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Considerac ¸ ˜ oes sobre o timbre do violino B. S. R. Santos z e T. C. Freitas Tecnologia em Luteria, Universidade Federal do Paran´ a. Rua Doutor Alcides Vieira Arcoverde, 1225, Jardim das Am´ ericas, Curitiba, PR. z [email protected] 1 Introduc ¸˜ ao O funcionamento ac ´ ustico de intrumentos musicais ´ e tema recor- rente em estudos realizados por f´ ısicos, matem ´ aticos, al ´ em de eventuais curiosos. O violino, Figura 1, apresenta evidente pre- fer ˆ encia na realizac ¸˜ ao destes estudos, o que acontece por algumas caracter´ ısticas atribu´ ıdas ` a sua sonoridade, propriedades f´ ısicas e est ´ eticas que disponibilizam uma boa gama de informac ¸˜ oes a se- rem retiradas. Boa parte desta atribuic ¸˜ ao ´ e devida ` a possibilidade de grande versatilidade de execuc ¸˜ ao. Com o violino consegue-se um bom controle de intensidades, agilidade e variac ¸˜ oes de timbre, Figura 2, que podem ser produzidas, assim como t ´ ecnicas extendi- das ao explorar novos sons por meio do arco e da corda. Contendo tantos conhecimentos, a conformac ¸˜ ao do som ´ e um atrativo para a cooperac ¸˜ ao de diversas ´ areas; al ´ em da curiosidade, pode oferecer ferramentas ´ uteis ao planejamento e construc ¸˜ ao de instrumentos musicais, ou seja, na aplicac ¸˜ ao. [1, 2] Figura 1: Violino explodido, mostrando todas as pec ¸as [3]. 2 Referencial Te ´ orico O princ´ ıpio das pesquisas mais importantes em quest ˜ ao do conhe- cimento da ac ´ ustica do violino podem ser tomadas pelo marco da- quelas realizadas no in´ ıcio do s ´ eculo XIX . Em especial, o estudo da resson ˆ ancia de placas retas de metal e vidro, de Ernst F. Ch- ladni (1756-1827) em 1809, possui grande import ˆ ancia por resul- tar em m´ etodos de an´ alise da vibrac ¸˜ ao das placas de madeira de instrumentos ac ´ usticos com caixa de resson ˆ ancia (violino, viol˜ ao, etc.). De forma pioneira, o f´ ısico franc ˆ es F´ elix Savart (1791-1841) utilizou os m´ etodos ac ´ usticos diretamente a estudos com o violino [4]. Hermann von Helmholtz (1821-1894) observou o fenˆ omeno pro- duzido pela interac ¸˜ ao do arco com a corda, descrevendo um for- mato de onda chamado, posteriormente, de dente de serra, mos- trada na Figura 3 [4]. Claramente a vibrac ¸˜ ao proveniente deste sistema passar ´ a ainda por transformac ¸˜ oes no cavalete e no corpo do violino em que surgir ˜ ao diferentes composic ¸˜ oes de frequ ˆ encias em conjunto com a nota fundamental. As variadas composic ¸˜ oes de frequ ˆ encias em diferentes instrumentos s ˜ ao percept´ ıveis ao ouvi-los separadamente quando executam a mesma nota musi- cal (mesma frequ ˆ encia fundamental) e com a mesma intensidade; em suma, a qualidade sonora diferenciada denomina-se timbre [2, 5, 6]. Helmholtz (1862) estudou tamb ´ em o fen ˆ omeno das frequ ˆ encias de vibrac ¸˜ ao pr´ oprias, resson ˆ ancias, ligadas diretamente ` a geometria de corpos s ´ olidos ou fluidos (quando acondicionados) [2]. Por este princ´ ıpio, Alfred Mayer realizou em 1876 o acoplamento de diver- sos ressonadores num gerador de som (como uma corda, palheta, etc.), fazendo-os entrar em ressonˆ ancia com as frequ ˆ encias cor- respondentes ao seu modo fundamental de vibrac ¸˜ ao. Com isto foi poss´ ıvel demonstrar experimentalmente a presenc ¸a de diver- sas frequ ˆ encias numa amostra sonora. Galgou-se um passo im- portante na associac ¸˜ ao do timbre com a presenc ¸a dos parciais e harmˆ onicos [1, 4, 7]. Violino Sonoridade "escura" Nasal Brilhante Estridente Figura 2: Forma comum dos picos do n´ ıvel de intensidade sonora em func ¸˜ ao da frequˆ encia do espectro sonoro do violino. Com res- pectivas percepc ¸˜ oes de timbre a cada banda de frequˆ encia [7]. Posteriormente, com o advento da eletrˆ onica e computac ¸˜ ao, o uso de m´ etodos gr ´ aficos tomou lugar dos