156
Fiscalização preventiva da constitucionalidade O PR requereu em 07-10-2012 a apreciação preventiva da constitucionalidade de um diploma que lhe foi enviado pela AR para promulgação de uma lei. O TC pronunciou-se pela inconstitucionalidade em 23-11- 2012. Quid iuris se, entrando em 06-11-2012 o PR veta politicamente o diploma referido e se tal veto é superado por confirmação de 3/5 (138 deputados) dos deputados a 18- 11-2012? - A apreciação da constitucionalidade preventiva é competência do PR (artigo 134 alínea g) - O requerimento do PR ao tribunal constitucional sobre diplomas da AR encontra-se diferido no artigo 278 nº 1 e, nos termos do nº3 tal requerimento deve ser dirigido ao TC no prazo de oito dias a contar da recepção do diploma (presumimos que o prazo foi cumprido) - Em relação á pronúncia do TC pela inconstitucionalidade, segundo o artigo 278 nº8, o TC tem um prazo de 25 dias, contudo, no presente caso isso não foi cumprido. - O artigo 136.º da CRP consagra o direito de veto político do Presidente da República (PR). O veto político do PR, que é facultativo, pode incidir sobre leis da AR ou decretos- leis (e, de igual forma, sobre decretos regulamentares) do Governo. No caso de veto político de leis, esse veto tem efeito suspensivo, podendo o mesmo ser ultrapassado pela AR mediante confirmação (uma segunda aprovação do diploma) por maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções (art. 136.º, n.º 2, da CRP).

Constitucionalismo britânico exame

Embed Size (px)

DESCRIPTION

direito constitucional

Citation preview

Fiscalização preventiva da constitucionalidade

O PR requereu em 07-10-2012 a apreciação preventiva da constitucionalidade de um diploma que lhe foi enviado pela AR para

promulgação de uma lei.

O TC pronunciou-se pela inconstitucionalidade em 23-11-2012.

Quid iuris se, entrando em 06-11-2012 o PR veta politicamente o diploma referido e se tal veto é superado por confirmação de 3/5 (138

deputados) dos deputados a 18-11-2012?

- A apreciação da constitucionalidade preventiva é competência do PR (artigo 134 alínea g)

- O requerimento do PR ao tribunal constitucional sobre diplomas da AR encontra-se diferido no artigo 278 nº 1 e, nos termos do nº3 tal requerimento deve ser dirigido ao TC no prazo de oito dias a contar da recepção do diploma (presumimos que o prazo foi cumprido)

- Em relação á pronúncia do TC pela inconstitucionalidade, segundo o artigo 278 nº8, o TC tem um prazo de 25 dias, contudo, no presente caso isso não foi cumprido.

- O artigo 136.º da CRP consagra o direito de veto político do Presidente da República (PR). O veto político do PR, que é facultativo, pode incidir sobre leis da AR ou decretos-leis (e, de igual forma, sobre decretos regulamentares) do Governo.

No caso de veto político de leis, esse veto tem efeito suspensivo, podendo o mesmo ser ultrapassado pela AR mediante confirmação (uma segunda aprovação do diploma) por maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções (art. 136.º, n.º 2, da CRP).

AR aprovação de uma lei / veto politico /superação do veto / recusa da referenda

A AR em 2 de Junho aprovou uma lei com os votos “contra” dos deputados do PEP, e enviou-o para o PR para promulgação como lei.

A 20 de Junho, o PR vetou politicamente a lei e devolveu-a à AR.

A AR confirmou o diploma em 16 de Outubro, com 117 votos a favor, 111 contra e 2 abstenções.

Passados 12 dias o PR promulgou a lei.

O governo PEP não concordando nada com a lei, recusou a referenda à promulgação

- Uma das competências fundamentais da AR é a de aprovar leis em todas as matérias (artigo 161 alínea c), contudo não basta aprovar uma lei para esta entrar em vigor, é preciso também ser promulgada.

A promulgação de uma lei é um acto do PR praticado sobre um acto de outro órgão (exercendo um controlo secundário) e esta competência está prevista no artigo 134 alínea B, tratando-se de um acto necessário para a existência jurídica da lei (artigo 137)

- Com efeito, uma vez recebido um diploma para promulgação, o Presidente da República pode, em vez de o promulgar, fazer outras duas coisas: se tiver dúvidas quanto à sua constitucionalidade, pode, no prazo de 8 dias, suscitar ao Tribunal Constitucional (que terá, em regra, 25 dias para decidir) a fiscalização preventiva da constitucionalidade de alguma ou algumas das suas.

- Ou pode - no prazo de 20 dias, no caso de diplomas da Assembleia da República, ou de 40 dias, no caso de diplomas do Governo, a contar, em ambos os casos, ou da receção do diploma na Presidência da República, ou da publicação de decisão do Tribunal Constitucional

que eventualmente se tenha pronunciado, em fiscalização preventiva, pela não inconstitucionalidade, vetar politicamente o diploma, isto é, devolvê-lo, sem o promulgar, ao órgão que o aprovou, manifestando, assim, através de mensagem fundamentada, uma oposição política ao conteúdo ou oportunidade desse diploma

O veto político é absoluto, no caso de diplomas do Governo, mas é meramente relativo, no caso de diplomas da Assembleia da República. Isto é: enquanto o Governo é obrigado a acatar o veto político, tendo, assim, de abandonar o diploma ou de lhe introduzir alterações no sentido proposto pelo Presidente da República, a Assembleia da República pode ultrapassar o veto político - ficando o Presidente da República obrigado a promulgar, no prazo de 8 dias se reaprovar o diploma (artigo 136 nº2), sem alterações, com uma maioria reforçada: a maioria absoluta dos Deputados, em regra, ou, a maioria da 2/3 dos deputados, no caso dos diplomas mais importantes (leis orgânicas, outras leis eleitorais, diplomas que digam respeito às relações externas, e outros) (artigo 136 nº2 logo 117 deputados)

- A recusa da referenda é um acto praticado pelo governo de co-responsabilização politica perante um acto do PR, a referenda é exigida entre outros actos, para o acto de promulgação e encontra-se prevista nos artigos 140 nº1 e 197 alínea A.

A falta de referenda implica a inexistência jurídica do acto, ou seja, da promulgação e, por consequência, no nosso caso, a lei (artigo 140 nº2)

GOVERNO/ VETO POLTICO/ PROPOSTA DE LEI Á AR

O governo envia ao PR para efeitos de promulgação como DL um decreto sobre o salario mínimo triplicando o seu valor.

O PR veta politicamente com fundamento na crise económica.

O governo apresenta uma proposta lei à AR com o mesmo conteúdo.

Segundo o governo “se o diploma for aprovado por maioria absoluta dos deputados presentes , o PR não poderá recusar a promulgação.

- O governo é um órgão de soberania (artigos 110 nº1 e 182 e seguintes), sem legitimidade democrática directa, com dupla responsabilidade (artigo 190º) e composto pelo PM, ministros, secretários e subsecretários de Estado (artigo 183), após a nomeação pelo PR, o governo é um governo de gestão (artigo 186 nº5)

- O artigo 136.º da CRP consagra o direito de veto político do Presidente da República (PR). O veto político do PR, que é facultativo, pode incidir sobre leis da AR ou decretos-leis (e, de igual forma, sobre decretos regulamentares) do Governo.

- Recaindo o veto político do PR sobre decretos-leis do Governo, não está prevista a possibilidade da sua superação, cabendo apenas ao PR comunicar “por escrito ao Governo o sentido do veto” (art. 136.º, n.º 4, da CRP), acabando portanto com o processo legislativo.

- No entanto, após o veto político do PR, o governo pode ainda apresentar uma proposta de lei (artigo 197 nº1 alínea d) desencadeando um novo procedimento legislativo, contudo, não se trata de superar o veto, pois o PR tem todos os poderes constitucionais neste novo procedimento legislativo, podendo vetar politicamente.

O governo aprovou um decreto para ser promulgado como DL que permitia a expulsão de cidadãos portugueses.

Recebido o diploma, o PR veta o diploma sublinhando a contrariedade da solução face ao artigo 33º nº1 da CRP

- O governo é um órgão de soberania (artigos 110 nº1 e 182 e seguintes), sem legitimidade democrática directa, com dupla responsabilidade (artigo 190º) e composto pelo PM, ministros, secretários e subsecretários de Estado (artigo 183), após a nomeação pelo PR, o governo é um governo de gestão (artigo 186 nº5)

- A competência deste órgão encontra-se consagrado no artigo 198, podendo portanto elaborar decretos-leis de acordo com o artigo 198 nº1 alínea a;b e c. da CRP

- o envio do diploma para promulgação cabe na competência do PR no processo legislativo, praticar um acto de promulgação no que respeita aos decretos aprovados pelo governo e pela AR (artigo 134 alínea b)

- o PR exerce o direito de veto (artigo 136 nº4) com fundamento de natureza politica no entanto o fundamento deveria ter sido a violação da constituição o que consequentemente iria desencadear a fiscalização preventiva junto do TC (artigo 136 nº5 e 278), o veto absoluto é inultrapassável concluindo assim o fim do procedimento legislativo.

AUTORIZAÇAO DA AR AO GOVERNO DE LEGISLAR SOBRE BASES GERAIS DE ENSINO E EDUCAÇÃO / A LEI DE AUTORIZAÇAO NÃO CUMPRE TODOS OS REQUISITOS

A AR concedeu ao Governo, por leis de 10 e 20 de Janeiro, autorizações legislativas para legislar respectivamente sobre bases gerais do sistema de ensino e bases gerais do serviço nacional de

saúde.

- As autorizações legislativas é o modo de comunicação de competência legislativa ao governo através da lei de autorização (artigo 161 alínea d)

- As áreas de competência legislativa são apenas aquelas matérias da área de reserva relativa de competência legislativa da AR pois apenas essas são susceptíveis do acto legislativo do governo mediante autorização legislativa (artigo 165º CRP), os requisitos de validade constitucional da lei de autorização constam dos números 2 e 5 do artigo 165º CRP

- O objecto da lei de autorização deve indicar a matéria sobre a qual o governo pode legislar e deve ser uma matéria constante do elenco do nº1 do artigo 165º CRP; o sentido e a extensão deverão conter as directrizes ou princípios orientadores para a intervenção do governo; em relação á duração, a lei de autorização deverá conter um prazo para a intervenção do governo (artigo 165 nº2 CRP)

- No presente caso, a autorização sobre bases gerais do sistema de ensino apenas nos é dado a conhecer o objecto, além disso trata-se de uma matéria que não consta no artigo 165 nº1, mas antes na alínea i do artigo 164º da CRP, logo, matéria absoluta de competência legislativa da AR o que consequentemente torna a lei de autorização inconstitucional.

- Em relação á autorização sobre as bases gerais do sistema de saúde também só conhecemos o objecto de autorização, contudo trata-se aqui de matéria constante na alínea f do artigo 165, logo é possível a autorização legislativa.

- Todavia se as leis não definem o sentido, a extensão e duração não cumprem os requisitos constitucionais da lei de autorização, pelo que será inconstitucional.

Foi apresentada uma proposta de lei de autorização.

A lei de autorização foi aprovada e foi publicada no diário da república dizendo: “ a AR autoriza o conselho de ministros a legislar, por um

período de 90 dias, sobre as bases do sistema de segurança social com o objectivo de uniformizar os regimes de descontos e pensões de

reforma dos trabalhadores dependentes e dos trabalhadores independentes”

- Objecto: bases do sistema da segurança social (artigo 165 nº1 alínea f)

- Sentido: uniformizar os regimes

- Extensão: trabalhadores dependentes e independentes

- Prazo: 90 dias

DEFINIÇÃO DA LEI DE BASES

Base XXXII: O ministro das finanças revoga a atribuição do rendimento social de inserção a todos os cidadãos aos quais o mesmo rendimento seja atribuído e tenham sido ou venham a ser condenados em pena de prisão por decisão judicial, sendo estabelecida por portaria do mesmo ministro , o elenco de crimes susceptíveis de fundamentar essa decisão revogatória

1) A norma da base XXXII da lei X é uma base geral?

- Esta base não pode ser considerada base em geral porque em 1º lugar, não é por uma lei de bases se auto- denominar como tal, que o é efectivamente, há que atender ao seu conteúdo; em 2º lugar, as

leis de bases apenas fixam princípios e directrizes gerais, que devem ser desenvolvidos por outros actos legislativos.

As leis de bases revestem-se de parametricidade de material, ou seja, tem a capacidade de condicionar o conteúdo de outros actos legislativos.

Neste caso, esta não é uma lei de bases, já que verticalmente têm uma extensão muito longa ou seja, o seu grau de pormenor é muito grande para poder ser considerada como tal.

APRECIAÇÃO PARLAMENTAR DE DIPLOMAS DO GOVERNO

- A apreciação parlamentar é um acto de controlo da AR sobre a actividade legislativa do governo (artigo 162 alínea c e 169º CRP)

- O objecto de apreciação são decretos-leis do governo excepto os que digam respeito à sua competência exclusiva (artigo 169 nº1)

- A legitimidade para o requerimento são pelo menos 10 deputados

- O prazo é 30 dias apos a publicação do DL

AR DISCORDA COM O DL DO GOVERNO/ QUE PODE FAZER

Um grupo de 33 deputados discorda em absoluto das disposições constantes do DL do governo e pretende impedir a sua manutenção

em vigor.

Quais os instrumentos a utilizar?

- Apreciação parlamentar: artigos 169 e 162 alínea c; só tem efeitos prospectivos (artigo 169 nº4)

- Processo de fiscalização sucessiva abstracta: artigo 281 nº2 alínea f; pelo menos 23 deputados são suficientes para requer a declaração de

inconstitucionalidade que, a existir tem efeitos retroactivos – artigo 282 nº1

REVISÃO CONSTITUCIONAL/ APROVADA PELO PARLAMENTO / O PRESIDENTE É OBRIGADO A PROMULGAR?

Dia 20 de Março foi apresentado ao parlamento um projecto de revisão subscrito pelos presidentes de 4 partidos.

Nele era proposto alterar a alínea h do artigo 288, de forma a subtrair do sufrágio universal e directo a eleição do PR.

Deliberada por maioria de 2/3 no dia 2 de abril mediante votação global, a lei foi remetida no dia 6 ao chefe de estado

- A Constituição da República Portuguesa prevê, nos artigos 284º a 289º, os mecanismos em que assentam os processos da sua própria revisão.

A iniciativa de revisão constitucional compete, exclusivamente, aos Deputados (CRP, artº 285).

Os deputados elaboram um projecto de revisão constitucional que será depois submetido a aprovação na Assembleia da República, por maioria de 2/3 dos deputados (artigo 286 nº1 da CRP)

Ao alterar a alínea h do artigo 288 da CRP estaríamos a ir contra um limite material da revisão, o que não é correcto.

Todavia, uma vez aprovada no parlamento por maioria de 2/3 (artigo 286 nº1) a alteração constitucional não poderá ser vetada pelo PR, de acordo com o nº3 do artigo 286 da CRP.

O projecto de revisão constitucional não se revela conforme à lei constitucional mas o PR não pode vetá-lo; a única atitude que poderá tomar é requerer ao TC a fiscalização sucessiva da constitucionalidade.

2) Os limites do poder constituinte originário são também limites do poder de revisão.

Com efeito, o poder de revisão, para além dos limites expressamente consagrados na Constituição, também tem que respeitar os limites próprios do poder constituinte originário, sob pena de se subverter a própria constituição.

Quantos aos limites de revisão previstos na Constituição, eles estão nos artigos 284.º ao 289.º e são:

a) Formais: apenas os deputados podem iniciar um processo de revisão constitucional, é necessária uma maioria de 4/5 dos deputados para se dar início a uma revisão extraordinária (enquanto

que para a ordinária não se requer qualquer maioria) e as leis de revisão são aprovadas por maioria de 2/3 dos deputados.

b) Temporais: só se pode rever a Constituição de 5 em 5 anos, sendo este um limite mínimo e apenas se contabilizando neste cálculo as revisões ordinárias. O legislador pode, porém, assumir poderes de revisão antes de decorridos 5 anos, desde que se consiga reunir o consenso de uma maioria de 4/5 dos deputados para se dar início à revisão – que se considerará extraordinária.

c) Circunstanciais: não se pode realizar uma revisão constitucional em casos de excepcionalidade ou anormalidade constitucional como, por exemplo, durante o estado de sítio ou estado de emergência.

FISCALIZAÇÃO PREVENTIVA/ DIREITO FUNDAMENTAL

A AR concedeu ao governo uma autorização legislativa para que legislasse sobre bases gerais de segurança social.

Em 30.11.11 o governo fez aprovar um DL que discriminava os cidadãos ciganos

O PR tendo duvidas sobre a constitucionalidade accionou junto do TC o mecanismo do artigo 278º da CRP.

Que requisitos deveriam ser observados?

- Cabe ao PR requerer ao TC, no prazo de 8 dias contados da recepção do diploma, a fiscalização preventiva (artigos 134 º alínea g, nº5 e 278º da CRP).

- Como tal, o TC terá no máximo de 25 dias para se pronunciar (artigo 278 nº1)

- Em relação á decisão do TC, provavelmente iria pronunciar-se pela inconstitucionalidade por violação do principio da igualdade (artigo 13º CRP),e, nesse caso o PR é obrigado a vetar por inconstitucionalidade (artigos 136 nº5 e 279 nº1)

1) Os efeitos temporais regra de uma declaração de inconstitucionalidade são retroactivos ou ex tunc.

Com efeito, de acordo com o n.º 1 do art. 282.º da CRP, a declaração de inconstitucionalidade produz efeitos desde a entrada em vigor da norma inconstitucional, ou seja, produz efeitos para o passado. No entanto, por motivos de segurança jurídica, o n.º 3 do mesmo preceito estabelece que ficam ressalvados os casos julgados (princípio da intangibilidade do caso julgado), os quais não irão beneficiar da decisão do TC. Gomes Canotilho entende que se deve interpretar de forma lata esta ressalva, nela abrangendo todas as situações extintas, ainda que não pela via judicial. Ainda no mesmo n.º 3 estabelece-se uma excepção à ressalva, podendo os casos julgados vir a ser reabertos. Para isso, é preciso que se verifiquem cumulativamente três condições:

1) Que haja uma decisão do TC nesse sentido;

2) Que a norma objecto de fiscalização seja em matéria penal, disciplinar ou de mera ordenação social e

3) Que seja menos favorável para o arguido

QUANDO UM PARTICULAR QUER RECORRER PARA UM TRIBUNAL ORDINÁRIO:

2. Tendo a portaria entrado em vigor, a O.A. pretende impugnar junto do tribunal de comarca as normas que obrigam os advogados a

utilizarem a via electrónica para a prática da generalidade dos actos processuais, alegando a sua inconstitucionalidade.

2.1. Poderá fazê-lo? Justifique. (1 val.)

Não, uma vez que a questão de inconstitucionalidade não pode ser colocada directamente junto de um tribunal ordinário. Apesar de em Portugal os tribunais ordinários terem competência para fiscalizar a inconstitucionalidade das normas (controlo difuso – art. 204.º da CRP), a questão de inconstitucionalidade é sempre uma questão incidental e não a questão principal (que é a questão de fundo ou de mérito). A OA só poderia suscitar o incidente de inconstitucionalidade no âmbito de um processo a decorrer num tribunal ordinário e se fosse parte num processo.

O TRIBUNAL PROFERE UM DECISAO NEGATIVA DE INSCONSTITUCIONALIDADE/ QUEM PODE RECORRER PARA O TC?

3.2) Alertado pelo referido advogado para a eventual inconstitucionalidade das normas em apreço, o tribunal entende,

porém, proferir uma decisão negativa de inconstitucionalidade. Quem e em que termos pode recorrer dessa decisão?

Sendo a decisão negativa, isto significa que o juiz a quo não julgou a norma inconstitucional e aplicou-a ao processo. Apenas pode recorrer desta decisão para o TC a parte que tiver suscitado o incidente de inconstitucionalidade durante o processo (art. 280.º, n.º 4, da CRP).

Quanto ao MP, tem o TC vindo a entender que este poderá recorrer se for parte no processo, se tiver sido ele a suscitar o incidente de inconstitucionalidade e, em regra, quando tenha uma intervenção principal no processo. Não se pode recorrer directamente para o TC, devendo sempre esgotar-se previamente os recursos ordinários (exaustão de recursos ordinários).

QUANDO O TRIBUNAL JULGA AS NORMAS INCONSTITUCIONAIS NA FISCALIZAÇÃO SUCESSIVA CONCRETA/ EFEITOS

3.3. Suponha que, na sequência de um recurso, o TC julga inconstitucionais as referidas normas. Quais efeitos (directos e

reflexos) que produz essa decisão? (3 val.)

