175
Cristina Saenger Ximenes Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas Dissertação apresentada ao Departamento de Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas como requisito parcial para a obtenção do titulo de Mestre em lingüística. Orientador: Prof. Dr. Jairo Morais Nunes Universidade Estadual de Campinas Instituto de Estudos da Linguagem 2002

Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

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Page 1: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Cristina Saenger Ximenes

Contração de Preposição em

Estruturas Coordenadas

Dissertação apresentada ao Departamento de

Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem

da Universidade Estadual de Campinas como

requisito parcial para a obtenção do titulo de Mestre

em lingüística.

Orientador: Prof. Dr. Jairo Morais Nunes

Universidade Estadual de Campinas

Instituto de Estudos da Linguagem

2002

Page 2: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

• '

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA IEL - UNICAMP

Ximenes, Cristina Saenger X41c Contração de preposição em estruturas coordenadas I Cristina

Saenger Ximenes.-- Campinas, SP: [s.n.], 2002.

Orientadores: Jairo Morais Nunes Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas,

Instituto de Estudos da Linguagem.

1. Gramática gerativa. 2. Minimalismo. 3. Orações coordenadas. 4. Morfologia. L Nunes, Jairo Morais. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. III. Título.

ii

Page 3: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Jarro Morais Nunes (IEL/UNICAMP)

Orientador

Profa. Dra. Charlotte Marie Chambelland Galves (IEL/UNICAMP)

Profa. Dra. Evani de Carvalho Viotti (USP)

Profa. Dra. Mary Aizawa Kato

Suplente

e

111

Page 4: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Por rmior que seja a minha aUdez de conl:xrirrmto, não pc5so extrair das coisas rruis do que o que

já m: perterx:e - o que é das cut:ra; WI11:ÍJ1ua rrlas.

v

Page 5: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

A Alexandre, grande amor que aconteceu na minha vida.

E a Ana, gmnde amor que nasceu da minha vida.

Vll

Page 6: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Agradecimentos

Poucas coisas, senão nada na vida, conseguimos fazer sem a ajuda de outras pessoas.

Com essa dissertação não foi diferente. Agradeço aqui a todos os que estiveram comigo em

algum momento tomando esses três anos de mestrado mais agradáveis. Em particular,

agradeço:

../ à F APE SP, pelo auxílio finarreiro m dois pri,rriim ara desse m:strada

../ a f airo N WES, trm orientador e m:stre. Seus ensÍ11arr1!nl:a, irm1tiw e a:rfiança

faram.fimdam;ntais para a mdização dessa dissertaçãa

../ à prifessara OJariate Galw pelas aulas, na waduaçio e no m:strado, que tanto

cantrihuíram para a minha farrrnçia T anWn par estar presente m rrorrmta; de

desespera

../ à prifessara E mni Viati pela presença e cont?i.buú;ão na qualifo;:u;ão e na dtfesa.

../ à prifessara Mary Kato pela ensÍ11arr1!nl:a em sala de aula e fora dela. E mrrbfm

pela cont?i.buú;ão na qualifo:açia

../ à minha wande arràgp F lá'l.ia, pela arrázade, wrrpn:ensão e carinho. E par cuidar da

minha filha quan::lo eu tinha que assistir aula e par nttrK:a ter redamulo parque o

prifessar aca/;mp, a aula depas das 6 haras da tarde.

../ 0Jnv não pcx/eria faltar, awak;o de roração às Meninas, que, m:srm quarrlo estão

/m;J:, são presença inpartante e OJI1St4nte em txxia C6 rrorrmta;. Cimgpda A na

aíudia, WrigpdaBrerda, Wrigpda Cynthia, Wrigpdajéssica, WrigadaSirrl:n.

../ Um awada:im:nto esproal às minhas queridas anigps A na Paula e E mni. A na

Paula par m! curi:r em! falar nas largas wg::m a São Paulo, e E mni pela presença

tão awadáw que ela sinplesm!nte é

../ aa trEUS crle;ps de ansa A lg;ms tomaram as aulas rrnis awadtf:reis e interessantes,

cut:rr:s, quase insupartáu:l, rrns prn:isarms de txxia eles para urru g:nuína aula de

IX

Page 7: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

sintAxe Então, obrigada Síhia, Tdmz, Maria Oara, Hely, Ltrrdinha, FláUa,

M ôniat, Mateus, Manuel, É rica, A ih<, Mamei, Irê, juanito e ad:rrF que pan.entura

eu tenha m: esqurodo de elencar.

../ ao Mmrellinho pfia amizade e a:npanheirisrm.

../ Cbrir;u:la A lê, pfia dedicação e carinho am que ux:ê atida das suas du:ts criarç;s.

Sem a sua ajuda e armr eu não~ aqui.

../ à ninha filha A na, que m:srm sem sakr, foi um parto de descanso, às uzes par um

terrpo loJw dermis .

../ aa m:us pais, ();WJ!do e Dinah, de quem eu aprmii quase tudo o que eu sei. Eu sei

que essa dissertação é rmtiw de rmito argu/ho para eles .

../ aa m:us irmia;, juli.ana, Isabl e ]aio Via:nte par seremfam!li.a.

../ aa m:us sc.gm, Seb:istião e Re;jna, e aa m:us atnhada, Guilherm:, Daniel,

Wágn:r e Renato, par m: damn urm fam!li.a em Carrpinas.

X

Page 8: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Resumo

Esta dissertação analisa a contração da preposição em ambientes de

coordenação. A análise proposta está baseada na teoria de Princípios e

Parâmetros, mais especificamente, no Programa Minimalista conforme

desenvolvido por Chornsky (1995).

As preposições podem ser divididas em quatro grupos conforme sua

aparição nos termos coordenados: (i) casos em que a preposição pode aparecer

apenas no primeiro termo coordenado ou nos dois termos coordenados, como

exemplificado em (1); (ü) casos em que a preposição pode aparecer apenas no

primeiro termo coordenado ou nos dois termos coordenados, mas a segunda

preposição não pode estar presente na sintaxe, como exemplificado em (2); (ili)

casos em que a preposição é obrigatória nos dois termos coordenados e as duas

preposições têm que ter sido inseridas na sintaxe, como em (3); e (iv) casos em

que a preposição é obrigatória nos dois termos coordenados e pode ter sido

inserida tanto na sintaxe quanto na morfologia, como em (4):

(1) a. Eu conversei com o João e a Maria.

b. Eu conversei com o João e com a Maria.

(2) a. Não gosto da idéia do João e a Maria comprarem o livro.

b. Não gosto da idéia do João e da Maria comprarem o livro.

(3) a. *A Ana saiu sem mim e você.

b. A Ana saiu sem mim e sem você.

(4) a. *Eu me lembrei do João e a Maria.

b. Eu me lembrei do João e da Maria.

Xl

Page 9: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

O caso em (1) é analisado por Nunes (2001, a sair) e Hornstein e Nunes

(2002) como sendo derivações com numerações diferentes. Em (la) a numeração

contém apenas uma preposição e em (lb), a numeração contém duas

preposições. Esta dissertação identifica três outros casos, como especificado

acima. Seguindo a teoria da Morfologia Distribuída (Halle e Marantz 1993), a

proposta apresentada é que a preposição, quando contraída com o determinante,

como nos casos em (2b) e (4), sofre concatenação na morfologia. O Requerimento

de Paralelismo exige que a operação ocorra nos dois termos coordenados, se tiver

ocorrido em um deles e é por essa razão que a preposição precisa ser repetida

nesses casos. Para os casos em (3), a proposta é que a preposição precisa estar

presente nos dois termos coordenados por exigência dos pronomes, que

precisam ser fortes para serem coordenados.

Abstract

This thesis analyzes preposition contraction in coordination. The analysis

adopted here is inserted in the Principies and Parameters theory, more

specifically, in the Minimalist Programas developed by Chornsky (1995).

The Portuguese prepositions can be divided into four groups in relation to

its presence in the conjuncts: (i) cases in which the preposition can be present in

the first conjunct only or in both conjuncts as exemplified in (1 ); (ü) cases in

which the preposition can be present in the first conjunct only or in both

conjuncts, but the preposition in the second conjunct cannot be inserted in the

syntax, as exemplified in (2); (ili) cases in which the two prepositions are

obligatorily present in both conjuncts and must be inserted in the syntax, as

exemplified in (3); and (iv) cases in which the preposition is obligatorily present

in both conjuncts with the second preposition being inserted both in the syntax

or morphology, as exemplified in (4):

Xll

Page 10: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(1) a. Eu conversei com o João e a Maria. I talked to the John and the Mary

b. Eu conversei com o João e com a Maria. I talked to the John and to the Mary

(2) a. Não gosto da idéia do João e a Maria comprarem o livro. Not like(1 51) of-the idea of-the John and the Mary to buy the book

b. Não gosto da idéia do João e da Maria comprarem o livro. Not like(l'1) ofthe idea of-the John and of-the Mary to buy the book

'I don't like the idea of John and Mary buying the book'

(3) a. *A Ana saiu sem mim e você. The Ana left without me and you

b. A Ana saiu sem mim e sem você. The Ana left without me and without you

(4) a. *Eu me lembrei do João e a Maria. I remembered oj-the John and the Mary

b. Eu me lembrei do João e da Maria. I remembered ofthe John and of-the Mary

Nunes (2001, forthcoming) and Hornstein and Nunes (2002) analyze

sentences in (1) as cases of derivations with different numerations. In (la) the

numeration has only one preposition and in (lb) the numeration has two

prepositions. This dissertation identifies the other three cases, namely (2), (3) and

(4). Following the Distributed Morphology theory (Halle and Marantz 1993), the

proposal presented here is that in the cases in which the preposition in

contracted with the determiner following it, as in (2b) and (4), the operation of

merger is taking place in morphology. The Parallelism Requirement obliges the

operation to take place in both conjuncts if it took place in one of them and this

explains the obligatory presence of the preposition in both conjuncts in theses

cases. As for the cases in (3), the proposal is that the preposition must be present

in both conjuncts as a requirement from the pronouns, which must be strong to

be coordinated.

xiii

Page 11: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

"' Indice

Capítulo 1

Introdução .......................................................................................................................... l

Capítulo2

Aparato Teórico ............................................................................................................... 13

2.1. Formação e redução de cadeia ................................................................... l4

2.2. Uma estrutura para a oração coordenada ................................................ l8

2.3. O Requerimento de Paralelismo ................................................................ 23

2.4. Morfologia Distribuída ................................................................................ 27

2.5. Resumo .......................................................................................................... 34

Capítulo 3

A Presença da Preposição no Segundo Termo Coordenado .................................... 37

3.1. A segunda preposição permitindo

a leitura de dois eventos .............................................................................. 38

3.2. A preposição pode estar presente no segundo termo coordenado,

mas não pode ter sido inserida na sintaxe ............................................... 47

3.3. A preposição precisa estar no segundo termo coordenado

e tem que ter sido inserida na sintaxe ....................................................... .50

XV

Page 12: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

3.4. A preposição precisa estar no segundo termo coordenado,

mas pode ter sido inserida tanto na sintaxe

quanto na morfologia .................................................................................. 52

3.5. Conclusão ..................................................................................................... .53

Capítulo4

Contração de Preposição e Coordenação .................................................................... 55

4.1. A segunda preposição satisfazendo o Requerimento

de Paralelismo .............................................................................................. 56

4.2. Quando a contração ocorre apenas no segundo

termo coordenado ........................................................................................ 82

4.3. Resumo .......................................................................................................... 90

CapítuloS

Quando a Contração é Opcional ................................................................................... 91

5.1. C interferindo na adjacência ....................................................................... 92

5.2. Sobre a opcionalidade ................................................................................. 99

5.3. Coordenando o sujeito da oração encaixada .......................................... 103

5.4. Resumo ........................................................................................................ 113

XVl

Page 13: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Capítulo 6

Analisando a Coordenação dos Pronomes ................................................................ l15

6.1. Os pronomes segundo Cardínaletti e Starke (1999) .............................. 116

6.2. Pronomes fortes, fracos e sua coordenação ............................................ 121

6.3. Os pronomes se contraem com a preposição ......................................... 136

6.4. Quando a preposição não pode estar no segundo

termo coordenado ...................................................................................... 143

6.5. Resumo ........................................................................................................ 148

Capítulo 7

Conclusão ....................................................................................................................... 151

Referências .................................................................................................................... 161

XVll

Page 14: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Capítulo 1

Introdução

Esta dissertação analisa estruturas coordenadas envolvendo preposições.

Os dados abaixo mostram que, aparentemente, a coordenação de complementos

verbais preposicionados pode acontecer entre DPs ou entre PPs:

(1) a. Eu falei sobre [opa música] e [oP o filme].

b. Eu falei [PP sobre a música] e [PP sobre o filme].

(2) a. Eu joguei contra [DP o Sampras] e [DP o Agassi].

b. Eu joguei (ppcontra o Sampras] e (ppcontra o Agassi].

(3) a. Eu viajei com [oP o Pedro] e [DP a Ana].

b. Eu viajei [PP com o Pedro] e [PP com a Ana].

Almeida (1969) exemplifica extensamente essas duas possibilidades

fazendo uma correlação entre o número de preposições e o número de eventos. 1

1 Agradeço a Lurdes Jorge (comunicação pessoal) pela indicação de Almeida (1969).

J

Page 15: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Suponhamos uma luta entre um indivíduo, João, e dois

outros, Pedro e Paulo. Diremos: ')oão lutou contra Pedro e Paulo"

ou "João lutou contra Pedro e contra Paulo"?

A segunda construção tem significado diferente da primeira,

pms denota duas lutas separadas; João lutou primeiro contra um,

depois contra outro. Se a luta foi uma só, a preposição não se

repete: "João lutou contra Pedro e Paulo". (Almeida 1969:311)

Segundo Almeida, se os elementos coordenados constituem um só regime, então

a preposição não pode ser repetida; mas se constituem regimes diferentes, a

preposição aparece, então, nos dois termos coordenados:2

Não cabe, em tais casos, verificar se as palavras, regidas pela

preposição, são ou não antônimas; importa, isto sim, observar se

elas constituem um só regime, conjunto, contemporâneo, ou, ao

contrário, regimes diferentes, isolados. Quando se diz ''Viaja por

terra e por mar", diz-se bem, e não seria possível de outra forma

dizer. Os elementos não podem constituir elemento conjunto de

"viajar"; a repetição da preposição 1mpõe-se. Quando

considerando-se o caso contrário - diz alguém: "Destruir a ferro e

2 Almeida (1969:306) explica a relação de regime do seguinte modo: "Os termos ligados pela preposição denominam-se antecedente (o que vem antes da preposição) e conseqüente (o que vem depois). O antecedente vem a ser o termo regente (que rege, que tem outro debaixo de sua dependência, subordinante), e o conseqüente vem a ser o regime, isto é, o termo regido, subordinado; a preposição, juntamente com o conseqüente, constituem o complemento do termo regente. H

2

Page 16: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

fogo", procede corretamente em não repetindo a preposição, uma

vez que as palavras "ferro" e Hfogo" indicam elementos

contemporâneos de destruição. (Almeida 1969:311-12)

No entanto, os fatos empíricos mostram um quadro diferente deste

apresentado por Almeida (1969). Nunes (2001, a saír) e Homstein e Nunes (2002)

observam que as sentenças com duas preposições são ambíguas, diferentemente

das sentenças com apenas uma preposição. Observe os dados abaixo:

(4) Eu conversei com o João e a Maria (não-ambígua)

(5) Eu conversei com o João e com a Maria (ambígua)

(6) a. Eu conversei ontem com o João e a Maria.

b. *Eu conversei ontem com o João e domingo a Maria.

(7) a. Eu conversei ontem com o João e com a Maria.

b. Eu conversei ontem com o João e domingo com a Maria.

As sentenças em (6) mostram que a sentença (4) só pode ter a leitura de

um único evento, enquanto (7) mostra que (5) pode ter tanto a leitura de apenas

um evento, quanto a leitura de dois eventos. Apesar de Almeida (1969),

3

Page 17: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

prescritivamente, não admitir a leitura de um evento para a sentença em (5), os

falantes consultados julgam que as duas leituras são possíveis. O mesmo teste

pode ser aplicado às sentenças com duas preposições em (1)-(3) e obteremos os

mesmos resultados:

(8) a. Eu falei ontem sobre a música e sobre o filme.

b. Eu falei ontem sobre a música e hoje sobre o filme.

c. E·u falei ontem sobre a música e o filme.

d. *Eu falei ontem sobre a música e hoje o filme.

(9) a. Eu joguei ontem contra o Sampras e contra o Agassi.

b. Eu joguei ontem contra o Sampras e hoje contra o Agassi.

c. Eu joguei ontem contra o Sarnpras e o Agassi.

d. *Eu joguei ontem contra o Sampras e hoje o Agassi.

(10) a. Eu viajei sábado com o Pedro e com a Ana.

b. Eu viajei sábado com o Pedro e domingo com a Ana.

c. Eu viajei sábado com o Pedro e a Ana.

d. *Eu viajei sábado com o Pedro e domingo a Ana.

4

Page 18: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Almeida (1969) apresenta alguns exemplos em que a repetição da

preposição é obrigatória apesar de o regime ser um só, contrariando sua regra

básica para a repetição da preposição:

Regimes das preposições "a" e "por", seguidas de artigo definido: Deve-se repetir a

preposição, quando repetido vem o artigo: "Opor-se aos projetos e aos

desígnios de alguém" O amais: "aos projetos e os desígnios") -"Caracteriza­

se pelo talento e pelos relevantes méritos" Oamais "pelo talento e os

relevantes méritos'') ( ... ) "choravam pelo pai e pela mãe" ( ... )

Se não se repetir o artigo, poder-se-á não repetir a preposição ( ... ): "Opor-se

aos projetos e desígnios de alguém" - "Flagelado pela peste e estragos".

(Almeida 1969:312)

A esses dados, somam-se as sentenças (11)-(13), em que a preposição é

obrigatória nos dois termos coordenados, mesmo com a leitura de apenas um

evento, como demonstrado nas sentenças (14)-(16):

(11) a. *Eu votei no Pedro e a Ana.

b. Eu votei no Pedro e na Ana.

(12) a. *Eu me lembrei do João e a Maria.

b. Eu me lembrei do João e da Maria.

5

Page 19: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(13) a. *Ele se referiu ao Pedro e o Paulo.

b. Ele se referiu ao Pedro e ao Paulo.

(14) a. *Eu votei no ano passado no Pedro e a Ana.

b. Eu votei no ano passado no Pedro e na Ana.

(15) a. *Eu me lembrei ontem do João e a Maria.

b. Eu me lembrei ontem do João e da Maria.

(16) a. *Ele se referiu ontem ao Pedro e o Paulo.

b. Ele se referiu ontem ao Pedro e ao Paulo.

Os exemplos (11)-(13) mostram que não são só as preposições a e por que

precisam ser repetidas obrigatoriamente, como apontado por Almeida, mas

também as preposições de e em. O que podemos observar nos exemplos de

Almeida e em (11)-(13) é que a preposição está contraída com o artigo e pode ser

essa a motivação da repetição obrigatória da preposição.

Uma evidência de que é a contração que obriga a repetição da preposição

é o fato de o dialeto que não exige artigo antes de nomes próprios admitir as

sentenças (17) e (18) abaixo, com apenas uma preposição (com a leitura de apenas

6

Page 20: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

um evento).3 Além disso, em ambos os dialetos, quando o complemento da

preposição não sofre contração, as sentenças são aceitáveis com uma única

preposição, como mostra (19):

(17) Eu me lembrei de João e Maria.

(18) Eu votei em João e Maria.

(19) Eu me lembrei de dois meninos e duas meninas.

Partindo dessas observações, uma das hipóteses defendidas nesse trabalho

é a de que a preposição, em uma estrutura coordenada, deverá ser repetida

quando estiver contraída com o artigo.

Apresento abaixo, no entanto, alguns exemplos que mostram que não é só

quando a preposição se contrai com o artigo que deve ser repetida:

(20) a. *0 João se lembrou de mim e você.

b. O João se lembrou de mim e de você.

' Agradeço a Maria Clara Paixão de Souza (comunicação pessoal) por me chamar atenção para esse fato.

7

Page 21: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(21) a. *A Ana saiu sem mim e você.

b. A Ana saiu sem mim e sem você.

(22) a. *Pedro lutou contra mim e você.

b. Pedro lutou contra mim e contra você.

(23) a. *Eu me lembrei de você e o João.

b. Eu me lembrei de você e do João.

(24) · a. *0 João conversou comigo e você.

b. O João conversou comigo e com você

(25) a. *0 João conversou com ele e você.

b. O João conversou com ele e com você.

Em (20)-(22) vemos que também os pronomes precisam estar sempre

acompanhados da preposição, mesmo que não aconteça contração e mesmo que

a preposição não seja uma preposição que sofre contração, como as preposições

sem e contra. (23) mostra que a repetição da preposição é obrigatória mesmo que

apenas um dos termos coordenados seja pronome. Em {24), o primeiro termo

coordenado é uma forma cristalizada no português, em que não se faz mais

distinção entre preposição e pronome, ou seja, não existe a forma mígo no

8

Page 22: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

português moderno, de modo que não é possível fazer a separação entre a

preposição e o pronome. A existência dessa forma cristalizada e também de

outras que estão em desuso, como consigo, conosco, pode nos fazer pensar que, em

alguns casos, essa preposição se comporta como uma preposição do mesmo tipo

das que se contraem. No entanto, (25) mostra que mesmo diante de pronomes

com os quais o tipo de contração exemplificado em (24) não é possível, a

preposição com continua sendo obrigatória nos dois termos coordenados. A

minha proposta é que a preposição é obrigatória para tomar os pronomes fortes

de modo que possam ser coordenados.

