9
5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo Nas Nuvens... (musica.ufmg.br/nasnuvens) Considerações sobre as práticas de autoaprendizagem e o uso da tecnologia pelos estudantes do Curso Técnico Integrado em Instrumento Musical do IFPB, Campus João Pessoa Italan Carneiro 1 Categoria: Comunicação Resumo: Este trabalho discute os processos de autoaprendizagem indicados pelo corpo discente do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Instrumento Musical do Instituto Federal da Paraíba – IFPB, Campus João Pessoa. A partir de pesquisa de campo que utilizou o questionário como principal instrumento de coleta de dados, foram apontadas pelos estudantes o desenvolvimento de diversos processos voltados à autoaprendizagem. Nesse contexto, foi destacado o auxílio de familiares e amigos, assim como estratégias envolvendo o uso de recursos tecnológicos. A realização de tais práticas evidencia os novos caminhos que vêm sendo delineados para os processos de ensino e aprendizagem musical contemporâneos. Palavraschave: Autoaprendizagem musical. Curso Técnico em Instrumento Musical. Perfil discente. Considerations about selflearning practices and the use of technology by students of the IFPB Integrated Musical Instrument Technical Course, Campus João Pessoa Abstract: This paper discusses the selflearning processes indicated by the students of the Technical Course Integrated to the High School in Musical Instrument of the Federal Institute of Paraíba IFPB, Campus João Pessoa. From field research that used the questionnaire as the main instrument for data collection, students pointed to the development of various processes aimed at selflearning. In this context, the support of family and friends was highlighted, as well as strategies involving the use of technological resources. The realization of such practices highlights the new paths that have been outlined for contemporary music teaching and learning processes. Keywords: Self learning music. Musical Instrument Technical Course. Student profile. 1 Doutor em Música (Educação Musical) pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Professor da Coordenação de Instrumento Musical e do Programa de PósGraduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) do Instituto Federal da Paraíba – IFPB. Email: [email protected]. 2 Pesquisa desenvolvida no Programa de PósGraduação em Música, subárea Educação Musical, da UFPB, sob a orientação do prof. Dr. Luis Ricardo Silva Queiroz. Disponível em:

Considerações, sobre, as, práticas, de auto3aprendizagem,e ...musica.ufmg.br/.../uploads/2019/11/Trabalho-29.pdf5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Considerações, sobre, as, práticas, de auto3aprendizagem,e ...musica.ufmg.br/.../uploads/2019/11/Trabalho-29.pdf5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro

5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo

 

Nas  Nuvens...  (musica.ufmg.br/nasnuvens)  

Considerações   sobre   as   práticas   de   auto-­‐aprendizagem   e   o   uso   da  tecnologia   pelos   estudantes   do   Curso   Técnico   Integrado   em  Instrumento  Musical  do  IFPB,  Campus  João  Pessoa  

 

Italan  Carneiro1  

 

Categoria:  Comunicação  

 

Resumo:   Este   trabalho  discute  os  processos  de  auto-­‐aprendizagem   indicados  pelo  corpo   discente   do   Curso   Técnico   Integrado   ao   Ensino   Médio   em   Instrumento  Musical   do   Instituto   Federal   da   Paraíba   –   IFPB,   Campus   João   Pessoa.   A   partir   de  pesquisa  de  campo  que  utilizou  o  questionário  como  principal  instrumento  de  coleta  de   dados,   foram   apontadas   pelos   estudantes   o   desenvolvimento   de   diversos  processos  voltados  à  auto-­‐aprendizagem.  Nesse  contexto,  foi  destacado  o  auxílio  de  familiares   e   amigos,   assim   como   estratégias   envolvendo   o   uso   de   recursos  tecnológicos.   A   realização   de   tais   práticas   evidencia   os   novos   caminhos   que   vêm  sendo   delineados   para   os   processos   de   ensino   e   aprendizagem   musical  contemporâneos.    Palavras-­‐chave:   Auto-­‐aprendizagem   musical.   Curso   Técnico   em   Instrumento  Musical.  Perfil  discente.  

