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CLIPPING 18 a 26.01.2017 Conteúdo Ministério Público do Trabalho diz que reforma trabalhista é inconstitucional ............................................... 2 Economistas questionam argumentos do governo em reforma da Previdência .............................................. 3 Para dirigente, reforma trabalhista de Temer é liberar terceirização .............................................................. 4 Empresa de construção terá de pagar R$ 10 mil a trabalhador com hérnia de disco ...................................... 5 Eu Empregada Doméstica: o cotidiano revoltante de milhões de brasileiras ................................................... 6 Três agências dos Correios são assaltadas em menos de 3 horas .................................................................... 6 Abigraf divulga mapeamento da indústria gráfica gaúcha ................................................................................ 7 Venda dos ativos da Petrobras é 'crime de lesa pátria', denunciam petroleiros/as do RJ ............................... 7 Petroleiros embarcados escrevem manifesto contra o desmonte da Petrobrás ............................................. 8 Empresas demitem ilegalmente dirigentes sindicais ........................................................................................ 8 Nota técnica do Dieese condena a Reforma da Previdência........................................................................... 10 Empregos na crise oferecem renda menor e sem Assédio moral e revista constrangedora justificam condenação de banco em R$ 75.000,00 ......................................................................................................... 10 O poder judiciário como partido político ........................................................................................................ 11 Religiões africanas promovem ato contra intolerância e racismo em São Paulo ........................................... 14 Para conseguir um emprego hoje no Brasil, em geral é preciso ter menos de 24 anos de idade, aceitar ganhar menos e se conformar com um regime de trabalho frágil, sem a proteção oferecida por vagas que têm carteira assinada. ..................................................................................................................................... 15 Marcha das Mulheres atrai multidões em protestos por igualdade ............................................................... 16 A reforma trabalhista que estimula conflito e judicialização .......................................................................... 20 Acidentes de trabalho matam 600 mil ............................................................................................................ 23 Empregador responde por acidente com ônibus terceirizado de funcionários .............................................. 23 Argentina: Trabalhadores gráficos demitidos continuam em protesto .......................................................... 24 A escravidão não acabou ................................................................................................................................. 25 Donos da Globo estão entre as oito pessoas que têm mais de metade da riqueza do país ........................... 27 Governo Temer aprofunda redução do emprego no setor público ................................................................ 28 Oxfam: 6 falsas premissas que impulsionam a desigualdade ......................................................................... 29 Sobre salários e empregos .............................................................................................................................. 31 Correios vão abrir operadora de celular própria em fevereiro ....................................................................... 33 TJ-RJ abre licitação de R$ 1,2 milhão para comprar água para magistrados .................................................. 33 Com Temer, Brasil retoma vocação de súdito dos EUA .................................................................................. 34 Maioria dos trabalhadores não dispõe de sindicatos para lidar com reforma ............................................... 35

Conteúdo · Ministério Público do Trabalho diz que reforma trabalhista é inconstitucional O Ministério Público do Trabalho apresentou nesta terça-feira, 24, um estudo que

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CLIPPING 18 a 26.01.2017

Conteúdo Ministério Público do Trabalho diz que reforma trabalhista é inconstitucional ............................................... 2

Economistas questionam argumentos do governo em reforma da Previdência .............................................. 3

Para dirigente, reforma trabalhista de Temer é liberar terceirização .............................................................. 4

Empresa de construção terá de pagar R$ 10 mil a trabalhador com hérnia de disco ...................................... 5

Eu Empregada Doméstica: o cotidiano revoltante de milhões de brasileiras ................................................... 6

Três agências dos Correios são assaltadas em menos de 3 horas .................................................................... 6

Abigraf divulga mapeamento da indústria gráfica gaúcha ................................................................................ 7

Venda dos ativos da Petrobras é 'crime de lesa pátria', denunciam petroleiros/as do RJ ............................... 7

Petroleiros embarcados escrevem manifesto contra o desmonte da Petrobrás ............................................. 8

Empresas demitem ilegalmente dirigentes sindicais ........................................................................................ 8

Nota técnica do Dieese condena a Reforma da Previdência........................................................................... 10

Empregos na crise oferecem renda menor e sem Assédio moral e revista constrangedora justificam

condenação de banco em R$ 75.000,00 ......................................................................................................... 10

O poder judiciário como partido político ........................................................................................................ 11

Religiões africanas promovem ato contra intolerância e racismo em São Paulo ........................................... 14

Para conseguir um emprego hoje no Brasil, em geral é preciso ter menos de 24 anos de idade, aceitar

ganhar menos e se conformar com um regime de trabalho frágil, sem a proteção oferecida por vagas que

têm carteira assinada. ..................................................................................................................................... 15

Marcha das Mulheres atrai multidões em protestos por igualdade ............................................................... 16

A reforma trabalhista que estimula conflito e judicialização .......................................................................... 20

Acidentes de trabalho matam 600 mil ............................................................................................................ 23

Empregador responde por acidente com ônibus terceirizado de funcionários .............................................. 23

Argentina: Trabalhadores gráficos demitidos continuam em protesto .......................................................... 24

A escravidão não acabou ................................................................................................................................. 25

Donos da Globo estão entre as oito pessoas que têm mais de metade da riqueza do país ........................... 27

Governo Temer aprofunda redução do emprego no setor público ................................................................ 28

Oxfam: 6 falsas premissas que impulsionam a desigualdade ......................................................................... 29

Sobre salários e empregos .............................................................................................................................. 31

Correios vão abrir operadora de celular própria em fevereiro ....................................................................... 33

TJ-RJ abre licitação de R$ 1,2 milhão para comprar água para magistrados .................................................. 33

Com Temer, Brasil retoma vocação de súdito dos EUA .................................................................................. 34

Maioria dos trabalhadores não dispõe de sindicatos para lidar com reforma ............................................... 35

Ministério Público do Trabalho diz que reforma trabalhista é inconstitucional

O Ministério Público do Trabalho apresentou nesta terça-feira, 24, um estudo que aponta uma série de

irregularidades em projetos de lei que tramitam no Congresso e fazem parte da reforma trabalhista

defendida pelo governo federal. O documento, que reúne quatro notas técnicas e foi elaborado por 12

procuradores do trabalho, diz que algumas mudanças propostas são inconstitucionais e pede a rejeição por

completo de dois projetos de lei e a alteração da redação de outros dois.

As quatro notas técnicas que compõem o estudo do MPT abordam a prevalência do negociado sobre o

legislado, a flexibilização da jornada, o regime de tempo parcial, a representação de trabalhadores no local

de trabalho, a terceirização da atividade-fim, o trabalho temporário e a jornada intermitente. Segundo os

procuradores, tudo isso está sendo "imposto de forma a provocar um grande desequilíbrio nas relações

entre empregados e empregadores no país".

O Ministério Público do Trabalho apresentou nesta terça-feira, 24, um estudo que aponta uma série de

irregularidades em projetos de lei que tramitam no Congresso e fazem parte da reforma trabalhista

defendida pelo governo federal. O documento, que reúne quatro notas técnicas e foi elaborado por 12

procuradores do trabalho, diz que algumas mudanças propostas são inconstitucionais e pede a rejeição por

completo de dois projetos de lei e a alteração da redação de outros dois.

As quatro notas técnicas que compõem o estudo do MPT abordam a prevalência do negociado sobre o

legislado, a flexibilização da jornada, o regime de tempo parcial, a representação de trabalhadores no local

de trabalho, a terceirização da atividade-fim, o trabalho temporário e a jornada intermitente. Segundo os

procuradores, tudo isso está sendo "imposto de forma a provocar um grande desequilíbrio nas relações

entre empregados e empregadores no país".

Os dois projetos que os 12 membros do MPT querem ver descartados são o PL 6787/2016, que, segundo os

procuradores, impõe a prevalência do negociado sobre o legislado, e do PLS 218/2016, que permite a

terceirização da atividade-fim por meio do chamado "contrato de trabalho intermitente". Também pedem

alteração na redação de um projeto da Câmara que dispõe sobre os contratos de terceirização e as relações

de trabalho deles decorrentes e de um outro do governo federal, que trata de trabalho temporário e

terceirização.

Além do estudo apresentado nesta tarde, também houve uma reunião entre o MPT, centrais sindicais,

associações que atuam no âmbito da Justiça do Trabalho e outras entidades, ao fim da qual se assinou uma

carta, intitulada "Carta em defesa dos direitos sociais". De acordo com o MPT, o documento de duas

páginas tem 28 assinaturas, dentre elas, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da Força Sindical e da

Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra). O texto diz que "é da maior importância que

as propostas não tramitem sem que seja promovido um grande e profundo debate com toda a sociedade,

nos termos da Convenção nº 144 da OIT, de maneira a permitir que todos os setores interessados possam

dar contribuições".

"Na reunião discutimos projetos que tramitam no Congresso referentes a propostas de reforma da

Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Todas as entidades concordaram que não pode haver discussão

em regime de urgência destas propostas. Foi deliberado que haja uma prévia discussão à tramitação destas

propostas", afirmou o procurador-geral do trabalho, Ronaldo Fleury.

Outra resolução na reunião foi a criação do "Fórum de Defesa do Direito do Trabalho". Ronaldo Fleury disse

que o objetivo do fórum é "ampliar a discussão acerca da necessidade ou não de alterações legislativas no

mundo do direito do trabalho". "Se há necessidade ounnão de alteração da CLT e que haja efetiva

participação da sociedade nestas discussões. O Fórum está sendo criado hoje e a partir daí a ideia é que

possamos discutir com o governo, o legislativo e o judiciário sobre as reformas", diz.

O procurador-geral do Trabalho afirmou também que "o intuito não é qualquer atuação político partidária,

mas, sim, a atuação da defesa dos direitos sociais e a atuação na defesa dos direitos dos trabalhadores".

Fonte: Estadão

Economistas questionam argumentos do governo em reforma da Previdência

Em meio às discussões sobre a reforma da Previdência, que o governo quer aprovar ainda neste ano,

representantes de servidores públicos e professores de universidades federais rebatem o discurso oficial

sobre a necessidade de mudanças no sistema de aposentadorias.

Em debate promovido nesta terça (24) pela Pública, central sindical que reúne cerca de um terço dos

servidores do país, economistas questionaram o cálculo do deficit da Previdência e as limitações

provocadas pelo envelhecimento da população.

A professora da UFRJ Denise Gentil sustenta que o desequilíbrio nas contas previdenciárias decorre da crise

econômica (que afeta a arrecadação de impostos) e do desvio de verbas que deveriam ser recolhidas para

financiar as aposentadorias e pensões.

O argumento é que o governo retira recursos da Seguridade Social para financiar outras despesas e cita

como exemplo a DRU (Desvinculação das Receitas da União), que permite ao governo usar livremente 30%

de todas as receitas públicas, livrando-as de destinações obrigatórias e vinculações.

Gentil também ressalta que desonerações tributárias concedidas a empresas retiraram, em 2015, cerca de

R$ 170 bilhões da Seguridade Social.

"É um discurso contraditório do governo quando diz que há deficit de R$ 85 bilhões mas por outro lado faz

desonerações em receitas desse sistema", afirmou.

Em sua avaliação, o governo entrega esses recursos "gratuitamente" às empresas, sem exigir

contrapartidas como geração de empregos, ao passo que, no caso da Previdência, exige que trabalhadores

contribuam por pelo menos 15 anos (o governo quer elevar a contribuição mínima para 25 anos).

"A disputa pelo orçamento está assimétrica", diz.

As críticas são conhecidas pelos técnicos do governo. A própria Gentil é autora de estudo divulgado

pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) no ano passado, em que classificava o deficit da Previdência de

mito.

O argumento do governo é que essa contabilidade é parcial, pois desconsidera que a Seguridade Social

também deve financiar o SUS (Sistema Único de Saúde) e os benefícios assistenciais, como o bolsa família.

Se contabilizadas todas as despesas, o resultado é deficitário, diz o governo.

Gentil rebateu ainda o que chamou de "alarmismo fiscal" e questionou o fato de o governo não cobrar por

dívidas de empresas com o INSS, que somariam R$ 350 bilhões.

"O governo diz que essa reforma precisa de dureza e crueldade porque nossa situação fiscal é grave. Eu me

oponho veemente ao alarmismo fiscal. Não é a Previdência que provoca o desequilíbrio fiscal".

Em sua análise, são as despesas com juros as que mais subiram nos últimos dez anos e as que consomem a

maior parte do Orçamento. Ainda segundo Gentil, essas verbas acabam nas mãos de "rentistas" e do

sistema financeiro, que, em sua opinião, seria o maior beneficiado pelas mudanças na Previdência.

Eduardo Fagnani, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho e autor de estudo patrocinado

pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística Estudos Socieconômicos) e Anfip (associação dos

auditores da Receita Federal), disse que a reforma proposta pelo governo vai empobrecer os idosos.

Segundo ele, a Previdência beneficia direta e indiretamente 90 milhões de pessoas no país.

"Sem a Previdência e a Seguridade, a pobreza extrema entre os idosos vai aumentar", diz.

Em suas estimativas, a pobreza para os maiores de 65 anos pode chegar a 50% no médio prazo, dado o

"caráter restritivo" que assumiria o sistema de aposentadorias. Ele criticou especialmente a proposta de

exigir 25 anos de contribuição e a elevação da idade para aposentadorias assistenciais, de 65 para 70 anos.

"A tragédia da desproteção social começa a ser tecida agora. Hoje não vemos velhos nas ruas pedindo

esmolas, daqui a 20, 30 anos teremos uma massa de idosos pedindo dinheiro", diz.

Ele também demonstrou preocupação com as receitas futuras para financiar a Previdência, dado que em

sua opinião as classes de renda mais baixa poderiam deixar de contribuir se não vislumbrarem acesso à

aposentadoria.

'FALÁCIA' DEMOGRÁFICA

Ambos os pesquisadores desconfiam das projeções oficiais que indicam que, com mais idosos no futuro, o

sistema atual de financiamento da Previdência se tornaria inviável.

"Vamos ter mais idosos no futuro de fato, mas uma coisa é aumentar o número de idosos e o gasto. Outra

coisa é achar que não haverá receita para cobrir esse gasto", diz Gentil. "A receita virá do crescimento da

produtividade dos trabalhadores ativos".

Em sua avaliação, o governo deve investir em inovação e educação para elevar a produtividade do

trabalhador, o que impulsionaria a capacidade de o país gerar e distribuir riquezas. "Não existe

determinismo demográfico".

Ela também afirmou que despesas hoje direcionadas aos jovens poderiam ser revertidas aos idosos, uma

vez que a população ficaria mais envelhecida.

Já Fagnani disse que os países europeus financiam seus sistemas de Previdência com recursos de impostos.

Na Dinamarca, afirmou, 75% dos recursos das aposentadorias e pensões vêm dos cofres públicos.

Ele rejeitou argumento de que os europeus também estão reformando seus sistemas neste momento.

"As reformas são recentes e só foram feitas após a crise de 2008/2009. Portanto não tem a ver com o

envelhecimento da população".

"Muitos países aumentaram a idade [de aposentadoria] recentemente e quando já estavam muito mais

envelhecidos do que nós. Estamos nos antecipando ao que os europeus só fizeram nos últimos anos e

subindo a idade de forma abrupta", acrescentou Gentil.

Fonte: Folha

Para dirigente, reforma trabalhista de Temer é liberar terceirização

A reforma trabalhista pretendida pelo governo Temer é, na essência, aprovar a ampliação da terceirização,

inclusive para atividades-fim, "desregulamentar tudo", resume o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre. "O

que o Brasil precisa não é reforma da legislação, mas de um sistema nacional de negociação", afirmou,

durante debate nesta terça-feira (24), organizado pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT.

"Nós achamos que não é para valer", acrescentou, referindo-se à disposição do Executivo em negociar. "A

índole do governo Temer não é de modernizar, é de desmonte."

O dirigente criticou o que chama de "visão atrasada" dos empresários, que reclamam de processos

trabalhistas, mas resistem à organização no local de trabalho, que para ele representariam um mecanismo

de solução de conflitos. Segundo ele, a resistência vem, principalmente, das federações patronais, como a

Fiesp e a CNI. Nobre contou que chegou a ouvir de um negociador de uma dessas entidades a seguinte

resposta, quando falava sobre a representação no local de trabalho: "Comprem ações". Mas ele observou

que há também parte do movimento sindical resistente a uma efetiva negociação sobre tema.

Para o secretário-geral da CUT, o Projeto de Lei 6.787, de reforma trabalhista, pode ser visto também como

um "boi de piranha" para a aprovação de mudanças realmente pretendidas pelo governo, como a

terceirização. Entre os vários itens do PL, ele citou a questão da representação no local de trabalho e

afirmou que o representante previsto no projeto pode ser ou não sindicalizado e não teria nenhuma

relação com o sindicato da categoria. "Isso é muito diferente do que estamos propondo."

O PLC 30, sobre terceirização, foi aprovado na Câmara (sob o número 4.330) e tramita no Senado. Aguarda

parecer do relator, senador Paulo Paim (PT-RS). Há outro projeto, o PL 4.302, aguardando votação na

Câmara. É considerado pelos sindicalistas ainda pior. O texto estava parado desde 1998 e foi retomado pela

base de Temer.

