31
CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 0 BASES TECNOLÓGICAS 1. Conceito de Contabilidade Pública: • campos de atuação; • regimes contábeis aplicados à Contabilidade Pública. 2. Sistemas contábeis: • sistemas orçamentários; • sistemas financeiros; • sistemas patrimoniais; • sistemas de compensação. 3. Plano de Contas do sistema financeiro, patrimonial e de compensação: • funções das contas; • plano de Contas do sistema orçamentário. 4. Escriturações contábeis: • lançamentos contábeis de abertura do exercício financeiro: No sistema orçamentário; Nos sistemas financeiro, patrimonial e de compensação; Lançamentos contábeis de rotina durante o exercício financeiro; Lançamentos contábeis de encerramento do exercício financeiro. 5. Demonstrações contábeis segundo a Lei 4.320/64: • balanços orçamentários; • balanços financeiros; • demonstrações das variações patrimoniais. 6. O orçamento público: • conceito; • processos de planejamento orçamentário: Plano plurianual; Diretrizes orçamentárias; Orçamentos anuais. 7. Lei de Responsabilidade Fiscal e seus demonstrativos contábeis. 8. A Nova Contabilidade Pública: • Transparência Governamental. • Demonstração do Resultado Econômico. • Convergência para as normas internacionais. CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 1 CONCEITO E OBJETO DE CONTABILIDADE Contabilidade é a ciência social que estuda, registra, controla e informa que os atos e fatos econômico-financeiros que afetam o patrimônio de uma empresa, seja ela pública ou privada. Assim, o objeto da contabilidade é o patrimônio. Mas afinal o que é patrimônio? O patrimônio é composto pelo conjunto de BENS, DIREITOS e OBRIGAÇÕES pertencentes a uma pessoa física ou jurídica. Tem-se, assim, uma balança, onde de um lado estão os bens e direitos e, de outro, as obrigações da empresa. Em contabilidade, portanto a palavra patrimônio tem sentido amplo: por um lado significa o conjunto de bens e direitos pertencentes a uma pessoa ou empresa; por outro lado inclui as obrigações a serem pagas.

CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

0

BASES TECNOLÓGICAS 1. Conceito de Contabilidade Pública:

• campos de atuação; • regimes contábeis aplicados à Contabilidade Pública.

2. Sistemas contábeis: • sistemas orçamentários; • sistemas financeiros; • sistemas patrimoniais; • sistemas de compensação.

3. Plano de Contas do sistema financeiro, patrimonial e de compensação: • funções das contas; • plano de Contas do sistema orçamentário.

4. Escriturações contábeis: • lançamentos contábeis de abertura do exercício financeiro:

• No sistema orçamentário; • Nos sistemas financeiro, patrimonial e de compensação;

• Lançamentos contábeis de rotina durante o exercício financeiro; • Lançamentos contábeis de encerramento do exercício

financeiro. 5. Demonstrações contábeis segundo a Lei 4.320/64:

• balanços orçamentários; • balanços financeiros; • demonstrações das variações patrimoniais.

6. O orçamento público: • conceito; • processos de planejamento orçamentário:

• Plano plurianual; • Diretrizes orçamentárias; • Orçamentos anuais.

7. Lei de Responsabilidade Fiscal e seus demonstrativos contábeis. 8. A Nova Contabilidade Pública:

• Transparência Governamental. • Demonstração do Resultado Econômico. • Convergência para as normas internacionais.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

1

CONCEITO E OBJETO DE CONTABILIDADE

Contabilidade é a ciência social que estuda, registra, controla e informa que os atos e fatos econômico-financeiros que afetam o patrimônio de uma empresa, seja ela pública ou privada. Assim, o objeto da contabilidade é o patrimônio. Mas afinal o que é patrimônio?

O patrimônio é composto pelo conjunto de BENS, DIREITOS e OBRIGAÇÕES pertencentes a uma pessoa física ou jurídica. Tem-se, assim, uma balança, onde de um lado estão os bens e direitos e, de outro, as obrigações da empresa.

Em contabilidade, portanto a palavra patrimônio tem sentido amplo: por um lado significa o conjunto de bens e direitos pertencentes a uma pessoa ou empresa; por outro lado inclui as obrigações a serem pagas.

Page 2: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

2

CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações, ao controle patrimonial de entidades do setor público. Aplicam-se na administração pública as técnicas dos atos e fatos administrativos, apurando resultados e elaborando as demonstrações financeiras. Além disso, tem como objetivo fornecer a sues usuários informações sobre os resultados alcançados e outros dados de natureza orçamentária, econômica, patrimonial e financeira das entidades do setor público, em apoio ao processo de tomada de decisão, à adequada prestação de contas, à transparência da gestão fiscal e a instrumentalização do controle social.

NOVO ENFOQUE DA CONTABILIDADE PÚBLICA

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

3

A Lei 4.320/64, em seu artigo 34 determina que o exercício financeiro coincidirá com o ano civil, ou seja, o exercício financeiro inicia-se em 01 de janeiro e termina no dia 31 de dezembro de cada ano civil.

Embora o exercício financeiro esteja claramente definido a discussão que ocorre em função dos registros que serão feitos neste período e, com isso, entramos no enfoque do regime contábil. Afinal, qual é o regime contábil a ser obedecido, o de Caixa ou de Competência?

A Lei 4.320/64 determina que pertencem ao exercício financeiro as receitas (orçamentárias) nele arrecadadas e as despesas (orçamentárias) nele legalmente empenhadas. Este regime é conhecido como regime misto, pois é um regime contábil que mescla o regime de caixa com o de competência. Adota o regime de competência para a despesa e o regime de caixa para as receitas. Desta forma, as receitas devem ser reconhecidas no momento de seu efetivo recebimento e as despesas, no momento em que são incorridas, independentemente de seu pagamento ou não.

Com o enfoque contábil centrado no controle orçamentário, até recentemente afirmou-se que o regime adotado pela contabilidade pública era o regime misto (caixa para as receitas e competência para as despesas). Porém, as normas internacionais trazem uma nova abordagem que o regime adotado pela contabilidade pública é o regime de competência. Com o novo enfoque o regime misto é válido para o orçamento público. Para a contabilidade pública o regime é de competência. Isso modifica toda a discussão até o momento na contabilidade pública.

Desta forma, a contabilidade e o orçamento devem estar desassociados, pois a contabilidade visa a alteração do patrimônio da entidade e o orçamento visa o registro de atos e fatos que se relacionam diretamente com o Fluxo Financeiro da entidade.

O orçamento não é contabilidade, é um dos sistemas da contabilidade. O orçamento faz uso das técnicas próprias da contabilidade, mas não utiliza os critérios, conceitos e regimes contábeis.

E o que a Lei 4.320/64 determina sobre a contabilidade pública? O artigo 85 – Os serviços de contabilidade serão organizados de forma a permitirem:

Page 3: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

4

O acompanhamento da execução orçamentária, o conhecimento da composição patrimonial, a determinação dos custos dos serviços;

O levantamento dos balanços gerais, a análise e a interpretação dos resultados econômicos e financeiros.

Entre outras responsabilidades da contabilidade, está: o acompanhamento da execução orçamentária e, ainda, o conhecimento da composição patrimonial. O Art. 89, da Lei 4.320/64, determina que a contabilidade evidenciará os fatos ligados à administração orçamentária, financeira, patrimonial e industrial. Assim, a contabilidade não pode estar voltada somente para o controle orçamentário, deve voltar-se também, para o controle patrimonial da organização, ao controle de seus bens, direitos e obrigações.]

A Lei estabelece ainda as seguintes demonstrações contábeis são: Balanço Orçamentário; Balanço Financeiro; Balanço Patrimonial; Demonstração das Variações Patrimoniais.

Com a edição da NBC T16.6 – Demonstrações Contábeis – as demonstrações contábeis a serem elaboradas e divulgadas pelas entidades públicas são:

Balanço Patrimonial; Balanço Orçamentário; Balanço Financeiro; Demonstração das Variações Patrimoniais; Demonstração dos Fluxos de Caixa, e; Demonstração do Resultado Econômico.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

5

Busca-se com essa nova abordagem atender o disposto no Art. 101 da Lei Federal nº 4.320/64, mas acrescenta os outros demonstrativos necessários para que o usuário interno e externo avalie a saúde financeira da entidade pública cumprindo, assim, com a transparência da gestão pública.

OBJETIVO E AMBIENTE DA CONTABILIDADE PÚBLICA E GOVERNAMENTAL

ADMINISTRAÇÃO DIRETA

A contabilidade pública e governamental é aplicada à administração direta ou centralizada e à administração indireta ou descentralizada. A administração direta corresponde aos poderes executivo, legislativo e judiciário.

O poder executivo é representado pela união, estado e municípios. No âmbito federal é representado pelo presidente da república e seus ministérios e secretarias especiais. No estado, representado pelo governador e suas secretarias e no município pelo prefeito e suas secretarias.

O poder legislativo na esfera federal, corresponde ao congresso nacional formado pela câmara federal dos deputados e pelo senado federal. Nos estados e municípios, constituídos pelas assembleias legislativas estaduais e municipais.

O poder judiciário, somente na união e estados, constituído por todos os seus tribunais, incluindo o Ministério Público. No Brasil não existe poder judiciário na esfera municipal.

As definições de administração pública estão no decreto-lei 200 de 25 de fevereiro 1967, no artigo 5º, incisos de I a IV.

Page 4: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

6

Federal: Presidência da República e Ministérios; Senado; Câmara dos Deputados.

Estadual: Gabinete do Governador e Secretarias de Estado; Assembleia Legislativa.

Municipal: Gabinete do Prefeito e Secretarias Municipais; Câmara de Vereadores

A ADMINISTRAÇÃO INDIRETA

A administração indireta é representada pelas autarquias, fundações públicas, empresas dependentes dos recursos do orçamento público que se organizam como empresas de economia mista e empresas públicas, que podem existir nas três esferas governamentais, ou seja, federal, estadual e municipal.

Autarquias Conforme o artigo 5º, I, do decreto-lei 200 de 25/02/1967, autarquia é:

(...) o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da administração pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.

São exemplos de autarquias as universidades federais, estaduais, o Banco Central, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a ANATEL, a ANVISA e os conselhos profissionais, como o CRC (Conselho Regional de Contabilidade).

Fundações Ainda no artigo 5º do decreto-lei 200, conforme redação alterada pela lei nº 7.596, de 1987, verificamos que fundação pública:

(...) a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes.

A fundação, segundo o art. 62 da lei 10.406/2002, somente poderá ser constituída para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. Ainda conforme o mesmo artigo:

Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

7

COMO FUNCIONA A CÂMARA

A Constituição da República Federativa do Brasil, editada em 1988, em Assembleia Nacional Constituinte, preservou a divisão dos Poderes em Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário, independentes e com atribuições definidas, tendo como finalidade garantir o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade e a justiça. O Poder Legislativo tem quatro funções principais, a saber: legislativa, fiscalizadora, julgadora e administrativa.

O Poder Legislativo é o mais representativo da comunidade, porque ali está a maioria das correntes de pensamento da população, representando os mais diversos setores da sociedade. Os eleitores delegam aos Vereadores, à Câmara Municipal, ao Poder Legislativo, o poder/dever de cuidar das leis, desde sua elaboração até o seu cumprimento.

A Câmara é o órgão do governo local que congrega representantes da vontade popular, cuja atuação acontece através de um grupo de pessoas, colegiado. Encarna o poder legislativo municipal.