 Considerations   about   self-­‐learning   practices   and   the   use   of   technology   by  students  of  the  IFPB  Integrated  Musical  Instrument  Technical  Course,  Campus  João  Pessoa      Abstract:  This  paper  discusses  the  self-­‐learning  processes  indicated  by  the  students  of   the  Technical  Course  Integrated  to  the  High  School   in  Musical   Instrument  of   the  Federal   Institute   of   Paraíba   -­‐   IFPB,   Campus   João   Pessoa.   From   field   research   that  used  the  questionnaire  as  the  main  instrument  for  data  collection,  students  pointed  to  the  development  of  various  processes  aimed  at  self-­‐learning.   In  this  context,   the  support  of  family  and  friends  was  highlighted,  as  well  as  strategies  involving  the  use  of  technological  resources.  The  realization  of  such  practices  highlights  the  new  paths  that  have  been  outlined  for  contemporary  music  teaching  and  learning  processes.    Keywords:   Self   learning   music.   Musical   Instrument   Technical   Course.   Student  profile.  

   

                                                                                                               1   Doutor   em   Música   (Educação   Musical)   pela   Universidade   Federal   da   Paraíba   –   UFPB.   Professor   da  Coordenação   de   Instrumento   Musical   e   do   Programa   de   Pós-­‐Graduação   em   Educação   Profissional   e  Tecnológica  (ProfEPT)  do  Instituto  Federal  da  Paraíba  –  IFPB.  E-­‐mail:  [email protected].  2  Pesquisa  desenvolvida  no  Programa  de  Pós-­‐Graduação  em  Música,  subárea  Educação  Musical,  da  UFPB,  sob   a   orientação   do   prof.   Dr.   Luis   Ricardo   Silva   Queiroz.   Disponível   em:  

Page 2: Considerações, sobre, as, práticas, de auto3aprendizagem,e ...musica.ufmg.br/.../uploads/2019/11/Trabalho-29.pdf5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro

5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo 5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo

 

2    

1.  Introdução      

Neste  trabalho,  apresentamos  recorte  da  pesquisa  de  doutorado  intitulada  “Curso  

Técnico  Integrado  ao  Ensino  Médio  em  Instrumento  Musical  do  IFPB:  reflexões  a  partir  

dos  perfis  discente  e  institucional”2  que  definiu  como  um  dos  seus  objetivos  específicos  

o  delineamento  do  perfil  dos  jovens  que  compõem  o  corpo  discente  do  Curso  a  partir  de  

suas  inter-­‐relações  com  a  música  e  com  a  formação  técnica-­‐integrada.  

Buscando   compreender   o   perfil   dos   estudantes,   optamos  pela   realização  de  um  

levantamento  que  abordou  a  totalidade  do  corpo  discente  do  Curso,  constituindo  assim  

um  estudo  do   tipo  censo.  Para  a   realização  da  pesquisa,  durante  a  pesquisa  de   campo  

utilizamos  como  principal   instrumento  de  coleta  de  dados  o  questionário  construído  a  

partir  de  questões  abertas  e  fechadas.  Neste  texto,  abordando  as  atividades  musicais  que  

os   estudantes   desenvolveram   antes   de   ingressar   no   Curso,   tratamos   especificamente  

sobre  o  estudo  musical  realizado  em  casa  por  conta  dos  próprios  estudantes.  

 

2.  Auto-­‐aprendizagem  musical  e  uso  dos  recursos  tecnológicos  

Questionados  acerca  de  quais  atividades  musicais  haviam  desenvolvido  antes  de  

ingressar   na   instituição,   uma   parcela   de   61%   indicou   ter   realizado   estudo   musical.  

Foram   destacados   estudos   realizados   em   escolas   especializadas   (conservatórios   e  

escolas   livres),   igrejas,   professores   particulares,   escolas   regulares,   projetos   sociais,  

extensão  universitária,  e  ainda  estudos  realizados  em  casa  por  conta  própria  ou  com  o  

auxílio  de  familiares.  

  Evidenciamos   como   significativamente   positivo   o   reconhecimento   dado   pelos  

estudantes  às  suas  práticas  não-­‐formais,  classificando-­‐as  como  estudo.  Evidenciando  as  

característica   dessas   atividades,   os   estudantes   destacaram   o   aspecto   prático   do   fazer  

musical,   conforme   explicita   um   aluno   de   bateria   do   2o   ano   que   afirmou   ter   estudado,  

antes  de  ingressar  na  instituição,  por  três  anos,  “em  casa,  com  o  meu  pai,  estudávamos  

apenas  a  parte  prática”  (Q  204,  2o  ano,  masc.,  17  anos)3.    

