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..(.continuação parte 1) Estudos relacionados à medida da espessura de dobras cutâneas Tendo em vista a grande especificidade que as equações para predição de gordura corporal guardam com relação às populações utilizadas para sua elaboração, parece mais interessante evitar a margem de erro a que esta especificidade está associada quando utilizamos tais equações em populações diferentes. Nesse sentido a obtenção de valores normativos para espessura de dobras cutâneas e somatórias de dobras a partir de estudos populacionais pode oferecer uma alternativa viável para o estudo da composição corporal. A utilização dos valores individuais de dobras cutâneas tem sido preconizada, também, para verificar a distribuição da gordura corporal e sua relação com problemas para a saúde. Segundo BOUCHARD (1988), além da quantidade de tecido adiposo, um importante desenvolvimento na área da composição corporal é o estudo da distribuição da gordura pelo corpo. FOX (1979) propôs valores para avaliar homens e mulheres, classificando em magros, aceitáveis ou obesos, a partir de valores obtidos pela soma das dobras abdominal, tríceps e subescapular; e MATHEWS (1980), apresentou , além dos valores de somatória destas dobras, os valores individuais para a classificação dos indivíduos, da mesma forma. A soma das dobras cutâneas triciptal e subescapular foi considerada de alta correlação com a gordura corporal total em um estudo realizado com 12.560.000 escolares e adolescentes norte-americanos, pelo NCYFS (National Children and Youth Fitness Study), (BLAIR, FALLS & PAIE, 1983). CARTER & YUHASZ (1984), apresentaram valores médios para dobras cutâneas do tríceps, subescapular, supraespinal e panturrilha medial, e para soma destas quatro dobras em atletas do sexo feminino (n = 308) participantes dos jogos olímpicos da Cidade do México (1968), de Munique (1972) e Montreal (1976); e atletas do sexo masculino (n = 1690) incluindo também os jogos olímpicos de Roma (1960). Adicionalmente, os autores apresentam grupos de referência medidos com a mesma técnica, com a proposta de comparação. Estes grupos consistiam de 340 mexicanos de zona

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..(.continuação parte 1)

Estudos relacionados à medida da espessura de dobras cutâneas

Tendo em vista a grande especificidade que as equações para predição de

gordura corporal guardam com relação às populações utilizadas para sua elaboração, parece

mais interessante evitar a margem de erro a que esta especificidade está associada quando

utilizamos tais equações em populações diferentes. Nesse sentido a obtenção de valores

normativos para espessura de dobras cutâneas e somatórias de dobras a partir de estudos

populacionais pode oferecer uma alternativa viável para o estudo da composição corporal.

A utilização dos valores individuais de dobras cutâneas tem sido

preconizada, também, para verificar a distribuição da gordura corporal e sua relação com

problemas para a saúde. Segundo BOUCHARD (1988), além da quantidade de tecido

adiposo, um importante desenvolvimento na área da composição corporal é o estudo da

distribuição da gordura pelo corpo.

FOX (1979) propôs valores para avaliar homens e mulheres, classificando

em magros, aceitáveis ou obesos, a partir de valores obtidos pela soma das dobras

abdominal, tríceps e subescapular; e MATHEWS (1980), apresentou , além dos valores de

somatória destas dobras, os valores individuais para a classificação dos indivíduos, da

mesma forma.

A soma das dobras cutâneas triciptal e subescapular foi considerada de alta

correlação com a gordura corporal total em um estudo realizado com 12.560.000 escolares

e adolescentes norte-americanos, pelo NCYFS (National Children and Youth Fitness

Study), (BLAIR, FALLS & PAIE, 1983).

CARTER & YUHASZ (1984), apresentaram valores médios para dobras

cutâneas do tríceps, subescapular, supraespinal e panturrilha medial, e para soma destas

quatro dobras em atletas do sexo feminino (n = 308) participantes dos jogos olímpicos da

Cidade do México (1968), de Munique (1972) e Montreal (1976); e atletas do sexo

masculino (n = 1690) incluindo também os jogos olímpicos de Roma (1960).

Adicionalmente, os autores apresentam grupos de referência medidos com a mesma

técnica, com a proposta de comparação. Estes grupos consistiam de 340 mexicanos de zona

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urbana, 258 homens e 82 mulheres; e 247 estudantes universitários canadenses, sendo 153

homens e 94 mulheres.

A exemplo destes estudos, a maioria dos autores preocupa-se em propor

valores referenciais para crianças e adolescentes, ou atletas de diferentes modalidades

esportivas, porém são escassos estudos nesse sentido para adultos não atletas.

Com o objetivo de comparar os resultados de porcentagem de gordura

obtidos por metodologias diferentes, HEYTERS (1986) submeteu 53 estudantes esportistas,

de 18 a 26 anos de idade, a avaliação da composição corporal por intermédio da pesagem

hidrostática e, também, da utilização de 20 equações preditivas de gordura corporal por

meio de medidas de espessura de dobras cutâneas. Neste estudo o autor constatou que

apenas três das 20 equações utilizadas produziram resultados estatisticamente comparáveis

aos obtidos pela técnica densimétrica, e concluiu que é preferível a utilização de somatória

de dobras cutâneas comparada a valores de referência para verificar o nível de adiposidade

dos indivíduos, do que as equações preditivas.

LARSSON, SVÄRSUDD & WELIN (1987) indicaram maior associação

entre a gordura corporal localizada na região central do corpo e elevado risco de morbidade

e mortalidade cardiovascular. Para estes pesquisadores a soma das espessuras das dobras

cutâneas subescapular e suprailíaca está mais relacionada aos níveis de pressão arterial,

glicose sanguínea, colesterol e triglicérides sanguíneos.

GÓMEZ & ROMERO del SOL (1989), realizaram grande estudo

populacional em Cuba, com uma amostra de 11.912 indivíduos do sexo masculino com 20

a 59 anos de idade. Os resultados das dobras cutâneas triciptal e subescapular, e da

somatória das duas foram apresentados em Tabelas de percentis.

GÓMEZ & ROMERO del SOL (1990), apresentaram os valores individuais

das dobras cutâneas triciptal e subescapular, além da somatória das duas dobras, na forma

de Tabelas de percentis. Este estudo foi realizado com uma amostra de 19.750 mulheres

cubanas de 20 a 56 anos de idade.

MUST, DALLAL & DIETZ (1991) propuseram os valores obtidos no

NHANES I dos percentis 85 e 95 da dobra cutânea triciptal para diagnosticar obesidade e

superobesidade, respectivamente.

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DEPARTAMENT OF THE ARTS, SPORT, THE ENVIRONMENT AND

TERRITORIES - DASET (1992), apresentou os resultados de um estudo populacional

realizado na Austrália, onde constam valores de soma das dobras cutâneas subescapular,

supraespinal e abdominal, na forma de Tabelas de percentil, para homens e mulheres,

divididos em 6 faixas etárias: 18 a 29, 30 a 39, 40 a 49, 50 a 59, 60 a 69, e 70 anos de idade

ou mais.

CRAWFORD (1996), propôs valores normativos para dados

antropométricos de meninos e meninas de 6 a 18 anos, incluindo medidas das dobras

cutâneas axilar medial, supraespinal, abdominal e coxa.

KATZMARZYK & MALINA (1998), entre outras medidas antropométricas,

utilizaram a somatória de seis dobras cutâneas (subescapular, abdominal, suprailíaca,

biciptal, triciptal e panturrilha medial) e a razão entre dobras de tronco e membros

(subescapular + abdominal + suprailíaca / biciptal + triciptal + panturrilha medial) para

comparar o comportamento de quantidade e distribuição de gordura corporal entre

canadenses aborígines e descendentes de europeus.

OLDS & NORTON (2000) produziram um software para avaliação da

composição corporal que utiliza os valores percentílicos para somatórias de dobras cutâneas

obtidos no NHANES III (EUA) e DASET (Austrália) como referenciais para a avaliação da

quantidade e distribuição da gordura corporal.