Constitui elemento básico do conceito de autonomia dos Municípios, porque integra a noção de governo próprio, característica política da autonomia, assegurada pela Constituição Federal no art. 15. Governo próprio significa governo organizado segundo a vontade dos governados, isto é, governo cuja formação independe da interferência de fatores estranhos e externos à comunidade a que se destina.

A Câmara Municipal é composta por vereadores, que são os agentes políticos do governo local, eleitos pelos munícipes (Constituição Federal, art. 15, 1). Os vereadores dispõem de um órgão diretivo chamado Mesa.

Com essa organização, a Câmara Municipal deve se aparelhar para desenvolver as seguintes competências:

Funções da Câmara Municipal:

Legislativa - Consiste em elaborar as leis que são da competência do Município, discutir e votar os projetos que serão transformados em leis buscando organizar a vida da comunidade. A Câmara não pode legislar sobre assuntos que são de competência e de responsabilidade da União e dos Estados.

Page 5: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

8

Fiscalizadora - Fiscaliza a Administração Municipal, a qual se realiza através da tomada de contas do prefeito, dos pedidos de informações sobre atividades da Administração, da convocação do prefeito ou de seus auxiliares diretos para prestar informações sobre assuntos administrativos ou de comissões de investigação ou de inquérito. Além desses momentos específicos, os vereadores podem fiscalizar os atos do Executivo, através de pedidos de informação dirigidos ao prefeito ou a agentes da Administração Municipal, mediante denúncias e discursos em que apontem falhas e omissões do prefeito.

Julgadora - A Câmara tem a função de julgar o Prefeito, o Vice-Prefeito e os próprios Vereadores, quando praticam ações político-administrativas não condizentes com os interesses do Município. Esses julgamentos podem concluir, inclusive, pela perda do mandato. Outro julgamento é o das contas da Administração.

Administrativa - A Câmara tem a sua parte administrativa. Conta

com seu quadro de servidores, que garantem o funcionamento de todos os setores. Tem compras para fazer, contas a pagar, o Regimento Interno para elaborar, definindo como a Câmara funciona em Plenário e nas Comissões, e ainda tem um plano próprio de cargos e salários.

FUNÇÃO LEGISLATIVA DOS VEREADORES Os vereadores exercem função legislativa, quando participam do processo de formação das leis municipais. São eles os legisladores locais, assim como os deputados estaduais são os legisladores estaduais e os deputados federais e senadores são os legisladores federais. A função legislativa tem por finalidade a criação de normas jurídicas abstratas, gerais, obrigatórias e inovadoras da ordem jurídica, quer regulando matéria ou interesse pela primeira vez, quer modificando regulamentação anterior. É exercida mediante proposições - que se denominam projetos -, emendas ou substitutivos - que são discutidos, votados, sancionados ou vetados (quando se tratar de projeto de lei). Além dessas proposições destinadas à criação de normas jurídicas locais, os Vereadores praticam outros atos, no exercício de seu mandato, visando a fiscalização da administração pública, ao relacionamento com outras autoridades locais, estaduais ou federais e com os munícipes.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

9

Lei Orgânica Municipal - Organiza os órgãos da Administração, a relação entre os órgãos do Executivo e Legislativo, disciplinando a competência legislativa do Município, além de estabelecer as regras de processo legislativo municipal e toda regulamentação orçamentária, em consonância com a Constituição Federal e Estadual. Regimento Interno - É o instrumento delineador das atribuições dos órgãos do Poder Legislativo. Nele estão contempladas as funções legislativas, fiscalizadoras e administrativas da Câmara Municipal. Trata-se, portanto, de um ato normativo de exclusiva competência da Câmara, não podendo sofrer qualquer interferência, quer seja do Estado, quer seja do próprio Prefeito. Seu cumprimento é condição primordial para o bom andamento dos trabalhos da Casa. Mesa Diretora - Como órgão diretivo, compete-lhe a prática de atos de direção, administração e execução das deliberações aprovadas pelo Plenário, na forma regimental. A Mesa é composta pelo presidente, vice-presidente e pelo secretário. Ela é eleita com os votos dos vereadores e o mandato é de um ano, podendo ser reeleita. Projeto-de-Lei - É o instrumento por onde se exerce o poder de iniciativa legislativa. Deve conter todos os elementos formais e materiais da técnica legislativa para que seja distribuída na lei que se quer criar. Requerimento - É todo pedido, verbal ou escrito, formulado sobre qualquer assunto, que implique decisão ou resposta. Moção - É proposição em que é sugerida manifestação da Câmara Municipal sobre assunto da esfera municipal, estadual ou federal, apelando, reivindicando providências, hipotecando solidariedade, protestando, repudiando ou aplaudindo. Está sujeita à votação em plenário. Indicação - É a proposição com que os legisladores indicam aos Poderes Públicos a necessidade de executar uma ação; ela contém sugestões sobre a conveniência de o seu destinatário realizar algo que escapa à competência legislativa. Portaria - É um ato de que se serve o Presidente da Câmara, bem como Secretário, Mesa-Diretora e outras autoridades da Edilidade, para disciplinar assuntos administrativos individuais.

Page 6: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

10

Ementa - Parte que sintetiza o conteúdo da lei, afim de permitir, de modo imediato, o conhecimento da matéria legislativa. Proposições ou Proposituras - Toda matéria legislativa, sujeita ou não à deliberação do plenário. São elas: Propostas de Emendas à Lei Orgânica Municipal, Projetos de Lei Complementar e Ordinária, Projetos de Decreto Legislativo e de Resolução, Moções, Requerimentos, Substitutivos, Emendas, Subemendas e Indicações. Parecer - Pronunciamento das Comissões Permanentes (como também da Assessoria Jurídica da Câmara), sobre a matéria que lhe foi distribuída para exame e deliberação. Autógrafo - Texto final do projeto aprovado, assinado pela Mesa Diretora e encaminhado ao Prefeito Municipal para sanção ou veto. Sanção - Aprovação de uma lei dada pelo Chefe do Executivo (prefeito). Ordem do Dia - Relação das proposições que serão submetidas à aprovação do Plenário (discussão e votação). Tramitação - Caminho que a proposição deverá seguir desde seu registro de entrada até o resultado final. Pauta - Período em que uma proposição fica à disposição dos Vereadores para exame e eventuais emendas. Plenário - Espaço onde acontecem às sessões e são votadas às proposituras. Suas atribuições são deliberativas e legislativas. Quórum - Exigência de determinado número de vereadores presentes para exercer determinadas atividades. Para abertura das sessões, conhecimento do expediente e debate dos assuntos, devem haver no mínimo sete vereadores Tramitação de Matéria ou Projeto - É o que tecnicamente se pode denominar procedimento legislativo, que é o modo pelo qual os atos do processo legislativo se realizam, e diz respeito ao andamento da matéria na Câmara.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

11

Sessões Legislativas - A Câmara Municipal exerce suas funções em períodos anuais, que se chamam Sessões Legislativas, que, pelo visto, não se confundem com legislatura. Sessão Legislativa é o período de trabalho da Câmara dentro do ano civil, havendo em cada legislatura quatro Sessões Legislativas, entremeadas de recessos. Elas podem ser ordinárias ou extraordinárias. Sessões Solenes de Instalação - Cada vez que há eleição municipal em que são eleitos novos Vereadores, bem como Prefeito e Vice-Prefeito, é preciso dar-lhes posse. A Lei Orgânica diz que a posse se dará no dia primeiro de janeiro do ano seguinte ao da eleição. Aí se realiza a sessão solene, com a posse dos Vereadores, do Prefeito e do Vice. Sessões Solenes, Especiais ou Comemorativas - São as sessões convocadas para a prestação de homenagens ou realização de comemorações cívicas, em qualquer recinto e com qualquer número de vereadores, pois nelas nada se delibera. As especiais podem dedicar o tempo para abordar um tema específico. As solenes servem também para comemorar datas importantes. Sessões Ordinárias - São as sessões já previstas para acontecer. É aquela em que se baseia a maior parte da atuação do Legislativo. Possui em várias partes, cada uma com finalidade distinta; Expediente - A sessão é aberta com a leitura do expediente. Ele é formado de toda correspondência recebida, expedida, processos, projetos, expedientes apresentados pelos Vereadores Prefeito e terceiros. Tudo, enfim, que for encaminhado à Câmara de Vereadores e tudo o que ela encaminha. A leitura é para que todos os Vereadores tomem conhecimento do que acontece e para oficializar toda matéria expedida e recebida. Terminada a leitura o Presidente destina o tempo restante da hora do expediente para o uso da palavra pelos vereadores, segundo a ordem de inscrição em livro, versando sobre o tema livre e também para o uso da tribuna livre. Pequeno Expediente - é o espaço durante o qual os vereadores podem apresentar breves comunicações ou comentários sobres as matérias apresentadas.

Page 7: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

12

Grande Expediente - é um espaço para que os vereadores se manifestem sobre os mais diferentes assuntos de interesse público. Ordem do Dia - É o espaço dedicado especialmente aos trabalhos legislativos, quando os Vereadores discutem, debatem, esclarecem e votam as proposições legislativas constantes da pauta. Todas as atividades são registradas em ATA, resumo de todo o expediente e de todas as manifestações em Plenário. Documento importante que colabora na busca de temas abordados e na identificação dos assuntos discutidos pelos Vereadores. Sessões Extraordinárias - podem ser convocadas, a qualquer tempo, pelo Prefeito Municipal, pelo Presidente da Câmara Municipal ou pela maioria dos integrantes da Câmara de Vereadores. Podem ser convocadas no período de recesso ou no período das sessões normais, dependendo da necessidade de ser examinado determinado assunto com urgência e a matéria ser de interesse público relevante. Comissões - As Comissões legislativas têm a atribuição de examinar as propostas, quase sempre projetos de lei, encaminhados pelo Executivo, pelos Vereadores e pela iniciativa popular. Estudam, pesquisam, investigam e ouvem representantes da comunidade sobre a matéria apresentada. Examinam se ela é constitucional, se contraria ou não as leis maiores. As Comissões elaboram os pareceres, manifestando-se sobre as propostas. O parecer da Comissão serve de base para a discussão em Plenário. Esse pode aceitar ou rejeitar o parecer.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

13

CONCEITO, OBJETIVOS E COMPOSIÇÃO DO PLANO DE CONTAS

O Plano de Contas consiste em um rol de contas contábeis que visa padronizar e facilitar ao usuário da informação a compreensão das informações e os respectivos valores representados por cada conta que compõe o patrimônio da entidade.

A estrutura do plano de contas objetiva, principalmente:

Realçar o estado patrimonial e suas variações, concentrando as contas típicas de controle nos grupos de compensação, de forma a propiciar o conhecimento mais adequado da situação econômico-financeira de uma gestão administrativa;

Padronizar o nível de informação dos órgãos da Administração Direta e Indireta com a finalidade de auxiliar o processo de tomada de decisão, facilitando a elaboração do Balanço Geral da União; e

Permitir, por meio da relação de contas e tabelas, a manutenção de um sistema integrado de informações orçamentárias, financeiras e patrimoniais na Administração Pública federal, com a extração de relatórios necessários à análise gerencial, inclusive balanços e demais demonstrações contábeis.

Destacamos ainda que a maioria dos planos de contas de qualquer ramo da ciência contábil consiste apenas em uma relação de contas e na descrição de sua função e de seu funcionamento.

