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Universidade Federal de Campina Grande
Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 1
ANAIS ELETRÔNICOS ISSN 235709765
CONSUMISMO E FELICIDADE À LUZ DE LEITURAS DO MUNDO
Zenaide Brito de Abreu- UEFS [email protected]
Roseni Miranda da Silva Nascimento- UEFS [email protected]
RESUMO
Este trabalho que é fruto de experiências pibidianas versa sobre a importância de trabalhar a Leitura Literatura sob um viés engajado o qual visa denunciar as mazelas sociais. A sociedade moderna sofre muito com o consumo desenfreado ditado por forças massificadoras, à medida que os dias passam, as necessidades ganham novas formas e valores devido à falta de leitura, criatividade e percepção da organização social. Portanto, a intervenção visou estimular os educandos a criarem mecanismos de percepção crítica da realidade através de textos literários, alertando-os quanto à produção de felicidade imposta pelo sistema capitalista que em vez de sujeitos conscientes, produz consumidores que abrem mão da interação humana para dar valor aos objetos. Entendendo que por meio da leitura literária há como realizar novas leituras e desvendar o jogo de sedução e de desejo que há por traz da lógica consumista que prega a obtenção da felicidade por meio da compra excessiva, o que gera diversos problemas sociais. Durante nossa prática de ensino e aprendizagem mútua, prevaleceu sobre as nossas ações ideias de FREIRE, BARTHOLO, MARCUSCHI, CRUZ e FRANCHI. Além disso, esse trabalho teve como metodologia a pesquisa ação que permite o pesquisador analisar problemas sociais juntamente com outros sujeitos, o que exige participação e cooperação dos envolvidos. Após as rodas de leitura, discussão, as dinâmicas de interação que valorizam a relação dos indivíduos independente das coisas, seguindo os passos da arte e da criatividade os educandos produziram textos conforme seus propósitos e demandas sociais. Desse modo, por meio da produção de paródias, poemas, vídeos os eles repensaram de forma crítica a relação do homem com a mercadoria. Assim, através da leitura literária, essa proposta de ensino, reflexão e aprendizagem de língua materna trouxe à luz uma discussão que transitou entre felicidade e consumismo: o sujeito entre o ser e o ter.
Palavras-chave: Literatura. Leitura. Ensino. Poema.
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ANAIS ELETRÔNICOS ISSN 235709765
INTRODUÇÃO
É considerável a ideia que o ensino de Língua tenha por base o texto, porém
este não pode servir apenas de pretexto para o ensino da gramática da língua. Por isso,
embora a leitura literária na escola seja menosprezada por muitos educandos e, até
mesmo, educadores, entende-se que meio desse tipo de leitura, os educandos criam
mais sentidos para as ações e/ou acontecimentos que afetam a saúde social da
comunidade, já que a literatura é subjetiva e coletivamente construída. Portanto, nos
deparamos com as seguintes questões: a leitura literária na escola seria prazerosa se
estivesse associada ao cotidiano dos educandos? De que forma a leitura literária pode
ser uma arma contra os problemas que angustiam a sociedade?
Por conta desses questionamentos, da necessidade de reflexão e sensibilização
dos educandos por meio da leitura literária sobre problemas que afligem a sociedade
e, por termos iniciados nossas atividades em Maio, mês das mães, fizemos uma
dinâmica e uma atividade diagnóstica em uma turma de 1° ano do Ensino Médio do
Colégio Estadual Luiz Viana Filho, Feira de Santana- Bahia. Ao analisar os resultados da
atividade diagnóstica, percebemos que aquele grupo considerava o consumo de bens
(mercadoria) como a chave para encontrar a felicidade.
Tendo em vista que, dentre vários problemas, um dos que aflige a sociedade
moderna está o consumismo e a suposta produção de felicidade, sendo os
adolescentes e os pré-adolescentes o público alvo da lógica consumista, entende-se
que por meio da leitura literária há como realizar novas leituras e desvendar o jogo de
sedução e de desejo que há por traz da referida lógica, que prega a obtenção da
felicidade por meio da compra excessiva, o que gera diversos problemas sociais.
