Conservacao Reuso Da Agua Em Edificacoes

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REALIZAO ANA - Agncia Nacional de guas Jos Machado - Diretor Presidente Benedito Braga - Diretor Oscar de Moraes Cordeiro Netto - Diretor Bruno Pagnoccheschi - Diretor Dalvino Troccoli Franca - Diretor SAS/ANA - Superitendncia de Conservao de gua e Solo Antonio Flix Domingues Superintendente FIESP - Federao das Indstrias do Estado de So Paulo Paulo Skaf - Presidente DMA - Departamento de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel Nelson Pereira dos Reis - Diretor Titular Arthur Cezar Whitaker de Carvalho Diretor Adjunto Nilton Fornasari Filho Gerente SindusCon-SP - Sindicato da Indstria da Construo do Estado de So Paulo Joo Claudio Robusti - Presidente COMASP - Comit de Meio Ambiente do SindusCon-SP Francisco Antunes Vasconcellos Neto - Vice Presidente de Desenvolvimento Andr Aranha Campos Membro do Conselho

4 Coordenao Geral Ancia Aparecida Baptistello Pio - FIESP - Federao das Indstrias do Estado de So Paulo Antonio Flix Domingues - ANA - Agncia Nacional de guas Lilian Sarrouf - SindusCon-SP - Sindicato da Indstria da Construo Civil do Estado de So Paulo Ricardo Santaliestra Pina - SindusCon-SP - Sindicato da Indstria da Construo Civil do Estado de So Paulo Ulysses Gusman Jnior - ANA - Agncia Nacional de guas Autores Carla Sautchuk - Tesis Tecnologia de Sistemas de Eng Ltda Humberto Farina - Depto. Eng. Construo Civil da Escola Politcnica - USP Ivanildo Hespanhol - CIRRA - Centro Internacional de Referncia em Reso de gua Lcia Helena de Oliveira - Universidade Federal de Goinia Luiz Olmpio Costi - ABRASIP - Associao Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais Marina S. de Oliveira Ilha - Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e Urbanismo - UNICAMP Orestes M. Gonalves - Depto. Eng. Construo Civil da Escola Politcnica - USP Simone May - CIRRA - Centro Internacional de Referncia em Reso de gua Solange da Silva Nunes Boni - Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e Urbanismo - UNICAMP William Schmidt - Depto. Eng. Construo Civil da Escola Politcnica - USP Colaboradores Alcione Figueiredo Corra - Hidrogesp Hidrogeologia Sondagens e Perfuraes Ltda Antonio Lot - Hidrogesp Hidrogeologia Sondagens e Perfuraes Ltda Carlos Cavichia - Hidrogesp Hidrogeologia Sondagens e Perfuraes Ltda Edmundo Fonseca Garcia - SVMA - Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente So Paulo Elbio Camillo Jr. - Fatorgua Servios e Solues Hdricas Ltda. Eduardo Ioshimoto - Tigre S.A. Eduardo Moreno - Vitalux Eficincia Energtica Ltda Fabio Camurri - Sindicermica - Sindicato da Indstria de Cermica Sanitria de So Paulo Fernando Lenti de Andrade - Tigre S.A. Gustavo C.D.Barreira - FIESP - Federao das Indstrias do Estado de So Paulo Isaac Moyses Zymelman - ABRASIP - Associao Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais Joo Paulo Rossi Paschoal - SECOVI SP Sind. Empresas de Compra, Venda, Locao e Administrao de Imveis de SP Jos Carlos Mierzwa - CIRRA - Centro Internacional de Referncia em Reso de gua Jos Eduardo Cavalcanti - Ambiental Laboratrio e Equipamentos Ltda. Juliana Castro Pastor - CEDIPLAC Solues para o Habitat Humano Kazutoshi Ito - Andriolo Ito Engenharia Ltda Laura Marcellini - Tigre S.A.

5 Luiz Antonio Percoriello - Ypel Construtora e Administradora Luiz Carlos Alvim Coelho - Vitalux Eficincia Energtica Ltda. Plnio Grisolia - Docol Metais Sanitrios Ltda. Renata Castro Neves - SindusCon-SP - Sindicato da Indstria da Construo Civil do Estado de So Paulo Roberto Papaiz - Logictel S/A Roney Honda Margutti -SIAMFESP-Sind. Ind. Artef. de Metais no Ferrosos no Estado de SP Roseane Petronilo - SindusCon-SP - Sindicato da Indstria da Construo Civil do Estado de So Paulo Ruy Jos da Cunha - Logictel S/A Simar Vieira de Amorim - Universidade Federal de So Carlos Reviso de Texto e Diagramao [email protected] Capa e Projeto Grco Setor de Comunicao do SindusCon-SP Tiragem: 5.000 exemplares Impresso: Prol Editora Grfica So Paulo, junho de 2005

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SUMRIO 1. Introduo 2. A Importncia da Conservao da gua 3. Denies e Abreviaturas 4. Programa de Conservao de gua em Edicaes4.1. Introduo 4.2. Programa de Conservao de gua para Edicaes Existentes 4.2.1. Implementao da Setorizao do Consumo de gua 4.2.2. Auditoria do Consumo de gua 4.2.3. Plano de Interveno 4.2.4. Estimativa ou Avaliao do Impacto de Reduo do Consumo de gua 4.3. Programa de Conservao de gua para Novas Edicaes 4.3.1. Anlise da Demanda de gua

pg. 8 10 12 1818 23 23 27 33 39 41 42

5. Detalhamento da Gesto da Oferta na Implantao de Programas de Conservao de gua5.1. Introduo 5.2. Exigncias Mnimas da gua No-Potvel para as Atividades Realizadas nos Edifcios 5.3. Padres de Qualidade da gua Potvel para Reso 5.4. Fontes Alternativas de gua para Aproveitamento ou Reso 5.4.1. gua Cinza 5.4.2. gua Pluvial

5050 51 53 58 58 61

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5.4.3. gua de Drenagem de Terrenos 5.4.4. gua de Reso da Concessionria 5.4.5. Captao Direta 5.4.6. guas Subterrneas 5.5. Matriz de Oferta versus Demanda 5.6. Consideraes quanto Ecincia dos Sistemas de Reso 5.7. Metodologia para Implementao de Sistemas de Aproveitamento ou Reso da gua 5.7.1. Sistema de Coleta e Aproveitamento de gua Pluvial 5.7.2. Sistema de Coleta e Reso de gua Cinza 5.7.3. Sistema de Coleta e Aproveitamento de guas de Drenagem em Edifcios 5.8. Processos de Tratamento

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6. Sistema de Gesto da gua da Edicao6.1. Aes de Base Operacional 6.2. Aes de Base Educacional 6.3. Aes de Base Institucional

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A Legislao Pertinente B Normalizao Tcnica de Projeto e Execuo C Planilha para o Cadastramento e Vericao das Condies de Operao de Bacias Sanitrias D Planilha para Levantamento das Atividades que Envolvem o Uso da gua nos Banheiros Escolares E Especicao de Equipamentos Hidrulicos F Contatos Importantes

7. Estudos de Caso 8. Referncias Bibliogrcas 9. Anexos

83 115 117118 120 132 135 139 149

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1. Introduom conformidade com os princpios e diretrizes globais do desenvolvimento sustentvel, com o objetivo de atingir as Metas de Desenvolvimento do Milnio, torna-se necessria uma mudana substancial nos padres de produo e consumo da sociedade. Com relao aos recursos hdricos, as regies de grande concentrao populacional acabam exercendo fortes presses no aumento do consumo e no agravamento das condies de qualidade dos mananciais existentes. O crescimento das atividades econmicas e a manuteno das condies de qualidade de vida da populao dependem da conscientizao da importncia desse insumo estratgico e respectivamente de seu uso de forma racional por todos os setores. Para tanto, so necessrios investimentos em desenvolvimento tecnolgico e na busca de solues alternativas para a ampliao da oferta de gua como, por exemplo, a utilizao da gua de reso, bem como so necessrias aes para a eciente gesto da demanda, reduzindo os ndices de perdas e desperdcios, muitas vezes inconscientes. Em que pese a importncia e necessidade prementes de adoo dessas prticas pelos diferentes setores usurios dos recursos hdricos, de fundamental relevncia que tais prticas sejam criteriosamente adotadas, resguardando-se a sade pblica e observando-se os cuidados necessrios para a preservao do patrimnio, equipamentos e segurana dos produtos e servios oferecidos aos usurios. Portanto, preciso tornar de amplo conhecimento pblico os principais condicionantes, benefcios e limitaes que essas prticas possuem, tanto para que no sejam criadas expectativas fantasiosas sobre o tema, como solues de fcil implementao e resultados imediatos, quanto para que no se adotem essas medidas sem as precaues necessrias para a preservao da integridade de operadores e usurios, de bens, e de equipamentos.

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O atendimento destes objetivos implica em esforos conjuntos das entidades pblicas e privadas, para promover uma ampla divulgao sobre a importncia da conservao de gua e consumo conscientes, maximizando a produtividade da gua disponvel, tanto nos processos produtivos quanto nos padres de consumo da populao. Conscientes de suas responsabilidades a ANA Agncia Nacional de guas, a FIESP Federao das Indstrias do Estado de So Paulo e o SindusCon-SP Sindicato da Indstria da Construo Civil do Estado de So Paulo conjugaram esforos reunindo agentes pblicos, empresas de tecnologia, fabricantes e instituies de ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnolgico, para elaborar esta publicao que traz orientaes para a implantao de programas de conservao de gua em edicaes comerciais, residenciais e industriais quer sejam edicaes novas ou existentes. Longe de esgotar o assunto, esta publicao visa to somente reunir as principais informaes e orientaes existentes no mercado e o conhecimento disponvel no meio acadmico, de uma forma ordenada e ilustrada com alguns exemplos prticos. No entanto, trata-se de uma fundamental contribuio para o setor da construo civil, objetivando-se dar subsdios a adoo de solues ecientes na concepo das novas edicaes ou na modernizao das j existentes.

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2. A IMPORTNCIA DA CONSERVAO DA GUA Importncia da Conservao da guagua se constitui, atualmente, no fator limitante para o desenvolvimento agrcola, urbano e industrial, tendo em vista que a disponibilidade per capita de gua doce vem sendo reduzida rapidamente, face ao aumento gradativo da demanda para seus mltiplos usos e contnua poluio dos mananciais ainda disponveis. A escassez de gua no pode mais ser considerada como atributo exclusivo de regies ridas e semi-ridas. Muitas reas com recursos hdricos abundantes, mas insucientes para atender a demandas excessivamente elevadas, tambm experimentam conitos de usos e sofrem restries de consumo que afetam o desenvolvimento econmico e a qualidade de vida. A Bacia do Alto Tiet, por exemplo, que abriga uma populao superior a 15 milhes de habitantes e um dos maiores complexos industriais do mundo, dispe, pela sua condio caracterstica de manancial de cabeceira, de vazes insucientes para o atendimento da demanda da Regio Metropolitana de So Paulo e municpios circunvizinhos. Esta condio tem levado busca incessante de recursos hdricos complementares de bacias vizinhas, que trazem, como conseqncia direta, aumentos considerveis de custo, alm dos evidentes problemas legais e poltico-institucionais associados. Para restabelecer o equilbrio entre oferta e demanda de gua e garantir a sustentabilidade do desenvolvimento econmico e social, necessrio que mtodos e sistemas alternativos modernos sejam convenientemente desenvolvidos e aplicados em funo de caractersticas de sistemas e centros de produo especcos. Nesse sentido, reso, reciclagem, gesto da demanda, reduo de perdas e minimizao da gerao de euentes se constituem, em associao s prticas conservacionistas, nas palavras-chave mais importantes em termos de gesto de recursos hdricos e de reduo da poluio.