Efeitos directos (art. 80.º, n.º 1, da LTC):

1) Caso julgado: a decisão do TC é definitiva no âmbito daquele processo;

2) Eficácia inter partes: a norma julgada inconstitucional não é invalidada, apenas sendo desaplicada no caso concreto;

3) Efeitos restritos à questão de inconstitucionalidade ou de ilegalidade: o TC limita-se a apreciar se uma determinada norma é inconstitucional ou ilegal, não apreciando a questão de mérito ou questão de fundo (art. 80.º, n.º 1, da LTC).

Efeitos indirectos ou reflexos:

1) Obrigatoriedade de o MP recorrer para o TC sempre que seja aplicada uma norma anteriormente julgada inconstitucional ou ilegal pelo próprio TC (art. 280.º, n.º 5, da CRP);

2) A decisão de inconstitucionalidade pode servir de pressuposto ao processo de declaração de inconstitucionalidade com base no controlo concreto – ou processo misto (arts 281.º, n.º 3, da CRP, e 82.º da LTC).

QUANDO O PR ENVIA A LEI PARA O TC FORA DO PRAZO

- A AR enviou a lei X para promulgação (artigo 136 nº1) tendo o PR 20 dias a partir de dia 2 de novembro para se pronunciar sobre a lei em causa.

- O PR optou por enviar a Lei X para o TC, no âmbito da fiscalização preventiva da constitucionalidade (artigo 134 alínea g) com o objectivo de verificar a sua constitucionalidade.

- No entanto, ao enviar o pedido apenas no dia 14 de novembro, ou seja, 12 dias depois da sua recepção, ultrapassa o prazo definido pelo nº3 do artigo 278 da CRP (8 dias)

- Como tal, de acordo com o artigo 52 da LTC nº1, o TC pode recusar o pedido com fundamento no prazo

- Tendo sido o pedido recusado, ao PR apenas resta promulgar a lei ou veta-la por razoes politicas (artigo 136 nº1)

DIREITO FUNDAMENTAL DE PROPAGANDA/ POR ANALOGIA PERTENCE AOS DLG

O partido X realizou uma intensa campanha publicitaria fazendo afixar cartazes onde ponham em causa as actuações do elenco camarário.

A camara entendeu não terem sido respeitadas as regulamentações tendo mandado remover todos os cartazes.

No processo usam-se os seguintes argumentos:

Nada impede que sejam as posturas camararias a determinar os locais possíveis de fixação dos cartazes contudo o direito de propaganda não consta do catalogo “Direitos liberdades e garantias “ estando antes no artigo 113 nº3

- A integração no catalogo constitucional dos direitos, económicos e socais, apenas faz presumir a não determinabilidade do seu conteúdo, não afastando definitivamente a aplicação do regime

jurídico dos Direitos, liberdades e Garantias àqueles que tenham natureza análoga aos que integram o referido catálogo (artigo 17º CRP), como é o caso do DF previsto no artigo 113 nº3

- O relevante é que o DF em causa tenha um conteúdo determinado ou seja determinável a nível constitucional, como se verifica, aplicando-se-lhe o regime dos DLG

- Mas, a norma que determine os locais possíveis de afixação de propaganda terá a natureza de norma ordenadora e não restritiva, visando permitir o bom exercício do direito e não a sua limitação, sendo admissível, segundo alguns, a emissão de uma tal norma a um nível infra- legal; entendimento que o TC não seguiu, pois fez uma interpretação estrita do artigo 165 nº1 alínea b

A acção da câmara foi legítima pois a actuação do partido X é um limite imanente aos direitos constitucionais.

Governo apresenta lei do orçamento de estado /presidente veta/ a lei é aprovada por 118 deputados e entra em vigor/ o TC considera a lei inconstitucional com força obrigatória geral / mesmo sendo inconstitucional os funcionários não receberam os subsídios

Exame

O Governo apresentou na Assembleia da República uma proposta de lei do

orçamento do Estado para 2012 que viria a ser aprovada com os votos

favoráveis de apenas 85 deputados.

O decreto foi entretanto vetado pelo Presidente da República com o

fundamento jurídico de que não teria sido respeitada a imposição da lei do

enquadramento orçamental, segundo a qual as receitas do orçamento da

segurança social devem ser pelo menos iguais às despesas previstas nesse

mesmo orçamento (nos termos do art. 105º, nº 1, alínea b), da Constituição,

o orçamento da segurança social integra o orçamento do Estado). Ora,

segundo o Presidente da República, aquele equilíbrio entre despesas e

receitas não teria sido respeitado, pelo que a lei do orçamento do Estado

estaria a contrariar a lei de enquadramento orçamental, configurando uma

inconstitucionalidade por violação do art. 106º, nº 1, da Constituição. Logo,

como dizia na fundamentação, estando obrigado a defender a Constituição,

não poderia promulgar o decreto que lhe foi enviado para ser promulgado

como lei, pelo que não lhe restava outra via que não fosse vetar.

Porém, tendo, a seguir, a lei do orçamento do Estado para 2012 sido

confirmada por 118 deputados, o Presidente da República promulgou-a e a

lei entrou em vigor.

Entre outras disposições controversas, essa lei previa o corte dos

subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos e dos pensionistas

nos anos de 2012 e anos seguintes. Já no decorrer do ano de 2012, o

Tribunal Constitucional veio a considerar esse corte inconstitucional e

declarou a respectiva inconstitucionalidade com força obrigatória geral por

violação do princípio da igualdade, mas determinou que os efeitos dessa

declaração de inconstitucionalidade não se aplicassem ao corte dos

subsídios referentes ao ano de 2012.

Assim, na prática, apesar de a norma orçamental que previa os cortes

ter sido considerada inconstitucional, os funcionários públicos e os

pensionistas não receberam os subsídios referentes ao ano de 2012.

Entretanto o pensionista A accionou judicialmente o Estado por não

lhe terem sido pagos os subsídios de férias e Natal de 2012 e o tribunal de

primeira instância, que decidiu a questão já depois do acórdão do Tribunal

Constitucional ter sido publicado, deu-lhe razão, obrigando o Estado ao

respectivo pagamento, uma vez que, no entender do juiz, a norma do

orçamento de 2012 que previa o corte dos subsídios era inconstitucional,

pelo que não a aplicava.

Resposta:

1. Competência (exclusiva) do Governo para apresentar a

proposta de lei do orçamento —167º, 1, 161º, g)

2. Competência (exclusiva) da Assembleia da República para

aprovar o orçamento do Estado, através de lei, e maioria suficiente

para aprovar a lei do orçamento desde que os votos a favor sejam

superiores aos votos contra — 166º, 3, 161º, g), 116º, 3

3. A lei de enquadramento orçamental é lei reforçada face à lei

do orçamento, pelo que há ilegalidade (inconstitucionalidade

indirecta) por a primeira não ter sido observada pela segunda —112º,

3, 106º, 1

4. As ilegalidades (inconstitucionalidades indirectas) não são

sindicáveis em fiscalização preventiva, pelo que as alternativas

disponíveis ao Presidente da República eram, de facto, a promulgação

ou a recusa de promulgação do decreto que lhe foi enviado para

promulgação —278º, 1, 136º, 1

5. O veto, não obstante a natureza jurídica dos fundamentos

invocados, é feito nos termos e com os efeitos do art. 136º, pelo que

a maioria de confirmação verificada obriga o Presidente da República

a promulgar —136º, 1 e 2

6. A decisão do Tribunal Constitucional ocorreu em fiscalização

sucessiva abstracta, terá seguido os trâmites do artigo 281º

7. A declaração de efeitos com força obrigatória geral processa-

se nos termos do art. 282º, mas com a ressalva de não aplicação aos

subsídios do ano de 2012 é atípica (foi, na realidade, inédita quando o

Tribunal Constitucional a adoptou no Ac. 353/2012), é

doutrinariamente controversa, mas estará coberta pelo disposto no

art. 282º, nº 4

8. A decisão do tribunal de primeira instância é uma decisão de

recusa de aplicação de norma em vigor com fundamento em

inconstitucionalidade —art. 204º

9. Desta decisão de não aplicação da norma do orçamento ao

caso concreto pode o Estado recorrer para o Tribunal Constitucional e

o Ministério Público é obrigado a recorrer —art. 280º, 1, a), e 3

10. O Tribunal Constitucional aprecia a questão em fiscalização

concreta e é de significativa complexidade (nunca ocorreu até agora

na prática) porque o Tribunal Constitucional também terá de julgar,

tal como anteriormente decidiu, que a norma em causa é

inconstitucional por violação do princípio da igualdade; ora, como em

fiscalização concreta a Constituição não o habilita a restringir os

efeitos desse julgamento, o Tribunal Constitucional confirmaria, em

princípio, a decisão do juiz de primeira instância. Porém, em

coerência com a sua anterior decisão em fiscalização abstracta, o

Tribunal Constitucional deveria obrigar o juiz da causa a reformar a

decisão de não aplicação, uma vez que o sentido prático da anterior

declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral

compreende a salvaguarda dos efeitos da norma do orçamento no

ano de 2012 e essa declaração vincula, nesses precisos termos, todas

as entidades públicas.

AUTORIZAÇAO LEGISLATIVA/ IMPOSSIBILIDADE DA AUTORIZAÇAO + QUE 1 VEZ/ PROIBIÇAO A ALTERAÇÕES Á 1ª AUTORIZAÇÃO / VETO PRESIDENCIAL /

Exame:

Tendo em conta as perturbações verificadas nos últimos exames no

secundário, o Governo pediu e obteve autorização para legislar sobre direito

à greve (art. 57º da Constituição). Na lei correspondente, a Assembleia da

República fixava o dia 30 de Setembro de 2013 como prazo limite de

utilização da autorização e permitia que o Governo legislasse sobre

exercício do direito à greve por parte dos funcionários públicos.

No uso dessa autorização, o Governo fez um primeiro decreto-lei, que

viria a ser publicado em Agosto de 2013, sobre regime geral de exercício do

direito à greve na função pública, contendo algumas restrições ao exercício

do direito à greve por parte de algumas categorias de funcionários públicos

(magistrados, médicos, professores) e, a 20 de Setembro de 2013, enviou

para ser promulgado pelo Presidente da República um segundo decreto-lei

incidindo especificamente sobre prestação de serviços mínimos

indispensáveis para a realização de provas de exame durante períodos de

greve. Neste segundo decreto-lei, o Governo aproveitou para alterar

algumas disposições constantes do primeiro decreto-lei sobre greve na

função pública, no que respeitava especificamente ao exercício de direito à

greve por médicos e professores nos estabelecimentos públicos hospitalares

e de ensino.

Todavia, esse segundo decreto viria a ser vetado pelo Presidente da

República a 15 de Novembro de 2013, com os seguintes argumentos:

a) o Presidente considerava constitucionalmente muito duvidosa a

possibilidade de o Governo alterar disposições constantes do primeiro

decreto já publicado;

b) de qualquer forma, no entender do Presidente, o decreto já não

poderia ser promulgado, uma vez que o prazo previsto na autorização tinha

o seu termo no dia 30 de Setembro.

Face ao veto presidencial, o Governo apresentou o mesmo diploma

como proposta de lei à Assembleia da República, mantendo todo o seu

conteúdo e acrescentando apenas algumas normas através das quais

restringia especialmente o direito à greve exercido por agentes das forças

de segurança.

A proposta de lei viria a ser aprovada na Assembleia da República,

sem qualquer alteração, com os votos favoráveis de 114 Deputados e

enviada ao Presidente da República para promulgação.

RESPOSTA:

a) necessidade e fundamento da autorização legislativa (art.

165º, 1, b); art. 57º) —

b) cumprimento dos requisitos de conteúdo de uma lei de

autorização legislativa (art. 165º, 2) —

c) a impossibilidade de utilização da autorização mais que uma

vez, mas possibilidades de utilização parcelada da autorização

legislativa (art. 165º, 3); a aplicação ao caso concreto da hipótese —

d) a impossibilidade de alteração de disposições do primeiro

decreto-lei por violação da proibição de utilização mais que uma vez

da mesma autorização legislativa —

e) o sentido dos limites temporais de utilização das

autorizações legislativas e a controvérsia sobre o momento

determinante para fixar a utilização da autorização legislativa —

f) o exercício do veto presidencial nos termos do art. 136º e a

fundamentação jurídica utilizada —

g) a irregularidade no exercício do poder de veto esgotado o

respectivo prazo (art. 136º, 4), pressupondo que não houve prévia

intervenção do Tribunal Constitucional) e as suas consequências —

h) a iniciativa legislativa do Governo para a aprovação da nova

lei e a maioria necessária para a sua aprovação por parte da

Assembleia da República

i) a eventual inexistência da maioria necessária para aprovar as

disposições sobre restrição do direito à greve por parte dos agentes

das forças de segurança (art. 168º, 6, e))

j) as possibilidade de decisão do Presidente da República

perante a nova lei que lhe é enviada para promulgação (art. 134º, b);

art. 136º, art. 278º) —

REVISÃO CONSTITUCIONAL VS TRANSIÇÃO

CONSTITUCIONAL

Comente criticamente a seguinte afirmação:

"A Constituição actualmente em vigor é uma Constituição

substancialmente nova e diversa quando comparada com a versão

originária vigente em 1976. A Constituição actual já não é a Constituição de

1976. Na prática, ocorreu uma transição constitucional."

- A afirmação remete para a questão das diferentes vicissitudes

constitucionais, designadamente a distinção entre revisão

constitucional e transição constitucional. Ou seja, sendo ambas

variedades de reforma da Constituição e, portanto, alterações que

ocorrem no respeito dos limites de revisão previstos numa

determinada Constituição, enquanto que a revisão altera apenas

aspectos parcelares com um alcance que não modifica a própria

identidade da Constituição, a transição constitucional é muito mais

profunda, dando verdadeiramente origem, ainda que no respeito e

observância dos limites de revisão, a uma nova Constituição material.

Assim, para além da demonstração de conhecimento destas

distinções, haveria a seguir que as aplicar à nossa Constituição, para

concluir, consoante a posição sustentada e a exemplificação

concreta, se estamos perante a mesma Constituição ou perante uma

nova Constituição.

Todavia, tendo em conta que relativamente às diferentes formas

políticas estudadas (tipo histórico de Estado, regime político, forma

de governo, forma de Estado, sistema de governo) se pode dizer que

não houve alteração significativa no nosso sistema constitucional

(mesmo a revisão de 1982, muito profunda do ponto de vista da

organização política, estava já prevista e programada no espírito do

legislador constituinte de 1976), a afirmação é muito discutível e

dificilmente sustentável.

Assembleia regional da Região autónoma da madeira/ AR/ A AR da região autónoma da Madeira não pode revogar um decreto da AR com um decreto legislativo regional

HIPÓTESE

Uma vez que se trata de matéria enunciada no respectivo estatuto

político-administrativo, a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos

Açores aprovou o regime jurídico de conservação dos recursos piscatórios

da Região. Porém, a Assembleia da República considerando que tal regime,

demasiado permissivo, punha em risco a sobrevivência de algumas

espécies e que, portanto, não era matéria de âmbito regional, revogou esse

diploma e aprovou um regime nacional de conservação dos recursos

piscatórios para vigorar em todo o território nacional .

Pode a Assembleia legislativa regional repor em vigor, na Região, o

anterior decreto legislativo regional? Fundamente com apoio na

Constituição.

RESPOSTA:

A hipótese suscita três questões que haveria que considerar com apoio na Constituição: a competência legislativa regional condicionada à enunciação da respectiva matéria no Estatuto (o que estava assegurado), o entendimento a dar ao segmento normativo "legislar no âmbito regional" (um entendimento exclusivamente territorial e objectivo, como resulta da intenção constituinte e do sentido literal do art. 112º, 4, e do art. 227º, 1, a), ou um

entendimento substancial e indefinido, como resulta de alguma jurisprudência constitucional) e a natureza e alcance da legislação regional no confronto com as leis da República (art. 228º, 2), no que se refere a possibilidade de revogação e a eventual reserva de competência regional.

No caso, a posição mais sustentável parece ser a que concluiria pela possibilidade de a Assembleia da República poder legislar para todo o território nacional, mesmo havendo já diploma regional, mas sem prejuízo de a Assembleia regional derrogar posteriormente essa legislação para a Região Autónoma através de decreto legislativo regional.

A AR por iniciativa da assembleia regional da R.A da Madeira aprovou sob forma de lei orgânica X, mediante o voto favorável na

especialidade, da maioria absoluta dos deputados, uma alteração à lei de bases da segurança social, aditando-lhe 2 bases gerais:

1ª: o valor do rendimento social de inserção a fixar por decreto lei é majorado no mínimo de 50 % para os cidadãos da madeira em

relação aos outros cidadãos

2ª: o M. Finanças revoga a atribuição do rendimento social de inserção a todos os cidadãos aos quais o mesmo rendimento seja atribuído e tenham sido ou venham a ser condenados em pena de

prisão por decisão judicial.

Que fundamentos poderiam ter sido invocados pelo PR para impugnar junto do TC a base 1ª da lei X?

-A Assembleia legislativa Regional da R. A da madeira apenas disporia de iniciativa da lei caso fosse um assunto respeitante à região autónoma (artigo 167 nº1 da CRP) , o que neste caso se verifica; logo a assembleia legislativa regional da R.A da Madeira dispunha de iniciativa.

- Esta era uma matéria da reserva relativa de competência da AR (artigo 165 nº1 da CRP alínea f); logo a AR tinha competência para legislar sobre esta matéria.

No entanto, esta lei não reveste a forma de lei orgânica já que não se encontra referida no nº2 do artigo 166 da CRP

Assim, a maioria exigida para esta votação era uma maioria simples, artigo 116 nº3 da CRP, tendo em conta a presença do quórum (artigo 116 nº2).

DISSOLUÇÃO DA AR MAS O GOVERNO MATEM-SE/ 1

CIDADÃO PODE REQUERER PARA O TC?

HIPÓTESE

No contexto da presente crise política, o Presidente da República

dissolveu, em 30 de Julho de 2013, a Assembleia da República e convocou

novas eleições, mas o Governo permaneceu na plenitude do exercício das

suas funções. Assim, e ao abrigo de autorização legislativa constante do

orçamento de Estado para 2013, foi publicado, em Agosto de 2013, um

decreto-lei que criava um novo imposto sobre bens de luxo. O cidadão A

recusou, todavia, o respectivo pagamento invocando, já no curso do

respectivo processo judicial entretanto aberto, a inconstitucionalidade

material daquele imposto que, no seu entender, violava o princípio da

igualdade. Nas diferentes instâncias de recurso nunca lhe foi dada razão, ou

seja, o cidadão A foi sempre judicialmente considerado obrigado a pagar o

imposto, pois, nas várias instâncias, os juízes consideraram sempre não

haver qualquer violação da igualdade.

Pode o cidadão A interpor recurso para o Tribunal Constitucional

invocando, agora, não já a inconstitucionalidade material, isto é, a violação

do princípio da igualdade, mas alegando, pela primeira vez em todo este

processo, que o Governo não dispunha de competência legislativa para criar

aquele imposto? E, em seu entender, esta nova alegação de

inconstitucionalidade orgânica tem fundamento?

RESPOSTA:

A hipótese requer a resposta a duas questões juridicamente relevantes: primeiro, a de saber, no caso de aplicação judicial de uma dada norma relativamente à qual se suscitou a inconstitucionalidade, se o particular, podendo recorrer para o Tribunal Constitucional quando tenha já suscitado a inconstitucionalidade da norma durante o processo, o pode fazer com base em vício de inconstitucionalidade qualitativamente diverso daquele que alegou durante o processo; em segundo lugar, se no caso havia ou não inconstitucionalidade orgânica.

Quanto à primeira, apesar da existência de alguma discussão doutrinária, a posição reiteradamente afirmada pela jurisprudência do Tribunal Constitucional vai no sentido de toda a lógica do nosso sistema de fiscalização da constitucionalidade apontar para a necessidade estrita de garantir que o particular só possa chegar ao Tribunal Constitucional, nestes casos de aplicação de norma, quando primeiramente deu ao tribunal a quo a possibilidade de apreciar e decidir a questão de constitucionalidade que pretende alegar no Tribunal Constitucional. No caso tal não foi feito. Se a questão ainda pode ser discutível quando os vícios de inconstitucionalidade apresentam natureza afim, na situação da hipótese as razões alegadas eram substancialmente distintas e não relacionáveis: inconstitucionalidade material alegada no tribunal comum e inconstitucionalidade orgânica alegada no recurso para o Tribunal Constitucional.

