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Contabilidade Comercial Fatos que Alteram as Compras e as Vendas Capítulo 1 - Operações com Mercadorias As empresas comerciais têm por finalidade a aquisição de mercadorias para revenda servindo como intermediárias nas trocas entre fornecedores e clientes. O controle da evolução do patrimônio dessas empresas é realizado pela Contabilidade Comercial que registra através de lançamentos todas as operações relacionadas com compras e vendas de mercadorias, despesas acessórias, descontos ou abatimentos incondicionais, devoluções e incidência de impostos, tais como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS). Consta no artigo 183, inciso II, da Lei n.º 6.404 de 15 de dezembro de 1976, que os estoques de uma empresa comercial devem ser avaliados pelo custo de aquisição, nele incluídos os gastos com transportes, seguros, embalagens e os tributos não recuperáveis, tais como IPI, Imposto de Importação e IOF quando incidente sobre as operações de câmbio. Assim, os tributos não recuperáveis, suportados pela entidade comercial, são agregados ao valor da mercadoria, ao passo que os tributos recuperáveis (normalmente o ICMS e para as empresas industriais o IPI) devem ser expurgados do valor da mercadoria quando dele fizerem parte. As empresas necessitam controlar seus estoques com diversas finalidades, como, por exemplo, evitar furtos, reposição e apurar o CMV. As empresas que adotam a sistemática do inventário permanente possuem controle contábil de seus estoques, diferentemente das que se utilizam da sistemática do inventário periódico que, a rigor, não possuem controle contábil sobre seus estoques. Compra de Mercadorias As compras de mercadorias podem ser realizadas à vista ou a prazo. Nas compras à vista o pagamento é realizado no ato, enquanto nas compras a prazo, cria-se uma obrigação de pagamento futuro. Ex.: Compra de mercadorias, à vista, no valor de R$ 460,00, conforme nota fiscal nº 0526 de Neves & Pontes Ltda. Mercadorias a Caixa Compra de mercadorias, conforme nota fiscal nº 0526, de Neves & Pontes Ltda.......................................................................... 460,00 Venda de Mercadorias As vendas de mercadorias, assim como as compras, também podem ser realizadas à vista ou a prazo, constituindo-se na principal fonte de receitas das empresas comerciais. Ex.: Venda de mercadorias, à vista, conforme nossa nota fiscal nº 325, no valor de R$ 230,00. Caixa a Venda de Mercadorias Conforme nossa nota fiscal nº 325........................................................... 230,00 Prof. Renato Lopes 1

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Capítulo 1 - Operações com Mercadorias

As empresas comerciais têm por finalidade a aquisição de mercadorias para revenda servindo como intermediárias nas trocas entre fornecedores e clientes. O controle da evolução do patrimônio dessas empresas é realizado pela Contabilidade Comercial que registra através de lançamentos todas as operações relacionadas com compras e vendas de mercadorias, despesas acessórias, descontos ou abatimentos incondicionais, devoluções e incidência de impostos, tais como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS).

Consta no artigo 183, inciso II, da Lei n.º 6.404 de 15 de dezembro de 1976, que os estoques de uma empresa comercial devem ser avaliados pelo custo de aquisição, nele incluídos os gastos com transportes, seguros, embalagens e os tributos não recuperáveis, tais como IPI, Imposto de Importação e IOF quando incidente sobre as operações de câmbio. Assim, os tributos não recuperáveis, suportados pela entidade comercial, são agregados ao valor da mercadoria, ao passo que os tributos recuperáveis (normalmente o ICMS e para as empresas industriais o IPI) devem ser expurgados do valor da mercadoria quando dele fizerem parte.

As empresas necessitam controlar seus estoques com diversas finalidades, como, por exemplo, evitar furtos, reposição e apurar o CMV.

As empresas que adotam a sistemática do inventário permanente possuem controle contábil de seus estoques, diferentemente das que se utilizam da sistemática do inventário periódico que, a rigor, não possuem controle contábil sobre seus estoques.

Compra de Mercadorias

As compras de mercadorias podem ser realizadas à vista ou a prazo. Nas compras à vista o pagamento é realizado no ato, enquanto nas compras a prazo, cria-se uma obrigação de pagamento futuro.

Ex.: Compra de mercadorias, à vista, no valor de R$ 460,00, conforme nota fiscal nº 0526 de Neves & Pontes Ltda.

