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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Exercício de 2002 UBIRATAN AGUIAR MINISTRO-RELATOR BRASÍLIA – 2003 Relatório e Pareceres Prévios sobre as Contas do Governo da República

Contas do Governo 2002

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  • TRIBUNAL DE CONTASDA UNIO

    Exerccio de 2002

    UBIRATAN AGUIARMINISTRO-RELATOR

    BRASLIA 2003

    Relatrio e PareceresPrvios sobre as

    Contas do Governoda Repblica

  • TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO

    MINISTROS

    Valmir Campelo - PresidenteAdylson Martins Motta - Vice-PresidenteMarcos Vinicios Rodrigues VilaaIram SaraivaHumberto Guimares SoutoWalton Alencar RodriguesGuilherme PalmeiraUbiratan AguiarBenjamin Zymler

    AUDITORES

    Lincoln Magalhes da RochaAugusto Sherman CavalcantiMarcos Bemquerer Costa

    MINISTRIO PBLICO

    Lucas Rocha Furtado Procurador-GeralJatir Batista da Cunha Subprocurador-GeralPaulo Soares Bugarin Subprocurador-GeralUbaldo Alves Caldas Subprocurador-GeralMaria Alzira Ferreira ProcuradoraMarinus Eduardo de Vries Marsico ProcuradorCristina Machado da Costa e Silva Procuradora

  • S U M R I O1 PARTE

    1 INTRODUO 9

    2 PARTEDESEMPENHO DA ECONOMIA BRASILEIRA

    2 DESEMPENHO DA ECONOMIA BRASILEIRA E DA POLTICA ECONMICO-FINANCEIRA 132.1 Panorama Econmico em 2002 ......................................................................................... 13

    2.1.1 Conjuntura Internacional ........................................................................................... 142.1.2 Conjuntura Nacional .................................................................................................. 15

    2.2 O Comportamento da Atividade Econmica em 2002 ..................................................... 152.2.1 Produto Interno Bruto ................................................................................................ 152.2.2 Nvel de Preos ......................................................................................................... 182.2.3 Emprego/Desemprego e Salrios .............................................................................. 21

    2.3 Anlise das Polticas Macroeconmicas ........................................................................... 232.3.1 Poltica Monetria e Creditcia .................................................................................. 232.3.2 Poltica Fiscal ............................................................................................................ 292.3.3 Carga Tributria ........................................................................................................ 382.3.4 Poltica de Relaes Internacionais e Comrcio Exterior ......................................... 43

    3 PARTEOS ORAMENTOS PBLICOS FEDERAIS

    3 OS ORAMENTOS PBLICOS FEDERAIS 573.1 Os Instrumentos Legais do Processo Oramentrio ......................................................... 57

    3.1.1 O Plano Plurianual PPA .......................................................................................... 573.1.2 A Lei de Diretrizes Oramentrias LDO ................................................................ 623.1.3 A Lei Oramentria Anual LOA ........................................................................... 71

    3.2 Os Oramentos Fiscal e da Seguridade Social .................................................................. 713.2.1 A Previso da Receita e a Fixao da Despesa na Lei Oramentria ........................ 713.2.2 Alteraes dos Oramentos ....................................................................................... 733.2.3 Execuo da Receita e da Despesa ............................................................................ 73

    3.3 O Oramento de Investimentos das Empresas Estatais .................................................... 863.4 Consideraes Finais ......................................................................................................... 973.5 Anexos .............................................................................................................................. 99

  • 4 PARTEANLISE DOS BALANOS GERAIS DA UNIO

    4 ANLISE DOS BALANOS GERAIS DA UNIO 1234.1 Gesto Oramentos Fiscal e da Seguridade Social......................................................... 123

    4.1.1 Consideraes Preliminares ....................................................................................... 1234.1.2 Balano Oramentrio ............................................................................................... 1264.1.3 Balano Financeiro .................................................................................................... 1274.1.4 Balano Patrimonial ................................................................................................... 1314.1.5 Demonstrao das Variaes Patrimoniais ................................................................ 1514.1.6 Demonstrao das Mutaes do Patrimnio Lquido ................................................ 1544.1.7 Consideraes Finais ................................................................................................. 156

    4.2 Administrao Indireta ...................................................................................................... 1594.2.1 Consideraes Gerais ................................................................................................. 1594.2.2 Balano Financeiro Consolidado ............................................................................... 1604.2.3 Balano Patrimonial Consolidado ............................................................................. 1614.2.4 Demonstrao das Variaes Patrimoniais Consolidada ........................................... 1644.2.5 Demonstrao das Mutaes do Patrimnio Lquido DMPL ................................. 1664.2.6 Autarquias .................................................................................................................. 1674.2.7 Fundaes Pblicas .................................................................................................... 1734.2.8 Fundos Especiais ....................................................................................................... 1794.2.9 Empresas Pblicas ..................................................................................................... 1844.2.10 Sociedades de Economia Mista ............................................................................... 1934.2.11 Consideraes Finais ............................................................................................... 200

    4.3 Anexos ............................................................................................................................... 201

    5 PARTEREAS TEMTICAS EM DESTAQUE

    5 REAS TEMTICAS EM DESTAQUE 2295.1 Dvida Pblica Federal Interna .......................................................................................... 229

    5.1.1 Consideraes Preliminares ....................................................................................... 2295.1.2 A Formao e o Comportamento do Estoque da Dvida Pblica Interna ................. 2315.1.3 Histrico do Perodo 1995-2002 ............................................................................... 2325.1.4 Comprometimento de Fontes de Recursos com o Pagamento de Juros, Encargos,

    Servios e Refinanciamento da Dvida ...................................................................... 237

    5.1.5 Evoluo da Despesa com a DPI e os Impactos sobre as Despesas de Investimentonos Oramentos Fiscal e da Seguridade Social ......................................................... 245

  • 5.1.6 O Gerenciamento da Dvida Pblica Mobiliria Interna ........................................... 2495.1.7 A Estratgia do Financiamento ................................................................................. 2585.1.8 Consideraes Finais ................................................................................................. 262

    5.2 Desigualdades Regionais .................................................................................................. 2655.2.1 As Desigualdades entre as Regies ........................................................................... 2665.2.2 O Desenvolvimento Regional no Oramento Federal ............................................... 2705.2.3 Fluxos Financeiros Federativos ................................................................................. 2915.2.4 Aes do Governo Central em Setores Especficos .................................................. 2985.2.5 Concluso .................................................................................................................. 330

    5.3 Sistemas de Vigilncia e Proteo da Amaznia SIVAM e SIPAM .............................. 3415.3.1 Consideraes Preliminares ....................................................................................... 3415.3.2 Os Sistema SIVAM e SIPAM ................................................................................... 3425.3.3 Funcionalidades do SIVAM ...................................................................................... 3455.3.4 A Fiscalizao do Projeto SIVAM/SIPAM pelo Tribunal de Contas da Unio ........ 3475.3.5 Necessidade de Recursos do SIVAM ........................................................................ 3515.3.6 Consideraes Finais ................................................................................................. 352

    6 PARTEA AO SETORIAL DO GOVERNO

    6 A AO SETORIAL DO GOVERNO 3576.1 Consideraes Preliminares ............................................................................................... 3576.2 O Poder Legislativo ........................................................................................................... 360

    6.2.1 Cmara dos Deputados .............................................................................................. 3616.2.2 Senado Federal ........................................................................................................... 370

    6.3 O Poder Judicirio ............................................................................................................. 3786.3.1 Supremo Tribunal Federal ......................................................................................... 3806.3.2 Superior Tribunal de Justia ...................................................................................... 3896.3.3 Justia Federal ........................................................................................................... 3986.3.4 Justia do Trabalho .................................................................................................... 4066.3.5 Justia Eleitoral .......................................................................................................... 4156.3.6 Justia Militar ............................................................................................................ 4226.3.7 Justia do Distrito Federal e Territrios .................................................................... 428

    6.4 Funes Essenciais Justia ............................................................................................. 4376.4.1 Ministrio Pblico da Unio ...................................................................................... 437

    6.5 O Poder Executivo ............................................................................................................. 4496.5.1 Dos Limites e Parmetros Relacionados LRF......................................................... 4496.5.2 Aes Desenvolvidas pelo Poder Executivo.............................................................. 462

  • a) rea de Educao ......................................................................................................... 463b) rea de Sade ............................................................................................................... 467c) rea de Trabalho e Emprego ........................................................................................ 476d) rea de Previdncia e Assistncia Social ..................................................................... 478e) rea de Desenvolvimento Agrrio ............................................................................... 483f) reas de Desenvolvimento Regional, Meio Ambiente e Recursos Hdricos ................ 485g) rea de Transportes ...................................................................................................... 488h) rea de Energia ............................................................................................................ 492i) rea de Comunicao .................................................................................................... 495j) reas de Defesa Nacional, Segurana Pblica e Cidadania .......................................... 497

    7. PARTERECOMENDAES DO TRIBUNAL NAS CONTAS DO GOVERNO DE 2001

    7 RECOMENDAES DO TRIBUNAL NAS CONTAS DO GOVERNO DE 2001 5037.1 Consideraes Preliminares................................................................................................ 5037.2 Respostas s Recomendaes Formuladas nas Contas do Governo de 2001 .................... 5037.3 Consideraes Finais ......................................................................................................... 517

    8 PARTESNTESE, CONCLUSO E PROJETOS DE PARECER

    8 SNTESE, CONCLUSO E PROJETOS DE PARECER 5218.1 Sntese do Relatrio............................................................................................................ 5218.2 Concluso........................................................................................................................... 5398.3 Projetos de Parecer Prvio.................................................................................................. 542

    9 PARTESESSO EXTRAORDINRIA

    9 SESSO EXTRAORDINRIA 5559.1 Resumo da Ata n 22, de 12.06.2003, Anexo II ................................................................ 5559.2 Pareceres Prvios do Tribunal de Contas da Unio ........................................................... 5579.3 Resumo da Ata n 22, de 12.06.2003, Anexo III .............................................................. 5799.4 Votos dos Senhores Ministros ........................................................................................... 581

    9.4.1 Ministro Adylson Motta ............................................................................................ 5819.4.2 Ministro Guilherme Palmeira .................................................................................... 5839.4.3 Ministro Benjamin Zymler ........................................................................................ 5859.4.4 Ministro-Substituto Lincoln Magalhes da Rocha .................................................... 5889.4.5 Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa .......................................................... 597

    9.5 Resumo da Ata n 22, de 12.06.2003, Anexo IV.............................................................. 599

  • 9.6 Palavras Proferidas pelo Procurador-Geral ....................................................................... 6019.7 Resumo da Ata n 22, de 12.06.2003, Anexo V ............................................................... 6059.8 Palavras Proferidas pelo Presidente do Tribunal de Contas da Unio .............................. 607

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    I N T R O D U O

    Nesta oportunidade, o Tribunal de Contas da Unio, pela 68 vez, em cumprimento ao art.71 da Constituio Federal, aprecia e emite parecer prvio conclusivo sobres as Contas do Presidente daRepblica relativas ao exerccio de 2002, que subsidiar o Congresso Nacional no julgamento poltico daao governamental sobre as finanas pblicas, que se encontra consolidada no presente Relatrio.