Nobre também fez ressalvas à transformação do Programa de Proteção ao Emprego (PPE), criado anda no

governo Dilma, em Programa Seguro-Emprego (PSE). "O PPE, que mantém o trabalhador empregado em

período de crise, é parte de um sistema. Fazia parte de um novo modelo de contratação."

Ele lembrou que as centrais sindicais estão discutindo uma "agenda importante de mobilização", que prevê

paralisações na segunda quinzena de março. "Até lá, é muito importante debater com a população",

afirmou.

Fonte: RBA

Empresa de construção terá de pagar R$ 10 mil a trabalhador com hérnia de disco

Uma empresa de construção foi condenada a pagar R$ 10 mil de indenização por danos morais a um

empregado diagnosticado com hérnia de disco. De acordo com a juíza Mônica Ramos Emery, da 10ª Vara

do Trabalho de Brasília, a empresa não tomou medidas mínimas para evitar doenças relacionadas ao

trabalho.

Na ação, o empregado relatou que durante o período de trabalho na empresa adquiriu uma hérnia discal

em razão das condições de trabalho, a sobrejornada e a natureza das tarefas que exercia. O trabalhador

afirmou que a empresa não zelou pela manutenção das condições de segurança.

Em sua defesa, a empresa de construção sustentou a inexistência de culpa, alegando que a doença sofrida

pelo empregado não tinha qualquer relação com o trabalho e que estariam associadas a outros fatores.

Disse ainda que tomou todas as providências ao seu alcance para o afastamento de riscos ocupacionais,

cumprindo todos os requisitos legais.

O laudo pericial e demais documentos médicos juntados aos autos comprovam que o empregado foi

diagnosticado com hérnia discal lombar com irradiação para os membros inferiores. “É um quadro comum

em atividades de esforço dos trabalhadores que realizam movimentos sem cuidado de postura e sem

conhecimento da forma correta de realizá-los”, afirmou o perito.

Segundo a juíza responsável pela sentença, nesse caso, cabe à empresa adotar rigorosa atenção na

prevenção de acidentes e às doenças de trabalho, observando normas de segurança com auxílio de

profissionais habilitados. “Entendo que não restou provado que a empresa tenha tomado as medidas

mínimas necessárias para evitar o acometimento de doenças relacionadas ao trabalho”, observou a juíza.

A magistrada lembrou ainda, em sua decisão, do direito do empregado à estabilidade provisória pelo

acidente de trabalho ou doença. Com isso, o segurado que sofreu acidente de trabalho tem garantida, pelo

prazo mínimo de 12 meses, a manutenção de seu contrato de trabalho na empresa, independentemente

de percepção de auxílio-acidente.

No caso analisado, no entanto, o trabalhador acabou sendo prejudicado pela falta da emissão da

Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) pelo empregador. Para a juíza Mônica Ramos Emery, o

trabalhador poderia ter sido beneficiado pelo auxílio-doença acidentário, que automaticamente daria

direito ao reconhecimento da estabilidade provisória. Segundo ela, houve omissão da empresa.

“Declaro, pois, de forma incidental, que o afastamento do reclamante deu-se em virtude de doença do

trabalho, com afastamento superior a 15 dias e, como tal, é detentor de estabilidade provisória no

emprego, por um ano contado da alta médica”, concluiu a magistrada. Com isso, o trabalhador receberá os

salários do período de estabilidade provisória, diferenças de décimo terceiro, férias e FGTS, acrescido de

40%.

Processo 0000293-14.2015.5.10.0010

Fonte: Conjur

Eu Empregada Doméstica: o cotidiano revoltante de milhões de brasileiras

Criada pela professora, raper, ativista e ex-empregada doméstica Joyce Fernandes, ou Preta Rara, a página

dá voz a essas mulheres que aguentam uma rotina de abuso e humilhação para garantir o pão de cada de

dia.

Muitas mulheres que trabalham como domésticas também já foram terceirizadas da limpeza ou da cozinha

em grandes empresas ou repartições públicas, e todas elas têm em comum o trabalho precário.

É comum também que várias mulheres de uma mesma família sigam por este emprego. Entre elas a

maioria negras, descentes de mulheres escravizadas, numa profissão que em muito remonta a escravidão.

De acordo com o IBGE, mais de 6 milhões de mulheres trabalham com serviço doméstico no Brasil. São

muitas brasileiras vivendo nas condições relatadas na página, além das filhas e filhos, que às vezes moram

com as mães na casa onde elas trabalham e também acompanham a rotina de humilhação.

Nos relatos publicados na página é corriqueiro o pedido para que as empregadas comam na cozinha, além

de xingamentos e acusações, que vão desde elas supostamente terem comido alguma guloseima especial

dos patrões, usado o telefone demasiadamente ou até roubado dinheiro e pertences.

É revoltante passar pelos relatos e ver como essas mulheres vivem sob pressão em casas de famílias ricas e

de classe média, algumas expostas como propriedade da família, como o exemplo da babá negra que

empurrava o carrinho de crianças ricas em umas das manifestações de apoio ao golpe. Abusos comuns aos

patrões de empresas também são encontrados, como patroas que "recomendam" que as empregadas não

fiquem grávidas, sob ameaça de demissão.

Cabe lembrar os chiliques da classe média e alta frente à conquista de direitos trabalhistas das empregadas

domésticas, em 2015, e cabe também lembrar que até hoje esses direitos não são de acesso à todas as

empregadas domésticas do Brasil.

Nós do Esquerda Diário convidamos leitoras e leitores a acompanhar os relatos dessas mulheres na

página Eu Empregada Doméstica e também abrimos nossas próprias páginas para as denúncias delas e de

outras trabalhadoras e trabalhadores que se inspirem em denunciar seus patrões e os abusos que sofrem

no ambiente de trabalho.

ESQUERDA DIÁRIO

Três agências dos Correios são assaltadas em menos de 3 horas

Crimes foram registrados em cidades da região norte do Tocantins.

Dois suspeitos de um dos roubos foram detidos pela polícia.

Três assaltos a agências dos Correios foram registrados em cidades da região norte do Tocantins na manhã

desta quarta-feira (25). O primeiro dos ataques aconteceu em Filadélfia, por volta das 9h30. Depois, às

10h30, foi a vez da agência de Muricilândia. O último assalto ocorreu em Carrasco Bonito, depois do meio-

dia.

A Polícia Militar prendeu um dos suspeitos do roubo em Muricilândia, por volta das 14h, em uma

camionete na BR-153. O homem tem 26 anos e várias passagens por roubo. Com ele foram encontados

mais de R$ 55 mil. Outros dois suspeitos conseguiram fugir.

Além destes três casos, outros seis assaltos e um arrombamento em agências dos Correios ocorreram neste

mês de janeiro. Em 2016, foram 33 ocorrências. Os dados são do sindicato dos Trabalhadores da Empresa

Brasileira de Correios Telégrafos e Similares (Sintect).

De acordo com o sindicato, os crimes registrados nesta quarta-feira aconteceram de forma semelhante.

Criminosos chegaram armados, próximo do intervalo de abertura dos cofres, fizeram ameaças e levaram

dinheiro das três agências. Ninguém ficou ferido.

Conforme os Correios, as imagens das câmeras de segurança das agências serão disponibilizadas à Polícia

Federal. Além disso, nos próximos dias, as agências ficarão fechadas para realização de perícia e apuração

interna.

Enquanto a unidade de Carrasco Bonito estiver fechada, os clientes devem procurar atendimento na cidade

de Augustinópolis, a 27 quilômetros. Já os moradores de Filadélfia poderão buscar atendimento na cidade

de Babaçulândia, localizada a 44 quilômetros.

G1

Abigraf divulga mapeamento da indústria gráfica gaúcha

Dados revelam perfil de mão de obra, desempenho e participação no contexto nacional do setor no Rio

Grande do Sul

Gráfica Regional Rio Grande do Sul divulgou um mapeamento da indústria gráfica no Estado, realizado pelo

Departamento de Estudos Econômicos – Decon/Abigraf. O levantamento revela o perfil de mão de obra, o

desempenho e a participação no contexto nacional do setor na região. De acordo com os dados

estatísticos, a indústria reúne 1.695 empresas, número que corresponde a 8,5% das 19.999 existentes em

todo o País. Com relação à mão de obra, o Rio Grande do Sul dispõe de 13.961 dos 199.379 funcionários

empregados em todo o território nacional.

Entre 2014 e 2015, o número de funcionários e de estabelecimentos gráficos no Estado diminuiu em 2%,

enquanto no Brasil a queda foi de 6%. Em relação à balança comercial, os números da Secretaria de

Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC),

mostram que a indústria gráfica gaúcha exportou US$ 29,41 milhões e importou US$ 9,68 milhões em

produtos gráficos, acumulando um saldo positivo de US$ 19,73 milhões, em 2014. Em 2015, o superávit da

indústria gráfica da região diminuiu para cerca de US$ 18 milhões, resultado de exportações de US$ 25,19

milhões e importações de US$ 7,08 milhões de produtos do setor. A queda na balança comercial gaúcha

decorreu pela valorização do real em relação ao dólar norte-americano.

Do ponto de vista de oferta de emprego, o Estado é o quinto maior empregador da indústria gráfica

nacional. O Rio Grande do Sul é responsável por 7% do emprego no setor, ficando atrás de São Paulo (42%),

Rio de Janeiro (8%), Paraná (8%) e Minas Gerais (7%). O Estado também oferece remuneração superior à

média nacional, sendo que 38% do contingente recebem até quatro salários mínimos, e 42% dos gráficos

gaúchos ganham entre um e dois salários.

ABIGRAF

Venda dos ativos da Petrobras é 'crime de lesa pátria', denunciam petroleiros/as do RJ

Em manifesto dirigido a toda a categoria petroleira, trabalhadores e trabalhadoras da plataforma marítima

de Cherne-1, na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, denunciaram o desmonte e a venda da Petrobras ao

capital estrangeiro.

“Entendemos que a venda dos ativos da empresa é um crime de lesa pátria, e que os interesses por trás das

vendas destes ativos, não são os mesmos, nem dos trabalhadores e trabalhadoras desta empresa, nem da

classe trabalhadora e nem do povo brasileiro”, afirmam.

Para as e os 25 assinantes da carta, trabalhar na petrolífera brasileira significa se comprometer na defesa

da soberania do país, bem como de seus recursos naturais e energéticos.

Conclamam toda a categoria a se manifestar em defesa do patrimônio que constitui a Petrobras, que

pertence ao povo brasileiro.

Posicionar-se contra a “dilapidação” da empresa, na visão dos e das petroleiras, é de responsabilidade de

todos os trabalhadores e trabalhadoras do sistema Petrobras.

O governo brasileiro anunciou na semana passada que vai leiloar 21 campos de óleo e gás da Petrobras a

partir de 2018. O governo também vai abrir licitação para a construção da Unidade de Processamento de

Gás Natural do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, na qual participarão 30 empresas estrangeiras e

nenhuma brasileira.

DIÁRIO LIBERDADE

Petroleiros embarcados escrevem manifesto contra o desmonte da Petrobrás

É muito bacana ver, no meio de uma campanha salarial, uma categoria mobilizada em torno de objetivos e

lutas muito maiores do que as meras questões corporativas.

Os petroleiros e petroleiras da Plataforma Cherne-1, na Bacia de Campos, escreveram um lindo manifesto

contra o desmonte da empresa convocando toda a categoria petroleira para a disputa que se desenha

nesses tempos sombrios do golpismo: defender a Petrobrás e a soberania nacional contra a rapinagem

neoliberal e imperialista que deseja nosso petróleo a todo custo.

Parabéns aos companheiros e companheiras por essa luta tão importante!

Confira o manifesto na integra:

Os trabalhadores e trabalhadoras embarcados na plataforma marítima de Cherne-1, cientes das duas

responsabilidades com a Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras), vem através deste manifesto alertar toda a

categoria petroleira, sobre o momento de ataques internos e externos, que vem sofrendo a companhia.

Queremos lembrar aos demais companheiros que trabalhar nesta empresa, vai muito além da defesa da

soberania do país, e com a defesa dos recursos naturais e energéticos do Brasil.

Cientes desta responsabilidade, convidamos a todos os trabalhadores e trabalhadoras do sistema

Petrobras, independente do cargo ou função que exerçam nesta companhia, a se manifestarem na defesa

desta patrimônio, que é do povo brasileiro, posicionando-se contra a dilapidação da Petrobras.

Entendemos que a venda dos ativos da empresa é um crime de lesa pátria, e que os interesses por trás das

vendas destes ativos, não são os mesmos, nem dos trabalhadores e trabalhadoras desta empresa, nem da

classe trabalhadora e nem do povo brasileiro.

Solicitamos ao Sindipetro-NF, que publique no seu site este manifesto, para que o maior número possível

de petroleiros tome ciência da sua responsabilidade diante deste desafio.

Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense

O CAFEZINHO

Empresas demitem ilegalmente dirigentes sindicais

Ações ferem leis nacionais e convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT)

Não bastassem os constantes ataques aos direitos trabalhistas promovidos pelo governo golpista de Michel

Temer e seus aliados no Congresso, que fazem com que a classe trabalhadora tenha de estar diariamente

na luta, funcionários de diferentes categorias e empresas têm ficado vulneráveis em seus ambientes de

trabalho por verem seus representantes legais serem demitidos sem justificativas, numa prática

considerada crime antissindical.

Desde o ano passado, são constantes as denúncias de empresas que simplesmente ignoram as convenções

coletivas e rompem os vínculos de trabalho com dirigentes sindicais, mesmo no exercício de seus

mandatos.

Em um momento de luta pela manutenção dos direitos e contra o desemprego, a permanência desses

dirigentes é fundamental para garantir o diálogo e uma negociação de equidade entre a empresa e a classe

trabalhadora, uma vez que esses representantes conquistaram suas funções por meio de eleição ou

assembleias realizadas junto à base.

Presidente da CUT-SP, Douglas Izzo afirma que o aumento dessa prática antissindical está alinhado ao golpe

em curso no Brasil. “É uma prática condenada pela Central Única dos Trabalhadores e que, infelizmente,

tem aumentado porque esse governo golpista coloca uma agenda de retrocessos e retirada dos direitos dos

trabalhadores. E isso é uma sinalização para que as empresas iniciem um processo de ataque e perseguição

contra os dirigentes sindicais”.

A estabilidade no emprego de um representante sindical é garantida pela Constituição Federal, em seu

artigo 8º, e também pelo artigo 543 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que aponta a

impossibilidade de dispensa desde o momento do registro da candidatura a um cargo sindical e, se eleito,

até um ano após o término do mandato.

“Se não tivesse essa estabilidade, o dirigente não poderia enfrentar a empresa ou representar o conjunto

da classe de trabalhadores com a ameaça de ser despedido. Assim, a estabilidade é uma garantia para que

o sindicato possa ser independente, autônomo em relação às empresas, podendo representar os

trabalhadores, sem o risco de ser ameaçado pela demissão", explica o advogado trabalhista Vinicius

Cascone.

Ele conta que caso ocorra uma demissão desse tipo, o sindicato do qual o trabalhador possui vínculo deve

entrar com uma ação pedindo a reintegração do dirigente. “Também se deve representar junto ao

Ministério Público do Trabalho para apuração de prática antissindical por parte da empresa. E caso se

perceba uma campanha discriminatória vindo dela contra o dirigente, cabe ao MPT investigar”.

Além das garantias constantes na Constituição, o país também é signatário de convenções da Organização

Internacional do Trabalho (OIT), como a 87, sobre Liberdade e Proteção ao Direito Sindical, e a 135, de

Proteção de Representantes de Trabalhadores.

Perseguição

Desde dezembro passado, o Sindicato dos Trabalhadores da Produção, Transporte, Instalação e Distribuição

de Gás Canalizado do Estado de São Paulo (Sindgasista) está diante de um impasse com a distribuidora

Comgás que, após um período de demissões voluntárias, dispensou 15 trabalhadores, entre eles três

dirigentes sindicais.

O presidente da entidade, Sidney Batista da Rocha, afirma que essa ação da empresa tem o objetivo de

enfraquecer a organização dos trabalhadores com a intenção de precarizar e retirar direitos. “Com a

entrada desse governo atual [Temer], as empresas se sentem incentivadas em promover práticas

antissindicais contra os sindicatos, para enfraquecer essas entidades, e isso vem se agigantando nos

últimos tempos”.

A mudança no controle acionário da Comgás, que passou a ter o Grupo Cosan-Shell, também é apontada

como motivo das demissões, já que o grupo Cosan tem histórico de ações trabalhistas ilegais.

A fim de conseguir a reintegração do trabalhador, o Sindgasista irá entrar com processo no Ministério

Público do Trabalho por prática antissindical da empresa, além de apresentar uma denúncia à OIT.

Já Alan Rodrigues é contratado há 23 anos pela Editora Três e possui muitos prêmios em seu currículo, mas

mesmo assim está vivenciando um processo discriminatório e abusivo de demissão da empresa.

