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V Encontro Nacional da Anppas 4 a 7 de outubro de 2010 Florianópolis – SC – Brasil ______________________________________________________________________________ Consumo e Meio Ambiente: Como a Educação Ambiental Brasileira Aborda Essa Relação? 1 Fátima Portilho (CPDA/UFRRJ) Professora Adjunta do CPDA; Membro do Grupo de Estudos do Consumo; [email protected] Camila Batista Marins Carneiro (CPDA/UFRRJ) Mestranda do CPDA; Membro do Grupo de Estudos do Consumo; [email protected] Flávia Luzia Oliveira da Cunha Galindo (CPDA/UFRRJ) Doutoranda do CPDA; Membro do Grupo de Estudos do Consumo; [email protected] Resumo Um processo de ambientalização e politização do consumo que enfatiza estratégias de enfrentamento da crise ambiental na esfera do consumo parece estar em curso na sociedade brasileira. Ambíguo e multifacetado, tal processo tem sido alvo de debates em diversos setores sociais e áreas de investigação acadêmica, o que nos motivou a analisar se e como a educação ambiental brasileira aborda a relação entre meio ambiente e consumo. Utilizando o referencial teórico da Antropologia e da Sociologia do Consumo, construímos, para tanto, três hipóteses: (1) a educação ambiental não considera a centralidade dos padrões e níveis de consumo para a crise ambiental e, portanto, o tema não é enfatizado nos debates da área; (2) a educação ambiental enfatiza a crítica ambiental ao consumo, vê o consumidor como culpado ou vítima, não tendo nenhuma agência política e, portanto, questiona as propostas de consumo sustentável; (3) a educação ambiental enfatiza a crítica ambiental ao consumo e considera as ações do consumidor como uma solução para a crise socioambiental, defendendo, portanto, as estratégias de consumo sustentável. Para responder a esta questão, desenvolvemos uma pesquisa que, em sua primeira etapa, analisou o conteúdo dos trabalhos apresentados sob a forma de pôster no VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, promovido pela Rebea e realizado em 2009, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Os resultados encontrados, ainda que parciais, nos permitem concluir que o tema é marginal dentro dos debates da educação ambiental brasileira, fornecendo indícios que apontam para a primeira hipótese e, em menor escala, para a terceira. Palavras-chave: Consumo; Educação ambiental; Ambientalização do consumo 1 Trabalho apresentado no GT 13 (Consumo e Meio Ambiente), do V Enanppas, coordenado por Fátima Portilho (CPDA/UFRRJ) e Zina Cárceres (UESC).

Consumismo

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Um processo de ambientalização e politização do consumo que enfatiza estratégias deenfrentamento da crise ambiental na esfera do consumo parece estar em curso na sociedadebrasileira. Ambíguo e multifacetado, tal processo tem sido alvo de debates em diversos setoressociais e áreas de investigação acadêmica, o que nos motivou a analisar se e como a educaçãoambiental brasileira aborda a relação entre meio ambiente e consumo. Utilizando o referencialteórico da Antropologia e da Sociologia do Consumo, construímos, para tanto, três hipóteses: (1) aeducação ambiental não considera a centralidade dos padrões e níveis de consumo para a criseambiental e, portanto, o tema não é enfatizado nos debates da área; (2) a educação ambientalenfatiza a crítica ambiental ao consumo, vê o consumidor como culpado ou vítima, não tendonenhuma agência política e, portanto, questiona as propostas de consumo sustentável; (3) aeducação ambiental enfatiza a crítica ambiental ao consumo e considera as ações do consumidorcomo uma solução para a crise socioambiental, defendendo, portanto, as estratégias deconsumo sustentável. Para responder a esta questão, desenvolvemos uma pesquisa que, em suaprimeira etapa, analisou o conteúdo dos trabalhos apresentados sob a forma de pôster no VIFórum Brasileiro de Educação Ambiental, promovido pela Rebea e realizado em 2009, na cidadedo Rio de Janeiro/RJ. Os resultados encontrados, ainda que parciais, nos permitem concluir que otema é marginal dentro dos debates da educação ambiental brasileira, fornecendo indícios queapontam para a primeira hipótese e, em menor escala, para a terceira.

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  • V Encontro Nacional da Anppas 4 a 7 de outubro de 2010 Florianpolis SC Brasil ______________________________________________________________________________

    Consumo e Meio Ambiente: Como a Educao Ambiental Brasileira Aborda Essa Relao?1

    Ftima Portilho (CPDA/UFRRJ) Professora Adjunta do CPDA; Membro do Grupo de Estudos do Consumo; [email protected]

    Camila Batista Marins Carneiro (CPDA/UFRRJ) Mestranda do CPDA; Membro do Grupo de Estudos do Consumo; [email protected]

    Flvia Luzia Oliveira da Cunha Galindo (CPDA/UFRRJ) Doutoranda do CPDA; Membro do Grupo de Estudos do Consumo; [email protected]

    Resumo

    Um processo de ambientalizao e politizao do consumo que enfatiza estratgias de enfrentamento da crise ambiental na esfera do consumo parece estar em curso na sociedade brasileira. Ambguo e multifacetado, tal processo tem sido alvo de debates em diversos setores sociais e reas de investigao acadmica, o que nos motivou a analisar se e como a educao ambiental brasileira aborda a relao entre meio ambiente e consumo. Utilizando o referencial terico da Antropologia e da Sociologia do Consumo, construmos, para tanto, trs hipteses: (1) a educao ambiental no considera a centralidade dos padres e nveis de consumo para a crise ambiental e, portanto, o tema no enfatizado nos debates da rea; (2) a educao ambiental enfatiza a crtica ambiental ao consumo, v o consumidor como culpado ou vtima, no tendo nenhuma agncia poltica e, portanto, questiona as propostas de consumo sustentvel; (3) a educao ambiental enfatiza a crtica ambiental ao consumo e considera as aes do consumidor como uma soluo para a crise socioambiental, defendendo, portanto, as estratgias de consumo sustentvel. Para responder a esta questo, desenvolvemos uma pesquisa que, em sua primeira etapa, analisou o contedo dos trabalhos apresentados sob a forma de pster no VI Frum Brasileiro de Educao Ambiental, promovido pela Rebea e realizado em 2009, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Os resultados encontrados, ainda que parciais, nos permitem concluir que o tema marginal dentro dos debates da educao ambiental brasileira, fornecendo indcios que apontam para a primeira hiptese e, em menor escala, para a terceira.

