10
nhecido, o mundo é redondo, por isso aquilo que nos pode parecer o fim é afinal o princí- pio!”. Estamos perante a maior reestruturação dos LSP, coorde- nada pelo INSA e baseada nas conclusões do grupo de traba- lho nacional e muldisciplinar, traduzida no encerramento (de alguns), reorganização (de ou- tros) e transferência (de algu- mas competências) para Unida- Perante a mudança anunciada e a concrezar de imediato nos Laboratórios de Saúde Pública (LSP), agitam-se serviços, profis- sionais e outros, porque estão em causa, dizem, estruturas fundamentais, invesmentos técnicos e humanos, receios (legímos) e alguma apreensão face à perda de respostas de proximidade. Sim, mudar é pos- sível e, citando autor desco- SUMÁRIO Construir o caminho... 1 A propósito dos LSP Uma reflexão (mais do que….) pessoal 1 Consumo de quinolo- nas e cefalosporinas no ACeS Pinhal Lito- ral em 2013 e 2014 2 Integração do estu- dante com diabetes tipo 1 em contexto escolar: uma proposta de abordagem… 3 Projeto Escolas sem Ruído 4 Efeitos nocivos da exposição ao ruído 5 Exposição ao ruído ocupacional e sua repercussão na saúde dos trabalhadores numa cimenteira 6 DDO no ACeS Pinhal Litoral e SINAVE 8 Os nossos filhos 9 BTT ao domingo 9 Os Homens... 9 Estórias… da História da Saúde Pública: O início 10 UNIDADE DE SAÚDE PÚBLICA ACES PINHAL LITORAL e-Boletim da Unidade de Saúde Pública SETEMBRO DE 2015 Ana Silva Fátima Soares Fernanda Santos Helena Sofia Costa Isabel Craveiro Jorge Costa Lourdes Costa Odete Mendes Olinda Nogueira Paula Fernandes Ruben Rodrigues Rui Passadouro AUTORES NÚMERO II QUADRIMESTRAL ACES PINHAL LITORAL Conteúdos Diz o provérbio que Longas via- gens começam com um passoe, de facto, o percurso vai-se cons- truindo, com aprendizagem e amadurecimento, desde que se saiba para onde se quer ir. O desafio que se colocou, depois de lançado o primeiro número deste eBolem, foi precisamente fazer caminho”, tornando-o um projecto mais rico e mais parci- pado. Planificou-se melhor a sua estrutura, aprofundaram-se os conteúdos, alargou-se o corpo editoriale reflecu-se muito. Construir o caminho é, aliás, um desiderato universal, quer se fale da perspecva pessoal (familiar ou profissional), quer se trate da perspecva colecva, relava às instuições e à sociedade. A Saúde Pública do século XXI depara-se com novos problemas, mas também com novos recur- sos e novas oportunidades. E é neste contexto, ten- do em conta o passa- do, que se deve cons- truir o presente, com vista a angir no fu- turo os objecvos de Saúde pretendidos. A herança das angas Delegações de Saúde, com uma presença muito próxima da comunidade, é ainda hoje um factor im- portante que se deve valorizar e presgiar. Assim como o Delegado de Saú- de, em muitos locais, connua a ser a imagem de referência, não apenas como defensor da Saúde Pública, mas até como Provedor Construir o caminho... Jorge Costa Coordenador da Unida de Saúde Pública A propósito dos Laboratórios de Saúde Pública Uma reflexão (mais do que…) pessoal Odete Mendes Médica de Saúde Pública da Saúde. As Unidades de Saúde Pública constuem-se hoje, na promo- ção da saúde e na salvaguarda da saúde pública, como a rede de contacto entre o Estado e os Cidadãos. Mas a sua capacidade de res- posta encontra difi- culdades a vários níveis, tais como, a escassez de recursos humanos e materi- ais, o modelo de funcionamento e de organização e até o seu contexto instu- cional. Um editorial é neces- sariamente um espa- ço mínimo para o debate, mas é suficiente para lembrar a necessidade de se reflecr. Assim, seja esta refle- xão a chama que permita cons- truir o futuro. “… o percurso vai-se construindo, com aprendizagem e amadurecimento, desde que se saiba para onde se quer irdes Hospitalares, mantendo a aposta, dizem, na resposta às necessidades em Saúde Pública baseada na uniformidade técnica (INSA) e complementaridade de acção, definida estrategicamente desde 1971. Mudanças com as quais os LSP têm convivido, considerando as inúmeras turbulênciasao longo dos anos, nas orientações (por vezes falta delas), >>> p. 7

Conteudos nº2

Embed Size (px)

DESCRIPTION

O nº 2 do e-boletim conteúdos divulga as actividades da Unidade de Saúde Pública do ACES Pinhal Litoral. Inclui uma reflexão sobre o processo de reestruturação dos Laboratórios de Saúde Pública, um estudo sobre o consumo de antibiótico, três artigos sobre ruído e um dedicado às doenças de declaração obrigatórias Apresenta ainda um pequeno espaço de leituras sobre atividades extraprofissionais, sendo uma dedicada ao BTT.

Citation preview

Page 1: Conteudos nº2

nhecido, “o mundo é redondo, por isso aquilo que nos pode parecer o fim é afinal o princí-pio!”. Estamos perante a maior reestruturação dos LSP, coorde-nada pelo INSA e baseada nas conclusões do grupo de traba-lho nacional e multidisciplinar, traduzida no encerramento (de alguns), reorganização (de ou-tros) e transferência (de algu-mas competências) para Unida-

Perante a mudança anunciada e a concretizar de imediato nos Laboratórios de Saúde Pública (LSP), agitam-se serviços, profis-sionais e outros, porque estão em causa, dizem, estruturas fundamentais, investimentos técnicos e humanos, receios (legítimos) e alguma apreensão face à perda de respostas de proximidade. Sim, mudar é pos-sível e, citando autor desco-

S U M Á R I O

Construir o caminho... 1

A propósito dos LSP Uma reflexão (mais do

que….) pessoal 1

Consumo de quinolo-nas e cefalosporinas no ACeS Pinhal Lito-ral em 2013 e 2014

2

Integração do estu-dante com diabetes tipo 1 em contexto escolar: uma proposta de abordagem…

3

Projeto Escolas sem Ruído 4

Efeitos nocivos da exposição ao ruído

5

Exposição ao ruído ocupacional e sua repercussão na saúde dos trabalhadores numa cimenteira

6

DDO no ACeS Pinhal Litoral e SINAVE

8

Os nossos filhos 9

BTT ao domingo 9

Os Homens... 9

Estórias… da História da Saúde Pública: O início

10

U N I D A D E D E S A Ú D E

P Ú B L I C A

A C E S P I N H A L L I T O R A L

e-Boletim da Unidade de Saúde Pública

S E T E M B R O D E 2 0 1 5

Ana Silva

Fátima Soares

Fernanda Santos

Helena Sofia Costa

Isabel Craveiro

Jorge Costa

Lourdes Costa

Odete Mendes

Olinda Nogueira

Paula Fernandes

Ruben Rodrigues

Rui Passadouro

A U T O R E S N Ú M E R O I I

Q U A D R I M E S T R A L

ACES PINHAL LITORAL

Conteúdos

Diz o provérbio que “Longas via-gens começam com um passo” e, de facto, o percurso vai-se cons-truindo, com aprendizagem e

amadurecimento, desde que se saiba para onde se quer ir.