Dirigente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo (SJSP), Alan diz que, desde o final do ano

passado, está afastado do cargo de editor/repórter-especial da revista IstoÉ por ter dado depoimento na

Justiça do Trabalho em favor de um ex-colega de Redação, que era PJ (pessoa jurídica), do qual reivindicava

seus vínculos de trabalho na editora.

Para Alan, seu afastamento tem motivações políticas, já que ele tem denunciado as irregularidades da

Editora Três, que é alvo frequente de denúncias contra os trabalhadores, que vão desde atrasos de

pagamentos de salários a sonegação de vínculos trabalhistas.

No entanto, Alan precisa aguardar a empresa apresentar o processo para poder se defender e, afastado,

está sem receber salário. “É um negócio absurdo. Eles fazem isso apostando na lentidão da Justiça do

Trabalho para que a gente acabe fazendo acordo e pedindo demissão, pois estou sem receber. Querem

asfixiar financeiramente o trabalhador e aí não tem mais jeito, você se rende e faz um acordo trabalhista”,

critica.

Outra categoria que está nesta situação é as dos vidreiros. Prestes a tirar férias, no começo deste mês,

Gilvana Cruz, a Gil, foi chamada pelo departamento pessoal da fábrica de vidros Weathon Brasil para

assinar sua demissão. Pega de surpresa, já que não havia cometido nenhuma irregularidade, ela lembrou

que possuía estabilidade por representar a classe de trabalhadores da empresa, mas mesmo assim eles

prosseguiram com a decisão.

“Fizemos reunião com a direção da Weathon, mas não mudou a situação. Então assinei a procuração para

dar entrada numa liminar pedindo a reintegração da minha função. Vamos também fazer um ato em frente

à empresa, organizado pelo Sindicato dos Vidreiros e pela CUT ABC”, diz Gil.

CUT

Nota técnica do Dieese condena a Reforma da Previdência

De acordo com a entidade, proposta reduz “a abrangência e a capacidade de proteção social”

Na última quinta-feira (19), o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos

(Dieese) divulgou uma nota técnica sobre a PEC 287 que dita as normas para a Reforma da Previdência

pretendida pelo governo do presidente ilegítimo Michel Temer.

O texto critica a Reforma da Previdência e afirma que ela reduzirá a “abrangência e a capacidade de

proteção social”. De acordo com a nota técnica do Dieese, há uma relação entre a PEC 287 e a PEC da

morte.

“A mudança radical da Previdência e da Assistência se articula com o Novo Regime Fiscal, implementado

pelo governo federal por intermédio da Emenda Constitucional 95 (antiga PEC 241/55), que estabelece,

para os próximos 20 anos, o teto dos gastos públicos primários, isto é, de todas as despesas, exceto das

financeiras”, afirma o texto.

Empregos na crise oferecem renda menor e sem Assédio moral e revista constrangedora justificam condenação de banco em R$ 75.000,00

Sentença condenando o banco Santander Brasil por dano e assédio moral é da 1ª Vara do Trabalho de

Brasília.

A Justiça do Trabalho do Distrito Federal condenou o banco Santander Brasil a pagar um total de R$ 75 mil

a um gerente de relacionamentos que foi vítima de constrangimento e de assédio moral por parte de uma

gestora. O caso foi analisado e julgado pela juíza Rejane Maria Wagnitz, em atuação na 1ª Vara do Trabalho

de Brasília.

Conforme informações dos autos, o gerente relatou que, em fevereiro de 2013, no final do expediente

bancário, sua gestora determinou que todos os empregados fossem revistados, por acreditar que seu

celular havia sido furtado dentro da agência. Durante a revista, a superiora hierárquica acusou e ameaçou

os empregados que estavam no local.

O gerente do Santander contou ainda que a gestora ordenou ao chefe de segurança que entrasse no

banheiro masculino para investigar se o celular estava com algum empregado. Nesse momento, todos

teriam sido obrigados a se despirem. Além disso, ela teria determinado também que os trabalhadores

passassem pela porta giratória na saída da agência.

Embora o banco tenha negado a ocorrência dos fatos narrados pelo trabalhador, uma testemunha ouvida

no processo confirmou os constrangimentos sofridos pelos empregados em decorrência da conduta da

gestora, que teria achado seu celular no carro. Para a magistrada que julgou o caso, ficou configurado o

dano moral e o nexo causal, pois o gerente foi submetido a procedimento abusivo e irregular, o que lhe

causou natural constrangimento.

“O reclamante, junto com os demais empregados da agência, foram acusados coletivamente pelo furto do

celular da gestora da agência, sendo submetidos, de forma totalmente irregular, a acusações infundadas e

à revista íntima, exorbitando, claramente, o exercício do direito e causando ao autor graves

constrangimentos e prejuízo moral, decorrente de uma injusta acusação”, observou a juíza Rejane Maria

Wagnitz, que arbitrou o pagamento de indenização por dano moral no valor de R$ 50 mil.

Assédio moral

Na reclamação trabalhista, o gerente também alegou que era submetido a assédio moral por parte da

mesma gestora desde 2011. Segundo ele, a gestora era hostil, utilizava expressões agressivas e

desrespeitosas, expondo os resultados dos empregados e ressaltando negativamente os que não

alcançavam as metas exigidas.

“Registre-se, por necessário, que a cobrança de metas e as advertências verbais ou escritas são atos

passíveis de serem exercidos pelo empregador, ainda mais no segmento bancário/financeiro, ficando

coibidos, por óbvio, os excessos perpetrados pelo empregador, que ultrapassem o limite do razoável e

atinjam a dignidade do trabalhador ou configurem atos discriminatórios”, ponderou a magistrada em sua

decisão.

No entendimento da juíza do trabalho, a prova oral confirmou a ocorrência da perseguição contínua e

sistemática, por parte da gestora, aos empregados e especialmente ao gerente de relacionamentos. De

acordo com a magistrada, a conduta extrapolava o poder diretivo do empregador e causava ao autor da

ação, por óbvio, constrangimento e humilhação. Nesse caso, a indenização arbitrada para reparação do

assédio moral foi de R$ 25 mil.

Processo nº 0000299-48.2015.5.10.0001

Fonte: Blog do Trabalho

O poder judiciário como partido político

Gramsci observou que certas instituições políticas sediadas na chamada sociedade civil por vezes fariam a

função e o papel dos partidos políticos formais

Um dos principais pensadores da política que intitulamos como “moderna”, Antonio Gramsci a analisou em

seus diversos significados, em suas formas de operar, em sua complexidade quanto à representação e em

seu papel tanto nas conjunturas como nas estruturas de poder. Observou, argutamente, que certas

instituições políticas sediadas na chamada “sociedade civil” por vezes fariam a função e o papel dos

partidos políticos formais como “intelectuais orgânicos” de determinadas classes ou frações de classes

sociais. Deve-se notar que, para Gramsci, o Estado é “ampliado”, no sentido de articulação entre os

aparatos do Estado – como o Poder Judiciário, por exemplo – e as organizações da “sociedade civil”.

Dessa forma, em determinadas conjunturas, notadamente naquelas em que os representantes tradicionais

e oficiais das classes e/ou frações se encontram em crise de representação e de hegemonia – no sentido

mais profundo dessas expressões –, outras entidades, formais ou informais, na sociedade ou mesmo de

setores do Estado, assumem o papel de “organização da sociedade” e de “direção político/ideológica”,

notavelmente de grupos específicos, como foi o caso da maçonaria na Itália na década de 1930.

No Brasil, a chamada “judicialização da política” (que inclui políticas públicos e os mais diversos conflitos,

incluindo-se os havidos entre os poderes) vicejou desde a Constituição de 1988 com efeitos controversos. O

Poder Judiciário vem, desde então, ampliando seus poderes, competências e privilégios, mantendo, além

do mais, os que detinha antes da redemocratização. Tem sido um proto partido, um ensaio de “partido

político” no sentido de cumprir essa função embora seja instituição do Estado.

Contudo, desde a desestabilização do Governo Dilma, que começou em 2013 e levou à sua deposição sob a

forma do golpe Parlamentar/Midiático/judiciário, finalmente desfechado em 31 de agosto de 2016 –

analisei esse processo no artigo “A desestabilização, o golpe e a ‘sociedade civil gelatinosa’ do golpismo”,

publicado neste Portal em 09/09/2016 (http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-desestabilizacao-o-

golpe-e-a-sociedade-civil-gelatinosa-do-golpismo/4/36802) –, o Poder Judiciário, notadamente suas mais

altas cortes, tem ido muito além da conhecida “judicialização da política”.

Desde então, o Poder Judiciário vem se transformando em verdadeiro partido político no sentido de dar

direção político/ideológica/moral ao conservadorismo – em suas diversas acepções – e aos grupos de

direita, em suas diversas tonalidades. Superou, portanto, em muito o conhecido processo de “judicialização

da política” no sentido reativo a demandas contenciosas. A aliança com a grande mídia é, nesse sentido,

crucial ao êxito do golpismo.

Agora, o Partido do Poder Judiciário – PPJ na linguagem partidária – e seus subprodutos, entre os quais o

mais famoso, o PLJ (Partido da Lava Jato), coligados ao conhecido PIG – Partido da Imprensa Golpista –,

reitere-se, a setores empresarias, notadamente o rentismo e interesses estrangeiros, e às classes médias

tradicionais (historicamente conservadoras) intercedem na vida política a ponto de expressarem, em certo

sentido, o cerne da vida política. Mas, reitere-se, como porta-vozes e “organizadores político/ideológicos”

de interesses estrangeiros, do Capital Global, do rentismo, e das classes médias conservadoras. Em última

instância, o “Partido do Judiciário” requer re-colocar a sociedade brasileira em patamares sociais

hierárquicos cujo elemento fundante é a distinção social, a ideia conservadora de “ordem” e a meritocracia

individualista. Daí tanto a participação ativa de setores do Judiciário na elaboração do golpe de Estado

como de sua “legalização”: TCU, MPF e MPEs, STF. Igualmente, aparatos de Estado, como a PF e a RFB,

tornaram-se fortemente instrumentalizados.

Logo, a fragilidade dos partidos políticos – em sentido estrito –, como o PSDB, o DEM e o PPS, sem contar o

imenso “centrão”, todos golpistas de primeira hora e decadentes no jogo político/eleitoral antes das

perseguições da Lava Jato, tem como contrapartida a força do Poder Judiciário como expressão dos grupos

sociais subrepresentados por aqueles partidos políticos “sem voto” e perdedores de eleições, caso notório

do PSDB.

m “novo/velho” Brasil está sendo moldado desde 12/05/2016 (afastamento temporário da presidente

legítima, Dilma Rousseff) e sobretudo desde 31/08/2016, quando o impeachment fora desfechado. Com ele

estão sendo desestruturados: o pacto político formulado pela redemocratização que resultou na

Constituição de 1988; o Estado de Direito Democrático; o Estado de Bem-Estar Social; os direitos

trabalhistas; a soberania nacional; os direitos civis, notadamente das minorias; entre outros.

A todos esses ataques, o discurso – também “novo/velho” – se funda na “modernização”, na “abertura do

mercado”, no “custo Brasil”, na “meritocracia”, na “estática divisão internacional do trabalho”, de onde

Moro e Serra, por exemplo, parecem se inspirar, entre outras.

O “Partido do Poder Judiciário” tem sido ou omisso, ou leniente ou ativo no ataque a esse conjunto de

garantias, a ponto de a defesa do ex-presidente Lula ter conseguido aceitação da ONU quanto ao processo

que lhe é movido pela Operação Lava Jato, cujos elementos anti-jurídicos saltam aos olhos, simbolizados na

figura do promotor Dalton Dallagnol com suas convicções em forma de power points!

Esse “partido” tem ou realizado (Partido da Lava Jato, TCU, MPEs) ou permitido (STF) um sem-número de

aberrações ilegais contra determinados políticos de um mesmo partido político (o PT), como se sabe, e

parcialmente ao PMDB. Muito já se falou dos grampos ilegais e dos vazamentos aos meios de comunicação

(ao PIG), das conduções coercitivas, das prisões ilegais e estendidas como forma de pressão, das pressões

inconstitucionais às delações premiadas, da supressão do devido processo legal, da intepretação do

processo penal e do código do processo penal de forma inteiramente “particular” sem que nada disso

tivesse o devido “peso e contrapeso” do que se pode chamar de justiça. Tudo isso no contexto da enorme

seletiva investigativa.

Não mais se discute política no Brasil sem que haja menções explícitas e predominantes a Moro, Mendes,

Janot e outros. A morte do ministro Teori Zavascki tem permitido um sem-número de versões sobre um

possível atentado tendo em vista a conveniência política para o consórcio golpista indicar seu substituto

(como relator da Lava Jato num momento de homologação de importantíssimas delações premiadas) e que

faça coro a Gilmar Mendes para criminalizar políticos do PT e de parte do PMDB, sem que nada aconteça ao

PSDB e ao núcleo golpista do PMDB, cujos principais nomes estão envolvidos até a medula em denúncias e

delações.

O Poder Judiciário, ao se partidarizar, com honrosas exceções não julga o “mérito” do processo e sim

personaliza o suposto criminoso: uns sim (do PT), outros não (do PSDB)! Tal fenômeno se tornou chacota

entre diversos grupos, ainda mais com a “piada pronta” dos reiterados encontros entre Moro/Gilmar e

Aécio, Alckmin, Temer, Dória e tantos outros, num teatro em que se encontram acusadores e acusados,

cujos papeis se confundem.

Mesmo os Ministérios Públicos estaduais têm agido de forma facciosa, partidária, caso do MPSP, que blinda

os sucessivos governos do PSDB do estado de um sem-número de barbaridades: intransparência sistêmica;

corrupção, como se verifica nos casos Alstom, quebra de consórcios que construiriam linhas de metrô,

merenda escolar, entre tantos e tantos outros; violência policial exacerbada e coordenada politicamente;

irresponsabilidade administrativa (caso da crise hídrica e da “reorganização” das escolas estaduais);

aparelhamento político/partidário dos aparatos do Estado; privatizações, concessões e contratualizações

onerosas à sociedade e irresponsáveis administrativamente; entre muitos outros. Tudo isso tornou o

estado de São Paulo sob o PSDB o estado mais autoritário, intransparente e incompetente para resolver

problemas estruturais, inversamente à proteção e blindagem do TJ, do MPSP e mais recentemente até da

Defensoria Pública de SP. Por outro lado, a perseguição de promotores paulistas a Lula é ao mesmo tempo

insana e típica de ópera bufa, contrariamente à intocabilidade dos governos tucanos, apesar do imensos

descalabros que promovem há cerca de vinte anos no estado de São Paulo. Igualmente o MPDF, entre

outros, tem assumido postura anti-petista e particularmente persecutória a Lula a ponto de indiciá-lo sem

nenhuma evidência. São, portanto, seções regionais do PPJ, espécie de partidos regionais da Velha

República.

O PPJ não tem voto nem legitimidade para fazer política, mas age como se tivesse, tendo, ainda por cima,

mantido vícios e privilégios provenientes da ditatura militar, reitere-se.

O PPJ se protege com o argumento de que “apenas cumpre a lei” – bordão de Moro, candidatíssimo à

presidência da República –, quando a interpreta ao seu bel prazer e de acordo com as circunstâncias

políticas, conjugando ações da Lava Jato com o STF, a PGR e Ministérios Públicos estaduais, embora haja

conflitos e dissintonias também entre essas instituições, igualmente ao que ocorre nos partidos políticos

formais. Reitere-se que a aceitação da ONU à queixa de perseguição ao ex-presidente Lula pela Lava Jato,

particularmente a Moro, justamente evidencia esse manancial de ilegalidades.

Por fim, o apontado “messianismo” de Moro (que aparentemente colabora com o Poder Judiciário dos

EUA), Dallagnol e outros membros da Lava Jato, que supostamente estariam numa cruzada cívica contra a

corrupção, pode ser até verdadeira do ponto de vista de suas crenças individuais, embora altamente

questionável dada a seletividade com que atuam. Contudo, o mais importante é observar os aspectos

sistêmicos do que está em jogo no Brasil por meio da atuação política do Poder Judiciário como “partido

político” no sentido gramsciano.

Sem que se enfrente e se desestruture o poder faccioso desse “partido político”, impondo-lhe conduta

republicana, transparente e democrática, estaremos muito próximos de uma “ditadura judicial”, tornando

o Estado de Exceção, que de certa forma já estamos vivenciando, moldura da vida política nacional.

Enfatize-se que os debates e embates em torno da morte e sucessão de Teori Zavascki são a expressão da

partidarização do Poder Judiciário e do sintoma da destruição da democracia, da soberania e da sociedade

de direitos, uma vez que o golpe de Estado foi desfechado para blindar as elites e os grupos conservadores

e para destruir a soberania nacional – em prol do rentismo internacional – e a sociedade de direitos:

políticos e sociais.

Não é pouco a tarefa que a atual geração terá de enfrentar!