                                                                                                               2  Pesquisa  desenvolvida  no  Programa  de  Pós-­‐Graduação  em  Música,  subárea  Educação  Musical,  da  UFPB,  sob   a   orientação   do   prof.   Dr.   Luis   Ricardo   Silva   Queiroz.   Disponível   em:  <https://www.academia.edu/35060454/Curso_T%C3%A9cnico_Integrado_ao_Ensino_M%C3%A9dio_e  m_Instrumento_Musical_do_IFPB_reflex%C3%B5es_a_partir_dos_perfis_discente_e_institucional>.   Acesso  em  14/09/2019.  3  Durante  a  realização  da  análise,  os  questionários   foram  numerados  aleatoriamente,  seguindo  apenas  o  padrão   de   separação   por   turma.  Desse  modo,   os   questionários   da   turma   ingressante   na   instituição   (1o  

Page 3: Considerações, sobre, as, práticas, de auto3aprendizagem,e ...musica.ufmg.br/.../uploads/2019/11/Trabalho-29.pdf5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro

5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo 5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo

 

3    

No  contexto  dos  estudos  realizados  em  casa,  destacou-­‐se  a  significativa  utilização  

dos   recursos   tecnológicos,   gerando   condições   bastante   favoráveis   para   o  

desenvolvimento   musical,   a   partir   da   contribuição   das   Tecnologias   da   Informação   e  

Comunicação  (TICs).  Há  algum  tempo,  a  tecnologia  vem  sendo  empregada  como  recurso  

na   autoaprendizagem   musical,   através   de   recursos   como   o   disco   de   vinil,   as   fitas  

magnéticas   (cassete   e   VHS),   o   CD   e,   mais   recentemente,   os   CD-­‐ROMs,   DVDs.   Nesse  

sentido,   Paiva   e   Alexandre   (2010,   p,   18)   assinalam   que   “tocar   junto   com   gravações,  

tendo   como   um   modelo   o   estilo   de   grandes   músicos,   é   uma   prática   musical   e   de  

aprendizagem  que  ainda  é  muito  utilizada,  inclusive  pelas  novas  gerações”.  Sobre  estes  

recursos,  é  importante  salientar  que,  por  se  tratarem  de  ferramentas  unidirecionais,  não  

possibilitam  interação  em  via  de  mão  de  dupla  entre  o  produtor/emissor  e  o  receptor,  

de  modo  que  sua  utilização  configura  portanto  um  processo  unilateral.  

A   vídeo-­‐aula   aparece   como   recurso   bastante  mencionado   pelos   estudantes   em  

seu  processo  de  autoaprendizagem  prévio  ao  ingresso  no  curso.  Conforme  Gohn  (2003,  

p.  18),  “o  uso  de  vídeo-­‐aulas  para  o  aprendizado  da  música  popularizou-­‐se  em  meados  

da   década   de   [19]80,   quando   empresas   norte-­‐americanas   [...]   disponibilizaram  

produções  em  que   instrutores   lecionavam  defronte  à   câmera”.   Sobre  a  maior   inserção  

desses   materiais   no   contexto   brasileiro,   Paiva   e   Alexandre   (2010),   referindo-­‐se   aos  

materiais  didáticos  elaborados  para  o   instrumento  bateria,  em  raciocínio  que  pode  ser  

estendido  para  os  demais  instrumentos  populares,  afirmam  que:  

A   partir   dos   anos   2000,   com  o  maior   acesso   à   tecnologia,   uma   grande  quantidade   de  materiais   didáticos   surgiu   no  mercado   brasileiro,   pelas  mais   variadas   formas   de   mídia,   tais   como:   livros,   livros   que  acompanham  CDs  ou  DVDs,  CD-­‐ROMs,  vídeos-­‐aula  e  sites  da  internet.  Ou  seja,   uma   verdadeira   revolução   aconteceu   para   o   professor   e   o  estudante  de  música  devido  às  novas  alternativas  tecnológicas.  (PAIVA;  ALEXANDRE,  2010,  p.  18)  

Ilustrando  a  utilização  destas  ferramentas,  um  aluno  de  violino  do  4o  ano  afirma  

que  antes  de  ingressar  no  curso  do  IFPB  estudou  por  seis  meses,  “em  casa  e  um  pouco  na  

igreja.   Na   maioria   das   vezes   eram   vídeo-­‐aulas”   (Q   411,   4o   ano,   masc.,   20   anos).   A  

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         ano1)  iniciam  sua  numeração  pelo  número  0  (ex.:  QUESTIONÁRIO  [Q]  21  001);  os  questionários  da  turma  do   1o   ano,   abordada   no   final   do   ano   letivo   (1o   ano2)   são   iniciados   com  pelo   número   1   (ex.:   Q   101);   a  turma  do  2o  ano  pelo  número  2  (ex.:  Q  201);  o  3o  ano  com  o  número  3  (ex.:  Q  301)  e  os  questionários  da  turma  do  4o  ano  iniciam-­‐se  pelo  número  4  (ex.:  Q  401).  

