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Filosofia – 1 a série – Volume 1 Epistemologia 1. Questões introdutórias a) Nós devemos confiar na Ciência? Escreva três motivos que comprovem sua opinião. Os exemplos são maneiras de aproximar a teoria da vida dos alunos. A Ciência não explica tudo. Ela tem limites, mas é o conhecimento mais adequado desenvolvido pela razão humana para tentar resolver os seus problemas. Só é cientí- fico o conhecimento que garante a sua validade. b) Quem faz a Ciência? Como se forma um cientista? A Ciência é produzida por pesquisadores em diferentes cam- pos do conhecimento. No Brasil, a produção científica é pre- dominantemente produzida nas universidades e em centros de pesquisas associados a indústrias. A localização social do sujeito da Ciência convida a refletir sobre ela como uma ati- vidade humana capaz de grandes proezas e de erros. c) A Ciência é importante? Por quê? A produção científica é importante quando beneficia a humanidade. A Filosofia discute, inclusive, duas questões diretamente associadas à importância da Ciência: uma diz respeito ao acesso desigual aos benefícios científicos e a outra refere-se ao fato de que nem toda a produção científica é favorável à humanidade. d) A Ciência tem limites? Quais? Os limites da Ciência são os conhecimentos racionais e expe- rimentais (empíricos), pois, fora deles, a Ciência nada pode afirmar. Alguns limites: tecnológicos (aparelhos insuficientes Epistemologia (também chamada Teoria da Ciência) é uma parte da Filosofia da Ciên- cia que está relacionada à natureza do conhe- cimento científico e seus grandes problemas, entre os quais: como, e em que condições é possível conhecer? Existe a certeza absoluta do conhecimento? Se existe, como, e em que con- dições? Quais são as características do conhe- cimento dentre as Ciências Naturais, as Ciências Humanas e as Ciências Formais? Centro de lógica, Epistemologia e História da Ciência – ClE/Unicamp. Disponível em: <http://www. unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/outubro2007/ ju375pag05.html>. Acesso em: 12 jul. 2013. Em primeiro lugar, é preciso saber formu- lar problemas. E, digam o que disserem, na vida científica, os problemas não se formulam de modo espontâneo. É justamente esse sen- tido do problema que caracteriza o verdadeiro espírito científico. Para o espírito científico, todo conhecimento é resposta a uma per- gunta. Se não há pergunta, não pode haver conhecimento científico. BACHElARD, gaston. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Tradução Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. p. 18. para observação e comparação de hipóteses); humanos (conflitos sociais e políticos que impedem ou retardam algu- mas descobertas). 2. Proposta de conceito de Epistemologia teoria do conhecimento 1. Questões introdutórias a) O que é conhecer? Criar uma representação, a mais próxima possível, da realidade. 3. texto de apoio SItUAçãO DE APRENDIzAgEM 4 ÁREAS DA FIlOSOFIA 1

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Page 1: Conteúdo para provas 1ªsérie 2ºbimestre 2015

Filosofia – 1a série – Volume 1

Epistemologia

1. Questões introdutórias

a) Nós devemos confiar na Ciência? Escrevatrês motivos que comprovem sua opinião.Os exemplos são maneiras de aproximar a teoria da vida

dos alunos. A Ciência não explica tudo. Ela tem limites, mas

é o conhecimento mais adequado desenvolvido pela razão

humana para tentar resolver os seus problemas. Só é cientí-

fico o conhecimento que garante a sua validade.

b) Quem faz a Ciência? Como se forma umcientista?A Ciência é produzida por pesquisadores em diferentes cam-

pos do conhecimento. No Brasil, a produção científica é pre-

dominantemente produzida nas universidades e em centros

de pesquisas associados a indústrias. A localização social do

sujeito da Ciência convida a refletir sobre ela como uma ati-

vidade humana capaz de grandes proezas e de erros.

c) A Ciência é importante? Por quê?A produção científica é importante quando beneficia a

humanidade. A Filosofia discute, inclusive, duas questões

diretamente associadas à importância da Ciência: uma diz

respeito ao acesso desigual aos benefícios científicos e a

outra refere-se ao fato de que nem toda a produção científica

é favorável à humanidade.

d) A Ciência tem limites? Quais?Os limites da Ciência são os conhecimentos racionais e expe-

rimentais (empíricos), pois, fora deles, a Ciência nada pode

afirmar. Alguns limites: tecnológicos (aparelhos insuficientes

Epistemologia (também chamada Teoria da Ciência) é uma parte da Filosofia da Ciên-cia que está relacionada à natureza do conhe-cimento científico e seus grandes problemas, entre os quais: como, e em que condições é possível conhecer? Existe a certeza absoluta do conhecimento? Se existe, como, e em que con-dições? Quais são as características do conhe-cimento dentre as Ciências Naturais, as Ciências Humanas e as Ciências Formais?

Centro de lógica, Epistemologia e História da Ciência – ClE/Unicamp. Disponível em: <http://www.

unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/outubro2007/ju375pag05.html>. Acesso em: 12 jul. 2013.

Em primeiro lugar, é preciso saber formu-lar problemas. E, digam o que disserem, na vida científica, os problemas não se formulam de modo espontâneo. É justamente esse sen-tido do problema que caracteriza o verdadeiro espírito científico. Para o espírito científico, todo conhecimento é resposta a uma per-gunta. Se não há pergunta, não pode haver conhecimento científico.

BACHElARD, gaston. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento.

Tradução Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. p. 18.

para observação e comparação de hipóteses); humanos

(conflitos sociais e políticos que impedem ou retardam algu-

mas descobertas).

2. Proposta de conceito de Epistemologia

teoria do conhecimento

1. Questões introdutórias

a) O que é conhecer?Criar uma representação, a mais próxima possível, da realidade.

3. texto de apoio

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SItUAçãO DE APRENDIzAgEM 4 ÁREAS DA FIlOSOFIA

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Conhecer uma realidade é, no sentido usual da palavra “conhecer”, tomar conceitos já feitos, dosá-los, e combiná-los em conjunto até que se encontre um equivalente prático do real.

BERgSON, Henri. O pensamento e o movente. tradução Bento Prado Neto. São Paulo:

Martins Fontes, 2006. (tópicos).

Ética é uma investigação sobre os princípios que motivam, justificam ou orientam as ações humanas, refletindo sobre os fundamentos dos valores sociais e historicamente construídos.

b) Como podemos conhecer?Podemos conhecer quando realizamos atividades intelectuais

sobre nossas sensações e sobre as ideias que nos informam.

2. Proposta de conceito de teoria doconhecimento

o bem é, às vezes, algo difícil, mas melhora nossas relações

de convivência.

2. Proposta de conceito de Ética

3. texto de apoio

Agora, algo como felicidade, acima de tudo, é dado como algo em si; por isso nós sempre a escolhemos por si mesmo e nunca por outro motivo, enquanto honra, prazer, razão e todas as virtudes são escolhidas em função de si mesmas (pois se nada resultasse delas ainda assim deve-ríamos escolher todas), mas também as escolhe-mos em função da felicidade, julgando que por meio de todas elas seremos felizes. Felicidade, por outro lado, não é escolhida por ninguém em função das demais virtudes e, em geral, por nenhuma outra razão que não ela própria.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/ texto/mc000011.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2013.