    Palavras-chave: Consumo; Educao ambiental; Ambientalizao do consumo

    1 Trabalho apresentado no GT 13 (Consumo e Meio Ambiente), do V Enanppas, coordenado por Ftima Portilho (CPDA/UFRRJ) e Zina

    Crceres (UESC).

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    Introduo

    Um processo de ambientalizao e politizao do consumo2 parece estar em curso na sociedade brasileira, embora em grau bastante diferente do que vem ocorrendo em outros pases3. Trata-se de uma tendncia reaproximao de valores cvicos e ambientais com a cultura de consumo, apontada por diversos autores4 que chamam a ateno para o fato de que os anos recentes tm visto uma reduo das fronteiras entre as categorias consumo e cidadania, simbolizada pela construo do vocbulo consumidor-cidado.

    Trentmann (2007) aponta o fato de que, at a uma gerao atrs, tais categorias eram localizadas em esferas opostas e competitivas entre si (esfera privada e esfera pblica) e, portanto, debatidas em corredores diferentes das universidades, com tradies s vezes rivais de pesquisa. Atualmente, no entanto, estas tm sido cada vez mais reconhecidas como categorias porosas, com sobreposio de domnios. Tudo isso nos leva necessidade de fomentar o dilogo, considerar as tenses e realinhar os estudos do consumo, os estudos ambientais e os estudos de cidadania e participao poltica, inclusive no que se refere participao nas questes ambientais.

    Tal processo de ambientalizao e politizao do consumo pode ser observado em propostas, estratgias e discursos que enfatizam a centralidade dos padres e nveis de consumo para a crise ambiental e propem, como forma de enfrentamento, prticas como consumo verde, responsvel, consciente, tico ou sustentvel5.

    No Brasil, alguns indcios desse processo podem ser observados em fatos como: (1) a criao de ONGs voltadas especificamente para esta temtica, como o Instituto Faces do Brasil, o Instituto Kairs, o Instituo Akatu para o Consumo Consciente e o Instituto para o Consumo Educativo Sustentvel do Par (ICONES), entre outros; (2) a freqente publicao de reportagens sobre consumo sustentvel, responsvel ou consciente em diversos veculos de comunicao de massa; (3) a elaborao de programas de Educao para o Consumo Consciente, tanto na esfera governamental, quanto na no-governamental e empresarial; (4) a profuso de sistemas de certificao e rotulagem e, ainda, (5) o fortalecimento dos chamados novos movimentos sociais econmicos (economia solidria, agricultura orgnica, comrcio justo e slow food, entre outros), que pressupem a existncia e a ao de consumidores conscientes.

    Ambguo e multifacetado, tal processo levanta uma nova gama de questes que exigem reflexes tericas e investigaes empricas. Tais questes vm sendo debatidas em diferentes setores

    2 Portilho, 2005.

    3 Uma pesquisa quantitativa sobre consumo poltico, de autoria de Lvia Barbosa, Ftima Portilho e John Wilkinson, ainda no

    publicada, aponta a baixssima frequncia de aes de consumo poltico entre jovens brasileiros, em comparao com pesquisa similar desenvolvida por Stolle et al (2005) na Sucia, Blgica e Canad. 4 Canclini, 1996; Halkier, 1999 ; Paavola, 2001; Portilho, 2005; Trentmann, 2007; Stolle et al, 2005.

    5 No h possibilidade, neste paper, de refletir sobre as possveis diferenas entre estas propostas, aparentemente similares (Portilho,

    2005). Optamos, pois, por usar a expresso consumo sustentvel, considerando que, ao us-la, estamos nos referindo, genericamente, s propostas de prticas de consumo que considerem o impacto social e ambiental dos produtos e servios escolhidos e das formas de us-los.

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    acadmicos que passaram a trat-la como objeto de pesquisa No entanto, tais pesquisas costumam se concentrar na literatura e nas reflexes de suas fronteiras disciplinares, raramente lanando mo do conhecimento produzido dentro dos Estudos do Consumo, abordagem que defendemos aqui.

    Uma das primeiras questes de debate nos parece ser o fato de que esta nfase nos padres e nveis de consumo para a crise ambiental e sua soluo no consensual. Assim, embora possamos apresentar acima alguns indcios desse processo, no podemos desconsiderar a existncia de um questionamento sobre a centralidade do consumo para a crise ambiental e sobre os limites e possibilidades da agncia poltica de consumidores individuais (Portilho, 2005). Ao imaginar que na rea de educao ambiental, considerada tanto um campo de reflexes e prticas educativas quanto um campo de investigao acadmica, isso no seria diferente, nos propomos a analisar se e como a educao ambiental brasileira aborda esta relao, como percebe as sociedades e culturas de consumo e, ainda, o papel do consumidor como ator no processo de melhorias sociais e ambientais.

    Questes como essas ainda carecem de reflexes tericas e estudos empricos que nos ajudem a compreend-las de forma a ir alm das vises de senso comum sobre o consumo, de reduzida utilidade para a compreenso da questo. Tal debate, muitas vezes, objeto de posies apaixonadas, baseadas mais nas ideologias e valores de seus defensores e crticos, do que numa compreenso do fenmeno (Barbosa & Campbell, 2006). Em uma primeira observao de carter exploratrio, levantamos a hiptese de que a educao ambiental aborda esta relao, principalmente, de trs formas.

    A primeira no considera a centralidade dos padres e nveis de consumo para a crise ambiental, uma vez que os problemas seriam causados na esfera produtiva e a influncia do consumo seria apenas marginal. Nessa viso, o tema no enfatizado, pois esta seria uma forma de desviar a ateno dos problemas realmente importantes, que ocorrem na esfera produtiva.

    A segunda abordagem retoma uma antiga crtica moral e social ao consumo, incluindo agora a critica ambiental, para mostrar que os valores e hbitos consumistas, promovidos pela cultura de consumo, so o principal responsvel pela crise socioambiental e pelas atuais condies de anomia, individualismo e despolitizao das sociedades contemporneas. Nessa viso, o consumidor visto ora como culpado, ora como vtima passiva e manipulada pelo sistema capitalista, no tendo nenhuma agncia poltica. Tal abordagem questiona as propostas de consumo sustentvel.

    A terceira abordagem tambm retoma a crtica moral, social e ambiental ao consumo, mas as possibilidades de mudana dos padres e nveis de consumo so tratadas como uma soluo para a crise socioambiental. O consumidor elevado categoria de cidado e de principal ator para a superao da crise ambiental tendo, portanto, agncia poltica capaz de transformar a

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    sociedade em direo a um modelo mais sustentvel. Esta abordagem enfatiza discursos e prticas de consumo sustentvel.

