CONSIDREAÇÕES SOBRE O TEMPO

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  • 8/13/2019 CONSIDREAES SOBRE O TEMPO

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    CONSIDREAES SOBRE O TEMPO

    O que , j foi; e o que h de ser, tambm j foi 1

    O que o tempo? H quanto tempo pensamos sobre o tempo? E quanto tempo tem otempo? Estaria no movimento das coisas ou no repouso que as faem durar? !eria otraba"ho do re"#$io, os dias do ca"endrio ou simp"esmente um uso da "in$ua$em, que

    di% aqui"o j foi, a"$o vir a ser&&& 'ode o tempo ser tripartido em antes, depois ea$ora? O tempo que "evo para "er este te(to o mesmo tempo marcado pe"o interva"odo re"#$io? )mbos seriam reais ou a"$um de"es seria uma i"us*o? !eria o tempoabso"uto ou re"ativo? 'odemos, no entanto, notar que a passa$em do tempo nosparece, em certos momentos, diverso enquanto em outros o apreendemos de uma s#ve& 'or isso, poss+ve" distin$uir o tempo bio"#$ico, no qua" observamos ocrescimento, o desenvo"vimento e o enve"hecimento tanto na naturea quanto em n#smesmo& iemos tambm que h um tempo crono"#$ico, mec-nico, no qua"marcamos a passa$em do tempo por meio de instrumentos que au(i"iam na precis*ode nossas atividades& 'or fim, diemos que h um tempo diferente dos outros, umtempo que sentimos passar mais rpido no praer e mais "ento na dor; esse umtempo subjetivo, interior de cada um, que sentimos sempre quando fa"ta&

    .ais questionamentos acerca do tempo n*o s# um tema apropriado pe"a /i"osofiadesde o seu in+cio, como tambm o pr#prio questionamento do homem& 0a mito"o$ia$re$a, por e(emp"o, encontramos os deuses da tempora"idade% Chronos, o deus quemarca todos os praos do tempo; Ain, o deus que representa o tempo semprepresente, que nos fa ter a sensa*o da eternidade do tempo; e Kairs, o deus dotempo oportuno, que nos tra a possibi"idade do futuro que atin$imos atravs denossas esco"has& 'oderiamos entender o tempo representado por esses tr2s deusescomo uma ana"o$ia ao passado 3Chronos4, ao presente 3Ain4, e ao futuro 3Kairs4& 0a

    tradi*o fi"os#fica, a concep*o do tempo se torna mais re"evante a partir da vis*o deHerc"ito de 5feso 3apro(& 678a&9&:78a&9&4 que atribu+a o tempo sempre como devir,um vir:a:ser constante e 'arm2nides da E"ia 3apro(& 6

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    $re$o tomado sob a perspectiva tempo abstra+do da rea"idade pe"a ra*o, e n*ocomo um sentido interno que afeta nossa percep*o do mundo>&

    H tambm re$istrado na hist#ria aque"es que buscaram entender a concep*odin-mica do tempo; principa"mente cientistas como saac 0e@ton 31=74 e )"bert

    Einstein 31AB:1B664, inf"uenciaram considerave"mente a vis*o fi"os#fica sobre o tema&0esse sentido de tempo, va"e recordar o famoso parado(o de Cen*o de 5"eia

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    sempre uma condi*o fundamenta" de ser& ) princ+pio, podemos apontar que nessaobra a quest*o fundamenta" o sentido do !er, na qua" o tempo interpretado comohorionte de possibi"idade& )pro(imando de !& )$ostinho, Heide$$er pontua sobre atempora"idade que fa do tempo um porvir que se atua"ia do vi$or dei(ado do quetem sido=& 0o entanto, Heide$$er pensa a "embrana do que j passou e a

    antecipa*o ao que ainda n*o che$ou em termos de simu"taneidade, ou seja, ocorremno presente, conquanto que este presente encerra a possibi"idade de todas aspossibi"idades& .emos, ent*o, o tempo como a unidade articu"ada do futuro, passadoe presente% um futuro que torna presente o processo de ter sido&O futuro o "u$ar eo "oca" da 9O0!I)JKO do !er:a+ 3que o !er:para:a:morte4 que "anado de suae(ist2ncia tempora" do passado e presente& Entender o tempo , pois, que e"e inerente a condi*o do !er:a+, que enquanto modo se ser toda e qua"querpossibi"idade, que cada um de n#s e(istencia"mente pr#prio de faer hist#ria&

    L o fi"#sofo 'au" MicoeurA31B18864, ao ana"isar o tempo encontra o impasse entreo tempo cosmo"#$ico de )rist#te"es e o tempo da consci2ncia de !& )$ostinho& )resposta encontrada por Micoeur que haja uma outra via para a concep*o de tempotecidas em uma narrativa& O tempo , no ato da narra*o, humaniado, dei(a a esferacosmo"#$ica para se tornar consciente naque"e que rea"ia a e(peri2ncia tempora"&0esse sentido, a narrativa seria uma ref"e(*o do pr#prio ser sobre si, que emboraincapa de tan$2:"o enquanto ta", produ o reconhecimento de si, a partir de duasfacu"dades do inte"ecto humano, a mem#ria e a ima$ina*o, na qua" a trama danarrativa pode ser tanto hist#rica quanto fict+cia&

    &&&fa"ar sobre as coisas no tempo, porm, n*o apenasqua"quer ponto na "inha do tempo; um presente vivido ou a

    representa*o de"e, ra*o pe"a qua" o tempohistricocombinao tempo c#smico e o vividoB

