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EXM.º SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 7ª VARA CÍVEL DA CIRCUNSCRIÇÃO ESPECIAL JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA – DF Processo nº (nome e qualificação), por intermédio de sua advogada ao final assinada, vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência apresentar CONTESTAÇÃO aos fatos narrados na Ação de Conhecimento sumário com pedido de tutelas declaratória e condenatória

Contestação Acidente de Trânsito

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Page 1: Contestação Acidente de Trânsito

EXM.º SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 7ª VARA CÍVEL DA

CIRCUNSCRIÇÃO ESPECIAL JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA

– DF

Processo nº

(nome e qualificação), por intermédio de sua

advogada ao final assinada, vem, mui respeitosamente, à

presença de Vossa Excelência apresentar

CONTESTAÇÃO

aos fatos narrados na Ação de Conhecimento sumário com

pedido de tutelas declaratória e condenatória (de

indenização por danos materiais), que lhe move (nome

autor), pelos fatos e fundamentos que a seguir passa a

expor:

Page 2: Contestação Acidente de Trânsito

DA SÍNTESE DA DEMANDA

Trata-se da propositura de Ação impulsionada

pela Autora proprietária de veículo que se envolveu em

acidente de trânsito, dirigido por seu filho XXX, que colidiu

na traseira no veículo de propriedade do segundo Réu,

conduzido pela segunda Ré.

Alega a Autora que o automóvel da marca XX,

modelo XX, ano XX, de sua propriedade, vinha sendo

utilizado pelo seu filho acima citado, exclusivamente, no

período de dois anos, como meio de condução a

universidade, compromissos familiares e profissionais e

atividades lúdicas.

Que, em 27 de outubro de 2011, a ré ao realizar

manobra de retorno pela Avenida W3 Norte, frente ao

Brasília Shopping, sentido sul/norte para norte/sul, colidiu

com o veículo da Autora conduzido pelo seu filho.

Que embora tenha acionado o sistema de freios,

seu filho, colidiu com o automóvel conduzido pela ré na sua

parte posterior direita do paralama traseiro, afirma que o

carro do réu ficou completamente preservado, enquanto que

o da Autora sofreu uma série de danos.

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Page 3: Contestação Acidente de Trânsito

Que a Ré se esvaiu do local da colisão, deixando

seu contato, afirmando que tinha consulta médica de seu

filho que estava doente.

Por fim, requer sejam os réus condenados,

solidariamente, ao pagamento do valor de R$ 8.059,00 (oito

mil, cinquenta e nove reais) referente aos alegados danos

materiais e da quantia de R$ 3.600,00 (três mil e seiscentos

reais) relativos a alegada depreciação do valor do carro no

mercado, perfazendo o total de R$ 11.659,00 (onze mil,

seiscentos e cinquenta e nove reais), bem como pleiteia o

pagamento das custas e honorários advocatícios.

Tal narrativa, entretanto, não condiz com a

realidade dos fatos. Conforme mapa acostada a presente

peça impugnativa, o local em que a Ré efetuou a conversão

permite tal tipo de manobra.

O condutor do veículo da Autora, entretanto, que

dirigia em velocidade incompatível com a via, atravessou

sinal e, após não conseguir frear o automóvel, colidiu com na

traseira direita do automóvel do Réu ocasionando danos em

ambos veículos.

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Page 4: Contestação Acidente de Trânsito

Por todas essas irrefutáveis razões não merece

prosperar o pedido inicial.

Da Gratuidade de Justiça

Inicialmente, afirmam os Réus que não possuem

condições financeiras de arcar com despesas processuais e

honorários advocatícios sem prejuízo do seu próprio sustento

e dos seus dependentes, uma vez que são casados e possuem

2 (dois) filhos, um com 10 (dez) anos e outro com 16

(dezesseis) anos, e somente o réu trabalha sendo funcionário

da Marinha do Brasil, no cargo de Sargento.

Desta forma, pleiteiam seja-lhes concedido o

benefício da Justiça Gratuita, nos termos da Lei n.º. 1060/50.

DA VERDADE DOS FATOS

Da Culpa Exclusiva do Condutor do Veículo da Autora

Improcedem as alegações contidas na presente

ação, principalmente, porque a Ré não ingressou na Avenida

W3 sentido norte/sul em frente ao Brasília shopping

inadvertidamente como alega a Autora.

Importante esclarecer que no dia 27 de outubro

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Page 5: Contestação Acidente de Trânsito

de 2011, a Ré foi levar seu filho de 9 anos ao Hospital, para

atendimento médico no pronto socorro em razão de febre

alta. Conforme consta do atestado médico anexo, o

atendimento médico ocorreu às 10h40min.

