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Casa Eficiente, projeto do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações da Universidade Federal de Santa Catarina: tecnologias de condicionamento de ar, aquecimento de água e iluminação Construções eficientes Tecnologias não asseguram uma gestão adequada da água e energia. É preciso projetar para economizar Édifícil dizer se os primeiros passos foram dados por consciência ecológica, obrigação legal, estratégia de marketing ou inspiração estrangeira. Mas o fato é que, no Brasil, medidas para aumentar a eficiência energética e promover o uso racional da água estão, aos poucos, modificando a prancheta dos projetistas e aumentando o volume de adaptações em edifícios existentes. Na Europa e nos Estados Unidos, principalmente, construir visando otimizar o consumo de água e energia não é novidade desde a década de 1970, quando surgiu o conceito de green building.Na época, a escalada do preço do petróleo levou o setor da construção a investir em tecnologias que aumentavam o desempenho ambiental das construções, muitas vezes estimulado por programas de incentivo governamental. Aqui no Brasil a pressão por soluções sustentáveis é bem mais recente, mas já está afetando o mercado. Basta notar que a demanda parte, ao mesmo tempo, do governo (que vem criando políticas nacionais), dos consumidores, interessados no tema pela possibilidade de reduzir os gastos com água e energia, de grupos ambientalistas que pedem saídas menos agressivas à natureza, de investidores estrangeiros, cada vez mais exigentes em relação à responsabilidade social e ambiental das empresas onde injetam recursos, e de legisladores que tentam, por meio de leis, impor medidas de incorporação dessas novidades. Segundo o LabEEE (Laboratório de Eficiência Energética em Edificações) da Universidade Federal de Santa Catarina, a expressão "eficiência energética" consiste em reduzir o consumo de energia em construções novas e existentes, por meio da implantação de tecnologias de iluminação, condicionamento de ar e isolamento térmico, sem acarretar queda nos níveis de conforto. Usar de forma racional a água, por sua vez, implica dispor de um conjunto de ações que otimizam o uso da água em todos os pontos de consumo. "O uso racional passa pela gestão da demanda do recurso e vai desde o combate ao desperdício até a Page 1 of 12 Revista Téchne 31/8/2010 http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/111/imprime22896.asp

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Casa Eficiente, projeto do Laboratório

de Eficiência Energética em Edificações

da Universidade Federal de Santa

Catarina: tecnologias de

condicionamento de ar, aquecimento

de água e iluminação

Construções eficientes

Tecnologias não asseguram uma gestão adequada da água e energia. É preciso projetar para economizar

Édifícil dizer se os primeiros passos foram dados por consciência ecológica, obrigação legal, estratégia de marketing ou inspiração estrangeira.

Mas o fato é que, no Brasil, medidas para aumentar a eficiência energética e promover o uso racional da água estão, aos poucos, modificando a prancheta dos projetistas e aumentando o volume de adaptações em edifícios existentes.

Na Europa e nos Estados Unidos, principalmente, construir visando otimizar o consumo de água e energia não é novidade desde a década de 1970, quando surgiu o conceito de green building.Na época, a escalada do preço do petróleo levou o setor da construção a investir em tecnologias que aumentavam o desempenho ambiental das construções, muitas vezes estimulado por programas de incentivo governamental.

Aqui no Brasil a pressão por soluções sustentáveis é bem mais recente, mas já está afetando o mercado. Basta notar que a demanda parte, ao mesmo tempo, do governo (que vem criando políticas nacionais), dos consumidores, interessados no tema pela possibilidade de reduzir os gastos com água e energia, de grupos ambientalistas que pedem saídas menos agressivas à natureza, de investidores estrangeiros, cada vez mais exigentes em relação à responsabilidade social e ambiental das empresas onde injetam recursos, e de legisladores que tentam, por meio de leis, impor medidas de incorporação dessas novidades.

Segundo o LabEEE (Laboratório de Eficiência Energética em Edificações) da Universidade Federal de Santa Catarina, a expressão "eficiência energética"

consiste em reduzir o consumo de energia em construções novas e existentes, por meio da implantação de tecnologias de iluminação, condicionamento de ar e isolamento térmico, sem acarretar queda nos níveis de conforto. Usar de forma

racional a água, por sua vez, implica dispor de um conjunto de ações que otimizam o uso da água em todos os pontos de consumo. "O uso racional passa pela gestão da demanda do recurso e vai desde o combate ao desperdício até a

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substituição de equipamentos por modelos economizadores", explica o professor doutor da Poli-USP Orestes Marraccini Gonçalves, coordenador do

Pura-USP (Programa de Uso Racional da Água), da Universidade de São Paulo.

