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SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 289 -
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 02ª
VARA C ÍVEL DA COMARCA DE LONDRINA/PR
AUTOS N. º XXXXXXXXX
VEÍCULOS LTDA, pessoa ju r íd ica de d i re i to
pr ivado já dev idamente qua l i f i cada nos autos em ep ígra fe de AÇÃO
DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C INDE NIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS que lhe move xxxxxxxxxxx , igua lmente qual i f i cado, vem,
a t ravés de seu advogado ao f ina l ass inado ( inst rumento de
mandato e documentos soc ia i s an exos) , o ferecer defesa na forma
de CONTESTAÇÃO , o que faz com fu lc ro no art igo 300 do C ódigo
CONTESTAÇÃO
Sílvia Helena Neves de Sales José Valdemar Jaschke
Antonio Guilherme de Almeida Portugal
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- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 290 -
de Processo C iv i l e de acordo com as razões de fa to e de d i re i to
que a segu i r se expõem.
01. SÍNTESE DA DEMANDA
Trata-se de Ação de Resc i são Cont ra tua l c/c
inden ização por danos mora is onde o Autor sustenta o segu in te .
Que em fevere i ro de 2007 adqu i r iu da Segunda Ré, o ra
contestante , o veícu lo PEUGEOT 307 SEDAN 2006/2007 fabr ic ado
pe la Pr imeira Ré que aprox imadamente 07 ( sete) meses após a
compra apresentou prob lemas de aquec imento excess ivo no m otor .
Após Rec lamar do defe i to , sustenta que fo i conven c ido
pe los vendedores da Segunda Ré a t rocar o ve ícu lo por out ro novo,
pagando a d i ferença , porque as novas versões não aprese ntar iam o
mesmo defe i to pois que já ter ia s ido sanado pe la Pr imei ra Ré .
O Autor ace i tou a proposta e adqu i r iu outro 307
SEDAN 2008 que apresentou exatamente o mesmo defe i to . A lega
que se t rata de ve ícu lo da mesma sér ie do anter io r sendo
prev is íve l , por tanto , que também acusar ia o mesmo prob lema.
Em razão desses fa tos a lega que perdeu a conf iança no
ve ícu lo que ter ia a segurança e a qua l idade compromet idas , pelo
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que manejou a presente demanda após restar in f ru t í fe ra te ntat iva
anter ior de comp os ição no PROCON loca l .
Pede a resc i são do contra to com os ped idos sucess ivos
de : 1 . res t i tu ição imediata e in tegra l do va lor pago; 2 . subst i t u ição
do produto por outro da mesma espéc ie em per fe i tas cond ições de
uso e ; 3 . abat imento proporc iona l do preço .
Requer , a inda , a condenação das Rés so l idar iamente
ao pagamento de inden izações por danos mora is .
Data vênia , não devem prosperar as pretensõ es do
Autor como será ana l i sado a segu ir .
02. PRELIMINAR – CARÊNCIA DE AÇÃO – AUSÊNCIA DE
INTERESSE DE AGIR.
Conforme consta nos autos , no que a t ine à prete nsão
de um novo ve ícu lo e sobre a inden ização de danos mora is , o A utor
é carecedor de ação porque em nenhum momento opor tunizou às
Rés a prer rogat iva de so luc ionarem o a legado defei to no prazo de
30 d ias que a le i consumer is ta o fer ta ao fabr ica nte/comerc iante
para sanarem os v íc ios aparentes ou ocu l tos .
T razendo ta l fa to à luz do Dire i to , temos que ao
Autor fa l ta interesse pr ocessual , não merecendo ter
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prossegu imento o presente fe i to . Para fundamentar ta l a rgumento ,
nada melhor que o entend imento dout r inár io sobre a matér ia : o
mest re Vicente Grecco F i lho , em sua obra “D i re i to Processua l C iv i l
Bras i le i ro ” , 1º vo lume, ed . sara iva , menc iona o s egu inte :
“O interesse processual é a necess idade de se
socorrer ao Judic iár io para a obtenção do
resultado pretendido, independentemente da
legit imidade ou legal idade da prete nsão.
( . . . )
1 .1 .1 .1 Basta que se ja necessár io que o Autor não
possa obter o mesmo resul tado por outro meio
extraprocessua l . Fa l tará o interesse processua l se a
v ia jur i sd ic iona l não for ind i spensável , como, por
exemplo , se o mesmo resu ltado puder ser
a lcançado por meio de um negóc io jur íd ico sem a
part ic ipação do Jud ic iár io .”
V icente Grecco F i lho a inda sa l ienta que o interesse
processual nasce d iante da res istênc ia que a lguém oferece à
sat is fação da pretensão de o utrem, porque este não poderá fazer
jus t i ça pelas própr ias mãos:
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- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 293 -
“E ssa res i s tênc ia po de se r forma l , dec la rada , ou
s implesmente resu l tan te da inérc ia de a lguém que
de i xa de cumpr i r o que o out ro acha que d ever ia .
( . . . )
O interesse de agir surge da
necess idade de obter do processo a proteção do
interesse substancia l ; pressupõe, pois , a le são
desse interesse e a idoneidade do provimento
ple i teando para protegê- lo e sat is fazê- lo .”
No caso em aná l i se , o ped ido pr inc ipa l do Autor é
las t reado no art igo 18 , § 1º do Código de Defesa do Consumidor
que determina a resc i são do negóc io ; t roca do p roduto ou
abat imento do preço , à e sco lha do consumidor , quando o produto
ou serv iço apresentar v íc io e este não for sa t i s fa tor iamente s anado.
I s to porque a lega que o ve ícu lo novo adqu ir ido
apresentou aquec imento excess ivo e vazamento de água do
reservatór io do rad iador , o que poder ia impl icar na perda de
qua l idade e segurança do ve ícu lo .
Nesta oportun idade , o Gerente de Of ic ina da Segu nda
Ré pessoa lmente conversou com o Autor exp l i cando
deta lhadamente qua l ser ia o pro ced imento a ser adotado,
consequênc ias e sua complex idade .
In formou que a t roca das juntas é proced imento
S IMPLES e RÁPIDO, su f ic iente a so luc ionar o prob lema de forma
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DEFINITIVA. Bastar ia ao Autor de ixar seu ve ícu lo por apenas 01 d ia
nas o f ic inas da Segunda R ec lamada que, adotando o procedi mento
determinado pe la Pr imeira Ré , re a l i za r ia o reparo .
PORÉM O AUTOR NÃO CONCORDOU EM DE IXAR SEU
VEÍCULO PARA A NECESSÁRIA INTERVENÇÃO, EXIG INDO, DESDE
LOGO, O DESFAZIMENTO DO NEGÓCIO.
Ou se ja , ÀS RÉS NÃO FOI OPORTUNIZADO O DIREITO
DE REPARAR O VEÍCU LO DENTRO DO PRAZO DE 30 DIA S , PELO QUE
NÃO SUBSISTE O DIREITO DO AUTOR DE POSTULAR A DEVOLUÇÃO
DO VEÍCULO.
O d i re i to do consumidor de p le i tear as h ipóteses do §
1º do menc ionado ar t igo di re i to NASCE quando, opor tun izado o
reparo , es te não ocorre no praz o de 30 d ias . Somente APÓS o
t r igés imo d ia é que o consumidor pod erá exercer as facu ldades ora
em aná l i se .
É o entend imento doutr inár io :
Examinemos , então , e sses aspec tos . A
norma diz : “não sendo o v íc io sanado no prazo de
30 ( t r in ta ) d ias pode o consum ido r ex ig i r . . . ” , e
apresenta as a l te rnat ivas de ex igênc ias que o
consumidor pode fazer d iante do fo rnecedor . Note -
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se : apenas se o v íc io não fo r sanado em 30 d ias . Ou
se ja , o fo rnecedor , desde o receb imento do produto
com víc io , tem 30 d ias para saná - lo sem qua lquer
ônus . Eventua is ônus surg i rão somente após
SOMENTE APÓS os 30 d ias se o se rv i ço de
saneamento do produto não t i ve r s ido fe i to – o que
comentaremos na seqüênc ia . 1
A inda :
Em pr ime i ra in tenção , o d i spos i t ivo
concede ao fo rnecedor a opor tun idade de ac ionar o
s i s tema de garant ia do produto e reparar o de fe i to
no prazo máximo de 30 dias .