Francisco Fonseca é (professor de ciência política da FGV/Eaesp e PUC/SP)

CARTA MAIOR

Religiões africanas promovem ato contra intolerância e racismo em São Paulo

O Dia Nacional de Combate à Intolerência Religiosa será marcado por Marcha. Concentração de religiosos e

simpatizantes será neste sábado, 21/01, a partir das 15h, no Vão Livre do Masp, na Avenida Paulista – SP

No próximo dia 21, o povo de terreiro, movimentos sociais, coletivos artísticos e culturais, marcharão

contra a violência que historicamente agride adeptos do candomblé, umbanda, e de outros cultos de raízes

negras.

Sob o manto do estado democrático e de direito, a intolerância demonstrada das mais diversas formas não

poupa ninguém. Aquele que pratica a injúria não tem um objetivo maior, senão o de dizer onde aquele que

foi injuriado deve estar: no campo da invisibilidade. Combater a intolerância religiosa significa rejeitar o

racismo como sistema de opressão e dar corpo e voz a uma parcela da população que vem sendo

sistematicamente agredida em sua dignidade pelo cerceamento de direito de liberdade de culto.

A questão da liberdade de religião e de culto amplamente requerida pela população negra e pelos

religiosos de matriz africana deve ser vista sob a ótica da afirmação e reiteração da identidade negra e de

toda a sua ancestralidade. Negar esse direito, compactuar com esta lógica é o mesmo que permitir que os

tambores continuem abafados e os adeptos das religiões de matriz africana permaneçam naquilo que o

“outro” considera a sua senzala – não há democracia racial, como não há respeito à diversidade religiosa.

Em 2007, o dia 21 de janeiro foi instituído como a data de Combate à Intolerância Religiosa, em reflexão e

memória da Ialorixá Gildásia dos Santos – vítima de um dos casos mais drásticos de intolerância que a

história brasileira conheceu.

O crime começou em outubro de 1999, quando O jornal Folha Universal estampou em sua capa uma foto

de Mãe Gilda – trajada com roupas de sacerdotisa para ilustrar uma matéria com título: “Macumbeiros

charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. Sua casa foi invadida, seu marido foi agredido verbal e

fisicamente, e seu Terreiro foi depredado por evangélicos. A Ialorixá não suportou os ataques e, após

enfartar, faleceu em 21 de janeiro de 2000.

Vista-se de branco e junte-se à luta contra o racismo religioso, pela liberdade de culto e por nenhum direito

a menos!

Traga seus instrumentos, flores, dança, arte, cartazes, protestos, resistência.

Diga não aos retrocessos!

CARTA MAIOR

Para conseguir um emprego hoje no Brasil, em geral é preciso ter menos de 24 anos de idade, aceitar ganhar menos e se conformar com um regime de trabalho frágil, sem a proteção oferecida por vagas que têm carteira assinada.

A reportagem é de Mariana Carneiro e Paulo Muzzolon, publicada por Folha de S. Paulo, 23-01-2017.

Análise feita em estatísticas do Ministério do Trabalho mostra que os contratados com carteira

assinada estão recebendo, em média, 21% menos do que os demitidos da mesma ocupação.

Essa desvantagem também foi observada em anos anteriores, mas a diferença atual é o dobro da verificada

nos anos dourados do mercado de trabalho no início da década, quando a taxa de desemprego despencou

e a economia brasileira gerava milhões de empregos por ano.

As novas vagas, segundo as estatísticas do IBGE, estão predominantemente no mercado informal, sem

carteira de trabalho assinada. No mercado formal, conforme os registros do Ministério do Trabalho, as

contratações só superam as demissões entre trabalhadores com até 24 anos.

A retração da atividade, que abateu a economia em meados de 2014, começou a pesar no mercado de

trabalho em 2015, quando 1,5 milhão de vagas com carteira assinada foram destruídas. O prolongamento

da recessão, no ano passado, abateu mais 1,3 milhão de empregos.

Isso afetou a remuneração oferecida aos que conseguem trabalho. "Quando o mercado está bombando,

aumenta a disputa pelos melhores trabalhadores, e as pessoas saem de seus empregos para ganhar mais.

Hoje, se uma pessoa é demitida ganhando R$ 1.000, fica feliz da vida em conseguir uma vaga por R$ 800",

afirma Hélio Zylberztajn, professor da USP e coordenador do Salariômetro, da Fipe (Fundação Instituto de

Pesquisa Econômica).

Em 2013, antes de o país mergulhar na atual recessão, quase metade das 2.465 ocupações monitoradas

pelo Ministério do Trabalho geraram postos de trabalho. No ano passado, foi verificada criação de vagas

em um quinto das 2.497 ocupações analisadas.

Sobrando gente

Mas o achatamento salarial atingiu até as que geraram empregos. Entre as 30 ocupações que mais criaram

vagas em 2016, quem foi contratado recebeu em média 4,5% menos do que os trabalhadores demitidos.

Para operadores de telemarketing, por exemplo, a diferença chegou a 12%.

"Estamos vivendo o oposto do que aconteceu lá atrás, quando as empresas tinham que contratar até

pessoas que não tinham qualificação adequada. Agora está sobrando gente", afirma Zylberztajn.

O cenário revelado pelos números foi encontrado pela analista de recursos humanos Ceciliana Gomes de

Andrade, 29, na sua busca por trabalho. Mesmo com formação superior, ela não conseguiu mais do que

bicos de garçonete desde que ficou desempregada, há oito meses.

"O piso de um assistente de recursos humanos é R$ 1.200, mas estou fazendo entrevistas para operadora

de telemarketing, que paga de R$ 880 a R$ 917", diz. "Nem isso estou conseguindo".

Andrade conta que, à medida que as vagas se escassearam, os empregadores aumentaram as exigências.

"Querem contratar o melhor dos melhores candidatos pagando menos", explica. "No meu caso, exigem

experiência, e não trabalho com telemarketing desde 2009, quando entrei na faculdade e consegui um

emprego melhor."

O marido dela também perdeu o emprego que tinha registrado na carteira. Trabalhava como chapeiro

numa padaria e agora faz bico para um restaurante popular, tentando atrair clientes nas ruas.

INSTITUTO HUMANITAS

Marcha das Mulheres atrai multidões em protestos por igualdade

Mulheres católicas deixaram claro que suas vozes foram ouvidas entre os milhões que se reuniram em

marchas e comícios em cidades nos EUA e ao redor do mundo no dia 21 de janeiro em defesa dos direitos

da mulher e para enviar uma mensagem ao presidente Donald Trump um dia depois de inauguração à

frente da presidência. Nos eventos realizados, perpassou uma ampla gama de assuntos, incluindo a

reforma imigratória, assistência à saúde e tolerância religiosa.

A reportagem foi publicada por Global Sisters Report e National Catholic Reporter, 21-01-2017. A tradução

é de Isaque Gomes Correa.

Multidões de mais de 500 mil pessoas – dobro do que os organizadores esperavam –

inundaram Washington, DC, a ponto de que uma parcela da Marcha das Mulheres precisou ser abandonada

e transformada em uma série de comícios e minimarchas espontâneas em torno da cidade.

Em Boston, Chicago e em dezenas de outras cidades, as multidões excederam as expectativas dos

organizadores.

Centenas de religiosas também se juntaram aos protestos e comícios, identificando-se com as causas e

temas que refletem seus carismas e obras missionárias. As Irmãs de São José tiveram uma forte presença

na Marcha das Mulheres em Washington, DC, com mais de 130 irmãs, colaboradores, parceiros de

ministério, amigos e familiares, todos fazendo suas vozes serem ouvidas.

Um ônibus as Irmãs de São José de Brentwood, Nova York, encheu-se rapidamente e teve uma lista de

espera com 10 pessoas, segundo a Irmã Helen Kearney, superiora da congregação religiosa. Entre as 53

participantes estiveram irmãs, colaboradoras de um centro de enfermagem especializada e de um centro

assistencial e de alfabetização. Estiveram também clientes desses próprios centros.

O carisma da congregação inclui os valores de unidade e empoderamento feminino. Kearney disse que

participou da marcha para comunicar aos líderes políticos “os valores de inclusão, respeito pela diversidade

e a necessidade de fomentar a justiça para todas as pessoas”.

Em Nova York, a Marcha das Mulheres foi uma extensão do trabalho diário das irmãs católicas que

representam suas congregações nas Nações Unidas. A Irmã Winifred Doherty, representante na ONU para

a Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor (Congregation of Our Lady of Charity of the

Good Shepherd) e a Irmã Celine Paramunda, representante das Irmãs Missionárias Médicas (Medical

Mission Sisters), ergueram cartazes reafirmando o compromisso com os direitos das mulheres e com a

justiça de gênero, justiça econômica e justiça climática.

“Todas estas coisas estão inter-relacionadas”, disse Doherty, e realizá-las requer uma mudança da

consciência que as mulheres podem ajudar a fazer acontecer. Doherty falou que tais eventos são

necessários para recusar uma mentalidade predominantemente masculina que torna ilusória a igualdade

de gênero e que continua a empobrecer muitas delas.

“Em muitas partes do mundo, as mulheres não têm direito à terra, não têm acesso ao crédito”, disse.

“Temos de desafiar isso, desafiar o poder que é exercido sobre estas mulheres”.

Entrevistada pouco antes da marcha, as irmãs disseram que ficaram impassíveis com as bandeiras e

cartazes anunciando oposição a Trump, dizendo que estavam ali marchando em solidariedade.

Doherty, de nacionalidade irlandesa, e Paramunda, indiana, enfatizaram o caráter internacional dos

eventos naquele dia, observando que as marchas estavam acontecendo em 33 países. A marcha em Nova

York começou na Dag Hammarskjold Plaza próximo das Nações Unidas e terminou não longe da Trump

Tower no centro de Manhattan. O presidente do condado de Manhattan Gale Brewer disse que o comício e

a marcha atraíram 200 mil pessoas.

A Irmã Justine Gitanjali Senapati, representante das Congregações de São José na ONU, disse que estava

participando para reafirmar “a sabedoria feminina” e opor-se ao que disse ser “o ódio no mundo de hoje”.

“É uma marcha sobre quem são as mulheres”, disse ela, “ela dá ao mundo uma mensagem de que todas as

mulheres têm dignidade e valor”.

Ressaltando a necessidade de unidade, algumas religiosas disseram não compreenderem o sentimento

expresso por algumas pessoas de se afastarem da marcha em Washington porque ela não representava os

seus interesses.

“Não podemos continuar divididas”, disse a Irmã Dillard, religiosa do Sagrado Coração que viajou de San

Francisco a Washington para a marcha.

Falando em um evento mobilizatório no dia 20 de janeiro, Dillard falou que teve de vir à marcha para

representar as idosas e os pobres a quem serviu em seus 30 anos em entidades de caridade. O medo entre

estas populações é muito real, disse ela.

“Como iremos mudar as coisas se não nos reunimos em torno da mesa juntas?”, perguntou-se.

O apoio da ONG Planned Parenthood dado à marcha e às muitas placas e cartazes defendendo os direitos

reprodutivos femininos não dissuadiram as irmãs de participar. Somente uma percentagem muito pequena

do orçamento da Planned Parenthood é usado em abortos, disse a Irmã Teresa Shields, membro das Irmãs

dos Sagrados Nomes de Jesus e Maria (Sisters of the Holy Names of Jesus and Mary), enquanto a maior

parte é destinado a serviços de saúde e exames que toda a mulher precisa.

“É claro que não somos a favor do aborto”, disse. Mas os temas da justiça e da paz a chamaram a

participar, independentemente do envolvimento da Planned Parenthood.

“Quero ficar ao lado de outras pessoas que defendem as mesmas coisas que nós: dignidade, respeito,

justiça”, disse a Irmã Anne Curtis, da Divina Miseriórdia. “Estamos preocupadas com que estas coisas, com

as quais somos comprometidas, estejam em risco agora”.

O apoio da Planned Parenthood e a retirada de um grupo pró-vida da lista dos parceiros da marcha a

fizeram refletir sobre a participação no evento.

“Eu esperava que a Planned Parenthood e os grupos de apoio ao direito à vida pudessem juntos trabalhar e

se manter parceiros porque todos estamos no lado das mulheres”, disse ela. Mesmo assim, decidiu

participar.

“Jesus jantou com coletores de impostos e pecadores”, disse ela, acrescentando em seguida: “A única

forma de encontrarmos um denominador comum é estando juntas”.

Em El Paso, no Texas, defensores pró-vida e pró-escolha estiveram lado a lado enquanto a Marcha das

Mulheres se movia ao longo do histórico Segundo Barrio em direção à Praça San Jacinto, a apenas poucos

quilômetros dos portos de entrada na fronteira EUA-México.

As condições climáticas desfavoráveis não mantiveram as pessoas longo das manifestações. Manifestantes

vieram do México e do Novo México para expressar a preocupação com alterações nas políticas

imigratórias, de saúde e educacionais.

A Irmã Janet Gildea, que participou na marcha em El Paso, disse ter se surpreendido que, numa cultura

marcada pelo machismo, havia um grande número de homens na “Marcha das Mulheres”.

“Isso mostra a percepção de que os direitos e preocupações das mulheres são direitos e preocupações do

ser humano”, escreveu em e-mail enviado ao Global Sisters Report. Enquanto o grupo marchava pela

paróquia jesuíta do Sagrado Coração e em frente ao famoso santuário de Nossa Senhora de

Guadalupe, Gildea disse que sentiu uma forte emoção de solidariedade pela comunidade fronteiriça e por

sua história de resistência.

Com efeito, muitos dos valores expressos pelos manifestantes são coerentes com o ensino católico,

afirmaram muitas das entrevistadas.

“O amor é a coisa mais importante no mundo”, disse Taylor Lach, estudante de 21 anos da Loyola

University que participou da Marcha das Mulheres em Chicago.

“Sinto isso como sendo 100% daquilo que a Igreja Católica ensina”.

Lach juntou-se a aproximadamente outros 250 mil manifestantes da região de Chicago. Os/as

manifestantes entoaram frases como “Vidas negras importam” e “Sim, nós podemos”. Um dos gritos

favoritos da multidão era este chamado e a sua reposta:

“Me digam como é a democracia. A democracia é assim”.

Depois das declarações humilhantes de Trump para com os muçulmanos durante o período eleitoral, os

participantes da marcha fizeram questão de falar por este grupo. Os manifestantes em Chicago disseram:

“Ódio não, medo não. Os muçulmanos são bem-vindos aqui”.

Outros manifestantes se certificaram de que os valores inclusivos de suas religiões estivessem presentes

nos cartazes.

“Cristão para o amor, não para o ódio” lia-se em um cartaz segurado por Kyri Sierra. Sierra, 36, é membro

do Tabernáculo de Chicago, uma igreja cristã local.

“O meu marido e eu estamos realmente decepcionados com o que alguns cristãos disseram nesta eleição”,

disse ela. “Eu não acho que eles refletem um ponto de vista cristão”.

Kathleen Weiss Boyle, paroquiana, 53, frequentadora da Queen of All Saints, comunidade católica

em Chicago, conversou sobre a sua esperança para os próximos quatro anos.

“Estou em busca de valores que reflitam Jesus (...) Acho que as pessoas que Donald Trump procura afastar

são as pessoas que Jesus teria trazido junto de si”, disse ela.

Na Filadélfia, Sarah Weisiger, pastora da Igreja Presbiteriana Ivyland em Warminster, na Pensilvânia, disse

que a marcha “é coerente com os meus valores cristãos, e eu queria fazer algo de positivo”. Ela participou

da marcha junto de seu marido, Alex, e dos três filhos (de 6 meses a 5 anos), acrescentando que também

queria expor os filhos à ação positiva.

Kristy Modarelli, católica de 34 anos de Ohio que ainda está em busca de uma comunidade religiosa

na Arquidiocese da Filadélfia, disse que participou do evento para manifestar apoio às causas que ela

valoriza, que incluem a igualdade da mulher, a igualdade para as pessoas marginalizadas e ações para

remediar os efeitos das mudanças climáticas.

“Estou aqui para mostrar que existem muitíssimas pessoas insatisfeitas neste momento”, disse ela.

No começo da semana, os organizadores da Marcha das Mulheres em Boston esperavam cerca de 20 mil

pessoas. Em vez disso, mais de 100 mil compareceram, segundo disseram no sábado à tarde.

Os senadores de Massachusetts, Elizabeth Warren e Ed Markey, discursaram no comício.

“Acreditamos que o sexismo, o racismo e a homofobia não têm lugar nesse país (...) Acreditamos que igual

signifique igual”, disse Warren.

A multidão em Boston se animou quando os políticos levantaram o tema da educação e proteção aos

imigrantes.

Em St. Louis, Ann Compton Kammien, membro da Comunidade de Loretto, disse que a marcha de sábado

era uma grande oportunidade para “demonstrar as nossas frustrações com o que o presidente está dizendo

hoje e que possivelmente iremos ouvir nos próximos quatro anos”.

A energia e o comprometimento devem continuar, disse.

“Nós não iremos ficar caladas. Iremos ser fortes em nossa obra no sentido de um tratamento justo e

generoso a todos e à terra que compartilhamos”, declarou. “Haverá uma oposição para equilibrar e superar

aquilo que estamos ouvindo de Donald Trump e sua equipe”.

No sábado à noite, no lado de fora da embaixada dos EUA, cerca de 500 pessoas se reuniram em Tel

Aviv, Israel, em reação a Trump e suas propostas.

