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Constitucionalismo e as Constituições Brasileiras MÓDULO I – CONSTITUCIONALISMO E AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS MÓDULO I – Constitucionalismo e as Constituições Brasileiras Ao final deste módulo, em relação ao Direito Constitucional, o aluno deverá ser capaz de: Diferenciar a travessia histórica por que passou; Identificar a origem e a evolução de seu conceito; Relatar as experiências constitucionais brasileiras. Unidade 1 – Conhecendo o Direito Constitucional: definição, origem e evolução Nesta unidade, será estudada a definição de Direito Constitucional e sua evolução no tempo. Para isso, será oferecida a definição tradicional da disciplina e sua confrontação com ideias contemporâneas, como a doutrina do neoconstitucionalismo e do transconstitucionalismo. - Direito Constitucional: definição, origem e evolução Vamos começar nosso curso a partir da própria definição do tema. Tradicionalmente, costuma-se dizer que o Direito

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Constitucionalismo e as Constituies BrasileirasMDULO I CONSTITUCIONALISMO E AS CONSTITUIES B!ASILEI!ASMDULO I Constitucionalismo e as Constituies BrasileirasAo final deste mdulo, em relao ao Direito Constitucional, o aluno dever ser capaz de:Diferenciar a travessia histrica por que passou; Identificar a oriem e a evoluo de seu conceito;!elatar as e"peri#ncias constitucionais $rasileiras%Uni"a"e # Con$ecen"o o Direito Constitucional% "e&ini'o( ori)em e e*olu'o &esta unidade, ser estudada a definio de Direito Constitucional e sua evoluo no tempo% 'ara isso, ser oferecida a definio tradicional da disciplina e sua confrontao com ideias contempor(neas, como a doutrina do neoconstitucionalismo e do transconstitucionalismo%+ Direito Constitucional% "e&ini'o( ori)em e e*olu'o )amos comear nosso curso a partir da prpria definio do tema%*radicionalmente, costuma+se dizer que o Direito Constitucional, oramo do direito p-$lico que tem por o$.eto de estudo as normas daConstituio de um /stado% Dessa maneira, , a parte do direito que analisa, sistematiza einterpreta as normas fundamentais de certo pa0s% / a Constituio , odocumento que conrea tais normas, esta$elecendo os princ0pios eas reras que oranizam o funcionamento do /stado e delimitam asarantias e os direitos do cidado% /m resumo, o Direito Constitucional , a disciplina que se dedica aodireito fundamental de uma sociedade% /ssa definio ainda , satisfatria nos dias atuais1 Isto ,: podemosdizer queoDireito sedivideemdois randes ramos, p-$licoeprivado, e que o Direito Constitucional pertence 2quele primeiroramo, isoladamente1 /ssa clssica diviso do direito, ora atri$u0da aos romanos, oraassociadaao.uristafranc#s3eanDomat, en"eravaumadistinoentre leis civis e leis p-$licas% /stas cuidavam dos assuntos estatais,enquantoaquelastratavamdemat,riasdavidaprivada, comoasreras contratuais, a capacidade civil e o direito de fam0lia% 4 DireitoCivil era a 5Constituio 'rivada6, e reulava a vida do indiv0duo so$ oponto de vista de seu patrim7nio% + Mu"anas sociais ,ue re&letiram no -ensamento .ur/"ico&o entanto, recentemente, passamos por mudanas sociais querefletiram diretamente no pensamento .ur0dico% A crise do chamado5li$eralismodemercado6, nitidamentee"cludente, fez comqueo/stado marcasse maior presena nas quest8es individuais% 4 DireitoCivil, por sua vez, no poderia seimportar apenas como ladopatrimonial do indiv0duo% /ra preciso que ele se mostrasse h$il pararealizar os5valoresdapessoahumanacomotitular deinteressese"istenciais6% AsConstitui8es5p-$licas6,outroradedicadassomenteaassuntosestatais, passarama