Mercadoriasa Caixa

Compra de mercadorias, conforme nota fiscal nº 0526,de Neves & Pontes Ltda.......................................................................... 460,00

Venda de Mercadorias

As vendas de mercadorias, assim como as compras, também podem ser realizadas à vista ou a prazo, constituindo-se na principal fonte de receitas das empresas comerciais.

Ex.: Venda de mercadorias, à vista, conforme nossa nota fiscal nº 325, no valor de R$ 230,00.

Caixaa Venda de Mercadorias

Conforme nossa nota fiscal nº 325........................................................... 230,00

Resultado com Mercadorias (RCM)RCM = Vendas – Custo das Mercadorias Vendidas (CMV)

Existem dois sistemas de apuração do CMV: Inventário Periódico; Inventário Permanente.

Inventário Periódico – quando efetuamos as vendas sem um controle paralelo e concomitante de nosso estoque e, portanto, sem controlar o Custo das Mercadorias Vendidas. Quando necessitamos apurar o resultado obtido com a venda das mercadorias (RCM), fazemos um levantamento físico para avaliação do estoque de mercadorias existente naquela data; e pela diferença entre o total das mercadorias disponíveis para venda durante o período e esse estoque final (apurado extracontabilmente), obtemos o Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) nesse período, utilizando a seguinte equação:

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CMV = EI + C – EF

Onde:

CMV = custo das mercadorias vendidas;EI = estoque das mercadorias no início do período;C = compras líquidas no período;EF = estoque de mercadorias no final do período.

O estoque de mercadorias deverá estar livre do ICMS e deverá conter a parcela dos fretes e seguros relativos às mercadorias estocadas.

Exemplo: A Cia. ABC possuía em 01/01/X1, estoque inicial no valor de R$ 120.000. Durante o mês, realizou compras no montante de R$ 480.000. O estoque final em 31/01/X1 foi avaliado em R$ 97.000. As vendas foram de R$ 620.000.CMV = EI + C – EFCMV = 120.000 + 480.000 – 97.000CMV = R$ 503.000RCM = Vendas – CMVRCM = 620.000 – 503.000RCM = R$ 117.000

Inventário Permanente – quando controlamos de forma contínua o Estoque de Mercadorias, dando-lhe baixa, em cada venda, pelo custo dessas mercadorias vendidas (CMV). Esse controle permanente é efetuado sobre todas as mercadorias que estiverem à disposição para venda, isto é, esse controle é efetuado sobre as Mercadorias Vendidas (CMV) e sobre as mercadorias que não foram vendidas (Estoque Final). Pela soma dos custos de todas as vendas, teremos o Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) total do período.

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO PELO INVENTÁRIO PERMANENTEPreço Específico - Quando é possível fazer a determinação do preço específico de cada unidade em estoque, pode-se dar baixa em cada venda, por esse valor; com isto, no estoque final, seu valor será a soma de todos os custos específicos de cada unidade ainda existente.Tal tipo de apropriação de custo, entretanto, somente é possível em alguns casos, onde a quantidade, ou o valor, ou a própria característica da mercadoria o permite (isto é feito, por exemplo, nesse comércio de carros usados). Na maioria das vezes não é possível ou economicamente conveniente a identificação do custo específico de cada unidade.

PEPS – Com base nesse critério, daremos baixas no custo da seguinte maneira: o Primeiro que Entra é o Primeiro que Sai. Assim, à medida que ocorrerem as vendas, vamos dando baixa a partir das primeiras compras, o que equivaleria ao raciocínio de que vendemos primeiro as primeiras unidades compradas, permanecendo nos estoques as mercadorias de aquisição mais recentes.Por este avaliamos os estoques pelo custo das últimas aquisições. Com isso, o Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) fica onerado pelas primeiras compras, daí o nome do método PEPS - primeiro que entra é o primeiro que sai.Este método de avaliação dos estoques, quando comparado com os demais métodos, ocasiona as seguintes situações conforme estamos em economia com preços crescentes, estáveis ou decrescentes: numa economia inflacionária, isto é, com preços crescentes, produz estoque final maior do que

os outros métodos, ocasionando resultado com mercadorias de maior valor; numa economia de preços constantes (inflação zero), os métodos se comportam, teoricamente,

de forma semelhante; e numa economia deflacionária, isto é, com preços decrescentes, o método PEPS produz estoque final menor do que os outros métodos, ocasionando resultado com mercadorias de menor valor.