Muitos manifestantes expressaram a preocupação com o anúncio do novo presidente de que planeja

mover a embaixada do país de Tel Aviv para Jerusalém, plano polêmico que, muitos temem, poderá levar à

violência na região. A maioria dos países tem a embaixada em Tel Aviv para evitar

reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, dado que os palestinos reivindicam esta cidade como a

capital de seu futuro estado. Muitas pessoas na multidão israelense-americana disseram que possuíam

familiares participando das manifestações nos EUA.

“É uma oportunidade de realmente expressar uma posição em relação ao governo Trump, que ama odiar.

Além disso, muitos israelenses-americanos não apoiam Trump, e certamente o mesmo acontece com a

maioria dos judeus”, disse Ayelet Shuber, uma das organizadoras do evento.

O fato de as multidões se reunirem para marchar independentemente de raça ou credo envia uma

mensagem poderosa aos governantes, disse a Irmã Simone Campbell, diretora da NETWORK, grupo católico

que busca promover nos meios políticos a agenda da justiça social e que foi uma das que discursou

na Marcha das Mulheres.

Segundo disse, ela e outras irmãs “viajamos pelo país todo, encontramos muitas pessoas, mas tenho que

dizer que não vi nada como isso daqui: todas nós juntas em um único lugar”.

Como em Pentecostes, quando os apóstolos de Jesus se reuniram em um só lugar, assustados e com medo,

até que um vento poderoso “elevou a coragem e deixou as pessoas saberem que não estamos a sós, que

estamos juntas”, disse a religiosa.

“Estamos unidos e unidas independentemente das nossas crenças, independentemente da cor da nossa

pele, independentemente de quem definimos como próximos. Todos somos próximos uns dos outros, e

essa é a verdade profunda sobre a qual o nosso país foi edificado: somos as guardiãs das nossas irmãs;

somos as guardiãs dos nossos irmãos. É esta verdade que vai nos ajudar a costurar as brechas em nossa

sociedade. É esta verdade que vai nos curar da divisão econômica, onde aqueles no topo continuam tirando

mais daqueles que estão trabalhando pesado para gerar riqueza”.

Encontrar solidariedade nos números é importante, disse Kathy Tobin, membro da Paróquia de St. Joseph,

em Pinole, na Califórnia. Ela planejou participar na Marcha das Mulheres em San Francisco porque “a

marcha representa um modo de nos unir com outras pessoas que se opõem a tudo o que Donald

Trump defende. É difícil pensar que as marchas irão conseguir muita coisa diretamente, mas espero que

este grande número de manifestantes atraia a atenção para o fato de que existe uma grande força aqui

fora contra a pauta deste governo. O magistério católico valoriza a vida de todas as pessoas, e o

comportamento do novo presidente tem mostrado que ele quer ser o valentão com respeito aos outros,

principalmente com os menos afortunados”, disse Tobin.

Em San Francisco, a Marcha das Mulheres seguiu-se a um outro grande evento, a 13ª Caminhada Anual

pela Vida no Litoral Oeste. Estimava-se que 50 mil pessoas iriam participar na Caminhada pela Vida, com

um número igual de participantes sendo esperado para participar, poucas horas depois, da Marcha das

Mulheres na cidade.

Uma reportagem publicada no jornal San Francisco Chronicle disse que os organizadores dos dois eventos

mantiveram conversas entre si para evitar algum conflito.

“Nós realizamos a nossa marcha anual há 13 anos já, e hoje foi uma estranha coincidência”, disse ao

jornal EvaMuntean de San Francisco, um dos organizadores do Caminhada pela Vida. “Elas colocaram a

marcha delas na frente da nossa. Não gostamos disso (…), mas fazer o quê? Estamos em contato com o

pessoal de lá para coordenar as atividades, muito embora não concordemos nas ideias”.

“Certamente não estamos planejando nenhum problema”, disse Martha Shaughnessy, organizadora

da Marcha das Mulheres na cidade. Segundo ela, durante semanas houve uma formação sobre protestos

pacíficos em torno da Marchas das Mulheres que aconteceriam na região. “Estivemos no nosso o limite, o

que é um bom sinal” Shaughnessy. “O que realmente queremos que seja reconhecido aqui é que estamos

todos e todas enfrentando o mesmo tipo de pressão e dor. Por isso é importante criamos uma sintonia em

todos os temas debatidos”.

Rosa King, estudante de pós-graduação na Santa Clara University, disse em entrevista que a Marcha das

Mulheres é um “exemplo perfeito dos ensinamentos católicos sobre justiça social transformados em ação.

Nós, como americanos e americanas, precisamos ser solidários uns com os outros para pedir pelas

mudanças positivas necessárias que cada um quer ver. A Marcha das Mulheres mostra ao mundo que não

estaremos divididas, que a vida humana é sagrada e que deve ser tratada com dignidade e respeito”.

“Quero que minha voz seja ouvida, que minha vida importe, como mulher afro-latina, imigrante e feminista

com orgulho”, disse.

A Irmã Cathy Cahur, 88, membro das Irmãs da Caridade de Cincinnati, esteve entre as que marcharam

em San Francisco, onde ela atuou, durante muitos anos, como conselheira espiritual de viciados. Segundo

ela, a Marcha das Mulheres alinha-se com os valores de sua comunidade, ao “trabalhar para o testemunho

da presença ativa e amorosa de Deus, ao escolher agir de forma justa, construir relações, compartilhar

recursos com os necessitados e cuidar de toda a criação. Portanto irei marchar para dar a minha parte no

apoio da mensagem vibrante e esperançosa de Deus”.

INSTITUTO HUMANITAS

A reforma trabalhista que estimula conflito e judicialização

As mudanças propostas para as leis trabalhistas seriam mínimas e até justificariam uma reflexão mais

detida, ou certamente a expectativa de que empregados e empregadores a elas gradualmente se

acomodassem, não fosse a confusa e mal disfarçada tentativa de revogar, pela atuação de sindicatos não

raro debilitados por sistema sindical parcialmente esclerosado ou pela crise de empregabilidade, direitos

historicamente conquistados e convertidos em preceitos constitucionais ou legais no Brasil e em tantos

países que investem na evolução de seu patamar civilizatório por meio da afirmação dos direitos sociais.

Há aspectos positivos no projeto de lei que é encaminhado ao Congresso Nacional, a exemplo da elogiável

intenção de elevar as multas administrativas aplicáveis aos empresários que deliberadamente descumprem

as obrigações trabalhistas.

Também parece justa a pretensão de igualar o período de férias dos empregados contratados a tempo

parcial aos empregados com jornada integral; e é bem aventurada, a meu sentir, a proposta de modificar os

artigos 2º e 19 da Lei 6.019/1974 para finalmente permitir que o trabalhador temporário possa ser

diretamente contratado pela empresa tomadora dos serviços, sem a (onerosa) terceirização a que se

obrigavam os empregadores há mais de quarenta anos – e, nesse ponto, de modo a permitir que as

empresas de trabalho temporário se consolidem no mercado como uma alternativa (não imposta) de

gestão empresarial, à semelhança do que sucede em vários países europeus.

Afora esses aspectos, e desafortunadamente, o projeto de lei encaminhado pelo Poder Executivo não

dissimula o interesse de entregar à generalidade dos sindicatos o poder de reduzir direitos

trabalhistas instituídos recentemente em nossa ordem normativa.

É curioso notar que não houve, por parte da Presidência da República, algum esforço para tentar

reestruturar o sistema sindical brasileiro, que data do início do século passado e preserva regras de

investidura e financiamento de entidades sindicais forjadas para atender a um modelo corporativo e

autoritário que, naquele tempo, inseria os sindicatos como órgãos do Estado e por isso os queria únicos por

categoria e base territorial, além de sustentados por imposto que é hoje eufemisticamente chamado de

contribuição sindical.

Há de se ponderar que não é fácil mexer nessa estrutura, de origem fascista, sem comprometer a força de

sindicatos que, apesar dela ou sabendo valer-se de suas pontuais virtudes, revelam-se idôneos e com

inquestionável capacidade de negociação, a exemplo do que ocorre a metalúrgicos, bancários,

petroquímicos, postalistas, aeronautas e tantos outros.

O que não se pode esconder é que, segundo o IBGE (censo 2001/2002), metade dos sindicatos brasileiros

jamais participou de negociação coletiva e sobrevive, portanto, essencialmente para arrecadar a

contribuição sindical obrigatória.

A esses sindicatos de fachada, em número tão expressivo, também se estaria entregando a tarefa de

suprimir ou reduzir direitos que a lei considera indisponíveis porque afetos ao valor social da livre iniciativa

e à existência digna – princípios jurídicos que os artigos 1º, IV e 170 da Constituição consagra e associa ao

postulado universal da dignidade humana.

Uma pergunta inevitável: de quando datam os direitos trabalhistas que o novo art. 611-A da CLT, segundo o

projeto de lei enviado pelo Poder Executivo, propõe sejam flexibilizados? A resposta pode surpreender: as

regras sobre férias remontam a 1977, com mudanças importantes por meio da ratificação pelo Brasil da

Convenção 132 da OIT (em 1999) e também de alterações na CLT ocorridas em 2001.

Os artigos da CLT que tratam de jornada e do banco de horas foram introduzidos pela Lei 9.601, de 1998. A

Lei 10.101, que regula a participação em lucros e resultados, foi editada no ano 2000. As horas de

deslocamento, ou horas in itinere, foram convertidas em lei em 2001, após longa evolução jurisprudencial.

Os dispositivos da CLT que versam sobre intervalo intrajornada sofreram ajustes a partir de 1994. Em rigor,

data de 1943, ou de antes disso, apenas o modelo monista de organização sindical, cujo aperfeiçoamento

não parece interessar – malgrado a ele se pretenda oferecer a prerrogativa de promover o derretimento

dos direitos previstos em lei.

Sob enfoque acadêmico, a escolha dos direitos que poderiam ser flexibilizados, a partir do dispositivo (art.

611-A) proposto no citado projeto de lei, parece um convite à formação de novos litígios. A começar pela

cabeça do artigo, que prediz terem as convenções e acordos coletivos “força de lei” quando tratarem de

tais ou quais temas. Na verdade, as convenções e os acordos coletivos sempre têm a mesma força da lei em

relação a todos os temas, e vice-versa.

Com base no caput do art. 7º da Constituição, prevalecerá sempre a norma que mais tenha avançado na

proteção do trabalhador quando duas ou três dessas normas houver regulado, por exemplo, “trabalho

remoto”, “remuneração por produtividade” ou “registro da jornada de trabalho”.

Para não incorrer nesse erro reducionista, o art. 3º.3 do Código de Trabalho português preferiu enumerar

os direitos que não podem ser afastados por regulamentação coletiva (entre eles incluindo a duração diária

e semanal do trabalho e o tempo de intervalos ou de repouso, inclusive férias) em vez de catalogar, como

faz o projeto de lei ora comentado, os direitos que podem ser regulados por norma coletiva. Todos podem.

O que às vezes não parece percebido, pelos arautos da reforma trabalhista no Brasil, é que leis e normas

coletivas, indistintamente, submetem o seu conteúdo, aqui e no resto do mundo ocidental, ao exame

de validade pelo Poder Judiciário (como aliás reconhece o texto proposto para o art. 611-A, §4º). Só o

mundo do trabalho permite que a eventual inapetência ou demora do legislador estatal seja suprida pela

autodeterminação dos atores sociais, por meio de norma genérica e abstrata.

Não há novidade, portanto, na ênfase ao “princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade

coletiva”, salvo se o interesse for o de desvirtuar a finalidade do direito à proteção por normas coletivas de

trabalho e precarizar, por essa engenhosa via, a tutela do trabalhador que participa, por vocação ou por

instinto de sobrevivência, da relação sempre assimétrica de emprego.

O primeiro direito a ser flexibilizado, pela proposta do Poder Executivo, seriam as férias, especialmente

quanto à possibilidade de serem partidas em três pedaços, um deles equivalente a duas semanas. A

exigência de que um dos períodos de ferias seja de no mínimo duas semanas revela a fonte de inspiração

do governo: a Convenção 132 da OIT – Organização Internacional do Trabalho.

O Brasil ratificou a Convenção 132 da OIT e isso a faz revestida de supralegalidade, segundo o STF. Em seu

art 8.1, a Convenção 132 autoriza o fracionamento de ferias somente mediante autorização "pela

autoridade competente ou pelo órgão adequado de cada país". Difícil entender que lei ordinária poderá

revogar essa regra supralegal, ou seja, hierarquicamente superior a qualquer lei.

Outro direito passível de flexibilização seria o “cumprimento da jornada de trabalho, limitada a duzentas e

vinte horas mensais”. Não entenderam, tudo indica, que o empregado recebe 220 horas por mês porque

nelas estão incluídas as horas de labor e igualmente as horas de repouso remunerado (em domingos e

feriados). O cálculo é muito simples: 44 h/sem ÷ 6 dias/sem = 7,33 h/dia x 30 dias/mês = 220 horas/mês.

Ao multiplicar por 30 (dias/mês), apura-se, portanto, a quantidade de horas trabalhadas e também as de

repouso remunerado. Não há fórmula matemática que permita trabalhar-se 220 horas/mês sem

extrapolar-se o limite de 44 horas/semana estabelecido pelo art. 7º, XIII, da Constituição. O mês, no

calendário gregoriano, não pode ter mais de 31 dias e, portanto, contém no máximo 4,4285 semanas (31 ÷

7), o que equivale ao máximo de 194,85 horas de trabalho (4,4285 x 44 h). Supõe-se que o projeto de lei

não pretenda derrogar o limite constitucional de 44 horas de trabalho semanais, nem a lógica aritmética.

A Justiça do Trabalho tem validado cláusulas normativas que dispõem sobre horas in itinere (ou horas de

deslocamento casa/trabalho) ou sobre progressões horizontais (não se sabe por que o projeto de lei trata o

“plano de cargos e salários” como se não fosse ele uma espécie de “regulamento empresarial”) sempre que

não resvalam para além dos lindes do absurdo, ou da razoabilidade, a exemplo de cláusulas que reduzem a

quinze minutos o tempo de cinco horas de deslocamento casa/trabalho (sem transporte público) ou de

cláusulas que autorizem o empregador a violar acintosamente o princípio da isonomia ao promover, sem

qualquer critério objetivo (único ou alternativo), alguns empregados em detrimento de outros que, até

mais antigos, prestam serviço em iguais condições. Espera-se que o projeto de lei não pretenda legitimar o

abuso patronal, onde houver.

A existência de cláusula que defina quais os direitos que continuarão vigorando (ou seja, revestir-se-ão de

ultra-atividade) após o termo final de vigência da convenção ou do acordo coletivo deve mesmo ser

estimulada, como pretende o projeto de lei. Isso não impede que a ultra-atividade prevaleça sempre que a

norma coletiva for omissa.

Assim está consagrado na Súmula 277 do TST e acontece em inúmeros países que valorizam e incentivam a

negociação coletiva (se não há ultra-atividade, o empregador obtém a revogação de todos os direitos

historicamente conquistados pela categoria pelo só fato de recusar-se a participar da negociação coletiva

de trabalho).

Alguns direitos que foram incluídos entre os susceptíveis de flexibilização carecem de algum

esclarecimento: se a participação em lucros e resultados não pode ser paga em mais de duas parcelas no

mesmo ano civil (art. 3º, §2º da Lei 10.101/2000), como poderia o mesmo acordo coletivo que instituiu a

PLR estabelecê-la mediante pagamentos “não inferiores a duas parcelas”?

Se é de fato rigorosa a adesão ao Programa de Seguro-Emprego (Lei 13.189/2015), pode a convenção ou o

acordo coletivo relativizar esse rigor e assim onerar as finanças públicas sem observar o princípio da

legalidade? Há realmente “banco de horas” se está prevista a conversão em hora extra do tempo

excedente da jornada legal?

Vale a pena citar ainda a previsão de que o intervalo intrajornada poderá ser de apenas trinta minutos, se

assim dispuser norma coletiva. O art. 71 da CLT, não sendo derrogado, continuará condicionando a redução

do intervalo mínimo de uma hora à fiscalização do Ministério do Trabalho – hoje encimado pelo governo

que apresentou o projeto de lei – a fim de o órgão fiscalizador verificar se a redução do intervalo dá-se em

empresa que oferece refeitório e condições adequadas, sem cobrança de horas extras, ou seja, sem

prejuízo da saúde física e psicológica do trabalhador; fora isso, teremos sindicatos débeis ou debilitados

que ajustarão jornada extraordinária e exaustiva, com meia hora de intervalo, em troca de um fardo de

potes energéticos, talvez de um vale-jazigo.

A propósito, o projeto de lei prevê a exigência de cláusula compensatória explícita sempre que

flexibilizados direitos trabalhistas relacionados ao salário ou à jornada, inclusive quando envolverem a

prorrogação de turnos ininterruptos de revezamento. Bons auspícios!

A medida está em consonância com copiosa jurisprudência que entende nula tal flexibilização quando

evidenciado que não houve qualquer contrapartida em favor dos trabalhadores. A anulação da cláusula

compensatória quando anulada a cláusula de flexibilização atende ao princípio da equidade e, a meu ver, a

proposta, no que toca à relativização de direitos indisponíveis, poderia ter-se resumido a esse ponto.