O desafio que se colocou, depois de lançado o primeiro número deste eBoletim, foi precisamente “fazer caminho”, tornando-o um projecto mais rico e mais partici-pado. Planificou-se melhor a sua estrutura, aprofundaram-se os conteúdos, alargou-se o corpo editorial… e reflectiu-se muito.

Construir o caminho é, aliás, um desiderato universal, quer se fale da perspectiva pessoal (familiar ou profissional), quer se trate da

perspectiva colectiva, relativa às instituições e à sociedade.

A Saúde Pública do século XXI depara-se com novos problemas, mas também com novos recur-sos e novas oportunidades. E é neste contexto, ten-do em conta o passa-do, que se deve cons-truir o presente, com vista a atingir no fu-turo os objectivos de Saúde pretendidos.

A herança das antigas Delegações de Saúde, com uma presença muito próxima da comunidade, é ainda hoje um factor im-portante que se deve valorizar e prestigiar. Assim como o Delegado de Saú-de, em muitos locais, continua a ser a imagem de referência, não apenas como defensor da Saúde Pública, mas até como Provedor

Construir o caminho... Jorge Costa Coordenador da Unida de Saúde Pública

A propósito dos Laboratórios de Saúde Pública Uma reflexão (mais do que…) pessoal Odete Mendes

Médica de Saúde Pública

da Saúde.

As Unidades de Saúde Pública constituem-se hoje, na promo-ção da saúde e na salvaguarda da saúde pública, como a rede de contacto entre o Estado e os

Cidadãos. Mas a sua capacidade de res-posta encontra difi-culdades a vários níveis, tais como, a escassez de recursos humanos e materi-ais, o modelo de funcionamento e de organização e até o seu contexto institu-cional.

Um editorial é neces-sariamente um espa-ço mínimo para o

debate, mas é suficiente para lembrar a necessidade de se reflectir. Assim, seja esta refle-xão a chama que permita cons-truir o futuro.

“… o percurso

vai-se

construindo,

com

aprendizagem e

amadurecimento,

desde que se

saiba para onde

se quer ir”

des Hospitalares, mantendo a aposta, dizem, na resposta às necessidades em Saúde Pública baseada na uniformidade técnica (INSA) e complementaridade de acção, definida estrategicamente desde 1971.

Mudanças com as quais os LSP têm convivido, considerando as inúmeras “turbulências” ao longo dos anos, nas orientações (por vezes falta delas), >>> p. 7

Page 2: Conteudos nº2

P Á G I N A 2

C O N T E Ú D O S : E - B O L E T I M D A U N I D A D E D E S A Ú D E P Ú B L I C A

A C E S P I N H A L L I T O R A L

início do século XX, contudo o seu uso em gran-de escala levou ao aparecimento de estirpes bac-terianas resisten-tes, de tratamen-to difícil. Perante a situação dete-tada, é imperati-vo monitorizar a prescrição, de acordo com as recomendações da DGS, com a criação de um Programa de Assistência à Prescrição

de Antibióticos (PAPA)(7) de forma a reduzir substan-cialmente a pres-são antibiótica, utilizando-os ape-nas quando existe infeção bacteriana e durante o míni-mo tempo indis-pensável (8).

Referências Bibliográficas 1. ECDC. Antimicrobial resistance surveillance in Europe. Sweden2012. Available from: http://ecdc.europa.eu/en/publications/Publications/antimicrobial-resistance-surveillance-europe-2012.pdf. 2. WHO. World Health Organization global strategy for containment of antimicrobial re-sistance: World Health Organization; 2001.

3. Goossens H, Ferech M, Vander Stichele R, Elseviers M. Outpatient antibiotic use in Europe and association with resistance: a cross-national database study. The Lancet. 2005;365(9459):579-87.

4. WHO Collaborating Centre for Drug Statistics Methodology. Guidelines for ATC classification and DDD assignment 2014. Oslo2013. Available from: http://www.whocc.no/atc_ddd_publications/guidelines/.

5. Ramalhinho I, Ribeirinho M, Vieira I, Cabrita J. A evolução do consumo de antibióticos em ambulatório em Portugal continental 2000-2009. 2012. 2012;25(1):20-8.

6. Ramalhinho I, Cabrita J, Ribeirinho M, Vieira I. Evolução do consumo de antibióticos em Portugal Continental (2000-2007) 2010. Availa-ble from: www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MONITORIZACAO_DO_MERCADO/OBSERVATORIO/ESTUDOS_REALIZADOS_PROTOCOLOS/Evolu%E7%E3o_Consumo_Ab_Portugal.pdf 7. DGS. Programa de prevenção e controlo de infeções e de resistência aos antimicro-bianos2014. Available from: Retrived from: https://www.dgs.pt/estatisticas-de-saude/estatisticas-de-saude/publicacoes/portugal-controlo-da-infecao-e-resistencia-aos-antimicrobianos-em-numeros-2014.aspx. 8. DGS. NOC 6/2014: Duração de terapêutica antibiótica. 2014.

A descoberta dos antibióticos na década de 40 do século XX, revolucionou o tra-tamento das infeções e contribuiu signi-ficativamente para a redução da mor-bimortalidade. No entanto, o apareci-mento de resistências, problema com-plexo resultante de múltiplos fatores, entre os quais se encontra o uso indis-criminado dos antibióticos, constitui uma ameaça à saúde pública, levando ao aumento dos custos com os cuidados de saúde, ao insucesso terapêutico e, por vezes, à morte (1). Afeta tanto os países desenvolvidos como os em de-senvolvimento e potencia o apareci-mento de infeções multirresistentes de tratamento difícil e oneroso (2).

A Organização Mundial de Saúde (OMS)

considerou a resistência aos antibióticos um problema prioritário. Desde 2001 instituiu medidas globais para o seu controlo, salientando-se a vigilância da resistência, a educação dos prescritores, dos profissionais de saúde e do grande público e a regulamentação da promo-ção de antibióticos pela indústria farma-cêutica (2).

O consumo de antibióticos, em doentes da comunidade europeia, apresenta um gradiente norte-sul, com menor consu-mo no norte e alto no sul (3). O seu con-sumo é avaliado em dose diária definida por 1000 habitantes por dia (DHD)(4).