Quanto à segunda questão —havia ou não inconstitucionalidade orgânica— é seguro que, apesar de o Governo não ter sido demitido (uma vez que se encontrava na plenitude das funções), com a

dissolução da Assembleia da República a autorização legislativa caducaria —arts. 195º, art. 186, 5, e, sobretudo, art. 165º,4.

No entanto, para além de se suscitar a questão de saber, o que é controvertido, qual o momento que se considera juridicamente relevante para o exercício da autorização, neste caso, tratando-se de matéria fiscal, a autorização só caducaria no termo do ano económico (art. 165º, 5), pelo que, por esse facto, não havia também inconstitucionalidade orgânica.

PERGUNTAS TEORICAS

1) Até que ponto se pode falar no caracter juridicamente ilimitado do poder constituinte num processo de transição constitucional?

- Nas alterações constitucionais poderão ocorrer duas situações, uma revisão constitucional, isto é, uma alteração parcial da mesma, ou uma transição constitucional ligada à evolução do sistema politico.

Em situações de transição constitucional, principalmente quando esta ocorre devido a uma revolução, os limites estabelecidos constitucionalmente são ultrapassados, daí poder falar-se de um caracter quase ilimitado do poder constituinte, ou seja, se não existe constituição que defina os limites do poder constituinte, o poder constituinte, isto é, a vontade politica de elaboração ou alteração à constituição, pertencente à Assembleia da Republica limita-se apenas a respeitar os direitos fundamentais, isto é, os limites de 1º grau, intangíveis (que estão para além do poder constituinte e que não podem em caso algum ser desrespeitados)

2)

Responsabilidade política do Governo

A responsabilidade política do governo é uma característica como um dos elementos essenciais para se determinar o sistema de governo vigente num dado país. A responsabilidade política do Governo perante o Parlamento é típica dos sistemas parlamentares e é também uma característica dos sistemas semipresidenciais que herdam essa característica do modelo parlamentarista. Nesses casos, o Governo responde perante o Parlamento pelas suas actuações e opções políticas, podendo, no limite, ver as suas funções cessar (através de aprovação de moção de censura, rejeição de moção de confiança ou não aprovação do programa de governo) por discordâncias políticas da maioria parlamentar

Inconstitucionalidade superveniente

O objectivo é que os alunos identifiquem e interpretem o disposto no n.º2 do art. 282.ºda CRP. Devem referir que no caso de norma legal conforme com a Constituição vigente à data da sua aprovação, mas que se torna inconstitucional por virtude de revisão constitucional posterior, a decisão do TC no sentido da inconstitucionalidade terá efeitos retroactivos, mas apenas até à data da entrava em vigor da revisão constitucional. Assim sendo, não há lugar a repristinação da norma legal que haja sido revogada. Devem ainda referir que só há inconstitucionalidades supervenientes materiais e não formais e orgânicas.

3. Leis de bases fora da reserva parlamentar

Existem leis de bases previstas nos artigos 164.ºe 165.ºda CRP e, nesses casos, a competência para o respectivo desenvolvimento é exclusivo do Governo, de acordo com a alínea c) do art. 198.º, explicando a razão de ser deste entendimento. Essas são as leis de bases na reserva parlamentar. As leis de base fora da reserva inserem-se no domínio concorrencial de competência, podendo ser aprovadas e desenvolvidas indistintamente pelo Governo (alínea a) do art. 198.º) ou pelo Parlamento (alínea c) do art. 161.º). Estas "leis de bases" não são, assim, leis de valor reforçado, não sendo abrangidas pelo disposto no art. 112.ºda CRP.

Tema de desenvolvimento (4,5v)

É fundamental que identifiquem o art. 112.ºda CRP, explicitando que hoje em dia existem leis reforçadas pelo procedimento (modo de aprovação especial devido à necessidade de maioria qualificada ou necessidade de aprovação das normas na especialidade em plenário, por exemplo) e leis reforçadas paramétricas (o conteúdo dessas leis vincula o conteúdo de outras leis subsequentes, como é o caso das leis de bases face aos DL de desenvolvimento ou as leis de autorização legislativa face aos DL autorizados).

Acontece que esta divisão conceptual em dois tipos de leis de valor reforçado não surge de modo muito claro da leitura do n.º2 e 3 do art. 112.ºque, com as diversas revisões constitucionais acabou por se tornar numa norma casuística dando exemplos de leis reforçadas em vez de dar critérios que permitam ao intérprete encontrar os exemplos.

Assim, fala-se das leis orgânicas (que são aprovadas por maioria absoluta) e das leis aprovadas por 2/3, mas esquece-se que há outras leis aprovadas por maioria absoluta e que não são leis orgânicas.

Por outro lado, o que leva as leis orgânicas e as leis aprovadas por 2/3 a serem consideradas leis reforçadas é o facto de terem um procedimento de aprovação especial, pelo que, a usar-se esse critério, também se terão de considerar reforçadas a lei do orçamento (que tem a iniciativa reservada ao Governo) ou as leis que carecem de um parecer prévio, porque também estas têm um procedimento de aprovação especial. Por outro lado, os dois exemplos do n.º2 do art. 112.ºsubsumem-se na categoria "leis que são um pressuposto normativo necessário de outras leis" sem que isso fique claro da leitura da CRP

INICIATIVA LEGISLATIVA

A iniciativa legislativa cabe aos Deputados ou aos Grupos Parlamentares - neste caso chamam-se projetos de lei e também ao Governo ou às Assembleias Legislativas Regionais - neste caso chamam-se propostas de lei.

Também grupos de cidadãos eleitores podem exercer o direito de iniciativa legislativa junto da Assembleia da República, bem como participar no procedimento legislativo a que derem origem, nos termos do artigo 167.º da Constituição.

Depois de ser admitida pelo Presidente da Assembleia, a iniciativa é objeto de um parecer da Comissão especializada a quem foi distribuída, seguindo-se o seu debate na generalidade, sempre feito em reunião Plenária, que termina com a votação na generalidade (sobre as linhas gerais da iniciativa).

Segue-se um debate e votação na especialidade (artigo por artigo), que pode ser feito em Plenário ou em Comissão.

Há matérias cujo debate e votação na especialidade é obrigatório em Plenário. São, por exemplo, as que se referem às eleições para os titulares dos órgãos de soberania, ao referendo, aos partidos políticos, à criação ou modificação territorial das autarquias locais.

O texto final é submetido a uma votação final global sempre feita em Plenário.

A iniciativa aprovada chama-se Decreto da Assembleia da República.

O Decreto, assinado pelo Presidente da Assembleia da República, é enviado ao Presidente da República para promulgação. Após a promulgação o decreto assume a designação de Lei, é enviado ao Governo para referenda (assinatura do Primeiro Ministro) e depois remetido à Imprensa Nacional para publicação na 1ª série do Diário da República.

O Presidente da República pode exercer o seu direito de veto, ou por considerar que o diploma aprovado pela Assembleia da República contem normas que contrariam a Constituição ( requerendo então o parecer do Tribunal Constitucional) , ou por razões políticas que deverão constar de mensagem fundamentada.

No caso de haver normas consideradas inconstitucionais, a Assembleia pode aprovar alterações ao diploma, enviando-o, de novo, para promulgação. No entanto, qualquer que seja a razão do veto, a Assembleia pode sempre confirmar o texto do diploma anteriormente aprovado por maioria absoluta dos Deputados em funções (ou maioria de 2/3 para certas matérias). Se assim for, o Presidente da República tem, obrigatoriamente, de promulgar o diploma, no prazo de 8 dias

Definições

Debate na Especialidade

Debate das iniciativas legislativas depois da sua aprovação na generalidade.É feito, habitualmente, na comissão competente em razão da matéria, artigo a artigo, a que se segue a respectiva votação.A requerimento de pelo menos 10 deputados, pode o plenário deliberar chamar a si a votação na especialidade.Há matérias que são obrigatoriamente discutidas na especialidade em Plenário.

Debate na Generalidade

Discussão sobre os princípios e o sistema de cada projecto ou proposta de lei.Compreende a apresentação da iniciativa pelo seu autor e a apresentação das conclusões do relatório pelo respectivo relator e intervenções de cada grupo parlamentar.É seguida da respectiva votação.

Quorum de Funcionamento

A Assembleia da República só pode funcionar em reunião plenária com a presença de, pelo menos, um quinto do número de deputados em efectividade de funções.As comissões só podem funcionar com a presença de, pelo menos, um terço dos seus membros.

Quorum Deliberativo

As deliberações do Plenário e das Comissões são tomadas com a presença de mais de metade dos seus membros em efectividade de funções (isto é, o mínimo de 116 Deputados no caso do Plenário).

Referenda

Assinatura ministerial posterior a actos do Presidente da República, designadamente a promulgação de Decretos da Assembleia da República, que deve anteceder a respectiva publicação, como Lei, no Diário da República.A falta de referenda implica a inexistência jurídica do acto legislativo.

Referendo

Instrumento de democracia directa através do qual os cidadãos eleitores são chamados a pronunciar-se por sufrágio directo e secreto, a título vinculativo, sobre determinados assuntos de relevante interesse nacional, mediante proposta da Assembleia da República, ou do Governo, ao Presidente da República que decide da sua realização.

Competências da AR

A Assembleia da República tem uma competência legislativa e política geral. A Constituição prevê que certas matérias constituam reserva absoluta de competência legislativa, isto é, a Assembleia não pode, sobre elas, autorizar o Governo a legislar . Entre estas inclui-se, por exemplo, a aprovação das alterações à Constituição, os estatutos político-administrativos das regiões autónomas (Açores e Madeira), as leis das grandes opções dos planos e do Orçamento do Estado, os tratados de participação de Portugal em organizações internacionais, o regime de eleição dos titulares dos órgãos de soberania (Presidente da República e Assembleia da República) bem como dos Deputados às Assembleias Legislativas Regionais dos Açores e da Madeira e dos titulares dos órgãos do poder local e o regime do referendo. Sobre outras matérias da sua exclusiva competência a Assembleia pode conceder ao Governo autorização para legislar – é o que se designa por reserva relativa – onde se incluem as bases do sistema de segurança social e do serviço nacional de saúde, a criação de impostos e sistema fiscal, a organização e competência dos Tribunais, entre outras.

A competência de fiscalização da Assembleia relativamente à acção do Governo e aos actos da administração pode exercer-se através de diversos instrumentos:   - aprovação de moções de confiança ou de censura;   - requerimentos de apreciação da legislação produzida     pelo Governo que a Assembleia pode alterar ou revogar;   - reuniões quinzenais de perguntas ao Governo;   - interpelações ao Governo sobre assuntos de política geral     ou sectorial;   - apresentação de requerimentos (perguntas escritas)     sobre quaisquer actos do Governo ou da Administração;   - constituição de comissões parlamentares de inquérito     que gozam dos poderes de investigação próprios das     autoridades judiciais.

Competência Assembleia Regional da Madeira:

Tem competência legislativa em matérias de interesse específico para a região que não estejam reservadas à competência própria dos órgãos de soberania. Pode apresentar propostas de lei à Assembleia da República. A iniciativa legislativa em matéria de estatutos político-administrativos das Regiões Autónomas compete, exclusivamente, às respectivas Assembleias Legislativas Regionais, podendo os Deputados e o Governo apresentar propostas de alteração no decurso do processo de discussão na Assembleia da República.

Deputados

Os Deputados representam todo o país e não os círculos por que são eleitos. Podem apresentar, individualmente ou com outros Deputados, projectos de revisão constitucional, projectos de lei, de resolução, de deliberação, de referendo e de requerer o respectivo agendamento. Têm o direito de participar nos debates, nos termos estabelecidos no Regimento. No âmbito da competência de fiscalização do Governo podem apresentar perguntas, por escrito ou oralmente, e requerer todas as informações que considerem úteis. Podem também subscrever requerimentos que visem a constituição de comissões parlamentares de inquérito e a apreciação parlamentar da legislação aprovada pelo Governo.A Constituição, o Regimento, o Estatuto dos Deputados, para além de outra legislação, determinam o regime de imunidades, incompatibilidades e o conjunto de direitos e deveres inerentes ao mandato de Deputado.

Maioria Absoluta

Número de votos favoráveis necessários para aprovação de certas iniciativas legislativas, nos termos determinados pelo Regimento para certas matérias, desde que superior a metade dos Deputados em efectividade de funções.

Maioria Qualificada

Número de votos favoráveis necessários para aprovação de certas iniciativas legislativas, nos termos determinados pelo Regimento para certas matérias, desde que superior a 2/3 ou a 4/5 dos Deputados em efectividade de funções.

Maioria Simples

Número de votos favoráveis, desde que superior aos votos contrários dos Deputados presentes, sendo esta a regra geral para a tomada das deliberações.

Revisão constitucional

A Constituição da República Portuguesa prevê, nos artigos 284º a 289º, os mecanismos em que assentam os processos da sua própria revisão.

A iniciativa de revisão constitucional compete, exclusivamente, aos Deputados (CRP, artº 285).

Não são admitidos projectos de revisão ou propostas de alteração que não definam precisamente as alterações projectadas; não são admitidos projectos que não definam concretamente o sentido das modificações a introduzir na Constituição art.120º nº1 do Regimento

A Assembleia da República pode rever a Constituição decorridos 5 anos sobre a data da publicação da última lei de revisão. (artigo 284 nº1)

A Assembleia pode, contudo, assumir em qualquer momento poderes de revisão extraordinária por maioria de quatro quintos dos Deputados em efectividade de funções. (artigo 284 nº2)

As alterações à Constituição têm de ser aprovadas por uma maioria de dois terços dos Deputados (153 deputados), não podendo o Presidente da República recusar a promulgação da lei de revisão. (artigo 286 nº1 e nº2)

Além disso, não é possível a fiscalização preventiva da constitucionalidade de leis de revisão constitucional (artigo 278.º, n.º 1, e artigo 286.º, n.º 3).

A Constituição impõe limites materiais à revisão, onde se incluem, entre outros, o respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, o pluralismo de expressão e organização política, o sufrágio universal directo, secreto e periódico. A revisão não pode ter lugar na vigência do estado de sítio ou do estado de emergência.

Revisão:

Ordinária – basta um deputado ter iniciativa para começar; 2/3 para a aprovação. Artigo 284 nº1

Extraordinária – 4/5 para início do processo; 2/3 para a aprovação. Artigo 284 nº2

A verificação dos requisitos de qualificação compete ao Presidente da   República através da promulgação que, sendo o conhecimento qualificado que o Presidente da   República tem e declara ter, em forma solene,   de certos actos jurídico – públicos, vem a funcionar então como uma qualificação, como a subsunção de cada acto em concreto no tipo constitucional respectivo.

Se o Presidente da República considerar que falta qualquer dos requisitos, deverá não promulgar, quando o acto provier de outro órgão que não do Parlamento ou quando provier do Parlamento à margem das regras de competência. E deverá não promulgar e devolver o decreto à Assembleia, nas demais hipóteses – nem se tratará aqui de conceder um verdadeiro poder de veto ao Presidente, mas tão-somente de lhe atribuir a responsabilidade de solicitar uma nova deliberação nos termos constitucionais.

Há quem defenda aqui a possibilidade ou necessidade de fiscalização preventiva. Por nós, apenas em caso de dúvida grave do Presidente a poderíamos admitir e, na hipótese de o Tribunal Constitucional se pronunciar positivamente, sem a sujeição a confirmação nos termos do art.279º/2.

Uma vez que as alterações à constituição valem uma a uma, também os efeitos da qualificação se lhes hão-de referir especificamente. Se de um decreto de revisão constarem disposições devidamente aprovadas como alterações e outras não, terão elas de ser expurgadas ou de ser submetidas a nova deliberação para suprimento das suas deficiências. Esta tarefa de integração do tipo constitucional do acto só pode caber ao órgão competente de revisão, à assembleia, não ao Presidente da República; o regime tem de ser análogo ao que oart.279º estabelece para a fiscalização preventiva da constitucionalidade. Naturalmente, depois por analogia com o que contempla o art.279º/3, nada impede o Presidente da República de exercer ainda o seu poder de verificação.

Uma orientação alternativa poderia consistir em o Presidente da República, desde logo, quando entendesse não estarem preenchidos os requisitos de qualificação do decreto-lei como lei de revisão, qualificá-lo como lei ordinária; e daí retirarem-se todos os corolários mormente quanto a fiscalização preventiva e a veto político.

Mas assim dir-se-ia longe de mais. O poder de qualificação inerente à promulgação envolve a recusada qualificação pretendida pela Assembleia da República (ou pelo Governo se fosse caso disso); não a de atribuir uma qualificação não querida pela Assembleia. Deveria ter-se por juridicamente inexistente uma lei promulgada como lei constitucional sem o responder a um decreto de revisão como tal aprovado pela Assembleia da República. Seria tão juridicamente inexistente quanto uma lei promulgada como lei (ordinária) sem ter sido aprovada, art.116º; ou quanto uma lei (de revisão ou ordinária) não promulgada, art.137º.

FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE

Há inconstitucionalidade quando um acto legislativo ou omissão de um dever de legislar, por parte do Estado ou um dos seus órgãos, não

está conforme os preceitos ou princípios plasmados de forma expressa ou implícita na Constituição da República Portuguesa (CRP).

A) Tipos/Formas

a) Na fiscalização Preventiva, as normas ainda não existem enquanto tais e a apreciação do TC intromete-se no processo de formação. Incide sobre normas constantes de diplomas imperfeitos, ou seja, aos quais falta um requisito de existência.

A função é impedir que o PR possa promulgar normas inconstitucionais, já que apenas este pode desencadear este tipo de fiscalização. A maioria necessária da AR, para confirmação dos decretos vetados por inconstitucionalidade, pelo PR, é de “dois terços dos deputados presentes desde que superior à maioria absoluta dos deputados em efectividade de funções”, não podendo esse decreto ser submetido a novo controlo preventivo da constitucionalidade.

Incide apenas sobre normas constantes de diplomas sujeitos a promulgação ou assinatura do PR e não impede necessariamente a consumação do diploma, quando se trate de diplomas da AR, (artigo 278º da CRP).

b) Sucessiva, tem por objecto normas já pertencentes à ordem jurídica e a sua função é eliminá-las.

A fiscalização abstracta sucessiva é diferente da fiscalização preventiva, já que incide sobre normas perfeitas, isto é, cujo processo de formação tenha sido concluído, o que pressupõe a respectiva publicação oficial.

a) Abstracta, consiste num confronto abstracto entre a norma infraconstitucional e a Constituição, (artigo 281º da CRP).

É independente da fiscalização concreta (isto é, é independente de qualquer caso concreto), mas existe a possibilidade de trânsito de controlo concreto para controlo abstracto, para se obter a generalização das decisões proferidas em controlo concreto. Só compete ao TC.

Tem efeitos gerais (força obrigatória geral), com a natural invalidação dessa norma e impossibilidade de ela continuar a ser aplicada por qualquer tribunal ou autoridade.

b) Concreta, incide sobre uma norma, tal como foi aplicada ou desaplicada na decisão recorrida, isto é, na sua incidência limitada ao caso concreto (o juízo de constitucionalidade tem efeitos apenas para o caso concreto). É efectuada, por impugnação das partes ou por iniciativa do juiz, mas há sempre a possibilidade de recurso para o Tribunal Constitucional.

Os tribunais limitam-se a “desaplicar” no caso em juízo as normas que tenham por inconstitucionais, sem que essa decisão tenha influência sobre a vigência abstracta da norma, continuando em vigor e podendo vir a ser aplicada noutro processo, se outro for o entendimento do tribunal competente. Qualquer tribunal pode realizar este controlo (daí ser um controlo difuso – por vários tribunais).

C) OS 4 TIPOS/FORMAS DE FISCALIZAÇÃO

1) Fiscalização Preventiva da Inconstitucionalidade Por Acção;

2) Fiscalização Sucessiva Concreta da Inconstitucionalidade Por Acção;

3) Fiscalização Sucessiva Abstracta da Inconstitucionalidade Por Acção;

4) Fiscalização da Inconstitucionalidade Por Omissão, (omissões legislativas), sendo que tem como efeito prático apenas a certificação da omissão. Pode ser requerida por (PR, Provedor de Justiça).

A Constituição, para além de um conjunto de normas proibitivas e de organização e competência, é também um conjunto de normas positivas, que exigem do Estado e dos seus órgãos uma actividade, uma acção, pelo que o incumprimento destas normas, por inércia do Estado, ou seja, por falta de medidas, ou pela sua insuficiência ou inadequação, resulta numa infracção à Constituição – inconstitucionalidade por omissão, (artigo 283º da CRP).

Existe inconstitucionalidade por omissão quando a Constituição não está a ser cumprida por falta de medidas legislativas que assegurem a exequibilidade das suas normas.

