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FACULDADE TECSOMA Curso de Graduação em Enfermagem CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS NAS FAMÍLIAS CADASTRADAS NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA CHAPADINHA NO MUNICÍPIO DE PARACATU-MG Fátima Aparecida dos Reis Ulhôa PARACATU-MG 2010

CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS NAS … · O serviço prestado com prazer, ... AL-ATEEN – Divisão de Al-Anon dedicada a pessoas mais jovens que são afetadas pelo hábito de alguém

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  • FACULDADE TECSOMA

    Curso de Graduao em Enfermagem

    CONSUMO DE BEBIDAS ALCOLICAS NAS FAMLIAS

    CADASTRADAS NO PROGRAMA DE SADE DA FAMLIA

    CHAPADINHA NO MUNICPIO DE PARACATU-MG

    Ftima Aparecida dos Reis Ulha

    PARACATU-MG

    2010

  • FTIMA APARECIDA DOS REIS ULHA

    CONSUMO DE BEBIDAS ALCOLICAS NAS FAMLIAS

    CADASTRADAS NO PROGRAMA DE SADE DA FAMLIA

    CHAPADINHA NO MUNICPIO DE PARACATU-MG

    Monografia apresentada disciplina de Trabalho de Concluso de Curso II, ministrada pelo Prof. Geraldo Benedito Batista de Oliveira, como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Enfermagem. Orientadora Temtica: Evanir Soares Fonseca

    PARACATU-MG

    2010

  • Ulha, Ftima Aparecida dos Reis. Consumo de bebidas alcolicas nas famlias cadastradas no Programa

    de Sade da Famlia Chapadinha no municpio de Paracatu-MG. / Ftima Aparecida dos Reis Ulha. 2010.

    73p. : il. color.; 30 cm. Orientadora: Evanir Soares Fonseca Trabalho de Concluso de Curso (Graduao) Faculdade Tecsoma,

    Curso de Enfermagem, Paracatu, 2010. 1. Alcoolismo. 2. Teste de Identificao de Problemas Relacionados ao

    Uso de lcool (AUDIT). 3. Incidncia. 4. Fatores de risco. I. Fonseca, Evanir Soares. II. Faculdade Tecsoma. III. Ttulo.

    CDU 612.63

  • FTIMA APARECIDA DOS REIS ULHA

    Consumo de bebidas alcolicas nas famlias cadastradas no Programa de

    Sade da Famlia Chapadinha no municpio de Paracatu-MG.

    Monografia apresentado disciplina de

    Trabalho de Concluso de Curso II, como

    requisito parcial para obteno do ttulo de

    Bacharel em Enfermagem.

    _______________________________________________

    Evanir Soares Fonseca

    Orientadora Temtica

    _______________________________________________

    Geraldo Benedito Batista de Oliveira

    Professor Supervisor

    PARACATU-MG, 21 de junho de 2010

  • Dedico ao meu esposo, filhos, familiares,

    professores e colegas que juntos me incentivaram

    nessa difcil jornada.

  • AGRADECIMENTO

    Agradeo primeiramente a Deus razo do meu viver. Ao meu esposo

    Adelmar Kepler Andrade Ulha pela fora, carinho, incentivo em todos os

    momentos. Aos meus queridos filhos Gabriel Kepler dos Reis Ulha e Rafaely

    Kepler dos Reis Ulha que estiveram sempre ao meu lado sempre incentivando e

    ajudando. A todos os professores, familiares, amigos e colegas que juntos

    torceram por mais essa vitria na minha vida.

    Em especial minha orientadora Evanir Soares Fonseca pela presteza,

    cordialidade e confiana, ao professor Geraldo Benedito Batista de Oliveira, pela

    orientao metodolgica, ao grupo A.A. pelas relevantes informaes e carinho, a

    enfermeira Vnia e aos moradores da Chapadinha os quais foram grandes

    colaboradores para a realizao deste trabalho, coordenadora Rosalba Cassuci

    Arantes pela fora e amizade e, todos os funcionrios da biblioteca pela

    pacincia, ateno e amizade.

  • Em todas as nossas atividades

    O servio prestado com prazer, as obrigaes cumpridas com

    retido, os problemas bem aceitos ou solucionados com a ajuda

    de Deus, o reconhecimento de que em casa ou fora dela somos

    parceiros em um esforo comum, o fato de que aos olhos de

    Deus todos os seres humanos so importantes, a prova de que o

    amor livremente concedido traz um retorno completo, a

    certeza de no estarmos mais isolados e sozinhos em prises

    construdas por ns mesmos, a certeza de que podemos nos

    adaptar e pertencer ao esquema das coisas criadas por Deus,

    essas so as satisfaes permanentes e legtimas que frumos de

    uma vida correta que nenhuma pompa e circunstncia, e

    nenhum amontoado de posses ateriais, poderiam possivelmente

    substituir.

    Bill Wilson.

  • LISTA SIGLAS

    AA Alcolicos annimos

    AVAI - Anos de Vida Ajustados por Incapacidade

    AL-ANON Programa de Doze Passos para familiares e amigos de alcolico

    AL-ATEEN Diviso de Al-Anon dedicada a pessoas mais jovens que so

    afetadas pelo hbito de algum beber

    AUDIT: Teste de identificao de Distrbio de uso de lcool

    AVAI Anos de Vida Ajustados por Incapacidade

    CEBRID Centro Brasileiro de Informaes sobre Drogas Psicotrpicas

    CID-10 Classificao Internacional de Doenas

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    JUNAAB Junta de Servios Gerais de Alcolicos Annimos do Brasil

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PSF Programa de Sade da Famlia

    SAA Sndrome de Abstinncia do lcool

    SAF Sndrome aguda fetal

    SDA Sndrome da dependncia do lcool

    SENAD Secretaria Nacional Antidrogas

    SIAB Sistema de Informao de ateno Bsica

    SUS Sistema nico de Sade

    TCC Trabalho de concluso de curso.

    UNIFESP Universidade Federal de So Paulo

  • RESUMO

    O presente estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a incidncia do consumo

    de lcool na populao acima de 15 anos, cadastrados no Programa de Sade da

    Famlia Chapadinha, no municpio de Paracatu, Minas Gerais. As informaes

    foram coletadas foi atravs de entrevista estruturada com perguntas

    predeterminadas realizada nas residncias dos moradores (n=332) foram

    aplicados o Teste de Identificao de Problemas Relacionados ao Uso de lcool

    (AUDIT) e um questionrio estruturado para informaes sociodemogrficas. Os

    resultados mostram que 79% faz uso de bebidas alcolicas e enquanto 21% no

    consomem bebidas alcolicas. De acordo com a pontuao no questionrio

    AUDIT, observou-se que 62% relataram sintomas de dependncia ao lcool, e

    47% j manifestam danos ocasionados pelo consumo de lcool. Os dados

    apontam que as pessoas esto cada vez mais acometidas pelo uso do lcool,

    havendo necessidade urgente de implantao de polticas pblicas visando aes

    de sade direcionadas ao alcoolismo, a fim de buscar abordagens que ampliem o

    olhar e as possibilidades de interveno em nvel da preveno, promoo

    sade e bem como tratamento dos alcoolistas.

    Palavras- chave: alcoolismo. Teste de Identificao de Problemas Relacionados

    ao Uso de lcool (AUDIT). Incidncia. Fatores de risco.

  • ABSTRACT

    The present study was to evaluate the incidence of alcohol consumption in the

    population over 15 years, enrolled in the Family Health Program Chapadinha, in

    Paracatu, Minas Gerais. Information was collected through interviews was

    structured with predetermined questions held in the homes of residents (n = 332)

    were applied to the Identification Test Problems Related to Alcohol (AUDIT) and a

    structured questionnaire for sociodemographic information. The results show that

    79% makes use of alcoholic beverages while 21% did not consume alcohol.

    According to scores on the AUDIT questionnaire, it was observed that 62%

    reported symptoms of alcohol dependence, and 47% had manifest damage

    caused by alcohol consumption. Data indicate that people are increasingly

    affected by alcohol use, urgent need to implement public policies aimed at health

    actions directed to alcoholism, aim to seek approaches that broaden perspectives

    and possibilities for intervention in the prevention, and health care and treatment

    of alcoholics.

    Keywords: alcoholism. Identification Test Problems Related to Alcohol (AUDIT).

    Incidence. Risk factors.

  • LISTA DE TABELAS

    TABELA 1: Perfil socioeconmico dos usurios entrevistados, PSF

    Chapadinha, 2010 ............................................................................................ 44

  • LISTA DE GRFICOS

    GRFICO 1: Distribuio dos entrevistados, conforme a bebida alcolica

    consumida, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 .................................................. 47

    GRFICO 2: Distribuio dos entrevistados, conforme a freqncia do

    consumo de bebida alcolica, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 ..................... 48

    GRFICO 3: Distribuio dos entrevistados, quanto ao nmero de doses de

    bebida alcolica consumidas em dia de consumo, PSF Chapadinha

    Paracatu, 2010 0 ............................................................................................... 49

    GRFICO 4: Distribuio dos entrevistados, conforme a freqncia do

    consumo de 6 ou mais doses de bebida alcolica numa mesma ocasio, PSF

    Chapadinha Paracatu, 2010 ............................................................................. 50

    GRFICO 5: Distribuio dos entrevistados, conforme a freqncia durante

    os ltimos 12 meses percebeu que no conseguia parar de beber, uma vez

    que havia comeado, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 .................................. 50

    GRFICO 6: Distribuio dos entrevistados, conforme quantidade de vezes

    durante o ano passado deixou de fazer o que era esperado devido ao uso de

    bebidas alcolicas, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 ...................................... 51

    GRFICO 7: Distribuio dos entrevistados, conforme quantidade de vezes

    durante os ltimos 12 meses precisou de uma primeira dose pela manh

    para sentir-se melhor depois de uma bebedeira, PSF Chapadinha Paracatu,

    2010 ................................................................................................................. 52

    GRFICO 8: Distribuio dos entrevistados, conforme quantidade de vezes

    no ano passado sentiu-se culpado ou com remorso depois de beber, PSF

    Chapadinha Paracatu, 2010 ............................................................................. 53

  • GRFICO 9: Distribuio dos entrevistados, conforme quantidade de vezes

    durante o ano passado no conseguiu lembrar o que aconteceu na noite

    anterior porque estava bebendo, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 ................ 53

    GRFICO10: Distribuio dos entrevistados, conforme freqncia de crtica

    recebida pelo resultado das suas bebedeiras, PSF Chapadinha Paracatu,

    2010 ................................................................................................................. 54

    GRFICO 11: Distribuio dos entrevistados, em que algum parente, amigo,

    mdico ou qualquer outro trabalhador da rea de sade referiu-se s suas

    bebedeiras ou sugeriu parar de beber, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 ........ 55

  • 5

    SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................ 14 1.1 Justificativa ............................................................................................. 18 1.2 Objetivos ................................................................................................. 20 1.2.1 Objetivo geral ...................................................................................... 20 1.2.2 Objetivos especficos .......................................................................... 20 2 ALCOOLISMO ............................................................................................ 21 2.1 Fatores de risco ...................................................................................... 24 2.2 Sndrome da dependncia ..................................................................... 26 2.3 Sndrome da abstinncia ....................................................................... 27 2.4 Complicaes ......................................................................................... 28 2.5 Custo social do alcoolismo ................................................................... 31 3 ALCOLICO ANNIMO (A.A.) .................................................................. 33 3.1 O Nascimento de A.A. e seu Desenvolvimento .................................... 33 3.2 Histria de A.A. no Brasil ....................................................................... 36 3.3 Histria do A. A. em Paracatu ............................................................... 39 4 FUNDAMENTAO METODOLGICA ..................................................... 41 5 RESULTADOS E DISCUSSO .................................................................. 44 6 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................ 57 REFERNCIAS ............................................................................................... 58 APNDICE ..................................................................................................... 66 ANEXO ............................................................................................................ 72

  • 14

    1 INTRODUO

    A palavra alcoolismo foi usada pela primeira vez em 1854 por Magnus Huss

    para significar o uso abusivo de bebidas alcolicas e as consequncias, sintomas e

    sinais patolgicos fsicos e psquicos apresentados pelo alcoolista, alcolico ou

    ainda alcolatra. A palavra lcool de origem rabe e etimologicamente que dizer

    coisa sutil, enganadora. (SILVEIRA,1997).