ESTRUTURA BÁSICA DO PLANO DE CONTAS

O primeiro nível da estrutura do Plano de Contas representa a classificação máxima na agregação das contas, sendo dividido em seis classes, em que a cada uma é atribuído um número, como mostra a Figura abaixo:

Page 8: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

14

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

15

SISTEMAS DA CONTABILIDADE PÚBLICA

A contabilidade pública, diferente da contabilidade empresarial, é constituída de quatro subsistemas ou sistemas, a saber:

SISTEMA ORÇAMENTÁRIO

Tem por finalidade o controle do orçamento público que deriva da lei orçamentária e de créditos adicionais (São autorizações de despesas não computadas ou insuficientemente dotadas na Lei de Orçamento), possibilitando o entendimento do planejamento estatal e suas variações durante a execução orçamentária.

Segundo o art. 41 da Lei Federal nº 4.320/64, os créditos adicionais classificam-se em:

O sistema orçamentário é representado pelos atos e fatos orçamentários que são as previsões de receitas e a fixação das despesas, cancelamento de créditos, descentralização de créditos, empenho da despesa, arrecadação da receita e liquidação da despesa.

As principais características de ordem legal e técnica do sistema orçamentário são:

Registro das estimativas de receita, ao início de cada exercício, com base na lei do orçamento;

Registro da despesa autorizada, ao início de cada exercício, com base no orçamento ou créditos adicionais;

Page 9: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

16

Baixa da receita arrecadada, controlando a posição da receita prevista;

Controle da despesa empenhada, mediante dedução do valor dos créditos disponíveis e apurados;

Apuração, ao término do exercício, da parte lançada da receita orçamentária, cuja não arrecadação ensejará o ajuizamento da dívida ativa e cujo valor será inscrito no sistema patrimonial;

Sistema idêntico às contas de compensação, que são encerradas, entre si, ao fim, de cada ano, pela reversão dos saldos apurados, demonstrando, quanto à receita, se houve excedente ou não sobre a previsão efetuada e, quanto à despesa, se esta foi totalmente absorvida ou se houve economias.

FASES DAS DESPESAS

A execução da despesa orçamentária pública transcorre em três estágios, que conforme previsto na Lei nº 4.320/1964 são: empenho, liquidação e pagamento.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

17

1. Empenho O empenho representa o primeiro estágio da despesa orçamentária. É registrado no momento da contratação do serviço, aquisição do material ou bem, obra e amortização da dívida. Segundo o art. 58 da Lei nº 4.320/1964, é o ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição. Consiste na reserva de dotação orçamentária para um fim específico.

Os empenhos podem ser classificados em:

Ordinário: tipo de empenho utilizado para as despesas de valor fixo e previamente determinado, cujo pagamento deva ocorrer de uma só vez;

Estimativo: empenho utilizado para as despesas cujo montante não se pode determinar previamente, tais como serviços de fornecimento de água e energia elétrica, aquisição de combustíveis e lubrificantes e outros; e

Global: empenho utilizado para despesas contratuais ou outras de valor determinado, sujeitas a parcelamento, como, por exemplo, os compromissos decorrentes de aluguéis.

O Empenho poderá ser reforçado quando o valor empenhado for insuficiente para atender à despesa a ser realizada, e caso o valor do empenho exceda o montante da despesa realizada, o empenho deverá ser anulado parcialmente. Será anulado totalmente quando o objeto do contrato não tiver sido cumprido, ou ainda, no caso de ter sido emitido incorretamente.

Documento contábil envolvido nessa fase: NE (Nota de Empenho).

Page 10: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

18

2. Liquidação É o segundo estágio da despesa orçamentária. A liquidação da despesa é, normalmente, processada pelas Unidades Executoras ao receberem o objeto do empenho (o material, serviço, bem ou obra). Conforme previsto no art. 63 da Lei nº 4.320/1964, a liquidação consiste na verificação do direito adquirido pelo credor tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito e tem como objetivos: apurar a origem e o objeto do que se deve pagar; a importância exata a pagar; e a quem se deve pagar a importância, para extinguir a obrigação.

A liquidação das despesas com fornecimento ou com serviços prestados terão por base: o contrato, ajuste ou acordo respectivo; a nota de empenho; e os comprovantes da entrega de material ou da prestação

efetiva do serviço.

Principais documentos contábeis envolvidos nessa fase: NS (Nota de Sistema) e NL (Nota de Lançamento).

3. Pagamento O pagamento da despesa refere-se ao terceiro estágio e será processada pela Unidade Gestora Executora no momento da emissão do documento Ordem Bancária (OB) e documentos relativos a retenções de tributos, quando for o caso. O pagamento consiste na entrega de numerário ao credor e só pode ser efetuado após a regular liquidação da despesa.

A Lei nº 4.320/1964, em seu art. 64, define ordem de pagamento como sendo o despacho exarado por autoridade competente, determinando que a despesa liquidada seja paga. Principais documentos contábeis envolvidos nessa fase:

OB (Ordem Bancária), DF (Documento de Arrecadação de Receitas Federais - Darf), DR (Documento de Arrecadação Financeira - Dar), GR (Guia de Recolhimento da União) e NL (Nota de Lançamento) em casos específicos.

Depois de liquidados nas controladorias e divisões de finanças dos Campi, os processos são tramitados para o ordenador de despesas (Reitoria) autorizar a emissão dos pagamentos como previsto no artigo 62 da Lei 4.320/64, após autorização, é efetuada neste Departamento a análise dos Documentos hábeis X Notas gerados na liquidação, uma vez

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

19

correto e estando disponível os recursos financeiros a nota fiscal é paga no mesmo dia desta análise que é feita no máximo até o segundo dia da entrada do processo neste Departamento.

Em alguns casos, temos que aguardar o repasse financeiro, em outros casos fazemos a solicitação dos recursos financeiros para o local da

origem dos mesmos.

A maioria dos recursos são repassados somente após a liquidação, como é o caso dos provenientes do MEC, CAPES, etc. os quais obedecem, conforme mensagem 2013/1171738 da SPO, ao seguinte calendário de

repasse.

Os recursos relativos às despesas liquidadas na quinta, sexta feira e

sábado, serão liberados na terça feira pela manhã.

Os recursos relativos às despesas liquidadas na segunda, terça e quarta

feira, serão liberados na sexta feira pela manhã.

Para que os pagamentos não ocorram com atraso, os fiscais de contrato bem como todos os setores envolvidos nos recebimentos das notas fiscais que não possuem contrato deverão ficar atentos quanto da emissão das mesmas para que sejam liquidadas o mais breve possível e encaminhadas ao ordenador com prazo máximo de 7 dias úteis da sua

emissão.

Os processos são pagos no Maximo em 02 dias úteis quando da chegada dos mesmos a este Departamento, salvo atrasos nos repasses pelos órgãos competentes quando da liberação de recursos financeiros, este prazo poderá ser acompanhado/constatado através do sistema SIAFI

e/ou sistema interno “tramite”.

“É vedada a realização de despesa sem prévio empenho. Lei 4.320/64 Art. 60”. ”O pagamento da despesa só será efetuado quando ordenado após sua regular liquidação”. Lei 4.320/64 Art. 62.

Evidenciando assim, o resultado orçamentário ocorrido no exercício financeiro, podendo ser:

1. Receita Orçamentária = Despesa Orçamentária = Resultado Nulo 2. Receita Orçamentária > Despesa Orçamentária = Superávit Orçamentário 3. Receita Orçamentária < Despesa Orçamentária = Déficit Orçamentário

Page 11: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

20

SISTEMA PATRIMONIAL

O Sistema Patrimonial é constituído das contas que registram as movimentações que concorrem ativa e passivamente para a formação do patrimônio da entidade, ou seja, são registrados os bens patrimoniais (móveis, imóveis, estoques, créditos, obrigações, valores, operações de crédito, dentre outras), originadas ou não da execução orçamentária. É registrado também no Sistema Patrimonial o resultado econômico do exercício. No Sistema Patrimonial os lançamentos que correspondem a incorporação ou desincorporação de ativos e passivos são feitos isoladamente dentro deste sistema. Apesar de não ser objeto da lei nº 4.320/64, para as entidades públicas de administração direta, no sistema patrimonial deve ser procedido o registro da depreciação dos bens móveis e imóveis, levando-a para a conta de resultados em contrapartida com a conta de depreciação acumulada.

SISTEMA DE COMPENSAÇÃO

No sistema de Compensação são efetuados os registros dos atos administrativos praticados pelo gestor da entidade, que, direta ou indiretamente, possam a vir afetar o patrimônio da entidade, ainda que de imediato, isto não ocorra, mas possa implicar em modificação futura. Ressalta-se que no Sistema de Compensação estão compreendidas apenas as contas com função específica de controle, não relacionadas a fatos que correspondam a patrimônio, mas que possam vir à afetá-lo. Os principais atos compreendidos neste contexto são os Avais, Acordos, Cauções, Fianças, Ajustes, Convênios, Contratos, Garantias, dentre outros. Os lançamentos efetuados no Sistema de Compensação visam o atendimento à determinação do Art. 105, §5º da Lei 4.320/64, que obriga ao controle contábil os direitos e obrigações oriundos de contratos ou outros ajustes que a administração pública for parte.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

21

ORÇAMENTO PÚBLICO Evolução Conceitual

A origem da palavra orçamento é de origem italiana: “orzare”, que “significa fazer cálculos”, sendo considerada uma técnica que consiste precisamente em ligar os sistemas de planejamento e de finanças.

O Orçamento é algo mais que uma simples previsão de receita ou estimativa de despesas, E deve ser ao mesmo tempo um relatório, uma estimativa e uma proposta.

É um documento por intermédio do qual o chefe do Poder Executivo, como autoridade responsável pela conduta dos negócios do governo, apresenta-se a autoridade a quem compete criar fonte de renda e conceder créditos e faz perante ela uma exposição completa sobre a maneira pela qual o Governo e seus subordinados administram os negócios públicos, obtendo-se assim um programa de ação coerente e compreensivo para o Governo como um todo.

Para melhor apreciação conceituação do orçamento público, a análise é dividida em duas fases: orçamento tradicional e o moderno.

O objetivo principal do Orçamento Tradicional é controlar a s finanças públicas no Poder Executivo. Os órgãos com poder de controle preocupado em manter o equilíbrio financeiro colocando as receitas em frente às despesas.

Já o Orçamento Moderno é voltado para o instrumento de administrações a partir daqui, os conceitos vão se aproximando da realidade, ou seu seja, a previsão da receita é a estimativa da despesa.

O reconhecimento do gasto público iniciou a partir de 1930, com a doutrina Keynesiana, considerando o orçamento como instrumento de política fiscal do Governo.

O planejamento nos instrumentos administrativos foi de grande importância, pois contribui para incorporar utilizada para aplicação de recursos escassos, principalmente no controle da execução e na avaliação de resultados consiste em um plano de trabalho expresso no conjunto de ações a sem desenvolvida (Programa) e pelos recursos necessários a sua execução (Orçamento).

Page 12: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

22

RECEITA PÚBLICA

O conceito da receita pública é trazido pelo Manual de Procedimento da Receita Pública, editado e aprovada pela Secretaria do Tesouro Nacional e Ministério da Fazenda, que define:

“Receita, pelo enfoque orçamentário, são todos os ingressos disponíveis para cobertura das despesas públicas, em qualquer esfera governamental. ”

Em que a Lei nº 4.320/64 que regulamenta os ingressos está disponível para todos os entes da federação, classificado em dois grupos: orçamentários e extra orçamentários.