Page 4: Considerações, sobre, as, práticas, de auto3aprendizagem,e ...musica.ufmg.br/.../uploads/2019/11/Trabalho-29.pdf5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro

5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo 5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo

 

4    

relevância   das   vídeo   aulas   –   vinculadas   inicialmente   com   o   suporte   do   VHS,  

posteriormente   do   DVD   e   atualmente   no   formato   digital   que   pode   ser   acessado,   por  

exemplo,  via  internet  –  é  destacada  por  Vieira  e  Ray  (2009,  p.  33)  nos  seguintes  termos:  

“bastante  difundida  no  universo  musical  por  proporcionar  ao  estudante  de  instrumento  

um   ‘contato’   com   grandes   músicos,   possibilitou   ao   mesmo   observar   a   técnica   de   seu  

instrumentista  preferido   e   seguir   suas   sugestões”.  Os   autores   concluem   seu   raciocínio  

apontando   a   importância   da   ferramenta   para   a   construção   da   performance   musical,  

indicando  que  “ao  proporcionar  este  contato  a  vídeo-­‐aula  possibilita  de  forma  prática  e  

acessível   ao   performer   um   ambiente   permeado   por   referências   mundiais   no   quesito  

interpretação,   análise   e   técnica   para   a   preparação   de   um   trabalho   performático”  

(VIEIRA;   RAY,   2009,   p.   33-­‐34).   Vale   destacar   que   as   vídeos-­‐aulas   ampliaram  

consideravelmente   as   possibilidades   de   um   sistema  não-­‐formal   de   aprendizagem,   que  

muitas  vezes  é  desenvolvido  sem  nenhuma  espécie  de  acompanhamento  ou  orientação,  

e  que  seu  uso  “persiste  em  parte  mesmo  quando  a  figura  do  professor  está  fisicamente  

presente”  (GOHN,  2003,  p.  18).  

As   possibilidades   geradas   pelos   recursos   acima   abordados   expandiram-­‐se  

consideravelmente   a   partir   do   avanço   da   comunicação   mediada   por   computadores,  

através  das   comunidades  virtuais,  de  modo  que,   gradualmente,   a  evolução   tecnológica  

estabeleceu   novos   padrões   nas   formas   de   produzir,   distribuir,   consumir   e,   de   modo  

geral,  vivenciar  a  música.  De  modo  que,  “a  presença  em  redes  sociais  se  tornou  condição  

até   para   a   comercialização   de   arquivos   de   música,   embora   o   trabalhador   musical   dê  

aulas,   componha   sob   demanda,   toque   em   eventos   e   precise   ser   plural   em   estilos   e  

gêneros  musicais”  (COSTA,  2012,  p.  7).  Apontando  nesta  direção,  Queiroz  (2011,  p.  145)  

indica   que   “as   mídias   atuais   têm   delineado   novos   caminhos   para   a   aprendizagem  

musical.   Assim,   são   cada   vez   mais   comuns   processos   de   auto-­‐aprendizagem,   com   o  

auxílio   de   informações   via   internet,   vídeo-­‐aulas   disponíveis   inclusive   em   sites   como  o  

Youtube,   entre   outros”.   Confirmando   esse   panorama,   um   aluno   de   violão   do   4o   ano  

afirma  que  antes  de  ingressar  no  curso  do  IFPB  estudou,  durante  aproximadamente  um  

ano,  “por  conta  própria,  através  cifras  de  internet,  etc.”  (Q  406,  4o  ano,  masc.,  17  anos).  

