Considerações sobre corpo e linguagem na clínica e na teoria lacaniana

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  • 7/29/2019 Consideraes sobre corpo e linguagem na clnica e na teoria lacaniana

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    Psicologia USP, 2004, 15(1/2), 225-241 225

    CONSIDERAES SOBRE CORPO E LINGUAGEMNA CLNICA E NA TEORIA LACANIANA

    Michele Cukiert1

    Instituto de Psicologia -USP

    O artigo focaliza as relaes entre corpo e linguagem (e sua

    transformao) ao longo do ensino de Lacan. Discute crticas dirigidas

    s formulaes lacanianas no sentido de que, com a nfase sobre alinguagem, Lacan teria amputado do sujeito em Psicanlise sua

    realidade sensvel. Mostra que Lacan, postulando o inconsciente

    estruturado como linguagem, no exclui a corporeidade de seu esquema

    mental nem reduz o fenmeno analtico ao simblico (discurso).

    Descritores: Psicanlise. Teoria lacaniana. Corpo. Lacan, Jacques,

    1901-1981.

    1. O Corpo na Tpica Lacaniana

    omo se sabe, o conjunto terminolgico Imginrio, Simblico e Real (achamada tpica lacaniana) est na base de todo o ensino de Lacan. Ao

    longo de sua teorizao, entretanto, os registros vo sendo articulados e pen-sados por meio de novas perspectivas e precises. Em termos gerais, consi-deramos que Lacan desenvolve o Registro Imaginrio, em seguida, o Sim-

    blico e, posteriormente, a nfase ser dada ao Real.

    Segundo Roudinesco e Plon (1998), a tpica se transforma ao longodo ensino de Lacan, tendo passado por duas organizaes sucessivas: na

    primeira (1953-1970), o simblico exerceu a primazia sobre as outras duas

    1 Mestre e Doutoranda do programa de ps-graduao em Psicologia Clnica doInstituto de Psicologia - USP. Endereo eletrnico: [email protected].

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    instncias (S.R.I.) e, na segunda (1970-1978), o real que foi colocado na

    posio dominante (R.S.I.) (p. 755).Cesarotto e Leite (1993) consideram que os registros lacanianos so

    descritos por ele [Lacan] como as trs dimenses do espao habitado pelosseres falantes, como revelado pela experincia analtica (p. 73). Os auto-res indicam que a seqncia do ensino lacaniano pode ter como modelo, aoinvs de uma referncia temporal, a lgica interna dos desenvolvimentostericos, [que] apontaria [entretanto] trs etapas (p. 112). A primeira, de1936 a 1953, delimitaria o registro do Imaginrio. A segunda, de 1953 a1976, evidenciaria o registro do Simblico. A terceira, de 1976 a 1980, enfa-tizaria o registro do Real e a interrelao destes trs registros (...) (p. 112).

    Vale lembrar que, por mais que Lacan articule gradativamente os trsregistros em sua teoria, passando a conceb-los no quadro de uma tpica, oconceito de Imaginrio, Simblico e Real so inseparveis e devem ser pen-sados formando uma estrutura.

    Nesse contexto, luz da teoria dos trs registros fundamentais2, o cor-po na teoria lacaniana pode ser estudado atravs de trs pontos de vistacomplementares: do ponto de vista do Imaginrio, o corpo como imagem,do ponto de vista do Simblico, o corpo marcado pelo significante e do pon-to de vista do Real, o corpo articulado ao gozo.

    Pensar o corpo do ponto de vista do Imaginrio nos remete aos pri-meiros momentos da teoria lacaniana e forma como a imagem do corpo

    prprio, a partir do outro, marca a constituio subjetiva e a imagem assu-mida pelo sujeito.