    Por fora da Lei de Responsabilidade Fiscal, apreciam-se tambm as contas dosPresidentes do Senado Federal, da Cmara dos Deputados, do Supremo Tribunal Federal e demaisTribunais Superiores do Judicirio, do Presidente do Tribunal de Justia do Distrito Federal e Territriose do Chefe do Ministrio Pblico Federal.

    Encaminhadas pelo Excelentssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional, SenadorJos Sarney, no dia 17 de abril de 2003, as presentes contas, no que concerne misso constitucional,referem-se ao ltimo ano de Governo do ento Presidente da Repblica Fernando Henrique Cardoso,abrangendo o perodo de 1 de janeiro a 31 de dezembro de 2002, sendo constitudas pelo Balano Geralda Unio, acompanhado dos demais demonstrativos e relatrios exigidos pela legislao especfica.

    Consciente da responsabilidade e da complexidade das tarefas que me foram conferidas,submeti aos ilustres Pares, na Sesso Ordinria de Carter Reservado de 22.05.2002, um conjunto dediretrizes que entendia necessrio para a apreciao destas Contas, as quais foram aprovadas pela Decison 559/2002-Plenrio, alterada pelo Acrdo n 565/2003 - Plenrio, de 21.05.2003.

    Pela relevncia e magnitude dos recursos envolvidos, dentre as diretrizes regularmentefixadas, que foram aprovadas pelo Plenrio naquela oportunidade, encontram-se as auditorias com vistasa verificar a eficcia das polticas governamentais adotadas para reduzir as desigualdades regionais e aadministrao da dvida pblica da Unio.

    Alm das diretrizes fixadas nas mencionadas decises, o presente Relatrio compostotambm de trabalho desenvolvido no Sistema SIVAM, em acolhimento a determinao formulada peloPlenrio na Sesso de 26.06.2002, includo na parte destinada s reas temticas.

    Em cumprimento Deciso n 1.511/2002, no presente relatrio, est consignada, tambm,uma sntese dos trabalhos de auditoria realizados com vistas a verificar a dinmica das receitas e despesasda Seguridade Social.

    Dessa forma, durante parte do exerccio de 2002 e de 2003, foram executados todos ostrabalhos de acompanhamento da execuo oramentria e tambm as auditorias nas reas da dvidapblica, desigualdades regionais, SIVAM e na Seguridade Social, cujos resultados consolidados soapresentados no Relatrio que ora apresento e que fundamentam os Pareceres Prvios conclusivos quesubmeto, nesta oportunidade, apreciao do Egrgio Plenrio.

    Em sua primeira parte, o Relatrio composto de uma breve sntese sobre o desempenhoda economia brasileira no exerccio de 2002, em que so apresentados alguns dos principais dadosmacroeconmicos. Em seguida realizada uma anlise sobre o Plano Plurianual, Oramentos Fiscais eda Seguridade Social e investimentos das estatais, bem como sobre o Balano Geral da Unio. Almdesses tpicos, foram feitas consideraes a respeito das Aes Setoriais do Governo para os PoderesJudicirio, Legislativo, Executivo, alm do Ministrio Pblico da Unio e Tribunal de Justia do DistritoFederal e Territrios.

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    Com o objetivo de alicerar a misso constitucional deste Tribunal e de assegurar aobservncia dos princpios da legalidade, eficincia, legitimidade e economicidade na gesto pblica, soformuladas recomendaes e determinaes aos respectivos rgos e entidades. Com relao ao exercciode 2001, ao final deste Relatrio, apresentada uma sntese sobre as providncias por eles adotadas como objetivo de corrigir as falhas e irregularidades ento apontadas naquele exerccio.

    Ao final deste trabalho, apresentada uma sntese do Relatrio, em que so destacadas asprincipais ocorrncias detectadas ao longo do exerccio de 2002, acompanhada de concluso e dasrecomendaes e determinaes aos diversos rgos da Administrao Pblica Federal.

    Por derradeiro, so submetidos ao Colegiado os Projetos de Parecer Prvios sobre as contasde cada um dos Poderes e do Ministrio Pblico da Unio.

  • 2 DESEMPENHO DA ECONOMIA BRASILEIRA E DAPOLTICA ECONMICO-FINANCEIRA

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    2 DESEMPENHO DA ECONOMIA BRASILEIRA E DA POLTICAECONMICO FINANCEIRA DO GOVERNO FEDERAL

    2.1 Panorama Econmico em 2002

    O nvel de atividade da economia brasileira em 2002 foi fortemente influenciado por doisconjuntos de acontecimentos com diversas variveis correlacionadas: i) a instabilidade financeira noambiente internacional e ii) as eleies presidenciais em nvel nacional. No primeiro caso, a criseargentina, respingo de 2001, a desacelerao da economia norte-americana e a estagnao europia sofatos que acabaram constituindo um quadro de restries ao pas, estancando a possibilidade de expansodas exportaes e inibindo o financiamento externo. Em nvel interno, isso constituiu forte fator de ajuste,culminando com um novo ciclo de substituio de importaes. A combinao dos dois conjuntos deacontecimentos condicionou a poltica econmica, em especial a cambial e a de juros, e serviu dereferencial atuao do Banco Central no mercado de ttulos pblicos.

    Essas limitaes externas acabaram por pressionar a cotao da moeda norte-americana emrelao ao real atingindo a taxa de inflao. Para evitar o repasse do efeito cambial aos preos, o governooptou por adotar uma poltica restritiva que, se atingiu parcialmente o objetivo esperado, tambmimpactou negativamente o desempenho do pas e o nvel de emprego. Assim, a reduo dos fluxosexternos e a maior percepo de risco contriburam para desvalorizao do Real e para aumentar os jurosda economia, reduzindo a absoro domstica, particularmente os novos projetos de investimento e oconsumo de durveis.

    As exportaes lquidas contriburam positivamente para a expanso da atividade ao longodo ano. Adicionalmente, fatores temporrios tais como os pagamentos do ajuste do FGTS, asubstituio de ativos financeiros por bens e ativos reais e a prpria dinmica de gasto e empregoassociada ao processo eleitoral - tambm ajudaram a sustentar a demanda agregada em diferentesmomentos de 2002.

    Nesse nterim, as incertezas apontadas pelo mercado, ao longo dos sete meses do processoeleitoral, acabaram por no se concretizar. Na verdade, o que ficou evidente que ainda que algunsdesafios econmicos em especial o controle da inflao e a resistncia adoo de mecanismos dereindexao de preos e salrios permeiem a mente dos formuladores da poltica econmica, o anoapresentou feitos relevantes na rea externa.

    Entre as surpresas positivas esto: i) o alto supervit comercial, com a conseqente reduodo dficit em conta corrente, e ii) o ritmo da atividade econmica superior ao esperado, considerando ocontexto de restries financeiras e incertezas polticas. A balana comercial (i.e. mercadorias) brasileiracontou, no ano de 2002, com a ajuda de fatores conjunturais cmbio sobrevalorizado e menor atividadeeconmica que implicou reduo das importaes com uma substituio de importaes baseada no noprotecionismo, mas em oportunidades e eficincia empresarial, com destaque para o setor agropecurio (adespeito das barreiras tarifrias e no-tarifrias a ele impostas). O ajustamento da balana comercialmostrou a capacidade da economia brasileira para enfrentar choques externos. J a balana de servios tradicionalmente rgida e deficitria apresentou queda nas despesas com fretes e viagens ao exterior,diminuindo a vulnerabilidade do pas e desafiando os formuladores da poltica econmica a desenharpolticas de conciliao da participao brasileira no mercado mundial com o crescimento do mercadointerno.

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    Pelo lado negativo, entretanto, a magnitude e a persistncia da desvalorizao cambialaceleraram o crescimento dos preos no atacado, contaminando a inflao ao consumidor.

    Nesse sentido, de modo a demonstrar o conjunto de fatores contributivos das instabilidadesno ambiente interno e externo, so apresentadas a seguir sinopses das conjunturas internacional e nacionalno ano de 2002 e seus reflexos para o pas.

    2.1.1 Conjuntura Internacional

    Heranas de 2001, com destaque para as fraudes contbeis corporativas nos EstadosUnidos, a crise argentina, no incio de 2002, e o terrorismo internacional em conjunto com a ameaa deguerra, ao final do ano, compuseram um quadro negativo de variveis que contriburam para o aumentoda averso ao risco e pela preferncia por liquidez dos investidores.

    O ano comeou com o agravamento da crise argentina que havia anunciado, em24/12/2001, a moratria da dvida externa de US$ 132 bilhes. Aliado problemas de naturezaeconmica, aspectos polticos institucionais agravaram a crise. Medidas econmicas restritivas foramadotadas com destaque para o bloqueio parcial dos depsitos bancrios o chamado corralito quevisava conter os saques das contas correntes. O fim do regime de conversibilidade peso/dlar e asincertezas quanto s medidas adotadas pelo governo argentino para conter a crise provocaraminstabilidade no ambiente econmico brasileiro por dois motivos principais: i) o receio de contgio: e ii) amudana nas relaes comerciais entre os dois pases. Nesse segundo aspecto deve ser ressaltado que aArgentina, em 2001, foi o segundo principal destino das exportaes brasileiras (com 8,8%), atrs apenasdos Estados Unidos (com 24%). Em 2002, no entanto, o pas caiu para a sexta colocao (com 3,8%). Noque se refere s importaes, contudo, o pas ainda mantm a segunda colocao com crescimento napauta de importao brasileira (de 10 para 11%)1. Alm de afetar a poltica de comrcio exteriorbrasileira, a questo argentina contaminou negativamente a percepo e a avaliao sobre o futuro dasolvncia fiscal e externa do Brasil, aumentando o risco-pas.

    Em dezembro de 2001, o mercado mundial espantou-se ao assistir maior falncia dahistria norte-americana. A Enron, empresa que j fora o maior conglomerado energtico dos EstadosUnidos, aps ir bancarrota, passou a ser alvo de uma investigao envolvendo fraudes contbeis paraocultar dvidas e inflar lucros. O fato colocou em xeque a credibilidade dos dados contbeis das empresasnorte-americanas. Como conseqncia imediata, muitos investidores se desfizeram de suas aes paraevitar futuros prejuzos (estima-se que cerca de 70% dos investimentos nas bolsas americanas sejam depessoas fsicas que o fazem pensando na prpria aposentadoria). A fraude e a falncia de grandescorporaes americanas exacerbaram em bancos e fundos a percepo do risco envolvido nas operaesde emprstimo e financiamento ao setor corporativo, reduzindo o fluxo lquido de recursos paraeconomias emergentes.

    A ameaa de guerra entre os Estados Unidos e o Iraque, que acabou por se concretizar emmaro de 2003, colocou em risco a economia de pases emergentes, especialmente devido possibilidadede elevao do preo do barril de petrleo. Aliado a essa questo, a Venezuela, quinto maior produtormundial, se deparou, durante o ano, com uma crise poltico-institucional que contribui, em conjunto coma crise no Oriente Mdio, para a formao de um quadro no qual uma elevao substantiva no preo dopetrleo poderia incrementar a inflao de custos, aumentando o preo dos bens comercializveis.

    1 Conforme informaes obtidas no site da ANDIMA (www.andima.gov.br).

  • 15

    2.1.2 Conjuntura Nacional

    No Brasil, o cmbio assumiu papel de destaque concorrendo diretamente com a sucessopresidencial como variveis mais relevantes da economia em 2002. Na verdade, em um primeiromomento, pode-se ser levado a inferir que a elevao do cmbio possua relao direta com o processoeleitoral. A rigor, entretanto, a flutuao da taxa de cmbio foi decorrncia, muito mais da averso aorisco de bancos e investidores internacionais do que dos acontecimentos nacionais.