Em 2002, França tinha o maior consumo (32,2 DHD) e a Holanda o menor (10,0 DHD). Portugal ocupava a 3ª posição com cerca de 27 DHD (3). No distrito de Leiria, em 2007, o consumo de quinolo-nas em ambulatório foi de 3,01 e no Continente 2,87 DHD. Relativamente às

cefalosporinas foi de 3,18 DHD no dis-trito de Leiria e 2,11 no continente (5, 6), revelando um maior consumo no distrito em relação ao continente.

Uma das competências do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA) é coordenar e apoiar as ativi-dades que promovam o uso adequado de antimicrobianos e a prevenção de resistências. No ACeS Pinhal Litoral deu-se prioridade à monitorização do consumo de quinolonas e cefalospori-nas nas várias unidades funcionais (UF) nos anos de 2013 e 2014.

Em relação ao consumo de quinolonas (figura 1) e de cefalosporinas (figura 2)

verificou-se um ligeiro decréscimo de consumo médio no ACES de 2013 para 2014. O consumo de quinolonas pas-sou de 0,57 DHD para 0,52 DHD e o de cefalosporinas de 0,56 DHD para 0,47 DHD.

Da análise global das 15 UF do ACES PL verifica-se uma grande assimetria de consumos, que varia em 0,08 DHD para a UF com menor consumo e 0,94DHD para a de maior consumo, no ano de 2013, sendo, no ano de 2014 de 0,13 DHD para a de menor consu-mo e 0,82 DHD para a de maior consu-mo (figura 1).

A situação é semelhante para as quino-lonas, com grande variabilidade entre as UF, variando entre 0,05 e 0,50 DHD em 2013 e 0,14 e 0,77 DHD em 2014.

Os antibióticos revolucionaram o trata-mento dos doentes com infeção, no

Consumo de quinolonas e cefalosporinas no ACeS Pinhal Litoral em 2013 e 2014

Rui Passadouro Médico de Saúde Pública

Isabel Craveiro Técnica Superior de Saúde - Farmacêutica

Figura 1 - DHD Quinolonas 2013-14 nas UF e ACES PL

Figura 2- DHD Cefalosporinas 2013-14 nas UF e ACES PL

“… é imperativo monitorizar a

prescrição, de acordo com as

recomendações da DGS, com a

criação de um Programa de

Assistência à Prescrição de

Antibióticos (PAPA) de forma a

reduzir substancialmente

a pressão antibiótica”

Page 3: Conteudos nº2

Integração do estudante com diabetes tipo 1 em contexto escolar: uma proposta de abordagem…

P Á G I N A 3

A Orientação da Direção Geral de Saúde número 3 de 2012, de 18 de Janeiro de 2012 recomenda que, no âmbito da Escola Inclusiva e das cri-anças e jovens com Necessidades de Saúde Especiais, a Escola identifique as situações de alunos com Diabetes tipo 1, a fim de se poderem mobili-zar os recursos para o apoio neces-sário ao seu bem-estar e à sua inclu-são escolar, promovendo o acompa-nhamento, a manutenção do trata-mento e a gestão de situações inter-correntes na Diabetes.

No sentido de dar resposta a esta

orientação desenvolveu-se o projeto DARE+: “Diabetes+ Apoio pelos Res-ponsáveis Escolares” às crianças com diabetes tipo 1, que se encontra em fase de estudo piloto na Unidade de Saúde Pública do ACES PL. Este Projeto apresenta entre outros objetivos melhorar os conhecimen-

tos e competências dos profes-sores e assistentes operacionais no acompanhamento de estu-dantes com diabetes tipo 1 e dar formação aos enfermeiros no sentido do desenvolvimento do projeto. O estudo longitudinal, quasi-experimental do tipo pré e pós teste sem grupo de controlo, utiliza vários instrumentos no sentido da avaliação da efetivi-dade do projeto. Numa fase piloto de desenvolvi-mento do projeto efetuou-se a

avaliação da inter-venção dirigida aos profissio-nais escolares, tendo os re-sultados preliminares eviden-ciado efetividade do projeto. Dos 88 participantes verificá-mos que 24,1% tinham a ca-tegoria profissional de Assis-tente operacional, 62,1% de Professores e 13,8 tinham outra profissão. Das 17 questões constantes do instrumento verificou-se

que em média antes da formação os formandos acertaram em 9,9±0,4 e de-pois da formação passaram a acertar em média em 11,4 ±0,5. Verificamos assim que a formação foi eficaz (t=-2,019; p<0,05). Verificamos igualmente que antes da formação o nível de conhecimentos não

dependia da profis-são mas no fim da formação verifica-mos que foram os assistentes opera-cionais que mais aprenderam com a formação. A formação dos enfermeiros de saúde escolar no sentido de dar con-tinuidade ao pro-jeto será a próxima etapa.

Autores: Maria de Fátima Soares (USP ACES Pi-nhal Litoral); Eva Menino, Maria dos Anjos Dixe, Sara Gordo, Clementina Gordo, Helena Catarino, Teresa Kraus (Unidade de Investigação em Saúde da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria)

Médicos de Saúde Pública: Amália Assis, Ana Isabel Nascimento, Ana Silva, Clarisse Bento, Corneliu Tapu (ISP), Jorge Costa (Coordenador), José Luis Ruivo, Lourdes Costa, Odete Mendes, Ruben Rodrigues (ISP), Rui Passadouro, Vitor Sousa, Yaroslav Savaryn (ISP)

Enfermeiros: Dina Pascoal, Fátima Soares, Hélder Carreira

Técnicos de Saúde Ambiental: Anabela Cruz, Cátia Santos, Claudia Serrano, Helena Costa, Laurinda Lopes, Manuel Cardoso, Olinda Marques, Regina Costa, Rosália Campos, Teresa Gameiro

Assistentes Técnicos: Carolina Jordão, Conceição Nolasco, Fernanda Santos (CEI), Gracinda Coutinho, Helena Car-valho, Margarida Santos, Olinda Nogueira, Olívia Sousa (CEI), Rosário Correia

Engenheira Sanitarista: Paula Fernandes (DSP/ARSC)

Profissionais da Unidade de Saúde Pública

C O N T E Ú D O S : E - B O L E T I M D A U N I D A D E D E S A Ú D E P Ú B L I C A

A C E S P I N H A L L I T O R A L

N Ú M E R O I I

ISP: Interno de Saúde Pública

Maria de Fátima Soares Enfermeira

“ … o projeto

DARE+: “Diabetes

+

Apoio pelos

Responsáveis

Escolares” às

crianças com

diabetes tipo 1,

que encontra-se

em fase de estudo

piloto na Unidade

de Saúde Pública

do ACES PL”

Page 4: Conteudos nº2

P Á G I N A 4

C O N T E Ú D O S : E - B O L E T I M D A U N I D A D E D E S A Ú D E P Ú B L I C A

A C E S P I N H A L L I T O R A L

bém identificadas inúmeras situa-ções em que a própria estrutura arquitectónica dos edifícios e a organização espacial favorece a ocorrência de eco e reverbera-ção.