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UEPS – a Última a Entrar é a Primeira a Sair. O método UEPS funciona de modo inverso ao PEPS, isto é, o estoque é avaliado pelos preços de aquisição mais antigos e o custo das mercadorias vendidas é onerado pelas últimas compras. Daí o nome UEPS, o último que entra é o primeiro que sai.Numa economia inflacionária, este método em comparação com os demais, ocasionará no primeiro ano um Custo das Mercadorias Vendidas maior e em conseqüência um lucro menor.A legislação fiscal não aceita o UEPS como método de avaliação de estoques, pois tende a diminuir o lucro, o que ocasionaria diminuição do Imposto Sobre a Renda e da Contribuição Social Sobre o Lucro. A propósito, os únicos métodos aceitos pela legislação fiscal são o PEPS e MPM, este último somente se houver controle permanente de estoques, pois se não houver controle permanente de estoques, é obrigatório o uso do método PEPS.

Média Ponderada Móvel (MPM) – Chama-se Ponderada Móvel, pois o valor médio de cada unidade em estoque altera-se pela compra de outras unidades por um preço diferente. Assim, ele será calculado dividindo-se o custo total do estoque pelas unidades existentes.Este método permite a avaliação dos estoques pelo preço médio ponderado. Ele é chamado de média ponderada porque a cada unidade comprada com preço diferente do constante do estoque o custo médio existente sofre alteração em seu valor. Assim, evita-se os extremos que ocorrem ao se avaliar os estoques pelo método PEPS ou pelo método UEPS, primeiras ou últimas entradas no estoque, respectivamente.Por esse critério, os estoques são avaliados pelo custo de aquisição, apurado a cada entrada de mercadorias, ponderado pelas quantidades adquiridas e pelas anteriormente existentes, isto é, a cada aquisição se faz a média ponderada dos estoques.

Média Ponderada Fixa (MPF) - Saliente-se, inicialmente, que este método de avaliação dos estoques não é permitido pela legislação do IR e tampouco se amolda aos princípios de contabilidade.Ele consiste em se efetuar a média do custo pelo somatório de todas as aquisições do período e dividi-lo pela quantidade das aquisições do período, obtendo-se, desta forma, o custo unitário médio mensal. Assim, o método apura o valor médio das compras por períodos de um mês independentemente da data de aquisição, isto é, verifica-se o custo total das compras mais o custo do estoque inicial do mês, divide-se a soma, assim obtida, pelas unidades adquiridas no período mais as unidades existentes no início do período e teremos, então, o custo médio ponderado fixo mensal.Ao final do período, mês, toma-se o total das quantidades vendidas no período, independente da data de saída, e multiplica-se pelo custo médio encontrado na coluna das entradas, obtendo-se destaforma o custo da mercadoria vendida (CMV).

Exemplo: Uma empresa apresentou a seguinte movimentação:- 01/01/X1 – estoque inicial de 10 unid, adquiridas por R$ 5 cada;- 08/01/X1 – compra de 8 unid, adquiridas por R$ 8 cada;- 31/01/X1 – venda de 12 unid por R$ 11 cada.

Calcular o CMV, o Estoque Final e o RCM utilizando o PEPS, o UEPS e a Média Ponderada Móvel.Solução pelo PEPS:CMV = 10 unid. x R$ 5 = R$ 50

2 unid. x R$ 8 = R$ 16 R$ 66

Estoque Final = 6 unid. x R$ 8 = R$ 48

RCM = Vendas – CMVRCM = (12 unid. x R$ 11) = R$ 66RCM = R$ 132 – R$ 66RCM = R$ 66

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Solução pelo UEPS:CMV = 8 unid. x R$ 8 = R$ 64

4 unid. x R$ 5 = R$ 20 R$ 84

Estoque Final = 6 unid. x R$ 5 = R$ 30

RCM = Vendas – CMVRCM = (12 unid. x R$ 11) – R$ 84RCM = R$ 132 – R$ 84RCM = R$ 48

Solução pela MPM:Estoque Inicial = 10 unid. x R$ 5 = R$ 50Compras = 8 unid. x R$ 8 = R$ 64Custo Médio = 50 + 64 = 114 = R$ 6,3310 + 8 18CMV = 12 unid. x R$ 6,33 = R$ 75,96RCM = R$ 132 – R$ 75,96 = R$ 56,04

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Capítulo 2 - Fatos que Alteram as Compras e as Vendas

FATOS QUE ALTERAM O VALOR DAS COMPRASConforme já comentado anteriormente, a Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976, determina em seu art. 183, inciso II, que as mercadorias devem ser avaliadas pelo custo de aquisição ou produção, conforme a seguir transcrito:

Critérios de Avaliação do AtivoArt. 183. No balanço, os elementos do ativo serão avaliados segundo os seguintes critérios:...II - os direitos que tiverem por objeto mercadorias e produtos do comércio da companhia, assim como matérias-primas, produtos em fabricação e bens em almoxarifado, pelo custo de aquisição ou produção, deduzido de provisão para ajustá-lo ao valor de mercado, quando este for inferior; (grifo nosso).Atendendo, também, ao princípio da competência, constata-se que despesas como fretes, seguros, armazenagens etc., que são atinentes às mercadorias, devem ser consideradas custos de aquisição ou produção, pois são dispêndios efetuados à obtenção dessas mercadorias ou bens.Assim, o custo de aquisição das mercadorias será diretamente afetado pelas despesas acessórias como fretes e seguros pagos ao transportador, impostos recuperáveis destacados nas notas fiscais de compras, taxas alfandegárias, devoluções de mercadorias adquiridas e descontos promocionais obtidos do fornecedor e destacados na própria nota fiscal de compra, que são chamados também de descontos comerciais ou descontos incondicionais.De uma forma geral, pode-se afirmar que:Compras brutas+ Fretes, seguros, armazenagem etc.- Impostos recuperáveis- Descontos incondicionais ou comerciais obtidos- Devoluções e abatimentos= Compras Líquidas

ATENÇÃO!Lembre-se de que são levados a estoques os valores das compras líquidas. Os impostos recuperáveis, os descontos incondicionais ou promocionais ou comerciais destacados em nota fiscal e as devoluções e abatimentos obtidos devem ser expurgados do valor da aquisição. Por sua vez, os fretes, seguros, custo de armazenagem, taxas alfandegárias etc, devem ser adicionados ao valor de aquisição para se obter os custos líquidos da mercadoria, cujo valor será levado a estoque, ou seja, estes valores serão ativados (vão para o ativo).

Fretes e seguros sobre comprasO valor dos fretes e seguros pagos ao transportador da mercadoria deve ser integrado ao custo das mercadorias adquiridas, sendo recuperável o ICMS destacado no conhecimento de frete.Ex.: Compra de mercadorias, à vista, no valor de R$ 840,00, conforme nota fiscal nº 0415 de Silva & Souza Ltda. As mercadorias foram transportadas por R.J.J. Transportes Ltda., pelo valor de R$ 36,00, correspondentes a fretes e seguros, conforme nota fiscal de serviços e transportes nº 03814 e apólice de seguro nº 5638.

Mercadoriasa CaixaCompra de mercadorias, conformenota fiscal nº 0415, de Silva & Souza Ltda. 840,00

Fretes e Segurosa CaixaDespesas com transporte sobre compras,igual a fretes mais seguros, pago à R.J.J.Transportes Ltda., conforme nota fiscalnº 03814 e apólice nº 5638. 36,00

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Mercadoriasa Fretes e SegurosCorrespondentes a fretes e seguros pagos nacompra supra que se transferem para integraro custo de aquisição. 36,00

Descontos incondicionais sobre compras (obtidos)Os descontos comerciais ou incondicionais são aqueles concedidos ao comprador, registrados na própria nota fiscal não dependendo de qualquer evento futuro, deve ser considerado para apuração do custo que vai a estoque.Já o desconto financeiro oferecido como prêmio pelo pagamento da fatura antes do vencimento da obrigação, por ocorrer após a concretização da operação mercantil e depender de evento futuro e incerto, não deve ser considerado na apuração do custo de aquisição das mercadorias para revenda, devendo ser contabilizado como receita operacional na empresa compradora e despesa operacional na vendedora.De um modo geral, os descontos comerciais não são contabilizados. As compras e as vendas são registradas pelas empresas, em nota fiscal, pelo seu valor líquido, portanto já sem o valor do desconto comercial ou incondicional.Ex.: Compra de mercadorias, à vista, no valor de R$ 760,00, conforme nota fiscal nº 2489, de Neves & Alves Ltda., com desconto incondicional no valor de R$ 60,00.Mercadoriasa DiversosConforme nota fiscal nº 2489, de Neves & AlvesLtda., como segue:a CaixaValor da nota fiscal supra 700,00a Descontos Incondicionais ObtidosConforme destaque na nota fiscal supra 60,00 760,00

Devoluções e abatimentos sobre comprasAs mercadorias entregues ao comprador que estiverem em desacordo com o pedido inicial por defeito de fabricação, por estarem fora das especificações técnicas ou por entrega fora do prazo estipulado, podem ser objeto de devolução total ou parcial, acompanhadas de nota fiscal de devolução, ou podem ensejar a negociação de um abatimento sobre o preço para evitar a devolução da mercadoria.Note-se que na devolução de mercadorias compradas, devemos devolver também os tributos incidentes sobre as compras com lançamentos inversos aos que se usou para registrar a compra.

