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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ESCOLA DE EDUCAÇÃO CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO MAYARA MONTEIRO EZEDIN DE OLIVEIRA RIO DE JANEIRO 2018

CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO · dos contos de fadas e influências importantes para este tipo de literatura. ... os adultos compartilham o hábito de brincar

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Page 1: CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO · dos contos de fadas e influências importantes para este tipo de literatura. ... os adultos compartilham o hábito de brincar

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

ESCOLA DE EDUCAÇÃO

CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO

MAYARA MONTEIRO EZEDIN DE OLIVEIRA

RIO DE JANEIRO

2018

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CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO

MAYARA MONTEIRO EZEDIN DE OLIVEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Educação, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro como requisito final para obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia.

__________________________________________________

Adrianne Ogêda Guedes (Orientador) Universidade Federal do Estado Rio de Janeiro - UNIRIO

Rio de Janeiro Janeiro 2018

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CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO

MAYARA MONTEIRO EZEDIN DE OLIVEIRA

Avaliada por:

______________________________________ Marcio da Costa Berbat (Leitor)

Escola de Educação – Departamento de Didática Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Data: ______/______/_______

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CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO

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Primeiramente a Deus, aos meus familiares

e professores que fizeram parte da minha

trajetória educacional. Eu não estaria aqui

hoje se não fosse por vocês.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pois sem ele nada seria possível.

À minha família maravilhosa, em especial a minha mãe, Helaine, por todo amor,

apoio e dedicação de sempre.

Vocês são a minha base e foram essenciais durante toda graduação. Minha

gratidão, por vibrarem a cada conquista e vitória nessa jornada, me incentivando

sempre a ir mais longe.

Ao meu noivo, obrigada pelo companheirismo e paciência para aguentar meus

momentos de insegurança e estresse.

Aos meus professores, em especial minha orientadora Adrianne Ogêda Guedes, por

toda ajuda, paciência e confiança na realização deste trabalho.

As companheiras da graduação.

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“Contos de fadas são a pura verdade. Não

porque nos contam que dragões e bruxas

existem, mas porque nos mostram que eles

podem ser vencidos.”

(Gilbert Keith Chesterton)

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OLIVEIRA, M. CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO. Brasil, 2018, 42 f. Monografia (Licenciatura em Pedagogia) – Escola de Educação, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apontar a importância dos contos de fadas no processo de formação da criança, estimulando a imaginação, ajudando-a a lidar com o mundo que a cerca e com seus conflitos. Desde muito tempo, passando de geração em geração, os contos de fadas seguem a humanidade. Com magia e encantamento entretêm as crianças, tornando possível, através da imaginação, viajar para o mundo da fantasia. Contadas, a princípio, para adultos, essas narrativas de tradição oral, com o passar do tempo foram coletadas e reunidas por escritores como Charles Perrault, Jean de La Fontaine, os irmãos Grimm e Hans Christian Andersen, que influenciados pela igreja e pela revolução industrial foram adaptando-as, a fim de satisfazer as necessidades da sociedade, para moralizar e educar as crianças. As histórias que conhecemos hoje são fruto de uma preocupação em preservar o contexto social vivido em cada época, passando através deles diversas mensagens, por se tratar de uma literatura de fácil compreensão para as crianças. A partir deste estudo monográfico busca-se mostrar o quão valioso é o mundo maravilhoso e fantástico para a formação da criança, no qual encontram-se os contos de fadas, ajudando-a a utilizar a imaginação para lidar com suas próprias questões. Sendo de grande preciosidade para a sociedade, desde sua tradição oral até a contemporaneidade, os contos de fadas tem grande influência na vida infantil.

Palavras chaves: Contos de Fadas. Imaginação. Formação da criança

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OLIVEIRA, M. FAIRY TALES AND IMAGINATION DEVELOPMENT. Brazil, 2018,

42 f. Monograph (Pedagogy Degree) – Escola de Educação, Universidade Federal

do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

ABSTRACT

The present work aims to point out the importance of fairy tales in the process of formation of the child, stimulating the imagination, helping to deal with the world around him and his conflicts. From long ago, passing from generation to generation, fairy tales follow humanity. With magic and enchantment entertain children, making it possible, through imagination, to travel to the fantasy world. At the outset, for adults, these narratives of oral tradition were collected and collected by writers such as Charles Perrault, Jean de La Fontaine, brothers Grimm and Hans Christian Andersen, who were influenced by the church and the industrial revolution were adapting them to meet the needs of society, to moralize and educate children. The stories we know today are the result of a concern to preserve the social context lived in each age, passing through them several messages, because it is a literature that is easy for children to understand. From this monographic study it is sought to show how valuable the wonderful and fantastic world for the formation of the child, in which are the fairy tales, helping her to use the imagination to handle her own questions. Being of great value to the society, from its oral tradition until the contemporaneity, the fairy tales have great influence in the children's life. Keywords: Fairy Tales. Imagination. Child training

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

1. INFÂNCIA 12

1.1 A Infância da Idade Média à Idade Contemporânea 12

1.2 A Descoberta da Infância 14

2. CONTOS DE FADAS 17

2.1 Origem e História 17

2.2 Influências Importantes para Literatura Infantil 21

3. IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS 30

3.1 Características dos Contos de Fadas 30

3.2 Importância dos Contos de Fadas para Formação da Criança 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS 40

REFERÊNCIAS 42

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INTRODUÇÃO

A mágica dos contos de fadas é essencial para o desenvolvimento da criança.

Existem significados mais profundos nos contos de fadas contados na infância, do

que a vida adulta ensina.

Por meio dos contos infantis a criança pode desenvolver seus sentimentos,

emoções e aprender a lidar com as sensações.

Estas narrativas são histórias bem antigas e, ainda hoje, podem ser

apreciadas como verdadeiras obras de arte, sempre lembrando que seus enredos

falam de sentimentos comuns a todos nós, como: amor, alegria, ódio, inveja, ciúme,

ambição, rejeição e frustração, os quais só conseguem ser compreendidos e

vivenciados pela criança através das emoções e da fantasia.

Os contos de fadas trabalham como instrumentos para a descoberta de

sentimentos dentro da criança (ou até mesmo de adultos), pois são capazes de

envolver em suas tramas, de instigar a mente e comover com a sorte de seus

personagens.

A compreensão das crianças se torna fácil através da fantasia, pois se

aproxima mais da maneira como os pequenos vêm o mundo, já que ainda não são

capazes de assimilar respostas realistas.

Pretende-se, através deste trabalho, resgatar a necessidade dos contos na

vida e formação das crianças. Tendo como objetivo mostrar a importância; a

influência; o interesse e a curiosidade que os contos de fadas despertam na criança;

além do desenvolvimento do poder imaginativo.

Os contos de fadas estão envolvidos no maravilhoso, lidam com emoções que

as crianças vivem. Nem sempre precisam ter fadas, como diz seu nome, mas devem

conter algum elemento extraordinário, surpreendente e encantador.

Esta monografia segue uma metodologia de pesquisa bibliográfica. Em um

primeiro momento busca-se entender como a infância era vista na idade média, o

valor dado à vida infantil durante este período até chegar ao momento de sua

valorização na idade moderna.

A partir desse ponto, faz-se um registro sobre a origem e história dos contos

de fadas e sua utilização na educação das crianças no período de transição entre a

idade média para idade moderna, e também, quando sofrem influências da igreja e

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da revolução industrial, sendo resgatas e adaptadas a fim de contribuir com a

educação e moralização das crianças.

Por fim, foi feito um estudo da importante contribuição dessas narrativas para

a formação da criança, desenvolvendo sua imaginação, ajudando-a a resolver seus

conflitos e enxergar melhor o mundo que a cerca.

Os autores centrais que fundamentaram esse trabalho são ARIÉS (1981),

SCHNEIDER E TOROSSIAN (2009), COELHO (2008), LAJOLO (1995),

BETTELHEIM (2016), CORSO E CORSO (2006), entre outros.

No primeiro capítulo, algumas considerações sobre a infância na Idade Média,

sua importância e valorização na sociedade Pós-moderna. No segundo, o histórico

dos contos de fadas e influências importantes para este tipo de literatura. No terceiro

e último, ponderações sobre as características dos contos de fadas e sua

importância na formação da criança.

O mundo maravilhoso da fantasia dos contos de fadas está muito presente na

realidade das crianças, no seu contexto familiar e social. Por isso é importante

refletir sobre como introduzi-los de uma forma prazerosa, criativa e instigante.

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1. INFÂNCIA

Para entender melhor sobre os contos de fadas é importante que seja feita

uma reflexão sobre a infância da sociedade medieval até a sociedade pós-moderna,

ressaltando a busca pela valorização da vida infantil.

Essas narrativas, antes de se tornarem efetivamente parte da literatura

infantil, tiveram grande serventia no período de descoberta da infância, quando

foram utilizados para educação e moralização das crianças.

