16
ESPORTES RADICAIS EM BOTUCATU PÁGINA 5 PRAÇA PARA- DESPORTIVA EM BAURU PÁGINA 7 A DÍVIDA MILIONÁRIA DO NORUSCA PÁGINA 13 ano 27 nº57 Novembro de 2012 FOTO: CRISTIANO PAVINI

Contexto Noturno

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Contexto Noturno 2011 Tema: Esporte

Citation preview

Page 1: Contexto Noturno

EsportEs radicais Em Botucatu

página 5

praça para-dEsportiva Em Bauru

página 7

a dívida milionária do norusca

página 13

ano 27 nº57 Novembro de 2012

foto: Cristiano Pavini

Page 2: Contexto Noturno

CONTEXTO Noturno/20112

2

EXPEDIENTE

í N D I CE

Profa. LiLian Martins

Redação

Jornal laboratório do curso de jornalismo da Unesp

ReitoRDiRetoR Da FaaCCooRDenação Do

CuRso De JoRnalismoCheFe Do DepaRtamento De

ComuniCação soCial

enDeReço

teleFoneemail

Fotolito e impRessão

eDitoRia geRal seCRetáRia gRáFiCa

RepóRteRes

ConteXto

unesp

FaaC

CultuRaRenata penzani

ViVian CoDogno letíCia ginak

akemi silVa e miChelly Fogaça

eDuCaçãoCamila FRanCo moRais

gabRiela paganomuRilo tomazisabel minaRé

Jaqueline peReiRa e miRele RibeiRo

espoRtemaRia ClaRa lima

laís bola

eConomiaDaniela penha

naomi CoRCoViaCRistiano paVini

mayaRa paVanato

polítiCa 12thiago Venanzoni

henRi CheValieRnathália botinopaulo monteiRo

aliCe WakaikaRen oliVeiRa

teCnologiaaRiani baRbalho

maRiana beltRaminemaRina mazzini

letíCia gReCo

HerMan JaCobus CorneLius voorwaLdroberto deganutti

Juarez XavierLetíCia Passos affini

dePartaMento de CoMuniCação soCiaLfaaC- unesP av Luiz edMundo CarriJo Coube, 14-01CeP 17033-360 bauru - sP(14) 3103-6000 [email protected]

LiLian MartinstHiago teiXeirarenata Penzani, vivian Codogno, LetíCia ginak, akeMi siLva, MiCHeLLy fogaça, CaMiLa franCo Morais, gabrieLa Pagano, MuriLo toMaz, isabeL Minaré, JaqueLine Pereira, MireLe ribeiro, Maria CLara LiMa, Laís boLa, danieLa PenHa, naoMi CorCovia, Cristiano Pavini, Mayara Pavanato, tHiago venanzoni, Henri CHevaLier, natHáLia botino, PauLo Monteiro, aLiCe waka, karen oLiveira, ariani barbaLHo, Mariana beLtraMine, Marina Mazzini, LetíCia greCo

JornaL-Laboratório Produzido PeLos aLunos do 7º terMo do Curso de JornaLisMo da unesP

universidade estaduaL PauLista “JúLio de Mesquita fiLHo”

faCuLdade de arquitetura, artes e CoMuniCação

3 editora: LiLian Martins3 MaLHa resiste4 doMingo no CaMPo4 futeboL aMador5 aventura eM botuCatu

6 editora: LiLian Martins6 esPorte e eduCação6 eduCação físiCa 7 Praça ParadesPortiva7 iguaLdade e diferenças8 aManHã nasCe agora

9 editora: LiLian Martins9 rúgbi e PersistênCia 9 CuLtura e PaCaeMbu

10 editora: seLMa Miranda10 dívidas do noroeste10 esPortes na unesP11 CoMérCio no estádio 11 Produtos de CLubes

12 editora: diana de Harbe12 futuro dos estádios12 viLas oLíMPiCas 13 PaiXão e as urnas13 futeboL e PoLítiCa CoMbinaM14 segurança Para a CoPa14 dueLo de gaLátiCos

15 editora: eLita barbosa15 teCnoLogia quebra reCordes15 treino de MMa16 siMPLes PLay16 CoMPetição de aerodesign

Quando os alunos escreviam os textos aqui publicados, a preparação

do país para receber as duas principais competições mundiais

esportivas - a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em

2016 - começava a deixar os brasileiros preocupados. Segundo

dados oficiais publicados, serão R$ 33 bilhões gastos em obras

relacionadas somente com a Copa. Na edição de dezembro de 2011,

a Superinteressante fez uma comparação interessante para

ilustrar o montante: são bilhões suficientes para manter

1,8 milhão de crianças na escola por 6 anos ou ainda

construir com tranquilidade 2.200 hospitais.

Editávamos os textos, escolhíamos os destaques enquanto

acompanhávamos os defensores da realização da competição mundial

de futebol dizer que os 600 mil estrangeiros que deixarão R$ 3,9

bilhões na nossa economia, somados aos 3,1 milhões de turistas

nacionais que vão gerar mais R$ 5,5 bilhões, são números suficientes

para mostrar que a Copa é um bom negócio para o país.

No fogo cruzado de argumentos, acusações, informações e polêmicas

necessárias para a construção de uma perspectiva crítica sobre o que

o esporte significa para o nosso país, os estudantes de jornalismo

do 4º ano da Unesp de Bauru do ano de 2011 deixaram importantes

contribuições nos textos que seguem. Na avalanche caleidoscópica

de informações diárias, eles nos apresentam caminhos possíveis para

entendermos questões complexas do esporte que tantas vezes são

tratadas com descuido pela mídia como um todo.

Em um momento em que a era digital coloca em xeque a identidade

da profissão, os jornalistas dos textos dessa edição mostram em

que medida o profissional de jornalismo pode continuar sociamente

encarregado de atender o cidadão em seu direito à informação.

Em meio ao oceano de informações que poderiam estar nas

próximas páginas, eles selecionaram, apuraram, entrevistaram,

contextualizaram e hierarquizaram bons temas relacionados ao

assunto-eixo dessa edição do Contexto.

Apresentamos agora para você, leitor, questões importantes para

pensarmos não só as competições mundiais que estão por acontecer

no Brasil, mas o esporte, de maneira geral, por uma perspectiva que

vá além dos campos de futebol e consiga alcançar horizontes sócio-

culturais, históricos, políticos, científicos e econômicos.

Na opinião de quem teve a sorte de acompanhar essa equipe de

talentosos jornalistas, eles marcaram um golaço!

Para além dos campos de futebol

Page 3: Contexto Noturno

3

3CONTEXTO Noturno/2011 Cultura

Em um pequeno e retangular campo de areia, uma vassoura faz as vezes de arado. Pequenos grãos de areia se desgrudam do chão e cintilam no sol do fim de tarde que já chega. Um pote de sorvete vazio guarda algumas tampinhas de garrafa com números cravados, e outro guarda pequenas chapas de ferro. Em uma mesa branca de madeira, o pão e a mortade-la já estão servidos. Apesar dos pré-requisitos inesperados, este é o cenário ideal para que possa começar mais um jogo de malha na chácara da família Morales.

Seguindo a tendência da socie-dade de se deixar atrair pelo o que é altamente tecnológico, veloz e funcional, também os esportes têm ficado cada vez menos orgâ-nicos: não se joga se não houver uma finalidade definida ou uma competição para vencer. Por isso, ficar cerca de duas horas em uma pequena faixa de areia arremessan-do chapas de ferro em um pedaço cilíndrico de madeira parece ini-maginável para muita gente. Não para a família Morales. Em uma chácara a cerca de 15 km do centro

renata Penzani

apEsar do tEmpo, a malha rEsistE

“a gente JogaVa Com o que tinha”

Uma das práticas esportivas mais antigas do Brasil ainda é praticada em muitos quintais

da cidade de Piracicaba, eles mos-tram porque a “maia”, uma das práticas esportivas mais antigas do país, ainda não morreu.

Um ilustredesconhecido

Alguns registros históricos apontam que a malha foi trazi-da ao Brasil pelos portugueses, mas não falta quem conteste a sua origem. A Federação Paulista de Malha (FPM), por exemplo, afirma que o jogo começou, no Brasil, por volta de 1890, com os trabalhadores rurais paulistas, que nos intervalos do trabalho inventavam jogos e brincadei-ras para preencher o tempo. Conhecido em Portugal como “chinquilho” ou “jogo do fito”, o jogo de malha consiste em lan-çar discos de ferro contra peque-nas estacas de madeira situadas em um círculo desenhado no chão. Jogado sempre em duplas, o objetivo do jogo é derrubar as estacas, chamadas de “piteiro”, o máximo de vezes possível, até alcançar a marca dos 24 pontos.

Apesar de ser um ilustre des-conhecido de boa parte da população atual, o jogo de malha possui normas e regu-lamento próprios desde 1933, quando foi criada a FPM a fim de padronizar a sua prática.

Mas, contrariando a razão de ser da Federação, a malha vem sendo praticada cada vez mais ao sabor dos improvisos e da falta de recursos. Hoje, ainda existem muitos campos profis-sionais – asfaltados, estrutura-dos e devidamente adequados às normas da Federação – mas é nos campos de areia, das ma-lhas coloridas e piteiros feitos à mão que o esporte reencontra as suas origens lúdicas.

nada disso e a gente jogava mesmo assim”, conta seu Zé. “Foi uma pitocada atrás da outra”. Para muita gente, essa frase não faz sentido algum, mas, para o seu Geraldo Morales, é a descrição perfeita de um jogo de malha recheado de momentos memoráveis. “Em um jogo de malha, acontecem coisas inimagináveis. É cada uma que ninguém acredita”, conta, referindo-se ao dia em que viu uma malha chacoalhar o piteiro e pousar bem debaixo dele, sem derrubá-lo. Se as regras forem seguidas, feitos como esse não contam pontos, mas acumulam histórias e inspiram o respeito dos outros jogadores. Seja em campo de areia ou concretado, com piteiros projetados ou sabugos de milho disfarçados, o jogo de malha parece não se dobrar com facilidade à passagem do tempo. À parte dos campeonatos e regulamentações que profissionalizam a sua prática, a malha – ao menos no quintal da família Morales – é o pretexto perfeito para todos se reúnam em volta de uma mesa com geléia de amoras e pão com mortadela.

renata Penzani

José Carlos Morales, o Seu Zé, a alguns instantes do começo da partida da família Morales.

José Morales, o “seu Zé”, é o mais velho jogador de malha da família Morales, e infla o peito de orgulho para falar do jogo. Hoje com 73 anos, seu Zé conheceu a malha com 15, quando trabalhava na roça. Vasculhando a cabeça em busca de memórias consistentes, ele conta que, na roça, quando chovia, não sobrava muito o que fazer, restava inventar passatempos. “A gente jogava com o que tinha. Caco de telha, ferradura de cavalo, sabugo de milho”. Atualmente, um kit completo para jogo de malha pode chegar a custar R$1000; são materiais altamente planejados que respondem aos atributos principais de um bom jogo de malha: direção, leveza e precisão. Nesses kits, a singela “maia” que salta da boca de seu Zé se transforma em “esferas poliméricas”, ou ainda em “microesferas de polietileno”, mas, ao que parece, não é o esmero dos instrumentos ou de sua nomenclatura que determina se um jogo vai ser bom ou não. “Hoje em dia, é tudo projetado por computador. Na minha época não tinha

renata Penzani

Dovílio Petrini, mebro da família falecido em 2003, foi homenageado: o campo ganhou seu nome.

entenDa o Jogo

Cada equipe possui 2 jogadores

Cada jogador arremessa 2 malhas, alternadas

com um adversário

A vitória fica para quem vencer 3 partidas em 5 ou alcançar 24 pontos

cada malha

dentro do círculo

vale +2 pontoscada malha

dentro do círculo

vale +2 pontos

derrubar

o piteiro vale

+4 pontos

Page 4: Contexto Noturno

CONTEXTO Noturno/20114

4

Cultura

Clima quente. E o motivo não é o sol – em céu azul – que brilha forte no Estádio Distrital José Carlos Galvão de Moura, no Núcleo Habitacional Gasparini, na periferia de Bauru. É do-mingo, dia de clássico entre duas das equipes mais tradi-cionais da cidade: Comercial e Azulão do Morro se enfrentam pelo torneio amador de futebol.

Em campo, não estão ape-nas 22 jogadores. Lá estão também as dificuldades, os anseios e os problemas so-ciais do Parque Jaraguá e do Jardim 9 de Julho. Ambos os bairros ficam na zona noroes-te de Bauru, marcada pelos al-tos índices de criminalidade e por problemas sociais graves. A região é um dos lugares com o maior números de casos de dengue do Estado de São Paulo.

Pensar no enfrentamento entre o Jaraguá – representado pelo Azulão do Morro – e o 9 de julho – que veste a camisa do Comercial – seria motivo para preocupação. No entanto, o cli-ma é de festa na arquibancada, ao som do samba de Fundo de Quintal, com surdos e tambo-rins. Não existem inimigos, apenas rivais dentro de campo.

No amador de Bauru é assim: motoristas, diaristas, comer-ciantes ambulantes, motota-xista, entre outros, se transfor-mam em jogadores, torcedores, dirigentes do clube de coração, que são as equipes de seu bair-ro. De acordo com a presidente da escola de samba Azulão do Morro, Aparecida Brito Caleda, para disputar pela equipe, jo-gadores do Comercial trocam o “seu futebol” por coisas im-portantes para sua vida. “Os meninos pedem, por exemplo,

domingo no campoCampeonato de futebol amador de Bauru movimenta a periferia aos fins de semana

vivian Codogno

LetíCia ginak

Pode não parecer, mas as diferen-ças físicas para os atletas das duas categorias não são tão grandes. Prestígio, conta bancária graú-da e certas regalias fazem parte da vida de muitos jogadores de futebol profissional. Além do fato de que alguns são capas de revistas, estrelas de publicidade e realmente amados nos cinco continentes, como o nosso bra-sileiríssimo Ronaldo Fenômeno. Complicações musculares e po-lêmicas também podem ser in-clusas para provar que não são só flores, mas temos provas para afirmar que vida de celebridade é o que muitos têm. E não precisa dizer que com os atletas amado-res a realidade é bem diferente.Os amadores, campeões do dia a dia - pois trabalham, susten-tam famílias, estudam e levam uma vida simples - podem sim Cerca de 5 mil pessoal acompanham os jogos que acontecem em diferentes pontos das comunidades

materiais de construção para suas casas, carteira de motoris-ta para se tornar mototaxistas, gasolina para o carro, dinheiro para uma viagem muito espera-da”, relata a servente de escola.

Ir ao estádio ver os com-panheiros de bairro disputar uma partida de futebol é a me-lhor opção de lazer para quem mora na periferia de Bauru. Churrasco, cerveja e samba. Esta é a combinação que pre-domina no local e funciona como um analgésico, que ali-via as dificuldades enfrentadas durante a semana que antecede o jogo. Aliás, essa é a cronolo-gia: enfrentar os problemas de segunda a sexta a espera do jogo da equipe do coração no fim de semana. É o caso das amigas Agnes Cristina, babá, e Rosângela da Silva, diarista. Ambas não perdem um jogo, mas, quando questionadas se entendem de futebol, a respos-ta é incisiva: “Eu só sei quando alguém faz gol”, diz Rosângela.

Ao contrário das meninas que assistem ao jogo sem saber ao certo o que acontece, dona Alice (que não quis divulgar seu sobrenome) trabalha no estádio José Carlos Galvão de Moura aos sábados e domin-gos vendendo pastel e bebidas para os espectadores. Dona de casa nos dias da semana, dona Alice não vê a hora de poder acompanhar as disputas, mas não revela qual é o seu time do coração. “Não posso me indis-por com o pessoal daqui, né? São todos meus amigos!”. Do futebol nacional, dona Alice ga-rante que torce para o Santos. “Em dias de jogo, meus filhos vão dormir e eu fico quie- tinha assistindo até o fim!”.