Ao sair do Hospital em direção a sua residência

situada no ..., a Ré ao pegar a Via W3 sentido sul/norte

procedeu a conversão da direção do veículo à esquerda e

ingressou na Via W3 sentido norte/sul (em frente ao Brasília

Shopping), para posteriormente efetuar o contorno em

direção à Via N Dois Oeste, para enfim percorrer a Via W4 e

chegar a sua residência, uma vez que seu filho estava febril e

necessitando de repouso.

Contudo, seu percurso foi interrompido pelo filho

da Autora que colidiu na parte traseira direita do veículo

dirigido pela Ré.

Ao contrário da afirmação da Autora, a Ré tomou

todos os cuidados necessários para ingressar à Via W3

sentido norte/sul, até porque estava com seu filho ao lado do

carona, com febre e necessitando de seus cuidados.

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Page 6: Contestação Acidente de Trânsito

Além disso, omitiu a verdade dos fatos em vários

momentos, um deles deixou de mencionar que seu filho

deixou de observar o sinal existente antes da convergência

utilizada pela Ré, bem como estava em velocidade acima do

permitido para a via W3 de 60k/h, o que facilmente se

constata uma vez que a Autora ao efetuar a convergência

para ingressar no sentido norte/sul verificou que não existia

impedimento para sua pretensão.

Percebe-se que o se o condutor do automóvel da

Autora tivesse acionado o sistema de freios adequadamente

na velocidade permitida pela via, certamente não colidiria na

traseira do veículo do Réu, uma vez que o modelo XXX, da

marca XX possui sistema de freios ABS, que visa reduzir

significativamente as chances de derrapagem e uma

subsequente perda de controle da direção.

Pode-se afirmar que o filho da Autora, condutor

do veículo de sua propriedade, dirigiu sem atenção

necessária para via W3.

O local do acidente tem fluxo intenso de carros

de passeio, taxis e ônibus, tendo em vista a existência do

Brasília Shopping frente ao retorno utilizado pela Ré.

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Page 7: Contestação Acidente de Trânsito

Outra inverdade que merece ser rechaçada na

presente peça impugnativa, é o fato de que o veículo do Réu

“ficou completamente preservado na sua parte posterior

direita do paralama traseiro (área do choque)”.

Conforme se verifica nas fotos acostadas, o

automóvel do réu – único veículo da família – sofreu

avarias, que ainda não foram consertadas diante do presente

impasse, uma vez que o filho da Autora não assumiu a culpa

na colisão deixando os réus sem qualquer resposta.

Nesse sentido, os Réus apresentam os

orçamentos de três (3) oficinas de Brasília, com diferentes

valores visando o reparo do seu veículo familiar. Nota-se que

os Réus não procuraram a concessionária da Peugeot, mas

sim alternativas menos dispendiosas.

A Ré ficou surpresa ao tomar ciência da presente

ação, uma vez que em razão do estado de saúde do seu filho,

bem como da greve da polícia civil de Brasília, não pode ficar

no local e aguardar o registro da ocorrência do acidente e a

necessária perícia para esclarecimento do acidente.

Contudo, deixou seu contato com o filho da

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Page 8: Contestação Acidente de Trânsito

Autora, condutor do veículo, para posteriormente acordarem

sobre o conserto do seu automóvel, uma vez que naquele

momento a prioridade era a saúde do seu filho.

A fim de elucidar V. Exa. os Réus colacionam

abaixo mapa1 do lugar onde ocorreu o acidente:

Mapa panorâmico

1 http://www.mundi.com.br/Mapa-Asa-NorteBrasilia-2730708.html

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Page 9: Contestação Acidente de Trânsito

Imagem do local do acidente, verifica-se que

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Page 10: Contestação Acidente de Trânsito

existe um sinal de trânsito antes do contorno sentido Via W3

norte/sul.

a

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Page 11: Contestação Acidente de Trânsito

Percurso que seria perorrido pela Ré, caso não tivesse sido

abalroada pelo filho da Autora:

Ocorre, que a Autora está dando interpretação

equivocada ao que realmente aconteceu no dia do acidente,

tentando eximir seu filho de culpa às normas do transito e a

jurisprudência aplicada ao presente caso.

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Page 12: Contestação Acidente de Trânsito

Em síntese, constata-se culpa única e exclusiva

do condutor do veículo da Autora, eis que dirigia de forma

completamente incompatível com a via, de forma

imprudente, deixando de observar os cuidados necessários

exigidos pela via, quando então colidiu com o veículo do

requerido.

