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Turma e Ano: Master A (2015) – 23/02/2015 Matéria / Aula: Direito Processual Civil / Aula 02 Professor: Edward Carlyle Silva Monitor: Alexandre Paiol AU LA 02 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: terminando os princípios, Finalidades da Jurisdição, Classificação de Jurisdição e Ação. 4. Princípios da Jurisdição: Voltando aos princípios que paramos na última aula. 4,5) Inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV da CRFB/88): É um princípio constitucional. Nenhuma lesão ou ameaça de lesão poderá ser afastada do controle jurisdicional. Art. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindose aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXV a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; O novo código de processo civil também terá previsão (art. da lei 13.105/2015) Art. 3 o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. §1 o É permitida a arbitragem, na forma da lei. §2 o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. §3 o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. Obs: A exigência de esgotamento das instâncias administrativas para recorrer ao Judiciário está ultrapassada, salvo nos casos expressamente previstos, como é o caso da justiça desportiva (art. 217, §1º da CRFB/88). Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e nãoformais, como direito de cada um, observados: § 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotaremse as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.

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Turma e Ano: Master A (2015) – 23/02/2015

Matéria / Aula: Direito Processual Civil / Aula 02

Professor: Edward Carlyle Silva

Monitor: Alexandre Paiol

AULA 02CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: terminando os princípios, Finalidades da Jurisdição, Classificação de Jurisdição e Ação.

4. Princípios da Jurisdição:

Voltando aos princípios que paramos na última aula.

4,5) Inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV da CRFB/88): É um princípio constitucional. Nenhuma lesão ou ameaça de lesão poderá ser afastada do controle jurisdicional.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo­se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:XXXV ­ a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

O novo código de processo civil também terá previsão (art. 3º da lei 13.105/2015)

Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei.§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.

Obs: A exigência de esgotamento das instâncias administrativas para recorrer ao Judiciário está ultrapassada, salvo nos casos expressamente previstos, como é o caso da justiça desportiva (art. 217, §1º da CRFB/88).

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não­formais, como direito de cada um, observados:§ 1º ­ O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem­se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.

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4,6) Juiz natural: o princípio do juiz natural é analisado sob duas óticas distintas. Ele é analisado sob o aspecto formal, também chamado por alguns de objetivo, e ele é analisado pelo aspecto material, chamado por alguns de substancial.

O princípio do juiz natural analisado sob o aspecto formal ou objetivo, significa

que o juízo competente para o julgamento daquela causa deve estar previamente estabelecido

por normas abstratas e genéricas. Em outras palavras, o juízo competente para o julgamento

de uma demanda deve estar previsto antecipadamente/anteriormente àquele fato, através de

normas abstratas e genéricas. É o que se denomina normalmente de proibição ao surgimento

dos tribunais de exceção, essa previsão anterior do juízo competente através de normas

abstratas e genéricas acaba por inviabilizar a criação de tribunais de exceção. É o que

expressamente dispõe o art. 5º, XXXVII e XLIII da CF. É a proibição da criação dos tribunais de

exceção, tribunais especificamente para julgar aquela causa, escolhidos posteriormente para

julgar aquela determinada causa, isso não é possível.

O princípio do juiz natural deve ser analisado também sob o aspecto material ou

substancial, e aqui tem relação com a proteção a imparcialidade da pessoa física do juiz.

Através do aspecto material do princípio do juiz natural há uma proteção a imparcialidade da

pessoa física do juiz, como essa imparcialidade é assegurada? Através da aplicação das

garantias, da inamovibilidade, da garantia da vitaliciedade, da garantia da irredutibilidade de

vencimentos. Através dessas garantias, você está protegendo a imparcialidade da pessoa do

juiz, se ele sabe que tem garantia de irredutibilidade de vencimento, se ele sabe que ele é

inamovível, não vai ser retirado dessa vara para ser colocado em outra a critério da

administração. Se ele sabe que é vitalício o cargo, ele não vai perder o cargo de qualquer

modo, ele tem total garantia da sua imparcialidade. É uma maneira de assegurar a

imparcialidade do juiz.

Então cuidado com o juiz natural porque hoje em dia você tem esses dois

aspectos que você tem que ter em mente. Tanto o aspecto formal da competência do juízo, da

vara, do órgão jurisdicional, quanto o aspecto material substancial que tem a ver com a

imparcialidade da pessoa física do juiz.

5. Escopos (finalidades) da Jurisdição:

É oriunda dos estudos de Dinamarco.

São subdivididos em três vertentes:

Escopos sociais: pacificação da sociedade, realização do bem

comum e educação através da justiça

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Escopos políticos: garantia das liberdades públicas (proteção

aos direitos fundamentais), afirmação do poder estatal e garantia da participação

democrática (ex: MS, ação popular e etc.)