Portanto, a intervenção visou estimular os educandos a criarem mecanismos de
percepção crítica da realidade através de textos literários, alertando-os quanto à
produção de felicidade imposta pelo sistema capitalista que em vez de sujeitos
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conscientes, produz consumidores que abrem mão da interação humana para dar
valor aos objetos.
“Numa sociedade onde impera a força massificadora, sob formas distorcidas de liberdade, cresce a necessidade do desenvolvimento de uma consciência crítica, levando a um comportamento ético/político menos ingênuo, de respostas mais criativas e com maior capacidade de decisão.” (BARTHOLO, 1996 apud CRUZ, 2006, p. 80).
No processo de construção de saber, de possíveis leituras de mundo faz-se mais
do que necessário o uso de um método de ensino e aprendizagem por meio de textos
que perpassem o cotidiano dos educandos, para que esses sujeitos estejam mais
próximo do seu objeto de estudo, o que facilita a compreensão e interpretação
textual, pois permite maior interação entre sujeito, texto e contexto. Visto que,
letramento não é pura e simplesmente um conjunto de habilidades individuais; é o
conjunto de habilidades ligados à leitura e à escrita em que os indivíduos se envolvem
em seu contexto social. (SOARES, 1998 [2002]).
Nessa perspectiva, o trabalho com o texto possibilita ao educando o uso
consciente da leitura-escrita, o que potencializa a sua utilização como prática de
intervenção social. Além disso, desenvolve a competência leitora que é fundamental
para a construção da autonomia do sujeito, compreende-se, portanto, que o texto não
pode ser visto fora da abrangência dos discursos, das ideologias e das significações,
como tanto a escola quanto as teorias se habituaram a fazer. (ROXANE, 2009). Dessa
forma, o nosso viés foi a leitura literária engajada que visa “denunciar as mazelas
sociais” (CRUZ, 2006, p 85).
Seguindo os passos da literatura engajada, o texto literário nos serviu como
ponto de partida bem como de apoio para a inserção de uma discussão que aflige a
sociedade moderna. Além disso, a intervenção visou “estimular o educando a criar
mecanismos de percepção crítica da realidade” (CRUZ, 2012 p. 81), alertando-os
quanto à produção de felicidade imposta pelo sistema capitalista que em vez de
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sujeitos conscientes, produz consumidores que abrem mão da interação humana para
dar valor aos objetos.
DISCUSSÃO TEÓRICA
A sociedade moderna sofre muito com o consumo desenfreado e, à medida
que os dias passam, as necessidades ganham novas formas e valores devido à falta de
leitura, criatividade e percepção da organização social. Por sua vez, essa ausência de
letramento “impede a atuação do indivíduo na elaboração de seus próprios conceitos
frente a uma realidade social que o instiga a ser um sujeito pensante” (CRUZ, 2008, p.
81), o que dá margem à ideia de que o indivíduo alcança o prazer, o bem estar, a
felicidade por meio da aquisição de bens de consumo e serviços, sendo a falta de
leitura significativa uma contribuição para formar consumidores obsessivos no lugar de
sujeitos.
“A sociedade atual é regida pelo discurso capitalista que se nutre da fabricação do gozo, produzindo desse modo insaciáveis consumidores no lugar de sujeitos. Partindo dessa constatação, observa-se que as relações sociais ao invés de estarem centradas nos laços sociais entre os homens, elas estão focalizadas nos objetos” (CRUZ, 2008, p. 120)
O consumismo, por sua vez, nasce da vontade de comprar, da vaidade, da
inveja, da ansiedade, do modernismo, da preocupação, da aceitação em grupos e,
sobretudo, por indução de terceiros, como por exemplo as propagandas que são
ferramentas com estratégias hábeis para despertar, induzir e ou intensificar o desejo
de comprar. Desse modo, muitos adolescentes e adultos passam a supervalorizar
coisas desnecessárias, acreditando que a compra pode trazer a felicidade.
