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B5 | ECONOMIA | SALVADOR, SÁBADO, 29/8/2009 Petróleo Regras do pré-sal saem segunda-feira ANA CAROLINA FERNANDES | FOLHA IMAGEM Exploração de petróleo na Bacia de Campos, litoral do Rio O governo brasileiro deverá apresentar na segunda-feira sua proposta sobre novas regras para o setor petrolífero, para determinar como serão exploradas e administradas as novas reservas do pré-sal, que o governo Lula espera servir de alavanca para elevar o País a um novo status. Os projetos que serão enviados ao Congresso pelo governo devem ampliar a participação do governo e da Petrobras nos campos petrolíferos que foram descobertos nos últimos anos a vários quilômetros abaixo do leito marinho, o que pode fazer do Brasil um grande exportador de energia. A proposta pode dar origem a uma nova rodada de investimentos na produção energética, caso os investidores considerem os novos termos aceitáveis. Ranking Cyrela e MRV têm valor destacado A Cyrela Brazil Realty e a MRV Engenharia estão entre as dez maiores empresas da América Latina e dos Estados Unidos em valor de mercado, segundo ranking da Economática divulgado ontem. Conforme o levantamento, a Cyrela ocupa a quarta colocação, com R$ 4,898 bilhões de valor de mercado. Já a MRV está em nono lugar, R$ 3,120 bilhões. Outras quatro brasileiras também figuram entre os 20 primeiros lugares do levantamento da Economática: PDG Realty (14º), BR Malls (15º), Gafisa (17º) e Multiplan (18º). As norte-americanas Fluor Corp e Jacobs Engineering foram as primeiras colocadas na classificação. Crise Fábrica demite 1,1 mil nos EUA A fabricante de eletrodomésticos norte-americana Whirlpool – dona, entre outras, das marcas Brastemp e Consul – anunciou que vai fechar uma unidade de produção na cidade de Evansville, em Indiana (EUA), o que deve acarretar a demissão de cerca de 1.100 pessoas ou 1,6% de sua força de trabalho. A produção da fábrica fechada deve ser transferida para uma das unidades da Whirlpool no México. Em outubro do ano passado, a empresa havia anunciado planos de cortar cinco mil postos de trabalho nos EUA até o fim de 2009. Na época, alegou queda na demanda por seus produtos na América do Norte e na Europa. CURTAS TI e alimentos lideram operações CONSUMO União de grandes grupos empresariais pode desequilibrar os mercados com a redução da concorrência Fusões levam ao aumento dos preços ? O que é aquisição? Quando o comprador obtém o controle da empresa. O que é fusão? Quando duas empresas juntam suas operações e deixam de existir isoladamente, dando origem a uma terceira. O que é joint venture? Dois ou mais sócios em uma nova empresa, mas continuam com operações independentes. Relatório divulgado pela consul- toria PricewaterhouseCoopers revela que os setores de TI (tec- nologia da informação) e de ali- mentos representaram 19% das transações em 2009. Em seguida, estão o setor financeiro, com 9%, e serviços, com 7%. A diretora do departamento bancário e securi- tário da Noronha Advogados, Keila Fonseca Soares, avalia que fusões como a do Itaú Unibanco com Porto Seguro são ajustes de mercado diante da política fiscal brasileira. “Esta movimentação é o refle- xo de uma regulamentação rígi- da de nosso País, em especial pa- ra o setor de seguros”, avalia Keila Soares. Ela explica que, para am- pliar a carteira de clientes, as em- presas precisam ter uma reserva que somente é possível atingir por meio da abertura de capital ou de fusões. Keila cita como exemplo a Marítima Seguradora, que fe- chou acordo com a Yasuda Segu- ros, em maio deste ano, quando a empresa japonesa assumiu 50% do controle acionário da segura- dora brasileira. “É esta nossa le- gislação rígida que permitiu que os efeitos da crise econômica mundial tenham sido menores no País em relação a outros luga- res”, afirmou a advogada. VOLUME – Segundo a análise da PricewaterhouseCoopers, o nú- mero de transações até julho de 2009 é 21% menor que o registra- do no