Existe obrigação de legislar, nomeadamente, quando a Constituição estabelece uma ordem concreta de legislar ouquando define uma imposição permanente e concreta dirigida ao legislador (exemplo: criação do ensino básico, obrigatório e gratuito; criação do serviço nacional de saúde).

Apenas o PR e o Provedor de Justiça podem requerer este tipo de verificação de inconstitucionalidade.

O TC deve dar conhecimento ao órgão legislativo competente da sua decisão acerca da existência de inconstitucionalidade por omissão, como forma de alertar o órgão competente para essaomissão e que tem o dever de lhe por cobro.

II) Tipos de InconstitucionalidadeA) Tipos

a)Formal, (vício de forma ou de procedimento; infracção das normas sobre a forma e o processo de formação dos actos), não se superam todos os trâmites previstos nas normas constitucionais.

b) Material, (contradição entre o conteúdo da norma – acto do poder politico, e o conteúdo normativo da Constituição; vício substancial do conteúdo do acto).

c) Orgânica, (incompetência; infracção das normas de competência), quando o órgão que emana o acto não dispõe de competência para o fazer.

a) Por acção, é a violação do disposto na Constituição ou dos princípios nela consignados, (artigo 277º da CRP).

b) Por Omissão, (artigo 283º da CRP).

Nem sempre a inconstitucionalidade afecta a totalidade da norma, podendo respeitar apenas a uma parte dela, pelo que existe inconstitucionalidade:

a)Total, toda a norma ou todo o diploma legal é inconstitucional;

b) Parcial, apenas parte da norma ou do diploma legal é inconstitucional.

a) Originária, a que surge no momento da formação da norma;

b) Superveniente, a que ocorre apenas posteriormente, por efeito de alteração da Constituição, sendo que neste caso, os efeitos da

declaração de inconstitucionalidade não são repristinatórios, mas apenas valem a partir do momento daquela alteração da Constituição.

B) RegimeNorma para efeitos de fiscalização:

a) requisito material, a norma deve equivaler a uma regraou padrão, reguladora de comportamentos e não a actos de aplicação dessa regra ou padrão;

b)requisito orgânico, a norma deve ser estabelecida por acto de um poder normativo, ou seja, deuma entidade pública ou dotada de poderes públicos, com competência para criar regras de conduta (por isso estão excluídas regras emitidas por entidades privadas).

Alguns actos sujeitos a fiscalização da constitucionalidade:

Leis de revisão constitucional, os actos legislativos em geral, os referendos locais, contractos e acordos colectivos de trabalho,compromissos arbitrais, estatutos e regulamentos das associações públicas, declaração de estado de sítio.

Direitos fundamentais:

Os direitos fundamentais são as posições jurídicas básicas reconhecidas pelo direito português, europeu e internacional com vista à defesa dos valores e interesses mais relevantes que assistem às pessoas singulares e colectivas em Portugal, independentemente da nacionalidade que tenham.

À luz da nossa Constituição, existem duas grandes categorias de direitos fundamentais: os direitos, liberdades e garantias,

por um lado, e os direitos e deveres económicos, sociais e culturais, por outro.

Princípio da igualdade:

O art.13º da CRP reconhece e garante a igualdade de todos os cidadãos como consequente recusa de privilégios e/ou discriminações, fundados “em razões de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social.”

Discriminação positiva: 55 nº6/ 59 nº2 alínea c/ 68 nº3/ 71 nº1

Princípio da proporcionalidade:

O princípio da proporcionalidade ou também designado princípio da proibição do excesso se pode afirmar como sendo um dos corolários em que se desdobra o princípio do Estado de Direito.

A dimensão material do princípio da proporcionalidade está estritamente ligada ao regime dos direitos, liberdades e garantias (artigo 18º, nº2, da Constituição)

O princípio da proporcionalidade pode ser encarado sob uma de três vertentes: necessidade ou exigibilidade, adequação e proporcionalidade em sentido estrito.

De acordo com a vertente necessidade, quaisquer limitações aos direitos, liberdades e garantias, para serem correctamente determinadas, devem apresentar-se como necessárias em razão dos fins a alcançar (fins que têm de coincidir com valores constitucionalmente consagrados, pois só esses permitem a limitação de direitos, de tal modo que não é possível alcançar tais fins por outros meios menos onerosos).

Já a vertente adequação expressa a ideia de que as referidas limitações aos direitos liberdades ou garantias devem revelar-se como formas ou meios adequados à prossecução dos fins ou valores constitucionalmente protegidos.

Finalmente, a vertente proporcionalidade em sentido estrito aponta para a proporcionalidade entre meios e fins, por outras palavras, as medidas da restrição a direitos, liberdades e garantias não podem ser excessivas, antes proporcionais aos fins a atingir.Tenha-se, porém, presente que, por sobre ou para além do princípio da proporcionalidade, e em virtude do disposto na Constituição (artigo 18º, nº3), nenhuma restrição a um direito, liberdade ou garantia pode afectar o respectivo núcleo essencial.

REFERENDO

a)• Os Deputados podem apresentar propostas de referendo e a Assembleia da República pode propor a realização de referendos, mas estes devem ser convocados pelo Presidente da República (artigo 115.º, n.º 1, artigo 134.º, alínea c), artigo 156.º, al b), artigo 161.º, alínea j), artigo 167.º, n.º 1);

•Um referendo deve recair sobre uma só matéria e as questões devem ser formuladas com objectividade, clareza e precisão (artigo 115.º, n.º 6);

•As questões referendárias não podem incidir sobre matéria abrangida pelo artigo 164.º, onde se encontra a aquisição, perda e reaquisição da cidadania portuguesa (artigo 115.º, n.º 4, al. d), artigo 164.º, al. f));

•O Presidente deve submeter a fiscalização preventiva obrigatória da constitucionalidade e da legalidade as propostas de referendo que lhe tenham sido remetidas pela Assembleia da República (artigo 115.º, n.º 8);

•O Procurador-Geral da República tem legitimidade activa para solicitar a fiscalização sucessiva da norma referendária (artigo 281.º, n.º 2, al. e)). O Prof. Carlos Blanco de Morais considera que é possível a fiscalização sucessiva da norma referendária – mas para isso é preciso tratar-se de uma norma (que o referendo seja vinculativo, artigo 115.º, n.º 11)

PR:

Com efeito, uma vez recebido um diploma para promulgação, o Presidente da República pode, em vez de o promulgar, fazer outras duas coisas: se tiver dúvidas quanto à sua constitucionalidade, pode, no prazo de 8 dias, suscitar ao Tribunal Constitucional (que terá, em regra, 25 dias para decidir) a fiscalização preventiva da constitucionalidade de alguma ou algumas das suas normas (exceto no caso dos Decretos Regulamentares) - sendo certo que, se o Tribunal Constitucional vier a concluir no sentido da verificação da

inconstitucionalidade, o Presidente estará impedido de promulgar o diploma e terá de o devolver ao órgão que o aprovou.

Ou pode - no prazo de 20 dias, no caso de diplomas da Assembleia da República, ou de 40 dias, no caso de diplomas do Governo, a contar, em ambos os casos, ou da recepção do diploma na Presidência da República, ou da publicação de decisão do Tribunal Constitucional que eventualmente se tenha pronunciado, em fiscalização preventiva, pela não inconstitucionalidade - vetar politicamente o diploma, isto é, devolvê-lo, sem o promulgar, ao órgão que o aprovou, manifestando, assim, através de mensagem fundamentada, uma oposição política ao conteúdo ou oportunidade desse diploma (o veto político também pode assim ser exercido depois de o Tribunal Constitucional ter concluído, em fiscalização preventiva, não haver inconstitucionalidade).

O veto político é absoluto, no caso de diplomas do Governo, mas é meramente relativo, no caso de diplomas da Assembleia da República. Isto é: enquanto o Governo é obrigado a acatar o veto político, tendo, assim, de abandonar o diploma ou de lhe introduzir alterações no sentido proposto pelo Presidente da República, a Assembleia da República pode ultrapassar o veto político - ficando o Presidente da República obrigado a promulgar, no prazo de 8 dias se reaprovar o diploma, sem alterações, com uma maioria reforçada: a maioria absoluta dos Deputados, em regra, ou, a maioria da 2/3 dos deputados, no caso dos diplomas mais importantes (leis orgânicas, outras leis eleitorais, diplomas que digam respeito às relações externas, e outros).

Ou seja, nos diplomas estruturantes do sistema político (as leis orgânicas, que têm como objecto as matérias referidas no artigo 164 da CRP) um eventual veto político do Presidente da República força necessariamente a existência de um consenso entre as principais forças políticas representadas na Assembleia da República.

6. Existem poderes de veto do Executivo que recaiam sobre actuações do Legislativo? Existe jurisprudência constitucional respeitante a esses poderes? Em caso afirmativo, aluda à solução constitucional dada.

O artigo 136.º da CRP consagra o direito de veto político do Presidente da República (PR). O veto político do PR, que é facultativo, pode incidir sobre leis da AR ou decretos-leis (e, de igual forma, sobre decretos regulamentares) do Governo.

No caso de veto político de leis, esse veto tem efeito suspensivo, podendo o mesmo ser ultrapassado pela AR mediante confirmação (uma segunda aprovação do diploma) por maioria absoluta dos

Deputados em efectividade de funções (art. 136.º, n.º 2, da CRP). Tratando-se de uma lei orgânica, a maioria requerida para a confirmação é mais exigente – maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções” (art. 136.º, n.º 3, da CRP).

Recaindo o veto político do PR sobre decretos-leis do Governo, não está prevista a possibilidade da sua superação, cabendo apenas ao PR comunicar “por escrito ao Governo o sentido do veto” (art. 136.º, n.º 4, da CRP).

Para além do veto político, o PR dispõe igualmente do veto por inconstitucionalidade no âmbito da fiscalização abstracta preventiva (art. 279.º, n.º 1, da CRP). Assim, tendo sido enviado para o TC, para efeitos de uma apreciação prévia de constitucionalidade, um decreto para ser promulgado como lei ou um decreto para ser promulgado como decreto-lei, e tendo-se aquele Tribunal pronunciado pela sua inconstitucionalidade, deverá o PR vetar o diploma. Como se pode constatar, o veto por inconstitucionalidade, contrariamente ao veto político, é obrigatório. À semelhança deste último, ele pode ser superado, desta feita quer se trate de uma lei quer se trate de um decreto-lei.

No caso das leis, a superação poderá ser efectuada através de confirmação (por maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções), por expurgação ou mediante reformulação do diploma (art. 279.º, n.º 2, da CRP). No caso dos decretos-leis, a superação somente poderá ser efectuada pela via da expurgação e da reformulação (art. 279.º, n.º 2, da CRP).

1-Descreva brevemente o sistema de relações (controlo parlamentar, responsabilidade política, orientação política, intervenção conjunta em matéria legislativa, etc.) entre os poderes legislativo e executivo desenhado na Constituição.

O sistema de governo português assenta sobre uma separação flexível de poderes, havendo um relacionamento bastante razoável entre os poderes legislativo e executivo. Este relacionamento, tal como desenhado no texto constitucional, assume diversas feições. Desde logo, é de salientar a responsabilidade política do Governo perante a Assembleia da República (arts 190.º e 191.º, n.º 1, da CRP). Além disso, AR e Governo partilham a tarefa de orientação política do país (arts. 161.º e 197.º da CRP).

Em matéria legislativa, a AR é competente para legislar nas matérias mais importantes (arts 164.º e 165.º da CRP). Quanto ao Governo, ele possui uma competência legislativa não negligenciável (art. 198.º da CRP). A sua competência legislativa exclusiva é 3 diminuta (“a matéria respeitante à sua própria organização e funcionamento” – 198.º, n.º 2, da CRP), mas ele pode legislar em pé de igualdade com a AR nas matérias de competência concorrente (art. 198.º, n.º 1, al. a), da CRP); tem poder de iniciativa relativamente às leis da AR, podendo apresentar propostas de lei (art. 167.º, n.º 1, da CRP)); pode legislar em matérias da reserva relativa da AR mediante autorização prévia desta (arts 165.º e 198.º, n.º 1, al. b), da CRP); pode desenvolver as leis de bases da AR (art. 198.º, n.º 1, al. c), da CRP).

De salientar que, para contrabalançar este poder legislativo do Governo (que, como se viu, legisla normalmente e não apenas em casos excepcionais), o legislador constituinte estabeleceu, no artigo 169.º da CRP, o controlo parlamentar dos decretos-leis do Governo, com excepção dos emanados no uso da sua competência legislativa exclusiva

2. Quais são os principais mecanismos de controlo do poder legislativo sobre o poder executivo? Quais desses mecanismos implicam o apuramento de uma responsabilidade política? Descreva brevemente cada um deles referindo as disposições normativas (constitucionais ou legislativas) que os disciplinam.

Os principais modos de controlo do poder legislativo sobre o poder executivo são basicamente três. São eles os seguintes.

2.1. Responsabilidade política do Governo perante o parlamento (AR) A AR pode controlar a actuação política do Governo, sendo este obrigado a prestar-lhe contas da mesma. A AR dispõe de vários instrumentos para apurar a responsabilidade política do Governo, os quais serão aflorados seguidamente.

2.1.1. Moção de censura (art. 194.º da CRP) Mediante iniciativa de 1/4 dos Deputados em efectividade de funções ou de qualquer grupo parlamentar pode a AR

“votar moções de censura ao Governo sobre a execução do seu programa ou assunto relevante de interesse nacional”.

2.1.2. Moção de confiança (art. 193.º da CRP) Mediante solicitação do próprio Governo, a AR pode aprovar ou rejeitar moções de confiança “sobre uma declaração de política geral ou sobre qualquer assunto relevante de interesse nacional”. 2.1.3. Comissões parlamentares de inquérito (arts 156.º, al. f), e 178.º, n.os 1, 4 e 5, da CRP) As comissões de inquérito são comissões eventuais e, para além da “sua constituição nos termos gerais, (…) são obrigatoriamente constituídas sempre que tal seja requerido por um quinto dos Deputados em efectividade de funções”.

2.1.4. Interpelações ao Governo (art. 180.º, n.º 2, al. d), da CRP) As interpelações ao Governo dão a origem a um debate parlamentar em que poderão ser discutidas questões genéricas relacionadas com a governação.

2.1.5. Perguntas escritas e orais (art. 156.º, d), da CRP) As perguntas escritas e orais, por via de regra, visam especificamente uma determinada questão, e tendem a ser mais restritas, envolvendo um deputado que pretende obter determinados esclarecimentos de um membro do Governo.

2.1.6. Apreciação do programa do Governo (art. 192.º da CRP) Estabelece o artigo 192.º da CRP que “o programa do Governo é submetido à apreciação da Assembleia da República, através de uma declaração do Primeiro Ministro, no prazo máximo de dez dias após a sua nomeação” (art. 192.º, n.º 1). Deverá, então, realizar-se um debate, “que não pode exceder três dias e até ao seu encerramento pode qualquer grupo parlamentar propor a rejeição do programa ou o Governo solicitar a aprovação de um voto de confiança” (art. 192.º, n.º 3). A rejeição do programa do Governo carece de um consenso relativamente alargado, devendo ser aprovada por maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções (art. 192.º, n.º 4). Para alguns sectores da doutrina, a apreciação do programa do Governo consubstancia uma forma de responsabilidade política antecipatória ou prospectiva. Esta posição não é comungada por todos aqueles autores que entendem ter a responsabilidade política um carácter retrospectivo, recaindo sobre actos e condutas passados do Governo e dos seus membros.

2.2. Controlo parlamentar dos decretos-leis (arts 162.º, al. c) e 169.º, da CRP) Podem ser submetidos ao controlo parlamentar todos os decretos-leis do

Governo, com excepção daqueles emitidos no exercício da sua competência legislativa exclusiva (que é verdadeiramente diminuta, limitando-se à matéria “respeitante à sua própria organização e funcionamento” – art. 198.º, n.º 2, da CRP). O objectivo deste controlo, cuja iniciativa pertence aos Deputados (“a requerimento de dez Deputados” – art. 169.º, n.º1, da CRP), pode ser um de dois: 1) o de provocar a cessação de vigência do decreto-lei; 2) o de promover alterações ao decreto-lei. Como se pode observar, o controlo ocorre quando o decreto-lei já entrou em vigor, podendo o respectivo requerimento ser apresentado “nos trinta dias subsequentes à publicação, descontados os períodos de suspensão de funcionamento da Assembleia da República” – art. 169.º, n.º 1, in fine). Se tiverem sido apresentadas propostas de alteração, aquelas que sejam aprovadas serão reunidas e plasmadas em lei da AR. No caso de ter sido proposta a cessação de vigência do decreto-lei, e sendo esta aprovada, “o diploma deixará de vigorar desde o dia em que a resolução for publicada no Diário da República” – efeitos ex nunc (art. 169.º, n.º 4). De salientar que “os processos de apreciação parlamentar de decretos-leis gozam de prioridade, nos termos do Regimento” (art. 169.º, n.º 6). Após esta breve explicação acerca do controlo parlamentar dos decretos-leis, cabe dizer que a avaliação parlamentar que recai sobre eles há-de ser de natureza política1 . Efectivamente, se estivessem em causa dúvidas sobre a sua constitucionalidade, os deputados teriam outro meio à sua disposição, qual seja, o de requerer ao Tribunal Constitucional (TC) a fiscalização abstracta sucessiva do decreto lei alegadamente portador de vícios de inconstitucionalidade. A utilização deste mecanismo de controlo cumpre um objectivo muito específico, dispensando, à partida, por desnecessidade, o recurso àqueles instrumentos de apuramento de responsabilidade política acima enunciados (v.g., moção de censura, comissões de inquérito, interpelações). Ainda assim, naquelas situações em que a AR aprove a cessação de vigência de um decreto-lei ou lhe introduza alterações, poder-se-á sustentar que foi apurada uma responsabilidade política, na medida em que foi questionada, corrigida ou mesmo desautorizada uma certa orientação política do Governo. De facto, o poder político do Governo foi afectado, ainda que ele não tenha sido sancionado com a demissão (remoção com consequente perda de poder), para alguma doutrina a única sanção possível em termos de responsabilidade política.

2.3. Controlo orçamental É da competência da AR aprovar o Orçamento do Estado, sob proposta do Governo (art. 161.º, al. g), da CRP), o qual ficará plasmado numa lei, a lei anual do Orçamento de Estado. O artigo 107.º da CRP determina que “a execução do Orçamento será fiscalizada pelo Tribunal de Contas e pela Assembleia da República, que, precedendo parecer daquele tribunal, apreciará e aprovará a Conta Geral do Estado, incluindo a da segurança social”. Mais adiante, o artigo 162.º, al. d), em certa medida sobrepondo-se ao já mencionado artigo 107.º, refere que compete à AR “tomar as contas do Estado e das demais entidades públicas que a lei determinar,

as quais serão apresentadas até 31 de Dezembro do ano subsequente, com o parecer do Tribunal de Contas e os demais elementos necessários à sua apreciação”. Está aqui em causa uma fiscalização “externa” e “final” relativa à execução do Orçamento de Estado, efectuada “após o termo da execução orçamental, aquando da apreciação da conta geral do Estado correspondente ao exercício orçamental em causa

Mas o controlo parlamentar sobre o Orçamento não tem necessariamente que se circunscrever a esta competência. Efectivamente, de harmonia com a al. a) do artigo 162.º da CRP, foi confiada à AR a tarefa de “vigiar pelo cumprimento da Constituição e das leis e apreciar os actos do Governo e da Administração”. No âmbito desta sua competência genérica de fiscalização do cumprimento das leis por parte do Governo encontra-se, certamente, a de controlar a execução da lei anual do Orçamento (execução a cargo ou sob supervisão do Governo) , tanto mais que esta depende de concretização mediante actos regulamentares ou de outra natureza de competência governamental. Daqui pode concluir-se que não está instituído um mecanismo específico de prestação de contas relativamente a questões orçamentais, mas não ficam excluídas, em abstracto, formas de responsabilização política do Governo, ainda que bastante fluidas – uma vez que consubstanciadas em meros questionamentos ao Governo, e não propriamente na aplicação de uma sanção específica de remoção do poder directamente conectada com um determinado comportamento.