    Uma das maiores calamidades sociais do mundo moderno o alcoolismo.

    Produz no viciado uma perda progressiva do senso tico da vida, crescente perda

    senso de responsabilidade, diminuio da produtividade em qualquer gnero de

    atividade profissional. A perda do senso tico conduz o alcolatra crnico a ir

    descendo na escala social dos companheiiros que busca para as suas libaes.

    (SILVEIRA,1997).

    Segundo Ramos e Bertolote (1997) o lcool uma droga psicoativa que

    admite dependendo da dose, da freqncia e das circunstncias um uso sem

    problemas. Contudo, o seu uso inadequado pode trazer graves conseqncias tanto

    a nvel orgnico, como psicolgico e social, caracterizando a condio conhecida

    como alcoolismo. Esta passagem, do beber sem problemas ao alcoolismo, no se

    faz do dia para a noite. E um processo que admite uma longa interao entre o

    beber normal e o alcoolismo, em geral de vrios anos.

    Nesta interao comeam a aparecer os problemas relacionados ao uso

    inadequado do lcool. O beber passa a ser priorizado em relao a outras

    atividades, adquirindo cada vez mais importncia na vida da pessoa. E, usando uma

    imagem, quando amigos, famlia, vida profissional, preocupao com o prprio corpo

    comeam como a ser a parte desbotada de uma retrato antiga, em branco e preto,

    onde o detalhe que se destaca cada vez com mais clareza o lcool. (RAMOS;

    BERTOLOTE, 1997)

    De acordo com Silveira (1997) em todas as as camadas sociais usa-se e

    abusa- se do lcool, desde os mais remotos tempos da humanidade alcoolismo

    sem dvida uma das maiores pragas sociais, mas infelizmente no h meios de

    extipar essa epidemia mundial.

    Alcoolismo uma doena, uma entidade clnica como se diz. Durante

    muito tempo o alcoolismo foi visto como sintoma de uma estrutura de personalidade

  • 15

    prvia alterada e ento o que causaria o alcoolismo seriam os conflitos emocionais

    do indivduo. (RAMOS; BERLOTE, 1997).

    Entre outras doenas, o consumo do lcool pode causar importantes

    alteraes na mucosa gastrointestinal, no pncreas e no fgado. (ALMEIDA;

    COUTINHO, 1993; SEITZ; HOMANN, 2001 apud FONTES; FIGLIE; LARANJEIRA,

    2006). Segundo o consenso sobre a sndrome da abstinncia do lcool

    (LARANJEIRA et al., 2000), as principais comorbidades clnicas do sistema

    gastrointestinal associadas ao consumo de bebidas alcolicas so: pancreatite

    crnica, esteatose heptica, hepatite alcolica, hemorragia digestiva, cirrose

    heptica com ou sem hepatite alcolica, gastrite, esofagite de refluxo e tumores.

    Ainda no Brasil, o lcool responsvel por mais de 90% das internaes

    hospitalares por dependncia. (CARLINI et al., 2002). Em relao aos pacientes

    internados por problemas psiquitricos, aproximadamente 35% apresentam

    problemas decorrentes do uso de substncias psicoativas, sendo 90% ligados ao

    consumo de lcool. (NOTO; CARLINI, 1995). No entanto, a maior parte daqueles

    que procuram tratamento opta por ajuda mdica geral e no por tratamento

    especializado em sade mental. (TURISCO et al., 2000).

    De acordo com Almeida e Coutinho (1993) em relao diminuio da

    qualidade dos aspectos sociais, lembrando que o lcool exerce uma funo de

    mediador social em nossa e em muitas outras culturas, esse resultado torna-se

    compreensvel. Na prtica clnica, observa-se que dependentes e abusadores de

    lcool, ao pararem de beber, sentem-se socialmente prejudicados, uma vez que

    seus compromissos sociais em geral esto relacionados ao consumo alcolico.

    O consumo e a dependncia de substncias constituem uma importante

    carga para os indivduos e as sociedades em todo o mundo. O Informe sobre a

    Sade no Mundo 2002 indicou que 8,9% da carga total de morbidade se deve ao

    consumo de substncias psicoativas. (MATUTE; PILLON, 2008).

    Segundo Matute e Pillon (2008), entre as substncias capazes de

    desenvolver problemas e dependncia esto o lcool e o tabaco, consideradas

    drogas lcitas de maior ndice de consumo em diferentes grupos da populao.

    Alcoolismo um dos principais problemas de Sade Pblica que afetam

    consideravelmente os setores mais vulnerveis da sociedade, como, por exemplo,

    os jovens - principalmente os estudantes, cuja etapa da vida a que apresenta

  • 16

    maior risco para iniciar o consumo de lcool e tabaco, considerados por sua vez

    como porta de entrada para o uso de outras drogas. (MATUTE; PILLON, 2008).

    De acordo com Costa e outros (2004) o ato abusivo de lcool elevado e

    acarreta inmeras conseqncias negativas para a sade e qualidade de vida dos

    indivduos. Os resultados indicam uma alta prevalncia de consumo abusivo de

    lcool e identificam alguns subgrupos da populao mais suscetveis ao alcoolismo.

    O uso abusivo de lcool tambm provoca direta ou indiretamente custos altos

    para o sistema de sade, pois as morbidades desencadeadas por ele so caras e de

    difcil manejo. Alm disso, a dependncia do lcool aumenta o risco para transtornos

    familiares. (COSTA et al., 2004).

    O alcoolismo considerado uma das mais freqentes doenas de todo o

    mundo transformou-se num grave problema social, que no Brasil triplicou nas ltimas

    dcadas. (DINIZ; RUFFINO, 1996).

    De acordo com Fornazier e Siqueira (2006), o alcoolismo, alm de ser

    bastante antigo e disseminado, tambm um dos mais graves problemas de sade

    pblica dos grandes centros civilizados, o que preocupa os profissionais da sade,

    tanto envolvidos com pesquisa quanto aqueles dos programas de tratamento.

    Percebe-se que o uso do lcool vem causando considervel prejuzo sade

    de todas as populaes, e, sendo essa uma droga lcita, no h restries para seu

    consumo, afetando homens e mulheres de diferentes grupos tnicos,

    independentemente de classe social, econmica ou mesmo idade. (FORNAZIER;

    SIQUEIRA, 2006).

    Pelos mais diferentes prismas que se possa encarar o alcoolismo, o quadro

    comum: trata-se de uma das mais freqentes enfermidades em qualquer parte do

    mundo, que se transformou num grave problema social, pelas variadas

    conseqncias que dele advm. (DINIZ; RUFFINO, 1996).

    Segundo Vargas e Luis (2008) apesar de amplamente aceito, e at

    estimulado socialmente, o consumo de lcool, quando excessivo torna-se um

    problema importante e acarreta altos custos para a sociedade. As intercorrncias

    causadas pelo lcool extrapolam as amplamente divulgadas na literatura,

    caracterizando-o como um problema que acarreta graves conseqncias sociais e

    colocando-o entre os principais problemas de sade pblica da atualidade.

    A deteco dos grupos populacionais mais expostos ao consumo abusivo de

    lcool permite planejar aes de sade mais eficazes, visando diminuio dessa

  • 17

    morbidade e de outras doenas desencadeadas pelo alcoolismo. (VARGAS; LUIS,

    2008).

    A alta freqncia de problemas relacionados ao consumo excessivo de

    bebidas alcolicas, inclusive em nosso meio, evidencia-se a importncia da

    abordagem do alcoolismo, o qual, muitas vezes, no diagnosticado por

    profissionais de sade. (ROSA et al., 1998).

    De acordo com o Ministrio da Sade (BRASIL, 1990) citado por Rosa e

    outros (1998), um profissional de sade devidamente esclarecido pode contribuir

    bastante em sua comunidade, tanto na preveno do alcoolismo, como na

    preveno dos problemas derivados do uso do lcool.

  • 18

    1.1 Justificativa

    De acordo com Santos e Veloso (2008), O lcool tem sido apontado como a

    droga mais consumida ou, pelo menos, experimentada no Brasil. A facilidade com

    que essa droga comercializada por ser lcita tem favorecido o seu elevado

    consumo, o que apontado como umas das causas do alcoolismo, um problema

    que atinge milhes de brasileiros, que considerado, por rgos competentes, como

    um dos maiores problemas de sade pblica no Brasil e um dos grandes

    responsveis por fatalidades em acidentes de trnsito, homicdio, suicdio e

    agresso.

    O uso crnico do lcool causa alteraes comportamentais agressividade,

    conflitos familiares, violncia urbana e domstica e comprometimento orgnico por

    exemplos hipertenso arterial, gastrite, cirrose e clnicos por exemplos depresso,

    doenas mentais, que so as causas para buscar cuidados de sade, contribuindo

    tambm para a alta prevalncia de acidentes automobilsticos e o absentesmo

    laboral. (ACAUAN; DONATO; DOMINGOS, 2008).

    No Brasil, dados do Ministrio da Sade revelam que cerca de 10% das

    internaes autorizadas pelo Sistema nico de Sade (SUS) so devido ao uso de

    lcool e 50% das internaes psiquitricas do sexo masculino so devido ao uso de

    lcool e 50% das internaes psiquitricas do sexo masculino so por alcoolismo.

    (RAMOS; BERTOLOTE, 1997).

    Para a Organizao Mundial de Sade a dependncia do lcool acomete de

    10% a 12% da populao mundial. (OMS, 1999 apud FONTES; FIGLIE;

    LARANJEIRA, 2006). Diante de tal situao, pode-se concluir que os problemas

    relacionados ao consumo de lcool so igualmente alarmantes e responsveis por

    mais de 10% dos problemas totais de sade no Brasil. (MELONI; LARANJEIRA,

    2004).

    Nas unidades de sade onde o enfermeiro oferece cuidados de enfermagem,

    ele exerce uma funo fundamental em identificar e talvez iniciar uma interveno

    teraputica aos pacientes com problemas relacionados ao uso de lcool ou pelo

    menos encaminhar a um servio apropriado. (PILLON, 2005).