Refletindo   sobre   o   impacto   da   comunicação   estabelecida   nas   comunidades   virtuais,  

reportamo-­‐nos  à  reflexão  de  Gohn  (2008):  

Page 5: Considerações, sobre, as, práticas, de auto3aprendizagem,e ...musica.ufmg.br/.../uploads/2019/11/Trabalho-29.pdf5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro

5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo 5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo

 

5    

Essa  realidade  possibilitou  trocas  de  informações  entre  os  indivíduos  e  participações   nas   aprendizagens   uns   dos   outros,   incluindo   a   indicação  de   novos   repertórios   para   apreciação.   A   facilidade   e   o   baixo   custo   de  envio  de  arquivos  sonoros  pela  Internet,  compactados  no  formato  MP3,  e   a   recomendação   de   sites     contendo   materiais   sobre   um   artista   ou  gênero   musical   foram   determinantes   para   tornar   o   computador   um  elemento  aglutinador  de  experiências  musicais.  (GOHN,  2008,  p.  114)  

Confirmando  essa  tendência,  um  aluno  de  violino  do  1o  ano  afirma  que  há  alguns  

anos  já  estudava  “em  casa,  via  internet,  escutando  vários  outros  guitarristas,  sempre  fui  

buscando   novas   técnicas”   (Q   112,   1o   ano2,   masc.,   17   anos).   Encontramos   no   estudo  

apontado  por  um  aluno  de  teclado  do  1o  ano,  a  combinação  da  internet  com  ferramentas  

tradicionais,  como  o  livro.  O  aluno  menciona  ter  estudado  em  casa,  durante  1  ano,  “com  

livro  e  internet.  Eu  assistia  vídeos  e  algumas  apostilas  de  música”  (Q  018,  1o  ano1,  masc.,  

15  anos).  Nesse  sentido,  reportamo-­‐nos  novamente  à  reflexão  de  Gadotti  (2000,  p.  7)  na  

qual   o   autor   indica   que   “além   da   escola,   também   a   empresa,   o   espaço   domiciliar   e   o  

espaço  social  tornaram-­‐se  educativos”.  

O   contato   com   novos   repertórios,   que   usualmente   se   realizava   a   partir   da  

aquisição  de  um  suporte  físico,  tal  como  o  vinil  ou  o  CD,  passou  a  ser  viabilizado  pelas  

redes  digitais,  desvinculando-­‐se,  portanto,  da  presença  de  um  suporte   físico  (que  ficou  

restrito  ao  aparelho  de  execução).  Explicitando  um  pouco  do  funcionamento  dos  meios  

digitais,  Costa  (2013)  afirma  que:  

Essas  novas  formas  de  registro  e  disseminação  de  arquivos  de  música  na  internet   têm   como   principal   fundamento   técnico   o   processo   de  digitalização,   no   qual   qualquer   tipo   de   informação   passa   a   ser  homogeneizada,   a   exemplo   de   arquivos   de   áudio   e   vídeo,   reduzidos   a  zeros  e  uns,  que  possibilitam  a  transição  desses  arquivos  entre  suportes  diferentes.  (COSTA,  2013,  p.  77)  

Desse  modo,  a  transmissão  de  dados,  dos  quais  a  música  passou  a  configurar  uma  

possibilidade,   adquiriu   uma   fluidez   que   Gohn   (2008)   compara   àquela   proporcionada  

pelo  rádio,  mas  com  diferenciais  importantes,  pois  “enquanto  no  rádio  a  escuta  é  única  e  

efêmera,  nas  redes  digitais  uma  obra  pode  ser  escutada  repetidamente  e  infinitas  cópias  

podem  ser  produzidas,  sempre  mantendo  a  mesma  qualidade  do  original”  (GOHN,  2008,  

p.  114).  

Page 6: Considerações, sobre, as, práticas, de auto3aprendizagem,e ...musica.ufmg.br/.../uploads/2019/11/Trabalho-29.pdf5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro

5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo 5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo

 

6    

Como  apontado  anteriormente,  as  mídias  atuais  vêm  delineando  novos  caminhos  

para   a   aprendizagem  musical,   de  modo   que,   para   nos  mantermos   “sintonizados”   com  

nosso  próprio  tempo,  tornou-­‐se  necessário  o  domínio,  ainda  que  básico,  dos  processos  

mediados   pela   tecnologia.   Sobre   a   vinculação   da   música   popular   com   os   recursos  

tecnológicos,  Dunbar-­‐Hall  e  Wemyss  (2000,  p.  28,  tradução  nossa4)  argumentam  que  “de  

forma  causal  ou  sintomática,  a  música  popular  há  muito  tempo  tem  sido  alinhada  com  as  