Várias faces da comunidade

A falta de políticas públicas que incentivem atividades de lazer nas periferias da cidade acaba por atrair a população para o campeonato amador, única forma de distração e so-cialização de muitos habitan-tes das comunidades afastadas do centro de Bauru. Todos os sábados e domingos, cerca de 5 mil pessoas acompanham os jo-gos, que acontecem em diversos pontos da periferia da cidade.

Por mais que seja um am-biente consagrado pelos ho-mens, a presença das mulheres nos jogos do amador não deixa dúvidas: elas estão, sim, muito ligadas ao funcionamento do campeonato. Desde Aparecida, que é filha de jogador de futebol e acompanha os jogos há mais de 30 anos até dona Alice, que ajuda na renda familiar com o faturamento de sua barraca aos fins de semana, a personalida-de feminina muitas vezes dá o tom para o campeonato.

Vale lembrar que a equipe do Comercial é a primeira co-locada no grupo de classifica-ção. Já o Azulão ocupa as úl-timas posições. Mas isso não altera em nada a paixão pelo time e a fidelidade da torci-da, que não perde um lance enquanto a bola está em campo.

o que há De pRoFissional no amaDoR?

serem os atletas sem glamour espalhados pelo Brasil. Mas o que pouco se diz é que para a qualidade de vida de muitos, no aspecto físico, a realidade entre profissionais e amadores não é tão desigual como se pode ima-ginar. Os atletas de várzea (ape-lido muito utilizado no Estado de São Paulo) são bem diferentes dos “atletas de fim de semana”. Jogadores que carregam o título de profissional hoje, já correram muito atrás da bola nos mais diversos campos espalhados por comunidades do país todo. E por tudo isso, o Contexto mostra que uma partida entre o Azulão do Morro e o Comercial não é tão diferente de um clás-sico de domingo à tarde no as-pecto físico para os jogadores. Ah, mas o domingo já pode entrar na lista de semelhanças.

Preparação e incentivo antes das partidas que estimulam os moradores a vestirem a camisa .

vivian Codogno

Dona Alice complementa a renda nos jogos campeonato amador

vivian Codogno

Corre até 11 km por partida

Corre até 7 km

por partida

Consome 500 a 800 Kcal

por partida

Consome de 300 a 500 Kcal por partida

Dieta: 15% proteínas 55% carboidratos30% lipídeos

Dieta: Pastel da Dona Alice O que estiver no prato

amaDoR pRoFissionaltHiago teiXeira

Page 5: Contexto Noturno

5

5CONTEXTO Noturno/2011 Cultura

esColha seu espoRte RaDiCal

CanoagemEsporte náutico com caiaque ou canoa, em diversas modalidades

praticado em lagos, rios e, com uma embarcação especial, no mar.

RapelEm francês, Rapel significa “chamar” ou “recuperar” . É uma técnica

de descida por cordas, praticada em montanhismo, escalada, canyoning e em outras atividades afins

TrekkingÉ constituído de trilhas ecológicas preestabelecidas em planilhas

que informam o caminho, direções de navegação por bússola, velocidade de caminhada e comprimento dos trechos do percurso.

Trilhas íngremes e estreitas escondidas por entre as árvores, rios caudalosos que terminam em cachoeiras, cujo trovejar das águas abafa o som de pássaros e insetos, paredões de rochas lisas e estradas de terra irregu-lares com curvas acentuadas que se perdem no relevo. Este é o cenário para praticantes de esportes radicais a procura de desafios. E ele fica em Botucatu.

Pensando nesse públi-co, a Prefeitura Municipal de Botucatu lançou, em setem-bro, um projeto incentivan-do o turismo de aventura: “Botucatu – Terra da Aventura”.

A Assessora de Eventos da Secretaria Adjunta de Turismo de Botucatu, Luciana Alho, dis-se que a maioria dos turistas vai para Botucatu a negócios. A Secretaria ainda não tem da-dos que apontem quantas pes-soas procuram a cidade para a prática de esportes radicais. “Antes era tudo espalhado, ago-ra pretendemos juntar todos os números”, conta Luciana.

Turismo, esporte e sustentabilidade

Além do projeto da Prefeitura, a cidade faz parte de um con-sórcio chamado Pólo Cuesta,

criado em 2001 com o objetivo de desenvolver o turismo sus-tentável na região. Dez cidades formam o Pólo Cuesta: Botucatu, Anhembi, Areiópolis, Bofete, Conchas, Itatinga, Paranapanema, Pardinho, Pratânia e São Manuel.

O nome do consórcio veio do relevo da região: a Cuesta. Em um dos lados, o declive da Cuesta é suave. No outro, é es-carpado, com a aparência de degraus que podem atingir até mil metros de altura e formar paredões com o topo plano.

Esse tipo de relevo encontrado em Botucatu permite a prática de esportes (veja mais detalhes no quadro abaixo) como o vôo de asa--delta, boulder, canoagem, canyo-ning, escalada, moto-cross, mou-tain-bike, rapel, rafting e trekking, que usam os recursos naturais sem prejudicá-los ou esgotá-los.

Embora os objetivos do Pólo Cuesta sejam atrair praticantes dos esportes radicais, promo-ver o turismo da região e movi-mentar a economia, pensar na conservação dos recursos na-turais também é um dos focos do projeto. “O turismo só se consolida através da sustenta-bilidade” explica a Assessora do Pólo Cuesta, Silvana Casarim.

O projeto, além de ofere-cer profissionais capacitados

Botucatu invEstE Em avEntura sustEntávEl Prefeitura da cidade lança o projeto“Botucatu – Terra de Aventura”

akeMi siLva e MiCHeLLy fogaça

atleta DeFim De semana

para o acompanhamento dos turistas às atividades radi-cais, realiza campanhas sobre a preservação do meio am-biente, inclusive em escolas da cidade, para informar des-de cedo às crianças sobre as questões importantes da pre-servação da natureza, como não jogar lixo em matas e rios.

A integração entre os municí-pios fez com que o Pólo Cuesta fosse considerado pioneiro no estado de São Paulo. A assesso-ra do projeto diz que há debates constantes sobre como deve ser o desenvolvimento do turismo na região. Dessa forma, todas as cidades podem ser benefi-ciadas, principalmente quando o assunto é meio ambiente.

“A sustentabilidade garante a continuidade da exploração do turismo por várias gerações, já que protege os atrativos da de-gradação causada pelo turismo de massa e garante a sua utili-zação futura” aponta Silvana.

Com seu tênis adequado, uma garrafa de água e muita dispo-sição, o empresário botucatuen-se de 25 anos, Jorge Henrique Garcia, sai de casa ao menos uma manhã de domingo de cada mês para praticar o trekking, uma modalidade de caminhada por trilhas em meio à mata.“Passar uma manhã andando por entre as árvores, se refrescando em uma cachoeira e sentando em alguma rocha pelo caminho para observar a paisagem maravilhosa da Cuesta é, além de uma manei-ra excelente de praticar algum es-porte, a melhor forma que encon-trei de descarregar as energias do dia-a-dia estressante da cidade”, resume o empresário, que ainda garante que praticar esportes em contato direto com a natureza é “mil vezes” mais saudável e ani-mador do que passar horas em uma academia de ginástica.

Jorge sempre gostou de es-portes radicais e acredita que Botucatu é uma cidade “privi-legiada” pelo relevo e natureza que possui e é incentivador de todos os projetos que envolvam esportes e sustentabilidade.“A natureza te proporciona sen-sações e possibilidades incon-táveis. Saber aproveitar tudo isso e garantir, como cidadão e, acima de tudo, ser humano responsável e consciente, que todos esses recursos não sejam esgotados por ignorância do homem, que ao mesmo tempo que depende deles os destrói, é responsabilidade de todos”, afirma o atleta de f im de sema-na, como auto se define, en-quanto recolhe uma latinha de refrigerante descartada a alguns metros de uma queda d’água que espera para refrescar os aventureiros que se aproximam.

Em caminhadas pela Cuesta, é possível parar para se refrescar em cachoeiras de águas limpas.

akeMi siLva

MiCHeLLy fogaça

Jorge descarrega suas preocupações em seu contato com a mata.

Boulder modalidades de escalada em rocha (até 6metros geralmente), praticada sem equipamentos de segurança, extrema dificuldade técnica e força.

CanyoningExploração de canyons e rios, como um alpinismo praticado em cachoeiras, conhecido também como “cascading”. Uma atividade de baixo impacto no ambiente natural.

RaftingÉ a prática de descida em corredeiras em equipe utilizando botes infláveis.

Page 6: Contexto Noturno

CONTEXTO Noturno/20116

6

Cultura

aula dE Educação Física sErvE para quê?Especialistas defendem a abordagem crítica do conhecimento

gabrieLa Pagano

Quem frequentou a escola nos anos 1990 e 2000, sabe bem o que é crescer na geração “Brasil, o país do futebol.” Nas aulas de Educação Física, os meninos fi-cavam na quadra de esportes e jogavam “bola”. Já as meninas se espremiam em um espaço improvisado para uma parti-da de vôlei. De vez em quando, a professora obrigava a jogar basquete ou handball, idéia sempre recebida com protestos.

Nos últimos anos, no en-tanto, houve uma explosão de outros esportes no país. A seleção “Bernardinho” do vô-lei – masculino, é importante ressaltar- se tornou “vencedora intergaláctica”, como declarou um entusiasmado narrador do SporTv. Giba, Murilo, Gustavo... Eles se tornaram mitos e ído-los no Brasil. Não tanto quan-to Ronaldo e Kaká, é verdade, mas alguma coisa mudou.

Diante desse cenário, surge a pergunta: Será que as aulas de Educação Física se modifica-

ram? Será que os interesses dos alunos são outros? Será que o Brasil, agora, é simplesmente o “país do esporte”?

A professora Helena Diniz Silva, que dá aulas em escolas pú-blicas há 13 anos, indica uma pos-sível resposta: “Os alunos têm um grande interesse nas aulas, desde que eles façam o que que-rem; e meninos querem futebol. Se formos trabalhar com fun-damentos, alongamentos, aque-cimentos, como seria o correto, o interesse acaba rapidamente.” Ela explica que quando se trata de aulas teóricas, a situação se torna ainda mais complicada. “Só sai alguma coisa com chanta-gem ‘depois de tanto tempo, va-mos pra quadra.’” Mesmo quan-do a aula é prática - e dedicada a outra atividade-, existem contes-tações. “Caso não seja o esporte que eles desejam, só funciona se tiver a promessa de jogar futebol na próxima aula”, enfatiza.

Mas acreditar que a falta de interesse dos alunos seja o

grande problema das aulas de Educação Física é errôneo. “São muitas dificuldades: professores insatisfeitos e irresponsáveis, um governo que não ajuda muito, falta de material nas escolas e espaço inadequado...”, enumera. A professora comenta que o preconceito com as aulas também existe e dificulta a realização de um trabalho de qualidade. Helena diz que as pessoas não dão o valor devido à disciplina de Educação Física, que, para ela, tem como objetivo desde desenvolver as habilidades motoras da criança, nas séries iniciais, até entender as regras de jogos mais complexos e estimular as competições, já em séries do segundo grau. “Muitos acham que qualquer um tem condições de ministrar essa aula, que é passatempo de professor”, reclama. “O mais

simples movimento de uma capacidade física ou um salto, se feito errado, pode causar uma séria lesão”, atenta ela para a necessidade de um profissional preparado para atender aos alunos. “Estou na educação desde 1998 e me assustei com a realidade quando cheguei.”

“A disciplina é vista com preconceito”

Esse não é um problema exclusivo das instituições da rede pública. Tania Jacobs Monteiro dá aulas há 18 anos em escolas particulares do Rio de Janeiro. Assim como Helena, a professora não está satisfeita com as condições das aulas. “A disciplina é vista com preconceito, caso contrário, dariam mais tempo para as aulas na grade

Pelo FNC, um projeto cultural pode conseguir até 80% de financiamento.

gabrieLa Pagano

O Futebol é uma paixão na-cional. Ok, isso todos já sa-bem. Entretanto, ele vai além de uma simples admiração. Não só o futebol, mas o es-porte em geral tem um papel fundamental no processo de so-cialização de crianças.

O esporte contribui na so-cialização quando crianças são estimuladas a conviverem com o outro, ampliando os laços de amizade, e assim, fortalecendo as várias formas de relacionamento.

Segundo Fabiana Oliveira, professora de Educação Física, “a convivência e o aprendizado é regido por regras onde a criança, ao descumpri-las, sofre sanções de acordo com cada desporto, o que caracteriza a vida em so-ciedade. Valores como respei-to ao próximo e as diferenças, cooperação, liderança positiva, companheirismo, jogo limpo, lealdade e atitudes de perseve-rança, determinação, coragem são fundamentais no processo de ensino aprendizado”.

O esporte também trabalha nas crianças a concentração, a interação social, a saúde men-tal, o desenvolvimento motor e conhecimento corporal o que é fundamental para que, além da sociabilidade, também haja um melhor desenvolvimento pesso-al. Nesse sentido, é interessante

que o professor de educação fí-sica não seja visto apenas como um transmissor de conheci-mentos técnicos, mas sim como um educador com toda a res-ponsabilidade que essa função exige. Ou seja, sua ação deve ser desempenhada com os princí-pios pedagógicos básicos para o desenvolvimento da criança.

A importância da formação dos professores

A graduação do profissional de educação física o prepara para que a sua atuação trabalhe com as crianças nessa vertente. “No meu caso, busco transmitir a importância de valores impor-tantes e os aplico porque são elementos fundamentais para a formação completa de um es-portista onde ele dominará na fase adulta seu lado emocional, cognitivo e motor”, diz Fabiana.

Apesar das crianças trabalha-rem a socialização e a formação do caráter na escola, elas já possuem uma bagagem cultural adquirida na família, o que influência dire-tamente na função que o esporte desempenha em cada uma delas.

Segundo Fabiana, “a família deve procurar colocar os filhos em projetos onde haja profissio-nais capacitados cujo trabalho

com crianças visa realmente à so-cialização, o lazer e a competição saudável, onde as derrotas têm o mesmo peso que as vitórias. Assim, é possível que tenham suporte emocional e cognitivo para superar as frustrações e não supervalorizar as boas emoções ocorridas durante as atividades”.

Concentração ativada

O esporte atua diretamente na concentração das crianças, o que, para os professores de ou-tras disciplinas, é extremamente positivo. Aline Soares é profes-sora do ensino fundamental e explica o quanto às aulas de educação física são importantes para as crianças. “É perceptível as crianças que jogam alguma mo-dalidade de esporte e as que não jogam. Apesar de serem mais agi-tadas, elas se concentram mais facilmente, porque aprendem isso na hora dos jogos.”

Na sociedade na qual vive-mos cada vez mais as crianças tem uma vida sedentária, pro-vocando assim a falta de co-ordenação motora, agilidade, lateralidade e motricidade. As crianças que praticam esportes têm uma maior experiência de movimentos, principalmente os básicos como: pular, saltar, rolar, arrastar, correr e arremessar.

o EsportE molda as criançasPrática esportiva é fator importante para formação infantil

CaMiLa franCo Morais

Esporte estimula os alunos a se exercitarem e auxilia na concentração.

CaMiLa franCo Morais

“eu posso!”A independência e a confian-ça em si mesmo é outro pon-to fundamental que o esporte desenvolve na socialização das crianças. Quando há prática de qualquer modalidade, a criança desenvolve a autoconfiança de que consegue ultrapassar seus próprios limites, além, é claro, da interação entre meninos e meni-nas de idades diferentes.A prática do esporte na educa-ção básica é importante, pois, estimula o valor da competição

saudável. Competir significa participar buscando superar seus limites, cooperando com os seus companheiros de equipe e respeitando os seus adversá-rios. O esporte ensina também que para competir é necessário ter motivação, determinação, perseverança, cooperação, li-derança e espírito de equipe tanto com as vitórias como com as derrotas, que são fun-damentais para a formação de cidadãos ativos e participativos.

curricular”, começa. “Essa falta de espaço prejudica a qualidade.”