    O corpo, do ponto de vista do Simblico, implica verificar como se es-tabelece a relao entre fala-linguagem-corpo. Tendo como referncia otexto Funo e Campo da Fala e da Linguagem em Psicanlise, publicado

    por Lacan em 1953, e sua concepo do primado da linguagem, precisolevar em conta o corpo marcado pelo Simblico, suporte do significante, no

    2 Questo amplamente discutida em Cukiert (2000).

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    qual as diversas partes podem servir de significantes, isto , ir alm de sua

    funo no corpo vivo.Do ponto de vista do Real, a introduo do conceito de gozo, distinto

    da noo de prazer, possibilitar definir as diferentes relaes com a satisfa-o que um sujeito falante pode experimentar no uso de um objeto desejado,

    postulando que a questo da satisfao tambm se inscreve na rede de siste-mas simblicos que dependem da linguagem.

    Alm disso, conforme discutirei a seguir, por meio da introduo do re-gistro do Real, Lacan faz uma srie de retificaes que possibilitam, inclusive,repensar os limites da fala e o lugar do corpo em sua construo terica.

    2. O Real e o Corpo

    A noo de gozo no muito presente ao longo da obra freudiana, a-parecendo, em geral, como referida ao prazer (gozo da suco, gozo do a-mor etc.). Mesmo assim, mais ao final de sua obra, Freud se refere ao gozono apenas como sinnimo de prazer, mas, segundo Roudinesco e Plon(1998), articulado com a idia de repetio, tal como esta seria empregadamais tarde em Mais alm do princpio de prazer, por ocasio da elaboraodo conceito de pulso de morte (p. 299).

    Lembremos que, para Freud, o campo do sexual se amplia, passando amanifestar-se e identificar-se em tudo aquilo que diz respeito ao humano(at mesmo na produo artstica ou intelectual). Nesse sentido, a noofreudiana de sexualidade fica claramente diferenciada da idia de genitalida-de puramente biolgica, conforme adotada, por exemplo, pela Sexologia.Mesmo assim, na origem, com a idia de apoio, afirma-se em Freud o sur-gimento do sexual como ancorado, em um primeiro momento, nas funescorporais necessrias conservao da vida.

    Por meio do exemplo do prazer experimentado na atividade oral do

    lactente, Laplanche e Pontalis (1983) ilustram a maneira como a funo cor-poral fornece sexualidade a sua fonte ou zona ergena: indica-lhe imedia-

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    tamente um objeto, o seio; finalmente causa um prazer que no redutvel

    pura e simples satisfao da fome, uma espcie de brinde de prazer (p. 66).Nesse contexto, como indicam Roudinesco e Plon (1998), a idia de

    gozo pode ser ligada ao processo do apoio, que leva ao surgimento da pulsosexual. No momento em que a criana, satisfeita a sua necessidade orgnica,

    j no se entrega tanto suco, mas ao chuchar, observa-se "o nascimentodessa atividade repetitiva, da ordem do gozo, que assinala a entrada na fasede auto-erotismo (p. 299).

    Lacan parte desses elementos para elaborar a noo de gozo, que, emsua obra, ser pensada como um dos componentes estruturais do funciona-

    mento psquico.Em seguida, tendo em vista a problemtica da satisfao e da relaocom o outro, Lacan far a distino entre o prazer e o gozo. Roudinesco ePlon (1998) esclarecem que

    Lacan estabelece uma distino essencial entre o prazer e o gozo, residindo este natentativa permanente de ultrapassar os limites do princpio de prazer. Esse movi-mento, ligado busca da coisa perdida que falta no lugar do Outro, causa de so-frimento; mas tal sofrimento nunca erradica por completo a busca do gozo. (p. 300)

    O gozo repensado por Lacan quando da elaborao da teoria do pro-cesso da sexuao e do conjunto de frmulas lgicas que a expressam. Con-forme indicam Roudinesco e Plon (1998, p. 300), para Lacan o gozo absolu-to no atingvel, pois todo o humano est submetido castrao. Define-seento um gozo flico para o homem, limitado, submetido ameaa da cas-trao, (...) que constitui a identidade sexual do homem, e o gozo femininoque diferente e, acima de tudo, sem limite. pois um gozo suplementar(...), enunciado como tal no (...) seminrioMais ainda.