Vale frisar que o veículo do Réu, no momento da

colisão, efetuava manobra regulamentar, tendo acionado o

dispositivo luminoso indicador da esquerda e deslocado com

antecedência o seu veículo para a faixa mais à esquerda na

altura da linha divisória da pista, ou seja, transitando o seu

veículo de forma regular e condizente com o exigido pelo

Código de Trânsito Brasileiro.

O filho da Autora, por sua vez, agiu de forma

completamente desidiosa, ocasionando o acidente por

negligência e imprudência exclusiva deste, eis que dirigiu

seu veículo sem os cuidados indispensáveis à segurança do

trânsito.

Assim sendo, resta evidente que os danos

materiais sofridos pela autora não podem ser reputados a Ré,

vez que em momento algum agiu de forma a contribuir para

o infortúnio.

Notoriamente, quando se fala em danos

materiais é necessário que haja um ato ilícito a ser reputado

ao agente causador do dano, para que então se desencadeie

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Page 13: Contestação Acidente de Trânsito

a obrigação de indenizar por tais danos. No caso em questão,

não resta dúvida que o agente causador do dano foi o filho da

Autora, a suposta vítima da lide em questão.

A explicação do que é ato ilícito pode ser

encontrada no Código Civil em seu artigo 186, senão veja-

ses:

Art. 186. Aquele que por ação ou omissão

voluntária, negligência ou imprudência,

violar direito e causar dano a outrem, ainda

que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Na responsabilidade civil, o centro de exame é o

ato ilícito. O dever de indenizar vai repousar justamente no

exame da transgressão ao dever de conduta que constitui o

ato ilícito.

A culpa é a violação de um dever jurídico. José de

Aguiar Dias (1979, v. 1: 136) apud Silvio de Salvo Venosa

assevera:

A culpa é falta de diligência na observância

da norma de conduta, isto é, o desprezo, por

parte do agente, do esforço necessário para

observá-la, com resultado não objetivado,

mas previsível, desde que o agente se

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Page 14: Contestação Acidente de Trânsito

detivesse na consideração das conseqüências

eventuais de sua atitude.

Da mesma forma, Rui Stoco (1999: 66):

A culpa, genericamente entendida, é, pois, fundo

animador do ato ilícito, da injúria, ofensa ou má conduta

imputável. Nessa figura encontram-se dois elementos: o

objetivo, expressado na iliciedade, e o subjetivo, do mau

procedimento imputável.

Também o nexo de causal ou nexo de causalidade

é o liame que une a conduta do agente ao dano. Assim, é por

meio da análise do nexo de causalidade que identificamos

quem foi o causador do dano. Ressalte-se que se o dano

ocorreu por culpa exclusiva da vítima, por caso fortuito ou de

força maior, não há o dever de indenizar.

A culpa exclusiva da vítima elide o dever de

indenizar, porque impede o nexo causal, conforme se pode

auferir pela dicção do artigo 945 do Código Civil.

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Page 15: Contestação Acidente de Trânsito

Pelo exposto, resta sobejamente comprovada a

culpa exclusiva do requerente, não havendo de prosperar o

pedido inicial, não havendo de se falar em indenização em

danos materiais por parte do requerido.

DO VALOR DE MERCADO DO AUTOMÓVEL DA AUTORA

Em sua peça inaugural a Autora afirma que seu

carro teve o valor reduzido de mercado em R$ 3.600,00 (três

mil e seiscentos reais), pleiteando ainda o pagamento do

valor de R$ 8.059,00 (oito mil, cinquenta e nove reais)

referente aos alegados danos materiais, perfazendo o total

de R$ 11.659,00 (onze mil, seiscentos e cinquenta e nove

reais).

Importante ressaltar que o automóvel em

questão é um modelo Classe A, da Mercedes Benz, ano 2000,

cujo valor médio de mercado segundo a tabela fipe é de R$

15.919,00 e o menor preço é de R$ 12.800,00, conforme

consulta realizada no site www.icarros.com.br (segue

abaixo):

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Page 16: Contestação Acidente de Trânsito

Contudo, pesquisando sites de venda de carros, o

valor de mercado de venda do carro da Autora tem uma

variação entre R$ 10.000,00 (dez mil reais) e R$ 15.000,00

(quinze mil reais).

Desta forma, verifica-se que a pretensão da

Autora na presente ação é de obter um novo XXX, ou seja,

está devidamente caracterizado enriquecimento sem causa, o

que merece ser rechaçado pelo Poder Judiciário cuja

atividade nodal é a busca da justiça e não o contrário, qual

seja beneficiar aquele que não detém o direito.

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Page 17: Contestação Acidente de Trânsito

DA INEXISTÊNCIA DE DANO MATERIAL

Como se sabe, em sede de Responsabilidade

Civil, para que ocorra o dever de indenizar, faz-se necessário

que se configure os seus requisitos: ação ou omissão

voluntária, nexo causal, dano e culpa.