Tradução Eloisa Pires.

3. texto de apoio

A Teoria do Conhecimento é uma investi-gação sobre as diversas maneiras pelas quais podemos conhecer as coisas e as relações que os conhecimentos podem estabelecer ou esta-belecem. Por exemplo, memória, expe riências dos sentidos, analogias, reflexão, realidade, imaginação e outros. O seu problema princi-pal é como o sujeito se relaciona com o objeto de conhecimento.

Ética

1. Questões introdutórias

a) Como saber qual é a melhor atitude a sertomada?Existem várias maneiras de se tentar fazer o bem, mas para

encontrar a maneira mais adequada precisamos, sempre,

treinar a nossa reflexão racional, pois há situações em que

uma atitude mal pensada pode trazer prejuízo para nós e para

muitas outras pessoas.

b) Qual é a importância de se fazer o bem?O bem é algo a ser construído para podermos enfrentar

os problemas que encontramos na sociedade ou em nós

mesmos. Pensar em boas atitudes é lutar contra os sofri-

mentos que, eventualmente, enfrentamos. É certo que fazer

Política

1. Questões introdutórias

a) Quais são as melhores leis?As melhores leis são aquelas que beneficiam todos, permi-

tem a construção da liberdade no convívio com o outro e

são conhecidas por todos. Cada lei deve levar em considera-

ção as necessidades das pessoas.

b) Como podemos conviver com as outraspessoas sem violência?Podemos conviver com outras pessoas sem violência agindo

de maneira sensata em todas as dimensões. A maneira sen-

sata de agir consiste, em primeiro lugar, em escolher os

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Filosofia – 1a série – Volume 1

Não houve, portanto, um tempo em que nada fizeste, porque o próprio tempo foi feito por ti. E não há um tempo eterno contigo, por-que tu és estável, e se o tempo fosse estável não seria tempo. O que é realmente o tempo? Quem poderia explicá-lo de modo fácil e breve? Quem poderia captar o seu conceito, para exprimi-lo em palavras? No entanto, que assunto mais familiar e mais conhecido em nossas conversa-ções? Sem dúvida, nós o compreendemos quando dele falamos, e compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. Porconseguinte, o que é o tempo? Se ninguém mepergunta, eu sei; porém, se quero explicá-lo aquem me pergunta, então não sei. No entanto,posso dizer com segurança que não existiria umtempo passado, se nada passasse; e não existiriaum tempo futuro, se nada devesse vir; e nãohaveria o tempo presente se nada existisse. Deque modo existem esses dois tempos – passado efuturo –, uma vez que o passado não mais existee o futuro ainda não existe? E quanto ao pre-sente, se permanecesse sempre presente e não setornasse passado, não seria mais tempo, maseternidade. Portanto, se o presente, para sertempo, deve tornar-se passado, como poderemos dizer que existe, uma vez que a sua razão de seré a mesma pela qual deixará de existir? Daí nãopodemos falar verdadeiramente da existência dotempo, senão enquanto tende a não existir.

SANtO AgOStINHO. Confissões. Tradução Maria Luiza Jardim Amarante. São Paulo: Paulus, 2002. p. 342-343.

governantes que se preocupem, sinceramente, com a edu-

cação e que demonstrem sensibilidade em relação às neces-

sidades das pessoas e à qualidade de vida em geral.

2. Proposta de conceito de Política

Filosofia da história

1. Questões introdutórias

a) O que é o tempo?Responder o que é o tempo é uma das questões mais difíceis

do nosso intelecto e da própria Filosofia. Em geral, dizemos

que tempo é o meio no qual se desenrolam os acontecimen-

tos e o lugar das possibilidades.

b) O que é história humana?A história humana pode ter vários significados. Em geral, ela

é pensada como passado, desejo de futuro, tradições, com-

preensão das relações sociais no tempo e no espaço e como

objeto de investigação da História.

Política é a investigação filosófica sobre qual é o melhor governo, o que é justiça e como deve ser o comportamento das pessoas em suas relações de convivência.

De resto, se o primeiro dever do homem de Estado é conhecer a constituição, que, conside-rada geralmente como a melhor, possa estender--se à maior parte das cidades, é preciso confessarque na maioria das vezes os teóricos políticos,mesmo dando provas de grande talento, se equi-vocaram em pontos capitais; porque não bastaimaginar um governo perfeito; é necessário,sobretudo, um governo praticável, que possa serfacilmente aplicado em todos os Estados.

ARISTÓTELES. Política. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bk000426.pdf>.

Acesso em: 15 jul. 2013. tradução Maria lucia de Oliveira Marques.

3. texto de apoio

Filosofia da História é uma área de inves-tigação da Filosofia, que se preocupa com a relação dos homens com o tempo, com seus processos culturais e sociais. Além disso, preocupa-se com o significado do desenvol-vimento das sociedades e da racionalidade.

3. texto de apoio

2. Proposta de conceito de Filosofia dahistória

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A estética tem como temas o estudo dos critérios e problemas sobre processos de cria-ção artística. Problematiza os valores estéti-cos e as relações entre forma e conteúdo, bem como a importância da arte para as socieda-des humanas.

estética

1. Questões introdutórias

a) Quais são os critérios para identificarmosuma obra de arte?Os critérios são historicamente definidos, isto é, cada cultura

valida critérios para a sua produção artística.

b) Existe um padrão de beleza universal válidopara todas as culturas?Assim como a arte, a beleza depende de valores culturais e

históricos para ser definida, por isso, não se pode falar em um

único padrão válido para toda a humanidade.

2. Proposta de conceito de Estética

Pode-se também pensar em uma perfeição estética, que contenha o fundamento de uma satisfação subjetivamente universal, isto é, a beleza: o que agrada os sentidos na intuição e, precisamente por isso, pode ser o objeto de uma satisfação universal.

KANT, Immanuel. Manual dos cursos de Lógica Geral. Tradução Fausto Castilho. 2. ed. bilíngue.

Campinas: Editora da Unicamp; Uberlândia: Edufu, 2003. p. 75-77.

3. texto de apoio

Metafísica de Aristóteles

No conjunto de obras denominado Metafísica, Aristóteles buscou investigar o “ser enquanto ser”. Significa que buscou compreender o que tornava as coisas o que elas são. Nesse sentido, as características das coisas apenas nos mostram como as coisas estão, mas não definem ou determinam o que elas são. É preciso investigar as condições que fazem as coisas existirem, aquilo que determina “o que” elas são e aquilo que determina “como” são.