Pense-se, por exemplo na não aprovação parlamentar do Orçamento; ou, já na fase da sua execução, na aprovação de uma moção de censura fundada no entendimento de que o Governo não está a cumprir de forma correcta e rigorosa a sua tarefa de executar e de fazer executar o orçamento, desta maneira comprometendo a viabilidade económica e financeira do país; ou então, em interpelações ao Governo ou em perguntas escritas ou orais através das quais se pretende obter do Governo ou de um ministro esclarecimentos sobre a execução orçamental. Isso mesmo foi já, em parte, reconhecido pelo Tribunal Constitucional. No seu Acórdão n.º 317/86 pode ler-se o seguinte: “É certo que, de harmonia com o nº 3 do artigo 108º [actualmente artigo 107.º] da Constituição, a execução do Orçamento será fiscalizada pelo Tribunal de Contas e pela Assembleia da República, ao aprovar a Conta Geral do Estado. Todavia, nada na Constituição proíbe que a Assembleia da República, no âmbito da competência genérica que lhe é atribuída pelo artigo 165º, alínea a), da Constituição [actualmente artigo 161.º, al. a)], possa acompanhar o desenvolvimento orçamental, solicitando as informações genéricas para tanto necessárias. Acresce que os deputados podem solicitar os elementos que entendam necessários, tendo o Governo o dever de os fornecer [artigo 159º, alínea d)], o mesmo acontecendo em relação aos grupos parlamentares [artigo 183º, nº 2, alínea i)]”

3. Quais são os mecanismos de controlo do poder executivo em relação ao poder legislativo

Não foram consagrados na CRP quaisquer mecanismos de controlo do Governo em relação ao poder legislativo/AR. Os mecanismos de controlo previstos foram confiados ao PR. Assim, pode este último vetar as leis da AR (veto político – art. 136.º da CRP) e pode dissolver a mesma (art. 133.º, al. e), da CRP).

4. Quais são os mecanismos de resolução de conflitos entre ambos os poderes? Existem mecanismos jurisdicionais para além dos mecanismos políticos?

Não estão previstos no texto da CRP ou em outras fontes normativas, de forma específica e expressa, quaisquer mecanismos políticos ou

jurisdicionais de resolução de conflitos entre os poderes legislativo e executivo. Designadamente, não foi confiada ao Tribunal Constitucional nenhuma competência neste domínio, do género da figura italiana do “conflito de atribuições”6 . Dito isto, cabe informar que, em termos políticos, nada impede que o PR, enquanto garante do regular funcionamento das instituições democráticas, promova qualquer tentativa de conciliação entre AR e Governo, em caso de conflito ou confronto entre ambos. Do ponto de vista jurisdicional, uma eventual invasão de competências legislativas da AR por parte do Governo (ou vice-versa), ou qualquer problema jurídico que possa surgir da actuação destes dois órgãos no âmbito da competência legislativa concorrente, susceptíveis de causar algum conflito ou confronto entre ambos, poderá ser resolvido, ainda que de forma indirecta, através do controlo da constitucionalidade das leis e decretos-leis. A ter em consideração a circunstância de que, no que respeita ao controlo dos actos dos poderes legislativo e executivo em sede de jurisdição constitucional, o controlo da constitucionalidade em Portugal tem como objecto unicamente actos de natureza normativa (com a excepção das propostas de referendo).

L eis constitucionais

Leis de revisão constitucional (arts. 119.°/1/a, 161.°, 166.°/1/a, 284.° a 288.°

- As leis constitucionais identificam-se com as leis de revisão e a reserva de lei constitucional pertence ao poder constituinte ou ao poder de revisão que encontra fundamento naquele.

Leis orgânicas (reforçadas)

Leis que regulam matérias reservadas (art. 164.°), e as leis de criação das regiões administrativas (arts. 112.°/2, 166.°/2).

Leis que regulam alguma matérias reservadas no art.°164 e as leis de criação das regiões administrativas

São leis ordinárias da Assembleia da República, com a natureza de leis reforçadas, estando vinculadas ao princípio da tipicidade (só são leis orgânicas aquelas que a Constituição considera como tal) da competência, da reserva absoluta e reserva de plenário, pois exigem uma maioria qualificada. (2/3 dos deputados presentes)

Leis estatutárias (reforçadas)

As leis que aprovam e incorporam os estatutos das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira (arts. 161.° e 226.°).

Leis de autorização (reforçadas)

Leis que autorizam o governo a legislar sobre matérias da competência de reserva relativa da A.R., definindo o objecto, o sentido e a extensão da autorização (arts. 112.°/2, 165.°/1/2/3 e ss).

Leis de bases (reforçadas)

Leis que estabelecem as bases gerais dos regimes jurídicos arts. 112.°/2, 164.°/i, 165.°/f/g/t,u,z).

Leis que estabelecem as bases gerais dos regimes jurídicos

Vinculadas ao princípio de reserva da Assembleia da República, têm primariedade material sobre os decretos-lei de desenvolvimento e decretos legislativos regionais de desenvolvimento; são uma directiva material e um limite de competência em matérias reservadas.

Leis de enquadramento (reforçadas)- 153

Leis que disciplinam ou contêm as regras e princípios estruturantes de determinados sectores jurídicos (ex: lei de enquadramento do orçamento, art. 106.°/1; outro ex: lei-quadro da reprivatização de bens nacionalizados, art.° 296.°/1)

Leis reforçadas

As leis que carecem da aprovação da maioria de dois terços dos deputados em funções (maioria qualificada) bem como aquelas que por força da Constituição, sejam o pressuposto normativo necessário de outras leis, ou que por outras devam ser respeitadas. (arts. 112.°/3, 121.°/2, 148.°, 149.°, 164.°/o, 168.°/6, 239.°/3). Lei anual do orçamento, art. 106.°, lei da criação das regiões administrativas, art. 255.°.

Leis de reserva absoluta

Leis que a A.R. edita em matéria de reserva absoluta de competência (art. 164.°).

Leis de reserva relativa

Leis editadas em matérias de reserva relativa (art. 165.°)

Leis de conversão ou transposição

Leis de transposição das directivas comunitárias, para a ordem jurídica interna. (art. 112.°/9)

Leis da A.R.

Categoria genérica para todas as leis da Assembleia da República.

Decretos-leis primários

Os actos legislativos do governo editados em matérias não reservadas à AR

(arts.112.°/1/2, 198.°/1/a)

Decretos-leis autorizados

Os actos legislativos do governo, incidentes sobre matérias de reserva relativa da AR, mediante autorização desta. (arts.112.°/2 e 198.°/1/b)

Decretos-leis de desenvolvimento

Actos legislativos do governo, de desenvolvimento dos princípios ou das bases gerais que a eles se circunscrevem. (arts.112.°/2 e 198.°/c)

Decretos-leis reservados

Os actos legislativos de exclusiva competência do governo e respeitantes à sua organização e funcionamento. (art. 198.° /2)

Decretos-leis de transposição

Decretos-leis de transposição das directivas para a ordem jurídica-interna (art. 112.°/9)

Decretos legislativos regionais de concretização de princípios

Os actos legislativos das assembleias regionais dos Açores e da Madeira, concretizadores de princípios fundamentais de leis gerais da República. (art. 227.° /1/a)

Decretos legislativos regionais de desenvolvimento

Os actos legislativos das assembleias regionais, de desenvolvimento de leis de base da AR (art. 227.°/1/b).

Decretos legislativos regionais autorizados

Os actos legislativos das assembleias regionais sob autorização da Assembleia da República (art.227.°/1/c)

As regiões autónomas têm um vastíssimo conjunto de poderes – 227º:

Poderes próprios: exercem-nos autonomamente. Destacam-se o poder legislativo, administrativo (regulamentar e executivo em sentido estrito), poderes financeiros, poder de aprovar o seu próprio orçamento e afectar as suas receitas e despesas. As regiões têm ainda iniciativa legislativa reservada em matéria estatutária (os estatutos só podem ser alterados se as respectivas Assembleias Legislativas Regionais tomarem essa iniciativa).

Poderes de participação em decisões do Estado: poder de iniciativa legislativa junto da AR (167º/1 e 227º f) ), e poderes de participação nas políticas nacionais (águas territoriais, participação na negociação de tratados internacionais). As regiões têm ainda poder de participação em todas as decisões que lhes digam respeito (têm poder de iniciativa legislativa junto à AR quando não têm competência legislativa nessa matéria, e se as leis em curso interferirem com as regiões autónomas, estas têm um direito constitucional de serem ouvidas sob pena de inconstitucionalidade formal).

Poderes instrumentais de defesa do seu estatuto jurídico-constitucional: os órgãos de governo próprio podem recorrer para o Tribunal Constitucional (281º/2 g) e 283º/1) quando, por exemplo, um diploma do Governo ou da AR desrespeita uma das competências regionais.

Estatutos das regiões autónomas: não são constituições porque são leis do parlamento nacional mas têm, todavia, um procedimento muito particular. São a principal lei de valor reforçado e dispõem sobre as competências das Regiões Autónomas, o Sistema de Governo e limitação face a outros órgãos. Não há uma norma constitucional que os defina pela positiva enquanto leis de valor reforçado, mas isto depreende-se pela interpretação dos preceitos de fiscalização de constitucionalidade – 280º/2 b) e c) e 281º/1 c) e d).

Do valor reforçado dos estatutos não decorre uma maioria agravada de aprovação, sendo estes aprovados por maioria simples.

Sistema de Governo das Regiões Autónomas: sistema parlamentar, em que a Assembleia Legislativa Regional é o único órgão electivo. O Governo regional (Presidente e secretários) é nomeado pelo Presidente da República tendo em conta os resultados eleitorais e responde unicamente perante a Assembleia da República. O Representante da República é nomeado pelo Presidente da República. A Assembleia Legislativa Regional tem competência regulamentar em relação às leis dos órgãos de soberania e o Governo regional tem competência regulamentar em relação aos Decretos Legislativos Regionais. O Representante da República tem uma função semelhante ao Presidente da República: assina, veta ou pede fiscalização preventiva da constitucionalidade dos diplomas da Assembleia Legislativa Regional e assina ou veta os decretos regulamentares do Governo.

Competências Legislativas:

Em 2004 os requisitos que ficaram estabelecidos foram: Matérias não reservadas aos órgãos de soberania – arts.

164º, 165º, 161º e 198º, que estão vedadas à intervenção legislativa das Assembleias Legislativas Regionais.

Matérias previstas nos estatutos: os estatutos têm de fazer um elenco de matérias sobre as quais a Assembleia Legislativa Regional pode legislar (228º/1 e 112º/4). Este elenco estatutário não pode integrar conceitos indeterminados que permitam integrar na competência regional qualquer matéria.

Matérias de âmbito regional: as Assembleias Legislativas Regionais só podem legislar para o âmbito regional. Este conceito reconduz-se maioritariamente ao território nacional, havendo também aqui uma dimensão institucional segundo a qual um DLR só se pode aplicar em instituições regionais. Art. 227º/1 a) – o Tribunal Constitucional entende que a Região Autónoma só pode legislar quando houver interesse específico

em matérias que não tenham relevo imediato para a generalidade da população. 112º/4.

Competência autorizada: não é igual à do Governo porque não abrange todas as matérias do 165º e o procedimento legislativo é diferente. Na prática esta competência ainda não foi usada.

Competência de desenvolvimento: segue os mesmos parâmetros que a do Governo, quer sejam bases de matéria concorrencial ou reservada. Os DLR de autorização e de desenvolvimento têm de citar a lei de autorização ou a lei de bases que lhes está na origem e podem ser alvo de apreciação parlamentar (169º).

Competência de transposição de actos jurídicos da União Europeia: se as Assembleias Legislativas Regionais violarem uma directiva europeia quem vai responder é o Estado.

Competências legislativas conexas: por exemplo, a criação e extinção de municípios.

Uma questão que tem sido colocada é a de saber se existe ou não uma competência legislativa regional reservada, exclusiva da Assembleia Legislativa Regional. Esta existe relativamente às competências legislativas conexas e nos termos do art. 227º/1 i). Mas haverá outras matérias sobre as quais só as Assembleias Legislativas Regionais podem legislar? No 228º/2 está consagrado um princípio de supletividade nacional, segundo o qual os órgãos de soberania quando legislam, fazem-no para todo o território nacional, a menos que haja uma expressa delimitação do campo de actuação. Assim, enquanto a ALR não adoptar uma legislação, aplica-se a legislação em vigor no território nacional; quando for aprovado um DLR sobre essa matéria a Lei ou DL é derrogada territorialmente. As regiões autónomas podem, assim, no âmbito das suas próprias competências, fazer DLR que afastem no respectivo âmbito regional a aplicação de leis nacionais, uma vez que Leis, Decretos-Lei e Decretos Legislativos Regionais têm igual valor – art. 112º/2. O Tribunal Constitucional nunca reconheceu uma reserva das Regiões Autónomas; já o professor Jorge Miranda defende a existência dessa reserva.

FORMA DE ESTADO

A forma de Estado é uma forma política que tem a ver com a

estruturação interna do poder estatal e do ordenamento jurídico-

constitucional. Os critérios utilizados na distinção das várias formas

de Estado serão, genericamente, os de saber se num Estado há um

único poder político ou vários conjuntos de autoridades e instituições

de Governo; se há uma única Constituição ou se se verifica a

integração e subsistência de vários ordenamentos jurídicos originários

ou Constituições.

Com base nesses critérios, a distinção que é hoje quase

unanimemente reconhecida é a que se faz entre Estado unitário e

Estado federal.

1. Estado unitário

O Estado unitário, na sua forma mais simples, é aquele em que

existe apenas um único centro de decisão política e um conjunto

único de instituições de governo, bem como um único ordenamento

jurídico originário ou Constituição.

No entanto, sendo esta a sua estruturação interna, o Estado

unitário pode exercer as suas funções de forma mais centralizada ou

mais descentralizada. De forma centralizada quando os fins públicos

são prosseguidos apenas ou sobretudo pelo Estado e os seus órgãos.

De forma descentralizada quando, para além do Estado, há outras

entidades com personalidade jurídica própria que prosseguem

também os fins públicos.

Pode dizer-se que o Estado unitário centralizado é apenas um

modelo teórico, ideal, não realizável, em democracia política, nas

condições e perante as exigências dos dias de hoje.

Na actualidade todos os Estados unitários democráticos

praticam a descentralização administrativa, ou seja, atribuem o

exercício das funções administrativas a outras pessoas colectivas

para além do Estado, seja essa descentralização de carácter funcional

ou institucional ou seja de carácter territorial.

Na descentralização funcional ou institucional, o Estado

confia funções administrativas a outros sujeitos de direito com

personalidade jurídica própria que não dependem directamente do

Governo, que não estão integrados no Estado. É o caso dos institutos

públicos e das associações públicas como, por exemplo, empresas e

fundações públicas, algumas Ordens profissionais, como a Ordem dos

Advogados, algumas federações desportivas, como a Federação

Portuguesa de Futebol, etc.

Na segunda modalidade, descentralização territorial, o

Estado reconhece autonomia administrativa a entidades de base

territorial e social, as autarquias locais, que são pessoas territoriais

dotadas de órgãos representativos próprios e que visam a

prossecução de interesses dos populações donde emanam.

Naturalmente, para além destas formas de descentralização,

em cada uma das pessoas colectivas em causa (Estado, autarquias

locais, institutos) há sempre outras modalidades de repartição interna

de poderes, através das quais, num quadro de organização

hierárquica, o exercício das competências não está concentrado

apenas nos órgãos de topo e os órgãos hierarquicamente superiores

podem delegar noutros órgãos o exercício de competências que lhes

estavam originariamente atribuídas, falando-se, então, já não

propriamente em descentralização (repartição das atribuições

públicas por diferentes entidades colectivas não estatais), mas em

simples desconcentração administrativa (repartição de

competências orgânicas dentro da mesma pessoa jurídica).

Em alguns Estados unitários a descentralização assume uma

natureza ainda mais ambiciosa, na medida em que, para além das

formas de descentralização já referidas, o Estado reconhece a

algumas entidades territoriais —Regiões Autónomas— uma

autonomia político-administrativa, através da qual se atribuem a

essas entidades faculdades legislativas e de governo. Assim, as

Regiões Autónomas exercem não apenas funções administrativas,

mas também funções políticas, isto é, podem legislar e dispõem de

órgãos de governo próprio.

Nessa altura, quando se verifica uma descentralização política

de base territorial, nasce o chamado Estado unitário regional, o

Estado regional ou Estado autonómico, de que trataremos

posteriormente.

Constitucionalismo britânico

I. Definição de Constitucionalismo

Constitucionalismo é a teoria (ou ideologia) que ergue o princípio de governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade.

II. Constituição Histórica

O Reino Unido é um Estado constitucional, uma sociedade política, sem conceito de Estado e sem uma constituição escrita codificada. Não possui um texto único em que estejam codificadas as normas da sua constituição política, deve dizer-se que a Grã-Bretanha tem uma constituição não escrita. No entanto, existem leis constitucionais escritas, sendo essas pequenas parcelas do edifício político britânico.

Radica numa postura consensualista que retoma as teses do dualismo medieval de um acordo ou contrato firmado entre dois poderes, soberano e povo, dotados ambos de direitos autónomos e independentes.

O processo constitucional inglês obedece a um modelo gradualista, no qual distinguem-se três grandes fases:

1ª. A fase dos primórdios, iniciada com a Magna Carta em 1215;

2ª. A fase da transição, no século XVII é marcada pelas lutas de poder entre a coroa e o parlamento, das quais resultaram a Petição de Direito (Petition of Right) de 1628, as revoltas de 1648 e 1688 e a Declaração de Direitos (Bill of Rigths) de 1689;

3ª. A fase contemporânea, data cerca de 1832, e foi marcada pelas reformas eleitorais que tendem a alargar o direito ao sufrágio

O primeiro dos textos escritos que formam a Constituição Britânica é a Magna Carta. Documento este que é assinado entre os Barões do Reino e o Rei João Sem Terra em 1215. Tinha como objectivo garantir as liberdades e direitos dos súbditos dos três estados do Reino e limitar o poder real.

Sobreposição institucional

Definição: fenómeno que consiste em instituições de natureza completamente diversa coexistirem e interpenetrarem-se através dos tempos e, mesmo em épocas de colisão, em não tenderem a destruir-se ou a substituir-se umas às outras mas apenas a definir novas funções e um novo equilíbrio

As instituições da história são: o rei, a camara dos lordes e a camara dos comuns que no seu conjunto formam o Parlamento

Hoje a situação é de um completo predomínio da camara dos comuns, órgão de representação popular; no entanto nem por isso deixa de ter interesse falar em sobreposição institucional porque as outras instituições (rei, e a camara dos lordes) guardam poderes formais, porque a sua simples existência impede que surjam difíceis problemas de equilíbrio politico e porque continuam a desempenhar uma função social e pública, interna e externa

A Câmara dos Comuns

A preponderância do Parlamento pertence hoje à Câmara dos Comuns visto que:

1º Tem o direito de fazer passar as leis mesmo contra o voto dos Lordes e na certeza de que a Coroa não negará a sanção;

2º Só ela pode efectivar a responsabilidade política do gabinete e fazer tombar o Ministério;

3º É no seu seio que se manifesta a força dos partidos políticos e se define a maioria donde saí o gabinete.

Constituição consuetudinária e flexível

- Diz-se muitas vezes que é uma constituição não escrita, em certo sentido é verdadeiro: grande parte das regras sobre organização do poder político é consuetudinária, e, sobretudo no sentido de que a unidade fundamental da constituição não repousa em nenhum texto ou documento, mas em princípios não escritos, assentes na organização social e politica dos britânicos.

- Esta constituição apresenta-se ainda pela natureza das coisas, como constituição cuja modificação se faz, a todo o tempo, pelo parlamento, sem necessidade de um processo diferenciado do processo de exercício da função legislativa é o que os juristas chamam de constituição flexível

A rule of law e os tribunais

- Designam-se os princípios, as instituições e os processos que a tradição e a experiência dos juristas e dos tribunais mostraram ser essenciais para a salvaguarda dos direitos das pessoas frente ao Estado.

O Governo e o Gabinete

Na Constituição Inglesa a supremacia do exercício do poder pertence ao Parlamento; no Parlamento, a autoridade efectiva é a Câmara dos Comuns; na Câmara dos Comuns manda o partido da maioria; e o

partido da maioria obedece ao Primeiro Ministro, chefe do Governo e do Gabinete.

O chefe do Governo é o Primeiro Ministro, que também exerce as funções de Primeiro Lord do Tesouro. Segue-se o Lord Chanceler, presidente da Câmara dos Lordes e Ministro da Justiça, e o Lord Presidente do Conselho que preside ao Conselho Privado.

O Primeiro-ministro escolhe alguns dos seus Senior Ministers para formar o Gabinete, isto é, conselho restrito que discute os problemas políticos e define a orientação do governo.

O Primeiro-ministro escolhe e demite os ministros, selecciona os membros do gabinete, dirige o partido e imprime carácter à acção governamental.

O Gabinete é quem responde tecnicamente pela política geral do Governo perante o Parlamento, perante a Coroa e a Nação.