    Imprescindvel que o enfermeiro busque novos saberes acerca do alcoolismo,

    o que lhe propiciar um novo olhar em relao ao uso abusivo de bebida alcolica e

  • 19

    a oportunidade de prestar uma assistncia mais eficiente e eficaz a populao.

    (ACAUAN; DONATO; DOMINGOS, 2008).

    E atravs deste contexto o alto ndice de pessoas sendo acometidas por

    consumo de bebidas alcolicas e sendo cada vez mais doentes ser que os

    programas de sade da famlia esto trabalhando com a preveno e os fatores de

    risco?

  • 20

    1.2 Objetivos

    1.2.1 Objetivo geral

    Avaliar a incidncia do uso do lcool da populao assistida pelo Programa

    de Sade da Famlia da Chapadinha.

    1.2.2 Objetivos especficos

    Averiguar o perfil dos usurios de bebidas alcolicas e doentes alcolicos

    do Programa de Sade da Famlia da Chapadinha;

    Identificar o consumo de bebidas alcolicas nas famlias que participam do

    Programa de Sade da Famlia da Chapadinha;

    Verificar os fatores de risco que contribuem para o uso da bebida alcolica.

  • 21

    2 ALCOOLISMO

    No faz muito tempo o lcool foi includo na lista das drogas. Isto se deve ao

    fato de ser uma droga lcita, mas nem sempre foi assim. Por outro lado, por ser

    legalizada tem sido verificado que uma das drogas mais consumidas por

    adolescentes e jovens, sendo considerada porta de entrada para outras drogas

    (ilcitas).

    As substncias psicoativas podem ser analisadas sob trs aspectos: o legal,

    que define quais so as lcitas e as ilcitas; o moral relacionado aceitao na

    sociedade, o cientfico, determinado pelo quadro epidemiolgico do problema. O

    tabaco e o lcool s podem ser vendidos a maiores de 18 anos. Mas o seu consumo

    acontece por menores, muitas vezes acompanhados dos pais, caracterizando sua

    permisso moral. As conseqncias desse uso por parte dos adolescentes e que

    merecem ateno dos pais dizem respeito s dificuldades de comunicao e ao

    distanciamento afetivo que ocorre no mbito familiar, tambm h a possibilidade da

    marginalizao e maior susceptibilidade ao uso de substncias ilcitas. (PEREIRA,

    2001).

    Adolescncia e alcoolismo parecem ter uma ligao muito estreita. A primeira

    considerada como um rito de passagem, tornando a vulnerabilidade para o

    contato com as drogas ainda maior. Talvez para fugir das crises prprias desta fase

    de transio e da busca de auto-afirmao. E os adultos nem sempre acompanham

    as aventuras de seus filhos adolescentes. (BERTONI, 2004).

    [...] e quase sempre consideram absolutamente normal a experincia com o lcool, como se fosse parte do desenvolvimento de qualquer um, e no um primeiro degrau na escalada das drogas. Afinal, dizem eles, tomar o primeiro porre como perder o primeiro dente: marca uma passagem obrigatria para todos os indivduos de nossa cultura. (ARATANGY, 2000, p. 70).

    De acordo com o Ministrio da Sade (BRASIL, 2003), atualmente h um

    intenso contedo emocional e apelo da mdia que so contraditrios, como a falta de

    controle sobre as drogas lcitas. Uma poltica para a reduo de danos relacionados

    ao consumo de lcool deve necessariamente propor modificao na legislao,

  • 22

    dirigida proibio da propaganda de bebidas alcolicas nos meios de comunicao

    de massa, ficando restrita apenas aos locais de venda.

    Kyes e Hofling (1985) dividem os alcolatras em dois grupos: aqueles que so

    at certo ponto fisicamente dependentes da droga (como os fenmenos de

    tolerncia e sndrome de abstinncia) e aqueles cuja dependncia apenas

    psicolgica. O ltimo grupo muito maior.

    O lcool um sedativo hipntico com efeitos semelhantes aos dos

    barbitricos. Alm dos efeitos sociais do uso, a reavariedade de transtornos mentais

    orgnicos e fsicos. (BERTOLOTE, 2004).

    Os padres de consumo de bebidas alcolicas variam conforme a cultura, o

    pas, o gnero, a faixa etria, as normas sociais vigentes e o subgrupo social

    considerado. Tambm bastante varivel o risco associado aos diversos padres

    de consumo. Exemplificando, beber vinho habitualmente s refeies e em

    quantidades moderadas um padro de menor risco comparado ingesto copiosa

    de destilados, mesmo esta sendo ocasional, em pblico ou no. (MELONI;

    LARANJEIRA, 2004).

    Consumir bebidas que contenham lcool considerado comum e aceitvel.

    Em torno de 90% dos norte-americanos j tomaram pelo menos uma bebida que

    contivesse lcool, e cerca de 51% de todos os adultos so usurios. Depois das

    doenas cardacas e do cncer, os transtornos relacionados ao lcool constituem,

    no momento o terceiro maior problema de sade dos Estados Unidos. Cerca de 200

    mil mortes por ano esto diretamente relacionadas ao abuso de lcool. As causas de

    morte comuns entre pessoas com transtornos relacionados ao lcool so suicdio,

    doenas cardacas e hepticas. Embora os envolvidos em fatalidades

    automobilsticas nem sempre satisfaam os critrios diagnsticos para transtorno

    relacionado ao lcool, motoristas embriagados esto envolvidos em 50% de todas

    as mortes por acidentes de trnsito, e essa porcentagem aumenta para 75% quando

    se consideram apenas os que ocorrem na madrugada. (SADOCK, Benjamim;

    SADOCK, Virginia, 2007).

  • 23

    A ingesto de lcool, mesmo em pequenas quantidades, diminui a coordenao motora e os reflexos, comprometendo a capacidade de dirigir veculos ou operar outras mquinas. Pesquisas revelam que grande parte dos acidentes provocada por motoristas que haviam bebido antes de dirigir. Nesse sentido, segundo a legislao brasileira (Cdigo Nacional de Trnsito, que passou a vigorar em janeiro de 1998), dever ser penalizado todo motorista que apresentar mais de 0,6g de lcool por litro de sangue. A quantidade de lcool necessria para atingir essa concentrao no sangue equivalente a beber cerca de 600ml de cerveja (duas latas de cerveja ou trs copos de chope), 200ml de vinho (duas taas) ou 80ml de destilados (duas doses). (CARLINI, 2007, p.14).

    O uso e os transtornos relacionados ao lcool tambm esto associados a

    50% de todos os homicdios e a 25% de todos os suicdios. O abuso reduz a

    expectativa de vida em 10 anos, e o lcool a primeira causa de morte relacionada

    ao uso de substncias. (SADOCK, Benjamim; SADOCK, Virginia, 2007).

    O uso regular de lcool na populao geral (pelo menos trs a quatro vezes

    por semana), em indivduos com idade entre 15 e 65 anos, foi relatado por uma

    mdia de 5,2% da populao entrevistada nas 107 maiores cidades brasileiras.

    Notou-se tambm um nmero relativamente pequeno (0,2%) de meninos de 12 a 17

    anos fazendo uso regular de bebidas alcolicas e um consumo mais freqente

    dessa substncia entre homens. (CARLINI et al., 2002). O uso na vida na faixa

    etria de 12 a 17 anos foi relatado por 48,3% da amostra pesquisada por Carlini

    (2006).

    Conforme anlise do V Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas

    Psicotrpicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Mdio da Rede Pblica de

    Ensino nas 27 capitais brasileiras, o uso de lcool no Brasil varia tambm de regio

    para regio. No norte do pas, o uso freqente de bebidas alcolicas atinge 8,4% da

    populao estudantil. J a regio sul apresenta uso freqente dessa substncia em

    12,9% da populao total. No todo a mdia do Brasil de 11,7% de sua populao.

    Se o objeto de anlise for a impresso que a populao tem do fenmeno beber

    lcool, as respostas tambm divergem ao longo do territrio nacional. Na regio

    norte, a populao revela mais medo e insegurana do que no sul do pas. A

    populao do sul considera, em linhas gerais, menos ofensivo sade o uso de

    bebidas alcolicas. interessante notar que h, no sul do pas, uma cultura de

    consumo do vinho, com a presena das culturas alem e italiana modelando o saber

    beber e a maneira de se cultuar o vinho. (GAUDURZ et al., 2004).

  • 24

    Em termos da idade de ocorrncia de iniciao no uso de drogas, com o

    lcool houve a incidncia da menor idade: 12,5 anos de vida. J com o uso de

    cocana a idade registrada foi de 14,4 anos de vida. (CARLINI et al., 2002).

    Estudos realizados ao longo de sucessivas dcadas tem mostrado que o

    alcoolismo desponta como uma das primeiras causas de internao em instituies

    psiquitricas. Entre 1930 e 1960, Cardim e outros (1986) apontam que a

    esquizofrenia e o alcoolismo totalizavam 50% dos diagnsticos psiquitricos. Entre

    1960-1974 os diagnsticos mais comuns por internaes psiquitricas entre os

    homens tambm foram esquizofrenia e alcoolismo. (CAETANO, 1982 apud

    OLIVEIRA; LUIZ, 2002).

    J para Noto e Carlini (1995), em estudos realizados ao longo de 7 anos

    consecutivos (87-93) identificaram o lcool como responsvel por cerca de 90% das

    causas de internaes por dependncia e psicoses devidas ao uso de substncias

    psicotrpicas. Os internados eram, na maioria homens na faixa etria de 31 a 45

    anos.

    2.1 Fatores de risco

    De acordo com Stipp e outros (2007) o lcool uma substancia txica que

    pode contribuir para acontecimento de algumas doenas como: hipertenso arterial,

    hipertrigliceridemia, diabetes no-insulinodependente, cncer, hepatite alcolica,

    esteatose heptica, cirrose, encefalopatia, gastrite, pancreatite, problemas

    psicossociais e comportamentais. Seu uso crnico e no moderado acarreta prejuzo

    no convvio social e pode ser visto como uma importncia patologia social.

    O lcool considerado uma droga lcita, sem restries para seu consumo, o

    que muitas vezes leva homens e mulheres a seu uso abusivo. O consumo de lcool

    afeta diferentes grupo tnicos, no depende de idade, classe social, econmica e

    gnero. (STIPP et al., 2007).

    De acordo com o Ministrio da Sade (BRASIL, 1994) indivduos que fazem

    uso abusivo de lcool de forma prejudicial, no so portadores de defeito moral,

    portanto, no devem ser punidos ou excludos, pois estas pessoas esto doentes e

    precisam ser ajudadas.

  • 25

    Todas as pessoas que consomem bebidas alcolicas esto em risco de

    apresentar algum tipo de complicao associada a esse hbito ao longo de suas

    vidas. A maior e a menor probabilidade de que isso ocorra depende da interao

    entre os diferentes fatores de risco, conhecidos e desconhecidos, os quais

    contribuem com intensidades variveis de indivduos para indivduos.

    Soibelman, Luz Junior e Diemen (2004, p. 541) classificam esses fatores de

    risco em socioculturais e biolgicos:

    Os fatores de risco socioculturais incluem maior disponibilidade de bebidas alcolicas, alto grau de estresse coletivo, estmulo social (presso social) para beber, postura tica ambivalente frente ao lcool, inexistncia de sanes sociais contra a embriaguez e contra o abuso de lcool e costumes tradicionais que incluem consumo freqente de lcool. J nos fatores de risco biolgicos, h evidncia de predisposio gentica aos problemas relacionados ao uso de lcool, que parece estar relacionada a diferenas nas composies enzimticas e a algumas caractersticas da personalidade, sendo que tal predisposio no implica predestinao ou inevitabilidade.

