estado de coisas” não se origina por si só, ele é resultado de fatos bem reais como:

Figura 33

O medo foi, é e, pelo andar atual do mundo, continu-ará sendo, uma arma poderosíssima de controle e manipu-lação das massas e indivíduos. Somente pelo medo milhões e milhões pegaram em armas para matar seus semelhantes. As desculpas diferiam um pouco, bandeiras, hinos, cor da pele, religião, sistema político ou econômico, tudo/todos foram utilizados para direcionar pensamentos e atos.

E como vencer o medo na vida financeira?Simplesmente não podemos evitá-lo, mas ao senti-

-lo pare, respire bem fundo e procure trazer a realidade para seu pensamento. O medo é instinto; para combatê--lo, utilize a razão.

Como diz o apóstolo Paulo em sua carta à igreja de Corinto, “existem deuses que nos controlam pelo

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medo, no entanto o único e verdadeiro Deus nos cons-trange pelo Amor”!

10.1.2.2 Característica de SincronizaçãoPerseverança

É o motor propulsor das mudanças. A perseverança nos impulsiona não apenas a vencer as dificuldades como também a resistir aos assaltos das características desagre-gadoras que insistem em nos assediar.

Ao falarmos de perseverança, a primeira ideia que nos vem à mente está normalmente ligada à continuida-de de um esforço apesar da dificuldade. No caso de sua aplicação à vida financeira, ela está ligada ao trabalho, à força e à vontade inabalável de crer e continuar no caminho de mudança.

“Toda conquista é transitória. Esforçai-vos com persistências.”

Buda

A perseverança apenas será manifestada se a cons-ciência for despertada. Tendo realmente ciência e co-nhecimento do estado de coisas em que estamos vi-vendo, naturalmente surge um desejo irrefreável de mudá-lo. Essa vontade de tomar nosso destino em mãos nos impele a agir e a buscar alternativas para so-lucionar nossos problemas.

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Poucos neste mundo possuem o dom, o talento, ou até mesmo a sorte suficiente para tornarem-se verdadei-ramente ricos do ponto de vista material; desse modo, na falta desses atributos, o que nos resta é literalmente vencer pelo trabalho e esforço contínuos.

Perseverança, talento e sorte

Quando presente, a trilogia “perseverança, talento e sorte” leva os seres humanos a conquistas inimaginá-veis. No entanto, muito poucos mortais possuem essa receita completa.

Talento e sorte são características que possuímos ou não; são características difíceis de serem criadas.

A sorte é a sorte, é estar no lugar certo na hora certa. Um outro fator muito interessante quanto à sorte é que ela não se eterniza em nossa vida. Em outras palavras, não é porque fomos contemplados com a sorte desta vez que o mesmo continuará ocorrendo. Aliás, contar de modo sistemático com a sorte pode representar viver a vida ten-do como companheira de viagem uma margem de risco de problemas extremamente elevada. Segundo Daniel Kahneman, estatisticamente falando, existe um fator adicional o qual devemos levar em consideração quando falamos em sorte: regressão à média.

Não importa o quanto sejamos bons e talentosos, não importa o quanto a sorte se apresenta do nosso lado, o fato é que matematicamente falando todos os

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fatores tenderão a trazer os resultados para a nossa mé-dia (regressão à média)!

Se você tem sorte é bom que sua média seja alta...Isso significa que, estatisticamente falando, um dia

de muita sorte deverá ou poderá ser seguido de um dia de muito azar.

De um jeito ou de outro, talvez contar com a sorte não seja a melhor alternativa para quem for uma pessoa normal e desejar mudar sua situação financeira.

Quanto ao talento, pode-se argumentar que todos possuem algum talento, talvez até seja verdade, mas o problema é que a maior parte desses talentos não ajuda você a pagar suas contas no fim do mês. Isso posto, deve-mos focar nossa atenção na característica que depende de nossa ação: a perseverança.

É inacreditável como, há 500 anos a.C., um pensa-dor chinês foi capaz de sintetizar estas palavras:

“Escolha um trabalho que você ame e não terá de

trabalhar um único dia em sua vida.”

Confúcio

Talvez o mais inacreditável ainda seja o fato de que 2.500 anos depois, a maior parte dos seres humanos ain-da não foi capaz de seguir esse conselho.

Se, via de regra, não desempenhamos funções que nos satisfazem, o que nos impulsiona a realizá-las?

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É a perseverança que nos leva a realizar as tarefas que devem ser realizadas e que nem sempre nos transmitem prazer e satisfação.

Na verdade, o que apenas se espera é que nossa força de vontade seja suficiente para fazer o que tem de ser feito e ao que nos propusemos.

Nem tudo são dores no caminho da perseverança e do esforço, pelo contrário; o que se observa é que as di-ficuldades que se apresentam no início, com o passar do tempo e com a incorporação dos novos hábitos, tornam essas obrigações cada vez mais leves, chegando o momen-to em que não existe mais necessidade da aplicação de esforço para sua implementação.

É como na conhecida imagem do escorregador no qual um grande esforço inicial é amplamente recompen-sado ao final com uma conquista.

Figura 34

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Lembre-se:

O degrau de uma escada não serve simplesmen-te para que alguém permaneça em cima dele, destina-se a sustentar o pé de um homem pelo tempo suficiente para que ele coloque o outro um pouco mais alto.

Thomas Huxley

E como ter e manter a perseverança em nossa vida espiritual e financeira?

A perseverança deve surgir e se manter alicerçada na certeza de que a mudança é necessária; lembrar dos difí-ceis e conturbados momentos vividos que nos levaram a reconhecer a necessidade de mudança pode ajudar a manter nossa força de vontade.

Perseverar é crer sem possuir provas. É a fé inabalável que deve impulsionar nossa força de vontade e a certeza de que os resultados estão a caminho, desde que também estejamos dispostos a colaborar apropriadamente com nossos pensamentos, sentimentos e ações nesse sentido.

10.1.3 Etapa: Diagnosticar

Estamos incomodados e com problemas, no entanto temos a firme convicção de que devemos mudar e aceita-mos esse posicionamento. Agora é o momento de saber quais as raízes que originaram esse problema que nos afe-

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ta externamente através de nossos problemas financeiros e impede nosso crescimento espiritual.

Figura 35

A maior parte das razões de futuras frustrações pelo não atingimento de metas propostas no ciclo de mudan-ças possui sua origem no diagnóstico errado da verdadei-ra fonte de todo o problema

Quais experiências financeiras ruins ocorreram ou nos foram transmitidas e se alojaram em nosso subconsciente?

Quais fatores desta maluca sociedade de produção e de consumo nos afetam mais?

Por que não conseguimos controlar nossos desejos? Por que gastamos impulsivamente e compulsivamente sem controle?

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Raiva, frustração, vergonha, medo ou ódio são sen-timentos que possivelmente nos acompanham após pas-sarmos por esses episódios de descontrole. Isso nos faz muito mal e, pior, não resolve o problema. Tão logo os efeitos nocivos desses sentimentos se dissipam, lá esta-mos nós outra vez às voltas com novos gastos desneces-sários e descontroles.

Todos nós estamos sujeitos a ceder, com maior ou menor intensidade, à sedução do consumo. No entanto, se, após uma profunda reflexão de seu problema, chegar à conclusão de que seu caso trata-se realmente de uma compulsão e irrefreável, não se acanhe, procure a orienta-ção de um profissional qualificado ligado à área médica/psicológica para ajudá-lo.

Compreender e aceitar a raiz dos problemas face ao dinheiro e ao controle de suas finanças pessoais o encami-nhará para a superação de obstáculos e a solução. Iniciar o processo de mudança através do sincero reconhecimen-to das causas de seu comportamento é o único caminho para desenvolver novos comportamentos produtivos.

Compreendendo e aceitando as razões que nos le-vam a esse comportamento em relação ao dinheiro será um primeiro passo de muitos para uma mudança efetiva.

O menu de “companheiros” é simples: ou fazemos a escolha certa ou continuaremos nossa vida em um la-mentável estado de desespero conformado. A escolha é SUA! Nessa etapa, a característica de desagregação é a FALTA DE FOCO, e a característica de sincronização é a DISCIPLINA.

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10.1.3.1 Característica de DesagregaçãoFalta de Foco

Não ter foco é se perder nas dificuldades da vida. Por mais que nosso inflamado ego insista em nos afirmar que somos “privilegiados” na constância de problemas, pois tudo de ruim acontece conosco, na verdade as agruras da vida são oferecidas de maneira muito “generosa” e democrática para todos e, na maior parte das vezes, são previsíveis consequências de atos e decisões que tomamos.

Comumente a falta de oportunidades para todos de forma igualitária é citada como um dos maiores causado-res dos problemas que impendem as pessoas de avançar.

Na vida humana, é como um jogo de dados, se os dados caem com números que não nos con-vém, é preciso que a arte melhore aquilo que a sorte nos propôs.

Plauto

É claro que todos precisamos de condições dignas mínimas para iniciarmos e mantermos nossa jornada de vida; no entanto, a forma como essa informação é ma-nipulada e distorcida visando fins políticos e bélicos não passa de um entorpecente acariciador para o conformis-mo das massas utilizado com grande habilidade.

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Não acredito em cotas e distribuição de bolsas--auxílio; a experiência de países que se utilizaram desses artifícios não é positiva – ainda me recordo da traumá-tica visão ocorrida em um supermercado em Montreal (Canadá) onde uma mãe com um filho pequeno de colo passava pelo caixa seus gigantes pacotes de salgadinhos e batatinhas, que seriam banhadas em generosas porções do enorme refrigerante também sobre o balcão, tudo or-gulhosamente pago com um voucher de auxílio do go-verno canadense. Em outros países, como a França, as allocations familiales pagas pelo governo visavam ao cres-cimento da taxa de natalidade do país, mas apenas ajuda-ram a sangrar o tesouro público.

A desigualdade existe, e o remédio para seu trata-mento está na base de um sistema de saúde eficaz e de um ensino elementar/médio de qualidade aliada ao esforço de se desenvolver de cada um de nós.