Sistema Bipartidário

Os ingleses reagiram ao aparecimento de um novo partido, em consequência o Partido Liberal foi sacrificado, ficando reduzido a um número pequeno de parlamentares.

Passaram assim, as forças políticas a fazer-se, sobretudo, nos partidos Conservador e Trabalhista.

Qual o motivo da preferência inglesa pelo sistema bipartidário? A preferência inglesa pelo sistema bipartidário explica-se pela forma como decorrem as eleições no Reino Unido. Os círculos territoriais são muito pequenos, sendo apenas eleito um deputado por círculo, o que faz com que os votos se dividam e sejam muito utilizada a técnica do voto útil.

O partido que alcançar a maioria nas eleições pode governar durante 5 anos, salvo o caso de dissolução que o Primeiro Ministro proponha ao Rei para consultar o eleitorado na hipótese de dúvida sobre a solidez da maioria existente.

O presidente/secretário-geral do partido triunfante nas eleições passa a chefe de governo e do gabinete e leva para ministros os seus colaboradores mais eminentes, desde que, sejam membros do parlamento.

A maioria da Câmara dos Comuns obedecerá diante do chefe de partido e do Primeiro-ministro votando a legislação que o governo julgar necessária para governar. A oposição, discute, fiscaliza e interroga, já que não pode evitar.

2. "Uma constituição não escrita tem a vantagem de permitir uma melhor adaptação à evolução dos tempos"

Esta é uma afirmação que se compreende no contexto de um sistema constitucional como o britânico, onde o costume e os usos constitucionais não escritos desempenham um papel mais relevante que nos outros sistemas.

Com efeito, ao passo que sistemas como o francês, o norte-americano ou o português se baseiam numa constituição escrita e aprovada enquanto tal, o sistema britânico resulta de um conjunto de fontes de proveniências diversas, desempenhando as fontes não escritas e, particularmente, o costume, uma importância significativa.

Assim, ao contrário das constituições escritas, que geralmente são rígidas e exigem um processo agravado para a sua revisão, as constituições que se baseiam no costume, como é o caso da britânica, vão se adaptando à evolução da sociedade e dos tempos de forma gradual. Além disso, a introdução de alterações de natureza constitucional pode fazer-se por via de legislação ordinária, não havendo processo de revisão constitucional previsto enquanto tal, o que também facilita modificações.

Note-se, contudo, que mesmo a “Constituição Britânica” não pode ser qualificada como sendo apenas de base costumeira.

É certo que muitos aspetos da “Constituição Britânica”, como os relativos ao funcionamento do Parlamento, relações entre as câmaras e o Governo e entre este e a oposição e o exercício dos poderes do Rei, são regulados por via consuetudinária. No entanto, existem hoje muitos aspetos materiais da “Constituição Britânica” que resultam de disposições escritas (leis ordinárias, convenções internacionais, etc), embora não se encontrem reunidos num único texto formal

designado como constituição. Veja-se, por exemplo, os textos legislativos relativos aos estatutos autonómicos da Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte ou os tratados relativos ao funcionamento da União Europeia, designadamente no que respeita à Carta dos Direitos Fundamentais.

Assim, de um lado temos constituições escritas cujo processo de revisão é especialmente agravado, o que pode resultar, por exemplo, de poderes de iniciativa especialmente atribuídos a algum ou alguns órgãos, de restrições em matéria temporal para a revisão ou de maiorias especialmente qualificadas (ex: maioria de 2/3 da Câmara dos Representantes e do Senado e de ¾ dos estados para aprovar uma revisão constitucional nos Estados Unidos da América). De outro, temos o caso da “Constituição Britânica”, cuja evolução ocorre por via da evolução consuetudinária e da mera alteração de leis de valor ordinário. Nessa medida, é compreensível que se possa afirmar que as segundas se possam adaptar mais rapidamente à evolução dos tempos, pois o processo para a respetiva alteração é, do ponto de vista formal, menos exigente.

Claro está que isto não significa que essa maior facilidade em proceder a alterações constitucionais seja necessariamente positiva, uma vez que poderão existir vantagens bem compreensíveis em impedir que se possa facilmente rever aspetos de natureza tão central como os constitucionais de forma excessivamente simples.

4. "O Primeiro-Ministro marca as eleições quando entender mais adequado"

A afirmação em causa reporta-se ao sistema constitucional britânico.

Com efeito, neste sistema, tradicionalmente, o Primeiro-Ministro tem a possibilidade de dissolução da Câmara dos Comuns antes do término da legislatura de cinco anos, a qualquer altura. Dissolvido este órgão legislativo, fica o mesmo Primeiro-Ministro responsável pela marcação de eleições para eleger a composição política da próxima legislatura.

Note-se, contudo, que o recente “Fixed Terms Parliament Act de 2011” vem mudar este regime. Esse diploma determina que as eleições se devam realizar de cinco em cinco anos, aplicando-se o mesmo a partir de 2015. Nos termos deste diploma as eleições antes desse termo de cinco anos apenas se poderão realizar na sequência de uma moção de censura aprovada pela Câmara dos Comuns ou por votação de 2/3 da mesma Câmara. Ou seja, o Primeiro-Ministro deixou de ter o poder de dissolver a Câmara dos Comuns e marcar as eleições quando entender.

A aprovação deste “act” mostra bem como a “Constituição Britânica” pode ser alterada por lei ordinária e que a mesma não se baseia apenas no costume. Neste caso, como se vê, um costume foi substituído por um ato legislativo.

A afirmação não se reporta nem ao sistema constitucional norte americano nem ao francês.

No sistema constitucional americano, o poder executivo encontra-se atribuído ao Presidente dos Estados Unidos da América e não existe Primeiro-Ministro. Logo, não existe marcação de eleições por qualquer órgão deste tipo.

No sistema constitucional francês existe Primeiro-Ministro, mas é ao Presidente da República que incumbe a marcação de eleições

legislativas, nos termos do artigo 12.º da Constituição Francesa, após dissolução da Assembleia Nacional.

SISTEMA CONSTITUCIONAL norte-americano:

A formação dos EUA identifica-se de modo estreito com o movimento constitucionalista. Em 1787 é aí que encontramos a 1ª Constituição escrita, que vem na continuidade da Declaração dos Direitos da Virgínia e da Declaração de

Independência dos EUA (1776) (e que curiosamente consagra o direito de procurar a felicidade).

Constituição

Histórica Escrita Elástica – na versão original tem sete artigos e estes foram

sofrendo um trabalho de interpretação e actualização por parte dos órgãos jurisdicionais.

É também uma constituição rígida e não flexível, na medida em que está previsto um modo de alterar a constituição que difere do procedimento legislativo ordinário.

No seio da Constituição dos EUA há lugar para a teoria dos poderes implícitos, importante em termos de interpretação e de relacionamento entre as competências da Federação e dos Estados Federados.

A fiscalização da constitucionalidade é feita por todos os órgãos jurisdicionais – todo e qualquer tribunal pode fiscalizar a constitucionalidade - , pelo que se trata de uma fiscalização jurisdicional difusa.

A forma de Estado é a do Federalismo, garantindo a Constituição formas de intervenção dos estados federados ao nível de funcionamento das instituições:

~

Congresso:

Senado – dois senadores de cada estado federado / representação igualitária dos Estados

Câmara dos Representantes – a representação tem em conta a dimensão populacional de cada Estado

Expressão da repartição de competências entre Federação e Estados

Federados:

- Na forma de revisão da Constituição é garantida e obrigatória a intervenção dos vários estados federados

- Eleição do Chefe de Estado (Presidente da União).

- Cada um dos Estados federados goza de poder constituinte – o que significa que os cidadãos estão sujeitos à Constituição do seu Estado e à da União.

- Estados federados têm competências próprias (não só delegadas pela União).

- Constituição diz quais as matérias reservadas ao Estado federal – em termos legislativos.

- Tudo o que não estiver reservado à União ou Estado Federal pode ser objecto de intervenção legislativa dos estados federados.

Nos EUA há então lugar para a verdadeira separação de poderes advogada por Montesquieu, não esquecendo que este autor defendia que para além de uma repartição deveria existir também uma fiscalização e coordenação recíproca dos vários órgãos e poderes.

Esta separação de poderes manifesta-se ao nível:

Separação de poderes:

Órgãos: Chefe de Estado (CFA) – executivo Congresso – legislativo Tribunais – jurisdicional

Sociedade grupos sociais que se articulam com o Estado sistema federalista

O Sistema de Governo é o Presidencialista: não há Governo enquanto órgão autónomo, mas apenas um conjunto de secretários que auxiliam o Chefe de Estado que é também Chefe do executivo. Fala-se a propósito de um casamento sem divórcio já que não há possibilidade do Congresso destituir o Presidente e vice-versa.

As comissões de inquérito de responsabilidade criminal são a única possibilidade de destituir o Presidente.

Chefe de Estado Congresso

- poder executivo - faz leis

- pode sugerir determinadas iniciativas legislativas (através de mensagens

- é aí que funcionam as comissões de inquérito.

- pode vetar as leis. - Responsabilidade criminal de Secretários de Estado ou do próprio Chefe de Estado

- Poder legislativo

Veto:

Expresso De bolso (não é tomada nenhuma atitude)

No que respeita ao sistema jurisdicional funciona a regra do precedente judicial: as decisões jurisdicionais devem obediência a uma decisão que tenha sido tomada perante casos análogos anteriormente.

No que toca ao sistema partidário, encontramos tendencialmente um bipartidarismo, apesar da fraca ideologia de partidos que se organizam em volta de pessoas e não um projecto político. A influência dos partidos verifica-se mais ao nível dos estados federados do que ao nível da União.

Quanto à eleição para o Chefe de Estado, a importância dos partidos reside nas primárias que têm como objectivo a confrontação de várias pessoas dentro do partido para saber quem são os candidatos às presidenciais.

Nos EUA ao lado dos partidos (visam exercer o poder) aparecem “lobbys” (pretendem influenciar o poder) e grupos de pressão com grande importância.

3. "Num Estado federal, as constituições tendem a ser mais rígidas"

A afirmação faz sentido, tendo em conta que, num estado federal, torna-se necessário assegurar que o processo de revisão seja participado não apenas pelos representantes dos cidadãos, mas também pelos que representam os estados ou pelos próprios estados. É aliás, compreensível que assim seja, pois a união dos estados federados apenas poderá persistir se existirem mecanismos suficientemente sólidos para garantir que a federação evolui de acordo com a vontade dos estados que a integram. Portanto, é habitual que um processo de revisão constitucional num estado federal contenha regras especialmente exigentes para que a mesma se possa concretizar, o que agrava a rigidez das respetivas constituições.

Nesta medida, a existência de um processo rígido de revisão constitucional num estado federal é, de certa forma, a garantia de subsistência da coesão entre os estados federados que o compõem.

O processo de revisão constitucional da Constituição dos Estados Unidos da América constitui um bom exemplo deste fenómeno.

Como se sabe, os Estados Unidos da América são um estado federal que resulta da união de vários Estados dotados, cada um, da sua própria constituição e de ordens jurídicas próprias. Para manter a união é necessário garantir um balanço que evite alterações da constituição em que apenas alguns dos estados estejam de acordo.

Assim, a Constituição Norte Americana consagra um processo de revisão constitucional especialmente agravado que se encontra previsto no artigo V da Constituição dos Estados Unidos da América e que implica, por exemplo, a aprovação por 2/3 da Câmara dos Representantes, 2/3 do senado e a ratificação por ¾ dos estados federados através dos seus processos internos próprios.

5. "O Presidente pode apresentar propostas de lei à assembleia"

A afirmação em causa enquadra-se no sistema constitucional americano, embora o poder de apresentar iniciativas legislativas ao Congresso não se encontre especificamente previsto enquanto tal.

Nos Estados Unidos da América, o Presidente deverá, nos termos da secção 3 do artigo II da Constituição dos Estados Unidos da América, prestar ao Congresso, periodicamente, informações sobre o estado da União, fazendo ao mesmo tempo as recomendações que julgar necessárias e convenientes. Na verdade, esta possibilidade de apresentar recomendações ter servido para que o Presidente possa enviar ao Congresso propostas legislativas sob a forma articulada, as quais são remetidas aos presidentes da Câmara dos Representantes e do Senado. Diz-se, por isso, que as “executive communications” do Presidente se tornaram uma fonte de iniciativas legislativas.

No sistema constitucional francês a legitimidade para apresentar propostas de lei compete aos membros do parlamento e ao Primeiro-Ministro (artigo 39.º da Constituição Francesa).

Por seu turno, no Reino Unido, vigora um sistema de governo parlamentar de gabinete, onde não existe Presidente. Nesse sentido, a afirmação não se enquadra neste sistema.

14. “Uma câmara representa o povo. A outra representa os estados federados.”

Está em causa uma afirmação que se reporta a um sistema constitucional onde exista um estado federal e estados federados, pelo que a frase não se refere aos sistemas francês e britânico, onde os mesmos não existem.

Trata-se, em vez disso, de uma afirmação que se enquadra absolutamente no sistema constitucional norte-americano.

O Congresso dos Estados Unidos da América, órgão competente do poder legislativo, é constituído pela Câmara dos Representantes e pelo Senado. A Câmara dos Representantes representa a população dos Estados, enquanto a segunda representa os Estados propriamente ditos. O número de representantes eleitos em cada estado para a Câmara dos Representantes depende do número de cidadãos eleitores de cada Estado, mas o número de sendores por cada Estado é sempre idêntico: dois para cada um (artigo I, secções 1, 2 e 3 da Constituição dos Estados Unidos da América).

Como se disse, os EUA são, de entre os três modelos constitucionais analisados, o único Estado Federal, tornando-se aqui necessário representar os interesses de cada um dos Estados, pois é isso que permite garantir a união e a satisfação dos interesses mútuos, afastando qualquer hipótese de supremacia de alguns Estados sobre os demais.

13. “A Constituição é o texto onde, por excelência, são afirmados os direitos fundamentais dos cidadãos” (todos os sistemas)

Trata-se de uma afirmação que, de forma inequívoca, retrata o constitucionalismo norte-americano, mas que também poderá fazer algum sentido no quadro dos constitucionalismos francês e britânico.

Vejamos porquê.

A Constituição dos Estados Unidos da América, na versão originária de 1787, não incluía no seu texto disposições sobre direitos fundamentais. Tal sucedeu devido a uma discordância de posições, pois alguns defendiam que tal seria desnecessário, não devendo ser o Estado Federal a assumir essa preocupação, enquanto outros sustentavam o oposto. Ou seja, de um lado defendia-se um Estado Federal enquanto garante dos direitos fundamentais dos cidadãos; de outro, fundado numa perspetiva de desconfiança face ao Estado Federal, considerava-se que as liberdades individuais podiam ser prejudicadas.

Por forma a superar esta divergência e aprovar um texto constitucional, obteve-se um acordo no sentido de a versão inicial da

Constituição não aludir a Direitos Fundamentais, podendo ser posteriormente apreciadas propostas concretas para a sua adoção. Assim, várias disposições contendo direitos fundamentais foram sendo posteriormente incorporados e aprovadas na Constituição dos Estados Unidos da América, encontrando-se hoje integradas no seu texto, do qual são parte fundamental. Aqui se encontram hoje garantidos, por exemplo, a liberdade de religião, proibição da escravatura, “due process of law”, direito ao porte de arma, proibição de tratamentos cruéis e desumanos, etc.

A Constituição Francesa, por sua vez, não acolhe diretamente os direitos fundamentais no seu texto. Mas existem textos que têm sido reconhecidos como tendo valor constitucional pelos tribunais franceses e que acolhem direitos fundamentais. Nesse sentido, é possível afirmar que os textos de valor constitucional vigentes em França acolhem direitos fundamentais.

Assim, por exemplo, considera-se que têm valor constitucional a Declaração dos Direitos do Homem e Cidadão, a Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia.

Na mesma linha de pensamento pode ser incluído o caso britânico. Não existindo aqui uma constituição em sentido formal, entende-se que existem textos vigentes de natureza constitucional que acolhem direitos fundamentais. É possível sustentar que, por exemplo, textos escritos como a Convenção Europeia dos Direitos do Homem façam parte da “Constituição Britânica”.

SISTEMA CONSTITUCIONAL FRANCÊS

CARACTERÍSTICAS:

origem revolucionária e vocação universalista o sistema constitucional francês vai formar-se a partir de 1789 por via da revolução que, em progressiva radicalização, se propõe destruir todas as instituições e estruturas do Antigo Regime

2 grandes períodos (1789-1870; III, IV e V Repúblicas) destacam-se 2 grandes períodos na história do constitucionalismo francês que espelham transformações histórico-sociais distintas: o período entre 1789 e 1870, marcado por uma grande instabilidade política e constitucional na sequência da revolução e em que se sucedem regimes e sistemas muito diversos (as monarquias constitucionais de 1791 e 1814, tão diferentes uma da outra, o regime jacobino e convencional de 1793, o regime cesarista de 1799 e de 1852, o regime democrático de 1848, o regime directorial de 1795 e o regime orleanista de 1830), com a observância de uma luta de princípios de legitimidade e de classes sociais, a qual se transformou com o aparecimento do operariado; e o período das III, IV e V Repúblicas, marcado pelo domínio do sistema parlamentar, que se esbate e é substituído a partir de 1958

RELAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES:

Constituições Revolucionárias

1791 decorre do processo revolucionário e resulta de uma Assembleia Nacional; introduz a monarquia constitucional e consolida o regime representativo.

1793 ano I da República marcado pela criação da Convenção (Assembleia que reúne por direito próprio e sem limitações) que vai elaborar a Constituição da ditadura jacobina (não chaga a vigorar);

1795 ano III da República; princípios antagónicos a 1793: separação radical e rigorosa de poderes, com o poder legislativo a ser atribuído a 2 Câmaras

Traços constantes no Sistema Francês até 1958:

importância de uma Constituição formal escrita que se distingue das restantes normas parlamentares (leis) num nível superior.

importância dada à garantia dos Direitos do Homem

Apesar de numerosos sistemas de Governo, até 1958 o mais “seguido” é o parlamentar (muito diferente do Britânico).

1. Não há bipartidarismo.

2. Não é maioritário, mas antes proporcional, o que leva ao pluripartidarismo (maior instabilidade).

Papel da lei vista como sinónimo de razão, que é instrumento racional que

Exprime a vontade geral (doutrinas iluministas e jus racionalistas) e que está ligada ao princípio democrático – é o Parlamento que elabora as leis.

Em 1958 a última Constituição francesa buscou uma tentativa de síntese de vários sistemas de Governo, esta constituição surge num momento de grande instabilidade político–parlamentar.

estrutura e vigência esta Constituição (revista em 1962 – eleição do Presidente da República por sufrágio universal) tenta um compromisso entre poder representativo e poder executivo e estabelece o sistema semipresidencial como sistema de governa; nos seus princípios gerais, o art. 2º corresponde à República social, o 3º à democracia representativa e o 4º ao papel dos partidos, não existindo nenhum capítulo sobre direitos e garantias

estatuto do Presidente da República eleito por sufrágio universal e directo por 5 anos (7 até 2001), podendo ser reeleito indefinidamente; nomeia o 1º ministro, é o centro principal da política, responsável pela política externa e de defesa, possui veto suspensivo e pode recorrer ao referendo

estatuto do Governo produz a política nacional, detém parte da função legislativa, é responsável perante a Assembleia Nacional, é dirigido pelo 1º ministro e determina e conduz a política da Nação

estatuto do Parlamento fiscaliza o poder político e é constituído pela Assembleia Nacional (função política e legislativa – legislatura de 5 anos, eleitos por sufrágio directo) e pelo Senado (representa as colectividades territoriais da República – composto por senadores eleitos por sufrágio indirecto por 9 anos e renovação trienal de 1/3)

os Conselhos Económico-Social e Constitucional o Conselho Económico-Social é um órgão consultivo que dá parecer sobre projectos de leis, de decretos e de regulamentos da sua competência; o Conselho Constitucional é composto por 9 membros e zela pela regularidade da eleição presidencial, funciona como supremo tribunal eleitoral e examina a constitucionalidade das leis

o sistema de governo (o semipresidencialismo francês) o Governo, livremente nomeado pelo Chefe de Estado (mas

não livremente demitido) é responsável politicamente perante o Parlamento e o poder executivo é dualista, com um governo, jurídica e politicamente distinto do Chefe de Estado; de facto, o centro de decisão política é o Presidente da República (ver estatuto). Este sistema oferece uma maior maleabilidade do que o sistema semipresidencial puro, pois o Presidente pode agir por si só ou através do 1º ministro, mas também oferece uma maior ambiguidade e fragilidade porque o Presidente tem de concertar a sua acção com o Parlamento e pode ficar sujeito a derrotas em referendos (como a de De Gaulle em 1969, que provocou a sua renúncia).