No Brasil, encontramos vários estudos que apresentam valores absolutos ou

de somatórias, ou ainda média de dobras cutâneas como um aspecto da aptidão física

relacionada à saúde de grupos específicos, porém, na maioria das vezes, com crianças e

adolescentes, como: BÖHME & FREITAS (1989); GUEDES (1994b); GUEDES &

GUEDES (1991); PERES, BARBANTI, TRICOLI, FREITAS & GUEDES (1992);

RASO, MATSUDO, MATSUDO & ANDRADE (1996); ROCHA, MATSUDO,

ANDRADE, FIGUEIRA JUNIOR & MATSUDO (1994); SILVA (1990); UEZU,

BOJIKIAN, MARTIN, PARRA, BERNADELI & BÖHME (2000). Em relação a adultos

são escassos estudos com esta temática, sendo que o QUADRO 2. apresenta alguns destes

estudos.

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QUADRO 2 - Estudos brasileiros relacionados a valores individuais e de somatória de

dobras cutâneas em indivíduos adultos.

Autor Local Amostra Idade (anos)

Apresentação de Dobras Cutâneas

LOPES, NAHAS, DUARTE & PIRES NETO (1995)

SC 192 homens

e 214

mulheres

20-67 Média e desvio padrão para 5 dobras individuais e para 3 somatórias identificando distribuição de gordura central, total e periférica: ∑3DC: SE, SI, AB (central) ∑2DC: TR, PM (periférica) ∑5DC: TR, SE, SI, AB, PM.

PETROSKI & PIRES NETO (1996)

RS e SC

304 homens

X = 30,17

Média e desvio padrão para 9 dobras individuais: TR, SE, BI, TX AM, SI, AB, CX, PM.

SOUZA, MOLA, NEVES, CAMPANELLI & MASSA (1996)

SP 172 homens

150 mulheres

X = 28,45 X =

25,02

Média e desvio padrão para ∑5DC: SI, AB, TR, CX, PM.

Como podemos perceber a espessura de dobras cutâneas aparece em muitos

estudos internacionais sem a utilização de equações de predição de composição corporal,

sendo apresentadas normalmente na forma de valores médios com seus respectivos desvios

padrão. Cabe destacar os estudos realizados em Cuba e na Austrália, que apresentam

valores de referência em Tabelas de percentil, o que facilita a análise e interpretação dos

resultados de cada dobra de acordo com a idade e o sexo do indivíduo avaliado.

No Brasil parece ser cultural a utilização de equações de predição de

densidade e porcentagem de gordura corporal, muitas vezes desconsiderando-se a validade

da equação escolhida em relação ao grupo ou indivíduo que se pretende avaliar. Um

exemplo claro disso é a equação proposta por FAULKNER (1968), que segundo

PETROSKI (1995b), é uma das equações mais utilizadas no Brasil, mesmo em sujeitos

com características completamente diferentes daquelas do grupo que deu origem à equação,

ocasionando elevados erros de predição.

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Talvez a necessidade de apresentação de resultados de fácil entendimento,

como a porcentagem de gordura, expliquem a preferência pela utilização de equações de

predição e justifique a escassez de estudos com valores de somatória de dobras cutâneas e a

inexistência de estudos que proponham valores referenciais para tais somatórias em

indivíduos adultos.

3.4. Composição corporal e saúde

As quantidades dos diferentes componentes corporais sofrem alterações

durante toda a vida dos indivíduos, conferindo à composição corporal uma característica

dinâmica, que está associada a aspectos fisiológicos como crescimento e desenvolvimento,

e aspectos ambientais como estado nutricional e nível de atividade física.

De acordo com BÖHME (1993),

“A atividade física é considerada o processo do qual resultará o estado de

aptidão física do indivíduo, esta última considerada como produto. Os

benefícios para a saúde estão associados a ambos: a atividade física (como

processo) e a aptidão física (como produto). Assim sendo, quanto mais

atividade física for praticada, melhor aptidão física será desenvolvida e um

melhor estado de saúde resultará para o indivíduo”

PATE (1988), definiu aptidão física relacionada à saúde como “a capacidade

de: (a) realizar as atividades do cotidiano com vigor e energia; e (b) demonstrar traços e

capacidades associados a um baixo risco de desenvolvimento prematuro de distúrbios

orgânicos provocados pela falta de atividade física”.

Um bom nível de aptidão física pode proporcionar uma condição de bem

estar para os indivíduos, além de possibilitar a prevenção das doenças denominadas

“hipocinéticas”, as quais estão relacionadas com o estilo de vida sedentário. FREITAS,

MARQUES & MAIA (1997) relataram que as alterações no estilo de vida induzidas

recentemente pela redução do trabalho laboral e aumento do tempo livre para o lazer têm

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conduzido a uma diminuição da atividade física habitual, enquanto BUNC, JANSA &

KLUKA (1997) relataram que o objetivo básico do desenvolvimento da aptidão física é

formar as reservas necessárias suficientes para diminuir os fatores de risco para a saúde que

emanam do estilo de vida contemporâneo, os quais começam a manifestar-se em maiores

proporções na meia-idade. Ainda neste contexto, GUEDES & GUEDES (1995a) afirmaram

que “a aptidão física relacionada à saúde abriga aqueles atributos biológicos que oferecem

alguma proteção ao aparecimento de distúrbios orgânicos provocados pelo estilo de vida

sedentário que se torna, portanto, extremamente sensível ao nível de prática da atividade

física”.

Como componentes da aptidão física relacionada à saúde, GUEDES &

GUEDES (1995b) consideraram aqueles voltados às dimensões morfológica, funcional-

motora, fisiológica e comportamental, sendo que, segundo estes autores, a dimensão

morfológica reúne aqueles componentes que se identificam com a composição corporal e a

distribuição da gordura corporal, os quais apresentam alguma relação com o melhor estado

de saúde.

Um dos principais interesses no conhecimento dos aspectos da composição

corporal está relacionado à possibilidade de estimativa da quantidade de gordura corporal e

sua possível relação com efeitos deletérios ao melhor estado de saúde. HEYWARD &

STOLARCZYK (1996), afirmaram que a obesidade é um sério problema de saúde, que

reduz a expectativa de vida pelo aumento do risco de desenvolvimento de doença arterial

coronariana, hipertensão arterial, diabetes tipo II, doença pulmonar obstrutiva, osteoartrite,

e certos tipos de câncer. Além dessas doenças, KOTECKI (1997), em um estudo de revisão

sobre a etiologia, o tratamento e a prevenção da obesidade, relatou que o excesso de

gordura corporal pode estar associado a uma série de outros problemas físicos que incluem

degeneração hepática, doenças da vesícula biliar, diminuição da função pulmonar,

anormalidades endócrinas, complicações obstétricas, traumas articulares pela sobrecarga,

gota, doenças cutâneas, proteinúria, aumento das concentrações de hemoglobina, e

possivelmente debilidade do sistema imunológico.

Neste sentido, são inúmeros os estudos que procuram associar estas e outras

doenças ao excesso e à distribuição da gordura corporal, bem como estudos para determinar

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a prevalência de sobrepeso e obesidade em diferentes localidades, já que este fato pode ser

determinante para a saúde das populações.

Em estudo de revisão da literatura sobre obesidade e seus fatores de risco

associados, BLUMENKRANTZ (1997) relatou que os maiores riscos da obesidade para a

saúde aumentam numa relação curvilinear, com prevalências aumentando progressiva e

desproporcionalmente com o aumento da massa. O aumento da massa na fase adulta de

forma continuada por muitos anos traz inúmeros efeitos adversos. Homens com 20 % de

massa acima do ideal apresentam uma chance 20 % maior de morrer por todas as causas,

um aumento de 25 % nas chances de morrer por doença arterial coronariana, 10 % a mais

por acidente vascular cerebral, duas vezes mais risco de morrer por diabetes e 40 % mais

chances de desenvolver doenças da vesícula biliar; enquanto que homens com 40 % acima

da massa normal apresentam 55 % de aumento da mortalidade por todas as causas, 70 %

mais por doença arterial coronariana, 75 % mais por acidente vascular cerebral, e 400 % de

aumento na mortalidade por diabetes. O autor relatou ainda, que para adultos de 20 a 45

anos o sobrepeso é suficiente para multiplicar por seis a prevalência de hipertensão arterial

quando comparados a sujeitos com massa normal.