Os ingressos orçamentários são os arrecadados para um determinado fim como aplicações em programas e ações governamentais, ou seja, aqueles pertencentes ao ente público.

Os ingressos extra orçamentários são os arrecadados pelos entes públicos exclusivamente para atender às exigências contratuais pactuadas para devolução, ou seja, são ingressos pertencentes a terceiros.

DESPESA PÚBLICA

É um conjunto de dispêndios realizados pelos os entes públicos para o funcionamento dos serviços prestados pela coletividade.

As despesas públicas têm grande relevância para a Administração Pública, pois está envolvida em situações singulares, como, por exemplo, o estabelecimento de limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, além de possibilitar a realização de estudos e análise da qualidade do gasto público e do equilíbrio fiscal das contas.

PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS

Os Princípios Orçamentários visam estabelecer regras básicas, com objetivo de atribuir a racionalidade, eficiência e transparência para os processos de elaboração, execução e controle do Orçamento Público. Estes são válidos a todos os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, estabelecidos pelos os entes federativos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

23

PRINCÍPIO DA UNIDADE

Previsto no caput do art. 2º da Lei nº 4.320, de 1964 determina a existência de orçamento único a cada unidade governamental a União, Estados, Distrito Federal e Municípios com a finalidade de evitar vários orçamentos paralelos dentro da mesma política em que todas as receitas de um lado e todas as despesas, de outro.

Dessa forma, todas as receitas previstas e despesas fixadas, em cada exercício financeiro, devem integrar um único documento legal dentro de cada esfera federativa: a Lei Orçamentária Anual - LOA.

PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE

Estabelecido, de forma expressa, pelo caput do art. 2º da Lei nº 4.320, de 1964, recepcionado e normatizado pelo §5º do art. 165 da Constituição Federal, determina que a Lei Orçamentária Anual de cada ente federado deverá conter todas as receitas e despesas de todos os poderes, órgãos, entidades, fundos e fundações instituídas e mantidas pelo poder público.

PRINCÍPIO DA ANUALIDADE OU PERIODICIDADE

O orçamento público será elaborado e autorizado para um período determinado em que o exercício financeiro coincidirá com o ano civil e, por isso, será de 1 de janeiro até 31 de dezembro de cada ano.

Assim será delimitado o período de tempo ao qual a previsão das receitas e a fixação das despesas registradas na LOA mencionada.

PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE

A Lei Orçamentária Anual conterá somente matéria financeira excluindo dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa para o próximo exercício. Ressalvam-se dessa proibição a autorização para abertura de créditos adicionais e a contratação de operações de crédito, nos termos da lei.

Page 13: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

24

PRINCÍPIO ORÇAMENTO BRUTO

Consiste na obrigação dos registros das receitas e despesas na LOA pelo o valor total e bruto, sem qualquer tipo de deduções.

PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

Determina ao governo a divulgar o orçamento público de forma ampla a sociedade e publicar os relatórios sobre a execução orçamentária e a gestão fiscal e disponibilizar, para qualquer pessoa, informações sobre a arrecadação da receita e a execução da despesa.

PRINCÍPIO DA NÃO AFETAÇÃO DAS RECEITAS DE IMPOSTOS

Determina a vedação de vinculação da receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, salvo exceções estabelecidas pela própria Constituição Federal, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, bem como o disposto.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

25

SISTEMA E PROCESSO ORÇAMENTÁRIO

A função orçamentária compreende um sistema a um processo orçamentário que se complementam, e por isso, dever ser estudado concomitante para o bom entendimento.

SISTEMA ORÇAMENTÁRIO

O documento orçamentário representado pela lei do orçamento e seus anexos. Atualmente o orçamento é visto como sistema maior, integrado pelos planos e programas onde saem às definições e os elementos que vão possibilitar a própria elaboração do orçamento.

PROCESSO ORÇAMENTÁRIO

O processo orçamentário também conhecido como ciclo orçamentário, é definido como um processo contínuo e simultâneo, através do qual se elabora, aprova, executa e controla programação de dispêndios do setor público nos aspectos físicos e financeiros. Envolve um período muito maior que o exercício financeiro (ano civil), tenha ver que abrange todas as fases do processo.

Não é visto como autossuficiente por ser um ciclo se renova anualmente com a elaboração orçamentária por um prazo médio que por sua vez detalha o plano de longo prazo, quando integrado ao processo de planejamento tem uma maior aplicação.

ELABORAÇÃO DA PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA

Preliminarmente, observa-se que o orçamento – programa anual é um instrumento de nível operacional, ou seja, de curto prazo, do governo onde é inserida nas políticas de médio e longo prazo do País.

LEI DO PLANO PLURIANUAL (PPA)

As políticas de médio e longo prazo, denominadas pela Constituição como Plano Plurianual, dependem de Lei Complementar que deverá ser encaminhado pelo Poder Executivo para ser apreciada pelo Congresso Nacional até quatro meses antes do encerramento do

Page 14: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

26

exercício – 31 agosto – e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa - 15 de dezembro. Nos demais entes da federação a legislação própria poderá fixar outro calendário para atender as peculiaridades locais.

O período de vigência do PPA é de segundo ano de mandato presidencial e o final do primeiro do mandato subsequente, esta regra estende aos demais entes da federação. Apesar da mesma duração do Chefe do Poder Executivo, embora não coincida integralmente com este.

LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS (LDO)

O projeto da LDO deverá ser encaminhado pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional até oito meses e meio antes do encerramento do exercício 15 abril – e devolvido a sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa.

Em relação aos outros entes da Federação poderão através de normas próprias adotarem diferentes prazos para a tramitação da LDO, desde que a referida lei cumpra o papel principal de orientar a elaboração do projeto de Lei Orçamento Anual.

Na proposta orçamentária está hoje definida na Lei de Diretrizes Orçamentária constando de acordo com a Constituição:

As metas e prioridades da Administração Pública Federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro;

Orientações para elaboração da lei orçamentárias anual; Disposições sobre as alterações na legislação tributária; Política de aplicação das agências financeiras oficiais de

fomento.

Além disso, na preparação da LDO deverão constar de forma antecipada as seguintes questões:

Parâmetros para lei de fixação das remunerações no âmbito do Poder Legislativo;

Limites para elaboração orçamentárias do Poder Judiciário e o Ministério Público;

Autorização para a concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração relativo ao pessoal, pelo órgãos e

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

27

entidades da administração direta e indireta, ressalvadas as empresas públicas e sociedade de economia mista.

A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) ampliou o significado e a importância da LDO, e com isso disciplinou os assuntos a serem abordado como: equilíbrio entre as receitas e despesas:

Metas fiscais; Riscos fiscais; Programação financeira e o cronograma de execução mensal de

desembolso a sem estabelecidos pelo Poder Executivo trinta dias após a publicação da referida lei;

Critérios e forma limitação de empenho; Normas relativas ao controle de custos de programas financiados

com recursos do orçamento; Condições e exigências para transferências de recursos as

entidades públicas e privadas; Forma de utilização de montante de reserva de contingência que

irá integrar a LDO; Demonstrações trimestrais apresentadas ao Banco Central do

impacto do custo fiscal sobre as operações; Concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza

tributária da qual corra renúncia da receita.

LEI DE ORÇAMENTO ANUAL (LOA)

O projeto de lei orçamento anual deverá ser encaminhado ao Poder Legislativo, onde a sua devolução e sanção é normatizada nas Constituições Federal e Estadual e nos municípios pelas Leis Orgânicas Municipais.

No caso da esfera federal o projeto deve ser enviado quatro meses antes do encerramento do exercício – 31 agosto – e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa – 15 de dezembro.

De acordo com a disposição da constitucional a lei orçamentária anual é constituída por três orçamentos, sendo eles:

Orçamento fiscal – devida a sua abrangência e dimensão constitui-se no principal dos três orçamentos e referem-se aos Poderes, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público;

Page 15: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

28

Orçamento da seguridade social – é considerada as entidades e órgãos e ela vinculados – saúde, previdência social e assistência social da administração direta e indireta, bem como os fundos e fundações instituídas e mantidas pelo poder público;

Orçamento de investimento das empresas – compreende os investimentos realizados pelas empresas de Poder Público, direta ou indiretamente, que detenha a maioria do capital social com direito a voto.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

29

DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

A Lei n. 4.320/64 define, no artigo 101, que os resultados gerais do exercício serão apurados e demonstrados no Balanço Orçamentário, no Balanço Financeiro e na demonstração das variações patrimoniais. A situação patrimonial deverá ser demonstrada no Balanço Patrimonial.

Dessa forma, devemos conhecer três tipos de resultados: o patrimonial, apurado na demonstração das variações patrimoniais; o orçamentário, apurado no Balanço Orçamentário; e o financeiro, apurado no Balanço Financeiro.

O balanço patrimonial é a única das demonstrações obrigatórias que se apresenta como estático, ou seja, representa a situação econômico-financeira do órgão em determinado momento, enquanto que os demais demonstram em resumo os fatos ligados à execução orçamentária, financeira e patrimonial durante o exercício.

Apesar disso, todas as demonstrações são apresentadas em duas grandes colunas cujos totais são equivalentes, proporcionando o necessário equilíbrio, o que justifica o título de “balanço” dado pela lei. A primeira coluna representa os valores positivos e a segunda os valores negativos em cada balanço.

Apenas uma demonstração não tem a denominação de balanço: a demonstração das variações patrimoniais. Entretanto, ressaltamos que também deveria ter, uma vez que os totais de suas colunas se igualam

Page 16: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

30

com o cálculo do resultado do exercício (patrimonial), dando a ideia de balanço.

Há outras demonstrações a serem elaboradas ao final de cada ano, ou seja, de cada exercício financeiro, que não são menos importantes em relação às citadas anteriormente, posto que há informações de grande relevância que somente podem ser encontradas detalhadamente nessas demonstrações, quais sejam: demonstração da dotação orçamentária, demonstração da movimentação orçamentária e demonstração da execução orçamentária.

BALANÇO PATRIMONIAL

O balanço patrimonial elaborado pelos órgãos públicos, exigido pela Lei n. 4.320/64, contém os mesmos elementos do balanço patrimonial da Lei n. 6.404/76, de 15 de dezembro de 1976, ou seja, é constituído pelo ativo (bens e direitos), passivo (obrigações a pagar) e pelo patrimônio líquido (diferença entre o ativo e o passivo).

O que há de diferente é a forma como os elementos patrimoniais são agrupados, tanto no ativo como no passivo.

De acordo com o caput do artigo 105 da Lei n. 4.320/64, o Balanço Patrimonial demonstrará:

I. O Ativo Financeiro II. O Ativo Permanente

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

31

III. O Passivo Financeiro IV. O Passivo Permanente V – O Saldo Patrimonial V. As Contas de Compensação

A Lei n. 4.320/64 cuidou de estabelecer de imediato esses conceitos nos cinco parágrafos do artigo 105.

No balanço patrimonial, encontraremos a posição estática dos ativos e passivos do órgão ou entidade ao final de cada exercício financeiro. Nesse balanço, também encontraremos o resultado acumulado, ao longo de vários exercícios, da gestão patrimonial.