    No ano de 2002, o ambiente internacional imps forte retrao na oferta de emprstimospelos investidores internacionais, retrao essa que atingiu no apenas o Brasil, mas um conjunto deeconomias emergentes. Contudo, aqui foi agravada devido ao fato de ser a economia brasileiraextremamente dependente da entrada de capitais estrangeiros para fechar suas contas externas. Algunsanalistas insistiram, ao longo do ano, em associar essa retrao ao receio de que o candidato Lus IncioLula da Silva viesse a ganhar as eleies presidenciais. Para superar a crise de confiana sobre o futuro daeconomia brasileira, as autoridades econmicas realizaram um novo acordo com o FMI, possibilitandocom isso o financiamento dos compromissos externos do setor pblico em 2003. Aliado a isso, asautoridades eleitas, no final de outubro, reafirmaram seu compromisso com o estabelecimento de polticasmacroeconmicas consistentes para o ano seguinte, o que resultou na reduo do risco-pas e na queda dacotao real/dlar.

    A crise de confiana interna, aliada crescente averso global ao risco, teve impactosrelevantes sobre a economia brasileira. O impacto desses acontecimentos pde ser percebido nocomportamento da atividade econmica (produo e emprego) e no nvel de preos. As formas deminimizao dos efeitos negativos desses acontecimentos foram objeto de polticas pblicas econmicasdo governo, conforme ser descrito nos tpicos seguintes.

    2.2 O Comportamento da Atividade Econmica em 2002

    2.2.1 Produto Interno Bruto

    Mesmo com a crise cambial de 2002 e a alta dos juros, o crescimento do PIB (ProdutoInterno Bruto) em 2002 foi 1,52%. O valor do PIB a preos de mercado em 2002 foi de R$ 1,32 trilho,sendo R$ 1,18 trilho referente ao Valor Adicionado a preos bsicos e R$ 145,32 bilhes aos Impostossobre Produtos.

    Entre os componentes da demanda, em 2002, o Consumo das Famlias totalizou R$ 783,28bilhes, seguido pelo Consumo do Governo com R$ 254,66 bilhes e pela Formao Bruta de CapitalFixo com R$ 247,24 bilhes. J a Balana de Bens e Servios ficou superavitria em R$ 27,89 bilhes e aVariao de Estoques foi de R$ 8,43 bilhes.

    Com a estimativa do IBGE de crescimento populacional no ano de 2002 de 1,3% (174,63milhes de populao residente no pas em 2002), o PIB per capita ficou em R$ 7.567 no ano (crescimento real de 0,21%). Alm disso, o crescimento mdio real anual do PIB nos ltimos dez anos(1993 a 2002) foi de 2,9%. J o crescimento mdio real anual para o mesmo perodo do PIB per capita foide 1,5%. Para os ltimos 5 anos a mdia foi, respectivamente de 1,64% de variao anual do PIB e 0,31%de variao do PIB per capita. A variao real anual para o perodo de 1993 a 2002 do PIB a preos demercado e do PIB per capita pode ser vista no Grfico 2.1.

  • 16

    A maior expanso do PIB ocorreu no setor agropecurio, que cresceu 5,79% em 2002,seguido pela indstria, que se expandiu 1,52% e pelo setor de servios, com crescimento 1,49% (AnexoI). Dentre os subsetores da indstria, a Extrativa Mineral, a Transformao e os Servios Industriais deUtilidade Pblica apresentaram taxas positivas, 10,39%, 1,93% e 1,53%, respectivamente. Por outro lado,a Construo Civil declinou 2,52%. Todos os componentes do setor de servios, com exceo doTransporte, com queda de 0,92%, apresentaram taxas positivas em 2002. O destaque ficou por conta deComunicaes que mostrou crescimento de 7,4% no ano. Note-se que a taxa de crescimento do setor deComunicaes vem desacelerando, j que atingiu 15,6% em 2000, passando para 9,92% em 2001 e para7,4% em 2002.

    Quadro 2.1Montante do Produto por SetorValores Correntes (R$ milhes) - Evoluo 2001/2002

    2002(1)SETORES 2001Acumulado I II III IV Acumulado

    Agropecuria 89.222 23.336 27.042 24.613 21.800 96.791Indstria 400.662 93.611 107.174 117.374 126.678 444.837Servios 629.861 159.367 174.487 184.604 191.417 709.873Subtotal 1.119.746 276.313 308.703 326.590 339.894 1.251.501Dummyfinanceiro -54.653 -13.396 -19569 -26.019 -16.348 -75.332Valor adicionado a preosbsicos 1.065.093 262.917 289.134 300.571 323.546 1.176.169

    Impostos sobre produtos 134.967 32.931 34.982 36.649 40.760 145.322PIB a preos de mercado 1.200.060 295.848 324.116 337.220 364.306 1.321.490

    Fonte: IBGE (http://www1.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/pib/ctrivolvalcome4t02.pdf) Nota: (1) Resultados preliminares calculados a partir das contas nacionais trimestrais.

    Grfico 2.1Relao PIB e PIB per capita

    1993-2002

    -2-101234567

    1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

    Anos

    %

    PIB PIB per capita

    Fonte: IBGE (www.ibge.com.br na seo indicadores conjunturais)

  • 17

    razovel afirmar que um crescimento prximo de 1% no representa, de fato, umaumento do PIB, pois no pode ser percebido pelo pas. A desacelerao da taxa de crescimento do PIBacontece a partir do primeiro trimestre de 2001, quando caiu de 4,36% em 2000 para 4,06%, atingindo omnimo de -0,01% no segundo trimestre de 2002, subindo para 1,52% no ltimo trimestre. A rigor, asaltas taxas de juros continuam a impedir um crescimento do PIB mais acelerado, pois os investimentos nosetor produtivo se mostram em escala cada vez menores.

    Esta queda deve-se principalmente reverso nas contas de exportao e importao doPas, o chamado Saldo Externo de Bens e Servios: em 2001, as importaes superaram as exportaesem R$ 11,9 bilhes; j em 2002, as exportaes superaram as importaes em R$ 27,89 bilhes. Noprprio ano de 2002, a economia nacional registrou reverso idntica, passando de uma necessidade definanciamento de R$ 20,31 bilhes no primeiro semestre de 2002, para uma capacidade de financiamentode R$ 3,34 bilhes no segundo semestre.

    Quadro 2.2Taxas de Crescimento em 2002Por Trimestre

    TRIMESTRE DE 2002TAXAS 1 2 3 4

    PIB trimestre/trimestre imediatamente anterior (com ajustesazonal)

    0,91 0,83 0,92 072

    PIB trimestre/PIB mesmo trimestre do ano anterior -0,80 0,97 2,47 3,44PIB acumulado at o trimestre/Igual perodo do anoanterior

    -0,80 0,10 0,90 1,52

    ltimos quatro trimestres/ quatro trimestres imediatamenteanteriores

    0,26 -0,01 0,49 1,52

    Fonte: IBGE (http://www1.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/pib/ctrivolvalcome4t02.pdf)

    Grfco 2.2Capacidade/Necessidade de Financiamento da Economia Nacional

    1991-2002

    -2

    1 6

    0

    -3

    -1 8-2 5

    -3 6 -3 9-4 6 -4 6

    -5 5

    -1 7

    -6 0

    -5 0

    -4 0

    -3 0

    -2 0

    -1 0

    0

    1 0

    2 0

    1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2

    A n o s

    R$

    bilh

    es

    Fonte: IBGE (http://www1.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/pib/ctrivolvalcome4t02.pdf)

  • 18

    2.2.2 Nvel de Preos

    Em 2001, alguns choques adversos haviam afetado a economia fazendo com que o ndicede Preos ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE e referncia para o sistema de metas deinflao, registrasse a taxa de variao de 7,67% (acima, portanto, do teto de 6% estabelecido peloDecreto n 3.088, de 21/06/1999). J o ano de 2002 acusou uma taxa de 12,53% para o IPCA, maiorpatamar desde 1995 (quando havia registrado 22,41%). Por outro lado, o ndice Geral de Preos Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundao Getlio Vargas alcanou 26,4%. Esse aumento dainflao, em diferentes medidas, deveu-se forte depreciao cambial, evoluo dos preosmonitorados e daqueles com reajustes contratuais e deteriorao das expectativas de inflao. Enquantoo IPCA atingiu esse patamar, a caderneta de poupana registrou, no perodo, rentabilidade de 9,14%.

    O IPCA demonstrou tambm que inflao registrada foi de custos e no de demanda -atingindo os diversos produtos em propores diferentes. Energia eltrica (pertencente ao grupoHabitao) apresentou contribuio individual de 0,77% e alimentos contriburam, por grupo, com 4,63%ou um tero da inflao anual, conforme se observa no Quadro 2.3. Em termos regionais, a maior inflaodo ano foi registrada em Braslia (com 14,79%), seguida por Recife (14,26%) e a menor em So Paulo(com 11,36%).

    Destaque-se que populao mais pobre foi a que sofreu os maiores efeitos das altas taxasnos preos no ano de 2002. O ndice Nacional de Preos ao Consumidor (INPC)2 registrou 14,74% noano (2,21 p.p. superior ao IPCA, que mede inflao em famlias com renda de um a quarenta salriosmnimos). Essa classe sofreu impacto maior da inflao porque produtos como alimentao, o gs debotijo, a energia eltrica e o nibus urbano possuem peso maior no oramento familiar. Em termosregionais, Belm apresentou a maior alta no INPC (16,90%) e So Paulo a menor (12,67%). Na verdade,os resultados de 2002 repetiram o que j havia ocorrido em 2001, quando o IPCA registrou 7,67% e oINPC, 9,44%.

    Quadro 2.3Contribuio Setorial para o IPCA

    Grupo Variao Acumulada (%) Contribuio

    Alimentao e bebidas 19,47 4,36Habitao (inclui Energia Eltrica) 12,97 2,08Artigos de Residncia 12,97 0,74Comunicao 11,27 0,39Sade e Cuidados Pessoais 10,19 1,09Transportes 9,97 2,20Vesturio 8,81 0,47Educao 8,45 0,40Despesas Pessoais 8,36 0,80

    Fonte: IBGE (www.ibge.gov.br na seo indicadores conjunturais/ preos).

    Foram, no entanto, o IGP-M, com 25,31%, base para o reajuste das tarifas de energia, e oIGP-DI, com 26,41%, base para o reajuste do telefone, os ndices que mais cresceram no perodo. O IGP-M o ndice que calculado entre o dia 21 de um ms e o dia 20 do seguintes, no qual envolve a faixa de

    2 O INPC calculado pelo IBGE em 11 regies brasileiras com famlias com renda de um a oito salrios mnimos.

  • 19

    1 a 33 salrios mnimos com abrangncia nas 12 maiores regies metropolitanas. J o IGP-DI, envolve amesma faixa salrios e tem a mesma abrangncia, mas calculado entre o dia 1 e o dia 30 de cada ms.

    No tocante s metas inflacionrias, a despeito de no ser critrio de desempenho, o Brasilno conseguiu atingir, pelo terceiro ano seguido, a meta de inflao prevista nos acordos do FundoMonetrio Internacional (FMI). O IPCA para o ano havia sido fixado em 9%. Em dezembro, o FMIconcordou em elevar esse teto para 11%.