É, pois, fundamental que haja consciencialização dos interveni-entes na elaboração dos projetos de arquitectura das escolas e dos responsáveis pela sua manuten-ção, para a necessidade de me-lhorar a qualidade acústica dos edifícios escolares.

Mas há também, toda uma série de pequenas intervenções de grande utilidade que podem ser realizadas pela própria comuni-dade escolar. São exemplos, a colocação de biombos ou de qua-dros em material absorvente para exposição de trabalhos de alunos também em materiais absorventes em locais estratégi-cos, a colocação de plantas, a colocação nos tetos de penden-tes temáticos feitos pelos alunos, a colocação de borrachas nos pés das mesas e das cadeiras, a colo-cação de cortinas nas janelas,… consoante as situações.

Há muito que se pode e deve fazer e aconselhar para reduzir o ruido nas escolas… Impensável é constatar a existência de um pro-blema e nada fazer para o ultra-passar!

Referências bibliográficas: 1. Berlund, B; Lindvall, T; Schwela, DH –

Guidelines for Community Noise. WHO 1999

2. Celani, AC; BevilacQua, MC; Ramos CR – Ruído em Escolas. Pró-fono, 1994

3. Cereges, SNY – Ruído em ambiente escolar: estudo das interferências na relação entre o ensino e a aprendiza-gem. Curitiba: BIO editora, 2005

O ruído é um dos determinantes ambientais aos quais estamos ex-postos quotidianamente e dos quais podem resultar efeitos noci-vos no organismo, constituindo um dos reconhecidos factores de de-gradação da qualidade de vida na sociedade actual. (1)

As escolas com a sua população específica deveriam ser um local saudável e de promoção de com-portamentos salutares. No entan-to, será que o ruído existente nas escolas não constituirá uma situa-ção de risco para a saúde dos que frequentam ou trabalham nas es-colas?!...

O Projeto “Escolas sem Ruído”, iniciado em 2010 no âmbito do Departamento de Saúde Pública da ARS Centro, procurou dar resposta a esta questão, em parceria com a Direção-Geral dos Estabelecimen-tos Escolares (DGEstE).

É constituído por 2 fases comple-mentares, incidindo a 1ª Fase na avaliação dos níveis sonoros de ruído ambiente nas Escolas do 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico (EB 2,3) e a 2ª Fase, que se encontra agora em desenvolvimento, intervindo nestes espaços escolares com o objectivo de reduzir os riscos asso-ciados à exposição elevada ao ruí-do.

A 1ª Fase, de Diagnóstico (anos lectivos 2010/11 e 2011/12) envolveu a me-dição dos níveis sonoros em 73 escolas EB 2,3 das 113 existentes na Região Centro, tendo as restan-tes sido excluídas por se encontrarem em proces-sos de remodelação físi-cos e/ou funcionais.

Foram avaliados os seus diferentes espaços com

exceção das salas de aula, designa-damente, as zonas polivalentes interiores e exteriores e os refeitó-rios, locais onde os alunos perma-necem nos tempos livres entre as aulas.

Pelo quadro resumo dos resultados obtidos, pode constatar-se que a realidade está muito longe do ide-al, que deveria ser, segundo a

OMS, um Ruído Ambiental no recreio exterior das escolas de LA,eq ≤ 55 dB(A) durante as pausas letivas.(1)

Os resultados obtidos demonstram comprovadamente que este ruido pode contribuir, não só para a ocor-rência de problemas de saúde, que vão desde os zumbidos, dores de cabeça e perturbações gástricas até distúrbios cardio-vasculares e sur-dez, mas também para outro tipo de problemas, relacionados com o baixo rendimento escolar e os comporta-mentos agressivos e anti-sociais. (1,2,3)

Após a apresentação e discussão pública dos resultados obtidos com a DGEstE, Diretores dos Agrupamentos Escolares e Unidades de Saúde Públi-ca (USP), iniciou-se a 2ª Fase do Pro-jeto (anos lectivos 2014/2015 e 2015/2016) sob a responsabilidade dos Coordenadores das USP.

Pretende-se a intervenção local ao nível destes es-tabelecimentos escolares e da população em geral, principal-mente através de ações de sen-sibilização junto da comunidade escolar (alunos, funcionários e professores) e a abordagem, caso a caso, de cada uma das escolas com recomendações para alterações fun-cionais, da decoração, mobiliário ou equipamento, que possam minimizar os efeitos adversos do ruído.

Não há dúvida que a principal fonte de ruído nas escolas são as vozes e certos comportamentos inadequa-dos dos alunos, contudo, foram tam-

Projeto Escolas sem Ruído Paula Fernandes Técnica Superior de Saúde - Engenheira Sanitarista

… “será que o

ruído existente nas

escolas não

constituirá uma

situação de risco

para a saúde dos

que frequentam ou

trabalham nas

escolas?!...”

Local Níveis sonoros em dB (A) %

Zonas Polivalentes Exteriores

50 - 64 65 - 74 75 - 84

≥ 85

14 46 32

8

Zonas Polivalentes Interiores

50 - 64 65 - 74 75 - 84

≥ 85

1 0

75 24

Refeitórios

50 - 64 65 - 74 75 - 84

≥ 85

1 0

70 29

Page 5: Conteudos nº2

P Á G I N A 5

C O N T E Ú D O S : E - B O L E T I M D A U N I D A D E D E S A Ú D E P Ú B L I C A

A C E S P I N H A L L I T O R A L

N Ú M E R O I I

Efeitos Nocivos da Exposição ao Ruído De acordo com World Health Orga-nization's Guidelines for Community Noise, o ruído constitui um proble-ma crescente de saúde pública (1). Definido como todo o som desagra-dável e suscetível de provocar da-nos na saúde dos indivíduos (2,3) (provocado por causas naturais ou humanas), é um dos determinantes ambientais a que estamos expostos diariamente e do qual podem advir efeitos nocivos para a saúde (4).

Com repercussões não apenas na saúde auditiva, a exposição ao ruído excessivo prejudica seriamente a saúde humana, interferindo no ren-dimento físico e psicológico dos indivíduos a ele expostos e condici-onando a realização das atividades diárias, seja no contexto escolar, no trabalho, em casa ou mesmo duran-te o tempo de lazer (5). São efeitos adversos possíveis: a perda da acui-dade auditiva; distúrbios do sono; problemas do foro cardiovascular e psicofisiológico; irritabilidade, redu-ção da capacidade de concentração e alterações no comportamento social (5,6) (Figura 1).

Os efeitos provocados pelo ruído dependem, naturalmente, da inten-sidade dos níveis sonoros, do tempo de exposição, assim como da susce-

tibilidade individual (4) (crianças, idosos, doentes crónicos e, ainda, trabalhadores por turnos, sobretudo se irregulares, e residentes em habitações com fracas condições de isolamento sonoro são, atualmente, considerados grupos vulne-ráveis) (1,6).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a manutenção de níveis so-noros inferiores a 30 dB(A) durante a noite, por forma a assegurar um sono de boa qualidade, 35 dB(A) em salas de aula, como condição essencial para uma boa aprendizagem, e um limite de 55dB(A) em espaços exteriores durante o dia (1,6).