Ex.: Devolução de compras correspondente ao valor total da nota fiscal nº 0225 de Mendes & Silva Ltda.Caixaa Devolução de ComprasDevolução de compras conforme nota fiscalnº 0225 de Mendes & Silva Ltda. 830,00

FATOS QUE ALTERAM O VALOR DAS VENDASDa mesma forma como ocorre com os custos, a receita operacional bruta da venda de mercadorias será diretamente afetada pelos impostos incidentes sobre as vendas e pelos descontos incondicionais, devoluções e abatimentos ocorridos durante as operações mercantis.De maneira geral, pode-se dizer que:Receita Bruta de vendas(-) Devoluções e Abatimentos s/ Vendas(-) Descontos Incondicionais s/ Vendas(-) Impostos Incidentes s/ Vendas= Receita líquida de VendasAssim, a contabilização das operações relacionadas com vendas deverá utilizar as seguintes contas:

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ELENCO DE CONTAS NATUREZA DO SALDOVENDAS DE MERCADORIAS CREDORCONTAS RETIFICADORAS(-) DEVOLUÇÕES E ABATIMENTOS S/ VENDAS DEVEDOR(-) DESCONTOS INCONDICIONAIS S/ VENDAS DEVEDOR(-) IMPOSTOS INCIDENTES S/ VENDAS DEVEDOR(-) ICMS S/ VENDAS DEVEDOR(-) PIS S/ VENDAS DEVEDOR(-) COFINS S/ VENDAS DEVEDORValor bruto das vendasEm todas as vendas, a conta a ser debitada poderá ser "CAIXA", "BANCOS C/ MOVIMENTO" ou "DUPLICATAS A RECEBER/CLIENTES", conforme o caso, enquanto que a conta creditada será sempre "VENDAS DE MERCADORIAS", registrando-se a receita operacional bruta auferida.

Impostos incidentes sobre vendas

Importante frisar, mais uma vez, que as vendas são contabilizadas, sempre, pelo seu valor bruto, cabendo, dessa forma, ao demonstrativo do resultado discriminar os descontos, impostos etc.

O ICMS sobre vendasO fato contábil venda ensejará sempre dois lançamentos simultâneos, sendo o primeiro pelo registro da receita bruta e o segundo pelo ICMS destacado na nota fiscal, em conta retificadora da receita, uma vez que o ICMS é dito “por dentro do preço", ou seja, faz parte da receita.Assim, se por exemplo ocorrer uma venda de R$ 100,00, com incidência de ICMS com alíquota de 17%, teremos o seguinte lançamento:Caixaa venda 100,00ICMS sobre vendas OUa ICMS a Recolher 17,00Diversosa DiversosCaixa 100,00ICMS sobre Vendas 17,00a Vendas 100,00a ICMS a Recolher 17,00

O PIS e a COFINS sobre vendasA base de cálculo das contribuições será a receita bruta de vendas deduzida dos descontos, incondicionais, devoluções e abatimentos sobre vendas.

Descontos incondicionais, devoluções e abatimentos sobre vendas

Os descontos, devoluções e abatimentos relativos à mercadoria vendida devem ser registrados em contas próprias, retificadoras da receita bruta de vendas.O destaque permite controlar e analisar as providências cabíveis, por exemplo, quando o volume de devoluções de clientes supera as expectativas, ou quando os descontos e abatimentos ultrapassam certo limite. No caso das notas fiscais que acompanham as devoluções de vendas, deve ser estornado o ICMS destacado na nota De um modo geral, os descontos comerciais não são contabilizados. As compras e as vendas são registradas pelas empresas pelo seu valor líquido, portanto já deduzida do desconto comercial ou incondicional.Ex.: Devolução de vendas efetuadas no dia 29.07.2004, correspondente ao valor total de nossanota fiscal nº 04106.Devolução de Vendasa CaixaMercadorias recebidas em devolução, conformenota fiscal nº 04256, correspondente a vendaefetuada em 29.07.2002, através de nossa notafiscal nº 04106. 540,00