Não sanado o v íc io , no prazo legal , o
consumidor poderá ex ig i r , à sua e sco lha t rês
a l te rnat ivas . 2
Co mo ad i an t e d i t o , o Au t o r nã o de i xo u seu ve í c u l o pa r a r ep a ro .
S i mpl es me n te EX IGIU o de s f a z i me n to d o n e góc i o e d i a n t e d a n e g a t i va fo i
e mb o ra , não r e to r no u , e i n gr es s ou c o m a p r e se n t e d e ma nda , e nq ua n t o que
s eu d i r e i t o de e x i g i r a r e sc i sã o do n e góc io S OME NT E S E INICIAR IA S E
DE CO R RIDOS OS T RINT A DIAS SE M O DEV IDO RE P ARO.
Diante de todo o exposto, requer se ja ACOLHIDA a
pre l iminar de carência de ação e dec larada a inex i stênc ia de
in teresse processua l do Autor , ext inguindo, por consequ ência , o
1 NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Curso de Direito do Consumidor. 2 ed. Re. São Paulo: Saraiva, 2005.p. 180.
2 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: comentado pelos autores do anteprojeto. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2004.
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presente fe i to sem reso lução do mér i to , nos termos dos ar t s . 301 , X
e 267, VI , todos constantes do Código de Processo C iv i l .
03. PRELIMINAR – ILEGITIMIDADE PASSIVA – EXTINÇÃO DO
FEITO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO EM RELAÇÃO À RÉ
OPECAR VEÍCULOS LTDA.
Antes de adent rar -se ao mér i to , va le ressa l ta r que a
presente demanda deverá ser EXTINTA se m reso lução de mér i to em
re lação a Segunda Ré OPECAR por ser es ta parte i leg í t ima para
compor o pó lo pass ivo da demanda .
Com efe i to , o ped ido de mér i to formulado pe lo Autor
se res tr inge à resc i são cont ra tua l em razão de v íc io na fabr icação
do ve ícu lo e na f ixação de indenização por danos mora is em va lor a
ser f i xado por Vo ssa Exce lênc ia porque , segundo a lega , adqu i r iu
ve ícu lo zero qui lômetro que , não obstante esta qual idade
apresentou defe i tos insanáveis .
A lega que, por tanto , s of reu in tenso abalo mora l fac e à
f rust ração das expectat ivas sobre o ve ícu lo novo e , espec ia lmente
porque perdeu a conf iança no ve ícu lo e constantemente so f re o
medo de fa lha do ve ícu lo enquanto em uso pondo em r i sco a
segurança sua e de sua fam í l ia .
Para descort inar a i leg i t imidade pass iva da Segunda
Ré , necessár ias são a lgumas cons iderações quanto à d i ferenc iação
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entre o que o Código de Defesa do Consumidor nominou c omo
sendo FATO DO PRODUTO OU SERVIÇO (ar t . 12 e 13 do CDC) e
V ÍCIO DO PRODUTO OU SERVI ÇO (a r t . 18 do CDC) e as
consequênc ias quanto à responsab i l idade.
Como “fato do produto ou serv iço” conso l idou-se o
entendimento de que se t ra tam de DANOS provocados pe lo prod uto
ou serv iço que a fetam d iretamente a SEGURANÇA e SAÚDE do
consumidor e que são E XTRÍNSECOS ao produto ou serv iço .
Por sua vez , “víc io do produto ou serv iço” se re fere à
defe i tos INTRÍNSECOS ao bem (produto ou serv iço ) que lhe ret i ram
a UTIL IDADE, mesmo que em par te , para a qua l foram
desenvo lv idos .
Diferenc iar no mundo fát i co as h ipóteses de “ fa to do
produto” e “v íc io do produto” , que a pr io r i parece s imples , é tar e fa
á rdua e que provoca intenso debate dout r inár io e re f le te
d i retamente nos ju lgados que envolvem as re lações de consumo,
produz indo dec isões d ivergentes e mesmo contrad i tór ias . Todavia ,
para a per fe i ta subsunção do fa to concreto a qua lquer das
h ipóteses , antes é conven iente estabelecer de forma ob jet iva e
c la ra a natureza ju r íd ica desses inst i tutos prev istos do Estatuto
Consumei r i s ta .
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- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 298 -
Com efe i to , “fato do produto – art . 12” se reveste da
natureza de RESPONSABIL IDADE C IV IL , a mesma teor ia ap l i cada nas
re lações c iv i s gera i s , porém hav idas em uma re lação de consumo.
Para que ha ja a t ip i f i cação desse inst i tuto são
necessár ios os t rês e lementos ense jadores da responsab i l idade
c iv i l ; qua is se jam:
a ) conduta (no caso das re lações de consumo e por
prev isão expressa no CDC, a responsab i l idade é sempre OBJETIVA
presc indindo do DOLO, ba s tando a “cu lpa” para sua ocorrênc ia ) ; b )
nexo de causa l idade entre a conduta e o dano e , f ina lmente ; c )
dano.
No entanto , para a caracter ização da responsab i l idade
c iv i l com base no ar t igo 12 do CDC, não basta que o prod uto ou
serv iço apresente a lgum prob lema (defe i to) , É NECESSÁRIO QUE
ESTE DEFEITO ATENTE CONTRA A SEGURANÇA OU SAÚDE DO
CONSUMIDOR (ART . 8º E SEGUINTES) , ofende ndo a sua integr idade.
Ve ja , por exemplo , a h ipótese da compra de um
l iqu id i f i cador .
Se o consumidor adqu ire este produto ( l iqu id i f i cador)
e , ao usá- lo pela pr imei ra vez , a lâmina se desprende por defe i to
de fabr icação e corta a mão do consumidor , há t ip i camente “Fato
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do Produto” ; ou se ja , há a conduta culposa do fabr icante que não
apertou corretamente a lâm ina; há o dano EXTRÍNSECO ao
produto representado pelo corte na mão do consumidor e, por
f im; o nexo de caus a l idade na medida em que o dano decorreu
d iretamente da conduta culposa do fabr icante do l iquid if icador.
Ou se ja , TIPICAMENTE HÁ RESPONSABILIDADE CIVIL
do fabr icante e este evento convencionou -se nominar “ac idente
de consumo”.
Doutro lado, não se t ra ta o “V ÍC IO DO PRODUTO OU
SERVIÇO” de “RESPONSABIL IDADE CIV IL” , MAS S IM DE
“INADIMPLEMENTO CONTRATUAL ” , ou se ja , o fabr icante do
produto NÃO ENTREGA o bem ou serv iço ta l qua l contratado vez
que este NÃO SE PRESTA À UTIL IDADE a que fo i desenvo lv ido ;
porém, o prob lema e stá INTRÍNSECO ao produto .
Mantendo o exemplo da compra do l iqu id i f i cador ,
cons idere a h ipótese do consumidor , ao usá - lo pe la pr imei ra vez ,
perceber que o a l imento NÃO É DEVIDAMENTE TRITURADO porque,
percebe que a lâmina está “cega” , sem o f io necessár io ao
cumpr imento de sua tare fa .
Ve ja que nesta h ipótese não houve qua lquer dano NO
consumidor ; o produto não se presta à UTIL IDADE a que se dest ina ,
ou se ja , o fabr icante DESCUMPRIU o cont ra to de compra e venda,
po is não ent regou o l iqu id i f icador em per fe i tas condições . Esta é a
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c láss ica h ipótese de V ÍCIO DO PRODUTO prev ista no ar t igo 18 do
CDC.
É comum que ha ja confusões , e não ra ras vezes , há
impropr iamente ped ido de indenização por RESPONSABIL IDADE
C IVIL com base no art igo 18 do CDC, ao passo que SOMENTE
PODERÁ HAVER PEDIDO com este pro v imento com base no ar t igo
12 do CDC.