engenhos mec ˆ anicos na visualizac ¸˜ ao do espectro de frequ ˆ encias. Erwin Meyer (1899- 1972) foi pioneiro na an´ alise de frequ ˆ encias por meio eletr ˆ onico, publicando em 1931 avaliac ¸˜ oes de diversos instrumentos da or- questra ocidental, incluindo violinos, violas e violoncelos [4]. Com- preendendo os instrumentos musicais como sistemas que acoplam diversos componentes, Schelleng (1962) sistematizou o funciona- mento do violino na forma de um circuito eletr ˆ onico, portanto, sus- cet´ ıvel ` a efeitos de impedˆ ancia e outras interac ¸˜ oes de resson ˆ ancia e interferˆ encia [2, 8]. Hermann Meinel (1904-1977) partiu dos resultados das an ´ alises de espectros sonoros de violinos, realizando associac ¸˜ oes com as caracter´ ısticas f´ ısicas [4, 7]. Cada etapa de construc ¸˜ ao foi acom- panhada por medic ¸˜ oes, permitindo observar as influ ˆ encias das variac ¸˜ oes da geometria nos padr ˜ oes de vibrac ¸˜ ao, frequ ˆ encias, am- plitude de resson ˆ ancia, estrutura harm ˆ onica e a sonoridade final [4]. Este tipo de acompanhamento tem se tornado recorrente no estudo sistem ´ atico do violino, que considera tamb´ em o funciona- mento circuitivo. Schleske (1965-), pesquisador e luthier, reuniu dados correspondentes ` a geometria e comportamento ac ´ ustico de instrumentos que construiu, restaurou ou ajustou [1, 9]. Por meio destes conhecimentos, a comparac ¸˜ ao entre instrumentos musi- cais (como entre violinos) demonstra quais as caracter´ ısticas de construc ¸˜ ao s˜ ao associadas ao timbre. Tal associac ¸˜ ao necessita de grande amostragem para definir parˆ ametros de diferenciac ¸˜ ao [10, 11, 12]. etodos experimentais e modelagens tamb ´ em po- dem oferecer resultados originais ou complementares [7]. Figura 3: Sequ ˆ encia de transformac ¸˜ ao da onda produzida pela interac ¸˜ ao arco-corda at ´ e o som final [2]. 3 Teoria e M´ etodo Na avaliac ¸˜ ao das propriedades do violino, considera-se o n´ ıvel de intensidade sonora de cada frequ ˆ encia do espectro de harm ˆ onicos, que s˜ ao medidos em todas as notas da extens˜ ao musical do violino. Os valores s˜ ao tomados pela m ´ edia da radiac ¸˜ ao so- nora ao ambiente, especificamente quanto ` a qualidade sonora de cada nota. a suficiente detalhamento relativo ao timbre nesta sistem ´ atica de an´ alise de instrumentos finalizados [1, 9]. Em conjunc ¸˜ ao ` a ac´ ustica, s ˜ ao reunidas as informac ¸˜ oes sobre a geo- metria do violino, em que deve ser obtida a formatac ¸˜ ao tridimen- sional. Para isto, reune-se informac ¸˜ oes da fotografia do contorno e tipo da curvatura do tampo e do fundo (em cortes transversais e longitudinais, assim como tridimensionalmente), volume interno de ar, geometria do espelho, do cavalete, da alma, das aberturas sonoras do tampo e do brac ¸o [1, 7, 13]. Os m´ etodos de An´ alise Modal e o M´ etodo dos Elementos Fini- tos mostram-se ´ uteis para a modelagem f´ ısica do comportamento das partes do violino, como mostrado na Figura 4. Estes modelos mostram os modos de vibrac ¸˜ ao do instrumento em associac ¸˜ ao ` a situac ¸˜ ao avaliada pela mensurac ¸˜ ao ac ´ ustica e geom ´ etrica. Ambos oferecem informac ¸˜ oes precisas, por ´ em, dispor o funcionamento do violino de forma matem ´ atica proporciona uma modelagem quan- titativa. Tendo-se a composic ¸˜ ao do instrumento em uma malha, delimitada por condic ¸˜ oes de contorno de acordo com as ´ areas de vibrac ¸˜ ao, consegue-se a associac ¸˜ ao direta do comportamento vi- brat ´ orio em relac ¸˜ ao ` a geometria da ´ area delimitada. O reagru- pamento das situac ¸˜ oes simplificadas na malha resultar ´ a na mo- delagem do comportamento complexo do instrumento como um todo. Durante os passos de montagem do comportamento simpli- ficado na malha, a An´ alise Modal ´ e um aparato relevante para a comparac ¸˜ ao de resultados e correc ¸˜ oes do modelo [3, 7]. 