Em sua metafísica, Aristóteles fala acerca dos primeiros princípios. Os primeiros princípios dizem respeito aos princípios lógicos, a saber: o princípio de identidade, da não contradição e do terceiro excluído. O princípio de identidade é autoevidente e determina que uma proposição é sempre igual a ela. Disto pode-se afirmar que A=A. O princípio da não contradição afirma que uma proposição não pode, ao mesmo tempo, ser falsa e verdadeira. Não se pode propor que um triângulo possui e não possui três lados, por exemplo. O princípio do terceiro excluído afirma que ou uma proposição é verdadeira ou é falsa, e não há uma terceira opção viável. Tais princípios, deste modo, garantem as condições que asseguram a realidade das coisas.Além dos princípios, de acordo com Aristóteles, existem quatro causas fundamentais que também são condições necessárias para que as coisas existam. As causas são: material, formal, eficiente e final. A causa material é a matéria da qual é feita a essência das coisas. A causa formal diz respeito à forma da essência. A causa eficiente é aquela que explica como a matéria recebeu determinada forma. A causa final é aquela que determina a finalidade das coisas existirem e serem como são.Para compreender a conceituação das causas, pode-se pensar numa pedra que rola a montanha. A causa material é o minério da pedra, a causa formal é a inclinação da montanha, a causa eficiente é o empurrão feito na pedra e a causa final é a vontade da pedra de atingir o nível mais baixo. Assim, os primeiros princípios e as quatro causas são as condições básicas para que as coisas existam e possam ser conhecidas.Disto, Aristóteles investiga sobre “o que” as coisas são. Nesse ponto, visa superar a ideia de seus antecessores, principalmente Platão, que afirmava que a essência das coisas está num mundo inteligível. Para Aristóteles, a essência das coisas está nas próprias coisas e não separada num mundo das formas e ideias perfeitas, isto é, a essência está na substância. A substância, para ele, é a fusão da matéria com a forma. Uma escultura de madeira, por exemplo, é a fusão da madeira (matéria) com o projeto do artesão (forma).A partir dessa concepção, era ainda necessário que Aristóteles desse conta do problema do movimento, pois a substância possui a matéria – que está em constante movimento (transformação) – e a forma (que é imóvel). Para superar tal problema, ele usa a ideia de potência e ato. As substâncias possuem potencial para aquilo que ocorre com elas. Pode-se dizer que a gasolina, por exemplo, é inflamável. Significa afirmar que ela possui potencial para pegar fogo, porém é preciso pelo menos uma faísca para que a potência se torne realidade, ato.Com isto, a metafísica de Aristóteles visa mostrar que o Estar em movimento possui mais importância do que o Ser imóvel de Platão.

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Filosofia – 1ª série – Volume 1

Leitura e análise de texto

Epistemologia (também chamada Teoria da Ciência) é uma parte da Filosofia da Ciência que está relacionada à natureza do conhecimento científico e seus grandes problemas, entre osquais:como,eemquecondiçõesépossívelconhecer?Existeacertezaabsolutadoconhe-cimento?Seexiste,como,eemquecondições?QuaissãoascaracterísticasdoconhecimentodentreasCiênciasNaturais,asCiênciasHumanaseasCiênciasFormais?

Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência – CLE/unicamp. Disponível em: <http://www.unicamp.br/ unicamp/unicamp_hoje/ju/outubro2007/ju375pag05.html>. acesso em: 12 jul. 2013.

Em primeiro lugar, é preciso saber formular problemas. E, digam o que disserem, na vida científica, os problemas não se formulam de modo espontâneo. É justamente esse sentido do problema que caracteriza o verdadeiro espírito científico. Para o espírito cien-tífico, todo conhecimento é resposta a uma pergunta. Se não há pergunta, não pode haver conhecimento científico.

BaCHELaRD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Tradução Estela dos Santos abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. p. 18.

Conhecer uma realidade é, no sentido usual da palavra “conhecer”, tomar conceitos já feitos, dosá-los, e combiná-los em conjunto até que se encontre um equivalente prático do real.

BERGSoN, Henri. O pensamento e o movente. Tradução Bento Prado Neto. São Paulo: Martins Fontes, 2006. (Tópicos).

Epistemologia

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Filosofia – 1ª série – Volume 1

1. após a leitura dos textos, debata com seus colegas e responda às questões a seguir:

a) NósdevemosconfiarnaCiência?Escrevatrêsmotivosquecomprovemsuaopinião.

b) QuemfazaCiência?Comoseformaumcientista?

c) ACiênciaéimportante?Porquê?

d) ACiênciatemlimites?Quais?

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A Ciência não explica tudo. Ela tem limites, mas é o conhecimento mais adequado desenvolvido pela razão humana para tentar resolver os seus problemas. Só é cientí-fico o conhecimento que garante a sua validade.

A Ciência é produzida por pesquisadores em diferentes cam-pos do conhecimento. No Brasil, a produção científica é pre-dominantemente produzida nas universidades e em centros de pesquisas associados a indústrias. A localização social do sujeito da Ciência convida a refletir sobre ela como uma ati-vidade humana capaz de grandes proezas e de erros.

A produção científica é importante quando beneficia a humanidade. A Filosofia discute, inclusive, duas questões diretamente associadas à importância da Ciência: uma diz respeito ao acesso desigual aos benefícios científicos e a outra refere-se ao fato de que nem toda a produção científica é favorável à humanidade.

Os limites da Ciência são os conhecimentos racionais e expe-rimentais (empíricos), pois, fora deles, a Ciência nada pode afirmar. Alguns limites: tecnológicos (aparelhos insuficientes para observação e comparação de hipóteses); humanos (conflitos sociais e políticos que impedem ou retardam algu-mas descobertas).

2. Leia os textos apresentados e discuta as seguintes questões:

a) Oqueéconhecer?

b) Comopodemosconhecer?

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Metafísica de Aristóteles4 causas10 categorias

No conjunto de obras denominado Metafísica, Aristóteles buscou investigar o “ser enquanto ser”. Significa que buscou compreender o que tornava as coisas o que elas são. Nesse sentido, as características das coisas apenas nos mostram como as coisas estão, mas não definem ou determinam o que elas são. É preciso investigar as condições que fazem as coisas existirem, aquilo que determina “o que” elas são e aquilo que determina “como” são.

Em sua metafísica, Aristóteles fala acerca dos primeiros princípios. Os primeiros princípios dizem respeito aos princípios lógicos, a saber: o princípio de identidade, da não contradição e do terceiro excluído. O princípio de identidade é autoevidente e determina que uma proposição é sempre igual a ela. Disto pode-se afirmar que A=A. O princípio da não contradição afirma que uma proposição não pode, ao mesmo tempo, ser falsa e verdadeira. Não se pode propor que um triângulo possui e não possui três lados, por exemplo. O princípio do terceiro excluído afirma que ou uma proposição é verdadeira ou é falsa, e não há uma terceira opção viável. Tais princípios, deste modo, garantem as condições que asseguram a realidade das coisas.

Além dos princípios, de acordo com Aristóteles, existem quatro causas fundamentais que também são condições necessárias para que as coisas existam. As causas são: material, formal, eficiente e final. A causa material é a matéria da qual é feita a essência das coisas. A causa formal diz respeito à forma da essência. A causa eficiente é aquela que explica como a matéria recebeu determinada forma. A causa final é aquela que determina a finalidade das coisas existirem e serem como são.