3.4.1. Prevalência de sobrepeso e obesidade

Define-se como sobrepeso aqueles valores de massa corporal que se

encontram entre a massa tida como normal e a obesidade, podendo ocorrer em função de

excesso de gordura corporal ou de valores elevados de massa magra, sendo que em estudos

populacionais normalmente associa-se o sobrepeso a excesso de tecido adiposo, pois

grandes quantidades de massa magra só são encontrados em atletas de determinadas

modalidades esportivas. Já a obesidade compreende apenas valores excessivos de gordura

corporal que estão fortemente associados ao aumento de fatores de risco para a saúde, bem

como dos índices de morbidade e mortalidade (NIH, 1998). As TABELAS 1 e 2

apresentam valores para classificação do sobrepeso e obesidade por meio do IMC e da

porcentagem de gordura.

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TABELA 1 - Classificação do sobrepeso e obesidade pela porcentagem de gordura.

Adaptado de NIDDK (1993).

Mulheres Homens Leve 25 – 30 % 15 – 20 % Moderada 30 – 35 % 20 – 25 % Elevada 35 – 40 % 25 – 30 % Mórbida > 40 % > 30 %

TABELA 2 - Classificação do sobrepeso e obesidade pelo IMC. Adaptado de WHO (1997).

Classe de Obesidade IMC (kg/m2) Baixo Peso < 18,5 Normal 18,5 – 24,9 Sobrepeso 25,0 – 29,9 Obesidade I 30,0 – 34,9 II 35,0 – 39,9 Obesidade mórbida III > 40

Muitos estudos têm sido realizados com o objetivo de determinar a

prevalência de sobrepeso e obesidade em diferentes localidades, e de verificar a tendência

dessa prevalência ao longo dos anos. Este fato se deve à estreita relação existente entre o

excesso de gordura corporal e condições adversas à saúde; e, segundo FLEGAL (1999), a

obesidade já atinge, em muitos locais, proporções epidêmicas, o que significa dizer que se

trata de uma característica das populações e não só dos indivíduos.

Para a determinação do sobrepeso e da obesidade a maior parte destes

estudos utiliza o IMC, pelo baixo custo operacional e pela grande facilidade em sua

obtenção. Embora sua utilização seja questionável na avaliação de indivíduos, para estudos

populacionais este índice constitui uma alternativa bastante válida, pois se uma população

apresenta valores elevados de IMC podemos afirmar que isso ocorre em função do excesso

do componente gordura corporal, já que na maioria das pessoas que apresentam excesso de

massa isso não ocorre por excesso de massa magra (SICHIERI, 1998).

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Os levantamentos mais citados na literatura com relação à prevalência de

sobrepeso e obesidade são os realizados nos Estados Unidos iniciados na década de 60, que

incluem o National Health Examination Survey (NHES I; 1960-1962), e os National Health

and Nutrition Examination Surveys (NHANES I: 1971-1974; NHANES II: 1976-1980;

NHANES III: 1988-1994). Os resultados destes levantamentos transversais demonstraram

que houve uma tendência a manutenção da prevalência de sobrepeso (NHES I: 30,5 %;

NHANES I: 32,0 %; NHANES II: 31,5 %; e NHANES III: 32,0 %); entretanto, em relação

à obesidade a tendência foi de aumento, sobretudo entre o NHANES II e o NHANES III

(NHES I: 12,8 %; NHANES I: 14,1 %; NHANES II: 14,5 %; e NHANES III: 22,5 %).

Estes valores demonstram que 54,9 % dos americanos apresentavam sobrepeso ou

obesidade em 1994, valores extremamente preocupantes (FLEGAL et alii, 1998).

Inúmeros outros estudos têm sido conduzidos em vários países a fim de

verificar o comportamento do excesso de gordura corporal de suas populações. O

QUADRO 3 apresenta alguns estudos com este intuito, descrevendo o país de origem, o

local e período de realização, a amostra e os principais resultados encontrados.

QUADRO 3 - Estudos relacionados à prevalência de sobrepeso e obesidade.

Autor Local Período Idade (anos)

Comportamento da Prevalência

MILLAR & STEPHENS (1993)

Canadá 1985, 1991 25-64 Aumentou de 20 para 30% em homens e de 14 para 20 % em mulheres.

HODGE, DOWSE, TOELUPE, COLLINS, IMO & ZIMMET (1994)

Samoa 1978, 1991 25-74 Aumentou de 37,7 para 56,9 % em homens e de 58,5 para 74,3 % em mulheres.

BENNETT & MAGNUS (1994)

Austrália 1980, 1983, 1989

25-64 Aumentou de 9,3 para 11,5 % em homens e de 8 para 13,2 % em mulheres.

SEIDELL, VERSCHUREN, & KROMHOUT (1995)

Holanda 1987-1991 20-59 Aumentou em 1,7 % para homens e 1,9 % para mulheres.

GOFIN, ABRANSON, KARK & EPSTEIN (1996)

Israel 1970, 1986 50 ou mais

Aumentou de 11,9 para 15,8 % em homens e de 28,6 para 32,6 em mulheres.

SIMMONS, JACKSON, SWINBURN & YEE (1996)

Nova Zelândia

1982, 1987, 1994

35-64 Aumentou de 52,8 para 64,2 % em homens e de 36,5 para 44,9 % em mulheres, incluindo sobrepeso e obesidade.

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SORENSEN, SABROE & GILLMAN (1997)

Dinamarca 1955, 1965,

1973-75

18-26 Aumentou de 1,5 para 4,6 em homens jovens candidatos ao serviço militar.

AL-ISA (1997) Kuwait 1980-81, 1993-94

18 ou mais

Aumentou em 20,6 % o sobrepeso entre homens e em 15,4 entre mulheres, e aumentou em 13,7 % a obesidade entre homens e em 8,4 % entre mulheres.

OFFER (1998)

Reino Unido

1980, 1995

16-64

Aumentou de 6 para 15 % entre homens e de 8 para 17 % entre mulheres.

MOKDAD, SERDULA, DIETZ, BOWMAN, MARKS & KOPLAN (1999)

EUA 1991-1998 18 ou mais

Aumentou de 12,0 para 17,9 %, com aumentos variando com a região do país. O menor aumento foi no estado de Delaware (11,3 %) e o maior na Georgia (101,8 %).

RISICA, SCHRAER, EBBESSON, NOBMANN & CABALLERO (2000)

Alaska 1994 24 ou mais

Apresentou valores de sobrepeso de 27,9 % e 36,2 % e de obesidade de 32,8 % e 15,6 %, para mulheres e homens respectivamente.

Todos estes estudos apontam para um aumento dos índices de sobrepeso e obesidade ao

longo dos anos, o que demonstra as proporções epidêmicas que o excesso de gordura

corporal vem atingindo em vários países. Em alguns países a prevalência de sobrepeso e

obesidade já atinge mais da metade da população e, mesmo na Dinamarca onde os índices

ainda são muito baixos, há motivo para preocupação, pois se em homens jovens a

prevalência triplicou de 1965 para 1975, possivelmente outras faixas etárias e o sexo

feminino tenham acompanhado essa tendência.

No Brasil, há evidências de que os níveis de sobrepeso e obesidade venham

aumentando, a exemplo do que ocorre em outros países, porém são escassos os estudos em

nosso país que tratam desta problemática, e normalmente são constituídos de um único

corte transversal na população de regiões específicas.

COITINHO, LEÃO, RECINE & SICHIERI (1991), realizaram estudo

epidemiológico, em nível nacional, sobre as condições nutricionais da população brasileira

de adultos e idosos, que indicou que à época do levantamento cerca de 27 milhões de

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brasileiros apresentavam sobrepeso, sendo que destes estimava-se que 6,8 milhões de

indivíduos fossem obesos.

LOLIO & LATORRE (1991), verificaram a prevalência de sobrepeso e

obesidade entre a população urbana da cidade de Araraquara, interior do estado de São

Paulo, de 18 a 74 anos de idade. Houve uma prevalência de sobrepeso de 26,9 % e 27,7 %

para homens e mulheres, respectivamente. Quanto à prevalência da obesidade, homens

apresentaram 10,2 % e mulheres apresentaram 14,7 %.