Escopo jurisdicional: atuar a vontade concreta da lei

Levando­se em conta que essa distinção foi estabelecida pelo Dinamarco, ele

adota a corrente clássica do Chiovenda. Segundo o Chiovenda o conceito de jurisdição seria atuação da vontade concreta da lei através da substituição pelo Estado da vontade dos particulares ou de outros órgãos públicos. Ora, qual é a finalidade jurisdicional? Se o Dinamarco adota a posição do Chiovenda, a finalidade jurisdicional é a de atuação da vontade

concreta da lei. Então segundo Dinarmaco, Marinone, Fredie Didier, a jurisdição tem inúmeras

finalidades, inúmeros escopos. Dependendo de qual seja o escopo desejado, você tem um

leque de situações, a jurisdição ao ser aplicada pode produzir efeitos.

6. Espécies de Jurisdição ou Classificação de Jurisdição ou Tipos de Jurisdição:

Dependendo do autor que vocês adotem, você pode ter variação nessas

espécies, nessa classificação de jurisdição. Tem autor que nem toca no assunto. Eu vou

colocar as principais classificações de jurisdição, para que vocês tenham uma noção geral das

hipóteses aí que são previstas na doutrina, não quer dizer necessariamente que o livro que

vocês adotem vão fazer referencia a todas.

6.1)Quanto ao tipo de pretensão: a jurisdição pode ser jurisdição penal e

jurisdição civil. A jurisdição civil se subdivide em jurisdição trabalhista e jurisdição strito sensu que abrange a Estadual e a Federal.

6.2)Quanto ao grau: a jurisdição pode ser inferior e jurisdição superior. Aqui vocês precisam tomar cuidado pelo seguinte, quando se fala em jurisdição inferior, você

pode ter a impressão que eles estão fazendo menção apenas aos juízes de primeiro grau. Não

é bem assim, na verdade toda vez que você o exercício de jurisdição pela primeira vez no

processo, você está falando em jurisdição inferior. Então a jurisdição abrange hoje juízos de

primeiro grau, mas também a competência originária dos tribunais. Então quando o tribunal

exerce competência originária você está diante de jurisdição originária, você está diante de

jurisdição inferior, mesmo sendo exercida pelo tribunal, porque jurisdição superior é exercício de competência recursal dos Tribunais.

Então inferior juízo de primeiro grau e exercício de competência originária dos

tribunais, juízo superior é exercício de competência recursal dos tribunais.

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6.3)Quanto ao órgão: a jurisdição pode ser especial e ela pode ser comum. A

jurisdição especial abrange a trabalhista, eleitoral e militar. A comum abrange a estadual e a

federal. No caso, a estadual é residual, se a competência para dirimir aquele conflito não for de

nenhuma outra espécies de jurisdição, inclusive da federal, será da Estadual.

6.4)Quanto a submissão ao direito positivo: a jurisdição pode ser jurisdição

de direito ou pode ser jurisdição de equidade. A jurisdição de direito, como o próprio nome dá a entender é aquela que existe uma observância da lei por parte do órgão julgador,

observância da lei no sentido de que a regra é a subsunção do fato a norma. A aplicação da lei

àquele caso concreto que lhe foi apresentado e essa aplicação da lei é feita de maneira

enfática, de maneira objetiva de maneira direta. A jurisdição de equidade deixa aplicação da lei

de forma fria um pouco de lado e passa a observar determinadas circunstancias, determinados

detalhes, determinadas experiências de vida por parte do julgador, mas essas hipótese em que

o julgador tem liberdade para deixar a aplicação da lei de maneira fria de lado e aplicar normas

de experiência que ele possua naquele caso concreto, só pode ser realizada quando

expressamente autorizada pela própria lei, é o que dispõe o art. 127 do CPC e o art. 140 §1º do

NCPC

Art. 127. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.

Novo código de processo civil (art. 140)

Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.

Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.

6.4)Quanto à forma a jurisdição pode ser contenciosa ou pode ser jurisdição

voluntária. E essa última classificação vai exigir que examine a questão com pouco mais de detalhe porque existe uma divergência muito grande na doutrina e na jurisprudência acerca da

jurisdição contenciosa e da jurisdição voluntária.

Existe uma discussão doutrinária acerca da diferença da jurisdição contenciosa e

da jurisdição voluntária.

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Em relação a jurisdição contenciosa praticamente não há divergência alguma. A

jurisdição contenciosa é aquele exercício tradicional, ou seja, você teria um conflito que é

levado para apreciação e julgamento do poder judiciário e o poder judiciário aplicando a lei ao

caso concreto, decide o pedido formulado pelo autor e essa decisão possui aptidão para

produzir coisa julgada para ser tornar imutável e indiscutível. Então, na jurisdição contenciosa

você tem certas características que a define como sendo jurisdição. Quais?

Em primeiro lugar, é uma atividade substitutiva, porque o Estado substitui a

vontade dos particulares, os particulares não conseguiram chegar a um consenso, se dirigiram

ao Estado para que esse conflito fosse solucionado. O Estado substitui a vontade dos

particulares acerca da decisão sobre aquele conflito, é uma atividade substitutiva, o Estado

quando é provocado a exercer a jurisdição, ele, nos dizeres de Chiovenda, vai atuar a vontade

concreta da lei. Essa atuação da vontade concreta da lei tem natureza declaratória, porque a lei

é anterior, o Estado apenas vai dizer, vai aplicar a vontade concreta da lei àquele caso, então a

natureza é declaratória.