    Quadro 2.4Resultados dos Principais ndices de Inflao em 2002

    ndice/Entidade Amostra Utilizao Resultado

    IPCA/IBGE Famlias 1 a 40 s.m. Genrico 12,53% a.a.

    INPC/IBGE Famlias 1 a 8 s.m. Genrico 14,74% a.a.

    IGP/FGVFamlias 1 a 33 s.m.(com preos por atacado econstruo civil)

    Contratos (inclusive energiaeltrica e telefone)

    IGP-M 25,31% a.a.IGP-DI 26,41% a.a.

    ICV/DIEESE* Famlias 1 a 30 s.m. Referncia para acordossalariais 12,93% a.a.

    Fonte: IBGE, FGV, DIEESE. Nota: * O local de pesquisa apenas a regio metropolitana de So Paulo.

    O Banco Central, em justificativa apresentada ao Ministro da Fazenda, esclareceu que oano de 2002 foi caracterizado por uma conjugao de crise de confiana na evoluo da economiabrasileira e forte aumento da averso ao risco nos mercados internacionais. Esses fatores se refletiram: a)em turbulncias no mercado financeiro domstico, b) em dificuldades na administrao da dvida pblicae c) em quedas bruscas no financiamento externo do pas, com conseqncias negativas sobre a inflao eo nvel de atividade na economia. Foi esclarecido, ainda, que o no cumprimento da meta em 2002 podeser atribudo a trs fatores: i) forte depreciao cambial; ii) evoluo dos preos administrados porcontrato e monitorados; e iii) deteriorao das expectativas para a inflao.

    A decomposio da inflao apresentada no Grfico 2.3 permite destacar a contribuio dadepreciao cambial, da inrcia associada parcela da inflao que excedeu meta em 2001, dasexpectativas de inflao acima da meta, da inflao dos preos livres e da inflao dos preosadministrados por contrato e monitorados. A parcela devida depreciao cambial considera tambmseus efeitos indiretos (i.e. seu impacto sobre os preos livres e sobre determinados preos administradospor contrato e monitorados), de modo que a parte relativa elevao dos preos livres exclui os efeitos dorepasse cambial, bem como da inrcia e das expectativas. A parte atribuda aos preos administradosexclui os reflexos do repasse cambial e da inrcia.

    O comportamento da inflao ao longo de 2002 no foi uniforme. No primeiro semestre doano houve relativa estabilidade da inflao, em torno de 1,5% por trimestre, e forte crescimento dainflao no segundo semestre, atingindo 2,6% no terceiro trimestre e subindo acentuadamente,acumulando 6,6% nos ltimos trs meses do ano, fazendo com que a taxa de inflao acumulada nosltimos seis meses do ano totalizasse 9,32% ante 2,94% no primeiro semestre. Na segunda metade de2002 e, em particular, no ltimo trimestre, os trs fatores mencionados anteriormente atuaram com maiorintensidade.

  • 20

    O cmbio depreciou-se em 39% entre o primeiro e segundo semestres, quando secomparam as mdias observadas em cada perodo, fazendo com que o ndice refletisse grande parte doefeito do repasse da alta do dlar sobre os preos do consumidor. A alta acabou por demonstrar que, emum regime de cmbio flutuante, a tarefa de prever os efeitos dos choques externos bem difcil. Adepreciao do cmbio nominal, da ordem de 44%, foi significativamente superior inflao medida peloIPCA, resultando em depreciao da taxa de cmbio real. A cotao do dlar aumentou de um valormdio de R$2,55 no quarto trimestre de 2001 para R$3,67 no quarto trimestre de 2002, tendo sidoinfluenciada por fatores externos e internos anteriormente relatados.

    Grfico 2.3Contribuies para a Inflao Jan-Dez 2002

    in f la o liv r e e x c lu in d o

    r e p a s s e c a m b ia l, in r c ia e

    e x p e c ta t iv a s1 8 %

    r e p a s s e c a m b ia l4 7 %

    In f la o a d m in is tr a d o s

    e x c lu in d o r e p a s s e c a m b ia l

    e in r c ia1 5 %

    in r c ia7 %

    e x p e c ta t iv a1 3 %

    Fonte: Banco Central (Carta Presi-2003/0177, de 21/01/2003)

    Grfico 2.4Depreciao Cambial x Inflao 2002 (em %)

    4 3 ,9

    1 5 ,3 1 2 ,5 1 1 ,50

    1 02 03 04 05 0

    d e p re c ia o c a m b ia l in f la o d ea d m in is tra d o s p o r

    c o n tra to

    in fla o d o IP C A in fla o d o s p re o sliv re s

    %

    Fonte: Banco Central (Carta Presi-2003/0177, de 21/01/2003)

    Os preos administrados3, desde o incio do Plano Real, tm aumentos preocupantes: otelefone fixo aumentou 433,37%, o gs de botijo, 540,95%, a energia eltrica, 255,91%, a gasolina,259,68%. Em se tratando de uma inflao de custos, o governo dever analisar detidamente as causasdesses aumentos, alm de rever a poltica de preos administrados e reduzir ou estabilizar a cotao dodlar, caso deseje diminuir a inflao. No ano, o gs de botijo aumentou 48,3% e o lcool, 31,5%.

    3 Preos administrados por contrato e monitorados so aqueles cuja sensibilidade a fatores de oferta e demanda menor, o queno implica, necessariamente, serem diretamente regulados pelo governo. A definio de preos administrados por contrato emonitorados foi alterada pelo Copom em novembro de 2002, excluindo os itens "carvo vegetal", "transporte escolar" e"empregados domsticos". Segundo a nova definio, o conjunto de preos administrados por contrato e monitorados passa ater peso de 28,0% no IPCA de dezembro de 2002, ante 31,3%, na definio anterior. Esse conjunto de preos inclui itens comoeletricidade (com peso no IPCA de dezembro de 2002 de 4,19%), gasolina (4,41%), telefone fixo (3,04%), nibus urbano(4,58%), plano de sade (2,49%), gua e esgoto (1,61%) e gs de bujo (1,68%).

  • 21

    Estima-se4 em 5,8% o efeito total da depreciao cambial sobre a inflao em 2002, sendo3,8% relativos ao impacto sobre os preos livres e 2,0%, ao repasse sobre os preos administrados porcontrato e monitorados.

    No ano de 2002, contudo, constatou-se uma influncia mais acentuada dos preosdeterminados pelo mercado (livres), em particular no segundo semestre do ano. Os preos desses bens(ex.: eletrodomsticos e vesturios) so diretamente afetados pela poltica monetria. Os preos dosprodutos tradeables (i.e. comercializveis) apresentaram taxas de variao bastante elevadas, tendo sidofortemente influenciadas pelos alimentos. A taxa de variao entre esses bens praticamente dobrou emrelao a 2001.

    Quadro 2.5Comportamento dos Preos Administrados x Preos Livres e IPCA

    Jan/02 a Dez/02 Jan/01 a Dez/01IPCA 12,53 7,67Preos Administrados 14,59 10,46Preos Livres 11,63 6,50 Tradeables 14,88 7,30 No Tradeables 7,34 5,76

    Fonte: IPEA (Boletim Conjuntura IPEA de 16/01/2003).

    Em funo da crise de confiana na economia brasileira, as expectativas de inflaoexcederam meta e contriburam com 1,65 % para a inflao de 2002. A partir de meados do ano, asexpectativas superaram o limite superior do intervalo de tolerncia e, desde setembro, observou-se fortedeteriorao, tanto para 2002 quanto para 2003.

    A inrcia inflacionria herdada do ano de 2001 contribuiu com 0,9 % para o IPCA de2002. A inflao dos preos livres excluindo o repasse cambial, a inrcia herdada de 2001 e o impacto dasexpectativas de inflao acima da meta respondeu com 2,3 pontos percentuais para o IPCA de 2002.

    2.2.3 Emprego/Desemprego e Salrios

    Em 1999, o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministrio doTrabalho e Emprego MTE), institudo pela Lei 4.923/65, registrou um saldo negativo entre o total deadmisses e o total de desligamentos da ordem de 196.001. Nos anos seguintes, o saldo foi positivo em657.596 no ano de 2000 e 591.079 no ano de 2001. No ano de 2002, foram gerados 762.414 postos detrabalho (crescimento de 3,59%).

    4 Segundo informaes do Banco Central (Carta Presi-2003/0177, de 21/01/2003).

  • 22

    Grfico 2.5

    E v o l u o d o E m p r e g o - P o s t o s G e r a d o s - S a l d o L q u i d o

    - 4 0 0 . 0 0 0 , 0 0- 2 0 0 . 0 0 0 , 0 0

    0 , 0 02 0 0 . 0 0 0 , 0 04 0 0 . 0 0 0 , 0 06 0 0 . 0 0 0 , 0 08 0 0 . 0 0 0 , 0 0

    1 . 0 0 0 . 0 0 0 , 0 0

    1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2

    P o s t o s G e r a d o s

    Fonte: Ministrio do Trabalho - Caged

    Os trs principais setores de atividade finalizaram o ano de 2002 com crescimentos, semelhana do ano de 2001. O ranking apresenta o comrcio em primeiro lugar no tocante variao(6,68% ou 283.261 novos postos), em segundo lugar a atividade de servios (3,43% ou 285.797 novospostos) e em terceiro a indstria de transformao (3,16% ou 161.170). Apenas o setor de construo civilapresentou variao negativa (-2,43% ou 29.425 desligamentos a mais do que admisses).

    Em termos geogrficos, todas as regies apresentaram variaes positivas: 4,27% no norte,4,20% no nordeste, 3,26% no sudeste, 3,76% no sul e 4,26% no centro-oeste. As principais regiesmetropolitanas (Belm, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, So Paulo, Curitiba ePorto Alegre) tambm apresentaram variaes positivas.

    A taxa de desemprego5 atingiu a mdia de 7,1%, em 2002, nas seis maiores regiesmetropolitanas que fazem parte da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. Essa taxa representaum aumento de quase um ponto percentual frente observada no ano anterior.

    O comportamento do desemprego, excluindo-se os efeitos da sazonalidade durante o ano,indica a contnua elevao da taxa ao longo do ano e especialmente no segundo semestre. O baixocrescimento do nvel de atividade levou a uma ampliao de apenas 300 mil novas vagas no ano, o querepresentou um aumento de 1,7% na Populao Ocupada. Alm desse, outro fator que contribuiu para oaumento da taxa de desemprego foi o forte crescimento da Populao Economicamente Ativa (PEA), queapresentou variao de 2,8% ou 521 mil pessoas. A associao desses dois eventos resultou em umaexpanso da populao desocupada de 19,2% ou 221 mil pessoas.

    O crescimento de 1,7% no nmero mdio de pessoas ocupadas deveu-se basicamente aoaumento de postos de trabalho no Setor de Servios (+3,0%) e no Comrcio (+1,9%). Por outro lado,houve forte reduo na Construo Civil, com declnio de 6,8% e relativa estabilidade na Indstria, comrecuo de 0,1%. Por categoria de ocupao, o aumento maior ocorreu entre os trabalhadores informais(+3,6%), sem carteira de trabalho assinada J o total de trabalhadores formalizados, com carteira detrabalho assinada, teve crescimento menor (+1,9%). O grupo de trabalhadores por conta prpriaapresentou pequena reduo de 0,4%.