SICHIERI, COITINHO, LEÃO, RECINE & EVERHART (1994), baseados

em levantamentos realizados em 1974-75 e 1989, com indivíduos de 18 anos de idade ou

mais, apontaram um aumento na prevalência de obesidade de 2,5 % para 4,8 % no grupo

masculino e de 6,9 % para 11,7 % no grupo feminino.

GIGANTE et alii (1997), estudaram a prevalência de obesidade e os fatores

de risco associados, na população da cidade de Pelotas, interior do Rio Grande do Sul, com

idades entre 20 e 69 anos. A prevalência total da obesidade foi de 21 %, sendo que 25 %

das mulheres e 15 % dos homens estudados eram obesos.

MONTEIRO, BENÍCIO, CONDE & POPKIN (2000), analisaram a

tendência da prevalência de obesidade em adultos com mais de 20 anos de idade, nas

regiões nordeste e sudeste do Brasil. A partir de levantamento populacionais realizados em

1975 (n = 95.062), 1989 (n = 15.585) e 1997 (n = 10.680), estes pesquisadores verificaram

que de 1975 a 1989 a prevalência de obesidade aumentou acentuadamente tanto para

homens (de 2,4 % para 4,7 %) quanto para mulheres (de 7,0 % para 12,0 %). De 1989 a

1997, comportamento diferente foi encontrado, enquanto homens continuaram

apresentando aumento da prevalência de obesidade (de 4,7 % para 6,9 %), as mulheres

apresentaram uma tendência à estabilização (de 12,0 % para 12,5 %). Chama a atenção,

neste estudo, que o aumento na obesidade de 1989 a 1997 tendeu a ser mais intenso nos

homens do que nas mulheres, nas populações rurais do que nas urbanas e nas famílias mais

pobres do que nas mais ricas; cabendo ressaltar, ainda, que mulheres de classes sociais mais

elevadas das regiões urbanas apresentaram uma redução de 28 % na prevalência da

obesidade (de 12,8 % para 9,2 %).

Tendo em vista o crescimento observado nos índices de obesidade ao redor

do mundo, parece necessário que sejam realizados mais estudos epidemiológicos no Brasil

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com o objetivo de conhecer as reais condições de nosso país no que diz respeito a este mal,

pois isso facilitaria a proposição de programas de intervenção para o tratamento e

principalmente para a prevenção do sobrepeso e da obesidade.

3.4.2. Fatores de risco associados à obesidade

Mediante estudo de revisão da literatura sobre sobrepeso e obesidade e suas

relações com doenças crônico-degenerativas e outros males, SEIDELL, VISSCHER &

HOOGEVEEN (1999), verificaram que há predomínio de estudos nessa área com adultos

jovens e de meia idade, que vivem nos Estados Unidos ou na Europa, concluindo que

nessas populações níveis mais baixos de mortalidade estão associados com um IMC entre

18,5 kg/m2 e 25,0 kg/m2, enquanto que valores de IMC iguais ou superiores a 30 kg/m2

apresentam uma substancial elevação nos índices de mortalidade, 50 a 150 %. Porém os

autores acreditam que estes resultados não possam ser generalizáveis para outras

populações, suscitando novos estudos nesse sentido.

Inúmeros estudos têm sido desenvolvidos em vários países com o objetivo

de verificar as relações existentes entre o excesso de gordura corporal e doenças crônico-

degenerativas. O QUADRO 4 apresenta alguns destes estudos com os seus principais

resultados.

QUADRO 4 - Estudos relacionados a excesso de gordura corporal e fatores de risco para

saúde.

Autor Local Amostra Idade (anos)

Achados

MUELLER, WEAR, HANIS & EMERSON (1991)

EUA 285 homens 672

mulheres

15-74 Elevados valores de circunferências e de dobras cutâneas apresentaram grande correlação com níveis elevados de colesterol total, HDL-colesterol, triglicérides, glicose e pressão arterial, independente do sexo e idade.

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DENKE, SEMPOS & GRUNDY (1993)

EUA 4.834 homens

20-74 Valores altos de IMC mostraram grande associação com níveis elevados de triglicérides plasmáticos e de colesterol total, e baixos níveis de HDL-colesterol.

DENKE, SEMPOS & GRUNDY (1994)

EUA 5.348 mulheres

20-74 O excesso de peso apresentou altas correlações com níveis elevados de colesterol total, LDL-colesterol, triglicérides e baixos níveis de HDL-colesterol.

BUNOUT, RUEDA, AICARDI, HIDALGO & KAUFFMANN (1994)

Chile 634 homens 148

mulheres

X = 44 A gordura corporal total e sua distribuição mostraram-se associadas a fatores de risco cárdio-vascular.

GIGANTE, BARROS, POST & OLINTO (1997)

Brasil 1035 homens e mulheres

20-29 Estudando obesidade e fatores de risco associados verificaram que: 15 % dos não hipertensos eram obesos enquanto 40 % dos hipertensos eram obesos, e 19 % dos não diabéticos eram obesos enquanto 51 % dos diabéticos eram obesos.

SHAPER, WALKER & WANNAMETHEE (1997)

Inglaterra 7.735 homens

40-59 Estudo prospectivo de coorte verificou que a mortalidade foi aumentada nos homens com IMC menor que 20 Kg/m2 e igual ou superior a 30 Kg/m2.

RABKIN, CHEN, LEITER, LIU & REEDER (1997)

Canadá 19.841 homens e mulheres

18-74 A prevalência de hipertensão aumentou com o IMC, assim como diabetes e dislipidemias.

YUAN, ROSS, GAO & YU (1998)

China 18.244 homens

45-64 Verificaram em um estudo prospectivo de coorte um aumento da mortalidade entre os sujeitos com IMC > 26 Kg/m2, principalmente por doenças cárdio e cérebro-vasculares.

BROWN, DOBSON & MISHRA (1998)

Austrália 13.431 mulheres

45-49 Prevalência de hipertensão e diabetes,procedimentos cirúrgicos:colecistotomia e histerectemia, e sintomas como dores lombares aumentaram com o IMC.

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GUS, MOREIRA, PIMENTEL, GLEISENER, MORAES & FUCHS (1998)

Brasil 1088 homens e mulheres

adultos Observaram associação positiva entre IMC > 27 Kg/m2 e a prevalência de hipertensão arterial.

REXRODE, CAREY, HENNEKENS, WALTERS, COLDITZ, STAMPFER, WILLETT & MANSON (1998)

EUA 44.702 enfermeiras

40-65 Em estudo prospectivo de coorte verificaram que indicadores antropométricos (circunferência da cintura e Razão Cintura Quadril) estão significantemente associados com aumento do risco de doença coronariana.

LEAN, HAN & SEIDELL (1998)

Holanda 5.887 homens 7.018

mulheres

20-59 Valores de circunferência da cintura superiores a 102 cm para homens e 88 cm para mulheres, ajustas para idade e estilo de vida, mostraram associação com o aumento de incidência de insuficiência respiratória, dor lombar, diabetes não dependente de insulina e fatores de risco cárdio-vascular.

FUJIMOTO, BERGSTRON, BOYKO, CHEN, LEONETTI, NEWELL-MORRIS, SHOFER & WAHL (1999)

EUA 175 homens nipo-

americanos

adultos Em estudo longitudinal de 10 anos demonstraram que o tecido adiposo visceral, juntamente com a pressão arterial e a glicose plasmática é um importante fator de risco independente para a incidência de doença coronariana nesta população.

SCHULTE, CULLEN & ASSMANN (1999)

Alemanha 16.288 homens 7.328

mulheres

X = 40,6X = 36,0

Encontraram interação positiva entre IMC e colesterol total, LDL-colesterol e pressão arterial para ambos os sexos. Com o aumento da idade e do IMC houve aumento nos níveis desses parâmetros. Triglicérides aumentaram com o IMC em ambos os sexos e com a idade para as mulheres, mas diminuíram no grupo de homens idosos sobrepesados.