Uma das primeiras construtoras a adotar tecnologias sustentáveis foi a Setin. Em São Paulo, a empresa está construindo dez torres residenciais com sistema de aquecimento de água por energia solar, que promete reduzir em até 82% o consumo de energia elétrica. O projeto também inclui o reúso da água dos chuveiros e dos lavatórios (após tratamento feito no local) nas bacias sanitárias. "Com esse reaproveitamento, esperamos uma redução de 35% do consumo de água potável no prédio", diz Lucy Mari Tsunematsu,gerente de projetos da Setin.

Também pioneira,a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) entregou no ano passado um conjunto de 268 apartamentos com hidrômetros eletrônicos individuais que diminuem os gastos dos mutuários em 30%."O ganho social obtido com a tecnologia é enorme", considera Raphael Pillegi, secretário-executivo do Programa Qualihab da CDHU.

O uso do hidrômetro individual já é lei em cidades como Belém,Goiânia e Piracicaba, seguindo diretrizes do Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água, criado em 1997. Segundo pesquisadores, a tecnologia gera uma queda no consumo de água em torno de 30% e torna mais justo o valor impresso na conta mensal, já que o consumidor passa a pagar apenas pelo que realmente consome.

Edifícios existentes também estão se beneficiando das soluções sustentáveis. Nathalie Gretillati, supervisora de meio ambiente do Grupo Hubert (empresa paulista administradora de condomínios), afirma que 20% da carteira de 300 clientes já passaram por retrofit para diminuir o consumo de água.

"Durante as reformas, substituímos louças sanitárias por peças redutoras de vazão e, em alguns casos, introduzimos sistemas de medição individual de água." Os usuários, segundo ela, ficaram satisfeitos. "A economia gerada varia entre 25 e 35%, mas tivemos um caso em que a redução no consumo atingiu 57%", conta referindo-se ao Edifício New Century Place, um condomínio

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Medição individualizada de água nos

empreendimentos da CDHU de São

Paulo

comercial na capital, que recebeu torneiras com dispositivos redutores de vazão e caixas de descarga acopladas em todas as unidades.

No edifício comercial Numa de Oliveira, na avenida Paulista, em São Paulo, a reforma incluiu a eliminação de seis das oito prumadas originais e a troca de todas as bacias por modelos com caixa acoplada. Para alguns usuários a conta de água cresceu quase três vezes, enquanto que para outros houve queda de 30%. "Isso mostra a injustiça que ocorria antes do retrofit", justifica Guilherme Ribeiro, diretor da administradora Cia. Bandeirantes.

Implantar um programa de uso racional de água,segundo Orestes Gonçalves, requer planejamento. É necessário realizar estudos de pré-implantação para definir prioridades e potencial de redução, além de elaborar um diagnóstico com metas de redução de desperdícios e de consumo. "Na fase de pós-implantação, campanhas de conscientização ajudam o usuário a entender os benefícios das mudanças",diz.O ponto fundamental, segundo ele, é "fazer a gestão do sistema e acompanhar constantemente o consumo e os resultados obtidos".

Por onde começar Para o professor Gonçalves, a indústria começou a responder às novas necessidades. "Hoje temos as bacias com caixas de descarga de 6 l acopladas, além das torneiras de menor vazão, dos chuveiros com aeradores que possibilitam economia de água, entre outros produtos já disponíveis no mercado", afirma.

Os pesquisadores brasileiros também estão avançando nessa questão.

Para Vanderley John, professor doutor da Poli-USP, todo empreendimento já tem condições de adotar algum tipo de tecnologia sustentável. "Geralmente não é necessário pensar em aplicar 100% das opções para obter resultados positivos. É melhor escolher uma opção viável do que ficar imaginando que só a excelência vale a pena."

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Referências, porém, são sempre bem-vindas. Em Florianópolis, o professor Roberto Lamberts - um dos maiores estudiosos brasileiros no assunto - e a arquiteta Alexandra Maciel, do LabEEE, projetaram e coordenaram a construção de uma casa modelo que servirá para mostrar o que pode ser feito hoje em termos de conservação de energia. A casa também funcionará como laboratório de testes da eficácia das medidas implantadas (veja detalhes no boxe).

"Ações para economizar energia são mais fáceis quando partem do projeto", afirma Lamberts."Um bom começo é o projeto arquitetônico estar adequado ao clima onde será implantado e ser eficiente na avaliação dos sistemas de iluminação e de ar-condicionado convenientes para cada situação", diz.