mesmo período do ano passado, quando foram fecha- dos 407 negócios. O relatório aponta que o mer- cado operou, no primeiro se- mestre, com cautela, com em- presas e investidores atuando de forma seletiva e buscando opor- tunidades de aquisições para fortalecimento de posiciona- mento de mercado. Algumas transações foram canceladas ou suspensas, muitas delas continuam em análise por órgãos reguladores ou por falta de financiamento. Para este segundo semestre, porém, há a tendência de retomada dos negócios. O mês de julho de 2009 apre- sentou volume recorde de tran- sações dos últimos 12 meses. Fo- ram 66 negócios anunciados, vo- lume que só era observado em al- guns meses do primeiro semes- tre de 2008. ( T.R.) THAIS ROCHA [email protected] De janeiro a julho de 2009, foram realizados no Brasil 321 proces- sos de fusões e aquisições de em- presas. São operações que forta- lecem companhias, criam gran- des grupos, mas que podem pro- vocar o aumento dos preços de mercado para o consumidor, se- gundo análise de especialistas. Um dos casos mais recentes foi a união entre Itaú Unibanco e Porto Seguro, anunciada na se- mana passada e que deve resul- tar em uma das maiores carteiras de seguros residenciais e de au- tomóveis do Brasil com uma úni- ca controladora, a Psiupar. A redução da concorrência é a primeira consequência aponta- da ao consumidor. “A grande questão que envolve fusões e aquisições é o grau de concentra- ção de mercado e quais as opções que serão oferecidas ao consu- midor”, avalia o Conselheiro do Ibre (Instituto Brasileiro de Eco- nomia), da Fundação Getúlio Vargas, e ex-conselheiro do Con- selho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Cliverlan Prates. Durante sua atuação no Cade, Prates chegou a vetar algumas fu- sões e aquisições, como a união entre as redes supermercadistas Bompreço e G.Barbosa e a fusão entre Nestlé e Garoto. Nos dois casos, segundo ele, as fusões eram prejudiciais à livre concor- rência de mercado. “Mesmo assim, vale lembrar que estes casos não são regra, em 95% dos casos, o Cade costuma aprovar as fusões”. De acordo com ele, existem outras variáveis que podem pro- duzir o mesmo resultado. Uma delas é, a partir da criação de uma empresa grande e forte no mer- cado, o aumento de qualidade dos serviços, que também leva ao aumento de preços. Esta movi- mentação, segundo Cliverlan Prates, até certo ponto, pode ser benéfica para o consumidor que busca por qualidade. Mas pode prejudicar pequenas empresas que perdem em condições de concorrer com grandes grupos. O especialista em fusões e aquisições e professor da ESPM José Eduardo Balian avalia, po- rém, que os reflexos das fusões não chegam para o consumidor a curto prazo. Estes negócios, de acordo com ele, geram a movi- mentação de mercado desenca- deada pela redução da concor- rência. “Sob este aspecto, estas uniões são sempre ruins para o consumidor”, disse. O professor argumenta que a criação de uma empresa sólida como será a Psiupar, num pri- meiro momento, chamará a atenção pela qualidade dos ser- viços oferecidos, mas com con- sequente aumento de preços, a médio prazo, para manter a gran- de estrutura. Exemplo disso, segundo o professor, é a fusão entre a Sadia e Perdigão, originando a BRF – Bra- sil Foods. “Qual é o motivo que esta empresa teria para competir com preços no mercado?”, ques- tiona o professor, que aponta o próprio caso da fusão entre Itaú e Unibanco como prejudicial para o consumidor, que é refém das taxas bancárias. A fusão acontece quando duas empresas juntam suas opera- ções e deixam de existir isolada- mente, dando origem a uma ter- ceira nova empresa. No joint ven- ture, os sócios criam uma nova empresa, mas continuam com operações independentes. * Os setores de TI e alimentos representaram 19% das transações em 2009, de acordo com relatório divulgado pela Pricewaterhouse Coopers. Fusões como a do Itaú Unibanco com Porto Seguro são ajustes de mercado diante da política fiscal brasileira.