Nas palavras do jurista Sílvio de Salvo Venosa2:

“Somente haverá possibilidade de indenização

se o ato ilícito ocasionar dano. Cuida-se,

portanto, do dano injusto. Em concepção mais

moderna, pode-se entender que a expressão dano

injusto traduz a mesma noção de lesão a um

interesse...

Sem dano ou sem interesse violado, não se

corporifica a indenização”.

Como se verifica na ação de indenização

decorrente de ato ilícito, o autor deve sempre buscar a

reparação de um prejuízo e não a obtenção de uma

vantagem.

Ademais, não tendo juntado aos autos qualquer

2 Responsabilidade Civil. Ed. Atlas, São Paulo. 2003

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Page 18: Contestação Acidente de Trânsito

prova de que tenha se prejudicado com o fato ora discutido,

não merece a Autora ver acolhida sua pretensão.

Em relação aos valores exigidos pela Autora, a

título de indenização, temos que não possuem qualquer

amparo legal e sequer há danos morais demonstrados nos

autos; ressaltando que, como já exposto anteriormente, a

Instituição-Ré não praticou qualquer ilícito, que gerasse o

dever de indenizar e, muito menos nos moldes pretendidos

pela Autora, que deixa claro seu objetivo de obter grande

lucro, fugindo aos princípios de moderação e equitatividade

necessários e que são seguidos pelo Poder Judiciário.

Portanto, a desídia e a imperícia do filho da

Autora, condutor do veículo no momento do acidente, acabou

por ensejar dano a si próprio, conforme se pode verificar

pela dinâmica dos fatos, e dos documentos acostados a esta

contestação. Em sede jurisprudência, existe entendimento

favorável à exclusão da responsabilidade em tais casos, uma

vez que foi o próprio filho da Autora quem deu causa ao

acidente ao colidir na traseira do veículo do réu, in verbis:

CIVIL E PROCESSO CIVIL. ACIDENTE DE

TRÂNSITO. BATIDA NA TRASEIRA DE

VEÍCULO À FRENTE. RESPONSABILIDADE

DO MOTORISTA DO VEÍCULO QUE COLIDE.

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Page 19: Contestação Acidente de Trânsito

ALEGAÇÃO DE PARADA REPENTINA DO

VEÍCULO À FRENTE. NÃO

DESINCUMBÊNCIA DO ÔNUS DA PROVA

DO FATO ALEGADO PARA EXIMIR CULPA.

PRESUNÇÃO DE CULPA NÃO AFASTADA.

VALOR DA REPARAÇÃO DO DANO PELO

ORÇAMENTO DE MENOR VALOR.

1. É presumida a culpa do motorista que

colide na traseira do outro veículo que

trafega à sua frente, inclusive porque aquele

deve guardar distância suficiente para

possibilitar a frenagem, de maneira que o

motorista que colide na traseira somente se

exime da responsabilidade de reparar o dano

causado quando, por meio de firme prova,

demonstra que a culpa no acidente foi do

outro condutor. Assim, não havendo prova

convincente nesse sentido, não prevalece

alegação de culpa exclusiva do

autor/recorrido para, especialmente, acolher-

se o pedido contraposto, sendo, pois, correta

a sentença que condena o causador do

acidente na reparação do dano no veículo

batido.

1.1. Embora relativa, a presunção de culpa

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Page 20: Contestação Acidente de Trânsito

deve prevalecer porque a ré/recorrente não

se desincumbiu do ônus da prova que lhe

competia nos termos do artigo 333, inciso I,

do Código de Processo Civil, sendo que, no

caso concreto, não existe controvérsia

quanto à batida na traseira do outro veículo,

senão a alegação, sem o mínimo de prova, de

que a culpa foi do condutor à frente devido

sua parada brusca que impediu reação para

evitar a colisão. Vale dizer que, no conjunto,

as provas coligidas aos autos não

desautorizam a presunção de culpa.

2. Demonstrados nos autos os orçamentos

para o conserto do veículo avariado, a

condenação do causador do acidente no

pagamento do valor referente ao menor

orçamento atende à obrigação de recompor

integralmente o dano advindo do ato ilícito,

ainda mais quando observado que a

pretensão para redução do valor da

condenação está baseada em meras

alegações, sem prova para demonstrar que,

efetivamente, a quantia é desproporcional

com as avarias provocadas.

2.1. Caso em que o menor orçamento

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Page 21: Contestação Acidente de Trânsito

também não se afigura evidentemente

exorbitante em relação à fotografia do

veículo avariado.