Na verdade, para muitos, dificuldades e a falta de oportunidade apenas os incitam para o desafio de vencer, desenvolver o amor próprio e o desejo de provar sua ca-pacidade. Esse esforço passa obrigatoriamente pelo foco.

Períodos conturbados existem, sempre existiram e sempre existirão, independentemente de credo, raça, grau de instrução ou financeiro, todos somos iguais pe-rante as dificuldades da vida.

E o que nos faz diferentes?Nossas atitudes frente aos problemas realizam essa

assepsia de pessoas. A esse fato somaria a persistência em se manter no foco total na solução dos problemas. Esses fatores fazem toda a diferença no resultado final obtido.

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A maior parte dos motivos que impede que nosso foco se mantenha constante é fútil e superficial, é como uma espécie de fuga. Até certo ponto, isso é natural que ocorra, pois manter o foco exige raciocínio e, embora te-nhamos uma capacidade fantástica para tal, nosso cére-bro rapidamente se “cansa” dessa atividade.

Esse tema é fantasticamente abordado no livro, de Daniel Kahneman, Rápido e Devagar − Duas For-mas de Pensar no qual inúmeros exemplos demonstram como somos facilmente conduzidos por nós mesmos a conclusões precipitadas e a ilusões que juramos serem verdadeiras simplesmente por desconhecermos nossa forma de pensar.

A felicidade está determinada por fatores como sua saúde, suas relações familiares e de amiza-de, e sobretudo pela sensação de que você está no controle de como você passa o seu tempo.

Daniel KahnemanA falta de foco nos remete a um inimigo poderoso

chamado de DESPERDÍCIO DE TEMPO E ENER-GIA. Sempre é bom lembrar que não somos eternos, al-ternando nossos objetivos de um lado para o outro faz com que o tempo passe, e não vejamos resultados, com isso a força e a energia disponíveis para esse esforço se esvaziam, e no fim o que resta é apenas uma grande frus-tração com sensação de vazio.

Não ter foco reflete falta de equilíbrio e de maturi-dade, ambos sempre são acompanhados de uma boa dose

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de desorganização. Sem organização somos presas fáceis em uma sociedade alicerçada no consumo.

O foco em si de nada vale sem uma meta estabelecida associada a um planejamento factível de ser operaciona-lizado. Ser focado está associado à vontade e à disciplina.

“Foco é dizer não.” Steve Jobs

Manter o foco nos faz sentir fortes e mais seguros, confiantes de que nossa meta será alcançada.

E como vencer a falta de foco em nossa vida financeira?Realize inicialmente uma análise profunda e meti-

culosa das possíveis origens de seus problemas financei-ros, assim como nas causas de seu atolamento espiritual. A sinceridade consigo mesmo é fundamental. Aprofunde, explore e liste suas fraquezas uma a uma. Ninguém conhe-ce você como você mesmo; ainda assim, procure a ajuda de pessoas que realmente se importam com você, que não lhe darão as respostas que você deseja ouvir, mas que esta-rão comprometidas com seu crescimento e melhora como pessoa, e não terão de medo de lhe contar algumas “boas verdades” sobre você. Aceite sem contestar e reflita!

Não descanse enquanto todos os aspectos dos pro-blemas não forem verificados. Reconhecer e enfrentar seus problemas é fundamental para a posterior elabora-ção de um plano coerente de ação para resolvê-los.

Para não ficarmos perdidos em nossos pensamentos divagando de um tema para outro sem encontrar a raiz de nossos problemas, é necessário disciplinar-se.

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10.1.3.2 Característica de Sincronização Disciplina

A palavra DISCIPLINA possui a mesma etimologia da palavra discípulo, que significa “aquele que segue”, desse modo podemos expressá-la como a capacidade de apren-der com o exemplo respeitando regras ou ordens da vida.

Uma vez que exista um comprometimento assumi-do, a disciplina é a competência que não nos permitirá esquecê-lo. É ela que nos propiciará trilhar o caminho com segurança em direção à nossa meta preestabelecida.

A importância da disciplina advém do fato de que as coisas não são fáceis, embora aparentemente sejam sim-ples. Na verdade, podem se tornar simples por meio de nossa ação contínua, constante e coordenada, e é exata-mente nesse ponto que a disciplina é nossa maior aliada.

Muitas vezes, ao mencionarmos a palavra disciplina os primeiros sentimentos e lembranças que nos vêm à mente são de algo rígido, militar, de completo contro-le de nossos pensamentos, perda de liberdade e ausência de criatividade. Mas não é bem assim! Somente através da disciplina de nossos atos e ações poderemos ascender a patamares não antes imaginados de disponibilidade e otimização de tempo, e exatamente essa quantidade de tempo adicional permitiria desenvolver nossa criativida-de, assertividade e liberdade para a criação.

Geralmente, o melhor a fazer não é o que nossa vonta-de nos pede, mas o que precisa ser feito. A disciplina é como aquele funcionário dos tempos de escola que sempre nos re-preendia nos intervalos por nossas atitudes, o qual normal-

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mente chamávamos de “chato”; no entanto, hoje nos lem-bramos dele com carinho e respeito e reconhecemos que, talvez, sem sua atuação não seríamos parte do que somos.

A disciplina é uma atitude, uma maneira de com-prometimento assumido consigo mesmo, é ela que nos distancia do sonho e nos aproxima da realidade.

A grande dificuldade é implantar a disciplina, pois nor-malmente estaremos introduzindo em nosso dia a dia tare-fas, pensamentos e ações que não faziam parte do “roteiro”.

No entanto, com força de vontade, somos todos capazes de enfrentar e vencer essa resistência interna inicial (afinal, fo-mos nós mesmos que nos propusemos a realizar a mudança).

Em um processo de mudança, a disciplina é uma característica que nos assegura que nunca sairemos iguais a quando entramos. Caso a disciplina que nos propuse-mos a operacionalizar faça parte de nossa vida, nos sen-tiremos ainda mais fortes e vitoriosos. Porém, caso fra-cassemos em nossa proposta, o sentimento normalmente será de culpa e fraqueza.

Estamos em meio a terrível passagem entre o mun-do da escassez para o mundo da abundância comedida; a disciplina será o leme que conduzirá nosso barco por essas águas traiçoeiras do mercado de consumo.

Você se predispôs a mudar, e com esta mudança existe algo a realizar...

Como disciplinar nossa vida espiritual e financeira?Compreenda profunda e meticulosamente as possí-

veis origens de seu problema, isso exigirá todo seu foco e disciplina. Crie hábitos sadios que envolvam suas finan-ças e sua vida espiritual, gaste o que tem, ore e reflita.

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Independentemente de nossos devaneios e ilusões, os números são sempre capazes de nos trazer à realidade dos fatos. Colete todas as informações disponíveis sobre seus rendimentos e despesas, distribua-os mensalmente em uma planilha ou livro-caixa. Números apresentados de maneira clara e verdadeira demonstram como ocorre a dinâmica de nossas finanças pessoais e constituem ferra-mentas poderosas na busca da visualização e da compre-ensão de nossa realidade.

O modo como essas informações estão apresenta-das na planilha ou no livro-caixa deve ser elaborado por você, pois neste estágio é fundamental a criação de um sentimento de propriedade de tudo aquilo demonstrado pelos números. Adicionalmente, com o passar do tempo, esses demonstrativos espelharão seu processo de aprimo-ramento e a evolução de seus controles.

Os bons hábitos de disciplina tornam-se ações não pensadas incorporadas naturalmente ao seu modo de vida, no entanto, até que sejam automáticos, sua vida deve ser duramente condicionada a eles.

Como quando ao se abraçar uma nova fé ou crença, no início, é necessária uma vontade “de ferro” e uma dis-ciplina “espartana”, mas o objetivo é evidente: encontrar as raízes e as origens de seus pensamentos que, reverten-do-se em sentimentos, desembocam em ações que refle-tem toda a problemática na qual você se encontra.

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10.1.4 Etapa: Planejar

Já sabemos o que nos incomoda, seu impacto sobre nossa vida, e decidimos firmemente mudar. É chegado o tempo de estruturar como vamos agir e estabelecer nossa meta. Devemos sempre nos lembrar de que meta é OB-JETIVO, com passos e prazo de execução. Quem falha ao planejar está planejando falhar!

Figura 36

Esse é um momento crítico, pois normalmente temos uma tendência natural de relaxamento após desco-brirmos a razão de nossos problemas. Seria você mais um

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a ficar preso nessa armadilha? Então escolha sabiamen-te seu “companheiro”. A característica de desagregação nessa etapa é a ACOMODAÇÃO, e a característica de sincronização é a ORGANIZAÇÃO.

10.1.4.1 Característica de DesagregaçãoAcomodação

Todos aqueles que não possuem uma meta (seja es-piritual ou material) em sua vida têm uma fortíssima ten-dência a cair nas malhas da acomodação.

Independentemente do nível financeiro ou desen-volvimento espiritual de cada um, todos os seres huma-nos foram concebidos para evoluir, mudar e adaptar-se a novos desafios.

Acomodar-se é deixar de viver, é aceitar passivamen-te o que a vida lhe oferece sem lutar; não falo de luta armada, mas no sentido de desafiar, de ultrapassar seus limites sentindo-se plenamente vivo.

Existe uma grande diferença entre os momentos em que devemos ter paciência e acreditar que as mu-danças necessárias estão em andamento, e que é apenas uma questão de tempo para que ocorram, e os momen-tos nos quais devemos atuar para promover efetiva-mente tais mudanças.

Peço a DeusCoragem para mudar tudo aquilo que pode e deve ser mudado,

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Paciência para suportar tudo aquilo que deve-ria ser mudado mas ainda não o pode,E sobretudo Sabedoria para discernir quando devo usar paciência e quando devo usar coragem.

Reinhold Niebuhr

O oposto da acomodação não é a insatisfação, muito pelo contrário; na maioria dos casos, quando a vida já está caminhando a contento, o propulsor a não acomodação é buscar um eterno sentimento de desconforto reflexivo que impulsionará a novos conhecimentos e desafios.

Esse desconforto não reflete ingratidão pelo que possuímos, ele reflete agradecimento, humildade e, ain-da, uma dose de acomodação (mas na medida certa). Ser grato é um estado de espírito altamente elevado do ser humano. A acomodação pode até ser uma característica humana, mas a gratidão é divina.