Portanto, neste capítulo abordarei sobre a infância na Idade Média, como as

crianças desta época eram vistas, até chegar ao momento de descoberta e

valorização deste ser.

Estas ponderações se fazem necessárias e importantes, para que mais a

frente, seja possível compreender melhor a importância destas histórias na

educação das crianças.

O conteúdo a seguir fundamenta-se na obra de Ariès (1981), onde o autor

retrata a criança e a família da Idade Média e Moderna.

1.1 A Infância da Idade Média à Idade Contemporânea

De acordo com Ariès (1981) até o início do século XVI, durante a sociedade

medieval, o sentimento de infância era ignorado. Pois era considerado um momento

de transição, rapidamente superado. Não existia respeito e nem se acreditava em

sua inocência, porque a criança não era vista como um ser em desenvolvimento,

com características e necessidades próprias.

Os adultos permitiam qualquer tipo de assunto na frente delas: linguagens

grosseiras, ações e situações indecentes. Elas ouviam e viam de tudo. “[...] a

infância era um período de transição, logo ultrapassado, e cuja lembrança era logo

perdida”. (ARIÈS, 1981, p. 52)

Este comportamento dos adultos perante as crianças eram praticados na

Idade Média e foram fundamentais para o funcionamento da sociedade moderna.

A sociedade medieval desvalorizava a infância, em suas pinturas as crianças

eram retratadas desnudas, com barba e musculatura de adulto. Ainda que a

intenção fosse representar a infância, as crianças eram sempre vistas como adultos.

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Não havia a concepção de família naquela época. Não estavam presentes

valores e sentimentos como afeto e cuidado. O principal intuito era a conservação

dos bens, prática de um ofício (trabalho) e ajuda mútua.

O autor ainda afirma que todos os conhecimentos e valores transmitidos, não

eram passados através da família. As trocas de afeto eram realizadas por pessoas

fora do âmbito familiar, como por exemplo, amigos, vizinhos, amos ou criados e só

se aprendia algo ajudando os próprios adultos, acompanhando-os em suas funções.

Considerava-se conveniente que as crianças aprendessem desde muito cedo

a conhecer os adultos. Era comum e corriqueiro, por exemplo, os adultos

associarem crianças a brincadeiras com temas sexuais, pois acreditavam que por

serem pequenas não entenderiam os gestos obscenos. O uso da mesma cama

entre adultos e crianças juntamente com a liberdade na linguagem, também eram

hábitos comuns em todas as classes sociais.

Ainda hoje, em regiões mulçumanas, os adultos compartilham o hábito de

brincar com o sexo das crianças. Estas sociedades, com o passar do tempo,

mantiveram-se alheias, não apenas ao progresso científico, mas também à grande

reforma moral.

Durante o século XVII, ainda segundo Ariès (1981), ligava-se a infância a uma

ideia de dependência. Considerava-se que a criança estava saindo da infância

quando se tornava independente ou menos dependente.

Sob a influência de inovadores católicos ou protestantes, no fim do século

XVII, a escola passou a exercer o papel de educadora, recolhendo as crianças do

meio dos adultos e construindo um espaço único de aprendizagem, onde distantes

da sociedade, mantidas em escolas, conseguissem ser escolarizadas.

Durante a idade Média, as escolas não tinham separação por idades.

Poderiam estar presentes na mesma aula crianças de diversas faixas etárias e com

maturidades totalmente diferentes.

A educação passou a ser vista como a obrigação mais importante, começou-

se a multiplicar pequenas escolas, casas particulares de ensino, desenvolvendo uma

disciplina rigorosa visando à moralidade e mudanças de hábitos.

As escolas não possuíam espaço grande, então as aulas também eram

ministradas em galerias, pátios do mosteiro ou na igreja. A maioria dos alunos

morava com os mestres, com os padres ou com os cônegos em moradias

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concedidas através de um contrato realizado entre mestres e pais, também

chamado de contrato de aprendizagem.

O modelo adotado à época eram os internatos, onde as crianças passavam

muito tempo presas, sem liberdade para outras atividades que não fossem de

caráter educativo. Toda a responsabilidade de educação era depositada pelos pais

nos internatos.

Não havia preocupação com afeto e carinho. E, as crianças eram novamente

misturadas com os adultos, pois não havia separação no momento dos estudos.

No período da sociedade medieval, durante os sete primeiros anos de vida da

criança, eram permitidos que convivessem livremente no meio de adultos, pois

consideravam que elas não entendiam o que era dito entre eles. Porém, ao

completarem sete anos, as crianças eram censuradas, repreendidas e eram tiradas

do convívio social com os adultos.

1.2 A Descoberta da Infância

A educação mais formal praticamente só começava a partir dos sete anos de

idade. Esses cuidados foram atribuídos a um início de reformas e costumes,

surgindo inicialmente na França e na Inglaterra, no século XVII, entre Católicos e

Protestantes, os quais preocupavam-se com o respeito à infância, com sua

formação moral e transformação em seres humanos racionais.

Esta preocupação ocorreu com a influência de homens da lei e eclesiásticos

com certa sensibilidade em disciplinar e moralizar.

Com isso, pedagogos e moralistas da época começaram a se preocupar com

as linguagens utilizadas nos livros, com as atitudes dos adultos perante as crianças,

com o pudor e a castidade. Assim, uma lógica se impôs: a da inocência infantil, que

um século mais tarde se tornou algo comum.

As crianças começaram a ganhar mais respeito e atenção dos adultos. Suas

fragilidades passaram a ser comparadas as dos anjos. A concepção moral da

infância associou-se a fraqueza da inocência, pois refletia a pureza divina da

criança.

Não era permitido deixar as crianças sem vigilância contínua. Era necessário

adaptá-las a seriedade, ao recato e a decência. Ler bons livros, evitar canções

populares e tratamentos íntimos, substituir o “tu” pelo “vós” e também, não seria

mais permitido dividir a cama com os adultos.

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Com a reforma baseada nas Igrejas Católicas e Protestantes, a partir do

século XIX, laços sentimentais e afetivos foram adotados pelas famílias, então, os

pais passaram a se importar com os estudos de seus filhos. Foram sendo

estabelecidas relações familiares nucleares.

As linguagens, comportamentos e o desenvolvimento das crianças foram

sendo respeitados. A educação como aliada, despertou nas famílias grande

preocupação pelos estudos dos filhos e não mais apenas pelo ofício, honra e bens.

Houve-se uma reestruturação familiar e organização em torno da própria criança,

tornando-a o centro de tudo.

A família passou então a se organizar em torno da criança e a lhe dar tal importância, que a criança saiu de seu antigo anonimato, que se tornou impossível perdê-la ou substituí-la sem uma enorme dor, que ela não pôde mais ser reproduzida muitas vezes, e que se tornou necessário limitar seu número para melhor cuidar dela. (ARIÈS, 1981, p.12)

O sentido da inocência resultou em atitude moral, desenvolvendo o caráter e

a razão. Uma devoção particular passou a ser dirigida a infância sagrada,

comparando-a ao menino Jesus, que por sua vez passou a ser representado

sozinho.

Começou-se a valorizar trechos da bíblia onde Jesus mencionava as

crianças, estabelecendo uma nova devoção: o anjo da guarda. Os pequenos santos,

as crianças, eram exemplos a serem seguidos.

A primeira eucaristia tornar-se-ia progressivamente a grande festa religiosa

da infância, enfatizando a necessidade de se avaliar a capacidade moral e espiritual

antes de permitir a comunhão. E, continuaria assim até os dias de hoje.

Quando observamos as crianças da sociedade contemporânea, brincando;

estudando; praticando esportes; entre outras atividades, vislumbramos um processo

histórico-cultural, onde para chegar a essa valorização da infância, as crianças

tiveram que passar por um mundo no qual não pertenciam, muito embora

estivessem inseridas nele.

Para entendermos mais a respeito da origem dos contos de fadas foi

necessário contar brevemente sobre a descoberta da infância até chegarmos ao

momento da valorização deste ser.

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Sabemos que as histórias narradas pelos povos, de acordo com a cultura

popular, eram passadas de pais para filhos, avós para netos e mantiveram-se

presentes por séculos.

Os contos tornaram-se um meio fascinante à fantasia infantil, contados pelas

amas, governantas e, ou, pelas “cuidadoras” das crianças, que encarregavam-se de

contar e tornar eternas histórias de origem popular, construídas com base na cultura

popular.

Elas foram alteradas de acordo com o contexto social da época, com a

intenção de educar, moralizar e até mesmo, amedrontar, a fim de manter o controle

das crianças e jovens.

Não podemos esquecer que também foram coletados e modificados a favor

da corte francesa e dá fé cristã, originando a literatura infantil e contribuindo com a

moralização das crianças e jovens daquele século.