    O CID-10 distinguiu dois tipos de beber excessivo (excesso de consumo de

    bebida alcolica): episdico e habitual, sendo o beber excessivo aparentemente

    equivalente intoxicao. O beber excessivo episdico inclui ataques relativamente

    breves de consumo excessivo de lcool ocorrendo pelo menos algumas vezes por

    ano. Esses ataques podem durar alguns dias ou semanas. J o beber excessivo

    habitual inclui o consumo regular de grandes quantidades de lcool que podem ser

    prejudiciais para a sade do indivduo ou para seu funcionamento social.

    (BERTOLOTI, 2004).

    Os aspectos psicolgicos da etiologia do alcoolismo variam de um paciente

    para outro. O alcoolismo pode ser uma caracterstica do comportamento de

    neurticos obsessivo-compulsivos, hopomanacos, esquizofrnicos, personalidades

    esquizides, ciclotmica e compulsivas e outros. Ele encontrado comumente como

    um aspecto das tentativas de ajustamento ou de outro tipo de distrbio da

    personalidade, especialmente da personalidade oral. (KYES; HOFLING, 1985).

    Muitas pessoas com histria familiar indicativa de alto risco no desenvolvem

    problemas desse tipo, uma vez que a interao dos fatores genticos e ambientais

    que ir determinar a vulnerabilidade individual. Da mesma forma que alguns genes

    facilitadores sejam herdados, eles podem no se expressar na ausncia de fatores

    ambientais provocadores.

  • 26

    Assim como os fatores culturais, os hbitos familiares, em especial dos pais

    para com a bebida, podem afetar os hbitos das pessoas em relao ao lcool.

    Contudo, algumas convivncias indicam que esse processo est menos ligado ao

    desenvolvimento de transtornos relacionados ao lcool do que se pensava

    anteriormente; do ponto de vista comportamental, os aspectos de reforo positivo do

    lcool induz sentimentos de bem-estar e euforia e reduzir o medo e a ansiedade

    encorajam ainda mais o consumo. (SADOCK, Benjamim; SADOCK, Virginia, 2007).

    Na viso de Soibelman; Luz Junior e Diemen (2004) h casos em que

    mulheres desenvolvem dependncia de lcool e complicaes mdicas associadas

    ingerindo menores quantidades de bebida e em menos tempo do que homens.

    2.2 Sndrome da dependncia

    A sndrome da dependncia do lcool (SDA) caracterizada por um conjunto

    de fenmenos fisiolgicos, comportamentais e cognitivos no qual o uso de bebidas

    alcolicas, para um determinado indivduo alcana prioridade muito maior do que

    outros comportamentos que antes eram priorizados. Uma caracterstica descritiva da

    sndrome de dependncia o desejo (frequentemente forte, algumas vezes

    irreversvel) de consumir lcool, sendo o estgio mais avanado do alcoolismo

    (SOIBELMAN; LUZ JUNIOR, DIEMEN, 2004).

    De acordo com Edwards (1976) citado por Gigliotti e Bessa (2004) descreve

    os elementos da (SDA) em sete sinais e sintomas:

    1) Estreitamento do repertrio no incio; o usurio bebe com flexibilidade de

    horrios, de quantidade e at de tipo de bebida. Com o tempo, passa a beber com

    mais freqncia, at consumir todos os dias, em quantidades crescentes, ampliando

    a frequncia e deixando de importar-se com a inadequao das situaes;

    2) Salincia do comportamento de busca do lcool; com o estreitamento do

    repertrio do beber, h uma tentativa do indivduo de priorizar o ato de beber,

    mesmo em situaes inaceitveis (por exemplo, dirigindo veculos, no trabalho).

    3) Aumento da tolerncia ao lcool; com a evoluo da sndrome, h

    necessidade de doses crescentes de lcool para obter o mesmo efeito conseguido

  • 27

    com doses menores, ou a capacidade de realizar atividades apesar de altas

    concentraes sangneas de lcool;

    4) Sintomas repetidos de abstinncia; quando h diminuio ou interrupo

    do consumo de lcool, surgem sinais e sintomas de intensidade varivel. No incio,

    eles so leves, intermitentes e pouco incapacitantes, mas, nas fases mais severas

    da dependncia, podem manifestar-se os sintomas mais significativos, como tremor

    intenso e alucinaes;

    5) Alvio ou evitao dos sintomas de abstinncia pelo aumento da ingesto

    da bebida; este um sintoma importante da SDA, sendo difcil de ser identificado

    nas fases iniciais. Torna-se mais evidente na progresso do quadro, com o paciente

    admitindo que bebe pela manh para sentir-se melhor, uma vez que permaneceu

    por toda noite sem ingerir derivados etlicos;

    6) Percepo subjetiva da necessidade de beber; h uma presso psicolgica

    para beber e aliviar os sintomas da abstinncia;

    7) Reinstalao aps a abstinncia; mesmo depois de perodos longos de

    abstinncia, se o paciente tiver uma recada, rapidamente restabelecer o padro

    antigo de dependncia. (GIGLIOTTI; BESSA, 2004).

    2.3 Sndrome da abstinncia

    Segundo Laranjeira e Pinsky (2001) evidncias revelam que de 50 a 70% dos

    alcoolistas apresentam problemas no sistema nervoso, que so devidos ao

    direta do lcool nas clulas do crebro, provocando uma diminuio na memria, na

    capacidade de raciocnio mais complexo, no julgamento de situaes difceis.

    Embora algumas semanas de abstinncia faam com que os danos no crebro

    sejam reduzidos, cerca de 10% dos alcoolistas sofrero danos irreversveis e

    podero chegar a desenvolver um quadro de demncia alcolica. No entanto, vale

    ressaltar, que a abstinncia sempre melhora o quadro mental ou faz com que os

    sintomas estacionem.

    A sndrome de abstinncia do lcool um quadro que aparece pela reduo ou parada brusca da ingesto de bebidas alcolicas, aps um perodo de consumo crnico. A sndrome tem incio 6 a 8 horas aps a parada da

  • 28

    ingesto de lcool, sendo caracterizada por tremor das mos, acompanhado de distrbios gastrintestinais, distrbios do sono e estado de inquietao geral (abstinncia leve). Cerca de 5% dos que entram em abstinncia leve evoluem para a sndrome de abstinncia grave ou delirium tremens que, alm da acentuao dos sinais e sintomas anteriormente referidos, se caracteriza por tremores generalizados, agitao intensa e desorientao no tempo e no espao. (CARLINI, 2007, p.15).

    Sndrome da abstinncia com delirium tremens um estado psictico agudo

    que ocorre em indivduos dependentes de lcool, durante a fase de abstinncia, e

    caracterizado por confuso, desorientao, ideao paranide, delrios, iluses,

    alucinaes (tipicamente visuais ou tteis, menos comumente auditivas, olfatrias ou

    vestibulares), inquietaes, distraibilidade, tremores (algumas vezes grosseiros),

    sudorese, taquicardia e hipertenso. Usualmente precedida por sinais de sndrome

    de abstinncia simples. Esse episdio ocorre usualmente 48 horas ou mais aps a

    suspenso ou a reduo do consumo de lcool, mas pode apresentar-se at 1

    semana aps este perodo. (LARANJEIRA et al., 2000).

    2.4 Complicaes

    Os indivduos dependentes do lcool podem desenvolver vrias doenas. As

    mais freqentes so as relacionadas ao fgado (esteatose heptica, hepatite

    alcolica e cirrose). Tambm so freqentes problemas do aparelho digestivo

    (gastrite, sndrome de m absoro e pancreatite) e do sistema cardiovascular

    (hipertenso e problemas cardacos). H, ainda, casos de polineurite alcolica,

    caracterizada por dor, formigamento e cibras nos membros inferiores. (CARLINI,

    2007).

    A cardiopatia alcolica um transtorno difuso do msculo do corao,

    observado em indivduos com uma histria de consumo arriscado de lcool,

    geralmente no mnimo de 10 anos de durao. Os pacientes caracteristicamente

    apresentam insuficincia cardaca biventricular, os sintomas mais comuns incluem:

    diminuio do flego durante o esforo e em repouso (dispnia noturna),

    palpitaes, edema de tornozelos e distenso abdominal (devida ascite), comum

  • 29

    o transtorno do ritmo cardaco, a fibrilao auricular a arritmia mais freqente.

    (BERTOLOTE, 2004).

    Cirrose alcolica uma forma grave de hepatopatia alcolica caracterizada

    por necrose e deformao permanente da arquitetura do fgado devido formao

    de tecido fibroso e de ndulos regenerativos. O cncer de fgado uma complicao

    tardia da cirrose em aproximadamente 15% dos casos. (BERTOLOTE, 2004).

    Embora diversos fatores tenham sido implicados na etiologia da cirrose, o

    consumo de lcool em excesso considerado o principal fator etiolgico. A cirrose

    ocorre com frequncia mxima entre os alcolicos. (SMELTZER; BARE, 2005).

    A sndrome aguda fetal (SAF) uma condio irreversvel caracterizada por

    anomalias craniofaciais tpicas, deficincia de crescimento, disfunes do sistema

    nervoso central e vrias malformaes associadas. O termo "efeitos fetais do lcool"

    foi proposto para um grupo de crianas expostas ao lcool intra-tero, mas que no

    possuam o quadro clnico completo de SAF. (BERTOLOTE, 2004).

    Entretanto, suscetibilidade fetal ao lcool modulada por quantidade ingerida,

    poca da exposio, estado nutricional e capacidade de metabolizao materna e

    fetal. A quantidade segura de lcool que uma gestante pode consumir no est

    definida na literatura, por isto recomenda-se abstinncia total durante toda a

    gravidez. Estudos comprovam que o consumo de 20 gramas de lcool j suficiente

    para provocar supresso da respirao e dos movimentos fetais, observados por

    meio de ultra-sonografia. (KLINE et al., 1981 apud FREIRE et al., 2005).

    Alm disto, o consumo de lcool na gestao est relacionado ao aumento do

    nmero de abortos e a fatores comprometedores do parto, como risco de infeces,

    descolamento prematuro de placenta, hipertonia uterina, prematuridade do trabalho

    de parto e lquido amnitico meconial. (PARKS et al., 1996 apud FREIRE et al.,

    2005).

    Para Carlini (2007) o consumo de bebidas alcolicas durante a gestao pode

    trazer conseqncias para o recm-nascido, e, quanto maior o consumo, maior o

    risco de prejudicar o feto. Dessa forma, recomendvel que toda gestante evite o

    consumo de bebidas alcolicas, no s ao longo da gestao, como tambm

    durante todo o perodo de amamentao, pois o lcool pode passar para o beb

    atravs do leite materno.

  • 30

    Cerca de um tero dos bebs de mes dependentes do lcool, que fizeram uso excessivo dessa droga durante a gravidez, afetado pela sndrome fetal pelo lcool. Os recm-nascidos apresentam sinais de irritao, mamam e dormem pouco, alm de apresentarem tremores (sintomas que lembram a sndrome de abstinncia). As crianas gravemente afetadas, e que conseguem sobreviver aos primeiros momentos de vida, podem apresentar problemas fsicos e mentais que variam de intensidade de acordo com a gravidade do caso. (CARLINI, 2007, p.15).