Mas será que existe uma maneira correta de se aplicar a Educação Física nas escolas? Para o pesquisador da USP, Marcos Neira, não há uma fórmula específica. “A melhor aula é aquela que se alinha aos objetivos e finalidades da escola, decididos democraticamente. A Educação Física precisa adequar-se ao Projeto Pedagógico da instituição.” Por isso, ele acredita que existam enormes discrepâncias na qualidade do ensino nas escolas. Para o pesquisador, um mesmo bairro pode apresentar um trabalho excelente em uma escola, enquanto, em outra, o sistema é totalmente falho. “A melhoria na qualidade dependerá de uma combinação de elementos políticos e pedagógicos.”

Page 7: Contexto Noturno

7

7CONTEXTO Noturno/2011 Cultura

Bauru constrói praça adaptada para deficientes, mas quer abrigar todos os públicos em busca da inclusão efetiva

MuriLo toMaz

O projeto da cidade de abrigar a primeira Praça Paradesportiva do Estado virou realidade. No dia 19 de outubro, começaram as atividades na Praça, localizada na Av. Nuno de Assis, que servirá como modelo para construções de novas praças em outras cidades.

A construção das quadras foi desenvolvida para atender a adaptação necessária referente ao tipo de deficiência e esporte praticado. A localidade é demarcada com piso tátil para orientar os deficientes visuais onde são as quadras, os vestiários e também no entorno da pista de caminhada que circunda a praça. No total são três quadras existentes, duas delas são cobertas. A primeira quadra coberta fica ao lado da entrada e permite a prática de handebol e tênis e podem ser utilizadas por cadeirantes. A segunda quadra, também coberta, é poliesportiva e permite a regulagem da altura das tabelas de basquete. A última quadra tem dimensões de um campo de society, porém seu piso é de quadra de futsal. Nessa quadra pode ser praticado o futebol para cegos (chamado futebol de 5) e o futebol para portadores de alguma paralisia cerebral (futebol de 7). No local ainda existem dois espaços vagos, em um deles

ficará a academia ao ar livre com equipamentos adaptados e no outro se projeta realizar atendimentos de fisioterapia. Os vestiários são equipados para as necessidades dos deficientes.

Inclusão Social

A Praça Paradesportiva além de servir como referência e ponto de encontro para os portadores de deficiência tem seu papel como disseminadora das necessidades que esse público demanda. No ideal da Praça de ser aberta a todos os públicos, o intuito é de que ocorra o convívio natural entre deficientes e não-deficientes e que isso se torne mais comum na sociedade. Hoje em dia “os deficientes não têm olhos para a prática esportiva, eles vivem em redutos”, é o que diz a Coordenadora dos Projetos da Praça, Maria Amélia Teodoro.

O principal trabalho da Coordenadora é desenvolver projetos esportivos que criem raízes no lugar, para isso ela precisa localizar interessados nisso e também praticantes de esportes adaptados. “Entramos em contato com a SORRI (instituição da sociedade civil voltada para a reabilitação de pessoas com deficiência) que foi a primeira instituição que

MuriLo toMaz

Rampa de acesso às quadras para a prática de tênis e handebol.

praça paradEsportiva é inaugurada E aBErta a todos

procurou a gente. Bauru não tem mapeamento dos seus deficientes, a gente precisa de números e pesquisas para poder desenvolver mais projetos”, diz.

Dessa forma, com grupos par-ticipantes de atividades na praça, será possível criar uma cultura no local que atente para as res-ponsabilidades dos governantes para a questão dos deficientes. Não somente em Praças, a aces-sibilidade nos transportes pú-blicos e nos estabelecimentos é uma preocupação contínua. Para a situação se inverter, a inclusão social do deficiente é essencial na visão de Maria Amélia. “Vamos trabalhar na inclusão social pela sensibilização da prática da ati-vidade física para deficientes, o que não existia em Bauru por fal-ta de prática, costume e um local adequado”, completa.

Adaptação ao próximo

A ideia de ter uma Praça voltada para os deficientes físicos na cidade partiu de iniciativa do assessor em acessibilidade da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb) e membro da Comissão de Acessibilidade do Município, Fábio Manfrinato (veja a entrevista com o Fábio abaixo).

Segundo informação publicada no Jornal da Cidade, o projeto se tornou viável graças ao convênio da Prefeitura de Bauru, que doou a área de 3.547 m² e investiu R$ 27.422,60, com a Secretaria Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência que repassou R$ 1,6 milhão para a construção.

Como principal articulador dos recursos, Fábio agora se preocupa em tornar o espaço uma referência também na execução de suas atividades. “Temos que elaborar projetos para um bom uso do espaço, por que ele agora é uma referência. Tem pessoas de outras cidades procurando as quadras e vendo como foram feitas, então nós temos que dar o exemplo de uso também”, explica.

A possibilidade de agregar diversos públicos é o principal ideal defendido pelo idealizador

do local para que a sociedade compreenda pelo convívio as principais necessidades dos deficientes. “A praça foi feita para ser adaptada às pessoas. Então cada um vem aqui e consegue adaptar sua atividade. E a partir do momento em que você convive com as pessoas você passa a ter noção de qual é a necessidade maior da outra pessoa. Ela [a Praça] é totalmente inclusiva, cem por cento acessível e é isso que promove a inclusão”, conclui Fábio Manfrinato.

Serviço

A Praça Paradesportiva de Bauru fica na Avenida Dr. Nuno de Assis, quadra 5, Jardim Bela Vista. Segunda a sexta das 8h às 22h, aos sábados das 9h às 17h. Ao chegar ao local, é necessário marcar horário.

Atleta bauruense batalha pela inclusão dos deficientes na sociedade

isabeL Minaré

Fábio Manfrinato é assessor em acessibilidade na Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb) e tem como bandeira a luta pelas pessoas com def i-ciência. A paralisia nas pernas o ajuda a ter uma visão mais prática, abrangente e sensível para poder lidar com os desa-f ios da prof issão. Além disso, Fábio é um atleta. Ele é, com muito orgulho, Penta Campeão Mundial da Luta de Braço. Recentemente foi inaugura-da na cidade a primeira Praça Paradesportiva do estado de São Paulo, um projeto de sua autoria. Sua idéia foi criar um equipamento esportivo com todo o aparato inclusivo. Ou seja, criar um espaço para que crianças, jovens e adultos def i-cientes contemplem o esporte, o lazer e o entretenimento.

Como você convive com a paralisia infantil?

Contrai a Pólio com menos de um ano, ou seja, convivo com minhas muletas como um aces-sório, uma bolsa, um óculos. Nunca interferiu, sempre su-perei meus limites e raramente deixei de fazer algo. Transformo os obstáculos em trampo-lim para meu crescimento, aprendizado e sucesso.

Já sofreu algum tipo de pre-conceito por conta disso? Se sim, como o enfrentou?

A forma como encaro as coi-sas se transfere para as pessoas de uma maneira muito positiva, nunca me fiz ou me senti menos que as outras pessoas, por isso nunca sofri o preconceito.

Em Bauru, o que ain-da precisa ser modi-ficado para garantir maior acessibilidade aos portadores de deficiência?

Muita coisa. Mas posso ga-rantir que nossa cidade, mes-mo engatinhando no assunto, está à frente de muitas outras. Temos problemas graves de barreiras arquitetônicas, como as calçadas. Entretanto temos

“iguais, dEntro das diFErEnças!”

os ônibus adaptados, mas ain-da sou a favor do ônibus de piso baixo, porque facilita a vida de todos. Enfrentamos uma barreira muito pior que a arquitetônica, que é a cultural.

Você é autor do projeto de construção da primeira praça paradesportiva do estado de São Paulo. Era um pedido dos outros defi-cientes ou foi você que viu a necessidade da obra?

Este projeto era um sonho e estava em minha mente já há um bom tempo. Ninguém me procurou solicitando. Porém eu observava que havia uma defi-ciência em locais para prática esportiva inclusiva. Foi quando assumi como vereador na Câmara

Municipal de Bauru por quatro meses como suplente e neste perí-odo consegui, com o apoio de vá-rias outras pessoas, transformar este sonho em realidade. Coloquei o projeto nas mãos da Secretária Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência e daí pra frente lutamos para que saísse do papel.

Além da praça, como está o incentivo para a prática de exercícios físicos por parte dos deficientes?

No momento ainda é escas-so, mas tenho certeza que, em pouco tempo, teremos mui-tos projetos sendo executados pela cidade visando o bem es-tar de todas as pessoas, inde-pendente de sua condição fí-sica ou idade. Os dirigentes

públicos estão mais inclinados a atender essa demanda.

Qual a importância do esporte para na sua saú-de física e mental?

O esporte entrou em minha vida como um alicerce, me abriu mui-tas portas e iluminou muito meus caminhos. Quando estou treinan-do, estou me divertindo, sinto um grande alívio físico e é claro mental também. “Mente sã, cor-po sã”. Sinto-me com muito mais energia quando estou treinando.

Na cidade, existe uma pre-paração especial para as Paraolimpíadas de 2016?

Infelizmente não, mas a Praça Paradesportiva pode ser uma alavanca para este tema.

- apaRelhos De ginástiCa

- aRtes maRCiais

- FisioteRapia- Futsal

- basquete

- Vôlei

- tênis - hanDebol- CaiXa De aReia

- Futebol De 5- Futebol De 7

Page 8: Contexto Noturno

CONTEXTO Noturno/20118

8

Cultura

Algumas braçadas. Um segundo para respirar, olhar para os lados, localizar o companheiro de equipe e fazer o passe. A bola segue. Mais braçadas. Os jogadores se movem. A água espirra. Chute com as mãos... Gol!!!

Assim, é uma jogada de pólo aquático. Um esporte olímpico que começa a se tornar comum na vida dos bauruenses.

Isso porque, o ex jogador da modalidade e empresário Claudio Zopone decidiu dar a oportunidade para que crianças e adolescentes de famílias de baixa renda pudessem praticar natação e pólo aquático de forma gratuita na cidade. A iniciativa deu origem ao Projeto Futuro.

No início, em setembro de 2010, 60 crianças davam as primeiras braçadas. Três meses depois elas já eram 400. Diante do rápido crescimento foi fundada a Associação Bauruense de Desportos Aquáticos (ABDA) para coordenar as atividades do projeto. E novos parceiros e investidores chegaram. Hoje, 1.137 crianças treinam nas piscinas do Projeto Futuro.

Nathalia Fernandes Viveiros é uma dessas crianças. Com 12 anos de idade, a menina fala com paixão sobre o esporte. Nem mesmo a responsabilidade de treinamentos diários a assuntam e diz que “os treinos são fortes e pesados, pois só assim conseguimos melhorar”.

O garoto de 14 anos, Ivo Mathias Tanganelli, também disponibiliza boa parte de sua rotina para o pólo aquático: “meu dia-a-dia é chegar da escola, almoçar, descansar e pegar o ônibus para ir para o treino”, comenta.

A dedicação dessa criançada já atraiu a atenção da Seleção Brasileira de Pólo Aquático que visitou e treinou em Bauru, nos meses de maio e julho desse ano. Em junho, outra grande experiência para 13 crianças do Projeto Futuro: elas representaram o Brasil no Festival Habawaba, realizado na Itália.

No início do mês de setembro, Bauru sediou o I Circuito Pré-Mirim e Mirim e o 3º Torneio Regional Petiz a Sênior de Natação. Os atletas

o amanhã nascE agoraProjetos incentivam o surgimento de atletas

assessoria de iMPrensa do instituto usina de sonHos

Partida de pólo aquático com os jogadores da ABDA.

JaqueLine Pereira e MireLe ribeiro

assessoria de iMPrensa do instituto usina de sonHos

Equipe de jiu-jitsu da Usina de Sonhos e seus idealizadores durante torneio na cidade de Rio Claro.

Como ContRibuiR Com os pRoJetos espoRtiVos soCiais?

da ABDA conquistaram 23 medalhas nas competições.

Mais do que medalhas e recordes dentro das piscinas, o Projeto Futuro tem como visão utilizar o esporte como ferramenta para promover a integração social e o desenvolvimento de conceitos básicos para cidadania como o trabalho em equipe, o senso de responsa- bilidade e a solidariedade.

A página oficial da ABDA na internet salienta que o Projeto Futuro pretende tornar a cidade de Bauru em um Centro de Excelência na formação de atletas de alto rendimento na natação e no pólo aquático. A meta do projeto é atender 1.500 crianças até o fim de 2011, prepará-

las para o futuro e, quem sabe, formar grandes atletas.

O resultado final só o tempo dirá. Mas por agora Nathalia e Ivo sabem bem o que esperam do amanhã.

“O projeto ocupa nosso tempo com coisas boas, a cada dia eu aprendo alguma coisa nova. Me ajuda a ter uma vida saudável e ativa. Eu quero continuar, pois é a coisa que eu mais gosto de fazer”, conta Nathalia.

“No começo eu entrei no projeto para fazer algum tipo de atividade fisica e para conhecer o esporte, mas com o tempo fui gostando e, hoje, estou no time. O que eu espero do futuro é pelo menos ser uma boa pessoa, continuar a jogar pólo aquático e ajudar os mais novos como o pessoal mais velho faz com a gente”, planeja Ivo.

Um sonho se tornando realidade

Outro exemplo bem sucedido de projeto social é desenvolvido na cidade de Dois Córregos (86 km de Bauru). Voltado para crianças e adolescentes carentes, o projeto idealizado pelo Instituto Usina de Sonhos visa ministrar aulas de artes marciais totalmente gratuitas.

A Usina de Sonhos foi criada em agosto de 1995 pelo poeta e empresário José Eduardo Mendes Camargo e é reconhecida pela UNESCO (órgão das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Cultura). O instituto é uma entidade cultural sem fins lucra-tivos que, segundo informações publicadas em seu site, “tem como missão inserir o ser huma-no, desde a infância, nas variadas formas de linguagem, obtendo, como resultado, a transformação da sua atitude perante a vida e a sociedade, a partir das realizações

pessoais e se tornando um defen-sor da Paz e da Não-Violência”. Dentre os inúmeros projetos ela-borados pelo Instituto, na cidade de Dois Córregos, um deles tem como objetivo promover o desen-volvimento da criança e da comu-nidade por meio do esporte.

Apaixonado por esportes, o ide-alizador e presidente do projeto, José Eduardo vê na prática das ati-vidades esportivas uma maneira de amenizar as injustiças e trazer mais paz e harmonia para o con-vívio da sociedade. José Eduardo durante a sua juventude dividiu seu tempo entre os estudos e o esporte. Começou com oito anos de idade a praticar o jiu-jitsu, a fim de curar uma bronquite, e nunca mais parou. Ele chegou ao grau de faixa-preta, diploma-do pelo Grande Mestre Helio Gracie, considerado o maior ícone deste esporte no Brasil.

Crescimento e parceria

O projeto social esportivo desenvolvido pelo Instituto Usina de Sonhos surgiu há cin-co anos de uma parceria entre José Eduardo e João Fernando Corazza, educador físico, com o objetivo de oferecer aulas gra-tuitas de jiu-jitsu a crianças e adolescentes carentes da cidade. Diante do sucesso adquirido em pouco tempo, os idealizadores sentiram a necessidade de evo-luir o projeto. “Fomos crescen-do gradativamente. Aos pou-cos inserimos também aulas de karatê, capoeira e judô, todas ministradas por professores voluntários”, conta João Corazza.

Atualmente o projeto esporti-vo do Instituto agrega 100 alu-nos, todos de baixa renda, e as aulas são ministradas duas ou três vezes por semana, de acor-do com a modalidade espor-tiva. Segundo a assessoria do Instituto, a consolidação dos resultados e a continuidade do projeto só é possível devido às parcerias e aos convênios com instituições públicas e privadas.