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Outra prtica conservacionista a medio individualizada em condomnios, cujos resultados apontam a possibilidade de reduo de at 25% no consumo de gua. A medio individualizada tem sido amplamente divulgada, devendo os poderes constitudos ampliarem essa prtica, criando incentivos sua implementeao em todas as edicaes. As prticas relacionadas conservao de gua podem ser reforadas quando da formao dos prossionais de engenharia e pelos empreendedores imobilirios que devem ressaltar que o diferencial do preo de venda compensado durante certo perodo com a diminuio dos custos condominiais, j que a gua o segundo item em importncia, perdendo apenas para a mo-de-obra. Alm disso, o conceito de substituio de fontes, se mostra como a alternativa mais plausvel para satisfazer a demandas menos restritivas, liberando as guas de melhor qualidade para usos mais nobres, como o abastecimento domstico. Em 1958, o Conselho Econmico e Social das Naes Unidas, estabeleceu uma poltica de gesto para reas carentes de recursos hdricos, que suporta este conceito: a no ser que exista grande disponibilidade, nenhuma gua de boa qualidade deve ser utilizada para usos que toleram guas de qualidade inferior. As guas de qualidade inferior, tais como euentes de processos industriais, bem como de esgotos, particularmente os de origem domstica, guas de drenagem de ptios e agrcola, e guas salobras, devem, sempre que possvel, ser consideradas como fontes alternativas para usos menos restritivos. O uso de tecnologias apropriadas para o desenvolvimento dessas fontes, se constitui hoje, em conjuno com a melhoria da ecincia do uso e o controle da demanda, na estratgia bsica para a soluo do problema da falta universal de gua.

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3. Definies e AbreviaturasDEFINIESAgente consumidor: varivel adotada para a representao do volume consumido unitariamente na edicao (pessoa, leito funcionante, aluno etc.). gua cinza: euente que no possui contribuio da bacia sanitria, ou seja, o esgoto gerado pelo uso de banheiras, chuveiros, lavatrios, mquinas de lavar roupas e pias de cozinha em residncias, escritrios comerciais, escolas etc. Na cultura brasileira comum a utilizao das pias de cozinha como local de despejo de restos de alimentos, provocando no euente grande concentrao de matria orgnica. Por este motivo, nesta publicao, o euente da pia de cozinha no ser abordado como gua cinza para gua de reso. gua de drenagem de terreno: gua proveniente do lenol fretico presente no nvel da edicao, captada atravs de sistemas de drenagem e de conteno e do subsolo. gua de qualidade inferior: gua no caracterizada como esgoto, inadequada para usos mais exigentes. gua de reso: gua residuria que se encontra dentro dos padres exigidos para sua utilizao. gua pluvial na edicao: gua que provm diretamente da chuva, captada aps o escoamento por reas de cobertura, telhados ou grandes superfcies impermeveis. gua potvel: gua que atende ao padro de potabilidade determinado pela Portaria do Ministrio da Sade MS 518/04. gua recuperada: esgoto ou gua de qualidade inferior que aps tratamento adequada para usos bencos. Aproveitamento de gua pluvial: uso da gua de chuva para nalidades especcas, como lavagem de reas externas, alimentao de bacias sanitrias, lavagem de veculos, entre outros. Aquecimento central privado: sistema composto por um equipamento responsvel pelo aquecimento de gua e uma rede de tubulaes que distribuem a gua aquecida a pontos de utilizao que pertencem a uma mesma unidade (por exemplo, apartamento). Conexo cruzada: qualquer ligao fsica por meio de pea, dispositivo ou outro arranjo que conecte duas tubulaes, das quais uma conduz gua potvel e a outra gua de qualidade desconhecida ou no potvel.

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Demanda Bioqumica de Oxignio (DBO): representa o potencial de matria orgnica biodegradvel nas guas naturais ou em esgotos sanitrios e euentes industriais que poder ocorrer devido estabilizao desses compostos, podendo trazer nveis de oxignio abaixo dos permitidos. um importante parmetro na composio dos ndices de qualidade das guas. Desperdcio: utilizao da gua em quantidade superior necessria para o desempenho adequado da atividade consumidora. Esgoto domstico: despejo lquido resultante do uso da gua para preparao de alimentos, operaes de lavagem e para satisfao de necessidades higinicas e siolgicas. Esgoto ou euente industrial: despejo lquido resultante da atividade industrial. Esgoto sanitrio: despejo lquido constitudo de esgoto domstico e industrial, gua de inltrao e parcela de contribuio pluvial. Gesto da demanda de gua: conjunto de aes voltadas para a otimizao do uso da gua nos diferentes pontos de consumo. Gesto da oferta de gua: conjunto de aes voltadas para o oferecimento de fontes alternativas de gua com diferentes nveis de qualidade para atendimento das necessidades existentes. Gestor da gua: responsvel por transformar o comprometimento assumido em conservar a gua em um plano de trabalho exeqvel, com o objetivo de alcanar as metas preestabelecidas pela organizao e por gerenciar a implantao de um programa de conservao de gua. Indicador de consumo: relao entre o volume de gua consumido em um determinado perodo de tempo e o nmero de agentes consumidores desse mesmo perodo. ndice de perdas por vazamentos: relao entre o somatrio das perdas dirias devidas a vazamentos e o consumo mdio dirio. ndice de perdas por vazamentos invisveis: relao entre o somatrio dos volumes perdidos diariamente em vazamentos invisveis e o consumo mdio dirio, em percentagem. ndice de perdas por vazamentos visveis: relao entre o somatrio dos volumes perdidos diariamente em vazamentos visveis e o consumo mdio dirio, em percentagem. ndice de vazamentos: relao entre o nmero de pontos de utilizao com vazamento e o nmero total de pontos de utilizao no sistema, em percentagem.

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ndice de vazamentos invisveis: relao entre o nmero de pontos de utilizao com vazamentos invisveis e o nmero total de pontos de utilizao do sistema, em percentagem. ndice de vazamentos visveis: relao entre o nmero de pontos de utilizao com vazamentos visveis e o nmero total de pontos de utilizao do sistema, em percentagem. Medio setorizada: instalao de medidores em unidades que compem um conjunto maior, dotado de um medidor principal, para que se possa medir o consumo individualmente de cada unidade e no apenas do conjunto. Otimizao do consumo de gua: realizao das atividades consumidoras com o menor consumo possvel, garantida a qualidade dos resultados obtidos. Outorga: ato administrativo mediante o qual o Poder Pblico outorgante (Unio, Estados ou Distrito Federal) faculta ao outorgado o uso de recurso hdrico, por prazo determinado, nos termos e nas condies expressas no respectivo ato. O referido ato publicado no Dirio Ocial da Unio (caso da ANA), ou nos Dirios Ociais dos Estados ou do Distrito Federal, onde o outorgado identicado e esto estabelecidas as caractersticas tcnicas e as condicionantes legais do uso das guas que o mesmo est sendo autorizado a fazer. Padro de potabilidade: conjunto de valores mximos permissveis das caractersticas de qualidade da gua destinada ao consumo humano, conforme determina a portaria MS 518/04. Perda: toda gua que escapa do sistema antes de ser utilizada para uma atividade-m. Perda por vazamento invisvel: volume perdido, no perceptvel a olho nu, constatado por meio de indcios como manchas de umidade em paredes/pisos, sons de escoamento de gua, sistemas de recalque continuamente ligados, e constante entrada de gua em reservatrios, entre outros. Perda por vazamento visvel: volume perdido, perceptvel a olho nu, caracterizado por escoamento ou gotejamento de gua. Perda total: somatrio das perdas por vazamentos visveis e invisveis. Programa de conservao de gua: conjunto de aes com o objetivo de otimizar o consumo de gua com a conseqente reduo do volume dos euentes gerados, a partir da racionalizao do uso (gesto da demanda) e da utilizao de gua com diferentes nveis de qualidade para atendimento das necessidades existentes (gesto da oferta), resguardando-se a sade pblica e os demais usos envolvidos, gerenciados por um sistema de gesto da gua adequado. Ramal predial: tubulao compreendida entre a rede urbana e o reservatrio (inferior ou, no caso da inexistncia deste, do reservatrio superior de uma edicao).

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Reciclagem de esgoto: uso de esgoto, recuperado ou no, diretamente no mesmo processo, sistema ou unidade geradora do esgoto. Recuperao da gua: tratamento ou processamento de esgoto ou gua de qualidade inferior, tornando-os adequados para usos bencos. Reso: uso de gua residuria ou gua de qualidade inferior tratada ou no. Reso de euentes aps tratamento adicional: alternativa de reso direto de euentes tratados que necessitam de sistemas complementares de tratamento para reduzir a concentrao de algum contaminante especco. Reso de euentes tratados: utilizao de euentes que foram submetidos a tratamento. Reso direto de gua: uso planejado de gua de reso, conduzido ao local de utilizao, sem lanamento ou diluio prvia em corpos hdricos superciais ou subterrneos. Reso direto de euentes ou reso em cascata: euente originado em um determinado processo que diretamente utilizado em um processo subseqente. Reso domstico: aproveitamento das guas residurias residenciais provenientes dos usos domsticos que apresentem pouca matria orgnica, como banho e higiene pessoal, para atividades de lavanderia, descargas em bacias sanitrias, rega de jardim e outras atividades menos nobres. Reso indireto de gua: uso de gua residuria ou gua de qualidade inferior, em sua forma diluda, aps lanamento em corpos hdricos superciais ou subterrneos. Reso macro externo: reso de esgoto sanitrio ou industrial tratado, proveniente de estaes de tratamento administradas por concessionrias ou outra indstria. Reso macro interno: uso interno de euentes, tratados ou no, provenientes de atividades realizadas na prpria indstria. Reso no planejado: uso no deliberado, incidental ou inconsciente, direto ou indireto, de esgoto ou de gua de qualidade inferior, recuperados ou no, sem nenhum controle da qualidade da gua associado aos usos bencos correspondentes. Reso parcial de euentes: uso de parte da vazo de esgoto ou gua de qualidade inferior, necessria para determinado processo, diluda com gua com padro superior atendendo balano de massa do processo. Reso planejado: uso adequadamente concebido e disciplinado, direto ou indireto, de esgoto ou de gua de qualidade inferior recuperados, mantendo-se, permanentemente, o controle da qualidade da gua associado aos usos correspondentes.