Então, não há desculpa cabível para a acomodação, aceitá-la é como vegetar, é como o preâmbulo da morte para o ser humano.

O dito popular transmite que “os incomodados que se mudem”, mas na verdade o que ocorre hoje é que os in-comodados realizam a mudança dos acomodados (ou me-lhor, os convidam a fazê-la) ou não haverá espaço para eles.

Ainda que o convite à acomodação pareça muito sedutor mesmo para quem está satisfeito com a vida, o dever é se autodesafiar a refletir sobre o mundo no qual está inserido e as constantes mudanças a que está sujeito,

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pois nada é estático. Percebendo-as ou não, as mudanças estão constantemente ocorrendo e é apenas uma questão de tempo para que impactem em nossa vida, se as acom-panhamos e agimos elas serão positivas, caso contrário teremos de contar com a sorte.

E como eliminar a acomodação de nossa vida fi-nanceira?

Com muita organização e força de vontade para expandir e aceitar o incômodo que reina em nosso in-terior, direcionando-a para uma meta preestabelecida. Esse fator é sobretudo importante quando nossa vida financeira encontra-se desorganizada e com dívidas a saldar. Às vezes, um grande revés é suficiente para nos sacudir da acomodação, outras vezes não; em todo caso, não devemos ficar esperando pelo pior para ver o que vai acontecer...

O momento é agora, organize-se!

10.1.4.2 Característica de SincronizaçãoOrganização

A primeira e imediata reação à desorganização é o desperdício de tempo; há também uma grande sensação de frustração e desorientação. Atualmente está compro-vado que quem desperdiça o tempo também faz o mesmo com seus rendimentos.

Quem está desorganizado não tem condições de sa-ber “onde está”, quem não sabe onde está não pode, auto-maticamente, saber como fará para chegar “aonde quer”!

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A organização no senso financeiro não se resume apenas a uma planilha de controle, ela na verdade está muito mais ligada a um modus operandi, uma clareza e lógica de raciocínio, saber onde as coisas se encontram e tirar o melhor proveito possível desse conhecimento.

No campo espiritual, organizar-se é alimentar sua fé; é procurar ver, mesmo em um mundo caótico, a presença e a ação de Deus, independentemente de sua religião ou crença.

Ainda me recordo de um caso em que incorporar os princípios da organização ajudou-me bastante.

Se existe algo que aprendi no mundo coorporativo é que quando uma grande corporação para a qual você está trabalhando decide implantar um novo software de controle, o melhor que se tem a fazer é estar entre os primeiros a adotá-lo. Embora as dores de cabeça iniciais e maus funcionamentos sejam extremamente irritantes, os resultados após a implantação são surpreendentemente positivos. Nesse caso não foi diferente.

Apesar de achar que sou organizado, eu tinha uma grande dificuldade de coordenar e arquivar todas as men-sagens e controles que recebia das filiais espalhadas pelo mundo, assim como despendia um tempo enorme com aprovações e discussões com o departamento financeiro.

Uma vez que o novo software (CPP era o nome do “monstro”, e o significado dessa sigla me recuso a com-partilhar neste livro!) se propunha exatamente a organi-zar e controlar os arquivos e a obter uma aprovação quase automática do departamento financeiro (as solicitações

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eram corretamente enviadas pelo sistema), entendi a oportunidade como muito positiva e, por que não, uma excelente ocasião de fazer a política da boa vizinhança com meu chefe (um dos “pais da criança”) sendo o pri-meiro a adotar o novo sistema.

Um fator importante ao mudar um sistema é fazê--lo de uma vez! A data é hoje, e o momento agora, o passado depois veremos. E foi o que fiz. Ainda me lem-bro das dores de cabeça com os bugs, das dificuldades de armazenamento e organização das informações, em especial quando o sistema também englobou os con-tatos com os clientes... O resultado parecia totalmente insano. Mas após alguns meses de “terríveis” esforço, organização e disciplina, o que posso dizer: eu possuía a maior e mais bem controlada carteira de clientes do departamento, com contatos com o maior número de filiais, excelente relacionamento e elevadíssimo nível de aprovação de solicitações com o departamento fi-nanceiro (na verdade, “controle de gestão” para os ínti-mos!), e pasmem: passei a sair pontualmente às 17h30 praticamente todos os dias! Para finalizar, chamavam--me de “Monsieur CPP”! (Nem todas as histórias têm um final feliz!)

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Figura 37

À medida que a organização começa a fazer parte de nossa vida, um ponto com o qual no deparamos é a VERDADE. A “verdade nua e crua” dos números e dos fatos. Por outro lado, isso não deveria ser uma grande surpresa, pois, ao diagnosticarmos inicialmen-te nossos problemas, já a tínhamos praticamente como conhecida, nesse caso estamos apenas nos defrontando com ela na realidade.

Passadas as resistências iniciais de implantação de um processo organizacional, este deverá acompanhar-nos em nossa vida financeira de maneira tão sistemática que não mais percebamos sua presença, apenas sua ausência.

Um aspecto fundamental da organização em econo-mia é o fato de que as pessoas organizadas gastam mui-

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to menos e melhor o dinheiro do que as desorganizadas. Para isso, basta refletir um pouco na grande quantidade de gastos adicionais a que poderemos estar sujeitos por não nos organizarmos direito. Passagens e reservas de ho-téis de última hora custam, via de regra, muito mais caro; pequenas manutenções do carro ou em casa que, se não realizadas, tornam-se fonte de grandes dores de cabeça; contas pagas com atraso são passíveis de juros exorbitan-tes; a lista continua e é bastante longa.

Ser organizado é uma necessidade absoluta para salvar suas finanças pessoais, salvo se seus rendimentos são tão grandes quando comparados a suas despesas que os custos adicionais da desorganização não o afetam; se fosse este o seu caso, não acredito que estaria lendo este livro. Mesmo assim, vivemos em uma era de incertezas, e o desperdício não deve fazer parte da vida de nenhum ser humano consciente.

“Com organização e tempo, acha-se o segredo de fa-zer tudo e bem feito.”

Pitágoras

Tirou? Ponha no mesmo lugar!

Meu filho mais novo é um primor da rapidez e da eficácia em raciocínio e... desorganização! No fim do ano letivo, é o aluno que, no caminho da escola para casa, pega seus cadernos escolares incompreensíveis, cheios de

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rabiscos e em deplorável estado de conservação, e os vai jogando dentro dos lixos públicos.

Quando deixado sem acompanhamento, confunde os dias de prova, matérias a estudar, enfim, seu material é uma bagunça (quando pode ser encontrado), nem a agenda ele utiliza, pois todas as informações estão “orga-nizadas em sua cabeça” segundo ele (de uma forma que nem ELE entende!).

Como logicamente suas notas escolares refletiam sua organização pessoal, passamos a um trabalho “corpo a corpo” com o jovem, uma lavagem cerebral de deixar qualquer educador contemporâneo “de cabelos em pé”, mas funcionou. Para tudo relacionado à escola o lema adotado foi: TIROU? PONHA NO MESMO LUGAR! Todo o tempo e o tempo todo a frase foi – e ainda é − repetida ao meu filho. Hoje seu material escolar está to-talmente organizado em uma grande gaveta, sua agenda é preenchida e verificada diariamente e seu calendário de provas está religiosamente fixado em um quadro de aviso em nosso escritório.

Resultado: ele ainda continua relapso com seus brin-quedos, e seu armário de roupas é um terror; todavia, sua vida escolar é organizada e suas notas melhoraram bastante!

O esforço requerido para transformar uma pessoa desorganizada em organizada praticamente correspon-de a realizar uma transmutação de um metal comum em ouro, digna dos mais brilhantes alquimistas. Deste modo, uma alternativa para implementar aos poucos essa mudança é manter o foco da organização totalmente di-

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recionado para as finanças pessoais, pois, nesse caso, não é uma opção, mas sim uma necessidade absoluta.

Se você atingiu esse ponto, provavelmente as carac-terísticas de sincronização, como a consciência, a perseve-rança e a disciplina, estão se instalando como hábitos em sua vida, desse modo não será a falta de organização que evitará sua chegada à meta, não é mesmo?! E não vamos deixar um menino com 12 anos de idade, como é o caso de meu filho, deixar-nos para trás!

Então, focalize a organização em sua vida financeira e organize-se!

Organizar-se é como ser possível ver através da ne-blina que está à nossa volta em uma estrada; torna a via-gem mais tranquila e menos estressante; possibilita que tomemos as decisões mais corretas e seguras.

Somente a organização nos permite realizar tarefas de maneira coordenada, com um objetivo preciso e den-tro do tempo certo. As ideias fluem com maiores clareza e rapidez, ficamos muito menos a mercê de interferências de frequências que apenas confundem nossa mente.

E como organizar nossa vida espiritual e financeira?As suas informações de rendimentos e despesas alo-

cadas de maneira disciplinada em uma planilha ou livro--caixa fornecerão um retrato fiel de parte do filme que está em cartaz e reflete o melodrama de suas finanças pessoais. Muitas informações devem ter lhes saltado aos olhos, demonstrando um desequilíbrio entre os valores recebidos e os gastos e onde, de modo sistemático, esses problemas estão ocorrendo.

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De modo organizado e prático, devemos decidir por um plano de ação para cada problemática apresen-tada. Esse plano deve ser claro, com objetivos numéri-cos e temporais para sua efetivação, ou seja, as despesas X, Y e Z deverão ser cortadas ou reduzidas a valores M, N e P a partir do mês F.

O modo pelo qual a organização é implantada deve obedecer estritamente às necessidades e às metas especí-ficas de cada um.

Apesar da aparente falta de sensibilidade dessas duras e necessárias ações, elas apenas serão implementadas por meio do lado espiritual da organização, a CONFIANÇA.