No mês de agosto, os 32 atle-tas da Usina de Sonhos, prati-cantes de jiu-jitsu, participaram da VIII Copa Pessoa de Jiu-Jitsu, na cidade de Rio Claro. Durante o evento, os jovens atletas dois-

correguenses ganharam 30 me-dalhas, sendo 20 delas de ouro, e ainda receberam um troféu de melhor equipe do torneio, en-tre as 10 academias que compe-tiram. “É um reconhecimento e tanto para nós que trabalhamos com isso e, principalmente, para esses jovens, que se sentem ain-da mais incentivados a pratica-rem esportes. Eles levarão essas conquistas pelo resto da vida”, diz emocionado o educador fí-sico. Os jovens atletas de Dois Córregos brilharam durante suas apresentações e provaram que é possível formar melhores cidadãos através do esporte.

Na ocasião, José Eduardo Mendes Camargo foi homenage-ado pelo Sr. Omero Pessoa, um dos organizadores do torneio, com um título no qual havia gra-vada a citação “Pela sua incansá-vel luta através da cultura e do esporte para o desenvolvimento do cidadão brasileiro”.

O Instituto Usina de Sonhos busca formar novas parcerias em todo o território nacio-nal, estendendo as atividades, na tentativa de instalar filiais, agências e multiplicadores em qualquer parte do país com-prometidos com o futuro das crianças e dos jovens brasileiros.

Na batalha por um futuro digno para os brasileirinhos, a ajuda vem de vários lados: são em-presários, artistas, voluntários e governo. Iniciativas conjuntas oferecem a milhares de crianças, através do esporte, a prática da integração social, desenvolvi-mento intelectual e cultural. O Ministério dos Esportes e o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) gerem o progra-ma Projetos Esportivos Sociais. Entre palestras educativas, aten-dimento médico, social, psico-lógico e reforço escolar, brasi-leiros de até 18 anos praticam pelo menos uma modalidade esportiva, três vezes por semana. O programa federal recebe doa-ções que, de acordo com a Lei de Incentivo ao Esporte, sancionada em 2006, podem ser deduzidas no imposto de renda. O desconto previsto pela Lei é de até 6% para pessoa física e de 1% para pes-soa jurídica tributada com base no lucro real. Tal mecanismo se tornou um incentivador para que pessoas e empresas patrocinem ações esportivo-sociais.A instituição privada pode tam-bém ser beneficiada por in-tegrar ou promover projetos voltados para crianças e jo-vens de baixa renda, ao ter sua marca associada com a visão de responsabilidade social. Antonio Luiz de Paula e Silva é consultor do Instituto Fonte, uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que busca potencializar a atuação de inicia-tivas sociais em prol do desenvol-vimento, através da consultoria, de pesquisas e da formação de gestores de desenvolvimento. Para ele, o conceito de responsa-bilidade social, assim como o in-vestimento social e a sustentabi-lidade estão ligados a uma nova concepção de cidadania, emer-gente na sociedade contempo-rânea. “Responsabilidade social é a expressão prática do olhar que pessoas e organizações têm para as consequências do que fazem na sociedade. Pode ser in-dividual, familiar ou corporativa (empresarial)” explica Antonio.

Para saber mais sobre o Projeto Futuro:

Projeto Futuro é aberto para todas as crianças na faixa dos 7 aos 14 anos. Os interessados devem comparecer à Rua Cussy Júnior, 12-83 no Centro da cidade às segundas, terças e sextas--feiras ou se apresentarem na Avenida José Henrique Ferraz, 7-15 no Jardim Ferraz toda quarta e sexta-feira. No local uma assistente social realiza uma entrevista com as crianças. Para participar do Projeto Futuro o interessado deve es-tar regularmente matriculado em unidade escolar, ter no-tas acima da média e estar com a carteira de vacinação atualizada. Não há pagamento de taxas.

Page 9: Contexto Noturno

9

9CONTEXTO Noturno/2011 Cultura

Para saber mais sobre o Museu do Futebol:

Praça CharlesMiller, s/nº Pacaembu Telefone: (11) 3663-3848 E-mail: contato @museudofutebol.org.br site: www.museudofutebol.org.brHorário: Terça a domingo.exceto nos dias de jogos no Pacaembu, das 10h às 18 h Preço: R$ 6,00. Estudantes, professores e idosos pagam meia-entrada.Deficientes físicos não pagam.*Todas as quintas a entrada é gratuita.

Embaixo das arquibanca-das do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, em uma área de 6,9 mil m², encontra-se o único Museu do Futebol do mundo sem ligação com nenhum clube em específico. Inaugurado em 2008, pelo então governador José Serra, completou em setembro três anos e comemorou a marca de mais de um milhão de visitantes. Estima-se que mil e quinhentas pessoas visitem o museu todos os dias.

O Museu de Futebol atinge todos os tipos de público, até os que não se interessam mui-to pelo esporte. “O Museu é, também, um museu de histó-ria. Ele aproveita toda a riqueza e complexidade desse esporte para tratar da história do Brasil no século XX e das transforma-ções sociais e culturais sofridas

pelo país desde o final do sécu-lo XIX até os dias de hoje. Por isso, recebemos tanto aqueles visitantes que são fanáticos por futebol e querem apreciar e conhecer mais sobre a traje-tória do esporte em nosso país, quanto aqueles que não são tão ligados em futebol, mas se inte-ressam pelos outros temas trata-dos em nossas exposições” afir-ma o assistente de comunicação do Museu, Eduardo Lemos.

Eduardo conta que as áreas que mais agradam o público são a Sala da Exaltação, com telões gigantes que passam os gritos e as manifestações das torcidas dentro dos estádios, e a Sala das Copas do Mundo, que conta a história das Copas desde 1930 e contextualiza com os fatos mais importantes ocorridos na cultu-ra, na política e sociedade brasi-

leira. Caio Casagrande Cardoso, assessor de imprensa do Bauru Basketball Team, concorda com Eduardo, “A parte que mais gos-tei foi a dos gritos da torcida bem embaixo das arquibancadas do Pacaembu. É arrepiante aquele som alto e com as imagens trocan-do de todas as torcidas”. São memórias, acontecimentos e representações do futebol em diferentes dimensões. Tudo isso ligado a preços acessíveis atrai pessoas de todas as idades e classes, que talvez não frequen-tem outros tipos de museus. E o Museu do Futebol colabora com a cultura e o entretenimento da

população brasileira. “O Museu oferece atendimento educativo a grupos e visitantes espontâ-neos, mediante agendamento. Os educadores possuem forma-ções em diversas áreas (como Letras, Artes Plásticas, História) e, por isso, contribuem para aprofundar e ampliar a com-preensão dos temas tratados em nossa exposição de longa duração”, explica Eduardo.

Para além do futebol

Além da exposição permanen-te, que conta com dezesseis salas divididas em três eixos: Emoção,

História e Diversão, há também uma extensa programação cultu-ral variada, que vai desde encon-tro de colecionadores de camisas de futebol até sessões de cinemas e palestras. Só nesse ano foram três mostras: “As Marcas do Rei”, que reunia itens raros da coleção do Pelé, “Mania de colecionador” e “Oras bolas! O futebol pelo mundo”. A exposição da vez é inu-sitada. “‘Olhar com Outro Olhar’ traz, para aquelas pessoas que en-xergam, o universo dos deficien-tes visuais. O visitante é vendado e tem de usar o tato e a audição para perceber uma imagem de um jogo de futebol”, conta Eduardo.

cultura, história E EsportE unidos no pacaEmBuCom extensa programação cultural, o Museu do Futebol completa 3 anos e atinge um milhão de visitantes

Laís boLa

assessoria do Museu do futeboL

A exposição “Olhar com Outro Olhar” convida o público a “tocar” o futebol.

JaValispeRsistentes

No mínimo curioso. Enquanto a bola oval é passada entre os braços rápidos dos jogadores, grandes “H”s enfeitam o campo de grama macia – ao menos o bastante para amortecer o atleta na hora da queda. Alguém toca a bola no chão, e ponto. Você faz um try e não um passe, há o scrum e outras formações... o lateral é dividido, os dois times disputam a bola. E nesse meio tempo, alguém sempre interfere com um questionamento en-fadonho “ah, vocês não jogam futebol?”. O brasileiro tende a estranhar um dos esportes mais populares do mundo. Atrai olhares desconfiados, mas nun-ca ultrapassa a barreira cultu-ral. Na terra do futebol, o rúgbi é um jogo no mínimo curioso.

Nasceu na Inglaterra, lugar de origem da nossa paixão nacional, mas ainda não se tornou unanimidade por aqui. Mesmo assim, quando ultrapassa a curiosidade, o jogo cativa, apaixona, vira uma filosofia de vida. “Um dia o rúgbi será o esporte mais popular do Brasil, já está acontecendo...”, empolga-se Johnny As-sumpção Guelfi, 23 anos, um dos jogadores dos Javalis.

Fundado por um grupo de alu-nos da Unesp, o time compete por um espaço nos campinhos

rúgBi Ensina a pErsistirTime de Bauru enfrenta dificuldade para jogar esporte desconhecido

Maria CLara LiMa

de várzea desde 2000. “Se falar-mos que queremos reservar um horário no sábado à tarde para jogar rúgbi, eles vão dizer: tá lou-co?”, Daniel Poli Fabro, 28 anos, ri da impossibilidade, sábado é dia de futebol. Num país mono-esportivo, dedicar-se a outra ati-vidade é quase um desaforo. Em Bauru, há nove distritos, nove campos da prefeitura, e vários campeonatos amadores, mas os Javalis não são bem-vindos. “Por muitos anos, treinávamos no parque Vitória Régia”, queixa--se Daniel. O pequeno espaço plano e sujo era o reduto do único time de rúgbi da cidade. Segundo ele, um lugar inóspito e propício para acidentes.

Para quem acha que esse é um esporte violento, os três do Javalis dividem a mesma opi-nião: de violento, o rugby não tem nada. Para eles, não há nada mais democrático do que o rúg-bi. “Alto, magro, gordo, baixo, todos podem jogar juntos. Cada um tem uma função no time”, e por causa disso, Daniel acre-dita que o respeito e admiração pelo colega fazem do esporte um exemplo de conduta. O jogo, além de regras, carrega a ética do cavalheirismo britânico. É um local onde fazer catimba e cavar faltas é uma desonra. “Ninguém quer ganhar roubando”, explica.

A lua cheia do dia 17 de novem-bro ilumina toda Bauru e tam-bém coloca os Javalis em treino no novo campo. As traves são as mesmas de um campinho de pelada, a grama é mais baixa do que deveria, não há treinador, e muito menos jogadores suficien-tes para começar uma partida. “Acho que seremos apenas nós três”, avisa Lucas Ruggiero, 22 anos, presidente do time. É uma rotina sem surpresas, acontece às terças, quintas e domingos, na Hípica da cidade, longe dos olhos do público apreciador do esporte amador. Ali, a maioria das coisas ocorre no improvi-so, menos a paixão pelo espor-te estranho e ainda estrangeiro. “Não vamos convencer (o res-to do time) a vir treinar usando a força, vamos dar o exemplo da persistência”, medita Daniel.

O vai e vem de atletas no time é constante e a falta de compro-misso também. Muitos ainda consideram o esporte uma gran-de brincadeira. Naquela noite de lua cheia, os Javalis perderam para outras prioridades. Mas Daniel, Lucas e Johnny seguem passando a bola, e conversam

entre si durante o treino improvi-sado. Quase como monges, eles iniciam o trabalho espiritual da noite e dão continuidade ao es-pírito do rúgbi. É um jogo de dis-ciplina, força e lealdade. “Vamos continuar vindo aqui, e eles irão perceber que faltar o treino é er-rado”, lamenta Daniel.

Desconhecidose sem dinheiro

Mas a falta de atletas não é tão grave quanto a falta de reco-nhecimento dos patrocinadores. Sem verbas para pagar a anui-dade dos jogadores, o time teve que deixar o campeonato estadu-al para quem sabe ano que vem conseguir formalizar uma Liga com os times do oeste paulista. Além disso, fica complicado in-vestir no treinamento e na com-pra de equipamentos. “Fica mais difícil arrumar quem patrocine um esporte desconhecido. Não

há retorno para o patrocinador”, explica Daniel, que se anima ao constatar que essa visão mono-esportista pode mudar em breve. Ele atribui suas esperanças a mu-dança no cenário econômico bra-sileiro. “Cada vez mais, empresas estrangeiras chegam aqui. É o caso da Heineken, a maior patro-cinadora de rúgbi do mundo”.E de cerveja brasileiro gosta.

A Confederação Brasileira de Rugby também acredita na virada de jogo. O projeto “Eu Acredito” é uma campanha que mostrará resultado apenas em 2016, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, quando o rúgbi Union voltará a fazer parte da competição. É um plano de estratégias para tornar o esporte mais conhecido entre os brasileiros e incentivar às se-leções masculinas e femininas a conquistarem mais títulos. Talvez o Johnny esteja certo: quem sabe um dia o rugby se torne o esporte mais popular do Brasil.

Maria CLara LiMa

Os Javalis Bauruenses lutam para manter a prática do esporte

Page 10: Contexto Noturno

CONTEXTO Noturno/201110

10

Economia

No dia 1° de setembro o Noroeste comemorou seus 101 anos. Diferente das celebrações que movimentaram a cidade de Bauru pelo centenário do clube no ano passado, nesse aniversário o clima foi de desconsolo. Além de um novo rebaixamento - o se-gundo em três anos - uma dívida de quase 15 milhões não deixou a mínima possibilidade de bolo, bexiga e parabéns à equipe. Nem mesmo o presidente do time, Damião Garcia, esteve na cidade. Segundo o diretor executivo do Clube, Beto Souza, o presidente

estava com problemas na família.Boa parte da dívida do clube está, justamente, nas mãos de Damião. Dos 15 milhões, R$ 12,2 milhões são empréstimos em nome da família do presidente, R$ 6,1 milhões são da pessoa física de Damião Garcia e R$ 6,1 milhões são dívidas com a pessoa jurídica de Damião Garcia. De 2010 para 2011 a dívida aumentou em quase dois milhões, que correspondem ao período em que o time esteve na segunda divisão.

O presidente afirma pelos corredores do clube que esta dí-

noroEstE, 15 milhõEs Em dívidas E novo rEBaixamEntoDívida aumentou 2 milhões em dois anos, mas o Damião Garcia, presidente do clube, diz que a dívida nunca será cobrada

assessoria de CoMuniCação do esPorte CLube noroeste.

Secretário de esportes, presidente do Noroeste e prefeito Agostinho assinam empréstimo ao estádio “Panela de Pressão“.

danieLa PenHa

vida nunca será cobrada e que ele não precisa deste dinheiro. A questão, no entanto, é compli-cada já que, por estarem em seu nome, os títulos podem ser co-brados, até mesmo, anos depois de o presidente vir a óbito.

Pagando para jogar

Neste ano, disputando a pri-meira divisão paulista, o Noroeste arrecadou R$ 1,8 milhão pelas cotas de TV e teve um lucro de R$ 475,7 mil com bilheterias (graças aos jogos do Palmeiras e

São Paulo, realizados na cidade), além de ganhar uma porcenta-gem com as vendas dos jogado-res Halisson e Diego. No ano passado, no entanto, em 14 jogos realizados no estádio do clube, Alfredo de Castilho, o Noroeste teve lucro em apenas cinco deles. Tendo que, praticamente, pagar para jogar nos outros nove.

A complicada situação é as-sunto proibido dentro do clube. A equipe do Contexto tentou se comunicar-se com o presidente, que não quis se manifestar. Beto Souza limitou-se a demonstrar

otimismo: “Novos jogadores estão surgindo e tudo será dife-rente no próximo ano”. Algumas das esperanças, têm fundamen-to, já que o time sub-20 perma-nece invicto na segunda fase do Paulista e o sub 15 conseguiu alcançar a segunda fase.