Abordarei mais profundamente o assunto no próximo capítulo.

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2. CONTOS DE FADAS

Desde a Antiguidade, as histórias dos contos de fadas vêm sendo difundidas

e influenciam de forma relevante a infância até hoje, nos tempos contemporâneos.

Neste capítulo primeiramente, abordarei a origem e história dos contos de

fadas, para em seguida, trazer influências importantes para este tipo de literatura

infantil.

2.1 Origem e História

A origem dos contos de fadas perde-se no tempo. Há registros na literatura de

que se tratam de histórias passadas oralmente de geração a geração e que, até

hoje, com toda a tecnologia existente, conservam seu espaço de importância junto à

infância.

Suas histórias não têm apenas à função de entreter ou de ninar o sono das

crianças, mas também, de expressar a magia e a fantasia na imaginação infantil.

Existem relatos muito antigos sobre os contos de fadas e sua presença em

variadas culturas. Eles encantam milhares de gerações em diferentes países.

Antes mesmo dos seus registros escritos, como conhecemos nos dias de

hoje, eles eram utilizados para ajudar na formação da espiritualidade e cultura de

seus povos.

De acordo com Schneider e Torossian (2009), os contos de fadas fazem parte

da literatura de origem celta. Foram criados em torno do século II a.C, onde as

mulheres mais velhas dos povos contavam as suas histórias recheadas de

simbologia para a educação de crianças.

De acordo com Kupstas (1993), os contos de fadas surgiram como poemas

que apontavam para amores estranhos, fatais e eternos.

Em meados do século II a.c até o século I da era cristã, em muitas histórias

bem antigas foram acrescentadas, pelo povo celta, a forte presença de fadas, as

quais seriam mulheres iluminadas com capacidade de prever o futuro de outra

pessoa, geralmente de alguém especial protegido por elas. Acrescentando

imaginação popular, criaram-se asas, varas de condão e diminuição de tamanho,

porém, sempre belas e bondosas.

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A palavra fada vem do latim fatum e fata que significa destino fatalidade, e

oráculo. Elas fazem parte do folclore europeu ocidental, conhecidas como seres

fantásticos ou imaginários, muito belos, apresentando-se em forma de mulher.

Com grandes atributos e poderes sobrenaturais, atuam na vida dos homens,

auxiliando-os em situações onde nenhuma solução natural seria possível.

Coelho (2008) diz que as fadas também podem assumir o mal e apresentar-

se como bruxas, que seria o avesso de fadas. Fada e bruxa são formas ambíguas

que simbolizam a mulher, o ser feminino.

Para a autora não é possível determinar com certeza o momento exato em

que as fadas nasceram. Contudo, a hipótese mais aceita é que elas tenham surgido

e se aprofundado no dualismo entre o real e o imaginário, que vem, desde a origem

dos tempos.

Afirma, ainda, que têm sido inúmeros os esforços, tentando descobrir a

possível época do nascimento das fadas. Historiadores e arqueólogos em profundas

pesquisas, por tempos aprofundaram-se na literatura primitiva e criaram uma série

de fontes históricas, míticas e lendárias, que foram pacientemente ligados e

compilados, oferecendo pistas para tentar-se o esclarecimento do início das fadas

no imaginário humano.

No entanto, a autora esclarece que não há dúvidas, entre os historiadores e

pesquisadores, que as fadas sejam de origem celta, devido à menção mais antiga

sobre estes seres. Pomponius Mela, geógrafo que viveu no século I, afirmou que na

ilha do Sena, nove virgens com poder sobrenatural, como gênios da água e

adivinhadoras, com seus cantos, mandavam sobre o vento e o Atlântico,

apropriavam-se de diversas encarnações, curavam enfermos e protegiam os

navegantes.

Sendo assim, podemos comprovar que a primeira menção às fadas,

despontam na literatura cortesã-cavaleiresca durante a Idade Média, em novelas de

cavalaria do ciclo arturiano, de origem cético-bretã. “Enfim, o que se divulgou,

durante a Idade Media até a Renascença, como peculiar ao espírito celta, levou os

estudiosos a determinarem, quase com exatidão, o povo no seio do qual nasceram

às fadas: o povo celta.” (COELHO, 1991, p. 33).

Os povos antigos conheciam o universo fantástico existente nos contos de

fadas. Seu enredo é traçado por narrativas de diferentes locais do imaginário

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humano, com linguagens, repletas de simbolismos e de metáforas, com a

capacidade de auxiliar no desenvolvimento e formação humana.

Muito se escreveu e ainda se escreve sobre esse tipo de literatura, a fim de

tentar atingir as questões referentes ao seu entendimento.

Segundo Ariés (1981), os contos de fadas foram originalmente construídos

para o universo adulto, entretanto, a partir da “descoberta da infância”, sofreram

adaptações no sentido de levar em consideração as necessidades das crianças,

bem como de sua vida imaginária.

No princípio, essas histórias não eram destinadas as crianças, pois narravam

o destino dos homens e continham conteúdos sobre adultério, canibalismo ou

incesto.

Eram contadas pelos chamados relatores, que recebiam esta função de seu

antepassado, cumprindo a tradição de seu povo.

Na maior parte das vezes, ocorriam em campos de lavouras, reuniões sociais,

nas salas de fiar, casas de chá, nas aldeias ou nos demais espaços em que os

adultos se reuniam.

No decorrer dos séculos, o homem presenciou narrativas que, de forma

simbólica ou real, direta ou indiretamente, retrataram sua própria vida.

Desde os tempos mais antigos os contos de fadas encantam e tem o que nos

oferecer. “Os contos de fadas fazem parte desses livros eternos que os séculos não

conseguem destruir e que, a cada geração, são redescobertos e voltam a encantar

leitores ou ouvintes de todas as idades.” (COELHO, 2008, p. 27).

A importância de contar histórias se deu quando o homem ancestral teve a

necessidade em obter explicações racionais para o mundo.

Com isso, desde os primórdios, começou a buscar no mito e nas narrativas

fantásticas a explicação para algumas coisas, por exemplo: pensavam que os

relâmpagos eram armas dos deuses; as águas seriam controladas por sereias;

determinadas árvores ou plantas teriam surgido de alguma forma mágica; etc.

Ainda de acordo com Coelho (2008), entende-se por mito, narrativas

referentes a deuses, duendes e heróis fabulosos ou acontecimentos em que o

sobrenatural predomina.

Os mitos sempre estão relacionados a certas eventualidades. Como por

exemplo: a criação do mundo e do homem ou as forças da natureza.

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O significado de mito vem do grego mytbus - narração, onde utilizam a

natureza, divindades ou o próprio homem com narrativas que tentam explicar de

maneira figurada alguns fenômenos da vida.

Cada cultura ou povo tem seus mitos ligados aos antepassados, ao começo

do mundo; aos seres que o habitam; ao universo. As culturas populares tentavam

entender o mundo e as questões referentes a ele.

Com isso, os relatos sobre os contos de fadas surgiram por volta do século

XVII durante a sociedade medieval, provenientes dessa necessidade dos povos em

atribuir histórias e significados a tudo o que acontecia no mundo ao seu redor.

Originando narrativas e tradições orais de diversas culturas pelo mundo, os

contos de fadas, incialmente, eram histórias contadas pelas famílias que deram

significado a imaginação de um povo. Originalmente eram destinadas aos adultos,

pois tentavam traduzir os anseios, medos, revoltas, crenças e desejo de justiça da

população.

Eram contos repletos de moral, ritos e características de culturas diferentes.

Como os da mitologia grega, celta e hindu.

Estas histórias da mitologia europeia eram passadas de pai para filho e

demonstravam em suas narrativas questões da vida cotidiana dos povos.

Foram chamados de contos de fadas, pois tiveram sua origem na cultura

céltica bretã, onde as fadas, fantasias imaginárias e outros seres mágicos tinham

uma importância fundamental.

As histórias contadas pelos povos serviam apenas como entretenimento.

Somente anos mais tarde, após a descoberta do mundo imaginário das fadas, as

sociedades mais antigas sentiram necessidade em utilizar estas narrativas para

educação, já que as crianças tinham grande interesse por estes contos de fantasia.

Os contos de fadas colaboraram com a literatura popular de todos os povos

europeus durante toda a Idade Média e Moderna.

As Histórias que conhecemos hoje são bem diferentes das contadas naquela

época. Os relatos eram assustadores e nem sempre tinham um final feliz. A função

principal a que se propunham era a de alertar, espalhar medos, inseguranças e

frustrações do povo.

Os contos de fadas, no formato que atualmente são conhecidos, surgiram na

Europa, especialmente na França e na Alemanha, no final do século XVII e XVIII.

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Nestes séculos, aconteciam dois momentos históricos: a Inglaterra, que

atravessava sua segunda Revolução Industrial e obtinha o controle capitalista da

época; e a Igreja, que passava pela Contrarreforma.