Todas as mudanças requerem não apenas esforço, mas também cooperação no meio familiar; nesse senti-do, o modo e a organização com que os fatos e necessi-dades são apresentados à família transmitirão segurança a todos nesse momento tão delicado. A segurança será o mensageiro da confiança que deve ser estabelecida no ambiente familiar. A mensagem deve deixar claro que: algo está errado e deve ser mudado; sabemos como efe-tivar essa mudança e quanto tempo levará para se ob-ter a solução. Estas deverão ser palavras acalentadoras, transmissoras da confiança, da paz e reforçar a fé em que “dias ainda melhores virão”.

Por essas razões, eis a importância de se estabelecer um plano realizável, com metas factíveis, e não ilusórias, e sobretudo que jamais destruirão os elos de confiança estabelecidos com sua família.

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10.1.5 Etapa: Executar

Embora aparentemente seja fácil, este é o momento das “dores do parto”, é quando a mudança começa a ser operacionalizada. É muito importante lembrar-se de que quem estipulou as metas a serem cumpridas foi VOCÊ. Executar é uma arte que requer a maestria e a harmonia de uma orquestra sinfônica.

Figura 38

Um dia perdido na execução de nossos planos torna--nos ainda mais frágeis diante do problema, além de pos-

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sivelmente potencializá-lo. Se o remédio é amargo, vamos ingeri-lo rápida e eficazmente. Você não será “mais um” a ficar preso nesta armadilha, ou será? Então escolha sabia-mente seu companheiro. A característica de desagregação nesta etapa é a PROCRASTINAÇÃO, e a característica de sincronização é o PRAGMATISMO.

10.1.5.1 Característica de Desagregação Procrastinação

O que eu faria se um dia eu fizesse?Esse é o hino entoado em alto e bom som por todos

aqueles que estão sempre prontos a criticar: os inovado-res, os que não deixam passar oportunidades, os que bus-cam sempre melhorar, os que não aceitam a vida como ela é, os que lutam e buscam aprender e melhorar com humidade, honestidade, disciplina e determinação.

Nossas ações sensatas acompanham-nos atra-vés da vida para nos dar prazer e ajudar-nos. Do mesmo modo, nossas ações insensatas nos se-guem para nos causar prejuízos a atormentar--nos. Ai de mim, elas não podem ser esquecidas. Na primeira fila dos dissabores que nos perse-guem estão as recordações das coisas que devía-mos ter feito, das oportunidades que vieram até nós apenas para testemunhar nosso pouco caso.

George S. Clason

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A vida é uma formadora de intermináveis hábitos. Quanto mais nos sentimos oprimidos e incomodados fi-nanceiramente, e nada fazemos, com o tempo, mais esses sentimentos em si também se tornam hábitos que nos deixam ainda mais despreparados para tomarmos uma posição e executarmos o que deveria ser realizado.

Quantos anos se passaram sem que você tenha dado seu primeiro passo rumo a uma mudança finan-ceira verdadeiramente pouca relevância tem; no entan-to, quantos anos ainda passarão para que isso ocorra é fundamental para seu futuro.

A maior parte das pessoas de sucesso estão sempre a par dos fatos e prontas para agir, tomam decisões rapida-mente e, ao perceberem a necessidade de algum reajuste de rumo, o fazem lenta e calmamente. Já aqueles mal pre-parados para encarar os fatos e decidir, demoram muito para fazê-lo e, normalmente, quando mudam sua direção o fazem rápida e frequentemente.

Todos nós temos uma forte tendência em ouvir opiniões para tomarmos decisões. Embora pareça muito razoável escutar outros pontos de vista, um cuidado é pri-mordial quanto a “quem” escolhemos para ouvir. Nesse aspecto, o fundamental é apoiar nossa escolha em pessoas que possuam legitimidade para fazê-lo, que conheçam o tema em pauta com o detalhe e a profundidade neces-sários, assim como obrigatoriamente sejam indivíduos focados, estejam realmente interessados em auxiliar-nos de modo imparcial e que tenham uma verdadeira preo-cupação conosco e com nosso bem-estar.

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Como cita Napoleon Hill, “opiniões são a mercado-ria mais barata da face da Terra”. Normalmente, o saber verdadeiro e a legitimidade estão mais presentes no silên-cio e na modéstia do que nos discursos mais eloquentes e nos currículos mais impressionantes.

A procrastinação parece um inimigo fácil de vencer, afinal depende apenas de nós mesmos se efetivamente re-alizarmos o que propormos. E aí é que está exatamente o problema. Algumas das dificuldades para ultrapassar a procrastinação estão na preguiça de começar, nos traços de nossa personalidade e no medo de falhar.

Vencer a preguiça não é tão simples, pois na verda-de ela está ligada à nossa acomodação e talvez à própria complexidade da tarefa a ser realizada. A procrastina-ção é amiga da acomodação. Para que mudar para algo ou de posicionamento se, afinal, é melhor algo ruim (mas conhecido) do que desconhecido!? Nesse caso, devemos dividir essa tarefa em partes e nos impor pe-quenos objetivos periódicos. Não há outra saída para a acomodação: ou nos obrigamos a realizar a tarefa de modo remediável, ou seremos obrigados a fazê-la quan-do já for tarde demais.

A personalidade de cada um é muito difícil de ser alterada, no entanto praticar mudanças de hábitos de forma consciente, perseverante, disciplinada, pragmática e organizada ao longo do tempo conduzem a resultados surpreendentes.

Quanto ao medo de falhar, este é natural em todas as atividades que acompanham os seres humanos e de-

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monstra falta de confiança em si mesmo. Nesse momen-to, o melhor a fazer é refletir que, caso a falha ocorra, as coisas continuarão como estão; mas em caso de sucesso, grandes benefícios serão obtidos.

As oportunidades, hoje, estão ao nosso lado; ama-nhã, quem sabe? Vivendo no presente e com perspectiva no futuro é sensivelmente mais fácil visualizá-las.

E como vencer a procrastinação em nossa vida fi-nanceira?

Não seja “mais um”, nos almoços de domingo em família ou no bar com os amigos, a proclamar o que faria se um dia fizesse. Faça agora!

10.1.5.2 Característica de SincronizaçãoPragmatismo

Se existe uma palavra que resume de maneira adequada e, por que não, “pragmática” o pragmatis-mo é a PRATICIDADE.

“Saber não é suficiente, é preciso aplicar. Boa von-tade não é suficiente, é preciso fazer.”

Johann Wolfgang von Goethe

O pragmatismo é uma vertente filosófica, nascida nos Estados Unidos, principalmente alicerçada na não aceitação do fatalismo e na certeza inflexível de que ape-

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nas a ação inteligente do ser humano é capaz mudar o modo de ser de cada um. O sentido prático é fundamental para a caracterização da verdade.

A inteligência deve ser compreendida pela lógica dos atos e sua praticidade. Assim, como esses atos apenas se justificam, conduzem com extrema rapidez a solução de seus problemas.

Torna-se verdade o que é útil.Então sejamos práticos: Você sentiu-se incomoda-

do? Estudou o que estava acontecendo e apresentou a si mesmo um diagnóstico? Com base nessa conclusão, pla-nejou uma meta? EXECUTE-A!

E como operacionalizar o pragmatismo em nossa vida espiritual e financeira?

Seja prático, não complique as coisas. Espiritualmente falando, você sabe o que é certo, então faça dessa maneira!

10.1.6 Etapa: Verificar

Verificar é uma tarefa importante para todo o processo de mudança. É o momento exato no qual nos deparamos com o resultado de todo o esforço desprendido até então.

Constitui-se da etapa na qual, segundo os bons re-sultados obtidos, todas as demais forças de sincronização são reforçadas e todo o ciclo de mudanças passa a ocorrer de modo cada vez mais automático. No entanto, se os resultados são negativos, teremos de encontrar um meio de relançar nossas energias e reavaliar os erros cometidos.

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Figura 39

A verificação pode ser considerada uma etapa um pouco enfadonha, mas é a única maneira de avaliarmos a efetividade do planejamento traçado em relação às metas estabelecidas. A característica de desagregação na etapa de verificação é a ANSIEDADE, e a característica de sin-cronização é a PACIÊNCIA.

10.1.6.1 Característica de Desagregação Ansiedade

A ansiedade, dependendo das circunstâncias e da in-tensidade, pode ser considerada normal para os padrões

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de vida atuais e, desse modo, apresenta um lado positivo, pois nos impulsiona a agir. No entanto, seu excesso geral-mente nos torna imóveis diante da dificuldade.

Essa dose anormal de ansiedade é um mal de uma sociedade doente; sociedade essa que cresceu em ta-manho, complexidade e tecnologia, no entanto, infe-lizmente ao que parece, o ser humano pouco ou qua-se nada mudou. Uma prova factual disso são todos os arquétipos encontrados nos grandes livros sagrados de diversas religiões que nos transmitem ensinamentos tão atuais como milênios atrás.

Por muitos considerada “falta de fé”, a ansiedade deve ser compreendida como uma consequência óbvia de nossa era, que agrega impaciência e egocentrismo.

Figura 40

Bons tempos em que colocávamos Deus, o Sol ou a Terra como centro do Universo. Atualmente, o egocen-trismo, embora seja uma teoria pouco aceita abertamente

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por todos, é certamente a mais praticada. Desse modo, fica muito clara a disseminação da ansiedade em nossa era.

A ansiedade é um distúrbio cada vez mais arraigado na sociedade, que prega o sucesso e a vitória. Essa doença (mal-estar físico e psíquico) é caracterizada pela presença constante de preocupações e estresse.

Pode até parecer exagero a ênfase dada a esse tema, mas uma rápida busca em sites especializados e blogues na internet pode revelar que não são poucas as pessoas que sofrem com isso. Os sintomas vão da irritabilidade e inquietação à dificuldade para dormir. Afinal, quem pode dormir sem saber se estará à altura dos compromissos fi-nanceiros assumidos? Somente os desavisados do perigo, os “sem controle, sem consciência e sem responsabilidade” o farão, mas até despencarem para sua realidade financeira, e nesse momento a ansiedade os estará esperando à espreita.

Não seria mais fácil conduzir nossos melhores esforços para a solução de nossos problemas e, então, deixar que Deus, a natureza, o destino ou os aconte-cimentos em si terminem o trabalho que começamos diligentemente até o limite?