4 Resultados Esperados A sistem ´ atica de avaliac ¸˜ ao do timbre do violino pode ser composta com as informac ¸˜ oes te ´ oricas e experimentais j ´ a elaboradas por es- tudos anteriores. Considerando que a an ´ alise de espectro sonoro fornece a composic ¸˜ ao de frequˆ encias, ao que pode ser associado o timbre, de forma geral, as caracter´ ısticas geom ´ etricas poder ˜ ao ser associadas ` as qualidades sonoras analisadas. Figura 4: Comportamento ac ´ ustico das placas de madeira do vi- olino, com demonstrac ¸˜ ao do movimento por an´ alise modal e por simulac ¸˜ ao via m ´ etodo dos elementos finitos. [1, 9]. Com os devidos m´ etodos, ap ´ os a organizac ¸˜ ao dos dados ne- cess ´ arios, o comportamento ac ´ ustico do instrumento pode ser analisado em elementos de menor complexidade. A utilizac ¸˜ ao de elementos com delimitac ¸˜ ao das condic ¸˜ oes de contorno adequadas e de suficiente facilidade de modelagem, permite a associac ¸˜ ao di- reta deste comportamento com a geometria. A junc ¸˜ ao dos ele- mentos seguindo-se o padr ˜ ao mais pr ´ oximo da realidade far´ a com que a geometria total corresponda ` a sonoridade final. A isto deve ser inclusa a interac ¸˜ ao entre os elementos e a intersec ¸˜ ao de diversas ´ areas muitas vezes correlacionadas. Como resultado, ser ´ a poss´ ıvel alterar a geometria de cada pec ¸a com influˆ encia co- nhecida no espectro sonoro e consequentemente timbre, tanto teoricamente (em simulac ¸˜ oes) como na pr´ atica [14]. Tamb ´ em espera-se que a forma sistem´ atica dos procedimentos disponham informac ¸˜ oes mais avanc ¸adas ` a ac´ ustica aplicada a instrumentos musicais, sendo uma forma de aprofundamento te´ orico no enten- dimento dos sons complexos do violino. 5 Conclus ˜ ao ´ E poss´ ıvel conhecer, pelo menos em teoria, todos os aspectos so- noros de um instrumento musical se consideradas as proprieda- des geom ´ etricas e de comportamento ac ´ ustico. Por causa disto, os desenvolvimentos da ´ area da ac ´ ustica apontam ` a poss´ ıbilidade de quantificac ¸˜ ao do timbre a partir da contribuic ¸˜ ao das partes que formam o violino. A diversidade de comportamentos vibrat ´ orios, decorrentes dos modos de vibrac ¸˜ ao dos elementos e dos seus acoplamentos po- dem ser estudados mais a fundo se forem avaliados de forma sis- tem ´ atica e por m´ etodos com suficiente detalhamento e precis ˜ ao. Esta ´ area disp ˜ oe de grande aprofundamento, principalmente di- ante da falta de estudos sistem´ aticos e descontinuidade das pes- quisas. Refer ˆ encias [1] M. Schleske, Catgut Acoustical Society Journal 4, 43 (2002). [2]J. P. Donoso, A. Tann´ us, F. Guimar˜ aes e T. C. Freitas, Revista Brasileira de Ensino de F´ ısica 30, 2305 (2008). [3]Y. Lu, Tese: Comparison of Finite Element Method and Mo- dal Analysis of Violin Top Plate, Music Technology Area, De- partment of Music Research Schulich School of Music McGill University Montreal (2013). [4] C. M. Hutchins, Journal Acoustical Society of America 73, 1421 (1983). [5] M. A. Loureiro e H. B. de Paula, Per Musi 14, 57 (2006). [6] C. M. Hutchins, Scientific American 245, 170 (1981). [7] A. Buen, Joint Baltic-Nordic Acoustics Meeting, 8 a 10 Novem- bro de 2006, Gothenburg, Su´ ecia. [8] J. C. Schelleng, Journal Acoustic Society of America 35, 326 (1963). [9] M. Schleske, Catgut Acoustical Society Journal Series 2 4, 50 (2002). [10] E. Jansson, Acustica 83, 337 (1997). [11] H. D ¨ unnwald, Catgut Acoustical Society Journal Series 2 1,1 (1991). [12] A. Westerkamp, Tese: Die Geigen gestrichen uns verglichen, Geschichtswissenschaft der Technischen Universit¨ at Berlin, Berlim (1990). [13] H. Meinel, Journal Acoustic Society of America 29, 817 (1957). [14] M. Cone, Palestra: Practical Acoustics, GAL Convention Lec- ture (2008). I Enfisul - 24 a 26 de novembro de 2013 - Curitiba - Paran´ a