3. Recurso conhecido e não provido.

4. Parte recorrente vencida deve ser

condenada ao pagamento das custas

processuais e dos honorários advocatícios,

estes arbitrados no caso em 10% do valor da

condenação, nos termos do artigo 55 da Lei

nº 9.099/95.”3

CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL.

ACIDENTE DE TRÂNSITO.

ABALROAMENTO EM TRASEIRA DE

VEICULO. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO

JURIS TANTUM DE CULPA DO CONDUTOR

QUE COMETE O ATO LESIONADOR,

SUJEITA À DEMONSTRAÇÃO CABAL DE

CULPA DO CONDUTOR DO VEÍCULO

ABALROADO. ÔNUS QUE CLARAMENTE

INCUMBE, E DE FORMA EXCLUSIVA, AO

PERPETRADOR DO DANO (CPC, ARTIGO

333, INCISO II). DECISÃO MONOCRÁTICA

3 TJDFT, 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, 20110310129738ACJ, Rel. Des. Fábio Eduardo Marques, julg. 18.10.2011, DJ 27/10/2011 p. 208)

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Page 22: Contestação Acidente de Trânsito

QUE GUARDA CONSONÂNCIA COM A

REALIDADE FÁTICA, INCLUSIVE

ADEQUANDO A CONDENAÇÃO AO VALOR

DO MENOR ORÇAMENTO RAZOÁVEL

APRESENTADO. RECURSO IMPROVIDO.

SENTENÇA MANTIDA.

1. A presunção legal que milita contra o

motorista que abalroa veículo seguindo à sua

frente, gerando sua responsabilidade civil

por culpa extracontratual, pode ser elidida

por prova cabal e irrefutável relativa à culpa

do motorista condutor do veículo atingido na

traseira, mas essa prova constitui ônus

exclusivo daquele contra quem tal presunção

milita, nos exatos termos do disposto no

artigo 333, inciso II, do Código de Processo

Civil.

2. Na hipótese fática dos autos, não houve

prova, além das alegações das partes

recorrentes, de causa determinante

consistente na manobra imperita do veículo

abalroado, de molde a justificar o resultado

danoso produzido, na sua parte posterior

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Page 23: Contestação Acidente de Trânsito

direita, pelo veículo que lhe vinha atrás. Ao

contrário, as testemunhas arroladas e que se

encontravam presentes no local da batida

foram uníssonas quanto ao desenrolar dos

fatos. Ademais, os próprios recorrentes

reafirmaram tratar-se de horário bastante

movimentado, no qual, portanto, outras

testemunhas seriam facilmente encontradas.

Correta, portanto, a decisão monocrática,

que guarda consonância com a realidade

fática, inclusive adequando a condenação ao

valor do menor orçamento apresentado.

3. Recurso conhecido e improvido. Sentença

confirmada pelos seus próprios fundamentos,

autorizando a lavratura do acórdão nos

moldes do art. 46 da Lei dos Juizados

Especiais.

4. Condeno as partes recorrentes ao

pagamento das custas processuais e dos

honorários advocatícios, arbitrados em 10%

(dez por cento) do valor da condenação, com

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Page 24: Contestação Acidente de Trânsito

base no art. 55 da Lei 9.099/95.”4

“Acidente de trânsito - Batida na traseira

- Culpa – Presunção. Indenização por

perdas e danos - Batida na traseira -

Presunção juris tantum. O Código de Trânsito

Brasileiro, artigo 29, inciso III, dispõe que o

condutor deverá guardar distância de

segurança lateral e frontal entre o seu e os

demais veículos, daí a presunção de quem

bate na traseira ser o culpado. Trata-se,

portanto, de presunção juris tantum, isto é,

cabe prova em contrário, devendo esta ser

feita pelo condutor que bate na traseira. A

presença de prova capaz de elidir essa

presunção, induz a procedência do pedido de

indenização formulado pelo condutor que

bate na traseira. Recurso a que se nega

provimento.”5

Ora, o condutor do veículo da Autora quem

colidiu na traseira direita do único automóvel familiar do

4 TJDFT, 20100410112006ACJ, Relator LUIS EDUARDO YATSUDA ARIMA, 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, julgado em 03/05/2011, DJ 26/05/2011 p. 233.5 TJMG, 2ª Turma Recursal Cível de Belo Horizonte - Rec. nº 024039948260 - Rel. Juiz Sebastião Pereira de Souza. Boletim nº70.

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Page 25: Contestação Acidente de Trânsito

Réu, ao contrário daquela que possui um veículo para cada

membro da família.

Com certeza os Réus são os maiores

prejudicados nessa lide, uma vez que tiveram o único

automóvel utilizado pela família para levar seus filhos à

escola, fazer compras, meio de locomoção do Réu até seu

trabalho etc., danificado em sua traseira direita em

decorrência da negligência e imperícia do filho da Autora.