    Para responder a essa questo, com base em dados empricos, poderamos optar por diferentes caminhos metodolgicos. Inicialmente, pensamos em selecionar e analisar o contedo das reportagens e matrias publicadas nas principais revistas utilizadas pelos educadores ambientais em seu processo de busca de informao e atualizao, verificando se e como tais revistas abordavam a temtica. Conclumos, no entanto, que embora essa opo possa trazer bons indcios, dificilmente conseguiria captar a percepo dos prprios educadores ambientais, pois, ao contrrio, nos forneceria a percepo dos formadores de opinio, ou seja, jornalistas, editores e personalidades entrevistadas nas matrias e reportagens.

    Abandonamos a idia inicial e decidimos amadurecer melhor a questo a partir das nossas leituras e das reflexes sobre a experincia de cada pesquisador da equipe na rea de educao ambiental. Foi quando uma das autoras desta pesquisa6 relatou sua experincia como participante do VI Frum de Educao Ambiental, promovido pela Rebea (Rede Brasileira da Educao Ambiental) e realizado na cidade do Rio de Janeiro/RJ, em julho de 2009. Durante o evento, alm de assistir s conferncias e mesas redondas e participar de trs mini-cursos, dois deles sobre consumo7, observou a enorme quantidade de psteres enfocando diferentes assuntos, todos certamente relevantes nos debates da rea de educao ambiental.

    Considerando a importncia da Rebea como frum privilegiado de debates e atualizao dos educadores ambientais, optamos por analisar o contedo dos psteres apresentados no evento, acreditando que essa estratgia nos permitiria captar alguns indcios da percepo dos educadores ambientais sobre a relao entre meio ambiente e consumo. A inscrio de psteres para apresentao no VI Frum, conforme detalharemos adiante, era aberta a educadores ambientais de diferentes nveis de formao e experincia e de diferentes lugares institucionais, abordando uma enorme variedade de temas divididos em 14 Eixos Temticos, com os quais os psteres deveriam estar alinhados.

    Tal opo tambm encontrou limitaes que, no entanto, no nos impediram de levar a proposta adiante: importantes informaes que poderiam nos ajudar em uma compreenso mais apurada sobre a percepo dos educadores no estavam disponveis no site do evento. Tal dificuldade de acesso aos dados relativos aos trabalhos apresentados em eventos acadmicos, no entanto, no caracterstica do VI Frum, mas, ao contrrio, tem se mostrado uma constante em eventos acadmicos que, em diversos casos, no primam pela preservao da memria dos debates8. Isso nos impossibilitou a anlise, pelo menos nesse estgio da pesquisa, da correlao entre os

    6 Camila Batista Marins Carneiro.

    7 Mini-curso 1 (Consumo crtico - a prxis emancipatria da educaoambiental), coordenado por Thomas Enlazador, e Mini-curso 2

    (Sociedade moderna, consumo e meio ambiente), coordenado por Maria Cristina Pereira Bernardo, Caroline Montezi, Valria Lemp e Flavia Barros. 8 Dificuldade semelhante foi encontrada pelas autoras no levantamento de dados para a pesquisa Estudos do consumo no Brasil: A

    construo de um novo campo nas Cincias Sociais brasileiras, ainda no publicada.

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    temas e abordagens dos psteres com informaes soiciodemogrficas de seus autores: gnero; nvel de formao (graduao, ps-graduao); rea de formao (cincias naturais, cincias humanas, cincias sociais aplicadas etc.); regio geogrfica; rea de atuao profissional (ensino, gesto, planejamento, treinamento, pesquisa, avaliao, divulgao etc.) e setor institucional no qual atua (escola, ONG, governo, empresa, universidade etc.). De posse da relao dos psteres apresentados no VI Frum de Educao Ambiental, disponvel no website da Rebea9, demos incio aos seguintes procedimentos de pesquisa, desenvolvidos com base na metodologia proposta por Bardin (1977): (a) selecionamos aqueles que continham o radical consum no ttulo, resumo ou palavra-chave10; (b) categorizamos e sistematizamos os dados obtidos; (c) analisamos o contedo dos resumos dos psteres. Aps esses procedimentos, (d) conclumos esta etapa da pesquisa com a extrao de significados relacionados ao tema proposto.

    Os Estudos do Consumo e suas possveis contribuies para a compreenso da relao entre meio ambiente e consumo

    A relao entre meio ambiente e consumo vem sendo debatida e pesquisada em diferentes setores acadmicos que, no entanto, nem sempre buscam fundamentao terica e emprica nos Estudos do Consumo.

    O que designamos por Estudos do Consumo refere-se a um campo de investigao acadmica relativamente recente e ainda em construo no Brasil, embora j bastante consolidado em outros pases (Miller, 1995 e 2001; Barbosa, 2006), voltado para a reflexo sobre temas como a constituio das sociedade e culturas de consumo, as novas formas de comercializao, a cultura material, as prticas de consumo, os usos sociais dos bens, as transformaes na cultura de consumo contempornea, entre outros.

    Campbell (2001:18) lembra que o consumo, apesar de sua penetrante presena em todo o mundo moderno foi desprezado pela Sociologia. Isso pode ser explicado, de um lado, pelo vis produtivista das Cincias Sociais que, desde o sculo XIX, baseou-se no pressuposto de que a compreenso das modernas sociedades capitalistas se daria, exclusivamente, a partir do complexo institucional necessrio produo de riquezas. Somando-se a este vis produtivista, um vis de cunho moralista e moralizante das Cincias Sociais tambm nos ajuda a explicar essa ausncia, pois trabalho e produo sempre foram considerados moralmente superiores ao consumo, fazendo com que a crtica e o julgamento moral das prticas prprias a esta esfera acabasse se sobressaindo sua anlise sociolgica. Segundo o autor, isso acabou gerando

    9 http://forumearebea.org/

    10 Optamos pelo radical consum para obter palavras como consumo, consumismo, consumidor etc. A seleo foi feita com base no

    uso da ferramenta de filtro em uma planilha Excell contendo os dados de todos os psteres apresentados no evento.

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    uma viso do comportamento do consumidor moderno como uma forma de conduta que , ao mesmo tempo, irracional e repreensvel. (...) Tal viso injustificvel, pois, se o comportamento no apreendido como racional, ento a culpa cabe aos cientistas sociais, por deixarem de ver a estrutura dos significados utilizada, e so eles, no os consumidores, que deveriam ser repreendidos (CAMPBELL, 2001:88).