    5 A taxa de desemprego definida como sendo a relao entre o nmero de desempregados e a populao economicamenteativa, sendo esta definida como a populao ativa integrada ao mercado de trabalho o que inclui pessoas que possam estarprocurando emprego.

  • 23

    O aumento de pessoas a procura de trabalho em proporo superior ao da oferta de vagas,em conjunto com o aumento da inflao ao longo de 2002, contribuiu para a continuidade da queda novalor do salrio real. O rendimento mdio do trabalhador (deflacionado pelo IPCA), aferido pela PME,decresceu 2,3% na mdia do ano at novembro em relao a idntico perodo de 2001. Por outro lado, acombinao da queda na renda real com a expanso de 1,7% na ocupao resultou em um recuo de 0,56%na estimativa da massa salarial de janeiro a novembro de 2002, frente ao mesmo perodo de 2001.

    Sob o enfoque da formalizao, o aumento do emprego na categoria sem carteira assinadaocorreu com um aumento no rendimento mdio real de 1%, enquanto os grupos com carteira e por contaprpria apresentaram recuo de 2,7% e 2,9%, respectivamente. Deve-se mencionar que o valor dorendimento mdio das categorias sem carteira assinada (R$ 734) e por conta prpria (R$ 709) foram11,0% e 14,0%, respectivamente, menores do que o aumento da renda da categoria com carteira assinada(R$ 825) na mdia de 2002.

    Em abril de 2002, o salrio mnimo foi reajustado em 11,1%, passando de R$ 180,00 paraR$ 200,00. Comparando-se com a evoluo do ndice Nacional de Preos ao Consumidor do perodo deabril de 2001 a maro de 2002 esse valor significa um aumento real de 1,3%.

    2.3 Anlise das Polticas Pblicas Macroeconmicas

    2.3.1 Poltica Monetria e Creditcia

    O comportamento dos agregados monetrios em 2002 foi condicionado pelas incertezasreinantes nos cenrios econmicos interno e externo, com reflexo na trajetria da taxa de cmbio e nataxa de juros, gerando moderado crescimento da atividade econmica e estabilidade do nvel dasoperaes de crdito.

    A partir de junho, diversos fatores pontuais acabaram por influenciar direta ouindiretamente o nvel e a alocao dos haveres monetrios e financeiros por parte dos agenteseconmicos, ao mesmo tempo em que evidenciou a preferncia por liquidez. Entre eles, a marcao amercado dos fundos de investimento financeiro (FIF) estabelecida pela Circular/Bacen n 3.086, de15.2.2002, que provocou, a partir de 31 de maio, volatilidade nos preos dos ttulos pblicos,notadamente as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), desencadeando migrao de recursos para outrasmodalidades de aplicao financeira, com movimentao atpica de recursos, especialmente paradepsitos de poupana, depsitos a prazo ou para depsitos vista e papel-moeda em poder do pblico.

    Ao mesmo tempo, a Lei Complementar n 110, de 29.6.2001, autorizou a CaixaEconmica Federal creditar nas contas vinculadas do Fundo de Garantia por Tempo de Servio (FGTS),s expensas do prprio fundo, o complemento de atualizao monetria resultante da aplicao,cumulativa, dos percentuais de 16,64% e 44,8%, sobre o saldo das contas mantidas no perodo de 1 dedezembro de 1988 a 28 de fevereiro de 1989 (Plano Vero) e durante o ms de abril de 1990 (PlanoCollor). Alm disso, a Medida Provisria 55, de 7.7.2002, permitiu liberaes, em parcela nica, noprevistas inicialmente, referentes ao crdito de complemento de atualizao monetria para titulares decontas vinculadas do FGTS com saldo igual ou inferior a R$100, dispensada a comprovao do termo deadeso, e para titulares com idade igual ou superior a 70 anos. Essas medidas implicaram em liberaesextraordinrias de saldos do FGTS de aproximadamente R$7 bilhes entre junho e dezembro.

  • 24

    Merece destaque, ainda, o volume de recursos movimentado para custeio do processoeleitoral e as incertezas dele decorrentes, com reflexos diretos sobre depsitos vista e, principalmente,sobre o papel-moeda em poder do pblico.

    2.3.1.1 Base Monetria, Meios de Pagamento e Papel-Moeda

    Ao longo do ano de 2002, o excesso de liquidez bancria sofreu um substancial aumento,partindo de uma situao de necessidade de injeo de liquidez de R$ 18,7 bilhes no incio do ano paraum excesso de R$ 64,1 bilhes. Isso ocorreu devido a uma srie de fatores, entre os quais merecemdestaque: i) os resgates lquidos de ttulos pblicos federais, em especial no segundo semestre e ii) arolagem da dvida cambial por intermdio de swaps solteiros6 a partir de maio.

    Para reduzir a liquidez da economia, a autoridade monetria, na conduo da polticamonetria, fez uso de instrumentos de controle monetrio adotando um conjunto de medidas queincluram: i) a alterao das alquotas de recolhimento compulsrio e do encaixe obrigatrio sobredepsitos a prazo e de poupana e ii) a instituio de exigibilidade adicional sobre os recursos vista, aprazo e de depsitos de poupana. Isso fez com que o total de depsitos compulsrios no Banco Centralaumentasse de R$ 63,2 bilhes no final de 2001 para R$ 123,1 bilhes em dezembro de 2002, conformese depreende do quadro seguinte.

    Quadro 2.6Recolhimentos Compulsrios/ Encaixes Obrigatrios Total

    R$ bilhes2001 2002

    Depsitos vista 20,6 30,2Poupana 19,0 30,0Depsitos a prazo 12,8 23,5Depsitos judiciais 10,6 12,7Exigibilidade adicional 0,2 26,5TOTAL 63,2 123,1

    Fonte: Bacen. Focus 06/03/2003.

    Assim, no que se refere aos depsitos a prazo, a alquota do recolhimento compulsrio foielevada de 10% para 15% em junho. Tambm nesse ms, a alquota do recolhimento compulsrio sobredepsitos de poupana foi elevada de 15% para 20%. O cumprimento da exigibilidade feito mediante avinculao de ttulos pblicos federais no Selic.

    J no que se refere aos depsitos vista, a alquota do recolhimento compulsrio foimantida em 45%, apesar de haver ocorrido uma redefinio das regras acerca da apurao do ValorSujeito a Recolhimento VSR. A principal alterao diz respeito incorporao, quando da apurao doVSR, do conceito de reservas prontamente disponveis para a instituio. Dessa forma, por um lado, ossaldos contbeis dos depsitos vista e de aviso prvio so ajustados, diariamente, em funo doscheques, dos DOCs e dos boletos de cobrana remetidos e recebidos da Compe (Centralizadora deCompensao de Cheques e outros papis), desde que gerem transferncia entre contas ReservasBancrias das instituies financeiras. Por outro lado, diversas isenes foram revogadas inclusive as queenvolvem contribuies para a previdncia social e tributos federais.

    6 Swaps solteiros so modalidades de swaps sem vnculo com ttulos pblicos.

  • 25

    Em agosto, o Banco Central criou exigibilidade adicional com alquotas que incidem sobreo VSR de cada tipo de depsito, sendo 3% dos recursos vista, 5% dos recursos de poupana e 3% dosdepsitos a prazo. O recolhimento, aps consolidado o resultado, do valor que exceder a R$ 30 milhesremunerados pela taxa Selic. As alquotas dessa exigibilidade adicional foram elevadas, em outubro, em5% e fecharam o ano em 8% sobre recursos vista, 10% sobre recursos de depsitos de poupana e 8%sobre depsitos a prazo.

    Ao analisar os instrumentos monetrios utilizados pelo Banco Central para conter oexcesso de liquidez, torna-se inevitvel observar os principais agregados monetrios de modo adimensionar o impacto dessas medidas, pois mesmo em modelos de poltica monetria que privilegiam ocontrole da taxa de juros, os agregados monetrios continuam sendo instrumentos importantes para oacompanhamento dos efeitos dessa poltica, servindo de indicadores de liquidez e de indicadores decaptaes internas de recursos para multiplicao de crdito no pas. Conforme se observa no quadro aseguir, as metas estabelecidas trimestralmente pela programao monetria foram cumpridas pelosprincipais agregados.

    Quadro 2.7Principais Agregados Monetrios

    Trimestres de 2002 (1)Discriminao

    1 2 3 4

    Metas Base Restrita (2) 45,1 53,0 45,4 53,3 49,1 57,7 65 87,9 M1 (2) 67,0 78,6 66,8 78,5 72,4 85,0 93,5 126,5 Base Ampliada (3) 625,0 733,7 640,6 752,0 659,3 774,0 669,8 906,1 M4 (3) 728,0 854,6 720,7 846,0 746,8 876,6 698,8 945,4Resultados Base Restrita (2) 50,1 50,6 58,2 69,9 M1 (2) 74,4 78,4 87,0 102,3 Base Ampliada (3) 661,9 715,4 772,7 788 M4 (3) 763,4 769,6 776,7 807,4

    Fonte: Banco Central do Brasil (http://www.bacen.gov.br/mPag.asp?perfil=4&cod=307&codP=769&idioma=P) Notas:

    (1) Refere-se ao ltimo ms do trimestre.(2) Mdia dos saldos nos dias teis do ms.(3) Saldos em final de perodo.

    A base monetria, em termos de mdia dos saldos dirios, comportou-se de maneiradistinta no decorrer do ano, permanecendo estvel at junho e elevando-se a partir do segundo semestreem resposta ao movimento expansionista dos depsitos vista adicionado ao efeito da Circular/Bacen n3.134, de 10.7.2002, que incluiu as rubricas Recebimentos de Tributos Federais e Recebimentos deContribuies Previdencirias Federais nos Valores Sujeitos a Recolhimento (VSR) para fins de definiodo recolhimento compulsrio e do encaixe obrigatrio sobre os recursos vista. Desse modo, o saldomdio da base monetria alcanou R$ 69,9 bilhes em dezembro, com crescimento de 32,3% no ano,correspondente s elevaes de 33,2% observada no papel-moeda emitido e de 30,2% em reservasbancrias.

    Com relao s fontes de emisso primria de moeda, sobressaram as operaes do setorexterno, com impacto contracionista da base monetria de R$ 26,4 bilhes, resultante das vendas lquidasde divisas ao mercado interbancrio de cmbio processo desencadeado pelo Banco Central, a partir dejunho, objetivando minimizar a volatilidade na taxa de cmbio, associada s incertezas decorrentes do

  • 26

    processo eleitoral e restries de crdito externo. No mesmo sentido, o conjunto de operaes com osistema financeiro gerou contrao de R$ 23,8 bilhes. Deve-se destacar, entre os itens que compem estesegmento, a elevao da alquota do compulsrio sobre os depsitos do Sistema Brasileiro de Poupana eEmprstimo (SBPE) e a instituio da exigibilidade adicional sobre os recursos vista, depsitos a prazoe depsitos de poupana, que juntos provocaram recolhimentos acumulados de R$ 33,7 bilhes, enquanto,no sentido inverso, as operaes com derivativos autorizadas pela Resoluo CMN n 2.939, de26.3.2002, responderam pela expanso de R$ 10,9 bilhes no perodo de maio a dezembro. Por outrolado, o resultado lquido das operaes do Tesouro Nacional, excludos os efeitos da movimentao comttulos, foi contracionista em R$ 20,5 bilhes, observando-se arrecadao de R$ 228,9 bilhes no ano,com crescimento de 23,8% sobre igual perodo do ano anterior.