    Nasio (1993) retoma o estatuto do corpo na teoria lacaniana e afirmaque ela define o corpo segundo dois parmetros fundamentais que delimitamo campo psicanaltico: a fala e o sexo (p. 148). Essa preciso possibilita

    estabelecer a distino entre o corpo da Medicina e o corpo, sexual e gozoso,abordado pela Psicanlise, pois

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    contrariamente ao cirurgio, que se coloca diante do corpo de seu doente e o trata

    como um organismo, sem se preocupar em saber se ele fala ou goza, o psicanalista,por sua vez, dever constantemente referir-se, direta ou indiretamente, aos parme-tros que so a fala e o sexo, e assim, conceber dois estatutos do corpo: o corpo fa-lante e o corpo sexual. (p. 148)

    O corpo falante, conforme assinalado anteriormente, o corpo marcado peloSimblico, tomado como um conjunto de elementos significantes. Ao mes-mo tempo, o corpo sexual, porque o corpo todo gozo e porque o gozo sexual. Nesse sentido, Nasio (1993, pp. 151-152) prope que do ponto devista do Real, temos o corpo sinnimo de gozo.

    As relaes entre o corpo e o gozo so repletas de nuanas. Nasio dis-

    cute o carter contraditrio de que se reveste a definio de gozo na teorialacaniana (introduzida, segundo ele, por volta de 1967). Lacan repetiu in-meras vezes que s existe gozo do corpo. Quase na mesma poca, ele a-firmou, ao contrrio, a disjuno entre o corpo e o gozo. Na leitura de

    Nasio, esses ditos lacanianos no so contraditrios, desde que admitamosque a palavra corpo empregada com uma acepo diferente em cada umadessas formulaes (p. 151).

    Na primeira, pode-se interpretar que, para que um corpo goze, (...) preciso que esteja vivo (p. 152). Na segunda formulao, na qual se afirmaa disjuno entre corpo e gozo, a palavra corpo se traduz por organismo.

    Assim, o gozo (...) radicalmente disjunto do corpo, (...) desde que consi-deremos esse corpo como o corpo orgnico, aquele de que a psicanlise notem de se ocupar (p. 152).

    No Seminrio O Avesso da Psicanlise, Lacan (1969-1970/1992) con-sidera que o olhar que a anlise trouxe acerca do gozo revolucionrio.Com seu tom irnico, ele aponta exatamente essa disjuno entre o gozo eos processos naturais, afirmando que s h gozo no humano, pois,

    o importante que, natural ou no, efetivamente como ligado prpria origem daentrada em ao do significante que se pode falar de gozo. Com que goza a ostra

    ou o castor, ningum jamais saber nada disso porque, faltando significante, no hdistncia entre o gozo e o corpo. (p. 168)

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    Portanto:

    O gozo exatamente correlativo forma primeira da entrada em ao do que cha-mo a marca, o trao unrio, que marca para a morte, se quiserem dar-lhe seu sen-tido. Observem bem que nada toma sentido at que a morte entre na jogada. (p.169)

    Ou seja, a partir da clivagem, da separao entre o gozo e o corpo dora-vante mortificado, a partir do momento em que h jogo de inscries, marcado trao unrio, que a questo se coloca (p. 169).

    Isso quer dizer que a noo de gozo est plenamente ancorada na cor-poreidade, referida ao corpo vivo, sem o qual no poderia existir. Parado-

    xalmente, ela no tem nada de natural, anti-natural por excelncia, pois huma separao entre corpo (organismo) e gozo, j que no humano, atraves-sado e constitudo pela linguagem, no h mais nada de natural.

    Segundo Roudinesco e Plon (1998, p. 645), o registro do Real, intro-duzido por Lacan em 1953, foi extrado simultaneamente, do vocabulrioda filosofia e do conceito freudiano de realidade psquica, para designar umarealidade fenomnica que imanente representao e impossvel de sim-

    bolizar. Os referidos autores mostram que Lacan combina a cincia doreal, a heterologia e a noo de realidade psquica para construir sua cate-goria do real, que posteriormente estabelecido como um dos trs compo-

    nentes de sua tpica e de sua concepo estrutural de um inconsciente de-terminado pela linguagem. A introduo desta noo feita numaconferncia intitulada O Simblico, o Imaginrio e o Real. Depois disso,Lacan adquiriu o hbito de escrever as trs palavras com maisculas.