ESTRUTURA DO BALANÇO PATRIMONIAL

Page 17: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

32

BALANÇO ORÇAMENTÁRIO

De acordo com a Lei n. 4.320/64 (artigo 102): “O Balanço Orçamentário apresentará as receitas previstas e as despesas fixadas em confronto com as realizadas”. Nesse balanço, do lado das receitas, a disposição dos itens será efetuada por categoria econômica (correntes e de capital) e, do lado das despesas, inicialmente por tipo de crédito (orçamentário/suplementar, especial e extraordinário), os quais, por sua vez, são desdobrados também em função da categoria econômica da despesa (correntes e de capital).

Segundo a Resolução CFC n. 1.133, de 21 de novembro de 2008, o Balanço Orçamentário evidencia as receitas e as despesas orçamentárias, por categoria econômica, confrontando o orçamento inicial e as suas alterações com a execução, demonstra o resultado orçamentário e discrimina:

As receitas por fonte; e As despesas por grupo de natureza.

O Balanço Orçamentário é acompanhado do anexo das despesas por função e sub função e, opcionalmente, por programa; e é estruturado de forma a evidenciar a integração entre o planejamento e a execução orçamentária.

ESTRUTURA DO BALANÇO ORÇAMENTÁRIO

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

33

Os resultados apurados no balanço orçamentário podem se apresentar sob os seguintes títulos:

SUPERÁVIT: o superávit orçamentário é representado pela diferença a maior entre a execução da receita e a execução da despesa. Essa diferença deverá ser adicionada ao montante da execução da despesa para igualar com o total da execução da receita.

DÉFICIT: o déficit orçamentário é representado pela diferença a maior entre a execução da despesa e a execução da receita. Essa diferença deverá ser adicionada ao montante da execução da receita para igualar com o total da execução da despesa.

EQUILÍBRIO: o equilíbrio orçamentário ocorre quando há igualdade entre os totais da execução da receita e da execução da despesa.

BALANÇO FINANCEIRO

De acordo com o artigo 103 da Lei n. 4.320/64, o balanço financeiro demonstrará os ingressos e dispêndios (entradas e saídas) de recursos financeiros a título de receitas e despesas orçamentárias, “bem como os recebimentos e pagamentos de natureza extra orçamentária, conjugados com os saldos de disponibilidades do exercício anterior e aqueles que passarão para o exercício seguinte”.

O Balanço Financeiro evidencia a movimentação financeira das entidades do Setor Público no período a que se refere, e discrimina:

A receita orçamentária realizada por destinação de recurso; A despesa orçamentária executada por destinação de recurso e

o montante não pago como parcela retificadora; Os recebimentos e os pagamentos extra orçamentários; As transferências ativas e passivas decorrentes, ou não, da

execução orçamentária; e O saldo inicial e o saldo final das disponibilidades.

A destinação de recursos orçamentários discrimina, no mínimo, as vinculações legais, tais como nas áreas de saúde, educação e previdência social.

Page 18: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

34

ESTRUTURA DO BALANÇO FINANCEIRO

DEMONSTRAÇÃO DAS VARIAÇÕES PATRIMONIAIS

A Demonstração das Variações Patrimoniais (DVP) evidenciará as alterações verificadas no patrimônio, ocorridas durante o exercício financeiro, resultantes ou independentes da execução orçamentária e indicará o resultado patrimonial do exercício, de acordo com o artigo 104 da Lei n. 4.320/64.

Esse demonstrativo pode ser comparado à Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) exigida pela Lei n. 6.404/76, porque é nessa demonstração que se faz a apuração do resultado do exercício.

Como vimos, o resultado do exercício é fruto da comparação das variações ativas com as variações passivas. Esse é o resultado mais abrangente que se pode apurar na área pública, em função desse resultado é possível englobar os outros dois resultados (orçamentário e o financeiro).

O resultado do exercício, apurado nesse demonstrativo, é levado para o balanço patrimonial, compondo o saldo patrimonial (patrimônio líquido).

ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DAS VARIAÇÕES PATRIMONIAIS

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

35

LICITAÇÃO

Origem da palavra "Licitação"

Registram os etimologistas que o vocábulo licitação é originário do latim licitatio, a "venda por lances". É a atividade desenvolvida na formulação de lances. É o ato de licitar, na arrematação, hasta pública, visando a adjudicação.

Conceito

Licitação é um procedimento administrativo formal que tem como escopo proporcionar à Administração uma aquisição, uma venda, ou uma prestação de serviços da forma mais vantajosa, respeitando-se os princípios constitucionais da legalidade, isonomia, impessoalidade, moralidade e publicidade.

A licitação visa a garantir a moralidade dos atos administrativos e dos procedimentos da Administração Pública, e também a valorização da livre iniciativa pela igualdade no oferecimento da oportunidade de prestar serviços, bem como de comprar ou vender ao Poder Público.

Segundo o entendimento do mestre Cretella Júnior:

"Licitação, no Direito Público brasileiro atual, a partir de 1967, tem o sentido preciso e técnico de procedimento administrativo preliminar complexo, a que recorre a Administração quando, desejando celebrar contrato com o particular, referente a compras, vendas, obras, trabalhos ou serviços, seleciona, entre várias propostas, a que melhor atende ao interesse público, baseando-se para tanto em critério objetivo, fixado de antemão, em edital, a que se deu ampla publicidade”.

Sucintamente, Hely Lopes Meirelles a definiu: "Licitação é o procedimento administrativo mediante o qual a Administração seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse”.

Ainda, Carlos Ari Sundfeld, numa nítida alusão ao princípio da isonomia, salienta a importância do procedimento licitatório como garantia ao acesso de todos os administrados à disputa pela contratação pública, conceituando-a como: "Procedimento administrativo destinado à escolha de pessoa a ser contratada pela Administração ou a ser beneficiada por ato administrativo singular, no qual são assegurados

Page 19: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

36

tanto o direito dos interessados à disputa como a seleção do beneficiário mais adequado ao interesse público".

Por sua vez, o eminente Carlos Leopoldo Dayrell, em seu conceito, ressaltou a necessidade de obtenção de benefício público: "O processo a que deve recorrer a Administração para obter materiais, obras ou serviços, ou ainda, para alienar bens, nas melhores condições de proveito público, mediante consulta a diversos interessados”.

A título de curiosidade, é de se ressaltar que antes da Reforma Administrativa de 1967, o termo empregado para licitação era concorrência pública. Outrossim, na Lei n. º 4.401/64, promulgada três anos antes do Decreto-lei n. º 200/67, encontramos, pela primeira vez, o vocábulo licitação como sinônimo de concorrência.

De outro lado, registre-se que o Decreto-lei n.º 200/67 apenas se referia à Administração Direta e às autarquias, enquanto que o Estatuto das Licitações em vigor (Lei n.º 8.666/93) contempla também as fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Todavia, a Emenda Constitucional n.º 19, de04.06.98, modificou novamente o quadro das entidades abrangidas pela Lei n.º 8.666/93, quando estabeleceu que lei própria estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços e disporá sobre licitação e contratação.

Direito Comparado

Em alguns países, como por exemplo, na França, a Administração Pública tem a discricionariedade para a escolha de realizar ou não um procedimento seletivo antes da contratação. Enquanto que em outros, como na Espanha, é necessário, previamente, um processo administrativo buscando condições mais vantajosas para satisfazer o interesse público.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

37

Brasil - Obrigatoriedade da licitação

É sabido e consabido que, no Direito Administrativo Brasileiro, a regra é a obrigatoriedade de licitação tanto para aquisição de bens como para que haja prestação de serviços para a Administração, tendo como fundamento Legal, na norma constitucional, o art. 37, inciso XXI,

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações". (grifos acrescidos)

E na norma infraconstitucional, o art. 2º, da Lei n.º 8.666/93, no seguinte teor:

"Art. 2º. As obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações concessões, permissões e locações da Administração Pública, quando contratadas com terceiros, serão necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas nesta lei". (grifos acrescidos)

Excepcionalidades: dispensa e inexigibilidade de licitação – Distinção

Como toda regra tem sua exceção, o Estatuto de Licitações permite como ressalva à obrigação de licitar, a contratação direta através de processos de dispensa e inexigibilidade de licitação, desde que preenchidos os requisitos previstos na lei.

Dispensa de licitação é a possibilidade de celebração direta de contrato entre a Administração e o particular, nos casos estabelecidos no art. 24, da Lei 8.666/93.

"As hipóteses de dispensabilidade do art. 24 constituem rol taxativo, isto é, a Administração somente poderá dispensar-se de realizar a competição se ocorrente uma das situações previstas na lei federal. Lei estadual, municipal ou distrital, bem assim regulamento interno da entidade vinculada não poderá criar hipótese de dispensabilidade".

Além disso, ressalte-se que, nestes casos relacionados pela legislação, há a discricionariedade da Administração na escolha da dispensa ou não

Page 20: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

38

do certame, devendo sempre levar em conta o interesse público. Muitas vezes, o administrador opta pela dispensa, posto que, como afirma o ilustre Marçal Justen Filho, "os custos necessários à licitação ultrapassarão benefícios que dela poderão advir" .

Já a inexigibilidade de licitação ocorre quando há inviabilidade de competição, melhor dizendo, é impossível promover-se a competição, tendo em vista que um dos contendores reúne qualidades tais que o tornam único, exclusivo, sui generis, inibindo os demais pretensos participantes.

Saliente-se que o rol normativo do art. 25, do Estatuto das Licitações diferencia-se do da dispensa, uma vez que tem natureza exemplificativa, segundo posicionamento uníssono da doutrina pátria.

Desta forma, conclui-se que nos casos de dispensa, previstos em lei, o administrador tem a faculdade de licitar ou não, enquanto que na inexigibilidade, há impossibilidade de ser realizado o procedimento de competitividade para aquisição da proposta mais vantajosa para a Administração.

6- Dispensa de licitação - casos mais utilizados (Art. 24)

O Regramento Licitatório estabelece em seu art. 24, incisos I e II:

"Art. 24. É dispensável a licitação:

I - Para obras e serviços de engenharia de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea "a", do inciso I, do artigo anterior, desde que não se refiram a parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda para obras e serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas conjunta e concomitantemente; (limite: R$ 15.000,00)

II - Para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea "a", do inciso II, do artigo anterior e para alienações, nos casos previstos nesta lei, desde que não se refiram a parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizado de uma só vez (limite: R$ 8.000,00)".

Registre-se, primeiramente, que, nestes casos, foi dado um tratamento distinto às sociedades de economia mista, empresas públicas e agências executivas, quando lhes foi permitido utilizar-se da dispensa em valores de até 20% (vinte por cento) dos limites previstos nas alíneas "a", dos incisos I e II, do art. 23, da mencionada Lei.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

39

Os doutrinadores justificam estas hipóteses de dispensa de licitação pelo fato do custo de um procedimento licitatório ser superior ao benefício que dele poderia ser extraído.

A respeito do assunto, vejamos a opinião do professor Jorge Ulisses Jacoby Fernandes:

"O reduzido valor do objeto a ser contratado colocaria em conflito o princípio da licitação e o da economicidade, ensejando um gasto superior à vantagem direta aferível pela Administração, decidindo o legislador, à vista do interesse público, pela prevalência do segundo".

Relativamente aos dispositivos legais acima, existe uma discussão doutrinária a respeito de qual é o período (se anual ou mensal) que deve ser observado para a utilização do limite permitido para dispensa de licitação, sem que haja burla à Lei de Licitações.