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GRANDI, ZANZI, PIANTANIDA, GAUDIO, BERTOLINI, GUASTI & VENCO (2000)

Itália 64 obesos, sendo 32

hipertensos e 32

normotensos

30 - 36 A obesidade está associada com a deterioração da função diastólica do ventrículo esquerdo tanto em indivíduos hipertensos quanto em normotensos, independente de outros fatores hemodinâmicos, como pressão artéria de 24 horas e freqüência cardíaca.

TURCATO, BOSELLO, Di FRANCESCO, HARRIS, ZOICO, BISSOLI, FRANCASSI & ZAMBONI (2000)

EUA 146 mulheres

83 homens

67 - 78 A distribuição da gordura corporal está associada com fatores de risco cardiovascular em idosos, independente do IMC, sendo a circunferência abdominal e o diâmetro abdominal sagital os melhores indicadores antropométricos de risco cardiovascular em indivíduos idosos.

3.5. Comentários gerais da revisão de literatura realizada

É indiscutível que o excesso de gordura corporal apresenta relação direta

com uma série de fatores de risco para o aparecimento ou o agravamento de condições

desfavoráveis para a saúde. Em todos os artigos levantados, sem exceção, elevados níveis

de gordura corporal avaliados por IMC, espessura de dobras cutâneas, circunferências

corporais ou quaisquer outros métodos preditivos de sobrepeso e obesidade, apresentaram

elevadas correlações com altos níveis de pressão arterial, dislipidemias, doenças

coronarianas, entre outros problemas, contribuindo para o aumento da morbidade e

mortalidade destas populações.

Fazendo uma análise ampla desta revisão bibliográfica podemos concluir

que a avaliação da composição corporal é um importante instrumento de trabalho para os

profissionais de Educação Física e de outras áreas da saúde, devido à relação existente entre

a quantidade e a distribuição da gordura corporal e a aptidão física relacionada à saúde,

bem como a associação entre valores excessivos deste componente corporal com fatores

deletérios para a saúde.

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É importante ressaltar que para esta avaliação atender aos objetivos que se

propõe devem ser utilizadas metodologias adequadas, que apresentem resultados válidos e

permitam uma interpretação segura dos mesmos. Em estudos populacionais o IMC atende

perfeitamente a estas necessidades, porém deixa a desejar quando é utilizado

individualmente. Esta limitação aponta para uma superioridade na qualidade da avaliação

quando realizada com outras medidas antropométricas, que não somente a massa e a

estatura. Neste sentido as equações de predição de gordura corporal ganharam muito espaço

entre os estudiosos da composição corporal e os profissionais que atuam na área clínica e

no campo. Porém, nem sempre se leva em consideração a especificidade que estas equações

apresentam em relação à população de origem, mesmo as equações generalizadas. Tal fato

pode ser responsável por elevados erros de predição.

Embora sejam relatadas na literatura mais de cem equações de predição de

densidade e gordura corporal, há apenas três pesquisadores que elaboraram equações

baseadas em estudos realizados em nosso país: GUEDES (1985), PETROSKI (1995) e

RODRIGUES AÑES (1997), sendo que em todos utilizou-se a pesagem hidrostática como

método de referência, porém o volume residual pulmonar não foi medido diretamente, mas

estimado, o que limita seus resultados. Independente desta limitação, esta iniciativa é

bastante elogiável e estes estudos apresentam uma grande importância na área da

composição corporal no Brasil.

Considerando esta pequena quantidade de equações nacionais e a

necessidade de validação de equações estrangeiras para grupos populacionais em nosso

país, o que nem sempre é possível, verifica-se a necessidade de métodos alternativos que

não estejam sujeitos aos elevados erros de predição encontrados quando são utilizadas

equações inadequadas.

Nesse sentido a utilização simplesmente dos valores absolutos de dobras

cutâneas pode significar um excelente parâmetro de acompanhamento de programas de

exercícios físicos e dietas, pela observação do aumento ou diminuição do valor das dobras

cutâneas. Além disso, a utilização da somatória de dobras cutâneas também possibilita a

verificação da quantidade e a tendência de distribuição da gordura corporal.

Tal alternativa só é limitada no que diz respeito à interpretação dos valores

individuais e de somatória de dobras cutâneas pela ausência, em nosso país, de valores

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referenciais que permitam identificar se o valor encontrado é alto ou baixo para a idade e o

sexo do avaliado. Assim, parece de fundamental importância a realização de estudos que

apresentem tais padrões, o que justifica a necessidade deste estudo.

MATERIAL E MÉTODOS

Características da população estudada

A cidade de Santos localiza-se no litoral do Estado de São Paulo, tendo

como coordenadas geográficas uma latitude sul de 23º57’39’’, e uma longitude W. GR. de

46º20’01’’. Sua área total é de 280,9 km2, sendo que a população total conforme

informações da Contagem Nacional da População (IBGE, 1996) é de 412.243 habitantes,

sendo 192.795 do sexo masculino e 219.448 do sexo feminino, com uma média de 3,27

moradores por domicílio. Em relação à faixa etária objeto deste estudo, estima-se uma

população de 289.188 habitantes com 20 anos de idade ou mais, sendo 135.224 do sexo

masculino e 153.964 do sexo feminino.

Amostra

Para o desenvolvimento do estudo a amostra constou 1092 indivíduos

divididos em 5 grupos etários de cada sexo: 20 a 29,9 anos, 30 a 39,9 anos, 40 a 49,9 anos,

50 a 59,9 anos e 60 a 69,9 anos de idade, com idade decimal calculada segundo descrito por

ALEXANDER (1995). A TABELA 3 apresenta o número de sujeitos para cada faixa etária

e sexo.

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TABELA 3 - Descrição da amostra por faixa etária e sexo, média e desvio padrão de idade.

Faixa Etária Masculino X + Sd Feminino X + Sd 20 a 29,9 anos 106 23,59 + 3,10 117 23,42 + 3,11 30 a 39,9 anos 103 34,89 + 2,54 116 34,52 + 2,67 40 a 49,9 anos 107 43,97 + 2,97 131 44,50 + 2,74 50 a 59,9 anos 103 53,06 + 2,70 103 53,73 + 2,93 60 a 69,9 anos 104 65,38 + 2,59 102 65,78 + 2,99 Total 523 569

A cidade foi dividida em cinco regiões, conforme TABELA 4, nas quais

foram sorteados logradouros e, nestes, foram sorteados os domicílios visitados, por meio da

utilização de uma tabela de números aleatórios (CONTANDRIOPOULOS,

CHAMPAGNE, POTVIN, DENIS & BOYLE, 1997). O número de sujeitos avaliados

obedeceu às proporções relativas de habitantes de cada região, como apresentado na

TABELA 4.

Os domicílios sorteados foram visitados previamente por uma professora de

Educação Física e uma psicóloga, devidamente orientadas, que explicaram o propósito do

estudo e, quando houve anuência dos moradores, agendaram a data para a realização da

tomada das medidas. Na data agendada o domicílio foi visitado pela equipe: o autor do

trabalho, que realizou todas as medidas, e as duas profissionais citadas, que operaram o

computador e explicaram os resultados da avaliação. Foram avaliados todos os residentes

no domicílio que tinham entre 20 e 69,9 anos e se dispuseram a participar do estudo.

Quando houve recusa por parte dos moradores do domicílio sorteado, foi

visitado o domicílio de numeração imediatamente superior, procedendo-se assim tantas

vezes quantas fossem necessárias, até que houvesse o aceite por parte dos moradores.

Como uma forma de oferecer um retorno aos participantes da pesquisa,

imediatamente após a coleta de dados foi emitido e entregue um laudo com o resultado do

Índice Cintura Quadril (ICQ) e da porcentagem de gordura por meio das equações

generalizadas de JACKSON & POLLOCK (1978) para os homens e JACKSON,

POLLOCK & WARD (1980) para as mulheres, com a interpretação e explicação de seus

resultados e da possível relação com fatores de risco para a saúde.

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TABELA 4 - Descrição da Amostra por região.

Região Habitantes Amostra Orla 178.575 473 Bairros Intermediários 116.250 308 Zona Noroeste 75.240 199 Morros 33.158 87 Centro 9.020 25

Equipamentos

Foram utilizados neste estudo os seguintes equipamentos:

Estadiômetro portátil da marca Sanny ®, com 200 cm e divisões em mm.