    Os autores sintetizam o lugar de cada um dos registros lacanianos, nocontexto de sua retomada estrutural da obra freudiana, observando que

    na categoria do simblico [Lacan] alinhou toda a reformulao buscada no sistemasaussuriano e levi-straussiano; na categoria do imaginrio situou todos os fenme-nos ligados construo do eu: antecipao, captao e iluso; e no real, por fim,colocou a realidade psquica, isto , o desejo inconsciente e as fantasias que lhe es-to ligadas, bem como um resto: uma realidade desejante, inacessvel a qualquer

    pensamento subjetivo. (p. 645)

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    O Real pode ser pensado como um tempo anterior s palavras, um

    momento pr-simblico. De fato, Lacan (1954-1955/1998) se refere a umcerto para alm da referncia inter-humana, que , propriamente, o paraalm simblico (p. 101).

    Lacan (1960/1998) tambm aponta o sentido mortfero do signifi-cante. Ele afirma que o significante como tal, barrando por inteno primei-ra o sujeito, nele faz penetrar o sentido da morte. (A letra mata, mas s fica-mos sabendo disso pela prpria letra.) (p. 862).

    Fink (1998) mostra, de forma bastante didtica, no que consiste o Realna teoria lacaniana. Ele retoma a afirmao de Lacan de que a letra mata

    (...) o real que havia antes da letra, antes das palavras, antes da linguagem(p. 43), e articula o Real ao corpo:

    O real , por exemplo, o corpo de uma criana antes do domnio da ordem sim-blica, antes de controlar os esfncteres e aprender os costumes do mundo. No cur-so da socializao, o corpo progressivamente escrito ou sobrescrito com signifi-cantes; o prazer est localizado em determinadas zonas, enquanto outras soneutralizadas pela palavra e persuadidas a se conformarem com as normas sociais ecomportamentais. Levando a idia de Freud sobre a perversidade polimorfa s l-timas conseqncias, possvel ver o corpo de uma criana como apenas uma zonaergena contnua, no qual no haveria zonas privilegiadas, nenhuma rea na qual o

    prazer estivesse circunscrito de incio. (p .43)

    Mas o Real no deve ser entendido apenas como anterior letra. Fink (1998)observa que o Real no desaparece por completo quando uma criana assi-mila a linguagem, esclarecendo que esse registro melhor compreendidocomo

    aquilo que ainda no foi simbolizado, resta ser simbolizado, ou at resiste simb o-lizao; pode perfeitamente existir lado a lado e a despeito da considervel habi-lidade lingstica de um falante. Nesse sentido, parte do processo psicanaltico en-volve claramente permitir a um analisando colocar em palavras aquilo que

    permanece no simbolizado para ele, verbalizar as experincias que podem ter o-corrido antes do analisando ter sido capaz de pensar sobre elas, falar delas, ou for-mul-las de qualquer maneira que seja. (p. 44)

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    Como lembra Chemama (1995), o Real, definido como o impossvel,

    aquilo que no pode ser simbolizado totalmente na palavra ou na escritae, por conseqncia, no cessa de no se escrever (p. 182).

    Com a introduo do Real e do gozo, h uma converso de perspecti-va no ensino de Lacan. O Real como substantivo, o impossvel de simboli-zar, provoca remanejamentos nas concepes lacanianas. Assim, o corpo,alm de ser afetado pela linguagem, goza. Miller (1998) retoma as afirma-es lacanianas de que preciso que haja um corpo para gozar, somenteum corpo pode gozar (p. 93), lembrando que a conseqncia dessa evidn-cia que o corpo no deve ser pensado s como simbolizado, significanti-zado e (...) simbolizado quer dizer mortificado (p. 95). Para gozar, neces-srio o corpo vivo.