Por outro lado, estima-se que cerca de 40% da população nos países da União Europeia (EU) se encontra exposta ao ruído de tráfego rodoviário em níveis superiores a 55 dB(A), 20% é exposta a níveis superiores a 65 dB(A) durante o dia, e mais de 30% é exposta a níveis superiores a 55 dB(A) à noite (6).

A exposição ao ruído é, de facto, um problema crescente, particularmente em áreas urbanas, tanto em países in-dustrializadas como nas regiões do

mundo em desenvolvimento (7). Isto implica que em pleno século XXI a expo-sição ao ruído continuará a ser um pro-blema de saúde pública (7). “When the-

re is a reasonable possibility that the pu-blic health will be endangered, even though scientific proof may be lacking, action should be taken to protect the public health, without waiting the full scienti-fic proof. Action should be taken where possible to reduce noise at the sour-ce” (1).

Referências Bibliográficas 1. Berglund B, Lindvall T, Schwela DH. Guidelines for

Community Noise [Internet]. Geneva: World He-alth Organization; 1999. Available from: http://www.euro.who.int/en/health-topics/environment-and-health/noise/publications

2. Belojevic G, Jakovljevic B, Slepcevic V. Noise and mental performance: personality attributes and

noise sensitivity. Noise Health [Internet]. 2003;6(21):77–89. Available from: //www.noiseandhealth.org/text.asp?2003/6/21/77/31680 3. Hammer MS, Swinburn TK, Neitzel RL. Environmental noise pollution in the United States: Developing an effec-tive public health response. Environ He-alth Perspect [Internet]. 2014;122(2):115–9. Available from: http://dx.doi.org/10.1289/ehp.1307272 4. Fernandes P, Branco E, Mar-ques O. Projeto “Escolas sem Ruído”: Relatório síntese. Departamento de Saúde Pública da Admnistração Regional de Saúde do Centro; 5. WHO. Noise [Internet]. WHO Regional Office for Europe. [cited 2015 Aug 13]. Available from: http://www.euro.who.int/en/health-topics/environment-and-health/noise/noise 6. WHO. Noise: Data and statis-tics [Internet]. WHO Regional Office for Europe. [cited 2015 Aug 13]. Available from: http://www.euro.who.int/en/health

-topics/environment-and-health/noise/data-and-statistics

7. Passchier-Vermeer W, Passchier WF. Noise Expo-

sure and Public Health. Environ Health Perspect [Internet]. 2000;108 Suppl:123–31. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1637786/

Ruben Rodrigues Médico Interno de Saúde Pública

Figura 1. Efeitos na saúde da exposição ao ruído.

“A Organização Mundial

de Saúde (OMS)

recomenda a

manutenção de níveis

sonoros inferiores a 30

dB(A) durante a noite,

por forma a assegurar

um sono de boa

qualidade, 35 dB(A) em

salas de aula, como

condição essencial para

uma boa aprendizagem,

e um limite de 55dB(A)

em espaços exteriores

durante o dia”

Page 6: Conteudos nº2

P Á G I N A 6

Ruído ocupacional: Repercussão na saúde dos trabalhadores de uma cimenteira “Introdução: O ruído ocupacio-nal encontra-se presente em maior ou menor grau em todos os locais de trabalho, tornando-se particularmente perceptível em contexto industrial. O ruído é um importante factor de risco para os trabalhadores, afectan-do a sua saúde física e psicoló-gica e a sua segurança, ao mes-mo tempo que diminui a quali-dade do trabalho e a produtivi-dade.

Material e métodos: O presen-te estudo incidiu sobre uma população de 208 trabalhado-res duma empresa cimenteira, no ano de 2009, tendo sido

recolhidas 112 res-postas válidas. Pre-tendeu-se analisar a exposição ao ruído ocupacional e sua repercussão na saúde dos trabalhadores. O tratamento dos da-dos foi efectuado utilizando o software estatístico SPSS ver-são 16.0.

Resultados: Na distri-buição por grupo etário dos casos con-siderados, encontrou-se uma frequência aproximada no grupo etário dos trabalha-dores de idades com-preendidas entre os 30 – 50 e os de ida-des superiores a 50

anos, sendo que apenas 5 pos-suem menos de 30 anos.

Na distribuição por sexo verifi-ca-se que predomina o sexo masculino (94%).

Dos 112 inquiridos, só 31% usam protecção, 64% não usam

e 5% utilizam às vezes. Quanto ao tipo de protectores, a maioria dos trabalhadores utiliza os dois tipos (auriculares e abafadores). 9,2% dos trabalhadores afirmam que esquecem de aplicar os protecto-res, 13,2% consideram que não são importantes, 28,9% referem que se sentem desconfortáveis e curiosamente 48,7% citaram ou-tros motivos. Quando questiona-dos se estavam diariamente ex-postos ao ruído, 69% referiram que estavam diariamente expostos e 31% que não estavam. Do total de trabalhadores, estão sujeitos a ruído contínuo 54,5%, 37,5% a descontínuo, 3,6% não se encon-tram sujeitos nem a ruído contí-nuo nem descontínuo, 2,7% não responderam e 1,8% submetidos aos dois tipos. Verificou-se que mais de metade dos trabalhadores tem dificuldade na audição, 53% responderam que sim comparan-do com 47% que responderam negativamente. 45% dos trabalha-dores relataram que sentiam zum-bidos e tonturas e 55% negaram a sua existência. Apurou-se uma notável percentagem de activos 94%, que pensam ser muito im-portante proteger-se do ruído.

Sobre a existência de anteriores doenças otológicas somente 8% respondeu afirmativamente a esta pergunta. Após análise dos audio-gramas concluiu-se que 55% dos trabalhadores possuíam traçado não normal, contrariamente, 45% apresentaram traçado normal. De salientar que 13,8% apresentam hipoacúsia grave, 11,9% hipoacú-sia moderada e 29,4% hipoacúsia ligeira.

Discussão: Ao cruzar o número de anos que os trabalhadores traba-lham em locais ruidosos com os resultados do audiograma verifica-

se a existência de uma relação estatisticamente significativa. Tal permite concluir que quanto mais tempo os trabalhadores estão expostos ao ruído, maiores os danos provocados. Uma situa-ção semelhante ocorre ao cruzar os dados relativos ao tempo de trabalho com as respostas dadas pelos trabalhadores quanto à sua acuidade auditiva. Perante isto, será de reforçar a necessi-dade de se fazer recurso habitual a audiogramas para aferir as condições de saúde dos traba-lhadores, uma vez que a percep-ção que cada um tem da sua própria condição nem sempre é real. Da mesma forma verificou-se grande relação entre o núme-ro de anos em local ruidoso e a dificuldade auditiva apresenta-da.