    Considerando-se a demanda por base monetria de R$ 20 bilhes, o ajuste da liquidezefetivou-se mediante resgates lquidos no mercado primrio de R$ 89,8 bilhes, conjugados comoperaes de compras lquidas no mercado secundrio de R$ 1,2 bilho.

    A base monetria ampliada, agregado monetrio mais amplo, que sintetiza o passivomonetrio e os ttulos pblicos federais registrados no Selic registrou evoluo de 21,9% no perodo.Comportamento que reflete, principalmente, o crescimento vegetativo resultante da atualizao monetriada dvida mobiliria federal em poder do mercado, determinada, em grande parte, pelo patamar assumidopela taxa de cmbio. A referida expanso, no valor de R$ 174,7 bilhes, foi parcialmente reduzida pelasoperaes do setor externo e do Tesouro Nacional, que atuaram no sentido contracionista.

    Quadro 2.8Emisso e Resgate de Papel-Moeda1998/2002

    R$ milhesESPECIFICAO 1998 1999 2000 2001 2002

    SALDO ANTERIOR 20.251 24.167 29.838 32.633 37.669Acrscimos

    Emisso bruta 84.255 88.243 89.529 94.492 137.267Excesso dos pagamentos sobreos recebimentos

    TOTAL 104.506 112.410 119.367 127.125 174.936Abatimento

    Recolhimentos 80.339 82.572 86.734 89.456 125.005Moeda No-Resgatada - - -Recebido Reforo ReservaMonetria - - -

    SALDO EM CIRCULAO 24.167 29.838 32.633 37.669 49.931 Fonte: Banco Central do Brasil.

    Os meios de pagamento ampliados apresentaram elevao moderada no ano de 2002,devido, basicamente, ao processo de marcao pelo valor de mercado dos ttulos pblicos, por parte dosistema financeiro nacional, ao resgate lquido de ttulos realizado ao longo do ano pelo Tesouro Nacionale contrao primria das operaes de crdito do sistema financeiro. A conjuno desses fatores secontrape depreciao cambial incidente sobre os haveres financeiros vinculados moeda estrangeira.Alm disso, ressalte-se a escassez de crdito no mercado externo, dificultando o processo de renovao deemprstimos do setor privado, levando as empresas a se desfazerem de aplicaes para honrar seuscompromissos no exterior. Como conseqncia, a relao da poupana financeira sobre o PIB passou de60,9% em dezembro de 2001, para 53,6% ao final de 2002.

  • 27

    Quanto ao meio circulante, o seu saldo no final de 2002 alcanou R$ 49.931 milhes,como demonstrado no Quadro 2.9. As emisses e recolhimentos efetuados pelo BCB, como agenteexecutor das deliberaes do CMN, afetam diretamente o meio circulante domstico por intermdio dacolocao e retirada de cdulas e moedas metlicas, includas as comemorativas. O Quadro 2.10discrimina as quantidades e os montantes das cdulas e moedas metlicas do padro real em poder dopblico do sistema bancrio.

    Quadro 2.9Meio Circulante2001/2002

    R$ mil2001 2002

    Discriminao Quantidade(em milhares)

    Valor(A)

    Quantidade(em milhares)

    Valor(B)

    [(B)/(A)]%

    Cdulas em papel 2.039210,7 34.723.894,0 2.652.154,8 46.803.542,0 134,78Cdulas em polmeros 200.887,4 2.008.874,1 206.755,6 2.067.555,7 102,92Moedas comemorativas 73,1 445,8 84,3 534,9 119,98Moedas inox 5.833.958,8 788.363,2 5.829.044,7 785.715,8 99,66Outras moedas 1.452.452,6 147.258,5 2.178.301,4 273.717,2 185,87

    TOTAL 9.526.582,6 37.668.835,6 10.866.340,8 49.931.065,6 132,55 Fonte: Banco Central do Brasil (www.bacen.gov.br

    2.3.1.2 Taxas de Juros Nominais e Reais

    As taxas de juros brasileiras esto atualmente entre as mais elevadas do mundo. Isso deve-se, em parte, s condies macroeconmicas que caracterizaram o perodo sob exame. No entanto, essa s parte da explicao, pois a diferena entre as taxas de juros bsicas (de captao) e as taxas finais(custo ao tomador), o chamado spread, tambm tem sido expressiva, como demonstram as taxas dejuros cobradas nos emprstimos. No obstante os spreads j terem cado relativamente aos picosobservados em 1995, ainda permanecem em patamares bastante elevados.

    Com a flutuao do real desde janeiro de 1999 e com a adoo do regime de metas para ainflao em 1 de julho de 1999, criaram-se as condies institucionais para focalizar a poltica monetriaem um objetivo, qual seja, o de assegurar a estabilidade dos preos. Diferentemente do que ocorria noregime anterior, no h mais necessidade de elevadas taxas de juros para equilibrar o balano depagamentos. A prpria flutuao da taxa de cmbio auxilia na manuteno do equilbrio externo.

    Em fevereiro de 2002, o Comit de Poltica Monetria (Copom) iniciou o processo dereduo da taxa bsica de juros a chamada taxa Selic que havia iniciado o ano em 19%, baixando-apara 18,75%. No ms seguinte, nova baixa para 18,50%. Contudo, em abril a estratgia interrompida edecepciona o mercado financeiro. Em julho, nova baixa para 18%. Em 15 de outubro, o Copom se reuniuextraordinariamente (uma semana antes da reunio marcada, pela terceira vez em sua histria) e elevou ataxa para 21%. Em novembro, para 22% e em dezembro, a extraordinria marca de 25% se aproximandono nvel mais alto ocorrido em maio de 1999, quando o juro bsico estava em 27% ao ano. Dessa forma, ojuro real (taxa nominal descontada a inflao) alcanou a taxa de 9,3% ao ano, fazendo do Brasil o lderdo ranking mundial com Polnia (8,1% ao ano) em segundo lugar e Turquia (5,9% ao ano) em terceiro.

  • 28

    Naturalmente, as decises do Bacen sobre os juros so baseadas em vrias razes e no nasexpectativas de mercado sobre o juro real. A maior preocupao parece ter sido a piora do cenrioexterno, que provocou desvalorizao acentuada da moeda nacional, bem como deteriorao da inflaode curto e mdio prazos.

    2.3.1.3 Operaes de Crdito do Sistema Financeiro

    O comportamento das operaes de crdito do sistema financeiro em 2002 esteve sujeito scondies desfavorveis predominantes nos cenrios externo e interno, traduzidas em contrao definanciamentos internacionais e volatilidade da taxa de cmbio, sobretudo no segundo semestre. Essesfatores concorreram para a estabilidade da demanda por crdito bancrio, mantendo-se a tendncia depostergao das decises de investimento das empresas e de consumo por parte das famlias, sobretudo debens de maior valor unitrio. J, no tocante oferta de recursos, embora a taxa de inadimplncia tenharecuado no perodo, as instituies financeiras mantiveram postura similar verificada no ano anterior,persistindo o conservadorismo e a seletividade na concesso de novos emprstimos, direcionadospreferencialmente para operaes com maiores garantias.

    As taxas dos emprstimos com juros prefixados e com juros flutuantes mantiveram-serelativamente estveis at setembro, tendo no ltimo trimestre registrado majorao, em resposta elevao das alquotas de compulsrio e ao aumento da taxa over/Selic. A conjuntura desfavorvelprovocou o aumento de 2,4% no spread bancrio (i.e. a diferena entre a taxa mdia das operaes decrdito e o custo de captao das instituies financeiras), tendo encerrado o ano em 31,1 p.p. A despeitoda estabilizao da inadimplncia, destacaram-se como fatores para elevao do spread: i) incertezasreferentes trajetria das taxas de juros e de inflao; ii) aumento nas alquotas de recolhimentocompulsrio sobre depsitos vista, depsitos a prazo e caderneta de poupana; iii) a criao de alquotasadicionais sobre esses recursos (aspectos j comentados anteriormente) e iv) o crescimento das taxascontratuais dos emprstimos com variao cambial, associado escassez de linhas de crditointernacional para financiamento s empresas brasileiras.

    Quadro 2.10Operaes de Crdito do Sistema Financeiro

    Operaes de Crdito em 2002

    Por setor

    R$ bilhes Variao (2001-2002)Sistema pblico financeiro 144,1 24,1 %Sistema financeiro privado 233,9 8,2%.

    Total 378 Fonte: SFC p. B 13-16

    Nessa conjuntura, o volume total de crdito, que compreende operaes realizadas porinstituies privadas e pblicas, com recursos livres e direcionados apresentou expanso de 13,7% emrelao ao ano anterior. Como resultado, a relao dos emprstimos totais com o PIB situou-se em 24%,ante 26,4% em dezembro de 2001, com destaque para o crescimento dos financiamentos realizados pelosistema Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES), bem como das operaescom o setor rural, que contriburam para a evoluo das carteiras das instituies pblicas .

  • 29

    Relativamente s operaes do sistema BNDES, o volume acumulado de desembolsos parainvestimentos de mdio e longo prazos totalizou R$ 37,4 bilhes de janeiro a dezembro, registrandoincremento de 48,4% em relao ao mesmo perodo de 2001. Essa evoluo refletiu as diretrizesgovernamentais, direcionadas, sobretudo, ao atendimento de projetos de investimentos na rea de infra-estrutura, envolvendo empresas relacionadas gerao, transmisso e distribuio de energia eltrica, emdecorrncia da crise de abastecimento do setor ocorrida no ano anterior.

    No tocante s consultas efetuadas ao BNDES, que representam indicador dos futurosinvestimentos de mdio e longo prazos do setor produtivo, o total atingiu R$ 44 bilhes em 2002,significando expanso anual de 18,2%. Esse resultado decorreu do acrscimo de 39,9% nas solicitaesfeitas pelo segmento de comrcio e servios, volume de R$ 25,4 bilhes, predominando os projetos deinfra-estrutura vinculados rea de energia e eletricidade, com recursos de R$ 11,8 bilhes, superioresem 54,1% aos de 2001. Assinale-se, ainda, que o volume de consultas para o segmento detelecomunicaes atingiu R$ 3,1 bilhes, ante R$ 1,7 bilho em 2001, sinalizando que as empresas dosetor esto projetando novos investimentos para 2003, ao contrrio do ocorrido em 2002, quando osdesembolsos mostraram expressiva reduo. Em sentido inverso, as consultas realizadas pela indstria detransformao decresceram 9,4%, totalizando R$ 13,5 bilhes.

    Por outro lado, as incertezas do mercado financeiro e a volatilidade da moeda americanainfluenciaram as operaes cambiais de modo distinto das demais. Enquanto as taxas prefixadas e asflutuantes aumentaram, ante a elevao dos custos de captao, a taxa mdia projetada parafinanciamentos ps-fixados, formada pela taxa contratual acrescida da variao cambial esperada para oprazo do emprstimo, apresentou forte retrao no segundo semestre. Em funo desse comportamento,observou-se no segmento de pessoas jurdicas, que concentra as operaes com variao cambial e comjuros flutuantes, decrscimo de 2,4 p.p. na taxa mdia, que atingiu 30,9% a.a.