Por f im, l í c i to é observar que a prev isão do art igo 18
do CDC também não se confunde com a responsab i l idade por v íc io
red ib i tór io do d ire i to c iv i l ; po is que , para a conf iguração deste o
defe i to deve ser OCULTO, enquan to que para o d i re i to
consumei r i sta não importa se o d efe i to é ocu lto ou aparente ; o
dever de subst i tu i r o bem ou devolver o va lo r correspondente em
d inhe iro subs is t i rá em qua lquer h ipótese .
Neste sent ido , a l ição dout r inár ia :
“ Já no que concerne aos v íc i os , t ra tados a par t i r do
ar t igo 18 , o ponto se a f igura de fo rma di fe re nte ;
não se cu ida de danos causados ao consum idor , ou
eventual bystander , mas s im de um pre ju ízo
pat r imonia l exper imentado pe lo consumidor em
v i r tude de uma imper fe i ção do bem adqu i r ido , que
não lhe fo i – obviamente – in fo rmada quando da
aqu is i ção .
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- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 301 -
A d i fe rença encontra -se , por tanto , na
local i zação do fundamento fá t i co da
responsabi l idade que res ide , quanto aos v íc ios , na
co isa em s i e não em evento a e la re la t i vo ; não há
causação de dano ex t r ínseco ao produto ou se rv iço .
O que há, em verdade , é a aqu is ição de um produto
ou se rv iço permeados por imper fe ições que os
to rnam impróprios ou inadequados ao consumo a
que se des t inam ou lhe d iminuam o va lo r ,
consoante de l imi tação lega l t raz ida pe l o ar t igo
18 . ” 3
No mesmo sent ido :
“O Código d is t ingue do is mode los de
responsabi l idade : por v íc io de qual idade ou
quant idade dos produtos ou se rv iços e por danos
causados aos consumidores , d i tos ac identes de
consumo.
O ar t . 12 d isc ip l ina es te ú l t imo
modelo , ocupando-se da responsabi l idade do
fo rnecedor por danos decorrentes dos v íc ios de
qual idade dos bens , rect ius , de de fe i tos
decorrentes de pro je to , fabr icação , cons t rução ,
3 Nunes Junior, Vidal Serrano. Código de Defesa do Consumidor interpretado. São Paulo: Saraiva, 2003. p.73.
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
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montagem, fó rmulas , manipu lação , apresentação
ou acondic ionamento dos produtos .
A responsabi l idade por danos decorre
da propagação do v í c io de qual idade , a lcançando o
consumidor e inc lus ive te rce i ros , v í t imas do evento
(c f . a r t . 17 ) , e supõe a ocorrênc ia de t rês
pressupos tos :
a ) de fe i to do produto ;
b ) eventus damini ; e
c ) re lação de causa l idade ent re de fe i to
e o evento danoso . ” 4
Quanto ao v íc io do produto e ao comentar o a r t igo 18
do CDC, lec iona o mesmo autor :
“De res to , a responsabi l idade por
v íc ios de qual idade ou quant idade não se ident i f i ca
onto log icamente , com a responsabi l idade por
danos , nem recorre a fa to res ex t r ínsecos ,
envo lvendo a apuração da culpa do fo rnecedor .
E s te mode lo de responsabi l idade , a nosso aviso , é
consec tár io do inad implemento contratual : o
fo rnecedor tem a obr igação de assegurar a boa
execução do co ntrato , co locando o produto ou
4 Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 8ª Ed. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2004. p. 177.
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
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se rv iço no mercado de consumo em per fe i tas
condições de uso ou f ru ição . ” 5
E s tando, po is , bastante ev idenc iada a d i ferença dos
inst i tutos menc ionados; t ra ta remos , ad iante , de subsumir o fato
apresentado pe lo autor à correta t ip i f icaçã o legal , o que não
comportará maiores i lações porquanto ev idente no ped ido de
mér i to fo rmulado.
A pretensão do Autor está em haver a RESCISÃO
CONTRATUAL e a INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS que,
ev identemente somente tem cab imento quando observada a
RESPONSABIL IDADE C IVIL do fo rnecedor ; es ta , como já observado,
assentada na ex i stênc ia dos t rês e l ementos já menc ionados.
Por es forço argumentat ivo , acei tando os fatos como
postos pe lo Autor , têm -se a segu inte conc lusão :
a ) a conduta i l íc ita dos Réus res ide em forne cer
ve ícu lo com defe i to de fábr ica ;
b ) o dano é a insat is fação e desconfor to gerados ao
autor em razão da perda de conf iab i l idade do bem e também por
conta das inúmeras idas à concess ionár ia para a so lução dos
5 Idem. p. 201.
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- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 304 -
prob lemas, ass im como su je i ta r -se a ind ispon ib i l idade do bem
enquanto rea l i zados os conser tos ; veja que o dano é EXTRINSECO
ao produto, posto que ocorreu NO consumidor , pois este teve a
SUA int imidade vio lada;
c ) o nexo de causa l idade entre o dano que somente
ocorreu por conta da conduta i l í c i ta descr i ta .
Está-se , pois , d iante da hipótese prevista no art igo
12 do CDC; ou seja , pedido de indenização por danos morais em
razão de “FATO DO PRODUTO”.
Ora, havendo então caracter izado o pedido de
condenação a indenização por danos morais com base no art igo
12 do CDC – fato do produto – impor ta em reconhecer a
I LEGITIMIDADE da Segunda Ré, mera comerc iante , ao ressarc imento
pretend ido.
I s to porque, o art igo 12 “caput” é TAXATIVO ao
impor a responsabi l idade pelo FATO DO PRODUTO ao
FABRICANTE, PROD UTOR, CONSTRUTOR (NACIONAL OU
ESTRANGEIRO) E AO IMPORTADOR.
O comerc iante possu i responsab i l idade SUBSIDIÁRIA
e responde somente quando NÃO CONHECIDO aquele
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or ig inar iamente legit imado pelo “caput” do art . 12 para
responder pelo dano, conforme consta expressame nte do art igo
13 do CDC.
In casu ,o fabr icante do produto é conhec ido (PEUG EOT
do Bras i l ) e já in tegra a presente l ide , pelo que É A ÚNICA
RESPONSÁVEL pe la eventua l compos ição do dano moral
eventua lmente exper imentado pelo Autor , não podendo , POR
VEDAÇÃO EXPRESSA DO CDC, reca i r a responsab i l idade sobre o
comerc iante (OPECAR VE ÍCULOS LTDA) .
Por tanto , reve la -se a I LEGIT IMIDADE PASSIVA da
Segunda Ré OPECAR VEÍCULOS LTDA para compor o p o lo pass ivo da
presente demanda , QUANTO AO PEDIDO DE CONDENAÇÃO A
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS , pe lo que deverá ser ex t inta
sem reso lução de mér i to nos termos do a r t igo 267, VI do CPC.
04 . DO MÉRITO
Superadas as questões pre l iminares susc i tadas e
a lcançado o mér i to , o que se admite por fo rça do respei to ao
pr inc íp io da eventua l id ade , a presente demanda deverá ser ju lgada
IMPROCEDENTE como a segu ir será ana l i sado.
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
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05. DA AUSÊNCIA DE PROVAS. ÔNUS DO AUTOR.
IMPOSSIBILIDADE DE INVERSÃO DO ÔNUS À LUZ DO CDC.
Para a per fe i ta so lução da presente demanda cabe,
nesta oportun idade , ana l i sar a questão do ônus probatór io
espec ia lmente por conta do tex to inserto no ar t igo 6º , VI I I do
Código de Defesa do Consumidor e o ped ido expresso do Autor de
ver declarada a inversão do ônus da prova . Para tanto , antes é
necessá r io de l imi ta r “qua l fa to” será ob jeto de pr ova .
Da aná l i se do contexto da demanda, ver i f i ca -se que o
controvert ido não está somente na ex i s tênc ia , mas também res ide
na supos ta “ausênc ia de cred ib i l idade” e durabi l idade do bem e
eventua l r i sco à seg urança do Autor e sua famí l ia .