    Em sua anlise scio-histrica sobre a gnese do consumismo moderno, no entanto, Campbell (2001) mostra que a chamada Revoluo Industrial foi, na verdade, tanto uma revoluo dramtica das foras produtivas quanto uma revoluo igualmente dramtica dos hbitos de procura. Para que isso acontecesse, segundo o autor, duas ticas sociais e opostas coexistiram: a tica asctica do trabalho e a tica hedonista e romntica do consumo (CAMPBELL, 2001:52). A partir da dcada de 80 do sculo XX, no entanto, o consumo passou a ser visto, pouco a pouco, como um fenmeno central em todas as sociedades (e no apenas nas sociedades ocidentais capitalistas). Assim, o desenvolvimento dos Estudos do Consumo tem apontado para uma agenda de pesquisa que se prope a refletir e buscar compreender as mudanas pelas quais a esfera do consumo vem passando no contexto das grandes transformaes globais do fim do sculo XX e incio do XXI (EDWARD, 2000). Uma dessas transformaes pode ser chamada de politizao ambientalizao do consumo, processo que promove uma aproximao entre valores cvicos e a cultura de consumo, entre as esferas pblica e privada, entre consumo e cidadania, diluindo a rigidez de tais fronteiras.

    Assim, encontramos, de um lado, uma vertente da Teoria Social Contempornea que se dedica a denunciar a degradao social, moral e, agora, ambiental provocada pelos hbitos conspcuos de consumo, tendo como referncia os estudos de Thornstein Veblen11 e dos tericos da Escola de Frankfurt12 e a sociedade americana afluente da golden era dos anos 50 e 60, que ficou conhecida como a sociedade de consumo. Para esta vertente, o consumo visto como algo universalista e descontextualizado da cultura. Mensurar o quanto estamos perto ou longe de tal modelo, e critic-lo, parece ser a principal forma de abordagem (TRENTMANN, 2006). Outra vertente, ao contrrio, enfatiza a crescente reflexividade da esfera privada que transforma o consumo de um ato concebido como essencialmente privado que sofre restries tnicas, religiosas e de classe, entre outras, para outro em que as aes de consumo so vistas como tendo conseqncias pblicas e originando-se da prpria esfera pblica. Nessa vertente, o consumidor passa a ser visto como sujeito ativo e as escolhas e decises individuais passam a ser vistas como escolhas polticas, em muitos casos informadas por valores e ideologias como sustentabilidade, saudabilidade, justia social, tica animal e solidariedade. Esta vertente segue

    11 Veblen (1987).

    12 Principalmente Theodor Adorno, Max Horkheimer e Herbert Marcuse.

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    as referncias do campo terico dos novos movimentos sociais (NMS) e considera as anlises sobre as mudanas na cultura poltica contempornea e os novos repertrios de participao poltica13.

    A abordagem de Douglas & Isherwood (2006) sobre os usos sociais dos bens pode nos ajudar a compreender o fenmeno do consumo como sendo essencialmente comunicativo. Os bens materiais tornam visveis as categorias da cultura, manifestando concretamente valores, prticas e rituais sociais. Para os autores, mais do que uma objetitificao desinteressada das prticas culturais, o consumidor individual exerce uma escolha soberana que visa comunicar valores e posicionamentos no mundo. As escolhas de consumo so, assim, tambm uma forma de escolha poltica, pois expressam a viso de mundo dos atores.

    O consumo, para essa vertente, vai alm da aquisio, compra e posse de bens materiais, pois os objetos intermedeiam relaes sociais e expressam individualidades, pertencimento ou distanciamento de determinado grupo social, podendo, assim, construir pontes ou muros, afastando ou aproximando as pessoas. O campo do consumo , neste sentido, relacional, constituindo uma atividade cotidiana e rotineira de produo de significados e identidades. Assume, neste contexto, um papel importante como mecanismo de produo e reproduo social.

    Longe de defender ou condenar, a priori, as propostas de consumo sustentvel, acreditamos que a principal tarefa acadmica que se apresenta analisar o surgimento do fenmeno do consumo sustentvel e como o mesmo tem sido interpretado e reinterpretado, transformando-se em debate e disputas.

    A Rebea e o VI Frum de Educao Ambiental

    O surgimento da Rebea (Rede Brasileira da Educao Ambiental) e dos Fruns de Educao Ambiental esto intimamente relacionados:

    Nascida da vontade de manter viva a articulao nacional dos educadores ambientais brasileiros, a REBEA teve origem no ambiente dos Fruns de Educao Ambiental promovidos em So Paulo nos anos 1990. A idia de sua criao foi lanada em 1992, durante o II Frum, na efervescncia que antecedia a Rio-92, adotando-se como carta de princpios o Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e Responsabilidade Global e como padro organizacional a estrutura horizontal em rede. (REVBEA, 2004, pg.4)

    Os trs primeiros fruns foram realizados em So Paulo, nos anos de 1989, 1992 e 1994, respectivamente. No entanto, a vontade de alcanar um mbito nacional fez com que o IV frum fosse realizado na cidade de Guarapari/ES, em 1997, em conjunto com o I Encontro da Rede

    13 Stolle et ali (2005); Portilho & Castaeda (2009).

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    Brasileira de Educao Ambiental. Este momento considerado marcante para a consolidao da Rebea que, a partir da, assume a organizao do V Frum, realizado em 2004, em Goinia/GO. A Rebea constitui uma rede de redes de educao ambiental e educadores ambientais do Brasil, reunindo mais de quarenta redes estaduais, municipais, regionais e temticas.14

    O VI Frum Brasileiro de Educao Ambiental, realizado no Campus da Praia Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na cidade do Rio de Janeiro/RJ, em julho de 2009, foi um evento de mbito nacional, promovido e organizado pela Rebea, contando com um pblico de cerca de trs mil pessoas de todo o pas15.

    .A programao do frum foi construda coletivamente pelos membros da Rebea em parceria com outras redes e coletivos de educao ambiental brasileiros. A proposta principal do frum era promover um dilogo entre os educadores ambientais e entre estes e as demais redes ambientais, tais como: Rede Brasileira de Agendas 21 Locais, Rede da Juventude pelo Meio Ambiente, Rede de Justia Ambiental, Rede Ecossocialista, Rede Brasileira de Informao Ambiental (REBIA), Rede de Educomunicao Ambiental (REBECA), Frum Brasileiro de Ongs e Movimentos Sociais (ABONG) e Assemblia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente (APEDEMA-RJ), entre outras. O objetivo deste encontro era, portanto, o de promover mais que um espao de divulgao de informao, mas um espao interativo, de discusses, trocas e permanente construo em prol da qualidade da educao ambiental brasileira.16

    Segundo informaes do website do IV Frum, o processo de construo do mesmo, de carter aberto e coletivo, possibilitou a reunio de inmeras temticas relacionadas com o meio ambiente, tais como: governana mundial e justia ambiental; juventude e EA; a importncia da EA no enfrentamento da mudana climtica; EA no ensino formal, EA na gesto ambiental; EA, poltica e territorialidade. Alm disso, o evento contou com oficinas artsticas que visavam abordar a temtica ambiental de forma lcida e interativa.