“[...] nossa sociedade mantém com o consumo uma relação ambivalente”, visto que “ele é percebido ao mesmo tempo, como fonte de desejo, de realização de si, de posicionamento estatuário e de desenvolvimento econômico e, também, como causa de
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alienação, de desperdício, de perda de valores e de dissolução da cultura.” (DESJOUX, 2011 p 21)
Conforme a citação acima, a sociedade está dividida entre duas faces do
consumo, todavia percebe-se que esta não tem condições de sustentar esse consumo
exacerbado, tendo em vista que este potencializa a violência, a poluição, o
desmatamento e, sobretudo, a o enfraquecimento das relações interpessoais. Ainda
que, por um lado o consumo seja proveitoso para a população, já que terá mais e fácil
acesso aos bens de consumo e serviços; por outro lado essa população não saberá
lidar com os problemas que tendem a surgir e aumentar- citados acima.
De acordo com as propostas recentes de ensino, pautadas na reflexão e
aprendizagem de língua, o texto deve ser tido como base, por isso, tendo em vista que
a leitura e a escrita é mais um meio eficaz para a inserção dos indivíduos na
coletividade, urge no meio social, a necessidade de formar sujeitos mais responsáveis
e atentos. O texto literário tem esse potencial de despertar o senso crítico dos sujeitos,
então “faz-se necessário à promoção, no âmbito escolar, de uma discussão que
fomente o pensamento crítico e criativo sobre os problemas sociais que envolvem os
jovens no seu dia a dia” (CRUZ, 2008, p. 86).
“É cada vez mais visível que a igualdade no supérfluo esconde a desigualdade no necessário, pois todos querem desfrutar do status que o consumo proporciona. Assim, muitos vestem roupas idênticas, usam a mesma televisão, o tênis daquela marca, mas impera uma grande desigualdade ao fazer escolhas fundamentais para a vida, como na educação, na moradia e na saúde” (Mundo Jovem – Consumismo – 16/04/2009).
O sujeito vivência o mal estar da sociedade contemporânea, escondendo-se
atrás do supérfluo, e para haver uma mudança de comportamento é necessário um
posicionamento letrado crítico. Daí, entende-se que a literatura é um caminho que
ajuda o indivíduo adquirir mais experiência de leitura e inteligência de mundo. “[...]
Adquirir essa inteligência significa conhecer valores e ideias na sua interioridade,
significa, pensar sobre eles, desenvolvendo uma posição crítica e própria” (FREIRE,
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2006, p 23 apud CRUZ, 2008, p. 159). A literatura torna-se, portanto, um instrumento
eficaz para o ensino e aprendizagem de língua.
A prática de leitura por muitos anos não passou de decodificação, o que afasta
o sujeito leitor do prazer do ato de ler e da possibilidade de dialogar com os discursos
que permeiam a sociedade na qual habita. Entretanto, por meio da leitura literária, os
educandos criam mais sentidos para as suas ações e ou acontecimentos que afetam a
saúde social da comunidade, visto que “o contato com a literatura possibilita que os
estudantes aprendam a ler o mundo, a entender as relações sociais e, mais ainda, a se
perceberem como parte da humanidade.” (MAGALHÃES 2008, p. 97)
Então, por meio da literatura engajada, este projeto visou alertar os educandos
quanto à produção de felicidade proposta pelo sistema capitalista que, em vez de
sujeitos conscientes, produz consumidores que abrem mão da interação humana para
dar valor aos objetos. Regidos pelo discurso publicitário o sujeito está submetido ao
processo de coisificar-se, sendo obrigado adentrar ao mundo da farsa para atingir um
dito gozo. Assim, o educando teve oportunidade de refletir sobre o mal estar do
sujeito contemporâneo e a importância das relações interpessoais para a nossa
formação humana, a qual está perdendo valor na contemporaneidade devido ao
imediatismo o qual dita uma falta de prazer, de felicidade e, por sua vez, contribui para
que os indivíduos busquem por meio das compras o sentir-se bem.