Considerac¸oes sobre o timbre do violino˜ - luteria.ufpr.br · Considerac¸oes sobre o timbre do violino˜ B. S. R. Santosz e T. C. Freitas Tecnologia em Luteria, Universidade Federal

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Page 1: Considerac¸oes sobre o timbre do violino˜ - luteria.ufpr.br · Considerac¸oes sobre o timbre do violino˜ B. S. R. Santosz e T. C. Freitas Tecnologia em Luteria, Universidade Federal

Consideracoes sobre o timbre do violinoB. S. R. Santosz e T. C. Freitas

Tecnologia em Luteria, Universidade Federal do Parana. Rua Doutor Alcides Vieira Arcoverde, 1225, Jardim das Americas, Curitiba, [email protected]

1 IntroducaoO funcionamento acustico de intrumentos musicais e tema recor-rente em estudos realizados por fısicos, matematicos, alem deeventuais curiosos. O violino, Figura 1, apresenta evidente pre-ferencia na realizacao destes estudos, o que acontece por algumascaracterısticas atribuıdas a sua sonoridade, propriedades fısicas eesteticas que disponibilizam uma boa gama de informacoes a se-rem retiradas. Boa parte desta atribuicao e devida a possibilidadede grande versatilidade de execucao. Com o violino consegue-seum bom controle de intensidades, agilidade e variacoes de timbre,Figura 2, que podem ser produzidas, assim como tecnicas extendi-das ao explorar novos sons por meio do arco e da corda. Contendotantos conhecimentos, a conformacao do som e um atrativo para acooperacao de diversas areas; alem da curiosidade, pode oferecerferramentas uteis ao planejamento e construcao de instrumentosmusicais, ou seja, na aplicacao. [1, 2]

Figura 1: Violino explodido, mostrando todas as pecas [3].

2 Referencial TeoricoO princıpio das pesquisas mais importantes em questao do conhe-cimento da acustica do violino podem ser tomadas pelo marco da-quelas realizadas no inıcio do seculo XIX. Em especial, o estudoda ressonancia de placas retas de metal e vidro, de Ernst F. Ch-ladni (1756-1827) em 1809, possui grande importancia por resul-tar em metodos de analise da vibracao das placas de madeira deinstrumentos acusticos com caixa de ressonancia (violino, violao,etc.). De forma pioneira, o fısico frances Felix Savart (1791-1841)utilizou os metodos acusticos diretamente a estudos com o violino[4].

Hermann von Helmholtz (1821-1894) observou o fenomeno pro-duzido pela interacao do arco com a corda, descrevendo um for-mato de onda chamado, posteriormente, de dente de serra, mos-trada na Figura 3 [4]. Claramente a vibracao proveniente destesistema passara ainda por transformacoes no cavalete e no corpodo violino em que surgirao diferentes composicoes de frequenciasem conjunto com a nota fundamental. As variadas composicoesde frequencias em diferentes instrumentos sao perceptıveis aoouvi-los separadamente quando executam a mesma nota musi-cal (mesma frequencia fundamental) e com a mesma intensidade;em suma, a qualidade sonora diferenciada denomina-se timbre[2, 5, 6].