Especulações, no entanto, indi-cam que a venda mais promisso-ra de um jogador do Noroeste, o Edno, teria arrecadado R$ 1 mi-lhão. Um valor que é significati-vamente pequeno se comparado ao saldo negativo do time. Além disso, há que se considerar que o clube quase não tem lucros com a venda dos jogadores porque, normalmente, são firmados con-tratos pequenos – de 4 à 6 meses – cabendo ao próprio atleta o re-manejamento a outros times.

Panela de Pressão

Em março deste ano o clube fechou um acordo de aluguel do ginásio Panela de Pressão com a Prefeitura Municipal de Bauru, visando tanto a reativação do es-paço, que desde de 2006 estava parado, quanto o pagamento de uma dívida de aproximadamen-te R$ 1,5 milhões que o Noroeste mantinha com a municipalidade. O montante era referente a IPTUs que deixaram de ser pagos pelo clube ao longo dos anos.

No contrato, a prefeitura se dis-pôs a pagar o valor de R$ 18 mil mensais pelo uso do ginásio, por um período de 60 meses. Durante os primeiros 12 meses de contra-to, no entanto, o valor tem sido retido pela Prefeitura para o paga-mento da dívida do clube.

unEsp oFErEcE EsportEs gratuitos à comunidadESeis modalidades esportivas são oferecidas no campusnaoMi CorCovia

Falta de dinheiro para frequentar academia não justifica mais o sedentarismo, pelo menos para os moradores de Bauru.

O departamento de Educação Física da Unesp mantém projetos de variados esportes para os interessados em prática esportiva, sem necessidade de ter algum vínculo com a faculdade para realizar a inscrição. Alunos, docentes, funcionários e pessoas externas à Unesp são bem-vindos.

Para os admiradores das Artes Marciais, os projetos Karatê e Aikido na Unesp prometem não apenas o ensino dos esportes em si, mas também a melhoria das condições de saúde através de um melhor condicionamento físico, equilíbrio emocional, cul-tivo da cortesia e boas maneiras, atributos valorizados na cultura oriental. Desde seu surgimento, em setembro de 2002, o Karatê na Unesp já atendeu aproximada-mente 250 participantes e o curso de Aikido, outros 200, conta o co-ordenador Sérgio Tosi Rodrigues.

Crianças e adolescentes de 7 a 14 anos podem treinar fu-tebol no projeto “Futebol Escola”, que acontece todas as manhãs de sábado. Julio Wilson dos Santos, coordena-dor, explica que o projeto pos-sui caráter educativo, pois lá são desenvolvidos conceitos de cidadania, respeito às re-gras e cooperação. Há também o estímulo para que os alunos façam amizade entre si, con-tribuindo com a qualidade do ambiente da prática esportiva.

“O fato do futebol ser o esporte mais praticado no Brasil faz com que as crianças tenham grande interesse, o que facilita a procura pelo projeto e faz com que ele alcance seus objetivos. Ou seja, através do futebol conseguimos educar e melhorar as habilidades motoras das crianças”, complementa Julio. Para facilitar a chegada das crianças ao local dos treinos, há um ônibus que circula pelos bairros próximos à Unesp no transporte dos participantes.

O atletismo, modalidade composta por corrida, saltos e lançamentos, é uma boa pedida para quem deseja emagrecer ou melhorar o condicionamento físico. A aceitação do projeto Atletismo na Unesp tem sido boa, considerando o número e características dos participantes. “Hoje atendemos a um total de aproximadamente 20 participantes, entre homens e mulheres, com faixa etária variando entre 15 e 57 anos”, conta o coordenador Márcio Pereira da Silva.

Márcio aponta ainda que os benefícios da prática do atletismo variam conforme os objetivos pretendidos por cada atleta, dependendo da regularidade com que frequentam o projeto e realizam outras atividades fora dele, mas considera que o benefício principal do esporte esteja relacionado à oportunidade de poder contar com uma orientação adequada quanto à realização dos programas

de exercícios e outras questões como estratégias alimentares e de recuperação.

Também são oferecidos na Unesp cursos de Handebol (“Ensinando e Aprendendo Handebol”); Voleibol (“Saque do Futuro”); “Academia na Praça”, que visa proporcionar o bem estar físico a partir da correção de desequilíbrios musculares, vícios de postura e aptidão muscular; “Equoterapia”: uma atividade motora para o desenvolvimento de pessoas com deficiências,

Para saber mais:

Mais informações sobre os projetos podem ser consultadas no site da Faculdade de Ciências da Unesp: www.fc.unesp.br/educacaofisica (clique no link Projetos de Extensão da página).

Ou ligue no Departamento de Educação Física: (14) 3103-6082

site da faCuLdade de CiênCias

Instrutores orientam alunos do Projeto Academia na Praça.que desenvolve os aspectos neuro e psico-motores dos deficientes por meio do uso de cavalos, dentre outros projetos em defesa da qualidade de vida.

Page 11: Contexto Noturno

11

11CONTEXTO Noturno/2011 Economia

O forte sol do meio-dia, em pleno domingo, não era inten-so o suficiente para desanimar Pedro Amador. Esforçando-se para carregar uma pesada caixa de isopor no ombro e um con-vincente sorriso no rosto, ele procurava honrar ao máximo o fato de ser o único vendedor ambulante presente no Estádio Zezinho Magalhães naquele último domingo de agosto.

Seus colegas de trabalho – ven-dedores de pipoca, churros, refri-gerante, amendoim -, que podem chegar a mais de quinze depen-dendo da partida, estavam de folga. O motivo era mais do que evidente: ausência de consumi-dores. Apenas 59 fiéis torcedores pagantes (este repórter inclu-so) arriscaram-se a ver a partida entre XV de Jaú e Penapolense, válida pela décima rodada da Copa Paulista de Futebol.

“Há dois anos trabalho como vendedor aqui nesse estádio e nunca havia visto um público tão pequeno como o de hoje”, confes-sou Pedro, com muito suor no ros-to. Ele acabara de percorrer uma centena de metros para vender uma latinha de refrigerante para uma torcedora, sentada no canto extremo do estádio, onde algu-mas árvores serviam de refúgio ao calor superior a trinta graus.

Com essa venda, ele alcançou o impressionante número de duas

casa vazia, isopor chEio

Copa paulista De Futebol

Baixo público da Copa Paulista prejudica clubes e vendedores

Cristiano Pavini

latas de guaraná e dois copos de água vendidos em 35 minutos de jogo, rendendo-lhe a soma de R$ 8,00. “Hoje vai ser difícil”, lamen-tou Pedro, que chega a faturar em média R$ 150,00 em dias normais de partida. Ele só não estava no prejuízo porque entra de graça no estádio e economiza os R$ 10,00 do preço do ingresso comum.

Quem estava em déficit nesse dia era o XV de Jaú. O jogo pro-priamente dito terminou em zero a zero, mas o resultado para o saldo bancário do clube conse-guiu ser ainda pior. Os 59 fieis pagantes renderam R$ 445,00 aos cofres da equipe. Na realida-de, o dinheiro nem chegou perto do cofre. Por ser mandante da partida, o XV de Jaú havia gasto exatos R$ 950,66 apenas para or-ganizar o jogo, que implica despe-sas como policiamento, impres-são dos ingressos e fiscalização. Resultado: prejuízo de R$ 527,93.

“O gasto do clube, apenas com jogadores e comissão técni-ca, é de aproximados R$ 30 mil mensais. Isso sem contar manu-tenção de estádio, água, energia elétrica e outras despesas. A ren-da obtida nas partidas não cobre nem 10% desses gasto”, lamenta Paulo César Gange, assessor de imprensa do XV de Jaú. Ele infor-ma que a equipe tem recorrido a doações financeiras de amigos e até do presidente do clube.

O campeonato deste ano reuniu 34 equipes do interior de São Paulo e vai até o final de novembro. O clube vencedor obtém o direito de participar da Copa do Brasil, a segunda mais importante competição nacional no país. Entretanto, nem todas as equipes que participam da competição têm esse objetivo.Por determinação da Federação Paulista de Futebol, todo clube deve participar de pelo menos duas competições ao longo do ano. Assim, muitas equipes entram na Copa Paulista por obrigação para “cumprir tabela”.

Com isso, o futebol apresentado por alguns clubes fica abaixo do esperado, mesmo para os que estão acostumados a disputar a segunda ou terceira divisão do Paulistão, principal competição estadual, realizada no primeiro semestre. Isso, aliado ao horário pouco atrativo de algumas partidas - como na hora do churrasco de domingo - acaba afastando os torcedores. A média de público das 16 partidas realizadas na rodada em que Pedro Amador vendeu menos de meia dúzia de latinha foi de 417 pagantes. Doze

desses jogos tiveram menos de 300 torcedores. A partida com menos expectadores naquele final de semana foi justamente a do XV de Jaú.Para azar de Pedro Amador, a equipe jauense conseguiu superar seu resultado negativo. Na rodada seguinte em que jogou em casa, contra o Rio Preto, apenas 36 pessoas assistirem ao jogo debaixo de muito sol. O repórter do Contexto dessa vez não esteve presente, mas foi informado de que um homem com isopor no ombro ainda mantinha esperança de vender alguns refrigerantes.

Cristiano Pavini

O vendedor ambulante Pedro Amador faturou apenas R$ 8,00 reais em 35 minutos de jogo.

Mayara Pavanato

Exemplos de produtos voltados para torcedores do Corinthians .

comércio dE produtos movimEntaEconomia dE cluBEsMayara Pavanato

Há muito tempo o futebol é uma paixão nacional, em espe-cial no Brasil. O esporte tem a capacidade de agregar pessoas todas as semanas, que vão ao es-tádio ver seu time em campo ou acompanham os jogos em casa mesmo, pela TV. Além de toda a renda arrecadada durante esses eventos, os clubes tornaram o ma-rketing uma das áreas mais rentá-veis do futebol e viram sua renda aumentar de forma considerável.

Desde preencher o uniforme com diversas logomarcas de patrocinadores até a venda de produtos com o símbolo do time, a área comercial ocupa um lugar de destaque na maioria dos clubes, desde os mais famosos até os pouco conhecidos. Se comparado com o futebol europeu, o marketing brasileiro ainda não alcançou todo o seu potencial, mas já engatinha de forma visível. De acordo com a Justiça Desportiva e o portal No Minuto, em 2009 o Corinthians teve um crescimento de 60% na sua renda por meio de estratégias de marketing e da venda de produtos.

Essa estratégia também faz par-te da rotina dos clubes menores. O Clube Noroeste, time da cidade de Bauru, também se utiliza da venda de produtos licenciados. De acordo com o setor de marketing do clube, essa atividade contribui especialmente no pagamento de despesas fixas, além de aumentar a visibilidade da marca Noroeste.

Uma parte importante em todo esse mercado é o torcedor. Ele é o consumidor direto dos pro-dutos que o time oferece e é por meio dele que as estratégias dão resultado ou não. O analista de sistemas Cassiano Ramos é tor-cedor do Corinthians e conta que compra produtos do seu time. São diversas camisas, jaquetas e abrigos, além de toalhas, relógio de parede, canecas, copos, pro-dutos para churrasco, entre ou-tros. Os produtos da coleção do corinthiano são um exemplo da diversidade do que é oferecido ao consumidor, ultrapassando apenas os uniformes do time. Para Cassiano, a maior motiva-ção para adquirir produtos é o amor ao clube, mas também a

satisfação pessoal. Além disso, ele acredita que comprar os produtos licenciados ajuda o clube.

Pirataria

Outro aspecto importante quan-do se discute os produtos de times é a pirataria. Os produtos licen-ciados possuem preços que nem sempre correspondem à renda do brasileiro. Uma camisa oficial custa em média R$169,00. Se con-siderarmos que o salário mínimo atual é de R$ 545,00, comprar pro-dutos licenciados pode não ser tão acessível à maioria dos torcedores. Cassiano afirma que não costuma comprar produtos pirateados, mas concorda que o preço dos produ-tos é muito alto e por isso não recri-mina o torcedor que compra, pois segundo ele, o orgulho de vestir a camisa do time é maior que isso.

Já o diretor de marketing e re-lacionamento do clube Noroeste, Evaldo Armani, diz que essa ques-tão é irrelevante com os seus pro-dutos, uma vez que eles controlam as falsificações em Bauru, junto ao órgão de fiscalização. Além disso,

o clube tem um público fiel e as proporções não justificam produ-ção em escala de pirataria.

A posição do Noroeste na tabela e os campeonatos que ele disputa também podem fazer a diferença no seu prestígio e na sua conse-quente arrecadação. Evaldo afir-ma que a questão financeira in-fluencia e muito no desempenho, pois os recursos financeiros estão diretamente ligados aos resulta-dos: eles são fundamentais para a formação de equipes competitivas. E é por meio dos títulos que a cap-tação de recursos aumenta.

Quando um time que está na-quela que é considerada a elite do futebol cai para a segunda divisão, os torcedores podem se sentir de-cepcionados com o time e acabam prejudicando-o ainda mais ao deixar de comprar seus produ-tos. Porém, o contrário também é possível: vendo o clube em um momento difícil, a torcida busca reerguê-lo e dar ainda mais força.

Para Gleison Raphael de Andrade, torcedor do Noroeste, a campanha do time não é essencial na compra dos produtos. Para ele,

torcer para um time do interior tem algumas diferenças. Considerando que a principal fonte de arrecada-ção dos clubes são as transmissões dos jogos, o que sobra para os times menores é uma parcela pe-quena desse montante. Segundo ele, os torcedores do Noroeste, por exemplo, torcem esperando o me-lhor, mas já são bem conscientes de que o êxito é mais difícil.

Futebol é o esporte que mais fatura

Esporte Arrecadação

Futebol US$ 28 bilhões

FutebolAmericano

US$ 8,1 bilhões

Baseball US$ 7,7 bilhões

Formula 1 US$ 4,2 bilhões

Basquete US$ 3,8 bilhões

Hóquei US$ 2,8 bilhões

Tênis US$ 2,7 bilhões

Golfe US$ 1,9 bilhão

Outros US$ 5 bilhões

Fonte: Kearney, dados de 2009

Page 12: Contexto Noturno

CONTEXTO Noturno/201112

12

Políticao quE sErão dos Estádios construídos para a copa?Ao menos cinco estádios levantados para o evento esportivo podem se tornar obsoletos após o evento esportivo.

tHiago venanzoni

Infeliz com a cobertura que parte da mídia conduzia sobre o futebol, Nelson Rodrigues, famo-so literato, criou o jargão “idiotas da objetividade” para se indig-nar quando julgasse necessário. Com o passar do tempo, tal frase foi usada em outras roupagens, contextos, mas a ideia sempre foi mantida, e agora ela, mais uma vez, tem sua importância. No mês de setembro completou-se 1000 dias até a realização da Copa do Mundo por aqui. A data foi cele-brada, com direito a pronuncia-mento oficial da presidente da república, Dilma Rousseff, e de grande festa nos estados que se-rão sedes do campeonato de fu-tebol. Apesar da simbologia que a dia representou, os discursos oficiais e a cobertura da impren-sa têm abordado apenas as pré-vias do evento, ignorando o que virá após os 1030 dias (a Copa do Mundo tem duração de um mês). A cobertura feita valoriza, em par-te, a crítica e o jargão criado pelo o dramaturgo carioca sobre a im-prensa esportiva do país.

Segundo mostra estudos fei-tos pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva, Sinaenco, no começo deste ano, os estádios que serão construídos ou refor-mados para a Copa do Mundo em Cuiabá, Manaus, Recife, Brasília

e Natal, podem se tornar obso-letos depois do evento da FIFA. Segundo o jornalista esportivo Mauro Cezar Pereira, dos canais ESPN e da Rádio Estadão/ESPN, “alguns casos são bastante evi-dentes e poderiam ser evitados”. Cuiabá, por exemplo, tem apenas um time na série D do campeo-nato nacional. Apesar de existir a Copa do Brasil, campeonato na-cional que reúne, no mínimo, um representante (clube) de cada es-tado, o investimento que será fei-to na Arena Pantanal, estádio que será construído na capital mato--grossense, algo em torno de 600 milhões de reais (segundo o go-verno local), não se justifica pelo futebol do estado. O mesmo caso se aplica a Manaus, que apesar de ter times que já participaram de momentos históricos do futebol no país, hoje vive a margem es-querda do rio do esporte.

