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A situação real em Angola Estudo sobre “Experiências da prevenção da transmissão do HIV de Mãe para Filho”

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A situação real em Angola

Estudo sobre“Experiências da prevenção

da transmissão do HIV de

Mãe para Filho”

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Estudo sobre“Experiências da prevenção da transmissão

do HIV de Mãe para Filho”

A situação real em Angola

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NDICE

Prefácio iii

Reconhecimento iv

Sobre Angola v

O contexto do HIV em Angola 1

Situação do Programa de Prevenção da Transmissão Vertical 2

Metodologia e objectivos do estudo 6

Perfil das entrevistas 7

Constatações 8

Principais desafios do PPTV 10

Recomendações 11

Bibliografia 12

Depoimentos 13

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Prefácio

A Panos Southern Africa (PSAf) gostaria de manifestar a sua satisfação por poder apresentar A Voz dasMulheres no MPTCT em Angola.

A PSAf reconhece que tem havido esforços significativos para reduzir a transmissão do HIV da mãe parao bebé e que progressos assinaláveis têm sido feitos. Contudo, ainda permanecem vários outros desafios relacionados com questões de género, crenças culturais e outros factores sócio-económicos que impedemas mulheres de acederem aos serviços PMTCT. Por forma a garantir que os programas do PMTCT tomamem consideração as vozes e preocupações das pessoas às quais os serviços são destinados, a PSAFencomendou este relatório para ouvir a partir das vozes das mulheres que, ou não conseguiram acederaos serviços do PMTCT, ou que usaram com sucesso os serviços do PMTCT.

Na sequência desta documentação, falhas nas políticas de resposta, provisão e adesão aos serviços,assim como a resposta dos mídia ao PMTCT foram identificados e feitas recomendações para a suamelhoria.

Ao analisar a efectividade dos serviços PMTCT em Angola, um nó de estrangulamento chave que foiidentificado, é o facto de a maioria das utilizadoras terem uma renda baixa ou não terem nenhuma o quetorna difícil para as mães poderem custear alimentação alternativa para os seus bebés, assim como oscustos de transporte para os centros de saúde que em muitos casos localizam-se distante dos locaisonde residem. Enquanto o Ministério da Assistência é Reinsersão Social Apoio tem um programa deapoio nutricional no qual suplementos alimentares tais como leite e papas são distribuídos às mãesseropositivas, ele não é amplamente divulgado em todas as províncias.

Estes problemas são agravados pela falta de informação e a falta de canais efectivos de comunicaçãoque possam ser usados pelos cidadãos para comunicar com os decisores.

Factores culturais também continuam a ter uma grande influência nos casos de descontinuação dosserviços e mesmo a recusa das mulheres grávidas em submeter-se ao programa PMTCT. O outro desafioé de que muitas mães seropositivas dão à luz em casa com a ajuda das parteiras tradicionais, o que tornadifícil prevenir a transmissão vertical.

É esperança da PSAf de que, esta publicação – A Voz das Mulheres no PMTCT em Angola – vai percorrerum longo caminho e estimular o diálogo em volta de questões do PMTCT e, eventualmente, promovera adesão aos serviços em Angola.

Bebés HIV Negativas é um objective possível, vamos avança-lo.

Lilian ChigonaDirectora Executiva-PSAf.

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Reconhecimento

Este relatório foi encomendado e produzido pela Panos Southern Africa (PSAf) como parte do projectoComunicando a Prevenção do HIV na África Austral, financiado pela ASDI.

A PSAf acredita que as vozes das pessoas directamente afectadas pelas questões de desenvolvimentotêm o poder de conduzir o desenvolvimento através da sua influência sobre políticas de desenvolvimentoe respostas que são relevantes às suas necessidades. A PSAF espera que este conjunto de testemunhos percorrera um longo caminho e seja capaz de informar as respostas e políticas sobre PMTCT com oobjectivo de melhorar a adesão e acesso aos serviços.

A pesquisa e compilação deste relatório foram feitos por Suzana Mendes e Mari Guedes, uma consultorasindependentes em Angola, em nome da Panos Southern Africa.

A PSAf gostaria de agradecer a todas as mulheres que partilharam os seus testemunhos torrnando assimpossível este relatório.

Esta pesquisa, compilação e publicação só’foi possível com o apoio do Fundo da SADC para HIV e SIDA.

Para mais informações e para solicitar cópias, por favor contactar:

Panos Institute Southern AfricaPlot 9028 Buluwe Road, WoodlandsP. O Box 39163, Lusaka, ZambiaTel: +260-211-263258Fax: +260-211-261039Email: [email protected]: www.panos.org.zm© Panos Institute Southern Africa 2012

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Sobre Angola

Situada na região sul de África, Angola é dos maiores países do continente, com uma extensão de1.246.700km2. Com 18 províncias, estima-se que tenha uma população de 19 milhões de habitantes,dados que precisam ser confirmados pelo facto de não existir um senso populacional actualizado, sendoque o último foi realizado na década de 70, antes da independência nacional.

No plano económico, o País tem bons indicadores. As reservas internacionais líquidas do país subiramem 2010 do equivalente a 12 mil e 600 milhões para cerca de 17 mil e 500 milhões de dólares e situavam-se em fins de Junho de 2011 em 21 mil e 400 milhões, o que representa um incremento de 23,6 por centodesde o início do ano. Entretanto, a maior fonte de receita do País é a venda de petróleo o petróleo bruto,que é a principal fonte do Orçamento Geral do Estado, contribuindo em mais de 80 por cento para areceita fiscal.

Apesar destes avanços, o sector informal continua a ter forte influência sobre a economia angolana, pois,por falta de emprego, milhares de cidadãos opta por comercializar produtos em mercados paralelos.Apesar de todos os avanços no plano económico, continua a existir uma grande assimetria na distribuiçãoda riqueza, sendo que grande parte da população, estima-se que mais de 40%, vive na pobreza extrema.

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O contexto do HIV em Angola

Em Angola, segundo dados do Ministério da Saúde, o primeiro caso de HIV foi diagnosticado em 1986.Passados vários anos, nesta altura, a taxa de prevalência do VIH/Sida em Angola é estável e estima-seque se manterá inferior a 3%, segundo a Directora do Instituto Nacional da Luta Contra a Sida, DulcelinaSerrano1. Na altura, a mesma referiu que tais dados baseiam-se em projecções e tendências feitas combase em estudos em populações consideradas vulneráveis, o último dos quais feito ocorreu em 2009.

Entretanto, na análise destes dados importa realçar que não existe um senso populacional actualizadoem Angola, o que impede que se tenha uma ideia real do número de casos. Por outro lado, muitoscidadãos têm receio de submeter-se ao teste de HIV, com receio de saberem o seu estado serológico.

De acordo com a mesma fonte, foram diagnosticados de 1985 até Maio de 2011, pouco mais de 80 milcasos, cerca de 60 mil das quais estão em acompanhamento médico, advertindo serem númerosaproximados.2 Ainda com base nestas projecções, a fonte estima que o país tem também uma incidência(novos casos) baixa da doença, que ronda uma média de aproximadamente duas mil infecções por ano.“Estas projecções têm sido comparadas com a informação dos nossos relatórios de rotina que sãoconcordantes”, explicou Dulcelina Serrano.

Os hospitais angolanos, com suporte do Ministério da Saúde, fazem a distribuição gratuita dos antiretrovirais,bem como disponibilizam testes, aos quais os cidadãos podem aderir de forma voluntária. Contudo, aolongo deste trabalho, de acordo com testemunhos de utentes e técnicos de saúde, constatamos que,em algumas unidades, tem faltado reagentes para os testes (mas tal não se regista por um longo períodode tempo).

Nesta altura, o número de centros de aconselhamento e testagem do VIH passou de oito em 2003 para547 em 2010. Também os centros de prevenção da transmissão vertical do vírus passaram de 3 em 2004para 200 em 2010 e os centros de tratamento com anti-retrovirais em adultos e crianças passaram de 3em 2004 para 133 em 2010. Estes centros acompanham 80.127 adultos e crianças, dos quais 41.371com tratamentos de anti-retrovirais.3

Para que todos estes ganhos em saúde sejam sustentáveis, o Executivo tem procurado priorizar aimplementação efectiva das políticas públicas ao nível dos municípios, com a melhoria do saneamentobásico, da segurança alimentar, da oferta de água potável, da redução da mortalidade materna e infantil,do controlo das grandes endemias e de algumas doenças não transmissíveis. Paralelamente, vai reforçara rede hospitalar numa perspectiva de integração regional.4

1 Entrevista concedida à ANGOP em Julho de 2011.2 Idem.3 Dados divulgados pelo Presidente da República, no discurso sobre o estado da nação em Outubro de 2011.4 Idem.

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Situação do Programa de Prevenção da TransmissãoVertical

Em Angola, segundo a Directora-Geral Adjunta do Instituto de Luta contra o SIDA, Lúcia Furtado, oPrograma de Prevenção da Transmissão Vertical (PPTV) do VIH-SIDA existe desde 2004. Em 2003 foi afase preparatória, em que foi implementado o projecto-piloto em Luanda. Em 2004, além de Luanda,entraram mais duas províncias no programa, nomeadamente Cabinda, Huila e Benguela. “Em 2005expandimos estes serviços para as capitais províncias. Em 2007 expandimos para as capitais municipais.Em 2008 foram abrangidas mais unidades de saúde. Só para ter uma ideia, em 2003 começamos esteprojecto em três unidades hospitalares e até o primeiro semestre de 2011 estávamos com 200 unidades.Inicialmente, o Instituto de Luta contra a SIDA tinha a responsabilidade de fazer as formações, aimplementação e até mesmo a monitoria do programa e, segundo dados da instituição, foram formadoscerca de 300 técnicos de saúde, médicos e enfermeiros. Nesta altura, existem núcleos provinciais, queacompanham o trabalho nas respectivas áreas”, revelou a mesma fonte.