Para completar o paradigma, apresento abaixo um outro contraste

interessante. Apesar de a contração ser obrigatória em casos como (12), repetido

abaixo em (26), passa a ser opcional se o complemento da preposição for uma

oração, como apontado por Mioto, Figueiredo Silva e Lopes (1999:128 n. 4) que

apresentam os dados em (27) e (28):

(26) a. *Eu me lembrei do João e a Maria.

b. Eu me lembrei do João e da Maria.

(27) a. O fato de os protestos terem sido veementes intimidou o presidente

b. Apesar de os protestos terem sido veementes, o presidente não se

intimidou

9

Page 23: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(28) a. *Quando os amigos de o presidente estão felizes, o povo está infeliz

b. *Apesar de os protestos, o presidente saiu de férias

Acrescento ainda o dado em (29) para mostrar que se o sujeito da sentença

encaixada for uma oração coordenada, a contração também é opcional. O dado

em (30) mostra que a preposição também pode ser repetida nos dois termos

coordenados, mas apenas se estiver contraída com o determinante:

(29) a. Não gosto da idéia de o João e a Maria comprarem o livro.

b. Não gosto da idéia do João e a Maria comprarem o livro.

(30) a. *Não gosto da idéia de o João e de a Maria comprarem o livro.

b. Não gosto da idéia do João e da Maria comprarem o livro.

A proposta que vou desenvolver nesta dissertação é a de que, nos casos de

complemento sentencia!, a preposição presente no segundo termo coordenado é

uma cópia feita no componente morfológico.

Pelos julgamentos que pude obter em português europeu,4 as propostas

desenvolvidas nesta dissertação são válidas tanto para o português brasileiro

quanto para o europeu, com uma única diferença referente à contração da

4 Agradeço a Ana Maria Martins, Telmo Móia e Pilar Barbosa pelos julgamentos em português europeu.

10

Page 24: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

preposição quando seu complemento é uma sentença. Apontarei o contraste

quando discutir esses casos no capítulo 5.

Esta dissertação está enquadrada dentro da teoria de Princípios e

Parâmetros, mais precisamente do Programa Minimalista (Chomsky 1995), com

algumas modificações introduzidas por Nunes (1995, 1999, 2001, a sair). Também

assumo a teoria da Morfologia Distribuída (Halle e Marantz 1993) em que as

palavras não são formadas no léxico, mas sim em vários pontos da derivação,

inclusive na morfologia.

A dissertação está dividida da seguinte forma: no capítulo 2 apresento as

teorias de maior relevância para o desenvolvimento da minha análise; no

capítulo 3 apresento a relação entre número de preposições e número de eventos.

Seguindo Nunes (2001, a sair) e Homstein e Nunes (2002), mostro que nos casos

em que a preposição é obrigatória nos dois termos coordenados, existe uma

derivação em que a numeração tem apenas uma preposição. No capítulo 4

apresento a minha proposta para a obrigatoriedade da preposição no segundo

termo coordenado quando contraído com o artigo. No capítulo 5 trabalho a

questão da opcionalidade da contração nos casos em que a preposição tem como

complemento uma oração. O capítulo 6 trata da preposição diante de pronomes e

o capítulo 7 é a conclusão da dissertação.

1!

Page 25: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Capítulo 2

Aparato Teórico

Esta dissertação se desenvolve dentro do quadro teórico de Princípios e

Parãmetros, mais precisamente do Programa Minimalista, seguindo Chomsky

(1995), mas com algumas modificações apresentadas em Nunes (1995, 1999, 2001,

a sair).

Na sessão 2.1., farei uma breve apresentação das propostas de Nunes

(1995, 1999, 2001, a sair) no que diz respeito à formação, redução e linearização

de cadeias. Essas propostas são importantes para a discussão da análise de

Nunes (2001, a sair) e Hornstein e Nunes (2002) que será apresentada no capítulo

3.

Na sessão 2.2., apresentarei a estrutura que será utilizada para as orações

coordenadas. Na sessão 2.3., tratarei do Requerimento de Paralelismo, e na

sessão 2.4., apresentarei os pontos da Morfologia Distribuída mais relevantes

para essa dissertação.

!3

Page 26: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

2.1. Formação e redução de cadeias

Dentro do quadro teórico do Programa Minimalista (Chomsky 1995), as

sentenças são derivadas a partir de uma numeração, que é um arranjo de itens

retirados do léxico. Esses itens lexicais são conectadosl entre si de modo a formar

uma estrutura sintática legível tanto em forma fonética (PF), quanto em forma

lógíca (LF). Depois que a computação trabalha com os itens lexicais, a estrutura

formada é enviada para PF e LF, onde é legítimada se satisfizer o requerimento

da Interpretação Plena, que requer que todos os elementos que chegam a um

nível de interface possam ser interpretados nesse níveL

O modelo prevê um sistema econômico, em que é usado o menor número

possível de operações. Nesse sentido, faz parte da agenda do programa a

eliminação de operações desnecessárias, primitivos teóricos não motivados e

mesmo níveis de representação que não sejam níveis de interface. Como é o caso

de Estrutura-D e Estrutura-S. Dentro dessa perspectiva e assumindo que a

computação não pode inserir na derivação sintática elementos que não tenham

saído da numeração, vestígio de movimento também deve ser eliminado do

modelo, por ser um item que não está presente na numeração. Chomsky (1995)

propõe que movimento deixa não um vestígío, mas uma cópia do elemento

movido.

1 Vou usar nesta dissertação a palavra conectar para designar merge que se aplica na computação sintática, como proposto em Chomsky (1995). Para merger morfológico, que será apresentado mais abaixo, vou utilizar o termo concatenar.

14

Page 27: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Vejamos como seria, então, a estrutura de uma sentença como (1),

assumindo a teoria de movimento por cópia. O argumento externo sobe para o

Spec de IP e deixa em seu lugar uma cópia, como ilustrado na estrutura em (2):2

(1) Criança gosta de doce.

(2)

Criança; I' ~

I VP

---------------Criança; V' ~

gosta PP ~

de doce

Segundo Chomsky (1995), a cópia no especificador de VP é eliminada para

efeitos de PF. Nunes (1995, 1999, a sair) apresenta uma motivação para o

apagamento da cópia mais baixa na estrutura, propondo que essa cópia precisa

ser apagada para que a estrutura possa ser linearizada. A proposta de

linearização utilizada está baseada no Axioma de Correspondência Linear (LCA) de

Kayne (1994), conforme apresentado em (3):

z Como ilustração vou utilizar apenas as projeções relevantes. Mas o Programa Minimalista prevê, além da projeção do complementizador C, a projeção do verbo leve que é o complemento deiP.

15

Page 28: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(3) Axioma de Correspondência Linear (LCA)

Sejam X, Y nós não-terminais e x, y nós terminais tais que X domina x e Y

domina y. Então, se X c-comanda assimetricamente Y, x antecede y.

Na estrutura em (2), criança no especificador de IP c-comanda o núcleo I,

logo, deve preceder esse núcleo. Mas I também c-comanda criança· no

especificador de VP, o que gera uma contradição, pois criança deverá, ao mesmo

tempo, preceder e ser precedido pelo núcleo I. Nunes (1995, 1999, a sair) aponta

que essa estrutura não pode ser linearizada justamente por conta dessa

contradição. A solução é apagar uma das cópias.

Para o apagamento de cópias, Nunes propõe as operações de Formação e

Redução de Cadeia. A operação Formar Cadeia tem as condições apresentadas

em (4):

(4) Condições em Formar Cadeia:

Dois constituintes a e ~ podem formar uma cadeia não-trivial

CH = (a, ~) se:

(i) a é não-distinto de ~;

(ii) a c-comanda ~;

(iii) existe pelo menos um traço F de a tal que F entra em relação de

checagem com um sub-rótulo do núcleo da projeção com a qual a é

16

Page 29: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

conectado e para qualquer traço F de a, o traço F de p correspondente

está acessível para o sistema computacional; e

(i v) não há nenhum constituinte y tal que y possui um traço F que seja do

mesmo tipo que o traço F de a, e y está mais perto de a do que P está.

Ou seja, se duas cópias estão em relação de c-comando, a cópia que se encontra

em posição diferente da posição irúcial teve algum traço checado na posição em

que se encontra, e se entre as duas cópias não há nenhum outro elemento que

poderia checar esse traço, então, as cópias formam uma cadeia.

Vamos analisar as cópias no exemplo (2). A cópia em Spec de IP está

checando traço de Caso nessa posição, satisfazendo a condição (iíi) de (4). Como

não há nenhum constituinte com o mesmo tipo de traço a ser checado que esteja

mais próximo de Spec de IP que a cópia em Spec de VP, então, a condição (iv) de

(4) também está sendo satisfeita. Veja que as condições (iíi) e (iv) nada mais são

que as condições de Último Recurso3 e do Elo Mirúmo de Chomsky (1995). O

constituinte criança em Spec de IP é não-distinto do constituinte criança em Spec

de VP, satisfazendo a condição (i) de (4) e a cópia em Spec de IP c-comanda a

cópia em Spec de VP, satisfazendo a condição (ii) de (4). Uma vez que todas as

condições em ( 4) estão sendo satisfeitas, as cópias podem formar cadeia.

3 Dentro do Programa Minimalista (Chomsky 1995), Último Recurso é uma condição que garante que nenhuma operação aconteça sem motivação.

17

Page 30: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Antes da linearização no componente fonológico, é aplicada a operação de

Redução de Cadeia, que está descrita em (6):

(6) Redução de Cadeia

Delete o menor número de constituintes de uma cadeia não-trivial CH de

modo que CH possa ser mapeada em uma ordem linear de acordo com o

LCA.

Nunes (1995, 1999, a sair) propõe que as cópias que são deletadas são as

que participaram de menos relações de checagem, porque assim elimina-se

também a necessidade de se aplicar uma segunda operação nessas cópias que é a

Eliminação de FF (FF-Elimination), que se aplica a traços formais não checados.

Como os traços formais não são legiveis em PF, em algum momento da

derivação precisarão ser eliminados. Levando em conta que um elemento se

move para checar traços formais, as cópias mais baixas na estrutura são as que

participam de menos relações de checagem; razões de economia em relação a

aplicação de Eliminação de FF requerem que essas sejam as cópias deletadas.

2.2. Uma estrutura para a oração coordenada

A estrutura de oração coordenada que vou utilizar vai ser a proposta por

Johannessen (1998). Nessa estrutura, a conjunção é o núcleo do sintagma

18

Page 31: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

conjuntivo, o primeiro termo coordenado está no seu especificador e o segundo

termo coordenado é seu complemento, como ilustrado em (7):4,5

(7) &P ~

1°. Conj.

e

&'

~ 2°. Conj.

Os traços do &P são herdados tanto do seu núcleo, quanto do seu

especificador. Do especificador vêm os traços de seleção. Assim, se o primeiro

'Johannessen chama o sintagrna de CoP (para Conjunction Phrase). Escolhi usar aqui o símbolo usado por Progovac (1998 a, b) &P porque a meu ver ilustra melhor que se trata de uma conjunção. s Em caso de coordenação de mais de dois termos, cada conjunção tem um outro &P como complemento, exceto a última conjunção, que tem o último termo coordenado como complemento, conforme ilustrado em (i) abaixo. Os dados com coordenação de mais de dois termos têm o mesmo julgamento que os dados com coordenação de dois termos, como exemplificado em (ii)-(iv) abaixo, de modo que as propostas dessa dissertação produzem o mesmo resultado nesses casos.

(i) &P1 ~

Tom &{

~ &, &P, ~

Mary &z'

~ &, Jim I

and

(ii) a. Eu conversei com o João, o Pedro e a Ana. b. Eu conversei com o João, com o Pedro e com a Ana.

(iii) a. *Eu me lembrei do João, o Pedro e a Ana. b. Eu me lembrei do João, do Pedro e da Ana.

(iv) a. Eu gosto da idéia do João, a Maria e a Ana comprarem o livro. b. Eu gosto da idéia do João, da Maria e da Ana comprarem o livro.

!9

Page 32: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

termo coordenado for um DP, todo o &P terá os traços selecionais de um DP.

Esse ponto é importante, pois alguns dados mostram que categorias diferentes

podem ser coordenadas, mas a categoria do primeiro termo coordenado deve ter

os traços selecionados pelo núcleo que a precede:

(8) You can depend on [my assistant] and [that he will be on time]

(9) *You can depend on [that he will be on time]

(9) mostra que o segundo termo coordenado da sentença em (8) não pode ser

complemento do verbo independentemente. A preposição em (8) pede um DP

por complemento e este está no especificador do sintagma conjuntivo

satisfazendo essas propriedades de seleção.

Johannessen (1998) não trata da concordãncia entre o argumento externo e

o verbo. Progovac (1998a) aponta que, com relação à concordância, os dois

termos coordenados são levados em consideração já que mesmo quando o

primeiro termo coordenado (aquele que segundo Johannessen transfere suas

propriedades ao &P) está no singular, a concordância acontece no plural, corno

mostra o exemplo (10) (exemplo (32) de Progovac 1998):

(10) A man and three children ?*is/ are at the front door.

20

Page 33: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Progovac apresenta a proposta de Babyonyshev (1997) para dar conta da

concordância em russo. Nessa língua, se o sujeito for pré-verbal a concordância

tem que ser no plural, como mostra o exemplo em (11 ):

(11) Molodaja zenscina i young woman1-nom and

malen'kij mal' cik little boy-m-nom

vosli/ *vosla/ *vosel/ *voslo v kornnatu entered-pl/ sgf/ sing.m./ sg.n. into room

"Uma jovem mulher e um pequeno garoto entraram na sala."

Mas se o sujeito for pós-verbal, então a concordância pode ser no plural ou no

singular, como mostra o exemplo (12):

(12) v kornnatu vosli/ vosla/ *voselj *voslo molodaja zenscina

into room entered-pl/ sgf! sing.m./ sg.n. young woman-fnom

i malen'kij mal'Cik. and little boy-m-nom

'Into the room entered a young woman and a small boy.'

"Na sala entrou/ entraram uma jovem mulher e um pequeno garoto."

Veja que o mesmo acontece no português:

21

Page 34: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(13) O João e a Maria chegaram/*chegou.

(14) Chegou/Chegaram o João e a Maria.

Babyonyshev propõe que quando o sujeito é pré-verbal, todo o sintagma

conjuntivo se moveu abertamente para a posição de checagem de concordância,

enquanto que essa checagem acontece cobertamente nos casos em que o sujeito é

pós-verbal. Nesse caso, os traços de todo o sintagma conjuntivo podem se mover,

resultando em concordância no plural, ou apenas os traços do primeiro termo

coordenado, resultando na concordância no singular.

Existem outras propostas de estrutura para orações coordenadas, como a

de Munn (1993) e a de Kayne (1994), por exemplo. Para Munn, o sintagma

conjuntivo é um adjunto à direita do primeiro termo coordenado. E para Kayne,

como a sua proposta assume que todos os especificadores são adjuntos, o

primeiro termo coordenado é um adjunto do sintagma conjuntivo. Não vou

entrar nos méritos de cada proposta, mas as hipóteses que defendo aqui são,

aparentemente, compatíveis com qualquer dessas estruturas. Estarei utilizando a

estrutura de Johannessen, pois seu modelo não acrescenta as complicações que

uma adjunção pode trazer para a teoria.

22

Page 35: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

2.3. O Requerimento de Paralelismo

Uma característica das orações coordenadas que é crucial para esse

trabalho é o Requerimento de Paralelismo, que age corno uma condição sobre a

formação de estruturas coordenadas e tem sido motivo de grande debate na

literatura (cf. George 1980, Munn 1993, Chomsky 1995, Fox 2000, e Hornstein e

Nunes 2002, entre outros). Como já apontei na sessão anterior, dois termos não

são coordenados aleatoriamente.

Chomsky (1957) já faz referência a essa característica especial das

estruturas coordenadas apresentando o seguinte contraste (exemplos (21) e (25)

de Chomsky):

(15) The scene [ of the movie] and [ of the play] was in Chicago.

(16) *The scene [of the rnovie] and [that I wrote] was in Chicago.

Partindo desses dados, Chomsky (1957) sugere que elementos coordenados

devem ser da mesma categoria. Essa condição ficou conhecida como Coordination

of Likes Constraint (CLC). Schachter (1977) propõe o Coordinate Constituent

Constraint (CCC), em que acrescenta que os constituintes de uma coordenação

têm que pertencer não só à mesma categoria sintática, mas também deve ter a

23

Page 36: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

mesma função semântica. Mas exemplos como (8) acima, repetido abaixo, são

problema para as duas propostas, pois a sentença tem uma coordenação de dois

constituintes diferentes.

(17) You can depend on [my assistant] and [that he will be on time]

Ross (1967) propõe o Coordinate Structure Constraint (CSC), que diz que em

uma estrutura coordenada, nenhum termo coordenado pode se mover, como

ilustrado em (18), nem nenhum elemento pode se mover de dentro de um dos

termos coordenados, como ilustrado em (19a). A extração só pode se dar se

acontecer de dentro de todos os termos coordenados (em construções conhecidas

por Across-the-Board (ATB)), como em (19b).

(18) *Quem o João viu te a Maria?

(19) a. *O que o João comprou te a Maria leu o livro?

b. O que o João comprou te a Maria leu t?

Esses casos sugerem que as estruturas coordenadas obedecem a uma regra

de "semelhança" entre os termos coordenados. O CSC mostra que essa

"semelhança" não é apenas com relação à composição inicial da estrutura, mas

24

Page 37: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

também com relação a operações que acontecem durante a derivação

modificando essa estrutura.

O Requerimento de Paralelismo também tem sido invocado como

licenciador de apagamento de elipses no componente fonológico, como no

exemplo em (20):

(20) John said that he was Iooking for a cat, and so did Bill [e].

Chomsky (1995) assume que nessa estrutura, a categoria vazia deve ter a

mesma interpretação dada à sentença no primeiro termo coordenado; por

exemplo, se o pronome he no primeiro conjunto for interpretado como sendo

Tom, então a interpretação no segundo conjunto também tem que ser a de que

Bill disse que Tom estava procurando um gato.6

Hornstein e Nunes (2002) mostram que o Requerimento de Paralelismo

também é responsável pelo licenciamento de algumas operações na sintaxe.

6 Cf. Zocca (2002) para uma análise que mostra que mesmo em estruturas como (i) abaixo, em que o termo elidido está no infinitivo e a que está no primeiro termo coordenado está no passado, o paralelismo está sendo obedecido.

(i) O João dormiu e a Maria também vai [e]. [dormir]

Zocca argumenta que os verbos de (i) são idênticos quando entram na computação, pois entram não-valorados, com uma representação como em (iia). O licenciamento da elipse acontece antes da valoração, que acontece com a operação Agree, segundo os passos em (ií):

(íí) a. O João [T +passado] [donn +afixo de tempo não valorado] e a Maria também vai [T+ínfinitívo] [donn +afixo de tempo não valorado]

b. O João [T+passado] [donn +afixo de tempo não valorado] e a Maria também vai [T+ínfinitívo] [àe"" + afi!Ee ele teffi!'S fiâe valeraelel

c. O João [T+passado] [donn +passado] e a Maria também vai.

25

Page 38: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Nesse texto, os autores procuram tratar das diferenças entre construções que

envolvem lacunas parasitas e extração do tipo Across-the-Board (ATB) da mesma

maneira, como ilustrado no contraste entre (21) e (22) (exemplos (21a) e (22a) de

Homstein e Nunes, tirados de Postal1993).

(21) *Howi did Deborah cook the pork ei after cooking the chicken ei

(22) Howi did Deborah cook the pork ei and Jane cook the chicken ei

Hornstein e Nunes (2002) assumem que Último Recurso, enquanto

condição sobre a operação Copiar é satisfeita por checagem de traços formais ou

atribuição/checagem de papel temático. Na derivação de (21), essa condição é

violada porque o verbo cook não checa nenhum traço de how, nem lhe atribui

papel temático. Como a cópia não é licenciada pelo Último Recurso, a sentença

não pode ser derivada. Já em (22), apesar de o verbo cook no primeiro termo

coordenado também não checar traço nem atribuir papel temático a how, o

Requerimento de Paralelismo exige que a estrutura do segundo termo

coordenado seja semelhante à do primeiro termo, autorizando, assim, uma cópia

de how dentro do primeiro termo coordenado. Para Hornstein e Nunes (2002), o

Requerimento de Paralelismo é uma condição imposta às estruturas coordenadas

pela interface Conceptual-Intencional.

26

Page 39: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

2.4. Morfologia Distribuída

Estarei utilizando nesse trabalho a teoria da Morfologia Distribuída ( cf.

Halle e Marantz 1993, Harley e Noyer 1999, 2000, entre outros). A teoria tem esse

nome porque propõe que propriedades que antes eram atribuídas ao léxico,

agora estão distribuídas em vários pontos da derivação. Segundo essa teoria não

existe léxico. O que existe são pacotes de traços que são combinados entre si pela

computação para formar o que chamamos de palavra. As palavras são inseridas

apenas na morfologia de acordo com a combinação de traços presente em um nó,

por um processo de Inserção de Vocabulário.

Os pacotes de traços são divididos em duas partes: os núcleos-f e os

núcleos-/. Os primeiro são determinados pela gramática e correspondem ao que

comumente chamamos de nós funcionais (v, I, D, C); já os núcleos-/, que

correspondem tradicionalmente aos nós lexicaís, são determinados apenas

quando acontece a Inserção de Vocabulário. A título de exemplificação, observe

as sentenças abaixo tiradas de Harley e Noyer (2000):

(23) a. The cat chased the mouse.

b. The shark chased the fish.

c. The físh chased the shark.

27

Page 40: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Nessas sentenças, os Itens de Vocabulário the, -ed e a são determinados pela

gramática quando a estrutura apropriada se apresenta com traços como

[definido], [passado] e [indefinido]. Já os Itens de Vocabulário cat, shark, e fish

não são determinados. O falante poderia escolher igualmente qualquer um deles

para qualquer posição (pondo de lado Caso, por exemplo).