    Ao mesmo tempo, Lacan (1975/1982) afirma que o significante acausa do gozo (p. 66). Tendo essa proposio em vista, Miller (1998) escla-rece que na teoria lacaniana existem dois efeitos do significante no corpo:um, que a mortificao, e o outro, que a produo do mais-de-gozar. Seo significante mata o gozo, da mesma forma o produz (p. 99). Prope, ain-da, que o essencial no que o significante tenha um efeito de mortificaosobre o gozo, que o significante causa de gozo, que o significante temuma incidncia de gozo sobre o corpo. isso que Lacan chama de sintoma

    (p. 99). Assim, o sintoma inscreve uma relao muito mais direta entre osignificante e o gozo (p. 100), sendo a prpria interseco entre significantee gozo, entre corpo e linguagem.

    Robertie (1992, p. 264) tambm aponta essa mudana de perspectivano ensino lacaniano. Ele assinala que, a partir de 1964, para Lacan a fala,unicamente, no constitui fundamento. Assim, nesse perodo da produolacaniana surgem vrias reformulaes e afirmaes novas, e todo o esfor-o de Lacan consiste em mostrar os limites da fala.

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    3. Corpo e Linguagem: Discusso

    A discusso acerca do lugar do corpo e da linguagem no tratamentoanaltico e na teoria lacaniana merece uma discusso atenta. Vrios autorescriticam as formulaes lacanianas, afirmando que, com a nfase sobre alinguagem, ele teria amputado do sujeito em Psicanlise sua realidade sens-vel. Nesse sentido, apontam os impasses e os riscos que se apresentam aocampo psicanaltico quando se considera, equivocadamente, que pensar osujeito constitudo e atravessado pela linguagem implica em separ-lo do

    prprio corpo, transformando-o em um sujeito platnico, pura idia ou re-presentao.

    Nos termos dessa leitura, haveria na abordagem lacaniana a prevaln-cia de um formalismo lgico, que teria apagado do sujeito forjado pela Psi-canlise suas particularidades diferenciais, quais sejam, o inconsciente e algica das pulses.

    Birman (1998), por exemplo, considera que Lacan procurou articularHegel e Heidegger, delineando o lugar axial do Outro, mas esqueceu-se deque a novidade maior de Freud foi a de ter concebido a figura de um sujeitoencarnado. Alm disso,

    a subjetividade foi concebida atravs da utilizao de modelos lgicos e matemti-

    cos. Um sujeito logificado foi a resultante desta empreitada terica. Assim, seja pe-la lgica simblica, seja pela topologia e a lingstica, o efeito foi sempre o mes-mo, isto , a produo de um sujeito distante dos avatares da corporeidade. (p. 169)

    Em sua leitura, Birman (1998, p. 170) interpreta que a recorrncia dosanalistas a uma perspectiva logificante, fornece ao sujeito uma iluso decerteza que apazigua suas dvidas. Em contrapartida, as dimenses dafinitude e do desamparo do sujeito permanecem evidentemente silenciadas,

    j que esses registros remetem exatamente mortalidade e corporeidadedo sujeito. Assim, a corporeidade do sujeito revela o que mais incerto naexperincia da existncia, j que mediante aquela a subjetividade indica asua falibilidade.

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    Nesse contexto, esse autor acredita que, ao excluir o corpo de seu

    campo de ao e interesse, voltando-se fervorosamente para os registros dopensamento e da linguagem, a Psicanlise corre o risco de ser substituda poroutros discursos e prticas teraputicas atuais que se propem a intervir so-

    bre o corpo (terapias corporais, teraputicas farmacolgicas etc.).

    Lembrando que o corpo regulado pelos destinos das pulses e dodesejo, Birman (1998) afirma que se a psicanlise esquece que o sujeito encorpado, restringindo-se s leituras do pensamento e da linguagem, (...) nofundamental, a descoberta freudiana foi silenciada (p. 172). Considera ain-da que Freud, com a criao do conceito de pulso e com a formulao daexistncia de um sujeito encorpado, indica um caminho para superar o dua-lismo cartesiano:

    o que Freud buscou foi a superao dos registros do pensamento (linguagem) e docorpo pela mediao de uma teoria dos afetos. Desta forma, o sujeito seria corpo e

    pensamento, marcado ento pelos destinos das pulses. Portanto se inscreveria i-mediatamente no registro da ao, sem que essa se contrapusesse ao da reflexo.(p. 174)

    Por isso tudo, para Birman (1998, p. 175), os analistas devem atentarpara o fato de que os analisandos no apenas tm um corpo, mas tambm,que a existncia praxis. Para o autor, o mal-estar que inquieta os analis-

    tas face ao futuro e dissonncia da Psicanlise na ps-modernidade se de-vem, justamente, ao esquecimento desses aspectos constituintes do sujeito ede sua existncia.