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Reso potvel: uso, direto ou indireto, de esgoto ou de gua de qualidade inferior recuperados para abastecimento pblico. Reso potvel direto: uso de esgoto ou de gua de qualidade inferior recuperados e posterior introduo direta em um sistema de tratamento de gua para abastecimento pblico. Reso potvel indireto: uso de esgoto ou de gua de qualidade inferior para abastecimento pblico, aps a sua recuperao e posterior diluio em um corpo hdrico supercial ou subterrneo. Segregao de euentes: separao de euentes segundo suas caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas. Sistema de medio: conjunto de equipamentos e acessrios destinados a contabilizar e disponibilizar o volume consumido em um determinado perodo de tempo. Pode ser composto por apenas um medidor mecnico, onde a leitura dos volumes consumidos efetuada visualmente, ou por um ou mais medidores mecnicos, com sada pulsada ou eletrnicos, os quais permitem a leitura remota. Slidos: correspondem a toda matria que permanece como resduo, aps evaporao, secagem ou calcinao da amostra a uma temperatura preestabelecida durante um tempo xado. Diversas so as fraes de slidos, dentre elas: slidos totais, em suspenso, volteis, xos e sedimentrios. Tubulao: conjunto de componentes formado, basicamente, por tubos, conexes, vlvulas e registros, destinados a conduzir gua. Uso benco: qualquer uso cuja exigncia de uso seja atingida com a recuperao dos esgotos ou guas de qualidade inferior. Uso domstico de gua: uso da gua destinado a atender s necessidades humanas (preparao de alimentos, higiene pessoal, cuidado com roupas e objetos domsticos, cuidados com a casa, lazer e passatempo e outros, como combate ao fogo e manuteno das instalaes prediais etc.). Uso excessivo: utilizao da gua em quantidade superior necessria para o desempenho adequado da atividade consumidora. Uso menos nobre da gua: uso no potvel da gua. Usurio: pessoa fsica ou jurdica que efetivamente utiliza a instalao predial de gua fria ou quente, ou que responde pelo uso que outros fazem dela, e responsvel pelo correto uso da instalao e por sua manuteno, podendo delegar esta atividade a outra pessoa fsica ou jurdica. Recorre ao construtor nos casos em que h problema na qualidade da instalao predial de gua fria. Usurios-chave: aqueles representativos de cada grupo de usurios da edicao.

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ABREVIATURASANA Agncia Nacional de guas ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas AWWA American Water Works Association ASFAMAS Associao Brasileira dos Fabricantes de Materiais e Equipamentos para Saneamento DBO Demanda Bioqumica de Oxignio DQO Demanda Qumica de Oxignio CTCC Centro de Tcnicas de Construo Civil EPA Enviromental Protection Agency EPUSP Escola Politcnica da Universidade de So Paulo ETA Estao de Tratamento de gua EEE Estao Elevatria de Esgotos ETE Estao de Tratamento de Esgotos FIESP Federao das Indstrias do Estado de So Paulo IC Indicador de Consumo INCOR Instituto do Corao do Hospital das Clnicas de So Paulo IP ndice de perdas por vazamentos IV ndice de vazamentos PBQP-H Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat PCA Programa de Conservao de gua PNCDA Programa Nacional de Combate ao Desperdcio de gua PSQ Programa Setorial da Qualidade; PURA Programa de Uso Racional da gua EIA Estudo de Impacto ambiental RIMA Relatrio de Impacto Ambiental SABESP Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo SindusCon-SP Sindicato da Indstria da Construo do Estado de So Paulo ST Slidos Totais SST Slidos suspensos totais SDT Slidos dissolvidos totais USP Universidade de So Paulo WHO World Health Organization

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4. Programa de Conservao de gua em Edificaes4.1. INTRODUOPara a implementao de um programa de conservao de gua, torna-se necessrio conhecer a distribuio do consumo, que varia por tipologia de edicao e tambm entre as edicaes de mesma tipologia, de acordo com especicidades dos sistemas e usurios envolvidos. A ttulo de ilustrao, a gura 4.1 apresenta a distribuio do consumo de gua num apartamento de um conjunto habitacional de interesse social, localizado na cidade de So Paulo. Vale ressaltar que os valores de consumo apresentados na gura anterior so apenas ilustrativos e no representam, necessariamente, a realidade de toda e qualquer edicao habitacional. Figura 4.1: Distribuio do consumo de gua em unidade residencial unifamiliar. Fonte: ROCHA et al. 1999.

Chuveiro 55% Pia 18%

Lavadora de roupas 11%

Tanque 3%

Lavatrio 8% Bacia Sanitria 5%

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Em edicaes residenciais, os usos de gua internos distribuem-se principalmente em atividades de limpeza e higiene, enquanto os externos ocorrem devido irrigao, lavagem de veculos e piscinas, entre outros. As edicaes comerciais incluem os edifcios de escritrios, restaurantes, hotis, museus, entre outros. Geralmente o uso de gua neste tipo de edicao para ns domsticos (principalmente em ambientes sanitrios), sistemas de resfriamento de ar condicionado e irrigao. J nas edicaes pblicas, como escolas, universidades, hospitais, terminais de passageiros de aeroportos, entre outros, o uso da gua muito semelhante ao das edicaes comerciais, porm o uso dos ambientes sanitrios bem mais signicativo, variando de 35% a 50% do consumo total. Com base nas necessidades de cada usurio, a implantao de Programas de Conservao de gua (PCA) em edicaes deve subsidiar os gerentes de utilidades na escolha das aes tcnicas mais apropriadas e economicamente viveis, para otimizar o uso da gua, resguardando a sade dos usurios e o perfeito desempenho dos sistemas envolvidos. A conservao da gua pode ser denida como qualquer ao que: reduza a quantidade de gua extrada em fontes de suprimento; reduza o consumo de gua; reduza o desperdcio de gua; aumente a ecincia do uso de gua; ou, ainda, aumente a reciclagem e o reso de gua. Para a otimizao do uso da gua em seu conceito mais amplo, importante destacar a evoluo do conceito de uso racional da gua para o de conservao desse recurso. A implementao do uso racional da gua consiste em sistematizar as intervenes que devem ser realizadas em uma edicao, de tal forma que as aes de reduo do consumo sejam resultantes de amplo conhecimento do sistema, garantindo sempre a qualidade necessria para a realizao das atividades consumidoras, com o mnimo de desperdcio. Esta metodologia possui atuao na demanda de gua da edicao. No entanto, cabe salientar que, na maioria das edicaes a gua potvel utilizada para a realizao de quase todas as atividades, independentemente de uma anlise prvia da qualidade da gua necessria. A evoluo do conceito do uso racional para a conservao de gua consiste na associao da gesto, no somente da demanda, mas tambm da oferta de gua, de forma que usos menos nobres possam ser supridos, sempre que possvel, por guas de qualidade inferior.

20 Captulo 4

Canteiro de obras com diferentes usos da guaNo caso dos usos domsticos em edificaes provisrias, como as dos canteiros de obras, sugere-se adotar medidas como: estabelecimento de um sistema de gesto da gua com o monitoramento do consumo a partir da instalao de hidrmetro especfico para as reas de uso domstico de gua, como as reas de ambientes sanitrios, refeitrios e torneiras de lavagem para uso dos alojamentos; especificao adequada dos equipamentos hidrulicos a serem implementados; realizao de palestras de conscientizao e capacitao dos funcionrios para reduo do desperdcio de gua nos usos domsticos e em processos que utilizam gua (por exemplo, limpeza de ambientes). Nesses casos devem ser estabelecidos procedimentos de lavagem de reas internas e externas. Alm disso, podem ainda ser implantados canais de comunicao dos funcionrios com os responsveis pelo gerenciamento da obra, de maneira que permita que possveis desperdcios sejam notificados para possveis correes. divulgao do consumo mensal de gua para conscientizao dos funcionrios; uso de fontes alternativas (gua de drenagem de terreno, gua de chuva, guas subterrneas) desde que: a) sejam realizados periodicamente ensaios laboratoriais para obteno e monitoramento das caractersticas da gua; b) sejam identificadas aplicaes cujo grau de qualidade exigido esteja de acordo com o da fonte em questo; c) esta prtica seja inserida no sistema de gesto da gua adotado no canteiro de obras para controle da qualidade e quantidade. Ressalta-se que, uma vez utilizada uma fonte alternativa de gua, a responsabilidade pela gesto dessa fonte e riscos envolvidos por tal aplicao ser da construtora e, dessa forma, aconselha-se que essa deciso seja apoiada por especialistas da rea. No caso dos processos produtivos inseridos na construo da edificao (concretagem, cura, entre outros) acredita-se que sejam possveis diversas solues que otimizem o consumo de gua. No entanto, no h ainda hoje dados de pesquisas especficas que comprovem a possibilidade de aplicao de guas de menor qualidade para cura ou mesmo na produo de concreto, por exemplo. O que se v na prtica iniciativa de determinadas construtoras para a otimizao desse insumo e o desenvolvimento de alguns estudos pilotos em determinadas cidades do pas. fundamental que a conservao de gua seja feita de maneira responsvel para que no haja comprometimento da qualidade dos processos envolvidos, representando futura no-conformidade com parmetros j estabelecidos, alm de garantir a segurana e a sade dos usurios.

Captulo 4 21

O conjunto de aes voltadas para a gesto da oferta e da demanda de gua em edicaes existentes denominado de Programa de Conservao de gua (PCA). Vrias dessas aes podem ser adotadas j na fase de projeto de edicaes, de maneira que a conservao de gua no seja uma prerrogativa apenas das edicaes existentes (estoque construdo), mas tambm das que sero construdas. Um PCA1 implantado de forma sistmica, implica em otimizar o consumo de gua com a conseqente reduo do volume dos euentes gerados, a partir da otimizao do uso (gesto da demanda) e da utilizao de gua com diferentes nveis de qualidade para atendimento das necessidades existentes (gesto da oferta), resguardando-se a sade pblica e os demais usos envolvidos, gerenciados por um sistema de gesto da gua adequado. Cabe destacar que a integrao das aes na demanda e oferta de gua, com a implantao de um sistema de gesto consolidam um PCA. Os grandes motivadores para a implantao de um PCA so: economia gerada pela reduo do consumo de gua; economia criada pela reduo dos euentes gerados; conseqente economia de outros insumos como energia e produtos qumicos; reduo de custos operacionais e de manuteno dos sistemas hidrulicos e equipamentos da edicao; aumento da disponibilidade de gua (proporcionando, no caso das indstrias, por exemplo, aumento de produo sem incremento de custos de captao e tratamento); agregao de valor ao produto; reduo do efeito da cobrana pelo uso da gua; melhoria da viso da organizao na sociedade responsabilidade social. Para a viabilidade de implantao de um PCA em qualquer que seja a edicao, importante o entendimento dessa ao como a adoo de uma poltica de economia de gua conforme exemplicado na gura 4.2. O momento para a sistematizao de um PCA est diretamente ligado possibilidade de implementao de determinadas aes tecnolgicas. Numa edicao j existente, algumas intervenes tecnolgicas de possvel aplicao podem ser inviabilizadas devido a imposies da prpria edicao, como, por exemplo, falta de espao para um novo sistema de reserva de gua. No caso de uma nova edicao, o projeto de sistemas prediais deve ser concebido considerando a otimizao do consumo, a aplicao de fontes alternativas de gua nos usos menos nobres, bem como facilidade de gesto do insumo1. SAUTCHUK (2004).

22 Captulo 4

por meio de projetos otimizados em traados e ferramentas de monitoramento, ou seja, plano de setorizao de medio preestabelecido em projeto de acordo com as necessidades. Neste caso, os limitantes executivos so minimizados. Os itens 4.2 e seguintes apresentam o detalhamento da metodologia para a implantao de programas de conservao de gua com nfase na gesto de demanda. Figura 4.2: Viso macro de um PCA (Programa de Conservao da gua).