E como vencer a ansiedade em nossa vida financeira?Quando deparado com algum problema financeiro

inesperado, manter-se calmo, não agir de modo precipitado; normalmente esse tipo de ação complica mais as coisas. Procure analisar o acontecimento por diferentes aspectos e conversar com pessoas que entendam o problema e se im-portem com você (geralmente, são aquelas que dirão o que deve ser dito, e não o que gostaríamos de ouvir).

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10.1.6.2 Característica de SincronizaçãoPaciência

Jamais deve ser associada à inação.Jamais deve ser associada à espera em que nada se

realiza.Jamais deve ser associada à contemplação.Ela é ativa e vai ao limite das ações de nossa exclusiva

e total responsabilidade. É “a cereja do bolo”, o desfecho e o recomeço do ciclo contínuo de mudança.

Paciência é uma virtude, palavra originada no latim pati, que significa sofrer, capacidade de sofrer na busca de um objetivo maior.

A paciência se traduz na arte de fazer o que deve ser feito, é quando os frutos do trabalho proveniente de todo o processo de mudança são acompanhados calmamente.

A impaciência e a ansiedade nos desarmam diante dos obstáculos, e desistimos de nossas metas. Responde-mos à derrota com irritação e raiva e, desse modo, atra-ímos para nós hostilidade. No entanto, a paciência en-frenta os obstáculos simplesmente na confiança de que sua meta será atingida.

No passado, nas minas de carvão, os mineiros uti-lizavam um canário para detectar a presença de gases tóxicos que possivelmente pudessem ser exalados nas escavações. A sensibilidade da ave, muito superior à dos humanos, pressentia rapidamente qualquer perigo e, naquele momento, ela mudava drasticamente seu com-portamento e parava de cantar.

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A paciência é como o canário de nossa mina finan-ceira: será ela, através do constante e detalhado acom-panhamento dos resultados, a responsável por soar o alarme de perigo caso as coisas não estejam caminhan-do de forma alinhada com nossa meta. Enquanto a paciência estiver presente, convivendo com as demais características de sincronização, não haverá razão para nosso canário parar de cantar! Citando um provérbio chinês: “Um momento de paciência pode evitar um grande desastre. Um momento de impaciência pode arruinar toda uma vida”.

A paciência nos faz respeitar os procedimentos e controles que possibilitam acompanhar os resultados ob-tidos e canalizar todo o esforço que está sendo dispendi-do de maneira eficaz e segura.

Todo o ciclo de mudança ocorre na forma de um fil-me em que acontecimentos e mais acontecimentos vão se sucedendo; a paciência permite que periodicamente tire-mos “fotografias” para visualizar o que está ocorrendo e, assim, possamos comparar o que vimos na realidade dos números com o posicionamento que era esperado para aquele momento em nosso planejamento. Desse modo, pacientemente, as mudanças e correções necessárias vão sendo implementadas.

Ter paciência não é apenas saber esperar ativamente e realizar os controles necessários, mas também é saber perdoar ao outro e a SI PRÓPRIO.

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Aprenda a se perdoar

Ouve-se com frequência: “O que está feito, está fei-to!”. Autodestruição e compaixão de si mesmo não resol-verão o problema. Se o caminho do equilíbrio espiritual e material que você desejou trilhar é o da CONSCIÊNCIA FINANCEIRA, seja confiante, as coisas vão se acertar!

Perdoar-se por tudo o que devia ter feito, e não fez, assim como pelas ações que realizou erroneamente faz parte do processo de aprimoramento. Não devemos ficar presos ao sentimento de remorso, pois com isso perdemos o foco em nosso dinamismo. Depois que os fatos ocor-reram, é muito fácil dizer: “Eu sabia que isto iria acon-tecer”. Deixando os grandes palpiteiros “pseudovidentes especialistas econômicos” de plantão em paz, todos sabe-mos que NADA SABEMOS sobre o que acontecerá no futuro... Na verdade, achamos que sabíamos!

Mais uma vez citando Daniel Kahneman: “[...] os sinais estão escritos em uma tinta invisível que só se torna legível após o ocorrido. Tudo faz sentido quando visto em perspectiva”

Se soubéssemos mesmo dos fatos antes de cometer erros, ou somos loucos, ou damos pouca importância aos nossos sentidos − para ambos os casos, o manicômio seria uma boa opção! Para pessoas “normais”, o que resta é um gerenciamento dos riscos (vide no capítulo 8 o item Risco e Margem de Segurança”). Na verdade, analisar os fatores positivos e negativos, as ações e reações e ACHAR uma opção para nossos próximos passos é o que podemos fazer.

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Caso nosso “achômetro” esteja errado, ao menos re-alizamos um estudo prévio do tema, e nossa margem de risco evitará que o erro não se transforme em desastre.

“Aquilo que não me mata me fortalece.”

Friedrich Nietzsche

Tenho ainda muito viva na memória minha parti-cipação como sócio em um empreendimento de bar e restaurante, no interior de São Paulo. Originalmente o projeto, acompanhado de um glamoroso business plan, apresentava-se como uma máquina de lucros e um pro-jeto de expansão ambicioso para franquias, que, no fim, através de uma administração desastrosa, revelou-se uma grande draga de fundos financeiros.

Não foi fácil para mim ver ruir um ano de economias tão duramente conquistadas, mas fazer o quê? Na ocasião, medi os possíveis benefícios e riscos, utilizei uma margem de segurança e entrei como sócio minoritário, embora acre-ditasse no negócio. Fiz o que pude para ajudar, embora, por ser minoritário, poucas vezes meus conselhos fossem ouvidos. Após a perda financeira efetivada, grandes lições foram aprendidas. Duas delas compartilho com vocês:

• Jamais faça sociedade, pois seus futuros sócios, mesmo que sejam pessoas honestas e de boa ín-dole, dificilmente compartilharão dos mesmos princípios financeiros que você.

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• Jamais faça sociedade, pois algumas dívidas, mesmo sendo você o sócio minoritário, podem ser de sua integral responsabilidade.

Como, então, a paciência pode vir a fazer parte de nossa vida espiritual e financeira? Por favor, repita isto de maneira consciente (calma e pausadamente):

Be mindful...Be kind... be kind... be kind...Be kind to yourself... be kind to the other...Be kind... be kind... be kind...Be patient... be patient... be patient...*

Palavras do mestre Losang Samten. Simples, não?!

*Ser consciente... / Ser gentil... ser gentil... ser gentil... / Ser gentil para consigo mesmo... ser gentil para com os outros... / Ser gentil... ser gentil... ser gentil... / Ser paciente... ser paciente... ser paciente...

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11 AINDA, ALGUNS CONSELHOS

Para todos aqueles que se decidem por mudar a re-alidade financeira, adicionalmente existem alguns fato-res fundamentais presentes durante todo o CICLO DE MUDANÇAS, são eles: o tempo, os juros compostos e uma vida simples.

Embora, quando estamos endividados e perdidos financeiramente, o tempo e os juros compostos estejam eficazmente trabalhando contra nós alimentando nos-sas dívidas e reduzindo os prazos de pagamento, mas, mediante uma sólida evolução do ciclo de mudanças, eles mudam o lado de atuação, transformando-se em aliados poderosos na busca de nossa estabilização fi-nanceira. Já uma vida simples, porém confortável, sem-pre será uma sábia companheira independentemente de nossa condição financeira.

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Uma reflexão de cada um desses fatores nos per-mitirá antever algumas dificuldades e facilidades que propiciarão uma melhor conscientização das mudan-ças ocorridas.

11.1 O Tempo

Embora o tempo tenha um valor inestimável, mui-tos de nós o tratamos com extrema displicência.

Nos primórdios da humanidade, praticamente to-dos os atos e pensamentos do homem eram alinhados com os ciclos de tempo da natureza e das estações; vivia--se em total harmonia com o mundo.

Atualmente, a realidade é sensivelmente diferente. Muito poucos dentre nós têm o direito de mudar sua rotina em razão da chuva ou do sol, por exemplo. Somos paradoxalmente obrigados a seguir um fluxo de tempo imposto a nós por nós mesmos!

Uma grande utopia: o homem, senhor da cadeia alimentar e o melhor que a evolução, baseada na sele-ção natural, pode proporcionar, é vítima de seu próprio calabouço de tempo.

Nosso relógio biológico é desrespeitado em prol de uma contagem de tempo puramente artificial recheada de compromissos, telefonemas, mensagens e reuniões, muitas vezes, que vêm não se sabe de onde e, via de regra, nos levam a lugar algum. O tempo é desconcertante. Não queremos que ele passe rapidamente, mas somos ávidos pela chegada da sexta-feira.

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Todos queremos adquirir SABEDORIA, mas pou-cos aceitam ENVELHECER.

Como a areia de uma ampulheta, o tempo escoa de uma forma ou de outra, bem aproveitado ou não. A maior parte dos seres humanos não se atenta para o fato de os finos grãos de areia do tempo escoarem entre suas mãos.

Não nos damos conta de que nossa vida percorre a estrada do tempo dividida em grandes períodos distintos, cada um com sua característica específica para os quais insistimos em agir e esperar resultados da mesma maneira.

No caso de nossa realidade financeira não é dife-rente. Uma vez que pouquíssimos dentre nós tiveram à sua disposição, ou desejaram receber, ensinamentos que propiciassem um melhor conhecimento sobre o tema, agimos da mesma maneira em relação a ela ao longo de diferentes fases da vida.

Na juventude, parece não ter fim o número de livros que ainda poderemos ler, filmes e concertos aos quais po-deremos assistir e viagens que poderemos realizar. Já, a partir de determinada idade, a vista fraqueja, os filmes e notas musicais parecem apenas um novo arranjo de te-mas repetitivos e, caso a saúde ainda permita, em nossas viagens passamos a pensar que “talvez nunca mais volte-mos a ver tal lugar” ... Mas nem tudo é tão ruim com a chegada da idade. Se existir reflexão, o sabor e a profun-didade da vida são muito diferentes da arrogância e do desperdício com o qual os jovens tratam o tempo.