O Estado é inerte, precisa ser provocado para exercer jurisdição, essa

provocação é realizada através do exercício do direito de ação. Então você precisa de um autor

que formule um pedido perante um Estado, e você precisa de um réu em face de quem esse

pedido é pleiteado. Então aqui na jurisdição contenciosa você pode falar em partes, parte

autora a parte ré, porque você precisa de alguém que apresente um pedido ao Estado e você

também alguém em face do qual esse pedido é formulado, parte autora e parte ré. Formulado

esse pedido, como nós examinamos no princípio da indeclinabilidade, o juiz precisa decidi­lo, o

juiz não pode ser furtar ao seu julgamento. Se o juiz precisa decidir, se não pode furtar a seu

julgamento, significa que o Estado decidindo essa relação jurídica que lhe foi apresentada,

essa relação jurídica possui aptidão para se tornar imutável e indiscutível, porque o Estado

decide uma única vez a relação jurídica que lhe é apresentada. Decidida a relação jurídica o

Estado não poderá voltar a examiná­la, então a decisão proferida nessa relação jurídica possui

aptidão para produzir coisa julgada. Porque se o Estado decide uma única vez a relação

jurídica conflituosa que lhe é apresentada, tendo ela sendo decidida possui aptidão para se

tornar imutável e indiscutível, pode alcançar a coisa julgada.

Então essas características da jurisdição contenciosa a caracterizam como

sendo verdadeiro exercício de jurisdição, só que na jurisdição voluntária não é tão tranquilo. Porque nas hipóteses de jurisdição voluntaria tratada no CPC, se der uma examinada nas hipóteses, você vai ver que elas basicamente tratam de negócio jurídico. Você

basicamente vai encontrar interesses privados, particulares sendo tratados nas hipóteses de

jurisdição voluntaria, mas aí tem um detalhe. Os efeitos oriundos desses negócios jurídicos, os

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efeitos oriundos dessas relações particulares, são tão importantes para a sociedade que o

legislador entendeu por bem que para a produção adequada desses efeitos, esses atos devam

ser praticados perante o juiz. Então vejam, não existe um conflito propriamente dito, o que

basicamente existe é um interesse particular que para produção dos efeitos desejados, precisa

ser praticado perante o juiz.

Então vejam, num primeiro momento não há interesse público, porque a relação

jurídica entre particulares, mas os efeitos oriundos desse negócio jurídico, dessa relação

jurídica são tão importante para a sociedade que o legislador entendeu por bem que para a

produção adequada desses efeitos o ato deve ser praticado perante o juiz. Isso deu ensejo ao

surgimento de duas grandes correntes de pensamento.

Uma das grandes correntes de pensamento é chamada de teoria clássica ou

administrativa ou tradicional, para os adeptos da teoria clássica ou administrativa, se as

hipóteses de jurisdição voluntária são hipóteses de interesses privados, cujos efeitos, para que

possam ser produzidos adequadamente, os atos precisam ser praticados perante o juiz, isso

não significa que nós não estamos diante do exercício de jurisdição porque o Estado não vai

decidir nada. Os efeitos para se produzir exigem a participação do juiz, mas ele não julga nada.

É por isso que a teoria clássica ou administrativa as hipóteses de jurisdição voluntaria são

casos na verdade de administração pública de interesses privados. Não é hipótese de exercício

de jurisdição, é hipótese de atividade administrativa realizada pelos juízes e tribunais. Então os

casos de jurisdição voluntária segundo essa teoria são hipóteses de atividade administrativa,

não é jurisdicional.

Qual é o escopo? Qual é a finalidade? Não é a de atuação da vontade concreta

da lei, não é natureza declaratória. A finalidade, o escopo da jurisdição voluntaria segundo a

teoria clássica é a criação, modificação ou extinção de uma relação jurídica. Natureza

constitutiva. Não tem natureza declaratória, tem natureza constitutiva, o que se deseja é

produção adequada dos efeitos, a criação, modificação ou extinção de uma relação jurídica. Se

não há conflito, isso significa que você vai ter alguém pleiteando ao Estado a produção desses

efeitos, não tem um réu. Então para os adeptos dessa corrente não é possível falar em partes.

Você vai ter apenas interessados ou requerentes, não existe parte ré, o que existe é somente

alguém que pleiteia produção de determinados efeitos. E por fim, como não há conflito e nem o

Estado exerce atividade jurisdicional, ele aplica vontade da lei ao caso concreto, então, de

acordo com o art. 1111, nós temos outro detalhe importantíssimo. O dispositivo fala:

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Art. 1.111. A sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se ocorrerem circunstâncias

supervenientes.

Então de acordo com o art. 1111 do CPC, se nos caso de jurisdição voluntária a

sentença pode ser modificada, isso significa que a decisão não faz coisa julgada. Diante de

todos esses elementos, para a teoria clássica ou administrativa jurisdição voluntaria não é

exercício de jurisdição, as hipóteses de jurisdição voluntária na verdade são hipóteses de

administração pública de interesses privados, hipótese de atividade administrativa.