Para compreender a conceituação das causas, pode-se pensar numa pedra que rola a montanha. A causa material é o minério da pedra, a causa formal é a inclinação da montanha, a causa eficiente é o empurrão feito na pedra e a causa final é a vontade da pedra de atingir o nível mais baixo. Assim, os primeiros princípios e as quatro causas são as condições básicas para que as coisas existam e possam ser conhecidas.

Disto, Aristóteles investiga sobre “o que” as coisas são. Nesse ponto, visa superar a ideia de seus antecessores, principalmente Platão, que afirmava que a essência das coisas está num mundo inteligível. Para Aristóteles, a essência das coisas está nas próprias coisas e não separada num mundo das formas e ideias perfeitas, isto é, a essência está na substância. A substância, para ele, é a fusão da matéria com a forma. Uma escultura de madeira, por exemplo, é a fusão da madeira (matéria) com o projeto do artesão (forma).

A partir dessa concepção, era ainda necessário que Aristóteles desse conta do problema do movimento, pois a substância possui a matéria – que está em constante movimento (transformação) – e a forma (que é imóvel). Para superar tal problema, ele usa a ideia de potência e ato. As substâncias possuem potencial para aquilo que ocorre com elas. Pode-se dizer que a gasolina, por exemplo, é inflamável. Significa afirmar que ela possui potencial para pegar fogo, porém é preciso pelo menos uma faísca para que a potência se torne realidade, ato.

Com isto, a metafísica de Aristóteles visa mostrar que o Estar em movimento possui mais importância do que o Ser imóvel de Platão.

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Filosofia – 1a série – Volume 1

Depois de conhecer as quatro causas das coisas, ou fundamentos, o alienígena superinte-ligente conseguiu entender o que era um lápis, o que não seria possível apenas vendo um ou ouvindo você falar somente da utilidade, da forma ou da matéria.

Agora que você explicou a proposta, peça aos alunos que repitam o exercício, aplicando-o na explicação de outros “seres”, como aqueles apre-sentados no quadro a seguir. Note que são ape-nas exemplos e que o aluno pode se propor a investigar outras coisas, de acordo com a sua experiência individual.

Quadro sobre a investigação do ser das coisas

As quatro causas da existência das coisas

ou os fundamentos

o que você quer saber o que é? eu mesmo O amor O estudo

Qual é a causa material? (de que é feito?)

Carne, ossos, sangue...

Gestos, carinho, compreensão, amizade, ajuda...

Leituras, exercícios, dedicação, descobertas, paciência...

Qual é a causa formal? (Qual é a forma?) Alma. Desejo de estar junto e

fazer o outro feliz. Desenvolvimento.

Qual é a causa eficiente, ou quem une a forma com a matéria? (Quem fez?)

Meu pai e minha mãe.

O conhecimento do outro. O aluno.

Qual é a causa final? (Por que foi feito?)

Fui feito para me desenvolver e ser feliz.

Para ajudar o outro a ser feliz.

Para aprender e crescer, como ser humano, em busca da felicidade.

Quadro 4.

Qual é a causa formal? (Qual é a forma?)

O lápis é cilíndrico e é pontiagudo em uma das extremidades.

Qual é a causa eficiente, ou quem une a forma com a matéria? (Quem fez?)

O operador da máquina de fazer lápis.

Qual é a causa final? (Por que foi feito?)

Para escrever e poder apagar depois, se for necessário.

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Quadro sobre a investigação do ser das coisas

As quatro causas da existência das coisas ou os fundamentos

o que você quer saber o que é? Lápis

Qual é a causa material? (de que é feito?)

O lápis é feito de madeira e grafite.

4 Causas do SER

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Substância Constituída de matéria e forma. Lápis (madeira e grafite, em forma de cilindro).

Qualidade Qualidades e defeitos.O lápis é vermelho e bonito, mas está difícil de apontar, porque a grafite não está bem centrali-zada e a ponta quebra a cada tentativa.

Quantidade Quantos? Muito ou pouco? Pouco: apenas um.

relação Como ele é em relação às outras coisas?

Ele é mais comprido do que a borracha e escreve menos forte do que a caneta.

Ação O que ele faz? Serve para desenhar, escrever ou apagar palavras e números.

Passividade Como ele se desgasta? Ele se desgasta sendo apontado, pelo uso e pela umidade, que pode apodrecê-lo.

OndeOnde ele está? Em que lugar fica, em geral, ou onde está agora?

Ele está na sala de aula, mas, em geral, podemos encontrá-lo em papelarias e escritórios.

tempo Quando e quanto tempo? Hoje.

Posse O que ele possui? Possui borracha na extremidade.

Posição Como ele está ou fica? Deitado.

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10 Categorias do SER

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Filosofia – 1a série – Volume 1

lógica é o estudo sistemático do pensa-mento dedutivo, que permite construir argu-mentos corretos nas ciências naturais, nas ciências humanas e nas ciências formais, possibilitando também distinguir os argu-mentos corretos dos incorretos.

Centro de lógica, Epistemologia e História da Ciência – ClE/Unicamp. Disponível em: <http://www.

unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/outubro2007/ju375pag05.html>. Acesso em: 12 jul. 2013.

O primeiro princípio da razão, é o princípio da identidade, de acordo com o qual um ser é sempre idêntico a ele mesmo. O primeiro lápis só é igual a ele mesmo, não é lógico? O lápis em questão só pode ser o lápis em questão.

O segundo princípio da razão, o princípio da não contradição: os seres não podem “ser” e “não ser” sob as mesmas condições. No caso do lápis, pode- se dizer que, se afirmarmos uma coisa sobre ele, não podemos dizer o contrário. Não podemos negar uma categoria que foi falada sobre o lápis. Por exemplo, se disse-mos que o lápis é amarelo, ele pode ser tudo e até ter outras cores, mas – para não haver contradições – não podemos dizer que ele não é amarelo.

identificar as contradições

Para permitir a visualização do conteúdo, que está no Caderno do Aluno, você deverá identificar as contradições.

Figura 1.

Quando afirmamos algo, nós dizemos uma premissa – no caso, “todas as estrelas do quadro têm cinco pontas”. O exercício solicita que o aluno marque com X as afirmações que deso-bedecem a alguns destes princípios: ao princípio da identidade, ao princípio da não contradição e ao princípio do terceiro excluído.

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Princípio da Identidade

Princípio da Não Contradição

Princípio do do terceiro excluídoO último princípio é o do terceiro

excluído: uma vez que afirmamos alguma coisa sobre um ser, só podemos dizer se ele “é” aquilo que afirmamos ou se ele “não é” aquilo que afirmamos. Não há outra res-posta: o que nós falamos sobre o lápis, em cada uma das categorias, é ou não é; não há outra saída.

Os princípios da Lógica

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outras afirmações a respeito da premissa

Princípio da identidade

Princípio da não contradição

Princípio do terceiro excluído

Todas as estrelas do quadro não têm cinco pontas.

X

Todas as estrelas do quadro às vezes têm e às vezes não têm cinco pontas.

X

Todas as estrelas do quadro não são iguais a elas mesmas.

X

Quadro 7.

Na sequência aos exercícios para introduzir conceitos e fundamentos da lógica, reproduza na lousa o quadro a seguir (Figura 2).