tecnologias   musicais   do   seu   tempo,   e   o   seu   desenvolvimento   musical   não   pode   ser  

estudado   sem   a   devida   referência   ao   aspecto   tecnológico   nele   contido”   .   Portanto,  

concordamos  com  Gohn   (2007)  quando  este  afirma  que  a  necessidade  de  adaptação  à  

novas   possibilidades   não   é   um   fenômeno   recente,   encontrando-­‐se   há   longa   data   no  

cotidiano  dos  músicos,  visto  que,  

Com   o   desenvolvimento   da   notação,   havia   uma   expectativa   de   que  músicos  aprendessem  a  ler  partituras;  com  a  história  da  gravação  e  dos  meios   de   comunicação,   surgiu   um   novo   universo   de   procedimentos  (como   tocar   seu   instrumento   para   um   melhor   registro   sonoro,   como  manusear   um  aparelho  para   gravar   e   reproduzir   o   som,   etc.);   e   com  a  digitalização   do   som,   o   músico   deve   aprender   a   manipular   arquivos  sonoros   com   o   auxílio   de   computadores,   sob   o   risco   de   não   cumprir  tarefas  usuais   e   ser   considerado   “antiquado”  por   seus   colegas.   (GOHN,  2007,  p.  23)  

O  mesmo  raciocínio  pode  ser  aplicado  diretamente  à  condição  do  professor  que,  

necessariamente,   precisa   compreender   –   e,   preferencialmente,   partilhar   –   o   universo  

tecnológico  no  qual  seus  alunos  encontram-­‐se  inseridos  e  desenvolvem  suas  atividades,  

sejam  musicais  ou  de  outra  natureza,  sob  o  risco  de,  não  interagindo  com  esta  realidade,  

perder   a   condição   de   dialogar   com   o   conhecimento   discente.   Neste   sentido,   Crawford  

(2009)  reflete  que:  

Para   os   professores   extraírem   o   máximo   do   que   a   tecnologia  disponibiliza,   é   importante   não   utilizá-­‐la   apenas   no   formato   e  contextos    tradicionais  de  aprendizagem.  A  tecnologia  precisa  ser  usada  na   perspectiva   contemporânea,   utilizando   contextos   de   aprendizagem  autêntica  para  reforçar  conteúdos  e  permitir  aos  alunos  a  oportunidade  

                                                                                                               4  “Whether  causal  or  symptomatic,  popular  music  has  long  been  aligned  with  the  musical  technologies  of  its  time,  and  its  musical  development  cannot  be  studied  without  due  reference  to  the  part  of  technology  in  it”  (DUNBAR-­‐HALL;  WEMYSS,  2000,  p.  28).  

Page 7: Considerações, sobre, as, práticas, de auto3aprendizagem,e ...musica.ufmg.br/.../uploads/2019/11/Trabalho-29.pdf5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro

5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo 5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo

 

7    

de   desenvolver   habilidades   necessárias   para   a   prática   contemporânea  da  música  na  sociedade.  (CRAWFORD,  2009,  p.  486,  tradução  nossa5)  

É   importante   destacar   que   o   estudo   realizado   em   casa,   por   conta   própria,   foi  

apontado   por   uma   parcela   relativamente   pequena   dos   estudantes   (8%),   porém   este  

dado  não   indica,   de  modo  algum,  que  os  demais   estudantes,   frequentadores  de   algum  

espaço  de  estudo,   seja   formal  ou  não-­‐formal,   não   façam  uso  dessas   ferramentas   como  

complementação  do  seu  estudo.  Na  verdade,  existe  um  tráfego  constante  de  pessoas  e  

informações   entre   todos   os   espaços   anteriormente   mencionados,   conforme   indicou  

Gohn   (2008)  e   como   ilustrou  a  aluna  de  violão  do  3o  ano  que,   tendo  estudado  música  

durante  2  anos  antes  de  ingressar  no  curso,  afirmou  que  estudou  “de  inicio  com  meu  tio,  

em  casa.  Mas  fiquei  mais   interessada  e  procurei  um  professor  [com  quem  estudou  por  

um  ano]  e  depois  fiquei  estudando  sozinha”  (Q  310,  3o  ano,  fem.,  17  anos).  