Baseando-nos nessas informações, vamos analisar a sentença (24) abaixo,

que na sintaxe, apresenta a estrutura simplificada em (25):

(24) O João comprou um caderno e uma caneta.

(25) vP ~

DP ~

v'

~ o João v VP ~

comprou &P ~

DP ~

um caderno e

&' ~

DP ~

uma caneta

28

Page 41: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Na teoria da Morfologia Distribuída, no lugar de cada uma das palavras

em (25) estariam traços, como ilustrado em (26) abaixo. Os itens uma, um, e, e o,

correspondem aos chamados núcleos-f e estão especificados em (27). 7

(26) vP

---------------DP v'

~ ~ [+def.+masc.] núcleo-! [+causa] VP

(27) a. o

b. v

~ núcleo-I &P

---------------DP ~

&' ~

[-def.+masc.] núcleo-I [+conj] DP ~

[-def. +fem.] núcleo-I

é um determínante definído [ +def] e está no

masculino [ +masc.]

para Halle e Noyer (2000), v carrega traço

causativo quando o verbo é transitivo,

logo possui traço [+causa]

7 Possivelmente, essas categorias possuem mais traços do que estou apontando aqui, mas para efeito de exposição nesta dissertação os traços apresentados bastam.

29

Page 42: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

c. um, uma

d. e

ambos são determinantes não definidos [-def];

está no masculino, [+masc.], outro no

feminino ( +fem.]

é uma conjunção [ +conj.]. Johanessen (1998)

atribui à conjunção traços que indicam se os

termos coordenados precisam ou não ser idênticos.

Isso colocaria uma parte do Requerimento de

Paralelismo ainda antes que os traços entrem na

numeração.

Os núcleos-/ correspondentes a João, comprou, caderno e caneta, por sua vez, só são

determinados quando acontece a Inserção de Vocabulário.

Harley e Noyer (2000) apontam ainda que, presumivelmente, os itens de

vocabulário possuiriam também traços selecionais. Por exemplo, o v causativo

acima, além do traço [+causa] teria um outro traço como [+DP], indicando que v

necessita de um DP em seu especificador.s

s Para efeito de exposição nessa dissertação estarei utilizando itens lexicais e não traços.

30

Page 43: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

2.4.1. As operações na Morfologia Distribuída

Como apontado acima, de acordo com a Morfologia Distribuída, os itens

lexicais entram na numeração como um conjunto de traços. Ao longo da

derivação, uma série de operações reúne esses traços de modo que a Inserção de

Vocabulário, quando ocorrer, nos dá como output as palavras flexionadas do

modo como as percebemos. Algumas dessas operações se dão na morfologia,

depois que a estrutura sintática é mandada para PF. As duas operações que nos

interessam mais diretamente nesta dissertação são as operações concatenação e

fusão, que se aplicam a nós terminais.

A operação concatenar junta dois nós terminais sob um único nó categoria!,

porém preservando os traços de cada nó independentemente, de modo que

quando Inserção de Vocabulário for aplicada, dois itens de vocabulário

independentes serão inseridos nessa posição. O exemplo dado por Halle e

Marantz (1993) para concatenar é a flexão do verbo em tempo, como na estrutura

(28) abaixo (exemplo (13b) de Halle e Marantz). No inglês, o verbo não sobe até T

na sintaxe, mas V precisa do morfema de tempo. Ao chegarem na morfologia, Te

V, uma vez adjacentes, são concatenados, como ilustrado em (28).

31

Page 44: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(28) CP ~

c TP ~

DP T' I I

D' VP I ~

D v AP I ~ é::.

3rd v T FAdv

[+pl] I [-participle]

Fverb 1-past]

A operação de fusão também junta dois nós terminais independentes em

um único nó, mas, diferentemente do que acontece com concatenar, o resultado é

um único nó terminal, de modo que apenas um Item de Vocabulário será

inserido naquela posição. Uma propriedade importante dessa operação é que

fundir só pode acontecer com nós irmãos. Como a operação concatenar torna nós

independentes em nós irmãos, o resultado de concatenar pode ser input para

fusão. Como exemplo dessa operação, Halle e Marantz (1993) apontam a flexão

verbal do inglês. O núcleo I, nessa língua, pode ser preenchido, ao menos, pelos

traços [± passado] e [± particípio] sendo que quando o traço [-particípio] está

presente, os traços de concordância de pessoa são inseridos na morfologia. O

morfema de concordância e os morfemas de I são, então, fundidos em um único

nó. Acrescentar os exemplos mais concretamente.

32

Page 45: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

2.4.2. A contração da preposição

Para exemplificar melhor essas duas operações e já apresentar aqui a

análise que estarei adotando nessa dissertação, vamos analisar o caso da

contração da preposição com o artigo em português, a partir da sentença em (31):

(31) O João gosta da Maria.

Por um lado, a contração não pode acontecer apenas pela operação fundir,

porque a preposição e o artigo não são irmãos, como mostra (32):

(32) ~ [prep.] ~

[det. masc.] NP

Por outro lado, é um único Item de Vocabulário que é inserido nessa

posição, a saber, do, que contém traços tanto da preposição, quanto do artigo. É

necessário, portanto, que a operação concatenar aconteça antes da operação de

fusão para tornar irmãos os nós relevantes.

Vamos assumir, para efeito de ilustração, que (32) chega à morfologia.

Como os traços da preposição e do artigo estão adjacentes, seus nós podem ser

concatenados, tomando-se irmãos, como ilustrado em (33) abaixo. Uma vez que

os nós se tornaram irmãos, a operação de fusão pode acontecer, e a Inserção de

33

Page 46: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Vocabulário insere um único item a essa estrutura, a saber, a preposição do,

ilustrado em (34):

(33) ~ ~I

[prep.] [det. masc.] NP

(34) ~ [prep. det. masc.]

I do

2.5. Resumo

NP

I João

[Inserção de Vocabulário]

Neste capítulo apresentei o aparato teórico que será utilizado nesta

dissertação. Estarei trabalhando com a teoria de Princípios e Parâmetros, mais

especificamente, com o Programa Minimalista, conforme apresentado em

Chomsky (1995), porém com algumas modíficações desenvolvidas em Nunes

(1995, 2001, a sair). Na sessão 2.1. tratei dessas modificações apresentadas por

Nunes, mais específicamente da sua proposta de teoria de movimento que inclui

as operações Copiar, Conectar, Formar Cadeia e Reduzir Cadeia.

Na sessão 2.2. apresentei o modelo de estrutura coordenada que estarei

utilizando e em seguida, na sessão 2.3., apresentei o Requerimento de

Paralelismo ao qual essas estruturas estão sujeitas.

34

Page 47: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Na sessão 2.4. fiz um breve resumo das questões mais centrais da

Morfologia Distribuída e apresentei as duas operações mais importantes para o

meu trabalho. Também propus que a contração da preposição com o artigo no

português é resultado primeiro da operação concatenar que torna irmãos os

traços da preposição e do artigo, e posteriormente a operação fundir une esses

traços sob um único nó que receberá um único Item de Vocabulário. No próximo

capítulo vou tratar da coordenação dos complementos preposicionados.

35

Page 48: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Capítulo 3

A Presença da Preposição no

Segundo Termo Coordenado

Este capítulo distingue quatro tipos de coordenação envolvendo

preposição no que diz respeito à sua presença no segundo termo coordenado:

1. casos em que a segunda preposição é opcional, mas sua presença pode

licenciar uma leitura com mais de um evento.

2. casos em que a segunda preposição pode estar presente no segundo

termo, mas deve ter sido inserida na morfologia.

3. casos em que a preposição precisa estar no segundo termo coordenado,

mas tem que ter sido inserida na sintaxe; e

4. casos em que a preposição ptécisa estar no segundo termo coordenado,

mas pode ter sido inserida tanto na sintaxe quanto na morfologia.

Cada um desses casos será discutido abaixo.

37

Page 49: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

3.1. A segunda preposição permitindo a leitura de dois eventos

Nunes (2001, a sair) e Homstein e Nunes (2002) tratam da assimetria entre

os exemplos (1) e (2) abaixo. (1) não é ambígua, permitindo apenas uma leitura

de um único evento, e (2) é ambígua, permitindo tanto uma leitura de um único

evento, quanto uma leitura de dois eventos. Essas possibilidades ficam mais

claras se acrescentarmos advérbios modificando cada um dos eventos da

sentença, como respectivamente ilustrado em (3) e (4):

(1) Eu conversei com o João e a Maria (não ambígua)

(2) Eu conversei com o João e com a Maria. (ambígua)

(3) a. Eu conversei ontem com o João e a Maria.

b. *Eu conversei ontem com o João e domingo a Maria.

(4) a. Eu conversei ontem com o João e com a Maria.

b. Eu conversei ontem com o João e domingo com a Maria.

Segundo a análise proposta nesses trabalhos, uma diferença básica entre

as sentenças (1) e (2) é que (1) tem apenas uma preposição na numeração,

enquanto que (2) tem duas preposições na numeração. A derivação com duas

38

Page 50: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

preposições permite duas opções de coordenação: pode-se coordenar PPs ou

VPs. No primeiro caso, o resultado é a sentença (2) com a leitura de um evento, e

a coordenação de VPs resulta na sentença (2) com a leitura de dois eventos. Por

outro lado, a sentença em (1), por conter apenas uma preposição na numeração,

só permite a coordenação de dois DPs, que será complemento da preposição.

Vamos ver passo a passo como cada um desses resultados é obtido.

Para a derivação de (2) com a leitura de um evento, a computação forma

os objetos K e L em (6), a partir da numeração (simplificada) em (5) abaixo. A

seguir, conecta um ao outro, formando o &P em (7) e prossegue com a derivação

até formar o vP apresentado em (8).

(5) {eu1, converseh, comz, 01, ]oão1, e1, a1, Maria1}

(6) K = [&P e [rr com a Maria]]

(7)

L= [rr com o João]

&P ~

&' pp

~ ~ com DP e ~

PP ~

o João com DP ~

a Maria

39

Page 51: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(8) vP ~

eu v' ~

conversei+v VP ~

\ conversei 5!:_ cadeia \_/' ~ ............._

pp &'

~ ~ com DP e ~

pp

~ o João com DP

~ a Maria

A cópia que está adjungida ao verbo leve c-comanda a cópia no VP

formando uma cadeia. A proposta dos autores é que cada cadeia de verbo

corresponda a um evento. Nesse caso, apenas uma cadeia de verbo é formada,

logo, a leitura é de apenas um evento.

Para a derivação que gera a leitura de dois eventos, os autores utilizam a

noção de movimento lateral desenvolvida em Nunes (1995, 2001). Essa proposta

surge com a possibilidade de a computação trabalhar com mais de um objeto

sintático ao mesmo tempo1. O movimento lateral consiste no movimento de um

1 Na medida em que a computação retira os itens da numeração e os conecta entre si, forma várias pequenas árvores sintáticas, mas sem conectá-las entre si. A título de exemplo, tomemos uma oração com um sujeito complexo como (i). Para que a derivação dessa sentença aconteça ciclicamente, é preciso que, antes de conectar o argumento externo do verbo ao vP [vP gosta da professora], a computação já tenha formado o constituinte {opo homem que acabou de entrar].

(i) [vr [oro homem que acabou de entrar] gosta da professora]]

40

Page 52: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

elemento de um objeto sintático para outro objeto sintático independente, ambos

já formados pela computação, como ilustrado em (9):

(9) K L

~ ~ ... ai··· ... ai ...

~ movimento lateral

A derivação de (2) com a leitura de dois eventos tem, portanto, os

seguintes passos: a computação começa formando os objetos K e L em (10)

abaixo. A diferença crucial entre os passos derivacionais de (6) e de (10) é o fato

de que em (6) a computação conecta a conjunção e logo depois que o PP é

formado, enquanto que em (10), a conjunção e só é conectada depois que o verbo

foi conectado ao PP.

(10) K = [&P e [vr conversei com a Maria]]

L= [rr com o João]

Como em (10) a conjunção é conectada com um VP, o Requerimento de

Paralelismo (sessão 2.3) motiva a formação de um outro VP. Não havendo mais

verbos na numeração em (11) abaixo, a computação então copia o verbo de K em

41

Page 53: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(10) e, por movimento lateral, o conecta ao objeto L formando o VP desejado,

como ilustrado em (12):

(11) {eu1, converseio, como, oo, Joãoo, eo, ao, Mariao}

(12) &P ~

e VP ~

conversei;

a Maria

VP ~

converseh PP ~

com DP ~

o João

Agora, o VP formado com a cópia do verbo pode ser conectado ao &P e a

derivação prossegue até derivar o vP em (13).

(13) vP ~

eu v' ~

conversei;+v &P

V~' ers~P e~VP

cadei ~ ~ com DP conversei; PP ~ ~

o João com DP ~

a Maria

42

Page 54: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

As cópias que estão nos sintagmas coordenados não entram em relação de

c-comando; logo, não formam cadeia uma com a outra. A cópia adjungida ao

verbo leve, por outro lado, c-comanda cada uma das cópias formando uma

cadeia com cada uma delas. Uma vez que a derivação forma duas cadeias de

verbo, e os autores assumem que cada cadeia de verbo corresponde a um evento,

então, deriva-se a leitura de dois eventos para (2). No componente fonológico,

cada cadeia é reduzida e as cópias mais baixas são apagadas.

Vamos agora considerar as derivações de (1), repetida em (14), com

apenas uma preposição na numeração, como ilustrado em (15).

(14) Eu conversei com o João e a Maria.

A computação forma o DP a Maria e pode optar por conectar a conjunção e ou a

preposição. Vamos ver as conseqüências de cada uma delas. Se a computação

opta por conectar a conjunção, o Requerimento de Paralelismo motiva a

formação de outro DP para ser conectado ao &P já formado, de modo que a

coordenação será entre DPs. A esse &P é conectada a preposição, e a derivação

prossegue até se formar o vP em (16). Como só há uma cadeia de verbo, a leitura

é de apenas um evento, como havíamos apontado na introdução.

43

Page 55: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(16) vP ~

eu v' ~

conversei+v VP

/ convers~ b-J com &P

~ DP &' ~ ~

o João e DP ~

a Maria

Por outro lado, se depois de formar o DP a Maria, a computação optar por

conectar a preposição, então, o objeto em (17) será formado. Corno o nosso

objetivo é derivar urna sentença com duas cadeias verbais, teremos que

coordenar dois VPs. Vamos supor, então, que a computação opta nesse ponto em

conectar o verbo e em seguida a conjunção, corno ilustrado em (18):

(17) [rr com [ora Maria]]

(18) [&P e [ VP conversei [rr com [ora Maria] ]

O Requerimento de Paralelismo agora motiva a formação de um outro VP.

Com o que restou na numeração em (19) abaixo, só é possível formar o DP em

(20). A computação precisará, então, copiar o verbo, mas esse verbo pede como

44

Page 56: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

complemento um PP e não um DP, de modo que o sistema deve copiar antes a

preposição de (18) para conectá-la ao DP em (20) resultando no PP em (21) (uma

instância de movimento lateral). Agora o verbo pode ser também copiado de (18)

e ser conectado ao PP em (21) (outra instância de movimento lateral), gerando

(22). A seguir, o VP em (22) é conectado a (18), como ilustrado em (23). Em (24)

temos, enfim, a estrutura resultante da adjunção de conversei ao verbo leve.

(19)

(20)

(21)

(22)

(23)

{eu1, converseio, como, 01, João1, eo, ao, Mariao}

[oro João]

[rr com; [DP o João]]]

[VP converseik [rr com; [oro João]]]

VP /'-.-..

converseik PP /'-.-..

e

&' ~

VP /'-.-..

com; DP converseik PP /'-.-.. /'-.-..

o João com; DP /'-.-..

a Maria

45

Page 57: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(24) vP ~

eu v' ~

converseík+v &P ~

&' ~

converseik PP e ~

VP ~

converseik PP ~

o João com; DP ~

não há c-comando a Maria

· Essa estrutura é praticamente idêntica à estrutura em (13) que permite a

leitura de dois eventos para a sentença (2). A diferença crucial é que em (24), as

preposições, assim como os verbos, são cópias. Os verbos que estão nos

sintagmas coordenados formam cada um uma cadeia com o verbo que está

adjunto ao verbo leve e são apagados pela operação de Redução de Cadeia

conforme apresentado na sessão 2.1. Mas as cópias da preposição não entram em

relação de c-comando, de modo que não é possível formar cadeia. Se não formam

cadeia, a operação de Redução de Cadeia não se aplica e a estrutura com duas

cópias não-distintas do mesmo objeto não pode ser linearizada: o LCA recebe a

informação contraditória de que a conjunção e, por exemplo, deve preceder e ser

precedida pela preposição com. Exclui-se, assim, a leitura de dois eventos para

(14).

46

Page 58: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

3.2. A preposição pode estar presente no segundo termo coordenado, mas não pode ter

sido inserida na sintaxe

V amos tratar agora dos casos em que a preposição pode ou não aparecer

no segundo termo coordenado, porém, se estiver presente, não pode ter sido

inserida na sintaxe. Os dados são os seguintes:

(25) a. Eu não gosto da idéia do João e a Maria comprarem o livro.

b. Eu não gosto da idéia do João e da Maria comprarem o livro.

(26) a. Eu pensei no João e a Maria comprarem o livro.

b. Eu pensei no João e na Maria comprarem o livro.

(27) a. Eu falei pro João e a Maria comprarem o livro.

b. Eu falei pro João e pra Maria comprarem o livro.

Nessas sentenças, a preposição pode ou não aparecer nos dois termos

coordenados. No entanto, o verbo no infinitivo concorda com o sintagma

conjuntivo. Assumindo que a concordância acontece por uma relação de

checagem de traços entre o núcleo I e um DP /NP em seu especificador, como é

possível haver concordância entre o João e a Maria e o verbo no infinitivo em

(25b), (26b) e (27b)?

47

Page 59: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Na sessão 2.2. vimos que a concordância verbal com os sujeitos

coordenados requer a subida de toda a estrutura coordenada para Spec de IP.

Vimos também que o &P herda as propriedades do seu especificador e para

efeitos de concordância, leva em consideração os dois termos do sintagma

conjuntivo. Mas nos exemplos (25b), (26b) e (27b) acima, tanto o especificador,

quanto o complemento, aparentemente, são PPs, como ilustrado na estrutura de

(25b), por exemplo, ilustrada em (28).

(28) IP ~

&P; ~

&' pp /'--..__ /'--..__

de DP e /'--..__

PP /'--..__

I

o João de DP /'--..__

a Maria

vP /'--..__

&P; v' /'--..__

v VP ~

comprarem o livro

Assumindo que um sintagma preposicional não pode desencadear

concordância, o único meio de o sujeito e o verbo de (25b) concordarem é

coordenando dois DPs e não dois PPs, corno na estrutura em (29).

48

Page 60: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(29)

a

DP ~

NP ~

idéia PP ~

de CP ~

C IP ~

&P; ~

DP ~

&' I ~

vP ~

o João e DP &P; v' ~ ~

a Maria v VP ~

comprarem o livro

Mas para obtermos essa estrutura, a derivação tem que ter começado com

apenas uma preposição na numeração. Se tivéssemos duas preposições, ou a

coordenação teria que ser entre PPs, como em (28), ou a derivação não se

completaria, pois a numeração não seria esgotada, já que uma preposição não

teria sido usada.

Os dados em (25)-(27) sugerem que mesmo nos casos em que a preposição

aparece nos dois termos coordenados, uma derivação com apenas uma

preposição na numeração pode, em princípio, ser derivada. Sendo assim, falta

explicar o aparecimento da segunda preposição nesses casos. A hipótese mais

plausível é que a preposição seja inserida na morfologia, como argumentarei no

capítulo 5.

49

Page 61: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

3.3. A preposição precisa estar no segundo termo coordenado e tem que ter sido

inserida na sintaxe

Nunes (2001, a sair) e Hornstein e Nunes (2002) mostraram que a

preposição não pode ser copiada na derivação de (2), repetida abaixo em (30),

porque geraria urna estrutura com duas cópias não-distintas do mesmo

elemento, causando problemas para a linearização da estrutura (cf. (17)-(24)

acima), de modo que a derivação deveria necessariamente, começar com urna

numeração contendo duas preposições.

(30) Eu conversei com o João e com a Maria.

No entanto, se, corno apresentei acima, houver urna derivação disponível

com apenas urna preposição na numeração para as sentenças em que a

preposição precisa aparecer nos dois termos coordenados, então, a segunda

preposição precisará ser inserida em algum momento da derivação. Precisamos

estabelecer qual é esse momento.

A discussão dos dados (25)-(27) acima deixou claro que a segunda

preposição não pode estar presente na sintaxe, senão a concordância do verbo

infinitivo não poderia ocorrer. A opção nesse caso é a preposição ser inserida na

morfologia.

50

Page 62: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Mas consideremos agora os dados (31)-(33) abaixo, que mostram que a

preposição é obrigatória nos dois termos coordenados quando a coordenação

envolve pronomes.

(31) a. *O João se lembrou de você e mim.

b. O João se lembrou de você e de mim.

(32) a.-* A Ana saiu sem mim e você.

b. A Ana saiu sem mim e sem você.

(33) a. *0 João conversou com ele e você.

b. O João conversou com ele e com você.

A obrigatoriedade das duas preposições se deve, presumivelmente, ao

fato de os pronomes terem que ser fortes para serem coordenados (cf.

Cardinaletti e Starke 1999). Nessas sentenças, portanto, se não houver duas

preposições na numeração, a preposição tem que ser copiada ainda na sintaxe

para permitir a coordenação. Esses casos serão tratados no capítulo 6.