Até Novembro de 2011, segundo Lúcia Furtado, mil trezentos e setenta e duas mulheres grávidas estavama ser assistidas no PPTV.

Desde 2004 que, para as mulheres grávidas, nas consultas de pré natal, além dos exames de rotina paraver a hemoglobina, glicemia, e malária, foi adicionado o teste de VIH-SIDA. Caso seja positivo, explicouLúcia Furtado, ela é encaminhada para o PPTV. No programa, ela é vista numa primeira fase por médicos.Depois, são solicitados outros exames para saber se ela vai fazer somente a prevenção ou a terapia comanti-retrovirais durante a gravidez, dependendo das chamadas análise de CD4, quer dizer, se ela vaiutilizar os anti-retrovirais até o parto ou mais quatro meses após o parto, se vai amamentar ou não ouse vai começar o tratamento e continuar para toda vida.

O facto de o teste de VIH ter sido incluído no rol de exames a serem feitos pelas mulheres grávidas foium grande passo para o rastreio da doença e acompanhamento das gestantes seropositivas, conformeconstatamos ao longo do estudo. A importância do procedimento é acrescida porque muitas mulheresterem receio de submeterem-se ao teste, com receio de saberem o seu estado, o que leva a que só osaibam após a primeira consulta pré-natal.

“Descobri o meu estado há um ano, quando me engravidei, fui à consulta da gravidez com 6 meses,depois o médico mandou fazer o teste, deu positivo e comecei a fazer as consultas, as enfermeirasexplicam e nós cumprimos”, contou Emília Abel, de 41 anos.

Ao longo da pesquisa, a maior parte das entrevistadas afirmou ter tomado conhecimento do seu estadoserológico após as consultas pré natais. Entretanto, este processo, em muitos dos casos, não é inclusivono que toca a família, porque há relatos de casos em que os parceiros negam-se a submeter-se ao testee, consequentemente, a fazer o devido tratamento.

“O meu marido, a primeira vez que lhe levei, estava saudável, mandaram voltar depois de três meses,ele até agora não aceita voltar, ele gosta muito de beber e, às vezes, nós fizemos relação sem se prevenir,

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eu lhe peço para se prevenir e voltar lá, para fazer o teste, mas ele só diz ta bom, quando peço para irpicar fica chateado”, contou-nos Cremilda Baptista, de 22 anos.

Outra inquirida realçou que o facto de ter descoberto o seu estado serológico levou ao fim do seucasamento. “…Foi aí que explicou-me que o meu teste tinha dado positivo e que eu tinha que fazer oPTV até o nascimento do meu filho, para evitar que ele viesse infectado. Comecei a fazer o PTV com 5meses de gravidez, fazia toda a medicação, quando fiz o teste estava muito abalada, contei ao pai domeu filho, que me proibiu a contar às pessoas, nem a minha mãe ou aos meus irmãos, ele pegou o papeldo teste e rasgou, para que ninguém soubesse mas quando voltei para o hospital havia necessidade deincluir o resultado do teste no cartão, tive que repetir e voltou a dar positivo. Não tinha com quem dividiro problema. Ele teve uns problemas com a minha mãe e desapareceu, então, eu tive que cuidar dagravidez sozinha”, contou Paula José, 28 anos.

Nas maternidades, antes e durante o parto, segundo o Instituto Nacional de Luta contra o SIDA, otratamento é feito mediante um protocolo estabelecido, baptizado de “AZT”. O tratamento continua apóso parto para atenuar a passagem do vírus dela para o seu bebé. O bebé faz uma profilaxia e passa autilizar anti-retroviral em xarope e batrim, para prevenir as infecções oportunistas. Se a grávida optar poramamentar o bebé, por não ter condições de utilizar a alimentação artificial, segundo o referido protocolo,ela vai continuar a usar anti-retrovirais, até os quatro ou seis meses. Neste caso, acriança, que é chamada“exposta”, é seguida até aos oito meses ou na pediatria ou no programa, dependendo da organizaçãode cada serviço. Mais tarde são realizados testes rápidos aos oito meses, aos 12 e 18 meses, se fornegativo a criança deixa de ser submetida a tratamento específico e recebe o diagnóstico definitivo. Sefor positivo, é encaminhada para as consultas de pediatria para seguimento.

Neste momento, segundo dados do programa, já existe a possibilidade de liberar a criança mais cedo,fazendo o teste durante 45 dias depois do nascimento e dando um diagnóstico definitivo. Contudo, peloque observamos, ta l serv iço está disponível em poucas unidades hospita lares.Outra inovação que está a ser preparada no âmbito do programa nacional visa melhorar a capacidadedos enfermeiros para fazer o seguimento dos casos.

“Temos notado uma redução na adesão das grávidas ao PPTV. A verdade é que neste momento a adesãoestá a volta dos 50 porcento, já tivemos uma adesão de cerca de 80 porcento. O ano passado foi de 60porcento, no primeiro semestre deste ano estava em cerca de 50 porcento. Temos que fazer um estudopara saber os factores que levam a esta redução”, realçou a Directora-Adjunta do Instituto de Luta contraa SIDA.

As desistências são outras das grandes preocupações, o que, segundo algumas utentes, se deve aofacto de ainda enfrentarem discriminação em alguns postos de saúde e, principalmente, por violação dosigilo em relação ao estado do doente, o que faz com que muitas desistam com receio de verem a suasituação exposta perante familiares e amigos.

“Tivemos um caso, quando trabalhamos no centro do Asa branca, em que uma das senhoras que trabalhana associação (Rede Mwenho), depois de fazer o teste, um dos técnicos, que era vizinho dela (a senhoravendia em casa, fazendo sopas e almoços), o técnico de saúde, depois de ver o resultado, saiu e foi aobairro espalhar que a senhora era seropositiva. Fomos ao hospital, chamamos a direcção, porque atéfizemos um trabalho com os enfermeiros sobre estigma e descriminação, então, nós dissemos que sevoltasse a acontecer não pararíamos por aí, levaríamos o caso até as últimas consequências e eles

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compreenderam e repreenderam o funcionário. Entretanto, ela passou a sofrer discriminação no bairroe os vizinhos deixaram de tomar a sopa na casa dela e ela teve de parar com o negócio”, relatou RosaPedro, da rede Mwenho.

Existem ainda casos comprovados, em que as utentes sofrem discriminação no momento do parto, nãohavendo, até aqui, um mecanismo eficaz de responsabilização dos funcionários que procedem de talforma.

“…pouca sorte essa minha, fui ter o bebé, fui a maternidade grande e lá me atenderam mal, me fizerampouco, cheguei lá, não tinha dor mas a bolsa já tinha rebentado, mandaram sentar mas eu disse que nãopodia sentar porque o meu caso era outro, como havia muita gente, não queria me expor, depois deinsistir para ele ver o cartão, ele me mandou entrar, me fizeram esperar muito tempo e eu já tinha medoque a bebé entrasse em sofrimento, falei com a enfermeira e ela disse que já sabia que eu era do programa,como não entendia essa expressão, pensei que ela estivesse a me ofender, eu estava sempre atrás delase elas não me punham no soro, diziam que ainda não chegou a hora, mas eu disse que nos Cajueiros,assim que cheguei me meteram logo no soro, saí da minha casa as 16horas, mas só me meteram no soroas 22h e elas, na altura me disseram: “se quiseres pegar nas tuas coisas e ir embora, podes ir”, eu tiveque ficar calma. O segundo grupo que entrou foi mais compreensível, falei com uma das doutoras, meaplicou o soro, depois o outro e só no dia seguinte tive essa bebé, está a fazer o tratamento, só depoisde nove meses é que vamos saber se está saudável”, contou-nos a jovem Cremilda Baptista, de 22 anos.O relato acima, similar a muitos outros, mostra que, apesar da estratégia montada pelo executivo angolanoe do aumento do número de maternidades e hospitais especializados, muitos dos profissionais de saúdecontinuam a prestar um mau serviço aos utentes, o que se agrava para as parturientes seropositivas.Ao analisarmos a eficácia do serviço de PPTV em Angola identificamos que um dos pontos deestrangulamento principal é o facto de grande parte dos utentes ser de baixa renda e não haver, a níveldo executivo, um serviço social abrangente, que possa permitir que as mães sem possibilidades de ofazer possam receber leite e outros alimentos, para darem aos seus filhos menores, bem como apoio parase deslocarem aos postos de saúde, que, em muitos casos, estão longe dos bairros onde residem.Segundo apurámos, o Ministério da Assistência é Reinsersão Social tem um serviço de distribuição deleite e papas as mães seropositivas que, entretanto, não é amplamente divulgado e que sequer funcionaem todas províncias do país.

Nos casos de mães portadoras de HIV, com crianças em idade de tomarem leite artificial e outros alimentos,mas que não têm possibilidade de comprar, acabam por amamentar os filhos, mesmo sabendo do riscode contágio.

Todos estes problemas são agravados pelo défice na informação divulgada sobre o programa de cortede transmissão vertical, tanto por parte das autoridades responsáveis como dos meios de comunicaçãosocial, o que faz com que dificulte o acesso ao sistema.

Os factores culturais também continuam a ter forte influência nos casos de desistência do serviço emesmo de negação, por parte das gestantes, em submeterem-se ao PPTV. É que muitas das mãesseropositivas fazem o parto em casa, com ajuda de parteiras tradicionais (sem possibilidade de fazeremo corte de transmissão vertical), por outro lado, continuam a acreditar que submetendo-se a tratamentostradicionais podem ser curadas do HIV e terem filhos saudáveis.

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“Antes desta filha saudável, tive um filho, em 2009, que morreu nos meus braços porque segui a leva dotratamento tradicional e não procurei o hospital. Quando tive dores de parto do meu primeiro fui a umavizinha, para fazer o parto, ela pisou umas folhas e disse-me que o bebé não iria vai contrair a doença,eu dei de mamar normalmente, o bebé não fez 6 meses, acabou por morrer nos meus braços. Depois,quando voltei ao hospital fiquei bem informada e, se tivesse que voltar atrás, voltaria”.