Somente a través de prova per ic ia l é que se poderá
a lcançar a sat i s fatór ia resposta a ta l quest ionamento . I s to porque,
NÃO HÁ COMO AS RÉS t razerem provas de que do defe i to NÃO
SUBSISTE RISCO À SEGURANÇA e que O VEÍCULO NÃO ESTARÁ
SUJE ITO A APRESENTAR O MESMO DEFEITO NOVAMENT E APÓS OS
REPAROS NECESSÁRIOS.
Porém, a rea l i zação de eventua l per íc ia deverá ser
promov ida PELO AUTOR sob pena de , não o fazendo , A DEMANDA
SER JULGADA IMPROCEDENTE por abso luta AUSÊNCIA de provas
quanto aos a l egados r i scos .
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
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O Código de Defesa do Consum idor em seu ar t igo 6º ,
V I I I determina a inversão do ônus da prova para fac i l i tar a defesa
do consumidor em ju ízo DESDE QUE, a c r i tér io do Ju iz , fo rem
ident i f i cadas a VEROSSIMILHANÇA e a HIPOSSUFIC I ÊNCIA do
consumidor . Por tanto , a inversão do ônus não é INE RENTE aos
processos que envo lvem re lações de co nsumo TAMPOUCO
OBRIGATÓRIA .
Neste sent ido :
2 . A chamada inver são do ônus da prova , no C ód igo de
De fe sa do Consumidor , e s tá no contex to da fac i l i ta ção
da de fe sa dos d i re i t o s do consum idor , f i cando
subord inada ao " c r i t é r i o do ju i z , quando for ve ros s ími l
a a legação ou quando for e le h ipos suf i c ien te , s egundo
a s regras ord inár ia s de exper i ê nc ia s" ( a r t . 6º , V I I I ) .
I s so quer d izer que não é automát ica a inversão do
ônus da pr ova .
E la depende de c i r cunstânc ia concre ta s que se rão
apuradas pe lo j u i z no con tex to da " fac i l i t a ção da
de fe sa " dos d i r e i to s do consumidor . E e s sa s
c i r cunstânc ia s conc re ta s , ne s se ca so , não f oram
cons ide radas pre sente s pe las i ns tânc ia s ord iná r ia s .
( ST J – 3 ª T . REsp 122505/SP . Fonte DJ 24 .08 .1998 p .
71 . Re la tor Car los A lber to Menezes D i re i to ) .
Por tanto , para que ha ja a inversão do ônus HÁ QUE
HAVER um PRESSUPOSTO ou INÍ C IO DE PROVA ou , emprestando
termino log ia do d i re i to pena l , deve haver “ JUSTA CAUSA” para a
demanda , sob pena de serem promov idas ações to ta lmente
descab idas onde, em razão da inversão do ônus e da
imposs ib i l idade ev idente de se produz ir p rovas negat ivas , o
consumidor obtenha êx i to sem last ro em verdadeiro d i re i to .
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 308 -
Ass im, se pretender a procedência da demanda
compete ao Autor demons trar que o defe ito ainda não foi
sanado e que há IMINENTE r isco de, mesmo se reparado, ocorrer
novamente.
A ausênc ia da demonstração de ex i s tênc ia do defe i to
afasta rá derradei ramente a necessár ia “veross imi lhança” às
a legações do Autor e que poder ia ense ja r eventua l inversão de
ônus.
Sobre a Veross imi lhança lec iona R izzato Nunes :
“Para a sua ava l iação não é
su f i c iente , é ve rdade , a boa redação da pe t ição
in ic ia l . Não se t rata apenas do bom uso da técn ica
de argumentação que mui tos pro f i s s iona is têm. I s to
é , não bas ta re la tar fa tos e conec ta - los
logicamente ao d i re i to , de modo a produz i r uma
boa peça exord ial ”6
No mesmo sent ido José Gera ldo Br i to F i lomeno:
“É ev idente , ent retanto , que não será
em qua lquer caso que ta l se dará , adver t indo o
menc ionado d ispos i t i vo , como se ve r i f i ca de seu
teor , que i s so dependerá , a c r i té r io do Ju iz , da
6 NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Curso de Direito do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 2005. p.739.
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- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 309 -
veross imi lhança da a legação da v í t ima e segundo
as regras o rd inár ias de exper iênc ia .
Ou , me lhor expl icando e socorrendo -
nos mais uma vez de exemplos : se o ac idente se
ve r i f i cou não por imprudênc ia do motor is ta ou por
um buraco na pi s ta , fa to res ta is que eventua lmente
também poder iam te r causado a quebra da roda
( . . . )
Cada parte deverá nortear sua
at ividade probatória de acordo com o interesse
de oferecer as provas que embasam seu direito .
Se não agir ass im, assumirá o r isco de sofrer a
desvantagem de sua própria inérc ia, com a
incidência das regras de exper iência a favor do
consumidor.”7
Ora , Exce lênc ia , o Autor NÃO TRAZ SEQUER INDÍCIO
DE PROVA de que o a legado defe i to a inda p ers i s te , pe lo que, de
acordo com tudo o que fo i já exposto , a demanda deverá ser
ju lgada improcedente POR AUSÊNCIA DE PROVA, não podendo v ig i r
in casu a inversão do ônus da prova , descurando -se , a seu tu rno , o
autor do ônus que lhe i mpõe o a r t igo 333, I do Código de Processo
C iv i l .
06. DO PROVIMENTO PRINCIPAL
7 FILOMENO, José Geraldo Brito. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos autores do
Anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. p. 142/3.
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
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O Autor pede em sua in ic ia l , por consequênc ia dos
fa tos por e le narrados , o segu in te :
d ) CONDENAR os Réus so l idar iamente
à sucess ivamente : 1 ) res t i tu i ção imediata da
quant ia paga, monetar iamente a tua l i z ada; b )
subs t i tu i ção do produto por outro da mesma
espéc ie , em pe r fe i tas condições de uso ; c )
abat imento propo rc ional do preço .
O ped ido é las t reado no ar t igo 18 , § 1º do Código de
Defesa do Consumidor que determina ta i s prov idênc ias , à escolha
do consumidor , quando o produto ou serv iço apresentar v íc io e
este não for sa t i s fa tor iamente sanado .
O Autor a lega a inda , e t raz not í c ia jo rna l í s t i ca ( f l s .
27/28) que ora se impugna, que os defe i tos apresentados pe lo
ve ícu lo e que mot ivar ia m a insegurança a legada , são comuns em
todos os ve ícu los produz idos pe la Pr imeira Ré PEUGEOT DO BRASIL
S .A .
Todav ia , neste ponto também não ass i ste razão ao
Autor .
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P r imeiramente cumpre ressa l ta r que a Segunda Ré, ora
contestante , é mera CONCESSIONÁRIA dos ve ícu los da marca
PEUGEOT para a c idade de Londr ina e reg ião .
Dessa forma, não obstante sua responsab i l idade
SUBSIDIÁRIA nos termos do CDC na qual idade de CO MERCIANTE, é
fa to que a Segunda Ré NÃO PRODUZIU O VEÍCULO de sorte que não
pode responder quanto à ex i stênc ia de defe i to na fabr icação do
ve ícu lo do Autor .
As empresas concess ionár ias de ve ícu los somente
vendem o ve ícu lo e , vár ias de las , porém não todas , também
agregam a prestação de serv iços de ass i stência técn ica e
assemelhados.
No caso de ass is tênc ia técn ica dos ve ícu los novos
vend idos , a Concess ionár ia age exatamente de acordo com os
procedimentos e rec omendações da montadora .
A produção de ve ícu lo é ta re fa complexa que ex ige
prec i são ext rema dos equ ipamentos , peças e acessór ios . Cada i tem
é desenvo lv ido espec ia lmente para aquele modelo e u t i l id ade,
sendo certo que o pr o jeto envo lve conhec imentos pro fundos dos
d iversos ramos da engenhar ia .