Existe uma corrente que vai mais longe ainda. Existe uma corrente que diz o

seguinte: Olha os casos de jurisdição voluntária não são casos de jurisdição, são casos de

atividade administrativa e mais como aquele casos relacionados na lei como sendo casos de

jurisdição voluntaria precisam ser realizados perante o juiz para que produzam efeitos, nem

voluntária ela é, na verdade é hipótese de atividade administrativa obrigatória. Não seria

hipótese de jurisdição, nem seria hipótese de jurisdição voluntária, seria atividade

administrativa obrigatória porque se você não realizar o ato perante o juiz, não produz efeito

algum. Só que a teoria clássica não chega a tanto, a teoria clássica fala só que não é atividade

jurisdicional, é atividade administrativa.

Só que existe uma segunda teoria, que vem ganhando muitos adeptos de um

tempo para cá que é a chamada teoria revisionista ou se você preferir, também chamada de

jurisdicional, teoria jurisdicionalista, segundo alguns. A teoria revisionista, jurisdicional, teoria

jurisdicionalista defende que a jurisdição voluntária é atividade jurisdicional. Quais são os

argumentos?

Em primeiro lugar eles afirmam que o art. 1º do CPC é taxativo nesse sentido.

Art. 1o A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida

pelos juízes, em todo o território nacional, conforme as

disposições que este Código estabelece.

Então para o art. 1º a jurisdição voluntária é espécie de jurisdição civil, portanto

não há como negar que é atividade jurisdicional.

Em segundo lugar, para o Estado prestar a jurisdição voluntária, também precisa

ser provocado e a provocação ao Estado para que ele exerça a atividade jurisdicional

voluntaria é a mesma no caso da jurisdição contenciosa. A provocação ao Estado é feita no

caso ou no outro da mesma maneira, através do exercício do direito de ação. Então tal como

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na jurisdição contenciosa a provocação ao Estado é feita pelo exercício do direito de ação. Ela

é idêntica a jurisdição contenciosa no que diz respeito a forma como você provoca o Estado a

prestá­la, não há diferença nenhuma, mais um motivo para ela ser considerada atividade

jurisdicional. Ora se a forma como ela provoca o Estado é a mesma do que na jurisdição

contenciosa, isso significa que alguém precisa provocar, esse alguém que vai provocar é o

autor. Então é indispensável um autor, em outras palavras é indispensável a parte autora.

Então aquela conversa de que na jurisdição voluntaria não se pode falar em partes, não está

correta, o que existe a parte autora com certeza. O que pode não existir a contraparte, é parte

contraria, é o réu. Então para os adeptos dessa corrente de pensamento, existe parte autora, é

possível falar em parte, o que pode não existir é a contraparte, a parte ré, porque isso depende

do surgimento de algum tipo de discussão e nem sempre isso vai acontecer.

E mais, um outro argumento da teoria revisionista, o art. 1.111 deve ser interpretado de

maneira adequada, porque o art. 1111 diz assim a sentença pode ser modificada sem prejuízo

dos efeitos já produzidos, se ocorrerem circunstâncias supervenientes, ora, circunstâncias

supervenientes são novos fatos, novas causas de pedir, em outras palavras, se não ocorrerem

circunstancias supervenientes, a sentença pode ser modificada? Não. Mas vejam, na jurisdição

contenciosa, uma vez produzida a coisa julgada, se surgir uma nova causa de pedir, pode ser

ajuizada uma nova demanda? Pode, a coisa julgada é um instituto que está sempre voltada

para o passado não abrange novas causas de pedir, não abrange circunstancias

supervenientes e nisso não há nenhuma diferença do que dispõe o art. 1.111. Então na

verdade o art. 1.111 está dizendo o seguinte, se forem apresentados os mesmo fatos, a

mesma causa de pedir, a sentença não pode ser modificada, agora se for apresentada nova

causa de pedir, novos fatos, você pode ter uma nova demanda, mas isso é mesma coisa da

jurisdição contenciosa. Então a sentença produz coisa julgada, porque para a sentença ser

modificada exige­se circunstancias supervenientes, novas causas de pedir. Sem nova causa de

pedir a sentença não pode ser modificada. Aqui no RJ prepondera a teoria revisionista. Os

mais modernos doutrinadores vem adotando a teoria revisionista. Entao você tem aí Daniel

Amorim Assunção Neves, Fredie Didier, Fredie Didier fica meio que em cima, não vai nem

para um lado, nem para outro, mas dá a impressão de defender a teoria revisionista. Os

clássicos defendem a teoria clássica ou administrativa.

Tome cuidado com Dinamarco, porque se vocês adotarem o livro do Dinamarco,

teoria geral do processo, em que ele escreve com Ada Pelegrini, eles adotam a teoria clássica

administrativa. Se você adotar o instituições de direito processual civil que é livro que ele

escreve sozinho, que é o mais recente, ele adota a revisionista.

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Qual é melhor para você adotar? A revisionista, mas os autores clássicos adotam a teoria

clássica administrativa.