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Experimentar para aprimorar Se as tecnologias trazem vantagens, por que a aplicação ainda é tão restrita? Os especialistas dão algumas pistas. "Estamos numa fase inicial e não sabemos o que realmente funciona", diz André Aranha Campos, membro do Comitê de Meio Ambiente do SindusCon (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo). "É preciso buscar mais informações que possam orientar o mercado a se adaptar da melhor maneira possível", pondera. No ano passado, em parceria com a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a ANA (Agência Nacional de Águas), o SindusCon-SP lançou a publicação Conservação e Reúso da Água em Edificações, que foi distribuída a todo o setor e está disponível no site da instituição para download.

Para Fábio Villas Boas, diretor da construtora Tecnisa, as tecnologias sustentáveis acarretam custos extras no projeto. "E ainda não há uma predisposição do mercado para absorver esse investimento", relata. O diretor da DP Engenharia, Francisco de Vasconcellos Neto, concorda com Villas Boas e diz que as dúvidas quanto à performance e qualidade dos equipamentos e sistemas dificultam sua aplicação. Já Lucy Mari Tsunematsu, da Setin, entende que é preciso ousar e confiar que o retorno do investimento virá ao longo do tempo, como afirmam os técnicos.

"Mas também sinto que o mercado ainda não aceita pagar mais com tranqüilidade", afirma.

Outro ponto que preocupa o setor diz respeito à legislação.No âmbito federal, a lei de Eficiência Energética (no 10.295/01), criada durante o "apagão", "funciona como diretriz para o País ao estabelecer índices máximos de consumo e mínimos de eficiência", explica o professor Roberto Lamberts.Mas cabe aos Estados e municípios criar políticas públicas de implementação de medidas que incentivem o melhor desempenho energético. "Em Salvador e Recife fizemos um estudo para propor a inserção de tecnologias sustentáveis no código de obras, que ainda dificulta a incorporação dessas novidades", conta Lamberts.

Há projetos de lei tramitando em várias cidades do País para tornar obrigatório o uso de aquecedores solares de água em edificações novas. A proposta tem

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Redutor de vazão (chuveiro),

aeradores para torneira e mictórios de

baixa vazão: equipamentos ao alcance

da consciência construtiva

gerado polêmica. "O que seria feito, por exemplo, no caso das construções que são completamente sombreadas por prédios?", questiona Vanderley John.

Bons exemplos OBRAS NOVAS

Mundo Apto Construtora Setin São Paulo Dez edifícios residenciais com apartamentos de 52 e 63 m2 de área útil SSistema de aquecimento de água por energia solar SReúso de água dos lavatórios e chuveiros nos vasos sanitários (após tratamento) SEquipamentos economizadores de água SDois elevadores por torre (social e de serviço), em halls separados para evitar duplicidade nos deslocamentos verticais

Casa Eficiente LabEEE, UFSC, Eletrosul, Procel e Eletrobrás Florianópolis Casa de 206 m2 de área útil para família de quatro pessoas e uso laboratorial SEstratégias de adequação climática (orientação, materiais de construção de alto desempenho ambiental, cobertura com vegetação para conforto térmico, ventilação cruzada e iluminação natural) SÁgua potável para uso na pia, lavatório, chuveiro e ducha manual SÁgua pluvial para uso no vaso sanitário, tanque de roupas e irrigação SÁgua de reúso para o sistema de aquecimento dos quartos e irrigação SAquecimento solar de água SEnergia fotovoltaica interligada à rede da Eletrosul, com suprimento de 1,9 kW. Excedente de energia elétrica é comercializado

Palm Hill DP Engenharia São Paulo Condomínio residencial horizontal com 34 casas SHidrômetros individuais SVentilação natural para evitar o uso do ar-condicionado SIluminação natural (domos na sala) STorneiras com aeradores SSistema de aquecimento solar de água pré-instalado SCaptação de água de chuva para reúso nas áreas externas e lavagem de veículos

Primavera Office Green Construtora Bautec Florianópolis Centro Empresarial SCertificação LEED

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SEstratégias de adequação climática (orientação, materiais de construção de alto desempenho ambiental) SEquipamentos economizadores de água SSistemas de captação de água de chuva para reaproveitamento SSistema de climatização com automação e supervisão por computador SPrioridade para a iluminação natural