Sistema Semipresidencial :

· A principal característica é a de o Governo ser duplamente responsável perante o Parlamento e o Presidente da República ou Chefe de Estado, o que significa que o Governo pode ser destituído por estes dois órgãos.

· vantagens deste sistema:

- ultrapassa-se a instabilidade do sistema parlamentar puro através de uma via média, sem cair no extremo oposto do Presidencialismo norte-americano.

6. "O chefe de estado designa o Primeiro-Ministro" (francês + inglês)

A afirmação faz sentido nos casos do constitucionalismo britânico e francês, mas não no constitucionalismo norte-americano.

No constitucionalismo britânico, como se sabe, o monarca não possui poderes efetivos mas, enquanto chefe de Estado, designa o Primeiro-Ministro na sequência de eleições, optando por quem possa assegurar a maioria na Câmara dos Comuns.

Por seu turno, no sistema constitucional francês, o chefe de estado, na figura de Presidente, nomeia o Primeiro-Ministro (artigo 8.º da Constituição Francesa).

No sistema constitucional americano o poder executivo incumbe ao Presidente dos Estados Unidos da América, não havendo Primeiro-Ministro. Consequentemente, não a frase não faz sentido no constitucionalismo norte-americano.

8. "A Constituição resulta, essencialmente, de um movimento revolucionário" (frança + EUA)

A afirmação reporta-se, essencialmente, aos sistemas constitucionais francês e norte-americano. Em ambos os casos, o movimento de adoção de constituições resultou de processos revolucionários. Pelo contrário, no sistema britânico, o constitucionalismo resultou de um processo evolutivo, que se foi consolidando com o tempo.

Assim, o sistema constitucional francês resulta de um movimento revolucionário (1789-1799) que teve por objetivo estabelecer uma rutura com o Antigo Regime, caracterizado pela monarquia absolutista. É na sequência da Revolução Francesa que é adotada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e a Constituição Francesa de 1791. Atualmente vigora a Constituição Francesa de 1958.

É também o que se passa com o sistema constitucional norte-americano. A Constituição dos Estados Unidos da América também resultou de um movimento revolucionário - a revolução americana -, iniciada em 1765, resultou de um protesto das 13 colónias contra o poder autoritário britânico e pode-se associar o seu término à Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, em

1783. Posteriormente foi aprovada a Constituição de 1787, que foi ratificada em 1788.

Já a “Constituição Britânica” resulta de um constante processo evolutivo e de adaptação do costume e de revisão por lei ordinária que não resulta de um momento revolucionário mrcante.

11. "O chefe de estado tem poder de veto sobre as leis aprovadas." (francês + EUA)

A afirmação refere-se principalmente aos sistemas constitucionais francês e norte-americano, onde os respetivos presidente podem vetar as leis aprovadas pelo Parlamento ou pelo Congresso.

Como se sabe, o poder de veto permite ao presidente ou ao monarca a devolução de um diploma aprovado pelo respetivo parlamento, provocando a necessidade de uma nova deliberação, de modificações ou a impossibilidade da sua entrada em vigor.

Assim, o Presidente da República Francês tem o poder de vetar leis, nos termos do artigo 10.º da Constituição Francesa. Note-se que o presidente tem igualmente um poder muito significativo no plano do exercício do poder executivo.

No sistema constitucional americano, no qual o poder executivo é exercido pelo Presidente dos Estados Unidos da América, verifica-se que este também exerce poderes presidenciais típicos, como o poder de veto. Com efeito, tal possibilidade encontra-se prevista na secção 7 do artigo I da Constituição dos EUA.

Finalmente, no sistema constitucional britânico o monarca emite o “Royal Assent”, que consubtancia uma promulgação. Tal ato é emitido a conselho dos seus ministros que, como se sabe, são suportados por uma maioria parlamentar na Câmara dos Comuns. Assim, como o ato foi aprovado por uma maioria parlamentar que suporta o Governo e os ministros, tornou-se praticamente impossível a recusa do “Royal Assent” e o exercício de um poder de veto, se bem que o mesmo seja teoricamente possível.

Em suma, existe poder de veto nos sistemas francês e norte-americano e, no sistema britânico existe em teoria, embora não seja, na prática, exercido.

15. “O governo pode ser demitido pelo chefe de estado” (francês)

Esta é uma afirmação que faz sentido no quadro do sistema constitucional francês, mas não no norte-americano.

Com efeito, o Chefe de Estado francês é o Presidente da República, que pode efetivamente demitir o Governo quando o Primeiro-Ministro apresente a sua resignação (artigo 8.º da Constituição da República Francesa). O Presidente francês também pode dissolver a Assembleia Nacional, assim provocando novas eleições e a tomada de posse de um novo Governo (artigo 12.º da Constituição Francesa).

O constitucionalismo norte-americano assenta num sistema presidencialista, no qual cabe ao Presidente o exercício do poder executivo. Portanto, o Chefe de Estado corresponde ao Chefe da Administração, ou seja, do poder executivo. Nessa medida, não faz sentido a afirmação de que o chefe de estado pode demitir o executivo, pois é a mesma entidades que aqui desempenha ambas as funções.

Quanto ao sistema britânico, a Rainha, enquanto Chefe de Estado, não exerce de forma ativa funções que interfiram com a vida política ativa. Ela limita-se a nomear um Primeiro-Ministro que possa ter maioria na Cãmara dos Comuns e a aceitar o seu pedido de demissão. Nos termos do recente “Fixed Term Parliaments Act” de 2011, a Cãmara dos Comuns pode convocar novas eleições ou aprovar uma moção de censura ao Governo, assim provocando a necessidade de nomeação de um novo Primeiro-Ministro e novos ministros. Ou seja, pode ser ela própria a provocar a queda do Governo.

A História Constitucional portuguesa em sentido moderno começa em 1820 com a Revolução liberal de 24 de Agosto na cidade do Porto que determina o fim da monarquia tradicional e o início do sistema constitucional.

Três períodos na História Constitucional Portuguesa:

1. Constitucionalismo liberal ( início com a Revolução liberal de 24 de Agosto de 1820) – 1820 a 1926

2. Constitucionalismo autoritário (início com o golpe de Estado em Braga) – 1926 a 1974

3. Constitucionalismo Democrático (início a 25 de Abril de 1974 em Lisboa) – 1974

1. Constitucionalismo liberal

Constituições:

1822

1826 – Carta Constitucional (*)

1838

1911

(*) – tem esta designação por ter sido outorgada pelo monarca

É um período que corresponde ao Estado liberal em que prevalece (apesar das contra-revoluções e das duas restaurações da Monarquia Absoluta) uma ideia de direito liberal, como aparece consagrada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 no artigo 16º.

Relevantes são as ideias de:

- garantia dos direitos e liberdades;

- separação de poderes;

- liberalismo político e económico.

Constituição de 1822: Tem por base a Constituição de Cádiz (1812) e as Constituições francesas de 1791 e 1795, com procura do equilíbrio entre poder do Estado e os direitos e deveres individuais. Surge na

sequência da Revolução de 1820 e transmite a ideia de ruptura com o Antigo Regime e a emergência de valores universais.

Princípios Fundamentais é um dos mais importantes textos legislativos, não pela sua duração, mas porque marca o início do verdadeiro constitucionalismo português e inaugura a questão da legitimidade democrática do poder constituinte; evidencia um compromisso entre princípios tradicionais da monarquia e da Igreja mas também afirma a nova ordem liberal democrática.

Catálogo de Direitos a Constituição dedica o seu I Título (19 artigos) aos “Direitos e Deveres Individuais dos Portugueses” enunciando a ligação entre direitos e deveres e entre liberdade e lei, o desenvolvimentos das garantias, o princípio da igualdade, liberdades de expressão

Sistema de Governo a Constituição consagra a monarquia constitucional hereditária, com leis fundamentais que regulam o exercício dos 3 poderes (art. 29º). O poder legislativo residia nas Cortes, com dependência da sanção régia (art. 30º); os seus representantes eram eleitos bienalmente por critério de eleição censitária. O poder executivo era atribuído ao Rei, considerado Chefe de Estado; contudo, a monarquia é limitada, uma vez que, apesar de possuir veto suspensivo, o Rei se encontrava sujeito ao princípio da separação de poderes e da soberania

Constituição de 1826

- A Carta Constitucional é obra pessoal de D. Pedro IV e foi redigida num tempo curtíssimo, antes de abdicar (sob certas condições) da coroa portuguesa. Com a abolição da Constituição de 1822 por D. João VI em 1823, Portugal regressou ao Absolutismo.

- Esta outorga feita pelo Rei implica uma mudança de natureza do regime político: de monárquico passa a monárquico constitucional; ao outorgar a Carta, ao exercer o poder constituinte, o Rei manifesta-se, pela última vez, como Rei absoluto. Uma das novidades deste texto constitucional prende-se com o estabelecimento do poder moderador atribuído ao Rei, influência da teoria de Benjamin Constant

- Princípios fundamentais possuindo 145 artigos, repartidos por 8 Títulos, a Carta tinha como objectivo tentar solucionar a crise dinástica, mediante a aclamação de D. Maria, mas tal só se verificou após 1834, com a sua 2ª vigência. Este documento procurou também estabelecer um compromisso entre valores legitimistas e constitucionais, entre a aristocracia e a burguesia, nomeadamente através do estabelecimento de um Parlamento bicameral, que surge ao lado do Rei, com Câmara de Deputados electiva (por sufrágio censitário e indirecto) e Câmara de Pares hereditários e vitalícios

- Os 4 poderes de Estado e o sistema de governo aos 3 poderes já existentes – legislativo (atribuído às Cortes, com sanção do Rei, constituídas por 2 Câmaras: de Deputados e de Pares), executivo (atribuído ao Rei e seus Ministros) e judicial - , a Carta acrescenta um 4º poder, o poder moderador

Actos Adicionais (que consolidaram o rotativismo):

1852 eleição directa dos Deputados, redução dos limites do sufrágio censitário, aumento do poder das Cortes e, entre outros, a abolição da pena de morte para crimes políticos (acresce ainda dizer que o início da década de 50 foi marcado pelo movimento da Regeneração e pela política de fomento de Fontes Pereira de Melo, denominada “fontismo”)

1885 o único em que se respeitou rigorosamente o sistema de revisão da Carta, salienta-se a reforma da Câmara dos Pares, passando a ser constituída por 100 membros vitalícios nomeados pelo Rei, 50 membros electivos e pelos pares por direito próprio

1895 – 1896 nova reforma da Câmara dos Pares, com 90 membros vitalícios nomeados pelo Rei e pares de direito próprio e nova regulamentação de uma comissão mista de pares e deputados para a resolução de divergências entre as duas câmaras

Decretos ditatoriais elaboração de leis estando a Câmara dos Deputados dissolvida

Constituição de 1838:

- Constituição, também denominada Setembrista (pois surge na sequência do golpe de Estado com o mesmo nome, ocorrido 2 anos antes) tem como fontes as 2 constituições anteriores, bem como a francesa de 1830, e resulta do acordo entre as Cortes e o Monarca (Constituição pactícia)

Princípios fundamentais representa uma síntese entre os textos de 1822 e 1826, reafirma a soberania nacional, o princípio democrático, restabelece o sufrágio directo e elimina o poder moderador, embora estabeleça uma segunda Câmara (a Câmara dos Senadores) e aumente os poderes do Rei em relação à de 1822.Volta a consagrar à matéria de direitos fundamentais muito mais desenvolvido e apurado e que alarga o equilíbrio entre as liberdades e as garantias. Como direitos novos surgem a liberdade de associação e reunião, o direito de resistência a qualquer ordem que viole as garantias individuais a liberdade de imprensa recebe um maior impulso e declara-se irrevogável a venda dos Bens Nacionais

Sistema de governo regressa à tripartição de poderes, sendo o poder legislativo atribuído a 2 Câmaras (concessão aos cartistas), ambas eleitas por sufrágio directo: a Câmara Baixa (deputados) e a Câmara Alta (Senadores), que

passa a electiva e temporária (concessão aos vintistas) e restringindo-se a elegibilidade para Senadores a critérios censitários e capacitários; o poder executivo tem no Rei o seu Chefe, o qual obtém o poder de sanção das leis, o poder de dissolução da Câmara dos Deputados (o que implica a renovação de metade da Câmara dos Senadores) e não se prevendo um Conselho de Estado junto do Rei. Verifica-se um possível pendor parlamentar mitigado

Este projecto, apesar de ambicioso, não tinha ainda condições para se impor demoradamente e, cedo, o Decreto de 10 de Fevereiro de 1842 restauraria a Carta Constitucional. Viria a ser a Regeneração, 9 anos mais tarde, a fazer o que poderia ter sido a função histórica do Setembrismo: a pacificação da sociedade portuguesa e a conciliação dos partidos desavindos, numa perspectiva mais próxima de 1826 do que de 1822.

Constituição de 1911 (Republicana): · Estabelece uma nova Forma de Governo (República) mas apenas isso muda, porque em termos estruturais a Constituição é muito similar à de 1822.

· Tenta recuperar os valores e estrutura constitucional de 1822.

· Prevê uma Forma de Estado unitário.

Distribui o poder executivo por:

Presidente da Republica Ministros

É um sistema presidencialista

Constituição de 1933:

Características do Estado Novo:

· Assumidamente: antiliberal, anti-parlamentar e anti-democrático.

· Regime autoritário na prática, já que formalmente:

- há sempre um princípio de livre nomeação dos titulares dos cargos políticos previsto na Constituição;

- As liberdades são postas em causa, mas não são destruídas;

- Mantêm-se relações privilegiadas no âmbito político com a Inglaterra;

Objectivos do Estado Novo:

· Consagração dos direitos sociais (apesar de direitos, liberdades e garantias poderem ser restringidos sem observância de quaisquer condições). O artigo 33º da Constituição de 1933 estabelece a função social dos direitos.

· O regime corporativo – previsto no artigo 5º - é limitado pela ideia de unidade moral e bons costumes que cabe assegurar ao Estado.

. Cada cidadão não participa individualmente na organização política mas antes se verifica uma estrutura piramidal

Corporativismo

Económico Social Politico- cidadão deve integrar-se numa organização e só tem

direito de sufrágio

Assembleia nacional:

Representativa dos cidadãos

eleições por adesão/ratificação – não há livre escolha, os cidadãos apenas confirmam uma escolha já efectuada.

Camara corporativa:

Representativa das varias corporações

Presidente da republica

Eleito por sufrágio universal

As posteriores revisões modificam o sistema:

· revisão de 1951 – Conselho de Estado verifica a idoneidade moral dos Candidatos a Presidente da República.

· revisão de 1959 – eleição do Presidente da República é feita através de sufrágio indirecto e orgânico (colégio eleitoral restrito).

Órgãos do poder político:

· Presidente da República – eleito por sufrágio directo e a partir de 1959, por sufrágio indirecto.

· Governo – surge pela primeira vez como órgão autónomo

· Assembleia Nacional

Balanço:

· o surgimento do Constitucionalismo autoritário português não é estranho no contexto europeu, apenas sendo de apontar como surpreendente a longevidade e estabilidade alcançadas pelo regime;

· os direitos que são mais violentamente restringidos são os que se relacionam com a liberdade de expressão;

. quanto ao sistema político, não há um reconhecimento da oposição;

· a Câmara Corporativa acaba por funcionar como uma segunda câmara parlamentar, com extensos poderes.

Constituição de 1976:

· Apresenta algumas características que resultam do processo de elaboração:

- Constituição pós revolucionária: resulta de um processo revolucionário elaborada em tempo de ruptura entre duas legitimidades diferentes (ver Preâmbulo da Constituição).

- Constituição compromissória: o conteúdo resulta de um compromisso, de um pacto.

- Influência dos vários partidos políticos – plataforma de acordo com os partidos.

Momentos:

25 de Abril de 1974 – Revolução / Golpe de Estado 11 Março de 1975 13 Abril de 1975 – 1ª Plataforma de Acordo Constitucional

(resulta do 11 de Março) MFA/Partidos Políticos 25 Abril de 1975 – eleição da Assembleia Constituinte - era

obrigação do programa do MFA apresentado em Abril 1974 com o objectivo de elaboração da Constituição.

25 Novembro de 1975 26 Fevereiro 1976 – 2ª Plataforma de Acordo Constitucional

MFA/Partidos Políticos. 2 Abril de 1976 – aprovação da Constituição. 25 Abril de 1976 – entrada em vigor da Constituição.

Atendendo à tradição histórica, a Assembleia Constituinte tinha dois sistemas à escolha:

· parlamentar (vigente com a Constituição de 1911)

· unipessoal (vigente com a Constituição de 1933)

Não escolhe um sistema unipessoal, porque:

· quer evitar os riscos e abusos que dele advêm – regime autoritário.

· se baseou no programa do MFA e nas Plataformas de Acordo Constitucional onde se explicitava que o Presidente da República haveria de ser eleito por sufrágio directo e ainda se previa também a existência do Conselho de Revolução.

Não escolhe o regime Parlamentar, porque:

· quando esteve em vigor introduziu a instabilidade com sucessivas quedas de Governo.

· era necessária uma tradição de debate parlamentar e centragem do poder no Parlamento o que não existiu, já que a Constituição de 1933 havia suprimido as competências daquele.

Assim, os órgãos de Soberania na versão originária da Constituição de 1976, são:

Presidente da Republica Governo Concelho da revolução- competências consultivas em matéria

de dissolução da AR e de declaração de estado de sítio ou emergência

Assembleia Republica

Revisões da Constituição de 1976: 7 revisões

Revisão de 1982

- retirar em termos semânticos a carga ideológica socialista da Constituição

- fim do Conselho da Revolução: há uma necessidade de distribuição das competências

- Criação do Tribunal Constitucional

Revisão de 1989

- a organização económica muda, passando a prever-se uma economia de mercado controlada por uma intervenção estatal com limites.

- intervenção da figura do referendo. (democracia participativa)

Revisão de 1992

· adapta a Constituição de 1976 a implicações decorrentes do Tratado de Maastricht

Revisão de 1997

· altera o sistema de actos legislativos.

· alargamento da participação dos cidadãos no processo político (podem apresentar propostas de lei à Assembleia da República, propostas de referendo).

Revisão de 2001

- Resulta em grande medida da necessidade de compatibilizar a Constituição com a adesão de Portugal ao Estatuto do Tribunal Penal Internacional, sendo introduzidas ainda algumas novas regras quanto a concessão de direitos e restrição de direitos de militares, por exemplo

Revisão de 2004

- Alargamento das regiões autónomas

- Integração europeia

Revisão de 2005

- Essencialmente determinada pela vontade de permitir o referendo do Tratado Constitucional Europeu

3.1. Da constituição proclamatória à constituição paramétrica

Definimos a Constituição como um conjunto de normas e princípios consubstanciados num documento solene estabelecido pelo poder constituinte e somente modificável por processos especiais previstos no seu texto

1.1. Constituição material

Através da noção de constituição em sentido material pretende-se designar as normas fundamentais do Estado e da sociedade, independentemente das fontes formais de consagração. Isto, no reconhecimento de que existe uma reserva de constituição, entendido como conjunto de normas jurídicas respeitantes a matérias (p.e. direitos fundamentais e organização do poder político) que, pela sua dignidade material ou substantiva, deveriam fazer parte da Constituição, mas que, por uma razão ou outra, isso nem sempre acontece, pelo que há que procurar essas normas noutros diplomas jurídicos, normalmente de natureza legislativa, sem que o seu estatuto formalmente legislativo implique a degradação da sua dignidade materialmente constitucional.

1.2. Constituição formal

A Constituição em sentido formal tem o objectivo de identificar as normas às quais deve ser imediatamente reconhecida dignidade constitucional. Ela investiga quais delas foram abrangidas pela intenção constituinte, tendo sido objecto, na sua discussão e aprovação, de um procedimento constituinte. Às normas assim identificadas reconhece-se uma dignidade formal-hierárquica superior às leis ordinárias, acompanhada de uma maior dificuldade de alteração.

1.3. Constituição normativa

Através da Constituição em sentido normativo, afirmar a intenção normativamente conformadora das disposições constitucionais. Assim, esta acepção liga-se à ideia de força normativa da Constituição e de primazia da constituição. No entanto, alguma doutrina dá a esta expressão um conteúdo mais controverso, quando pretende utilizá-la para tentar identificar, dentro da Constituição, quais as disposições que têm conteúdo normativo e as que assumem uma natureza meramente proclamatória.