Na juventude, parece ainda ser cedo demais para pensar sobre o futuro financeiro, e de repente tudo pare-

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ce estar perdido. Estaria o tempo passando de modo di-ferente? Embora possa não parecer, o tempo passa através de nossos olhos sempre na mesma cadência. O que muda é nossa percepção sobre ele.

Mesmo uma vida impulsionada por rendimentos cada vez maiores, mas descontrolada como apresentada na Espiral de Consumo (veja capítulos 5 e 6), pode estar nos conduzindo a uma armadilha da qual apenas nos da-remos conta ao primeiro sinal de quebra da continuidade de recebimento de nossos rendimentos.

Uma vez que o tempo urge, nada melhor do que começarmos o quanto antes a nos conscientizarmos de nossa realidade financeira e a buscarmos os sentimentos desconfortáveis que serão os propulsores do início do ci-clo de mudanças. Em um estado de descontrole finan-ceiro e endividamento, o tempo apenas faz com que os problemas se agravem exponencialmente.

Uma vez iniciado o ciclo de mudanças, o tempo é um grande aliado em todas as etapas a serem vencidas.

“A maioria das pessoas superestima o que se pode fazer em um ano e subestima o que se pode fazer em uma década.”

Tony Robbins.

Nossos rendimentos são como o teclado de um computador: as letras (e números, e símbolos) estão to-das dispostas e disponíveis para nossa utilização; cabe a

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cada um de nós utilizá-las e reorganizá-las com sabedoria e discernimento, de modo a criar mensagens que nos re-confortem, fortaleçam, edifiquem e impulsionem a um futuro melhor. Para isso, o tempo de aprendizado é fun-damental, afinal ninguém nasce sabendo ler e escrever.

Os bons conhecimentos financeiros são acumulati-vos através do tempo, eles crescem e amadurecem propi-ciando melhores autocontrole e autoconhecimento.

11.2 Os Juros Compostos

O conceito de juros compostos é bastante simples: juros incorporados ao capital no fim de cada período de tempo para também produzirem juros. São os famosos JUROS SOBRE JUROS.

Os juros compostos são obtidos apenas quando os recursos aplicados permitem que o rendimento obtido na aplicação seja reinvestido, de maneira a aumentar a base do investimento para cálculo de novos juros. Como disse Albert Einstein: “Juros Compostos são a maior força do Universo”.

Acredito que alguns dos leitores já devam, infeliz-mente, ter vivenciado a terrível experiência dos nefastos efeitos dos juros compostos nos pagamentos parciais ou em atraso de faturas de cartão de crédito e/ou na utili-zação do cheque especial. Ao longo do tempo, os valo-res devidos sobem de forma vertiginosa, até que, em não poucos casos, se tornem impagáveis. Desse modo, só há uma saída: trazer os juros compostos para seu lado!

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Os juros compostos constituem-se de um alicerce fundamental nas aplicações financeiras, desde que sejamos capazes de possuir um controle financeiro adequado a ge-rar um fluxo de dinheiro suficiente para realizarmos essas aplicações. Caso contrário, fica evidente que, se não existe controle e organização suficientes para gerar esses recursos, muito provavelmente o caminho que estamos seguindo é extremamente perigoso e de imprevisíveis consequências.

Convido você a mudar o sentido mantendo a di-reção. Implemente o ciclo de mudanças com metas adequadas a gerar um excedente financeiro que possi-bilitará seu ingresso ao mercado de aplicações, com o recebimento de rendimentos (os quais infeliz e dificil-mente apresentarão o mesmo nível de juros dos cheques especiais e do cartão de crédito).

Para ilustrar de modo simples o efeito dos juros com-postos perante a ingenuidade da maioria de nós, vamos reviver um antigo conto hindu sobre a invenção do xadrez.

“O xadrez e os juros compostos

Conta a lenda que tão grande era a riqueza do rei Iadava, soberano da província de Taligana, quanto profunda era a marca em seu coração em razão da perda em combate de seu amado filho Adjamir.

Não havia meios que o consolassem e retor-nassem a alegria em seu coração. O monarca

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passava horas e horas traçando, em uma gran-de caixa de areia, as estratégias e manobras executadas por Adjamir durante a batalha na qual pereceu.

Um dia visitou esse reino um jovem e modesto brâmane, assim chamados os sacerdotes hindus, o qual solicitou uma audiência com o rei Iadava.

Após um longo período e longa súplica por par-te do brâmane, este foi atendido e conduzido à grande sala do trono.

— Meu nome é Lahur Sessa. Venho de uma al-deia longínqua onde fui informado da profunda tristeza que amargura o coração de nosso sobe-rano. Assim gostaria de presenteá-lo com um jogo de minha invenção, na certeza de que sua alegria de viver voltará.

Nessa audiência toda a corte estava reunida, e foi grande a curiosidade de Iadava.

Sessa mostrou ao rei seu jogo, que consistia de um grande tabuleiro quadrado, dividido em 64 quadrados iguais; sobre esse tabuleiro estavam organizadamente ordenadas 2 coleções de peças que se distinguiam pelas cores preta e branca, repetindo simétricas formas e subordinadas a curiosas regras que lhes permitiam movimen-tar-se por variados modos.

Dentro de poucas horas, o monarca e boa parte de sua corte já dominavam as regras do jogo e

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desafiavam-se mutuamente com grande fervor.

Em um dado momento, o rei notou com grande surpresa que a posição das peças da partida a qual jogava parecia reproduzir com exatidão a batalha na qual o príncipe Adjamir sucumbira.

Sessa, intervindo, deixou claro ao rei que para conquistar a vitória, obrigatoriamente, deveria sacrificar uma peça de um vizir, que, durante todo o desenrolar da partida — por vários moti-vos — , com grande empenho o monarca pusera--se a defender e a conservar.

O sábio Sessa demonstrou dessa maneira que por vezes o sacrifício de um vizir, um príncipe, é necessário para que dele resultem a paz e a liberdade de um povo.

Ao ouvir essas afirmações, o rei Iadava excla-mou:

— Como pode o engenho humano criar uma maravilha de comparável interesse! Através da movimentação de simples peças em um tabu-leiro, eu aprendi que pouco é o valor de um rei sem o apoio e a dedicação de seus súditos. E que, às vezes, por mais duro que seja, o sacrifício de uma peça de maior ou menor valia é o único ca-minho para a vitória.

Dirigindo-se ao jovem brâmane, disse-lhe:

— Quero recompensar-te. Dize-me o que dese-jas e o terás.

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Sessa respondeu:

— Meu objetivo está cumprido. Nada mais de-sejo!

Ao ouvir tão rara resposta, o rei insistiu com autoridade e exigiu outra resposta.

O imperturbável Sessa respondeu:

— Após suas últimas palavras, não fico com ou-tra alternativa que solicitar uma recompensa. Peço meu pagamento em grãos de trigo, um grão para a primeira casa do tabuleiro, dois grãos para a segunda casa do tabuleiro, quatro grãos para a terceira casa do tabuleiro e assim suces-sivamente até o fim da última casa.

O rei e seus súditos criticaram a pouca ambição do brâmane e, com uma mistura de compaixão e bom humor, resolveram atender a seu pedido.

Uma saca de trigo foi trazida à sala do trono, no entanto logo percebeu-se que não seria suficiente para atender ao pedido do brâmane. Outras sacas foram trazidas e também rapida-mente consumidas.

Chamando seus sábios matemáticos para reali-zarem os cálculos do montante em grãos devido ao brâmane, o rei, após horas de espera, foi in-formado de que nem todo o trigo produzido em toda a Índia por um século seria suficiente para cumprir tal objetivo! A porção de trigo equiva-leria a uma montanha que teria como base o ta-

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manho de nossa cidade e seria cem vezes mais alta que o Himalaia... O assombro que tomou conta da sala do trono foi indescritível.

O rei pela primeira vez em seu reinado via-se impossibilitado de cumprir sua palavra. Mas o sábio Sessa assim falou:

− Os homens mais avisados às vezes se iludem não só diante da aparência enganadora dos números, mas também com a falsa modéstia dos ambiciosos. Infeliz daquele que toma sobre os ombros o compromisso de uma dívida cuja grandeza não pode avaliar.

Menos aprendemos com a vã ciência dos brâma-nes do que com as lições da vida no dia a dia. O homem que mais vive mais sujeito está a inquie-tações morais, mesmo que não as queira. Acha--se ora triste, ora alegre, hoje fervoroso, amanhã tíbio; somente o verdadeiro sábio instruído nas regras espirituais se eleva acima dessas vicissi-tudes e paira sobre todas as alternativas!”

(Baseado em O Homem que Calculava, de Malba Tahan.)

Na verdade, economistas, administradores, mate-máticos, contadores e outros especialistas que, por um acaso, se aventurarem neste livro terão vontade de me matar! Pois confundir juros compostos com uma pro-gressão geométrica, como no caso do jogo de xadrez, é de

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uma imprecisão matemática indesculpável. No entanto, o objetivo do conto não é o da virtuose matemática, e sim alertar sobre o milagre da multiplicação dos números.

Um outro exemplo simples de entender é o caso em que um pai que realiza um investimento mensal de R$100,00 desde o nascimento do filho em uma aplicação que lhe renda 10% ao ano. No mês em que o filho com-pletar 18 anos de idade, ele possuirá R$57.640,00!

Gravem isto: simples grãos de trigo e juros com-postos poderão elevá-lo a uma montanha cem vezes su-perior ao Himalaia!

11.3 Uma Vida Simples

Na forma como o ser humano vive sua vida co-tidiana, nestes dias em que é constantemente assolado por sedutoras propagandas e assédios de todos os tipos de produtos e serviços, diria que é impossível satisfa-zer, mesmo, uma ínfima parcela de seus constantemente criados desejos.

Diz um ditado chinês: “se, se preocupar não resol-ve o problema, por que preocupar-se”. Se esta premissa é verdadeira então: “se é impossível satisfazer a todos os desejos, para que tentar satisfazê-los”.