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Capítulo 3 - Operações com Mercadorias - Impostos

IMPOSTOS RECUPERÁVEIS (IPI e ICMS)

A Constituição Federal determina que o ICMS e o IPI sejam não cumulativos.Assim, as empresas que forem contribuintes destes impostos deverão registrar esses valores em seu Ativo como Impostos a Recuperar, não os levando ao estoque em cumprimento do dispositivo constitucional.Caso os bens sejam adquiridos para consumo final da entidade, esta não terá, de regra, direito a recuperar os impostos incidentes sobre as compras, não devendo fazer o registro de impostos a recuperar, salvo se a legislação estadual permitir o contrário.É de ressaltar, entretanto, que quando uma entidade comercial faz aquisições de mercadorias sendo parte delas destinadas ao Ativo Imobilizado e parte ao Estoque e essas mercadorias forem adquiridas pela mesma nota fiscal, a contabilização deve ocorrer primeiro em Estoque, de onde se dará baixa ao Ativo Imobilizado e, sendo o caso, nesse momento se anulará o crédito do ICMS e IPI correspondente às mercadorias incorporadas ao Permanente.O IPI terá os seguintes tratamentos, conforme a empresa adquirente seja ou não industrial:

Para empresas industriais, o IPI será recuperável, isto é, irá para o Ativo Circulante - Impostos a Recuperar.Para empresas comerciais, que não sejam equiparadas a industriais, o IPI representa custo, isto é, o IPI é adicionado ao valor da mercadoria após a subtração do valor do ICMS que está incluído no preço.

O IPI incide sobre o preço de tabela, portanto não se consideram eventuais descontos recebidos ou concedidos para apurar a base de cálculo.O valor do IPI é calculado "por fora", ou seja, aplica-se uma alíquota sobre o preço de compra e o resultado é adicionado ao este para se obter o valor total da nota.O ICMS, tanto para as empresas comerciais quanto para as empresas industriais, está incluído no preço, pois é calculado "por dentro" e será diminuído do valor da mercadoria e/ou serviço, quando recuperável.O ICMS, diferentemente do IPI, não incide sobre os descontos concedidos e/ou recebidos.Conclui-se que o IPI incide sobre o ICMS, mas este não incide sobre o IPI.O frete e seguro, quando suportados pela adquirente, são ativados ao custo, isto é, são adicionados ao valor das compras.Quando a empresa vendedora for industrial ou equiparada a industrial e cobrar frete na mesma nota fiscal em que são discriminadas as mercadorias, haverá incidência de IPI também sobre o frete, pois nesse caso o frete será considerado custo de produção.Cuidado!O ICMS está incluído no preço anunciado pelo vendedor, ele está dentro do preço. O IPI deve ser calculado sobre o preço de tabela do produto, não faz parte do preço de venda. O IPI funciona como o imposto que é pago nos EUA, onde, além do valor da mercadoria, se paga o imposto.Outro aspecto interessante é que nas vendas o IPI jamais será considerado receita, pois o industrial é mero arrecadador deste tributo, devendo recolhê-lo aos cofres públicos (federal).

ICMS SOBRE COMPRAS E VENDASO que é ICMS?ICMS: Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações deServiços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação.

É um imposto de competência estadual. Incide sobre a circulação de mercadorias e sobre prestação de serviços de transportes

interestadual e intermunicipal, comunicações e fornecimento de energia elétrica. Nem todas as mercadorias ou operações estão sujeitas ao ICMS: há casos de isenção e de

não-incidência previstos na legislação específica (Regulamento do ICMS de cada Estado brasileiro).

É considerado imposto por dentro, o que significa dizer que seu valor está incluso no valor das mercadorias. Assim, ao adquirir uma determinada mercadoria por R$ 1.000, com ICMS incidente pela alíquota de 17%, significa que o custo da mercadoria corresponde a R$ 830 e o ICMS, a R$ 170. Nesse caso, o total da Nota Fiscal será igual a R$ 1.000.

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É um imposto não cumulativo, isto é, o valor incidente em uma operação (compra) será compensado do valor incidente em uma operação subseqüente (venda).

A alíquota (porcentagem) poderá variar em função do tipo da mercadoria, do destino ou origem, etc.

Existe uma alíquota básica para a maior parte das mercadorias.

ICMS sobre ComprasO ICMS incidente nas compras representa direito da empresa. Na linguagem contábil, esse direito representa débito na conta ICMS a Recuperar; na linguagem fiscal, crédito da empresa junto ao Governo do Estado.