MANANCIAL

SISTEMA DE GESTO DA DEMANDA E OFERTA DE GUA

EdificaoSetor A

EFLUENTES

POO

Atividades consumidorasETASetor C

ETE

Rede pblica CORPO RECEPTORReserva de gua potvel

Reserva de gua pluvial

Captulo 4 23

4.2. PROGRAMA DE CONSERVAO DE GUA PARA EDIFICAES EXISTENTESA metodologia para a implementao de um PCA, com nfase na gesto da demanda em edicaes existentes, est estruturada em trs etapas, cujo detalhamento efetuado nos itens seguintes (ver gura 4.3): auditoria e diagnstico do consumo de gua; denio e execuo do plano de interveno; e implementao de um sistema de gesto de gua. Caso a edicao no disponha de medio de consumo da gua e/ou seja necessrio setorizar a medio existente, deve-se planejar a implementao da setorizao do consumo da gua.

4.2.1. Implementao da Setorizao do Consumo de gua4.2.1.1. IntroduoA medio uma ferramenta de gesto do consumo de gua que, uma vez estabelecida, permite monitorar o comportamento dessa grandeza ao longo da vida til da edicao. O monitoramento do consumo pode ser realizado a partir de um nico medidor, por meio da leitura visual dos volumes de gua em perodos de tempo preestabelecidos, pelo acompanhamento das contas de gua ou, at mesmo, por intermdio de sistemas mais complexos. Nestes casos, pode-se implementar a setorizao do consumo com medidores que podem ser de leitura visual ou eletrnica, estes com o apoio de programas computacionais especcos para a sistematizao dos dados. Para a aplicao da medio setorizada em edifcios, de suma importncia compreender os aspectos fsicos, funcionais e temporais das edicaes, e suas relaes com os sistemas prediais2. A adoo de um sistema de medio setorizada do consumo de gua traz como principal benefcio o controle de consumo, possibilitando tambm a pronta localizao de vazamentos que levariam meses ou at anos para ser identicados. Alm disso, para a avaliao dos impactos gerados pela implantao de um PCA, necessrio o monitoramento do consumo. Quanto mais detalhado o sistema de medio estabelecido, melhor a qualidade dos dados obtidos.

2.TAMAKI (2004)

24 Captulo 4

Figura 4.3: Programa de conservao de gua em edicaes existentes.

EDIFICAO COM MEDIO DO CONSUMO DE GUA

No

SimAUDITORIA DO CONSUMO

Implantar sistema de medio e monitorar por 30 dias

anlise do consumo histrico clculo do indicador de consumo diagnstico preliminar levantamento do edifcio/usurios

DIAGNSTICO DO CONSUMO

SISTEMAO T GES DE

PLANO DE INTERVENO

anlise tcnico-econmica preliminar gesto da demanda: - campanhas de sensibilizao; - correo de vazamentos; - instalao de tecnologias economizadoras; - reduo de perdas.

AVALIAO DO IMPACTO DE REDUO

Captulo 4 25

Nos casos em que h conjuntos de edifcios com diferentes usos e usurios, caractersticas especcas podem ser atribudas para cada ponto de medio e sua rea de cobertura, de acordo com a tipologia envolvida, o perodo do uso da gua e o perl de demanda, tornando possvel a rpida deteco de anomalias no sistema. Aspectos fsicos como layout da edicao, arranjo estrutural e sistemas prediais, incluindo disponibilidade de medidores, condies de operao e manuteno tornam-se fundamentais para a obteno de indicadores conveis. Os pontos para instalao dos medidores podem estar localizados desde o ramal predial at um ramal do subsistema de distribuio que atenda a um exclusivo ponto de consumo. A telemedio permite a obteno mais rpida e segura dos dados quando comparada com as leituras feitas in loco, podendo ser uma alternativa convencional. Pode ainda ser entendida como a automatizao da medio e da transmisso dos dados que so retransmitidos para estaes de recebimento nas quais so processados e analisados. O uso do sistema de medio remota possibilita implementar intervenes rpidas no sistema, uma vez que o consumo obtido em tempo real. Dessa forma, podem ser determinados os patamares de consumo dos setores, e qualquer alterao em relao aos ndices habituais pode resultar em uma interveno corretiva (vazamentos, vericao da rotina do uso da gua etc.).

4.2.1.2. Caractersticas da Setorizao do ConsumoNas edicaes existentes, a setorizao da medio do consumo normalmente difcil de implementar, pois o sistema predial de gua usualmente concebido de forma verticalizada, com colunas de distribuio abastecendo pontos de consumo em ambientes similares sobrepostos, estando as tubulaes quase sempre embutidas nas paredes (ver esquema tpico de sistema predial de gua em um edifcio com mais de quatro pavimentos na gura 4.4) . Considerando-se, por exemplo, uma edicao residencial multifamiliar, mesmo que a distribuio seja efetuada de forma horizontal, com um ramal abastecendo cada apartamento, no caso de se ter bacias sanitrias com vlvula de descarga e de aquecimento central privado de gua (onde existem colunas exclusivas para o abastecimento desses componentes), teriam de ser instalados, pelo menos, trs medidores para totalizar o consumo de um apartamento. Por outro lado, caso o sistema predial de gua tenha sido executado de forma visitvel, com as tubulaes passando em dutos com fechamento removvel e/ou em vos proporcionados pelo emprego de forros falsos, entre outros artifcios, a implementao da setorizao do consumo pode ser facilitada.

26 Captulo 4

Vale ressaltar, porm, que o sistema existente no foi dimensionado considerando a perda de carga introduzida pelo hidrmetro, que no desprezvel. Assim, devem ser estimadas as presses resultantes nos pontos crticos com a interposio dos medidores, de modo que no comprometa o desempenho do sistema. Figura 4.4: Sistema predial de gua edifcio com mais de quatro pavimentos.FONTE: GONALVES (s.d.)

Hidrmetro

R rede urbana de gua potvel RI reservatrio inferior B conjuntos moto-bomba RS reservatrio superior

Captulo 4 27

4.2.2. Auditoria do Consumo de gua4.2.2.1. Anlise e Diagnstico Preliminar do Consumo de guaA anlise do consumo permite o conhecimento da utilizao da gua no sistema, por meio do planejamento adequado para a realizao de levantamento documental, das caractersticas fsicas e funcionais do edifcio e, em particular, do sistema hidrulico. Como forma de evitar avaliaes enganosas, prope-se o levantamento do Indicador de Consumo (IC), que a relao entre o volume de gua consumido em um determinado perodo, denominado perodo histrico, e o nmero de agentes consumidores nesse mesmo perodo. O agente consumidor a varivel mais representativa do consumo em uma determinada tipologia de edicao. A unidade adotada para expressar o IC varia em funo da tipologia do edifcio. Assim, por exemplo, em um edifcio residencial ou de escritrios tem-se litros/pessoa.dia; em uma escola, litros/aluno.dia; em um hospital, litros/leito.dia. Esses valores constituem referncias para a avaliao do impacto de reduo do consumo de gua aps cada uma das aes implementadas no decorrer de um PCA.

4.2.2.2. Levantamento do Edifcio e Diagnstico do ConsumoPara o conhecimento das caractersticas fsicas e funcionais do sistema hidrulico e das atividades desenvolvidas no edifcio, necessria a realizao de um levantamento geral do sistema nas edicaes existentes. As informaes obtidas nessa etapa contribuem para o entendimento do perl de consumo de gua no sistema. O levantamento do edifcio realizado por meio das seguintes atividades: levantamento do sistema hidrulico predial; deteco dos vazamentos visveis e no-visveis; levantamento dos sistemas hidrulicos especiais; levantamento da qualidade da gua; levantamento dos procedimentos dos usurios.

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Para a determinao do IC devem ser considerados os seguintes aspectos: Em edificaes onde o agente consumidor permanea por perodos diferenciados, como o caso de escolas, ou onde a parcela correspondente populao flutuante significativa, a determinao dos agentes consumidores deve contemplar estes aspectos. Deve-se caracterizar adequadamente os agentes consumidores, por exemplo, por diferentes faixas etrias, como o caso de escolas com creches e alunos de ensino fundamental e mdio. Valores atpicos do consumo mensal no perodo histrico, que no se mantenham por mais de um ms, por exemplo, devem ser desconsiderados para o clculo do indicador de consumo histrico. Caso o consumo no seja sazonal, recomenda-se calcular a mdia aritmtica e o desvio padro do consumo dos trs meses anteriores ao ms de incio das atividades do PCA. Caso os trs valores estejam dentro da faixa compreendida pela mdia desvio-padro, o valor obtido para a mdia o consumo mdio histrico representativo da edificao. Se, por outro lado, pelo menos um dos valores dos meses citados anteriormente resultar fora da referida faixa, devese considerar os consumos dos doze meses anteriores, retirando-se os valores atpicos (fora da faixa da mdia 2* desvio), calculando-se a mdia com os valores resultantes. Caso o consumo seja sazonal, ou seja, varie necessariamente de um ms para outro, deve-se considerar os valores em meses de anos diferentes. Existem variaes no indicador de consumo para uma mesma tipologia de edifcio, em funo das diferenas de hbitos dos usurios, decorrentes de fatores culturais, climticos, entre outros. Assim, essas diferenas devem ser consideradas quando do uso de um indicador de consumo levantado para uma dada edificao num determinado local. Cuidados devem ser tomados no emprego de frmulas de regresso propostas para a determinao de IC quando no esto explicitadas as caractersticas das variveis consideradas. A adoo, por exemplo, da rea construda numa equao que foi determinada considerando-se a rea de construo, incorrer em erros significativos.

a- Levantamento do sistema hidrulico predial e deteco de vazamentos Nesta etapa devem ser realizadas, entre outras, as seguintes tarefas: levantar a idade da edicao; levantar o histrico de manuteno do sistema hidrulico; cadastrar o tipo do sistema de abastecimento e o nmero de medidores; localizar e cadastrar a quantidade e a capacidade dos reservatrios;

Captulo 4 29

vericar as condies de operao da torneira de bia e o local de desge do extravasor e da tubulao de limpeza do reservatrio; monitorar a presso em pontos crticos do sistema; cadastrar os pontos de utilizao do sistema, suas caractersticas e condies de operao. A deteco dos vazamentos no-visveis pode ser feita a partir da realizao de testes expeditos, como o teste da caneta em bacias sanitrias; o teste do hidrmetro, e testes especiais com a utilizao de correlacionador de rudos, geofone eletrnico e haste de escuta.3 No Anexo C encontra-se um modelo de planilha que pode ser utilizado para o cadastramento dos pontos de consumo de gua e vericao das condies de operao. A tabela 4.1 apresenta alguns defeitos/falhas freqentes dos aparelhos sanitrios que podem ser sanados com intervenes de manuteno segundo as recomendaes dos fabricantes. Levantamentos realizados na Regio Metropolitana de So Paulo indicam que 85% dos vazamentos ocorrem na ligao predial (cavaletes, registro e ramal), mais de 50% dos vazamentos ocorrem em tubos com presses superiores a 460 Kpa (46 mca), e que cerca de 40% dos vazamentos ocorrem nas tubulaes com mais de vinte anos4. b- Sistemas hidrulicos especiais Os sistemas hidrulicos, aqui denominados especiais, so os seguintes: sistema de ar condicionado; ar comprimido; vcuo; vapor com caldeira, hemodilise por osmose reversa, e destilao, entre outros. As caractersticas tcnicas desses equipamentos, como vazo, perodo dirio de operao e consumo de gua no processo devem ser cadastradas para se obter uma estimativa do percentual de participao do sistema no consumo total. A obteno desses dados realizada por meio da inspeo em cada um dos sistemas e de informaes de catlogos dos fabricantes dos respectivos equipamentos. Deve-se observar, tambm, a ocorrncia de perdas de gua por vazamento em gaxetas de bombas, em extravasores de bacias de ar condicionado, em tubulaes e outros componentes. possvel evitar perdas de gua por arraste nas torres de resfriamento, atravs da instalao de bandejas coletoras junto s venezianas das bacias das torres. As perdas so provocadas por respingos de gua que representam aproximadamente 0,1% da vazo de gua de circulao nas torres5.