Insta ressaltar, que de acordo com o Código de

Transito Brasileiro, em seu artigo 26, bem como uníssona

jurisprudência dos tribunais brasileiros, quem colide na

traseira de um veículo presume-se sua culpa.

A jurisprudência acostada a peça inaugural

demonstra outro tipo de colisão, qual seja aquele motorista

imprudente que adentra na via principal interceptando o

outro veículo. No presente caso, a Ré efetuou a convergência

completamente e posteriormente sofreu a colisão em sua

traseira direita, pela imprudência do condutor do veículo da

Autora, que dirigia acima da velocidade máxima permitida na

Via W3.

Além disso, a Autora usa como parâmetro para

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Page 26: Contestação Acidente de Trânsito

pleitear os danos materiais um único orçamento originado da

concessionária da Mercedes Benz nesta cidade, ao

argumento de que não existem peças no mercado paralelo.

Ora, com absoluta certeza um orçamento realizado pela

concessionária é muito superior as demais oficinas

capacitadas para realizar este tipo de serviço.

Em simples consulta a internet verifica-se várias

oficinas que apresentam esse tipo de serviço, contudo a

Autora utilizou a forma mais conveniente para obter o

orçamento do seu veículo.

A jurisprudência é uníssona em entender que a

parte deve apresentar no mínimo três orçamentos como

parâmetro justo do conserto do veículo envolvido no

acidente.

PEDIDO CONTRAPOSTO

Do direito dos Réus - Indenização

Cumpre ressaltar que a responsabilidade civil,

espécie de responsabilidade jurídica, deriva da transgressão

de uma norma jurídica preexistente, impondo ao causador do

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Page 27: Contestação Acidente de Trânsito

dano a consequente obrigação de indenizar.

Vigora no âmbito da responsabilidade civil o

princípio no neminem laedere, segundo o qual a ninguém

é dado causar prejuízo a outrem, sob pena de

reparação integral à vítima.

A responsabilidade civil aqui violada é

Extracontratual ou Aquiliana (quando a norma

preexistente violada derivar da própria lei), uma vez que o

condutor do veículo da Autora foi o próprio causador do dano

ao bem jurídico tutelado na presente ação que é o automóvel

de propriedade do Réu.

Ao colidir na traseira direita do veículo do Réu, o

condutor do veículo causou-lhe prejuízo material, gerando o

dever de indenizar os Réus.

Para que haja responsabilidade faz necessária a

existência de três elementos: ato ilícito, nexo de causalidade

e dano ou prejuízo.

O ato ilícito decorre de conduta humana

contrária ao ordenamento jurídico vigente, enquanto que

nexo de causalidade é o liame que une o agente ao prejuízo

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Page 28: Contestação Acidente de Trânsito

por ele causado, segundo a leitura de Serpa Lopes sobre o

tema.

Neste sentido a teoria adotada pelos juristas

brasileiros é a teoria da causalidade adequada, na qual não é

qualquer antecedente fático que concorre para o resultado,

mas sim, lembra Cavalieri Filho (Programa de

Responsabilidade Civil), causa é somente aquele antecedente

fático adequado ou abstratamente idôneo à consecução do

resultado.

Desta forma não foi o fato de a Ré ter feito a

convergência que causou o evento danoso, mas sim a

imprudência e negligência do condutor do veículo da Autora

que não dirigiu com a devida atenção pela Via W3 sentido

norte/sul em frente ao Brasília Shopping.

Cumpre observar que o local do acidente tem

trafego intenso devido a parada de ônibus, entrada e saída

de taxistas e carros de passeio no recuo da entrada do citado

shopping, bem como a existência de sinal de trânsito.

O condutor do veículo não observou o ingresso

da Ré na pista, incidindo na colisão traseira direita do

automóvel do Réu.

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Page 29: Contestação Acidente de Trânsito

Assim, a inobservância do condutor do veículo da

Autora concorreu com os antecedentes fáticos que

concorreram para o resultado danoso aos réus.

Neste sentido resta caracterizado a violação dos

artigos 26, I, 28, 29, I, 42 e 43 da Lei 9.503/97, e 186 do

Código Civil/2002.

Assim, uma vez comprovada a culpa exclusiva do

filho da Autora na colisão dos veículos, lança-se mão, na

presente, do pedido contraposto, procedimento autorizado

pelo artigo 278, § 1° do CPC.

A comprovada falta de atenção e total

imprudência, não respeitando a sinalização, bem como as

regras mais comezinhas de direção defensiva, tão propalada

nestes tempos de insegurança no trânsito e vigência do

Código de Trânsito, demonstram a total responsabilidade no

acidente por parte do filho da Autora.