CONSUMO Fusões levam ao aumento dos preços · Engenharia estão entre as dez maiores empresas da América Latina e dos Estados Unidos em valor de mercado, segundo ranking da Economática

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Page 1: CONSUMO Fusões levam ao aumento dos preços · Engenharia estão entre as dez maiores empresas da América Latina e dos Estados Unidos em valor de mercado, segundo ranking da Economática

B5| ECONOMIA |SALVADOR, SÁBADO, 29/8/2009

PetróleoRegras do pré-sal saem segunda-feira

ANA CAROLINA FERNANDES | FOLHA IMAGEM

Exploração de petróleo na Bacia de Campos, litoral do Rio

O governo brasileiro deveráapresentar na segunda-feirasua proposta sobre novasregras para o setor petrolífero,para determinar como serãoexploradas e administradas asnovas reservas do pré-sal, queo governo Lula espera servirde alavanca para elevar o Paísa um novo status. Os projetosque serão enviados aoCongresso pelo governodevem ampliar a participação

do governo e da Petrobrasnos campos petrolíferos queforam descobertos nosúltimos anos a váriosquilômetros abaixo do leitomarinho, o que pode fazer doBrasil um grande exportadorde energia. A proposta podedar origem a uma novarodada de investimentos naprodução energética, caso osinvestidores considerem osnovos termos aceitáveis.

RankingCyrela e MRV têmvalor destacadoA Cyrela Brazil Realty e a MRVEngenharia estão entre as dezmaiores empresas da AméricaLatina e dos Estados Unidosem valor de mercado,segundo ranking daEconomática divulgadoontem. Conforme olevantamento, a Cyrela ocupaa quarta colocação, com R$4,898 bilhões de valor demercado. Já a MRV está emnono lugar, R$ 3,120 bilhões.Outras quatro brasileirastambém figuram entre os 20primeiros lugares dolevantamento daEconomática: PDG Realty(14º), BR Malls (15º), Gafisa(17º) e Multiplan (18º).As norte-americanas FluorCorp e Jacobs Engineeringforam as primeiras colocadasna classificação.

CriseFábrica demite1,1 mil nos EUAA fabricante dee l e t ro d o m é s t i c o snorte-americana Whirlpool –dona, entre outras, dasmarcas Brastemp e Consul –anunciou que vai fechar umaunidade de produção nacidade de Evansville, emIndiana (EUA), o que deveacarretar a demissão de cercade 1.100 pessoas ou 1,6% desua força de trabalho. Aprodução da fábrica fechadadeve ser transferida para umadas unidades da Whirlpool noMéxico. Em outubro do anopassado, a empresa haviaanunciado planos de cortarcinco mil postos de trabalhonos EUA até o fim de 2009.Na época, alegou queda nademanda por seus produtosna América do Norte e naEu ro p a .

C U RTA S

TI e alimentos lideram operações

CONSUMO ❚ União de grandes grupos empresariais podedesequilibrar os mercados com a redução da concorrência

Fusões levamao aumentodos preços

?O que é aquisição?Quando o compradorobtém o controle daempresa.

O que é fusão?Quando duas empresasjuntam suas operações edeixam de existirisoladamente, dandoorigem a uma terceira.

O que é joint venture?Dois ou mais sócios emuma nova empresa, mascontinuam com operaçõesindependentes.

Relatório divulgado pela consul-toria PricewaterhouseCoopersrevela que os setores de TI (tec-nologia da informação) e de ali-mentos representaram 19% dastransações em 2009. Em seguida,estão o setor financeiro, com 9%,e serviços, com 7%. A diretora dodepartamento bancário e securi-tário da Noronha Advogados,Keila Fonseca Soares, avalia quefusões como a do Itaú Unibancocom Porto Seguro são ajustes demercado diante da política fiscalb ra s i l e i ra .

“Esta movimentação é o refle-xo de uma regulamentação rígi-da de nosso País, em especial pa-ra o setor de seguros”, avalia KeilaSoares. Ela explica que, para am-pliar a carteira de clientes, as em-presas precisam ter uma reservaque somente é possível atingirpor meio da abertura de capitalou de fusões.

Keila cita como exemplo aMarítima Seguradora, que fe-chou acordo com a Yasuda Segu-ros, em maio deste ano, quando a

empresa japonesa assumiu 50%do controle acionário da segura-dora brasileira. “É esta nossa le-gislação rígida que permitiu queos efeitos da crise econômicamundial tenham sido menoresno País em relação a outros luga-res”, afirmou a advogada.

VO LU M E – Segundo a análise da

PricewaterhouseCoopers, o nú-mero de transações até julho de2009 é 21% menor que o registra-do no mesmo período do anopassado, quando foram fecha-dos 407 negócios.