Jogo político

Os governos estaduais, bem como a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), se defendem, por meio de notas oficiais, di-zendo que a realização do evento esportivo nestas cidades fomen-tará o esporte nas capitais, além de ser uma forma de reavivar o futebol nas localidades. Para o comentarista Mauro Cezar, em

suas observações por meio das mídias que trabalha, não é bem essa a realidade: “Não há um pla-no consistente que nos permita acreditar que o futebol será pra-ticado com profissionalismo nes-tas localidades. É politicagem em prol de interesses e de corrupção, já que Ricardo Teixeira, presiden-te do Comitê Local da Copa do Mundo, luta bastante para que o dinheiro público investido não seja publicado. Não tem nada a ver com esporte”, completa. Nos outros três casos, enredos dife-rentes, mas com finais parecidos. Recife é uma capital que respira futebol: tem três equipes consis-tentes e com muita história, caso de Sport, Náutico e Santa Cruz. O problema é que todos estes clubes já têm seus estádios próprios na capital do Pernambuco, e o go-verno de Eduardo Campos optou por construir uma nova arena. Os três clubes da capital já infor-maram que não usarão o estádio, pois, com razão, afirmam que já têm seus próprios. O governo do Pernambuco diz que a constru-ção deste monumento em uma região periférica da capital levará investimentos, comércio, infraes-trutura e habitantes pro local. Em entrevista ao Canal Livre da Rede Bandeirantes, no mês de agosto, Eduardo Campos afirmou que há um projeto para se usar o está-

dio como palco para shows. Nada foi dito a respeito de jogos ofi-ciais de futebol. O valor da Arena Pernambuco gira em torno de 500 milhões de reais, que serão pagos pelo governo estadual e federal.

Brasília é um caso bem específi-co. O argumento usado a respeito de a cidade ser a capital federal poderia ser suficiente, já que o fu-tebol por lá é pouco praticado. O que é passível de questionamento são os quase 800 milhões de reais que serão gastos na construção de um novo estádio. Não à toa, o jornalista Mauro Cezar diz: “Os governos estaduais, e também fe-deral, abaixam a cabeça pra FIFA

e CBF, que exigem regras e orça-mentos que não condizem com a nossa realidade. Se a Alemanha não permitiu que certas mano-bras fossem feitas em 2006, por que temos que aceitar?”. O jor-nalista ainda menciona os es-cândalos que eclodiram sobre as duas instituições: “a FIFA é investigada por favorecimentos ilícitos e desvio de verba. A CBF também tem um currículo ex-tenso de falcatruas e desmandos, como é investigado por aqui e fora do país. Só por haver inves-tigações, e algumas feitas com se-riedade, deveríamos saber que os órgãos são pouco recomendados”.

divuLgação

Estádio Nacional de Brasília deverá custar R$ 800 milhões.

vilas olímpicas não dEvErão virar haBitação popularParceria público-privada pode impedir que as construções voltadas às competições virem projetos habitacionais

Henri CHevaLier

O Brasil construirá novas Vilas Olímpicas para receber os me-gaeventos que ocorrerão no país nos próximos anos. Só no Rio de Janeiro, cerca de 18 mil atletas serão abrigados na Vila da Barra da Tijuca. A Vila, segundo o pre-feito Eduardo Paes, ficará pronta a tempo das Olimpíadas de 2016. Ao mesmo tempo, cerca de 600 mil pessoas no estado carioca não tinham acesso à moradia no ano de 2008, segundo declara-ção do Secretário Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro ao Portal Terra, Marcelo Garcia.

A chamada Vila da Barra da Tijuca anunciou no final de agos-to como se dará a dinâmica de ocupação de suas construções:

40 prédios com 3.528 apartamen-tos de dois, três e quatro quartos. O maior condomínio ocupará um espaço de 400 mil metros quadrados, segundo apurou as empresas Globo de Jornalismo.

Assim como aconteceu em outras cidades do mundo após grandes eventos, uma dis-cussão entre movimentos so-ciais por moradia gira em tor-no de reverter essas moradias para programas de habitação.

Em 2009, a Relatora Especial da Organização das Nações Unidas para o Direito à Moradia Adequada, a brasileira Raquel Rolnik, elaborou um relatório oficial dirigido ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Neste documento, ela apresen-ta algumas sugestões a serem seguidas em relação à moradia, como a dos países que destina-ram suas construções à sociedade (veja mais informações abaixo).

Ainda não se sabe exatamente o destino que o Rio dará a seus abrigos, mas especulações de entidades da sociedade civil in-dicam que as parcerias público--privadas têm como condição de financiamento a posterior cessão de espaços para as empresas.

Denúncias de habitantes do Rio sobre a retirada de morado-res à força de suas casas para que se construam estádios, rodovias e outras obras da Copa motiva-ram a ação de grupos de Direitos Humanos e o relatório da ONU.

DocumentosOlímpicos

Os países que receberão megae-ventos esportivos têm que seguir a chamada Carta Olímpica. Ela estabelece os “princípios funda-mentais do olimpismo” e em sua versão de 2007 indica que “o ob-jetivo do olimpismo é pôr sempre o esporte a serviço do desenvol-vimento harmônico do homem, com o fim de favorecer o estabele-cimento de uma sociedade pacífi-ca e comprometida com a manu- tenção da dignidade humana”.

Desde 2008, se introduziu no

processo uma tendência positiva com relação à moradia, posto que as cidades devem explicar o uso que darão às novas moradias de-pois dos jogos. A Carta também promove a idéia de que os Jogos Olímpicos deixem um legado po-sitivo às cidades e países anfitriões.

Investimento paraCopa supera moradia

Os investimentos desproporcio-nais em moradia em relação ao in-vestimento na Copa também é um assunto polêmico. Os estados do Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará e Rio Grande do Norte investirão cerca de 4,8 bilhões somente em seus estádios, o que seria qua-se oito vezes mais dinheiro do que os 589 milhões que os nove gastaram com habitação em 2009.

Há duas semanas, a Prefeitura do Rio levantou cerca de 3,5 bi-lhões para o financiamento do projeto que prevê a total revita-lização da zona portuária com obras de infraestrutura em Porto Maravilha. A região tem ocupa-ções por sem-tetos retratadas no documentário Atrás da Porta, de Vladimir Seixas e Chapolim, pro-duzido em 2009. O dinheiro foi acumulado por meio de títulos financiados pela Caixa Econômica Federal, que serão posteriormente

revendidos a investidores privados.“Queremos que o Rio passe por

uma transformação ainda maior do que a de Barcelona”, disse o pre-feito Eduardo Paes em entrevista ao Portal UOL. Porém, em entrevista ao mesmo portal, Ignasi Riera, po-lítico e representante do escritório catalão vencedor do projeto, alerta que o eixo de interesse do mercado imobiliário carioca pode ser des-locado. “Onde se construiu a vila olímpica de Barcelona, há 25 anos havia uma área degradada, com fá-bricas abandonadas e alta crimina-lidade”, fala Riera. “Hoje as pessoas saem no tapa para viver ali.”

Segundo o relatório da ONU, “uma vez submetidos a proces-sos de revitalização, as vizinhan-ças subdesenvolvidas atraem pessoas de mais alta renda, que começam a se mudar para estas áreas. O repentino interesse dos investidores imobiliários em áre-as que anteriormente se conside-rava de baixo valor aumenta os preços de compra e aluguel.” A consequência disso é a expulsão dos moradores locais para regi-ões mais periféricas, dificultando ainda mais o acesso à cidade.

Mesmo ainda faltando cerca de dois anos para o início da Copa do mundo e dos Jogos no Brasil, a épo-ca é especial para discussões sobre temas como mobilidade, moradia, acessibilidade e turismo esportivo. As oportunidades estão dadas.

Henri CHevaLier

O défcit habitacional do Brasil atinge 6 milhões de pessoas.

Moscou 1980 18 edifícios de 16 andares

Atenas 2004 3mil lares para 10mil pessoas

Londres 2020 2,8 mil unidades, 1,4 mil populares

Rio 2016 40 prédios, sem previsão de ocupação

Page 13: Contexto Noturno

13

13CONTEXTO Noturno/2011 Política

O assunto “futebol” é sempre pauta em mesas de bar, encontros de família, projetos de lei. Nelson Rodrigues já sugeria a paixão na-cional pelo esporte com sua obra “A pátria em chuteiras”, de 1994. Não há como negar que o fute-bol move os brasileiros e, dada a intensidade com a qual esse jogo está inserido na estrutura do país, é principalmente num ano como este, prestes a sediarmos uma Copa do Mundo, que deve-mos compreender como futebol e política convivem paralelamente.

Nessa dinâmica complexa, um jogo de futebol atende a múlti-plos propósitos. Um deles parte do povo - “a significação do fute-bol no imaginário brasileiro tem um status próprio, não é compa-rável a outras instituições”, afir-ma o professor de Ciência Política da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Jefferson Goulart. Ele está certo: a cada quatro anos, des-de 1930, a maioria dos brasileiros desacelera sua rotina para acom-panhar os jogos da seleção. Os escritórios se esvaziam, as ruas se tornam verdes e amarelas e o país prende a respiração dentro das casas e dos bares. Enquanto isso, alguns políticos usam o esporte para atender suas demandas e in-centivam a euforia popular, pois lhes interessa o sentimento exa-cerbado de nacionalismo – assim, o país aparenta sempre possuir uma perspectiva favorável.

Durante a disputa de 1970, por exemplo, o Brasil era comandado

paixão movimEntando urnasQuando a política e o futebol entam juntos no gramado

natHáLia botino

A “Democracia Corinthiana” entrou para história como mo-mento no qual o futebol deixou de ser ‘diversão’ e foi também po-lítica. Mas, do que depender de re-centes movimentos como o “Fora Ricardo Teixeira”, a Associação Nacional dos Torcedores e outras organizações sociais, que exigem o controle de gastos na realização da Copa do Mundo de 2014, o fu-tebol tem tudo para voltar “ a fazer dupla de ataque” com a política.

Para o jogador Sócrates, um dos líderes da “Democracia Corinthiana”, é falso o princí-pio de que o futebol é necessa-riamente uma forma de aliena-ção. Ele explica que é a forma como o futebol é apresentado, que determina se público terá ou não uma postura alienada.

“Na minha época usamos o fute-bol como uma ferramenta política. Tínhamos a oportunidade de al-cançar um número enorme de pes-soas. Não dá pra falar que o futebol aliena, tudo pode alienar, depende da forma é apresentado”, observa o ex-camisa 8 do Corinthians.

Quando a alegria vira cortina de fumaça

Durante o governo Médici, reconhecido como o período

FutEBol E política comBinamPara ex-jogador Sócrates, é preconceito dizer que futebol aliena

PauLo Monteiro

mais duro da ditadura, a alegria do tri-campeonato mundial foi usada como uma “cortina de fumaça” para a ausência de democracia e a opressão praticada nos porões militares. Inclusive tornou-se um folclore, entre militantes e esquerdistas, o discurso de que quem fosse contra a ditadura não iria torcer para a seleção na Copa.

De fato, a conquista da Copa tornou-se um símbolo de “sucesso” e “competência” dos governos militares. Com a posterior queda da ditadura, a manobra política de Médici entrou para história como uma adaptação da política do “pão e circo” praticados em Roma. Após isso, tornou-se quase imediata a associação do futebol com meio de alienação e desmobilização das massas.

Sócrates argumenta que é pré-conceito tratar o futebol como atividade de alienação das massas, mas que seria positivo que as pessoas relacionadas ao futebol tivessem uma maior preocupação com questões sociais e políticas.

Sobre este mesmo assunto, Rogério Ceni, goleiro do São Paulo, em uma entrevista para o programa Roda Viva, afirmou que a baixa atração que a política

pelo militar Emílio Médici e vivia um forte crescimento econômico, com o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Inserido neste contexto de “Milagre brasileiro” alcança-do pelo Governo Militar estava o futebol. A seleção foi ao México e, de lá, saiu vitoriosa. No mo-mento da partida final, contra a Itália, as atenções de todo país estavam voltadas para rádios e te-levisões que transmitiam imagens do Brasil levantando sua terceira taça. Mas o que levou os brasilei-ros à tamanha euforia?

Na década de setenta, a ce-lebração do título foi espe-cialmente estimulada pelo governo e, por isso, a taça foi vista como mais um exemplo

tem perante a população é que faz com que jogadores de futebol se transformem em ídolos e exemplos na sociedade. “Os atletas deveriam ter mais clareza do que representam. Mas o futebol não é culpado da descrença política, ele ganha importância na medida em que as pessoas não vêem os seus desejos sendo atendidos”.

Vocação ou oportunismo?

Desde a escolha do Brasil como sede da Copa de 2014, a relação entre futebol e política voltou a ser uma das principais pau-tas nacionais. A discussão vai desde a constatação de que a es-colha é um reconhecimento da vocação do país para o futebol, até a conclusão de que o even-to mais uma oportunidade para o mal uso do dinheiro público e outras formas de corrupção.

Carlos Batista, da Associação Nacional dos Torcedores (ANT), aponta que o principal problema é a forma como está sendo pensa-da a Copa. “A Copa, do jeito que está, é para a CBF, para a FIFA, para o governo, a copa não é para os brasileiros!”, lamenta Batista.

O cronista esportivo Juca Kfouri, em seu blog, constantemente de-

da força e do crescimento que o Brasil apresentava no período.

Hora de varrer a sujeira para baixo do tapete

“O clima da competição permi-te afastar do centro do debate as questões mais sérias e que repre-sentam as mazelas do nosso país”, garante o professor de direito e autor de um artigo sobre o tema, Cleber Angeluci. Dessa maneira, a alegria de uma vitória num jogo de Copa seria o suficiente para deixar a nação num estado de “torpor”, o que afastaria temporariamente os problemas existentes. Melhor para os políticos: se os ânimos es-tão exaltados, se futebol é muito

nuncia a respeito da influência de interesses particulares na rea-lização da Copa do Mundo. Para Kfouri, a imensa paixão dos bra-sileiros pelo futebol é usada como desculpa ou justificativa para que se justifique “excessos”.

“É preciso lembrar que, em artigo assinado na página 3 da Folha de S. Paulo, Teixeira ga-rantiu que esta seria a Copa da iniciativa privada. Mas um es-tudo do Tribunal de Contas da União já demonstrou que nada menos do que 98,5% do que se gastará para fazer a Copa será de dinheiro público”, anota Kfouri em uma crônica no seu blog.

A Associação Nacional dos Torcedores (ANT) surgiu como uma organização social que bus-ca representar o interesse da so-ciedade nas instâncias que pro-

A identificação dos brasileiros com o futebol pode ser analisada por outras perspectivas. No programa Café Cultural, José Wisnik, músico, professor de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro “Veneno Remédio: O Futebol e o Brasil” retoma essa discussão sobre as relações entre a Ditadura Militar e a Copa de 1970 e defende a superioridade do esporte. “O futebol é uma linguagem sem palavras que diz coisas que não são conscientes. Quando aqueles jogadores movem a bola em campo é a longa história do povo brasileiro que está desembocado ali, revertendo a seu passado de injustiça e criando algo simbólico. Em 1970, portanto, quem estava em campo não era a ditadura”, analisa Wisnik.