Figura 2.

A lógica não trata de realidades, mas sim de afirmações. A preocupação dela é fazer que nossas falas não contenham contradições. Por isso, é preciso dissociar a realidade das palavras. Se alguém afirmar que “todas as figuras do quadro têm a forma de estrela”, a preocupação da lógica será com a afirmação e não com a realidade. Mas, por que isso? A lógica tem de ajudar a organizar o pensamento. Assim, quando um cientistadescobre algo, ele tem de falar sobre suadescoberta de forma racional e clara; docontrário, será impossível compreendê-lo.

ExercícioCom base na Figura 2. Baseando-se novamente na afirmação

“todas as figuras do quadro têm a forma de estrela”, lembre-se de que deverá avaliar cada item com base somente na afirmação principal, sem levar em conta a realidade do que está exposto na lousa. Apontar as afirmações que não têm a ver com a afirmação principal.a) ( X ) todas as figuras do mundo têm a

forma de estrela.

b) ( ) Só há figuras em forma de estrelano quadro anterior.

c) ( X ) três figuras do quadro anterior nãotêm a forma de estrela.

d) ( X ) As figuras do mundo inteiro nãotêm a forma de estrela.

e) ( X ) todas as estrelas são figuras destequadro.

f) ( ) No quadro anterior, não deve ha-ver figuras que não tenham forma deestrela.

g) ( X ) Não existem figuras em forma deestrela fora do quadro.

h) ( ) todas as figuras do quadro têm aforma de estrela.

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Filosofia – 1a série – Volume 1

a) Esta resposta deve ser assinalada porque a premissa não

fala sobre figuras do mundo, mas apenas das que estão no

quadro.

b) Esta não deve ser assinalada porque esta premissa con-

corda com a anterior.

c) A terceira deve ser assinalada porque, apesar de termos

várias figuras no quadro que não têm a forma de estrela,

a premissa diz que todas as figuras têm essa forma. O que

vale para a Lógica é a premissa, e não a realidade.

d) A quarta resposta deve ser assinalada porque as figuras

que estão no quadro fazem parte do grupo de todas as

figuras que têm a forma de estrela.

e) Esta resposta deve ser assinalada porque não se trata de

estrelas, mas de figuras que têm a forma de estrelas.

f) Esta não deve ser assinalada porque nem todas as figuras

do quadro têm a forma de estrelas e, por isso, não existem

figuras que tenham outras formas.

g) Esta resposta deve ser assinalada baseando-se apenas na

premissa; não se pode saber nada sobre o que está fora

do quadro.

h) A oitava e última resposta não deve ser assinalada porque

corrobora a afirmação principal com exatidão.

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Page 13: Conteúdo para provas 1ªsérie 2ºbimestre 2015

Filosofia da ciência Filosofia da ciência é a área da filosofia que per-

gunta sobre a ciência, de quais ideias parte, qual mé-

todo usa, sobre qual fundamento e acerca de suas im-

plicações. Apesar destes problemas gerais, muitos fi-

lósofos escreveram sobre algumas ciências particula-

res, como a física e a biologia. Não apenas se utiliza a

filosofia para pensar sobre a ciência, como se utiliza

resultados científicos para pensar a filosofia.

Não existe determinada ciência que faça parte dos

estudos da filosofia da ciência. As ciências naturais

(ex.: biologia, química e física), formais (ex.: matemá-

tica, lógica e teoria dos sistemas), sociais (ex.: sociolo-

gia, antropologia e economia) e aplicadas (agronomia,

arquitetura e engenharia) já foram objetos de estudos

filosóficos.

Historicamente, já na Grécia Antiga se pensava so-

bre a ciência. Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), por exem-

plo, escreveu sobre a origem da vida, afirmando a pos-

sibilidade de existir vida a partir de algo inanimado. A

teoria da abiogênese (geração espontânea) que ele de-

fendia perdurou por diversos séculos. Além da origem

da vida, Aristóteles também se preocupou em elaborar

um meio de estudar as espécies, sendo ele o primeiro

a propor uma divisão do reino animal em categorias.

No decorrer da história, a figura mais importante

para a filosofia da ciência é Francis Bacon (1561-

1626), filósofo inglês responsável pela base da ciência

moderna, o método indutivo. A indução, método de a

partir de fatos particulares chegar a conclusões univer-

sais, já existia, mas é Bacon o responsável por seu apri-

moramento e divulgação.

Após Bacon, muito se pensou e escreveu sobre a

ciência, especialmente devido aos avanços e descober-

tas dos séculos seguintes. René Descartes desenvolveu

seu método, houve as contribuições e discussões de

Galileu Galilei, Isaac Newton, Gottfried Leibniz e ou-

tros. Deste aumento considerável de pensadores que

detiveram tempo acerca do campo da filosofia da ci-

ência pode-se escolher alguns para comentar suas im-

portantes ideias. Entre eles, David Hume e Karl Pop-

per.

David Hume (1711-1776), filósofo escocês, criti-

cou fortemente as bases da ciência e da filosofia. A

partir do pensamento de John Locke (1632-1704),

Hume levou o empirismo, isto é, a ideia de que todo o

nosso conhecimento tem origem na experiência (nos

cinco sentidos), até as últimas consequências. Para ele,

se nosso conhecimento ocorre após a experiência sig-

nifica que não podemos deduzir eventos futuros. Sig-

nifica dizer que não há nada no mundo que garanta

que as leis que regem o universo hoje serão as mesmas

amanhã. Por mais que o homem observe há milênios

o sol aparecer todos os dias, nada garante o seu apare-

cimento amanhã, e por isso a ciência não pode tomar

suas conclusões como verdades absolutas.

No século XX, o filósofo austríaco, Karl Popper

(1902-1994) criticou a forma de fazer ciência a partir

da indução, o método defendido por Bacon. Para Po-

pper, o método indutivo não garante a validade de suas

conclusões. Afirmou isso, pois não é possível ter

acesso a todos os fatos particulares para ser possível

chegar a conclusões. Um cientista pode observar cis-

nes durante 20 anos e perceber que todos os cisnes

observados são brancos, mas ele não pode concluir

que “todos” os cisnes são brancos. Se ele concluir isto,

bastará a existência de apenas um cisne negro para in-

validar sua tese. Com isto, Popper defenderá que o pa-

pel da ciência é falsear as suas conclusões a partir do

método dedutivo, partindo de conclusões universais

para a verificação particular. O papel da ciência é veri-

ficar se suas conclusões são verdadeiras, tentando fal-

seá-las com a experimentação.

Filipe Rangel Celeti

Bacharel em Filosofia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie - SP Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – SP

Pesquisa Individual

Ciência: conhecimento sistemático da natureza por meio de

experimentações e de princípios delas obtidos.

Termo científico: conceito utilizado em uma ciência para

descrever ou abarcar um conjunto delimitado de fenômenos.

Hipótese: formulação teórica a título de investigação que

serve para orientar o conhecimento, mas que, para ser válida,

deve ser confirmada por experimentos.