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Metodologia e objectivos do estudo

O objectivo principal do trabalho é avaliar a resposta do PPTV em Angola, a fim de estabelecer o statusda resposta, as abordagens actuais, cobertura mediática, os desafios e lacunas, a fim de formularrecomendações que possam auxiliar na elaboração e melhoria da situação.

Por outro lado, em termos específicos a pesquisa visou:

• As respostas actuais no país, tanto de política e os níveis do programa;• Identificar os desafios e lacunas;• Estado de captação de serviço por parte das comunidades alvo e porquê (articular vozes das pessoas

locais)• Identificar relatórios sobre o assunto, incluindo os que foram publicados pela media;• Elaborar recomendações sobre como a resposta pode ser melhorada, com base nos testemunhos

ouvidos.

A metodologia de trabalho incluiu:

- Pesquisa bibliográfica.- Entrevistas semi-estruturadas.- Pesquisa de literatura existente.- Recolha de testemunhos orais.

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Perfil das entrevistas

Para o presente estudo foram feitas 20 entrevistas válidas. Foram ouvidas mulheres, com idadescompreendidas entre os 22 e os 54 anos, 99% das quais moradoras de distintos municípios de Luandae 1% do Lubango.

Das inquiridas, 5 declararam ter descoberto o seu estado serológico depois de terem adoecido muito, 7descobriram que eram seropositivas após as consultas pré natais, 1 porque o bebé adoeceu muito e foisubmetido a teste.

Importa realçar que das inquiridas, 3 declararam estar desempregadas e a maior parte diz enfrentardificuldades para garantir o seu sustento.

A maior parte das inquiridas vive maritalmente, mas, algumas declararam que têm problemas conjugaisem função do seu estado serológico.

Dentre as inquiridas consta também uma avó que ficou com a responsabilidade de cuidar da netaseropositiva, de uma médica que trabalha para este serviço bem como de um esposo que tem acompanhadoo tratamento da esposa, que foram ouvidos para dar uma ideia mais ampla da situação no nosso país.

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Constatações

- Em Angola funciona o Programa de Prevenção da Transmissão Vertical (PPTV), através do qual mãesportadoras de HIV têm direito a atendimento gratuito. Nos hospitais de referência os utentes têm acessoa médicos especialistas e psicólogos, o que é crucial nos casos mais dramáticos, em que as vítimasficam desesperadas e com pensamentos suicidas. Através do acompanhamento psicológico e degrupos de inter-ajuda (compostos por pessoas afectadas pela doença), estas pessoas passam a aceitaro seu estado serológico e recuperam a vontade de viver.

- Para os casos das crianças diagnosticadas como sendo seropositivas, os hospitais pediátricos do paísoferecem assistência médica adequada, sendo que o tratamento deve obdecer a um protocoloestabelecido. Entretanto, a qualidade dos serviços prestados não é a mesma em todos os pontos dopaís.

- A falta de informação e de campanhas intensivas de sensibilização funciona como barreira, que impedeque muitas mulheres tenham acesso aos serviços prestados.

- Apesar do esforço do Governo para dar o devido tratamento aos portadores de HIV, particularmenteas grávidas, continuam a verificar-se casos graves de discriminação, praticada por profissionais desaúde. Na maior parte dos casos, os autores dos abusos não são sancionados, porque, as vítimas, pornão conhecerem os seus direitos ou mesmo com receio da estigmatização, preferem não denunciar etambém devido a morosidade processual e incapacidade financeira de pagar as custas judiciais.

- Por falta de uma articulação entre as diferentes instituições públicas que devem intervir na prevençãoe suporte aos portadores, a implementação do PPTV tem registado falhas, particularmente noacompanhamento das mães e crianças após o parto. Por exemplo, muitas das mães portadores deHIV, ouvidas pelo estudo, reclamaram do facto de, após o parto, apesar de receberem das maternidadesum documento de transferência para uma unidade especializada no atendimento de pessoas portadorasde HIV, têm dificuldade em voltarem a ser atendidas no hospital de referência. Por outro lado, deveriahaver maior coordenação entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Assistência e Reinserção Social,para o apoio as famílias mais carentes e que precisam alimentar as crianças.

- A crença em tratamentos tradicionais é um dos factores leva a que muitas mulheres deixem de recorreraos postos de saúde, como espelham alguns testemunhos. “Antes desta filha saudável, tive um filho,em 2009, que morreu nos meus braços porque segui a leva do tratamento tradicional e não procurei ohospital. Quando tive dores de parto do meu primeiro fui a uma vizinha para fazer o parto, ela pisouumas folhas e disse-me que o bebé não iria vai contrair a doença, eu dei de mamar normalmente, obebé não fez 6 meses, acabou por morrer nos meus braços. Depois, quando voltei ao hospital fiqueibem informada e, se tivesse que voltar atrás, voltaria”, relata Sara Rosa, 23 anos.

A influência das crenças tradicionais no aumento da doença em Angola foi reconhecida pelo PlanoEstratégico Nacional para o Controlo das Infecções de Transmissão Sexual, de Angola (2006 a 2010),que, no que toca as “determinantes de natureza socio-comunitárias, para o aumento do número decontaminações refere “tabus e tradições sexuais” bem como “resistência ao uso de preservativo” comosendo uma das causas. O mesmo documento, no capítulo das estratégias gizadas, prevê “promover

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programas de prevenção para os grupos vulneráveis”, avançando como desafios “o desenvolvimentode acções de prevenção junto de parteiras e terapeutas tradicionais, repatriados e populações fronteiriças.

Apesar deste esforço que foi desenvolvido no período da vigência do referido Plano, pelo profundoenraizamento das crenças tradicionais, é necessário que o trabalho de sensibilização continue, conjugadocom o aumento da oferta de serviços de saúde nas zonas rurais.

- A situação de pobreza extrema em que vive grande parte da população angolana, incluindo muitos dosportadores de HIV, é um factor que condiciona o acesso ao PPTV, pois, muitas mães, por falta derecursos, deixam de recorrer aos serviços prestados e até mesmo de cumprir as recomendaçõesmédicas. “É preciso reforçar a formação e sensibilizar os médicos para um melhor atendimento asgestantes seropositivas. A pobreza é um factor que contribui para o insucesso de alguns tratamentos,muitas mães, mesmo sabendo que não podem amamentar, acabam por faze-lo por não terem dinheirosuficiente para comprar leite para dar ao filho. Seria bom se existisse uma organização que pudessedoar leite a essas pessoas, que não podem dar de mamar ou uma lei que garantisse as pessoasportadoras do VIH, com uma doação mensal, até que bebé tivesse em idade de ser desmamado ouse estas mães tivessem garantia de emprego”, explica Maria Paula Ventura, 31 anos

- A discriminação dos portadores de HIV em Angola continua a ser uma constante, sendo praticada, emmuitos casos, por técnicos de saúde, o que choca com o disposto na Lei 08/04, que estabelece no 3ºartigo “a responsabilidade do Estado” no que toca ao combate a doença e assistência aos infectados,artigo 5, que fala dos “direitos das pessoas seropositivas” e o artigo 12, sobre a “confidencialidade”.Esta situação é agravada no caso de parturientes seropositivas. “Apesar de todo trabalho, há casosde mães que desistem por causa do comportamento de algumas enfermeiras, que as tratam mal”,realçou uma das inquiridas.

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Principais desafios do PPTV

- Ao longo do estudo ficou evidenciado que um dos desafios principais que o PPTV tem, apesar de todoo trabalho que está a ser feito pelo Estado e por organizações da sociedade civil para sensibilizar asociedade sobre o problema, reside na sua própria divulgação, pois, apesar do tempo de funcionamento,muitas pessoas continuam a desconhecer os postos de atendimento e os seus benefícios.

- Aumentar o índice de adesão ao PPTV, que em 2011 baixou para 60%, através de campanhas mediáticasde sensibilização (incluindo conteúdos em línguas locais) e melhoramento do serviço prestado.

- Por outro lado, a articulação entre os principais actores estatais cujo trabalho incide sobre o programaé outro dos desafios, que, caso não venha a ser alcançado, poderá diminuir o impacto do trabalho feito.

- Identificar as práticas tradicionais que influenciam negativamente na adesão dos cidadãos ao PPTV edesenvolver acções concretas para combater este fenómeno.

Finalmente, na elaboração da política de actuação do PPTV, as pessoas vivendo com HIV deverão sermais ouvidas e as suas recomendações levadas em conta, para que os planos traçados possam ir deencontro as necessidades reais.

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Recomendações

- O Governo deve criar condições para que o serviço prestado, através do PPTV seja uniforme, em termosde qualidade, em todos pontos do país.

- Os profissionais envolvidos no PPTV devem ser alvo de campanhas de sensibilização e sessões deformação no sentido de melhorarem o serviço que prestam.

- Os médicos e enfermeiros que quebrarem o sigilo em relação ao estado serológico dos doentes devemser punidos à luz do artigo 13, da Lei 8/04 (sobre HIV).

- O Estado deve criar um mecanismo para apoiar o sustento de crianças cujas mães e pais carentes sãoportadores de HIV.

- As organizações da sociedade civil devem reforçar a abordagem dos problemas em torno do HIV eimplementar mais projectos que visem combater o avanço da doença.

- Os órgãos de comunicação massiva precisam aumentar o número e a qualidade das matérias sobre oVIH, particularmente divulgando o PPTV.

- As redes de pessoas vivendo com HIV, enquanto associações de base, devem ser reforçadas e apoiadas,por serem organizações que fazem o contacto diário com as pessoas portadoras de HIV.

- Deve ser feito um estudo sobre o impacto das crenças tradicionais nas pessoas portadoras de HIV,particularmente na adesão ao PPTV.

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Bibliografia

- Lei nº 8/04, 2004.

- Plano Estratégico Nacional para o controlo das infecções de Transmissão Sexual, VIH, SIDA, 2003-2008.