Os contos de fadas, durante este período, eram repletos de um conjunto de

valores que engloba um código social de conduta pública rigorosa, de uma

sociedade repressiva quanto às questões sexuais, chamado de “Moral Vitoriana”.

Levando-se em consideração que os conceitos de infância e de educação também

não eram vigentes naquela época.

No Brasil e em Portugal, os contos de fadas como são conhecidos

atualmente, surgiram no final do século XIX sob o nome de Contos da Carochinha.

O termo “carochinha” significa carocha ou bruxa. Dessa forma, criando uma

conotação nociva de mentira.

Aproximadamente somam 61 contos populares e só foram denominados

contos de fadas no final do século XX.

Como vimos anteriormente, a partir do século XVII, a sociedade foi se

modificando. Mediante a influência da igreja católica e da fé cristã, passou a

valorizar o conceito de infância.

Com isso, sofrendo influências do contexto histórico e social da época, a fim

de satisfazer a vontade da corte francesa e da própria sociedade, durante a

revolução industrial e com a contrarreforma da igreja, estas narrativas foram

reunidas e adaptadas por escritores como Charles Perrault, Jean de La Foutaine, os

irmãos Jacob e Wilhelm Grimm e Hans Christian Andersen.

Estes autores modificaram as histórias, dando-lhes um estilo romântico e

menos violento, contribuindo com a educação e moralização destas crianças.

2.2 Influências Importantes para Literatura Infantil

De acordo com Lajolo (1995) a grande valorização do conceito infância se

deu no início na Revolução Industrial, no século XVIII, durante a estabilização da

burguesia como classe social e pela busca de instituições que estivessem ao seu

favor.

O autor afirma ainda, que a família caracterizou-se como a primeira

instituição, trazendo para si as divisões de trabalho familiar, onde cada membro da

família responsabilizava-se por uma função. Como por exemplo, o pai que

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desempenhava o papel financeiro e a mãe incumbia-se dos cuidados e das

atividades domésticas.

Com as funções familiares pré-definidas pela sociedade burguesa, a criança

era beneficiada nesse esforço conjunto.

Um novo papel passou a ser desempenhado pela criança, e com isso, novas

ferramentas e mecanismos de ajuda passaram a auxiliar a valorização da vida

infantil. Como por exemplos, os brinquedos; os livros; a pedagogia e a pediatria.

Contudo, essa valorização foi simbólica, onde o interesse maior era idealizar

a imagem da criança perante a sociedade, indicando assim, o interesse dos adultos

na infância.

A escola foi a segunda instituição que colaborou com os ideais burgueses,

entretanto, não era obrigatória até o século XVIII.

Durante a escolarização das crianças, as atividades desenvolvidas passam a

ter uma ordem natural e a frequência às aulas torna-se obrigatória e através de

normas legais, todos os segmentos da sociedade foram obrigados a frequentá-la.

Com essa atitude, as crianças que trabalhavam como operárias, nas fábricas,

desocupavam seus postos para irem à escola.

Por isso, a literatura infantil foi marcada pelo período da Revolução Industrial,

pois com uma sociedade crescendo através da industrialização, as obras literárias

tornaram-se um tipo de mercadoria.

Houve uma preocupação com as linguagens. Passou-se a ser avaliadas se

estavam de acordo com a escolarização destas crianças.

Depois desta avaliação, estas obras seguiram por modificações, adequando-

as ao modelo da sociedade.

Como falado anteriormente, as primeiras obras publicadas da literatura infantil

surgiram na metade do século XVIII. Antes disso, não existiam obras destinadas

diretamente para crianças, pois no século XVII havia apenas literatura para adultos.

Continuando em suas correções e transformações, estas obras, então, vêm

sendo adaptadas para crianças até chegar ao formato que conhecemos atualmente.

E, por se tratarem de obras vivas, que seguem um apelo cultural popular, em

conformidade, também, com os acontecimentos de sua época, elas continuam

sendo transformadas e atualizadas, até os dias de hoje.

De acordo com Schneider e Torossian (2009), obras literárias como “Contos

da Mamãe Gansa”, cujo título original é “Histórias ou narrativas do tempo passado

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com moralidades”, de Charles Perrault, foram publicadas no ano de 1717, dando

início ao gênero literário infantil.

O poeta e advogado Charles Perrault (1628-1703) foi um dos mais

importantes escritores e precursores na coleta das narrativas dos contos de fadas.

O autor, além de recolher e catalogar as narrativas populares, as reescreveu,

adaptando-as e dando uma conotação de acordo com a necessidade da corte

francesa e do contexto religioso vivido naquela época entre protestantes e católicos.

Preocupou-se em acrescentar procedências e censurou traços da cultura

pagã e de cunho relativo à sexualidade humana, transformando-as em literatura

infantil.

Com isso, agrupando-as uma a uma, fez uma coletânea dessas histórias, que

eram divulgadas, contadas e repassadas culturalmente pelos povos.

Até esse momento, então, essas obras não haviam sido documentadas,

tornando Charles Perrault o pioneiro nesta área.

Repletos de mensagens com moral explícita, os contos de Perrault, até

mesmo, nas versões infantis, são geralmente narrados em apêndices sob a forma

de versos.

Conforme disse Perrault, a mensagem moral de suas narrações tinha o intuito

de orientar e de ensinar aos que a ouviam.

Embora, escrevesse contos de fadas, essas eram personagens não muito

presente em suas histórias. Perrault optou por introduzir figuras humildes, como:

lenhadores, serviçais, aldeões, damas e cavaleiros.

Continuando a análise de Perrault, verificamos outro aspecto muito importante

de seus contos, que são suas escolhas de retratar as belas paisagens francesas,

suas campinas e atmosfera.

“Contos da Mamãe Gansa”, obra mais famosa de Perrault, ficou conhecida

por volta de 1697 e narra uma versão da história de ”Chapeuzinho Vermelho”,

ressaltando no final a vitória do Lobo.

Fazem parte, também dessa coletânea, os contos: “Chapeuzinho Vermelho”;

“A Bela Adormecida no Bosque”; “O Barba Azul”; “O Gato de Botas”; “As Fadas”;

“Cinderela ou A Gata Borralheira”; “Henrique do Topete”; “O Pequeno Polegar”. Em

uma segunda publicação acrescentou mais três contos: “Pele de Asno”; “Grisélidis” e

“Desejos Ridículos”.

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Coelho (2008) explica que não se sabe a verdadeira intenção de Perrault em

redescobrir e recriar estes contos, pois o próprio autor não esclareceu.

Baseado neste fato é importante levarmos em consideração o contexto

histórico em que se encontrava o autor. Vivia na França no século XVII,

caracterizada por um momento de fortes progressos e transformações político-

sociais.

De acordo com a autora, surgiu na mesma época que Charles Perrault, o

intelectual e escritor Jean de La Fontaine (1621- 1695). Um poeta e fabulista francês

que estudou teologia e direito em Paris, mas seu maior interesse sempre foi à

literatura.

Tinha um enorme prestígio na corte francesa, portanto se dedicou ao resgate

de pequenas histórias antigas de cunho moralista, pertencentes à memória popular,

como as fábulas.

Um dos gêneros narrativos mais difundidos em todas as sociedades, as

fábulas, é uma palavra derivada do latim fabulare, que significa conversar ou narrar

e do grego phaó que significa, dizer ou contar algo.

As fábulas são pequenas narrativas escritas em prosa ou em versos, onde se

utiliza a ficção simbólica para transmitir uma lição de moral.

Esta forma narrativa refere-se a diversas atitudes tomadas pelos humanos,

tais como: a disputa entre fracos e fortes; a bondade e a maldade; a gratidão e a

ingratidão; a ganância e a ingenuidade. Tendo como característica principal animais

falantes com comportamento humano.

As fábulas são histórias que remontam à antiguidade. Sendo possível afirmar

que são tão antigas quanto às conversas dos homens, pois já existe referência

destas em textos sumérios de 2000 a.C.

Segundo a autora, La Fontaine procurou fontes documentais antigas: na

Grécia; em Roma; parábolas bíblicas; coletâneas orientais; além de narrativas

medievais ou renascentistas. “[...] paralelamente aos contos maravilhosos, na Idade

Média começam a circular as fábulas gregas de Esopo e as latinas de Fedro”.

(COELHO, 2008, p.47).

Ao final de cada fábula destaca-se uma moral, podendo estar implícito um

provérbio ou não. Como por exemplo, na fábula da “Raposa e a Cegonha”, a moral

da história seria “Nunca faças aos outros, o que não gostas que te façam a ti”; na

fábula “A Cigarra e a Formiga” se torna implícito o eterno confronto entre o prazer e

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o dever; e, ainda, na fábula “O Lobo e o Cordeiro” verificamos o poder do explorador

forte contra o fraco.