influenciar a vida cotidiana das pessoas,conformandovaloreseprinc0pios, comoodadinidadedapessoahumana, que contaiaram o Direito Civil% )ivenciamos a5pu$licizao6 do Direito Civil% Dessa forma, ao mesmo tempo em que houve constitucionalizao dedireitos, houvetam$,msuperaodadicotomia5p-$lico+privado6,que reinava no s,culo 9I9% /nto, como podemos compreender o Direito Constitucionalatualmente1 + Direito Constitucional% antes e "e-ois:evando+seem contaesse novoquadro.ur0dicoesocial, queserdetalhado mais adiante, o Direito Constitucional ocupa, ho.e, o centrodo ordenamento .ur0dico, e o influencia por completo, tanto na esferaprivada quanto na p-$lica% /le , filtro de todo o sistema .ur0dico etem, noprinc0piodadinidadedapessoa humana, oseuprincipalvalor% Alocao do Direito Constitucional a; )Ias esse princ0pio deve ser seuido narelao particular+particular1 'or e"emplo, uma empresa deve seuiro princ0pio da iualdade na hora da contratao ou da demisso deum empreado1 4 ana de JLJF, tam$,m denominada 5Cartado!ei 3oosem*erra6,foi orandemarcodoconstitucionalismomedieval inl#s% 4utros documentos tam$,m tiveram suaimport(ncia, como o 5'etition of !ihts6, de JKLI; o 5Ca$eas CorpusAct6, de JKST; o 5Rill of !ihts6, de JKIT; e o 5Act of ana deJLJF,'etitionof!ihts,Rill of!ihts,Ca$easCorpusAct,@undamental 4rdersofConnecticut%$onstit)cionalismoModernoDeclaraoQniversaldosDireitosdoComemde JSIT,ConstituioAmericanade JSIT,Constituio@rancesade JSTJ%$onstit)cionalismoSocial -s.c/ 00)Constituio>e"icanade JTJS eConstituio deWeimarde JTJT%%o,o ireito$onstit)cional 1%eoconstit)cionalismoConstitui8es dops+uerra%Destaques: :ei@undamental deRonn deJTMTEAlemanha; e aConstituio daItlia deJTMS% &oRrasil,Constituio deJTII%ireito$onstit)cionalAl.m das2ronteiras 1&ransconstit)cionalismoCaso da'rincesade>7naco,que tevefotos0ntimaspu$licadasnainternet%4 quedeveprevalecer: o direitofundamental dali$erdadedeimprensaou o daintimidade1'ortanto, vemos que o Direito Constitucional vem se transformandono decorrer dos tempos% /, nos dias atuais, coloca+seumnovopro$lema a ser enfrentado por essa ci#ncia .ur0dica: como resolveruma determinada questo que envolve mais de uma esferaconstitucional1 4u melhor: o que fazer quando dois ros nohierrquicos enfrentam um pro$lema com fundamento constitucionale que ultrapassa os interesses de um pa0s1 'ara ilustrar, trazemos a lio do professor >arcelo &eves, quedesenvolveu a ideia do 5transconstitucionalismo6% Conforme palavrasdele: 5o transconstitucionalismo , o entrelaamento de ordens.ur0dicas diversas, tanto estatais como transnacionais, internacionaise supranacionais, emtorno dos mesmos pro$lemas de naturezaconstitucional%6 E0em-los e conclus'o "a uni"a"e #Dentre os vrios e"emplos ofertados na tese de >arcelo &eves,podemoscitar odaprincesaCarolinede>7naco, quetevefotos0ntimas pu$licadas por paparazzi na imprensa alem% /la entrou comprocesso.udicial, eaCorteConstitucional Alemdecidiuque, emcasos como o dela, em que a pessoa , socialmente proeminente, nohquesefalaremdireito2privacidade% /larecorreuao*ri$unal/uropeu de Direitos Cumanos, que, em deciso contrria, defendeuhaver direito 2 privacidade, mesmo emse tratando de pessoasp-$licas, como Caroline de >7naco, no se aplicando, aqui, ali$erdade de imprensa%Xual decisodeveprevalecer1>arcelo&evesdefendequenosedeve impor uma ou outra deciso, mesmo porque esses ros nopossuem rau de hierarquia entre eles% Deve+se $uscar a orientaosocialmente mais adequada% V preciso que ha.a um diloo entre asCortes Constitucionais para se definir o caminho a ser tomado%'araencerrarestaunidade, ve.amaisalunse"emploseconheamais um pouco deste tema assistindo 2 seuinte entrevista