É uma pena, enfim, que a Exposição de Motivos da proposta governamental faça remissão ao art. 7º, XXVI,

da Constituição, este a consagrar o direito fundamental de trabalhadores a convenções e acordos coletivos

de trabalho. As normas coletivas servem à melhoria da condição social do trabalhador urbano ou rural,

conforme enuncia o art. 7º, caput, da Constituição.

Somente uma interpretação pedestre de tal preceito (art. 7º, XXVI, da CRFB) poderia conduzir à exegese de

que haveria, por simetria, um direito fundamental de empresas reduzirem ou eliminarem direitos

trabalhistas por meio de normas coletivas que estariam imunes à análise de sua validade, inclusive quanto

à conformidade com os valores e princípios constitucionais. Embora pareça démodé, dá-se ao emissor da

proposta a presunção de inocência.

*Augusto César Leite de Carvalho é ministro do Tribunal Superior do Trabalho e professor de Direito do

Trabalho no Instituto de Educação Superior de Brasília, na pós-graduação da UnB e no Mestrado em Direito

da Universidade Autônoma de Lisboa. Mestre em Direito Constitucional e Doutor em Direito das Relações

Sociais)

Fonte: Carta Capital

Acidentes de trabalho matam 600 mil

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) registrou 612.632 acidentes de trabalho em todo o país no

último ano Publicada em 16/01/2017 08:46:35 Todos os anos, milhares de trabalhadores são vítimas de

acidentes de trabalho no Brasil. A grande maioria é causada pela desatenção e pelo falta de uso de

equipamentos de proteção, tanto individual, quanto coletivo. Segundo o anuário da Previdência Social, o

Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) registrou 612.632 acidentes de trabalho em todo o país no último

ano. Desse total, aproximadamente 2,5 mil trabalhadores morreram, resultando em um custo de mais de

R$ 32 bilhões aos cofres públicos. Para o Sindicato dos Técnicos em Segurança do Trabalho, esses dados são

alarmantes; por isso, a necessidade de se discutir a importância do uso dos equipamentos de segurança e

da presença de um profissional da área nas empresas. ―As recomendações precisam ser seguidas

corretamente, de forma a evitar acidentes, tanto leves quanto fatais, sobretudo na área da construção civil,

que registra o maior número de casos de acidentes‖, comenta Anderson Braga, mantenedor do CETTPS,

centro de referência em ensino técnico localizado em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. Por

setor de atividade, a indústria respondeu por 41,09% dos acidentes registrados com CAT (Comunicação de

Acidente de Trabalho). Pela lei, empresas com mais de 50 funcionários precisam ter um técnico em

segurança do trabalho, para que ele possa orientar os trabalhadores e oferecer melhores condições e

equipamentos. ―Tem pessoas que não usam EPis porque dizem que incomoda, mas elas precisam

entender que esses equipamentos são para a segurança do trabalhador. Infelizmente, o hábito de não usar

é algo comum, principalmente aqui no Nordeste. A empresa é obrigada a fornecer os equipamentos e, em

contrapartida, o colaborador é obrigado a utilizar. Assim se evitam graves problemas‖, ressalta Anderson.

FONTE: PORTAL NACIONAL DE SEGUROS

Empregador responde por acidente com ônibus terceirizado de funcionários

Um acidente durante o transporte de funcionários para o local de trabalho é de responsabilidade do

empregador, e não apenas da empresa contratada para fazer o traslado.

Com esse entendimento, a 2ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho não conheceu de recurso de uma

empresa do setor de óleo e gás contra decisão que a responsabilizou por acidente ocorrido em ônibus

contratado pela empresa para transporte de funcionários. Ela terá de pagar R$ 10 mil de indenização a um

caldereiro que desenvolveu patologia na mão direita devido ao acidente.

Segundo o processo, o veículo com 40 funcionários estava acima da velocidade permitida quando passou

bruscamente sobre um quebra-molas, fazendo com que o trabalhador, sentado na parte de traz do

coletivo, fosse arremessado para o alto. Na queda, acabou lesionando a mão direita. O empregado, que

também acionou a empresa de ônibus no juízo cível, requereu, na Justiça do Trabalho, a responsabilização

da empregadora pelo acidente que ensejou a incapacidade laborativa para a função.

A empresa de óleo e gás alegou que a condenação é indevida, pois a culpa do infortúnio é exclusivamente

da empresa contratada. No entanto, a 2ª Turma, por maioria de votos, vencido o relator do recurso,

ministro Renato de Lacerda Paiva, manteve a responsabilidade objetiva da empregadora. O relator

apresentou voto favorável à exclusão da responsabilidade objetiva e da condenação da empresa, mas o

ministro José Roberto Freire Pimenta, em voto divergente acompanhado pela ministra Delaíde Miranda

Arantes, considerou que a decisão deveria ser mantida, pois "a [empregadora], ao contratar empresa

especializada para a locomoção de seus funcionários, assume o ônus pelo transporte e os riscos de

eventuais acidentes ocorridos no trajeto, ainda que por culpa exclusiva de terceiro". Com o voto relator

vencido, o ministro Freire Pimenta foi designado redator do novo acórdão. Vítima de terceiro Em caso

semelhante, o Tribunal Regional da 15ª Região (Campinas-SP) teve entendimento diferente e negou

recurso a um trabalhador rural que pediu indenização por danos morais e materiais, a ser paga pela

empresa onde trabalhava, depois de sofrer acidente no trajeto para o trabalho.

Segundo a decisão da 10ª Câmara, o caso é "típica hipótese de fato de terceiro, circunstância que rompe o

nexo causal entre o prejuízo suportado pela vítima e a conduta praticada pela reclamada (no caso, seu

preposto), pressuposto do dever de indenizar". A decisão colegiada afirmou ainda que o motorista foi

"também uma vítima da conduta equivocada do motorista do caminhão — terceiro". Com informações da

Assessoria de Imprensa do TST. Processo 112000-80.2008.5.01.0204 Fonte: Correio da Manhã

Argentina: Trabalhadores gráficos demitidos continuam em protesto

Cerca de 400 trabalhadores argentinos da central de impressão de Artes Gráficas Rioplatenses (AGR) do

Grupo Clarín continuam hoje pelo quinto dia em protesto após serem demitidos e exigem falar com o

ministro de Trabalho, Jorge Triaca, para tentar resolver a disputa.

Ontem, centenas de membros de organizações sociais, partidos políticos e sindicatos saíram às ruas em

uma manifestação desde o Obelisco até a sede do ministério para apoiar os agora desempregados.

Ali, uma parte do grupo foi recebida pelo secretário de Trabalho, Ezequiel Sabor, e pediram a reabertura da

oficina, o pagamento da quinzena trabalhada e a ordem de uma conciliação obrigatória, informou o portal

Infonews.

Mas as conversas se travaram e não houve uma resposta positiva. Os trabalhadores decidiram seguir com a

medida de força e, como vieram fazendo, continuarão com a ocupação pacífica da empresa, no bairro de

Pompeya, enquanto convocaram um festival no sábado.

'Unidade de todos os trabalhadores', 'vai acabar, vai morrer a ditadura do Clarín', gritava um grupo de

manifestantes que encabeçaram a marcha contra as demissões nessa empresa ontem.

A situação tem sido muito tensa e inclusive na última terça-feira os funcionários foram duramente

reprimidos pela força policial com gases, balas de borrachas e jatos de água enquanto tentavam entrar no

local.

Ontem, também foi realizada uma paralisação total dos trabalhadores desse setor em todo o país,

convocado pela Federação Gráfica Bonaerense.

Os operários demitidos mantêm-se em pé de luta e esperam uma resposta à decisão tomada pela empresa

que emitiu em um comunicado que as demissões em sua instalação gráfica se devem à 'forte

reconfiguração que atravessa o setor da impressão comercial'.

No entanto, os trabalhadores afirmam que o fechamento é 'trucho' (falso) e a companhia leva adiante uma

chantagem para impor condições de flexibilização trabalhista.

PRENSA LATINA

A escravidão não acabou

Com um adiantamento que podia chegar a cerca de 60 reais, dezenas de trabalhadores rurais foram

seduzidos na década de 1990 para capinar juquira na Fazenda Brasil Verde, no Sul do Pará. Essa espécie de

mato, conhecida por incomodar fazendeiros na criação de gado, foi a principal razão para um dos casos

mais simbólicos de flagrante de trabalho escravo na história do País. No último mês de dezembro, enfim, a

consequência: o Brasil foi a primeira nação a ser condenada pela Corte Interamericana de Direitos

Humanos por não prevenir a prática de trabalho escravo moderno e de tráfico de pessoas.

Sobraram evidências para a responsabilização do Estado brasileiro no caso. Além de serem ameaçados caso

abandonassem o emprego, os trabalhadores resgatados nesse local dormiam em barracões cobertos de

plásticos e palha, sem proteção lateral, o que permitia a entrada de chuva e ventos durante a noite.

Também não havia cama, o “alojamento” era de redes.

E a água, imprópria para consumo, assim como a alimentação oferecida. Isso não impedia que os

trabalhadores rurais tivessem essas “despesas” descontadas de seus vencimentos, que nunca chegavam a

ser pagos de fato. Ao todo, somente nessa fazenda, mais de 300 trabalhadores foram resgatados, entre

1989 e 2002.

Foi para combater situações como essa que o Brasil começou a publicar, em 2003, o “Cadastro de

Empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à de escravo”, mais conhecida

como a Lista Suja do Trabalho Escravo, que reúne nomes de empresas ou pessoas que colocaram

trabalhadores em situações degradantes ou forçadas de trabalho. Essa importante ferramenta,

reconhecida internacionalmente, não foi publicada, no entanto, pelo governo Michel Temer no último ano,

o que pode sinalizar um retrocesso maior a caminho.

A gestão peemedebista aproveitou-se de uma decisão judicial já revista para, simplesmente, ignorar a

existência desse cadastro. Isso porque em 2015, durante o recesso de fim de ano, o ministro Ricardo

Lewandowski, então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu liminarmente e de forma

monocrática o pedido da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) para suspender a

publicação. A Abrainc representa as principais construtoras do País e está sob comando, atualmente, da

MRV Engenharia.

A medida cautelar foi cassada, entretanto, pela ministra Cármen Lúcia, em maio de 2016 e o Ministério do

Trabalho foi liberado para voltar a divulgar o cadastro há mais de oito meses. Mas nenhuma lista foi

oficialmente divulgada até agora. A decisão do Supremo levou em conta uma nova portaria interministerial,

publicada no apagar das luzes do governo Dilma Rousseff, para driblar o impasse.

Na prática, a portaria flexibiliza as regras de manutenção do cadastro de empregados. Por essa mudança,

as empresas flagradas com trabalhadores em condições análogas à escravidão passam a figurar em uma

nova lista se firmarem um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) ou acordo judicial com a União. Isso

significa que, desde então, o governo poderia publicar duas listas: uma com empresas que se

comprometeram a solucionar o problema e outra com as que não mostraram intenção de tomar

providência alguma.

Ainda assim, desde que assumiu, o governo Michel Temer ignora essa possibilidade. A omissão deliberada

fez com que o Ministério Público do Trabalho ajuizasse uma ação civil pública para obrigar o governo

federal a voltar a atualizar o cadastro de empregadores envolvidos com escravidão. No dia 19 de

dezembro, o juiz Rubens Curado Silveira, da 11ª Vara do Trabalho de Brasília, reconheceu a importância do

tema e determinou que uma nova lista fosse publicada em até 30 dias, a partir do momento em que o

governo fosse notificado da decisão.

Na decisão, Silveira lembrou justamente o caso da Fazenda Brasil Verde. “Esse foi o primeiro caso decidido

pela CIDH [Corte Interamericana] sobre escravidão e tráfico de pessoas, o que acabou por colocar a

República Federativa do Brasil no 'banco dos réus' do plano internacional", observa o magistrado.

"Nesse cenário, revela-se ainda mais preocupante a omissão atacada, pois sinaliza um retrocesso

injustificado no trato do tema em uma quadra da história em que o Estado brasileiro deveria, em resposta à

condenação que lhe foi imposta, redobrar os esforços em busca da extinção definitiva do trabalho escravo

em seu território”.

Para Tiago Muniz Cavalcanti, procurador do Trabalho e um dos autores da ação, essa postura marca o

retrocesso de políticas públicas até então elogiadas por órgãos como a Organização das Nações Unidas

(ONU) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT). “A publicação da Lista Suja é uma política de Estado

e não uma política de governo. O combate ao trabalho escravo tem de continuar”, critica. “Essa postura

omissiva vem desde maio para cá e não existe justificativa para isso.”

Além de uma ferramenta de defesa dos direitos humanos, a Lista Suja também era uma referência para o

mercado e bancos na hora de conceder financiamentos ou fazer negócios com determinadas empresas.

Mesmo instituições privadas utilizavam o cadastro feito pelo Ministério do Trabalho antes de concluir

operações de crédito para companhias. A decisão do governo federal de impedir o acesso a essa lista

coloca todas as empresas no mesmo patamar.

“Para além dos direitos humanos e da questão de acesso à informação e liberdade de imprensa há a

questão muito clara de mercado (para a publicação da lista). É por isso que as empresas sérias querem essa

informação, é uma questão de risco. O mercado brasileiro aprendeu que só tem a ganhar ao gerenciar esse

risco, não é fazer com que as empresas percam negócios”, alerta o jornalista e presidente da ONG Repórter

Brasil, Leonardo Sakamato.

Atualmente, é a ONG presidida por ele que tem conseguido obter e divulgar a Lista Suja com a ajuda da Lei

de Acesso à Informação. A última foi obtida em junho do ano passado e apresenta 349 nomes de

empregadores.

Para a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a postura do governo federal não encontra respaldo nem mesmo

entre a classe empresarial do País. “Existe um grupo majoritário que não quer ser confundido com os

escravagistas, porque isso pode fechar o acesso de um produto a determinado país vizinho ou cadeia

produtiva no exterior”, enfatiza o Frei Xavier Plassat, coordenador da Campanha contra o Trabalho Escravo

da CPT.

As vozes pela atualização da lista não vêm apenas de organizações de combate ao trabalho escravo e do

Ministério Público, a ONU também fez a mesma recomendação ao Brasil. No ano passado, o órgão lançou

um artigo técnico de posicionamento sobre o tema, em antecipação às comemorações do Dia do

Trabalho. Para evitar retrocessos nas conquistas alcançadas pelo Brasil, o documento da ONU faz uma série

de recomendações, entre elas a reativação da chamada "Lista Suja" e a manutenção do conceito atual de

“trabalho escravo”, previsto no Código Penal Brasileiro.

"Nota-se uma crescente tendência de retrocesso [no Brasil] em relação a outras iniciativas fundamentais ao

enfrentamento do trabalho escravo, como por exemplo, o Cadastro de Empregadores flagrados explorando

mão de obra escrava, comumente reconhecido por 'Lista Suja', que foi suspenso no final de 2014", registra

a organização.

Nada disso comove o ministro Ronaldo Nogueira, do Trabalho, mal assumiu a pasta, avisou a interlocutores

que não iria publicar a lista. A secretária Especial dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça e

Cidadania, Flávia Piovesan, que tem capitaneado todas as ações sobre o assunto, em novembro anunciou a

coordenação de um Pacto Federativo para Erradicação do Trabalho Escravo com o estado do Pará, a

unidade da Federação com o maior número de casos. Nogueira enviou seu secretário-executivo, Antonio

Correia de Almeida, para a cerimônia, mas a assessoria de comunicação do ministério mal registrou o fato

em seu site.

Não está claro se a postura decorre de uma decisão particular do ministro, ou se há algum tipo de

orientação vinda do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Em dezembro, uma operação das polícias

Militar, Civil e Ambiental de Mato Grosso, que investiga desmatamento ilegal, encontrou em péssimas

condições as acomodações de empregados em uma fazenda de Padilha, em Mato Grosso, e encaminhou as

imagens ao Ministério Público do Trabalho, diante da suspeita de trabalho análogo à escravidão.

Pressões de empresas do setor da construção civil, de parlamentares ou até mesmo de ministros por conta

da repercussão negativa da Lista Suja do Trabalho Escravo não são novidades no País. Esse tipo de relato

também era comum nas gestões petistas e encontrava conivência, inclusive, entre parlamentares do PT e

integrantes do governo Dilma. No entanto, a postura da gestão Temer, mesmo com vozes dissonantes

como a de Flávia Piovesan, pode sinalizar mudanças mais preocupantes.

Há algum tempo que integrantes da bancada ruralista tentam abrandar no Congresso a definição de

trabalho escravo, com o objetivo de impedir que flagrantes de trabalho em condições desumanas seja

enquadrado nessa prática. Um dos patrocinadores desse ponto de vista é justamente o líder do governo no

Congresso, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que foi ministro de Temer.

Em 2014, quando os congressistas discutiam a PEC do Trabalho Escravo, Jucá tentou emplacar sua tese sob

o argumento de que os termos utilizados para a identificação de trabalho escravo eram “genéricos”. “O que

é sumamente revoltante para alguns pode não o ser para outros”, amenizava no texto de seu projeto.