51

Page 63: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

3.4. A preposição precisa estar no segundo termo coordenado, mas pode ter sido

inserida tanto na sintaxe quanto na morfologia

Vimos até agora dois tipos distintos de sentenças: um em que a segunda

preposição não pode estar na sintaxe e outro em que a preposição tem que estar

presente na sintaxe. Os exemplos (34)-(36) abaixo não estão incluídos em

nenhum desses dois tipos de sentenças:

(34) a. *Eu votei no Pedro e a Ana.

b. Eu votei no Pedro e na Ana.

(35) a. *Eu me lembrei do João e a Maria.

b. Eu me lembrei do João e da Maria.

(36) a. *Ele se referiu ao Pedro e o Paulo.

b. Ele se referiu ao Pedro e ao Paulo.

Nesses casos, a preposição também é obrigatória nos dois termos

coordenados. No entanto, nessas sentenças não existe o problema relacionado à

concordância levantado pelas sentenças em (25)-(27) acima, nem o problema de

que a preposição deve estar presente para permitir a coordenação, como nos

52

Page 64: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

exemplos (31)-(33) acima. Qualquer urna das duas estruturas em (37) abaixo é

bem formada na sintaxe.

(37) a. Eu me lembrei [PP de [&P [op o João][&· e [oPa Maria]]]]

b. Eu me lembrei [&P [PP de [oP o João] [&'e [PP de [oPa Maria]]]]

Desse modo, para essas sentenças, a preposição pode ser inserida tanto na

sintaxe, quanto na morfologia. Segundo o que apresento nessa dissertação, as

duas derivações produziriam o mesmo resultado, com uma única diferença de

ordem semântica: a derivação só pode gerar urna sentença com dois eventos se a

preposição tiver sido inserida na sintaxe, conforme o que foi exposto em 3.1

acima.

3.5. Conclusão

Apresentei quatro tipos de sentenças com relação à presença da

preposição no segundo termo coordenado. Mostrei que em alguns casos, a

preposição pode ou não estar presente no segundo termo, mas a presença da

segunda preposição licencia a leitura de mais de um evento. Mostrei outros

casos em que a preposição pode ou não estar presente no segundo termo

coordenado, mas não pode estar presente na sintaxe, porque impediria a

concordância entre o sujeito e o verbo. Vimos outros casos em que a preposição é

53

Page 65: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

obrigatória no segundo termo coordenado, mas nesses casos, é obrigatório

também que a preposição tenha sido inserida na sintaxe. Por fim, apresentei

casos em que a preposição precisa estar no segundo termo coordenado, mas

pode ter sido inserida tanto na sintaxe quanto na morfologia.

No entanto, ficou faltando explicar como o problema de linearização

levantado por Nunes (2001, a sair) e Hornstein e Nunes (2002) pode ·ser

contornado nos casos em que a preposição pode ser copiada na sintaxe. Esse

ponto será tratado no capítulo 4, em que tratarei das sentenças apresentadas na

sessão 3.4.

54

Page 66: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Capítulo 4

Contração de Preposição

e Coordenação

Este capítulo trata das sentenças em que a preposição é obrigatória nos

dois termos coordenados, e a inserção da preposição pode se dar tanto na sintaxe

quanto na morfologia. As sentenças em (1)-(3) exemplificam esses casos:

(1) a. *Eu votei no Pedro e a Ana.

b. Eu votei no Pedro e na Ana.

(2) a. *Eu me lembrei do João e a Maria.

b. Eu me lembrei do João e da Maria.

(3) a. *Ele se referiu ao Pedro e o Paulo.

b. Ele se referiu ao Pedro e ao Paulo.

Repare que nessas sentenças, a preposição está contraída com o artigo.

Como apontei no capítulo 1, os dialetos que não usam artigos antes de nomes

próprios não precisam da presença da segunda preposição em sentenças

55

Page 67: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

análogas às apresentadas em (1)-(3), como mostra (4) abaixo. Esse dado

comprova que é a contração da preposição com o artigo que obriga a presença da

segunda preposição.

(4) Eu me lembrei de João e Maria.

Este capítulo tratará desses casos. Na sessão 4.1. mostro que a preposição

pode ser copiada tanto na morfologia quanto na sintaxe, para satisfazer o

Requerimento de Paralelismo. Na sessão 4.2. analiso sentenças em que a

repetição da preposição se impõe, apesar de a contração ocorrer apenas no

segundo termo coordenado.

4.1. A segunda preposição satisfazendo o Requerimento de Paralelismo

Consideremos a derivação de (1b), repetida abaixo em (5), a partir da

numeração simplificada em (6), em que crucialmente, apenas uma preposição

está presente.

(5) Eu votei no Pedro e na Ana.

56

Page 68: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Após formar o DP a Ana, a computação tem a opção de conectar a

preposição ou a conjunção e. V amos supor que é a preposição que é conectada ao

DP, formando o PP em a Ana e em seguida a computação conecta a conjunção,

resultando no objeto em (7) abaixo. Quando esse objeto é formado, o

Requerimento de Paralelismo motiva a formação de um outro PP para ser

conectado ao &P. O DP em (8) é, então, formado, mas a numeração não tem mais

preposição para ser conectada a esse DP. A solução é copiar a preposição do &P

em (7) e conectá-la ao DP em (8) (uma instância de movimento lateral), como

ilustrado em (9). A estrutura resultante da conexão do PP formado em (9) ao &P

em (7) está ilustrada em (10):

(7) [&P e [rr em [ora Ana]]]

(8) [or o Pedro]

(9)

e

&P ~

pp ~

a

pp

~ DP ~

o Pedro

57

Page 69: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(10) &P ~

&' pp

~ ~ em; DP e ~

o Pedro

não há c~comando

pp

~ em; DP ~

a Ana

Como vimos na sessão 3.1., Nunes (2001, a sair) e Hornstein e Nunes

(2002) apresentam a estrutura em (11), semelhante a (12), em que a preposição

também foi copiada, e mostram que essa estrutura não converge porque as

preposições, uma vez que não entram em relação de c-comando, não podem

formar cadeia e, portanto, não está sujeita à Redução de Cadeia e a estrutura não

pode ser linearizada.l

(11)

VP ~

converseik PP ~

com; DP ~

e

o João

&' ~

VP ~

converseik PP ~

com; DP ~

a Maria

1 Como apontado na sessão 3.1., o verbo em (11) se move ainda para adjunção a v, formando cadeia com cada uma das cópias, de modo que estas são apagadas e não causam problemas para a linearização.

58

Page 70: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

A fim de distinguir a derivação de (10) da de (11), Ximenes (2002) propõe

que em (10) os determinantes se adjungem à preposição, como em (12) abaixo,

partindo da estrutura em (10). Essas adjunções seriam analisadas pela morfologia

como sendo uma palavra, de modo que as cópias das preposições não causariam

problemas ao LCA (Axioma de Correspondência Linear), pois, seguindo

Chomsky (1995) e Nunes (1999, a sair), o LCA não "enxergaria" dentro de

palavras.

(12)

PP &' ~ ~

po; DP e pp /"---_ /"---_ ~

poi D0k DOk Pedro poi DP em o o /"-.._ /"-.._

po; DO; DO; Ana em a a

Nunes chama a atenção para o fato de que a operação de reanálise

morfológica é necessária independentemente. Observe (13):

(13)

o

DP /"-.._

Beto

beijou;

v'

~

v t; DP /"-.._

a Clara

59

Page 71: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Essa estrutura tem duas configurações que não podem ser linearizadas: os DPs [a

Clara] e [o Beta]. Nesses casos há c-comando mútuo e o LCA não consegue lidar

com esses casos. Chomsky (1995: 337) sugere, então, que essas configurações

talvez sejam reanalisadas pela morfologia como uma palavra: "The structure N =

[L m p] has changed by the time the LCA app!ies so that its internai structure is

irrelevant; perhaps N is converted by Morphology to a 'phonological word' not

subject to the LCA, assuming that the LCA is an operation that applies after

Morphology ."

Nunes (1999, a sair) se utiliza dessa constatação para explicar casos em

que mais de urna cópia da cadeia é pronunciada, corno por exemplo, o caso do

frisão em (14), em que mais de urna cópia da cadeia é pronunciada (exemplo

tirado de Hiernstra 1986):

(14) wêr tinke jo where think you

wêr't Jan wennet where-that Jan !ives

'where do you think that J an lives'

'onde você pensa que o João mora'

Nunes propõe que a operação de Redução de Cadeia se dá por motivos de

linearização no componente morfológico, como apontado na sessão 2.1. Urna

cadeia é formada com elementos não distintos em relação de c-comando, e a

operação de Redução de Cadeia apaga as cópias dessa cadeia que entraram em

menos relações de checagem. No entanto, o dado (14) parece ir contra essa

60

Page 72: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

proposta. O LCA não deveria ser capaz de linearizar essa estrutura, pois recebe a

informação de que o elemento wêr, por exemplo, deve preceder e ser precedido

por si mesmo, já que a cópia mais alta c-comanda assimetricamente a cópia mais

baixa. A proposta de Nunes é que wêr, em seu movimento para Spec de CP da

matriz, se adjunge ao C intermediário e essa adjunção é posteriormente

reanalisada como uma única palavra pela morfologia. Uma vez reanalisada como

parte de Co intermediário, a cópia de wêr se toma invisível ao LCA e, portanto,

não causará problema de linearização com relação à cópia em Spec de C da

matriz. Nunes (a sair) implementa essa reanálise em termos de fusão, ou seja, a

estrutura de adjunção [c wêr [c C]] é fundida em um único elemento terminal.

O problema com a análise de Ximenes (2002) em relação à estrutura em

(12) é que, se assumirmos que o LCA não "enxerga" dentro de palavras, não é

possível explicar como é que as cópias dos determinantes que estão na posição

de origem, ou seja, o núcleo de DP, não são pronunciadas. O único meio de se

apagar os artigos na posição de origem, seria por Redução de Cadeia, mas a

cópia que está adjungida à preposição, depois de reanalisada morfologicamente,

não causa problema para a linearização, logo Redução de Cadeia não se aplica.

Em outras palavras, o resultado da linearízação da estrutura em (12) deveria ser

licenciado como em (15).

(15) *no o Pedro e na a Ana

6!

Page 73: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Ao contrário de Ximenes (2002), que assume que a adjunção dos

determinantes se passa na sintaxe, proponho que a preposição e o determinante

só precisam estar concatenados na morfologia. Sendo assim, a morfologia recebe

a estrutura em (16) abaixo com as preposições sendo cópias não-distintas. Cada

uma das preposições sofre concatenar com o artigo que está adjacente, como

ilustrado em (17a) abaixo. Posteriormente, ocorre a operação fusão, que toma

preposição e artigo uma única "palavra", como ilustrado em (17b). Como as

cópias das preposições estão dentro de palavras, não causam problemas para a

!inearização e a derivação converge, resultando na sentença em (17c).

(16) Eu votei [&P [PP emi [oP o Pedro]][&' e [PP emi [oPa Ana]]]]

(17) a. Eu votei em o Pedro e em a Ana [aplicação de concatenar]

u u b. Eu votei em+o Pedro e em+a Ana [aplicação de fusão]

u u c. Eu votei no Pedro e na Ana

Mostrei nesta discussão que a preposição pode ser copiada na sintaxe

porque a cópia, ao sofrer fusão com o artigo, sofrerá reanálise morfológica,

tomando-se invisível ao LCA, não causando problemas para a linearização da

estrutura. Esse resultado foi obtido a partir de uma numeração com apenas uma

preposição e em que a computação, ao formar o DP a Ana, optou por conectar a

esse objeto a preposição (cf. (7)-(10)).

62

Page 74: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Vamos ver, então, corno se daria a derivação, se a computação optasse por

conectar a conjunção e ao DP a Ana, e não a preposição. Após conectar a

conjunção, o Requerimento de Paralelismo motiva a formação de outro DP, de

modo que o DP o Pedro é formado e conectado ao &P [e a Ana]. Em seguida, a

preposição é conectada e a derivação prossegue até formar o vP apresentado em

(18).

(18) vP ~

eu v' ~

v VP ~

votei PP ~

em &P

---------------DP ~

o Pedro e

&' ~

DP ~

a Ana

Ao chegar no componente morfológico, a preposição deverá ser

concatenada com o artigo ao qual está adjacente, conforme apresentado na sessão

2.4. De fato, a preposição e o artigo do primeiro sintagrna coordenado estão

adjacentes e a operação concatenar ocorre nesse local, corno ilustrado em (19):

63

Page 75: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(19) a. eu votei em o Pedro e a Ana. [aplicação de concatenar]

u b. eu votei em+o Pedro e a Ana. [aplicação de fusão]

u c. *eu votei no Pedro e a Ana.

Esse é o resultado esperado para a derivação com apenas uma preposição

na numeração. Mas por que é que a sentença em (19c) não é aceitável? Vamos

comparar essa derivação com a derivação da sentença aceitável (20) abaixo:

(20) Eu falei sobre a música e o filme.

Os passos dessa derivação são os mesmos apresentados acima para gerar

a estrutura em (18). A computação forma o DP o filme e conecta a conjunção e. Em

seguida, forma o DP a música e o conecta ao &P ao qual é conectada a preposição,

e a derivação prossegue até obtermos a estrutura em (21). Essa estrutura não é

alterada na morfologia (de modo relevante para essa exposição) e na superfície

teremos a sentença em (20).

64

Page 76: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(21) vP ~

eu v' ~

v VP ~

falei PP ~

sobre &P

---------------a

DP ~

música e

&' ~

DP ~

o filme

Comparemos (18) e (21). As derivações sintáticas são idênticas. A

diferença está na morfologia: em (18), mas não em (21), a operação concatenar

acontece no primeiro termo coordenado. É claro que o problema não pode estar

na operação em si, já que concatenar acontece em outras derivações sem causar

problema algum, como por exemplo na sentença (23) em que a preposição sofre

contração com o artigo.

(23) Eu votei no João.

Temos que olhar, então, para o que a derivação de (18) tem de especial: ou

seja, a coordenação. A minha hipótese é de que essa estrutura não converge

porque a operação concatenar acontece apenas no primeiro termo coordenado.

65

Page 77: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Isso implica dizer que o Requerimento de Paralelismo também opera na

morfologia. Vamos ver abaixo algumas evidências de que essa hipótese está no

caminho certo.

4.1.1. Requerimento de Paralelismo na Morfologia

Nesta sessão vou apresentar três casos em que o Requerimento de

Paralelismo parece estar atuando na morfologia. O primeiro deles envolve

wanna-contraction. Vejamos os exemplos abaixo tirados de Postal e Pullum (1982):

(24) a. I want to dance and to sing.

b. *I wanna dance and to sing.

Wanna-contraction pode ser analisado também como a aplicação de

concatenar+fundir na morfologia. Mas diferentemente dos casos de contração de

preposição no português, a contração entre o verbo e a preposição é opcional.

Assim, a morfologia tem duas opções quando recebe a estrutura em (25),

aplicar concatenar no primeiro termo coordenado ou não.

66

Page 78: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(25) vP ~

I v'

~ v VP ~

want &P ~

pp

~ &' ~

to dance and PP ~

to si.cg

Se concatenar não se aplicar, então a estrutura não terá alterações relevantes e a

sentença na superfície será como (24a). Se concatenar acontecer, então teremos os

passos em (26) na morfologia:

(26) a. I want to dance and to sing ij

b. I want+to dance and to sing ij

c. *I wanna dance and to sing

[aplicação de concatenar]

[aplicação de fundir]

A inaceitabilidade dessa sentença pode ser atribuída ao Requerimento de

Paralelismo. Como nos casos de construções ATB, se a operação concatenar

aconteceu em um dos termos coordenados, deverá acontecer nos dois termos.

Como nesse caso existe a opção de não aplicar a operação, como em (24a), a

67

Page 79: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

morfologia opta pela derivação dessa sentença e rejeita a derivação em (26), que

levaria á sentença (24b).2

Nunes (1995:413-414,n.31) aponta o contraste entre (24b) e (27) abaixo, em

que a contração acontece aparentemente em apenas um dos termos coordenados.

O autor apresenta as duas estruturas em (28). (28a) não permitiria contração, mas

(28b) sim. Veja que a contração em (28b) se daria fora do sintagma coordenado,

de modo que não violaria o Requerimento de Paralelismo.

(27) I wanna dance and sing

(28) a. [want [&P [to dance] [&· and [to sing]]]]

b. [want to [&P [dance][&' and [sing]]]]

O segundo caso em que o Paralelismo parece estar atuando, me foi

apresentado por Vivian Lin (c. p.), que apresenta o contraste ente os dois grupos

de sentenças abaixo:

(29) a. Bob can play checkers and Mary, play chess.

b. Bob; can [ t; play checkers] and [Mary play chess]

' Como vou mostrar mais abaixo, no caso da contração de preposição no português, a morfologia não tem a opção de não aplicar a operação concatenar e tem que encontrar um outro meio para "salvar" a derivação.

68

Page 80: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(30) a. *Bob played checkers and Mary play chess.

b. *Bobi -ed [ h play checkers] and [Mary play chess]

Lin assume que essas sentenças envolvem coordenação de VPs e que os

termos coordenados compartilham a categoria I. Assumindo uma proposta de

Johnson (1996)3, ela permite que o argumento externo de apenas um dos

conjuntos se mova para o especificador de I. A proposta de Lin é que no caso da

sentença em (30), o Requerimento de Paralelismo morfológico não permite que a

sentença seja derivada. Como apontado no capítulo 2, a afixação em inglês ocorre

por uma operação morfológica entre o afixo e o verbo com a condição de que os

elementos sejam adjacentes. Em (30b), o afixo está adjacente apenas ao primeiro

verbo, e a afixação acontece apenas no primeiro termo coordenado, segundo Lin,

violando o Requerimento de Paralelismo na morfologia.

O terceiro caso de paralelismo me foi fornecido por Andrew Mcintyre (c.

p.), que apontou que em alemão parece acontecer a mesma coisa que em

português. Algumas preposições opcionalmente se contraem com o determinante

que as segue. No entanto, se a contração acontece em um dos termos

3 Johnson (1996) propõe que o Coordinate Structure Constraint de Ross (1967) deve ser levemente modificado de modo a permitir movimento de algum elemento do primeiro termo coordenado (mas não do segundo) para uma posição-A (mas nunca para urna posição-A') fora do sintagma coordenado. Ele se baseia nos seguintes exemplos envolvendo Marcação Excepcional de Caso:

(i) a. Liz rnade Mason out [rP [IP t to be intelligentJ and [IP Sarah to be kind] J b. Julie has believed Liz for some time [IP [rP t to be honest] and [IP Scott to

be entertaining] J

69

Page 81: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

coordenados, então tem que acontecer nos dois termos coordenados, como

mostram as sentenças em (31):4

(31) a. Briefe von dem Prãsidenten und dem Kanzler. letters from the(dat.) president and the(dat.) chancellor

b. *Briefe vom Prãsidenten und dem Kanzler letters from.the(dative) president and the(dat.) chancellor

c. Briefe von dem Prãsidenten und von dem Kanzler. letters from the(dat.) president and from the(dat.) chancellor

d. Briefe vom Prasidenten und vom Kanzler letters from.the(dat.) president and from.the(dat.) chancellor

'Cartas do/de o presidente e do/de o chanceler'

Em (31b), a preposição von se contraiu com o determinante dem no

primeiro termo coordenado, e a sentença é inaceitável porque a contração não

acontece no segundo termo. As outras sentenças são aceitáveis porque ou a

contração se dá nos dois termos coordenados, como em (31d), ou não se dá em

nenhum dos termos coordenados, como em (31a) e (31c). O caso é bem parecido

com o do português, com a diferença de que no alemão a contração é opcional.

Todos esses casos sugerem que o Requerimento de Paralelismo atua na

morfologia. Parece ser certo que as estruturas coordenadas estão sujeitas a

algumas regras particulares de boa formação que leva em conta operações

acontecendo em cada um dos termos coordenados, seja na sintaxe, seja na

'Agradeço a Carmen Zink Bolognirú pela confirmação dos julgamentos dessas sentenças.

70

Page 82: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

morfologia. Do mesmo modo que nos casos acima, proponho que as sentenças

contendo preposições contraídas apenas com o artigo do primeiro termo

coordenado, como em (32)-(34) abaixo, não são aceitáveis porque violam o

Requerimento de Paralelismo: a operação morfológica de concatenar acontece

apenas em um dos termos coordenados enquanto deveria acontecer nos dois

termos.

(32) *Eu votei no Pedro e a Ana.

(33) *Eu me lembrei do João e a Maria.

(34) *Ele se referiu ao Pedro e o Paulo.

4.1.2. E de onde vem a segunda preposição?

Voltemos para nossa sentença (lb) repetida abaixo em (35). Seguindo o

que foi apresentado acima, chegamos na morfologia com os passos em (19),

repetidos em (36). Essa estrutura não converge, pois viola o Requerimento de

Paralelismo. No nosso caso, para "salvar" essa derivação, é necessário que a

operação concatenar se dê também no segundo conjunto. Mas não existe na

estrutura uma preposição adjacente ao segundo artigo para que a operação se

aplique. Como resolver o problema?

71

Page 83: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(35) Eu votei no Pedro e na Ana.

(36) a. eu votei em o Pedro e a Ana. [aplicação de concatenar]

u b. eu votei em+o Pedro e a Ana.

Vimos que se a preposição tiver sido copiada na sintaxe, a operação

concatenar se dá nos dois termos coordenados, pois cada um deles entra na

morfologia com uma preposição adjacente ao artigo. Mas temos que resolver

como o Requerimento de Paralelismo pode ser satisfeito para a derivação que

gerou a estrutura em (18), repetida em (37) abaixo, em que apenas uma

preposição é mandada para a morfologia. Para essa derivação, a solução é a

segunda preposição ser inserida na morfologia.