Tese: formulação teórica que se encontra como pressuposto

de uma ciência ou então que já foi devidamente confirmada

pela experimentação e faz parte do conhecimento científico.

Indução: formulação de leis pela análise e comparação de

conhecimentos empíricos.

Dedução: obtenção de conhecimentos pautando-se por uma

tese devidamente demonstrada.

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Filosofia – 1a série – Volume 1

Meu irmão respira.

Meu irmão é um homem vivo.

Portanto, todos os homens vivos respiram.

Bloco 2:

1. Qual é a diferença entre os dois blocos de informações?

2. Apresente um exemplo de seu cotidiano no qual você pode utilizar dedução e indução.

Depois do debate, peça aos alunos que escrevam suas respostas no Caderno. Verifique se alguns deles gostariam de apresentá-las, lendo sua resposta para a turma.

Comentário

Nas três primeiras frases, organizadas no bloco 1, temos um clássico exemplo de dedu-ção válida, enquanto, nas frases do bloco 2, a dedução é inválida. Qual é a diferença? Para a lógica, a primeira situação é válida, não há nenhum problema, pois a conclusão depende das inferências e nada mais. Ela é analítica, depende apenas do que foi dito. Parte do uni-versal para o particular.

No segundo caso, o argumento não está completo: as duas afirmações (meu irmão respira e meu irmão é ser vivo) não permitem afirmar de forma generalizada que todos os homens respiram. O argumento é inválido, porque a conclusão toma por verdade apenas uma possibilidade: por mais verdadeiras que sejam as inferências, a conclusão pode não ser verdadeira.

Para muitos filósofos, na Ciência, a dedu-ção toma o seguinte sentido: temos um conhecimento teórico e por ele agimos, ou por ele conhecemos outras dimensões do mundo. Por exemplo, a lei da gravitação Universal de Isaac Newton diz que todos os corpos se atraem segundo uma força deri-vada de suas massas e sua distância. Desse modo, quando um objeto qualquer cai, na verdade, ele foi atraído pelo planeta. A massa do objeto é atraída pela massa do planeta. Portanto, ao soltar uma bolsa, ela será atraída pela força gravitacional da Terra.

Por dedução, podemos dizer que os obje-tos, como a bolsa, são atraídos pelo planeta; por isso, de alguma forma, acreditamos que tudo cai, porque sabemos que há uma Lei da gravidade e, com base nela, é possível prever um acontecimento. Além disso, ela é logica-mente válida.

A seguir, vamos refletir sobre a possibili-dade de chegar a teorias e leis que valem tanto para a realidade como para a lógica; desse modo, será possível compreender melhor o que são indução e dedução.

Para complementar as atividades, no exer-cício a seguir, o aluno deve criar exemplos de indução e de dedução, de acordo com o modelo do quadro e completar as atividades que constam no Caderno do Aluno. Página 44

Todos os homens vivos respiram.

Meu irmão é um homem vivo.

Portanto, meu irmão respira.

Bloco 1:

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Dedução e Indução

SItUAçãO DE APRENDIzAgEM 5 INtRODUçãO À FIlOSOFIA DA CIêNCIA

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mento científico, isto é, ele não dependeria da opinião das pessoas, mas poderia ser comprovado por todos os seres humanos.

f Com a indução, parte-se do particular para o universal; esse conceito utiliza a genera-lização para criar leis e teorias científicas.

f Com as leis e as teorias científicas, é possí-vel, por meio da dedução, prever e explicar acontecimentos.

A Ciência é uma atividade racional e, por isso, vale-se das regras da lógica para fundamentar seus

Parte ii28. Mas nós ainda não atingimos algo

minimamente satisfatório com relação à questão primeiramente proposta. Cada solu-ção ainda levanta uma nova questão tão difícil quanto a que a precede, e nos leva a mais questionamentos. Quando se pergunta, Qual a natureza de todos nossos argumentos com relação a fatos reais?, a resposta ade-quada parece ser a que eles são baseados na relação de causa e efeito. Quando novamente se pergunta, Qual a fundamentação de todos os nossos argumentos e conclusões referentes a tal relação?, pode-se responder em uma só palavra: experiência. Mas se ainda quisermos dar continuidade a nosso humor investiga-tivo, e perguntarmos Qual a fundamentação de todas as conclusões baseadas na experiên-cia?, isso implicaria uma nova questão, que pode ser de mais difícil solução e explicação. Filósofos, que se dão ares de sabedoria e suficiência superiores, têm uma árdua tarefa quando encontram pessoas com disposição investigativa, que os empurram para fora de todos os cantos em que se recolhem, e que

conhecimentos. No entanto, a indução não parte das regras lógicas para se legitimar. Ela parte da experiência. A experiên cia pode pare-cer racional, mas não é, pois está envolvida com os sentidos, e não com o raciocínio. Peça que os alunos leiam o texto a seguir, presente no Caderno do Aluno na seção Leitura e aná-lise de texto, sobre como David Hume propôs o problema, e que depois respondam às ativi-dades relativas ao trecho apresentado.

f Com base na observação de grande número de experiências, por meio dos cinco senti-

dos, cria-se uma lei ou uma teoria. f Ao se repetirem as condições enunciadas

nessa lei, pode-se prever um acontecimento. f Isso garantiria a objetividade do conheci-

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Por uma visão crítica da ciênciaDavid HumeFilósofoDavid Hume foi um filósofo, historiador e ensaísta escocês que se tornou célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico. WikipédiaNascimento: 7 de maio de 1711, Escócia, Reino UnidoFalecimento: 25 de agosto de 1776, Edimburgo, Reino UnidoEducação: Universidade de EdimburgoFiliação: Joseph Home, Katherine Falconer

Bertrand RussellMatemáticoBertrand Arthur William Russell, 3.º Conde Russell foi um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que viveram no século XX. Em vários momentos na sua vida, ele se considerou um liberal, um socialista e um pacifista. WikipédiaNascimento: 18 de maio de 1872, Trellech, Reino UnidoFalecimento: 2 de fevereiro de 1970, Penrhyndeudraeth, Reino UnidoCônjuge: Edith Finch Russell (de 1952 a 1970), maisFilhos: Conrad Russell, 5th Earl Russell, Lady Katharine Tait, John Russell, 4th Earl Russell, Harriet Ruth RussellFiliação: John Russell, Viscount Amberley, Katharine Russell, Viscountess Amberley

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Filosofia – 1a série – Volume 1

3. Por que Hume vê um problema na fun-damentação das conclusões por meio daobservação da experiência?

Comentário sobre o texto

Vamos rever o que é a indução, agora com um exemplo dado por Bertrand Russell.

O texto a seguir, assim como as questões subsequentes, se encontram no Caderno do Aluno.

exercício de leitura

As três questões a seguir estão presentes no Caderno do Aluno, logo após o texto citado de Hume.

1. Sublinhe, no texto, as palavras que vocêdesconhece. Depois, investigue uma poruma e registre os significados na seçãoMeu vocabulário filosófico, disponível nofinal deste Caderno.