Uma vida simples não é uma vida de necessidades, uma vida simples é uma vida regrada, em que cada gasto foi previsto ou apenas realizado após uma reflexão em família (filhos inclusos), pois o fundamental é ter sempre em mente que: o que vale não é a grandeza do salário ou

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do rendimento, mas como tratamos nossos semelhantes em nossas atividades; o que vale não é a fartura da mesa, e sim as pessoas com as quais compartilhamos a refeição; o que vale não é o carro do ano na garagem, mas sim as pessoas que nos acompanharão na viagem; o que vale não é o tamanho da casa, mas a harmonia, o carinho e o respeito com que seus habitantes se tratam.

Ainda está bem vivo em minha memória o período em que permaneci desempregado por nove meses após uma terrível estada de um ano no Canadá, onde fui estu-dar. Passado esse período, havia obtido uma posição em uma montadora de veículos e estava empregado há cerca de cinco meses, trabalhava arduamente mais de doze horas por dia; quando meu filho, aos 5 anos de idade, disse-me:

— Puxa, papai! Tenho uma saudade do tempo quan-do voltamos do Canadá!

Extremamente surpreso respondi: — Loïc [este é o nome “da figura”!], quando voltamos

do Canadá, o papai passou por um período no qual não tinha dinheiro nem para comprar uma bala para você...

A resposta veio rápida e direta:— Mas naquele tempo você brincava comigo, não é?! Minha observação sem grande reflexão foi totalmen-

te destruída por uma afirmação verdadeira pulverizadora da consciência paterna.

Uma vida simples também é estar com as pessoas que você ama. Uma vida simples é uma vida equilibrada, em que o padrão de vida que se vive está alinhado aos ganhos financeiros da família.

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Dentre as necessidades, algumas são naturais e necessárias, outras são naturais e não neces-sárias e ainda outras não são nem naturais nem necessárias.

Diógenes Laércio

Uma vida simples não deve ser confundida com uma vida de privações; deve ser uma vida que prima pe-las pessoas sobre as coisas, que prioriza o ser ao ter, que prioriza o espiritual, mas não se esquece do material, que diante de desejos de consumo não previstos não se deixa dominar pela ansiedade e pela emoção. É uma vida em que as conquistas materiais são planejadas e executadas com calma e disciplina, em que a falta de tempo dos pais para com os filhos não é substituída por presentinhos e concessões que abalam os alicerces da boa educação.

Lembro-me do caso em que meu filho mais velho, viciado como o pai na obra de J. R. R. Tolkien, estava desejoso de comprar um modelo de montar baseado em uma das obras do autor. O custo aproximado da maquete era de US$80, e desse modo ele pediu-me autorização para realizar seu sonho de consumo.

Imediatamente concordei e, logo na sequência, for-neci a ele uma quantia que correspondia a US$5... A face de meu filho, na época com 12 anos de idade, olhando para mim, foi inesquecível! No entanto, após fornecer--lhe o dinheiro acrescentei:

— Agora só faltam US$75!

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Muitos podem pensar: “‘Belo pai’! Além de não brincar, ilude o garoto”. Bem, seja como for, o fato é que ainda hoje essa belíssima maquete, muito bem-acabada por sinal, está exposta em nossa sala de jantar!

Minha opinião para esse caso se resume em dois as-pectos muito importantes:

• Primeiro: Teste da perseverança

Quando, pela primeira vez, meu filho desejou a maquete, sua vontade seria real e forte o suficiente para enfrentar a dura prova do tempo? Ou apenas mais um desejo de consumo passageiro?

Nesse caso, seu desejo era real. Caso assim não o fosse, ao menos ele já teria uma quantia guardada para ser aplicada no futuro.

• Segundo: Teste da ansiedade

Nem sempre, ou poucas vezes, podemos ter o que queremos quando quereremos. Essa é uma verdade ine-xorável da vida e válida para todos, dos mais abastados aos mais humildes. Saber esperar e crer que o objetivo será alcançado é uma grande virtude. E foi mesmo!

As lições devem ser aprendidas e praticadas, pois assim passam a fazer parte da vida sem ao menos nos darmos conta. (Aliás, essa prática é válida também para meus outros dois filhos.)

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Algo similar aconteceu com minha filhinha na aquisição de uma boneca. Para ela, segurar a ansiedade foi uma tarefa árdua, sobretudo quando as amiguinhas já possuíam o brinquedo, mas, após alguns meses, a re-compensa veio!

No capítulo 5, ficou evidente que possíveis aumen-tos de renda são irremediavelmente seguidos de um res-pectivo aumento de despesas e busca de melhora no pa-drão de vida. Esse ciclo vicioso apenas poderá ser contido no momento em que as melhorias do padrão de vida não ultrapassarem o aumento dos rendimentos, ao mesmo tempo que não deve mudar o modo de ser e se relacionar da família, limitando-se ao que é realmente importante.

No CICLO DE MUDANÇAS, algo semelhan-te ocorre. Durante o processo espera-se que, através do aprimoramento de uma conscientização espiritual e do efetivo controle e organização dos gastos, um excedente nos rendimentos disponíveis seja gerado.

É fundamental entender o processo pelo qual se está passando. A possível existência de rendimentos exceden-tes reflete o sucesso da mudança que está ocorrendo. O importante nesse momento é manter em mente a meta estabelecida e ser fiel a ela.

Nossa sociedade de supervalorização dos vencedores e inflamados egos promove exageradamente a autoesti-ma; reconhecer seus erros e atitudes equivocadas é pra-ticamente uma demonstração de fraqueza imperdoável.

Manter o padrão de vida é fundamental para a con-tinuidade do sucesso do ciclo de mudanças.

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Uma vida simples está também associada à hu-mildade. A humildade nos faz crescer, mantém nosso ego sob controle e nossa autoestima no devido lugar. Ela faz com que nos concentremos em nossos fracassos e os utilizemos como plataformas de lançamento para grandes conquistas.

Contrariamente ao soberbo, que normalmente está alavancado nas alturas pela arrogância, o humilde reco-nhece sua fragilidade e sabe o quanto há a aprender.

No entanto, uma armadilha da humildade pode ser a falta de cultura. Combater sua falta de cultura é uma decisão acertada e uma estrada segura para refor-çar sua consciência.

Reconhecer sua ignorância é uma força e o cami-nho para o autoconhecimento; “saber que nada sabe” é um provérbio clássico dos sábios. Devemos sempre combater a ignorância e seguir − mantendo como com-panheira − a humildade. Desse modo, uma vida simples será apenas uma consequência.

Uma constatação interessante sobre levarmos uma vida com simplicidade que contraria o pensamento po-pular é aquela que ocorre em relação ao padrão de vida dos ricos ou milionários. Sempre caricaturada em nove-las, inúmeras vezes hostilizada de modo ciumento pela população ou satirizada em filmes, em que “playboys des-miolados” esbanjam a fortuna da família em loucuras e extravagâncias, na verdade, a parcela considerável da po-pulação conceituada como “rica” (que a classificaremos aqui como aquela que conquistou tal posição de maneira

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honesta e com muito trabalho, perseverança e disciplina) vive muito longe desses estereótipos e dos holofotes.

Aqueles que sabem o esforço necessário para con-quistar bens materiais e atingir suas metas de maneira lícita e honesta, via de regra, não desperdiçam sua rique-za com ostentação e luxo; vivem de modo confortável e estável, não poucas vezes utilizam seu dinheiro em obras filantrópicas e, acredite se quiser, dificilmente são vistos em revistas de fofocas ou na TV.

Parece muito lógico. Pessoas bem-sucedidas que conquistaram sua riqueza pelo seu esforço e honestamen-te, de alguma maneira, devem apresentar a maior parte das características de consciência, perseverança, discipli-na, organização, pragmatismo e paciência. Desse modo, valorizam suas conquistas sem se tornarem presas fáceis do consumismo e das frivolidades.

Pesquisadores americanos, como Thomas Corley, em seu livro Rich Habits, e Steve Siebold, no título How Rich People Think, embora muito embasados em estudos da sociedade norte-americana, deixam bem claro que uma das grandes forças daqueles que conquistaram certo grau de riqueza material é a simplicidade.

Simplicidade nos modos de viver, pensar, ver o mundo, executar e alcançar suas metas. Muitos não pos-suem o carro do ano, vestem-se bem, mas sem exageros, moram na mesma casa por muitos anos, são religiosos e têm uma vida conjugal estável.

A ostentação e a ganância já moveram este mun-do por caminhos que resultaram em tragédias terríveis.

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Vamos desenvolver em nosso cotidiano as características de sincronização, usar esses ensinamentos em nossa vida financeira organizando-a, aplicando de modo consistente o ciclo de mudanças e atingindo nossas metas.

Quando a humanidade vive em ordem,Os cavalos puxam o arado;Quando ela renega sua lei interna,Os cavalos se preparam para a guerra;Não há pecado maiorDo que o excesso da ganância.Não há mal maiorDo que querer sempre mais.Não há maior calamidadeDo que a mania de sucesso.Quem se contenta com o necessárioTem sempre o suficiente.

Lao Tsé

Praticar o respeito ao seu tempo assim como ao dos outros, entender a sistemática dos juros compostos, co-locando-o para impulsionar sua vida e equilíbrio finan-ceiros, aliados à prática de uma vida simples farão com que os fardos do ciclo de mudanças sejam mais leves e os resultados obtidos duradouros.

Estabilidade, previsibilidade e hábitos simples: uma receita já utilizada pelos que você menos imagi-nava que assim o fizessem. Via de regra, mesmo após

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terem atingido a riqueza material, essas pessoas não apenas continuaram a trabalhar como ainda intensifi-caram e diversificaram suas atividades de modo que elas as preenchessem e as satisfizessem como seres humanos. Desse modo, ao que parece, parar de trabalhar realmen-te não faz parte das opções das pessoas bem-sucedidas material e espiritualmente.

Na verdade, todo o raciocínio por trás da fantasia de “parar de trabalhar” possui uma raiz comum:

Figura 41

Uma análise mais profunda revela que o problema verdadeiro está mais ligado a dois pontos estruturais do ser humano:

• Não trabalhar com aquilo de que se gosta• A sensação da obrigatoriedade do trabalho

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Fazer o que gosta

É pouco provável que estejamos sempre desempe-nhando uma função que seja de nosso agrado. Todas as tarefas exigem momentos com os quais ou nossa aptidão ou nosso gosto não se satisfazem. Desse modo, elas são realizadas por obrigação, e sem prazer algum.