    Nesse mesmo sentido, Katz (1992) retoma Freud e se refere noode corpo ergeno como articuladora das conexes entre psquico e orgnico.Tendo em vista o conceito de pulso, as formulaes presentes nos Trsensaiossobre a sexualidade, esse autor afirma que Freud, apesar de afastar-se do corpo da Fisiologia, postula um estatuto do corpo que no se reduzunicamente sua existncia enquanto ente assujeitado dominao simbli-ca (p. 21). Segundo Katz, Freud mostra, de modo extremado, que o corpo

    ergeno s se faz apoiado ou articulado com o corpo vivo (p. 23).

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    Ainda que, em certo momento, por exemplo, no caso Dora, escrito em

    1901, Freud experimenta reduzir a transferncia a um acontecimento perti-nentemente simblico (...), onde deixar de lado, temporariamente, o que sedenomina de capacidade do corpo vivo, para Katz (1992, p. 22), ele [Freud]sempre insistir na articulao de duas vertentes, a teoria do simblico e acapacidade do corpo vivo.

    Entretanto, Katz critica os desdobramentos da teoria freudiana queignoram essa articulao. Mais exatamente, considera que certas leiturasafirmam que Freud, abandonando o corpo dos anatomopatologistas, s sedirigiu fundamentao de um corpo simblico, vvido e vivido apenasdesde uma cadeia de significaes (p. 23). Aponta ainda que

    tal parcializao da Psicanlise leva por vezes a uma leitura metafsica abstraintede Freud, que afirma que sua teorizao ltima se fundamentaria unicamente emum complexo de dipo, no qual os sujeitos existiriam porque, moda de Plato,

    participariam dele. Afirma-se uma cadeia significante com uma lgica nica e uni-tria, como uma idia pura exterior aos que lhe so assujeitados, e que seria o que

    permitiria a fundao do humano, ou do sujeito humano. Sujeito este que, sendoum Nada, nasceria unicamente destinado a introjetar o Outro, e s a isto. E, maisainda, tal Simblico Celestial (encomendado pelo Outro do Esprito Santo) seriato poderoso que faria viver qualquer coisa que ali se inscrevesse (at um elefante,que no teria sua elefantice imanente...). Mas isto no freudiano, por mais psi-canaltico que seja para alguns. (pp. 23-24)

    Nota-se que essas crticas, lanadas mais ou menos diretamente aocampo lacaniano, no so fortuitas. De fato, se a perspectiva da linguagemrenova a pesquisa com o inconsciente, ela no deixa de estar sujeita a abusose mal-entendidos.

    Essa crtica no foi estranha Lacan (1964/1988) que, em resposta aosque afirmam que a psicanlise , primeira vista, propcia a nos dirigir porum idealismo, afirma:

    Deus sabe que se lhe tem reprochado isto ela reduz a experincia, dizem alguns,que nos solicita a achar nos duros choques do conflito, da luta, mesmo da explora-

    o do homem pelo homem, as razes de nossa deficincia ela conduz a uma on-tologia das tendncias, que tem por primitivas, internas, j dadas pela condio dosujeito.