Sobre as fábulas de La Fontaine, “[...] Todas alimentadas de uma sabedoria

prática que não envelheceu, pois se fundamenta na natureza humana, e esta, como

sabemos, continua a mesma, através dos milênios”. (COELHO, 2008, p. 28)

Nas fábulas, observam-se erros de comportamento, como a exploração do

homem pelo próprio homem, as intrigas, os desequilíbrios e muitas vezes as

injustiças que aconteciam na vida da corte ou entre os povos.

La Fontaine, durante anos, trabalhou na investigação desses textos antigos e

os colocou em versos, dando-lhes uma forma literária definitiva. Com o nome de

Fábulas de La Fontaine, servem como fonte para diversas adaptações até os dias

de hoje. Outras fábulas de La Fontaine: “O Leão e o Rato”; “A Raposa e as Uvas”;

“Perrete”; “A Leiteira e o Pote de Leite”.

A Literatura Infantil, como gênero, nasceu com Perrault. Entretanto, somente

cem anos depois, na Alemanha, durante o século XVIII, a partir de pesquisas

linguísticas realizadas pelos irmãos Jacob Grimm (1795-1863) e Wilhelm Grimm

(1786-1859) estas histórias puderam ser constituídas como gênero literário,

propagando-se pela Europa e pelas Américas.

Os irmãos Grimm, eram folcloristas alemães, filólogos, estudiosos da

mitologia germânica e da história do direito alemão. As histórias foram oralmente

sendo contadas, e eles estudaram, coletaram todos os textos e as narrativas

populares medievais com origem germânica e francesa, reunindo-as todas.

Em meio a tantos dialetos falados em diversas regiões germânicas, os irmãos

Grimm contribuíram de maneira significativa. “[...] Entregavam-se à busca das

possíveis invariantes linguísticas nas antigas narrativas, lendas e sagas que

permaneciam vivas, transmitidas de geração para geração, pela tradição oral. [...]”

(COELHO, 2008, p. 29).

Pesquisaram dentro das culturas populares, percorrendo a Alemanha e

registrando as narrativas de pessoas humildes, muitas vezes, analfabetas, comadres

de aldeias, velhos camponeses, pastores, barqueiros, músicos, cantores

ambulantes, entre outras pessoas pertencentes ao povo.

Deixaram um rico acervo de histórias, lendas, anedotas, superstições e

fábulas da Germânia.

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Em meio à imensa massa de textos que lhe servia para os estudos linguísticos, os Grimm foram descobrindo o fantástico acervo de narrativas maravilhosas, que, selecionadas entre as centenas registradas pela memória do povo, acabaram por formar a coletânea que é hoje conhecida como Literatura Clássica Infantil. (COELHO, 2008, p.29)

Desta maneira, deram continuidade ao trabalho de Charles Perrault, tornando

estes contos ainda mais aceitos pela sociedade.

Posteriormente, publicaram de forma avulsa, entre 1812 e 1822, dezenas de

contos. Como: “A Bela Adormecida”; “Branca de Neve e os Sete Anões”;

“Chapeuzinho Vermelho”; “A Gata Borralheira”; “O Ganso de Ouro”; “Os Sete

Corvos”; “Os Músicos de Bremem”; “A Guardadora de Gansos”; “Joãozinho e Maria”;

“O Pequeno Polegar”; “As Três Fiandeiras”; “O Príncipe Sapo”.

Em seus contos vislumbramos personagens como madrastas malvadas,

príncipes encantados, casas de chocolate, bruxas perversas, feras, entre outros

personagens singulares.

Em outra época, estes contos foram todos reunidos em um volume

denominado de Contos de Fadas para Crianças e Adultos, os quais hoje

conhecemos como Contos de Grimm.

Os Grimm sofreram influências das ideias cristãs, as quais se fortaleciam na

época romântica, além de ceder à discussão debatida por intelectuais, contra a

crueldade de certos contos.

Em sua segunda edição da coletânea, removeram trechos com muita

violência ou maldade, principalmente os episódios onde tais atos eram praticados

contra crianças.

Com o sucesso desses contos, o caminho para o gênero Literatura Infantil foi

aberto e solidificado.

De acordo com Góes (1991) nas narrativas estudadas foram encontrados

indícios que o movimento romântico, o qual se instaurou na época, deu aos contos

um sentido mais humanitário.

Acrescentando, o autor ainda afirma que com isso, a violência vivenciada nos

contos de Perrault abre espaço ao humanismo que, sutilmente, se transmite nas

histórias escritas pelos irmãos Grimm, valorizando a solidariedade e o amor ao

próximo.

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No século XIX, o acervo da Literatura Infantil Clássica foi contemplado pelo

escritor e poeta dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875), que continuou a

tarefa dos irmãos Grimm, escrevendo suas próprias histórias.

Andersen estava em sintonia com os ideais românticos que exaltam a

sensibilidade, a fé cristã, os valores populares, a fraternidade e a generosidade

humana. Com isso, torna-se a grande voz narrativa para as crianças, com

linguagem do coração, transmitindo a elas um ideal religioso que procura ver a vida

como um “vale de lágrimas” que todos temos que passar para chegar o céu.

Andersen passou à história como a primeira voz autenticamente “romântica” a contar histórias para as crianças e a sugerir-lhes padrões de comportamento a serem adotados pela nova sociedade que naquele momento se organizava. [...] (COELHO, 2008, p. 31).

Considerado por muitos “o pai da Literatura Infantil“, Hans Christian Andersen,

ficou em evidência justamente por fazer seus contos diretamente para as crianças.

Ao contrário de outros autores da época, cujas obras foram adaptadas à realidade

da criança, Andersen criou histórias com destino para o público infantil.

Segundo Coelho (2008) os contos de Andersen são considerados os mais

tristes, pois muitos não possuíam final feliz. Andersen utiliza elementos que falam

sobre a necessidade de se compreender a vida como fosse um caminho, onde

muitas vezes se beira a tortura e que se deve percorrê-lo com dignidade e

integridade para que ao final o céu seja alcançado.

Gostava de mostrar para as crianças que para alcançar objetivos, era

necessário passar por provações e caminhos difíceis. Para enfim, seu propósito ser

alcançado.

Conforme a autora, talvez se consiga entender o tom de nostalgia na maioria

de seus contos devido aos momentos de absurdos contrastes, no qual viveu o autor.

Na época de sua infância a Dinamarca estava sob o domínio de Napoleão (1805-

1815). Esse período foi marcado pela exaltação nacionalista e por expansão

econômica, dando partida ao progresso industrial que se iniciava, onde a dualidade

ficou evidente entre a abundância e a pobreza.

Com grandes influências das histórias narradas por seu pai, um humilde

sapateiro, Andersen baseou-se no sofrimento que observou em crianças

desfavorecidas, em situação de pobreza para servir de inspiração para seus contos.

Retratou, de forma espetacular, os anseios da população, tornando suas histórias

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em crônicas tristes. Algumas delas, com fatos da sua própria realidade.

Começando, assim, o que hoje conhecemos como literatura infantil.

Coelho (2008) cita que em suas obras Andersen buscava enfatizar valores

ideológicos difundidos pelo romantismo. Destacam-se:

QUADRO 01 – Contos e Valor Ideológico de Andersen

CONTOS DE ANDERSEN VALOR IDEOLÓGICO PASSADO PELO AUTOR

A Pastora e o Limpador de Chaminés Defender os direitos iguais; Anular as diferenças de classe.

O Patinho Feio; A Pequena Vendedora de Fósforo.

Valorizar as pessoas por suas qualidades e não por suas particularidades ou status sociais.

O Sapo; O Pinheirinho; A Sereiazinha

Necessidade de expandir seu próprio Eu; ânsia de conhecimento de novos horizontes; aceitação do si mesmo pelo outro.

O Soldadinho de Chumbo; O Homem da Neve

Entendimento da escassez da vida, da incerteza dos seres e das situações.

O Rouxinol e o Imperador Fé na superioridade do que é natural sobre o artificial.

Os Cisnes Selvagens; Os Sapatinhos Vermelhos

Incentivar o fraterno e a caridade cristã; a resignação e a paciência com a vida.

Nicolau Grande e Nicolau Pequeno; A Roupa Nova do Imperador.

Satirizar as fraudes e as mentiras humanas.

A Menina que Pisou no Pão; Nicolau Grande e Nicolau Pequeno; Os Cisnes Selvagens

Condenar a arrogância, o orgulho e a maldade contra os fracos e aninais; contra a ganância.

Encontrados em todos os contos, reforçando o ideal feminino e o tradicional: Ex.: Pura ou Impura; Bruxa ou Fada; Mãe ou Madrasta.

Obediência, pureza, modéstia, paciência, recato, submissão e religiosidade como virtude da mulher.