Este assunto é bastante polêmico, tendo sido inclusive objeto de consulta por parte da douta Controladoria Geral do Estado do Rio Grande do Norte, na qual a subscritora deste artigo, como parecerista, opinou no sentido de que a lei não fixou o período para a utilização do limite, no entanto a Administração poderia fixá-lo, através de orientação normativa, a fim de evitar a ocorrência de dispensas irregulares, conforme se tem verificado nas inúmeras decisões do Tribunal de Contas da União, onde há orientação para que a Administração "efetue planejamento adequado das compras de forma a deixar de proceder a aquisições para objetos iguais em curto espaço de tempo, assim como evitar a realização, sob a alegação de urgência".

Neste diapasão, merece citar, outrossim, decisão do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco, no seguinte teor:

"É casuística a análise para caracterização de fracionamento de despesa, inexistindo previsão legal quanto ao número de dispensas que deverá acontecer no mês ou no exercício financeiro. É mister que se observe o disposto nos incisos I e II do art. 24 da Lei Federal n.º 8.666/93, com a alteração dada pela Lei 8.883/94, de modo que se fique claramente demonstrada a impossibilidade de se realizar a aquisição do bem ou serviço de uma única vez. Mas uma dispensa de licitação em pequenos intervalos de tempo e para os mesmos fins é indício de fracionamento, cabendo ao Tribunal de Contas no uso de suas prerrogativas legais decidir a respeito na apreciação do caso concreto" .

Page 21: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

40

Na doutrina, há divergência quanto a este aspecto, existindo doutrinadores que entendem que tal limite para a dispensa de licitação é anual. Neste sentido, encontramos o posicionamento do ilustre Carlos Pinto Coelho Motta, senão vejamos:

"Tenho entendido que tais limites para a chamada ´dispensabilidade" de licitação, tanto para compras e serviços como para obras e serviços de engenharia, valem para todo o exercício financeiro, permitindo-se entretanto o parcelamento do fornecimento ou da execução. Significa que o limite de valor, para objetos similares, só pode ser utilizado para fins de dispensa uma vez em cada exercício.

As razões desse entendimento são as seguintes: em primeiro lugar, os prazos do art. 39, parágrafo único, para licitação simultânea ou sucessiva, não mais se aplicam ao art.24, I, como era definido pela redação originária da Lei n.º 8.666/93. A Lei n.º 8.883/94, alterando o referido parágrafo único do art. 39, excluiu expressamente a aplicabilidade do limite da dispensa em intervalos temporais definidos para licitação simultânea ou sucessiva (30 e 120 dias)

Em segundo lugar, não há nenhum outro dispositivo, seja na Lei n.º 8.666/93, seja na Lei n.º 4.320/64, que autorize a aplicação do limite de dispensa para objeto similar por vezes sucessivas no mesmo exercício financeiro. Se não há autorização expressa, conclua-se pela vedação legal´" .

Enquanto isso, existem também doutrinadores que abominam a fixação de um prazo temporal para a utilização do limite da dispensa. Dentre eles, há o ensinamento do administrativista Ivan Barbosa Rigolin, ao escrever artigo sobre os casos polêmicos de licitação, o qual pedimos licença para transcrevê-lo, ipsis litteris:

"Os fantasmas e as aparições abantesmáticas e flogísticas de entes misteriosos, que afirmam que alguém teria dito a alguém que somente uma vez por mês poderia ser realizada compra de até R$ 7.999,99, ou contratado serviço de engenharia de até R$ 14.999,99, ou que apenas dentro de um ano é que tais limites poderiam ser exercitados, ou dentro de um semestre, ou apenas dentro de condições muito particulares, tais e quais, assim ou assado - essa tremenda empulhação, exemplo de moralismo fácil e próprio de discurso de formatura de colegiais, com forte coeficiente de hipocrisia indisfarçável de fariseus a quem aparentemente falta o que fazer - fariseus desempregados talvez

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

41

- não tem o mais longínquo propósito nem a mínima causação jurídica direta, indireta, oblíqua, transversa, próxima ou remota, nem explicação alguma, por mais inventiva. Se a lei quis que oito mil ou quinze mil reais fossem o limite da licitação dispensada sem maiores exigências ou condicionamentos, então pode ser adquirido o bem, ou contratado o serviço de valor que dispense licitação quantas vezes forem necessárias, sempre que preciso, em um século, um ano, uma semana, um lustro ou um mês lunar dos fenícios. Basta que a Administração proceda naturalmente, sem forçar necessidades em verdade inexistentes, sem "picar" ou fragmentar, artificial ou artificiosamente, suas necessidades efetivas, apenas para, maliciosamente, burlar a regra geral da licitabilidade necessária, e seu procedimento será rigorosamente legítimo, se utilizar o inc. I ou o inc. II, do art. 24, da Lei de Licitações, repetidamente, em dado espaço de tempo. Assim como lhe era permitido valer-se indiscriminadamente - se de fato isso lhe era necessário no seu dia-a-dia - dos limites financeiros anteriores ao atuais que foram dados pela lei n.º 9.648, de 27 de maio de 1998, também hoje é rigorosamente lícito à mesma Administração Pública valer-se repetidamente dos limites atuais. Nada mudou, exceto os valores. Quem espalha boatarias sobre matéria que desconhece ou que inventa para o momento, como alguma limitação certa ao uso dos incisos I e II, do art. 24, deveria a esta altura do desenvolvimento da ciência jurídica saber que não existe o bicho papão com que, amiúde, zelosas mamães amedrontam seus filhos de berço, refratários a ingerir a papinha oferecida" . (grifos acrescidos)

Data máxima vênia dos renomados administrativistas acima referidos, ouso discordar do entendimento esposado pelas duas correntes anteriormente expostas, na forma integral de cada uma delas.

A meu ver, se mesclarmos as duas teses, encontraríamos um resultado mais plausível. E explico o porquê. No dispositivo legal que prevê o limite para utilização da dispensa, não há nenhuma determinação para que tal limite seja anual, bem como não há referência sobre o assunto em nenhuma outra norma que trata de licitação.

De outro lado, se a Administração começar a se utilizar da dispensa de licitação, repetidas vezes, para aquisição de objetos similares, com base no limite previsto no art. 24, da Lei n.º 8.666/93, acabará fugindo da regra constitucional, que é o dever de licitar.

Desta feita, acredito que seja mais verossímil elaborar uma orientação normativa fixando um prazo, devendo este prazo ser anual,

Page 22: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

42

excepcionando-se as situações imprevisíveis, não passíveis de planejamento, desde que devidamente justificadas, tendo em vista que o planejamento de uma licitação deve englobar todo o exercício financeiro.

Por sua vez, o inciso IV, desse artigo prescreve também ser dispensável o procedimento licitatório:

"IV - Nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando caracterizada urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízos ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares, e somente para os bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa e para as parcelas de obras e serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos, contados da ocorrência da emergência ou calamidade, vedada a prorrogação dos respectivos contratos".

Considera-se como situação emergencial, asseguradora da regular dispensa de licitação, aquela que precisa ser atendida com urgência, objetivando a não ocorrência de prejuízos, não sendo comprovada a desídia do administrador ou falta de planejamento. Já por calamidade pública, entendam-se aquelas desgraças que atingem, de repente, grande número de cidadãos, como, por exemplo, podemos citar a seca, as inundações, peste, guerra, incêndio, terremoto, vendaval.

O ínclito Jessé Torres Pereira Júnior, ao comentar o referido dispositivo, cujo entendimento é compartilhado pela doutrina dominante, afirma que:

"Já na vigência da Lei 8.666/93, o Tribunal de Contas da União definiu que: ´além da adoção das formalidades previstas no art. 26 e seu parágrafo único da Lei 8.666/93, são pressupostos da aplicação do caso de dispensa preconizados no art.24, inciso IV, da mesma lei: a1) que a situação adversa, dada como de emergência ou de calamidade pública, não se tenha originado, total ou parcialmente da falta de planejamento, da desídia administrativa ou da má gestão dos recursos disponíveis, ou seja, que ela não possa, em alguma medida, ser atribuída à culpa ou dolo do agente público que tinha o dever de agir para prevenir a ocorrência de tal situação; a2) que exista urgência concreta e efetiva do atendimento a situação decorrente do estado emergencial ou calamitoso, visando afastar risco de danos a bens ou à saúde ou à vida das pessoas; a3) que o risco, além de concreto e

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

43

efetivamente provável, se mostre iminente e especialmente gravoso; a4) que a imediata efetivação, por meio de contratação com terceiro, de determinadas obras, serviços ou compras, segundo as especificações e quantitativos tecnicamente apurados, seja o meio adequado, efetivo e eficiente de afastar o risco iminente detectado´" . (grifos acrescidos)

Consoante o já citado professor Marçal Justen Filho, para a caracterização desta hipótese de dispensa de licitação é necessário o preenchimento de dois requisitos, quais sejam, a demonstração concreta e efetiva da potencialidade do dano e a demonstração de que a contratação é a via adequada e efetiva para eliminar o risco.

Outra hipótese comum de dispensa de licitação encontra guarida no disposto no inciso X, abaixo transcrito:

"X - para compra ou locação de imóvel destinado ao atendimento das finalidades precípuas da Administração, cujas necessidades de instalação e localização condicionem a sua escolha, desde que o preço praticado seja compatível com o praticado no mercado, segundo avaliação prévia";

Neste caso, a Administração tem que observar dois requisitos previamente, ou seja, comprovar que aquele imóvel atende as necessidades de instalação e de localização e que o preço é condizente com o praticado no mercado. No Estado do Rio Grande do Norte, esta comprovação do preço acontece através de um laudo elaborado por uma comissão de engenheiros da Secretaria de Infraestrutura.

Registre-se que há doutrinadores que entendem que este é um caso de inexigibilidade tratado pela lei como dispensa.

Por fim, há, ainda, outra hipótese usual de dispensa de licitação que merece citação, qual seja, "contratação de instituição brasileira incumbida regimental ou estatutariamente da pesquisa, do ensino, do desenvolvimento institucional, ou de instituição dedicada à representação social do preso, desde que a contratada detenha inquestionável reputação ético-profissional e não tenha fins lucrativos" (inciso XIII, do art. 24, da Lei n.º 8.666/93).

Nota-se que para contratação direta com base nesta norma, a Administração precisa verificar se a instituição possui notória reputação

Page 23: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

44

ético-profissional; se tem como finalidade a pesquisa, ensino ou o desenvolvimento institucional, técnico, científico ou tecnológico e se a mesma não tem fins lucrativos.

A respeito do assunto, já existe a Súmula n.º 02 da Consultoria Zênite, publicada no ILC n.º 24, de fevereiro de 1996, citada pelo notável professor Renato Geraldo Mendes:

"Configura-se a hipótese do inciso XII do art. 24, da Lei n.º 8.666/93 quando o objeto do contrato a ser celebrado consistir na pesquisa, no ensino, ou no desenvolvimento institucional, não bastando apenas que se trate de instituição que se dedique às referidas atividades" .

É importante ressaltar, ainda, que a instituição não deve ser contratada, como alguns administradores pretendem, para desempenhar atividades fins da Administração, sob pena de haver burla à exigência constitucional do concurso público.

Casos de inexigibilidade de licitação mais utilizados (Art. 25)

No que tange à inexigibilidade de licitação, o caso mais utilizado pela Administração é, na verdade, o previsto no inciso I, do art. 25, in verbis:

"I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo, vedada a preferência por marca devendo a comprovação de exclusividade ser feita através de atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes";

É importante asseverar que, muitas vezes, a Administração se utiliza erroneamente desta norma legal, posto que a contratação direta para enquadrar-se neste dispositivo deve se referir a uma compra e não a prestação de serviços, e necessita ter a comprovação da exclusividade através de uma declaração emitida pelos órgãos competentes.