Helmholtz (1862) estudou tambem o fenomeno das frequencias devibracao proprias, ressonancias, ligadas diretamente a geometriade corpos solidos ou fluidos (quando acondicionados) [2]. Por esteprincıpio, Alfred Mayer realizou em 1876 o acoplamento de diver-sos ressonadores num gerador de som (como uma corda, palheta,etc.), fazendo-os entrar em ressonancia com as frequencias cor-respondentes ao seu modo fundamental de vibracao. Com istofoi possıvel demonstrar experimentalmente a presenca de diver-sas frequencias numa amostra sonora. Galgou-se um passo im-portante na associacao do timbre com a presenca dos parciais eharmonicos [1, 4, 7].

Violino

Sonoridade"escura"

Nasal Brilhante Estridente

Figura 2: Forma comum dos picos do nıvel de intensidade sonoraem funcao da frequencia do espectro sonoro do violino. Com res-pectivas percepcoes de timbre a cada banda de frequencia [7].

Posteriormente, com o advento da eletronica e computacao, ouso de metodos graficos tomou lugar dos engenhos mecanicos

na visualizacao do espectro de frequencias. Erwin Meyer (1899-1972) foi pioneiro na analise de frequencias por meio eletronico,publicando em 1931 avaliacoes de diversos instrumentos da or-questra ocidental, incluindo violinos, violas e violoncelos [4]. Com-preendendo os instrumentos musicais como sistemas que acoplamdiversos componentes, Schelleng (1962) sistematizou o funciona-mento do violino na forma de um circuito eletronico, portanto, sus-cetıvel a efeitos de impedancia e outras interacoes de ressonanciae interferencia [2, 8].

Hermann Meinel (1904-1977) partiu dos resultados das analisesde espectros sonoros de violinos, realizando associacoes com ascaracterısticas fısicas [4, 7]. Cada etapa de construcao foi acom-panhada por medicoes, permitindo observar as influencias dasvariacoes da geometria nos padroes de vibracao, frequencias, am-plitude de ressonancia, estrutura harmonica e a sonoridade final[4]. Este tipo de acompanhamento tem se tornado recorrente noestudo sistematico do violino, que considera tambem o funciona-mento circuitivo. Schleske (1965-), pesquisador e luthier, reuniudados correspondentes a geometria e comportamento acustico deinstrumentos que construiu, restaurou ou ajustou [1, 9]. Por meiodestes conhecimentos, a comparacao entre instrumentos musi-cais (como entre violinos) demonstra quais as caracterısticas deconstrucao sao associadas ao timbre. Tal associacao necessitade grande amostragem para definir parametros de diferenciacao[10, 11, 12]. Metodos experimentais e modelagens tambem po-dem oferecer resultados originais ou complementares [7].

Figura 3: Sequencia de transformacao da onda produzida pelainteracao arco-corda ate o som final [2].

3 Teoria e MetodoNa avaliacao das propriedades do violino, considera-se o nıvel deintensidade sonora de cada frequencia do espectro de harmonicos,que sao medidos em todas as notas da extensao musical doviolino. Os valores sao tomados pela media da radiacao so-nora ao ambiente, especificamente quanto a qualidade sonora decada nota. Ha suficiente detalhamento relativo ao timbre nestasistematica de analise de instrumentos finalizados [1, 9]. Emconjuncao a acustica, sao reunidas as informacoes sobre a geo-metria do violino, em que deve ser obtida a formatacao tridimen-sional. Para isto, reune-se informacoes da fotografia do contornoe tipo da curvatura do tampo e do fundo (em cortes transversaise longitudinais, assim como tridimensionalmente), volume internode ar, geometria do espelho, do cavalete, da alma, das aberturassonoras do tampo e do braco [1, 7, 13].

Os metodos de Analise Modal e o Metodo dos Elementos Fini-tos mostram-se uteis para a modelagem fısica do comportamentodas partes do violino, como mostrado na Figura 4. Estes modelosmostram os modos de vibracao do instrumento em associacao asituacao avaliada pela mensuracao acustica e geometrica. Ambosoferecem informacoes precisas, porem, dispor o funcionamento doviolino de forma matematica proporciona uma modelagem quan-titativa. Tendo-se a composicao do instrumento em uma malha,delimitada por condicoes de contorno de acordo com as areas devibracao, consegue-se a associacao direta do comportamento vi-bratorio em relacao a geometria da area delimitada. O reagru-pamento das situacoes simplificadas na malha resultara na mo-delagem do comportamento complexo do instrumento como umtodo. Durante os passos de montagem do comportamento simpli-ficado na malha, a Analise Modal e um aparato relevante para acomparacao de resultados e correcoes do modelo [3, 7].