    J no tocante taxa de inadimplncia, a adoo de poltica conservadora para a liberaode novos crditos, aliada utilizao dos recursos extraordinrios do FGTS para o pagamento de dvidas,controlou o crescimento da inadimplncia iniciado no segundo semestre de 2001. Em dezembro, opercentual de atrasos com prazo superior a quinze dias atingiu 8% da carteira, 0,5 p.p. abaixo do valorregistrado no ano anterior. No segmento de pessoas jurdicas, a inadimplncia atingiu 4,2%, ante 4,7% emdezembro de 2001, enquanto na carteira de pessoas fsicas, a taxa atingiu 14,8%, com retrao de 0,2 p.p.

    2.3.2 Poltica Fiscal

    2.3.2.1 Desempenho Fiscal Recente

    Em 2002, o setor pblico no financeiro consolidado (governo central, governos regionaise empresas estatais) registrou supervit primrio (critrio abaixo da linha)de R$ 52,4 bilhes. Esseresultado superou a meta mnima de 3,88% do PIB, que j havia sido ampliada no decorrer do ano, emresposta aos choques adversos, relacionados ao crescimento da averso ao risco nos mercadosinternacionais e, em particular, crise de confiana na evoluo da economia brasileira. Dessa forma,verificou-se, pelo quarto ano consecutivo, o integral cumprimento das metas de resultado primrio, comefeitos benficos sobre a credibilidade da poltica fiscal brasileira. No perodo 1999-2002, o setor pblicofoi capaz de promover mudana substantiva no patamar do saldo primrio, saindo de um dficit anualmdio de 0,19% do PIB no quadrinio 1995-1998, para um supervit mdio anual de 3,55% do PIB.

  • 30

    semelhana do verificado no perodo 1999-2001, todas as esferas do setor pblicogeraram supervit primrio em 2002, garantindo abrangncia para o ajuste fiscal em curso. Destaque parao incremento do saldo primrio do governo central, em relao ao ano de 2001, que permitiu ampliar suaparticipao relativa no resultado primrio do setor pblico consolidado. Esse desempenho foiimpulsionado pelo ingresso de receitas no recorrentes, que somaram R$ 22,1 bilhes, ante R$ 2,7 bilhesem 2001. Descontadas as transferncias a Estados e Municpios, os ingressos atpicos geraram umincremento de R$ 13,1 bilhes no saldo primrio do governo central.

    Grfico 2.6 Resultado Primrio do Setor Pblico no critrio

    abaixo da linha (% do PIB)

    Fonte: BCB e SFC p. B-6 Elaborao: MF/SPE

    Quadro 2.11Supervit Primrio por Esfera de Governo

    Fonte: BCB e SFC p. B-6 Elaborao: MF/SPE

    Quadro 2.12Resultado Primrio Governo Central (% do PIB)

    Fontes: MF/STN, MPAS e SFC p. B-7 Elaborao: MF/SPE

    Grfico 2.7Destino das Receitas do Governo Central (%)

    Fonte: MF/STN, MF/SRF e SFC p. B-7 Elaborao:MF/SPE

    O ingresso de expressivas receitas atpicas facilitou a obteno da meta mnima desupervit primrio, permitindo ainda ampliar, ao longo do exerccio, os limites de empenho e pagamentodos dispndios de natureza discricionria, revertendo parcialmente o contigenciamento proposto no inciode 2002. Em relao ao Decreto 4.120, de Programao Oramentria e Financeira, publicado em08.02.2002, observa-se incremento de R$ 1,1 bilho nas despesas discricionrias do Poder Executivo.Mesmo assim, os gastos abrangidos pelo Decreto apresentaram reduo de 0,09 ponto percentual do PIBem relao ao verificado em 2001. A retrao das despesas discricionrias7 vem se mostrando necessriapara a ampliao dos saldos primrios, que passam a absorver parcela crescente das receitas do governocentral, conforme Grfico 2.7.

    7 Despesas discricionrias so as despesas passveis de contingenciamento em contraponto s obrigatrias, tais como pessoal,servio da dvida e transferncias constitucionais.

    -2,0

    -1,0

    0,0

    1,0

    2,0

    3,0

    4,0

    1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

    % PIB Partic.% % PIB Partic.%Governo Central 2,39 61,0 1,83 50,3 Governos Regionais 0,79 20,2 0,87 24,0 Empresas Estatais 0,74 18,8 0,93 25,7 Setor Pblico 3,91 100,0 3,64 100,0

    2002 2001

    2002 2001Gov.Central (acima da linha) 2,35 1,81 Tesouro Nacional 5,59 4,88 INSS -1,27 -1,07 RJU -1,97 -2,00Discrepncia Estatstica 0,03 0,02Gov.Central (abaixo da linha) 2,39 1,83

    18%

    57%

    17%10%

    17%

    58%

    19%8%

    0%20%40%60%

    80%100%

    2002 2001

    Result ad o

    Desp esas

    Desp esas

    Transf ernciasMun icp io

  • 31

    2.3.2.2 Execuo Financeira do Tesouro Nacional

    Em 2001 a execuo financeira do Tesouro Nacional havia apresentado dficit nominal decaixa de R$ 11,6 bilhes. Em 2002, esse dficit foi revertido para R$ 31,2 bilhes, resultante do ingressode receitas de R$ 369,2 bilhes e de desembolsos de R$ 338 bilhes incluindo pagamentos de juros. Noforam computadas, na apurao do resultado, as emisses e os resgates de ttulos da dvida mobiliriafederal junto ao mercado, as receitas decorrentes da renegociao da dvida externa, os gastos com aamortizao das dvidas contratuais interna e externa, e as despesas com a aquisio de garantiasreferentes ao refinanciamento dos dbitos externos, assim como as receitas e despesas provenientes dorelacionamento entre o Tesouro Nacional e o Banco Central, cujo resultado foi superavitrio de R$ 13,2bilhes.

    Quadro 2.13Execuo Financeira do Tesouro Nacional

    R$ milhes2001 2002 Variao %

    I. RECEITAS 272.109,00 369.289,40 35,71

    I.1 - Recolhimento Bruto 191.549,30 236.652,70 23,55 I.2 - (-) Incentivos Fiscais (230,50) (249,30) 8,16 I.3 - Outras Operaes Oficiais de Crdito 9.720,50 11.175,80 14,97 I.4 - Receita das Operaes de Crdito 3.534,60 2.283,10 35,40 I.5 - Receita do Salrio Educao 1.474,30 1.716,80 16,45 I.6 - Arrecadao Lquida da Previdncia Social 65.994,20 76.625,20 16,11 I.5 - Remunerao de Disponibilidades - BB 66,60 41.085,10 61.589,34

    II. DESPESAS 283.751,10 338.009,50 19,12

    II.1 - Liberaes Vinculadas 54.748,40 65.606,70 19,83

    II.1.1 - Transferncias a Fundos Constitucionais 38.813,60 47.421,80 22,18II.1.2 Demais transferncias a Estados e Municpios 3.100,30 4.284,80 38,21 II.1.3 - Transferncia da Lei Complementar 87 3.581,50 3.952,60 10,36 II.1.4 - Outras Vinculaes 9.253,00 9.947,40 7,50 II.2 - Liberaes Ordinrias 229.002,70 272.402,90 18,95 II.2.1 - Pessoal e Encargos Sociais 63.347,10 72.875,10 15,04 II.2.2 - Encargos da Dvida Contratual 16.892,70 19.655,20 16,35 i) Dvida Contratual Interna 3.178,60 2.242,30 29,46 ii) Dvida Contratual Externa 13.714,00 17.412,90 26,97 II.2.3 - Encargos da DPMF - Mercado 21.517,20 27.006,90 25,51 II.2.4 - Benefcios Previdencirios 75.423,20 90.696,50 20,25 II.2.5 - Custeio e Investimento 47.369,00 58.376,20 23,24 II.2.6 - Operaes Oficiais de Crdito 4.453,60 3.793,10 14,83 II.2.7 - Restos a Pagar (11.642,10) 0,00

    III. RESULTADO FINANCEIRO DO TESOURO (I - II) (11.642,10) 31.279,80 (268,68)

    Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional (Resultados do Tesouro)

  • 32

    2.3.2.3 Dvida Pblica Federal

    A Dvida Pblica Federal engloba o endividamento do Governo Federal decorrente deoperaes de crdito realizadas, de emisso de ttulos de responsabilidade do Tesouro Nacional e derolagens de dvidas mobilirias anteriormente constitudas. Esta dvida pode ser de duas naturezas:contratual, quando rgos e entidades celebram contratos com pessoas fsicas ou jurdicas visando aimplementao de polticas pblicas, ou mobiliria, decorrente da emisso de ttulos, atualmente decompetncia e administrao exclusiva da Secretaria do Tesouro Nacional com observncia dedispositivos emanados do Senado Federal e do Conselho Monetria Nacional e auxlio do Banco Centraldo Brasil no tocante aos aspectos operacionais e executivos.

    A despeito do esforo fiscal, consubstanciado nos saldos primrios registrados, a dvidalquida do setor pblico (DLSP), como proporo do PIB, experimentou nova ampliao no exerccio de2002 (+3,9 pontos percentuais do PIB). A desvalorizao da moeda nacional foi responsvel por parcelaexpressiva da ampliao da DLSP, na medida em que aumenta, em moeda nacional, o valor da dvidaexterna e da dvida interna indexada ao dlar, para um mesmo nvel de dvida em dlar. A apropriao dedespesas com juros nominais alcanou 8,52% do PIB em 2002, ante 7,20% em 2001.

    Grfico 2.8DLSP/PIB x Taxa de Cmbio

    0,51,01,52,02,53,03,54,0

    jan/95

    set/9

    mai/9

    jan/97

    set/9

    mai/9

    jan/99

    set/9

    mai/0

    jan/01

    set/0

    mai/0

    mbio

    20

    30

    40

    50

    60

    70/PIB

    Tx Cmbio DLSP/PIB

    Fonte: BCB e SFC p. B-8 Elaborao: MF/SPE

    Os principais componentes da Dvida Pblica Federal de Responsabilidade do TesouroNacional a dvida mobiliria interna e a dvida externa apresentaram variao positiva de 21,56% e59,55%, respectivamente, conforme se depreende do Quadro 2.14.

    Sob o ponto de vista real (com deflao pelo IGP-M), o estoque da dvida mobiliriasecuritizada sofreu uma variao negativa de 5,79%. As emisses realizadas durante o ano totalizaram R$11,2 bilhes, sendo que a maior parte delas (R$ 9,9 bilhes) foi destinada a securitizao de dvidaagrcola (equalizao de taxas de juros de financiamentos agrcolas). Os cancelamentos foram das maisdiversas naturezas que incluam trocas efetuadas por disposio da Lei 10.179, de 06/02/2001, dvidasrelacionadas ao INSS e ao FCVS, entre outras.

    J o estoque de TDA apresentou reduo real de 29,7%. No decorrer do ano de 2002, ovolume de emisses foi bem menor do que o volume pago de principal e juros, gerando um resgatelquido de R$ 414,8 milhes que mais do que compensou a apropriao dos juros nominais.