    Tais temticas perpassaram as discusses e foram debatidas, ao longo de quatro dias, nas diferentes atividades: 10 Mesas Redondas, 20 Jornadas Temticas, 100 Mini-Cursos e 524 Psteres.

    Em relao s normas de envio dos psteres, o principal critrio era a elaborao de um resumo (at 500 palavras) enfocando uma relao direta com a educao ambiental. Foram propostos 14 Eixos Temticos nenhum deles abordando, explicitamente, a temtica do consumo com os quais os psteres deveriam estar alinhados: educao ambiental e os marcos histricos; educao ambiental e polticas pblicas; educao ambiental em cenrios globais; educao ambiental e mudanas ambientais; educao ambiental no contexto escolar; educao ambiental e formao; educao ambiental e movimentos sociais; educao ambiental e redes sociais;

    14 http://www.rebea.org.br/arquivorebea/

    15 De acordo com informaes obtidas no website do VI Frum: www.forumearebea.org/

    16 De acordo com informaes obtidas no website do VI Frum: www.forumearebea.org/

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    educao ambiental e justia ambiental; educao ambiental e diversidade; educao Ambiental e movimentos de juventude; educao ambiental, territorialidade e identidade; educao ambiental, arte e literatura; educao ambiental, espiritualidade e mitologia; educao ambiental e empresas; educao ambiental e turismo; educao ambiental e unidades de conservao; educao ambiental, manejo e gesto ambiental; educao ambiental, cincias e tecnologia; educao ambiental e novas temticas. No havia qualquer restrio quanto ao nvel de formao do proponente. A avaliao para o aceite dos psteres estava a cargo da Comisso Temtica, composta por sessenta educadores ambientais de todo o pas.

    Resultados

    Com o objetivo de selecionar os psteres que abordavam a temtica consumo, aplicamos um filtro na planilha de dados dos psteres apresentados no VI Frum, selecionando aqueles que continham o radical consum no ttulo, no resumo ou nas palavras-chave, conforme explicado anteriormente.

    Dos 524 psteres apresentados, apenas 13 (2,48%) abordavam o tema consumo, em suas diversas variveis e/ou conjugaes. A baixssima frequncia da abordagem do tema consumo pelos psteres apresentados no mais importante evento da rea de educao ambiental j nos permite apontar indcios que confirmam nossa primeira hiptese, ou seja, os debates da rea de educao ambiental parecem no considerar a centralidade dos padres e nveis de consumo para a crise ambiental e, talvez por isso, o tema no seja enfatizado. Vale observar em quais Eixos Temticos, classificao original do prprio evento, foram apresentados os 13 trabalhos sobre consumo:

    Tabela 1 Quantidade de artigos por Eixo Temtico

    Eixos temticos (classificao original do evento)

    Quantidade de psteres

    Educao ambiental e empresas 03 Educao ambiental no contexto escolar 02 Educao Ambiental e Novas temticas 02 Educao ambiental, arte e literatura 01 Educao Ambiental e turismo 01 Educao ambiental e redes sociais 01 Educao ambiental e polticas pblicas 01 Educao Ambiental, manejo e gesto ambiental 01 Educao ambiental e movimentos sociais 01

    A Tabela 1 mostra que a maioria dos poucos trabalhos sobre consumo foram originalmente classificados nos eixos temticos Empresas, Contexto escolar e Novas temticas.

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    Apresentamos na Tabela 2 a relao dos 13 psteres que abordaram o tema consumo. Tal planilha serviu de base para nossa anlise, representando o universo dos psteres que abordavam a relao entre meio ambiente e consumo:

    Tabela 2 Psteres que contm o radical consum no titulo, resumo ou palavra-chave

    Nmero do Pster

    Ttulo do Pster

    Pster 25 Trabalho integrado dos empregados - Cesp: sensibilizao, sustentabilidade e responsabilidade social

    Pster 36 Educao ambiental para o consumo consciente Pster 39 Guias de ecoturismo: educao ambiental como possibilidade de trabalho Pster 70 Coleo consumo sustentvel e ao Pster 82 Educao Ambiental na Alumar para o alcance da sustentabilidade ambiental e

    perenizao do negcio Pster 116 Lixo e cidadania: a arte atravs da reutilizao Pster 143 Rede ecolgica: uma experincia de reeducao Pster 247 Educao Ambiental no monitoramento da qualidade de gua nos campi da UFRN Pster 298 Lixo na televiso: quem fala e o que fala sobre ele Pster 322 Prticas cotidianas de consumo sustentvel, uma utopia possvel? Pster 479 Responsabilidade scio-ambiental um caminho para as empresas e para a floresta

    Atlntica Pster 489 Educao ambiental para o consumo consciente no mbito da administrao

    pblica Pster 497 Educao ambiental para o consumo responsvel: sacolas retornveis

    Continuando a anlise dos dados levantados, a Tabela 3 mostra quais as palavras ou expresses com o radical consum foram encontradas, em que frequncia e em qual dos campos pesquisados (ttulo, resumo ou palavra-chave).

    Tabela 3 Palavras ou expresses que indicam a abordagem do tema consumo

    Termo Ocorrncias

    Ttulo Palavras-

    chave Resumo TOTAL "consumo" 0 2 5 7 consumo sustentvel 2 3 1 6 consumo consciente 2 2 0 4 "consumismo" 0 1 3 4 consumo responsvel 1 2 0 3 "consumidor" 0 0 2 2 "lixo ps-consumo" 0 1 0 1 "sociedade do consumo" 0 0 1 1 "cultura de consumo" 0 1 0 1

    Total 05 12 12 -

    Atravs desta tabela, podemos observar que, dentre os 13 trabalhos que abordaram o tema, 05 o indicam j no ttulo. Em todos estes 05 casos, o termo vem qualificado como consumo consciente, consumo sustentvel e consumo responsvel. No caso do resumo, 12 trabalhos citam o tema, o que ser discutido adiante. Finalmente, 12 trabalhos incluram o radical consum

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    em uma das trs palavras-chave. Destes, 07 usam termos como consciente, responsvel e sustentvel para adjetivar o consumo, parecendo indicar que tratam do debate em torno das propostas de mudana dos padres e nveis de consumo.