Balança digital da marca Tanita ®, TBF 515, com carga máxima de 150kg e

divisões em 200 g.

Compasso de Dobras Cutâneas da marca Sanny ®, com força de pressão da

mola de aproximadamente 10 g/mm2 e divisões em 0,1 mm..

Computador Lap Top da marca Acer, modelo AcerNote Ligth.

Impressora da marca Canon, modelo BJC 1000.

Variáveis de estudo

Estatura – GORDON, CHUMLEA & ROCHE (1988):

O avaliado deve estar descalço ou com meias finas e o mínimo possível de

roupas para que a posição do corpo possa ser vista. O avaliado deve ficar em posição

anatômica sobre a base do estadiômetro que deve formar um ângulo reto com a borda

vertical do aparelho. A massa do avaliado deve ser distribuída em ambos os pés, e a cabeça

posicionada no Plano Horizontal de Frankfurt. Os braços livremente soltos ao longo do

tronco, com as palmas voltadas para as coxas. O avaliado deve manter os calcanhares

unidos e tocando a borda vertical do estadiômetro. As bordas mediais dos pés devem

formar um ângulo de aproximadamente 60º. Se o avaliado tem Genu Valgo os pés são

separados até que as bordas mediais dos joelhos estejam em contato, mas não sobrepostas.

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As escápulas e o glúteo ficam em contato com a borda vertical do aparelho. Os calcanhares,

glúteos, escápulas e a porção posterior do crânio de alguns sujeitos não podem ser

colocados em um plano vertical enquanto mantêm uma razoável postura natural. Estes

indivíduos são posicionados, então, de forma que somente os glúteos, os calcanhares e o

crânio estejam em contato com a borda vertical do aparelho.

Ao avaliado é solicitado que realize uma inspiração profunda e que se

mantenha em posição completamente ereta sem que alterne a massa corporal sobre os

calcanhares. O cursor do aparelho é colocado sobre o ponto mais alto da cabeça com

pressão suficiente para comprimir o cabelo. A medida é registrada com uma aproximação

de 0,1 cm.

4.4.2. Massa corporal - GORDON et alii (1988):

O avaliado deve estar em pé, de cotas para a escala da balança, com

afastamento lateral dos pés, estando a plataforma entre os mesmos. Em seguida coloca-se

sobre e no centro da plataforma, na posição anatômica com a massa do corpo igualmente

distribuído entre ambos os pés, ereto e com o olhar num ponto fixo à sua frente. O avaliado

deve usar o mínimo de roupas possível e a medida é registrada com uma aproximação de

100 g.

4.4.3. Índice de massa corporal – IMC

O IMC será obtido através da divisão da massa em quilogramas pela estatura

em metros elevada ao quadrado.

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4.4.4. Dobras cutâneas – COSTA (1999)

As medidas de dobras cutâneas devem sempre ser realizadas no hemicorpo

direito do avaliado, utilizando o dedo indicador e o polegar da mão esquerda para

diferenciar o tecido adiposo subcutâneo do tecido muscular. Aproximadamente um

centímetro abaixo do ponto de reparo pinçado pelos dedos deve-se introduzir as pontas do

compasso, para a execução da leitura deve-se aguardar em torno de dois segundos. Devido

a grande variabilidade das medidas de dobras cutâneas devem ser executadas três medidas

não consecutivas de cada dobra, adotando-se a medida intermediária. Quando são

encontradas diferenças superiores a 5 % entre uma medida e as demais realizadas no

mesmo ponto de reparo, uma nova bateria de medidas deve ser realizada.

As dobras cutâneas utilizadas neste estudo foram as seguintes:

- Triciptal (TR) - É medida na face posterior do braço, paralelamente ao eixo

longitudinal, no ponto que compreende a metade da distância entre a borda súpero-lateral

do acrômio e o olécrano.

- Subescapular (SE) - A medida é executada obliquamente em relação ao eixo

longitudinal, seguindo a orientação dos arcos costais, sendo localizada a dois centímetros

abaixo do ângulo inferior da escápula.

- Biciptal (BI) - É medida no sentido do eixo longitudinal do braço, na sua face

anterior, no ponto de maior circunferência aparente do ventre muscular do bíceps.

- Axilar média (AM) - É localizada no ponto de intersecção entre a linha axilar

média e uma linha imaginária transversal na altura do apêndice xifóide do esterno. A

medida é realizada obliquamente ao eixo longitudinal, com o braço do avaliado deslocado

para trás, a fim de facilitar a obtenção da medida.

- Torácica (TX) - É uma medida oblíqua em relação ao eixo longitudinal, na metade

da distância entre a linha axilar anterior e o mamilo, para homens, e a um terço da linha

axilar anterior, para mulheres.

- Suprailíaca (SI) - É obtida obliquamente em relação ao eixo longitudinal, na

metade da distância entre o último arco costal e a crista ilíaca, sobre a linha axilar medial. É

necessário que o avaliado afaste o braço para trás para permitir a execução da medida.

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- Abdominal (AB) - É media aproximadamente a dois centímetros à direita da

cicatriz umbilical, paralelamente ao eixo longitudinal.

- Coxa (CX) - a espessura dessa dobra cutânea também é determinada paralelamente

ao eixo longitudinal, sobre o músculo reto femoral, no ponto médio entre o ligamento

inguinal e o bordo superior da patela.

- Panturrilha medial (PM) - com o avaliado sentado, joelho em 90º de flexão,

tornozelo em posição anatômica e o pé sem apoio, é determinado o valor da espessura dessa

dobra. Toma-se a dobra no sentido paralelo ao eixo longitudinal do corpo, na altura de

maior circunferência da perna, destacando-se a dobra com o polegar apoiado no bordo

medial da tíbia.

4.4.5. Somatórias de dobras cutâneas

Foram utilizadas combinações de dobras cutâneas com o intuito de analisar o

comportamento da gordura corporal em quantidade e distribuição, segundo a localização,

no tronco e nos membros, como segue:

- Gordura total:

- somatória de nove dobras cutâneas (∑9 = triciptal + subescapular + torácica +

biciptal + axilar medial + suprailíaca + abdominal + coxa + panturrilha medial)

- somatória de cinco dobras cutâneas (∑5 = triciptal + subescapular + suprailíaca +

abdominal + coxa), como uma alternativa com menor número de dobras mas que

pode representar bem a gordura subcutânea total, já que inclui dobras de tronco

(anterior, medial e posterior) e membros (superior e inferior).

- Gordura do tronco:

- somatória de cinco dobras cutâneas de tronco (∑5T = subescapular + axilar

medial + torácica + suprailíaca + abdominal).

- somatória de duas dobras cutâneas de tronco (∑2 = subescapular + suprailíaca).

- Gordura dos membros:

- somatória de quatro dobras cutâneas de membros (∑4M = triciptal + biciptal +

coxa + panturrilha medial).

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Tratamento estatístico

Foram considerados os seguintes tipos de variáveis:

Qualitativas – grupos etários (5) e gênero (masculino e feminino).

Quantitativas – dobras cutâneas individuais (TR, SE, BI, TX, AM, SI, AB,

CX e PM) e somatórias de dobras cutâneas (∑9, ∑5, ∑5T, ∑2 e ∑4M).

Foram considerados 10 grupos na análise estatística:

Grupo 1 – Homens de 20 a 29,9 anos de idade

Grupo 2 – Homens de 30 a 39,9 anos de idade

Grupo 3 – Homens de 40 a 49,9 anos de idade

Grupo 4 – Homens de 50 a 59,9 anos de idade

Grupo 5 – Homens de 60 a 69,9 anos de idade

Grupo 6 – Mulheres de 20 a 29,9 anos de idade

Grupo 7 – Mulheres de 30 a 39,9 anos de idade

Grupo 8 – Mulheres de 40 a 49,9 anos de idade

Grupo 9 – Mulheres de 50 a 59,9 anos de idade

Grupo 10 – Mulheres de 60 a 69,9 anos de idade

Foi utilizada a análise descritiva unidimensional por meio de média, desvio

padrão, coeficiente de variação e valores máximo e mínimo de massa, estatura, IMC,

dobras cutâneas individuais e somatórias de dobras cutâneas, por grupo etário.