- Plano Estratégico Nacional para o Controlo das Infecções de Transmissão Sexual (2006 a 2010)

- Portal www.portalangop.ao.

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Depoimentos

Sara Rosa, 23 anos de idade“Sou seropositiva mas a minha filha não”

Vivo no município de Viana, tenho uma filha e sou portadora do vírus HIV. A minha filha não é seropositivaporque fez o corte de transmissão vertical. Descobri que sou portadora do vírus por adoecer muito,sempre vivi na rua, como trabalhadora de sexo, fui ao hospital e descobri que tinha o vírus. Fugi dohospital e me afastei das outras pessoas, por frustração, por não ter uma família que me acolhesse.Depois de muito tempo na rua, voltei ao hospital porque já estava muito mal, passei pelo aconselhamento,comecei a fazer o tratamento com retrovirais. Descobri que estava grávida dois meses depois. O meumédico, no Hospital Esperança, disse-me que podia ter uma filha saudável. Eu tinha muitas perguntasa fazer, as minhas dúvidas foram esclarecidas pelo médico, que foi como um pai para mim. Comecei otratamento do corte, para evitar transmitir a doença para a criança. Durante o tratamento cheguei a fugirdo hospital e voltei para casa, dizendo que não valia a pena fazer o corte de transmissão vertical, poisnão entendia como eu podia ser seropositiva e a minha filha não. Os psicólogos da maternidade entraramem contacto comigo e conclui o tratamento. Tive um parto normal, correu bem, a minha filha está bem.Sou seropositiva mas a minha filha não. É difícil cumprir com o tratamento, mas com força de vontadeé possível. Fui atendida por várias enfermeiras, umas mais atenciosas do que as outras. A descriminaçãoestá em todo lado, até com os médicos, é difícil quando vais ao hospital e as pessoas apercebem-se queés portadora do HIV, mas graças a Deus tudo correu bem.

Nos primeiros meses de vida a minha filha fiz um tratamento com xarope, chamado AZT, depois mudoude medicação e o médico recomendou-me que um ano depois a bebé deveria fazer um teste, paracomprovar se estava saudável e ela está muito bem e não faz nenhuma medicação contra o HIV.

Às outras mães, chamo atenção que é importante que as pessoas façam a diferença em relação ao vírusdo VIH. Muitas pessoas continuam a optar pelo parto em casa, se for uma mãe saudável tudo bem, masse for uma mãe com VIH, não aconselho ninguém a fazer. Há famílias que levam ao tratamento tradicionalporque há um medicamento tradicional que vai fazer com que a minha filha nasça sem o vírus, isso émentira. Não há medicamento tradicional que livra o seu filho de nascer sem o VIH, só mesmo um médicoou o corte vertical é que livra a tua filha ou filho de ter o vírus. Falo isso por experiência própria. Antesdesta filha saudável, tive um filho, em 2009, que morreu nos meus braços porque segui a leva dotratamento tradicional e não procurei o hospital. Quando tive dores de parto do meu primeiro filitofui a uma vizinha para fazer o parto, ela pisou umas folhas e disse-me que o bebe não iria vaicontrair a doença, eu dei de mamar normalmente, o bebé não fez 6 meses, acabou por morrer nosmeus braços. Depois, quando voltei ao hospital fiquei bem informada e, se tivesse que voltar atrás,voltaria.

Eu estava grávida, já sabia que tinha o vírus mas não queria aceitar, não tinha vontade de viver, só sabiaque a SIDA mata eu já sabia que tinha VIH mas só me interessava passar o vírus a outras pessoas, apesarde alguma informação que eu tinha e de, naquela altura, estava a ser acompanhada por um médico. Ofacto de não aceitar a doença impediu-me de fazer o tratamento. O meu apelo é que as pessoas optem

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mesmo por ir ao hospital. Para aqueles que acham que o mundo acabou, não pensem assim porque omédico vai saber aconselha-la e trata-la correctamente.

Teresa Brito da Costa, 33 anos de idade“A pobreza contribui para o insucesso de alguns tratamentos”

“Vivo maritalmente, no Município do Kilamba Kiaxi, Calemba II, pertenço a Rede Mwenho, que reúnemulheres portadoras de HIV. Nós trabalhamos com pessoas que são portadoras de VIH e também comas que não são, por isso é que nós chamamos afectados e infectados. Infectados são aquelas quedescobriram o seu estado serológico positivo e afectados são aquelas que sentem-se próximas, vivemcom o vírus no coração. A nossa missão como uma rede de mulheres vivendo com o VIH, é de melhorara vida das pessoas que vivem com o vírus. Temos uma parceria com o Instituto Nacional de Luta Contrao VIH e o Ministério da Saúde, o que nos dá a possibilidade de sabermos dos programas sobre CTV eposso dizer que as maternidades, a nível do País, fazem muita prevenção, temos acompanhado todoprocesso, desde o pré teste até ao momento em que o bebé nasce. Em 2010 trabalhamos pelo Municípiodo Sambizanga, na maternidade Augusto Ngangula, trabalhamos também no centro de saúde doSambizanga, também no Cazenga, no centro de saúde do Hoji-ya-Henha, assim como no Palanca(Maternidade nova), A aplicação do programa de Corte de Transmissão Vertical do HIV tem sido positivo,porque temos crianças, filhas de mães portadoras, que nasceram sem a presença do vírus e quecontinuamos a acompanhar até aqui, para saber como a criança está. Este processo não é fácil porquealgumas mães fogem, então, nós vamos lá, damos palestras, falamos da importância do teste na gravidez,da importância do CTV e esclarecemos a importância do tratamento do corte de transmissão vertical.

Logo que a mãe, na consulta pré natal, descobre que é seropositiva, ela começa logo com a medicaçãode anti-retrovirais. O parto de uma pessoa seropositiva deve ter um acompanhamento redobrado.

O que posso dizer que não funciona bem é, essencialmente, a demora nas consultas, no ano em quetrabalhamos nas maternidades vimos que havia mães com consultas marcadas mas que voltavam porqueo médico não aparecia e era sempre assim. Fazem exames de CD4, vêm para apresentar ao médico eo mesmo não aparece. É preciso reforçar a formação e sensibilizar os médicos os médicos para ummelhor atendimento às gestantes seropositivas.

A pobreza é um factor que contribui para o insucesso de alguns tratamentos, muitas mães, mesmosabendo que não podem amamentar, acabam por faze-lo por não terem dinheiro suficiente para comprarleite para dar ao filho. Seria bom se tivesse uma organização que pudesse doar leite a essas pessoas,que não podem dar de mamar ou uma lei que garantisse as pessoas portadoras do VIH, com uma doaçãomensal, até que bebé tivesse em idade de ser desmamado ou se estas mães tivessem garantia deemprego.

Maria Paula Ventura, 31 anos“Ter filhos saudáveis é um milagre”

“Sou do Lubango, vivo com o vírus do VIH há 12 anos. Descobri o meu estado em 2001, quando soubedo meu estado o caso era muito crítico porque não tinha sítio para fazer as consultas, mas depois, em2004, vim para Luanda e pedi patrocínio ao Valentim Amões, ele trimestralmente oferecia um voo parair a buscar as pessoas que viviam com o vírus do VIH para fazer tratamento em Luanda e aí fui tendo

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coragem. Considero as coisas normais, o que chateia um bocado são mesmo as consultas. Os meusdois filhos são saudáveis. Faço as minhas consultas no Lucrécia Paím, graças a Deus algumas Doutorasque nos consultam são muito boas, desde o primeiro dia que fui lá com a minha transferência, não tenhoqueixa, mas sei que outras grávidas se preocupam muito com o leite, para ver se o Governo cria umbanco de leite, seria bom que o governo olhasse por elas, para que, com um cartão, elas fossem paralá levantar o leite para os bebés.

O facto de ter filhos saudáveis, para mim, é um milagre. A primeira fiz com 18 anos e a segunda fiz com24, na segunda gravidez já não queria fazer a medicação mas alguém me aconselhou a continuar e merecordo de não ter feito o corte vertical, amamentei até aos 6 meses.

Não fazia medicação durante a gravidez, não tomei mesmo quando fiz o parto e dei de mamar normalmente,até 6 meses e digo aos meus colegas que não sei como isso foi possível, não dava de mamar a todahora, ela desmamou depois de 6 meses, ela esta aí, não se queixa de nada e está bem.

Estou grávida agora e é a única gravidez em que estou a fazer o corte de transmissão vertical.Decidi fazer porque já estou bem concentrada e antes também haviam pessoas que me descriminavammas também decidi me cuidar, por mim e pela minha família.

Já faço o tratamento com retrovirais deste 2004, em relação a gravidez vou continuar.

Eu não aceito que ninguém me discrimine no hospital, porque estou a ver coisas que acontecemnas associações e as experiencias que adquirimos, estou melhor preparada. Antes sim, mas eunão fazia confusão, ignorava dizendo “hoje sou eu, amanhã poderá ser outra pessoa”. Agora, possoentrar em qualquer sítio, falo da minha vida, nunca fui discriminada. Se acontecer no parto, essapessoa tem que ter cuidado, pode perder o emprego porque é trabalho dela atender bem as pessoas,se acontecer irei discutir porque não sou bicho, sou pessoa igual a ela.

Rosa Pedro, 41 anos“Se tivesse feito o tratamento acho que a minha filha estaria viva”

Vivo com VIH desde 2004, tenho 41 anos. Descobri porque fiquei muito tempo doente, venho a adoecerdesde 2000, então, em 2004, me deu uma herpes que me obrigou a fazer o teste do VIH e a partir daí,no final de 2004, comecei a fazer logo o tratamento. No fim do ano, em Novembro, comecei a fazer otratamento com os retrovirais, até hoje.