    Consideramos que as palavras-chave de um trabalho so de suma importncia, pois indicam a categorizao temtica do mesmo a partir do ponto de vista do prprio autor. Assim, decidimos observar, tambm, as demais palavras-chave dos 13 psteres selecionados, o que pode ser verificado na Tabela 4.

    Tabela 4 Outras palavras-chave

    Outras palavras-chave (alm daquelas com radical consum) Qtde

    educao ambiental 4 economia solidria 2 Responsabilidade ambiental 1 Guias de ecoturismo 1 Gesto ambiental 1 Educomunicao Socioambiental 1 Sensibilizao 1 Comunicao 1 Ecoturismo 1 Sustentabilidade 1 Lixo 1 Recursos hdricos 1 Reposio florestal 1 Reciclagem 1 Sacolas retornveis 1 Coleta seletiva 1 Educao 1 Sociedades Sustentveis 1 Compras coletivas 1 Resduos Slidos 1 Alimentos saudveis 1 Atitudes 1 Mudanas 1

    A tabela acima nos mostra os temas que aparecem combinados com o tema consumo nos trabalhos apresentados sob a forma de pster no VI Frum de Educao Ambiental e que abordaram a relao entre consumo e meio ambiente. Nos chamou a ateno o uso de termos como lixo, reciclagem, sacolas retornveis, resduos slidos e coleta seletiva, o que parece apontar uma possvel recorrncia da tendncia de associar, dentro da educao ambiental, a temtica do consumo com questes relacionadas aos resduos slidos. J termos como atitudes, mudanas, sensibilizao, educao e educomunicao nos pareceu apontar uma associao da temtica do consumo com o debate sobre as possibilidades de conscientizao e mudanas de comportamento dos consumidores como uma soluo para a crise socioambiental, embora no

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    seja possvel inferir a forma de abordagem deste debate. Finalmente, termos como economia solidria e compras coletivas pode indicar uma associao do nosso tema com o debate sobre a construo de alternativas economia e aos mercados convencionais.

    Contudo, os campos ttulo e palavras-chave dos psteres no se mostraram capazes de gerar informao suficiente para captar a forma de abordagem do tema consumo por parte dos autores dos psteres.

    Assim, partimos para a anlise do contedo dos resumos, atravs da categorizao dos mesmos, seguindo a metodologia de Anlise de Contedo proposta por autores como Bardin (1977) e Freitas & Janissek (2000). Aps uma primeira anlise exploratria, chegamos s categorias que emergiram dos prprios resumos dos psteres. Categorias so consideradas rubricas significativas em funo das quais o contedo ser classificado e eventualmente quantificado (Weber, 1990:56-57) e contriburam para elaborar a grade de anlise do contedo. Da anlise do contedo dos resumos emergiram duas categorias que se mostraram recorrentes, claras e pertinentes: Iniciativas empresariais em foco e O consumidor em foco. Cada uma dessas categorias gerou sub-categorias, colocadas ao lado do eixo temtico (classificao original do evento) na tabela abaixo. A declarao temtica, inserida em outra coluna, se refere a um extrato do resumo do qual cada categoria emergiu e contribui para compreender a categorizao:

    Tabela 5 Categoria 1: Iniciativas Empresariais em foco

    Sub-categoria

    Eixo temtico

    (classificao original do

    evento) Declarao temtica

    Ttulo e nmero do Pster

    Empresas

    "35% diz que cuidar (do meio ambiente) melhora a imagem da empresa perante seus consumidores (...)".

    Trabalho integrado dos empregados - cesp:

    sensibilizao, sustentabilidade e responsabilidade social (Pster 25)

    Manejo e Gesto Ambiental

    "Com o intuito de monitorar os parmetros indicadores de qualidade dessa gua e, assim, informar e conscientizar a comunidade universitria a partir da disseminao das informaes obtidas, o Programa de Controle de Qualidade da gua da UFRN (Progua) consiste em um conjunto de atividades de coleta e anlise de variveis fsico-qumicas (pH, condutncia, nitrato) e microbiolgicas (coliformes totais e coliformes fecais).

    Educao Ambiental no monitoramento da

    qualidade de gua nos campi da UFRN

    (Pster 247)

    Consumidor como ponta final

    Educao ambiental e empresas

    (...) as empresas tm que rever e adotar novos processos de produo, investir na pesquisa e no uso de produtos menos agressivos ao meio ambiente (as chamadas tecnologias limpas), reciclagem de resduos, sensibilizao ambiental de funcionrios,

    Educao Ambiental na ALUMAR para o

    alcance da sustentabilidade

    ambiental e perenizao do

    Formatado: Cor da fonte:

    Vermelho

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    fornecedores, parceiros, acionistas, comunidade e consumidores.

    negcio (Pster 82)

    Tcnica e Inovao

    Empresas

    "Este artigo apresenta uma alternativa bem sucedida de reposio florestal realizada por pequenos e mdios consumidores de matria prima florestal (lenha, tora e carvo) que contribuem diretamente com a conservao da Mata Atlntica. (...) Assim em 1990 foram criadas algumas Associaes de reposio florestal (...) que tem como finalidade repor o consumo de matria prima florestal de pequenos e mdios empresrios, atuando junto responsabilidade socioambiental dessas empresas e possibilitando sua sustentabilidade".

    Responsabilidade scio-ambiental um

    caminho para as empresas e para a

    floresta Atlntica (Pster 479)

    Consumo sustentvel como benefcio para as empresas

    Empresas

    "(...) as mudanas de comportamento da sociedade, principalmente no que diz respeito a prticas de consumo sustentveis, visando conservao do meio ambiente bem como os benefcios, principalmente financeiros, que estas prticas podem trazer para a empresa e para o meio ambiente".

    Educao Ambiental na ALUMAR para o

    alcance da sustentabilidade

    ambiental e perenizao do

    negcio (Pster 82)

    A anlise da Categoria 1 (Iniciativas empresariais em foco) mostra que, dentre os 13 psteres apresentados no VI Frum que abordaram a temtica do consumo, 04 o enfocam a partir da perspectiva da empresa, o que corrobora com os dados da Tabela 1. Em alguns trabalhos, o consumidor simples ponta final de processos de inovao empresarial ou de programas de conscientizao ou disseminao de informaes tcnicas. Em outro, o termo consumidor usado para se referir a pequenos e mdios empresrios, consumidores de recursos florestais em suas atividades produtivas17. Em todos estes casos, o foco est na esfera produtiva e no na esfera do consumo em si.