Quanto ao pressuposto da existência de distribuição normal dos dados, de

acordo com NETER, KUTNER, NASCHSTHEIM & WASSERMAN (1996), o Teorema

Limite Central garante que quando se tem uma amostra grande, independente da

distribuição da população original, a distribuição amostral da média é aproximadamente

Normal. Para confirmar tal pressuposto, utilizou-se também a análise gráfica (q-q plot-

Gráfico de Probabilidade Normal), para cada variável estudada.

A verificação da diferença da adiposidade entre os sexos e entre as faixas

etárias para cada sexo foi realizada por análise de variância – ANOVA a dois fatores (sexo

e faixa etária) adotando-se o nível de significância de 5 % na análise dos dados (p < 0,05).

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Foram construídas Tabelas de percentis para estabelecer-se valores

referenciais das dobras cutâneas individuais e para somatória de dobras cutâneas em relação

à faixa etária e sexo.

Na análise estatística foi utilizado o Pacote Estatístico “SPSS for Windows”

versão 8.0., além disso, na análise estatística inferencial contou-se com a orientação de

professores do SEA/IME/USP – Serviço de Estatística Aplicada do Instituto de Matemática

e Estatística da Universidade de São Paulo.

Delimitações do estudo

A amostra utilizada neste estudo foi constituída de moradores da cidade de

Santos – SP, independente de sua origem e do tempo de residência na cidade;

Participaram do estudo apenas indivíduos residentes nos domicílios

sorteados, que na data da visita tinham entre 20 e 69,9 anos de idade;

Todas as medidas foram realizadas pelo autor do estudo para que não

houvesse influência de diferenças interavaliadores na coleta de dados.

Limitações do estudo

a) A realização das avaliações esteve sujeita ao aceite dos moradores dos

domicílios sorteados;

b) A medida de dobras cutâneas foi realizada mesmo quando os valores eram

demasiadamente elevados, o que não é recomendável pela alteração na pressão

exercida pela mola do equipamento;

c) Os resultados obtidos não deverão ser generalizados para outras populações,

com características diferentes das observadas na população santista.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

No intuito de propiciar uma compreensão mais ampla deste estudo, os resultados

foram dispostos em itens de acordo com os objetivos propostos inicialmente, e discutidos

simultaneamente à sua apresentação.

Primeiramente são apresentados os valores médios obtidos para cada uma das

variáveis do estudo, em cada faixa etária, para ambos os sexos; descrevendo-se assim o

comportamento da quantidade e distribuição da gordura corporal subcutânea de homens e

mulheres adultos. Tais médias constam nas FIGURAS 1 a 17, e os valores mínimo e

máximo, de média, mediana e desvio padrão são apresentados nos ANEXOS I a X. Na

seqüência, com o intuito de verificar a variabilidade dos dados para cada variável, por sexo

e faixa etária, são apresentados os gráficos “Box plot”, nas FIGURAS 18 a 27.

A análise do pressuposto de existência de distribuição normal dos dados, que foi

realizada pela análise gráfica (q-q plot) é apresentada nas FIGURAS 28 a 37.

A verificação da existência de diferença na quantidade e distribuição da gordura

corporal subcutânea em relação ao sexo e faixa etária foi realizada com base nas somatórias

de dobras cutâneas de tronco e de membros, por meio de análise de variância ANOVA a

dois fatores, utilizando-se o teste Post Hoc de Tukey para identificar, quando foi o caso,

onde ocorreram as diferenças. Tais resultados são apresentados nas TABELAS 5 a 13 e na

FIGURAS 38 a 44.

Por fim, são apresentados gráficos com as distribuições de percentis de valores

individuais de dobras cutâneas e de valores de somatórias de dobras cutâneas, nas

diferentes faixas etárias para cada sexo, nas FIGURAS 45 a 72, além das TABELAS de

distribuição dos percentis, nos ANEXOS XI a XX.

Análise descritiva

Observando os valores médios das variáveis estudadas verificamos que no

sexo masculino a massa apresentou uma elevação da primeira para a segunda faixa etária,

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quando então tendeu a uma estabilização nas duas faixas etárias seguintes, apresentando

uma pequena queda na última faixa etária. Já em relação ao sexo feminino, a tendência à

elevação ocorreu da primeira até a terceira faixa etária, com uma posterior estabilização.

Tais resultados estão de acordo com os encontrados na literatura (ASSIS, MESA &

NUNES, 1999; FULWOOD, ABRAHAN & JOHNSON, 1981; GROOT, ENZI,

PERDIGAO & DEURENBERG, 1996; KUSHNER, 1993).

Quanto à medida de estatura, podemos verificar que o comportamento desta

variável foi semelhante para ambos os sexos, apresentando valores médios mais elevados

na primeira faixa etária e redução com o aumento da idade, atingindo os menores valores

médios na última faixa etária. Esta gradativa redução da estatura pode ser explicada por um

conjunto de fatores, como acentuação das curvaturas da coluna vertebral e achatamento dos

discos intervertebrais que acentuam-se com o passar dos anos, além de alterações

relacionadas com uma tendência secular. BORKAN, HULTS & GLYNN (1983), relataram

uma redução de 7,3 cm em homens entre 22 e 82 anos de idade, sendo que estes autores

estimaram que 3,0 cm (41 %) desta redução foram em função de tendência secular e 4,3 cm

devidos à idade. Em estudo longitudinal FLYNN, NOLPH, BAKER, MARTIN &

KRAUSE (1989), mostraram uma redução da estatura da ordem de 0,3 cm por década para

homens jovens e 0,8 cm por década para mulheres jovens, apresentando um aumento

gradual até atingir 1,4 cm e 3,3 cm por década, respectivamente, ao passar dos 60 anos de

idade. A estatura apresenta grande associação com o ano de nascimento, a região e as

condições de saúde e educação durante a infância, tanto para homens quanto para mulheres

(SILVENTOINEN, LAHELMA & RAHKONEN, 1999).

O IMC apresentou valores médios menores para as mulheres nas duas

primeiras faixas etárias, com valores semelhantes aos dos homens nas duas faixas

seguintes, superando-os na última faixa etária. Em ambos os sexos o IMC aumentou da

primeira até a terceira faixa etária, sendo mais acentuado o aumento no grupo feminino, a

partir daí tanto o grupo masculino quanto o feminino mantiveram os valores médios

estáveis, com os homens apresentando ligeira redução na última faixa etária, ao contrário

das mulheres que apresentaram aumento nesta faixa. Estes resultados são bastante

semelhantes aos encontrados em estudos que descrevem o comportamento do IMC em

relação ao sexo e faixa etária, como os realizados por JALKANEN, TUOMILEHTO,

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NISSINEN & PUSKA (1989); KATZMARZYK, PÉRUSSE, RAO & BOUCHARD

(1999); LENTHE, DROOMERS, SCHRIJVERS & MACKENBACH (2000); TAYLOR,

KEIL, GOLD, WILLIANS & GOULDING (1998).

É importante ressaltar que de todas as variáveis estudadas estas três foram as

que apresentaram menor variabilidade dos resultados em todas as faixas etárias para ambos

os sexos, sendo que a estatura apresentou os menores coeficientes de variação, ficando

sempre abaixo de 5 %. Já a massa apresentou coeficientes de variação que foram de 14,84

% a 18,73 % para o sexo feminino e de 15,18 % a 18,54 para o sexo masculino. Os

coeficientes de variação do IMC estiveram entre 13,97 % e 17,11 % para o sexo feminino,

e entre 12,82 % e 16,38 % para o sexo masculino.

Observando o comportamento dos valores médios das dobras cutâneas

verificamos que o que parece diferenciar o grupo feminino do masculino é a gordura

periférica, pois em todas as faixas etárias as mulheres apresentaram valores médios maiores

que os homens para tríceps, bíceps, coxa e panturrilha medial. Em relação à gordura do

tronco, apenas na dobra cutânea torácica, a partir da segunda faixa etária, que os homens

apresentaram maior quantidade de gordura, sendo que para todas as demais dobras de

tronco os valores foram bastante semelhantes. Estes resultados corroboram os encontrados

por LOPES et alii (1995), ao estudarem a distribuição da gordura corporal subcutânea de

192 homens e 214 mulheres, servidores da Universidade Federal de Santa Catarina.