ICMS sobre VendasO ICMS incidente nas vendas corresponde à obrigação da empresa. Na linguagem contábil, essa obrigação representa crédito na conta ICMS a Recuperar ou na conta ICMS a Recolher; na linguagem fiscal, débito da empresa para com o Governo do Estado.Portanto, muito cuidado: débito e crédito na linguagem contábil são exatamente o oposto de débito e crédito na linguagem fiscal.

ICMS a Recolher ou a CompensarA contabilização do ICMS torna-se muito simples a partir do momento em que você passa a conhecer o mecanismo que envolve a sua incidência sobre as operações de compras e de vendas de mercadorias. Veja, então:A atividade principal de uma empresa comercial concentra-se em duas operações: compra e venda. Quando a empresa compra mercadorias, paga ao fornecedor, juntamente com o custo dessas mercadorias, uma parcela correspondente ao ICMS; quando a empresa vende mercadorias, recebe do cliente, juntamente com o valor da venda, uma parcela correspondente ao ICMS, que terá de ser repassada ao Governo do Estado. Note, no entanto, que antes de repassar ao Governo do Estado a parcela do ICMS recebida do cliente (constante da Nota Fiscal de Venda), a empresa poderá compensar, desse total, o valor do ICMS que pagou ao fornecedor (constante da Nota Fiscal de Compra), por ocasião da compra da mercadoria que está sendo vendida. Exemplo:Vamos supor que a empresa tenha adquirido um determinado lote de mercadorias de um fornecedor, pagando R$ 100, com ICMS incluso no valor de R$ 17. Seu fornecedor, ao receber os R$ 100, deverá repassar R$ 17 ao Governo do Estado. Dessa forma, você pagou ao fornecedor R$ 83 pelo lote de mercadorias e R$ 17 de imposto. Suponhamos, agora, que você tenha vendido o mesmo lote de mercadorias a um cliente por R$ 200, com ICMS incluso no valor de R$ 34. Dos R$ 200 que você recebeu (Receita Bruta de Vendas), R$ 166 correspondem à Receita Líquida de Vendas e R$ 34, ao ICMS que você deveria recolher ao Governo do Estado. Deveria recolher pois, sendo o ICMS um imposto não cumulativo, você poderá compensar (abater), desses R$ 34 devidos em função da venda do lote de mercadorias, os R$ 17 que pagou pelo mesmo lote quando o comprou de seu fornecedor. Assim, você recolherá ao governo apenas R$ 17, ou seja, R$ 34 – R$ 17.

Outro Exemplo: A Cia. ABC comprou mercadorias no valor de R$ 2.000 a vista, incluindo R$ 360 de ICMS. Vendeu todas por R$ 3.300, a vista, com ICMS de R$ 594. Contabilize as operações:

Registro da compra de mercadorias:Diversosa CaixaMercadorias 1.640ICMS a Recuperar 360 2.000

Registro da venda de mercadorias:Caixaa Vendas 3.300

Registro do ICMS sobre as vendas:ICMS sobre Vendasa ICMS a Recuperar 594

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Registro da baixa no estoque:CMVa Mercadorias 1.640

Registro da apuração do ICMS:ICMS a Recuperara ICMS a Recolher 234

Diante do exposto, podemos concluir:

O valor do ICMS que você paga ao fornecedor por ocasião da compra representa direito para sua empresa junto ao Governo do Estado;

O valor do ICMS que você recebe do seu cliente por ocasião da venda representa obrigação da sua empresa junto ao Governo do Estado.

As operações com ICMS envolvendo direitos e obrigações junto ao Governo do Estado podem ser apuradas mensalmente da seguinte maneira:

o no final do mês, somam-se os valores do ICMS incidentes em todas as Compras efetuadas durante o referido mês (direitos da empresa);

o da mesma forma, somam-se os valores do ICMS incidentes em todas as Vendas efetuadas no mesmo mês (obrigações da empresa), ainda que essas mercadorias vendidas não correspondam àquelas compradas no mesmo mês;

o se o total do ICMS incidente nas compras for superior ao total do ICMS incidente nas vendas, a diferença representará direito da empresa junto ao governo estadual em relação às operações realizadas naquele mês. Se, por outro lado, o valor do ICMS incidente nas vendas for superior ao valor do ICMS incidente nas compras, a diferença representará obrigação da empresa, devendo ser recolhida ao Estado no mês seguinte.