METODOLOGIA
O nosso trabalho teve como metodologia a pesquisa ação que permite o
pesquisador analisar problemas sociais juntamente com outros sujeitos, o que exige
participação e cooperação dos envolvidos. Esse método de investigação possibilita que
o pesquisador construa novos saberes após mobilizar os participantes ao intervir e
analisar uma problemática social. “É através da pesquisa-ação que o docente tem
condições de refletir criticamente sobre suas ações.”
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“A pesquisa-ação é uma forma de indagação auto reflexiva que empreendem os participantes em situações sociais com relação a melhorar a racionalidade e a justiça de suas próprias praticas, seu entendimento das mesmas e as situações dentro das quais elas têm lugar.” (Carr; Kemmis, 1988, p. 174 apud RINALDO, , p. 41)
Entende-se então que essa pesquisa favorece discussões e produções sobre
conhecimentos específicos sobre a realidade vivida, a partir da fragmentação do
cotidiano. Por isso, esse método ganha espaço “em defesa de uma formação de
professores em que estes façam da sua pratica profissional um instrumento de
transformação da realidade, na direção do coletivo, da solidariedade e do bem
comum.” (ZEICHNER, 1993b; 2002b apud RINALDO, , p. 44)
Durante a nossa prática de ensino, bem como aprendizagem mutua, prevaleceu
sobre as nossas ações as ideias de FREIRE (1989), CRUZ (2012) e FRANCHI (2006). Esses
estudiosos defendem o ensino por meio da criatividade, reconhecendo o
conhecimento de mundo que cada indivíduo possui e, por conseguinte compartilha no
momento da interação. Embora haja uma forte desmotivação no meio escolar por
parte de alguns educadores, da gestão escolar e dos educandos, há uma gritante
necessidade de instigar a leitura e a produção textual significativa, que desenvolva a
autonomia dos sujeitos envolvidos nesse processo. Conforme Franchi, “o ideal não é
um aluno passivo e recipiente, mas ativo e interferente: o conhecimento tem que
resultar de um processo de construção conduzido pelo próprio sujeito.” (FRANCHI,
2006)
Segundo Freire (1989), a educação é um ato político, por isso deve-se estimular
os alunos a pensarem, a decidirem, a escolherem, bem como não aceitar os conceitos
previamente concebidos, mas, perceberem-se como autores de sua própria história.
Além disso, que compreendam que a nossa vida é feita de escolhas e surpresas, mas, à
medida que o sujeito tem acesso a novos saberes, ele amplia a capacidade de
compreender e produzir textos a fim de direcionar seus passos com responsabilidade.
Para Soares (1998), a visão de letramento que deveria predominar nos muros da
escola aproxima-se da visão paulo – freiriana, pois seria
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Revolucionária, crítica na medida em que colaboraria não para a adaptação do cidadão às exigências sociais, mas para o resgate da autoestima, para a construção de identidades fortes, para a potencialização de poderes (empoderamento) dos agentes sociais, em sua cultura local, em sua cultura valorizada. ( ROXANE, 2009, p. 100)
Oficinas foram realizadas com o intuito de promover a leitura literária, fazendo
com que o educando percebesse que o ato de ler é a base que sustenta a nossa vida
em sociedade. Até mesmo porque a leitura é algo inerente ao ser humano. Esse ato,
além de melhorar a nossa dicção e a escrita, potencializa a nossa percepção de mundo,
que permite ler, reler entender o espaço social e, por conseguinte a nossa relação com
este. Desse modo, compreendemos que a leitura é uma ponte para o saber que ajuda
o indivíduo a interagir com o meio e perceber que a linguagem é um sistema de
relações produtoras de sentidos.
É obvio que a linguagem não só é determinada, como também, no movimento contrário, reproduz a realidade social, onde uma das questões mais sérias diz respeito ao tipo de correlação de forças que se constrói na sociedade, cujos efeitos não são necessariamente considerados como válidos ou justos por todos os segmentos sociais. (VOESE, 2004, p.138)
Trabalhar com a leitura na escola hoje é estar ciente do poder que esta afere ao
indivíduo, é estar ciente da sua fundamental importância para a formação de sujeit@s
críticos, autônomos e agentes sociais. Além disso, o desenvolvimento de atividades
com prática de leitura e produção textual nas escolas devem ter como meta estar
acima do alfabetismo e alfabetização de certos conteúdos, isto é, estar acima da mera
decodificação de textos. O sujeito hoje é múltiplo e tem fácil acesso às informações,
por isso é preciso trabalhar com letramentos seguindo a multiplicidade de gêneros
discursivos que compõe a vida do educando, unindo portanto a leitura na vida e a
leitura na escola.