4 Resultados EsperadosA sistematica de avaliacao do timbre do violino pode ser compostacom as informacoes teoricas e experimentais ja elaboradas por es-

tudos anteriores. Considerando que a analise de espectro sonorofornece a composicao de frequencias, ao que pode ser associadoo timbre, de forma geral, as caracterısticas geometricas poderaoser associadas as qualidades sonoras analisadas.

Figura 4: Comportamento acustico das placas de madeira do vi-olino, com demonstracao do movimento por analise modal e porsimulacao via metodo dos elementos finitos. [1, 9].

Com os devidos metodos, apos a organizacao dos dados ne-cessarios, o comportamento acustico do instrumento pode seranalisado em elementos de menor complexidade. A utilizacao deelementos com delimitacao das condicoes de contorno adequadase de suficiente facilidade de modelagem, permite a associacao di-reta deste comportamento com a geometria. A juncao dos ele-mentos seguindo-se o padrao mais proximo da realidade fara comque a geometria total corresponda a sonoridade final. A istodeve ser inclusa a interacao entre os elementos e a intersecaode diversas areas muitas vezes correlacionadas. Como resultado,sera possıvel alterar a geometria de cada peca com influencia co-nhecida no espectro sonoro e consequentemente timbre, tantoteoricamente (em simulacoes) como na pratica [14]. Tambemespera-se que a forma sistematica dos procedimentos disponhaminformacoes mais avancadas a acustica aplicada a instrumentosmusicais, sendo uma forma de aprofundamento teorico no enten-dimento dos sons complexos do violino.

5 ConclusaoE possıvel conhecer, pelo menos em teoria, todos os aspectos so-noros de um instrumento musical se consideradas as proprieda-des geometricas e de comportamento acustico. Por causa disto,os desenvolvimentos da area da acustica apontam a possıbilidadede quantificacao do timbre a partir da contribuicao das partes queformam o violino.

A diversidade de comportamentos vibratorios, decorrentes dosmodos de vibracao dos elementos e dos seus acoplamentos po-dem ser estudados mais a fundo se forem avaliados de forma sis-tematica e por metodos com suficiente detalhamento e precisao.Esta area dispoe de grande aprofundamento, principalmente di-ante da falta de estudos sistematicos e descontinuidade das pes-quisas.

Referencias[1] M. Schleske, Catgut Acoustical Society Journal 4, 43 (2002).

[2] J. P. Donoso, A. Tannus, F. Guimaraes e T. C. Freitas, RevistaBrasileira de Ensino de Fısica 30, 2305 (2008).

[3] Y. Lu, Tese: Comparison of Finite Element Method and Mo-dal Analysis of Violin Top Plate, Music Technology Area, De-partment of Music Research Schulich School of Music McGillUniversity Montreal (2013).

[4] C. M. Hutchins, Journal Acoustical Society of America 73, 1421(1983).

[5] M. A. Loureiro e H. B. de Paula, Per Musi 14, 57 (2006).

[6] C. M. Hutchins, Scientific American 245, 170 (1981).

[7] A. Buen, Joint Baltic-Nordic Acoustics Meeting, 8 a 10 Novem-bro de 2006, Gothenburg, Suecia.

[8] J. C. Schelleng, Journal Acoustic Society of America 35, 326(1963).

[9] M. Schleske, Catgut Acoustical Society Journal Series 2 4, 50(2002).

[10] E. Jansson, Acustica 83, 337 (1997).

[11] H. Dunnwald, Catgut Acoustical Society Journal Series 2 1, 1(1991).

[12] A. Westerkamp, Tese: Die Geigen gestrichen uns verglichen,Geschichtswissenschaft der Technischen Universitat Berlin,Berlim (1990).

[13] H. Meinel, Journal Acoustic Society of America 29, 817 (1957).

[14] M. Cone, Palestra: Practical Acoustics, GAL Convention Lec-ture (2008).

I Enfisul - 24 a 26 de novembro de 2013 - Curitiba - Parana