    Atkinson e Murray (1989, p. 499) relatam sobre o abuso de lcool relacionado

    ao funcionamento sexual:

    O abuso de lcool no homem leva perda da fertilidade, incapacidade de conseguir uma ereo e produo reduzida de testosterona. O consumo de lcool pela mulher grvida est associado sndrome fetal alcolica do neonato (SFA); quanto mais bebe uma mulher, maior o risco de SFA para feto.

    Dentre as complicaes do alcoolismo h tambm os efeitos agudos:

    A ingesto de lcool provoca diversos efeitos, que aparecem em duas fases

    distintas: uma estimulante e outra depressora. Nos primeiros momentos aps a

    ingesto de lcool, podem aparecer os efeitos estimulantes, como euforia,

    desinibio e loquacidade (maior facilidade para falar). Com o passar do tempo,

    comeam a surgir os efeitos depressores, como falta de efeito depressor fica

    exacerbada, podendo at mesmo provocar o estado de coma. (CARLINI, 2007).

    Os efeitos do lcool variam de intensidade de acordo com as caractersticas

    pessoais. Por exemplo, uma pessoa acostumada a consumir bebidas alcolicas

    sentir os efeitos do lcool com menor intensidade, quando comparada com outra

    que no est acostumada a beber. Um exemplo est relacionado estrutura fsica: a

    pessoa com estrutura fsica de grande porte ter maior resistncia aos efeitos do

    lcool. O consumo de bebidas alcolicas tambm pode desencadear alguns efeitos

    desagradveis, como enrubecimento da face, dor de cabea e mal-estar geral.

    Esses efeitos so mais intensos para algumas pessoas cujo organismo tem

    dificuldade de metabolizar o lcool. (CARLINI, 2007).

  • 31

    2.5 Custo social do alcoolismo

    A despeito de todos os significados culturais e simblicos que o consumo de

    bebidas alcolicas adquiriu ao longo da histria humana, o lcool no um produto

    qualquer. uma substncia capaz de causar danos atravs de trs mecanismos

    distintos: toxicidade, direta e indireta, sobre diversos rgos e sistemas corporais;

    intoxicao aguda; e dependncia. Tais danos podem ser agudos ou crnicos e

    dependem do padro de consumo de cada pessoa, que se caracteriza no somente

    pela freqncia com que se bebe e pela quantidade por episdio, mas tambm pelo

    tempo entre um episdio e outro e ainda pelo contexto em que se bebe.

    (LARANJEIRA; ROMANO, 2004).

    Na viso de Meloni e Laranjeira (2004), distinguidas dos problemas de sade,

    as categorias de problemas sociais relacionadas ao lcool incluem: vandalismo;

    desordem pblica; problemas familiares, como conflitos conjugais e divrcio; abuso

    de menores; problemas interpessoais; problemas financeiros; problemas

    ocupacionais, que no os de sade ocupacional; dificuldades educacionais; e custos

    sociais. Ainda que uma causalidade direta no possa ser estabelecida, o estudo

    dessas categorias de danos incluindo variveis como volume de lcool consumido,

    padres de consumo e outros fatores interativos demonstrou que as

    conseqncias sociais do uso do lcool colocam esse produto, no mnimo, como um

    fator adicional ou mediador entre outros que contribuem para a ocorrncia de

    determinado problema, concluso similar quela vlida para problemas de sade.

    A avaliao do custo social relacionado ao lcool demonstra que o ambiente

    social no qual o lcool consumido, conforme sua estruturao econmica e regras

    de convvio determina diversos matizes de insero do consumo alcolico, ao

    mesmo tempo em que diretamente influenciado pelos padres de uso vigentes.

    No artigo de autoria de Laranjeira e Hinkly (2002) que avalia a relao entre

    privao social, violncia e densidade de pontos de vendas de lcool em uma regio

    perifrica pobre da rea metropolitana de So Paulo, ilustra claramente esta

    dinmica. A privao social est relacionada enorme densidade de pontos de

    vendas de lcool e grande violncia urbana.

  • 32

    Como a maioria dos alcolatras tem um emprego, mas funciona em um nvel consideravelmente abaixo de sua capacidade potencial, o alcoolismo tambm de grande interesse para a indstria e o progresso econmico do pas em geral. (KYES; HOFLING, 1985, p. 315).

    A violncia est presente nas famlias de alcoolistas, marcando a trajetria

    dessas pessoas e levando produo de sentimentos e emoes que favorecem a

    ruptura das relaes e da prpria vida psquica dos diferentes membros, no

    conseguindo vencer a situao patolgica, a dinmica familiar sofre profundas

    alteraes quando os outros membros acabam assumindo papis que se esperava

    fossem assumidos pelo sujeito alcoolista. (COSTA, 2004, p. 60).

    Estudo realizado por Neves (2004) ressalta que a necessidade de

    compreender os modos moralizantes de representao do alcoolismo: seus efeitos

    sobre a construo das relaes sociais e sua atribuio como fator dissolvente de

    unidades sociais fundamentais, como a famlia, ou perturbador do exerccio de

    papis bsicos, como o de trabalhador e esposo.

    Em consonncia com esse pensamento, Mota (2004) defende que, embora o

    lcool, de certa forma, seja considerado, inicialmente, como um agente produtor de

    sociabilidade - um dos significados da bebida em nossa sociedade - ao qual se

    atribui um valor positivo, ele se torna, para uma parcela da populao, um agente de

    dissociao, um fator que gera rupturas no campo das relaes sociais, na famlia e

    no trabalho.

  • 33

    3 ALCOLICO ANNIMO (A.A.)

    H vrias modalidades teraputicas que podem contribuir com dependente

    durante o seu tratamento, oferecendo todo o apoio durante essa fase, como por

    exemplo, os grupos de alcolicos annimos (AA.).

    3.1 O Nascimento de A.A. e seu Desenvolvimento

    Alcolicos Annimos (A.A.) iniciou-se em 1935, em Akron, Ohio, com o

    encontro de Bill W., um corretor da Bolsa de Valores de Nova Iorque, e o Dr. Bob,

    um cirurgio de Akron. Ambos haviam sido alcolicos desenganados. Antes de se

    conhecerem, Bill e o Dr. Bob tinham tido contato com o Grupo Oxford, uma

    sociedade composta, em sua maior parte, por pessoas no alcolicas, que defendia

    a aplicao de valores espirituais universais na vida diria. Naquela poca, os

    Grupos Oxford da Amrica eram dirigidos pelo renomado clrigo episcopal Dr.

    Samuel Shoemaker. Sob sua influncia espiritual, e com a ajuda de seu velho

    amigo, Ebby T., Bill havia conseguido sua sobriedade e vinha mantendo sua

    recuperao trabalhando com outros alcolicos, apesar do fato de que nenhum de

    seus "candidatos" haver se recuperado. Entretanto, o fato de ser membro do Grupo

    Oxford no havia oferecido ao Dr. Bob a suficiente ajuda para alcanar a

    sobriedade. (JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO

    BRASIL, 2004).

    Quando finalmente o Dr. Bob e Bill se conheceram, o encontro produziu no

    Dr. Bob um efeito imediato. Desta vez encontrava-se cara a cara com um

    companheiro alcolico que havia conseguido deixar de beber. Bill insistia que o

    alcoolismo era uma doena da mente, das emoes e do corpo. Esse

    importantssimo fato fora-lhe comunicado pelo Dr. William D. Silkwoth, do Hospital

    Towns, de Nova Iorque, instituio em que Bill fora internado vrias vezes. Apesar

    de mdico, o Dr. Bob no tivera conhecimento de que o alcoolismo era uma doena.

    Bob acabou convencido pelas idias contundentes de Bill e logo alcanou sua

  • 34

    sobriedade, e nunca mais voltou a beber. (JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE

    ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2005a).

    Ambos comearam a trabalhar imediatamente com os alcolicos internados

    no Hospital Municipal de Akron. Como conseqncia de seus esforos, logo um

    paciente alcanou sua sobriedade. Apesar de ainda no existir o nome Alcolicos

    Annimos, esses trs homens constituram o ncleo do primeiro Grupo de A.A. No

    outono de 1935, o segundo Grupo foi tomando forma gradualmente em Nova Iorque.

    O terceiro Grupo iniciou-se em Cleveland, em 1939. Havia-se gasto mais de quatro

    anos para conseguir 100 alcolicos sbrios, nos trs Grupos iniciais. (JUNTA DE

    SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2004).

    Em princpio de 1939, a Irmandade publicou seu livro de texto bsico,

    Alcolicos Annimos. Nesse livro, escrito por Bill, expunha-se a filosofia e os

    mtodos de A.A. a essncia dos quais se encontram agora nos bem conhecidos

    Doze Passos de recuperao. Enquanto isso, o Dr. Bob e Bill haviam estabelecido

    em Nova Iorque, em 1939, uma Junta de Custdios para ocupar-se da

    administrao geral da Irmandade recm-nascida. Alguns amigos de John

    Rockefeller, Jr. integravam esse conselho, junto com alguns membros de A.A. Deu-

    se Junta o nome de Fundao Alcolica. No entanto, todas as tentativas de se

    conseguir grandes quantias de dinheiro fracassaram porque o Sr. Rockfeller havia

    chegado concluso prudente de que grandes somas poderiam atrapalhar a

    nascente Irmandade. Apesar disso, a Fundao conseguiu abrir um pequeno

    escritrio em Nova Iorque, para responder aos pedidos de ajuda e de informaes e

    para distribuir o livro de A.A., um empreendimento, diga-se de passagem, que havia

    sido financiado principalmente pelos membros de A.A. (JUNTA DE SERVIOS

    GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2005a).

    Apareceu ento, em maro de 1941, no Saturday Evening Post, um excelente

    artigo sobre Alcolicos Annimos e a reao foi tremenda. No final daquele ano o

    nmero de membros subira a 6.000 e o nmero de Grupos multiplicara-se

    proporcionalmente. A Irmandade crescia a passos gigantescos por todas as partes

    dos EUA/Canad.

    Em 1950, havia no mundo inteiro perto de 100 mil alcolicos em recuperao.

    Por mais impressionante que tenha sido esse desenvolvimento, a dcada de 1940 a

    1950 foi de grande incerteza. A questo crucial era se todos aqueles alcolicos

    volveis poderiam viver e trabalhar juntos em seus Grupos. Poderiam manter-se

  • 35

    unidos e funcionar com eficcia? Esta pergunta ainda pairava sem resposta. Manter

    correspondncia com milhares de Grupos relativamente a seus problemas

    particulares chegou a ser um dos principais trabalhos do escritrio de Nova Iorque.

    No obstante, no incio de 1946, j era possvel tirar algumas concluses bem

    razoveis sobre as atitudes, costumes e funes que se ajustariam melhor aos

    objetivos de A.A. Esses princpios, que haviam surgido a partir das rduas

    experincias dos Grupos, foram codificados por Bill, sendo hoje conhecidos pelo

    nome de As Doze Tradies de Alcolicos Annimos. Em 1950, o caos dos anos

    anteriores quase havia desaparecido. Havia-se conseguido enunciar e por em

    prtica, com xito, uma frmula segura para a unidade e o funcionamento de A.A.