Partindo   do   entendimento   de   que   todo   estudante   se   configura   como   um  

“indivíduo   com   interesses   próprios,   que   anseia   por   saberes   que   nem   sempre   são  

apresentados  em  um  programa  curricular”,  Marques   (2006,  p.  2)   realizou  pesquisa  na  

qual  buscou  verificar  a  trajetória,  os  recursos,  os  contextos  e  as  estratégias  utilizadas  por  

três  estudantes  de  música  em  suas  pesquisas  extraclasse,  com  o  intuito  de  compreender  

suas   práticas   para   reinterpretar   as   atuais   relações   entre   o   sujeito   educacional   e   sua  

escola.  Segundo  a  autora,   “esse  aluno  que  se  cria   sujeito  do  conhecimento,  que  cresce,  

confirmo   ser   observável   nos   alunos   que,   em   seus   ‘escapes   intencionais’   da   escola,   se  

reorganizam,   por  meios   não-­‐formais,   em   atividades   auto-­‐educativas,   verdadeiramente  

dirigidas   por   e   aos   seus   interesses”   (MARQUES,   2006,   p.   91).   A   autora   conclui   seu  

raciocínio   indicando   que   aqueles   estudantes   “que   se   tornaram   autônomos   continuam  

aprendendo  de  um  jeito  ou  de  outro,  demarcando  uma  nova  jurisprudência  e  jurisdição  

de   aprendizagem,   contando   ou   não   com   a   escola   à   qual   são   vinculados”   (MARQUES,  

2006,  p.  91)  

 

 

                                                                                                                 5  “For  teachers  to  extract  the  most  from  what  technology  is  available,  it   is  important  to  not  use  it  within  traditional   teaching   and   learning   contexts.   Technology   needs   to   be   used   in   a   contemporary  way   using  authentic   learning  contexts   to  enhance   the   subject  and  allow  students   the  opportunity   to  develop  skills  necessary  in  the  contemporary  practice  of  music  and  society”  (CRAWFORD,  2009,  p.  486).  

Page 8: Considerações, sobre, as, práticas, de auto3aprendizagem,e ...musica.ufmg.br/.../uploads/2019/11/Trabalho-29.pdf5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro

5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo 5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo

 

8    

3.  Considerações  Finais    

Conforme   destacado   ao   longo   do   texto,   os   processos   de   auto-­‐aprendizagem  

ganharam   um   significativo   suporte   das   novas   ferramentas   tecnológicas,   de  modo   que  

novos  caminhos  vêm   inevitavelmente  sendo  delineados  para  os  processos  de  ensino  e  

aprendizagem  musical.   Nesse   sentido,   o   domínio,   ainda   que   elementar,   dos   processos  

mediados   pela   tecnologia   tornou-­‐se   essencial   para   a   compreensão   e   interação   com   as  

produções  musicais  contemporâneas.  

Não   estando   alheias   à   essa   realidade,   as   instituições   educacionais,   assim   como  

seu  corpo  docente,  precisam  interagir  com  o  universo   tecnológico  no  qual  seus  alunos  

encontram-­‐se  inseridos  e  realizam  suas  produções  musicais,  buscando  garantir  que  suas  

ações  adquiram  maior  relevância  no  processo  de  formação.  

 

Referências  

COSTA,  Cristina  Porto.  Música:  a  Educação  Profissional  Técnica  de  Nível  Médio  na  interseção  das  políticas  públicas.  In:  SEMINÁRIO  NACIONAL  DE  EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  E  TECNOLÓGICA,  3.,  2012,  Belo  Horizonte.  Anais...    Belo  Horizonte:  CEFET-­‐MG,  2012.  Disponível  em:  <http://www.senept.cefetmg.br/galerias/Anais_2012/GT-­‐03/GT03-­‐007.pdf>.  Acesso  em:  20/09/2018.  

COSTA,  Luís  Adriano  Mendes.  Produção,  distribuição  e  consumo  de  música  no  Brasil:  novas  perspectivas  a  partir  do  ambiente  das  redes.  In:  MOTA,  Iraê  Pereira  et  al.  (orgs.).  Comunicação,  mídias  e  cultura.  João  Pessoa:  Editora  Ideia,  2013.  Disponível  em:  <http://www.insite.pro.br/elivre/comunicacao_tablet.pdf#page=75>.  Acesso  em:  19/09/2019.  

CRAWFORD,  Renée.  Secondary  school  music  education:  A  case  study  in  adapting  to  ICT  resource  limitations.  Australasian  Journal  of  Educational  Technology,  Tugun  (Austrália)  v.  25,  n.  4,  p.  471-­‐488,  2009.  Disponível  em:  <http://www.ascilite.org.au/ajet/ajet25/crawford.pdf>.  Acesso  em:  12/09/2019.  