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No primeiro contato com a turma, fizemos uma dinâmica, na qual havia alguns
questionamentos sobre felicidade e sobre o dia das mães. Segundo as repostas dos
educandos, a mercadoria, o consumo excessivo são os principais responsáveis pela
produção de felicidade, como exemplos: “Felicidade é ganhar na loteria”, “Felicidade é
ter meu primeiro carro.” Desse apego às coisas materiais, nasceu esse projeto de
intervenção que visava alcançar a conscientização e o despertar crítico e criativo dos
educandos. Optamos por trabalhar com textos literários curtos, que dessem margem à
discussão sobre o consumismo e sobre um dos discursos que regem a sociedade atual:
falta de prazer, o que produz consumidores insaciáveis no lugar de sujeitos
conscientes.
O segundo passo da nossa pesquisa está na condução dos trabalhos,
desenvolver e avaliar as estratégias. Em nosso grupo, havia a necessidade de refletir
sobre a própria vida e sobre a ação do homem sobre o mundo, portanto, a arte e a
criatividade, que além de unir conhecimento, leva o indivíduo a refletir sobre suas
ações, foi uma das estratégias avaliativas do nosso trabalho.
Nossos encontros foram subdivididos em oito momentos – sendo que cada
momento teve em média a duração de cem minutos. Trabalhamos com textos sobre o
consumismo e a produção da felicidade, diálogos que perpassam entre o ser e o ter,
tomando como referência acontecimentos e comemorações: dia das mães em maio e
a copa em junho.
O primeiro momento iniciou em maio, mês considerado das mães, por isso
optamos por uma crônica que trouxesse o questionamento: dia das mães ou dos
comerciantes? Por entender que as mães são seres sublimes e toda a atenção voltada
para elas seria pouca e que resumir essa atenção para apenas um dia é desmerecê-las,
ou melhor, é valorizar apenas o comércio, optamos por uma crônica de Antônio do
Lajedinho, cujo título é “Maio mês dos esquecidos”. Nessa crônica, há uma crítica à
importância que é dada aos comerciantes feirenses no “dia das mães”. Na sequência,
discutimos a diferença entre consumo e consumismo. Portanto, trabalhamos com
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imagens que fizessem referência ao tema. Assim, discutiram, em quartetos, a
mensagem de cada imagem e expuseram oralmente a análise do texto.
Para resgatar e rever alguns valores quanto às relações entre os indivíduos e as
coisas, analisamos o poema “Eu etiqueta” de Drummond e “Quem sou”, de Pedro
Bandeira. Além disso, para que houvesse maior interação e aproximação do grupo,
fizemos algumas dinâmicas que tinha por objetivo promover interação entre o grupo.
A escola promoveu o Dia da Leitura, tendo por tema a COPA DO MUNDO, por
isso discutimos também a questão do anúncio/propaganda que é válvula propulsora
do consumismo. Portanto trabalhamos com as crônicas: “A copa já era”, blog do Jucá e
“Tia Fifa”, de Luiz Fernando Veríssimo e o poema “A copa já foi”, de Drummond.
Ambos os textos- verbais não verbais- trazem uma reflexão sobre a relação do
sujeito com a mercadoria. Reafirmam a importância do sujeito conhecer a si mesmo,
suas motivações. Isso o ajuda a encontrar um caminho para evitar o desespero na
busca da felicidade. Tendo em vista que a busca desesperada pela felicidade nos
impede de encontrá-la e nos faz crer que os outros são mais felizes do que nós, só
porque são diferentes – este sentimento pode induzir o indivíduo a comprar mais.