Tive dois partos, no primeiro não fiz porque não sabia e no segundo também. Isso foi em 2002 e essafilha morreu e acho que foi com SIDA porque quando nasceu correu bem mas durante a gravidez tivemuitos problemas de saúde e naquela altura ainda não haviam os serviços, embora tivesse começadoneste ano, não se fazia em todos os locais e eu não fiz. A minha filha nasceu com vários problemas desaúde e aos 9 meses foi apanhar a vacina de sarampo e morreu, daí fui descobrir, em 2004, que eraseropositiva e até hoje continuo a fazer o tratamento com anti-retro virais.

Se tivesse feito o tratamento com retrovirais, acho que a minha filha estaria viva.

O que me faltou naquela altura foi Informação, porque naquela altura ainda não se falava. Agora o teste

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quase que é obrigatório, a mulher chega ao centro, recebe logo aqueles exames obrigatórios, onde estáincluso também o teste do VIH, mas naquela altura não, tanto mais que eu tive várias infecções, ia paramaternidade, mostrava aquilo e ninguém sabia nada, nem conhecia nada, deram-me uma pomada, quandocoloquei piorou e acredito eu que naquela altura estava com uma infecção de transmissão sexual e acriança também nasceu com uma dessas infecções, porque mesmo pequena já coçava a vagina, então,infelizmente, não beneficiei deste serviço.

Pela experiência que tenho no acompanhamento de mulheres portadoras do VIH que beneficiam doserviço de CTV, em alguns casos, quando as enfermeiras já sabem a condição dela, de seropositiva, vãopassando a informação e aí a pessoa fica sentada, sem atenção nenhuma, ninguém lhe toca, ficam a daras voltas, com isso, faz com que algumas mulheres, quando vão à consulta, não levam o cartão, parapoderem ser atendidas em condições, mas nós conversamos com elas, aconselhamos, dizendo quedevem sempre falar, por causa da medicação que vão receber. Esse é um dos problemas que devemelhorar muito.

Tivemos um caso, quando trabalhamos no centro do Asa branca, em que uma das senhoras quetrabalha na associação (Rede Mwenho), depois de fazer o teste, um dos técnicos, que era vizinhodela (a senhora vendia em casa, fazendo sopas e almoços), o técnico de saúde, depois de ver oresultado, saiu e foi ao bairro espalhar que a senhora era seropositiva. Fomos ao hospital, chamamosa direcção do hospital porque até fizemos um trabalho com os enfermeiros sobre os estigmas dedescriminação, então nós dissemos que se voltasse a acontecer não havíamos de parar por ai,levaríamos o caso até as últimas consequências e eles compreenderam e repreenderam o funcionário.Entretanto, ela passou a sofrer discriminação no bairro e os vizinhos deixaram de tomar a sopana casa dela e ela teve de parar com o negócio.

No caso do serviço de corte de transmissão vertical, se a grávida faz as consultas no Maria Pia, quandoestiver grávida tem que ser transferida para a maternidade, depois de ter o bebé, a maternidade devetransferi-la outra vez para o hospital onde ela faz as consultas, isso está no protocolo, mas não se cumpre.Ela é que da as voltas e muitas vezes fica cansada e para de ir, quando chega ao hospital eles não aceitamsem ela trazer a transferência, por exemplo, a Divina providencia, que e muito regrada, não aceita e issotem criado muitas dificuldades nas mulheres.

Maria Manuela do Nascimento, 45 anos de idade“Há casos de mães que desistem”

Sou escriturária/dactilografa, também activista e conselheira. No programa do corte vertical há muitasmamãs que aderem a consulta e quando chega a hora do parto desaparecem, têm o bebé em casa ouantes de chegarem ao hospital entram em trabalho de parto pelo caminho e nós aconselhamos quequando estiver a sentir a dor, deve logo se dirigir ao hospital e algumas cumprem e conseguem fazer ocorte vertical.

Muitas mulheres estão a aderir ao tratamento, principalmente no Hospital dos Cajueiros, há um dia sópara grávidas, que é as segundas-feiras, consulta de grávidas com VIH e aconselhamento, por dia, emmédia, são atendidas trinta mulheres.

O meu trabalho é de aconselhamento, passar experiencia, explicando o que elas devem fazer sendo

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seropositivas, para não passar a doença às crianças O programa está estruturado, a mulher seropositivagrávida deve começar a fazer consulta mesmo que o CD4 esteja alto, na altura ela deve começar a fazera medicação, quando tiver o bebé, é que se faz o corte vertical, com um quite de soro, que ela devereceber umas horas antes de expulsar o bebé, para não transmitir a doença ao bebé.

Apesar de todo trabalho, há casos de mães que desistem por causa do comportamento de algumasenfermeiras, que as tratam mal. Por outro lado, há mulheres que fazem o corte durante a gestação, depois,acabam por contaminar o bebé porque elas não conseguem amamentar exclusivamente, por causa dosangue, às vezes têm feridas na ponta dos seios e devem parar e dar o biberão, algumas não conseguemo leite artificial, para dar a criança. A situação social das mulheres com que trabalhamos é muito baixa,por isso é a camada mais afectada, também é a que tem menos possibilidade de dar o leite ao bebé.Há casos de bebés infectados dessas mulheres. Temos o exemplo de uma menina de 18 anos, ela feza consulta no hospital e estávamos a dar acompanhamento ao caso dela, só que ela teve o bebé emcasa, foi para lá no dia seguinte, fiz tudo para arranjar o xarope para dar a bebé, que se deve dar até aos3 meses, todos os dias. Consegui ajudar, mas a menina chegou a falecer por não ter cumprido a 100%.

Nunca tive conhecimento de casos de falta de medicamento, mas na análise do CD4 sim, há falta dereagentes para testagem, principalmente nos Cajueiros.

Engrácia Maria José Congo, 40 anos de idade“Tenho um bebé doente por não ter feito o corte”

Apercebi-me que sou seropositiva na gravidez do meu bebé, que hoje tem 2 anos de idade, fiquei muitodesesperada mas fui atendida por uma Doutora que me apoiou muito e me deu muita força, só fiqueimais desesperada quando comecei a fazer a medicação, acho que tomei medicamentos errados, me deuuma alergia e fiquei com os lábios todos inflamados, depois deram-me alta e fui para casa, o meu maridoapercebeu-se que sou seropositiva, tive muitos problemas porque ele pensava que até o bebé, eraseropositivo, mas, graças a Deus, não. Tem agora dois anos, e comigo o grau do CD4 está razoável e aminha doutora diz que está bom e hoje tenho uma vida normal, quando me apercebi que era seropositivatinha um plano, que no dia que tivesse o bebé iria matar a criança e depois me matar também, não estavaa me ver a viver com esse problema. Tive o parto no Ngangula e havia uma parteira, cunhada, amiga defamília, eu expliquei a minha situação e ela me mostrou algumas pessoas, me mostrou pessoas que vivemcom a doença e me levou a sítios onde eu encontrava as pessoas a vontade e a beber e a conviver, dizia“tu não podes descair e só te cuidares não perderes noite, não beber álcool, não consumir gasosa, sómesmo sumos”. Eu ainda não estava conformada com a situação, ela foi me acompanhando, perguntandoas minhas irmãs como eu estava, depois eu me separei mesmo do meu marido, eu grávida, o meu maridome empurrou de uma cadeira, cai, comecei a ter sangramentos e eu dizia ainda bem que já estou comsangramento, o bebé vai morrer e eu vou me livrar disso, fui parar na maternidade Ngangula sem dorese tive o bebé. Tiveram que me injectar umas ampolas porque o bebé já estava a entrar em sofrimento,pronto a sair, mas eu não tinha dores. O bebé pesou 2 quilos, hoje é o filho querido do pai. O meu maridome fez pedido este ano, em Abril, e estamos a pensar nos casar próximo ano, mesmo com esse problema.O meu marido não é seropositivo, graças a Deus, ele faz sempre os exames, ainda ontem foi doar sanguea uma prima que está doente e ele está bom e gosta de abusar na cama sem casaco e já disse se tu tensdoença, então Deus que me salve e se tens eu também tenho e eu digo já que tu não tens e eu tenhose previna, o meu marido não aceita se prevenir.

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Sou mãe de cinco partos, faleceu um, neste momento tenho três rapazes e uma menina, 19, 17 e 14anos, a última é esta, que tem agora 2 anos.

Tomei o ZT, que tomo até hoje, teve um momento em que a Doutora mandou-me fazer 3 meses de pausaporque ela viu que o meu CD4 estava bom, neste momento também estou há dois meses sem fazer amedicação, fui fazer análise, na semana passada e a Doutora me disse que mantém.

Não amamentei, a partir da maternidade já me aconselharam a não amamentar, disseram-me “porquevocês gostam de dar água e provocar feridas na garganta da criança e com o leite contaminado podepassar a doença na criança”, por isso não amamentei, foi só biberão.

A criança é saudável, eu fiz todas consultas até os 6 meses na maternidade e ainda tem o cartão etambém teve apoio do MINARS, eu pedi ajuda na maternidade, deram-me um cartão e o meu bebé teveapoio para levantar leite até os 2 anos. Se for aquele bebezinho, tem direito a uma caixa ou duas de leiteNan1, eles dão Nan1 e 2, até o leite Nido quando o meu bebé tinha 1 ano já davam o leite Nido. Dão umalata de nido e dois saquinhos de fuba quando não dão a fuba dá dois pacotes de maisena, até dois anos,depois cortam o apoio e submete-se já a comida de casa, perde o apoio do MINARS e das outrasinstituições, tirando a Muenho, quando, às vezes, temos uma doação, a Rosa, como é já uma mãe paranós, liga para aparecermos.