2. Com base no texto, responda às questões:

a) Qual é a natureza de todos os nossosraciocínios sobre os fatos, segundoHume?

b) De acordo com Hume, qual é o funda-mento de todos os nossos raciocínios econclusões sobre a relação de causa eefeito?

certamente trazem a eles algum dilema peri-goso. O melhor expediente para prevenir essa confusão é sermos modestos em nossas pretensões; e até mesmo descobrir a dificul-dade nós mesmos antes de esta nos ser direcionada. Desse modo, podemos fazer de nossa ignorância uma espécie de mérito.

HUME, David. An enquiry concerning human understanding. Essays and treatises on several subjects. p. 42. Disponível em: <http://goo.gl/b6NXkl>. Acesso

em: 29 out. 2013. tradução Eloisa Pires.

Certo peru foi alimentado, durante um ano, às 9 horas (dado).

Ele criou, então, uma lei: sou alimentado todos os dias às 9 horas (teoria).

Amanhã, às 9 horas, serei alimentado (previsão).

No entanto, houve um problema com a previsão do peru, pois, no dia seguinte à sua previsão, ele foi degolado porque era véspera de Natal e ele seria servido na ceia.

Após a leitura do quadro com os alunos, você pode apresentar a eles a seguinte questão:

1. Por que a previsão do peru falhou? Leis eteorias são questionáveis ou, ao contrário,são verdades absolutas?Nada na natureza tem o dever de seguir nossas leis científi-

cas. Por isso, se um dia o Sol se puser e, no outro, não ama-

nhecer, o que impediria a ocorrência? Ora, as leis da natu-

reza são as interpretações que fazemos dela. Cada princí pio

científico pode ser contrariado pela natureza porque não é

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Para trabalhar esses problemas com os alu-nos, você pode pedir a eles que observem as imagens a seguir, assim como as demais repro-duzidas em seus Cadernos, e respondam à seguinte questão:

2. Afirma-se, constantemente, que da obser-vação das experiências tiramos os conhe-cimentos. Mas será que cada um de nósobserva da mesma maneira? Será que nossavisão, nossa audição, nosso paladar, nossotato e nosso olfato são iguais aos dos outrosseres humanos? As pessoas podem observaruma mesma situação de modos diferentes.Analise as seguintes imagens e responda àquestão: Quais são os limites da observação?

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Pl

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inst

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/lat

inst

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Figura 4 – O chão ou o teto? Figura 5 – Plano ou ondulado?

fundamentado pela razão, mas pela experiência. Nós preve-

mos alguns eventos como se fosse um hábito psicológico.

Por exemplo, o que garante que, ao soltar um lápis, ele vai

cair? A Lógica não pode garantir isso; afinal, ela trata de pala-

vras e conhecimentos, e nunca da realidade. A experiência é

sempre única, e a queda de um lápis não tem relação com a

queda de outro. Em resumo, nada garante que o lápis vá cair.

Por isso, quando consideramos a Ciência como uma garantia

da verdade, temos uma visão acrítica dela.

Há, ainda, dois outros problemas que pre-cisamos discutir a respeito da indução, como fundamento da Ciência. São eles:

f a observação como fonte objetiva; f a relação teoria-experiência.

Por meio deste exercício, espera-se que os alunos compreendam que as percepções que vêm dos sentidos não são as mesmas para todos, já que as pessoas podem observar uma mesma situação de formas diferentes.

Enfim, a observação tem problemas em relação à objetividade da Ciência, e também com a crença de que dela derivam todas as teorias. Seria muito difícil acreditar que, quando um cientista realiza uma experiência, ele o faça partindo do nada. Ele tem muitas teorias anteriores à experiência, e, algumas vezes, é com base nelas que ele irá produzir a própria experiência a ser observada. Isso apa-rece principalmente quando, durante a obser-

vação, o cientista usa o vocabulário de uma teoria para expressar sua percepção. Por exemplo, para explicar a experiência de um livro que foi solto no solo, um físico poderia dizer, em sua observação, que a força gravi-tacional da massa do planeta Terra é que atraiu para ele, segundo sua distância, a massa do livro. Onde está a palavra “força” no ato de soltar um livro? E “atração”? Todas essas palavras estão na mente do cientista antes da experiência.

Na vida cotidiana, podemos encontrar vários exemplos de percepções com vocabu-lário derivado de outras teorias. Por exem-plo, se dissermos: “o vento empurrou o lixo

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Filosofia – 1a série – Volume 1

para dentro da sala”, já apresentamos teo-rias. Inicialmente, que o lixo pode ser empur-rado, e que o ato de ele entrar na sala foi em função de algo externo, uma vez que não seria capaz de entrar na sala sozinho: temos, aqui, uma teoria da inércia do lixo. Segundo, mesmo sem podermos ver, sabemos que o vento é capaz de movimentar outras coisas: temos, aqui, uma teoria da capacidade de o vento empurrar. Se, no cotidiano, temos teo-rias, seria absurdo imaginar que os cientistas gastariam montanhas de dinheiro para fazer pesquisas sem uma teoria prévia do que eles pretendem experimentar.

exercício

Realiza os exercícios do Caderno do Aluno - página 49

Observem pequenos fenômenos na sala de aula. Depois, peça que anotem esses fenôme-nos, como “o Sol atravessa o vidro e aquece a carteira”. Em seguida, procure levá-los a per-ceber as pequenas teorias que acompanham essa afirmação. Por exemplo, o Sol é quente e emite raios de calor; o vidro é transparente e permite a passagem de calor e de luz; a car-teira recebe calor e fica aquecida. Assim, por meio da percepção, do vocabulário de outras teorias e de inferências, é possível elaborar pequenas teorias. Nesse contexto, podemos afirmar que a Ciência é uma atividade humana que contempla, entre outros procedimentos, observações, interpretações e análises de fenô-menos (no exemplo mencionado, os raios solares que incidem verticalmente sobre um material sólido e transparente, atravessando-o e incidindo sobre objetos).

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Page 19: Conteúdo para provas 1ªsérie 2ºbimestre 2015

O FALSIFICACIONISMO - KARL POPPER

Para os falsificacionistas – entre os quais Karl Popper é

um dos mais importantes –, o valor de um conhecimento

científico não vem da observação de experiências, mas

da possibilidade de a teoria ser contrariada, ou melhor,

falseada. Em um primeiro momento, acreditava-se que

a Ciência comportaria todas as verdades, com base na

criação de teorias e leis que surgiriam pela observação de

experiências – essa é a crença de indutivistas. Com a ideia

de que a teoria precede a experiência, os falsificacionistas

admitem que toda explicação científica é hipotética; no

entanto, é o melhor que temos.

Quanto mais uma teoria pode ser falseada, melhor seria

ela. Por exemplo, ignorando a pressão atmosférica e

outros fatores, se dissermos que “a água ferve a 100 graus

Celsius”, qual é a contradição possível, ou melhor, o que

tornaria falsa essa afirmação? A resposta seria: ao chegar

a 100 graus Celsius, a água não ferveria, ou ferveria antes.

No momento em que uma teoria é falseada, o cientista

tentará melhorá-la ou a abandonará. Mas, enquanto ela

não é falseada, permanece seu valor explicativo. O

fundamental é que tenhamos em mente o seu limite. As

teorias têm de dizer algo bem objetivo sobre o mundo,

para sermos capazes de conceber sua falsificabilidade.