RESULTADOS
Dessa forma, alertamos os educandos para os riscos que correm ao irem às
compras e, sobretudo, para o valor que damos às coisas, abrindo mão, por vezes, da
interação humana. Além disso, as reflexões giraram em torno da frieza que está
presente em algumas relações dos seres humanos, o que se deve ao imediatismo que
impera ao ditar que há uma falta de prazer. Esse imediatismo, essa busca desesperada
pela felicidade contribui para que os indivíduos comprem mais para sentir-se bem e
muitas vezes nem param para refletir sobre essa atitude. Por meio da análise,
discussão e reflexão o educando teve a possibilidade de percebe-se responsável pela
organização social.
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Em grupo, avaliamos propagandas, reconhecendo seu alto teor de influência no
sistema de informações. Visto que induz o sujeito a comprar mais para que obtenha
felicidade, sucesso, prazer. Isso implica dizer que a propaganda manipula o consciente
do sujeito.
Após as rodas de leitura e discussão, as dinâmicas de interação que valorizam a
relação dos indivíduos independente das coisas. Seguindo os passos da arte e da
criatividade os educandos produziram textos conforme seus propósitos e demandas
sociais. Desse modo, por meio da produção de paródias, poemas, vídeos os educandos
repensaram de forma crítica a relação do homem com a mercadoria.
As produções trouxeram em seu seio a discussão sobre o ter e o ser na
sociedade, como também apresentam um pouco do homem sujeito às
superficialidades imposta pelo sistema capitalista, o que afeta nova geração de jovens.
Como podemos notar no trecho de uma das produções do grupo:
“E cantavam nas margens dos grandes rios.
Havia o verbo ser e o verbo ter
Havia o não haver e o haver demais,
Mas eles perguntam e o viver
É só este não ser para ter mais?” Educandas 1° 7, EGLVF
Ainda nas produções podemos notar a consciência mais amadurecida quanto à
diferença entre consumo e consumismo, bem como a preocupação com as novas
gerações:
“Na era do consumo compramos o que “queremos”;
Na era do consumismo compramos o que não devemos.”
Educandas 1° 7,
EGLVF
“Aqui deixo nosso aviso para vocês raridades,
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Não ande com o consumismo, pois ele não é boa
amizade”
Educandas 1° 7, EGLVF
Nessas e em outras produções, podemos perceber como os educandos lidam
com a dualidade entre o ser e o ter. Apresentam uma visão mais amadurecida quanto
ao comportamento humano em relação às coisas materiais que por vezes passam a
ocupar uma relevância extrema na vida dos indivíduos. Isso se torna um problema,
uma vez que essa busca incessável pela felicidade por meio do consumo pode trazer
problemas tanto sociais, econômicos e psicológicos.
Além disso, parafraseando Albert Einstein, “a mente que se abre a uma nova
ideia nunca terá o mesmo tamanho”, a análise dos impactos do consumismo na
sociedade e no sujeito por meio de textos literários despertou o senso crítico dos
sujeitos envolvidos – professor e educando- nesse processo de formação.
CONCLUSÃO
Esse projeto aponta discussões acerca dos problemas que envolvem a nova
geração de jovens presentes nas escolas, bem como traz à luz a importância da
construção da identidade do professor neste campo de atuação. Portanto, acredito
que a inserção das licenciaturas ao Projeto PIBID é de fundamental importância, pois
assim os profissionais em formação terão a oportunidade de pôr em prática os
conhecimentos armazenados ao longo do curso. Além disso, poderá contribuir para a
construção de estratégias inovadoras que visem o melhoramento do ensino público.
Creio que no momento da atuação o profissional em formação percebe-se
como produtor de um discurso, defensor de ideologias o que gera mudanças na
educação do nosso país. Porém, quando essas ideias são discutidas e articuladas
podem gerar bons frutos, ampliando a força da educação. Por isso, ideias inovadoras
referente ao desenvolvimento da autonomia do indivíduo devem ser discutidos em
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equipe para que os frutos gerados pela educação deem retornos significativos tanto
para o educador, quanto para os educandos.
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