Jurisdição Contenciosa Jurisdição Voluntária Jurisdição Voluntária

Atividade jurisdicional Teoria Administrativa ou Tradicional ­ Administração Pública de interesses

privados

Teoria Jurisdicional ou Revisionista (mais moderna) ­ Exercício da jurisdição (art.

1º CPC) ­ exercício do direito

de ação.

Substitutividade Não há conflito, não há lide

Atuação da vontade concreta

da lei

Finalidade Constitutiva ­

Apesar do interesse ser

apenas das partes, seus

efeitos ­ criação, modificação

ou extinção de uma relação

jurídica ­ só se produzem

com a participação do juiz.

Partes (autor e réu) Não há partes, mas tão

somente interessados ou

requerentes

Autor (parte autora ­ direito

de ação); pode não existir

réu.

Coisa Julgada Não faz coisa julgada (art.

1111 CPC)

Circunstância superveniente

é uma nova causa de pedir =

nova demanda (art. 1111

CPC)

Agora vamos começar a examinar a chamada ação:

AÇÃO

A palavra ação pode ter diferentes sentidos, diferentes acepções. Dependendo

da forma pela qual você a utilize, pode ter diferentes significados. Na Itália, na Alemanha é

muito comum o exame das diferentes acepções da palavra ação. Aqui no Brasil, você não tem

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praticamente ninguém se preocupando com isso, um dos poucos autores que se preocupou e

que apresentou diferentes significados para a palavra ação foi o Leonardo Greco. A partir do

Leonardo Greco vários outros autores começaram a mencionar esse diferente sentidos que a

palavra ação pode receber. Para inicio de conversar eu vou colocar para vocês as diferentes

acepções, os diferentes significados pelos quais a palavra ação pode ser compreendido,

basicamente você tem os seguintes significados:

­ a palavra ação pode ser interpretada como direito cívico;

­ a palavra ação pode ser interpretada como direito a um processo justo e équo;

­ a palavra ação pode ser entendida como direito a jurisdição;

­ a palavra ação pode ser entendida no sentido de demanda;

­ e você tem a chamada ação de direito material.

Então você tem ao menos cinco acepções pelas quais a palavra ação pode ser

interpretada.

Ação como direito cívico

A palavra ação no sentido de direito cívico é a palavra ação que a constituição

menciona. Quando a constituição fala que nenhuma lesão ou ameaça a lesão ficará afastada

do poder jurisdicional, que qualquer um tem direito ao exercício do direito de ação, a

constituição está falando em ação como direito cívico, é palavra ação naquele sentido do art. 5,

XXXV da CF. É palavra ação no sentido constitucional, sem qualquer tipo de restrição, sem

qualquer tipo de limite. A palavra ação no âmbito constitucional, não precisa de nenhuma

condição, de nenhum pressuposto, de nada, qualquer um em tese tem direito de ação. No

sentido constitucional, como direito cívico. A palavra ação tem uma amplitude constitucional, se

afasta um pouco do âmbito pessoal, e fica no âmbito constitucional, sem nenhum tipo de limite,

sem nenhum tipo de restrição. A medida que você vai diminuindo o campo da palavra ação aí

começam a surgir exigências.

Ação como um direito a um processo justo e équo

A palavra ação é utilizada de uma maneira que PGR gosta muito do sentido da

palavração como direito a um processo justo e équo porque a palavra ação aqui é

compreendida nos seguintes termos: o autor exerce o direito de ação, mas o réu também o

exerce através do direito de defesa. Então se autor exerce o direito de ação tentando

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convencer o juiz da veracidade das alegações, e que o pedido deve ser julgado procedente e o

réu também exerce o seu direito de ação que é chamado normalmente de direito de defesa

para convencer o juiz que na verdade ele, réu, é quem está com razão e que, portanto o pedido

do autor deve ser julgado improcedente, eles devem ser , autor e réu, tratados de maneira

equânime, tratados de maneira paritária. O juiz deve conferir ao autor e réu as mesmas

faculdades, os mesmos direitos, os mesmos ônus, as mesmas sujeições, para que autor e réu

estejam em situação de paridade. Eles devem ser tratados de maneira equânime, não deve o

juiz tender para nenhum dos lados, especialmente para o autor, eles devem ser tratados de

maneira equânime. Então a palavra ação é utilizada no sentido aqui de lembrá­lo de que o

autor tem direito de ação, mas o réu também possui direito de ação, que é denominado de

direito de defesa. E que ambos devem ser tratados de maneira equânime, paritária.

Ação como direito a jurisdição

Aqui a palavra ação é utilizada como forma de provocar o Estado para prestar

atividade jurisdicional, a palavra ação é utilizada no sentido processual, provocação ao Estado

para prestar a jurisdição. Aqui você já começa a ter a utilização das teorias que o código

encampou para o exercício do direito de ação, então aqui você já começa a tomar

conhecimento de que para o Estado prestar jurisdição, para o Estado decidir o conflito que lhe

foi levado a julgamento, o juiz precisa primeiro passar por uma fase chamada de exame das

condições da ação para depois chegar ao julgamento do mérito da causa.