(37) vP ~

eu v' ~

v VP ~

votei PP ~

em &P ~

o

DP ~

Pedro e

&' ~

DP ~

a Ana

72

Page 84: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Chomsky (1957) já propunha que o verbo do do inglês era inserido na

morfologia em casos de negação e interrogação, por exemplo. Bobaljik (1995)

retoma essa idéia em termos da Morfologia Distribuída. Um traço [+ afixo] é

atribuído a Infl exigindo que Infl esteja afixado ao verbo na morfologia, através

da operação concatenar. Para que a afixação ocorra, I e V precisam estar

adjacentes. Dois termos estão adjacentes quando não tem nenhum elemento com

realização fonética intervindo entre eles, levando em conta apenas os nós

terminais. Em uma sentença afirmativa, I e V podem estar adjacentes, e Infl pode

se afixar ao verbo, como ilustra (38) (exemplo (7) de Bobaljik):

(38) IP ~

DP I' subj. ~

I VP a [infl] ~

V' ~

V DP [verb] obj.

Mas no caso da negação, por exemplo, not está interferindo entre I e V,

impedindo a adjacência, como ilustrado em (39) abaixo.5 Quando essa estrutura

s No caso da interrogação, a adjacência é bloqueada pelo sujeito em Spec de IP, assumindo que movimento-WH desencadeia a subida de I para Comp. Isso não acontece no caso em que o elemento WH é o próprio sujeito da sentença. Se o sujeito sobe para Spec de CP, se posiciona antes de l, de modo que já não bloqueia a adjacência. Essa assimetria entre os elementos WH está exemplificada em (i) (exemplos (11c) e (12a) de Bobaljik (1995):

73

Page 85: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

chega à morfologia, um elemento dummy é inserido, a saber, o verbo do, ao lado

de I para que seus traços tenham um verbo para se afixar, gerando a sentença

com o verbo do. Os passos da derivação no componente morfológico são os que

estão em (40) (ex. (10) de Bobaljik (1995)):

(39) IP ~

DP I' subj. ~

I a [infl]

NegP ~

not Neg' ~

adjacency disrupted: affixatíon blocked

VP ~

V' ~

V DP

(40) Sam a[-past,3s] JJ

not like green eggs and ham.

Sam {a[-past,3s],do} not like green eggs and ham. JJ

Sam does not like green eggs and ham.

[linear order]

[do-insertion]

[spell-out]

A minha proposta é que podemos analisar a dupla aparição da preposição

em (1b), (2b) e (3b) de modo similar ao que Bobaljik (1995) usa para analisar do-

support para o inglês. Quando a estrutura em (37) é mandada para a morfologia,

(i) a. When did Sam eat t:he horseradish? b. Who ate my horseradish?

74

Page 86: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

a concatenação acontece entre a preposição e o determinante no primeiro termo

coordenado. O Requerimento de Paralelismo, então, exige que a operação

aconteça também no segundo termo coordenado, mas a estrutura não tem

nenhuma preposição adjacente àquele determinante. A morfologia, então, insere

a preposição ao lado do artigo para que a operação concatenar ocorra.

O problema que temos agora é explicar qual a origem dessa preposição.

Está claro que não podemos permitir que qualquer elemento seja inserido na

morfologia, senão poderíamos gerar uma oração como (41):

(41) *Eu votei no Pedro e da Ana.

Uma opção é assumir que as preposições inseridas são preposições dummy

como o verbo do em do-support. O Requerimento de Paralelismo poderia ser

invocado para garantir que uma preposição do mesmo tipo que a presente no

primeiro termo coordenado seja inserida, bloqueando a derivação de (41). No

entanto, essa proposta requereria que cada preposição tivesse que ter uma forma

dummy para dar conta de todos os casos envolvendo preposições que sofrem

contração.

Uma outra opção é a preposição ser copiada na morfologia e inserida ao

lado do determinante no segundo termo coordenado. A vantagem dessa opção é

que utilizamos uma operação já bastante produtiva na sintaxe e também na

morfologia, como mostrarei mais adiante como os exemplos de reduplicação.

75

Page 87: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Além disso, com urna única operação damos conta da inserção de todas as

preposições, sem postular urna forma dummy para cada urna delas. Assim corno

na sintaxe, as operações na morfologia devem ser motivadas. Com isso,

garantimos que a morfologia não possa copiar qualquer elemento. No caso das

preposições que estamos analisando, essa motivação é o Requerimento de

Paralelismo.

Vamos retornar a sentença (30), repetida abaixo em (42), para exemplificar

os passos na rnorfologia:6

(42) Eu votei no Pedro e na Ana.

A estrutura que chega à morfologia é corno em (43). A operação

concatenar acontece no primeiro termo coordenado resultando em (44).

(43) Eu votei em o Pedro e a Ana.

(44) Eu votei em+o Pedro e a Ana.

O Requerimento de Paralelismo exige que a operação concatenar aconteça

também no segundo termo coordenado. Corno não há nessa posição nenhuma

' Lembremos que estamos apresentando os itens lexicais para efeito de exposição, mas tecnicamente, a computação trabalha com traços.

76

Page 88: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

preposição, a morfologia, motivada pelo Requerimento de Paralelismo, copia a

preposição que está no primeiro termo coordenado e a insere ao lado do

determinante no segundo termo coordenado, como ilustrado em (45):

(45) Eu votei em+o Pedro e em a Ana.

A operação concatenar acontece no segundo termo coordenado, como em

(46) e em seguida acontece a operação fundir, gerando a sentença (47):

(46) Eu votei em+o Pedro e em+a Ana.

(47) Eu votei no Pedro e na Ana.

Veja que é importante que as operações concatenar e fundir aconteçam em

momentos distintos. Como vimos na sessão 2.3., fundir não preserva os traços

dos nós terminais independentemente, mas antes os une num único nó terminal.

Se fundir acontecesse em seguida à operação concatenar, a morfologia estaria

copiando não os traços da preposição, mas sim os traços resultantes da fusão, um

resultado indesejável, como mostram os passos abaixo:

77

Page 89: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(48) a. eu votei em o Pedro e a Ana. [concatenar e fundir no primeiro conjunto]

!.f b. eu votei no Pedro e [?] a Ana. [Req. De Para!. exige concatenar no segundo conjunto]

!.f c. eu votei no Pedro e no a Ana. [cópia e inserção da preposição}

!.f d. eu votei no Pedro e no+a Ana. [concatenar no segundo conjunto]

Presumivelmente, a cópia nem poderia acontecer, pois a morfologia não

encontraria na estrutura um elemento compatível com os requerimentos para

copiar e ill.serir ao lado do artigo. O resultado da fusão deixaria os traços da

preposição indisponíveis e a morfologia não poderia copiá-los.

A operação concatenar, por outro lado, preserva os traços de cada nó

terminal, de modo que a cópia pode ser apenas da preposição, corno ilustrado

nos passos (43)-(47) acima. Veja também que, se a contração é resultado de

concatenar e depois de fusão, fusão tem que acontecer depois da operação de

cópia e inserção da preposição.

Evidência independente de que a operação de cópia pode acontecer na

morfologia é a reduplícação, que tem sido tratada corno cópia de seguimentos no

componente morfológico. Seguindo essa linha, ternos, por exemplo, a análise de

Rackowski (1999) para os casos de reduplicação no Tagalog. Nessa língua, o

rnorferna reduplicado não tem posição fixa. O que determina qual rnorferna será

copiado é o posicionamento do traço RED, que está presente na estrutura e pode

se mover na morfologia. Dependendo do local onde RED se encontra, a

78

Page 90: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

reduplicação será de um ou de outro morfema. Por exemplo, em (49) RED pode

estar em duas posições. (49a) resultará em (50c), e (49b), resultará em (50d).

(49) a. pagREDlagyan

b. REDpaglagyan

(50) a. lagay 'place'

b. pag-lagy-an trans-place-LT(locative topic)

c. paglaalagyan' will place'

d. paapaglagyan 'will place'

Lidz (1999) também analisa reduplicação como cópia na morfologia. Os

exemplos são do que ele chama de Echo Reduplication (ER) em Kannada, que

consiste em trocar o primeiro segmento CV por gi-, significando 'related stuff. ER

pode acontecer com todo tipo de categoria, inclusive orações. Os exemplos

abaixo mostram reduplicação com um nome em (51), um verbo em (52), um

adjetivo em (53) e uma preposição em (54). ER também pode acontecer dentro de

flexões, como em (55a), ou fora de flexões, como em (55b):

(51) a. pustaka book

'book'

b. pustaka-gistaka book-RED

'books and related stuff'

79

Page 91: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(52) a. ooda run

'run'

(53) a. doDDa Jarge

'large'

(54) a. meele above

'above'

b. ooda-giida beeDa run-RED PROH

'Don't run or do related activities.'

b. doDDa-giDDa large-RED

'large and the like'

b. meele-giile above-RED

'above and the like'

(55) a. baagil-annu much-gich-id-e anta heeLa-beeDa door-ACC dose-RED-P8T-18 that say-PROH

'Don't say that I closed the door or did related activities.'

b. baagil-annu much-id-e-gichide anta heeLa-beeDa door-ACC close-P8T-18-RED that say-PROH

'Don' t say that I closed the door or did related activities.'

Lidz (1999) mostra que ER não pode ser apenas fonológico, pois utiliza os

morfemas disponíveis na estrutura e não sílabas simplesmente. Por exemplo, em

(56b) temos a estrutura morfológica de (56a) e em (56c) sua silabificação. Em (57)

temos todas as possibilidades de reduplicação de morfemas de (56) e em (58)

temos todas as opções possíveis de reduplicação de fonemas, mas apenas aquela

80

Page 92: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

que reduplica um rnorferna é possível. Claramente as sílabas não podem ser

reduplicadas, mas apenas os rnorfernas:7

(56) a. hogaLikoNDaLu

'she praised herself.'

b. [[[hogaLi]-koND] -aLu] praise -REFL.PST-3SF

c. ho.ga.Li.koN.Da.Lu

(57) a. hogaLi-gigaLi-koND-aLu

b. hogaLi-koND-gigaLikoND-aLu

c. hogaLi-koND-aLu-gigaLikoNDaLu

(58) a. *ho-gi-gaLikoNDaLu

b. *hoga-giga-LikoNDaLu

c. hogaLi-gigaLi-koNDaLu (=(57a))

d. *hogaLikoN-gigaLikoN-DaLu

e. *hogaLikoNDa-gigaLikoNDa-Lu

Esses exemplos mostram que a operação de cópia na morfologia não é

urna operação estranha à teoria, o que reforça a minha proposta de que a

7 Remeto o leitor a Lidz (1999) para argumentos mais complexos de que a reduplicação não pode ser fonológica.

81

Page 93: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

preposição nos casos que estou analisando pode ser copiada para ser inserida ao

lado do segundo artigo.

4.2. Quando a contração ocorre apenas no segundo tenno coordenado

A sessão 4.1. mostrou que no caso das sentenças envolvendo preposições

que sofrem contração com o artigo, a repetição da preposição no segundo termo

coordenado se impõe seja para satisfazer o Requerimento de Paralelismo na

sintaxe, obrigando a cópia da preposição, de modo que dois PPs sejam

coordenados, seja para satisfazer o Requerimento de Paralelismo na morfologia,

que exige que a operação concatenar ocorra nos dois termos coordenados se

ocorrer em um deles. Os exemplos em (59)-(61), no entanto, são um problema

para essa análise:

(59) a. *0 Pedro se lembrou de cada senador e o presidente.

b. O Pedro se lembrou de cada senador e do presidente.

(60) a. *Eu confio em Deus e o João.

b. Eu confio em Deus e no João.

(61) a. *Eu implorei a Deus e os homens pela minha liberdade.

b. Eu implorei a Deus e aos homens pela minha liberdade.

82

Page 94: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Nessas sentenças, a preposição também é obrigatória nos dois termos

coordenados. Mas a exclusão de (59a), (60a) e (61a), aparentemente, não se

justifica. Observe a estrutura de (60a), por exemplo:

(62) vP ~

eu v' ~

v VP ~

confio PP ~

em &P ~

D

DP ~

Deus e

&' ~

DP ~

o João

A estrutura em (62) é enviada para a morfologia e, como aparentemente

não acontece concatenar no primeiro termo coordenado, não precisa acontecer no

segundo termo coordenado, de modo que a sentença (60a) deveria ser aceitável e

não é. Compare, então, (59a), (60a) e (61a), com (63)-(65) em que são usadas

preposições que não sofrem contração com o artigo. O contraste entre os dois

grupos é claro: (63)-(65) são muito melhores que (59a), (60a) e (61a):

83

Page 95: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(63) O João conversou com cada senador e o presidente.

(64) Ele se ajoelhou perante Deus e o rei.

(65) O Diabo luta contra Deus e os homens.

Mais uma vez, é a contração que impõe a repetição da preposição. Parece

que a computação tem conhecimento de que o síntagma conjuntivo é formado

por ao menos um elemento que sofre concatenação. A sessão 2.2 mostrou que

para ·efeitos de concordância, &P leva em consideração os dois termos

coordenados. Proponho, então, que &P traz consigo, além de informações

relevantes para a concordância, informações relativas ao tipo de exigência que

cada termo coordenado impõe à derivação. Nos casos analisados acima em (59a),

(60a) e (61a), &P carregaria, portanto, a informação de que o seu segundo termo é

um DP cujo artigo sofre contração com preposições átonas do tipo em, de e a.

Sendo assim, quando a estrutura em (62) chega à morfologia, o segundo

termo coordenado ainda tem uma exigência que precisa ser satisfeita, que é o

artigo se contrair com a preposição. A morfologia copia, então, a preposição e a

insere ao lado do artigo de modo que a operação concatenar possa ocorrer,

segundo ilustrado em (66):

84

Page 96: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(66) a. Eu confio em D Deus e o João u

b. Eu confio em D Deus e em o João u

c. Eu confio em D Deus e em+o João

[cópia da prep. motivada por exigência do

segundo termo coordenado]

I concatenar no segundo termo coordenado]

O problema que temos agora é que essa derivação viola o Requerimento

de Paralelismo, pois a operação concatenar ocorre apenas no segundo termo

coordenado. Minha proposta é que concatenar também está ocorrendo no

primeiro termo coordenado. É possível que preposições átonas funcionem mais

ou menos como um afixo. Nunes (a sair) assume que em (67) abaixo, por

exemplo, a preposição está adjungida ao verbo. O mesmo autor aponta que a

semelhança entre os prefixos dos verbos em (68) e a preposição que selecionam

pode indicar que, diacronicamente, esses prefixos eram reduplicação da

preposição. O fato de as preposições terem se tomado parte integrante do verbo

sugere uma lexicalização de preposições concatenadas ao verbo:

(67) O que hei-de eu t fazer?

(68) a. constituir com

b. destituir de

c. compor com

d. depor de

e. ascender a

f. descender de

85

Page 97: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Além desses casos, podemos observar ainda que a inclusão de um

parentético entre essas preposições e seu complemento gera sentenças muito

piores que quando um parentético é inserido entre outros tipos de preposições e

seus complementos, como mostra o contraste entre as sentenças em ( 69) e (70)

abaixo:

(69) a. ?O João lutou contra -por incrível que pareça- o Pedro.

b. ?O João se ajoelhou perante- por incrível que pareça- Deus.

c. ?O João conversou com- por incrível que pareça -cada menino.

(70) a. *O João acredita em- por incrível que pareça- Papai Noel.

b. *0 João obedece a- por incrível que pareça- Deus.

c. *?0 João se lembra de- por incrível que pareça- cada menino.

Vamos, assim, assumir que a operação concatenar também acontece no

primeiro termo coordenado, de modo que o Requerimento de Paralelismo seja

satisfeito. Desse modo, a derivação de (59) deve ter os seguintes passos na

morfologia:

86

Page 98: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(71) a. Eu confio em D Deus e o João u

b. Eu confio em D Deus e em o João u u

c. Eu confio em+ D Deus e em+o João

[cópia da prep. motivada por exigência do

segundo termo coordenado]

(aplicação de concatenar]

Nos dois termos coordenados a operação fusão é aplicada, de modo que as

cópias das preposições não trazem problemas para a linearização.

Com isso mostramos que a sentença (60a), por exemplo, não converge

porque () artigo no segundo termo coordenado impõe a contração com a

preposição, como visto em (60b).

Evidência independente para essa análise está nos dados em (72) e (73),

em que os elementos dentro dos colchetes são small clauses do tipo PP, com a

estrutura em (74), por exemplo, para o João na Terra da sentença (72). Small clauses

são tidas como estruturas predicativas, com argumento e predicado, assim como

as orações completas, mas sem tempo. Os autores divergem quanto à categoria

que domina uma small clause, mas uma coisa as teorias propostas têm em

comum: essa categoria não é um CP (ver Raposo e Uriagereka 1990, Stowell1995,

Sportiche 1995, entre outros). Nesse caso, estou assumindo que essa categoria é

um PP, como na estrutura em (74). Esses PPs, quando coordenados, transmitem

ao &P a informação de que são PPs e não DPs, de modo que o artigo não

consegue impor nenhuma restrição e as sentenças são perfeitas sem a repetição

da preposição.

87

Page 99: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(72) Eu confio em [Deus no Céu] e [o João na Terra]

(73) O Padre se referiu a [Maria aos pés da cruz] e [o apóstolo

ao seu lado]

(74) pp

---------------DP P' ~ ~

o João em DP ~

o Céu

Veja que se invertemos os termos coordenados, a repetição da preposição

se impõe novamente, como mostram os dados em (75)-(77):

(75) a. *Eu confio no João na Terra e Deus no Céu.

b. Eu confio no João na Terra e em Deus no Céu.

(76) a. *O Padre se referiu ao apóstolo aos pés da Cruz e Maria ao seu lado.

b. O Padre se referiu ao apóstolo aos pés da Cruz e a Maria ao seu lado.

Nesses casos, a repetição da preposição se impõe porque a operação

concatenar ocorre na morfologia no primeiro termo coordenado, de modo que o

88

Page 100: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Requerimento de Paralelismo exige que ocorra também no segundo termo

coordenado. A estrutura relevante de (75b), por exemplo, seria como em (77):

(77)

o

PP ~

&' ~

DP ~

P' e pp

~ ~ João em DP Deus P' ~ ~

o céu em DP ~

a Terra

Nessa estrutura, a preposição e o determinante no primeiro termo

coordenado estão adjacentes, e concatenar precisa ocorrer nessa posição na

morfologia. O Requerimento de Paralelismo exige que concatenar aconteça

também no segundo termo coordenado e a computação precisa copiar a

preposição e inseri-la ao lado do determinante no segundo termo coordenado,

conforme os passos em (78):

(78) a. em o João na terra e D Deus no Céu u

b. em+o João na Terra e D Deus no Céu u

c. em+o João na Terra e[?] D Deus no Céu u

d. em+o João na Terra e em D Deus no Céu u

e. em+o João na Terra e em+D Deus no Céu

[concatenar no primeiro

termo coordenado J [Req. de Parai. exige concatenar

no segundo termo] [cópia e inserção da preposição]

[concatenar no segundo termo]

89

Page 101: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

4.3. Resumo

Este capítulo tratou da repetição da preposição quando contraída com o

determinante que a segue. Mostrei na sessão 4.1. que a preposição pode ser

copiada na sintaxe porque sofrerá fusão na morfologia de modo que as cópias

não trarão problemas para a linearização, diferentemente do que acontece com as

preposições que não sofrem contração. Mostrei ainda nessa sessão que a

preposição também pode ser copiada na morfologia para satisfazer o

Requerimento de Paralelismo que exige que a operação concatenar que ocorre no

primeiro termo coordenado, ocorra também no segundo termo. Na sessão 4.2.

apontei que sentenças que coordenam elementos que exigem contração apenas

no segundo termo coordenado são, aparentemente, um problema para a minha

proposta e propus, então, que &P carrega consigo informações dos dois termos

coordenados, de modo que o artigo do segundo DP impõe à derivação urna

preposição átona do tipo em, de, a com a qual possa se contrair. Desse modo, a

preposição é copiada e concatenar acontece no segundo termo coordenado.

Propus que esse tipo de preposição átona esteja contraída com o determinante

que a segue, funcionando como um afixo, de modo que concatenar acontece nos

dois termos coordenados e o Requerimento de Paralelismo é satisfeito. Evidência

independente para essa análise é que se o complemento da preposição não for

um DP, mas sim urna small clause do tipo PP, a repetição da preposição não é

obrigatória.

90

Page 102: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Capítulo 5

Quando a Contração é Opcional

No capítulo anterior mostrei que as preposições que sofrem contração com

o artigo aparecem obrigatoriamente nos dois termos coordenados, mesmo se a

derivação tiver uma numeração com apenas uma preposição. Nesse caso, a

segunda preposição pode ser copiada na sintaxe ou copiada e inserida ao lado do

artigo no segundo termo coordenado, na morfología. Neste capítulo tratarei dos

casos em que a contração da preposição é opcional. Essa opcionalidade acontece

quando o complemento da preposição é uma sentença. Eu proponho que a

contração não acontece quando o núcleo C interfere na adjacência entre a

preposição e o artigo impedindo que aconteça a operação concatenar e

conseqüentemente a operação fundir.

Na sessão 5.1. trato da interferência do núcleo C na adjacência; a sessão

5.2. trata da opcionalidade da contração tentando explicar porque é que a

contração pode acontecer mesmo quando o complemento da preposição é uma

sentença. A sessão 5.3. analisa os casos em que o sujeito da oração encaixada é

um sintagma coordenado e a sessão 5.4. conclui o capítulo.

91

Page 103: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

5.1. C interferindo na adjacência

No capítulo 1 vimos que quando o complemento da preposição é uma

oração, então a contração é opcional, como mostram os exemplos abaixo:

(1) a. Não gosto da idéia de o João comprar um livro.

b. Não gosto da idéia do João comprar um livro.

(2) a. Eu pensei em o João comprar o livro.

b. Eu pensei no João comprar o livro

Vimos que a contração é resultado das operações concatenar e fusão no

componente morfológico quando a preposição e o artigo estão adjacentes. Em

todos os casos que vimos até agora, essa contração era obrigatória,

independentemente de haver ou não coordenação, como ilustrado em (3) abaixo.