CONTRIBUIÇÕES SOBRE A RECEITA OU FATURAMENTOAs contribuições devidas à seguridade social incidentes sobre o faturamento ou receita são a COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e as contribuições para o PIS/PASEP.

COFINS - Contribuição para a Seguridade SocialTendo sido criada pelo governo originalmente (1982) com a finalidade de custear investimento de caráter assistencial em alimentação, habitação popular, saúde, educação e amparo ao pequeno agricultor, a partir de 1990 a COFINS teve por objetivo financiar a seguridade social.De uma forma geral, estão sujeitas ao pagamento da COFINS todas as empresas que vendem mercadorias ou serviços, sendo essa contribuição calculada com base em 7,6% (a partir 2005) sobre o faturamento, assim entendido como o somatório das receitas que compõem o Resultado Líquido doPeríodo, sendo irrelevantes o tipo de atividade exercido pela pessoa jurídica e a classificação contábil das receitas, no caso, falando genericamente, de empresa com fins lucrativos (aqui pode haver algumas deduções, conforme estipulado pela legislação tributária).

O tratamento contábil da COFINSSupondo-se uma receita bruta de vendas de $ 20.000, a COFINS (7,6% sobre $ 20.000) seria contabilizado de forma indicada a seguir:- Pela apuração da receita bruta de vendas do mês e cálculo da COFINSDespesa com COFINSa COFINS a recolher 1.520

- Pelo pagamento da contribuiçãoCOFINS a recolhera Bancos c/ movimento 1.520

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Contabilidade Comercial Fatos que Alteram as Compras e as Vendas

PIS - PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO SOCIALO PIS foi criado em 1970 e tinha por finalidade formar um Fundo de Participação destinado a integrar os empregados no desenvolvimento das empresas, mediante a distribuição de quotas de participação (em dinheiro) desse fundo.A Constituição de 1988, porém, alterou o objetivo dessa contribuição, que passou a financiar o programa de seguro-desemprego e o abono de um salário mínimo por ano aos empregados que recebem mensalmente até dois salários-mínimos.O PIS incide, genericamente, de duas formas:a) sobre o faturamento, assim entendido como o somatório das receitas que compõem o Resultado Líquido do Período, sendo irrelevantes o tipo de atividade exercido pela pessoa jurídica e a classificação contábil das receitas, no caso, falando genericamente, de empresa com fins lucrativos (aqui pode haver algumas deduções, conforme estipulado pela legislação tributária);b) sobre a folha de pagamento, no caso de entidades que não realizam habitualmente venda de bens e serviços, inclusive as fundações (sem fins lucrativos).O Tratamento contábil do PISA contabilização do PIS (em qualquer das formas de contribuição) é a seguinte, considerando uma empresa com receita operacional mensal de $ 10.000 (PIS = $ 165):- Pela apuração da receitaPIS s/ Faturamentoa PIS a recolher 165- Pelo pagamento da contribuiçãoPIS a recolhera Bancos c/ movimento 165

ISS - IMPOSTO SOBRE SERVIÇOSSem entrar em maiores considerações, o ISS é basicamente um imposto municipal incidente sobre serviços prestados a terceiros, calculado e acrescido à nota fiscal de prestação de serviços.Consoante à legislação, o ISS é considerado um imposto incidente sobre a venda de serviços e, como tal, integra o valor da receita bruta a ser contabilizada.O Tratamento Contábil do ISSSuponhamos uma empresa que cobre $ 10.000 por serviço prestado, preço ao que é adicionado o ISS ao montante de $ 500.O lançamento contábil é simples:1. Pela prestação de serviços (a cobrar)Duplicatas a recebera Vendas (ou receitas de serviços) 10.5002. Pelo registro do impostoISS faturado (despesa)a ISS a recolher 500

Se, ao contrário, uma empresa paga a outra pela prestação de serviços, o custo destes será integralmente registrado como despesa, inclusivo o ISS contido na nota fiscal.Obs.: O ISS é acrescido à nota fiscal de prestação de serviços quando for pago pelo cliente. Quando isso não ocorrer, a própria empresa prestadora de serviço terá esse encargo, calculando o ISS, e creditado de "bancos - c/ movimento" ou ISS a Recolher. A diferença entre os tratamentos é que, no primeiro caso, o ISS é um imposto faturado, sendo apresentado como uma dedução das vendas. No segundo caso, as despesas com impostos são operacionais, não sendo apresentada no grupo de impostos incidentes sobre vendas.

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