No entanto, a busca pela satisfação de trabalhar e realizar algum tipo de atividade que nos complete e nos dê prazer deveria ser encarada com a mesma ênfase com a qual buscamos ampliar nossos rendimentos através da ampliação de nosso empreendimento ou de nossa escala-da na hierarquia profissional.

É compreensível que durante alguns períodos da vida sejamos obrigados a nos sujeitar a fazer aquilo de que não gostamos ou estejamos suficientemente perdidos para fazê-lo. No entanto, jamais deve-se perder o foco nas atividades que nos dão prazer e nos completam como pessoas, pois, na realidade, são estas que realmente fazem com que valha a pena viver!

Apenas ser parte de uma “geração let it be”, ou seja, deixar que a vida nos leve, não nos preenche, não nos eleva como seres humanos.

Pessoalmente, passei por grandes períodos de difi-culdade quando “a vida me levou” a sair do segmento petroquímico, com o qual me identificava muito, e a in-gressar no glamoroso ramo automobilístico. Alguns po-dem pensar: “Mas quase todos adoram carros!”, pois é... Eu mesmo fico perplexo em saber como um passivo cha-

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mado automóvel, para mim sinônimo de despesas, pode ser tão “amado”. Ainda hoje o vejo apenas como uma ferramenta cuja única expectativa é de que me leve e me traga com segurança e confiabilidade.

Não estou reclamando, mesmo porque minhas fun-ções na indústria automobilística possibilitaram-me fazer um pouco de tudo, desde participar na montagem de ve-ículos até pilotar um Fórmula 1, mas com certeza meu coração nunca esteve por lá.

Graças às minhas responsabilidades, viajei muito e recebi a benção de conhecer pessoas fantásticas, aliás no meio disso tudo foi ao que mais me apeguei, ao que sem-pre me pareceu o mais importante: “as pessoas”. Nesse aspecto, sempre me julguei abençoado, muitas pessoas me auxiliaram e me completaram nesta jornada. Entre-tanto, sempre julguei essas passagens profissionais apenas como etapas, etapas que me levaram ao ponto em que me encontro hoje, desempenhando uma função com a qual realmente me identifico, em que me sinto útil e posso compartilhar e ouvir experiências, ensinar e aprender.

No caso de minha esposa, não foi diferente. Após anos trabalhando com o mundo não menos glamoro-so da moda, que aliás nunca a satisfez, ela finalmente encontrou seu caminho ministrando aulas de francês. Sua maior satisfação, além de fazer algo de que gosta, é poder compartilhar seu conhecimento ajudando as pessoas que a ela confiam seu desenvolvimento nessa língua e no aprendizado da cultura. Os testemunhos dos alunos em seu site falam por si só se esses objetivos estão sendo atendidos!

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Entendo como sendo muito difícil, se não impos-sível, alcançarmos a excelência em algo sem gostarmos do que fazemos.

Os caminhos da satisfação pessoal para com o tra-balho passam obrigatoriamente pelas estradas do servir, compartilhar, trabalhar e criar.

Infelizmente, os sistemas corporativo e empresarial nos quais estamos inseridos nos impelem a dar o mínimo ou o suficiente para o cumprimento de nossas funções; via de regra, atividades para as quais não sentimos a mínima moti-vação. Trabalhamos por salário, e não por paixão; consegui-mos deturpar as palavras LIBERDADE e REALIZAÇÃO para transformá-las em OBRIGAÇÃO e FRUSTRAÇÃO.

Os compromissos financeiros assumidos para se-rem cumpridos no fim do mês constituem-se em uma excelente justificativa e até mesmo um consolo para a aceitação de modo fatalista de sua realidade de vida. Os resultados de nossos descontroles financeiros traduzidos em consumismo excessivo e vivência de um padrão de vida não condizente aos nossos rendimentos completam o triste quadro de nossa vida.

“Você não terá mais até provar que é capaz de li-dar com o que já possui.”

T. Harv Eker

É muito fácil encontrar nas pessoas um disseminado sentimento de impotência diante das dificuldades da vida

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que lhes são impostas. Na verdade, embora não se deem conta, são condicionadas a isso. Para que esse “vício” seja quebrado, precisamos viver no presente, conscientes da brevidade da oportunidade de viver que nos foi dada.

Tomar consciência de seu padrão de vida, adequar seus gastos a esse padrão e controlar de modo efetivo os gastos, obrigatoriamente, conduzirão a um caminho mais desimpedido ao se desempenhar um trabalho com prazer. Não é fácil, mas também não é tão complicado como parece!

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12 CONCLUSÃO

A conclusão é de que há muito trabalho, grandes desafios e a esperança da operacionalização de várias ati-tudes e posicionamentos conscientes de sua parte.

Infelizmente uma parte significativa de nossa socie-dade contemporânea ainda está maravilhada pela magia das imagens mirabolantes da internet, extremamente ávi-da por vídeos fúteis das redes sociais, à procura de can-ções sem sentido e a admirar comportamentos, no míni-mo, suspeitos dos realities shows. Felizmente a leitura de muitos livros não se encaixa neste contexto.

Os livros que nos incitam à reflexão são fundamen-tais vetores de mudança comportamental da sociedade. Somente por esse fato em si, eu gostaria de parabenizá-lo por ter chegado até aqui!

Acredito profundamente que as mensagens contidas neste livro são relevantes para incitar o autoquestiona-

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mento e a reflexão, no entanto seria, até certo ponto, in-gênuo de minha parte acreditar que uma grande massa de ávidos leitores farão filas nas livrarias em busca de um livro sobre finanças pessoais que não apresente um cami-nho da riqueza material sem fim.

Os “livros de promessa”, recheados de fórmulas milagrosas que impulsionam a todos rumo ao maravi-lhoso mundo da riqueza material fácil e infinita, estão repletos de mensagens sedutoras demais para deixar os mínimos espaços disponíveis para posicionamentos di-ferentes; certamente, esse tipo de mágica não sairá de minha cartola.

Via de regra, os livros que apresentam a realidade dos fatos não são um divertimento efêmero, de rápida digestão ou uma distração insignificante que permeia a vida cotidiana. Assim sendo, muitos não sabem como incorporá-los com calma e tranquilidade em sua rotina.

Este livro, em particular, não tem a pretensão de ser a última palavra em CONTROLE FINANCEIRO ou um fim em si mesmo, mas sim outra opção para auxiliá--lo a mergulhar mansa e profundamente no universo da reflexão e do autoconhecimento, aumentando sua velo-cidade de ação e a dinâmica de entendimento de como nosso mundo funciona e como internamente reagíamos a ele, conduzindo a uma VIDA REALIZADA, fundamen-tada no equilíbrio espiritual e material.

Cada etapa do ciclo de mudanças permite uma aná-lise inicial sobre si mesmo e uma otimização de suas ca-

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racterísticas de sincronização ante as suas necessidades de crescimento espiritual e financeiro.

Embora seja fantástico crer que todos atingirão uma infindável riqueza material, poucos vencem as etapas ne-cessárias para sua obtenção ou estão dispostos a pagar o preço do sucesso financeiro. Ainda bem! Pois, como vi-mos, apenas a aquisição e a conquista de bens materiais não aliviam as moléstias de nossa espiritualidade. Em contrapartida, através de um esforço contínuo e dirigido, suportado por um avanço da realidade espiritual, literal-mente todos são capazes de encontrar um equilíbrio fi-nanceiro pleno e em linha com seu padrão de vida e com seus princípios espirituais; este seria, na verdade, um dos grandes propósitos pelos quais desenvolvemo-nos.

Nesse caso, diminuir a influência da alienação, do medo, da falta de foco, da acomodação, da procrastina-ção e da ansiedade não é uma opção, e sim uma realidade perfeitamente factível.

Eu gostaria de mais uma vez reforçar a reflexão de que a vida é uma formadora de intermináveis hábitos. Quanto mais nos sentimos oprimidos e incomodados financeiramente e/ou espiritualmente e nada fazemos, mais esses sentimentos em si também se tornam hábi-tos que nos deixam ainda mais despreparados para to-marmos um posicionamento e executarmos o que deve ser feito. Somente uma verdadeira mudança interna de atitude é capaz de quebrar esse ciclo tão nocivo ao nosso desenvolvimento espiritual e material.

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O fato é: você não é um idiota, louco ou pre-guiçoso. Você é um ser humano maduro que se comporta exatamente como o faria alguém que veio de onde você veio, que testemunhou e que viveu o que você viveu.

Drs. Brad & Ted Klontz

Não é uma questão de apenas culpar-se e descul-par-se, pois, como vimos, somos todos influenciados e aliciados pela sociedade de consumo, assim como pela forte carga genética financeira que herdamos e que se aloja em nosso subconsciente; o que podemos e deve-mos fazer é possuir e praticar o conhecimento de que é possível mudar.

Neste livro não foi mencionado que seria fácil, mas sim que é possível.

Um passo de cada vez! Os seres humanos são como uma liga de metal que antes de ser utilizada para seu pro-pósito deve ser temperada e forjada; não existe pressa, e sim um avanço lento e contínuo no qual o tempo e o esforço intenso transformam o metal em um material nobre e próximo da perfeição para sua utilização.

Somos todos, sem exceção, primeiramente eternos aprendizes, e somente depois instrutores. E, mais uma vez, reforço: por favor, transporte a essência destas pala-vras para as futuras atitudes que você tomará perante a vida, que ela se reverta em atos à altura de seu esforço e merecimento em viver!

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Um intenso esforço é necessário para produzir a sensação de falta de esforço; intensa consciên-cia para chegar à inconsciência; total controle para experimentar a total falta de controle.

Michael Foley

Como a maior parte dos acontecimentos da vida, a mudança depende de nós. Acredite que é possível! Deus nos criou e propiciou que estivéssemos vivendo este mo-mento com um propósito. Não existe maior sensação de prazer e preenchimento no mundo do que aquela de sentir, no fundo de seu coração, ser uma ferramenta de operacionalização da vontade de Deus na terra!

Tente, conscientize-se e verá!

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