Conclusão: O presente estudo demonstra-nos que o ruído re-presenta um sério problema de saúde para os trabalhadores deste tipo de indústria uma vez que a incidência da patologia auditiva nos trabalhadores é acentuada. São necessárias me-lhorias que permitam reduzir eficazmente as emissões de ruí-do na fonte e sugere-se que seja implementado um Plano de Con-servação da Audição para prote-ger a saúde e a segurança dos trabalhadores. Também a selec-ção adequada dos “protectores auriculares” é um ponto que deve merecer uma análise deta-lhada.

Palavra-chave: ruído ocupacio-nal; investigação; cimenteira; prevenção.”

Helena Sofia Costa Técnica de Saúde Ambiental

C O N T E Ú D O S : E - B O L E T I M D A U N I D A D E D E S A Ú D E P Ú B L I C A

A C E S P I N H A L L I T O R A L

“… São

necessárias

melhorias que

permitam reduzir

eficazmente as

emissões de ruído

na fonte e sugere-

se que seja

implementado um

Plano de

Conservação da

Audição…”

Page 7: Conteudos nº2

P Á G I N A 7

C O N T E Ú D O S : E - B O L E T I M D A U N I D A D E D E S A Ú D E P Ú B L I C A

A C E S P I N H A L L I T O R A L

N Ú M E R O I I

>>> na estrutura organizacional (com base nas alterações legislativas) e nos investimentos (por vezes falta deles).

Todos iguais .. todos diferentes, as-sim poderão ser definidos os LSP, traduzidos em práticas gerais seme-lhantes e outras bem diferentes, com história construída na proximidade (ou não) com os Serviços de Saúde Pública, de acordo com as especifici-dades regionais, com uma crescente diferenciação nas metodologias, téc-nicas e procedimentos com garantia de qualidade (desde sempre), objeti-vada nos resultados obtidos nos pro-gramas de avaliação externa de qua-lidade e no controlo interno diário. Com muito esforço, é certo, nem sempre reconhecido, porque simulta-neamente foram sofrendo perdas de recursos humanos, chegando a atin-gir nalguns casos mais de 40%.

Se as fases de implementação e con-solidação, nas décadas de 70 e 80, foram de intensa estruturação e capacitação dos profissionais, e o Projeto Life e o III Quadro Comunitá-rio, permitiram acrescentar investi-mentos em equipamentos trazendo aos “Laboratórios Distritais” novas áreas de intervenção, respostas a necessidades sentidas e até nalguns a acreditação, por vezes a ausência de uma clara definição da política dos LSP, tornou a sua evolução mais “solitária”. Nesta fase, dependentes das Sub Regiões de Saúde, traduzi-ram-se num caminho “per si”, mas simultaneamente recheado de aspe-tos muito positivos pelas respostas de proximidade, sendo disso exem-plo a então Sub Região de Saúde de Leiria com forte investimento na for-mação conjunta dos profissionais do Laboratório e de Saúde Pública e aquisições diversas, fundamentadas em necessidades expressas e estu-dos custo/benefício.

Atualmente, na dependência dos Departamentos de Saúde Pública das ARS (mas nem todos os profissio-nais), os LSP neste longo percurso foram-se adaptando aos desafios (inúmeros) em Saúde (Pública), pro-curando satisfazer as novas necessi-dades de forma ajustada (e a possí-

vel), acompanhando a mudança do para-digma da Saúde (Pública), simultanea-mente complexa e mutável, numa cada vez maior diferenciação técnica, não desvirtuando a sua filosofia de interven-ção - promoção da saúde e prevenção.

Falar de LSP é pois dar a conhecer um percurso de 40 anos, num trabalho mul-tidisciplinar e diferenciado, em que os técnicos de laboratório são apenas uma parte (invisível) da rede de profissionais que se pretende próxima e complemen-tar - dificilmente se poderá discutir a Saúde Pública sem os LSP e será também dificil intervir nos LSP sem envolver os profissionais de Saúde Pública (e outros).

A proximidade entre Serviços de Saúde Pública e LSP (ainda que varíável em cada região) fortalecida na ARS Centro desde 2000, permitiu identificar como imprescindível esta relação, nem sempre fácil, com mais-valias na complementari-dade de saberes, num melhor planea-mento, na normalização de procedimen-tos, na avaliação de programas imple-mentados, assim como na identificação de necessidades e de respostas a novos problemas de saúde. Também, inúmeras são as vantagens da articulação funcio-nal entre LSP, desde a complementarida-de, intervenção mais abrangente, unifor-mização de métodos de trabalho e mate-riais, troca de experiências, técnicas e procedimentos e incentivo dos profissio-nais potenciando os conhecimentos através da rede de laboratórios, cuja estruturação na ARS Centro se traduziu em ganhos na diferenciação dos mes-mos, melhoria do desempenho e numa gestão mais eficiente dos recursos.(1)

Sendo a essência dos LSP o apoio à inter-venção em Saúde Pública, estão organi-zados em áreas funcionais de acordo com critérios de qualidade, com uma capacidade analítica diversa na Microbi-ologia e Química de Águas e Alimentos, Legionella, Cianobactérias, BK, Hansen e alguns deles também na Clínica e Bacte-riologia Geral, intervindo também na formação de profissionais (Licenciatura Análises Clínicas e Saúde Pública, Univer-sidades e Internatos Médicos) e no apoio a populações vulneráveis (protocolo com Estabelecimentos Prisio-nais) e a programas prioritários de saúde

nomeadamente o Programa de Prevenção e Controlo da Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), de que foi exemplo de Boas Práticas a experiência com o ACES Pinhal Litoral.

Estão hoje os Serviços de Saúde Pública… perante este desafio: a (re)estruturação dos LSP, que têm sido e continuarão a ser de forma inequívoca, instrumentos funda-mentais de avaliação e monitorização, ge-radores de evidência, objetivando muitas decisões em Saúde Pública e das Autorida-des de Saúde e com contributos imprescin-díveis em diversos programas de saúde.

Diz a sabedoria popular, que o caminho se faz caminhando … e que as crises, são oportunidades de mudança, mas cabe aos profissionais e às instituições intervir nas mesmas com sabedoria e arte e, certamen-te, assim farão. Aos profissionais dos LSP, os de hoje e os de ontem, porque mereci-do, um sincero reconhecimento, pelo tra-balho e pela resiliência.

E, perante este desafio tão atual quanto profundo, sustentado na missão dos LSP, nas mais valias do passado e nos seus profissionais, esperamos que esta reestru-turação seja partilhada, eficaz e eficiente, garante de respostas às necessidades sen-tidas e aos programas de saúde, em rede e de proximidade, assente na complemen-taridade, credibilidade, qualidade e renta-bilização, que só poderá traduzir-se (e que-remos acreditar que sim) em efetivos ga-nhos em saúde das populações onde as perdas (que também existirão) serão efeti-vamente residuais.