    Durante essa frentica dcada, o Dr. Bob dedicava seus esforos ao assunto

    da hospitalizao dos alcolicos e tarefa de incutir-lhes os princpios de A.A. Os

    alcolicos chegavam em grande nmero a Akron para obter cuidados mdicos no

    Hospital Saint Thomas, uma instituio administrada pela Igreja Catlica. O Dr. Bob

    se integrou ao corpo mdico desse hospital e ele e a irm Ignatia, tambm do

    pessoal do hospital, prestaram cuidados mdicos e indicaram o programa a cerca de

    5.000 alcolicos internados. Aps a morte do Dr. Bob, em 1950, a irm Ignatia

    seguiu trabalhando no Hospital da Caridade, em Cleveland, onde contava com a

    ajuda dos Grupos de A.A. locais e onde outros 10.000 alcolicos internados

    encontraram Alcolicos Annimos pela primeira vez. Esse trabalho foi um grande

    exemplo de boa vontade, que permitiu comprovar que A.A. cooperava eficazmente

    com a medicina e a religio.

    No dia 24 de janeiro de 1971, Bill faleceu de pneumonia em Miami Beach,

    Flrida, onde - havia sete meses - pronunciara diante da Conveno Internacional

    do 35 aniversrio suas ltimas palavras aos companheiros de A.A.: "Deus os

    bendiga, a vocs e a Alcolicos Annimos, para sempre.".

    Desde ento A.A. se tornou uma Irmandade mundial, demonstrando que a

    maneira de viver de A.A. hoje pode superar quase todas as barreiras de raa, de

    credo e de idioma. (JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS

    DO BRASIL, 2005a).

    Conforme o Ministrio da Sade, Alcolicos Annimos (A.A.), cuja descrio

    "uma comunidade mundial de homens e mulheres que se ajudam a ficarem sbrios,

    sendo geralmente reconhecido como um programa eficiente de auto-ajuda para

    recuperar dependentes de lcool. (BRASIL, 1997).

  • 36

    3.2 Histria de A.A. no Brasil

    Conforme consta no livro da Junta de Servios Gerais de Alcolicos

    Annimos do Brasil (JUNAAB, 2005a) sobre o A.A. no Brasil:

    No ano de 1945, um membro viajante norte-americano, de nome Bob

    Valentine, amigo de Bill W., de passagem pelo Rio de Janeiro, conhece uma pessoa

    tambm americana (no est totalmente definido se era homem ou mulher), com o

    nome de Lynn Goodale. Aps uma conversa com Bob Valentine, Lynn encontra a

    sobriedade. Esse registro documentado a mais clara evidncia de que a data de

    incio do primeiro Grupo de A.A. no Brasil foi 5 de setembro de 1947.

    O mais provvel que nessa data deu-se o encontro de Herb com o primeiro

    brasileiro que conseguiu manter-se sbrio em A.A. o companheiro Antnio P.,

    falecido em meados de 1951, quando tentava recuperar-se de um acidente de

    trabalho.

    Sem sombra de dvida, a maior dificuldade encontrada por aqueles pioneiros

    no Brasil foi o idioma. Os brasileiros que chegavam no entendiam o ingls e os

    americanos, residentes ou de passagem pelo Brasil, pouco ou quase nada falavam

    em nossa lngua. At mesmo Herb, j h dois anos no Rio, pouco dava "colorido"

    aos seus depoimentos em portugus - como ele mesmo mencionou. Hoje

    entendemos que s atravs da linguagem do corao, aquela que acontece quando

    um alcolico fala com outro, que esses membros se comunicavam.

    Para a Junta de Servios Gerais de Alcolicos Annimos do Brasil (JUNAAB)

    (2004) a histria de A.A. do Brasil comea em junho de 1946, quando Herb D., que

    havia ficado sbrio h um ano em Chicago - EUA, vem para o Rio de Janeiro com

    um contrato para trabalhar como diretor artstico de uma empresa americana de

    publicidade. Como era novato no programa, sua preocupao imediata foi procurar a

    Irmandade na cidade onde ele viveria por trs anos. Alcolicos Annimos,

    entretanto, era desconhecida no Rio de Janeiro, embora Herb tivesse alguns nomes

    para fazer contato. Visto que nenhum desses companheiros permanecia por muito

    tempo no Brasil, a Irmandade ainda no havia criado razes.

    Aps alguns meses de tentativas, Herb esperou pelo interesse de bebedores-

    problema brasileiros (e havia muitos no Rio naquela poca), para ajudarem-no a

  • 37

    manter-se sbrio e, levando a mensagem, formarem um Grupo no Brasil. Como em

    todo o mundo naqueles dias, os alcolicos no Brasil eram considerados um estorvo

    social dos quais o verdadeiro lugar era numa clnica psiquitrica ou na delegacia de

    polcia.

    Em 1947, Herb conseguiu bebedores brasileiros como ingressantes. Um

    desses era Antnio P., que parou de beber e manteve-se sbrio com alguma

    dificuldade, em virtude da falta de literatura traduzida para o portugus, at sua

    morte num acidente em 1951. O outro brasileiro afastou-se. As reunies aconteciam

    nas casas de companheiros que estavam sbrios.

    O grande apoio a Herb vinha de sua esposa, Libby, uma no-alcolica que o

    incentivava muito no seu trabalho de levar a mensagem. Herb tinha uma

    correspondncia volumosa com a Fundao do Alcolico e conseguiu publicar

    alguns artigos sobre A.A. nos jornais do Rio.

    No incio de 1948, graas boa vontade de um bispo episcopal que estava no

    Rio, Herb encontrou-se com Harold. Ele era um anglo-brasileiro com um caso de

    alcoolismo tido como perdido. Tinha servido o exrcito britnico durante a Segunda

    Guerra Mundial, retornando ao Rio de Janeiro em 1946. Nesse nterim, havia

    perdido vrios empregos, fora expulso da casa de seus sogros, perdido sua esposa

    e, por fim, ido morar no poro da casa de um irmo na cidade de Niteri, do outro

    lado da Baa da Guanabara. O bispo e o irmo de Harold arranjaram um encontro

    entre os dois para um sbado.

    Nesse primeiro encontro, Herb contou a Harold (que havia bebido a manh

    toda) a histria de como tinha parado de beber substituindo, gole a gole, a bebida de

    seu copo por gua pura, at que passasse a beber somente a gua. Como, aps

    muitas tentativas frustradas, ele tinha sido capaz de evitar encher o copo com

    bebida alcolica e, assim, evitar o primeiro gole. Ele falou tambm sobre o plano das

    vinte e quatro horas, sobre a melhora em sua vida pessoal e empresarial. Por fim,

    Herb pediu a Harold que pusesse o sistema em prtica e que, quando ele parasse

    de beber.

    A Irmandade funciona atravs de mais de 97.000 Grupos locais em 150

    pases. Milhes de alcolicos tm alcanado a sobriedade em A.A, mas seus

    membros reconhecem que seu programa no sempre eficaz com todos os

    alcolicos e que alguns necessitam de aconselhamento e tratamento profissional

    (BURNS, 1995).

  • 38

    A.A. preocupa-se unicamente com a recuperao pessoal e contnua dos

    alcolicos que procuram socorro na Irmandade. O movimento no se dedica a

    pesquisas sobre alcoolismo ou ao tratamento mdico ou psiquitrico, e no apia

    quaisquer causas - embora os membros de A.A. possam participar como indivduos.

    (JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL,

    2005b).

    O A.A. v o alcoolismo como uma doena fsica, mental e espiritual,

    progressiva, incurvel e de trmino fatal. Os alcolicos que conhecemos parecem ter

    perdido o poder para controlar suas doses de bebidas alcolicas. A.A. pode ser

    descrito como um mtodo para recuperao do alcoolismo, no qual os membros

    ajudam-se mutuamente, compartilhando entre si uma enorme gama de experincias

    semelhantes em sofrimento e recuperao do alcoolismo. (JUNTA DE SERVIOS

    GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2005b).

    A unidade bsica em A.A. o grupo local (do bairro ou cidade) que

    autnomo, salvo em assuntos que afetem outros grupos de A.A. ou Irmandade

    como um todo. Nenhum grupo tem poder sobre seus membros. Os grupos

    geralmente so democrticos, assistidos por "comits de servios" de curtos

    perodos de mandato. Desta maneira, nenhum grupo de A.A. tem uma liderana

    permanente. (JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO

    BRASIL, 2005b).

    Cada grupo realiza reunies regulares, nas quais os membros relatam entre si

    suas experincias - geralmente em relao aos "DOZE PASSOS" (Apndice A)

    sugeridos para a recuperao, e s "DOZE TRADIES" (Apndice B) sugeridas

    para as relaes dentro da Irmandade e com a comunidade de fora. Existem

    reunies abertas para qualquer pessoa interessada, e reunies fechadas somente

    para alcolicos. Pessoas que acham que tm problemas com sua maneira de beber

    so bem-vindas para assistir a qualquer reunio de A.A.. (JUNTA DE SERVIOS

    GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2005b).

    Membros de A.A. so homens e mulheres provenientes de todos os nveis

    sociais, desde adolescentes at pessoas com idade avanada, de todas as raas,

    de todos os tipos de afiliaes religiosas, e mesmo sem nenhuma.

    Os membros de A.A. ajudam qualquer alcolico que demonstre interesse em

    ficar sbrio. Os membros de A.A. podem visitar o alcolico que necessite de ajuda -

    embora eles possam sentir que seja melhor para o alcolico solicitar tal ajuda antes.

  • 39

    Eles podem auxiliar a providenciar uma internao hospitalar. Os escritrios de

    servios de A.A. freqentemente sabem onde existem hospitais para tratamento de

    alcoolismo, embora A.A. no seja afiliada a qualquer estabelecimento hospitalar.

    Os membros de A.A. tm satisfao em compartilhar suas experincias com

    qualquer pessoa interessada, seja em conversaes ou em reunies formais.

    (JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL,

    2005c).

    Os doze passos de A.A. consistem em um grupo de princpios, espirituais em

    sua natureza que, se praticados como um modo de vida pode expulsar a obsesso

    pela bebida e permitir que o sofredor se torne ntegro, feliz e til. (JUNTA DE

    SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2004).

    Sobre a Orao da Serenidade (JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE

    ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2005 c):

    Conceda-nos, Senhor, a Serenidade necessria para aceitar as coisas que no podemos modificar, Coragem para modificar aquelas que podemos, e Sabedoria para distinguir umas das outras. (JUNAAB, 2005c).

    As doze tradies de A.A. ((Apndice B) dizem respeito vida da prpria

    Irmandade. Delineiam os meios pelos quais A.A. mantm sua unidade e se relaciona

    com o mundo exterior, sua forma de viver e desenvolver-se. (JUNTA DE SERVIOS

    GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2004).

    3.3 Histria do A.A. em Paracatu

    No ano 1977 o senhor Carlos Ubirajara Ulha (Zala) com ajuda da famlia saiu

    de Paracatu em busca de recuperao. Encontrou apoio no grupo Alvorada A.A. na

    cidade de Braslia-DF, j que havia frequentado vrias casas de recuperao,

    medicamentos e nada de xito. Para iniciar o tratamento residiu durante trs meses

  • 40

    em Braslia e aps esse perodo voltou para Paracatu e passou freqentar as

    reunies do A.A de Braslia todas as semanas durante um ano. (Informao verbal)1.