    Tabela 6 Categoria 2: O Consumidor em foco

    Sub-categoria

    Eixo temtico

    (classificao original do

    evento)

    Declarao temtica

    Ttulo e nmero do Pster

    Contexto Escolar

    "(...) a questo da gerao e tratamento dos resduos slidos propondo rever nossos hbitos de consumo.

    Coleo consumo sustentvel e ao

    (Pster 70) Necessidade de rever e criar novos hbitos de consumo

    Empresas

    "(...) as mudanas de comportamento da sociedade, principalmente no que diz respeito a prticas de consumo sustentveis, visando conservao do meio ambiente (...).

    Educao Ambiental na ALUMAR para o

    alcance da sustentabilidade

    ambiental e perenizao do

    17 No h espao para tratar aqui da abordagem que considera as instituies como consumidoras. Ver, para isso, entre outros, o

    trabalho de Douglas & Isherwood (2006).

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    negcio (Pster 82) Redes Sociais

    "Frente a esses problemas enfrentados atualmente h uma necessidade de mudana de paradigma, levando os cidados a um auto-exame de seu estilo de vida, com especial nfase no consumo. A Rede Ecolgica prope a reeducao dos cidados urbanos (...)"

    Coleo consumo sustentvel e ao

    (Pster 70)

    Polticas Pblicas

    " necessria uma mudana urgente de comportamento, atitudes e aes para conservao / preservao e a sustentabilidade no planeta Terra. (...) Com o objetivo de Promover o consumo consciente com mudanas de comportamento e atitudes ambientalmente corretas no dia-a-dia dos servidores pblicos. (...) Estabelecer meta de reduo de consumo"

    Educao Ambiental para o consumo

    consciente no mbito da Administrao

    pblica (Pster 489)

    Arte e Literatura

    "Este projeto apia-se nos temas que dizem respeito ao consumo consciente e coleta seletiva vistos como prticas de sustentabilidade pela sociedade industrial e prope aes de comunicao social visando atuar e obter resultados".

    Educao ambiental para o consumo

    consciente (Pster 36)

    Arte e Literatura

    Por isso, ele precisa ser capaz de melhorar continuamente seu entendimento para agir conscientemente quando se trata de no atirar lixo dos produtos que acabou de consumir ao acaso.

    Educao ambiental para o consumo

    consciente (Pster 36)

    Movimentos sociais

    (...) difundem a mensagem da necessidade de mudanas de postura, de comprometimento com ambiente de vida planetria.

    Educao ambiental para o consumo

    responsvel: sacolas retornveis

    (Pster 497) Contexto Escolar

    "A coleta seletiva e a reciclagem, no entanto so apenas medidas paliativas. A EA sob a perspectiva crtica, deve gerar uma reflexo abrangente a respeito dos valores culturais da sociedade sobre o consumo, o consumismo, o industrialismo, o modo de produo capitalista e os aspectos polticos e econmicos da questo do lixo".

    Lixo e cidadania: a arte atravs da

    reutilizao (Pster 116)

    Movimentos Sociais

    "A crise socioambiental tende a agravar-se diante da manuteno do modelo de produo e consumo, onde os hbitos e atitudes individuais e coletivas esto sedimentados na cultura do consumismo e do desperdcio. Esse comportamento est presente no cotidiano das pessoas, que continuam comprando sem importar-se com o possvel esgotamento de matrias primas e recursos naturais (...)".

    Educao ambiental para o consumo

    responsvel: sacolas retornveis

    (Pster 497)

    Crtica ao consumismo

    Novas Temticas

    "O relatrio ainda coloca que se ns continuarmos consumindo no mesmo ritmo de hoje, em 2030, sero necessrios dois planetas iguais ao nosso para suprir

    Lixo na televiso: quem fala e o que

    fala sobre ele (Pster 298)

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    toda essa nossa voracidade. Contexto Escolar

    Nesta publicao tambm h sugestes de atividades educativas que promovem o consumo sustentvel, sendo este dirigido ao professor".

    Coleo consumo sustentvel e ao

    (Pster 70)

    Sugestes de atividades

    Movimentos sociais

    Neste contexto, procuraram-se alternativas tcnico-educativas, visando minimizar a gerao de sacolas plsticas descartveis oriundas na compra de pes e derivados nas panificadoras.

    Educao ambiental para o consumo responsvel: sacolas retornveis (Pster 497)

    Aes individuais, resultados coletivos

    Arte e literatura

    Na coleta seletiva ensinar que atravs de uma ao individual, o resultado vem para toda a comunidade.

    Educao ambiental para o consumo consciente (Pster 36)

    Movimentos sociais

    So ofertados sacolas, aventais, estojos e mochilas de rfia, simples e customizadas, onde afixada a frase: Meu jeito de Mudar o Mundo.

    Educao ambiental para o consumo responsvel: sacolas retornveis (Pster 497)

    Aes coletivas

    Redes sociais

    Um dos princpios que regem a Rede Ecolgica o de que a compreenso das etapas de produo e a participao coletiva dos consumidores na busca de solues para os desafios que cercam o pequeno produtor, proporcionam um processo educativo capaz de promover um novo modelo de produo e consumo para a sociedade.

    Rede ecolgica: uma experincia de reeducao (Pster 143)

    Consumidor que desconhece ou ignora boas prticas

    Arte e Literatura

    "(...) o descaso e/ou o desconhecimento do consumidor.

    Educao ambiental para o consumo consciente (Pster 36)

    Papel da Mdia

    Novas Temticas

    Entre o modelo de consumo e a produo de lixo, temos a atuao das Mdias e das instituies de Ensino. A mdia ao mesmo tempo em que incentiva o consumo atravs das propagandas e do prprio modelo de felicidade por ela difundido, tambm se responsabiliza por informar, conscientizar, educar".

    Lixo na televiso: quem fala e o que

    fala sobre ele (Pster 298)

    Percepo do consumidor

    Novas Temticas

    "O objeto de anlise aqui, o consumidor. O objetivo geral do trabalho analisar a percepo dos consumidores sobre a relao entre sustentabilidade e consumo; tendo como objetivos especficos no menos importantes identificar consumidores com prticas sustentveis".

    Prticas cotidianas de consumo

    sustentvel, uma utopia possvel?

    (Pster 322)

    Dilema e desafios

    Arte e literatura

    (...) isso amplia a dimenso do dilema e dos desafios que devem ser enfrentados por todas as sociedades que se baseiam no consumo.