O que, então, estaria bloqueando a operação em (la) e (2a)?

(3) a. Eu pensei no João.

b. *Eu pensei em o João.

92

Page 104: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

O que há de diferente entre essa construção e as construções analisadas

acima é que o complemento do verbo, ao invés de ser um DF é um CP. A

estrutura da sentença (1) é como em (4) abaixo. Observe que o núcleo C está entre

a preposição e o artigo. Minha proposta é que esse núcleo C bloqueia a

adjacência entre os dois elementos, impedindo que concatenar ocorra:

(4) DF ~

a NP ~

idéia PP ~

de CP ~

C IP

---------------DF; ~

o João

I' ~

I vP ~

DF; v' ~

v VP ~

comprar um livro

Uma evidência de que é mesmo C que interfere na adjacência vem mais

uma vez das small clauses. Apontei na sessão anterior que small clauses não são

CPs. Abaixo temos algumas sentenças com small clause e o seu correlato com

93

Page 105: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

orações completas. A contração é sempre opcional quando o complemento é uma

oração completa, mas é sempre obrigatória se o complemento é uma small clduse:

(5) a. Eu pensei nessas flores para o altar.

b. *Eu pensei em essas flores para o altar.

(6) a. Eu pensei nessas flores ficarem no altar.

b. Eu pensei em essas flores ficarem no altar.

(7) a. Eu me lembrei do João doente.

b. *Eu me lembrei de o João doente.

(8) a. Eu me lembrei do João estar doente.

b. Eu me lembrei de o João estar doente.

(9) a. Gostei da cama naquele canto.

b. *Gostei de a cama naquele canto.

94

Page 106: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(10) a. Gostei da cama ficar naquele canto.

b. Gostei de a cama ficar naquele canto.

(11) a. Apesar do meu pé quebrado, eu fui na festa ontem.

b. *Apesar de o meu pé quebrado, eu fui na festa ontem.

(12) a. Apesar do meu pé estar quebrado, eu fui na festa ontem.

b. Apesar de o meu pé estar quebrado, eu fui na festa ontem.

Esses exemplos mostram claramente que é a presença de C que interfere

na adjacência impedindo que a contração ocorra. No entanto, segundo a proposta

de adjacência que estamos adotando, a existência de um C intervindo entre a

preposição e o artigo não deveria trazer nenhum problema para a contração,

pois, segundo Bobaljik (1995), a adjacência é determinada apenas a partir dos

elementos com matriz fonética. Mas não é só aqui que o núcleo C parece ter

características especiais. Apenas para dar um exemplo, C é um dos dois únicos

núcleos que determina urna fase em Chornsky (2000, 2001).

É bem plausível pensar que esse núcleo também tenha um estatuto

especial na prosódia, urna vez que C, presumivelmente, é o responsável por essas

propriedades. A sentença em (13) abaixo pode ter urna entonação de pergunta,

95

Page 107: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

exclamação, afirmação. O que vai determinar que tipo de entonação deve ser

atribuída a essa sentença, presumivelmente é o núcleo C.

(13) [C [o João saiu]]

se C exclamativo: O João saiu!

se C interrogativo: O João saiu?

se C afirmativo: O João saiu.

Podemos supor, então, que o fato de C carregar traços prosódicos lhe dê um

estatuto de item foneticamente realizado e, portanto, faz com que seja

computado para efeitos de adjacência.

Os casos com wanna-contraction também são urna evidência de que a

categoria C interfere na adjacência. Observe o exemplo abaixo adaptado de

Postal e Pullurn (1982). Nesse exemplo, presumivelmente, há um C intervindo

entre want e to e por isso a contração não pode acontecer:

(14) a. I don't want [CP C [rr PRO to undress oneself in public] to becorne

standard practice.

b. *I don't wanna undress oneself in public to becorne standard practice.

96

Page 108: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Irene Heim (notas de aula, USP, 2002) apresenta dados de Penka (2001) em

que a presença de C também interfere na adjacência. Neste trabalho, a autora

mostra que o determinante negativo do alemão kein tem que ser licenciado por

um núcleo funcional de negação adjacente. Esse núcleo de negação pode ser

adjungido a diferentes categorias, produzindo diferentes interpretações de

escopo de acordo com a categoria à qual se adjunge. Por exemplo, a sentença em

(15a) abaixo é ambígua, como mostram as duas interpretações em (15b) e (15c).

(16a) apresenta a estrutura com a interpretação em (15b), em que a negação tem

escopo sobre a sentença menos encaixada e (16b) apresenta a estrutura da

sentença com a interpretação em (15c), em que a negação só tem escopo dentro

da oração mais encaixada.

(15) a .... weil er kein Wort zu sagen wagte.

because he no word to say dared

b. 'because he didn't dare to say a word'

c. 'beca use he dared to not say a word'

(16) a. er [NEG [vr [vr kein Wort zu sagen] wagte]]

b. er [vr [NEG [vr kein Wort zu sagen]] wagte]

97

Page 109: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Crucialmente, o verbo wagte é um verbo cujo complemento é um VP e não

um CP. Quando usamos um verbo que tem um CP por complemento, uma das

leituras fica bloqueada, como mostram os exemplos abaixo:

(17) a .... weil er kein Auto zu haben bedauerte

because he no car to have regretted

b. '*because he didn' t regret having a car'

c. 'because he regretted not having a car'

(18) a. *er [NEG [w [CP PRO kein Auto zu haben] bedauerte]]

b. er [w [CP PRO NEG [w kein Auto zu haben]] bedauerte]

A interpretação em (17b) não está disponível para a sentença em (17a)

porque, como mostra a estrutura em (18a), o núcleo C está posicionado entre a

negação e o deterrnínante kein, quebrando a adjacência entre esses dois

elementos. A impossibilidade da interpretação em (17a) é, portanto, mais uma

evidência de que C interfere na adjacência.

Vimos nesta sessão que o núcleo C interfere na adjacência entre dois

núcleos, apesar de, aparentemente, não ser um núcleo foneticamente realizado.

Além de o núcleo C, presurnívelmente, carregar traços prosódicos, também

98

Page 110: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

impede wanna-contractíon, como mostrou (14), e impede escopo da negação sobre

o verbo menos encaixado em (17a). Baseada nesses dados e também nos

contrastes com small clause apresentados em (5)-(12), assumo nesta dissertação

que em (1)-(2) repetidos em (19)-(20), o que permite que a contração entre a

preposição e o determinante não aconteça nesses casos, é a presença de um

núcleo C entre os dois elementos bloqueando a adjacência.

(19) a. A idéia de o João comprar um livro.

b. A idéia do João comprar um livro.

(20) a. Eu pensei em o João comprar o livro.

b. Eu pensei no João comprar o livro

5.2. Sobre a opcíonalídade

Mostramos na sessão 5.1. que C bloqueia adjacência e impede a contração

da preposição com o artigo. Faltou, no entanto, explicar por que é que a

contração pode acontecer. Esta sessão tratará da opcionalidade da contração

propondo que quando a preposição está contraída com o artigo, o núcleo C foi

apagado antes da aplicação da operação concatenar, enquanto que quando a

99

Page 111: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

preposição não está contraída, a operação concatenar foi aplicada antes de o

núcleo C ser apagado, de modo que a adjacência foi bloqueada.

Quando uma estrutura é mandada para a morfologia, elementos que não

recebem inserção de vocabulário têm que ser apagados. O exemplo mais claro de

elemento que deve ser apagado pela morfologia é cópia. Vejamos a estrutura

abaixo:

(21) CP ~

C IP ~

Jolmi I' ~

I VP ~

Jolmi V' ~

loves Mary

Adotando a teoria de cópias, John em Spec de VP bloqueia a adjacência entre I e o

verbo impedindo a afixação. Como mostrei na sessão 2.1., as cópias precisam ser

apagadas para que a estrutura possa ser linearizada, segundo Nunes (1995, 1999,

2001, a sair) e para a convergência da derivação em (21), esse apagamento tem

que ser feito antes de a operação de afixação ser aplicada.l

1 Santos (2002) também dá um exemplo em que uma cópia é apagada antes de uma operação fonológica. A autora aponta que vestígio e pro se comportam de modo diferente com relação à retração de acento. O vestígio permite a retração~ mas pro não. Assumindo que vestígios são cópias apagadas~ Santos conclui que o apagamento de cópias deve acontecer antes que o acento seja computado.

100

Page 112: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Do mesmo modo, em algum ponto da derivação, o núcleo C da estrutura

em (4), repetida em (22) abaixo, precisa ser apagado para que a sentença em (lb),

repetidas em (23), seja derivada:

(22)

a

DP ~

NP ~

idéia PP ~

de CP ~

C IP

---------------o João

I' ~

I vP ~

DP; v'

~ v VP ~

comprar um livro

(23) a. Não gosto da idéia do João comprar um livro.

Suponhamos que o apagamento de C possa ocorrer antes ou depois da

aplicação da operação concatenar. Em outras palavras, a morfologia não tem

uma ordem fixa quanto à aplicação dessas duas operações. Temos, portanto,

duas situações possíveis: uma em que o núcleo C é apagado antes da aplicação

lO!

Page 113: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

da operação concatenar, outra em que a operação concatenar é aplicada antes do

apagamento de C. No primeiro caso, o núcleo C não vai intervir entre a

preposição e o artigo e concatenar (seguido de fusão) pode acontecer. (24)

apresenta os passos dessa derivação na morfologia:

(24) a. A idéia de C o João comprar um livro u

[apagamento dos elementos

sem matriz fonética] b. A idéia de o João comprar um livro [aplicação de concatenar e fusão]

u c. A idéia do João comprar um livro

No caso em que a operação concatenar for aplicada antes do apagamento

de C, esse núcleo estará entre a preposição e o artigo, de modo que concatenar

não ocorre. (25) aponta os passos na morfologia. Em (25a), o núcleo C quebra a

adjacência entre a preposição e o artigo e concatenar não acontece. Quando o

núcleo C é finalmente apagado, a operação concatenar já não vai mais ser

aplicada e o que é pronunciado é a preposição não contraída com o artigo, como

em (23a).

(25) a. A idéia de C o João comprar um livro. [aplicação de concatenar. Como

U não há adjacência, concatenar não acontece.] b. A idéia de o João comprar um livro. [apagamento dos elementos

sem matriz fonética]

102

Page 114: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

5.3. Coordenando o Sujeito da Oração Encaixada

Os exemplos (26) e (27) do primeiro capítulo, repetidos em (26) e (27)

abaixo, mostram o que se passa com a preposição quando o sujeito da oração

encaixada é coordenado.

(26) a. Não gosto da idéia de o João e a Maria comprarem o livro.

b. Não gosto da idéia do João e a Maria comprarem o livro.

(27) a. Eu pensei em o João e a Maria comprarem o livro.

b. Eu pensei no João e a Maria comprarem o livro.

Essas sentenças mostram que a preposição pode ou não sofrer contração,

como é de se esperar dado o que foi apresentado na sessão 5.2. Mas (28) e (29)

abaixo mostram que essa opcionalidade só acontece se a preposição não estiver

presente nos dois síntagmas coordenados. Se a preposição se repetir, então, a

contração é obrigatória.

(28) a. *Não gosto da idéia de o João e de a Maria comprarem o livro.

b. Não gosto da idéia do João e da Maria comprarem o livro.

103

Page 115: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(29) a. *Eu pensei em o João e em a Maria comprarem o livro.

b. Eu pensei no João e na Maria comprarem o livro.

(28b) é a oração, discutida no capítulo 3, que motivou a derivação com

uma numeração contendo apenas uma preposição mesmo quando as duas

preposições estão presentes. A estrutura relevante está repetida em (30):

(30) DP ~

a NP ~

idéia PP ~

de CP ~

C IP

---------------DP ~

&' ~

o João e DP ~

I

a Maria

vP ~

&P; v' ~

v VP ~

comprarem o livro

A segunda preposição não pode estar presente na sintaxe, senão a

concordância entre o sintagma coordenado e o verbo não poderia ocorrer. No

104

Page 116: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

nível sintático, a coordenação tem que ser entre dois DPs, permitindo a

concordância.

Deixei em aberto no capítulo 3 a questão de como a segunda preposição

aparece no segundo termo coordenado. Agora nós já podemos resolver esse

problema. A segunda preposição é inserida na morfologia, conforme

apresentado no capítulo 4. Se a operação concatenar ocorrer no primeiro termo

coordenado, o Requerimento de Paralelismo exige que a operação ocorra

também no segundo termo coordenado. Como nessa posição não existe uma

preposição para ser concatenada ao artigo, a morfologia copia a preposição do

primeiro termo coordenado e a insere ao lado do artigo no segundo termo, de

modo que a operação concatenar (e depois fundir) possa ocorrer.

Vou assumir que a estrutura das sentenças em (28) e (29) que é mandada

para a morfologia é a que está em (30) acima. Aplicando o que vimos na sessão

5.2, quando essa estrutura chega à morfologia, esta tem duas opções, ou apaga os

elementos sem matriz fonética, ou aplica concatenar às preposições e aos artigos.

Se a opção for aplicar concatenar antes, então, não acontece a contração,

conforme ilustram os passos em (31); mas se a opção for apagar os elementos sem

matriz fonética, então, quando acontece a operação concatenar, C não intervém

na adjacência e a contração acontece, como apresentado em (32):

105

Page 117: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(31) concatenar seguido de apagamento

a. A idéia de C o João e a Maria comprarem um livro. [aplicação de concatenar:

u b. A idéia de

C bloqueia adjacência] o João e a Maria comprarem um livro. [apagamento de C]

(32) apagamento seguido de concatenar

a. A idéia de C o João e a Maria comprarem um livro. [apagamento de C]

u b. A idéia de o João e a Maria comprarem um livro. [aplicação de concatenar:

U elementos estão adjacentes]

c. A idéia de+o João e a Maria comprarem um livro.

Quando concatenar acontece em (32), o Requerimento de Paralelismo

exige que a operação aconteça no segundo termo coordenado também. A

preposição do primeiro termo coordenado é copiada e inserida ao lado do

segundo artigo e a oração em (28b) é gerada:

(33) a. a idéia de o João e a Maria comprarem o livro [concatenar no primeiro

u termo coordenado]

b. a idéia de+ o João e a Maria comprarem o livro [Req. de Parai. exige concatenar no segundo termo coordenado.]

c. a idéia de+ o João e [?] a Maria comprarem o livro [cópia e inserção

u da preposição] d. a idéia de+o João e de a Maria comprarem o livro

u [concatenar no segundo termo coordenado] e. a idéia de+o João e de+a Maria comprarem o livro

u u [aplicação da operação fusão] f. a idéia do João e da Maria comprarem o livro

106

Page 118: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Já em (31), a operação concatenar não pode acontecer devido à

interferência de C entre a preposição e o artigo. Se concatenar não se aplica no

primeiro termo coordenado, a morfologia não tem motivação para inserir uma

segunda preposição e a sentença em (26a) é gerada, com apenas uma preposição

e sem contração. Isso explica por que é que a preposição só pode aparecer nos

dois termos coordenados se estiver contraída com o artigo. Veja que esse ponto

confirma que a operação de cópia na morfologia precisa de motivação.

Mais uma evidência de que a contração no primeiro termo coordenado é o

que motiva o aparecimento da segunda preposição são os dados em (34) e (35)

abaixo envolvendo pronomes. Nesses casos, a contração não ocorre e a segunda

preposição não pode aparecer no segundo termo coordenado.

(34) a. A idéia de eu e você comprarmos o livro.

b. *A idéia de eu e de você comprarmos o livro.

(35) a. Eu pensei em você e eu comprarmos o livro.

b.*Eu pensei em você e em eu comprarmos o livro.

Se essa análise estiver correta, a previsão que fazemos é que se a contração

ocorrer no primeiro termo coordenado, então terá que ocorrer no segundo termo.

Um pronome que está claramente contraído com a preposição é o pronome

comigo. O exemplo (36) mostra que os dados estão condizentes com a previsão. A

107

Page 119: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

sentença em (37) mostra que se o primeiro termo sofrer contração, mesmo não

sendo um pronome, também exige a repetição da preposição no segundo termo.

Note que nessas sentenças, a contração não é opcional, mas obrigatória.2

(36) a. *O Pedro sonhou comigo e o João esquiando.

b. O Pedro sonhou comigo e com o João esquiando.

(37) a. *O Pedro lembrou do João e você esquiando.

b. O Pedro lembrou do João e de você esquiando.

Mas precisamos ainda resolver um problema. Por que é que (27a) e (28a),

repetidas abaixo, são possíveis?

(38) A idéia do João e a Maria comprarem o livro.

(39) Eu pensei no João e a Maria comprarem o livro.

Pelo que foi apresentado acima, essas sentenças deveriam estar violando o

Requerimento de Paralelismo, pois a operação concatenar está acontecendo em

apenas um dos termos coordenados. Mas estas sentenças são perfeitamente

2 (37a) não parece tão inaceitável quanto (36a). pode ser que em (37a) esteja acontecendo redução, como será apresentado a seguir.

108

Page 120: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

aceitáveis no português brasileiro.3 A minha sugestão é que nesse caso está

ocorrendo uma operação de redução fonológica e não a operação concatenar na

morfologia.

Vigário (2001) faz uma análise dos clíticos no Português Europeu.4 A

autora distingue entre dois fenômenos que podem acontecer com esses itens: o

da redução e o da lexicalização. As preposições podem sofrer redução,

adquirindo as formas em (40). Mas nos casos de contração com o artigo, o que

ocorre ê lexicalização, já que nenhuma das outras formas de redução pode

acontecer nessa posição, como mostram os exemplos em (41):5

(40)

Preposição Forma Fonética

de [di], [dj], [d]

em [üj],[e], fi]

ao [aw], [o] '

pelo [pelu ], [plu]

' Pelo que pude constatar, essa é a única diferença relevante entre o português brasileiro e o europeu no que diz respeito ao que estou investigando. Os falantes do português europeu que consultei não admitiam a contração nessa posição. 4 Vigário (2001) assume que as preposições em, de, a, são clíticos, o que pode ser considerado mais uma evidência de que essas preposições precisam sofrer concatenação na morfologia, conforme apontado na sessão 4.2. s O quadro em (40) apresenta as formas fonéticas testadas por Vigário (2001) para o português europeu, embora algumas dessas formas não sejam usadas no português brasileiro. Nos exemplos (41) acrescentei as formas contraídas com o artigo, a saber, [do] e [na], como podem ser pronunciadas no português brasileiro, porém não no europeu.

109

Page 121: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(41) a. O livro do João. [do]/*[ dio]/*[ djo]

b. O livro está na bolsa. [na ll*[ilja ]/*[ ea li*Pa l

Mas Vigário aponta que em certos ambientes, a forma lexicalizada não

pode ser usada, como nos dados que estamos investigando em que o

complemento da preposição é uma sentença, por exemplo. Veja que nesses casos,

a forma reduzida pode sim ser usada:

(42) a. A idéia de o João comprar o livro.

b. Pensei em o João comprar o livro.

[dio] I [djo] I [do]

[iljo] I [eo] I [io] I [no]

A minha proposta para esses casos é que quando a preposição aparece

contraída com o artigo apenas no primeiro termo coordenado, como em (38) e

(39) acima, o que está acontecendo é uma redução da preposição, cuja forma

fonética coincide com a forma lexicalizada. Vigário (2002:340) afirma que formas

reduzidas e lexicais podem coexistir com a mesma forma fonética: "coexisting

variants of very frequent words may either be the result of reduction of strong

forms or follow from lexically stored allomorphy ."

Uma forma de testar se o que está acontecendo é redução e não uma

operação morfológica, devemos utilizar uma forma em que a operação acontece

obrigatoriamente na morfologia, como é o caso de pelo/pela, que não corresponde

110

Page 122: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

à redução de por+ojpor+a. A previsão é que quando a contração for resultado de

uma operação morfológica, então terá que estar presente nos dois termos

coordenados e a sentença com apenas uma preposição contraída no primeiro

termos deverá ser inaceitável. As sentenças em (43) confirmam essa previsão.

(43b), em que a preposição está repetida, é muito melhor que (43a)

(43) a. *Eu tava torcendo pela Maria e o João ganharem o prêmio.

b. ?Eu tava torcendo pela Maria e pelo João ganharem o prêmio.

Agora compare (43) com (44) abaixo em que a forma não-reduzida da

preposição é usada. (44b) é inaceitável, contrastando com as sentenças em (43).

(44) utiliza a preposição sem fazer a contração e obtemos os mesmos resultados

que para as sentenças em (34), repetidas em (45), em que a contração não ocorre:

a sentença só é aceitável sem a repetição da preposição.

(44) a. Eu tava torcendo por o João e a Maria ganharem o prêmio.

b. *Eu tava torcendo por o João e a por a Maria ganharem o prêmio.

(45) a. A idéia de eu e você comprarmos o livro.

b. *A idéia de eu e de você comprarmos o livro.

111

Page 123: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Essa proposta de que em alguns casos pode estar acontecendo redução

fonológica também dá conta dos dados em (46) e (47) tirados de Almeida (1969):

( 46) Opor-se aos projetos e desígnios de alguém.

( 47) Flagelado pela peste e estragos.

Nesses exemplos, a preposição também sofre contração apenas no

primeiro termo coordenado, o que vai contra a minha proposta de que a

preposição precisa ser repetida para satisfazer o Requerimento de Paralelismo,

que exige que a operação concatenar aconteça nos dois termos coordenados se

acontecer em um deles. Do mesmo modo que nos casos em (38) e (39), podemos

supor que aqui está acontecendo redução e não concatenação.