3. Conforme procedimentos apresentados por GONALVES et al. (1998) e FUJIMOTO et al.(2002). 4. ALONSO (1986) apud GONALVES (2005); BORGES (1993) apud GONALVES (1995). 5. OLIVEIRA (1999)

30 Captulo 4

Tabela 4.1: Defeitos/falhas dos aparelhos sanitrios e intervenes necessrias.

Defeitos/Falhas Encontrados Vazamento na bacia Vazamento externo na vlvula de descarga Bacia sanitria com caixa acoplada Vazamento na bacia

Aparelho Sanitrio Bacia sanitria com vlvula

Interveno Troca de reparos Regulagem da bia ou troca de reparos Troca ou limpeza da comporta e sede Troca ou regulagem do cordo Troca do vedante ou do reparo Troca do anel de vedao da haste ou do reparo Troca do pisto ou mbulo da torneira Ajuste da vazo atravs do registro regulador Troca do anel de vedao da haste ou do reparo Troca do vedante ou do reparo Troca do anel de vedao da haste ou do reparo

Torneira convencional (lavatrio, pia, tanque, uso geral) Torneiras hidromecnicas (lavatrio, mictrio)

Registro de presso para chuveiro

Vazamento pela bica Vazamento pela haste Tempo de abertura inadequado (fora da faixa compreendida entre 6 e 12 segundos) Vazo excessiva Vazamento na haste do boto acionador Vazamentos pelo chuveiro Vazamento pela haste do registro

A reduo do volume de gua liberada depende da qualidade da mesma na recirculao na torre de resfriamento. O nmero de ciclos de concentrao expressa a relao entre o volume de gua de reposio e o volume de drenagem, isto , a relao entre a concentrao do total de slidos dissolvidos na gua de drenagem e a concentrao do total de slidos dissolvidos. Quanto maior a taxa de concentrao, menor o volume de drenagem. O aumento da taxa de concentrao de 2 para 4, por exemplo, resulta na conservao da tera parte do volume de gua de reposio previamente requerido. Muitas torres de resfriamento possuem medidores de condutividade e vlvulas solenides para o controle da drenagem. Em casos especcos, necessrio o tratamento qumico da gua de recirculao que pode ser feito pelo operador do sistema ou por empresas especializadas. Vale salientar que h, muitas vezes, desmotivao por parte da empresa de tratamento qumico em reduzir o volume de gua de drenagem, porque h decrscimo de produtos qumicos.

Captulo 4 31

Para maior ecincia das torres de resfriamento, sugere-se que o consumo do sistema seja setorizado, o que subsidia e possibilita a ecincia do monitoramento da reposio e drenagem. Ainda em muitos casos deve ser avaliada a substituio do sistema de resfriamento a gua por outro de resfriamento a ar. c- Levantamento da qualidade da gua Nesta etapa, devem ser realizadas, entre outras, as seguintes atividades: anlise fsico-qumica e bacteriolgica da gua com descrio de metodologia; e identicao de pontos do sistema hidrulico com potencial de contaminao da gua. d- Levantamento dos procedimentos dos usurios Esta atividade deve ser realizada com a maior discrio possvel, para que os usurios no mudem de comportamento e, assim, possam mascarar as informaes que devero ser repassadas ao prossional responsvel pela campanha educativa. Os principais ambientes que devem ser observados so: cozinha, lavanderia, jardim e rea externa, sanitrio, laboratrio e outros, conforme a tipologia do edifcio. Alm da observao dos usurios, quando da realizao das principais atividades, podem ser feitas entrevistas com usurios-chave, levantando a forma de realizao das diferentes atividades. A entrevista pode ser aproveitada, inclusive, para levantar a satisfao dos usurios com os aparelhos sanitrios existentes e obter subsdios para a substituio dos mesmos, se necessrio. No Anexo D apresenta-se um exemplo de planilha para o levantamento das atividades realizadas pelos usurios em edicaes escolares, que pode ser utilizada, com as devidas adaptaes, para outras tipologias de edicaes. e- Elaborao do diagnstico O diagnstico a sntese organizada das informaes obtidas na auditoria do consumo de gua. Ele possibilita a elaborao de um plano de interveno com aes especcas para cada tipologia de edifcio e a considerao das caractersticas prprias de cada sistema. Aps a concluso do levantamento do sistema e do processamento dos dados, deve-se elaborar o diagnstico, apresentando as condies de operao, as perdas de gua provenientes de vazamentos, inclusive dos sistemas hidru-

32 Captulo 4

licos especiais. Recomendam-se as informaes relativas ao perodo histrico, relacionadas a seguir, na apresentao do diagnstico do consumo de gua: consumo dirio de gua no perodo histrico; nmero de agentes consumidores; valor do indicador de consumo de gua no perodo histrico; desperdcio dirio estimado; ndice de desperdcio estimado; perda por vazamento visvel; ndice de perda por vazamento visvel; ndice de vazamento visvel; perda por vazamento invisvel; ndice de perda por vazamento invisvel; ndice de vazamento invisvel; perda diria total levantada no sistema; consumo dirio de gua em sistemas hidrulicos especiais; procedimentos inadequados dos usurios relacionados ao consumo de gua. Vale destacar os seguintes aspectos: no existem dados consolidados para a estimativa do ndice de perda por vazamentos em bacias sanitrias. Para uma primeira estimativa, podem ser utilizados os dados constantes na tabela 4.2; para a estimativa das perdas, um registro que vaza somente ao abrir deve ser contabilizado como ponto com vazamento, sendo necessrio estimar um valor para o volume desperdiado, por menor que ele seja; vazamentos em torneiras devem ser estimados, preferencialmente, a partir de medio in loco, com um recipiente graduado e um cronmetro. A ttulo de ilustrao, a gura 4.5 apresenta ndices de vazamentos encontrados em estudos realizados em diferentes tipologias de edicaes.

Captulo 4 33

Figura 4.5: ndices de vazamentos edicao escolar e hospitalar. CEMEI 44 total de aparelhos: 29 Bloco E total de aparelhos: 299

com vazamento 23%

com vazamento 22%

sem vazamento 77% Escola de educao infantil (creche)Fonte: GONALVES et al. (2005)

sem vazamento 78% HospitalFonte: ILHA et al. (2004)

Vale ressaltar, contudo, que grandes ndices de vazamento (IV) no representam necessariamente grandes volumes de gua perdidos. Assim, alm do IV, deve-se estimar o ndice de perdas por vazamentos (IP), que pode contemplar todos os tipos de vazamentos ou, como sugerido anteriormente, vazamentos visveis e invisveis. Dene-se ndice de perdas como a relao entre o volume total estimado perdido em vazamentos (ver indicativos na tabela 4.2) em um determinado perodo de tempo e o consumo total de gua nesse mesmo perodo (pode-se utilizar, nesse caso, o consumo histrico, determinado conforme metodologia j apresentada), expresso em percentagem. A gura 4.6, ilustra os ndices de vazamentos e de perdas por vazamentos encontrados em um estudo realizado em escolas municipais.

4.2.3. Plano de Interveno4.2.3.1. Atuao na Demandaa- Reduo do desperdcio de gua A partir do diagnstico realizado, pode-se elaborar o plano de interveno, cujas aes devem ser iniciadas pelo ponto crtico do sistema e, em geral, pela correo dos vazamentos detectados. Na execuo de um plano de interveno para reduzir o consumo de gua indispensvel a avaliao das aes implementadas, que pode ser feita aps a implantao de cada uma delas ou no nal do plano de interveno.

34 Captulo 4

Tabela 4.2: Volumes estimados perdidos em vazamentos.Fontes: OLIVEIRA (1999) e GONALVES et al. (2005)

Aparelho/equipamento sanitrio Gotejamento lento Gotejamento mdio Torneiras Gotejamento rpido (de lavatrio, de pia, de uso geral) Gotejamento muito rpido Filete 2 mm Filete 4 mm Vazamento no exvel Filetes visveis Vazamento no exvel Vazamento no registro Filetes visveis Vazamento no tubo de alimentao da loua Vlvula disparada quando acionada

Perda estimada 6 a 10 litros/dia 10 a 20 litros/dia 20 a 32 litros/dia > 32 litros/dia > 114 litros/dia > 333 litros/dia 0,86 litros/dia 144 litros/dia 0,86 litros/dia 0,86 litros/dia 144 litros/dia 144 litros/dia

Mictrio

Bacia sanitria com vlvula de descarga

Chuveiro

40,8 litros (supondo a vlvula aberta por um perodo de 30 segundos, a uma vazo de 1,6 litros/segundo) 0,86 litros/dia Vaza no registro Vaza no tubo de alimentao junto da 0,86 litros/dia parede

Captulo 4 35

Figura 4.6: ndice de vazamentos (IV) e de perdas por vazamentos (IP) escolas municipais de ensino fundamental.Fonte: GONALVES et al. (2005).

Conforme destacado anteriormente, o consumo total de gua, independentemente da tipologia de edifcio considerada, composto por uma parcela efetivamente utilizada e outra perdida, que pode ser decorrente do desperdcio. O desperdcio denido como sendo toda a gua que est disponvel em um sistema e no utilizada, ou seja, perdida pelo uso excessivo, devido ao descaso dos usurios pela necessidade de sua preservao e tambm onde a gua utilizada sem que desta se obtenha algum benefcio, como o caso dos vazamentos. Dessa maneira, o desperdcio engloba perda e uso excessivo.6 A perda, denida como toda a gua que escapa antes de ser utilizada para uma atividade m, pode ocorrer por causa de vazamentos, mau desempenho do sistema e negligncia do usurio. O uso excessivo, por sua vez, ocorre quando a gua utilizada de modo inadequado em uma atividade como o uso de procedimentos inadequados e o mau desempenho do sistema. Logo, o consumo total de gua de uma edicao pode ser denido como: CONSUMO = USO + DESPERDCIO

6. OLIVEIRA (1999)

PERCENTAGEM

36 Captulo 4

So apresentadas a seguir algumas consideraes para a reduo do desperdcio: a1- Correo de vazamentos A correo de vazamentos uma das aes mais ecientes na reduo do consumo de gua em um sistema. de fundamental importncia, por exemplo, a correo de vazamentos antes da substituio de componentes convencionais por economizadores de gua, como forma de evitar resultados enganosos. Alm disso, o permanente controle de desperdcios no sistema tende a deix-lo o mais prximo de suas condies plenas de desempenho. A gura 4.7 apresenta alguns exemplos de reduo do consumo de gua advinda do conserto de vazamentos. Verica-se ser grande a incidncia de vazamentos no ramal predial, sendo os volumes perdidos usualmente de grandes magnitudes. A gura 4.8 apresenta a reduo do consumo aps o conserto de um vazamento detectado no ramal predial de uma escola. a1- Reduo de perdas A reduo de perdas em sistemas hidrulicos especiais obtida por meio da manuteno adequada, evitando-se as perdas por vazamento, mau desempenho do sistema ou por negligncia do usurio. No entanto, o maior potencial para a reduo de consumo de gua nesses sistemas encontra-se na implementao de aes que visem o reaproveitamento de gua, sendo este assunto comentado de forma detalhada no Captulo 5, que trata da gesto da oferta de gua. a3- Realizao de campanhas de sensibilizao e educativas A sensibilizao e/ou o treinamento dos usurios para conservao de gua potencializa outras aes que venham a ser adotadas dentro de um PCA. A campanha de sensibilizao, que uma comunicao mais abrangente, tanto do ponto de vista de informao como do tipo de usurio, destinada a todos os usurios do sistema, pode abordar tpicos como: o objetivo da conservao da gua; as vantagens econmicas e ambientais da reduo de volume de gua e de esgoto tratado; a reduo de gastos com as contas de gua e de energia; a possibilidade de atendimento a um maior nmero de usurios.