Nessa linha, a propósito, há orientação do Tribunal de Contas da União, citada pelo professor Renato Geraldo Mendes:

"A prestação de serviços não se inclui no inciso I do art. 25, portanto contratação de serviços com fundamento no preceito é ilegal" .

Outrossim, é preciso ter cautela na análise da exclusividade do objeto que se busca adquirir, procurando verificar se o mesmo possui uma

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

45

individualidade tal que se torna único na espécie, não podendo ser substituído por outro equivalente.

Finalmente, o administrador também emprega, com freqüência, o inciso II do art. 25, da Lei n.º 8.666/93, que dispõe sobre a "contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13, desta Lei, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação".

E dentre os serviços técnicos enumerados no art. 13, do Regramento Licitatório, os casos mais rotineiros na Administração Pública são de treinamento e aperfeiçoamento de pessoal, devendo, antes da contratação de empresa para ministrar cursos, o administrador se certificar se existe a singularidade do serviço, se a empresa possui notória especialização, bem como se o preço proposto está compatível com o praticado no mercado.

Faz-se mister ressaltar que, para que a empresa tenha singularidade nos serviços que irá prestar, não precisa ser única no mercado, mas precisa ter particularidades, especialidades, que outras empresas não possuam.

Quanto à notória especialização, o § 1º, do supracitado artigo a conceitua, permitindo-nos deduzir que o trabalho da empresa deve se destacar na área profissional e ser o mais adequado à satisfação do objeto que se busca contratar.

Ademais disso, é oportuno salientar que existem hipóteses que não se enquadram em nenhum dos incisos do mencionado art. 25, mas que estão incluídas no caput deste artigo, face a comprovada inviabilidade de competição.

Instrução dos processos de dispensa e inexigibilidade de licitação

É evidente que os processos de dispensa e de inexigibilidade de licitação não exigem o cumprimento de etapas formais imprescindíveis num processo de licitação, entretanto devem obediência aos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade e probidade administrativa impostos à Administração Pública.

Nesta linha de pensamento, encontramos a lição de Antônio Roque Citadini:

Page 24: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

46

"Conquanto esteja desobrigado de cumprir tais etapas formais, não estará o administrador desobrigado da obediência aos princípios básicos da contratação impostos à Administração Pública. Assim, será sempre cobrada ao administrador a estrita obediência aos princípios: da legalidade (a dispensa deverá ser prevista em lei e não fruto de artimanha do administrador para eliminar a disputa); da impessoalidade (a contratação direta, ainda que prevista, não deverá ser objeto de protecionismo a um ou outro fornecedor); da moralidade (a não realização das etapas de licitação não elimina a preocupação com o gasto parcimonioso dos recursos públicos, que deve nortear a ação do administrador); da igualdade (a contratação direta não significa o estabelecimento de privilégio de um ou outro ente privado perante a Administração); da publicidade (embora restrita, a contratação direta não será clandestina ou inacessível, de modo que venha a impedir que dela conheçam os outros fornecedores, bem como os cidadãos em geral); e da probidade administrativa (que é o zelo com que a Administração deve agir ao contratar obras, serviços ou compras)"

Por outro lado, esses processos devem ser muito bem instruídos, e além dos documentos de habilitação e regularidade fiscal da empresa, devem ser comprovados nos autos a caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a dispensa, quando for o caso; a razão da escolha do fornecedor ou executante; e a justificativa do preço, nos termos do parágrafo único do art. 26, do Regramento Licitatório.

Demais disso, deve ser publicado no Diário Oficial do Estado o termo de dispensa ou de inexigibilidade de licitação, no prazo legal, como condição de eficácia do ato.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

47

Page 25: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

48

DECRETO Nº 9.412, DE 18 DE JUNHO DE 2018

Atualiza os valores das modalidades de licitação de que trata o art. 23 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 120 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993,

DECRETA: Art. 1º Os valores estabelecidos nos incisos I e II do caput do art. 23 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, ficam atualizados nos seguintes termos: I - para obras e serviços de engenharia:

a) na modalidade convite - até R$ 330.000,00 (trezentos e trinta mil reais);

b) na modalidade tomada de preços - até R$ 3.300.000,00 (três milhões e trezentos mil reais); e

c) na modalidade concorrência - acima de R$ 3.300.000,00 (três milhões e trezentos mil reais); e

II - para compras e serviços não incluídos no inciso I:

a) na modalidade convite - até R$ 176.000,00 (cento e setenta e seis mil reais);

b) na modalidade tomada de preços - até R$ 1.430.000,00 (um milhão, quatrocentos e trinta mil reais); e

c) na modalidade concorrência - acima de R$ 1.430.000,00 (um milhão, quatrocentos e trinta mil reais).

Art. 2º Este Decreto entra em vigor trinta dias após a data de sua publicação.

Brasília, 18 de junho de 2018; 197º da Independência e 130º da República.

MICHEL TEMER

Esteves Pedro Colnago Junior

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

49

Responsabilidade dos Administradores

Das penas aplicáveis aos administradores, previstas na Lei de Licitações e que interessam especificamente a este tema, podemos citar a do artigo 89, que estabelece expressamente, in verbis:

"Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:

Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa".

Desta feita, o administrador deve ter muita cautela ao dispensar uma licitação, tendo em vista que o agente público será punido não somente quando contratar diretamente sem amparo na previsão legal (arts. 24 e 25 da Lei n.º 8.666/93), mas também quando deixar de observar as formalidades exigíveis para os processos de dispensa e inexigibilidade de licitação (art. 26).

O ilustre Jorge Ulisses Jacoby Fernandes, escritor de um livro que trata da contratação direta, já citado anteriormente, afirma que após a vigência deste dispositivo legal, há maior preocupação do Administrador Público nos processos relativos à dispensa e inexigibilidade de licitação, senão vejamos:

"Parece efetivamente que o art. 89 da Lei 8.666/93 situa-se na linha evolutiva do aperfeiçoamento da Administração Pública, pois, não raro, as justificativas da contratação direta eram elaboradas posteriormente à celebração do contrato, à sua execução e, às vezes, só após a ação dos órgãos de controle, onde passavam a desafiar a criatividade dos órgãos jurídicos das entidades públicas.

O fato é que, com o advento desse diploma legal, passou a haver maior preocupação com os procedimentos que devem ser adotados para que a contratação direta seja considerada regular".

De outro modo, é evidente que se o fornecedor ou prestador de serviços concorrer para a ilegalidade também deverá ser aplicada pena semelhante à atribuída ao administrador.

Page 26: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

50

LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

Durante décadas o Brasil foi conhecido como o país de desmandos da administração pública, da distorção das atribuições do estado, da disposição à apropriação particular do patrimônio público. Eram inúmeras as notícias [da época] sobre os desvios de toda a ordem, que denunciavam a irresponsabilidade da gestão financeira dos Estados, Distrito Federal, Municípios e da própria União.

No cenário mundial grandes mudanças ocorriam impulsionadas pela queda dos regimes comunistas e a abertura do mercado de capitais provocando a almejada globalização.

Desta forma, o Brasil para não ficar fora desta rede de prosperidade precisava adotar as regras impostas pelo chamado mundo desenvolvido. Entretanto nossa condição não era nada favorável, visto os constantes escândalos de desvio de verba pública, a falta de planejamento e transparência das ações, bem como o lançamento de planos econômicos superficiais.

Diante desta condição o Brasil toma a decisão de firmar acordos com países pertencentes a outros blocos econômicos e com o Fundo Monetário Internacional – FMI, a fim de desenvolver o nosso comércio e captar recursos para assim alavancar nosso tão desejado desenvolvimento econômico.

Esses acordos exigiam a edição de norma que trouxesse transparência e responsabilidade às contas públicas.

ORIGEM DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

A Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF foi elaborada visando à reforma do Estado (o que nas últimas décadas vem ocorrendo em muitos países) tendo como objetivo a substituição da administração pública burocrática pela gerencial, aumentando a eficiência na prestação dos serviços do estado, e incentivando o crescimento e o desenvolvimento socioeconômico do país.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

51

A elaboração da LRF tem como base o estudo das leis e a experiência de outros países. Os modelos de referências para elaboração da LRF foram:

O Fundo Monetário Internacional, organismo do qual o Brasil é Estado-membro, e que tem editado e difundido algumas normas de gestão pública em diversos países;

A Nova Zelândia, através do Fiscal Responsibility Act, de 1994; A Comunidade Econômica Europeia, a partir do Tratado de

Maastricht; Os Estados Unidos, cujas normas de disciplina e controle de gastos

do governo central levaram à edição do Budget Enforcement Act, aliado ao princípio de “accountability”.

PRINCIPAIS PONTOS TRATADOS NA LRF

Endividamento; Socorro Financeiro; Metas Fiscais; Final de Mandato; Gastos com pessoal; Reajustes de despesas; Incentivos Fiscais; Banco Central; Juros; Prestação de contas;

Punições.

A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que passou a vigorar a partir de maio de 2000, trata de assunto de grande importância para a sociedade brasileira e essencial à Administração Pública: finanças públicas.

Inicialmente, é preciso dizer que, de acordo com a Constituição Federal, a competência para editar leis a respeito de direito financeiro é concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal.

Fundamentos legais A Lei de Responsabilidade Fiscal decorre do artigo 163 da Constituição Federal e prevê normas gerais acerca de finanças públicas.

Entes envolvidos

Page 27: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

52

A Lei de Responsabilidade Fiscal é aplicada a todos os entes da federação, ou seja, estão obrigados à LRF a União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. É o que diz, inclusive, o art. 1º, §2º, da lei. Também estão obrigados o Poder Executivo, o Poder Legislativo (neste abrangidos os Tribunais de Contas), o Poder Judiciário, o Ministério Público, as respectivas administrações diretas, fundos, autarquias, fundações e empresas estatais dependentes.

OBJETO, RESPONSABILIDADE E TRANSPARÊNCIA O OBJETO Segundo o artigo 1° da LRF, a lei estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Esse é, portanto, o seu objeto.

Art. 1° Esta Lei Complementar estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, com amparo no Capítulo II do Título VI da Constituição.

Gestão fiscal refere-se à busca do equilíbrio das contas públicas pelos gestores públicos, administrando-se de modo eficiente as receitas e despesas dentro de limites previstos em lei. E tal somente se alcança com ação planejada e direcionada a vários exercícios financeiros.

Aqui vale mencionar que o exercício financeiro coincide com o ano civil, de acordo com o artigo 34 da Lei n° 4.320/64. Equilíbrio das contas públicas significa, basicamente, não gastar além do que arrecada. Simples assim. A conta precisa “fechar”, ou seja, não se permite desembolsar além do que se possui. RESPONSABILIDADE E TRANSPARÊNCIA A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que se refere à renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

53

mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar. Deve-se fixar a ideia de que a responsabilidade na gestão fiscal pressupõe ações dos gestores públicos que busquem o equilíbrio das contas públicas e o atingimento das metas de resultados entre receitas e despesas e atenção aos limites estipulados em lei. Os administradores ou gestores públicos têm obrigações perante a sociedade. Devem eles providenciar a prestação de serviços públicos (educa- ção, saúde, segurança seguridade social, entre outros) de qualidade aos cidadãos sem que para isso desencadeiem uma gastança desenfreada. A lei visa justamente controlar tais gastos e fornecer certa segurança aos cidadãos de que os limites de gastos estipulados em lei serão cumpridos e de que os gestores públicos prestarão contas à sociedade. Aí se encontra um ponto absolutamente fundamental trazido pela lei: a transparência na gestão fiscal. A transparência pressupõe a prestação de contas. Por isso mesmo, a lei prevê mecanismos tendentes a anunciar com antecedência como será realizada a política fiscal pública e capazes de verificar precisamente o cumprimento dessa política com o passar do tempo. Tais mecanismos são a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a Lei Orçamentária Anual (LOA) e o Plano Plurianual (PPA). A lei obriga os gestores públicos à prestação de contas e pode responsabilizá-los pelos resultados negativos da gestão fiscal. Justamente por isso que se diz que a LRF contribuiu para reduzir a irresponsabilidade com o caixa.

