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Adaptação de ESCOLOVAR
A semente da verdade
http://www.escolovar.org/conto_entrada.geral.valores.htm
Há muito tempo, na
China, viveu um
menino que
gostava muito de
flores.
Com mãos
dedicadas, Ping,
assim se chamava
ele, cultivava
orquídeas e outras
flores, bambus e
pequenos arbustos
e ainda árvores de
fruto.
Cada planta tocada
por ele crescia
viçosa e forte.
Todos os
habitantes do
império gostavam
também muito de
flores e tratavam-
-nas com igual
carinho.
Plantavam-nas
por todo o lado
e o ar era
deliciosamente
perfumado.
O Imperador
gostava muito de
pássaros e de
outros animais
mas, acima de
tudo, preferia as
flores.
Todos os dias,
cultivava o seu
próprio jardim.
O tempo passou e o
imperador , de idade
avançada e sem
filhos ou parentes
próximos, precisou
de escolher um
sucessor.
Quem poderia
ser o seu sucessor?
Como o poderia
escolher?
Dado que gostava
tanto das flores,
decidiu deixar que
fossem elas a
escolher por ele.
No dia seguinte,
enviou mensageiros
a todos os cantos
do império com uma
ordem: os meninos
deveriam dirigir-se
ao palácio.
Imediatamente,
milhares de
pequenos súbditos
tomaram o caminho
do palácio.
O imperador aguardou
que todas as crianças
chegassem.
Apareceu, então,
montado no seu cavalo
branco, com um ar
feliz.
“Crianças”, disse ele,
com voz determinada,
“preciso de escolher o
meu sucessor de entre
vocês. Para isso,
tenho uma tarefa muito
especial para vos dar.”
Então, mostrou-lhes
muitas sementes de
flores.
“Tenho aqui estas
sementes. Quero que
as levem e as
cultivem. Quem me
trouxer a flor mais
bonita, mais cuidada,
ao fim de um ano,
será o meu
sucessor”.
Os pais sonhavam
que os seus filhos
tinham sido
escolhidos como
sucessores do
Imperador e os
meninos esperavam
com ilusão o mesmo.
Quando Ping
recebeu a sua
semente das mãos
do Imperador, foi o
menino mais feliz
de todos. Estava
seguro que poderia
cultivar a flor mais
formosa. Ele era um
excelente jardineiro.
Quando chegou a
casa, encheu um
vaso com terra
fértil. Depois, com
mil cuidados,
colocou a semente
nela.
Cuidadosamente,
regou-a. Depois,
estrumou-a, para
que ela se
desenvolvesse
com vigor.
Estava ansioso
por vê-la brotar,
crescer e
florescer.
Os dias
passaram,
depois,
semanas… mas
nada acontecia,
a semente não
germinava.
Ping começou a
preocupar-se.
Decidiu pôr terra
num vaso maior. Na
sua inocência,
pensou que esse
deveria ser um
factor importante
para o início da
vida de uma planta.
Em seguida,
mudou a semente.
Esperou algum tempo
mas nada aconteceu.
Ping desesperava. É
que, por mais que
Ping se esforçasse, a
semente não brotava.
O menino fez tudo o
que podia: adubou
mais a terra, colocou
o vaso ao sol, regou a
semente com água
nascente, mas os
seus esforços de
nada valeram.
No fim do
Inverno,
completava-se
um ano. A tristeza
apoderou-se de
Ping.
Chegou a
Primavera e, com
ela, o fim do
prazo dado pelo
Imperador.
Todas as
crianças se
prepararam para
irem à presença
do Imperador.
No dia aprazado,
todos acorreram
ao palácio,
acalentando a
esperança de
serem os eleitos.
Ping estava
envergonhado
com o seu vaso
vazio.
Pensou que os
outros meninos
iriam escarnecer
dele porque não
tinha sabido
cultivar uma flor.
Ao palácio
chegavam meninos
carregando vasos
com flores de todas
as cores.
Até o vizinho de
Ping exibia, orgu-
lhoso, as belíssimas
flores do seu vaso.
“Não conseguiste
cultivar una planta
tão bonita como a
minha.”, disse-lhe
o vizinho.
“Já cultivei muitas
flores melhores
que a tua.”
retorquiu Ping.
Ping estava muito triste
mas o pai reconfortou-o:
“Fizeste o melhor que
pudeste. A tua dedicação
foi extrema, mas a semente
não brotou. Não te envergo-
nhes, filho. Diz a verdade ao
Imperador. Talvez seja esta
a lição que o imperador
deseje que tu aprendas:
algumas vezes, a verdade
não é tão bonita como uma
flor, mas precisamos de a
encarar com coragem para
vencer grandes desafios.”
Animado com
estas palavras de
esperança, o
rapaz pegou no
vaso vazio e
rumou ao palácio.
Sentado no seu trono,
o Imperador examinava
minuciosamente as
plantas. Perguntava a
cada criança que lição
aprendera com a
semente e todas
respondiam ter apren-
dido sobre o talento, a
perseverança e o dom
necessário para fazer a
semente brotar.
Que linda era aquela
enorme quantidade
de flores! Porém, o
Imperador permane-
cia sério e não dizia
uma palavra. Sua
Majestade não
esboçava sequer um
sorriso.
Finalmente,
aproximou-se de
Ping, que inclinou a
cabeça, cheio de
vergonha, esperando
ser repreendido. “Se
o imperador não
aprovou aquelas
plantas maravilhosas, o
que não dirá do meu
vaso contendo apenas
terra? ”, pensou o
rapaz, receoso.
Ping fora-se atrasando
intencionalmente e,
quando deu conta, era
o último da fila.
“Vejamos”, pergun-
tou-lhe o imperador,
aproximando-se e
falando com voz grave,
“O que tens aí para me
mostrar? Hum… Por
que trouxeste um vaso
vazio?”
Ping começou a
chorar e respondeu:
“Senhor, pus a
semente que me
deu na terra, reguei-
-a e tratei-a com
todos os cuidados
mas não germinou.
Pu-la num vaso
maior mas tão
pouco a situação
melhorou.”.
“Esperei o ano
inteiro… mas nada.
Estou envergonhado
e peço perdão...
Talvez tenha sido
falta de sorte, mas
dedicação não me
faltou.”
E concluiu: “Reflecti
muito sobre qual
seria a minha atitude
e optei por dizer a
verdade, relatar-lhe
meu esforço e rogar-
- lhe perdão.”
Quando o
Imperador escutou
estas palavras,
sorriu, abraçou
Ping e exclamou,
eufórico:
“Encontrei!
Encontrei uma
pessoa digna de
ser o próximo
Imperador!”
E dava pulos de
alegria, como uma
criança.
“Não te envergonhes,
rapaz. Deste o teu
melhor. Levanta a ca-
beça. És o meu futuro
sucessor.”
“E vós”, disse o
Imperador, dirigindo-
se aos outros,
“Prestai atenção:
Hoje, o valor que
prevaleceu foi a ver-
dade, a honestidade.”
E, dirigindo-se
novamente para Ping,
continuou:
“Vou-te explicar: eu
tinha queimado todas
as sementes antes de
as entregar às
crianças. Nenhuma
poderia germinar,
jamais. Portanto,
entre todas as
crianças que aqui
estão, tu foste a
única que cultivou a
semente da verdade.”
Voltando-se nova-
mente para os
seus pequenos
súbditos, rematou:
“Admiro a grande
valentia de Ping de
comparecer diante
de mim com a sua
verdade vazia.
Assim, concedo-
-lhe o título de
«Imperador da
China»”.
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