Eu digo a quem hoje vive com esse problema que se sinta bem porque eu fiquei muito desesperadaquando descobri, pensava que para quem tem esse tipo de problema, acabou a vida mas não, é sóencontrar uma família que te apoia, na minha família a única pessoa que sabe que sou seropositiva é aminha irmã cassula e ela me cuida com todo carinho, nem posso me descuidar, ela me controla até parabeber uma cerveja, a minha irmã cassula para mim, hoje, é a mãe que eu perdi, me ajuda com leite esumos também me da muito apoio moral, toda mãe ou todo pai que tiver esse tipo de problema tem queter orgulho de viver. Não há coisa mais boa do que lutar para viver, é só crer e não procurar mais comoapanhaste, eu já peguei permanganato para se matar, queria me matar por causa dos dizeres do meumarido, qué chegava em casa e fazia confusão mas eu só tinha pena do meu bebé, tenho um único queé seropositivo, que até eu dei o meu nome, mas nesse bebé não fiz o corte vertical.

Maria Van-Dúnem, tenho 32 anos de idade“A parteira que me atendeu foi muito boa”

Tive uma bebé que adoecia muito, fazia todo tipo de análise e não acusava nada, ficamos internadas nohospital 3 meses, ela hoje teria 6 anos, morreu com 2 anos, comia as papinhas e resistiu, fomos a casa,só fez duas semanas, recaiu de novo, depois nos mandaram para o Maria Pia, fizeram análises na bebé,não acusou nada, depois fizeram o teste e deu positivo, disseram para o pai e a mãe também fizeram,o meu deu positivo, do meu esposo negativo, ali a bebé morreu e eu fiquei a fazer as minhas consultasnormalmente. A bebé adoeceu 6 meses, durante a gravidez fiz o teste e deu negativo, afinal já estavacontaminada e a minha filha nasceu portadora sem eu saber, o meu esposo me incentivou a ir fazerconsulta, eu não queria ir mas ele me levou ao Américo Boavida e eu continuei a fazer as minhas consultas,engravidei de novo, fiz a consulta e fiz o corte. O meu bebé tem 1 ano, foi depois de 3 anos. Engravideipor acaso, porque eu até nem faço sexo sem camisinha, eu acho que rebentou, porque até agora ficona dúvida como eu engravidei, aconteceu foi por acaso.

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Fui ter com a minha Doutora no Américo, expliquei, ela me deu uma transferência e me enviou para osCajueiros e lá fiz as consultas, quase no último mês me deram um cartão a dizer que eu sou do programa,quando fui para nascer entreguei o cartão, não fui com dor porque me disseram que no último mês nãopodia esperar ter as dores em casa, entreguei a carta, elas viram que eu sou do programa, disseram nãosai mais, fica aqui. A parteira que me atendeu foi muito boa, entrei as 10h e nasci as 15h fizeram o corte,ela usou uma caixa, um quite, preparou o equipamento, meteu o primeiro soro que foi rápido, o segundonasci com ele, dei a luz o bebé, está bom, nasceu com 3k e 250 gramas, deram um xarope para beberdurante 1 mês, voltei ao hospital, abri o processo dele, deram outra medicação para fazer durante 7meses, fiz o primeiro teste, deu negativo, nove meses fiz o segundo deu negativo, depois deram alta paraele tem um ano e dois meses.

Cremilda Marina Batista, 22 anos de idade“Tenho uma criança bem saudável”

Há 3 anos descobri que tenho HIV. Descobri quando tive uma infecção herpes mas são sabia que eraherpes, só vi umas bolas de água, parece queimaduras, sentia muitas dores, parecia que estavam a mearrancar algo por dentro, não conseguia andar, eu engatinhava até o dia que me levaram ao hospital, jánão aguentava, me levaram no Américo Boavida, fiquei internada uma semana antes de me darem alta,a Doutora começou a fazer muitas perguntas e na altura o meu primeiro filho, tinha 3 anos e, na altura,não vivia com a marido, estava separada com o pai do meu primeiro filho e eu comecei a desconfiar quese passava alguma coisa, me deu alta e me deu um dia para voltar na consulta quando voltei ao hospital,a Doutora me perguntou se já tinha aderido ao programa e eu duvidava que tinha esta doença fiz o testee deu positivo, fiquei muito abalada, chorei, me acalmaram e voltei para casa, deram-me outro dia paravoltar, depois arranjei o pai dessa minha bebé, depois de um mês de namoro com ele descobri que estavagrávida, eu não queria lhe esconder nada, conversei ele não estava a acreditar fui buscar todas as consultase ele só chorava, eu lhe falei, se tu quiseres me deixar estás a vontade, ainda há tempo, só tenho um mêsde gravidez, podemos tirar ele, disse não, fica mesmo assim, se tivermos que morrer vamos os dois, eucontinuei, tive o meu bebé nos Cajueiros, fazia todas as consultas lá, fui bem atendida no cartão, já metemuma carta que é só apresentar na altura do parto, que vai direito ao soro aplicaram-me dois balões noterceiro tive o meu bebé, fui para casa mas ia sempre fazer o controlo com a bebé, ate completar novemeses, fez o teste deu negativo, mandaram voltar mais com um ano e três meses, mas já não volteiporque o meu marido disse que se já fizeram a primeira vez e falaram que não tem é porque está boa eaté agora, ela é uma criança bem saudável. Quando ela fez um ano engravidei, logo dessa, mas já troqueide hospital, estou agora no centro do Rangel, nos Cajueiros, fica muito cheio, fiz tudo de novo, incluindoo teste, mas lá teve alguém, que deu conta eu estava a mentir e disse que eu já fazia esse tratamento eeu falei a verdade, porque não queria voltar mais nos Cajueiros, mas pouca sorte essa minha, fui ter obebé, fui a maternidade grande e lá me atenderam mal, me fizeram pouco, cheguei lá, não tinha dor masa bolsa já tinha rebentado, mandaram sentar mas eu disse que não podia sentar porque o meu caso eraoutro, como havia muita gente, não queria me expor, depois de insistir para ele ver o cartão, ele memandou entrar, me fizeram esperar muito tempo e eu já tinha medo que a bebé, entrasse em sofrimento,falei com a enfermeira e ela disse que já sabia que eu era do programa, como não entendia essa expressãopensei que ela estivesse a me ofender, eu estava sempre atrás delas e elas não me punham no soro,diziam que ainda não chegou a hora, mas eu disse que nos cajueiros assim que cheguei me meteramlogo no soro, saí da minha casa as 16, mas só me meteram no soro as 22h e elas, à altura medisseram se quiseres pegar nas tuas coisas e ir embora podes ir, eu tive que ficar calma, o segundogrupo que entrou foi mais compreensível, falei com uma das Doutoras, me aplicou o soro, depois

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o outro e só dia seguinte tive essa bebé está a fazer o tratamento, só depois de nove meses é quevamos saber se está saudável, tenho muito medo, com tanto sacrifício, que faço não quero que osmeus filhos nasçam doentes, principalmente do meu primeiro filho as pessoas insistem, para lhe levar efazer o teste mas eu não quero tenho receio que ele esteja já basta eu como mãe doente.

O meu marido, a primeira vez que lhe levei, estava saudável, mandaram voltar depois de três meses,ele até agora não aceita voltar, ele gosta muito de beber e às vezes, nós fizemos relação sem seprevenir, eu lhe peço para se prevenir e voltar lá para fazer o teste mas ele só diz ta bom, quandopeso para ir picar fica chateado.

Nos temos uma boa relação, a família o problema está aí, conversei, com ele pedi a ele para não contarmas ele foi muito ingrato, foi me difamar na família dele, até na rua sabem eu passo na rua normalmente.Não tive problema com a família dele mas não gostei, nunca me dei bem com a mãe dele, ela não megostava, depois descobri que ele contou a sua família, a minha família não sabe, só mesmo a família dele.

Paula José, 28 anos“O meu bebé está bem”

Vivo no município de Viana, Bairro da Estalagem, sou activista, conselheira, colaboradora do centro desaúde de Viana. Descobri que sou seropositiva em 2007, quando fiquei grávida do meu primeiro filho,na qual fazia consulta no centro de saúde de Viana e numa das consulta, nos testes todos que memandaram, na qual incluía o teste do HIV, depois disso, deu positivo e encaminharam-me para o programa,no qual encontrei a enfermeira. Não fiz o pré aconselhamento mais fiz o pós, foi aí que explicou-me queo meu teste tinha dado positivo e que u tinha que fazer o PTV até o nascimento do meu filho, para evitarque ele venha infectado, comecei a fazer o PTV com 5 meses de gravidez, fazia toda a medicação, quandofiz o teste estava muito abalada, contei ao pai do meu filho, que me proibiu a contar às pessoas, nem aminha mãe ou aos meus irmãos, ele pegou o papel do teste e rasgou, para que ninguém soubesse masquando voltei para o hospital havia necessidade de incluir o resultado do teste no cartão, tive que repetire voltou a dar positivo. Não tinha com quem dividir o problema, ele teve uns problemas com a minha mãee desapareceu, então, eu tive que cuidar da gravidez sozinha, na altura eu trabalhava como empregadadoméstica, eu arrumava engomava e cozinhava, não conseguia me alimentar, podia passar o dia inteirosem comer nada e a medicação era forte, fui emagrecendo, antes de fazer o 6º mês eu já tinha problemade hemorragia, dum jeito ou do outro eu tinha que continuar a trabalhar. Quando completei 7 meses eduas semanas o meu filho nasceu, fui para o hospital Ana Paula, onde fazia o tratamento, na altura nãotinha ZT injectável, só em comprimido, deram-me comprimido e disseram que tinha que fazer 3 doses,mas só fiz duas porque depois o meu filho nasceu, fui bem atendida por uma parteira a quem que atéhoje agradeço muito, eu entrei as 17h, fui bem atendida pelo primeiro grupo mas o segundo turno queentrou me abandonaram por coma da marquesa sozinha e as enfermeiras estavam na cozinha e o meufilho por um pouco havia de cair, eu gritava ‘parteira o bebé está a sair’, não me davam atenção, só depoisme olharam, eu me senti discriminada e elas diziam vocês também dão trabalho, olha só o teu filho jáesta sair, nem vai me dar tempo de por o equipamento, eu disse que já estava a chamar há muito tempoe ela só não veio porque estava na conversa, o meu bebé nasceu as 17h30, muito pequenino, com 2k enão chorou, só chorou, fez no dia seguinte quando eram 7h30 e eu perguntava sempre se ele estava vivo,elas diziam que se que aquilo só era cansaço, depois do parto deu-me uma hepatite forte, acho que issoe que fez ele sair com 7 meses, eu transpirava muito parecia óleo de palma, fiquei muito mal, depoisescureci a minha cara secou e depilava, aquilo saia parece uma crosta, parecia pele de bagre fumado