Como defende o filósofo Michel Maffesolli em suas obras, o futebol representa uma nova forma de identificação do povo, que não é imposta. Em campo, somos todos iguais, não são necessários grandes investimentos, não há diferença social ou racial que possa impedir que uma partida aconteça. “Talvez por este motivo, torcer pelo Brasil seja muito mais significativo para a maioria da população do que votar nas eleições. É uma forma de agrupamento, uma escolha de cada um”, explica Adriana Amorim, atriz e dona do blog Futebol de Artista.

movem e divulgam o futebol. A ANT ganhou visibilidade a ser uma das principais realizadoras de protestos nas ruas e em redes sociais contra os gastos excessi-vos nas obras da Copa e ao pedir que Ricardo Teixeira, que é pre-sidente da CBF há 20 anos, saía do comando da entidade.

“O futebol surgiu como algo das elites, mas com o passar do tempo se tornou algo genui-namente popular. O que estão fazendo, por meio da Copa, é tentar elitizar o esporte.”, avalia Batista da ANT. Ele ainda afirma que o esporte é um dos princi-pais meios de manifestação po-pular do povo brasileiro, não é “alienação” e, em determinados momentos, pode ser “uma ex-pressão da luta de classe”, como foi na Democracia Corinthiana.

em Campo,somos toDos iguais

País Ano Contexto

1934 e 1938

Supostamente, na Copa de 1934 (Itália), o ditador Benito Mussolini teria in-terferido até na escolha dos árbitros das partidas da seleção italiana. Na semi-final, os jogadores italianos entraram em campo com uniformes pretos, cla-ra referência às milícias de Mussolini. Mais tarde, o ditador ainda exploraria o fato de a Itália ter vencido duas copas seguidas - 1934 e 1938(França).

1954

Na Copa da Suíça, a seleção húngara era a favorita, mas perdeu para a Alema-nha na final. Três anos depois, vários jogadores húngaros aproveitaram uma viagem à Áustria para “desertar” e jamais voltar à Hungria. Eles fugiam das consequências da Guerra Fria em seu país. Entre eles, um dos maiores nomes da história do futebol, Ferenc Puskas.

1990

“A conquista da Copa de 1990 pelos alemães teve um sabor especial, motiva-do pela queda do Muro de Berlim meses antes e da sonhada reunificação da Alemanha. Isso mostra que a política também pode interferir no futebol. Eu acredito que a motivação, a força extra que levou a seleção alemã conquistar seu terceiro título esteja relacionada às mudanças políticas que aconteciam no país, mas também está diretamente ligada ao sonho de liberdade de cada um dos jogadores, pré-dispostos a vencer fora dos muros”, garante a jornalista Elisabeth Ribeiro.

mais excitante e transparente, fica fácil varrer para debaixo do tapete as sujeiras até que ninguém mais se lembre o que foi ou não dito.

Entretanto, se entendermos o futebol como uma criação do povo, uma entidade capaz de su-perar diferenças raciais, financei-ras e ideológicas, talvez seja injus-to reduzir o esporte a puro objeto de manipulação do governo. “A relação entre futebol e política não é mecânica, pois aquele mo-mento de vibração é um momen-to de alegria sincera e profunda da população, quase uma religião. O futebol representa uma imersão na verdade do país”, opina Alfredo Manevy, ex-secretário-executivo do Ministério da Cultura.

assoCiação naCionaL dos torCedores

Para a ANT, futebol pode ser “expressão de luta de classe”

Page 14: Contexto Noturno

CONTEXTO Noturno/201114

14

Esporte

A corrida para a preparação da Copa do Mundo está a todo vapor. Um dos setores que rece-berão grandes investimentos é o de segurança pública: são R$ 717 milhões, segundo o site ofi-cial da Copa. Com os recursos, a expectativa de autoridades políticas e da comunidade es-portiva internacional é fortale-cer as forças estaduais de segu-rança, Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros e garantir aos 3,7 milhões de turistas esperados, segundo projeções do Ministério dos Esportes, a segurança dentro e fora dos estádios.

Um dos desafios do governo na área de segurança será o de “controlar” e expandir as zonas

govErno invEstE 717 mi Em sEgurança para a copa dE 2014Governo tem pela frente um desafio: controlar e expandir as Unidades de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro

aLiCe wakai

ocupadas pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP’s) do Rio de Janeiro, como o Complexo do Alemão, que foi palco de um tiroteio entre traficantes e milita-res no dia 6 de setembro de 2011.

O que são as UPP’s?

As UPP’s são sedes fixas da polícia dentro da comunida-de que através de estratégias tanto técnicas quanto políti-cas visam garantir a segurança das pessoas e a manutenção da paz. Em entrevista à BBC, Roberto Sá, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Secretaria de Segurança do Rio, explica

que o Batalhão de Operações Policiais Especiais, (B.O.P.E.), retira o domínio dos trafican-tes ou grupos armados e após ter o território “conquistado”, treina novos policiais.

As áreas de ocupação das UPP’s são escolhidas de acordo com os índices de violência, f luxo de pes-soas, pouca presença do Estado e existência de drogas e armas.

Apesar do episódio recente no Complexo do Alemão, um levantamento divulgado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) no dia 6 de setembro revela que, nas áreas onde há UPPs im-plantadas, os índices de violên-cia caíram. Segundo o Instituto, os registros de roubos no Santa

Marta diminuíram 39,5% no pri-meiro ano após a ocupação, em comparação com o ano anterior. Já na Cidade de Deus, o núme-ro de roubos teve uma redução de 68,6%, e o número de homicí-dios caiu de 34, no ano anterior à UPP, para seis, no primeiro ano após sua implantação.

Enquanto em dezembro de 2008 (data da implantação das primeiras UPP’s), a capital cario-ca registrava 195 ocorrências de homicídio doloso, 167 de tenta-tiva de homicídio, 2.580 registros de lesão corporal dolosa. Em ju-nho de 2011, foram registrados 103 homicídios dolosos, 102 ten-tativas de homicídio e 2.532 ocor-rências de lesão corporal dolosa.

Governo pretendeexpandir as UPP’s

Em relação às UPP’s, o Secretário Estadual de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou via twitter que o cro-nograma do projeto prevê mais Unidades em Niterói, Baixada Fluminense e nas Comunidades da Rocinha e do Vidigal na Zona Sul da cidade. “Nosso planeja-mento prevê 40 UPP’s”, declarou.

Porém, as UPP’s dividem opi-niões. Alguns críticos do mo-delo afirmam que a ocupação das favelas pelo policiamento

pressiona o deslocamento dos traficantes para outros locais. Além disso, questiona-se se as UPP’s seriam capazes de ocu-par as cerca de mil favelas exis-tentes no Rio e Grande Rio, ou se a ausência dos narcotrafi-cantes nessas áreas faria com que milícias se organizassem.

Jailson de Souza e Silva, co-ordenador do Observatório de Favelas com sede na Maré, pon-dera. Para ele é necessário que haja alguns ajustes no sistema. O afastamento de 37 policiais dos morros da Coroa, do Fallet e do Fogueiro em Santa Teresa, conseqüência de denúncias de um suposto mensalão do trá-fico demonstram certa fragi-lidade das UPP’s. “Ainda é um programa de segurança públi-ca e não um programa do es-tado de intervenção integrada nas comunidades”, diz Jailson.

Não basta assegurar a ins-talação das Unidades policiais nas favelas, mas é preciso que exista também um conjunto de infraestrutura como ouvi-doria judiciária, juizados espe-ciais e espaços de conciliação de conflitos, sobretudo um plano de política social que in-corpore ações econômicas e ambientais. Não basta inserir o policial nas favelas, é preciso inserir o Estado como um todo.

195167

102

2580 2532

210 222175

238

103

Dez/2008

Jul/2011

lesão

CoRpoRal Dolosa

apReensão

De DRogasaRmas

apReenDiDas

tentatiVa

De homiCíDio

homiCíDio Doloso

ação Das upp’s na Capital Fluminense:

Comparação entre os dados da ação das UPP’s nas favelas aponta queda no número de crimes.

“O Barça é mais do que um clu-be” disse Narcís de Carreras, pre-sidente da equipe em 1968. Para os que seguem com a opinião pré-fabricada de que o futebol é o “ópio do povo”, o Futbol Club Barcelona mostra, por sua his-tória, que é de fato mais do que isto. Fundado em 1899, o primei-ro “escudo” do time era o mesmo da cidade que o acolhia, o que

manifesta a vontade do Barça de se identificar com a mesma.

No livro A Dança dos Deuses, o historiador paulista Hilário Franco Junior afirma que, para um catalão, assistir a uma partida no Camp Nou é praticar uma ação política. O “Campo Novo”, casa do time da Catalunha, veio para fazer frente ao Santiago Bernabéu, sede do arquirrival Real Madrid.

Franco Junior ressalta que uma peculiaridade vem dos nomes dos campos, o do Madrid é uma ho-menagem ao antigo centroavante do time que se tornou diretor em 1931 e presidente mais tarde. O nome do estádio catalão parece simplista, mas remete ao coletivo. Sem juízo de valor, o Real Madrid seria um time em si, enquanto o F.C. Barcelona seria da Catalunha.

Futebol e a história espanhola

A Espanha é dividida em Comunidades Autônomas do-tadas de autarquia legislativa e competências executivas. A di-tadura do General Franco ten-tou extirpar as culturas e lín-guas dessas regiões espanholas, com o intuito de uma Espanha unificada. No período pós-fran-quista, percebeu-se que essa po-lítica não havia surtido efeito e, assim, restaurou-se a democra-cia em um período que ficou conhecido como “Transição Espanhola” (1975-1978).

A Espanha passou a ser uma monarquia parlamentarista, na qual o chefe de Estado, o rei Juan Carlos da Espanha, pode dissolver as chamadas Cortes Gerais – poder legis-lativo formado por repre-sentantes do povo e dividido

em duas câmaras: Senado e Congresso dos Deputados.

A divisão política e administra-tiva é composta por dezessete co-munidades autônomas, a que se somam Ceuta e Melilla, que são cidades autônomas. Dentre as comunidades estão a Catalunha, com capital em Barcelona, e Comunidade de Madrid, com a também capital espanhola, Madrid, cada uma com seus próprios órgãos de governo e instituições representativas.

Apesar dessa tentativa de uni-ficação, o espírito separatista continuou. O “país basco” tem a frente mais violenta a Euskadi Ta Askatasuna (ETA), que pro-move atentados terroristas com o intuito de conseguir indepen-dência. O burrinho, símbolo da Catalunha, em oposição ao touro, símbolo da Espanha, pa-rece inocente perante as mor-tes causadas pelos bascos, mas é uma das representações de como os catalães não se identi- ficam com o restante do país.

Com nomes famosos como o do sociólogo Manuel Castells, do arquiteto Gaudí e do escritor Enrique Vila-Matas, a Catalunha se fortalece perante o mundo. Vila-Matas, inclusive, entusiasta do F. C. Barcelona escreveu um texto antes mesmo da vitória de seu time na Champions League

de 2011. “Más Allá Del Record”, saiu em 12 de fevereiro do mes-mo ano no El País exaltando a equipe montada pelo técnico Josep Guardiola com as palavras de Cruyff, outro ídolo da azul--grená, “apenas duas equipes, o Madrid de Di Stéfano e o Ajax dos anos 70, haviam sido ca-pazes até agora de reinventar o futebol como está fazendo Guardiola”. Vila-Matas comple-menta dizendo que o Barça faz um futebol total em sua versão mais moderna e alucinante.

O argentino Lionel Messi é quem está com a bola toda dessa vez e, apesar de sua nacionalidade, está no Barcelona desde os 12 anos de idade, o que reforça a estratégia de “bases fortes” que o time se propõe. Seguindo a filosofia de formar seu elenco com jogadores da base, o Barça grita ao mundo que é praticamente auto-suficiente no futebol, mostrando ao rival Real Madrid a força da Catalunha. Essa sustentabilidade catalã tanto nas artes e na produção de grandes pensadores quanto no futebol faz do clássico Real Madrid versus Barcelona quase que uma guerra fria, em que o time de Iniesta, Xavi, Puyol e, claro, Messi vem ganhando a corrida até, quiçá, a lua.

duElo dE galáticosBarça e Real levam disputa política para o gramado

karen oLiveira

divuLgação barCeLona f.C.

Lionel Messi e o Futebol total do F.C. .Barçelona em ação

Page 15: Contexto Noturno

15

15CONTEXTO Noturno/2011 Esporte

Nos últimos anos, princi-palmente nas Olímpiadas de Pequim em 2008, a natação foi o esporte que mais quebrou re-cordes. O americano Michael Phelps diminuiu seu próprio tempo nos 200 metros Medley que era de 1m57s14 e atingiu a marca de 1m54s80. Sobre a se-quência de recordes nas pisci-nas, há de se destacar o uso de um novo equipamento que pode ter feito a diferença. Trata-se de um maiô que confere ao nada-dor flutuabilidade, diminui o atrito com a água bem como a resistência existente nela e permite que se nade mais rápido.

A FINA (Federação Internacional de Natação) apro-vou o uso de maiôs inteiros em 2000 nas provas classificató-rias para as Olimpíadas, depois eles foram usados nos Jogos Olímpicos em 2000 e 2004. O ápice da tecnologia veio em 2008 com o modelo LZR Racer fabri-cado pela Speedo. Ele é produ-zido com tecnologia da NASA, além de suas costuras serem sol-dadas com ultrassom o que re-duz em cerca de 6% a resistência.

Em 2010, a FINA decidiu que não será mais permitida a utili-zação desse tipo de equipamento que possa aumentar a velocidade, flutuação ou resistência durante uma competição. O professor

a tEcnologia quE quEBrou rEcordEsO que nadadores e técnicos pensam sobre a polêmica dos maios de alta tecnologia

ariani barbaLHo

de natação da Unesp de Bauru, Milton Vieira Jr., diz ser favorável a essa decisão, por ser um equipa-mento caro e que nem todos os competidores podem comprar. “Na iniciação que você deveria va-lorizar os três conceitos da nata-ção de melhor flutuação, melhor respiração e melhor propulsão, você coloca uma maiô desses na ‘mulecada’ e eles já iriam flutuar. Poderia mexer até na iniciação do esporte”, afirma Milton.

Maiô da discórdia

Alguns nadadores também acreditam que o maiô causa desigualdade entre os competidores. A recordista e campeã mundial Fabíola Molina, conta que a forma como era aprovada a utilização dos trajes acontecia de forma errada. “Eles esperavam a véspera da competição para aprovar um traje e daí os nadadores não tinham acesso para comprar esse traje”. Ela afirma, ainda, que “houve muito interesse de algumas marcas que dominavam o mercado e não tinham esse equipamento, e por isso fizeram um lobby para que os trajes fossem banidos”.

Além de ser caro e gerar toda essa polêmica, o maiô ainda é mal visto pelos nadadores por

uma questão prática: como ele é muito apertado para não ficar nenhuma dobra, é desconfortá-vel na hora de vestir. O nadador Douglas Gonçalves, que com-pete por Bauru e foi bronze no campeonato paulista, já usou o modelo LZR Racer e disse que demorou 45 minutos para colocá-lo. “Você utiliza todos os métodos desde ‘sacolinhas’ plásticas até talco para que ele deslize com mais facilidade na hora de vestir”. A campeã Fabíola usou os modelos Arena X-Glde, Blueseventy e o Jaked e afirma que sentiu uma facilidade maior na flutuação e acrescenta que, pela compressão e por ser mais apertado, fazia com que os mús-culos não se cansassem tanto. Fabíola explica a técnica para vestir o maiô: por ser tão aper-tado, tem que subir primeiro a parte da perna, depois quadril e depois o tronco. “Você tinha que puxar aos poucos, isso machuca-va os dedos e doía bastante o bra-ço, já que você ficava colocando o maiô de 30 a 40 minutos”.

O ex-nadador Guilherme Sordi, campeão brasileiro dos 100 metros costas em 1999, conta que não pegou essa fase dos maiôs e que naquela época usavam a bermuda o que já ajudava a tirar o atrito com a água. Ele acredita que essa nova

tecnologia pode fazer um atleta campeão: “depois que proibiu o maiô você teve poucas quebras de recorde e nas principais provas de curta distância eles não serão quebrados tão facilmente”.