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
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De qua lquer sor te , o pro jeto de um ve ícu lo envo lve
também os i tens de segurança que, a seu turno , ex ige um
cronograma f ie l de manutenção exatamente para preservar a v ida
ú t i l de cada i tem.
I s to porque o veícu lo é montado com peças de uso
cont ínuo que, ev identemente, se desgastam em razão do uso ; o que
não poder ia ser d i ferente .
Neste contexto , a montadora pro jeta as cham adas
“ rev isões per iód icas” onde são subst i tu ídas as peças cu jo desgaste
é prev is to exatamente para aquele momento da rev i são .
A tendendo f ie lmente esse c ronograma de rev i sões e as
demais o r ientações de manutenções cont idas no manua l do
propr ietár io (como pressão dos pneus , ver i f i cação dos f lu ídos ,
ver i f i cação de água etc . . . ) , a “v ida út i l ” da máqu ina é sens ive lmente
estend ida e d issabores ev i tados.
No caso espec í f i co , os veícu los 307 são desenvo lv idos
e produz idos na p lanta pr inc ipa l da PEUGEOT na França e
regu larmente importados pe la PEUGEOT DO BRASIL .
Por cer to que as condições de c l ima , umidade do ar ,
so lo , pressão atmosfér ica e condições de est rada são fa tores
re levantes ao funcionamento do motor .
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
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Ass im, os ve ícu los importados , QUALQUER QUE SEJA A
MARCA E MODELO, devem sofrer a lguns a justes para se adaptarem
à rea l idade bras i le i ra . Ta i s a justes fo ram rea l izados nos modelos
307 importados.
Ocorre que sempre há a poss ib i l idade de , a inda com
todos os a justes e após toda a rev i são f ina l para a entre ga do
ve ícu lo , subs is ta defe i to que somente se man i festará com o uso .
E ta i s eventos não impl icam em neg l igênc ia , mal
a tend imento ou incompetênc ia da empresa montadora do ve ícu lo ,
ao contrár io , são eventos abso lu tamente poss íve i s .
Da í porque o Código d e Defesa do Consumidor PREVÊ
c la ramente a POSSIBIL IDADE de o bem duráve l apresentar a lgum
defe i to E NÃO PUNE O FABRICANTE OU COMERCIANTE pe lo s imples
fa to de o defe i to ter se man i festado.
O CDC pune o fabr icante SOMENTE em duas h ipót eses :
a ) com responsa bi l idade ob jet iva em caso de FATO DO PR ODUTO
quando o dano é EXTRÍNS ECO e at inge o consumidor ; b ) quando
apresentado o d efe i to e dada a oportun idade de reparo o
fabr icante não o rea l i za no prazo de t r inta d ias . Es ta ser ia a
h ipótese do caso em aná l i se .
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O ve ícu lo do Autor não causou ABSOLUTAMENTE
NENHUM DANO AO AUTOR (CONSUMIDOR) OU SUA FAMÍLIA . De
sorte que se t rata , por tanto , do d i re i to de GARANTIA .
A GARANTIA nada mais é do que o DIREITO do
fabr icante/comerc iante , conforme o caso , de REPARAR o produto
que tenha apresentado defe i to .
O d i re i to do consumidor de p le i tear as h ipóteses do §
1º do menc ionado ar t igo NASCE quando , opor tun izado o reparo ,
es te não ocor re no prazo de 30 d ias . Somente APÓS o t r igés imo d ia
é que o consumidor poderá exercer as facu ldades ora em aná l i se .
No caso presente os fatos ocor reram da segu inte
fo rma.
O Autor de fato adqu i r iu em fevere i ro de 2007 um
ve ícu lo do modelo 307 SEDAN 2006/2007 que apresentou a
necess idade da t roca das juntas do cabeçote em razão do
aquec imento excess ivo do motor .
Ent retanto , o reparo É S IMPLES e não envo lve ret í f ica
do motor como sugere a reportagem anexada pe lo Autor . Basta a
t roca das juntas e o prob lema é INTEGRALMENTE sanado, não
havendo qua lquer sequela ou poss ib i l idade de o prob lema
reaparecer .
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- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 315 -
Porém, ta lvez in f luenc iado por fa l sos boatos o Autor
f icou “ receoso” da qua l idade dos reparos e das consequ ênc ias em
razão de le .
Por conta desse rece io , o Autor e as Rés negoc ia ram a
t roca daquele pr imeiro ve ícu lo , o que ocorreu em condições
EXTREMAMENTE favoráve is ao Autor tendo em conta que a
d i ferença paga não representou todo o custo necessár io à t roca ,
tendo a Segunda Ré sacr i f i cado sua ma rgem de lucro para poder
a tender ao Autor .
Após a lguns meses de receber o novo ve ícu l o , o Autor
vo l tou à Segunda Ré a legando que novamente o motor estava com
aquec imento excess ivo e sem opor tunizar o reparo d isse que quer ia
desfazer a negóc io , devo lver o ve ícu lo e reaver o va lo r p ago.
Nesta oportun idade , o Gerente de Of ic ina da Segu nda
Ré pessoa lmente conversou com o Autor exp l i cando
deta lhadamente qua l ser ia o pro ced imento a ser adotado,
consequênc ias e sua complex idade , SE CASO FICASSE
EVIDENCIADO QUE O DEFEITO DE FATO TERIA SE APRESE NTADO .
O autor NÃO PERMITIU QUE O GERENTE DE OFICINA
DIAGNOSTICASSE EVENTUAL DEFEITO, POIS NÃO DEIXOU SEU
VEÍCULO NAQUELA CONCESSIONÁRIA.
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- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 316 -
PORTANTO, O DEFEITO, POR ORA, É MERAMENTE
SUPOSTO, NÃO HÁ PROVAS DE QUE DE FATO EXISTA.
QUANDO O CLIENTE COMPARECE ACUSANDO O
DEFEITO, OS CONSULTORES DE OFICINA REALIZAM UMA SÉRIE
DE TESTES PARA IDENTIFICAR O DEFEITO, PORÉM ESTE
PROCEDIMENTO NÃO FOI REAL IZADO NO VEÍCULO DO AUTOR.
In formou que a t roca das juntas é proced imento
S IMPLES e RÁPIDO, su f ic iente a so luc ionar o prob lema de forma
DEFINITIVA. Bastar ia ao Autor de ixar seu ve ícu lo por apenas 01 d ia
nas o f ic inas da Segunda Ré que , adotando o proced imento
determinado pe la Pr imeira Ré , r ea l i za r ia o reparo .
PORÉM O AUTOR NÃO CONCORDOU EM DE IXAR SEU
VEÍCULO PARA A NECESSÁRIA INTERVENÇÃO, EXIG INDO, DESDE
LOGO, O DESFAZIMENTO DO NEGÓCIO.
Ou se ja , ÀS RÉS NÃO FOI OPORTUNIZADO O DIREITO
DE REPARAR O VE ÍCULO DENTRO DO PRAZO DE 30 DIAS, CASO
FOSSE DE FATO DIAGNOSTICADO O DEFEITO ALEGADO , PELO QUE
NÃO SUBSISTE O DIRIETO DO AUTOR DE POSTU LAR A DEVOLUÇÃO
DO VEÍCULO.
Havendo a poss ib i l idade de o ve ícu lo ser dev idamente
reparado a improcedênc ia dos ped idos se impõe. É o que se requer .
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07. DO DANO MORAL
O Autor requer a condenação das Rés so l idar iamente
ao pagamento de inden ização por danos mora is em quant ia a ser
a rb i t rada por Vossa Exce lênc i a ( i tem “e” do ped ido) , sob o segui nte
fundamento , em s ín tese :
É ce r to que os Réus , ao não cumpr i rem
com as suas obr igações de ent regarem ao Autor um
ve ícu lo com toda a segurança esperada , O QUE É
P IOR, POR DUAS VEZES! ! ! ! , causou enorme
t rans to rno na es fe ra ps íquica do Autor , causando -
lhe um pro fundo medo ín t imo de que adqui r i r out ro
ve ícu lo PEUGEOT . O evento gerou a inda in tenso
const rangimento pessoal perante amigos e
fami l ia res , por te r adqu i r ido carro ze ro qu i lômetros
que somente gera prob lemas e d i f i cu ldades .