“Principalmente porque as condições de trabalho em geral não são lá essa maravilha nos campos distantes,

nas minas, nas florestas e nas fábricas de fundo de quintal.”

Fonte: Carta Capital

Donos da Globo estão entre as oito pessoas que têm mais de metade da riqueza do país

Apenas os três irmãos Marinho, herdeiros do grupo Globo, e mais cinco homens possuem juntos a mesma

riqueza que mais de 100 milhões de brasileiros, que representam mais da metade da população do país. A

fortuna acumulada pelos oito brasileiros mais ricos em 2016 é estimada em R$ 285,8 bilhões, segundo a

revista Forbes. A conclusão foi divulgada ontem (16), no Fórum Econômico Mundial, na Suíça, pela ONG

Oxfam, no estudo Uma economia humana para os 99%.

Completam a lista dos mais ricos do Brasil, pela ordem: Jorge Paulo Lemann (sócio da Ambev e dono da

Budweiser, Burger King e Heinz); Joseph Safra (dono do banco Safra); Marcel Herrmann Telles (sócio da

Ambev e também dono da Budweiser, Burger King e Heinz); Carlos Alberto Sicupira (outro sócio da Ambev

e dono da Budweiser, Burger King e Heinz); Eduardo Saverin (cofundador do Facebook); e João Roberto

Marinho (herdeiro do grupo Globo).

Na sexta posição da lista, João Roberto está empatado com seus irmãos José Roberto e Roberto Irineu

Marinho, cada um dono de um patrimônio avaliado em R$ 13,92 bilhões. Se incluísse os três – patrimônio

de quase R$ 42 bilhões –, a lista teria oito bilionários com ainda mais riqueza concentrada.

A profunda desigualdade brasileira é similar ao que acontece em âmbito mundial. De acordo com o estudo

apresentado pela Oxfam, apenas oito homens possuem a mesma riqueza que os 3,6 bilhões de pessoas da

metade mais pobre da humanidade.

Para Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam, os grandes negócios e os indivíduos mais ricos do mundo

estão se aproveitando da crise econômica, pagando menos impostos, reduzindo salários dos trabalhadores

e influenciando a política de seus países em benefício próprio.

Embora as fortunas de alguns bilionários possam ser atribuídas ao seu trabalho duro e talento, a análise da

Oxfam para esse grupo indica que um terço do patrimônio dos bilionários do mundo tem origem em

riqueza herdada, enquanto 43% podem ser atribuídos ao favorecimento ou nepotismo”, diz o documento.

O documento associa ainda a concentração de riqueza à remessa de fortunas a paraísos fiscais, associada a

sonegação de impostos, e ao aumento do lucro de acionistas de empresas. Segundo a ONG, ocorre no

mundo um aumento vertiginoso de ganhos dos altos executivos, enquanto salários de trabalhadores não

mudaram ou até diminuíram.

"Em todo o mundo, empresas estão implacavelmente empenhadas em reduzir seus custos com mão de

obra – e em garantir que os trabalhadores e fornecedores da sua cadeia de abastecimento fiquem com

uma fatia cada vez menor do bolo econômico", afirma a ONG.

A constatação coincide com um fenômeno em curso no Brasil pós-impeachment. Enquanto os

controladores da Globo ostentam posição bilionária no ranking, os veículos da empresa dedicam seu

noticiário a defender projetos que reduzem direitos dos trabalhadores. A reforma da Previdência tem sido

alvo de séries de matérias especial nos telejornais e são frequentes editorias em defesa da "flexibilização"

de leis trabalhistas e condenando a política de valorização do salário mínimo.

Fonte: RBA

Governo Temer aprofunda redução do emprego no setor público

Apenas quatro empresas fecharam 30 mil vagas em três anos. Novos programas de demissão podem fazer

corte superar 55 mil

São Paulo – A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) abriu nesta semana um programa de

demissões voluntárias para o qual espera adesão de 8.200 funcionários, de um total aproximado de 117

mil, até meados de fevereiro. Planos de demissão ou de estímulo à aposentadoria em empresas públicas

têm sido comuns nos últimos anos, mas o atual governo caminha para aprofundar a redução de pessoal.

Desde 2013, segundo dados parciais, obtidos nos relatórios administrativos das próprias companhias,

apenas quatro das maiores empresas – Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, ECT e Petrobras –

fecharam 30 mil postos de trabalho. Com novos programas em curso ou por vir, esse total chega a

aproximadamente 55 mil.

A Petrobras fechou 2013 com 86.811 funcionários diretos. No terceiro trimestre do ano passado, último

dado disponível, estava com 71.152, um corte próximo de 16 mil postos de trabalho, ou 18%. A companhia

fez dois programas de incentivo ao desligamento voluntário (PIDVs), em 2014 e 2015. Alguns funcionários

ainda devem deixar a empresa, que reduziu investimentos e tem vendido ativos, em processo que os

petroleiros chamam de "desmonte" em favor do setor privado.

De 2013 para 2014, os Correios fecharam 5 mil vagas, de 125.420 para 120.461. A empresa continuou

reduzindo, e em abril do ano passado estava com 117.405 funcionários diretos, sendo 59.718 carteiros. No

PDV aberto agora, que vai até 17 de fevereiro, a empresa tem 17.700 trabalhadores considerados

"elegíveis", mas espera adesão de 8.200. O público é formado por funcionários com 55 anos ou mais e pelo

menos 15 anos de serviço. Sindicalistas apontam, como consequência, piora na qualidade dos serviços

prestados. Confirmadas as 8.200 adesões, o número de vagas fechadas desde 2013 vai superar 16 mil,

queda de 13% no emprego.

Outro alvo recente do "ajuste", a Caixa federal – que em 2013 chegou a contratar 8 mil funcionários,

dispensando 2.700 (incluindo aposentadorias) –, passou de 101.500, no ano seguinte, para 95.100 no

terceiro trimestre de 2016. A redução atingiu também estagiários e aprendizes, que foram de 16.300 para

14.800 no mesmo período. A meta do programa de demissões deve atingir de 8 mil a 10 mil trabalhadores.

Ainda no setor financeiro, o Banco do Brasil, já havia reduzido seu quadro de pessoas de 111.628

empregados, no final de 2014, para 109.159 até o terceiro trimestre do ano passado. E cortou mais de 9 mil

após programa aberto no final de 2016.

A holding Eletrobras manteve estável seu quadro de pessoal nos últimos anos, entre 22 mil e 23 mil

funcionários. No terceiro trimestre, tinha 22.989 (23.533 no ano anterior), sendo 15.583 operacionais e

7.406 administrativos, 4.556 na Chesf e 3.751 em Furnas. Mas também tem planos de redução.

Oxfam: 6 falsas premissas que impulsionam a desigualdade

Relatório aponta os discursos disseminados por corporações e super-ricos para influenciar políticas que os

favoreçam.

A reportagem é publicada por CartaCapital, 17-01-2017.

Divulgado na segunda 16, o último relatório da Oxfam revelou que só oito indivíduos (todos homens)

detêm a mesma riqueza que os 3,6 bilhões que fazem parte da metade mais empobrecida do planeta.

Além disso, o abismo entre ricos e pobres está aumentando em uma velocidade muito maior do que se

esperava, em parte devido às estratégias do topo da pirâmide econômica, habitado por grandes

corporações e os "super-ricos", utilizadas para influenciar políticas e garantir regras que os favoreçam,

mesmo que em detrimento do restante da sociedade.

"A atual economia do 1% baseia-se em uma série de falsas premissas que fundamentam muitas das

políticas, investimentos e atividades de governos, empresas e indivíduos ricos, e que não satisfazem as

necessidades de pessoas em situação de pobreza e da sociedade de uma maneira geral", afirma o estudo

da Oxfam.

O documento produzido pela ONG inglesa, que busca combater o aumento da desigualdade, elenca as

falsas seis premissas que acabam por acirrar o fosso entre ricos e pobres:

1 - O mercado está sempre certo e o papel dos governos deve ser minimizado

A crença inabalável no poder do mercado, aliada a uma visão negativa do papel do Estado na economia, é o

alicerce do neoliberalismo. Na verdade, diz o relatório, não existe confirmação de que o mercado seja o

melhor meio de organização para a vida em sociedade. Ao contrário. Para a Oxfam, os mercados precisam

ser cuidadosamente geridos, a fim de proteger os interesses das pessoas.

"Vimos como a corrupção, o favorecimento ou o nepotismo distorcem os mercados em detrimento de

pessoas comuns e como o crescimento excessivo do setor financeiro exacerba a desigualdade", diz o

estudo, lembrando da crise financeira de 2008.

Além disso, existem exemplos práticos de como a privatização de serviços considerados essenciais, como a

saúde, a educação ou o abastecimento de água, acaba por prejudicar os mais pobres, em especial, as

mulheres.

2 - Nas empresas, o lucro e o retorno para os acionistas deve estar acima de tudo

A minimização de custos fiscais e trabalhistas e a maximização da receita são consideradas a fórmula para

melhorar a rentabilidade das empresas e torná-las mais "eficientes".

No entanto, a busca pelo lucro acima de tudo e pelos maiores retornos possíveis aos acionistas acaba por

aumentar, de maneira desproporcional, a renda dos que já são ricos, ao mesmo tempo em que pressiona

negativamente trabalhadores, fornecedores, comunidades e o meio ambiente.

O estudo pede que as empresas busquem um "capitalismo sustentável", com geração de lucros razoável e

uma remuneração mais justa para os trabalhadores.

3 - A riqueza individual extrema é sinal de sucesso

O estudo defende que a concentração de renda nas mãos de poucos indivíduos é "economicamente

ineficiente, politicamente corrosiva e prejudicial para o nosso progresso coletivo". Embora existam

evidências contrárias, afirma a Oxfam, muitos ainda acreditam que chega-se ao topo da pirâmide

trabalhando duro e contando com uma boa dose de talento. Outra falsa premissa é que os super-ricos

contribuem para o crescimento econômico.

Dados do FMI citados pelo estudo revelam, porém, que países menos desiguais crescem mais e por mais

tempo. Por outro lado, países com muitos bilionários crescem mais lentamente.

4 - O crescimento do PIB deve ser o principal objetivo econômico

Considerada a ferramenta padrão para se dimensionar a economia de um país, a soma de todos os bens e

serviços produzidos por empresas, governos e indivíduos, isto é, o Produto Interno Bruto (PIB) foi

classificado pela revista The Economist como um "indicador de prosperidade problemático".

Por ser uma média, o índice não leva em consideração a desigualdade e, além disso, não computa o

trabalho doméstico não-remunerado realizado por uma enorme quantidade de mulheres no mundo todo.

O estudo cita a Zâmbia, cujo PIB está crescendo a taxas elevadas, justamente quando o número de pessoas

em situação de pobreza aumentou.

5 - Nosso modelo econômico é neutro em relação ao gênero

Outra premissa falsa é a de que não existem diferenças de classe, raça e gênero dentro do modelo

econômico vigente. Dentro desta lógica, os resultados alcançados por indivíduos são determinados

exclusivamente por suas habilidades e esforços. Essa linha de pensamento, afirma a Oxfam, leva, entre

outros, à perpetuação das distorções e das desigualdades de gênero.

"Modelos econômicos neoliberais não somente ignoram essas barreiras, mas também prosperam graças às

normas sociais que enfraquecem as mulheres. Países com grandes setores orientados para a exportação

são particularmente beneficiados por uma grande força de trabalho pouco qualificada e sem voz. Muitos

desses trabalhos são reservados às mulheres devido à sua “desvantagem competitiva”, afirma o estudo.

Além de tradicionalmente ocuparem cargos e funções com remuneração mais baixa, as mulheres recebem,

em média, salários 23% menores do que os dos homens na mesma função e são massivamente

responsáveis pelo trabalho doméstico não-remunerado - "que não é contabilizado no PIB, mas sem o qual

as economias não funcionariam".

Segundo a ActionAid, as mulheres que vivem nos países em desenvolvimento poderiam somar 9 trilhões de

dólares a suas rendas caso seu salário e acesso a trabalho remunerado fossem iguais aos dos homens

Além disso, cortes nos serviços públicos, na segurança no emprego e em direitos trabalhistas costumam

afetar a força de trabalho feminina de maneira desproporiconal.

6 - Os recursos do nosso planeta são ilimitados

As consequências negativas do modelo econômico atual não atinge apenas a raça humana. Tal modelo,

baseado na exploração sem limites do meio ambiente, parte da premissa de que os recursos naturais são

ilimitados e devem ser explorados ao bel-prazer de empresas e governos. No entanto, esse modelo

"colabora intensamente" para a ocorrência de mudanças climáticas descontroladas.

"A ênfase cada vez maior na maximização dos lucros e retornos de curto prazo agrava a cegueira ambiental

das nossas economias, uma vez que qualquer perspectiva de longo prazo é suprimida", diz o relatório.

Segundo estimativas da Oxfam, os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por metade de

todas as emissões globais de gases que agravam o aquecimento global. No entanto, as consequências mais

graves das mudanças climáticas (como eventos extremos) serão sentidas pelas comunidades mais pobres.

INSTITUTO HUMANITAS

Sobre salários e empregos

As lições de Keynes não chegam aos ouvidos de quem nos empurra ladeira abaixo da depressão.

O artigo é de Luiz Gonzaga Belluzzo e Gabriel Galípolo, economistas, publicado por CartaCapital, 18-01-

2017.

Eles informam que “a Alemanha introduziu, em 2015, seu primeiro salário mínimo na história. O premier

japonês, Shinzo Abe, defendeu aumentos de 3% ao ano para o salário mínimo. No fim de 2016,

a Finlândia anunciou um sistema de renda mínima universal de, aproximadamente, 2 mil reais por mês,

que, após um período inicial de testes com 2 mil cidadãos, seriam distribuídos igualmente para todos.

A Holanda planeja testar um programa similar em 2017. O apoio a programas de renda mínima cresce

na Europa em decorrência do baixo crescimento econômico e ampliação da desigualdade, especialmente a

partir da crise de 2008”.

Eis o artigo.

Lá se vão 81 anos desde que John Maynard Keynes se debruçou sobre os dogmas que aprisionavam e ainda

aprisionam as mentes e os corações de alguns economistas, os praticantes da Ciência Triste.

Em sua Teoria Geral, as relações entre salário e emprego ocupam papel central para a construção do

conceito de demanda efetiva. Pedimos licença ao caro leitor para citar descomedidamente a obra

do Mestre (agora de domínio público, mas há tempos ausente dos domínios de certos públicos):

“Não é muito plausível afirmar que o desemprego nos Estados Unidos, em 1932, tenha resultado de uma

obstinada resistência do trabalhador em aceitar uma diminuição dos salários nominais, ou de uma

insistência obstinada de conseguir um salário real superior ao que permitia a produtividade do sistema

econômico...

O trabalhador não se mostra mais intransigente no período de depressão do que no de expansão, antes ao

contrário... A quantidade de mão de obra que os empresários resolvem empregar depende da soma de

duas quantidades, a saber: o montante que se espera seja gasto pela comunidade em consumo, e o

montante que se espera seja aplicado em novos investimentos. Essa soma é o que chamamos de demanda

efetiva...

A propensão a consumir e o nível do novo investimento é que determinam, conjuntamente, o nível de

emprego, e é este que, certamente, determina o nível de salários reais – não o inverso”.

Por aqui, na ladeira da depressão, cientistas tristes descem na contramão, empenhados em ressaltar as

benesses econômicas decorrentes da precarização do mercado de trabalho. Uns afirmam que os efeitos

recessivos do ajuste econômico poderiam ser suavizados pela elevação do trabalho informal.

Seus “testes empíricos” indicam que os resultados do ajuste são melhores em economias com alto grau de

informalidade, pois conferem ao desempregado a “possibilidade de manter” o nível de consumo no

exercício de uma atividade informal.

Outros, compungidos, insistem em celebrar uma rápida queda do salário real. Na visão de suas doutrinas,

quanto maior e mais rápida for a queda do salário real, menor será o aumento do desemprego. Conforme

nossos merencórios especialistas, nas economias de mercado as tristezas do desemprego pesam trágica e

inevitavelmente sobre os lombos dos assalariados.

Perversidade absolutamente suportável nos confortáveis escritórios dos especialistas e comentaristas.

Nesses ambientes refrigerados, a fé na interação “virtuosa” entre a queda dos ganhos e a preservação das

ocupações não é abalada pela observação do movimento que leva de cambulhada para o despenhadeiro o

emprego e os salários no mercado de trabalho tupiniquim.

Ao analisar a evolução do salário médio real de janeiro a setembro de 2010 a 2016 só há queda no valor

justamente em 2015 e 2016, anos em que o desemprego aumentou. A evolução do emprego formal

apresenta desaceleração desde 2010, mas apenas em 2015 apresenta saldo negativo: mais de 1,5 milhão

de demissões acima das admissões. De janeiro a novembro de 2016, o saldo negativo era superior a 850 mil

de empregos.