    Aps um ano combinou com o grupo do A.A de Braslia para fundar o A.A em

    Paracatu j sentia necessidade de ajudar os seus conterrneos, pois o ndice de

    alcoolismo crescia na cidade. No dia 30 de junho de 1979 aconteceu a primeira

    reunio aberta populao no Cine Santo Antnio, ficou completamente lotada

    contando com ajuda do mdico Dr. Benjamim Palma.

    A segunda reunio aconteceu em 1 de julho de 1979 para as pessoas com

    problema de alcoolismo. Carlos Ubirajara Ulha (Zala) e Sebastio Porto saam de

    casa em casa convidando as pessoas dependentes do lcool para participar das

    reunies do A.A.

    Carlos Ubirajara Ulha trabalhava como representante e fazia vrias viagens

    nas cidades vizinhas e com sua experincia, sentia necessidade de fundar o A.A.

    por onde ele passava e com isso foi possvel ajudar muitas pessoas.

    Hoje, existem nove grupos em vrios bairros espalhando pela cidade para

    melhor facilitar as pessoas que ali se encontram.

    Dentro do A.A. foram criados dois subgrupos de informao as famlias: AL-

    ANON (Grupos Familiares um programa de Doze Passos para familiares e amigos

    de alcolicos) e AL-ATEEN ( uma diviso de Al-Anon dedicada a pessoas mais

    jovens que so afetadas pelo hbito de algum beber).

    Quando completou quatro anos de Associao dos Alcolatras Annimos em

    Paracatu, a filha de Carlos Ubirajara escreveu uma linda poesia de agradecimento

    ao pai pela sua recuperao e ao A.A que tornou isso possvel, essa poesia

    (Apndice C), foi to especial que percorreu por vrias cidades do noroeste e muitas

    pessoas que liam ficavam comovidas e davam o primeiro passo para parar de beber.

    Segundo Carlos Ubirajara Ulha (Zala) ele e o mdico Dr. Benjamim com

    apoio das suas respectivas esposas foram os fundadores da A.A. em Paracatu.

    1 Informao verbal. Entrevista realizada com o Sr. Carlos Ubirajara Ulha (Sr. Zala) fundador do A.

    A. em Paracatu, em maio de 2010.

  • 41

    4 FUNDAMENTAO METODOLGICA

    O presente estudo trata-se de um mtodo quantitativo descritivo de campo. O

    mtodo quantitativo, segundo Lakatos e Marconi (2006) aquele no qual se utiliza

    amostras amplas e informaes numricas. Ele tem o objetivo de garantir a preciso

    dos resultados, evitando distores de anlise e interpretao, e possibilitando uma

    margem de segurana quanto s interferncias.

    Foi utilizada para a pesquisa uma entrevista estruturada, que segundo Lakatos

    e Marconi (2006), aquela que segue um roteiro preestabelecido com perguntas

    predeterminadas.

    A pesquisa foi realizada no municpio de Paracatu MG, localizada na regio

    Noroeste do Estado de Minas Gerais. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estatstica (IBGE, 2010) o municpio possui rea geogrfica de 8.232,23

    Km2. A populao de Paracatu de aproximadamente 83.560 habitantes; situado a

    500 km de Belo Horizonte, a capital do estado, e a 220 km de Braslia, capital do

    Brasil.

    O trabalho foi realizado de janeiro a abril de 2010 pela prpria pesquisadora e

    duas amigas que recebeu orientaes devidas quanto aplicao dos questionrios

    nas residncias dos moradores cadastrados na Unidade de Sade da Famlia

    Chapadinha, que est situada na Rua Esprito Santo 07, sendo a segunda unidade

    de atendimento populao implantada no municpio de Paracatu Minas-Gerais,

    construda na administrao municipal 1989-1992, onde cinco anos depois, deu-se a

    ativao do Programa Sade da Famlia Chapadinha, sb a administrao do prefeito

    Almir Paraca Cristovo Cardoso.

    Para o levantamento da populao a ser estudada foi obtida pelo Sistema de

    Informao de ateno Bsica (SIAB) do ms de Janeiro de 2010, com populao

    acima de 15 anos.

    Foi realizada uma visita unidade bsica de sade, expondo coordenadora

    atual da equipe os objetivos da pesquisa e solicitado consentimento para a

    realizao da mesma.

    Para Fonseca e Martins (2006) as pesquisas so realizadas atravs de

    estudos dos elementos que compem uma amostra extrada da populao que se

  • 42

    pretende analisar. Tornando-se claro que a representatividade da amostra

    depender do seu tamanho (quanto maior melhor), visando uma amostra

    significativa.

    Portanto, foi aplicada a frmula estatstica de Fonseca e Martins (2006) para

    obter a amostra a ser estudada.

    Populao acima de 15 anos = 2.467 pessoas

    N = Z2 . p . q . N .

    e. (N-1) + Z2.p. q

    N= tamanho da populao 2.467

    Z= nvel de confiana95% (1,96)

    P= proporo alcoolista

    q= proporo no alcoolista

    e= erro amostral= 5%

    n= (1,96). 0,5. 0,5. 2.467 = 332

    (0,5) . (2.467-1) + (1,96). 0,5.0.5

    O resultado do clculo de amostragem foi de 332 pessoas.

    O trabalho seguiu a Resoluo n 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho

    Nacional de Sade (FONTINELE JNIOR, 2003), para participao no estudo foi

    necessrio que os mesmos assinassem um termo de consentimento (Anexo A) que

    assegurou aos participantes sigilo e anonimato quanto s informaes colhidas.

    Os dados procederam da seguinte forma foram realizadas visitas domiciliares

    de forma aleatria onde foi exposto o objetivo do trabalho e seguida o consentimento

    para a realizao do mesmo e aps foi aplicado o questionrio (Apndice D)

    composto de 22 questes; 12 sobre nvel socioeconmico e 10 questes que

    Teste de Identificao de Problemas Relacionados ao Uso de lcool (AUDIT) que

    incluem trs itens sobre o uso de lcool, quatro sobre dependncia e trs sobre

    problemas decorrentes do consumo com uma durao aproximada de 5 minutos e

    escores que vo do 0 ao 40. A pontuao igual ou superior ao escore 8 indica a

    necessidade de um diagnstico mais especfico.

    O AUDIT que instrumento adotado pela Organizao Mundial de Sade

    ajuda a conhecer e distinguir os nveis de consumo e dependncia do alcohol.

    (BABOR et al., 2003).

    http://ads.us.e-planning.net/ei/3/29e9/cfa010f10016a577?rnd=0.3896602696191041&pb=7d53c4f899e35ab8&fi=75b028f3dc84f701&kw=mundial
  • 43

    No final da entrevista foram desenvolvidas orientaes educativas visando

    preveno e a promoo da sade mostrando que o alcoolismo doena incurvel,

    mas tem tratamento.

    Sendo assim, os dados foram avaliados, organizados em tabelas e grficos,

    que foram analisados e discutidos pela prpria pesquisadora.

  • 44

    5 RESULTADOS E DISCUSSO

    TABELA 1: Perfil socioeconmico dos usurios entrevistados, PSF Chapadinha,

    2010 (continua)

    Informaes socioeconmicas N Porcentagem (%)

    Faixa etria

    15 a 19 anos 52 15,7

    20 a 39 anos 171 51,5

    40 a 49 anos 66 19,9

    50 a 59 anos 23 6,9

    Acima de 60 anos 20 6,0

    Naturalidade

    Paracatu 254 76,5

    Outras cidades 78 23,5

    Gnero

    Feminino 156 47,0

    Masculino 176 53,0

    Estaco civil

    Solteiro 131 39,5

    Casado/amasiado 178 53,6

    Divorciado/separado 9 2,7

    Vivo 14 4,2

    Religio

    Catlico 250 75,3

    Esprita 2 0,6

    Evanglico 48 14,5

    Ateu 32 9,6

  • 45

    (concluso)

    Informaes socioeconmicas N Porcentagem (%)

    Escolaridade

    Analfabeto 37 11,1

    Ensino Fundamental 193 58,1

    Ensino Mdio 91 27,4

    Ensino Superior 11 3,3

    Ocupao

    Desempregado 95 28,6

    Cargos operacionais 146 44,0

    Cargos administrativos 8 2,4

    Aposentados/outros 9 2,7

    Do lar 74 22,3

    Renda familiar

    1 a 2 salrios mnimos 267 80,4

    3 a 5 salrios mnimos 35 10,5

    6 a 8 salrios mnimos 1 0,3

    No sabe 29 8,7

    TOTAL 332 100,0

    Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo com usurios cadastrados no PSF Chapadinha, no

    perodo de janeiro a abril de 2010.

    Do total de 332 indivduos que foram entrevistados a distribuio por faixa

    etria compreendeu 171 pessoas (51,5%) entre 20 a 39 anos, 66 (19,9%) de 40 a 49

    anos, 52 (15,7%) de 15 a 19 anos, 23 (6,9%) entre 50 a 59 anos e 20 pessoas

    (6,0%) acima de 60 anos. No estudo de Vargas, Oliveira e Arajo (2009) com 755

    usurios do servio de ateno primria de Bebedouro/SP, houve tambm

    prevalncia da faixa etria de 20 a 39 anos correspondendo a 41,3% da amostra.

    Observa-se da populao estudada composta por 254 pessoas (76,5%) so naturais

    de Paracatu e os demais outras cidades.

    Quanto ao gnero, 176 pessoas (53%) so do sexo masculino e 156 (47%) do

    sexo feminino. J no trabalho de Vargas, Oliveira e Arajo (2009) houve prevalncia

    feminina com 62,8% dos participantes. De acordo com Silveira (1997) homens que

    usam lcool so mais provveis de se tornarem dependentes do que as mulheres

  • 46

    possivelmente porque bebem mais, embora a gentica tambm desempenhe papel

    importante.

    Dos dados analisados mostra-se que 178 entrevistados (53,6%) so casado

    ou amasiado, os solteiros 131 (39,5%), divorciado ou separado 9 (2,7%) e vivo 14

    (4,2%). O que corrobora com o estudo de Vargas, Oliveira e Arajo (2009) onde a

    maioria onde 65,2 so casados ou amasiados. Entre os indivduos entrevistados a

    grande maioria declarou-se catlica 250 (75,3%) e os demais outras religies.

    Quanto escolaridade 193 (58,1%) tm ensino fundamental, enquanto os

    demais esto distribudos 91 (27,4%) ensino mdio, 11 (3,3%) ensino superior e 37

    (11,1%) analfabeto. Este estudo coincide com o realizado por Figlie e outros (1997)

    realizado em So Paulo, com 275 pacientes hospitalizados revelaram que 67,2%

    dos pacientes possuam apenas o ensino fundamental. Tambm no estudo de

    Vargas, Oliveira e Arajo (2009) houve prevalncia com 63% dos participantes com

    escolaridade de nvel de ensino fundamental. De acordo com Barros e outros (2007)

    a faixa de maior escolaridade consome com maior frequncia, porm, o consumo de

    maior risco mais elevado no segmento de escolaridade inferior. Observou-se neste

    estudo que poucos possuem o ensino superior e h nmero expressivo de

    analfabetos dessa populao estudada.