Edifício Numa de Oliveira Cia. Bandeirantes (administrativo) e Zaidan Engenharia (medições e vistorias) São Paulo Edifício Comercial SObjetivo da reforma: eliminar vazamentos, individualizar a medição e a tarifação da água, reduzir o consumo e os custos do condomínio SO que foi feito: eliminação de seis das oito prumadas originais, troca da tubulação de água fria e esgoto e instalação de bacias com caixas acopladas em todas as unidades SCusto total: cerca de R$ 400 mil SResultados: para alguns usuários a conta de água quase triplicou. Para outros, houve queda de 30%

Certificação brasileira A falta de parâmetros deve durar pouco tempo. Pesquisadores brasileiros estão discutindo a criação de uma ONG para elaborar critérios de certificação de produtos sustentáveis. "Precisamos informar o usuário de maneira organizada e combater a não-conformidade", defende Vanderley John. Segundo ele, em 2007 uma primeira versão da certificação deverá estar pronta. "A entidade terá total autonomia e a adesão será voluntária e premiada pela eficiência e não por pontuação, como ocorre nas versões americana (LEED) e inglesa (BREEM)", completa.

Enquanto isso não acontece, pela primeira vez um empreendimento brasileiro (ainda em projeto) deverá receber certificação do LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). Trata-se do Primavera Green Office, em Florianópolis, da construtora Bautec. "O consultor dos Estados Unidos ficou impressionado com a qualidade do edifício", orgulha-se Roberto Lamberts, consultor de eficiência energética do projeto.

PARA SABER MAIS

www.labeee.ufsc.br www.casaeficiente.com.br www.setin.com.br www.poli.usp.br/pura www.usgbc.org/LEED www.officegreen.com.br www.sindusconsp.com.br

Sustentabilidade em debate

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A Téchne reuniu em maio um time de peso para discutir sustentabilidade na construção civil sob dois aspectos: eficiência energética e uso racional da água em edifícios. Sob a mediação do engenheiro e pesquisador do IPT Cláudio Mitidieri, representantes do Secovi, SindusCon, Poli- USP, IPT,CDHU,Asfamas e das construtoras Tecnisa e Setin falaram sobre os avanços, os problemas e os desafios que o setor enfrenta nessa questão. Leia os principais tópicos abordados durante o debate.

Cláudio Mitidieri, engenheiro e pesquisador do IPT

Vanderley John, professor da Poli-USP

Luiz Olímpio Costi, diretor de Instalações da vicepresidência de Tecnologia do Secovi

Francisco de Vasconcellos Neto, membro do Comitê de Meio Ambiente do SindusCon- SP

Fábio Villas Boas, diretor da construtora Tecnisa

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Fúlvio Vitorino, pesquisador do Laboratório de Conforto Ambiental do IPT

Douglas Barreto, pesquisador do Laboratório de Instalações Prediais do IPT

Lucy Mari Tsunematsu, gerente de projetos da Setin

Hubert Gebara, vicepresidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi

Raphael Pileggi, coordenador do Qualihab (Programa de Qualidade e Produtividade da Habitação no Estado de São Paulo)

Orestes Gonçalves, professor titular da Poli-USP

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Wilson Passetto, presidente da Asfamas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Materiais e Equipamentos para Saneamento)

LEGISLAÇÃO Uma regulamentação de sustentabilidade poderia contribuir para a racionalização do consumo de água e energia das edificações? Vanderley John - Temos exemplos de leis que forçam soluções não sustentáveis do ponto de vista da eficiência energética.Por isso,muitas leis precisam ser repensadas para permitir ganhos nesse sentido. Em alguns casos, no entanto, é necessária a criação de novas leis. Das 30 maiores economias do mundo, o Brasil é o único que ainda não tem um código de eficiência energética para os edifícios.

Luiz Olímpio Costi - A sobreposição de leis atrapalha o processo. No caso da água, por exemplo, temos uma agência nacional que tenta implantar uma política de uso racionalizada para o País inteiro e, ao mesmo tempo, leis estaduais e municipais que muitas vezes entram em conflito com a direção que o País quer dar ao assunto.

Francisco de Vasconcellos Neto - Se fizermos de forma precipitada, correremos um grande risco de sermos obrigados a aceitar idéias e práticas que são colocadas como grandes verdades, sem que a sociedade possa discuti- las na profundidade que o tema merece. Se nem os técnicos da academia têm consenso de que uma tal medida é a melhor solução, por que vamos fazer uma lei obrigando todo mundo a usar aquela tecnologia?