Que a apreensão, de hoje e de muitos, seja efémera e que a evidência futura se apres-se a contrariá-la…. Sabemos bem que “As gerações futuras farão justiça serena do que nós em saúde formos capazes de fa-zer, nesta época, no senti-do de dar a toda a popula-ção o que já é possível e a que ela tem todo o direito, e o que deixámos de fazer por ignorância, incapaci-dade ou desinteresse.” Gonçalves Ferreira. In: Política de Saúde e Serviço Nacional de Saúde em Portugal. Lisboa, 1975

(1) Questionários Médicos Saúde Pública e Técnicos Saúde Ambiental, Leiria 2003 e 2005,

A propósito dos Laboratórios de Saúde Pública Uma reflexão (mais do que…) pessoal (continuação) Odete Mendes

Médica de Saúde Pública

Page 8: Conteudos nº2

C O N T E Ú D O S : E - B O L E T I M D A U N I D A D E D E S A Ú D E P Ú B L I C A

A C E S P I N H A L L I T O R A L

A implementação do Programa SINAVE

aumentou o número de notificações das

Doenças de Declaração Obrigatória

(DDO) a nível da Unidade de Saúde Pú-

blica (USP) do ACeS Pinhal Litoral, sendo

os Concelhos de Leiria e Pombal os que

apresentam um maior número de notifi-

cações (Gráfico 1).

De uma forma geral, os casos notifica-

dos têm sido confirmados, havendo

apenas algumas situações em que a

doença não foi confirmada ou era uma

doença já previamente conhecida. Mais

especificamente, dos 70 casos notifica-

dos no primeiro semestre de 2015, 18

deles, após o Inquérito epidemiológico

realizado, não se confirmaram como

caso.

Entre os casos não confirmados, salien-

ta-se a Parotidite Epidémica, havendo

ainda a destacar um caso de Hepatite A,

que se tratava de um utente com IgG

positivo e IgM negativo e que, por lap-

so, foi notificado como doença aguda.

No que se refere à Parotidite Epidémica,

tem-se solicitado aos médicos notifica-

dores que tentem confirmar a doença,

pedindo ecografia e anticorpos IgM e

IgG para o vírus da papeira, logo que

recebem a notificação. Há inclusive mé-

dicos de família que já têm esta preocu-

pação quando notificam. De notar que

a necessidade de confirmação resulta

do facto de haver uma vacina em jogo

e, no caso de utentes vacinados, saber-

mos se houve ou não “falha” da vacina.

Dos casos notificados no primeiro se-

mestre de 2015, tal como observado

no gráfico 2, as doenças mais frequen-

tes foram as Hepatite B e C e a Sífilis,

sendo as Hepatites, na sua quase tota-

lidade, casos antigos. A Parotidite Epi-

démica e as Salmonelose não typhi e

não paratyphifoi foram a quarta pato-

logia com maior número de notifica-

ções seguidas da Malária, Tuberculose

Pulmonar e VIH.

Uma outra preocupação que temos

tido refere-se aos casos de Sífilis notifi-

cados, nomeadamente, tentando-se

saber se o utente fez ou não trata-

mento. Nos primeiros seis meses de

2015, foram notificados dois casos no

Centro de Saúde Dr. Arnaldo de Sam-

paio que não

haviam iniciado

a terapêutica

por negligência

do utente. Op-

tou-se, nestes

dois casos, por

administrar

terapêutica inje-

tável na sede da

USP. De notar

que o sigilo, nos

casos de Sífilis,

é discutível, pois

trata-se de uma

doença com

tratamento, é

importante que

o mesmo seja iniciado de forma célere e

que seja cumprido.

Por último, é apenas de notar que a

necessidade de realizar análises e/ou

eventualmente outros exames comple-

mentares de diagnóstico justifica que,

em alguns casos, o preenchimento do

Inquérito epidemiológico se tenha atra-

sado em cerca de 8 a 15 dias. Contudo,

para que se trabalhe com credibilidade,

deverá proceder-se à confirmação sem-

pre que possível.

P Á G I N A 8

“A implementação

do Programa

SINAVE aumentou

o número de

notificações das

Doenças de

Declaração

Obrigatória (DDO)

a nível da Unidade

de Saúde Pública

(USP) do ACeS

Pinhal Litoral”

Doenças de Declaração Obrigatória

no ACeS Pinhal Litoral e SINAVE

Ana Silva Médica de Saúde Pública

Page 9: Conteudos nº2

C O N T E Ú D O S : E - B O L E T I M D A U N I D A D E D E S A Ú D E P Ú B L I C A

A C E S P I N H A L L I T O R A L

P Á G I N A 9 N Ú M E R O I I

Outr

os

co

nte

údo

s...

tros em cima dela, todos chegámos com as bikes ao cume.

Fizemos uma pequena pausa e tivemos o prazer, quase único, de aí tomar uma pequena refeição, dominando o horizonte.

Continuámos o passeio. Por um trilho estreito, muito técnico, fo-mos avançando até ao local onde iriamos avistar a melhor paisagem.

Feita a foto de grupo avançámos pelo desfiladeiro. Uma paisagem indescritível. A natureza a esmagar os visitantes com tanta bele-za. Trilho adiante, pedra atrás de pedra, sem uma única distra-ção, vencemos o medo e fizemos o percurso sem sobressaltos.

A Fórnea de Alva-dos, vista do cu-me, é um espeta-cular anfiteatro com cerca de 1 km de diâmetro. Está escavado nos calcários margosos e nos calcários do Ju-

Nesse Domingo conseguimos reunir as condições necessárias para fazer o mítico passeio da Fórnea. A dispo-nibilidade do grupo e a meteorolo-gia unidas facilitaram a concretiza-ção do objetivo. Iniciámos a marcha junto ao rio, em Porto de Mós.

Vale acima, fomos testando a nossa capacidade física. As subidas eram de difícil "escalada", quer pela incli-nação, quer pela lama, quer pela pedra, que era abundante.

A paisagem, sempre deslumbrante, deixava ver a serra a dominar com-pletamente o nosso horizonte. Um sentimento ambíguo de proteção proveniente das altas montanhas, por um lado, e por outro, a sensa-ção de encarceramento resultante do grande muro que representa aquela serra e que tínhamos que ultrapassar. Gostei mais do senti-mento de proteção!

Passámos ao largo da Fórnea. Man-tivemos a marcha a subir. Subita-mente lá estava ela, a grande subi-da, a serpentear encosta acima. Ficámos extasiados com a imponên-cia da natureza. Umas vezes extasia-dos, muitas mais cansados, quase esgotados. Uns com ela à mão, ou-

rássico inferior e médio. É rico em fósseis de amonites e belemnites. Nas suas vertentes existem várias nascentes temporárias, que pela erosão, dão origem à Fórnea.

Do alto avistámos ainda o belo castelo de Porto de Mós e admirá-mos a vista sobre a Vila Forte, com a ciclovia a serpentear na monta-nha.