    O pensamento de Micoeur se asseme"ha ao de Heide$$er quanto ao fato de consentirque somente dentro do tempo podemos e(istir& Nisto o tempo como essa capacidadede tecer narrativas se$undo uma concord-ncia de fatos que tramam o enredo, temosum tempo si$nificativo, um tempo pe"o qua" podemos nos comunicar com os outros ecompreender suas narrativas& Micoeur ainda e(p"ana sobre a mem#ria e a identidadeacerca da narrativa, na qua" cada indiv+duo tem sua pr#pria mem#ria, sua pr#priae(peri2ncia tempora", da qua" pode dier% eu me "embro, eu estava "& Entretanto, anarrativa capa de romper a individua"idade e tornar a e(peri2ncia do tempo co"etiva

    quando permite que seja interpretada e recontada na e para a presena de outros&0esse sentido, a narrativa pode ser constru+da de diversas mem#rias& 'ortanto, essanarrativa insere a participa*o do homem no mundo a partir da e(peri2ncia tempora"&

    'or fim, apresentamos o conceito de tempo de Henr Per$son 31A6B:1B714 que j dein+cio opera uma distin*o radica" entre tempo e dura*o& 'odemos a princ+pio dierque o intento de Per$son o de purificar o tempo; para e"e o tempo mensurve", estcontaminado pe"o espao, pois um tempo que a inte"i$2ncia pode medir, decompor

    -E2ECCE, /. Ser e $empo; !oes, #", p. 637.7E2S, F. . Tempo, %is$&ria e easo; Papirs, 1""6, p. 58.8

    Para a con)eco deste (reve par'gra)o, recorremos a sGntese da o(ra: PE$EH,. !ompreender 'icoeur, !oes, #", principalmente as p. ""411; 16"4."PE$EH; Op. !i$., p. 11#, gri)o nosso.

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    e reconstruir a vontade& O conceito de durao, a saber, e(pressa justamente essaincapacidade que a ra*o humana tem de apreender o tempo vivido; tempo que antes sentido do que pensado e que a inte"i$2ncia i$nora esse tempo espont-neo emfavor do tempo Fti"& 'ara entender o seu conceito de tempo, di o pr#prio fi"#sofo, preciso partir da intuio da duraoe somente atravs da prtica da e(peri2ncia a

    reencontramos e fina"mente podemos atin$i:"a& Enquanto a inte"i$2ncia se vo"ta para amatria, ao que se repete, ao hbito, o esp+rito se v2 diante da vida, abertura para anovidade, a cria*o& Entretanto, eis que n*o h oposi*o entre o tempo homo$2neo damatria e o tempo hetero$2neo do esp+rito, mas somente a diferena no modo pe"oqua" ambas s*o absorvidas na dura*o& Per$son di que intui*o si$nifica, pois,primeiramente consci2ncia, mas consci2ncia imediata 3&&&4 e mesmo coincid2ncia etambm que a dura*o um crescimento por dentro, o pro"on$amento ininterrupto dopassado que num presente penetra o futuro18&

    'ara Per$son, a compreens*o tempo um dado imediato no acontecimento dae(peri2ncia, no qua" a medida que a intui*o se esfora para se inscrever na dura*o,h uma interpenetra*o do passado que j se constitui em esco"has que formam ofuturo; nesse aspecto, vemos que as nossas intenes de esco"has, pr#(imas asconsideraes de Heide$$er, s*o visadas como esco"has futuras, porm somentequando recordadas de esco"has passadas, pois essas se a"on$am indefinidamente nopresente j encontrando o futuro& O tempo de Per$son um tempo de mudanaqua"itativa, incomensurve" e perptuo no que tan$e o momento, uma Fnicae(peri2ncia que o esforo da vida em $era" de transforma*o que se impu"siona paraa novidade& )fina", o que encontramos nesse ponto de vista o tempo abso"uto, Fnicarea"idade, assim como a e(peri2ncia vivida tambm , e aqui notamos que "on$e daintui*o da dura*o, o tempo se torna ima$inrio e re"ativo& O que o conceito de

    dura*o produ na fi"osofia de Per$son e"imina*o da dicotomia entre o tempoobjetivo e o subjetivo, n*o a partir de uma outra via como prope Micoeur, mas comointui*o que na dura*o reve"a que o tempo n*o nos interior, mas somos n#sinteriores ao tempo& 'ortanto, a passa$em do tempo que temos em nossasconsci2ncias s# podem ser a mesma que temos do nosso corpo enquanto matria quedura& )ssim sendo, Per$son nos di%

    !e considero meu corpo em particu"ar, descubro que, simi"ar aminha consci2ncia, e"e amadurece pouco a pouco, da inf-nciaat a ve"hice, como eu e"e enve"hece& E mesmo, maturidade eve"hice, propriamente fa"ando, s*o atributos do meu corpo11&

    esse modo, che$amos a entender que esse tempo subjetivo, esse tempo que vemoscomo o momento presente, pertencente a nossa e(ist2ncia o pr#prio tempo dae(ist2ncia, da e(peri2ncia, do momento vivido, em que poss+ve" sentir, na aus2ncia,que a vida passa mais ou menos rpida ou "enta a$ora do que j foi em a"$uminstante& L que enve"hecemos com um tempo que n*o enve"hece nunca, o que a$oraprecisamos compreender o que esse tempo quando sentimos que e"e est sees$otando, em outras pa"avras, o que viver a ve"hice&

    'Q).KO& .imeu& .rad& 9ar"os )"berto& Pe"m% EI/'), >881&

    1

    BECS0, -. O pensamen$o e o moen$eintrodo=; $(ril ltral, 1"76,oleo s Pensadores, p.1#.11BECS0; Op. !i$.; #5, p.1417.

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    )M!.R.EQE!& /+sica& .rad& Sui""ermo M& de Echand+a& adrid% Editoria" Sredos, 1BB6&