DUNBAR-­‐HALL,  Peter;  WEMYSS,  Kathryn.  The  effects  of  the  study  of  popular  music  on  music  education.  International  Journal  of  Music  Education,  n.  36,  p.  23-­‐34,  2000.  Disponível  em  :  <http://ijm.sagepub.com/content/os-­‐36/1/23>.  Acesso  em:  23/09/2019.  

GADOTTI,  Moacir.  Perspectivas  atuais  da  educação.  São  Paulo  em  perspectiva,  São  Paulo,  v.  14,  n.  2,  p.  3-­‐11,  2000.  Disponível  em:  <http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n2/9782.pdf>.  Acesso  em:  20/09/2019.  

Page 9: Considerações, sobre, as, práticas, de auto3aprendizagem,e ...musica.ufmg.br/.../uploads/2019/11/Trabalho-29.pdf5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro

5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo 5º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2019 – ANAIS Artigo

 

9    

GOHN,  Daniel  Marcondes.  Auto-­‐aprendizagem  musical:  alternativas  tecnológicas.  São  Paulo:  Annablume/Fapesp,  2003.  215p.  

_______.  Aspectos  tecnológicos  da  experiência  musical.  Música  Hodie,  Goiânia,  v.  7,  n.  2,  p.  11-­‐27,  2007.  Disponível  em:  <http://www.revistas.ufg.br/index.php/musica/article/view/3295/12214>.  Acesso  em:  21/09/2019.  

_______.  Um  breve  olhar  sobre  a  música  nas  comunidades  virtuais.  Revista  da  ABEM,  Porto  Alegre,  v.  19,  p.  113-­‐119,  mar.  2008.  Disponível  em:  <http://www.abemeducacaomusical.org.br/Masters/revista19/revista19_artigo12.pdf>.  Acesso  em:  20/09/2019.    MARQUES,  Alice  Farias  de  Araújo.  Processos  de  aprendizagens  musicais  paralelos  à  aula  de  instrumento:  três  estudos  de  caso.  2006.  116f.  Dissertação  (Mestrado  em  Educação  Musical).  Programa  de  Pós-­‐Graduação  em  Música,  Universidade  de  Brasília,  Brasília,  2006.  Disponível  em:  <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/2087/1/2006_Alice%20Farias%20de%20Ara%C3%BAjo%20Marques.pdf>.  Acesso  em:  22/09/2019.  

PAIVA,  Rodrigo  Gudin;  ALEXANDRE,  Rafael  Cleiton.  Material  didático  para  bateria  e  percussão:  levantamento  bibliográfico  e  elaboração  de  um  material  didático  inédito  para  o  ensino  coletivo  desses  instrumentos.  In:  ENCONTRO  DE  EDUCAÇÃO  MUSICAL  DA  UNICAMP,  3.,  2010,  Campinas.  Anais…  Campinas:  UNICAMP,  2010,  p.  17-­‐24.  Disponível  em:  <http://flautinsmatua.com.br/imagens/banco/release_G_COD-­‐16718025100_arquivo_Anais_IIIs_EEM.pdf#page=23>.  Acesso  em:  22/09/2019.  

QUEIROZ,  Luis  Ricardo  Silva.  Criação,  circulação  e  transmissão  musical:  inter-­‐relações  e  (re)definições  a  partir  dos  cenários  tecnológico  e  midiático  contemporâneos.  Música  Hodie,  Goiânia,  v.  11,  n.  1,  p.  135-­‐150,  2011.  Disponível  em:  <http://www.musicahodie.mus.br/11.1/musica_hodie_11_1_artigo_7.pdf>.  Acesso  em:  21/09/2019.    VIEIRA,  Gabriel  da  Silva;  RAY,  Sônia.  Desafios  e  contribuições  das  novas  tecnologias  à  performance  musical.  In:  Seminário  Nacional  de  Pesquisa  em  Música  da  UFG,  9.,  2009,  Goiânia.  Anais…  Goiânia:  UFG,  2009,  p.  31-­‐36.  Disponível  em:  <http://mestrado.emac.ufg.br/uploads/270/original_9%C2%BA_SEMPEM_On_Line.pdf#page=31>.  Acesso  em  22/09/2019.