Contudo, a pretensão do Autor a inden ização por d anos
mora is não deve prosperar .
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 318 -
Com efe i to , a responsab i l idade c iv i l es tá assentada na
demonstração da conduta ; dano e nexo de causa l idade; onde
somente haverá o dever de ind en izar quando demonst rados esses
e lementos .
No tóp ico anter io r , res tou caba lmente demonstrado
que NÃO HOUVE qua lquer conduta i l í c i ta das RÉS a ense jar a
inden ização , ag indo ambas no est r i to a tendimento a suas
obr igações o que já exc lu i qua lquer responsabi l idade c iv i l .
Não obstante , em atenção ao pr inc íp io da
eventua l idade, mesmo que Vossa Exce lênc ia entenda pe la ex i stência
de a to i l í c i to , é cer to que não há como prosperar o ped ido de
inden ização por danos mora is .
I s to porque, o Autor NÃO INDICOU NA NARRATIVA DOS
FATOS, OU MESMO NA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA DO PEDIDO,
qua l o fa to DETERMINADO que tenha s ido o provocador do aba lo
mora l .
Somente d ivagou com i lações sem qua lquer supor te
fá t i co , de ixando de ind icar em que rea lmente cons ist iu o postu l ado
“dano mo ra l ” .
Não se t rata , nes ta h ipótese , de admit i r -se o “dano
mora l p resumido” como nos casos de protesto indevido . Haver ia o
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Autor de demonst rar CONCRETAMENTE qua l o dano mora l a que
esteve su je i to por conta da co nduta das Rés .
As Rés prezam por todos seus c l ientes e procuram
sempre dar a tend imento condigno e condizente com o mercado
a l tamente compet i t ivo a que está inser ido . I s to pressupõe um
atend imento cortês e e f i c iente . A e sco lha pe la compra do ve ícu lo é
prer rogat iva do c l iente que , dentre as v ár ias opções do mercado ,
opta por aque la que melhor atende a seus anse ios e des e jos .
Ass im, ao optar pe lo ve ícu lo o ferec ido pe las Rés , o
Autor a lcançou um ob jet ivo e rea l izou um dese jo ; sent imento que,
ao cont rá r io de gerar danos mora is ; causa sa t i s fação , orgu lho e
regoz i jo .
No que tange ao dano mora l , é de se observar que
a t ine e le essenc ia lmente aos d i re i tos de persona l idade .
Nesse sent ido :
Nesta l inha de rac ioc ínio , o dano
moral pode se r conce i tuado como uma lesão aos
d i re i tos da pe rsonal idade . Não há dano mora l fo ra
dos d i re i tos da personal idade . Os di re i tos da
personal idade são at r ibutos es senc ia i s e inerentes
à pes soa.
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 320 -
Concernem à sua própr ia ex is tênc ia e
abrangem a sua in tegr idade f í s ica , ps íquica ou
emoc ional , sob os pr i smas espi r i tua l , soc ia l ,
a fe t i vo , in te lec tua l ou soc ia l . Ass im, se uma
conduta repercute em danos à pessoa , so f rendo e la
l esão em sua i nd iv idual idade , há o dano m oral . 8
O que essa premissa in ic ia l reve la , por tanto , é que o
dano mora l enverga componente eminentemente ex t raord inár io ,
que se sobressa i das consequênc ias meramente corr ique iras
observadas quando da prát ica de um i l í c i to cont ra tua l ou
ex t racontra tua l .
E ssa noção , a l iás , advém da idé ia de que a v ida em
soc iedade é essenc ia lmente impregnada de advers idades ,
d i f i cu ldades , desentendimentos e sobressa l tos . Frust rações e
incômodos ord inár ios , portanto , são e lementos que , apesar de
negat ivos , devem ser suportados por todos , e não há que se fa lar
em recompos ição f inance ira em razão d isso .
Não é , po is , qualquer i l i c i tude que rende ense jo ao
dano mora l . É prec i so que e la se ja de ta l monta que suas
consequênc ias t ranspassem as ra ias do comum, de modo a
provocar , fundamentadamente, abalo emociona l ou ps ico lóg ico na
8 ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações. Impetus. 3a ed., 2004.
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v í t ima , a render ense jo à compensação f inancei ra mediante
respect iva inden ização .
Neste sent ido já se pronunc iou o Eg. STJ em caso
abso lutamente aná logo (RECURSO ESPECIAL Nº 554 .876 - RJ
(2003/0101941-5) . Ve ja que, pe lo re la tór io cont ido no acórdão
percebe-se a semelhança de casos :
Lu isa Borges a ju izou ação ord inár ia
em desfavor de Conora Ve ícu los R io Lt da . , para
subst i tu i r o ve ícu lo adqu ir ido por outro da mesma
espéc ie , a lém do pagamento de inden ização de
danos mora is e mater ia i s pe los danos so f r idos ( f l s .
02 a 18 ) . Apresentada contestação pe la ré ( f l s . 58
a 63) , o Ju iz de 1º grau ju lgou procedentes os
ped idos para "condenar a ré a res sarc i r a autora o
va lo r a tual i zado de R$ 560,00 , que se rão ac resc idos
de ju ros de mora de 6% a/a desde a data da
c i tação , condenada , bem ass im, a pagar
indenização por dano ex t ra -pat r imonia l em quant ia
equiva lente a 50 (c inqüenta) sa lár ios mín imos" ( f l .
254) .
A lém d isso , condenar "a ré , a inda , a
subs t i tu i r o ve ícu lo a dqu i r ido pe la autora por um
outro - Zero KM. - da mesma marca, modelo ,
po tênc ia e com os mesmos acessór ios ex is tentes no
ve ícu lo adqu i r ido pe la autora" ( f l . 254 ) .
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 322 -
No seu voto , o eminente Re la tor Car los A lberto
Menezes D i re i to ass im fundamentou:
No que concerne aos danos morai s ,
entendo que em c asos como o dos autos são
indevidos , tendo ass im vo tado em acórdão da
Terce i ra Turma (REsp nº 445.804/RJ , Re la to r o
Mini s t ro Ari Pargendler , DJ de 19/5/03) . Todavia ,
embora tenha permanec ido com o mesmo
entendimento , f ique i venc ido em precedente
pos te r io r (o pr imei ro ju lgado na se ssão de
05/12/02 e o segundo na sessão de 10/12/02) ,
Re la to ra a Min is t ra Nancy Andrighi , que assentou ,
com os vo tos dos Mini s t ros Antônio de Pádua
Ribeiro e Castro F i lho , a sua per t inênc ia .
Todav ia , peço vên ia para ins is t i r na
mesma pos ição . No precedente da Quarta Turma,
Re la to r o Min is t ro Sálvio de Figueiredo Teixei ra
(REsp nº 402.356/MA, DJ de 2 3/6/03) , f i cou bem
anotado , em ques tão semelhante , que os “ fa tos
ocorr idos es tão inc lu ídos nos pe rca lços da v ida ,
t ra tando- se de meros d is sabores e aborrec imentos ”
, ass ina lando o i lus t re Re la to r que a par te não
ques t ionou o cab imento da indenização por da nos
morais , mas , apenas , seu va lo r . No vo to , ressal tou
o Re la to r que “os danos não t i ve ram repercussão
fo ra da es fe ra ind iv idual , não tendo o autor so f r ido
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 323 -
abalo à honra e nem sequer passador por s i tuação
de dor , so f r imento ou humi lhação” . Com isso , tenho
que se r ia mesmo uma demasia t rans f e r i r esse t ipo
de aborrec imento para o âmbi to do dano mora l ,
que s ign i f ica out ra co isa , que tem outro sent ido .