Captulo 4 37

Figura 4.7: Reduo do consumo advinda do conserto de vazamentos unidades localizadas no campus universitrio da UNICAMP. Fonte: PEDROSO (2002).

Figura 4.8: reduo do consumo de uma escola aps o conserto de vazamento no ramal predial. Fonte: ARAJO (2004).

38 Captulo 4

Existem diferentes materiais j elaborados para esse m, muitas vezes disponibilizados pelas prprias concessionrias de gua e esgoto. Porm, cabe identicar, na edicao na qual est sendo implementado o PCA, qual(is) a(s) forma(s) mais eciente(s) de alcanar os objetivos traados (realizao de palestras, distribuio de folhetos, alimentao de murais, notcias em jornais internos, realizao de dinmicas de grupo abordando o tema em questo, entre outras formas). Deve-se tambm estimular os usurios a levar esses conceitos para as suas residncias, condomnios etc., de forma que a campanha realizada no mbito da edicao alcance resultados mais abrangentes. A campanha educativa, por sua vez, uma forma de comunicao destinada a usurios especcos e desenvolvida por meio de palestras dirigidas aos funcionrios de cozinha e lanchonete, de laboratrio, da limpeza, de manuteno de sistemas prediais e a outros grupos de usurios consumidores de gua no sistema, informando-os de procedimentos mais adequados para a realizao de suas atividades. Essa ao deve ser conduzida por prossionais especialistas de cada uma das reas. A seguir, algumas sugestes de atividades que podem ser desenvolvidas nessa campanha: curso de pesquisa de vazamento e de manuteno de sistemas prediais, ministrado pelas concessionrias ou outras entidades; palestras sobre procedimentos para higienizao de utenslios de cozinha e preparao de alimentos; palestras que abordem procedimentos de limpeza em geral, limpeza de reservatrios e irrigao de jardins. a4- Instalao de tecnologias economizadoras nos pontos de consumo de gua O objetivo desta ao reduzir o consumo de gua independentemente da ao do usurio ou da sua disposio em mudar de comportamento para reduzir o consumo de gua. Ela deve ser implementada quando o sistema estiver totalmente estvel, ou seja, sem nenhuma perda de gua por vazamento. Ressalta-se que imprescindvel o aperfeioamento da capacitao tcnica de usurios responsveis pela manuteno no edifcio, tendo-se em vista os novos componentes a ser instalados. A vantagem econmica da adequao do sistema, obtida pela substituio de componentes convencionais por economizadores, depende das condies locais. Por essa razo, antes da implementao dessa ao, recomenda-se uma avaliao econmica das atividades necessrias para a alterao do sistema que tm por objetivo reduzir o consumo de gua. Assim, deve-se vericar, com antecedncia, os componentes a serem especicados, seus respectivos custos, inclusive de mo-de-obra e, ainda, a necessidade de obras civis.

Captulo 4 39

A especicao de componentes economizadores com o objetivo de promover a reduo do consumo de gua, deve ser realizada em funo das necessidades dos usurios obtidas de observaes de suas atividades relacionadas gua e da avaliao tcnico-econmica e, ainda, das condies fsicas de cada sistema7. O Anexo E apresenta tecnologias economizadoras de gua e que podem ser utilizadas como apoio nessa etapa, alm de equipamentos convencionais tradicionalmente utilizados. As especicaes tcnicas dos componentes economizadores de gua devem ser realizadas considerando-se as seguintes questes: presso hidrulica disponvel nos pontos de utilizao; conforto do usurio; higiene; atividade do usurio; risco de contaminao; facilidade de manuteno; facilidade de instalao, tendo em vista a adequao do sistema; avaliao tcnico-econmica e vandalismo. No item de estudos de caso, no captulo 7, so apresentados alguns resultados obtidos em PCA desenvolvidos em diferentes tipologias de edicaes, os quais contemplam a instalao de tecnologias economizadoras.

4.2.4. Estimativa ou Avaliao do Impacto de Reduo do Consumo de guaA estimativa do impacto de reduo do consumo de gua com as diferentes aes que devem ser implementadas pressupe a formulao de diferentes hipteses sobre o comportamento do consumo antes e aps a realizao das intervenes. A avaliao do impacto de reduo do consumo de gua, por sua vez, deve ser feita segundo a implementao de cada uma das aes, conforme o plano de interveno, fazendo-se o gerenciamento do consumo por meio de leituras sistemticas nos hidrmetros e observando-se os impactos de reduo nos respectivos perodos. Na avaliao fundamental considerar o indicador de consumo. Caso a anlise seja realizada somente atravs do valor de consumo, corre-se o risco de se obter resultados enganosos, exceto quando o nmero de agentes consumidores for o mesmo antes e durante a implantao de um PCA. O impacto de reduo do consumo calculado conforme a equao:

onde: IR = impacto de reduo do consumo de gua por agente consumidor; ICAP = indicador de consumo antes das intervenes; ICDP = indicador de consumo depois das intervenes.7. GONALVES et.al. (1998); GONALVES et.al. (1999)

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A informao de reduo do consumo deve ser sempre repassada aos usurios do sistema por meio da campanha de conscientizao que tem a funo de informar e de incentiv-los a economizar gua. Para complementar a estimativa ou a avaliao do impacto de reduo, pode ser calculado o perodo mdio de retorno dos investimentos, de acordo com os itens a seguir. Procedimento de clculo para a determinao do pay-back atualizado: 1) orar analiticamente todos os componentes economizadores de gua, tubos, conexes e materiais, mais a mo-de-obra, necessrios para a adequao do sistema hidrulico com o objetivo de economizar gua, obtendo-se o valor total VT; 2) estimar um valor de reduo do consumo mensal de gua aps a interveno. Esse valor deve ser obtido por prossionais especialistas no assunto; 3) calcular o uxo de benefcio B, ou seja, o valor mensal economizado de gua com base nas tarifas do Prestador de Servios de gua Local. O uxo de benefcio B dado por: onde: C1 valor mdio da conta de gua antes da interveno; e B = C1 C2 C2 valor esperado da conta de gua aps a interveno. Lembrar que o volume de gua deve ser multiplicado por um fator que varia de local para local, para considerar o volume de esgoto, quando este estiver incluso no custo do metro cbico de gua. 4) Calcular os uxos atualizados e pay-back conforme a equao: onde: AF uxo de benefcio atualizado; B uxo de benefcio; r taxa de desconto; e t tempo. Ressalta-se, contudo, que vrios autores citam a diculdade de se estabelecer um valor mximo para o pay-back para considerar o investimento vivel ou no, sendo recomendvel, portanto, que esse indicador seja utilizado auxiliarmente na tomada de deciso (e no como um indicador nico), pois quanto maior o seu valor, maior o risco envolvido na operao. Para tanto, sugere-se a determinao, por exemplo, do valor presente lquido (VPL) e da taxa interna de retorno (TIR).

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4.3.

PROGRAMA DE CONSERVAO DE GUA PARA NOVAS EDIFICAES

A implantao de um PCA em uma nova edicao, com base nos dados de entrada que caracterizam a edicao, iniciase com a etapa de avaliao tcnica preliminar, na qual se realiza a avaliao da demanda e oferta de gua para proposio de solues viveis tcnica e economicamente, conforme apresentado na gura 4.9. Figura 4.9: Programa de conservao de gua em edicaes novas.Nova Edicao Dados de entrada: Tipologia, sistemas envolvidos, usurios diretrizes de funcionamento da edicao Anlise da Demanda Anlise Documental Sistemas Hidrulicos PrediaisLocao dos sistemas em reas acessveis Otimizao de traado Avaliao dos equipamentos hidrulicos Setorizao do consumo Vazo e presso apropriada nos diversos pontos de consumo

Anlise da Oferta Anlise quantitativa e qualitativa das necessidades Relacionar possveis fontes de abastecimento Estudo das diferentes aplicaes contemplando tecnologias, custos de manuteno, investimento inicial

Aproveitamento de guas pluviais Uso de guas subterrneas Reso de gua Captao direta Concessionria

Sistemas EspeciaisEstudo de Solues Alternativas

Solues da nova edicao Elaborao do Anteprojeto Elaborao do Projeto Executivo Estabelecimento do Sistema de Gesto da gua

Estudo de Viabilidade Tcnica Econmica

Soluo Consolidada

Execuo

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No item 7.3 de estudos de caso apresenta-se uma avaliao da viabilidade tcnica e econmica desenvolvida para uma nova edicao comercial, que ilustra o uxo apresentado na gura anterior.

4.3.1. Anlise da Demanda de guaPara a otimizao do consumo de gua, importante que o projeto dos sistemas hidrulicos prediais e o sistema para usos especcos (sistemas especiais) sejam concebidos dentro de premissas especcas. Para tal, devem ser consideradas as seguintes atividades: anlise documental - levantamento e anlise de todos os documentos e informaes disponveis que possam auxiliar no entendimento da edicao sob a tica do uso da gua; reconhecimento das necessidades de qualidade da gua especca para cada uso contido na edicao, devendo ser feito questionrio contendo informaes especcas de usos, usurios e sistemas prediais. Na concepo propriamente dita dos sistemas hidrulicos prediais, devero ser premissas de projeto: garantia de vazo e presso apropriadas nos diversos pontos de consumo, de forma que eliminem possveis desperdcios; avaliao das possibilidades mais apropriadas de equipamentos hidrulicos e componentes, a partir do levantamento das atividades que ocorrem na edicao e identicao dos usurios, levantando-se as especicaes tcnicas e custos de aquisio; setorizao do consumo de gua; traados otimizados; locao dos sistemas hidrulicos considerando a facilidade de acesso; atendimento s normas tcnicas brasileiras de projetos, materiais e componentes. No caso da existncia de sistema de ar condicionado, deve ser considerado o consumo de gua da tecnologia escolhida, com a elaborao, no estudo preliminar, de estudo de viabilidade tcnica e econmica das possveis alternativas, com foco na economia de gua.