FONTE: Coelho (2008)

As obras de Andersen ressaltam questões importantes: a criança como

personagem e, na maioria das vezes, com o papel principal; brinquedos que ganham

vida; sereias; fadas e animais fantásticos.

Andersen tornou-se a voz “romântica” a contar histórias para as crianças,

sugerindo padrões, como regras a serem adotadas pela nova sociedade que passou

a se formar. Devido às guerras brutais existentes na idade Média, toda a violência

vivida, na época, era refletida nos contos.

Com a passagem da era clássica para a romântica, percebe-se que os

vestígios pagãos são apagados pelo espiritualismo cristão.

Portanto, todos esses autores tiveram uma colaboração significativa para este

tipo de literatura infantil. Coelho (1991) traz uma colaboração importante sobre o

objetivo de uma história:

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Histórias são narrações de acontecimentos ou situações significativas para o conhecimento da evolução dos tempos, culturas, civilizações, nações etc. Não é mera exposição de fatos, mas resulta de uma indagação inteligente e critica dos fenômenos que tem por fim o conhecimento da verdade. (COELHO, 1991, p. 85).

Tendo um significado maior para as crianças, os contos de fadas pertencem a

Literatura Infantil, mas nem por isso deixam de encantar pessoas de diversas faixas

etárias no mundo inteiro.

O aspecto fantasioso e lúdico que hoje os contos estão envolvidos surgiu da

necessidade em minimizar enredos e isto vem se modificando até os dias de hoje.

Eles vêm de diversas maneiras sendo adequados à sociedade e à época em que

vivemos.

Com isso, quando analisamos desde sua origem, observamos as diversas

alterações que este gênero sofreu no decorrer do tempo. Essas modificações foram

feitas para diminuir o impacto negativo presente nas histórias originais.

Hoje em dia, estes contos são reproduzidos de várias maneiras. Além da

literatura são transmitidos através do cinema, teatro e música. Sendo adaptados de

acordo com a realidade atual e aos valores morais da época.

As histórias repletas de amor e esperança que conhecemos são fruto de uma

preocupação com as crianças que se perpetua até a atualidade.

Assim, é possível perceber que os contos de fadas são histórias muito atuais,

pois todas são alimentadas de sabedoria, fundamentando-se na natureza humana,

nos sentimentos como: medos, angústias, esperanças e alegrias.

O que pode ser afirmado com certeza, é que clássicos ou modernos, os

contos infantis despertam a fantasia e a imaginação das crianças, passando através

dos séculos, sendo admirados e perpetuados até os dias atuais.

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3. IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS

Os contos de fadas ficaram esquecidos durante muito tempo. Foram

desprezados e postos de lado, alegando-se que eram brutais e irreais, por causa de

suas narrativas serem sempre muito fortes.

Sabe-se que temáticas como contos de fadas, são de extrema importância

para o desenvolvimento de uma criança, da sua imaginação, criatividade,

personalidade e posicionamento na sociedade em que vive.

A importância dessas histórias permanece viva até os dias de hoje, pois têm a

função de ajudar as crianças em seus conflitos internos, os quais passam durante o

processo de crescimento.

De acordo com isso, temas que mostram que nem sempre existe um final

feliz; que nem tudo que acontece é como gostaríamos; que existem pessoas com

atitudes boas ou más; entre outras coisas, mostram a importância dessas histórias

no trabalho com crianças.

Através de narrativas ricas em conteúdo, consegue-se ampliar a visão da

criança, e isso, se tornará tão forte, que levará dentro de si até sua vida adulta,

facilitando viver no mundo que a cerca.

Neste capítulo farei considerações sobre as características dos contos de

fadas e a forma como se apresentam, para depois falar a respeito da importância

deles para a formação das crianças.

3.1 Características dos Contos de Fadas

Bettelheim (2016) mostra que os contos de fadas são excepcionais, não só

como forma literária, mas como obra de arte de fácil entendimento para as crianças.

O autor ainda certifica que o significado que os contos de fadas despertam

em cada um, diferenciam-se de pessoa para pessoa, de acordo com o momento de

sua vida.

Com o passar do tempo e a valorização da infância, os contos de fadas foram

modificados para compor a vida e a imaginação das crianças. Desta forma, foram

sendo construídas histórias inspiradas no contexto social e histórico vivido em cada

época.

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Tendo origem na Europa no final do século XVII, tinham como característica

predominante personagens que enfrentavam grandes desafios e batalhas com o

intuito de vencer o mal. Bettelheim contribui dizendo:

Essa é exatamente a mensagem que os contos de fadas transmitem à criança de forma variada: que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável é parte intrínseca da existência humana – mas que, se a pessoa não se intimida e se defronta resolutamente com as provocações inesperadas e muitas vezes injustas, dominará todos os obstáculos e ao fim emergirá vitoriosa. (BETTELHEIM, 2016, p.15).

Outra característica importante é a presença fundamental dos heróis,

despertando nas crianças uma identificação amigável com este personagem.

[...] Não é o fato de a virtude vencer no final que promove a moralidade, mas sim o fato de o herói ser extremamente atraente para a criança, que se identifica com ele em todas as suas lutas. Devido a essa identificação, ela imagina que sofre com o herói suas provas e tribulações, e triunfa com ele quando a virtude sai vitoriosa. A criança faz tais identificações inteiramente por conta própria, e as lutas interiores e exteriores do herói lhe imprimem moralidade. (BETTELHEIM, 2016, p.17).

Para o autor os contos de fadas despertam sempre um dilema existencial,

fazendo com que a criança, de acordo com suas experiências, conclua se aquela

situação é ou não é importante para ela, ou seja, a criança fará de forma simbólica

uma análise pessoal e sentirá a necessidade ou não de se identificar com os

personagens daquela história, podendo se apropriar dela e descobrir soluções para

seus conflitos internos.

Percebe-se, então, a extrema importância e influência que estes contos

podem ter na vida dos pequenos, pois são capazes de despertar nas crianças

significados e diversas formas de sentimentos.

Outra característica importante deste tipo de literatura infantil é a forma como

pode ser apresentada.

Quando fazemos uma leitura para crianças, podemos contar aquela história

de diversas maneiras, enfatizando certos enredos ou dando valor a alguns

personagens. Desta forma, pode-se interferir na história de várias formas. Portanto,

os contos de fadas são histórias que nos permitem fazer interpretações diferentes,

sendo capazes de despertar muitos significados para quem está ouvindo.

As interpretações feitas por uma criança podem ser manifestadas de acordo

com a época ou com as circunstâncias em que se encontram, algum momento vivido

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por ela, baseando-se no que está acontecendo ao seu redor; em algum fato

marcante não compreendido; em sua relação com seus familiares e amigos ou em

sua vida escolar.

Concluímos, assim, que a maneira como são lidas estas histórias colaboram

para que esta criança consiga fazer uma interpretação melhor do que está

acontecendo ao seu redor e consigo mesma.

Os contos de fadas possuem uma simbologia fixa, já estruturada, com

personagens simples e de fácil compreensão pelas crianças, os quais apresentam

qualidades ou defeitos que se destacam excessivamente, repetindo-se em muitas

histórias.

Os principais personagens presentes nestas narrativas são: os pais; a

madrasta; a avó; os reinos; os trabalhadores que entram em alguns contos

representando o povo que sofre e batalha; as bruxas; os monstros e as fadas.

Animais, também, podem se tornar personagens importantes nestes contos, assim

como, certos objetos falantes ou inanimados que ganham vida, como: espelhos;

vassouras; bules; xícaras; sapatos de cristal; entre outros. Todos com o intuito de

despertar a imaginação, propagando a magia.

Encontra-se, também, uma representação do orgulho, modéstia, covardia,

beleza, feiura, mágica, bondade ou maldade. Porém, o destaque da simplicidade e a

presença de qualidades ou defeitos reais favorecem a identificação das crianças

com os contos.

Há expressões marcantes, usadas para referir-se ao tempo e lugar onde

ocorre a história, as quais são características dos contos de fadas, tais como: “Num

certo reino”; “Era uma vez”; “Em um lugar tão distante”, “E viveram felizes para

sempre”. Assim, o ambiente torna-se confuso e distante, nunca detalhado

especificamente, transparecendo um universo maravilhoso e mágico.

Nos contos de fadas, a magia é tamanha e, por isso, tapetes voam, galinhas

põem ovos de ouro, pés de feijão crescem até o céu, trazendo a tona o que não

acreditamos como verdadeiro. E esta magia inspira à fantasia e a imaginação da

mente humana.

Estas histórias iniciam-se com narrativas de situações de equilíbrio,

modificadas pelo conflito vivido pelo herói. Em seguida, com a ajuda de objetos ou

seres mágicos, o personagem principal vence as dificuldades, garantindo a vitória do

bem contra o mal, dando um final feliz para história.