Caracteriza-se, desta forma, o ato ilícito exigido

para que haja dever de indenização. Neste diapasão, cumpre

transcrever alguns julgados proferidos em situações

semelhantes:

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Page 30: Contestação Acidente de Trânsito

CIVIL. ART 333, II - CPC. AÇÃO DE

REPARAÇÃO DE DANO MATERIAL.

ACIDENTE DE TRÂNSITO. BATIDA NA

TRASEIRA. PRESUNÇÃO IURIS TANTUM

NÃO ELIDIDA PELA RECORRIDA/AUTORA

QUE IMPONHA A RECORRIDA/RÉ A

RESPONSABILIDADE PELO ACIDENTE.

RECONHECIMENTO DO PEDIDO

CONTRAPOSTO. 1. RESTOU

DEMONSTRADO NOS AUTOS QUE HAVIA

SINALIZAÇÃO COM PLACA "PARE", NA

PISTA ACESSÓRIA NA QUAL SE

ENCONTRAVA O VEÍCULO DA

RECORRENTE. O VEÍCULO DA

RECORRENTE NÃO AGUARDOU AS

CONDIÇÕES IDEAIS DE TRÂNSITO AO SAIR

DO POSTO DE GASOLINA E TENTAR

ADENTRAR A PISTA PRINCIPAL,

COLIDINDO NO VEÍCULO DA RECORRIDA,

NA SUA PONTEIRA DIREITA TRASEIRA. 2. A

PRESUNÇÃO LEGAL É DE QUE O

MOTORISTA QUE COLIDE COM O VEÍCULO

SEGUINDO À SUA FRENTE É

RESPONSAVEL PELO ACIDENTE,

GERANDO SUA RESPONSABILIDADE CIVIL

30

Page 31: Contestação Acidente de Trânsito

E DEVER DE REPARAR O DANO. NÃO HÁ

PROVAS NOS AUTOS DE QUE O

MOTORISTA CONDUTOR DO VEÍCULO

TENHA CONCORRIDO PARA O ACIDENTE,

POSTO QUE ELE TRAFEGAVA NA VIA

PRINCIPAL. 3. RECURSO CONHECIDO E

IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA NA

FORMA QUE FOI LANÇADA, FL. 59/62.4.

PELA SUCUMBÊNCIA, ARCARÁ O

RECORRENTE COM O PAGAMENTO DAS

CUSTAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS

ADVOCATÍCIOS FIXADOS EM 10% do

VALOR DA CONDENAÇÃO.

(20070710144197ACJ, Relator LEONOR

AGUENA, 2ª Turma Recursal dos Juizados

Especiais do Distrito Federal, julgado em

14/09/2010, DJ 24/09/2010 p. 139)

CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL.

ACIDENTE DE TRÂNSITO.

ABALROAMENTO EM TRASEIRA DE

VEICULO. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO

JURIS TANTUM DE CULPA DO CONDUTOR

QUE COMETE O ATO LESIONADOR,

SUJEITA, PARA EFEITO DIVERSO

PRETENDIDO, À DEMONSTRAÇÃO CABAL

31

Page 32: Contestação Acidente de Trânsito

DE CULPA DO CONDUTOR DO VEÍCULO

ABALROADO. ÔNUS QUE CLARAMENTE

INCUMBE, E DE FORMA EXCLUSIVA, AO

PERPETRADOR DO DANO (CPC, ARTIGO

333, INCISO II). DEMONSTRAÇÃO NÃO

REALIZADA, NA ESPÉCIE FÁTICA DOS

AUTOS, PREVALECENDO DESTARTE A

PRESUNÇÃO LEGAL DE CULPA. SENTENÇA

MANTIDA. APELO IMPROVIDO. 1. A

presunção legal que milita contra o motorista

que abalroa veículo seguindo à sua frente,

gerando sua responsabilidade civil por culpa

extracontratual ou aquiliana, pode ser elidida

por prova cabal e irrefutável relativa à culpa

do motorista condutor do veículo atingido na

traseira, mas essa prova constitui ônus

exclusivo daquele contra quem tal presunção

milita, nos exatos termos do disposto no

artigo 333, inciso II, do Código de Processo

Civil. 2. O ônus da prova em relação à prática

de manobra irregular, causadora do evento,

por parte do motorista do veículo que seguia

à frente e resulta abalroado, cabe ao

condutor do veículo que lhe segue atrás,

demonstrando que a manobra daquele

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Page 33: Contestação Acidente de Trânsito