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No caso de projeto de paisagismo, avaliar a possibilidade de uso de vegetao que permita reduzir o consumo de gua por rea a ser irrigada, bem como considerar tecnologias de irrigao que garantam um consumo minimizado para realizao eciente dessa atividade. As tecnologias a serem implantadas devero ser propostas de maneira gradativa, compondo-se a economia gerada com os custos de aquisio. A ecincia futura do uso da gua ser ento determinada pelo usurio e pela gesto do insumo ao longo da vida til da edicao. As ferramentas para monitoramento do consumo de gua, ou seja, a implementao de um sistema de medio do consumo de gua, tambm deve ser incorporada na fase de concepo do projeto.

4.3.1.1. Setorizao do Consumo de guaPara a otimizao do consumo de gua importante que o projeto de sistemas hidrulicos prediais e dos sistemas especiais seja concebido dentro de premissas especcas. Para tal, deve ser considerada como atividade desta etapa a setorizao do consumo de gua, de forma que garanta o monitoramento do consumo ao longo do tempo, permitindo a ecincia da gesto. A implementao do sistema de monitoramento do consumo deve ser considerada na fase de projeto, desde o dimensionamento (considerando perdas de carga nos hidrmetros), locao em planta e em desenhos isomtricos, alm de esquemas contendo detalhes de instalao, com uma numerao lgica para facilidade de identicao dos mesmos. necessrio, ainda, o levantamento das possibilidades tecnolgicas e dos custos envolvidos. A seqncia de atividades para a implantao do sistema de monitoramento de gua, desde o projeto, a seguinte: estabelecimento de um plano de setorizao, que dena os setores da edicao que sero monitorados atravs da instalao de medidores de consumo de gua. Essa denio pode ser a diviso do sistema hidrulico em setores de utilizao da gua, onde so consideradas atividades consumidoras (processos e nalidade) ou mesmo disposio de reas ou ambientes (aspectos arquitetnicos); traado e dimensionamento do sistema (considerando perdas de carga nos hidrmetros), denindo dimetros de tubulaes e bitolas da ao e demais componentes do sistema em plantas e esquemas verticais; levantamento da quantidade de medidores, componentes do sistema (programa computacional, repeaters, central de dados e extenso de tubulaes e ao do sistema) para anlise dos custos de uma tecnologia convencional (medidores de leitura visual) versus tecnologia para medio eletrnica, avaliando as possveis vantagens tcnicas; numerao lgica para facilidade de identicao dos mesmos;

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detalhes de instalao; manual tcnico de operao do sistema para auxlio da etapa de gesto. Os investimentos necessrios para a setorizao com hidrmetros eletrnicos englobam os custos provenientes da aquisio dos hidrmetros propriamente ditos, e, se for o caso, do programa especco para gerenciamento dos dados, decodicadores e dispositivos de proteo dos pontos. Uma vez realizado o investimento inicial, o sistema pode ser ampliado e/ou interligado a outras edicaes, alm de poder monitorar, com as adequaes necessrias, outros insumos da edicao. Por meio deste tipo de sistema de monitoramento as informaes so obtidas em tempo real, eliminando a necessidade da leitura em campo e agilizando a implementao das intervenes necessrias. Porm, o sistema a ser implantado tambm pode ser composto por medidores mecnicos, sendo a leitura efetuada visualmente.

4.3.1.2. Traados OtimizadosOtimizar o traado de tubulaes signica considerar a possibilidade de concentrar tubulaes em paredes hidrulicas e reduzir a quantidade de juntas ou conexes. Como exemplo, podem ser utilizados sistemas alternativos s solues convencionais. A escolha da tecnologia deve ser considerada na etapa de projeto. A utilizao de tubulaes exveis, quando projetadas adequadamente, pode proporcionar melhorias tanto na execuo quanto no tratamento da utilizao dos aparelhos sanitrios. Os sistemas alternativos interligam diretamente cada ponto de consumo a um coletor central de distribuio. Qualquer que seja a tecnologia empregada, o menor nmero de juntas auxilia na minimizao das perdas fsicas, tornando o sistema menos vulnervel. importante que a escolha da tecnologia permita um maior controle por parte do construtor, instalador e usurio final. A integrao do projeto de sistemas prediais hidrulicos ao de arquitetura pode proporcionar melhor funcionalidade ao sistema. A concentrao de tubulaes em uma mesma parede (chamada parede hidrulica) no s otimiza a quantidade de materiais utilizados num ambiente sanitrio, como tambm limita a busca no caso de deteco de vazamentos. Alm disso, a passagem das tubulaes em dutos acessveis e/ou forros falsos, dissociados do sistema das vedaes, facilita o acesso s mesmas, agilizando a manuteno.

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Cabe destacar que a integrao dos sistemas pode ser ainda mais complexa, como no caso de sistemas hidrulicos integrados em mdulos industrializados, ocasionando aumento signicativo da produtividade da execuo.

4.3.1.3. Controle de Presses e VazesProblemas com presses elevadas, tanto no ramal predial como no sistema de distribuio, podem implicar no somente em grandes volumes perdidos na ocorrncia de um vazamento, como tambm no uso exagerado (vazes muitas elevadas). A presso elevada pode contribuir para as perdas e desperdcio de gua no sistema hidrulico de vrias maneiras: freqncia de rupturas, golpe de arete ou fornecimento de gua em quantidade superior necessria numa torneira, por exemplo, chegando at mesmo a comprometer o funcionamento de equipamentos especcos. Uma reduo de presso de 30 mca para 17 mca pode resultar em economia de aproximadamente 30% do consumo de gua. A avaliao e o controle da presso no sistema hidrulico podem representar importante contribuio para a reduo do consumo de gua. Quando constatada a existncia de presso superior necessria, devem ser especicados dispositivos adequados a cada caso como, por exemplo, restritores de vazo, placas de orifcio ou vlvulas redutoras de presso.

4.3.1.4. Especicao dos Equipamentos HidrulicosPara a utilizao de materiais e componentes, importante avaliar sua qualidade e resistncia, bem como a adequao e desempenho apropriado s solicitaes estabelecidas pelo sistema. A aquisio de materiais deve levar em considerao os fabricantes que produzam em conformidade com as normas tcnicas brasileiras, e sua utilizao deve seguir as recomendaes que acompanham cada produto. Em 1991, foi criado pelo Governo Federal o PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat), que tem por nalidade elevar o patamar de qualidade e produtividade da construo civil, por meio da criao e implantao de mecanismos de modernizao tecnolgica e gerencial. Em articulao com o setor privado e entidades representativas do setor, o PBQP-Habitat estimula os fabricantes de materiais e componentes a elaborar programas setoriais de qualidade (PSQ).

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importante que projetistas construtores e usurios nais se apropriem dos resultados dos PSQs, os quais fornecem informaes acerca da conformidade de materiais e componentes, que so fundamentais para subsidiar a aquisio destes em consonncia com as normas tcnicas brasileiras, garantindo o desempenho adequado. Outro fator importante a ser considerado a especicao de equipamentos adequados ao uso a que se destinam. Equipamentos e dispositivos economizadores, como arejadores, redutores de presso e misturadores termostticos, entre outros, devem ser previstos. A adequada especicao de equipamentos requer o entendimento do funcionamento do aparelho, das atividades envolvidas e do tipo de usurio para identicao dos requisitos de desempenho a serem atendidos. Muitas vezes a especicao de um componente hidrulico, no necessariamente com caractersticas economizadoras de gua, pode resultar na reduo do consumo em razo da facilidade de uso e das caractersticas de utilizao. Os componentes economizadores de gua nos sistemas prediais apresentam caractersticas especcas de instalao, funcionamento, operao e manuteno. Para a garantia de desempenho desses equipamentos, com obteno e manuteno dos ndices de consumo de gua esperados, fundamental que os mesmos: sejam especicados adequadamente, em funo do uso a que se destinam e do tipo de usurio; sejam instalados corretamente, de acordo com as orientaes e especicaes dos respectivos fabricantes; sejam utilizados da maneira adequada, para o m a que se destinam, com eventual capacitao de usurios quando for o caso; recebam a manuteno necessria (preventiva ou corretiva) que garanta a regulagem e o funcionamento correto dos equipamentos, de acordo com as especicaes dos respectivos fabricantes. A especicao de louas, metais sanitrios e equipamentos hidrulicos um dos fatores que determinam o maior ou menor consumo de gua em uma edicao, ao longo de sua vida til. Existe atualmente no mercado brasileiro uma grande variedade de equipamentos sanitrios que tm como objetivo atender s necessidades dos usurios e promover o uso racional da gua para as atividades a que se destinam. Preferencialmente, devem ser especicados equipamentos cujos componentes apresentem maior durabilidade para viabilizar os custos provenientes de manuteno. O Anexo E apresenta algumas especicaes de equipamentos economizadores de guas.

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4.3.1.5. Anlise da Oferta de guaPara a avaliao da oferta de gua devem ser relacionadas as possveis fontes de gua, variveis para cada empreendimento. A anlise das possibilidades de aplicao de fontes alternativas de gua dever considerar os nveis de qualidade da gua necessrios, as tecnologias existentes, cuidados e riscos associados aplicao de gua menos nobre para ns menos nobres e a gesto necessria durante a vida til da edicao. Alm disso, os custos envolvidos na aquisio das tecnologias e ao longo da gesto devero ser levantados durante a concepo das solues. De maneira prtica, o resultado desta etapa a anlise quantitativa e qualitativa das possibilidades de oferta de gua para a edicao. Devem ser planejadas e incorporadas ao projeto as aes para incorporao de gua menos nobre para aplicao em atividades consumidoras menos nobres. Da anlise resultam os seguintes parmetros: possibilidade de abastecimento atravs de concessionria (gua potvel e gua de reso); possibilidade de captao direta e tratamento necessrio; possibilidade do uso de guas subterrneas, usos especcos e tecnologias de tratamento necessrias; volume de reserva de gua de chuva e possveis usos; forma de segregao dos euentes gerados; possibilidades de reso, aplicaes e tecnologias necessrias; volume de euente minimizado aps a incorporao de cada uma das aes anteriormente citadas; logsticas de operao; investimentos necessrios; custos de manuteno. Com a avaliao das possibilidades de oferta de gua, so ento consolidados todos os dados e anlises tcnicas para a montagem de alternativas possveis do PCA a ser implementado. A avaliao da oferta de gua de uma edicao encontra-se detalhada no Captulo 5.

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4.3.1.6. Estudo de Viabilidade Tcnica e EconmicaO estudo de viabilidade tcnica e econmica a etapa de composio dos dados gerados na avaliao de demanda e oferta de gua, por meio da criao de diferentes conguraes possveis para uma mesma edicao. Para cada edicao, dependendo do agente decisor (por exemplo, em um edifcio comercial em construo, poder ser o incorporador ou a construtora), a escolha do PCA a ser implantado determinada por critrios especcos que variam caso a caso e que so priorizados nessa escolha. O nmero de alternativas a serem geradas varia de acordo com a complexidade da tipologia em anlise. No entanto, no caso de haver mais de uma alternativa a ser proposta importante que a cada nova alternativa haja uma implementao gradativa de tecnologia. As alternativas desenvolvidas devero ser avaliadas de forma que se possa obter a melhor compatibilizao de ecincia tcnica e nanceira. A partir da alternativa eleita, inicia-se a etapa seguinte onde a escolha traduzida no anteprojeto e projeto executivo dos sistemas hidrulicos prediais, bem como dos demais sistemas de usos especcos.