No Brasil, o exercício do direito de ação está condicionado ao preenchimento

dos pressupostos processuais e das condições da ação.

Ação no sentido de demanda

A palavra ação é sempre utilizada no plano abstrato, no plano das ideias. Então

sempre que você utiliza a palavra ação abstratamente, não tem problema nenhum utilizá­la

assim. Eu pretendo usar uma ação, eu vou entrar com uma ação, eu vou ajuizar, sempre que

está no plano das ideias você fala em ação, é o plano abstrato. A partir do momento em que

você materializa esse direito de ação, em que você concretiza o direito de ação, você

transforma aquela vontade de ajuizar uma ação em uma petição inicial, você materializou,

concretizou o direito de ação, eles passam a falar em demanda. Então a demanda nada mais

significa do que a materialização do direito de ação, você fala em ação no plano abstrato, você

fala em demanda no plano concreto.

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Ação de direito material

O problema da ação de direito material é o seguinte, não são todos os autores

que a examinam, e por que não são todos autores que a examinam? Porque ação de direito

material é um termo utilizado por uma teoria alemã, no nosso ordenamento jurídico aqui no

Brasil, no âmbito do CPC,. O CPC adota a teoria italiana, do Carnelluti, do Chiovenda. A

terminologia é toda do Carnelluti, mas o conteúdo a ser aplicado é do Chiovenda, são teorias

italianas. A ação de direito material tem origem numa teoria alemã.

A teoria alemã que é adotada no sul do país, os autores do sul, Paraná, Santa

Catarina e Rio Grande do Sul adotam essa teoria. O resto do pais adota a teoria tradicional do

código, a italiana. Para os autores do sul do país, Marinoni, Araquen, Ovidio Batista, Fabio

Gomes, Daniel Metidiero, todo mundo adotam a concepção que segundo eles o direito

subjetivo é um direito inerte por sua própria natureza. Na verdade o titular de um direito de

subjetivo é titular de um status tão somente, mas essa titularidade sob o um direito é inerte, ele

não pode exigir o cumprimento da obrigação enquanto não for o momento adequado. Então

por ex, eu sou titular de um titulo de credito em face de João, eu sou titular de um diretio

subjetivo de crédito, eu sou credor de João, mas enquanto não ocorrer o vencimento da dívida,

enquanto não chegar o dia do pagamento, eu tenho apenas um status de credor, não posso

fazer nada, não posso exigir nada. Então essa condição de credor é um mero status porque

meu direito subjetivo é inerte. Mas a partir do momento em que ocorre o vencimento da

obrigação, em que chega o dia do cumprimento da obrigação, surge o que os alemães

chamam de pretensão, ou seja, surge a possibilidade de exigir o cumprimento da obrigação.

Segundo os alemães, a pretensão é a possibilidade de se exigir o cumprimento da obrigação.

Essa possibilidade de exigir o cumprimento da obrigação ocorre a partir de quando? A partir do

vencimento da obrigação, com o vencimento da obrigação surge a pretensão, mas vejam,

estamos no plano de direito material. Eu sou credor de uma dívida, não posso cobrá­la

enquanto não ocorrer o vencimento. Ocorreu o vencimento, agora eu posso cobrá­la. Tudo

acontece no plano do direito material, então essa pretensão é chamada de pretensão de direito

material.

Então, ocorrido o vencimento da divida eu tenho a possibilidade de exigir o

cumprimento da obrigação. Digamos que eu não exija o cumprimento da obrigação durante 35

anos, o que vai acontecer? Vai prescrever o direito de exigir o cumprimento da obrigação, aí

vocês vão chegar no art. 189 do CC de 2002:

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Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os

arts. 205 e 206.

Ora, é exatamente isso que aconteceu aqui, violado o direito nasce a pretensão

que se não for exigida no prazo fixado em lei, prescreve. O que estou dizendo em outra

palavras é o seguinte, o CC de 2002 adota essa teoria, não a do CPC. É por isso que os

autores do sul entendem que essa é a teoria correta, não a do CPC de 73, porque a do CPC

não diz nada disso. Essa seria a teoria correta. Então surgindo a pretensão de direito material

surge a possibilidade de se exigir o cumprimento da obrigação, se não for exigido corre o risco

de prescrever. Só que ao ser exigido o cumprimento da obrigação tem uma característica

fundamental, é preciso aguardar o cumprimento voluntario da obrigação.

1. Teorias sobre o direito de Ação:

Inicialmente, o direito processual não tinha vida própria, sendo considerado um

adendo do direito civil. Daí a terminologia utilizada comumente do direito processual como

direito adjetivo e o direito civil como direito substantivo.

1.1)Teoria Concreta do Direito de Ação (Adolf Wach)

Para a teoria concreta do direito de ação só possui direito de ação quem possui direito material, isso é fundamental para que vocês compreendam. Para os concretistas só possui direito de ação quem possui direito material, em outras palavras, se o

autor não possui direito material, também não possui direito de ação. Só que aí surgiu um

problema, e se por exemplo você estiver diante de uma sentença de improcedência? Diante de

uma sentença de improcedência do pedido o autor não tinha o direito material, então até

aquele momento da sentença o que existiu então? Porque não era exercício do direito de ação,

porque se ele não tinha direito material, não tinha direito de ação. Os concretistas não

responderam a essa pergunta.