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Segundo Cashadan (2000) pode-se dividir os contos de fadas em quatro

etapas. São elas: 1ª) A Travessia - a viagem ao mundo mágico; 2ª) O encontro com

o personagem do mal ou o obstáculo a ser vencido; 3ª) A dificuldade a ser superada

e a conquista - destruição do mal; 4ª) A celebração da recompensa.

A primeira etapa chama-se de travessia, onde o herói vive um conflito e é

levado a um local diferente, acarretando situações mágicas com a presença de

seres estranhos.

Em busca de uma solução para os seus problemas, o personagem é

deslocado para um ambiente, que até então, era desconhecido por ele. Em muitos

contos esse local é simbolizado por uma floresta ou um bosque, onde vivem os

animais falantes, os objetos encantados, os ajudantes bondosos, entretanto

também, moram por lá os animais perigosos e as feiticeiras ou bruxas.

A infância é um período onde o “novo” assusta, causando o medo que torna-

se motivo de apreensão, os quais são caracterizados pelo desconhecido. Exemplos

disso são: mudança de moradia; medo do escuro; mudança para outra escola, morte

de um dos pais ou ente querido; mudanças do seu próprio corpo; entre outras

situações que tragam para crianças conflitos e preocupações.

Portanto, nesta etapa de travessia, a mensagem que se tenta passar para o

leitor; é sobre crescimento e amadurecimento. Ao atravessar a floresta ou passar

pelo bosque o personagem mostra o quão importante na vida é superar desafios, a

fim de atingir determinado objetivo no final. Corso e Corso comentam a respeito

disso no trecho abaixo:

Boa parte das histórias infantis ocorre na floresta ou inclui a tarefa de atravessá-la. É o espaço por onde passa a missão de sair para o mundo para provar algum valor, como ser capaz de sobreviver aos seus perigos, trazer um objeto ou tesouro, tarefas mais usuais dos heróis dos contos de fadas. (CORSO, CORSO, 2006, p.37).

Após a etapa de travessia origina-se a segunda etapa caracterizada pelo

encontro com um ser perverso. Na maioria dos contos este personagem seria uma

bruxa ou a madrasta má; um dragão; um mago; um monstro ou algum ser

sobrenatural com poderes fantásticos capaz de ser ameaçador. Nesta situação é

representada a luta do bem contra o mal.

Atribui-se a este personagem maléfico o obstáculo que a criança precisa

encarar, para no fim alcançar seu objetivo. Desafiar o mal simboliza a realização de

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tarefas difícieis, superação de obstáculos ou conflitos interiores da própria criança.

Enfrentando-os ela é capaz de superar-se.

Nesse momento, chega-se a terceira etapa - a conquista, destruição do mal.

Ao lutar contra o que lhe oportuna, o herói ou heroína da história, consegue destruí-

lo. Isso representa para a criança, a luta necessária contra o perturbador, que a

incomoda. Para assim, triunfar.

Essa vitória, nos contos de fadas, é representada muita das vezes através da

salvação de uma princesa ou de algum objeto de valor significativo.

Por último, chegamos à etapa da celebração da conquista.

Os contos de fadas se encerram geralmente com uma comemoração, seja,

através de um casamento ou uma reunião de família, onde todos estão felizes com a

vitória do bem, terminando com um final feliz.

Existe um conflito de opiniões a cerca do que pode ou não ser considerado

um conto de fadas.

Segundo Bettelheim (2016) para que uma história seja considerada um conto

de fadas é fundamental que existam bruxas ou fadas, heróis ou heroínas, príncipes

ou princesas; necessita da luta do bem e do mal e por fim a resolução de conflitos.

Para este autor obras como “O Patinho Feio” e “Cachinhos Dourados” não

podem ser consideradas como um conto de fadas.

Corso e Corso (2006) nos comtempla com uma opinião diferente.

Demonstrando que, nestas histórias, existem elementos que as tornam um conto.

Como por exemplo, animais falantes com atitudes humanas, que por sua vez

dialogam a respeito de sentimentos, dando uma característica peculiar a estes

personagens, tornando-os mágicos, pois se diferenciam da realidade.

Enquanto para Bettelheim (2016) são considerados contos, as histórias onde

há confrontos físicos, batalhas e vitória nas lutas. Para Corso e Corso (2006) contos

são histórias que devem levar o leitor a superar seu próprio interior, fazendo-o

conflitar consigo mesmo, com suas angústias e aflições.

Um exemplo deste tipo de história seria “O Patinho Feio”, onde o personagem

está em todo momento em conflito com seu “Eu”, rejeitando-se por ser diferente dos

demais patos. Contudo, no fim, quando resolve encarar a realidade, descobriu-se

igual a outros, os quais eram cisnes. Percebeu que havia encontrado seu habitat, o

que o fez feliz por ter lutado, superado as angústias do seu próprio interior.

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De todas as formas, os contos de fadas são capazes de transmitir de forma

lúdica e fantasiosa situações presentes no cotidiano. Como, dentre outras coisas:

momentos perigosos; medo do desconhecido; obstáculos; dilemas; dificuldades;

conflitos interiores.

Nestas histórias se dá um grande valor ao bem vencendo o mal, com a vitória

sendo alcançada no final.

Contudo, sabe-se que na realidade não é sempre assim.

Com a vivência a criança vai se constituindo como indivíduo, amadurecendo e

aprendendo a lidar com seus próprios conflitos. Reconhecendo que nem sempre se

ganha e que perder faz parte da vida, e muitas das vezes, necessário para o bem

estar, porém saber lidar com essa perda é fundamental para a formação do

indivíduo.

3.2 Importância dos Contos de Fadas para Formação da Criança

Estas histórias vêm sendo contadas há muitos anos. São extremamente

importantes para a formação e aprendizagem das crianças.

Perpetuam-se, há séculos, na imaginação dos indivíduos e cada vez que são

transcritas para o papel, outros valores são passados, pois como anteriormente foi

dito, são fontes vivas e como tais, sofrem alterações de acordo com os valores

humanos vigentes na época.

Despertam interesse e encantamento em crianças e adultos até os dias de

hoje, porque o mundo maravilhoso que envolve estas histórias são o atrativo

principal, contribuindo com o seu valor duradouro.

Seja contando ou escutando essas histórias, contribuímos, significativamente,

para aprendizagem.

Ao mergulhar neste universo percorre-se um caminho de diversas

possibilidades, com várias descobertas e um melhor entendimento do mundo. Sendo

assim, Coelho (2008), atesta que os contos abrem caminhos para a curiosidade e

imaginação da criança, que logo é respondida através das próprias histórias.

Os contos de fadas são histórias que despertam o prazer em ouvi-las, contá-

las e recriá-las, trabalhando a criatividade, a imaginação, a brincadeira, leitura,

escrita, música, sendo de extrema importância para a formação das crianças.

É comum ouvirmos uma criança pedir para que façam a leitura de um mesmo

conto por diversas vezes. Este fato mostra a identificação desta criança com a

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história, que se torna um veículo para desenvolver a oralidade e comunicação,

ajudando-a a lidar com os conflitos internos que enfrentam no processo de

crescimento.

De acordo com Pikunas (1979) a idade entre dois e três anos é caracterizada

pela leitura do realismo mágico, tornando-se a idade dos contos de fadas. É o

período em que a criança move-se pela fantasia.

O desenvolvimento da imaginação da criança aumenta aos cinco anos. Nesta

fase elas mostram interesse por atividades que envolvam o “faz de conta”,

espetáculos de televisão e atividade de adultos.

As brincadeiras podem ser divididas em três etapas: 1ª) Brincadeira de

exercício; 2ª) Brincadeira simbólica e a 3ª) Brincadeira de regras.

A brincadeira de exercício acontece quando a criança gasta energia física. A

simbólica, quando ela brinca de casinha, boneca ou qualquer brincadeira que

envolva um faz de conta, estimulando sua imaginação e, em brincar de regras usa-

se o raciocínio e a lógica, os quais ganham um espaço maior, fazendo com que a

criança passe a ter contato com as regras.

Em todas essas etapas respeitam-se as fases de desenvolvimento da criança.

Histórias como os contos de fadas podem ajudar, pois atuam, diretamente, no

desenvolvimento da imaginação, tornando a criança capaz de entender e resolver

seus próprios conflitos.

O elemento essencial para estas histórias é o universo maravilhoso, pois

através dele há um misto de prazer e emoção proporcionando aos personagens

atuarem de forma simbólica no inconsciente da criança, ajudando a resolver conflitos

presentes no seu dia-a-dia.

Estas histórias contribuem de diversas formas para a formação de uma

criança, pois através delas percebem-se aspectos sobre si e sobre o mundo em sua

volta.

A divisão dos personagens em boas ou más; belas ou feias; fortes ou fracas;

ricos ou pobres contribui para que certos valores e condutas do ser humano sejam

entendidos em uma sociedade.