    Em relao ocupao dos indivduos entrevistados 146 (44%) possuem

    cargos operacionais, 95 (28,6%) desempregados, 9 (2,7%) aposentados/outros, 74

    (22,3%) so do lar e 8 (2,4%) possuem cargos administrativos. Percebe-se o

    desemprego preocupante e est presente nesta populao estudada.

    Resultados semelhantes ocorreram no estudo de Vargas, Oliveira e Arajo

    (2009) onde 39,7% dos entrevistados ocupava, cargos operacionais e 28,9% eram

    do lar.

    Quanto a renda familiar 267 (80,4%) recebem de 1 a 2 salrios mnimos, 35

    (10,5%) de 3 a 5 salrios mnimos, 6 a 8 salrios mnimos 1 (0,3%) e que no sabe

    29 (8,7%). Nota-se a renda familiar de maior relevncia 1 a 2 salrios mnimos,

    portanto, so considerados pobre num pas de grande economias, mas infelizmente

    to mau distribudo entre as famlias. J no estudo de Figlie e outros (1997)

    revelaram que a maioria 61,5% dos entrevistados tinham renda familiar de 1 a 5

    salrios mnimos; e no estudo de Vargas, Oliveira e Arajo (2009) a renda familiar

    prevalente com 95,7% tambm foi de 1 a 5 salrios mnimos.

  • 47

    TESTE AUDIT

    47%

    16%

    5%

    11%

    21%Cerveja

    Pinga

    Vinho

    Outros

    No utiliza

    GRFICO 1: Distribuio dos entrevistados, conforme a bebida alcolica consumida, PSF

    Chapadinha Paracatu, 2010

    Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo com usurios cadastrados no PSF Chapadinha, no

    perodo de janeiro a abril de 2010.

    Observa-se que a cerveja a bebida alcolica mais consumida por 47% das

    pessoas, 16% usam pinga, 11% outras bebidas alcolicas, 5% usam vinho e 21%

    no consomem bebidas alcolicas.

    importante observar que qualquer bebida alcolica contm a mesma

    quantidade de lcool puro por dose padro e que, sob este ngulo, no existe

    bebida fraca. Ao beber um copo 300 ml de cerveja, ingere-se a mesma quantidade

    de lcool puro (12g) e alcanando 0,2 g/ de sangue (alcoolemia). Ento, de modo

    geral, pode-se dizer que 3 copos de cerveja seriam suficientes para atingir a

    alcoolemia mxima permitida. (ABREU; LIMA; SILVA, 2007).

    Galdurz e Caetano (2004) citados por Ronzani e outros (2007) estimam que

    no Brasil 17,1% dos homens e 5,1% das mulheres sejam dependentes de lcool,

    mas que apenas 4% deste tenha frequentado algum servio para tratamento. Alm

    do peroblema de alta prevalncia, sabe-se que a dependncia do lcool est em

    quinto lugar entre os principais problemas de sade entre a populao com idade

    entre 15 e 44 anos de idade em todo o mundo em termos de Anos de Vida

    Ajustados por Incapacidade (AVAI). Considerando apenas alguns pases da Amrica

    Latina, incluindo o Brasil, os transtornos por uso de lcool ocupam a primeira

    posio em relao aos AVAI. (BABOR et al., 2003).

  • 48

    21%

    29%

    3%

    16%

    31%

    Nenhuma

    1 ou menos 1 vez por ms

    2 a 4 vezes por ms

    2 a 3 vezes por semana

    4 ou mais vezes por semana

    GRFICO 2: Distribuio dos entrevistados, conforme a freqncia do consumo de bebida alcolica, PSF Chapadinha Paracatu, 2010

    Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo com usurios cadastrados no PSF Chapadinha, no perodo de janeiro a abril de 2010.

    De acordo com a frequncia ao consumo de bebidas alcolicas 29%

    consomem uma ou menos de uma vez por ms, 16% consomem 4 ou mais vezes

    por semana, 31% 2 a 3 vezes por semana, 3% 2 a 4 por ms e 21% nenhuma vez, o

    que corrobora com os resultados do trabalho de Martins e outros (2008) realizado

    em So Paulo, onde mostrou-se que 15,1% dos entrevistados bebem mensalmente

    ou menos; e 45% deles bebem de 2 a 4 vezes, ou mais por semana.

    Conforme dados do I Levantamento nacional sobre os padres de consumo

    de lcool na populao brasileira (LARANJEIRA et al., 2007) realizado na Regio

    Sudeste do Brasil, apresentou um padro de consumo de lcool em que 50% da

    populao com 18 anos ou mais de idade ingerem bebida alcolica, 6% diariamente

    e 18% uma a quatro vezes semana. A cerveja a bebida alcolica mais

    consumida, seguida do vinho.

    Observa-se que o uso do lcool vem causando considervel prejuzo sade

    de todas as populaes, e, sendo essa uma droga lcita, no h restries para seu

    consumo, afetando homens e mulheres de diferentes grupos tnicos,

    independentemente de classe social, econmica ou mesmo idade. (FORNAZIER;

    SIQUEIRA, 2006).

    A deteco do beber problemtico, um fenmeno de consumo que antecede

    a instalao de um transtorno propriamente dita, essencial para aes de

    preveno do alcoolismo. Estudos anteriores demonstram que uma situao de

    beber problemtico pode ser detectada em 8 a 20% dos pacientes atendidos em

    servios de Ateno Primria Sade. Alm disso, a maior parte da morbidade e da

  • 49

    mortalidade relacionada ao lcool, na populao geral, incide sobre sujeitos no-

    dependentes, que habitualmente no chegam a procurar servios especializados em

    tratamento de alcoolistas. (RIBEIRO et al., 2001 apud RONZANI et al., 2007).

    De acordo com o II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

    Psicotrpicas envolvendo 108 maiores cidades do pas, a distribuio dos 7939

    entrevistados, segundo uso de bebida alcolica ficou assim distribudo: 74,6% j

    consumiu alguma vez na vida, 49,8% consumiu no ano e 38,3% fez uso no ms.

    (CARLINI et al., 2007).

    21%

    10%

    9%

    14%

    25%

    21% Nenhuma

    1 a 2 doses

    3 a 4 doses

    5 a 6 doses

    7 a 9 doses

    10 ou mais doses

    GRFICO 3: Distribuio dos entrevistados, quanto ao nmero de doses de bebida alcolica

    consumidas em dia de consumo, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo com usurios cadastrados no PSF Chapadinha, no

    perodo de janeiro a abril de 2010.

    Quanto ao nmero de doses de bebida alcolica consumida em um dia tpico,

    21% bebem 10 ou mais doses, 10% consomem 1 a 2 doses, 9% consomem 3 a 4

    doses, 14% 5 a 6 doses, 25% 7 a 9 doses por dia e 21% no consomem. De acordo

    com Martins e outros (2008) o padro de beber nestas ocasies alto, pois 66,6%

    bebem 5 ou mais doses por dia. Tambm coincide com o estudo de Barros e outros

    (2008) onde 62,8% dos entrevistados consomem cinco ou mais doses em dia tpico.

    Dados mostram claramente que o uso abusivo de bebida alcolica est cada

    vez aumentando em nosso meio, necessitando urgentemente de medidas

    educativas por profissionais de sade e todas as autoridades governamentais.

    A alta frequncia de problemas relacionados ao consumo excessivo de

    bebidas alcolicas, inclusive em nosso meio, comprova-se a importncia da

    abordagem do alcoolismo, o qual, muitas vezes, no diagnosticado por

    profissionais de sade. (ROSA et al., 1998).

  • 50

    39%

    9%9%

    14%

    29%

    Nunca

    Mensalmente

    Menos que mensalmente

    Semanalmente

    Diariamente

    GRFICO 4: Distribuio dos entrevistados, conforme a freqncia do consumo de 6 ou mais

    doses de bebida alcolica numa mesma ocasio, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo com usurios cadastrados no PSF Chapadinha, no

    perodo de janeiro a abril de 2010.

    Os dados mostram que 29% consomem 6 doses semanalmente, 9%

    mensalmente, 9% menos que mensalmente, 14% diariamente e 39% nunca

    consomem. No trabalho de Martins e outros (2008), ao avaliar o beber

    embriagando-se, 44,5% dos entrevistados relataram beber seis ou mais doses

    semanalmente.

    Este estudo est em concordncia com o trabalho realizado por Barros e

    outros (2008) onde 9,6% tomam seis ou mais doses pelo menos uma vez ao ms.

    De acordo com Costa e outros (2004) o uso abusivo de lcool elevado e

    acarreta inmeras consequncias negativas para a sade e qualidade de vida dos

    indivduos. Os resultados indicam uma alta prevalncia de consumo abusivo de

    lcool e identificam alguns subgrupos da populao mais suscetveis ao alcoolismo.

    14%18%

    14%

    38%16%

    Nunca

    Mensalmente

    Menos que mensalmente

    Semanalmente

    Diariamente ou quase

    GRFICO 5: Distribuio dos entrevistados, conforme a freqncia durante os ltimos 12 meses percebeu que no conseguia parar de beber, uma vez que havia comeado, PSF

    Chapadinha Paracatu, 2010 Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo com usurios cadastrados no PSF Chapadinha, no

    perodo de janeiro a abril de 2010.

  • 51

    De acordo com o grfico 5, conforme a freqncia durante os ltimos 12

    meses percebeu que no conseguia parar de beber, uma vez que havia comeado,

    38% dos entrevistados afirmaram nunca ter acontecido com eles, 18% menos que

    mensalmente, 16% semanalmente, 14% diariamente e 14% mensalmente. No

    trabalho de Martins e outros (2008) 43,6% dos entrevistados relataram nunca terem

    tido esta experiencia e 20,2% declararam acontecer menos que uma vez ao ms.

    Declaram-se concepes negativas frente ao uso do lcool as que mais

    aparecem so do lcool como uma substncia txica, capaz de modificar o

    comportamento e a personalidade do indivduo que a consome. Substncia que tem

    poder txico que altera o comportamento do indivduo, viciando, alterando o seu

    psiquismo, tirando-o da normalidade. (VARGAS; LUIS, 2008).

    Para Coutinho (1992), a dependncia psicolgica, que se traduz num grande

    desconforto na ausncia de lcool, de difcil determinao dada a sua

    subjetividade. J a dependncia fsica constitui-se num critrio muito restritivo, pois

    se caracteriza pelo aparecimento de sintomas de abstinncia, os quais podem estar

    ausentes em indivduos que j apresentam problemas ligados ao consumo do lcool

    e outro lado, a definio baseada nos problemas relacionados ao lcool pressupe

    que o fato de algum beber at apresentar dificuldades importantes na vida indica

    uma incapacidade da pessoa em interromper o uso de bebida alcolica.

    16%

    15%

    11%41%17% Nunca

    Mensalmente

    Menos que mensalmente

    Semanalmente

    Diariamente ou quase

    GRFICO 6: Distribuio dos entrevistados, conforme quantidade de vezes durante o ano passado deixou de fazer o que era esperado devido ao uso de bebidas alcolicas, PSF Chapadinha Paracatu, 2010