4.3.1.7. Elaborao de Projeto de Sistemas PrediaisO projeto executivo dos sistemas hidrulicos prediais, assim como de sistemas especcos que utilizam gua, deve incorporar todas as diretrizes contidas na alternativa escolhida, incluindo detalhes executivos dos sistemas propostos, especicaes das tecnologias selecionadas, esquemas verticais e demais detalhes que se faam necessrios para subsidiar uma adequada implantao dos sistemas. O projeto executivo deve ser complementado por um caderno com os detalhes executivos e especcos, alm de um memorial descritivo com especicaes tcnicas de servios, relao de documentos vlidos para execuo, e relao de materiais.

4.3.1.8. Implementao das Aes Tecnolgicas e da Infra-Estrutura para Monitoramento do Consumo de guaEsta etapa refere-se implementao das aes propostas e j incorporadas no projeto executivo. Convm destacar os seguintes cuidados durante a implantao das aes:

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elaborao de cronograma de implantao das atividades para exibilizao do cronograma nanceiro; especicao do sistema de monitoramento do consumo; especicao dos sistemas, materiais e equipamentos a serem instalados; elaborao de procedimentos para as atividades consumidoras de gua contempladas pelo PCA; e manuais de manuteno e operao dos sistemas e equipamentos.

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5. Detalhamento da Gesto da Oferta na Implantao de Programas de Conservao de gua5.1. INTRODUOA escolha de fontes alternativas de abastecimento de gua deve considerar no somente custos envolvidos na aquisio, mas tambm custos relativos descontinuidade do fornecimento e necessidade de se ter garantida a qualidade necessria a cada uso especco, resguardando a sade pblica dos usurios internos e externos. O uso negligente de fontes alternativas de gua ou a falta de gesto dos sistemas alternativos podem colocar em risco o consumidor e as atividades nas quais a gua utilizada, pelo uso inconsciente de gua com padres de qualidade inadequados. Utilizar gua no proveniente da concessionria traz o nus de algum se tornar produtor de gua e portanto responsvel pela gesto qualitativa e quantitativa deste insumo. Cuidados especcos devem ser considerados para que no haja risco de contaminao a pessoas ou produtos ou de dano a equipamentos. O sistema hidrulico deve ser independente e identicado, torneiras de gua no potvel devem ser de acesso restrito, equipes devem ser capacitadas, devem ser previstos reservatrios especcos, entre outras aes, para garantia de bons resultados. Recomenda-se a participao de um prossional especialista na avaliao do uso de fontes alternativas de gua, alm da implantao de um sistema de gesto da gua para monitoramento permanente. Ressalta-se que a normalizao brasileira ainda no contempla todos os requisitos necessrios para a implementao de sistema alternativos de oferta de gua. Dessa forma, esta publicao apresenta conceitos e exigncias que devem ser aprimorados e adaptados a cada situao de projeto.

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5.2. EXIGNCIAS MNIMAS DA GUA NO-POTVEL PARA AS ATIVIDADES REALIZADAS NOS EDIFCIOSAs exigncias mnimas para o uso da gua no-potvel so apresentadas na seqncia, em funo das diferentes atividades a serem realizadas nas edicaes. a- gua para irrigao, rega de jardim, lavagem de pisos: - no deve apresentar mau-cheiro; - no deve conter componentes que agridam as plantas ou que estimulem o crescimento de pragas; - no deve ser abrasiva; - no deve manchar superfcies; - no deve propiciar infeces ou a contaminao por vrus ou bactrias prejudiciais sade humana. b- gua para descarga em bacias sanitrias: - no deve apresentar mau-cheiro; - no deve ser abrasiva; - no deve manchar superfcies; - no deve deteriorar os metais sanitrios; - no deve propiciar infeces ou a contaminao por vrus ou bactrias prejudiciais sade humana. c- gua para refrigerao e sistema de ar condicionado: - no deve apresentar mau-cheiro; - no deve ser abrasiva; - no deve manchar superfcies; - no deve deteriorar mquinas; - no deve formar incrustaes.

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d- gua para lavagem de veculos: - no deve apresentar mau-cheiro; - no deve ser abrasiva; - no deve manchar superfcies; - no deve conter sais ou substncias remanescentes aps secagem; - no deve propiciar infeces ou a contaminao por vrus ou bactrias prejudiciais sade humana. e- gua para lavagem de roupa: - deve ser incolor; - no deve ser turva; - no deve apresentar mau-cheiro; - deve ser livre de algas; - deve ser livre de partculas slidas; - deve ser livre de metais; - no deve deteriorar os metais sanitrios e equipamentos; - no deve propiciar infeces ou a contaminao por vrus ou bactrias prejudiciais sade humana. f- gua para uso ornamental: - deve ser incolor; - no deve ser turva; - no deve apresentar mau-cheiro; - no deve deteriorar os metais sanitrios e equipamentos; - no deve propiciar infeces ou a contaminao por vrus ou bactrias prejudiciais sade humana. g- gua para uso em construo civil: na preparao de argamassas, concreto, controle de poeira e compactao de solo: - no deve apresentar mau-cheiro; - no deve alterar as caractersticas de resistncia dos materiais;

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- no deve favorecer o aparecimento de eorescncias de sais; - no deve propiciar infeces ou a contaminao por vrus ou bactrias prejudiciais sade humana.

5.3. PADRES DE QUALIDADE DA GUA PARA RESODe acordo com as exigncias mnimas listadas no item anterior, pode-se denir classes de gua para reso que resumem os critrios para a qualidade da gua nas atividades apresentados anteriormente. a- gua de Reso Classe 1 Os usos preponderantes para as guas tratadas desta classe, nos edifcios, so basicamente os seguintes: descarga de bacias sanitrias, lavagem de pisos e ns ornamentais (chafarizes, espelhos de gua etc.); lavagem de roupas e de veculos. Apesar desta aplicao incorporar diversas atividades, todas convergem para a mesma condio de restrio que a exposio do pblico, usurios e operrios que operam, manuseiam ou tenham algum contato com os sistemas de distribuio de gua reciclada. Outro fator de grande importncia relativo aos usos bencos em considerao diz respeito aos aspectos estticos da gua de reso. Neste caso, o reso est vinculado ao adorno arquitetnico, exigindo grau de transparncia, ausncia de odor, cor, escuma ou quaisquer formas de substncias ou componentes utuantes. Nesse sentido, os parmetros caractersticos foram selecionados segundo o uso mais restritivo entre os acima relacionados, e esto apresentados na tabela 5.1. Cabe ressaltar que o uso da gua de reso Classe 1 pode gerar problemas de sedimentao, o que causaria odores devido decomposio de matria orgnica, obstruo e presena de materiais utuantes. Como soluo cita-se: a deteco de cloro residual combinado em todo o sistema de distribuio; e o controle de agentes tensoativos, devendo seu limite ser 0,5 mg/L. Embora no Brasil a grande maioria dos detergentes domsticos e industriais seja de biodegradveis, o controle de surfactantes importante, a m de evitar formao de espumas em descargas de bacias sanitrias e torneiras.

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Tabela 5.1: Parmetros caractersticos para gua de reso classe 1. Parmetros Coliformes fecais1 pH Cor (UH) Turbidez (UT) Odor e aparncia leos e graxas (mg/L) DBO (mg/L) Compostos orgnicos volteis Nitrato (mg/L) Nitrognio amoniacal (mg/L) Nitrito (mg/L) Fsforo total (mg/L) Slido suspenso total (SST) (mg/L) Slido dissolvido total (SDT) (mg/L)5 4 3 2

Concentraes No detectveis Entre 6,0 e 9,0 10 UH 2 UT No desagradveis 1 mg/L 10 mg/L Ausentes < 10 mg/L 20 mg/L 1 mg/L 0,1 mg/L 5 mg/L 500 mg/L

1. Esse parmetro prioritrio para os usos considerados. 2. O controle da carga orgnica biodegradvel evita a proliferao de microrganismos e cheiro desagradvel, em funo do processo de decomposio, que podem ocorrer em linhas e reservatrios de decomposio. 3. O controle deste composto visa evitar odores desagradveis, principalmente em aplicaes externas em dias quentes. 4. O controle de formas de nitrognio e fsforo visa evitar a proliferao de algas e lmes biolgicos, que podem formar depsitos em tubulaes, peas sanitrias, reservatrios, tanques etc. 5. Valor recomendado para lavagem de roupas e veculos.

b- gua de Reso Classe 2 Os usos preponderantes nessa classe so associados s fases de construo da edicao: lavagem de agregados; preparao de concreto;

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compactao do solo e; controle de poeira. Os parmetros bsicos de controle so apresentados na tabela 5.2: Tabela 5.2: Parmetros bsicos para gua de reso Classe 2. Parmetros Coliformes fecais pH Odor e aparncia leos e graxas (mg/L) DBO (mg/L) Compostos orgnicos volteis Slidos suspensos totais (mg/L) Concentraes 1000/ mL Entre 6,0 e 9,0 No desagradveis 1,0 mg/L 30 mg/L Ausentes 30 mg/L

c- gua de Reso Classe 3 O uso preponderante das guas dessa classe na irrigao de reas verdes e rega de jardins. Neste caso, a maior preocupao do emprego da gua de reso ca condicionada s concentraes de contaminantes biolgicos e qumicos, incidindo sobre o meio ambiente e o homem, particularmente o operrio que exerce suas atividades nesse ambiente. As atividades antrpicas normalmente praticadas em reas verdes no incluem contatos primrios sendo, portanto, ocasional a freqncia de interao homem-meio. Os aspectos condicionantes para a aplicao apresentada incidem principalmente sobre a sade pblica, a vegetao e o lado esttico. Alguns dos principais problemas relacionados com o gerenciamento da qualidade da gua so: salinidade, toxicidade de ons especcos, taxa de inltrao no solo etc. A tabela 5.3 apresenta os parmetros mais importantes que devem ser vericados para o uso de gua para irrigao.

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Tabela 5.3: Parmetros bsicos para gua de reso Classe 3. Parmetros pH Salinidade Sdio (SAR) Para irrigao supercial Cloretos (mg/L) Cloro residual (mg/L) Para irrigao com Sdio (SAR) aspersores Cloretos (mg/L) Cloro residual (mg/L) Irrigao de culturas alimentcias Regas de jardim e similares Concentraes Entre 6,0 e 9,0 0,7 < EC (dS/m) < 3,0, 450 < SDT (mg/L) < 1500 Entre 3 e 9 < 350 mg/L Mxima de 1 mg/L > ou = 3,0 < 100 mg/L < 1,0 mg/L 0,7 mg/L 3,0 mg/L 5 - 30 mg/L < 20 mg/L < 20 mg/L < 5 UT < 30 UH 200/ 100 mL

Toxicicidade por ons especcos

Boro (mg/L)

Nitrognio total (mg/L) DBO (mg/L) Slidos suspensos totais (mg/L) Turbidez (UT) Cor aparente (UH) Coliformes fecais (mL)

Ressalte-se que em sistemas de irrigao por aspersores, como a gua incide diretamente sobre as folhas, algumas culturas m