E mais outra pergunta foi formulada, e se por ventura a ação for uma ação

declaratória negativa? Porque na ação declaratória negativa o próprio autor está pleiteando ao

juiz que declare a inexistência de uma relação jurídica entre ele, autor e o réu. Então relação

jurídica negativa a situação fica ainda pior, porque o próprio autor quer que o juiz declare que

não há relação jurídica entre ele e o réu. Ora não há direito material, não há vinculo e mesmo

assim em tese seria possível. Essas duas indagações derrubaram a teoria concreta do direito

de ação. Só que existe uma teoria que é uma ramificação da teoria concreta, ela é concreta

também, mas ela é tratada de maneira independente que é a chamada teoria potestativa do

direito de ação.

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1.2)Teoria Potestativa do Direito de Ação (Chiovenda)

O direito de ação seria um direito potestativo da parte, pois o autor poderia exercer o seu direito de ação e o réu não teria como evitá­lo, sujeitando­se à vontade do autor.

Além disso, o direito de ação seria exercido diretamente em face do réu (e não do Estado).

A teoria potestativa do direito de ação é concretista. Chiovenda é concretista, ou

seja, entendia que só possuía direito de ação quem tinha direito material, só que ele entendia

que o direito de ação não era um direito subjetivo, era um direito potestativo. Por quê? Porque

o réu não tinha nenhuma maneira de se opor ao direito de ação exercido pelo autor, ele estava

submetido ao direito de ação exercido pelo autor. Então não seria hipótese de direito subjetivo,

seria hipótese de direito potestativo, mais do que isso segundo Chiovenda a ação não era

dirigida contra um Estado somente, ela era dirigida contra o estado e contra o réu.

1.3)Teoria Abstrata do Direito de Ação

Direito material e direito de ação são completamente distintos. O direito de ação pode ser exercido mesmo por quem não possui direito material, o que possibilitaria qualquer tipo de sentença (e não somente de procedência).

Só que a teoria abstrata foi muito criticada, principalmente pelos concretistas por

quê? Porque segundo os concretistas, para os adeptos da teoria abstrata, se o autor está de

boa ou de má fé, pouco importa, eles são tratados da mesma maneira, não haveria um exame

mais minucioso das circunstancias do exercício do direito de ação. Qualquer um poderia

exercer o direito de ação, isso acabou acarretando um esvaziamento segundo alguns da teoria

abstrata. No exterior, e a teoria abstrata ainda é plenamente dominante, na Itália, na Alemanha,

a teoria abstrata seria plenamente dominante. Aqui no Brasil uma outra teoria prevalece de

acordo com o CPC. Essa outra teoria parte da premissa da teoria abstrata, ou seja, de que o

direito de ação é independente do direito material, mas ela procura restringir, procura vincular

mais, procura aproximar o direito de ação do direito material, ela recebeu o nome de teoria

eclética do direito de ação. Ela foi digamos assim organizada, estabelecida por um italiano

chamado Henrico Tulio Liebmam que fugiu da Itália, na época da segunda guerra e veio morar

no RJ, ele foi trabalhar como marceneiro, etc e tal até que o pessoal de SP encontrou ele aqui

escondido. Levaram ele para dar aula na USP, ele foi dar aula de direito processual civil na

USP porque ele era professor titular em Milão, conhecia todas as teorias, todos os

processualistas. Ele que encabeçou a chamada escola processual de SP, dava aula na USP e

pegava alguns alunos que se destacavam mais e levou para dar aulas aos sábados para esse

grupo de alunos na casa dele, ele aprofundava o exame do processo civil para alguns alunos

que eram mais interessados. Dinamarco, Ada Pelegrini, Allfredo Buzaider, só gente da alta.

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Então ele na época em que esteve no Brasil, organizou a chamada teoria eclética do direito de

ação. Estou falando organizou, estou utilizando essa expressão pelo seguinte, não é que ela foi

criada, eu vou deixar para falar na aula que vem, mas os elementos já existiam, já estavam

presentes, ele apenas organizou a forma de como elas deveriam ser examinadas.