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(tipo de peixe típico de Angola), continuei a fazer o tratamento. Depois do parto deram o ZT que e oxarope do meu bebé, ele fez durante 45 dias, depois disso deram outro que ele fez até completar umano, fez o primeiro teste, deu negativo, lhe deram alta mas eu continuei com as consultas. O meu bebéestá bem, até agora que já tem 4 anos, aos três anos eu engravidei do meu segundo filho, foi complicadoporque eu estava sempre com alergia eu quando engravidei do meu primeiro bebe o meu CD4 estavamuito elevado, então só fiz os retro virais, até nascer o bebé, depois disso, retiraram, então, quandoengravidei ouve necessidades de tomar novamente os retro virais, para proteger o bebé, porque o queeu fiz na gravidez anterior não estava a se dar comigo, dava-me alergias, então, houve a necessidadede retirarem alguns e substituírem por outros, em vez de um comprimido de manhã e um de tarde, tomavadois manhã e tarde eu inflamava o corpo, todo e saia muita gordura passava o dia e a noite toda a secoçar não conseguia meter roupa e outra dificuldade e nos exames principalmente aqueles de CD4,porque a pessoa tinha que fazer de 3 em 3 meses e, por vezes, durante a gravidez toda, só conseguesfazer um exame, quando o aparelho não está bom ou falta de reagente, não tem folha de pedido, àsvezes, nem o xarope do bebé, tem a pessoa tem que comprar e, por vezes, não tem como o bebé ficauns dias, sem tomar por isso chega a ser prejudicial, eu trabalhava na Vila Alice, depois de fazer asconsultas que eram em Viana, as dores começaram na escola e eu fui para o hospital Ana Paula, chegueilá, não havia material nem ambulância, só apareceu as 14 horas, fomos transferidos chamaram umaemergência porque havia um acidente e o doente estava muito mal e nessa ambulância onde veio osenhor e onde nos meteram chegamos na Lucrécia Paim, entregamos as transferências as duas queestavam comigo foram atendidas logo e eu não me deixaram na sala de espera fiquei lá das 14 ate as16h, a bolsa estoirou apareceu, um médico que perguntou o que eu fazia naquele estado, eu disse quejá estava a espera com a transferência muito tempo e a bolsa estoirou. Eu calhei com um grupo deestagiárias, eram miúdas mas de cabeça quente depois me meteram no sétimo andar que foi péssimoestava muito cheio com caminhas pequenas e cada tinha que ter 4 pacientes com dor de parto tinha queestar com soro, canalizado, mas sentada, quando uma está mulher está a ter o bebé, as outras levantam,depois de ter, limpam a cama, depois voltam a sentar novamente, algumas enfermeiras tinham quedescansar a meia-noite e só ficou uma, que estava a atender a todas, você grita ‘parteira estou a ter obebé” ela diz ‘espera’, depois disso, a mesma fita que põe no bebé, também me põe, fica no berçário,porque tem de estar em observação, tive parto normal, um dia depois, deram o bebé e também o xarope,que só podia lhe dar. Durante 30 dias, fui para casa, mandaram voltar 7 dias depois, voltei, mas disseramque o meu bebé não podia ser acompanhado na Lucrécia, porque o número do processo dele era igualao meu e tinha de continuar as consultas em Viana, fez as consultas mas a farmácia nunca tem o xarope,só continua porque eu vou sempre procurar fora, quando fez 3 meses tinha que fazer o exame do pezinho,não fez porque o hospital não tinha material e aos 6 meses aconteceu a mesma coisa, aos 9 nada, sófez com 1 ano, que deu negativo, disseram que tinha que repetir com 1 ano e três meses, fui para lá edisseram-me que não havia reagentes, mas depois eu ouvi que tinha, só não havia técnico, para fazer oteste, com isso tudo o bebé não fez o PTV.

Luísa Sebastião, 37 anos“Houve discriminação”

Vivo em Viana, sou Professora, e o programa do corte vertical para mim foi benéfico, aprendi através daspalestras que fazem no hospital, eu apanhei o ano passado, fiquei a saber nas consultas, estava grávida,a Doutora me mandou fazer o PTV e lá fui acompanhada, até o dia do parto, quando fui para ter o bebé.Fui bem atendida mas depois ouve um transtorno, as senhoras na sala de parto, acho que elas misturamas pacientes e que tive de lhes falar, para lhes despertar, não sei se é falta de conhecimento delas, porqueno cartão vem observado as condições de cada pessoa.

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Também houve discriminação, diziam-me “Fica bem, se essa agulha escapar vai para o meu corpo”e automaticamente dizem que as pessoas portadoras não podem fazer filhos, mas noacompanhamento que nós temos dizem o contrário, podemos fazer, seguindo todos os passos detratamento. Eu já tenho um filho que fez o corte e está bem. Esse programa veio somente para salvaras crianças, se não, o que seria de nós e dos nossos filhos? A minha família apoia, com o marido foi umasituação muito rígida, não é normal a pessoa receber essa notícia, mas depois ficou tudo bem, deram-nos aqueles conselhos e depois tivemos ajuda duma psicóloga e estamos bem. Quando a pessoa nãoestá muito bem, o hospital encaminha para uma psicóloga.

Isabel dos Santos, 31 anos de idade“Quando fiquei grávida não tive medo”

Moro no Hoji Ya Henda, estou no programa desde 2008. Quando fui fazer o parto, no cartão meteramque eu sou seropositiva, depois disso meteram o soro e eu fiz o corte, são dois filhos que fizeram o corte,tomei os retro-virais. Descobri o meu estado em 2008, não estava grávida, foi mesmo minha vontade edeu positivo. O meu bebé está a tomar o xarope, já acabou, vim buscar outro. Tenho também uma filhade 1 ano e 2 meses e está saudável.

Quando fiquei grávida não tive medo porque sabia que a minha bebé seria saudável.

Keny Maria, 54 anos“Não posso abandonar a bebé”

Vivo na Sapu, não trabalho. Esta bebé é a Glória, tem dois meses e uma semana, ela tem o vírus. Quandoa mãe foi ter o bebé, o Doutor mandou ela e o marido fazerem o teste, a mãe da bebé já é falecida. Naatura que deu a luz passou 5 dias e a mãe morreu, isso foi há dois meses, ela escondeu, não disse nada,só dizia que tinha tuberculose, eu sou a mãe do moço, não sei como foi, só entendemos no dia em queela foi nascer, o Doutor mandou fazer o teste e o meu filho foi me falar o que se passava, o meu filho estáde saúde, a família da mulher não quer o bebé, foram me deixar com ele, mas como eu sou mãe do meufilho, não posso deixar assim o bebé, já deram a medicação no bebé, nos estamos a dar a medicação,ela está boa, quando nasceu o bebé estava bem pequenino, mas, graças a Deus, está com saúde.A mãe do bebé morreu mesmo de sida. O meu filho está de saúde, esta bebé vive comigo e o meu filhoestá na casa dele, hoje viemos a consulta e pegar os medicamentos. Os outros filhos dele ainda nãoforam testados, eu é que vou trazer os bebés, também estava doente, com tensão.

Eva José, 29 anos“Não fiz o tratamento”

Moro no Cazenga, não trabalho. Sou seropositiva desde o mês de Março. Descobri porque alguma coisaestava errada no corpo, muitas febres depois do parto, muito tratamento, não dava êxito, então vim paraos Cajueiros, fiz o teste e deu positivo.

O meu bebé também está nas mesmas condições porque não fiz o tratamento, por isso aconteceu assim.

É obrigatório, não sei porque que não mandaram fazer o teste, foi meu azar, ao princípio, a minha bebé

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mamava e estava gordinha mas depois começou a descair, quando eu vim a descobrir que estavacontaminada, mas agora ela está a fazer o tratamento e está mais ou menos.

No princípio foi duro, fiquei muito doente mas continuei a vir as consultas, depois foram aparecendooutras doenças como infecção no pulmão e estou a fazer o acompanhamento no sanatório, mas o bebénão tem tosse, só está mesmo com esta doença.

Os meus pais vivem nas províncias mas me abri com uma tia e também uma irmã da igreja e elas meaconselharam, me deram força, estou aqui a fazer todo o tratamento.

Paula Joana, 27 anos.“Os meus filhos estão bem”

Há três anos descobri o meu estado, quando estava grávida do meu primeiro filho, fiz o teste e deupositivo. O primeiro tem três anos e esse 1 ano e dois meses, estão os dois bem.

A minha família me recebe bem mas a do meu marido não sabe porque ele não quer se tratar. Fiz o testecom três meses de gravidez, na maternidade Lucrécia, eles aconselham a não pensar muito, fazer semprecom camisinha, não pensar muito, não chorar. Eles só me deram soro e o bebé veio bem, saudável, fezo teste aos nove meses e depois com 1 amo e três meses, o bebe fazia o acompanhamento mas agorajá parou.

Não estudo, eu vendo e às vezes as minhas colegas me dão. O meu marido não me dá dinheiro, ele faziaviagens, foi onde ele descobriu mas até agora não aceita fazer o teste, mesmo quando está doente.Queria lhe deixar mas as pessoas disseram: “ele já te passou a doença, fica só já com ele”.

Emilia Abel, 41 anos“Cumprimos todo tratamento”

Não faço nada, vivo no Cazenga.Descobri o meu estado há um ano, quando me engravidei, fui à consulta da gravidez com 6 meses, depoiso médico mandou fazer o teste, deu positivo e comecei a fazer as consultas, as enfermeiras explicam enós cumprimos. O bebé estava a ser acompanhado mas já não e necessário porque está bem.A minha carga viral está baixa porque tive paludismo, tenho 7 filhos. Nenhum dos meus filhos tem o vírus,incluindo este que é de pai diferente.