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    Basta nos reportarmos ao traado dessa experincia depois de seus primeiros pas-

    sos, para vermos, ao contrrio, que ela no nos permite de modo algum nos resol-vermos por um aforismo como a vida um sonho. Nenhuma praxis, mais do que aanlise, orientada para aquilo que, no corao da experincia, o ncleo do real.(p. 55)

    Com a nfase sobre a linguagem, Lacan no pretendeu excluir o corpode seu esquema mental. Porm, impossvel negar que em certo momentode sua elaborao terica, ele de fato tenha priorizado o registro Simblico.Miller (1998) identifica que h, realmente, um primeiro momento na elabo-rao lacaniana, no qual, com a nfase sobre o simblico, ele teria deixado ocorpo para fora da cadeia significante, ou seja,

    Lacan, ou o primeiro Lacan, acreditou, num certo sentido, poder dispensar a re-ferncia ao corpo. Isto quer dizer, mais precisamente, que ele pensou poder deixaro corpo fora do simblico, exterior articulao significante, e o sentido profun-do que se revela, aqui, de sua distino clssica do imaginrio e do simblico.

    Ele comeou situando o corpo na ordem imaginria, como corpo especular, o doestdio do espelho: a libido circulando entre a e a como libido do eu. No inconsci-ente, ele no fazia intervir o corporal, seno como simbolizado. Essa construo setornou to clssica, to operatria, (...) que estamos todos marcados por ela, e umesforo chegar a se desligar desses pressupostos. (p. 94)

    Nesse primeiro momento, para Miller (1998, p. 94), Lacan deixa o

    corpo e a libido com o imaginrio. Mas com o decorrer de sua teoria, suaconstruo no pode se sustentar sem que haja, no simblico, uma satisfaoque vise o sujeito.

    Assim, o corpo progressivamente introduzido no ensino lacaniano.Da mesma forma como a necessidade de uma referncia ao corpo exige deFreud a introduo do conceito de pulso, para Lacan, segundo Miller(1998, p. 95), o corpo introduzido, mas na condio de ser simbolizado,de ser significantizado e (...) simbolizado quer dizer mortificado.

    Com a introduo do registro do Real, conforme assinalado, a teoria

    lacaniana passa por reformulaes e afirma-se nela a referncia ao corpo. Aofinal de seu ensino, Lacan marca os limites da linguagem, apontando a im-

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    portncia do corpo, como real que se impe na clnica e como objeto a. Mil-

    ler (1998) esclarece, finalmente, que

    o corpo entra no ensino de Lacan enquanto objeto a . preciso que se diga que fi-camos a, nesse plano. Ficamos na idia de que o corpo, mortificado pelo signifi-cante, deixa lugar para excees, restos suplementares que escapam mortificaoe que so os objetos a (...). (p. 97)

    Vale notar que as crticas acima citadas podem ser entendidas comodirigidas, no apenas ao pensamento de Lacan, mas leitura que o prpriolacanismo fez desse autor.

    Na clnica, o equvoco consiste em colocar o significante em primeiro

    plano, apagando o corpo e a pulso, como se fosse possvel operar sobre umcampo desintensificado, de pura representao. Nesse posicionamento equi-vocado, o esteretipo o do analista mudo e mortificado.

    Em oposio, mesmo afirmando o smbolo e a linguagem como estru-tura e limite do campo psicanaltico, ao estabelecer o poder das palavras naPsicanlise e na direo da cura, Lacan no defende que se restrinja o campo

    psicanaltico ao discurso.

    Lacan (1955-1956/1988, p. 188) no se mostra surpreso por verificarque seu discurso suscite uma certa margem de mal-entendido. Para ele, o

    prprio fundamento do discurso inter-humano o mal-entendido. Este no irremedivel, pois, ao oferecer a oportunidade de no ser completa-mente compreendido, deixa sempre a porta aberta para uma retificao

    progressiva.

    Entretanto, Lacan (1955-1956/1988) afirma que dizer que o inconsci-ente estruturado como uma linguagem, no significa reduzi-lo ao discurso:

    No digo que o que comunicado na relao analtica passe pelo discurso do sujei-to. No tenho absolutamente, portanto, de distinguir, no prprio fenmeno da co-municao analtica, o domnio da comunicao verbal do da comunicao pr-verbal. Que essa comunicao pr ou mesmo extraverbal seja permanente na anli-se, isso no resta dvida, mas se trata de ver o que constitui o campo propriamente

    psicanaltico. (p. 189)

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    Ou seja:

    O que constitui o campo analtico idntico ao que constitui o fenmeno analtico,ou seja, o sintoma. E tambm um nmero enorme de outros fenmenos ditos nor-mais ou subnormais, que no haviam sido at a anlise elucidados quanto a seusentido, estendendo-se para muito alm do discurso e da fala, j que se trata dascoisas que acontecem ao sujeito na sua vida cotidiana. Depois os lapsos, distrbiosde memria, sonhos, mais o fenmeno do chiste (...). (p. 189)

    Mais exatamente, nas palavras de Lacan (1955-1956/1988):

    Se digo que tudo o que pertence comunicao analtica tem estrutura de lingua-gem, isso no quer dizer que o inconsciente se exprima no discurso. A Traumdeu-tung, a Psicopatologia da vida quotidiana e o Chiste tornam isso transparente nada dos rodeios de Freud explicvel, salvo que o fenmeno analtico como tal,seja ele qual for, , no uma linguagem no sentido em que isso significaria ser umdiscurso eu nunca disse que um discurso, mas estruturado como uma lingua-gem. nesse sentido que se pode dizer que uma variedade fenomenal, e a maisreveladora, das relaes do homem com o domnio da linguagem. Todo fenmenoanaltico, todo fenmeno que participa do campo analtico, da descoberta analtica,daquilo com que lidamos no sintoma e na neurose, estruturado como linguagem.(p. 192)

    Na clnica lacaniana, o analista no toca o corpo (biolgico). Parado-xalmente, toca por meio de palavras, sobre o inconsciente e sobre a histria,obtendo efeitos. Incide mediante a palavra sobre o campo do inconsciente,estruturado como linguagem. A regra de abstinncia, por sua vez, comocorrelato da livre-associao, corresponde, desde Freud, a uma tica analti-ca: a da escuta. Isso no significa que Lacan tenha feito uma apologia obses-siva neutralidade e mortificao do analista. Essa no parece ter sido suaforma de expresso que, como se pode ler nos depoimentos de J. Miller(1993) e de outros que conviveram intimamente com ele, fez fama com suaironia, sobressaltos, ataques de clera, inquietude, impacincia e, claro, suacoragem e persistncia no enfrentamento do duro labor analtico.

    Dizer que o inconsciente se estrutura como linguagem no significa

    dizer, em termos lacanianos, que ele apenas simblico. Avanando sobreas idias freudianas, Lacan articula ao longo de sua obra uma ntima relaoentre a linguagem e o organismo, inter-relao que traz conseqncias e se

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    exprime na construo de nossa subjetividade, nas manifestaes da sexua-

    lidade, na nossa relao com o outro e na maneira como se conduz a investi-gao e a teraputica em Psicanlise.

    Cukiert, M. (2004). Some considerations about body and language inLacans Theory and clinic.Psicologia USP, 15(1/2), 225-241.

    Abstract: The article discusses the relationship between body and languagein Lacans theory and clinic. It discusses critic opinions that with Lacansemphasis on the language, he has separated the subject in Psychoanalysisfrom his corporal reality. Finally shows that Lacans proposal of theunconscious structured as a language doesnt mean that he reduces theanalytic phenomenon to the symbolic.

    Index terms: Psychoanalysis. Lacanian theory. Body. Lacan, Jacques,

    1901-1981.

    Cukiert, M. (2004). Quelques considerations sur le corps et le langage dansla thorie et la clinique chez Lacan.Psicologia USP, 15(1/2), 225-241.

    Rsum: Larticle traite sur les relations entre le corps et le langage (et satransformation) chez Lacan. Il discute les critiques faites aux formulationslacaniennes selon lesquelles, avec lemphase sur le langage, Lacan auraitamput du sujet en psychanalise sa ralit sensible. Il montre que Lacan

    postule linconscient structur en tant que langage et nexclut pas lecaractre corporel de son schma mental et ne rduit pas le phnomneanalytique au symbolique (discours).

    Mots-cls: Psychanalise. Theorie lacanienne. Corps. Lacan, Jacques,

    1901 - 1981.

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    Recebido em 09.06.2004Aceito em 06.08.2004