1.4. Constituição instrumental

Com este sentido, designa-se a constituição escrita, na sua qualidade de instrumento jurídico-normativo. A mesma pretende diferenciar a constituição do preâmbulo ou de quaisquer anexos que a mesma possa conter, bem como da legislação complementar. Este sentido tem consequências práticas, no plano da interpretação constitucional, encontrando-se intimamente ligado aos princípios da unidade da Constituição, da interpretação da constituição como único instrumento, com base numa leitura sinóptica e semanticamente unificante do seu tudo e das suas partes.

Normas material e formalmente constitucionais:

Normas materialmente constitucionais são todas as normas do estatuto jurídico do Estado, todas as que regulam o seu poder e as suas relações com a sociedade- mesmo se só algumas se identifiquem com a constituição material.

Atenção: as normas constantes da constituição formal são normas materialmente constitucionais, mas para lá delas há muitas outras podem também ser materialmente constitucionais, embora dispersas em diplomas ordinários.

A constituição formal é um conjunto de normas materialmente constitucionais porque ela serve de manifestação da constituição material que, em concreto, lhes subjaz, porque a forma não vale por si, vale enquanto se reporta a certa substância.

Há dois graus de normas substancialmente constitucionais:

Numa perspetiva sistemática, todas elas formam uma unidade;

Numa perspetiva genética, separam-se pela interposição da constituição formal.

As normas formalmente constitucionais, são também materialmente Constitucionais?

Há normas que não fazendo parte da Constituição formal, fazem parte da Constituição material?

Normalmente há um desfasamento entre o exercício de poder Constituinte material e formal, já que a Constituição formal é elaborada após uma manifestação da ideia de direito da constituição material.

Pelo que poderão existir normas formais (constitucionais) inconstitucionais – normas constitucionais do ponto de vista formal, mas que contrariam a Constituição material.

A teorização da Constituição

A teorização da constituição corresponde ao esforço de elaboração e aprofundamento do seu conceito e de equacionação das questões fundamentais da dogmática constitucional.

No essencial, ela consiste:

a) a constituição como estatuto da comunidade e do poder político, e por conseguinte, fundamento da ordem jurídica positiva mas também elemento básico de legitimidade e integração;

b) a constituição como conjunto de normas materiais e não apenas de normas procedimentais; não apenas sede de regras de jogo mas quadro institucional da vida do Estado e dentro do Estado.

c) A constituição, expressão de valores básicos quer na vertente dos direitos fundamentais, quer na vertente objetiva das estruturas políticas e sociais;

d) A constituição aberta ao pluralismo das ideias, aos conflitos de interesses a até à mutação de valores, na permanência da dignidade da pessoa humana.

e) A constituição como conjunto de normas diretamente aplicáveis, seja por via imediata, seja por via sistemática

Formação da constituição

Poder constituinte e formação da constituição

Por um lado:

a) o fator determinante da abertura de cada era constitucional é, não a aprovação de uma constituição formal mas o corte ou a contraposição frente à situação ou regime até então vigente, em nome de uma nova ideia de direito ou de um novo princípio de legitimidade;

b) existe sempre uma entidade determinante do conteúdo fundamental de uma constituição;

c) tal entidade ora pode estabelecer uma assembleia ou colégio, ou órgão com vista à elaboração da constituição formal, pra porventura, pode ser ela a decretá-la;

d) o órgão que elabora e decreta a constituição formal deve ser solidário à ideia e direito, do desígnio do projeto correspondente à inflexão e não pode contradizer esta ideia;

e) o órgão encarregado de fazer a constituição formal não goza de margem de liberdade plena- está sujeito ao limite de coerência com o princípio democrático e da sua preservação;

Mas a ideia de direito não pode deixar de ser interpretada, concretizada, convertida em regras de comportamento e de relação, ou seja, em regras que compõem a constituição formal. O poder constituinte manifesta-se no enlace de todos os atos e no conjunto de todos os órgãos que neles intervêm.

Assim:

1. O poder constituinte material antecede o poder constituinte formal porque a ideia de direito antecede à regra de Direito, o valor comanda a norma. E procede-o historicamente porque, há quase dois tempos no processo constituinte:

-o do triunfo de certa ideia de direito;

-a formação dessa ideia ou desse regime.

2. O poder constituinte material envolve o poder constituinte formal porque o poder constituinte formal complementa e especifica a ideia de Direito e é através dele que de declara e firma a legitimidade em que agora assenta a ordem constitucional. Confere assim à ideia de direito estabilidade e garantia.

I. O poder constituinte material

Poder constituinte capacidade de escolher entre um ou outro rumo, em circunstâncias de viragem e transformação histórica, sendo necessária a transformação da estrutura do Estado, a sua restauração, etc. E nele consiste o conteúdo essencial da soberania (faculdade originária de livre regência da comunidade política mediante a instituição de um poder e a definição do seu estatuto jurídico).

O poder constituinte pode então surgir em caso de:

· momento de criação do Estado;

· transformação do Estado;

· mudança de regime do Estado;

· a vida estadual ter alterações que o justifique;

· transição constitucional.

Limites materiais do poder constituinte

O poder constituinte é anterior e superior aos poderes ditos constituídos- legislativo, executivo e judicial.

Poderes constituídos= a constituição, obra do poder constituinte, enquadra-os e define-os, quer formal, quer materialmente: eles não podem ser exercidos senão no âmbito da constituição.

MAS o poder constituinte não é um poder absoluto, estando por isso sujeito a determinados limites.

Há que distinguir assim três categorias de limites materiais do poder constituinte:

Limites transcendentes: dirigem-se ao poder constituinte material e, em virtude deste, ao poder constituinte formal; impõe-se à vontade do Estado e demarcam a sua esfera de intervenção, através de imperativos de direito natural, de valores éticos superiores, de uma consciência jurídica coletiva (ex.: dignidade da pessoa humana). Seria inválido ou ilegítimo decretar normas constitucionais que gravemente os ofendessem. A CRP consagra mesmo direitos que não podem ser suspensos em caso de estado de sítio ou estado de emergência.

Limites imanentes: dirigem-se ao poder constituinte formal. São limites ligados à configuração do Estado à luz do poder constituinte material ou à própria identidade de Estado. Compreende limites que se reportam à soberania do Estado e que devem ser respeitados pelo poder constituinte formal.

Limites heterónomos: dirigem-se tanto a um como outro. São limites provenientes da conjugação com outros ordenamentos jurídicos e referem-se a princípios, regras ou atos de direito internacional, donde resultam obrigações para todos os estados ou só para certo estado. Mas reporta-se também a princípios e regras de direito interno, quando o Estado seja composto ou complexo. Destacam-se:

Limites heterónomos de direito internacional, com carácter geral. Ex.: princípios de ius cogens.

Limites heterónomos de direito internacional, com carácter especial. Correspondem a limitações do conteúdo da Constituição por virtude de deveres assumidos por um estado com outros ou outros estados ou para com a comunidade internacional no seu conjunto. Ex.: garantias de direitos de minorias nacionais e linguísticas.

-limites heterónomos de direito interno: limites recíprocos, em união federativa, entre poder constituinte federal e poderes constituintes dos estados federados. Os estados federais devem subordinar-se aos imperativos da sua agregação na união federativa e deve a sua participação nos órgãos do estado federal estar assegurada.

Poder constituinte:

material – poder do Estado de se auto- dotar de uma Constituição

formal – para além da institucionalização do Estado, consegue um estatuto jurídico específico e cristaliza-o na forma escrita para um determinado tempo

Vicissitudes constitucionais

Este mesmo poder constituinte tem depois relevância, em termos já não originários mas derivados, no plano das vicissitudes constitucionais:

Vicissitudes constitucionais quaisquer eventos que se projectam sobre a subsistência da constituição ou de algumas das suas normas. Reportam-se a cinco grandes critérios:

Quanto ao modo (forma como se exerce o poder ou se representa a vontade constitucional)

Expressa Quando o evento constitucional se produz como resultado de ato a ele especificamente dirigido

A revisão constitucional; A derrogação constitucional;

A revolução; Ruptura não revolucionária

Transição constitucional

Tácitas Quando o evento é um resultado indireto, uma consequência que se extrai a posteriori

Suspensão (parcial) da constituição Costume constitucional

Interpretação evolutiva da Constituição Revisão indirecta

Quanto ao objeto (quanto às normas constitucionais que são afetadas),

Totais Quando atingem a constituição como um todo (normas ou princípios fundamentais

Revolução Transição constitucional

Parciais , Quando atinjam apenas parte da constituição e nunca os princípios definidores da ideia de Direito que a caracteriza (modifica apenas)

Todas menos a revolução e a transição constitucional.

Quanto ao alcance (situações da vida e destinatários das normas constitucionais)

alcance geral e abstracto

Todas, menos a derrogação constitucional

alcance individual concreto ou excepcional

Derrogação constitucional

Quanto às consequências sobre a ordem constitucional

Na evolução constitucional

Todas, menos a revolução e a ruptura não revolucionária.

Com ruptura (alterações constitucionais)

Revolução Ruptura não Revolucionária

Quanto à duração dos seus efeitos

De efeitos definitivos

Todas, menos a suspensão (parcial) da Constituição

De efeitos temporários

Suspensão (parcial) da Constituição

Resumo:

As vicissitudes tácitas são necessariamente parciais

As vicissitudes constitucionais expressas constituem a grande maioria, podendo ser totais ou parciais

Diversas espécies de vicissitudes constitucionais:

1. A revisão constitucional;

- É a modificação da constituição expressa parcial, de alcance geral e abstrato e a que traduz mais imediatamente um princípio de continuidade institucional. Há uma eliminação das suas normas e adição de novo elementos que a revitalizam. É a modificação da constituição nos termos nela própria expressos.

1. A derrogação constitucional;

- Aproxima-se da revisão constitucional na medida em que opera através de um processo em tudo idêntico ao da revisão mas diverge no resultado: a edição de uma norma geral e concreta e de uma pretensa individual, de jus singulare. A derrogação determina uma excepção, temporária ou pretensamente definitiva, em face do princípio ou da regra constitucional. Se a derrogação afeta um princípio fundamental da constituição cabe ainda distinguir se a derrogação é originária, sendo que as mesmas levantam problemas de legitimidade ou de justiça material, ou superveniente (sendo que estas levantam problemas de inconstitucionalidade.

2. O costume constitucional;

3. A interpretação evolutiva da Constituição;

- Compreendem as que são trazidas pelo costume constitucional prater e contra legem, e depois as que resultam da revisão indireta ou da interpretação evolutiva da constituição. A interpretação deve ser objectivista e evolutiva. E a revisão indirecta, por seu turno, resulta de uma interpretação sistemática em face de uma nova norma constitucional ou da alteração ou eliminação de uma norma preexistente.

4. A revisão indireta;

5. A revolução;

6. A ruptura não revolucionaria;

7. A transição constitucional;

- É a passagem de uma constituição material a outra, com observância das formas constitucionais, sem ruptura. Muda a constituição material, mas permanece a constituição instrumental e, eventualmente, a formal. Pode dar-se por processo de revisão de preceitos constitucionais expressos ou pode resultar de um processo geral de revisão constitucional, para remoção dos princípios fundamentais ou substituição do regime político e se arredam limites materiais, explícitos ou implícitos, equivalentes a tais princípios. Pode-se também falar em desenvolvimento constitucional, por quando uma constituição se desenvolve através da sobreposição de mecanismos de garantia e de revisão, sob o influxo da realidade constitucional.

8. Suspensão parcial da constituição.

- É somente a não vigência da constituição durante certo tempo, decretada por causa de certas circunstâncias, de algumas normas constitucionais. Em Portugal, vigora um princípio de proibição da suspensão, mesmo em estado de sítio ou de emergência

Fontes das normais constitucionais (por todos os costumes)

Fontes de direito= modos de criação ou de revelação de normas jurídicas, e reconduzem-se, no essencial, no direito interno, a lei, jurisprudência e costume.

No sistema constitucional de qualquer país, aparecem normas vindas de lei, de costume, e de jurisprudência.

-O costume constitucional

A constituição em sentido formal nasce de um ato jurídico, do ato constituinte. O problema surge relativamente à criação superveniente de normas constitucionais, com a projeção do costume sobre normas constitucionais produzidas através desse ato constituinte formal ou através de eventuais atos de revisão constitucional- está aqui em causa o costume contra legem.

O Prof. Jorge Miranda defende que não pode banir-se o costume do direito constitucional, nem recusar-lhe virtualidade de ação. Ainda assim, possui um relevo secundário, não porque o proíba a constituição em sentido formal mas porque a vocação desta vem a ser a de regular a totalidade das relações políticas e apenas onde ela não chega pode entrar o costume. Há uma primazia da normatividade constitucional, mas não a sua exclusividade

As normas criadas por costume tornam-se normas constitucionais pela sua específica referência às normas da constituição formal, sendo que há um só ordenamento centrado na constituição formal. Para concluir:

As normas consuetudinárias possuem valor supra- legislativo e só podem ser substituídas ou por lei constitucional ou por costume constitucional;

Vêm a ser susceptíveis de garantia através de mecanismos de fiscalização, sendo que a sua violação implica inconstitucionalidade;

Se houver leis ordinárias anteriores de sentido discrepante, elas ficarão revogadas ou tidas por inconstitucionais supervenientemente.

Rigidez e flexibilidade constitucionais

Constituição rígida= é aquela que para ser revista, exige a observância de uma forma particular distinta da forma seguida para a elaboração das leis ordinárias. É o caso das constituições portuguesas. As constituições rígidas são limitativas, porque ultrapassam as leis e prevalecem sobre as suas estatuições. Distingue-se a constituição das leis ordinárias pela forma, mais solene e pelo ato ou conjunto de atos em que se traduz a necessidade da sua garantia: a revisão constitucional.

Constituição flexível= aquela em que são idênticas o processo legislativo e o processo de revisão constitucional, aquela em que a forma é a mesma para a lei ordinária e para a lei de revisão constitucional. A constituição flexível vem a denominar-se constituição, visto que regula matéria constitucional e regulamenta o poder político mas as leis ficam-lhe logicamente subordinadas

Pagina 37 do resumo

85 pdf

A revisão constitucional e o seu processo

-A diversidade de formas da revisão constitucional

Nenhuma Constituição deixa de regular a sua revisão, expressa ou tacitamente. Em geral, regula-a expressamente em moldes de rigidez ou em moldes de flexibilidade.

Como mais importantes critérios de contraposição, além da diferenciação ou não do processo frente ao processo legislativo, podem indicar-se

- a forma de Estado,

- a paridade ou não de princípios e de formas em relação ao processo constituinte (originário),

- a natureza do sistema político

- a opção entre o princípio representativo e a democracia semidirecta

- a revisão por assembleia comum ou por assembleia especial.

E ainda:

Estado unitário, só um aparelho de órgãos estaduais existe Em Estado composto, a revisão implica uma colaboração entre

os seus órgãos próprios e os dos Estados componentes, os quais possuem direito de ratificação ou de veto quanto às modificações a introduzir na constituição.

Porque a democracia moderna é essencialmente representativa, a revisão é quase sempre obra de um órgão representativo. E quando se submete a revisão a referendo, fazendo assim avultar um elemento da democracia semidirecta, trata-se também quase sempre, de sanção, ratificação ou veto resolutivo sobre um texto previamente votado em assembleia representativa.

Na grande maioria dos países, a revisão pode dar-se a todo o tempos, mas há Constituições que só admitem a sua alteração de tantos em tantos anos, ou que antes de decorrido certo prazo.

As regras do processo de revisão na Constituição de 1976

• A abertura do processo requer, em revisão ordinária, um ato de iniciativa, a apresentação de um projecto de revisão. O decurso de cinco anos sobre a data de publicação da última lei de revisão ordinária e a deliberação, antes desse prazo, da assembleia por maioria de quatro quintos dos deputados em efectividade de funções não determinam o ato de iniciativa.

• A iniciativa pertence apenas aos deputados, individual ou colectivamente, ao contrário do que sucede quanto à iniciativa legislativa, que se destina a reforçar a reserva absoluta da AR no domínio da revisão constitucional.

• Não são admitidos projetos que não definam concretamente o sentido das modificações a introduzir na CRP.

• Não podem ser admitidos projetos de revisão ou propostas de alteração que desrespeitem limites materiais da revisão constitucional, pois estes correspondem a princípios consignados na CRP.

• Apresentado um projeto de revisão, quaisquer outros terão de ser apresentados no prazo de trinta dias.

• Até ao termo da discussão, podem ser apresentados por quaisquer deputados propostas de alteração aos projetos de revisão

ou aos textos de substituição, mas apenas relativamente a preceitos constitucionais contemplados nos projetos de revisão.

• A discussão dos projetos e a sua votação fazem-se sempre na especialidade e só na especialidade e tal votação na especialidade dá-se no plenário, nunca em comissão.

• As alterações da CRP que forem aprovadas serão reunidas num único decreto de revisão e serão inscritas no lugar próprio da CRP, mediante substituições, supressões e aditamentos necessários.

• A lei de revisão é promulgada pelo PR como lei constitucional e o PR não pode recusar a promulgação da lei de revisão. Isto decorre, primeiro, da atribuição exclusiva ao Parlamento do poder de revisão e, depois, do regime das alterações.

• A revisão constitucional não está sujeita a fiscalização preventiva da constitucionalidade mas sim a fiscalização sucessiva.

• A CRP não fiz um prazo de promulgação mas não pode-se admitir a imposição da promulgação imediata nem a possibilidade de o PR a diferir. A lacuna deve ser suprida com recurso ao art. 136º, nº2, 2º parte, sendo que o prazo nas leis ordinárias após veto político é de 8 dias;

• A Constituição, no seu novo texto, é publicada conjuntamente com a lei de revisão.

• Não pode ser praticado nenhum ato de revisão na vigência do estado de sítio ou estado de emergência.

• Tendo sido já aprovadas alterações à Constituição, estas podem ser, desde logo, inseridas em lei de revisão- por as alterações à constituição serem- no sempre na especialidade. Quanto às alterações ainda não aprovadas e quanto à assunção de poderes de revisão não seguida da aprovação de qualquer alteração, verifica-se caducidade (isto na hipótese de dissolução da AR pelo PR).

Revisão:

Ordinária – basta um deputado ter iniciativa para começar; 2/3 para a aprovação. Artigo 284 nº1

Extraordinária – 4/5 para início do processo; 2/3 para a aprovação. Artigo 284 nº2

Iniciativa de revisão:

Artigo 285º, n.º 1 – limite de iniciativa (Deputados).

Artigo 285º, n.º 2 – princípio da condensação.

Artigo 286º, n.º 1 / n.º 3 – limite maioria / formal

O Presidente da República quando perante um diploma ordinário pode:

Promulgar Vetar Enviar para o P.R

(artigo 136º CRP)

Mas quanto à revisão, apenas pode promulgar – Artigo 286º, n.º 3.

- não se refere prazo para promulgação, mas Jorge Miranda defende aplicação de prazo do artigo 136º por analogia.

- se o que chegar ao Presidente da República como sendo lei de revisão Constitucional, não o for verdadeiramente, este órgão terá poder de veto

(posição defendida por Jorge Miranda e por Galvão Telles).

· Limites circunstanciais – Artigo 289º

- A Constituição não pode ser revista durante a vigência de estado de sítio ou de emergência

· Limites materiais – Artigo 288º

PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO ESTADO DE DIREITO

- Principio da dignidade da pessoa humana- artigo 1º CRP

A dignidade da pessoa humana é a base ou fundamento do Estado português, da sua organização política, como claramente resultado do artigo 1º da Constituição, com a epígrafe “República Portuguesa”

A dignidade da pessoa não é uma realidade abstracta e a priori nem funciona como abstracção da realidade, como algo que corresponde a um ideal de homem ou mulher. Pelo contrário. A dignidade da pessoa humana é uma realidade que só no concreto é perceptível, porque é na natureza irredutível, insubstituível e irrepetível de cada homem ou mulher, que a dignidade humana ganha sentido.

A dignidade da pessoa humana é entendida como o conceito-chave do sistema político.

O que vem de dizer-se tem o sentido de conferir a uma multiplicidade de acções uma unidade, que se configura, num primeiro momento, em redor dos direitos pessoais – direito à vida (art. 24º), direito à integridade física (art. 25º)... –,

num segundo momento, em redor dos direitos políticos – direito de sufrágio (art. 49º), direito de petição (art. 52º) –, num terceiro momento, em redor dos direitos sociais, económicos e culturais – direitos dos trabalhadores (art. 59º ), direito à saúde (art. 64º), direito ao ensino… – ,

num quarto momento, em redor dos direitos de qualidade – direito do ambiente (art. 66º), direito à qualidade de vida urbana (art. 65º)….

Por outras palavras, a dignidade humana não é só, como vimos antes, fundamento do sistema organizatório do Estado. É também a referência, por excelência, da sua acção e da acção relacional de toda a comunidade, através dos direitos fundamentais de que é alimento.