Madalena Muanza, 24 anos,“…Era tarde demais”

Vivo no Kikolo, não trabalho, vivo com o meu marido.

Descobri o meu estado no ano passado, o meu marido também tem, ele é que descobriu, por causa daoutra mulher que teve o bebé, estava doente, vieram até aqui e a bebé estava a precisar de sangue, elepicou e o Doutor disse que ele não podia, porque era seropositivo, não disse nada, mas um dia crioucoragem, enviou mensagem a dizer que temos que fazer o teste, liguei para ele e disse porquê? eleapareceu um dia em casa e falou que descobriu por causa da bebé que chegou a falecer, viemos fazer

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no mês de Outubro, estava a dar indeterminado, um mês depois voltamos, deu positivo. Eu e a bebé,que estava com 1 ano, porque eu amamentei. Na altura não sabia e quando mandaram parar, já era tarde.

Na altura da gravidez fiz o teste e deu negativo, levei os resultados, me disseram que estava bem, então,eu nasci descansada. Ele descobriu quando a bebé já tinha um ano e três meses, aí já era tarde. A bebéestá bem, tem algumas febres, às vezes, mas esta boa, come bem, eu tenho muito nervosismo, tenhoalgumas infecções, já estive aqui a semana passada, me mandaram voltar, hoje fiz o CD4, vamos vercomo vai estar.

Antes de tudo isso nunca tinha ouvido falar do corte de transmissão vertical. Já ouvi algumas mães adizer que quando tem sida pode ter bebé mas nunca fiquei a saber como fazer para ela vir sem sida,tenho três filhos, dois estão bons, só ela é que tem.

Henrique Michel, 45 anos“O mais importante é o meu bebé”

Trabalho por conta própria, vivo no Palanca. Eu não sou seropositivo, sou pai do bebé mas não tenho,a minha mulher sim. Ainda não fizeram o teste ao bebé, tem que esperar o tempo de fazer, a mulherdescobriu na gravidez, foi na consulta, fez o teste e deu positivo, depois começou a fazer o acompanhamento.Ela fez no Palanca II, fizemos juntos o teste, o meu deu negativo e o dela positivo e mandaram começaro tratamento aos 4 meses de gravidez, o parto foi sem problema, a bebé tem 8 meses e receitaram umxarope.

Tenho só um filho, tive outra que ficou doente, fomos ao Maria Pia, descobriram que ela estava doentemas já era tarde e morreu com 7 meses e, na altura, a minha mulher descobriu que já estava grávidadesta, fez o teste e descobriu que era seropositiva, a partir daí fez o acompanhamento.

Ficamos a saber mesmo lá no hospital do Palanca e ela cumpriu e o bebé nasceu bem. A família sabe,alguns se afastaram de nós mas Deus é poderoso e irá fazer o bem. O mais importante é o meu bebeque esta aqui, se soubesse antes, a minha filha não teria morrido. A mãe esta boa, eu faço o teste de 3em 3 meses e estou bem, nós estamos a nos dar bem.

Adelaide Cunbancanha, 30 anos“…Foi um choque”

Não trabalho, vivo em Viana. Descobri o meu estado em 2003, tenho dois filhos, o primeiro de dois anose esse tem 4 meses. Quando tive o primeiro esposo, me casei e depois de 7 meses ele morreu, poucodepois eu também fiquei doente, fomos fazer umas análises na ervanária e detectou-se que eu tinha esteproblema, daí começou esta batalha. Fui com a minha irmã, a médica conversou com ela, não me dissenada, mandou-me fazer uma dessas análises, viemos ao hospital, eu vim para aqui e acusou.

Na altura não era muito falado e eu apanhei um choque, mas prontos! depois apareceu uma senhora queme ajudou, através dela consegui a junta médica e fiz o tratamento na Multperfil que me transferiu parao hospital Esperança e estou aqui. Voltei a casar, fiquei grávida do meu primeiro filho, o meu marido nãoera, mas aceitou mesmo assim, nem eu sabia como tinha acontecido, encaminharam para aqui e fiz otratamento do corte vertical.

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Em 2008 comecei a fazer o tratamento na gravidez, aos três meses e fizeram o corte vertical através dosoro. Não amamentei, deram o xarope que ela tomou até aos 3 meses e depois aos 9 meses, fez o teste,a minha relação com o meu marido está boa, mas a minha família não sabe.

O meu marido está bem, nem quero que a minha família saiba, principalmente a minha mãe.

Vitoria Francisco, 28 anos,“Não sei como vai ser a minha vida”

Descobri que estou com o vírus do HIV/Sida há dois meses.

Quando tive o meu bebé ele estava sempre doente. Durante a gravidez fiz o teste de HIV/SIDA mas deunegativo, mas quando o bebé nasceu, estava sempre doente, uma amiga que também tem este problemadisse-me que descobriu que estava contaminada assim. Tinha um filho já crescido que estava sempredoente, então, um dia decidiu fazer o teste e deu positivo. Ganhei coragem e fui fazer o teste, fiz primeiroa minha bebé e deu positivo, então, vi, se a minha bebé tem é porque a mãe também tem, fiz o teste edeu também positivo. O bebé tem nove meses agora. Vamos começar a fazer a medicação. Com a ajudados médicos estou a conseguir ultrapassar. Sobre o programa de corte vertical já ouvi falar, mas nuncaprestei muita atenção. Durante a gravidez até ouvi falar do programa mas, como fiz duas vezes o testee deu negativo não me interessei a saber mais sobre o programa. Mas, agora deu o que deu, e estouassim. Contei ao meu marido, ele também já fez o teste, mas até agora não sei qual é o resultado doteste dele porque não se encontra aqui. Ele está no Kwanza-Sul. Estou a espera dele. Falei com os meusirmãos, deram-me força. Estou aqui, não sei o que irei fazer se o meu marido disser que o teste dele deunegativo. Não consigo dizer se de onde veio, como contrai, mas, já me disseram que não é só sexualmenteque se apanha. Neste momento estou indecisa, não sei como vai ser a minha vida.

Francisca da Silva, médica de Clínica Geral“Temos atendido muitos casos”

Não tenho bem o número de casos que atendemos aqui. Mas, em média, por dia, atendemos entre 20a 25 casos e neste número temos crianças positivas e expostas. No caso das expostas, se der negativoé lhes dada alta. Se for positivo permanece em tratamento. Aqui tratamos as mães e os bebés. temosatendido muitos casos. Todos os dias temos casos novos. Na maior parte das vezes os pacientesdescobrem depois de elas terem o bebé ou suspeitamos de alguma doença do bebé. Normalmente nãofazemos o teste no bebé, fazemos na mãe. Outras apercebem-se quando fazem o pré-natal. Outras vêmmesmo pela doença. Estão doentes há muito tempo e fazem depois o teste e vêm aqui encaminhadas.O programa de corte vertical existe aqui no hospital dos Cajueiro há mais de 5 anos. O que tem acontecidonormalmente é que depois do teste ter dado positivo elas são encaminhadas para esta área, mas existemaqueles casos de mulheres que depois do diagnóstico desaparecem, nem aprecem sequer para fazer opré-natal, regressam aqui na altura do parto, muitas das vezes nem sequer avisam as enfermeiras quesão seropositivas, para lhes ser feito o corte vertical. Há vários casos. Mas na maior parte dos casos éautomático. Muitas não levam carta, outras tiram a carta do cartão, com receio que as pessoas seapercebem que são seropositivas. Agora já é obrigatório fazer teste de HIV /sida na hora do parto. Doscasos positivos, 90 procento aderem ao programa, mas não ao tratamento. Muitos devem fazer a consultade três em três meses, mas levam os medicamentos e nunca mais voltam, regressam depois de um ano,porque vão primeiro procurar kimbabdeiro quando o tratamento não resulta, voltam aqui mais debilitados.

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Mas, na maior parte das vezes eles aderem ao programa. Mas, ainda assim, existem casos de criançasque estão no programa mas que nascem infectadas, muitas das vezes por negligência das próprias mãese outras da instituição. Normalmente, para as mulheres seropositivas é anexada uma carta no seu cartãode grávida. Umas tiram a carta porque não querem que ninguém se aperceba do seu estado serológico.Mas também, muitas das vezes, para a criança apanhar depende do estado da mãe durante a gravidez.Se a mãe aparece com um CD4 muito baixo, debilitada, está grávida, mas facilmente terá um bebéinfectado. Mas, se a mãe tiver bom CD4, medicada, está no programa e é bem acompanhada, tem maischance de ter o bebé negativo. Temos exemplo de casos de mães que chegam ao programa, fazem ocorte e ainda assim tiveram bebés positivos, porque tinham muitos vírus no organismo. Por vezes dependemuito do estado da mãe durante a gravidez, o estado da mãe durante a gravidez tem grande influênciano bebé. No dia do parto utiliza-se soro ou comprimidos, que se injecta ou dá-se a mãe. Depois do parto,6 horas depois o bebé deve iniciar o tratamento com AZT. Mas, é importante dizer que depois de um anojá não se faz o retro-virais, damos o bactrim e esperamos para ver o que acontece. Agora temos oprotocolo PCR, que demos aos 2 meses, quatro meses e depois o bebé tem alta, mas, este tipo detratamento só o Instituto de Luta Contra o Sida está a realizar e há muitos casos. Agora com a terapiaanterior damos o bactrim até aos nove meses, aos 15 e aos e 18 meses fizemos um teste, se dar positivoentra no programa, se for negativo é lhe dado alta. Os pacientes podem ir os hospitais Divina Providência,no Hoje ya henda só atendem adultos; temos os Cajueiros que atendem grávidas e crianças, Asa branca(só para grávidas), Kilamba Kiaxe e o hospital Esperança.

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