Critérios para uma boa teoria Tem de ser clara e precisa, não pode ser obscura

nem deixar margem para várias interpretações. Quanto mais específica, melhor;

Deve permitir a falsificabilidade; quanto mais, melhor;

Deve ser ousada, para conseguir progredir em busca de um conhecimento mais aprofundado sobre a realidade.

Teorias que não podem ser falseadas não são boas

teorias. Por exemplo, se alguém disser que “o ladrão

rouba”, não estará dizendo muita coisa sobre o mundo.

Apesar de parecer clara, essa afirmação não pode ser

falseada; afinal, está contida na palavra “ladrão” a ideia

de que ela qualifica os seres que roubam. Ninguém

precisa dizer “o ladrão rouba” para sabermos que ele

rouba. É impossível contradizer essa afirmação, pois é

completamente irracional pensarmos em um ladrão que

não rouba.

Outro exemplo: se dissermos “é possível ter sorte no

esporte”, também não diremos muita coisa. Não estamos

sendo precisos, uma vez que muitas outras coisas são

possíveis no esporte. A própria ideia de que algo é

possível permite quase tudo, mas como medir a sorte ou

saber que não foi o acaso? Essa frase serve tanto para

perder quanto para ganhar, não é capaz de ser falseada.

Pode ser a sorte de um time ou de outro; pode ser até

mesmo a sorte dos dois, mas nunca deixará de ser sorte

de alguém.

Realizar os exercícios página 51 – Caderno do Aluno

Falseamentos possíveis

Se soltar esta borracha, ela não cairá no chão, nem rolará para lado nenhum.

Se soltar esta borracha, ela cairá para cima.

Se soltar esta borracha, ela cairá para a parede.

Se soltar esta borracha, ela ficará suspensa no ar.

Se soltar esta borracha, ela cairá no chão e rolará para a direita.

Se soltar esta borracha, ela cairá no chão e rolará para cima.

Se soltar esta borracha, ela cairá no chão e rolará para baixo.

Se soltar esta borracha, ela cairá no chão e não rolará.

Se soltar esta borracha, ela cairá no chão e desaparecerá.

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O PROGRESSO DA CIÊNCIA - THOMAS KUHN ara os falsificacionistas, a Ciência progride pela tentativa de superação

das teorias. Com base nas considerações de Alan Chalmers, no livro O que é Ciência afinal? Podemos pensar o progresso da Física segundo os falsificacionistas.

O primeiro grande físico seria o filósofo Aristóteles. Sua teoria explicava por que os objetos caíam (para encontrar seu lugar natural) ou, também, como funcionava o sifão (a impossibilidade do vácuo).

A física de Aristóteles foi falseada várias vezes. A física de Newton era capaz de explicar melhor do que a física de Aristóteles diversos fenômenos; por exemplo, a lei da gravidade era melhor que a teoria da Posição Natural, esta refutada há bastante tempo.

No entanto, a física de Newton não explicava alguns fenômenos, como a órbita do planeta Mercúrio. A física de Albert Einstein, por sua vez, era capaz de explicar não só os pontos em que a física de Newton era bem-sucedida, como o que foi refutado dessa teoria. Agora, os cientistas procuram ir além.

A teoria de Einstein é melhor que a de Aristóteles e que a de Newton; no entanto, apesar de ser a melhor disponível, poderá ser superada um dia, pois o melhor que temos não é o definitivo.

O não científico na ciência

Muitos filósofos se interessaram em pensar de forma crítica a Ciência, seus fundamentos, seus limites e seu progresso. Vamos discutir a reflexão de Thomas Kuhn a respeito da Ciência, vista por ele como uma construção histórica.

Em primeiro lugar, é importante salientar que a Ciência é uma atividade racional e humana. Como muitas outras, é influenciada por problemas humanos de natureza variada, como emocionais, políticos, linguísticos, sociais e religiosos.

Kuhn percebeu que essas influências são inerentes à racionalidade humana e se propôs a pensar a Ciência com base nelas e de acordo com a seguinte linha de desenvolvimento: pré-Ciência, Ciência normal, crise, revolução científica e nova Ciência normal.

O conceito mais importante para Kuhn é o de paradigma, que é o modelo da Ciência normal. Durante um tempo, todos os cientistas procuram orientar suas pesquisas com base em um modelo, de maneira a preservar a verdade científica. O que não se encaixar nesse modelo será excluído; será considerado anomalia, mas isso também pode indicar que o cientista não aplicou corretamente o modelo e sua metodologia.

Para Kuhn, o determinante das normas da Ciência é o paradigma aceito pelos cientistas. Mas, por motivos nem sempre racionais, os cientistas mudam de paradigma, após uma crise da Ciência normal, o que, em geral, é fundamentado na anomalia, isto é, quando a Ciência normal não consegue responder a alguns problemas, como a órbita de Mercúrio para a física newtoniana.

Essa crise estende-se até uma revolução científica, quando a maneira de fazer Ciência muda completamente. Quando ocorre essa mudança, segundo Kuhn, chega-se a uma nova Ciência normal, praticada, a partir desse momento, de acordo com um novo paradigma.

É preciso considerar que a racionalidade científica encontra problemas dentro e fora de seu espaço de ação. Dentro desse espaço são as anomalias e, fora dele, são as necessidades humanas da pesquisa científica. Instituições, empresas e governos procuram fazer que a Ciência seja orientada por seus interesses, não apenas por mera curiosidade.

P THOMAS KUHN

Thomas Kuhn (1922-1996) foi um

físico norte-americano e estudioso primordial no ramo da filosofia da ciência. Foi importante na medida que estabeleceu teorias que desconstruíam o paradigma objetivista da ciência.

Nasceu em Cincinnati, Ohio. Ingressou na Universidade de Havard, onde fez curso de física. Desta faculdade, recebeu o título de mestre e doutor.

Os trabalhos acadêmicos de Kuhn resultaram no livro “A Revolução Copernicana”, de 1954. Mas foi no livro "Estruturas da Revolução Científica”, (1962), que Kuhn estabeleceu suas ligações com a filosofia e ciências humanas. O livro foi reeditado em 1970 com algumas observações adicionais. As idéias de Kuhn iam na contramão do pensamento científico, de ordem positivista. O próprio físico admitiu certa vez que não comungava do pragmatismo exacerbado das ciências, nem tinha simpatia por pensadores como John Dewey e William James.

Posteriormente, Kuhn aprofundou seu pensamento em livros como “Reconsiderando os paradigmas” (1974), “Teoria do Corpo Negro e Descontinuidade Quântica - 1894-1912”, (1979).

O grande mérito de Kuhn foi apontar o caráter subjetivista da ciência, normalmente vista como puramente objetiva. Segundo ele, as teorias científicas estão sujeitas às questões e debates do meio social, dos interesses e das comunidades que as formulam. Por isso, Kuhn desenvolveu suas teorias usando um enfoque historicista.

Kuhn morreu em 1996.

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