Page 28: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

54

LIMITES DE GASTOS

São definidos em lei os limites mínimos de gastos com Educação e Saúde e o limite máximo de gasto com pessoal.

EDUCAÇÃO No caso da Educação, o artigo 212 da Constituição Federal diz:

Assim, de acordo com a Constituição Federal, no seu art. 212, o município deverá destinar à Educação, não menos que 25% de sua arrecadação. SAÚDE Já na Saúde, a porcentagem mínima que deverá ser aplicada é de 15% da arrecadação municipal definida no inciso III do artigo 77 da Constituição Federal:

GASTOS COM PESSOAL Os gastos com a folha de pagamento de pessoal representam o principal item de despesas de todo o setor público brasileiro. De acordo com a LRF, entende-se como despesas de pessoal:

Somatório dos gastos do ente da Federação com os ativos; Despesas com inativos e pensionistas; Mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos civis, militares e

de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias; Vencimentos e vantagens, fixas e variáveis; Subsídios, proventos de aposentadoria; Reformas e pensões; Adicionais de qualquer natureza; Gratificações, horas extras e vantagens pessoais; Encargos sociais; Contribuições recolhidas pelo Ente às entidades de previdência.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

55

A LRF determina dois limites distintos para os gastos com pessoal no setor público:

50% da RCL para a União; 60% da RCL para Estados e Municípios.

Sendo que dentro da Esfera Federal o limite é de: 40,9% para o Executivo; 6% para o Judiciário; 2,5% para o Legislativo; 0,6% para o Ministério Público.

Na Esfera Estadual: 2% para o Ministério Público; 3% para o Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas do Estado; 6% para o Judiciário; 49% para o Executivo.

E na Esfera Municipal: 6% para o Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas do Município,

quando houver; 54% para o Executivo.

INSTRUMENTOS DE TRANSPARÊNCIA

De acordo com o artigo exposto, nota-se que os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias são considerados instrumentos de transparência. A partir disso, pode-se concluir que os mecanismos para a gestão fiscal são também os da transparência da gestão fiscal. A razão disso é simples: divulgação, conhecimento por parte dos cidadãos. Uma lei determinando como os atos passarão a ser produzidos ganha maior poder de controle, quando ela passa a ser divulgada. Pois, se todo cidadão conhecesse “as regras do jogo”, poderia com segurança e autoridade exigir, cobrar punição para aquele que viesse infringir a lei, saberia determinar qual setor da sociedade está ou não recebendo a devida atenção. E, nesse passo, quanto maior for a divulgação, melhor aos objetivos da sociedade. Justamente por isso a Lei de Responsabilidade Fiscal previu a

Page 29: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

56

possibilidade de se dar ampla divulgação nos meios eletrônicos, que atualmente é o meio que mais progride em termos de comunicação. Vivemos na sociedade da informação. As notícias se alastram rapidamente e se mostram cada vez mais acessíveis a todos. E como já estamos mergulhados neste mundo, compete então ao Administrador Público utilizar a tecnologia para divulgar também as ações relativas ao planejamento fiscal. É claro que as leis orçamentárias, mesmo divulgadas, não são suficientes para atestar a qualidade da gestão fiscal de determinado ente da Federação, o que se atinge somente quando se compara também com os relatórios de cumprimento de metas, que são o relatório resumido da execução orçamentária e o relatório de gestão fiscal, mesmo que sejam as versões simplificadas desses documentos. A transparência será assegurada também mediante

a) O incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos;

b) A liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público; e

c) A adoção de sistema integrado de administração financeira e controle.

As contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão disponíveis, durante todo o exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade.

FISCALIZAÇÃO DA GESTÃO FISCAL

A fiscalização da gestão fiscal compete ao Poder Legislativo diretamente ou com o auxílio dos Tribunais de Contas, e ao sistema de controle interno de cada Poder e do Ministério Público. Os Tribunais de Contas alertarão os Poderes ou órgãos quando constatarem que a realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, ou que o montante da despesa total com pessoal ultrapassou 90% do limite.

Ainda, advertirão ao verificar que os montantes das dívidas consolidada e mobiliária, das operações de crédito e da concessão de garantia se encontram acima de 90% dos respectivos limites, ou que os gastos com

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

57

inativos e pensionistas se encontram acima do limite definido em lei, ou, ainda, ao notar fatos que comprometam os custos ou os resultados dos programas ou indícios de irregularidades na gestão orçamentária.

Compete, ademais, aos Tribunais de Contas verificar os cálculos dos limites da despesa total com pessoal de cada Poder e órgão, e ao Tribunal de Contas da União acompanhar as operações que envolvam ente da Federação e o Banco Central do Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A LRF

Adequação à Lei e a assistência da União

A Lei de Responsabilidade Fiscal fixou alguns limites, em seu texto, que, em princípio, são válidos para todos os entes da Federação. Contudo, há possibilidade de lei estadual ou municipal fixar limites inferiores aos previstos na LRF para as dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito e concessão de garantias.

Quando se tratar de Município com população inferior a cinquenta mil habitantes, este poderá optar por verificar o cumprimento da despesa total com pessoal, bem como por apurar o montante da dívida consolidada de forma semestral, ao invés de seguir a regra geral (quadrimestral).

A União ficou obrigada a prestar assistência técnica e cooperação financeira aos Municípios para a modernização das respectivas administrações tributária, financeira, patrimonial e previdenciária, com vistas ao cumprimento das normas da LRF.

Os prazos de adequação de dois quadrimestres para o ente que ultrapassou o limite com despesa de pessoal ou de três quadrimestres para aquele que infringiu o limite com dívida consolidada serão duplicados no caso de crescimento real baixo ou negativo do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, regional ou estadual por período igual ou superior a quatro trimestres, sendo entendido por baixo crescimento a taxa de variação real acumulada do Produto Interno Bruto inferior a 1% (um por cento), no período correspondente aos quatro últimos trimestres. Por sua vez, a taxa de variação será a apurada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ou outro órgão que vier a substituí-la, adotada a mesma metodologia para apuração dos PIB nacional, estadual e regional.

Page 30: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

58

Crime de responsabilidade

De acordo com o artigo 73 da LRF, o comportamento infrator da Lei de Responsabilidade Fiscal pode ser punido no âmbito criminal, com base no Código Penal, na Lei n° 1.0709/50 (trata do crime de responsabilidade), no Decreto-Lei n° 201/67 (trata do crime de responsabilidade de Prefeitos e Vereadores), e na Lei n° 8.429/92 (improbidade administrativa).

Segundo o artigo 73-A, qualquer cidadão possui legitimidade para reclamar junto ao Tribunal de Contas ou ao Ministério Público qualquer descumprimento da LRF.

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

59

Page 31: CONTABILIDADE P BLICA (1))€¦ · CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR 2 CONTABILIDADEPÚBLICA É o ramo da ciência contábil que destina, no processo gerador de informações,

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANGÉLICO, João. Contabilidade pública. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1995.

ANDRADE, Nilton de Aquino. Contabilidade pública na gestão municipal. São Paulo: Atlas, 2002.

BRASIL. Lei n.4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.

______. Decreto-Lei n. 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências.

______. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.

______. Decreto n. 93.872, de 23 de dezembro de 1986. Dispõe sobre a unificação dos recursos de caixa do Tesouro Nacional, atualiza e consolida a legislação pertinente e dá outras providências.

______. Constituição República Federativa do Brasil de 1988

______. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências.

______. Decreto n. 3.589, de 6 de setembro de 2000. Dispõe sobre o Sistema de Contabilidade Federal e dá outras providências.

______. Lei n. 10.180, de 6 de fevereiro de 2001. Organiza e disciplina os Sistemas de Planejamento e de Orçamento Federal, de Administração Financeira Federal, de Contabilidade Federal e de Controle Interno do Poder Executivo Federal, e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 22 out. 2010.

______. Portaria Interministerial n. 163, de 4 de maio de 2001. Dispõe sobre normas gerais de consolidação das Contas Públicas no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, e dá outras providências.

______. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Orçamento Federal. Manual técnico de orçamento MTO. Versão 2009. Brasília, 2008.

______. Resolução CFC n. 1.133, de 21 de novembro de 2008. Aprova a NBC T 16.6 - Demonstrações Contábeis.

ASSIS, Câmara Municipal. <http://www.assis.sp.leg.br/>

CONTABILIDADE PÚBLICA PROF. FABIO JR

61

GIACOMONI, James. Orçamento Público. São Paulo, ed. Atlas, 2007. HOUAISS. Instituto Antônio Houaiss. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão monousuário, 3.0. CD-ROM. Objetiva: junho de 2009

KOHAMA, Hélio. Balanços públicos. São Paulo: Atlas, 1999.

______. Contabilidade Pública: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2006. LACOMBE, Francisco José Masset. Dicionário de negócios: mais de 6.000 termos em inglês e português. São Paulo: Saraiva, 2009.

MANUAL DE DESPESA NACIONAL (Brasil). Portaria Conjunta STN/ SOF n. 3, de 2008. Aplicado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a partir da elaboração e execução da Lei Orçamentária de 2009.

MANUAL DE RECEITA NACIONAL (Brasil). Portaria Conjunta STN/SOF n. 3, de 2008. Aplicado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a partir da elaboração e execução da Lei Orçamentária de 2009.

MINISTÉRIO DA FAZENDA. Portaria n. 136, de 6 de março de 2007. Cria o Grupo Técnico de Padronização de Procedimentos Contábeis, dispondo sobre sua composição e funcionamento.

MOTA, Francisco Glauber Lima. Contabilidade Aplicada ao Setor Público. Brasília: autor-editor, 2009.

SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL (Brasil). Manual Técnico de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, Volume I, Manual de Receita Nacional, 2009.

SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL (Brasil) Manual Técnico de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, Volume I, Manual de Despesa Nacional, 2009.

SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL (Brasil). Manual Técnico de Demonstrativos Fiscais, Volumes I e II, 2009.

SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL (Brasil). Manual Técnico de Demonstrativos Fiscais, Volume I, Anexo de Riscos Fiscais e Anexo de Metas Fiscais, 2009.

SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL (Brasil). Manual Técnico de Demonstrativos Fiscais, Volume III, Relatório de Gestão Fiscal, 2009.

SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL (Brasil) . Manual de Demonstrações Contábeis Nacional: Aplicado à União, Estados, Distrito Federal e Municípios. 1 ed. Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, Coordenação-Geral de Contabilidade, 2009.

SILVA, Lino Martins. Contabilidade Governamental: Um Enfoque Administrativo. São Paulo: Atlas, 2004.SILVA, Jair Cândido da. Lei n. 4.320/64 Comentada. Brasília: Thesaurus, 2007.