Outra alternativa seria supor que a coordenação em (46) e (47) se dê entre

NPs e não DPs, de modo que o determinante estaria fora da oração coordenada,

como ilustrado em (48):

(48) opor-se [PP a [DP os [&P [NP projetos][&' e [NP desígnios]]]]]

Nessa estrutura, o determinante é compartilhado pelos dois termos coordenados

e a concatenação não acontece dentro de nenhum dos termos, de modo que a

operação não estaria sujeita ao Requerimento de Paralelismo.

112

Page 124: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

5.4. Resumo

Neste capítulo tratei da repetição da contração da preposição quando seu

complemento é urna sentença. Mostrei que, nesses casos, a preposição pode ou

não estar contraída com o artigo. Propus que quando a preposição não sofre

contração, é porque a núcleo C está impedindo a adjacência entre a preposição e

o artigo, de modo que a operação concatenar e, conseqüentemente, a operação

fundir rião podem ocorrer. Mostrei que quando o complemento é urna small

clause, então a contração é obrigatória, o que mostra que é de fato C que está

bloqueando a adjacência. Também mostrei evidências de que C interfere na

adjacência em outros casos. Apresentei exemplo com wanna-contraction e, mais

convincentemente, exemplos do alemão, mostrando que a negação não pode ter

escopo sobre o verbo menos encaixado se um C estiver bloqueando a adjacência

entre a negação e o determinante kein.

A opcionalidade da contração se deve ao fato de a morfologia poder optar

entre fazer o apagamento de C antes ou depois da aplicação de concatenar. Se o

apagamento acontece antes de concatenar, então a contração acontece, mas se o

apagamento acontece depois da aplicação de concatenar, então a contração não

pode acontecer porque C vai bloquear a adjacência entre a preposição e o artigo.

Também mostrei que quando o sujeito da oração encaixada que é

complemento da preposição é coordenado, a preposição pode aparecer antes de

cada um dos termos coordenados, mas só se a preposição estiver contraída com o

113

Page 125: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

artigo. Apesar de a preposição estar nos dois termos coordenados, o sujeito

concorda com o verbo infinitivo. Esse resultado é bastante inesperado, pois PPs

não podem desencadear concordância. Propus, então, que na sintaxe, a

coordenação é entre dois DPs, permitindo a concordância e que a segunda

preposição é inserida na morfologia segundo os passos apresentados no capítulo

4. Essa idéia é reforçada pelo fato de que a preposição só pode ser repetida no

segundo termo coordenado se estiver contraída com o artigo. Se a contração não

acontecer, então a morfologia não tem motivação para fazer a segunda cópia da

preposição.

!14

Page 126: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Capítulo 6

Analisando a Coordenação

dos Pronomes

Este capítulo trata da coordenação de pronomes. Observe os exemplos (1)­

(3) abaixo. Essas sentenças mostram que quando dois pronomes são

coordenados, a preposição precisa estar presente nos dois termos coordenados,

do mesmo modo que a preposição, quando contraída com o artigo, precisa estar

presente nos dois termos coordenados. Mas as sentenças em (2) e (3) mostram

que no caso dos pronomes, mesmo as preposições que não sofrem contração com

nenhum elemento, como as preposições sem e contra, são obrigatórias nos dois

termos coordenados.

(1) a. *O João se lembrou de mim e você.

b. O João se lembrou de mim e de você.

(2) a. *A Ana saiu sem mim e você.

b. A Ana saiu sem mim e sem você.

115

Page 127: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(3) a. *Pedro lutou contra mim e você.

b. Pedro lutou contra mim e contra você.

No capítulo 3, apresentei sentenças envolvendo coordenação de pronomes

corno as apresentadas acima e apontei que a presença obrigatória da preposição

se deve ao fato de os pronomes terem que ser fortes para ser coordenados. Neste

capítulo vamos ver por que é que a presença da preposição é importante para a

coordenação dos pronomes. Estarei assumindo a proposta de Cardinaletti e

Starke (1999) para os pronomes, conforme apresentado na sessão que se segue.

6.1. Os pronomes segundo Cardinaletti e Starke (1999)

Cardinaletti e Starke (1999) apontam que parece ser urna propriedade

universal das línguas o fato de alguns pronomes serem mais deficientes que os

outros. Com base em dados de diversas línguas, os autores propõem a seguinte

generalização para os pronomes (Cardinaletti e Starke 1999:7):

(4) Assimetria Sintática

Um pronome pessoal deficiente- mas não um forte-:

a. precisa estar em urna posição derivada

b. é incompatível com c-modificação e com coordenação

116

Page 128: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Essa generalização informa que um pronome deficiente não pode aparecer

no seu lugar de origem, ou em uma posição-e, como mostram os dados do

italiano abaixo:

(5) a. Non dirô mai loroi tutto li not I. will.say never to. them everything

b. *Non dirô mai tutto loro not I.will.say never everything to.them

'Não direi mais tudo a eles'

(6) a. Gianni li stima John them estimates

b. *Gianni stima li ]ohn estimates them

'O João os estima'

A segunda parte da generalização informa que um pronome deficiente

não pode sofrer modificação de um advérbio modificando todo o sintagma

nominal, o que os autores chamam de c-modificação; e também não podem ser

coordenados, como mostram os exemplos em (7) e (8):

(7) *Solo essa é bella. only 3.sg.fm. is pretty

'Somente ela é bonita'

(c-modificação)

117

Page 129: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(8) *Lei e( d) essa sono belle. she and 3.sg.fm. are pretty

'Ela e ela são bonitas'

(coordenação)

Um pronome forte, por outro lado, pode ocorrer em todos esses casos,

como ilustram os exemplos em (9)-(11) abaixo. Outra propriedade dos pronomes

fortes é que esses pronomes só podem ter referente [+humano].

(9) Non dirõ mai tutto a loro not I.wíll.say never everything to them

'Não direi mais tudo a eles'

(10) Solo lei e bella. only 3.sg .fm. is pretty

'Somente ela é bonita'

(11) Lei e( d) lei sono belle. she and 3.sg.fm. are pretty

'Ela e ela são bonitas'

Os autores constatam que alguns pronomes parecem ser mais deficientes

que outros, e propõem a divisão dos pronomes em três categorias: os pronomes

fortes, os pronomes fracos e os clíticos. Um modo de marcar a deficiência de um

pronome em relação a outro pode ser morfológica. Um exemplo é o pronome a

118

Page 130: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

loro que tem um morfema a mais, a saber, a preposição a, que sua forma fraca, o

pronome loro (cf. (5) vs. (9)). Os autores propõem a seguinte relação morfológica

entre os pronomes:l

(12) clítico ~ fraco ~ forte

(12) indica que clítico tem menos morfologia que pronome fraco e este tem

menos morfologia que pronome forte. Assumindo que para cada morfema existe

uma projeção na estrutura, Cardinaletti e Starke propõem, então, que a estrutura

dos pronomes fortes deverá ser mais rica que a estrutura dos pronomes fracos,

que deverá, por sua vez, ser mais rica que a estrutura dos clíticos.

Analisando os pronomes italianos loro e a loro, Cardinaletti e Starke

propõem que a preposição a da forma forte é o núcleo de uma categoria

funcional. Os autores mostram com evidências de outras línguas que os dummy

markers como a preposição a do italiano parecem carregar exatamente as

propriedades que distinguem os pronomes fortes dos deficientes: a capacidade

de coordenação, de ser modificado por um modificador interno ao sintagma

nominal, o traço obrigatório [+humano]. Seguindo Starke (1993), os autores

chamam essa categoria funcional de complementizador, aquilo que torna algo

"complemento de". Essa categoria seria o nódulo terminal da projeção estendida

1 Cardínaletti e Starke consideram que se em algumas línguas a semelhança morfológica entre os pronomes em sua forma forte e fraca não é notável, isso se deve ou ao fato de que a diferença não é realizada foneticamente, ou ao fato de que durante a evolução da língua, essa relação se perdeu.

!19

Page 131: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

do nome (no sentido de Grimshaw 1991), do mesmo modo que o

complementizador é o nódulo terminal da projeção estendida do verbo.

Qualquer pronome forte conterá essa categoria funcional, foneticamente

realizada ou não.

Cardinaletti e Starke propõem uma categoria funcional abaixo do

complementizador, L:P, correspondendo à categoria L:P proposta por Laka (1990)

para as orações.2 L:P seria uma categoria presente na estrutura do pronome forte

e do pronome fraco, mas não na do clítico. As estruturas de cada tipo de

pronome são as seguintes: 3

(13) a. Pronomes Fortes

CPN ~

CN° 2:PN ~

L:w DP ~

oo NP

'Segundo Laka (1990), essa categoria carregaria os traços de polaridade (asserção/negação) e de foco. Cardinaletti e Starke propõem, então, que zo seja o local de traços relacionados com a prosódia e que seja estendido a qualquer categoria lexical. Conforme justificado no capítulo 5, estou assumindo nesta dissertação que a categoria que carrega os traços relacionados com a prosódia é o complementizador sentencia! C. ' Para Cardinaletti e Starke (1999), a categoria complemento de í:P é o IP. Para efeitos de exposição, eu a estou chamando de DP, porque aqui estaremos tratando apenas dos pronomes.

120

Page 132: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

b. Pronomes Fracos

c. Clíticos

DP ~

DO NP

De acordo com a proposta de Cardinaletti e Starke, os pronomes

deficientes devem encontrar em alguma outra projeção os traços que lhes faltam

pela ausência da categoria funcional na estrutura e é por esse motivo que os

pronomes deficientes devem sempre se mover para outra posição e nunca são

encontrados em posição temática.

6.2. Pronomes fortes, fracos e sua coordenação

Aparentemente podemos distinguir três tipos de pronomes não clíticos em

português brasileiro:

l2l

Page 133: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

1. Pronomes que são obrigatoriamente fortes, como mim, si, comigo;

2. Pronomes que são obrigatoriamente fracos, como cê;4 e

3. Pronomes ambíguos entre fortes e fracos, como você e ele.

Como evidência de que, aparentemente, o pronome mim pode ser forte,

temos o exemplo (14) abaixo, em que o pronome está sendo c-modificado. Além

disso, o pronome mim só pode ter referente [+humano].

(14) Eu estava me referindo a mim mesmo.

A sentença em (15) abaixo, tirado de Kato (1999), mostra o pronome cê

contrastando com o pronome forte topicalizado você. Veja que essas duas formas

apresentam a redução morfológica proposta por Cardinaletti e Starke (1999): você

parece ser morfologicamente mais rico que cê.

(15) VOCÊ, cê não me pega!

Os pronomes você e ele podem ser fortes, como mostra (16) abaixo em que

esses dois pronomes estão coordenados.

(16) Você e ele podem entrar.

'Para uma análise do pronome cê em português brasileiro, ver Ramos (1997).

122

Page 134: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Mas esses dois pronomes também podem ser fracos. Em primeiro lugar, o

pronome ele pode ter referente [-humano], corno exemplificado em (17):

(17) Esse livro, a capa dele é muito bonita.

Galves (2001) argumenta que o pronome ele em posição de objeto é um

pronome fraco.s Corno um pronome fraco não pode aparecer em sua posição

temática, o pronome ele precisa se mover. Galves apresenta os dados em (18)

para mostrar que o pronome ele está em posição diferente da ocupada por um DP

não pronominal, por exemplo, que estaria ocupando a posição temática. O

exemplo (18a) mostra que o objeto segue o quantificador flutuante todas, e em

(18b) vemos que o pronome não pode estar nessa posição, o que sugere que o

pronome se move da posição temática:

(18) a. As crianças leram todas o livro que o professor mandou.

b. *As crianças leram todas ele.

Aplicando o mesmo teste para o pronome você, vemos que também esse

pronome não está em sua posição original:

; Para uma análise de que esses pronomes também são fracos em posição de sujeito, ver Britto (1998)

123

Page 135: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(19) a. As crianças convidaram todas o João.

b. *As crianças convidaram todas você.

Assumindo esse quadro pronominal para o português brasileiro, vamos

derivar a sentença (2a) acima, repetida em (20) abaixo. O pronome mim é forte e o

pronome você é opcionalmente forte. Como os pronomes estão coordenados,

vamos assumir que é a forma forte de você que está sendo utilizada na derivação.

Teremos, então, a estrutura em (21) para a sentença (20):

(20) *A Ana saiu sem mim e você.

(21) vP ~

DP /"-..

v'

a Anav VP ~

saiu PP ~

sem &P ~

&' /"-..

e CPN /"-..

CN I:PN /"-..

2:N você

124

Page 136: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Segundo a descrição que fizemos acima, essa estrutura deveria ser perfeita

pois coordena dois pronomes fortes. Então, por que é que (20) não é aceitável?

Veja que tanto os pronomes quanto as preposições que estão sendo utilizadas

aqui não sofrem contração, de modo que não podemos explicar a imposição da

repetição da preposição como satisfação do Requerimento de Paralelismo, como

foi proposto no capítulo 4 para as sentenças que apresentam contração entre o

artigo e a preposição.

Vamos considerar a sentença em (22) abaixo cujo pronome tem a estrutura

em (23) abaixo. Repare que essa estrutura é semelhante à estrutura (13a), que é a

estrutura dos pronomes forte, com a diferença que em (23), a preposição ocupa o

lugar de CN.

(22) A capa dele é muito bonita.

(23) pp ~

po í:PN

~ LN° DP ~

D0 NP

Para resolver, então, o problema levantado pela sentença (20), proponho

que:

125

Page 137: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

1. quando um pronome fraco é complemento de uma preposição, a

preposição pode tomar o lugar de CN, tornando aquele pronome forte,

do mesmo modo que a preposição a do italiano, torna o pronome fraco

Iara em pronome forte. A configuração, portanto, de um pronome

preposicionado, seria como em (23) acima, em que a preposição toma

um Z:P como complemento. Essa configuração pode ser a de um

pronome fraco, como o pronome ele da sentença em (22) que tem

referente [-humano]; mas (23) também pode ser a configuração de um

pronome forte, como estou propondo que acontece quando dois

pronomes são coordenados.

2. o pronome mim é, na verdade, um pronome fraco. Do mesmo modo

que o pronome fraco Iara do italiano se torna forte se for precedido

pela preposição a, o pronome mim do português, é um pronome fraco e

torna-se forte quando precedido de uma preposição. A diferença entre

mim e !oro é que no português, não há um item de vocabulário

correspondendo ao feixe de traços [1 •. pess., sing, oblíquo]

independente da preposição, de modo que o pronome precisa sempre

estar acompanhado da preposição.

Se o pronome mim é um pronome fraco, precisa se comportar como outros

pronomes fracos, não podendo ser encontrado em sua posição original. Temos

!26

Page 138: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

duas evidências de que esse parece ser o caso. O primeiro deles é o fato de os

pronomes oblíquos estarem sempre adjacentes à preposição.

Jairo Nunes (comunicação pessoal) observou que os dados em (24) abaixo,

em que um parentético é inserido entre a preposição e seu complemento, podem

ser uma evidência de que pronome e preposição também sofrem contração. Se o

complemento da preposição é um nome próprio, a sentença é aceitável, talvez

com alguma pequena estranheza, mas se o complemento é um pronome, a

sentença fica completamente inaceitável. Esse resultado é esperado se a

preposição e o pronome forem considerados uma única palavra, como acontece

com os termos que sofrem fusão.

(24) a. ?A Maria saiu sem- para a surpresa de todos- o João.

b. *A Maria saiu sem- para a surpresa de todos -mim.

Compare também (24a) com (25) abaixo, em que utilizamos urna

preposição que sofre contração com o artigo. (25) também é bem menos aceitável

que (24a) em que nenhuma contração está acontecendo.

(25) ?*A Maria se lembrou de -acredite se quiser - o João

Outra evidência de que pronomes e preposições estão

configuracionalrnente adjacentes é a forma contraída de alguns pronomes, como

127

Page 139: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

comigo, dele, nela. Essas formas sugerem que a preposição e o pronome também

sofrem concatenação.

Minha proposta é, portanto, que na estrutura em (23) acima, o feixe de

traços do pronome se adjunge à preposição, gerando a estrutura em (26). 6 Se essa

estrutura contiver um pronome com o feixe de traços [l•.pess., sing., obliq.],

como em (27) abaixo, o PP será interpretado como uma estrutura de pronome

forte, já que não há um item de vocabulário com esse feixe de traços que seja

fraco, e a sentença gerada será (28), com o pronome forte mim. Mas esse pronome

só é forte porque segue uma preposição.

(26) pp ~

po /"-..

po pron.;

(27) vP ~

DP /'-.

v'

o João v VP ~

saiu PP ~

sem l:PN /'-.

LN [l•.pess., sing., obliq.]

'A adjunção aqui está representada à direita apenas para simplificar a visualização. Assumo que mesmo se o pronome estiver adjungido à esquerda, alguma inversão no componente fonológico dará o resultado desejado que é a preposição anteceder o pronome.

128

Page 140: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(28) O João saiu sem mim.

Podemos agora explicar por que é que a sentença (20) não pode ser

derivada. Vamos primeiro assumir que o pronome você entra na derivação como

um pronome forte. Assim sendo, a sua estrutura é corno em (29) abaixo. No

entanto, o pronome mim será sempre fraco, tendo a estrutura em (30):

(29) CPN ~

CN° :í:PN ~

:Í:No você

(30)

A computação forma a estrutura em (29) e conecta a conjunção a essa

estrutura, corno ilustra (31) abaixo. O Requerimento de Paralelismo exige que um

outro CPN seja conectado à conjunção. A computação forma, então o :í:PN

representado na estrutura em (30) e a numeração não possui mais nenhum CN

para conectar à essa estrutura. Os objetos em (30) e (31) não podem ser

conectados corno em (32) abaixo, pois essa coordenação não é permitida pelo

Coordinate o f Líkes Constraint e a derivação não pode ser completada.

129

Page 141: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Veja que ainda que a preposição sem seja conectada à estrutura em (30), como

representado em (33), tomando o pronome mim forte, a coordenação não poderá

acontecer porque a coordenação seria entre um PP e um CP, violando também o

CLC, como representado em (34).

(33) [PP Sem [l:P L:N [DP mim]]]

(34) *[&P [rr sem [l:P L:N [or mim]]] [&'e [cr CN [sr L:N [oP você]]]]]

A conclusão é que o pronome você não pode entrar nessa derivação como

um pronome forte. Generalizando, podemos concluir que o pronome sempre terá

que ser fraco para ser complemento da preposição. Uma vez nessa configuração,

o pronome pode ser interpretado como forte ou fraco. Como apenas pronomes

fortes podem ser coordenados, sempre que essa configuração estiver em uma

estrutura coordenada, o pronome preposicionado será interpretado como

pronome forte. Isso explica por que é que mesmo os pronomes que podem se

comportar como fortes na posição de sujeito, requerem a repetição da preposição

130

Page 142: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

se estiverem em posição de objeto, como mostra o contraste entre o exemplo em

(35) e os exemplos em (36) e (37):

(35) Você e nós fomos convidados.

(36) a. *0 João pensou em você e nós.

b. O João pensou em você e em nós.

(37) a.* A Maria se referiu a nós e você.

b. A Maria se referiu a nós e a você.

Consideremos agora a derivação de (20b), repetida em (38) abaixo. Como

vimos acima, o pronome você entra na derivação como um pronome fraco.

Quando a computação chega à estrutura em (39), tem a opção de conectar a

conjunção ou a preposição. Possivelmente, uma conjunção não pode se conectar

a um L:P por ser uma estrutura fraca. Assim, a computação conecta a preposição

a (39), como ilustrado em (40):?

(38) A Ana saiu sem mim e sem você.

'O pronome precisa ainda se adjungir à preposição. Não vou ilustrar esse ponto aqui para tornar a visualização mais clara, mas estou assumindo que todos os pronomes fracos complemento de preposição se adjungem a esta na sintaxe.

131

Page 143: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(39)

(40) pp ~

sem LPN ~

LNo você

A essa estrutura é conectada a conjunção e o Requerimento de Paralelismo

motiva a formação de outro PP. A computação forma o pronome fraco mim e

uma preposição precisa se conectar a ele para torná-lo forte. Esse PP é, então,

conectado à estrutura formada pela conjunção que foi conectada à (40), formando

o objeto em (41). Em (42) temos a estrutura da sentença até a formação do vP:

pp ~

sem LP ~

mim

&' ~

e PP ~

sem LP ~

L você

132

Page 144: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(42) vP ~

DP ~

v'

a Anav VP ~

saiu &P ~

pp ~

sem IP e ~

&' ~

pp

~ I mim sem IP

~ I você

6.2.1. A preposição pode ser copiada?

Vimos pela discussão acima, que a coordenação na sintaxe tem que

acontecer entre dois PPs, o que implica que teremos duas preposições ainda na

sintaxe. A pergunta que cabe ser feita agora é se as duas preposições precisam

estar na numeração, ou se urna delas pode ser copiada na sintaxe.

Está claro que não tem problema a numeração conter duas preposições.

Cada uma será concatenada a um pronome fraco. Precisamos, portanto, analisar

se copiar a preposição traz algum problema para a derivação. Vamos olhar a

derivação mais de perto.

A computação forma o IP do pronome você e precisa conectar a

preposição para tornar esse pronome forte e poder coordená-lo. Após concatenar

a conjunção, formando o objeto em (43) abaixo, a computação começa a formar o

133

Page 145: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

:EP do pronome mim, ilustrado em (44) abaixo. Assumindo que não há mais

preposições na numeração, a computação terá que copiar a preposição do &P em

(43) e conectá-la ao objeto em (44) (urna instância de movimento lateral) para que

o requerimento de Paralelismo seja satisfeito (ver sessão 2.3). Esse objeto agora é

conectado ao objeto em (43) e em (45) ternos a estrutura resultante:

(43) [&P e [PP sem [l;PVOcé]]]

(44) (EP mim]

e

mim

&' ~

PP ~

semi :EP ~

:E você

Do modo corno está, essa estrutura causaria problemas para a linearização

já que ternos duas preposições não-distintas que não estão em relação de c-

comando. Mas devemos nos lembrar que essa estrutura é simplificada. Na

verdade, os pronomes se adjungern à preposição ainda na sintaxe. A estrutura

com as adjunções está representada em (46):

134

Page 146: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(46)

pp

~

sem; mimk 2: mimk

&' ~

e pp

~

sem; VOCÊ'm L VOCÊ'm

Nessa estrutura, os pronomes estão adjungidos à preposição e, como veremos na

próxima sessão, essa adjunção sofrerá fusão na morfologia, de modo que as

cópias da preposição não causarão problemas para a linearização. Mas essa

estrutura levanta o mesmo problema que a análise de Ximenes (2002) como

apresentada no capítulo 4, ou seja, como podemos apagar as cópias dos

pronomes que estão na posição original?