O relatório aponta que o mer-cado operou, no primeiro se-mestre, com cautela, com em-presas e investidores atuando deforma seletiva e buscando opor-tunidades de aquisições parafortalecimento de posiciona-mento de mercado.

Algumas transações foramcanceladas ou suspensas, muitasdelas continuam em análisepor órgãos reguladores oupor falta de financiamento. Paraeste segundo semestre, porém,há a tendência de retomada dosn e g ó c i o s.

O mês de julho de 2009 apre-sentou volume recorde de tran-sações dos últimos 12 meses. Fo-ram 66 negócios anunciados, vo-lume que só era observado em al-guns meses do primeiro semes-tre de 2008. ( T.R.)

THAIS ROCHAt ro c h a @ g r u p o a t a rd e . c o m . b r

De janeiro a julho de 2009, foramrealizados no Brasil 321 proces-sos de fusões e aquisições de em-presas. São operações que forta-lecem companhias, criam gran-des grupos, mas que podem pro-vocar o aumento dos preços demercado para o consumidor, se-gundo análise de especialistas.

Um dos casos mais recentesfoi a união entre Itaú Unibanco ePorto Seguro, anunciada na se-mana passada e que deve resul-tar em uma das maiores carteirasde seguros residenciais e de au-tomóveis do Brasil com uma úni-ca controladora, a Psiupar.

A redução da concorrência é aprimeira consequência aponta-da ao consumidor. “A grandequestão que envolve fusões eaquisições é o grau de concentra-ção de mercado e quais as opçõesque serão oferecidas ao consu-midor”, avalia o Conselheiro doIbre (Instituto Brasileiro de Eco-nomia), da Fundação GetúlioVargas, e ex-conselheiro do Con-selho Administrativo de DefesaEconômica (Cade), CliverlanPra t e s.

Durante sua atuação no Cade,Prates chegou a vetar algumas fu-sões e aquisições, como a uniãoentre as redes supermercadistasBompreço e G.Barbosa e a fusãoentre Nestlé e Garoto. Nos doiscasos, segundo ele, as fusõeseram prejudiciais à livre concor-rência de mercado. “Mesmoassim, vale lembrar que estes

casos não são regra, em 95% doscasos, o Cade costuma aprovar asf u s õ e s”.

De acordo com ele, existemoutras variáveis que podem pro-duzir o mesmo resultado. Umadelas é, a partir da criação de umaempresa grande e forte no mer-cado, o aumento de qualidadedos serviços, que também leva aoaumento de preços. Esta movi-mentação, segundo CliverlanPrates, até certo ponto, pode serbenéfica para o consumidor que

busca por qualidade. Mas podeprejudicar pequenas empresasque perdem em condições deconcorrer com grandes grupos.

O especialista em fusões eaquisições e professor da ESPMJosé Eduardo Balian avalia, po-rém, que os reflexos das fusõesnão chegam para o consumidor acurto prazo. Estes negócios, deacordo com ele, geram a movi-mentação de mercado desenca-deada pela redução da concor-rência. “Sob este aspecto, estasuniões são sempre ruins para oconsumidor”, disse.

O professor argumenta que acriação de uma empresa sólidacomo será a Psiupar, num pri-meiro momento, chamará aatenção pela qualidade dos ser-viços oferecidos, mas com con-sequente aumento de preços, amédio prazo, para manter a gran-de estrutura.

Exemplo disso, segundo oprofessor, é a fusão entre a Sadia ePerdigão, originando a BRF – Bra-sil Foods. “Qual é o motivo queesta empresa teria para competircom preços no mercado?”, ques-tiona o professor, que aponta opróprio caso da fusão entre Itaú eUnibanco como prejudicial parao consumidor, que é refém dastaxas bancárias.

A fusão acontece quando duasempresas juntam suas opera-ções e deixam de existir isolada-mente, dando origem a uma ter-ceira nova empresa. No joint ven-ture, os sócios criam uma novaempresa, mas continuam comoperações independentes.

* Os setores de TI ealimentosrepresentaram 19%das transações em2009, de acordo comrelatório divulgadopela PricewaterhouseCoopers.

Fusões como a doItaú Unibanco comPorto Seguro sãoajustes de mercadodiante da políticafiscal brasileira.