Não há nos autos qualquer ind ic ação de que tenha
hav ido atuação que conf igure um sent imento de
ind ignação d iante de agressão in jus t i f i cada ou
mesmo t ra tamento des respe i toso . Ve ja -se que a
própr ia pe t ição in i c ia l menc iona os d is sabores ,
ind icando como fundamento para o ped ido de dano
moral ; “ (a ) a quantos compromissos de ixou de
comparecer a autora , v i s i ve lmente onerada , pe la
fa l ta do seu carro ; (b ) as inúmeras e sucess ivas
idas e v indas da autora a o f ic inas m ecânicas ; (c ) as
quebras de seu ve í cu lo nos mais d ive rsos lugares ;
(d ) a permanente ins egurança e a f l i t i va incer t eza
geradas por es se quadro ; (e ) o sem -número de
te le fonemas à ré , sem respos ta , e as incontáve is
in ic ia t i vas no se nt ido de so lução do probl ema” ( f l .
15 ) .
E sse cenár io , com todo o maior
respe i to , não me convence de que cab íve l a
indenização pe lo dano mora l , re fo rçando , ao revés ,
a minha convi cção de que é impert inente a
condenação d iante da desc r ição fe i ta pe la própr ia
par te dos d is sabores que passou .
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 324 -
Ass im, d iante da ausênc ia de comprovação concreta da
ocorrênc ia do dano mora l , ônus que compet ia ao Autor , não há que
se fa la r em dever de indenizar .
08 . DO QUANTUN INDENIZATÓRIO
Por f im, caso ha ja condenação em danos morais , o que
não se espera , cumpre cons ignar os parâmetros ba l izadores para a
sua f ixação .
Não há qualquer c r i tér io objet ivo para f i xação do v a lor
da indenização por danos morais , porém a ju r i sprudênc ia vem
f i rmando entend imento de que ta l va lor deve cons iderar os
segu in tes e lementos : a ) ex tensão do dano; b ) capac idade
econômica do o fend ido e c ) capac idade ec onômica do o fensor .
No caso concreto , não houve qua lquer dano
demonstrado pelo Autor ; caso se entenda pe lo desconfor to ou
d issabor inden izáve l , o va lo r deve ser condizente com o MÍNIMO
dano so fr ido , cons iderando que não fug iu à es f era ínt ima.
Também não há provas quanto à capac idade econ ômica
do Autor , de sorte que o va lor não pode impl ic ar em
enr iquec imento sem causa caso f i x ado em va lores e levados.
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 325 -
A capac idade econômica do o fensor jamais pode
representar autor ização para a f i xação de inden ização que
represente um enr iquec imento à v í t ima, agregando patr imôn io ,
espec ia lmente d iante do ca rá ter compensatór io da inden ização ; o
que jamais pode representar aumento de patr im ôn io .
Por f im, é cor rente o entend imento de que o s imples
reconhec imento da conduta i l í c i ta e a pun ição já representa ao
o fend ido o neces sár io confor to de ver a conduta i l í c i ta reconhec ida
e restabe lec ido o seu d ire i to , de sor te que a dec isão cumpr iu a sua
função independente do va lor f i x ado .
Neste sent ido :
E M E N T A : E M E N TA : - D A N O S M OR A I S - Q U A N T U M A RB I T RA DO
D E A C O R D O C OM AS P E C U L I A R I D A D E S D O C A S O C O N C R E TO - M I N O RA Ç ÃO
I N D E V I D A - SE N T E N Ç A M A N T I DA P O R S E U S P R Ó P R IO S F U N D A M E N T O S .A
i n s u r g ê n c i a r e c u r s a l r e c a i s o b r e s e n t e n ç a q u e j u l g o u p a r c i a l me n t e p r o c e d e n t e
a r e c l a m a ç ã o e c o n d e n o u o r e c l a m a d o a o p a g a m e n t o d e R $ 2 . 0 00 , 00 ,
r e f e r e n t e à i n d e n i za ç ão p o r d a no s m or a i s . A l e g a o r e c o r r en t e e x c e s s o n a
c o n d e n a ç ã o a o p ag a m e n t o d e i n d e n i z a çã o a t í tu l o d e d a n o s m o r a i s ,
r e q u e r e n d o a r e d uç ã o d o v a l o r a t r i bu í d o e m s e n t e n ç a c o n d e n a t ó r i a . " É
p r e s u m i d a a e x i s t ê nc i a d e d a n o m o ra l , n o s c a s o s d e p r o te s t o d e t í t u lo e
i n s c r i ç ã o e / ou m a nu t e n ç ã o e m ó r g ã o d e p r o t e ç ã o a o c r é d i t o , q u a n do
i n d e v i do s " ( E nu n c i ad o n º 08 ) . P A R A A F I XA Ç ÃO D O D A N O M OR AL ,
N E C E SS Á R I O E J U ST O TO MA R C O MO C R I T É R I O D E A F E R I Ç Ã O , A L É M D A
G R A V I D A D E D O F A T O , T A MB É M A S I T UA Ç Ã O F I N A N C E I R O - E C O N Ô MI C A D OS
L I T I G A N T E S , S E MP RE C O M O C U I D A D O D E N Ã O P RO P O R C IO N A R , P O R U M
L A D O , U M V A L O R Q U E P A R A O A U T O R S E T O R N E I N E X PR E S S I V O E , P O R
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 326 -
O U T R O , Q U E S E J A U MA C A U S A D E E NR I Q U E C I ME N T O IN JU S T O , N UN C A S E
O L V I D A N D O , A I N D A , D O E F E I T O I N I B I TÓ R I O Q U E D E V E R Á D E S E MP E N H A R A
S A N Ç Ã O P E C UN I Á R I A P E R A N T E O A G E N T E O F E NS O R . As s i m s e n d o , a
s e n t e n ç a o r a e m a p r e ç o , f i x o u d e f o r m a p r u d e n t e e p o n d e r a d a o v a l o r da
i n d e n i z a çã o , a t e n d en d o a s p e c u l i a r i d a d es d o c a s o e a s i t u a ç ã o f i n a n c e i r a do s
e n v o l v i d o s . R e c u r s o c o n h e c i d o e d e s p r ov i d o . M a n t i d a a s e n t e n ç a , c o m b a s e
n o a r t . 5 5 d a L e i n . 9 . 0 99 / 95 f i c a o r e c o r r e n t e c o n d e n a do a o p a g a m e n t o d as
c u s t a s p ro c e s s u a i s e d e h o no r á r i o s a dv o c a t í c i o s , e s t e s a rb i t r a do s e m 20 %
( v i n t e p o r c e n t o ) s o b r e o v a lo r a t u a l i z a d o d a c o nd e n a ç ã o . É o v o to q ue
p r op o n ho D E C I S ÃO : D i a n t e d o e x p o s to , e s t a T u r m a R e c u r s a l r e s o l v e , po r
u n a n i m i d a d e d e v o tos , c o n h e c e r d o r e c u r s o e , n o m é r i t o , n e g ar p r ov i m e n t o ao
m e s m o , n o s e x a t o s te r m o s c o n s t a n t e s n a e m e n t a . ( R e c u rs o : 20 0 7 .00 08 0 86 - 7 -
R e c u r so I n o mi n a d o A ç ã o O r i g i ná r i a 2 0 07 .2 06 4 5 C o ma rc a d e O r i g e m
L o n d r i n a – 4 º J E C Ju i z R e l a to r T E L MO Z A I O N S Z A I N K O D at a
d o J u l g a me n t o 2 8 /0 9 /2 00 7 N ú m e r o d o A c ó r dã o 2 43 15 )
A inda no mesmo sent ido :
Recurso inominado : 2007 .0011580 -0/0
3° JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Da comarca de
Mar ingá
RECORRENTE: Bras i l Te lecom s/a
RECORRIDO: LOURDES MONTEIRO SANCHEZ
RELATOR: HELDER LUÍS HENRIQUE TAGUCHI
C ÍVEL . RECURSO INOMINADO.
INSCRIÇÃO INDEVIDA. FRAUDE. FALTA DE CAUTELA
DA CONCESSIONÁRIA DE TELEFONIA AO
INSCREVER O NOME DO CONSUM IDOR NOS
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ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. RED UÇÃO.