A criança confia no que ouve em um conto de fadas, pois a visão de mundo

apresentada por eles assemelha-se com a sua. Com isso, identifica-se com os

personagens e faz comparações do que observa ao seu redor com o que está

escrito nestas histórias.

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Bettelheim (2016) enfatiza a importância das versões originais dos contos

para formação da criança como indivíduo. De acordo com ele, tirar qualquer parte

destas histórias quebra a simbologia oferecida por elas. Além disso, é importante

esse contato original para o conhecimento da vida.

Em contrapartida, segundo o autor, alguns pais receiam que os contos

afastem as crianças da realidade. O medo seria dos filhos se identificarem com

bruxas, ogros e madrastas, por exemplo, e acabarem assimilando isto de uma forma

negativa, trazendo para sua realidade aspectos ruins.

Muitos pais valorizam somente a realidade e imagens de natureza boa e

otimista. Desta forma, com o passar do tempo os contos vêm adaptando-se cada

vez mais, para se tornarem agradável aos pais.

De certa forma o contato com o desconhecido, ajuda a criança a encarar e

superar seus próprios medos e desafios da vida. A vida é feita de situações

agradáveis e desagradáveis, e histórias assim podem auxiliar as crianças a lidar

com sentimentos fortes e enxergar o mundo que as cerca de forma mais clara.

Durante o desenvolvimento da criança, existe outro fator importante que

merece atenção, a relação social que ela mantém fora da escola, principalmente em

casa.

Os pais precisam adquirir o hábito de contar histórias, a fim de despertar o

interesse e prazer nos pequenos. Para o autor é necessário que os pais apresentem

aos filhos algumas dessas histórias até que em certo momento a criança se

identifique com alguma delas.

A criança precisa sentir que seus pais se emocionam e se divertem o tanto

quanto elas quando ouvem as histórias dos contos de fadas.

Entretanto deve-se prestar bastante atenção, pois a criança só se identifica

com um conto de fadas quando ela mesma descobre o seu significado.

Nenhum adulto deve mostrar o porquê dessas histórias serem interessantes,

pois isso acabará com o encantamento por parte da criança.

Explicar para uma criança porque um conto de fada é tão cativante para ela, destrói, acima de tudo, o encantamento de história, que depende, em grau consideravelmente, de criança não saber por que está maravilhada. E ao lado do confisco deste poder de encantar vai também uma perda de potencial da história em ajudar a criança a lutar por si só e dominar exclusivamente por si só o problema que fez a história estimulante para ela. As interpretações adultas, por mais corretas que sejam, rouba da criança a oportunidade de sentir que ela, por sua própria conta, através de repetidas

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audições e de ruminar acerca da história, enfrentou com êxito uma situação difícil. Nós crescemos, encontramos sentido na vida e segurança em nós mesmos, por termos entendido ou resolvido problemas por nossa conta, e não por eles nos terem sido explicados por outros. (BETTELHEIM, 2016, p. 28 e 29).

Ainda de acordo com o autor, a história ao ser contada para uma criança deve

despertar curiosidade, para prender sua atenção. No entanto, ela não pode sentir

que ao contar a história, estão tentando ajudá-la a resolver seus próprios conflitos,

pois com isso, ela sente-se invadida.

É necessário estimular-lhe a imaginação através de diversas histórias, para

que sozinha ela faça sua identificação e trabalhe consigo mesma, aprendendo a

lidar com suas emoções e ansiedades, reconhecendo e solucionando suas

dificuldades.

Sabe-se bem, que este universo mágico e fabuloso presente nos contos de

fadas, os quais envolvendo bruxas, gigantes, anões, fadas, príncipes, princesas,

caçadores, madrastas, feiticeiras, animais, bosques, florestas, castelos, reinos e

milhares de outras características destas histórias atraem não somente as crianças,

mas os adultos também.

Estas histórias carregam em suas narrativas um grande conteúdo cultural e

ideológico.

Para as crianças, são de fácil entendimento, pois a linguagem utilizada é

voltada para sua idade, podendo ser um instrumento forte para educação,

contribuindo com a sua subjetividade e desenvolvimento.

Para os adultos, o clima de fantasia e ludicidade que permeia os contos de

fadas são atrativos como uma fuga da sua própria realidade ou uma possibilidade de

ação. Este tipo de literatura agrada aos mais velhos justamente por tratar de um

universo em que tudo é possível.

O ser humano busca através da imaginação a realização de muitos sonhos.

Desta forma, não se sabe até que ponto a imaginação pode chegar.

Através da fantasia é possível tornar realidade vontades existentes no interior.

Com isto, segundo Coelho (2008), os contos de fadas deixaram de ser

generalizados somente como entretenimento infantil e passam a contribuir para

formação de ideias, desenvolvimento da imaginação, busca de sonhos, idealização

de projetos, ajudando no desenvolvimento humano.

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Os contos de fadas em seu princípio eram as narrativas de um povo,

baseadas nas frustrações, anseios, revoltas e vontades da população da sociedade

medieval. Com o passar dos séculos, sofreram tantas transformações com a

influência da igreja no período da revolução industrial, sendo utilizados na educação

e moralização das crianças.

Após tantos séculos, estão cada vez mais vivos, sendo muito valiosos.

Hoje em dia, assumiram um caráter ainda maior que todas as outras vertentes

pela qual já passaram. Contribuem diretamente para o desenvolvimento da

imaginação, favorecendo seu caráter e personalidade.

Ao mesmo tempo, enquanto divertem e entretêm, são capazes de

proporcionar descobertas significativas em relação à resolução de conflitos interiores

ou problemas no seu cotidiano, incentivando-as a enfrentar obstáculos e o medo do

desconhecido.

Quem diria que este tipo de literatura, que começou com base na sabedoria

popular, se tornaria de extrema importância no processo educacional.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Grandes expectativas, em relação ao tema escolhido, ocorreram durante o

estudo monográfico. Foi incrivelmente perceptível que falar sobre a literatura infantil,

principalmente, os contos de fadas, exige-se responsabilidade, leitura e muito

compromisso.

Esse trabalho foi construído com uma abordagem de referencial teórico, e

procurou destacar as principais fontes sobre a origem, o desenvolvimento e a

contribuição dos contos de fadas para a formação da criança ao longo dos séculos.

De forma breve, buscou-se explicar, a contextualização histórica dos contos

de fadas, de onde e como surgiram, quais os principais autores e inicialmente, a

quem eram destinados. Constatamos que não nasceram voltados para as crianças,

mas sim, ao longo dos séculos, sofreram mudanças que os tornaram literaturas

infantis.

A pesquisa permitiu compreender que contar histórias não é apenas abrir um

livro e ler várias palavras ou mostrar figuras contidas nos mesmos às crianças, e

sim, despertar sua curiosidade, estimulá-la, desenvolver seu intelecto e suas

habilidades, porque enquanto a criança se diverte ouvindo aquele conto de fadas, o

desenvolvimento de sua imaginação está sendo favorecido.

Ficou claro que nas histórias o encantamento, não vem do significado lógico

de um conto, ou seja, uma moral subentendida. O próprio conto em si pode ser

considerado uma obra de arte que pode ter um significado distinto em cada criança.

Outro aspecto, muito relevante, verificado no decorrer da pesquisa é que as

crianças se encantam pelos contos de fadas porque eles as encaminham para a

descoberta de sua identidade e comunicação, além de também sugerir experiências

que são necessárias para desenvolver ainda mais sua formação.

Tomando por base, todas as discussões realizadas no contexto teórico deste

trabalho, tornou-se claro que os contos de fadas contribuem, significativamente, para

a formação das crianças, considerando o aspecto cognitivo e o desenvolvimento de

sua imaginação.

Assim, foi possível compreender que o trabalhar com a fantasia dos contos de

fadas, é algo de fundamental importância no processo de aprendizagem das

crianças, porque favorece a socialização e o desenvolvimento das habilidades.

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Esse encantamento acontece porque as crianças vivenciam nelas

sentimentos e emoções que são passados através dos diversos personagens, os

quais dramatizam situações do dia-a-dia ou das relações entre as pessoas que são

identificadas e percebidas diretamente pelas crianças, que ampliam seus

conhecimentos, pois os enredos retratam formas diferentes de pensar, agir e ser.

Os contos de fadas são histórias que, embora sejam antigas, produzem nas

crianças o desenvolvimento pleno de aguçar o interesse e a imaginação. Seu enredo

possui personagens e uma estrutura simples que favorecem a identificação das

crianças com as narrativas e ajudam na resolução dos conflitos internos que estejam

enfrentando no momento.

Conclui-se que os educadores estarão melhores preparados para trabalhar

com crianças, se tiverem conhecimento da importância que os contos de fadas têm

para o desenvolvimento infantil.

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REFERÊNCIAS

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