    Educao ambiental para o consumo consciente (Pster 36)

    Abordagem normativa e

    Arte e literatura

    Por isso, ele precisa ser capaz de melhorar continuamente seu

    Educao ambiental para o consumo

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    prescritiva

    entendimento para agir conscientemente quando se trata de no atirar lixo- dos produtos que acabou de consumir- ao acaso.

    consciente (Pster 36)

    Relao entre consumidor e produtor

    Redes sociais

    Tal lgica afasta cada vez mais o consumidor do produtor, acarretando alienao sobre a cadeia produtiva, desmobilizao poltica, encarecimento dos produtos e, muitas vezes, falncia dos pequenos trabalhadores rurais. Para alcanar tal objetivo, a Rede Ecolgica desenvolve as seguintes aes: (...) agroturismo, aproximando os consumidores dos produtores e possibilitando o aprendizado sobre a vida no campo e agricultura agroecolgica.

    Rede ecolgica: uma experincia de reeducao (Pster 143)

    A anlise das sub-categorias, apresentadas na tabela acima, mostra que os psteres abordaram, principalmente, questes como a necessidade de rever e criar novos hbitos de consumo (07 psteres), a crtica ao consumismo (03 psteres), sugestes de atividades educativas que promovem o consumo sustentvel (02 Psteres) e as aes individuais como forma de gerar resultados coletivos (02 Psteres). Outras temticas com baixa recorrncia tambm merecem destaque: aes coletivas, consumidor que desconhece ou ignora boas prticas de consumo sustentvel, o papel da mdia (como incentivadora do consumismo e, ao mesmo tempo, conscientizadora), a percepo do consumidor sobre a relao entre sustentabilidade e consumo, dilemas e desafios a serem enfrentados, abordagem normativa e prescritiva e, finalmente, a relao entre consumidor e produtor.

    As sub-categorias mais recorrentes parecem apontar para nossa terceira hiptese, pois, embora enfatizem a crtica ao consumismo como uma das causas da crise socioambiental, os trabalhos parecem defender as propostas de consumo sustentvel como soluo para a melhoria ambiental.

    Nos chamou a ateno o fato de que apenas um trabalho se refere a uma pesquisa visando a analisar a percepo dos consumidores sobre a relao entre sustentabilidade e consumo para, s depois, analisar possveis incoerncias entre discurso e prtica, verificar se a escolha dos consumidores so [sic] para intervir na realidade social e ambiental que os cerca, produzir material ecopedaggico para orientao e difuso do consumo sustentvel e, assim, desmistificar o suposto consumo consciente (Pster 322).

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    Concluses: Educadores ambientais e suas percepes sobre a relao entre meio ambiente e consumo

    Os dados coletados e analisados nesta pesquisa exploratria, ainda em fase inicial, nos levam a crer que a relao entre meio ambiente e consumo um tema muito pouco abordado pela educao ambiental, pelo menos considerando o evento mais importante da rea.

    A pesquisa nos fornece indcios que apontam para nossa primeira hiptese, ou seja, os debates da rea de educao ambiental parecem no considerar a centralidade dos padres e nveis de consumo para a crise ambiental. Talvez esses debates considerem que os problemas ambientais so causados, principalmente, na esfera produtiva e que a influncia do consumo apenas marginal, mas isso no foi possvel verificar nesta etapa da pesquisa.

    Corroborou com tal concluso o fato de que, dentre os 14 Eixos Temticos propostos pelos organizadores e com os quais os psteres deveriam estar alinhados, nenhum aborda, explicitamente, a temtica do consumo.

    Os poucos trabalhos a abordarem esta questo foram alinhados, pelo evento e por seus autores, principalmente, ao tema empresa. O uso de palavras-chave como responsabilidade ambiental e gesto ambiental, associadas ao consumo, mesmo que com baixa frequncia, tambm aponta a tendncia de continuar a pensar o consumo a partir da esfera produtiva, abordagem crescentemente criticada dentro dos Estudos do Consumo. Da mesma forma, a anlise da Categoria 1 (Iniciativas empresariais em foco) mostrou que, dentre os 13 psteres apresentados no VI Frum que abordaram a temtica do consumo, 04 o enfocam a partir da perspectiva da empresa, o que refora esta concluso. Em alguns trabalhos, o consumidor simples ponta final de processos de inovao empresarial ou de programas de conscientizao ou disseminao de informaes tcnicas. Em outro, o termo consumidor usado para se referir a pequenos e mdios empresrios, consumidores de recursos florestais em suas atividades produtivas, dentro da abordagem do consumo institucional sustentvel. Tudo isso nos faz refletir se tais trabalhos, de fato, esto abordando o tema consumo ou, ao contrrio, continuam centrando sua anlise na esfera produtiva.

    As palavras-chave utilizadas para indexar os resumos, combinadas com aquelas relativas ao consumo, concentram-se em temas relativos aos resduos slidos (lixo, reciclagem, sacolas retornveis, resduos slidos e coleta seletiva), tema recorrente nos debates sobre a relao entre meio ambiente e consumo dentro da educao ambiental. Da mesma forma, o uso de termos como atitudes, mudanas, sensibilizao, educao e educomunicao nos pareceu apontar para o debate sobre as possibilidades de conscientizao e mudanas de comportamento dos consumidores como uma soluo para a crise socioambiental, embora no seja possvel inferir a forma de abordagem deste debate.

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    Finalmente, termos como economia solidria e compras coletivas pode indicar uma associao do nosso tema com o debate sobre a construo de alternativas economia e aos mercados convencionais.

    No que se refere anlise da Categoria 2 (O Consumidor em foco) e suas sub-categorias, podemos concluir que os psteres enfatizaram, principalmente, a crtica ao consumismo e a necessidade de rever e criar novos hbitos de consumo, o que aponta para nossa terceira hiptese, ou seja, a educao ambiental enfatiza a crtica ambiental ao consumo e considera as aes do consumidor como uma possvel soluo para a crise socioambiental, defendendo, portanto, as estratgias de consumo sustentvel.

    A anlise nos permite apontar indcios de que a relao entre consumo e meio ambiente abordada atravs mais da crtica social ao consumo, presente no senso comum, do que da anlise do fenmeno. Com isso, os dilemas cotidianos enfrentados pelos sujeitos ambientalizados ficam invisibilizados e o consumo sustentvel visto ou de forma totalmente negativa ou como soluo mgica. Em ambos os casos, trata-se de uma viso simplista que desconsidera a complexidade do campo tema.

    Finalmente, consideramos que essa pesquisa inicial serviu como um simples ponto de partida para a confirmao da pertinncia e necessidade de se investigar, com maior profundidade, se e como a educao ambiental aborda a relao entre Consumo e Meio Ambiente, o que, pretendemos, ter continuidade em pesquisas futuras.

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