Robert Reich, secretário de Trabalho no governo Bill Clinton, publicou uma carta aberta aos republicanos,

endereçando-a aos capitães da indústria americana e titãs de Wall Street que financiam o partido: “Você se

esqueceu de que seus trabalhadores são também consumidores. Assim, ao mesmo tempo que você

empurrou os salários para baixo, também espremeu seus consumidores, tão apertados que eles

dificilmente podem comprar o que você vende”.

Reich tenta explicar que os salários, ademais de custo para as empresas, são também fonte de demanda,

que a formação da renda e da demanda agregadas dependem da disposição de gasto dos empresários com

salários e outros meios de produção que também empregam assalariados.

Ao decidir gastar com o pagamento de salários e colocar sua capacidade produtiva em operação ou decidir

ampliá-la, o coletivo empresarial avalia a perspectiva de retorno de seu dispêndio imaginando o dispêndio

dos demais.

Muitos países desenvolvidos estão recorrendo a políticas de salário mínimo e organizando experiências

com a renda básica para tentar atacar a desigualdade e o crescimento anêmico dos salários. No Reino

Unido, a previsão era de elevação dos salários dos trabalhadores de baixa renda quatro vezes mais rápida

que o salário médio no ano.

A Alemanha introduziu, em 2015, seu primeiro salário mínimo na história. O premier japonês, Shinzo Abe,

defendeu aumentos de 3% ao ano para o salário mínimo. No fim de 2016, a Finlândia anunciou um sistema

de renda mínima universal de, aproximadamente, 2 mil reais por mês, que, após um período inicial de

testes com 2 mil cidadãos, seriam distribuídos igualmente para todos.

A Holanda planeja testar um programa similar em 2017. O apoio a programas de renda mínima cresce

na Europa em decorrência do baixo crescimento econômico e ampliação da desigualdade, especialmente a

partir da crise de 2008.

A manufatura da Revolução Industrial sinaliza com o desemprego endêmico e sistêmico pela substituição

de trabalhadores em um vasto espectro de atividades. Especialistas sugerem particular prejuízo aos mais

pobres, pelo desaparecimento dos trabalhos de baixa qualificação, acompanhado da redução dos salários.

Programas de renda mínima visam, simultaneamente, assegurar um sistema de bem-estar social, a partir

da distribuição da riqueza, e estimular as economias, garantindo poder de consumo aos seus cidadãos.

Em oposição, ainda hoje são ouvidos os ecos do misterioso sucesso de uma teoria econômica que

estabelece relações positivas entre a queda dos salários e a geração de empregos. Por essas e

outras, Keynes sustentava especial implicância com David Ricardo.

Ao formular sua teoria da distribuição entre salários, lucros e renda da terra, Ricardo eliminou o problema

da geração da renda agregada e da massa de salários pelo gasto empresarial, isto é, sumiu com as

incertezas da demanda efetiva.

“Deu-lhe virtude a circunstância de que seus ensinamentos, transportados para a prática, eram austeros e,

por vezes, desagradáveis. Deu-lhe primor o poder sustentar uma superestrutura lógica, vasta e coerente.

Deu-lhe autoridade o fato de poder explicar muitas injustiças sociais e crueldades aparentes como

incidentes inevitáveis na marcha do progresso, e de poder mostrar que a tentativa de modificar esse estado

de coisas tinha, de modo geral, mais chances de causar danos que benefícios.

Por ter formulado certa justificativa à liberdade de ação do capitalista individual, atraiu-lhe o apoio das

forças sociais dominantes agrupadas atrás da autoridade.”

Empoleirado nos ombros do “vício ricardiano”, o fantasma da falácia de composição prossegue em sua

ronda sinistra nos territórios dos economistas tristes.

Entalados nas armadilhas dos fundamentos microeconômicos da macroeconomia, ignoram que o

“recomendável” para uma empresa numa era de recessão – reduzir os salários para manter empregos –

não funciona para a economia como um todo, a não ser em situações específicas, como a

da Alemanha na Zona do Euro.

Aí a moderação salarial e a dianteira tecnológica juntaram-se para estimular as exportações, que pesam

40% no PIB. O crédito generoso dos bancos das valquírias associou-se aos ganhos salariais de espanhóis,

portugueses e que tais, para estimular a aquisição dos Audi, BMW e de bens de capital da indústria da

senhora Angela Merkel.

INSTITUTO HUMANITAS

Correios vão abrir operadora de celular própria em fevereiro

Ao todo, mais de 12 mil agências devem oferecer os planos da operadora para até 1 milhão de usuários até

o fim do ano

Segundo informações do Olhar Digital, a partir de fevereiro deste ano, a Empresa Brasileira de Correios e

Telégrafos vai lançar uma nova operadora com foco em telefonia móvel aqui no país. A estatal entrará no

mercado através de uma operadora móvel virtual e, inicialmente, vai vender apenas planos pré-pagos com

foco no público das classes C e D.

Para isso, os Correios vão apostar na grande quantidade de agências espalhadas pelo país e, assim, divulgar

e disponibilizar os novos serviços. Ao todo, mais de 12 mil agências devem oferecer os planos da operadora

para até 1 milhão de usuários até o fim do ano.

Vale ressaltar que a rede será virtual, ou seja, uma MVNO. Com isso, os Correios usarão a infraestrutura

física da EUTV para a realização das atividades. A EUTV, por sua vez, faz uso da rede e do equipamento da

TIM.

Um dos objetivos dos Correios é deixar claro o que está sendo oferecido e quanto o cliente está gastando,

algo bastante criticado nas operadoras atualmente disponíveis. Em comunicado, a empresa afirmou que vai

disponibilizar quantos gigabytes de dados, quantos minutos de chamadas e quantas mensagens SMS estão

inclusas em cada plano, visando uma transparência entre a empresa e os seus clientes.

ADMINISTRADORES.COM

TJ-RJ abre licitação de R$ 1,2 milhão para comprar água para magistrados

O presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), desembargador Luiz Fernando Ribeiro de

Carvalho, autorizou, no último dia 13, a abertura de uma licitação para a compra de água mineral para os

magistrados, ao custo total de R$ 1.239.605,41 aos cofres do Judiciário. Na autorização, ele não informou a

quantidade nem por quanto tempo a compra abastecerá o estoque de água do TJ-RJ. A compra será feita

por pregão eletrônico.

Após a publicação da autorização, a reação entre os servidores do Judiciário, que temem os reflexos da

crise financeira que afeta o Estado do Rio, foi imediata.

— (A compra) É só para os desembargadores, o que é imoral. O valor é desproporcional. Por que não

instalam filtros de água, como fazem em algumas serventias pelo estado? — indagou Alzimar Andrade,

coordenador-geral do Sindicato dos Servidores do Judiciário do Rio (SindJustiça-RJ).

A indignação dos serventuários poderá levar o caso ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

— Se não recuarem, como fizeram com o edital de contratação de garçons por R$ 14 milhões, o que foi

denunciado por nós, vamos levar o caso ao CNJ, para impedir mais esse gasto absurdo — garantiu Andrade.

O edital dos garçons e copeiros mencionado pelo coordenador do SindJustiça foi publicado no fim de 2016.

Por meio dele, Ribeiro de Carvalho autorizava a contratação de profissionais para prestação de serviços aos

magistrados ao custo total de R$ 13.694.542,78. A duração do contrato seria de 24 meses. O caso foi

levado ao CNJ, e o TJ-RJ comunicou a desistência do processo.

Ontem, o Tribunal de Justiça do Rio não se posicionou a respeito do custo e da necessidade da compra de

água mineral por R$ 1,2 milhão para os magistrados. A Corte não informou o prazo previsto de consumo de

todo o estoque.

EXTRA

Com Temer, Brasil retoma vocação de súdito dos EUA

Donald Trump assume a Casa Branca nesta sexta-feira 20, e logo a partir de fevereiro burocratas norte-

americanos e brasileiros começam a reunir-se para preparar uma agenda capaz de ajudar mutuamente o

crescimento econômico dos dois países, artigo escasso lá e aqui.

Ao menos foi esse o combinado entre o magnata e Michel Temer em um telefonema em dezembro, ligação

de iniciativa do Palácio do Planalto. Na conversa, o peemedebista disse contar com investimentos dos

Estados Unidos, que os empresários dos dois países se conhecem bem e gostariam de ampliar os negócios.

A ligação não foi capaz, porém, de levar Trump a convidar Temer para a posse, indiferença que teria

incomodado o brasileiro. É verdade que o costume em Washington é chamar apenas embaixadores para a

posse, mas a falta de deferência do bilionário com o peemedebista é sintomática.

O Brasil não está no centro das preocupações de Trump, a nutrir desprezo pelos latino-americanos, vide

sua intenção de expulsar mexicanos e construir um muro para impedi-los de entrar. Para Brasília, contudo,

os EUA são prioridade, embora não haja uma estratégia clara para atingir o objetivo e traduzir isso em

questões concretas. Temer e o chanceler José Serra buscam desde o início uma relação carnal com o país,

visto como fonte de legitimação internacional do governo e de capitais capazes de empurrar o PIB.

O descompasso é apenas uma das pedras no caminho da aproximação, uma trilha cheia de perigos aos

interesses nacionais, como a secreta retomada das negociações sobre a Base de Alcântara.

Serra é uma das pedras. Torceu abertamente pela candidata democrata, Hillary Clinton. Os tucanos

construíram boas relações com os Clinton na gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). O escolhido

por Serra para embaixador em Washington, Sergio Amaral, foi porta-voz de FHC.

Antes do triunfo de Trump, Serra comentara a hipótese: “Não pode acontecer”, seria um “pesadelo”. Mais:

“É preciso ser muito masoquista para ficar imaginando que o Trump vá ganhar”. Consumado o “pesadelo”,

resignou-se. “Nas democracias, as decisões do eleitorado se respeitam e se cumprem não apenas por quem

vence.” Viu, Aécio Neves (PSDB)?

Resignação à parte, Serra tende a merecer desdém por Trump. Vizinhos dos EUA, México e Canadá

mudaram seus chanceleres às vésperas da posse do magnata. A mexicana Claudia Ruiz Massieu, por

exemplo, tinha reclamado de o presidente Enrique Peña Nieto convidar o xenofóbico bilionário para uma

conversa. Será que Serra corre o risco de perder o cargo? E que choque seria para o tucano, autor de

discretas juras de amor aos EUA em certas entrevistas.

No namoro com o Tio Sam, Serra ressuscitou uma ideia polêmica e numa área sempre sedutora para os

norte-americanos, a defesa. Mandou recolocar na mesa de negociações um acordo para ceder aos EUA

uma base de lançamento de foguetes no Maranhão, a de Alcântara, em troca de recompensas.

Sergio Amaral conversou sobre o tema com o subsecretário de Assuntos Políticos do Departamento de

Estado, Thomas Shannon. Mantida em sigilo, uma proposta foi elaborada e apresentada pelo Itamaraty a

autoridades dos EUA. Teria sido rejeitada, segundo CartaCapital apurou.

Alcântara é tida como a base mais bem localizada do mundo para lançar foguetes. A partir dali, conseguem

colocar satélites em órbita mais rapidamente, com economia de combustível e, portanto, de dinheiro. No

fim da gestão FHC, houve um acordo, cujos termos foram ao Congresso, para ratificação. Logo em 2003,

primeiro ano de mandato, Lula enterrou o projeto.

Um dos ministros a defender o arquivamento foi Roberto Amaral, então na Ciência e Tecnologia. Por seus

termos, relembra ele, era um “crime de lesa-pátria”.

Os Estados Unidos impunham várias proibições ao Brasil: lançar foguetes próprios de base, firmar

cooperação tecnológica espacial com outros países, apoderar-se de tecnologia americana usada em

Alcântara, usar dinheiro obtido ali para desenvolver satélites nacionais. Além disso, só pessoal norte-

americano teria acesso à base.

“O acordo contrariava os interesses nacionais e afetava nossa soberania”, afirma Amaral. “Os EUA não

queriam nosso programa espacial, isso foi dito por eles à Ucrânia.”

Sepultada a negociação, a Ucrânia foi o parceiro escolhido em 2003 para um acordo espacial. Herdeira da

União Soviética, tinha tecnologia para fornecer. Brasil e Ucrânia desenvolveriam conjuntamente foguetes

para lançamentos em Alcântara, com o compromisso de transferência de tecnologia. A proposta da

chancelaria de Serra aos EUA teria espírito parecido.

Fonte: Carta Capital

Maioria dos trabalhadores não dispõe de sindicatos para lidar com reforma

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre o perfil do movimento sindical brasileiro

questiona se o sindicatos estão preparados para a discutir uma regulação trabalhista mais baseada em

contratos, ampliando o papel da negociação coletiva. Segundo o pesquisador e sociólogo André Gambier

Campos, “há milhares de sindicatos no Brasil, mas muitos deles com parcas condições de promover novas

formas de regulação do trabalho”.

O autor traça um histórico da estrutura sindical desde a sua origem, nos anos 1930, que sobreviveu a

Estados mais autoritários e a diferentes contextos políticos, atravessando “tempos difíceis” na década de

1990 e superando desequilíbrios no período recente, quando “os sindicatos foram capazes de promover

um crescente número de greves e chegar a acordos importantes na negociação coletiva, o que resultou em

uma melhora significativa no bem-estar dos trabalhadores”. Mas ele questiona se essa estrutura pode

“continuar a incrementar o bem-estar” agora, em um cenário de aumento da informalidade e do

desemprego e redução dos salários.

“Além disso, há um crescente debate sobre o papel da negociação coletiva na regulamentação do trabalho

no país”, escreve Campos. “Essa regulamentação tem sido marcadamente legislativa desde 1930. No

entanto, no debate atual, há diversas ideias para promover uma regulação mais contratual, em que os

sindicatos deveriam desempenhar papéis cruciais”, observa o pesquisador.

Ele lista 16.491 organizações reconhecidas no país, sendo 15.892 sindicatos, 549 federações, 43

confederações e sete centrais sindicais – destas últimas, a CGTB não é mais reconhecida formalmente,

conforme a lei de 2008 que incluiu as centrais na estrutura sindical brasileira. São 11.240 entidades de

trabalhadores, sendo 10.817 sindicatos, e 5.251 de empregadores.

Dos quase 11 mil sindicatos de trabalhadores, 7.896 (73,8%) estão em áreas urbanas e 2.831 (26,2%) são

rurais. Daquele total, 43,4% representam trabalhadores do setor privado e metade (50,1%) tem base

restrita a um município. Essa questão é considerada “fundamental” pelo autor do estudo: “Não menos que

80,4% dos sindicatos têm sua base em um município ou em um pequeno número de municípios. Portanto,

a maioria dos sindicatos tem uma base local e restrita, o que é uma evidência de seus possíveis limites em

representar e defender os trabalhadores”.

Ele também chama a atenção para o que classifica como “baixa” ou “mediana” densidade dessas bases,

referindo-se à taxa de sindicalização, de 16,2%, o equivalente a 17,3 milhões de trabalhadores associados a

alguma entidade. “Mas esta porcentagem é apenas uma média, com vários sindicatos muito abaixo deste

nível, o que provavelmente resulta em problemas na representação e na defesa dos trabalhadores, mais

uma vez.” A média nacional é de 9.908 trabalhadores e 1.603 associados por sindicato.

Monopólio

Ao considerar problemas de organização e de ação, o autor fala na importância de “transformar a estrutura

como um todo, alterando alguns dos seus aspectos históricos, a fim de obter sindicatos mais

representativos e atuantes”. Entre essas possíveis mudanças, cita modificação das modalidades de custeio

dos sindicatos, questiona o princípio da unicidade (uma só entidade por base territorial) e o “monopólio”

de negociação. “Na verdade, não parece fazer qualquer sentido evitar que outras entidades agregadas

(como as centrais sindicais) tenham mandato para negociar acordos coletivos mais amplos e robustos”,

afirma o pesquisador do Ipea.

Campos avalia que outra mudança importante ocorreria por meio da organização nos locais de trabalho.

“Historicamente, este é um assunto polêmico no Brasil, especialmente em meio aos empregadores, porém,

é um tema crucial para o debate, pois ele pode favorecer a negociação de acordos coletivos mais

detalhados e adaptados às demandas dos trabalhadores nas empresas.”

Ele também cita a ratificação e/ou regulamentação de convenções da Organização Internacional do

Trabalho (OIT) como forma de transformar a estrutura sindical. Cita, ente outros, a Convenção 87, sobre

liberdade de associação e organização coletiva, que é vista com reserva por parte do sindicalismo brasileiro.

“É relevante salientar que esta convenção não deve ser debatida sozinha, porque só é possível essa

liberdade de associação e organização quando uma extensa variedade de direitos e garantias são

assegurados, e alguns deles são definidos em outros documentos da OIT, como as Convenções nos 98

(direito de sindicalização e negociação coletiva), 135 (proteção a representantes dos trabalhadores), 141

(organização do trabalhador rural) e 151 (sindicalização e relações do trabalho na administração pública),

por exemplo”, pondera, lembrando ainda que qualquer discussão “sobre a regulação do trabalho (legislada

ou contratual) produzir qualquer resultado concreto e positivo, depende-se da existência de sindicatos

representativos e atuantes”.

SUL21