    Por outro lado, a dvida Pblica Mobiliria Federal Interna (DPMF-i) teve uma variao

    real de -2,82%. O estoque nominal aumentou principalmente devido apropriao de juros nominais,uma vez que as emisses financeiras, realizadas por oferta pblica, foram menores do que os pagamentos

  • 33

    de principal e juros. O montante dos juros nominais por competncia so justificados principalmentepelas altas da inflao, da taxa Selic e da variao cambial no decorrer de 2002.

    Quadro 2.14Dvida Pblica Federal de Responsabilidade do Tesouro

    R$ MilhesDVIDA PBLICA FEDERAL - CONSOLIDADO

    Dez/01 Dez/02 Variao

    DVIDA TOTAL (A + B) 861.134 1.111.119 29,03

    A. DVIDA MOBILIRIA INTERNA 691.817 840.972 21,56 I. DVIDA MOBILIRIA 670.227 816.166 21,77 II. DVIDA MOBILIRIA SECURITIZADA 19.314 22.801 18,05 III. TTULOS DA DVIDA AGRRIA (TODA) 2.276 2.005 -11,92B. DVIDA EXTERNA 169.317 270.147 59,55 I. DVIDA MOBILIRIA 124.483 200.668 61,20 I.1. Bnus de Renegociao 45.487 65.418 43,82 I.2. Bnus de Captao 78.996 135.249 71,21 II. DVIDA CONTRATUAL 44.834 69.479 54,97

    Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional (Resultados do Tesouro).

    A Administrao da DPMFi em mercado, de responsabilidade do Tesouro Nacional e doBanco Central do Brasil, ao longo de 2002, foi fortemente influenciada por choques adversos quemarcaram a economia mundial. O volume de ttulos pblicos federais, em poder do pblico, a vencer em12 meses apresentou aumento substancial, passando de 25,6% em dezembro de 2001 para 38,9% emdezembro de 2002, revertendo a tendncia de desconcentrao de vencimentos no curto prazo.

    A volatilidade verificada no mercado financeiro domstico ao longo de 2002 foi a principalresponsvel pela reduo da participao dos ttulos com rentabilidade prefixada no total da DPMFi. Aincerteza gerou aumento nos prmios e reduo de prazos e de demanda por LTN, colocando o TesouroNacional num dilema, aumentar o percentual de ttulos prefixados na composio da DPMFi ao custo demaior risco de refinanciamento ou reduzir a prefixao da dvida a favor do alongamento do prazo mdioda dvida pblica. Desta forma, o Tesouro Nacional optou por reduzir o volume de ttulos comrentabilidade prefixada de curto prazo com vistas a minimizar o risco de refinanciamento. A prioridadedada ao risco de refinanciamento teve impacto sobre a estratgia de substituio da dvida remuneradapela taxa Selic por ttulos com rentabilidade prefixada, fazendo com que esses ttulos aumentassem suaparticipao na composio da DPMFi.

    O prazo mdio da DMPFi passou de 39,84 meses, em dezembro/2001, para 35,32 meses,em dezembro/2002. Essa queda de 4,52 meses tem como principal fator a volatilidade no mercadofinanceiro domstico ao longo do ano, que dificultou a implementao da estratgia de diminuio dorisco de refinanciamento do Tesouro Nacional (alongamento dos prazos dos ttulos emitidos em ofertapblica), o que impossibilitou a colocao de ttulos com prazos mais longos.

  • 34

    Grfico 2.9Composio da DPMFi.

    TR e Outros 3,8%

    ndice de Preos 7,0% Prefixado

    7,8%

    Selic 52,8% Cmbio

    28,6%

    (Dez/2001)

    TR e Outros 2,1% Prefixado

    2,2%

    ndice de Preos 12,5%

    Cmbio 22,4%Selic

    60,8%

    (Dez/2002)

    Fonte: SFC p. B-91

    J o custo mdio de 2002 foi influenciado principalmente pela desvalorizao cambial epelo aumento da taxa Selic e dos ndices de preos com alta volatilidade nos meses de julho e setembroonde ocorreram as depreciaes cambiais mais fortes, no caso de ttulos cambiais, e novembro para ocaso dos demais ttulos no-cambiais, conforme Grficos 2.10 e 2.11.

    Grfico 2.10Custo Mdio dos Ttulos da DMPFi em Poder do Pblico com Ttulos Cambiais

    Em 2002

    24,3 13,1 15,2 19,9 34,6

    72,2

    128,6

    5,7

    338,0

    12,8 30,423,3

    0,00

    50,00

    100,00

    150,00

    200,00

    250,00

    300,00

    350,00

    400,00

    Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

    Custo Mdio (em % a.a.)

    Fonte: SFC p. B-87

    No tocante dvida externa, em 2002, o desempenho dos principais papis foi marcado poralta volatilidade e tendncia de baixa nas cotaes, encerrando o ano em patamar inferior ao de 2001,embora j em recuperao. Do incio ao meado do ano, as cotaes dos ttulos caram fortemente, paraapresentarem a seguir uma elevada volatilidade que durou at outubro, quando, ento, as cotaespassaram a aumentar. As incertezas sobre o cenrio externo e com respeito ao processo eleitoral no pasajudaram a explicar este comportamento. O C-Bond, ttulo soberano de maior liquidez e referncia parapapis remunerados a taxas flutuantes, iniciou o ano cotado a 77,12% do seu valor de face, atingiu a

  • 35

    menor cotao, 49,12%, em setembro, ms anterior s eleies, e terminou o ano cotado a 66,5% do valorde face, em funo da reverso de expectativas dos investidores.

    Grfico 2.11Custo Mdio dos Ttulos da DMPFi em Poder do Pblico sem Ttulos Cambiais

    Em 2002

    17,8717,93

    17,61 17,9818,42 19,63 19,98

    20,50 21,14 24,79

    35,61

    30,17

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

    CustoMdio(%a.a.)

    Fonte: SFC p. B-88

    A cesta contendo ttulos da dvida externa brasileira, ponderados por liquidez, apresentou,ao longo de 2002, diferencial de remunerao em relao a ttulos do Tesouro Americano (spread) entre700 e 2.436 pontos bsicos. A mdia, calculada com base em observaes dirias, foi de 1.372 pontosbsicos, bem acima do valor mdio de 889 pontos bsicos em 2001. Em 2002, os ttulos externos depases latino-americanos foram considerados de risco inferior aos brasileiros, com spreads 377 pontosbsicos mais baixos, em mdia.

    O saldo devedor da Dvida Pblica Federal Externa apresentou crescimento proporcionadopelo aumento tanto no saldo da Dvida Mobiliria como da Dvida Contratual. O principal responsvelpor esse crescimento da dvida externa foi o aumento da dvida originada pelas captaes internacionais,promovido pelas novas emisses realizadas no ano (US$ 3,9 bilhes) e tambm pela valorizao do Euroe do Iene frente moeda norte-americana. Os movimentos contrrios que amenizaram esta variaopositiva foram as quedas nos saldos devedores da Dvida Reestruturada e Dvida junto ao Clube de Paris,pelo fato de ambas no absorverem mais novas emisses ou contrataes e somente terem seus saldosamortizados ou cancelados.

  • 36

    Quadro 2.15Variao do Saldo Devedor da Dvida Externa

    Dez/01 Dez/02 Variao

    (US$ mil) (US$ mil) (%)

    DVIDA PBLICA FEDERAL EXTERNA 72.969.017 76.457.411 4,81) Dvida Mobiliria Externa 53.647.158 56.793.280 5,91.1) Dvida Reestruturada (Bradies) 19.603.207 18.514.826 -5,61.2) Captaes no Mercado Internacional - Dvida Soberana 34.043.951 38.278.454 12,42) Dvida Contratual Externa 19.321.858 19.664.161 1,82.1) Dvida junto a Organismos Multilaterais (BIRD e BID) 10.043.262 11.136.045 10,92.2) Dvida junto a Bancos e Agncias Governamentais 3.402.394 3.393.152 -0,32.3) Dvida junto ao Clube de Paris 5.876.202 5.134.964 -12,6Fonte: STN/CODIV/GEEST

    Grfico 2.12Endividamento Externo

    Fonte: BCB. Sries temporais renda juros (lquido); Brasil. BCB (A), Quadros V.1, V.7, V.15 e V.19 , mar. 2003;Brasil. BCB (D), Quadro I, jan. 1999 - 2003.Nota: (1) Dados preliminares

    0

    50000

    100000

    150000

    200000

    250000

    300000

    1992

    1993

    1994

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    (1)

    Anos

    US$

    milh

    es Servio da Dvida

    Dvida Externa TotalReservas Internacionais Dvida Externa Lquida Exportaes FOB

  • 37

    Grfico 2.13 Grfico 2.14 Endividamento Externo Bruto Dvida Pblica Externa Registrada (1)

    Composio do Principal por Devedor Fonte: Brasil. SFC p. B-54 Fonte: Brasil. SFC pg. B-56

    Nota: (1) A dvida externa registrada representa 92,5% dadvida externa total.

    Grfico 2.15Indicadores de Endividamento

    S e r v i o d a d v i d a / e x p o r t a e s

    2 0

    4 5

    7 0

    9 5

    1 2 0

    1 4 5

    1 7 0

    1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2

    %S e r v i o d a d v i d a / P I B

    2

    4

    6

    8

    1 0

    1 2

    1 4

    1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2

    %

    D v i d a / e x p o r t a e s

    6 0

    1 3 5

    2 1 0

    2 8 5

    3 6 0

    4 3 5

    5 1 0

    1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2

    %

    D v i d a t o t a l / e x p o r t a e sD v i d a t o t a l l q u i d a / e x p o r t a e s

    D v i d a / P I B

    1 0

    1 7

    2 4

    3 1

    3 8

    4 5

    5 2

    1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2

    %

    D v i d a t o t a l / P I BD v i d a t o t a l l q u i d a / P I B

    Fonte: Brasil. SFC p. B-54

    0

    50000

    100000

    150000

    200000

    250000

    1998 1999 2000 2001 2002 (set)

    US$ mi lhes

    Dvida externa total Dvida mdio e longo prazoDvida de curto prazo

    0

    20000

    40000

    60000

    80000

    100000

    120000

    140000

    1998 1999 2000 2001 2002 (set)US$ mi l hes

    Governo federal

    Estados e Municpios

    Autarquias, Empresas Pblicas e Sociedades deEconomia MistaSetor provado (com aval do setor pblico)

  • 38

    2.3.3 Carga Tributria

    A carga tributria de um pas representa a parcela de recursos que o Estado retiracompulsoriamente dos indivduos e empresas, como forma principal de financiar o conjunto dasatividades do governo. O conceito econmico de carga tributria o quociente entre a receita tributriatotal e o valor do Produto Interno Bruto PIB do pas, em determinado exerccio fiscal.

    O conceito adotado neste relatrio o da carga tributria bruta, que considera a receitatributria sem dedues das transferncias ao setor privado da economia, como os subsdios, benefciosda seguridade social e os saques do Fundo de Garantia do Tempo de Servio FGTS.

    A metodologia adotada no levantamento da carga tributria nacional fundamenta-se naconceituao de tributo mais ampla que aquela prevista na Constituio Federal. Assim, foramconsiderados no clculo da carga tributria: os impostos, taxas e contribuies de melhoria; ascontribuies sociais, previdencirias e econmicas; as contribuies aos rgos fiscalizadores deprofisses regulamentadas; as contribuies aos servios sociais autnomos; as contribuies sindicaisurbanas e rurais; e os depsitos efetu