condutor deu causa ao seu próprio

abalroamento, cabendo-lhe então, a este,

responder pelos prejuízos materiais

provocados por essa sua conduta, desde que

adequadamente processado ou contra-

processado por aqueles que, sofrendo os

efeitos de sua ação, não hajam contribuído

para a geração do resultado lesivo. 3. Na

hipótese fática dos autos, inexistiu prova,

para além das alegações do recorrente, que

se limitou a trazer aos autos orçamentos para

reparação de seu veículo e fotos que só vêm

a corroborar a batida na traseira,

prevalecendo destarte a presunção legal de

culpa. 4. Sentença mantida por seus próprios

e jurídicos fundamentos, com Súmula de

julgamento servindo de Acórdão, na forma do

artigo 46 da Lei nº 9.099/95. Sem

condenação em honorários advocatícios, por

militar o Apelante sob o pálio da justiça

gratuita.(20080610010540ACJ, Relator JOSÉ

GUILHERME DE SOUZA, 2ª Turma Recursal

dos Juizados Especiais do Distrito Federal,

julgado em 04/08/2009, DJ 02/09/2009 p.

191)

33

Page 34: Contestação Acidente de Trânsito

Assim, posto o caso à luz da jurisprudência

pátria, evidenciado está que em decorrência do ato

imprudente praticado pelo filho da Autora resultaram

prejuízos aos Réus, emergindo, desta forma, o seu dever de

indenizar pelos danos cometidos, em virtude da comprovação

de sua exclusiva culpa.

Sabe-se que todo condutor de veículo deve dirigir

com a cautela devida (direção defensiva). O CÓDIGO DE

TRÂNSITO BRASILEIRO, em seu art. 28, estabelece que 'o

condutor deverá, a todo momento, ter domínio de seu

veículo, dirigindo-o com atenção e cuidados

indispensáveis à segurança do trânsito'.

Ao exigir do motorista domínio de seu veículo, o

texto de lei mencionado exige que este esteja atento a toda e

qualquer condição adversa que implique em eventual risco à

segurança de tráfego, adotando a cautela necessária à sua

própria segurança, especialmente à segurança de terceiros.

Tal procedimento, entretanto, não foi observado pelo

filho da Autora.

Em decorrência do acidente o veículo do Réu

sofreu prejuízos, conforme se vê pelos orçamentos anexos,

que foram feitos por três oficinas distintas com os seguintes

valores: R$ 760,00 (setecentos e sessenta reais), R$ 940,00

(novecentos e quarenta reais) e R$ 1.474,00 (mil

quatrocentos e setenta e quatro reais). Para se ter uma ideia

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Page 35: Contestação Acidente de Trânsito

melhor da extensão dos danos ocasionados no veículo do

Réu, anexa-se à presente as fotografias do veículo.

Insta frisar que, a Ré estava com seu filho doente

no caso necessitando de cuidados, tendo presenciado toda

aflição da mesma, em contrapartida a Ré ficou muito

preocupada com o estado do seu filho que ficou visivelmente

abalado com a conduta ilícita do condutor do veículo da

Autora, caracterizando o sofrimento da Ré e de seu filho

menor de idade, cabendo a condenação da Autora em danos

morais.

Pelo exposto, requer a condenação do requerente

em relação aos danos morais e materiais sofridos pelos Réus,

bem com a depreciação do veículo de propriedade do Réu, da

marca XXX, modelo XX, ano XX, a ser mensurada pelo perito

e julgada por esse I. Julgador.

DOS PEDIDOS

Desta forma, não merece procedência a

pretensão descrita na exordial, requerendo, ainda, a Vossa

Excelência:

1) deferimento do benefício da gratuidade de

justiça, uma vez que os Réus não possuem condições de

arcar com as custas judiciais e honorários advocatícios, sem

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Page 36: Contestação Acidente de Trânsito

prejuízo do próprio sustento e de sua família.

2) A intimação da Autora para que querendo responda o

pedido contraposto, e ao final seja julgado a procedência do

pedido contraposto.

3) O julgamento de improcedência dos pedidos formulados

pela Autora, por não encontrar qualquer embasamento legal,

bem como por estar totalmente desprovido de elementos

comprobatórios.

4) A condenação da Autora no pedido contraposto, no que

pertine aos danos morais e matérias, depreciação do veículo,

como também nas despesas processuais, verba honorária e

demais cominações legais.

5) A oitiva do filho da Autora XXX , bem como requer, ainda,

a produção de provas, especialmente pelo depoimento

pessoal da Autora, juntada de documentos, expedição de

ofícios e precatórias, perícias e demais provas pertinentes.

Informa que suas patronas receberão todas as intimações no

endereço situado no XXX

Pede deferimento.

Brasília, 10 de janeiro de 2012

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Page 37: Contestação Acidente de Trânsito

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