1.4)Teoria Eclética do Direito de Ação (Liebman)

O Libmen era uma abstratista, queria formular uma teoria com base na teoria

abstrata, só que ele percebeu o seguinte, na teoria abstrata, naquela oportunidade você tinha

na prática o seguinte. Num primeiro momento quando a demanda era ajuizada o juiz era

obrigado a examinar os pressupostos processuais, presentes os pressupostos processuais, a

demanda tinha seu regular andamento, contestação do réu, determinação da produção de

provas, etc, oitiva de testemunhas, audiência, juntada de prova pericial, etc, até o momento

final em que o juiz iria proferir a sentença. No momento da sentença o juiz examinava o que na

época era conhecido com o nome de pressupostos da ação. Os pressupostos da ação

abrangiam a legitimidade das partes, o interesse para agir, e o pedido que tecnicamente recebe

o nome de mérito. Então percebam o seguinte, no momento da sentença o juiz era obrigado a

verificar a presença da legitimidade das partes, do interesse de agir, e o mérito pedido

propriamente dito. Só que o Liebman percebeu que entre a analise dos pressupostos

processuais até o momento da sentença, onde esses pressupostos de ação eram examinados,

vários atos processuais era realizados. Vocês tinham às vezes audiências complicadas, com

oitiva de testemunha, com realização de perecia, com juntada de documentos, expedição de

ofício para vários lugares para requisitar alguma coisa para chegar no final, o juiz verificar ou

que a parte autora não era legitimada, ou que a parte ré não era legitimada, ou que faltava

interesse de agir no autor, ou que alguma situação qualquer havia ocorrido e numa dessas

hipóteses aqui, legitimidade, interesse havia sido deixado de lado, não existia mais. Então o

Libeman começou a bolar uma maneira de fazer com que a legitimidade e interesse fosse

aferido logo no início, logo no começo do processo, para impedir essa perda de tempo, essa

perda da prática de atos processuais que por vezes não redundavam em nada.

O que ele fez? Ele simplesmente pegou a legitimidade, pegou o interesse, retirou

a legitimidade e o interesse do exame no final no momento da sentença e trouxe a legitimidade

e o interesse para que eles fossem examinados num momento anterior. A essa legitimidade e a

esse interesse, ele atribuiu o nome de condições da ação. Ele acrescentou na verdade uma

terceira condição da ação, que seria a possibilidade jurídica do pedido. Então, ele basicamente

antecipou o exame da legitimidade e do interesse ao momento do processo que não fosse a

sentença, ele retirou da fase da sentença o exame da legitimidade e do interesse e as trouxe

para o momento anterior e a legitimidade e interesse acrescida de possibilidade jurídica do

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pedido, ele lhes atribui o nome de condições da ação. Então na cabeça do Liebman para a

teoria eclética do direito de ação, o juiz ao verificar a presença das condições da ação, tem

duas conclusões que podem ser obtidas, presentes as condições da ação, o autor possui

direito de ação e, portanto possui direito a um julgamento de mérito. Ausentes as condições da

ação, o autor seria carecedor de ação.

Então vocês vejam que o código adota essa interpretação, porque o código fala

que se alguma das condições da ação, ou duas, ou todas elas, não estiverem presentes, o

autor é carecedor de ação. Vocês podem encontrar esse termo, carência de ação, no próprio

art. 301, X, no CPC. Então o autor caso não possua uma dessas condições de ação, ou todas,

ele é carecedor de ação. Caso ele preencha todas as condições da ação, ele tem direito a uma

sentença de mérito, porque foi o mérito que ficou faltando examinar. Então é por isso que para

os adeptos da teoria eclética basicamente você tem o seguinte: presentes as condições da

ação, o autor tem direito a uma sentença de mérito. Não é uma sentença de procedência, como

os adeptos da teoria concreta e não é uma sentença qualquer como defendem os adeptos da

teoria abstrata. Porque ultrapassada a fase das condições da ação, ficou faltando somente o

mérito para ser examinado.

Atualmente no novo código de processo civil não falamos mais em condições da ação e possibilidade jurídica do pedido. Para exercer o direito de ação é necessário ter legitimidade e interesse

2. Condições da Ação:

2.1)Interesse de Agir

De novo, em relação ao interesse existe uma grande divergência na doutrina e

na jurisprudência com relação a forma pela qual você deva interpretar o interesse de agir, por

quê? Porque no que diz respeito ao interesse de agir, normalmente o interesse é baseado em

dois aspectos distintos. Existem 3 linhas de pensamento.

O interesse de agir para uma parcela da doutrina é baseado na existência de

interesse necessidade mais interesse utilidade.

Para uma segunda corrente, o interesse é baseado na existência de interesse

necessidade mais interesse adequação.

Para um terceira corrente de pensamento, o interesse é baseado na existência

de interesse necessidade mais o interesse utilidade mais o interesse adequação.

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a) Barbosa Moreira, Neson Nery, Luiz Fux, Leonardo Greco (clássica/majoritária) ­ Interesse necessidade + Interesse utilidade

b) Dinamarco, Alexandre Câmara, Marinoni (moderna) ­ Interesse necessidade + Interesse adequação.

c) Humberto Theodoro Jr.­ Interesse necessidade + Interesse utilidade + Interesse adequação.

Interesse necessidade ­ o ajuizamento da demanda é fundamental (indispensável) para proteção do direito do interessado, não havendo outro meio.

Interesse utilidade ­ o ajuizamento da demanda deve propiciar um resultado mais vantajoso do que a parte possui até aquele momento.

Interesse adequação ­ o ajuizamento da demanda deve ser realizado da maneira tecnicamente correta para se obter o direito pretendido. A adequação está vinculada à forma pela qual o direito deverá ser pleiteado.

Fim da aula 02