As somatórias de dobras cutâneas, em seus valores médios, confirmam

aquilo que foi encontrado nas médias de valores absolutos das dobras, ou seja, nas

somatórias que incluem somente dobras de tronco, que são ∑2 e ∑5T, homens e mulheres

estiveram próximos em todas as faixas etárias. Já na somatória que inclui somente dobras

cutâneas de membros, ∑4M, as mulheres apresentaram valores médios nitidamente

superiores aos dos homens em todas as faixas etárias. Esta superioridade na gordura

periférica por parte do sexo feminino acaba influenciando os resultados da gordura total,

tornando os valores médios de ∑5 e ∑9 maiores nas mulheres do que nos homens, em todas

as faixas etárias.

Observando o comportamento das somatórias de dobras cutâneas em relação

às diferentes faixas etárias percebemos que tanto homens quanto mulheres apresentaram

valores médios menores dos 20 aos 29,9 anos de idade, com elevação e estabilização da

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quantidade de gordura nas faixas etárias posteriores e ligeira redução dos 60 aos 69,9 anos

de idade, para ∑2, ∑5T, ∑5 e ∑9; ocorrendo exceção no grupo feminino para ∑4M, em que

não houve redução na última faixa etária.

Tanto os valores absolutos das dobras cutâneas quanto suas somatórias

apresentaram grande variabilidade em seus resultados, para ambos os sexos, o que pode ser

verificado por elevados coeficientes de variação. A maior variabilidade foi encontrada nas

duas primeiras faixas etárias, com gradativa redução do coeficiente de variação nas faixas

etárias seguintes, o que indica maior heterogeneidade das medidas de dobras cutâneas em

adultos mais jovens e uma tendência a homogeneização destes valores com o aumento da

idade.

50,0055,0060,0065,0070,0075,0080,0085,00

Faixa Etária

Mas

sa (k

g)

Masculino 74,63 79,82 79,78 78,98 76,54Feminino 59,77 63,40 68,55 67,12 67,45

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 1 – Valores médios de massa corporal (kg) da população santista, de ambos os

sexos, divididos em faixas etárias.

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150,00155,00160,00165,00170,00175,00180,00

Faixa Etária

Esta

tura

(cm

)

Masculino 173,83 172,80 170,28 168,17 166,86Feminino 161,28 158,89 156,79 155,18 153,38

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 2 – Valores médios de estatura (cm) da população santista, de ambos os sexos,

divididos em faixas etárias.

22,00

24,00

26,00

28,00

30,00

Faixa Etária

IMC

(kg/

m2)

Masculino 24,16 26,28 27,03 27,45 26,92Feminino 22,48 24,71 27,41 27,41 28,23

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 3 – Valores médios de IMC (kg/m2) da população santista, de ambos os sexos,

divididos em faixas etárias.

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5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

Faixa Etária

Tríc

eps

(mm

)

Masculino 11,08 11,26 12,96 12,16 11,02Feminino 17,82 20,12 20,96 21,69 21,67

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 4 – Valores médios de dobra cutânea triciptal (mm) da população santista, de

ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

Faixa Etária

Sube

scap

ular

(mm

)

Masculino 16,21 20,93 24,41 24,33 22,72Feminino 18,52 20,88 24,60 26,41 24,19

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 5 – Valores médios de dobra cutânea subescapular (mm) da população santista,

de ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

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5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

Faixa Etária

Axi

lar M

édia

(mm

)

Masculino 12,96 16,29 19,44 19,69 18,33Feminino 14,51 16,62 20,38 21,56 20,76

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 6 – Valores médios de dobra cutânea axilar média (mm) da população santista, de

ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

Faixa Etária

Torá

cica

(mm

)

Masculino 9,94 13,61 15,93 17,27 15,58Feminino 9,51 10,26 11,15 11,68 12,31

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 7 – Valores médios de dobra cutânea torácica (mm) da população santista, de

ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

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0,00

5,00

10,00

15,00

Faixa Etária

Bíc

eps

(mm

)

Masculino 5,85 7,55 8,05 8,21 7,81Feminino 8,75 10,09 11,76 12,58 11,86

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 8 – Valores médios de dobra cutânea biciptal (mm) da população santista, de

ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

Faixa Etária

Supr

ailía

ca (m

m)

Masculino 21,97 26,92 29,31 28,06 22,88Feminino 22,92 23,31 26,46 26,50 24,38

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 9 – Valores médios de dobra cutânea suprailíaca (mm) da população santista, de

ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

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10,00

20,00

30,00

40,00

Faixa Etária

Abd

omin

al (m

m)

Masculino 23,47 30,43 35,81 34,55 27,85Feminino 24,70 26,49 31,99 34,21 35,18

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 10 – Valores médios de dobra cutânea abdominal (mm) da população santista, de

ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

10,0015,0020,00

25,0030,0035,00

Faixa Etária

Cox

a (m

m)

Masculino 16,98 16,73 18,48 18,20 15,29Feminino 28,53 30,69 32,45 31,71 31,65

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 11 – Valores médios de dobra cutânea da coxa (mm) da população santista, de

ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

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5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

Faixa Etária

Pant

urril

ha M

edia

l (m

m)

Masculino 10,93 10,96 11,36 10,91 9,70Feminino 17,74 18,38 18,85 18,76 20,57

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 12 – Valores médios de dobra cutânea panturrilha medial (mm) da população

santista, de ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

Faixa Etária

Som

atór

ia 2

(mm

)

Masculino 38,18 47,85 53,73 52,39 45,60Feminino 41,45 44,19 51,06 52,91 48,57

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 13 – Valores médios de somatória de dobras cutâneas - ∑2 (mm) da população

santista, de ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

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50,00

75,00

100,00

125,00

150,00

Faixa Etária

Som

atór

ia 5

T (m

m)

Masculino 84,56 108,17 124,91 123,91 107,36Feminino 91,69 97,56 114,59 120,36 116,82

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 14 – Valores médios de somatória de dobras cutâneas - ∑5T (mm) da população

santista, de ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

Faixa Etária

Som

atór

ia 4

M (m

m)

Masculino 44,84 46,51 50,86 49,48 43,82Feminino 72,84 79,29 84,02 84,75 85,75

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 15 – Valores médios de somatória de dobras cutâneas - ∑4M (mm) da população

santista, de ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

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50,00

75,00

100,00

125,00

150,00

Faixa Etária

Som

atór

ia 5

(mm

)

Masculino 89,72 106,26 120,98 117,30 99,76Feminino 114,02 121,48 136,46 140,52 137,07

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 16 – Valores médios de somatória de dobras cutâneas - ∑5 (mm) da população

santista, de ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

100,00125,00150,00

175,00200,00225,00

Faixa Etária

Som

atór

ia 9

(mm

)

Masculino 129,40 154,68 175,76 173,39 151,18Feminino 164,53 176,85 198,61 205,11 202,58

20 a 29,9 30 a 39,9 40 a 49,9 50 a 59,9 60 a 69,9

FIGURA 17 – Valores médios de somatória de dobras cutâneas - ∑9 (mm) da população

santista, de ambos os sexos, divididos em faixas etárias.

Na observação dos gráficos “Box plot” ficou patente que as somatórias que apresentaram menor variabilidade para todos os grupos foram ∑2 e ∑4M, seguidas de ∑5T. Já em relação a ∑5 e ∑9, que são justamente as somatórias que representam a quantidade total de gordura corporal, pode-se verificar a presença de indivíduos afastando-se acentuadamente das medianas. Nestas variáveis, homens de 20 a 29,9 anos de idade apresentaram maior variabilidade nos dados do que mulheres na mesma faixa etária, fato que se repetiu nas faixas de 30 a 39,9 anos e 50 a 59,9 anos de idade; invertendo-se tal comportamento nas faixas etárias de 40 a 49,9 anos e de 60 a 69,9 anos de idade, onde os dados do grupo feminino demonstraram maior variabilidade. ( continua parte 3....)