dada peloprofessor, que a$orda, tam$,m, os assuntos da ponderao deprinc0pios e do controle do 3udicirio:3/"eo #453/"eo 6453/"eo 545 Uni"a"e 6 A Constitui'o Im-erial "e #768 e a Constitui'o !e-u9licana "e #7:#A seunda unidade do >dulo I ter a histria como pano de fundo a fim de demonstrar como, e so$ qual paradima, um determinado diploma constitucional , ela$orado% Aqui, as Constitui8esde JILM e JITJ sero analisadas e suas caracter0sticas mais relevantes destacadas%+ Intro"u'o&as pr"imas duas unidades, falaremos das e"peri#ncias constitucionais $rasileiras% A$ordaremos, $revemente, o conte"to histrico de criao de cada Constituio e suas principais caracter0sticas% *am$,m forneceremos os dados necessrios para que o aluno possacompreender o que se passou comcada diploma constitucionalptrio%Alertamos que este assunto , e"tenso e profundo% 'or isso, estecursonoesotarotema% &averdade, temos ointeresse de despertar a curiosidade do estudante para que ele possa,posteriormente, $uscar mais informa8es e realizar novas pesquisas%Introduzido o assunto, siamos% + Constituies 9rasileiras O 3rasil te,e sete constit)i45es6 a saber:Constituio Imperial de JILM Ea primeira do Rrasil;Constituio de JITJ Einauurou a !ep-$lica;Constituio de JTNM Ep7s fim 2 !ep-$lica )elha;Constituio de JTNS Ein0cio do /stado &ovo, de Oet-lio )aras;Constituio de JTMK Eredemocratizou o pa0s;Constituio de JTKS Eemendada pela /C nG% JHKT, viorou na Ditadura >ilitar;Constituio de JTII E5Constituio Cidad6, trou"e de volta o /stado Democrtico;Apesar de aluns .uristas considerarem a /C nG% JHKT como mais umacartaconstitucional $rasileira, analisaremosseute"toemcon.untocom a Constituio de JTKS% !econhecemos o carter 5revolucionrio6do diploma e trataremos desse tpico na Qnidade M%uitas coisas mudaram com a cheada da corte portuuesa% @undou+se o Ranco do Rrasil, criaram+se a Ri$lioteca !eal, o 3ardim Rot(nico,a Academia !eal >ilitar e duas escolas de >edicina, uma na Rahia eoutra no !io de 3aneiro, dentre outras institui8es% Al,m disso, foi assinado o Decreto de A$ertura dos 'ortos 2s &a8esAmias, em cumprimento ao apoio dado pelos inleses aosportuueses naviaemat,oRrasil% /lemarcouofimdopactocolonial e trou"e vrios privil,ios aos $rit(nicos, que poderiamneociar diretamente como Rrasil, semter que passar pelasalf(ndeas de 'ortual% + Constitui'o "a Man"ioca Com a derrota de &apoleo e o crescente poderio $rit(nico so$re osportuueses, deu+sein0cio, emJILU, 2!evoluodo'orto% /ssemovimento reivindicava a volta da @am0lia !ealpara resta$elecer acolonizao das terras $rasileiras e e"pulsar os inleses do controlemilitar% Assim, D% 3oo )I retorna a 'ortual, mas dei"a no Rrasil seu filho, D%'edro de Alc(ntara, na condio de 'r0ncipe !eente% andioca%7or 8)e $onstit)i49o da Mandioca:@oi em virtude desse pro.eto que a Assem$leia &acional Constituinte foi dissolvida pelo Imperador D% 'edro I%/le previa o voto indireto e censitrio, levando+se em considerao a quantidade de terras cultivadas com mandioca% 'aralelamente, para ser eleito, tam$,m era necessrio ser proprietrio de rande quantidade deterras com plantio de mandioca%