1 . Lourdes Monte i ro Sanchez propôs
ação de indenização cobrança em face de Bras i l
Te lecom S/A, a legando que desconhece as
cobranças pe la u t i l i zação de l inha te le fôn ica que
não so l ic i tou .
A dec isão da Ju íza le iga , homologada
por sentença , condenou a ré ao pagamento de
indenização por danos morais no va lo r de R$
3 .500 ,00 e de te rmino a ba ixa das re s t r i ções de
c rédi to .
A ré in te rpôs recurso inominado
a legando a complex idade da causa . Sus tenta que a
autora so l i c i tou a l inha te le fônica e fez uso de la .
Impugna a carac te r i zação do dano e o valo r
arb i t rado .
2 . Os documentos que fo ram juntados
pe la ré só após a pro lação da sentença podem ser
examinados nes ta ins tânc ia , uma vez que a
produção da prova fo i jus t i f i cada e de fe r ida a inda
na aud iênc ia de ins t rução e ju lgame nto .
À autora fo i opor tunizada a
mani fes tação nas contra - razões do recurso .
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São ce r t idões da Junta Comerc ia l do
Paraná in fo rmando que a autora é sóc ia de uma
soc iedade comerc ia l sediada em Maria lva -Pr . , e que
fo i sóc ia de out ra empresa até 15 de dezembro de
2005 , também em Mar ialva-Pr .
O exame i so lado dessa in fo rmação
nada ac rescenta na so lução da l ide , se a inda não
se sabe com quem a ré cont ratou a pres tação dos
se rv iços de te le fonia .
Não é o caso de a ré lançar dúv idas ,
suspe i tas , quando deve s implesmente indicar com
prec isão e c lareza com quem contratou e quando
aconteceu o contrato .
Com e fe i to , a prova que importa diz
re spe i to a contratação regu lar dos se rv iços de
te le fon ia da ré pe la autora . E prova nes te sent ido
não fo i apresentada . Por i s so , não cabe agora
te rg ive rsar .
Va le d ize r , não res tou comprovado nos
autos que a autora tenha ce lebrado qualquer
negóc io ju r íd ico com a ré , o que to rna o déb i to
inex i s tente e indev ida e abus iva a insc r ição do seu
nome nos cadas tros de ó rgãos de res t r i ção de
c rédi to .
O consumidor que não ce lebrou o
contrato , não pode se r imputado como devedor nem
penal i zado com a inc lusão indev ida de seu nome
nos se rv i ços de res t r i ção ao c réd i to em razão da
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vu lnerab i l idade do s i s tema de contratação da
Rec lamada. Forma de captação de c l ie nte la
u t i l i zada pe la Requer ida (por te le fone , sem
autor i zação esc r i ta do consumidor/contratante e
sem confe rênc ia de documentos com a real
ident idade do contratante ) que po tenc ia l i za a
oco rrênc ia de f raudes e ense ja o dever do
fo rnecedor do se rv i ço de arcar com a reparação de
eventual dano causado a te rce i ro (ap l icação da
norma do ar t igo 17 da Le i n°8 .078/90) . T rata -se de
responsabi l idade pe lo fa to do se rv iço .
3 . A c r iação de um débi to sem causa
impõe ao supos to devedor a imagem de mau
pagador , no seu ín t imo produz uma preocupação
descab ida, e t raz aborrec imentos e cont ratempos
até a regu lar i zação da s i tuação .
Enunc iado n . º 8 da TRU/PR : “É
presumida a ex i s tênc ia de dano moral , nos casos de
pro tes to de t í tu lo e insc r ição e/ou manutenção em
órgão de pro teção ao c réd i to , quando indevidos ” .
Para f ixação do valor da
indenização decorrente de d ano moral , muito
embora disponha o Juiz de ampla l iberdade
para aferi r o valor da reparação, deve perquiri r
todos os fatores inerentes aos f atos , à s i tuação
das partes , e a norma legal apl icável ao caso .
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Procura-se como se sabe, uma
compensação mínima aos transtornos causados
pelo ato abusivo , ut i l izando -se dos seguintes
cr i tér ios , e laborados em consideração às
pecul iar idades do caso co ncreto . A quantidade
de cr i tér ios é var iáve l , conforme as
c i rcunstâncias de cada c aso.
a) caráter punit ivo e premonitório
da conduta ofensiva da recorrente;
b) a condenação deve importar em quant ia
capaz de t raduzir algum conforto espir i tual
pelo ul tra je exper imentado na honra da
recorrida;
c ) o valor da condenação deve ser
compatível com a est rutura e a capacidade
econômica das recorrentes .
CONTEMPLADAS ESTAS
CIRCUNSTÂNCIAS, E CONSIDERADO O EPISÓDIO
ISOLADO REDUZO O VALOR DA INDEN IZAÇÃO
PARA R$ 1 .000,00 .
Recurso conhecido e provido em
parte , para reduzir o valor da indenização por
danos morais pra R$ 1 .000,00 , com correção
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monetária e juros de mora contados da d ata
deste julgamento.
Condena-se a recorrentes ao
pagamento de 75% das cus tas processuais e
honorár ios advocat í c ios de 10% sobre o valo r da
condenação . ACÓRDÃO Acordam os Ju ízes de
Di re i to in tegrantes da Tu rma Recursa l Única dos
Ju izados Espec ia is C íve is e Cr imina is do Es tado do
Paraná, à unanimidade , em conhecer e prover em
parte o recurso nos te rmos do vo to do re la to r . O
ju lgamento fo i pres id ido pe lo Senhor Ju iz
A lexandre Barbosa Fab i an i , com vo to , e de le
par t i c ipou a Senhora Ju íza Cr i s t iane Santos Le i te .
Cur i t iba , 21 de dezembro de 2007 . He lder Lu ís
Henrique Taguch i Re la to r
Por tanto , caso haja a condenação à inden ização por
danos mora is , requer desde logo que o va lor a ser f i xado por Vossa
Exce lênc ia a tenda aos c r i té r ios ac ima expostos e não represente
enr iquec imento sem causa ao a utor .
09. DOS PEDIDOS
Diante o exposto requer :
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a) se ja ACOLHIDA a pre l iminar de carênc ia de ação e
dec larada a inex i s tênc ia de in teresse processual do Autor ,
ex t ingu indo, por conseqüênc ia , o presente fe i to sem reso lução do
mér i to , nos termos dos ar t s . 301 , X e 267, V I , todos constantes do
Cód igo de Processo C iv i l .
b ) se ja ACOLHIDA a pre l iminar de i leg i t imidade
pass iva da Segunda Ré OPECAR VEÍCULOS LTDA e ju lgando
EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO a presente demanda com
fu lcro no a r t igo 267, VI do Código de Processo C iv i l , quanto ao
ped ido de condenação à inden iz ação por danos mora is .
c ) Que, caso superada a pre l iminar , o que não se
espera , que seja MANTIDO o ônus probatór io ao Autor quanto à
demonstração caba l da ex i stênc ia do a legado defe i to , não h avendo
presentes os r equis i tos para a inversão do ônus prev is to no ar t igo
6º , VI I I do Código de Defesa do Consumidor .
d ) No mér i to , que se ja a demanda JULGADA
IMPROCEDENTE em todos os seus ped idos , d iante da abso luta
ausênc ia de d i re i to do Autor na sua pretensão in ic ia l .
e ) Sucess ivamente e em atenção ao pr inc íp io da
eventua l idade, caso ha ja condenação em inden ização por danos
mora i s , que se jam observados os c r i té r ios in formadores para a sua
f i xação não excedendo ao mín imo condizente com a ex tensão do
dano so fr ido pe lo autor .
f ) A produção de todas as provas em d i re i to
admit idas , em espec ia l o depo imento pessoa l das par tes ; a o i t i va de
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- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 333 -
tes temunhas e a juntada de out ros documentos que se f i zerem
necessár ios .
g ) Que TODAS as int imações se jam encaminhadas à
pub l icação em d iá r io o f i c ia l em nome de José Va ldemar Jaschke -
OAB/PR. 22 .939 , t i tu la r deste escr i tór io , SOB PENA DE NULIDADE.
Termos em que pede defer imento .