Concluímos, sem dúvida, um pas-seio admirável e por isso convido os leitores desta crónica a visuali-zar o vídeo, clicando na foto, e a fazer uma visita ao local.

Fórnea ao domingo de BTT com os Trilhos Sem Fim Rui Passadouro Médico de Saúde Pública

nas suas diversas vertentes: física, emocional, psicológica e sentimen-tal. É que as crianças não são adul-tos em miniatura: são frágeis, inex-perientes, com uma visão muito pouco sistémica da vida.” (Mário Cordeiro – Pediatra)

Os filhos são a nossa continuida-de; quase diria que a vida que eles somam e desenvolvem faz-se, em parte, à custa da nossa própria vida, da nossa energia vital. Isso é bom se a autonomia se fizer nos

É preciso dizer “amo-te”.

A felicidade familiar vale qualquer trabalho. O processo de parentali-dade é importante, intenso, dinâ-mico e sempre novo.

É o processo mais elaborado e fan-tástico de uma pessoa, o que não quer dizer que quem não tenha filhos seja infeliz ou menos do que os outros.

“Há muita gente que ainda não percebeu bem o que é uma criança

Os nossos filhos Olinda Nogueira Assistente Técnica

para recuperar a saúde. Por pensa-rem ansiosamente no futuro, esque-cem o presente de tal forma que acabam por não viver nem o presen-te nem o futuro. E vivem como se nunca fossem mor-rer e morrem como se nunca tives-

“Um dia perguntaram a Dalai Lama: - O que mais o surpreende na Huma-nidade? E ele respondeu: - Os Homens … Porque perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem dinheiro

Os Homens… Fernanda Santos Assistente Técnica (CEI)

dois sentidos: a dos filhos, mas também a dos pais.

Não há um manual de instruções para as crianças, porque serão os pais que o irão escrevendo na vivência do quotidiano. E no final pode deitar fora esse manual por-que, como cada pessoa é única, irrepetível e imprescindível, o manual de um não serve para os outros.

sem vivido.”

Esta resposta reflete a vivência de muitos utentes que encontrei ao longo do período que conta-tei com eles …. vamos pensar nisto.

Page 10: Conteudos nº2

nos apreender o caminho percorrido, convivendo e prosperando com as demandas históricas mundiais e a evolução do conhecimento científico e da sociedade.

O início da Saúde Pública remonta a Hipócrates (460 a.c.), universalmente considerado o fundador da Medicina. Na sua obra, ele abordou questões e problemas de Saúde Pública, designa-damente no âmbito da descrição de doenças transmissíveis e da saúde ambiental (1).

Contudo, é na idade média, com a pandemia da peste negra, que se pro-pagou ao longo de vários séculos, vitimando as populações europeias e fazendo milhares de mortos, que emerge, de facto, o papel da Saúde Pública como configuradora da aplica-ção de medidas preventivas.

Pode dizer-se que a perceção da saú-de como bem-estar coletivo começou com as primeiras epidemias, que, ao atingirem grande número de pessoas e se propagarem com celeridade, co-meçaram a levantar questões acerca da sua epidemiologia.

Assim, e apesar do conhecimento sobre a transmissão da doença deri-var apenas de observações empíricas no século XIV, subtendem-se já algu-mas medidas preventivas de Saúde Pública, tais como a higienização das habitações, o isolamento dos doentes e disciplinação da cidade e dos seus habitantes.

Por outro lado, conscientes de que a chegada da peste à Europa estava associada às caravanas de comércio que vinham da Ásia através do Mar Mediterrâneo e que aportavam nas

Conceituar Nova Saúde Pública não é elementar, perante a pluralidade de opiniões dos vários autores. A definição de Saúde Pública espelha o contexto social, cultural, económi-co e político do momento.

A “Organização Mundial de Saúde” define a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de doenças ou enfermidades”.

A Nova Saúde Pública, tendo por base este pressuposto dinâmico-social e socioeconómico, pode con-siderar-se como a resposta da soci-edade à prevenção, promoção e preservação da saúde e bem-estar individual e coletivo das comunida-des.

A Saúde Pública inovadora, dinâmi-ca, intimamente articulada com outros sectores, como outras disci-plinas científicas tem uma história que pode ser ilustrada por múltiplas histórias (1).

Conhecer esta história ilustra a situ-ação atual da Saúde Pública e deixa-

aldeias europeias, foi instituída a qua-rentena.

No século XVII foram instauradas um conjunto de medidas estatais sobre Saúde Pública que visavam favorecer as condições de vida, tais como, a im-prescindibilidade do sepultamento/incineração dos cadá-veres, a fiscalização dos locais de traba-lho, a inspeção e fis-calização do comér-cio dos alimentos e o saneamento das ha-bitações. A esta inter-venção do estado convencionou cha-mar-se “Polícia Mé-dica”(2).

Por último, no século XIX foi criada uma “Junta de Saúde”, que visava adotar medidas preventivas relativas à peste. Em 1990, o fundo da “Junta de Saúde” foi transferido para o Arquivo Nacional da Torre do Tombo (3).

Sucederam-se uma “Comissão de Saú-de Pública”, que entre outros proble-mas, se preocupou com a Instituição Vacínica e o “Conselho de Saúde Públi-ca”.

Referências Bibliográficas: (1) Textos de Fran-cisco George, DGS, Lisboa 2011. (2) Cadernos de Saúde Pública, Vol.3, Nº1, Rio de Janeiro 1997; (3) Arquivo Nacional da Torre do tombo, Direcção-Geral de Arquivos 2008; Jorge Fernando Alves; “Um Marco na Estruturação dos Serviços de Saúde Pública em Portugal”

Estórias… da História da Saúde Pública: O início

Maria de Lourdes Costa Médica de Saúde Pública

C O N T E Ú D O S : E - B O L E T I M D A U N I D A D E D E S A Ú D E P Ú B L I C A

A C E S P I N H A L L I T O R A L

“A Saúde Pública

inovadora,

dinâmica,

intimamente

articulada com

outros sectores,

como outras

disciplinas

científicas tem

uma história que

pode ser ilustrada

por múltiplas

histórias.”

N Ú M E R O I I

Ficha Técnica Propriedade: Unidade de Saúde Pública do ACeS Pinhal Litoral

Corpo Editorial: Fátima Soares; Jorge Costa; Manuel Cardoso; Odete Mendes; Rosário Correia; Ruben Rodrigues;

Rui Passadouro

Contactos:

eBoletim da USP

Centro de Saúde Dr. Arnaldo Sampaio Estrada da Mata, nº 56 Marrazes 2419-014 LEIRIA

Tel.: 244 849 000/10; Fax: 244 849 001; Correio eletrónico: [email protected]

Estatística do eBoletim Conteúdos nº1:

425 leituras; 24 104 apresentações em plataformas

P Á G I N A 1 0