+ Assem9leia Nacional ConstituinteQma vez que a maioria dos proprietrios de terra era $rasileira, osportuueses seriam e"clu0dos do poder, tanto como eleitores quantocomo representantes% )endo essa .oada .ur0dica dos li$erais, oimperador dissolveu a Assem$leia Eesse episdio ficou conhecidocomo 5&oite da Aonia6, que aconteceu do dia JJ para o dia JL denovem$ro de JILN; e nomeou somente portuueses para rediir aConstituio, queseriaimpostaououtoradaemLFdemarodeJILM%$li8)ea8)i para sa$er o que foi a A&oite da AoniaACom a outora da Constituio, passamos a ser uma monarquia hereditria, cu.o Imperador e Defensor 'erp,tuo do Rrasil era D% 'edro I%+ ;ro*/nciasAs capitanias hereditrias foram transformadas em prov0ncias, as quais eram administradas por presidentes nomeados pelo Imperador% /las interavam os /stados Qnidos do Rrasil, cu.a capital era a cidadedo !io de 3aneiro% @oram os em$ri8es das atuais unidades da @ederao% &osso /stado detinha a forma unitria, ou se.a, o poder eracentralizado em um -nico ro, a Coroa, no havendo autonomiapol0tica das prov0ncias% /ssa condio s foi modificada comaConstituio de JITJ, quando se adotou o federalismo% Couve uma tentativa de derru$ar esse unitarismo, durante a!e#ncia *rina 'ermanente EJINJ+JINF;, per0odo em que D% 'edro Ia$dica do trono, dei"ando D% 'edro II, ainda menor, no poder% A :einG% JKdeJINM, tam$,mchamadadeAtoAdicional, modificandonormas da Constituio, criou as Assem$leias :eislativas 'rovinciais,dando a elas certa autonomia%&o entanto, essa tentativa no foi $emsucedida, tendo sidototalmente e"tirpada com a :ei nG% JUF de JIMU, que interpretou asmodifica8es trazidas pela:ei JKHJINM% Alis, areferidalei ficouconhecida como 5:ei de Interpretao6%+ !e*oltas sociais>esmo assim, as revoltas sociais eclodiamemvrias partes doterritrionacional, tendocomopontocomumodescontentamentocom o poder central% oderador, aolado daqueles tr#s% /le era a 5chave6 de todo o comple"o pol0tico e asseurava ao Imperador o controle dos demais poderes% /stava reulado nos arts% TI, TT, JUU e JUJ% )e.a o que diz, com arafia da ,poca, o art% TI:"O Poder Moderador a chave de toda a organizao Poltica, e delegado privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da ao, e !eu Primeiro "epre!entante, para #ue ince!!antemente vele !o$re a manuteno da Independ%ncia, e#uil$rio, e harmonia do! demai! Podere! Poltico!&"Ao lado desse centralismo pol0tico, o Imperador era considerado umapessoa sarada e inviolvel% )iia a teoria da irresponsa$ilidade totaldo /stado: 5o reino erra6 Ethe 'ing can do no (rong;% 4 art% TTassim o dizia:)* Pe!!oa do Imperador inviol+vel, e Sagrada, -lenoe!t+!u.eitoare!pon!a$ilidadealguma&//ssaideiamarcouoa$solutismo europeu at, o s,culo 9)III e ainda perdurou no Rrasilat, a proclamao da !ep-$lica, em JIIT%

+ Direitos arechalDeodoroda@onseca, emJFdenovem$rodeJIIT, por meiodoDecreto nG%J% /ssedecretofoi rediidopeloconhecido .urista!uiRar$osa e previu um Ooverno 'rovisrio com o o$.etivo de consolidaro reime e ela$orar a nova Constituio, a qual seria promulada emLM defevereirodeJITJ% Va primeiraconstituiopromuladadanossa histria, marcando o fim do a$solutismo monrquico% /m$ora o Decreto nG% J de JIIT . tivesse reunido as prov0ncias so$acondiode5/stados Qnidos doRrasil6, aformafederativafoiconstitucionalizadaemJITJ% Acapital eraoDistrito@ederal, comsede na cidade do !io de 3aneiro% V aqui que sure a ideia de se levara capital do pa0s para o planalto central% 4 art% NG assimodisp7s: )*rt& 01 2 3ica pertencendo 4 5nio, no planalto centralda"ep6$lica, umazonade78&899#uil:metro!#uadrado!, #ue!er+oportunamente demarcada para nela e!ta$eIecer2!e a futura Capitalfederal/& A partir da C@HJITJ, dei"amos de ser um /stado unitriocentralizado% 4s estados federados passaram a ter autonomia paraleislar e administrar seus territrios% Aluns at, adotaram o$icameralismo, como foi o caso de e a Constitui'o Democr?tica "e #:8@ A terceira unidade do >dulo I ter a histria como pano de fundo a fim de demonstrar como, e so$ qual paradima, um determinado diploma constitucional , ela$orado% + Constitui'o "e #:58As e*perincias constit)cionais brasileiras 1 A $onstit)i49o de@6 a $arta de A e a $onstit)i49o emocrBtica de