Fábio Villas Boas - Se a legislação vem de cima para baixo ela não se consolida. As construtoras não vão bancar um equipamento pelo qual o usuário não está disposto a pagar porque ele não enxerga uma eventual economia ao longo dos anos. A legislação deveria prever algum tipo de incentivo, como a isenção de tarifas para que as mudanças ofereçam um benefício que pague o investimento e os riscos do pioneirismo.

Vasconcellos - Se o setor não participar das discussões dessas novas leis ficará refém de obrigações a serem cumpridas.Precisamos de uma postura pró-ativa nessa questão.

Fúlvio Vitorino - A conscientização evita colapsos como o que aconteceu durante o apagão. Incorporar aspectos de sustentabilidade de maneira preventiva, portanto, é uma maneira de combater leis emergenciais, feitas para tentar remediar a falta do recurso.

PARÂMETROS PARA O PROJETO Projetar bem para consumir pouco. Esse é o caminho?

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Vitorino - Eficiência energética e bom uso da água começam no projeto. Um bom projetista, portanto, é fundamental. Esse profissional pode interferir nos aquecedores e no bombeamento de água, no sistema de elevadores e no ar-condicionado, oferecendo economia sem grandes investimentos.

Douglas Barreto - Para que o projeto consiga efeitos positivos é preciso pensar na capacitação do corpo técnico para viabilizar essa nova filosofia. Será que as faculdades estão formando profissionais para essa nova realidade?

Costi - Prever espaço para retrofitar materiais é muito importante. Não estamos mais projetando prédios para durar 70 anos sem manutenção. Hoje substituímos peças a cada cinco anos.

Lucy Mari Tsunematsu - Nos nossos projetos trabalhamos com diretrizes que devem ser atendidas em, pelo menos, 70% de sua totalidade. Infelizmente o tempo de maturação do projeto é muito pequeno e isso, muitas vezes, impossibilita a adoção de outras medidas de sustentabilidade por falta de oportunidade de mais estudos.

Costi - A necessidade de lançar o produto rapidamente no mercado atropela as possibilidades do projeto. Muitas das decisões acabam vencidas pelo apelo econômico, que impõe adaptações com perda de soluções mais sustentáveis.

Hubert Gebara - Soluções de sustentabilidade são medidas que podem ser aliadas do mercado porque tendem a valorizar o imóvel e facilitar a venda pela redução da taxa condominial.

Raphael Pileggi - Na habitação popular, reduzir as despesas do pós-ocupação é uma necessidade. No Brasil os programas de habitação popular devem priorizar a sustentabilidade social. Nesse sentido temos muito a ganhar com ações de eficiência energética e uso racional da água que conciliem tecnologia e benefícios para o morador. Isso evita que ele chegue a uma situação de inadimplência que o leve a ceder o imóvel para outra pessoa.

GESTÃO DA TECNOLOGIA

A instalação de sistemas redutores ou alternativos não é garantia de economia? Orestes Gonçalves - Sem gestão, a solução tende a virar um problema. Incorporar alta tecnologia é importante, mas é preciso considerar a capacidade de gestão e não imaginar que o processo acaba quando se entrega a obra.

Wilson Passetto - Alguns países já contam com referências e recomendações técnicas que ajudam o setor a buscar inovações com mais segurança. Como aqui isso ainda não existe, a chance de uma solução ser mal-executada é grande. Em Recife, o hidrômetro individual gerou uma situação em que muitos desperdiçadores de água, prédios inteiros, fizeram poços ou estão comprando o recurso de caminhões-pipa.

Villas Boas - Importar soluções do hemisfério norte não funciona.O clima e a realidade econômica são diferentes e copiar modelos pode significar mais custos e desperdícios. O fundamental é buscar coerência no projeto por inteiro.

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Não adianta ter torneiras e vasos sanitários que otimizam o uso da água se eu tiver um piso no térreo que tem que ser lavado todo dia.

Gonçalves - É melhor não ousar naquilo que ainda não está consolidado e não permitir que exista um mercado inadequado emplacando conceitos duvidosos. É fundamental criar uma visão segura de sustentabilidade. E essa tarefa é de toda a cadeia.

Vitorino - Vários trabalhos acadêmicos de energia e água ainda não alcançaram o mercado. É só ver que conceitos de arquitetura bioclimática da década de 1950 ainda não são praticados.

Gonçalves -A tendência é que haja uma seqüência de mudanças ao longo do tempo em toda a cadeia produtiva. Com a evolução da indústria, uma intervenção num edifício indicará a existência de materiais de construção e de instalação adequados, de processos de dimensionamento dessas soluções. E isso terá impactos também na reciclagem de profissionais, na legislação e nos custos envolvidos.

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