Deve-se pensar se essa proibição afetará no uso da tecnologia em outros esportes. O professor Milton acredita que não, pois “na natação você tem um fator que vai mexer significativamente, porque estamos falando de empuxo da água com gravidade. É diferente, por exemplo, do atletismo, que você tem esse tipo de roupa, mas o ar em relação a água é diferente”, completa. O professor fala do uso de outras tecnologias dentro

da própria natação que são favoráveis. “Antigamente se fazia no tempo manual, hoje se tem a placa de saída, tem o tapetinho em cima do bloco de saída, essas são tecnologias que ajudam”.

Ainda existe muita polêmi-ca na linha entre a tecnologia e o esporte. O que se discute no meio é que a tecnologia deve auxiliar para criar melhores condições de treinamento, e até mesmo na fiscalização em competições. “A tecnologia não pode ser fator decisivo na cons-trução de um atleta, não deve torná-lo dependente de atribu-tos que não sejam seu físico, seu treinamento, e sua dedicação”, destaca o professor Milton.

Ser um lutador de Mixed Martial Arts (MMA), ou Artes Marciais Mistas, em português, não é tarefa fácil. As artes marciais mistas, que incluem elementos de boxe, jiu-jitsu, luta greco-romana, Muay Thai, kickboxing, karatê, entre outros estilos, ganham fãs em todo o mundo. A luta, disputada no octógono, o ringue do MMA, tem no UFC (Ultimate Fighting Championship), maior campeonato da categoria, a elite de seu esporte. No

o trEino pEsado dE um lutador dE mmaA rotina de treinos é intensa e exige dedicação e força dos atletas

Mariana beLtraMine

Brasil, grandes nomes vêm se destacando no MMA, como o campeão Anderson Silva, os ex-campeões Vitor Belfort e Maurício Rua, e o veterano Rodrigo Nogueira, o Minotauro, recém recuperado de lesão.

Lesão, aliás, é problema recorrente na modalidade. Por isso, o preparo físico envolve treinamento intenso, de pré e pós luta. Segundo Claudio Pavanelli, preparador físico do lutador Minotauro e fisiologista do Clube de Regatas do

Flamengo, lutar MMA requer força, condicionamento físico e cardiovascular. “As etapas do preparo incluem preparação física geral, específica e competitiva, sempre com características individuais de cada atleta, respeitando idade, nível de competição e necessidades específicas”, diz.

O preparador resume o preparo em adequação da carga, intensidade e volume do treinamento a uma alimentação adequada com um repouso de qualidade e recuperação entre as sessões de treinamento. Pavanelli conta que, na hora da competição, há um médico responsável pelo evento que toma as medidas de segurança para preservação dos atletas. “Nas lutas, o que mais acontece são lesões traumáticas e escoriações no rosto e fraturas na mão, punho e ossos da face”, afirma.

Fisioterapia neles

A preparação fisioterápica também é item de extrema necessidade para os lutadores de MMA. O fisioterapeuta esportista e coordenador de fisioterapia em MMA, Adriano Tiezerini, conta que a preparação fisioterápica dos lutadores é tanto preventiva

quanto curativa. “As sessões são específicas. Em fase de treinamento, há um trabalho rigoroso de propriocepção para prevenção de futuras lesões”, explica. A propriocepção pode ser entendida, de maneira resumida, como a percepção de postura, movimento e equilíbrio do próprio corpo.

Atualmente, Tiezerini realiza trabalhos fisioterápicos com os brasileiros Maurício Rua, o Shogun, e Wanderlei Silva, mas já prestou atendimentos aos 15 melhores atletas do mundo nesse esporte. Geralmente, as lesões que afastam os lutadores acontecem nos treinos. “As principais lesões são as de ligamento de joelho e ombros, que podem levar o atleta a se submeter a treinamentos rigorosos que gerem lesões mais sérias”, diz.

Punhos, costelas, joelhos e tornozelos são as partes do corpo mais frequentemente castigadas pelas técnicas de luta. Durante o combate, lesões graves nesses membros e nos olhos não permitem das continuidade à luta. De resto, o atleta aguenta permanecer no octógono e só vai sentir quando o corpo esfriar. “Já vi muito atleta terminar a luta com costelas fraturadas e joelhos com articulações rompidas”, conta.

divuLgação sPeedo

A tecnologia esportiva foi decisiva para a quebra de recordes

Como FunCiona o lzR RaCeR

Dietas RaDiCais

Sem costuras : menor resistênciaà água;

Painéis de Poliuretano :reduz oscilação musculare vibração da pele;

impermeável;secagem rápida;

mínima exposição à água:Atleta coberto até o tornozelo.

O treinamento físico e fisioterápi-co, porém, não são os únicos do-nos das atenções. A alimentação é controlada, uma vez que peso é critério de definição de categoria. No UFC, a definição da categoria varia entre o peso galo e o peso pesado. O lutador profissional Fernando Kioshi é tetracampeão de MMA no campeonato brasileiro Predador FC. Ele compete na cate-goria peso leve e diz que as dietas radicais são comuns na categoria. “Geralmente, começamos um mês antes. Perdi 14 kg antes da última competição, sendo que, destes, oito só na semana que antecede a luta. Segundo Jaspion, como é conhecido no mundo da luta, a dieta respeita um corte total de alimentos ricos em carboidra-tos e sódio, além de um proces-so de desidratação. “Depois da data da pesagem, posso comer de tudo, e sempre acabamos lutando com alguns quilos a mais”, diz.O preparador físico Pavanelli diz que o procedimento de perda de peso antes das lutas depende da catego-ria e das características de cada atle-ta. Para ele, a prática não é a mais adequada, devido aos riscos causa-dos pela perda acentuada de peso corporal pouco antes das lutas. “Este método ‘suicida’ é a combina-ção de jejum prolongado com desi-dratação promovida pela atividade física, sauna e outros”, conta.

assoCiação naCionaL dos torCedores

Andersons Silva: preparamento físico intenso pré e pós luta

Page 16: Contexto Noturno

CONTEXTO Noturno/201116

16

Tecnologia

Acordar, ir para o trabalho, chegar em casa, jantar, colocar roupa de ginástica, tênis, gar-rafa de água na mão e... ir para a sala malhar. Essa é a rotina de Rafael Almeida, de 25 anos, e de Tatiane Silva Santos, 24. Sim, a academia deles está na própria casa, mas sem os tradicionais equipamentos de ginástica. Eles se exercitam com um videogame.

Rafael e Tatiana têm em casa um Kinect, aparelho da Microsoft que só funciona com o videogame Xbox 360. O dispositivo é utili-zado como um sensor que capta os movimentos das pessoas em sua frente, as quais dão coman-dos para os jogos sem segurar em nada, sem controle nenhum. O Kinect deu início a uma era de jogos mais próximos do real. Sem joysticks, é preciso apenas do corpo e da coordenação mo-tora. Essa invenção é a primeira que consegue captar os movi-mentos do corpo inteiro e ainda reconhecer a voz. Basta o balançar da mão ou um comando de voz para que uma opção na tela da TV seja selecionada. Com a ino-vação, o videogame deixa de ser associado ao sedentarismo. Jogar com o Kinect requer condiciona-mento e disposição física, pois é preciso estar em pé em frente à TV para que o aparelho faça uma espécie de esqueleto virtual, ma-

simplEs como dar um playJogar voley sem bola é uma das possibilidades do Kinect

Marina Mazzini

peando o corpo do jogador para captar os movimentos dos jogos.

Por causa dessa disposição físi-ca, o aparelho da Microsoft tem também contra-indicações. Quem tem restrições para a prática de exercícios físicos, como as pessoas que tem lesões musculares prévias ou doenças articulares, devem pe-dir orientação sobre o uso do vi-deogame, explica a fisioterapeuta Mayara Abdalla. A fisioterapeuta vê benefícios com essa nova ge-ração de games: eles podem, por exemplo, contribuir para reduzir a obesidade infantil, preocupa-ção dos médicos do mundo in-teiro. Mas o jogo também pode ser útil para os adultos criarem o hábito de “jogar atividades fí-sicas”. A prática aumenta a quei-ma calórica e o condicionamento físico, acrescenta Mayara.

Com o objetivo de fazer exercí-cio físico dentro de casa, o casal Tatiane e Rafael criaram o blog chamado “Magros com Kinect”. Lá, eles mostram como conciliar o regime, o exercício físico e a diver-são, oferecem dicas de jogos, hábi-tos de vida saudáveis e outros be-nefícios de se exercitar em casa: eles nem precisam procurar vaga para estacionar o carro na academia, brinca Tatiane. O blog mostrou o resultado, Tatiane emagreceu dois quilos em sete semanas e Rafael, 1,2 quilos no mesmo período.

E está só começando...

Além do aspecto fitness e da diversão, o Kinect está promovendo evoluções em diversas áreas. Segundo Guilherme Bertolini, estudante de Ciências da Computação, “o Kinect é uma tecnologia muito nova e ainda não atingiu o máximo do seu potencial. Desenvolvedores do mundo inteiro estão explorando novas formas de utilizá-lo, seja através de entretenimento, reabilitação de pacientes, robôs, segurança, enfim, há uma infinidade de áreas em que ele poderá ser bem aplicado”. Guilherme está fazendo um projeto para adaptar o jogo Tetris ao Kinect, com a intenção de utilizá-lo no tratamento de pacientes de clínicas neurológicas, que possuem o Mal de Alzheimer. “O objetivo do trabalho é proporcionar uma nova experiência para os pacientes, oferecendo diversão, exercícios de lógica e coordenação motora, simultaneamente”.

Seja por causa do exercício, da diversão, da evolução digital ou da curiosidade, o Kinect é sucesso de vendas desde seu lançamento, a Microsoft anunciou a venda de 10 milhões

de unidades em quatro meses depois da chegada do produto ao mercado, é o eletrônico de mais rápida venda, ganha até do iPad, da Apple, segundo dados do site da Info. Danilo Andrade de Moura, empresário do ramo, afirma que o sucesso é devido, principalmente, ao lançamento de jogos interativos e que podem ser jogados em grupos, como o Kinect Sports, que é o mais vendido e que amplia o público consumidor. Afinal, o videogame deixou de ser assunto de crianças e ganhou o interesse da família.

Pode ser para emagrecer como os “Magros com Kinect”, para praticar esportes, jogar

Quando se chega ao labora-tório de mecânica da Faculdade de Engenharia (FEB) da Unesp de Bauru, a primeira impres-são que se tem é a de que tudo parece ser muito bagunçado: um barracão com um monte de ferramentas espalhadas, ma-teriais jogados e muito pó. Na porta de trás, o galpão escuro aparentemente esconde uma montanha de plásticos, ferros e papéis. Será que é possível pro-duzir no meio de tudo isso? Basta olhar para o teto para ter a resposta. O resultado da ba-gunça organizada está ali, pen- durado no alto, pronto pra voar.

Os capitães das três equipes do Aerodesign pegam o avião amarelo com o logo da UNESP, que foi usado na competição do ano passado e posam para a foto. O “aeromodelo” é tão grande que uma pessoa só não consegue tirá-lo do chão. É um projeto bem-feito: são 4,4 metros de envergadura por 2,7 metos de comprimento, que saem do chão acionados por um controle, atingindo uma velocidade de até 73 km/h. Os líderes da equipe FEB Micro, Fernando Lobo, FEB Open, Marco Tosati e FEB Regular, Guilherme Correia exibem orgulhosos o “aviãozinho” que rendeu o 3º lugar na competição nacional.

compEtição dE aErodEsign rEúnE 1400 EstudantEsAlunos da Unesp comprovam: aeromodelo é opção para quem adora estar nas alturas sem tirar os pés do chão

LetíCia greCo

O Aerodesign

O projeto SAE Brasil Aerodesign é uma competição entre alunos de engenharias, que desenvolvem um projeto aeronáutico, desde a fabricação até o desafio entre equipes. A competição teve iní-cio nos Estados Unidos em 1986 e chegou ao Brasil em 1999. Dois anos depois (2001), o Aerodesign entrou para a Faculdade de Engenharia (FEB) como proje-to de extensão. De lá para cá, o projeto ganhou visibilidade e, além da equipe Regular, foram incorporadas também as equipes Open, em 2008 e Micro, em 2009.

Segundo Fernando Lobo, cada modalidade do Aero tem um tipo de regra para construir os aviões, mas a ideia geral da competição é a mesma. “Basicamente, vence a competição a aeronave que con-seguir carregar mais peso. A pista também tem um limite máximo e o avião precisa decolar com a má-xima carga que conseguir. A exce-ção é a classe Micro, que ganha pontos pela razão de carga paga, que é a razão entre o peso total da aeronave e o peso vazio”, explica.

Apesar de o projeto envolver bastante cálculo e aplicar os con-ceitos de física, alunos de Design também podem participar, pro-jetando o avião. Para Marco Tosati, a ideia de envolver alunos

de outros cursos (estudantes de Matemática e Física também po-dem participar) contribui bastan-te com o Aero. “Já tivemos alunos de Desenho Industrial no projeto. Por eles dominarem bastante os programas de desenho, fica bem mais fácil para um outro aluno de engenharia desenvolver um novo projeto e ajudar a equipe”.

Aerodesign eAeromodelismo

Segundo Tosati, o Aerodesign não visa à diversão e tampouco tem relação com o aeromode-lismo, embora ambos estejam envolvidos em competições. “O intuito do Aerodesign é incenti-var os alunos a estudar as teorias

aeronáuticas, aprender novas tecnologias e trabalhar como se estivessem dentro da indústria aeronáutica, mas, assim como o aeromodelismo, nós também participamos de competição”.

No entanto, o aeromodelismo também é dividido por modali-dades. A grande diferença é que os praticantes do aeromodelis-mo o fazem mais por hobby do que para competir. Ainda assim, quem entra para o Aerodesign, geralmente já passou pelo ae-romodelismo, como é o caso de Fernando Lobo. “Sempre gostei da área e sempre tive vontade de trabalhar com aeronáutica. Sou aeromodelista também e minha vontade é entrar em uma empre-sa do ramo quando me formar”

A competição

A tarefa de planejar, desenhar, calcular, construir e voar não é fácil, principalmente quando os estudantes de engenharia aero-náutica entram na competição. Mesmo assim, os capitães acham que a Unesp consegue dar a base necessária para garantir um bom resultado. “Com as teorias que te-mos de engenharia, conseguimos fazer um avião tão bom quanto os de estudantes de engenharia aero-náutica”, explicou Fernando Lobo.

A competição desse ano acon-tecerá em São José dos Campos, em outubro. No ano passado, 1400 pessoas, distribuídas em 95 equipes, participaram. Desde 2001, a equipe Regular ficou en-tre os 10 primeiros classificados, o que é considerado “bom” pela equipe. Em 2009, a FEB Open ficou em 2º lugar e no ano pas-sado, em 3º. A Micro ficou em 4º e 6º lugar. A expectativa para esse ano é positiva. Sorte para eles. Que com os pés no chão, consigam alçar vôos mais altos.

Para saber mais:site:

http://aerounespbauru.com/ site/ e-mails:

[email protected]; [email protected] ou [email protected].

LetíCia greCo

Alunos de FEB desenvolvem aviões da SAE Brasil Aerodesign.

boliche, dançar, pular, dirigir, ter poderes de Star Wars e até mesmo lutar com o UFC Personal Trainer, o Kinect está mostrando um novo campo de percepção sobre os videogames.

O potencial da plataforma é evidente, mas ainda é nova para saber se isso vai determinar o futuro dos videogames ou se será apenas uma nova vertente, quem sempre jogou futebol, matou zumbis, dirigiu carros e deu golpes no adversário com o trocar de dedos entre os botões, pode não querer simplesmente exercitar o corpo, mas sim se lembrar dos comandos que dão fatalities nos inimigos.

LetíCia greCo

Adolescente se diverte com o novo videogame da microsoft