Crucialmente, a operação de reanálise morfológica precisa acontecer antes

da operação de Redução de Cadeia (cf. Nunes 1999, a sair). Levando em conta a

idéia de que os pronomes que se tornam fortes pela presença da preposição são

pronome+preposição e não preposição+pronome, podemos supor que o rótulo

resultante da fusão não seja uma preposição, mas sim um pronome, ou seja,

digamos que quando a preposição e pronome se fundem em um único nó, os

traços que projetam na estrutura são os traços do pronome. Desse modo, as

135

Page 147: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

cópias dos pronomes também serão apagadas porque a projeção resultante da

fusão será o pronome que estará disponível para sofrer Redução de Cadeia.8

Vimos, portanto, que a preposição precisa estar presente nos dois termos

coordenados ainda na sintaxe para que os pronomes possam ser coordenados,

mas as duas preposições não precisam estar necessariamente na numeração,

podendo também ser copiada durante a derivação sintática.

6.3. Os pronomes se contraem com a preposição

Como apontei acima, a existência de formas pronominais contraídas com a

preposição, como dele, nela e comigo sugere que os pronomes também sofrem

concatenação com as preposições. Nesta sessão, vou mostrar evidência de que de

fato, as operações concatenar e fusão precisam acontecer com os pronomes para

que o Requerimento de Paralelismo seja satisfeito na morfologia. Vamos nos

lembrar do que foi proposto no capítulo 4 para as sentenças em (47) abaixo:

(47) a. *Eu me lembrei do João e a Maria.

b. Eu me lembrei do João e da Maria.

'Veja que essa proposta não toma a análise de Ximenes (2002), conforme apresentada no capítulo 4, correta. No caso da contração da preposição com o artigo, o mais plausível é que a preposição se projeta e não o artigo.

136

Page 148: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Propus no capítulo 4 que a preposição precisa estar presente nos dois

termos coordenados para satisfazer o Requerimento de Paralelismo, que impõe

que a operação concatenar aconteça nos dois termos coordenados se acontecer

em um deles. Desse modo, assumindo, como proposto na sessão 2.4., que a

contração da preposição com o artigo é reflexo das operações concatenar e fundir

na morfologia, a sentença (47a) não é aceitável porque a operação concatenar

acontece apenas no primeiro termo coordenado, violando o Requerimento de

Paralelismo.

Vamos observar, agora, as sentenças em (48) e (49), abaixo. Nessas

sentenças, a preposição também é obrigatória nos dois termos coordenados e

agora nós já não temos dificuldades em motivar essa exigência.

(48) a. *Eu me lembrei de você e o João.

b. Eu me lembrei de você e do João.

(49) a.* A Maria pensou em mim e o João.

b. A Maria pensou em mim e no João.

A título de ilustração, vamos derivar a sentença (48b). A computação forma o DP

o João e, se conectar a conjunção nessa posição, a derivação não converge porque

a computação não pode formar outro DP para conectar ao &P, a computação

precisa formar o PP [de você]. O único meio de derivar a sentença, portanto, é

137

Page 149: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

conectando a preposição ao DP o João, formando o PP ilustrado em (50). A essa

estrutura é conectada a conjunção, que motiva a formação de um outro PP. O

pronome você entra na derivação e precisa de uma preposição para tomá-lo forte,

de modo que outro PP é formado e conectado ao &P, resultando na estrutura em

(51):

(50) (pp de (DP O João))

pp ~

&' ~

de í:P e PP ~ ~

í: você de DP ~

o João

Mas repare que as operações concatenar e fusão precisam acontecer na

morfologia no segundo termo coordenado para termos a forma contraída do.

Segundo o que apresentamos no capítulo 4 e retomado na apresentação do

exemplo (47) acima, se a operação concatenar não acontecer no primeiro termo

coordenado também, a derivação viola o Requerimento de Paralelismo. A partir

disso, devemos concluir que essa operação também acontece entre os pronomes e

as preposições.

138

Page 150: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Como propus acima, o pronome se adjunge à preposição ainda na sintaxe.

Adjunção de núcleo a núcleo é, por definição, uma concatenação. Veja que o

resultado é o mesmo: dois termos independentes passam a ser irmãos sob um

mesmo nó. Uma vez que a operação concatenar acontece nos dois termos

coordenados, a operação fusão pode acontecer também de modo que o

Requerimento de Paralelismo é satisfeito.

Vamos agora analisar outros dados envolvendo coordenação e contração

de pronomes mostrando que a análise proposta nesta dissertação dá conta de

todos eles. Vamos começar pela sentença em (52):

(52) a. *O João conversou comigo e você.

b. O João conversou comigo e com você

Nessa sentença, a contração ocorre no primeiro termo coordenado, o que

poderia nos levar a pensar que a segunda preposição é copiada na morfologia

para satisfazer o Requerimento de Paralelismo. Mas, como mostrei acima, a

preposição é obrigatória na sintaxe para tornar o pronome forte e possibilitar a

coordenação, de modo que a preposição não pode ter sido copiada na

morfologia.

Assumindo que a preposição pode tornar forte não só o pronome mim,

mas também outros pronomes como você, ele, nós, cabe examinar se a

139

Page 151: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

coordenação desses pronomes também gera os mesmo resultados que obtivemos

até aqui para os pronomes mim e você. Vamos observar os dados abaixo:

(53) a. *O João lutou contra nós e ela.

b. O João se lutou contra nós e contra ela.

(54) a. *A Ana saiu sem ele e ela.

b. A Ana saiu sem ele e sem ela.

A pergunta que devemos fazer ao olhar essas sentenças, é por que é que a

coordenação não pode ser entre dois pronomes fortes, uma vez que essas

coordenações podem acontecer normalmente em posição de sujeito, por

exemplo, como mostram os exemplos em (55) e (56) abaixo. Ou seja, por que é

que a estrutura da sentença (53a) não pode ser como em (57)?

(55) Nós e ela formamos uma bela equipe.

(56) Ele e ela saíram do teatro.

140

Page 152: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(57) pp

~ contra &P ~

CPN &' ~ ~

C0N l:P e CPN ~ ~

2:0N nós CON l:P ~

2: ela

Esse problema é o mesmo que tínhamos para a sentença (20), repetida

abaixo em (58).

(58) *A Ana saiu sem mim e você.

A inaceitabilidade de (58) motivou a proposta de que o pronome mim é fraco, e a

inaceitabilídade de (53a) e (54a) nos leva a concluir que a única derivação

possível para as estruturas que coordenam pronomes preposicionados são as

estruturas em que a preposição ocupa o lugar de con Ou seja, nas sentenças em

(53) e (54), os pronomes precisam entrar na derivação como pronomes fracos.

Podemos imaginar que isso se deva ao fato de que o pronome precisa se adjungír

à preposição ainda na sintaxe. Em uma estrutura como (57) acima, os pronomes

não podem se adjungír à preposição, primeiro porque há apenas uma posição

para dois pronomes, segundo, porque, mesmo que uma das preposições se

movesse, violaria o Coordinate Structure Constraint.

141

Page 153: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Outro caso interessante está em (59) e (60) abaixo. Esses dados parecem

levantar o mesmo problema que a discussão da sentença (60) do capítulo 4, que

está repetida em ( 61):

(59) a. *0 João se lembrou de nós e ela.

b. O João se lembrou de nós e dela.

(60) a. *0 João confia em nós e ela.

b. O João confia em nós e nela.

(61) a. *Eu confio em Deus e o João.

b. Eu confio em Deus e no João.

(59) e (60), assim como em (61), exige a repetição da preposição, porém,

aparentemente a contração só acontece no segundo termo coordenado. Para (59)

e (60), também podemos propor que os traços dos termos coordenados são

transmitidos para o &P, de modo que o pronome ela informa que precisa estar

contraído com a preposição átona.

Como evidência de que o problema estava em o segundo termo precisar

estar contraído com a preposição átona, mostramos naquele capítulo que, se os

termos coordenados não forem DPs, mas sim small clauses do tipo PP, a repetição

não era mais obrigatória, como exemplificado em (62) abaixo. Podemos aplicar o

142

Page 154: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

mesmo teste para a sentença em (59) e obteremos o mesmo resultado: a repetição

da preposição não se impõe, corno mostram os dados em (63) e (64):

(62) Eu confio em Deus no Céu e o João na Terra.

(63) O João se lembrou de nós na escola e ela na praça.

(64) O João confia em nós na Terra e ela no Céu.

Vimos até aqui que o que obriga a presença da preposição nos dois termos

coordenados, nos casos em que a coordenação envolve pronomes, é o fato de a

preposição tomar os pronomes fortes, permitindo a sua coordenação. Mas em

alguns casos, a preposição não pode estar presente no segundo termo

coordenado. Esses casos serão tratados na próxima sessão.

6.4. Quando a preposição não pode estar no segundo termo coordenado

Apesar de tudo o que foi exposto acima, quando o complemento da

preposição é uma sentença, então a preposição não pode aparecer no segundo

termo coordenado, como mostram os dados (65) e (66):9

'A sentença (65a) também pode ser pronunciada com redução da preposição antes do pronome eu, como ilustrado em (i). Essa constatação é evidência de que nos casos com complemento sentencia] de preposição pode ocorrer redução da preposição, como apontado no capítulo 5.

143

Page 155: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(65) a. Não gosto da idéia de eu e você comprarmos o livro.

b. *Não gosto da idéia de eu e de você comprarmos o livro.

(66) a. Eu pensei em eu e você comprarmos o livro.

b. *Eu pensei em eu e em você comprarmos o livro.

(67) a. *A idéia de mim e você comprarmos o livro.

b. *A idéia de mim e de você comprarmos o livro.

(68) a. *Eu pensei em mim e você comprarmos o livro.

b. *Eu pensei em mim e em você comprarmos o livro.

Esses dados são correspondentes aos dados (28) e (30) do capítulo 5,

repetidos em (69) e (70) abaixo, em que o sujeito do complemento da preposição

está coordenado.

(69) a. Não gosto da idéia de o João e a Maria comprarem o livro.

b. Não gosto da idéia do João e a Maria comprarem o livro.

(i) Não gosto da idéia d' eu e você comprarmos o livro.

(ii) Ele pensou n' eu viajar.

144

Page 156: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(70) a. *Não gosto da idéia de o João e de a Maria comprarem o livro.

b. Não gosto da idéia do João e da Maria comprarem o livro.

Vimos na sessão 5.3. que a preposição pode ou não estar contraída com o

determinante e atribuímos essa opcionalidade à ordem em que são aplicadas as

operações de apagamento de elementos sem matriz fonética e concatenar na

morfologia. Mostrei que C bloqueia a adjacência entre a preposição e o

determinante, de modo que, se a aplicação de concatenar se der antes do

apagamento do núcleo C, não vai ocorrer contração. Por outro lado, se o

apagamento de C ocorrer antes da aplicação de concatenar, então, nenhum

elemento bloqueará a adjacência entre preposição e determinante quando

concatenar for aplicada, e ocorre a contração. Vimos também, na sessão 3.2. e no

capítulo 5, que a coordenação nessas sentenças só pode ser entre DPs, nunca

entre PPs, para que o argumento externo possa concordar com o verbo infinitivo.

Mas os dados em (65) e (66) contrastam com os dados (69) e (70), pois em

(70b), vemos que a preposição pode ser repetida no segundo termo coordenado

se estiver contraída com o artigo. Isso porque concatenar ocorre no primeiro

termo coordenado e precisa ocorrer também no segundo termo para satisfazer o

Requerimento de Paralelismo. Mas (65) e (66) não permitem a repetição.

Se a proposta que fazemos aqui de que a preposição sofre concatenar e

fundir com o pronome, então, por que é que a preposição não pode aparecer no

145

Page 157: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

segundo termo coordenado, ainda que seja para satisfazer o Requerimento de

Paralelismo?

Minha proposta é que concatenar não acontece no primeiro termo

coordenado, por incompatibilidade de Caso. A inaceitabilidade das sentenças em

(67) e (68), mostram que a preposição não atribui Caso a esses pronomes, o Caso

que estão recebendo é o Caso nominativo atribuído por Infl da sentença

encaixada. Se os pronomes se adjungirem à preposição, a estrutura não estará

bem formada, pois um elemento com Caso nominativo estaria adjunto a um

atribuidor de Caso oblíquo.

· A proposta, então, é que nos casos envolvendo pronome, a única

derivação convergente é aquela em que a operação concatenar é aplicada antes

do apagamento de C, impedindo que o pronome se adjunja à preposição. Uma

vez que concatenar não ocorre no primeiro termo, não há nenhuma motivação

para que ocorra no segundo termo, de modo que a preposição não se repete.

Mioto, Figueiredo Silva e Lopes (1999) apontam que em alguns casos a

preposição pode selecionar um IP e não um CP, de modo que acontece Marcação

Excepcional de Caso e o pronome recebe Caso oblíquo da preposição, como nos

dados abaixo: lO

(71) a. A Maria fez palhaçadas para [ cr 0 [rr eu rir] J

b. A Maria fez palhaçadas para [rr mim rir]

10 Para urna análise do surgimento do pronome mim nessa posição, ver Lightfoot (1991).

146

Page 158: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Vamos ver o que acontece se coordenarmos os pronomes nas sentenças

acima. Se tivermos Marcação Excepcional de Caso, então, a preposição

selecionou um IP. Se os pronomes recebem o Caso da preposição e não do verbo

infinitivo, então também não concorda com o verbo. Os contrastes em (72)

ilustram esse fato.

(72) a. *A Maria fez palhaçadas pra mim e você rirmos.

b. ?*A Maria fez palhaçadas pra mim e você rir.

c. A Maria fez palhaçadas pra mim e pra você rir.

(72a) está concordando com o verbo, mas recebendo Caso da preposição: a

sentença é inaceitável. (72b) e (72c) recebem Caso da preposição e não concordam

com o verbo. No entanto, se o complemento da preposição não é um CP, a

preposição e o pronome sofrem concatenar na morfologia no primeiro termo

coordenado e o Requerimento de Paralelismo exige que a operação aconteça

também no segundo termo coordenado. A sentença (72b) é pior que (72c) porque

(72b) viola o Requerimento de Paralelismo. A sentença só é perfeita se a operação

concatenar acontecer nos dois termos coordenados, como em (72c), em que a

segunda preposição é copiada na morfologia para satisfazer o Requerimento de

Paralelismo.

Agora, se não tivermos Marcação Excepcional de Caso, como nos

exemplos em (73), então os pronomes devem concordar e receber Caso do verbo

147

Page 159: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

infinitivo. Se a preposição selecionou um CP, então a preposição não pode

aparecer no segundo termo coordenado, como vimos acima, daí a

inaceitabilidade de (73b). A sentença só é aceitável com apenas uma preposição,

como em (73a).

(73) a. A Maria fez palhaçadas pra eu e você rirmos.

b. *A Maria fez palhaçadas pra eu e pra você rirmos.

6.5. Resumo

Este capítulo analisou os casos em que a preposição é obrigatória nos dois

termos coordenados, e as duas preposições têm que estar presentes na sintaxe.

Esses casos envolvem a coordenação de pronomes. Assumi o quadro teórico de

Carinaletti e Starke (1999) e fiz uma pequena descrição dos pronomes no

português brasileiro. Modifiquei ligeiramente essa descrição mostrando que

dados com coordenação de pronomes sugerem que o pronome mim é fraco e

precisa da preposição para se tornar um pronome forte. Assumi, então, que a

preposição pode tomar o lugar de CN tomando um pronome fraco em um

pronome forte. Com isso, para coordenarmos pronomes, a preposição tem que

estar presente em sua estrutura ainda na sintaxe.

148

Page 160: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Mostrei também que as preposições sofrem contração com os pronomes

do mesmo modo que com os artigos, a diferença é que a contração, muitas vezes,

não é detectada fonologicarnente.

Analisei ainda casos em que os pronomes são sujeitos da oração que é

complemento da preposição e propus que a preposição não pode ser repetida no

segundo termo coordenado, porque se o pronome se adjungisse à preposição,

haveria urna incompatibilidade de Caso, pois o sujeito da oração encaixada

recebe Caso nominativo e a preposição atribui Caso oblíquo. A preposição só

pode ser repetida no segundo termo coordenado se a sentença envolver

Marcação Excepcional de Caso, de modo que a preposição não seleciona um CP e

a concatenação entre a preposição e o pronome pode acontecer.

149

Page 161: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Capítulo 7

Conclusão

Esta dissertação analisou a contração da preposição em ambientes de

coordenação. A análise proposta foi baseada na teoria de Princípios e

Parâmetros, mais especificamente, no Programa Minimalista conforme

desenvolvido por Chornsky (1995).

As construções envolvendo coordenação de PPs foram divididas em

quatro grupos conforme sua aparição nos termos coordenados: (i) casos em que a

preposição pode aparecer nos dois termos coordenados, ou apenas no primeiro

termo coordenado, como exemplificado em (1); (ii) casos em que a preposição

pode aparecer nos dois termos coordenados, ou apenas no primeiro termo

coordenado, mas a segunda preposição não pode estar presente na sintaxe, como

exemplificado em (2); (iii) casos em que a preposição é obrigatória nos dois

termos coordenados e as duas preposições têm que ter sido inseridas na sintaxe,

como em (3); (iv) casos em que a preposição é obrigatória nos dois termos

coordenados e pode ter sido inserida tanto na sintaxe quanto na morfologia,

como em (4):

(1) a. Eu conversei com o João e a Maria.

b. Eu conversei com o João e com a Maria.

151

Page 162: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(2) a. Não gosto da idéia do João e a Maria comprarem o livro.

b. Não gosto da idéia do João e da Maria comprarem o livro.

(3) a. *A Ana saiu sem mim e você.

b. A Ana saiu sem mim e sem você.

(4) a. *Eu votei no Pedro e a Ana.

b. Eu votei no Pedro e na Ana.

As sentenças em (1) foram analisada por Nunes (2001, a sair) e Homstein e

Nunes (2002) como possuindo derivações iniciadas com numerações diferentes.

Em (la), a numeração contém apenas uma preposição, de modo que a

coordenação ocorre entre dois DPs. Em (1b) a numeração tem duas preposições,

de modo que a computação pode coordenar dois PPs, ou dois VPs; no primeiro

caso, a derivação tem a leitura de um evento e no segundo caso, a leitura de dois

eventos.

Argumentei que a numeração das sentenças em que a preposição é

obrigatória pode possuir apenas uma preposição, baseada no dado em (2b), em

que, aparentemente, um sujeito preposicionado desencadeia concordância.

Mostrei que não é esse o caso. A estrutura dessa sentença na sintaxe tem a

coordenação de dois DPs, de modo que a concordância pode acontecer sem

problemas, segundo a estrutura em (5):

152

Page 163: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

(5) DP ~

a NP ~

idéia PP ~

de CP ~

C IP

---------------

o

&P; ~

DP ~

&' ~

João e DP ~

I

a Maria

vP ~

&P; - v'

~ v VP ~

comprarem o livro

Seguindo a linha da Morfologia Distribuída, a proposta apresentada nesta

dissertação é que a preposição, quando contraída com o determinante, como nos

casos em (2b) e (4), sofre concatenação e fusão na morfologia. O Requerimento de

Paralelismo exige que a operação concatenar ocorra nos dois termos

coordenados, se tiver ocorrido em um deles e é por essa razão que a preposição

precisa ser repetida nesses casos.

Vamos derivar (4b), de novo, considerando a derivação que começa com

apenas uma preposição na numeração. Essa sentença tem a estrutura sintática em

(6) abaixo e é essa estrutura que chega à morfologia. A operação concatenar

ocorre com a preposição e o artigo no primeiro termo coordenado. Propus, então,

que o Requerimento de Paralelismo ao qual as estruturas coordenadas estão

!53

Page 164: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

sujeitas exige que a operação concatenar ocorra também no segundo termo

coordenado, mas não há ali uma preposição para ser concatenada ao artigo,

como ilustrado em (7b). Na minha análise, o Requerimento de Paralelismo

motiva a cópia da preposição do primeiro termo para inseri-la ao lado do artigo

no segundo termo, como em (7c), de modo que a operação concatenar pode

acontecer também no segundo termo coordenado:

(6) vP

(7)

~ eu v' ~

v VP ~

votei PP ~

em &P

---------------o

DP ~

Pedro

a. eu votei em o Pedro e u

e

&' ~

DP ~

a Ana

a Ana. [concatenar no primeiro conjunto]

b. eu votei em+o Pedro e [?] a Ana. [Req. De Para!. exige concatenar no

u segundo conjunto]

c. eu votei em+o Pedro e em a Ana. [cópia e inserção cta preposição]

u d. eu votei em+o Pedro e em+a Ana. [concatenarnosegunctoconjuntoJ

!54

Page 165: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

Após a operação concatenar se passar nos dois termos coordenados, a

operação fundir é aplicada, tomando a preposição e o artigo um único nó, de

modo que apenas um item lexical é inserido nessa posição. A operação fundir

garante também que as cópias da preposição estarão invisíveis ao LCA, tornando

possível a linearização dessa sentença, conforme Nunes (a sair).

O mesmo acontece com as sentenças em (2), porém com uma diferença.

Como mostram os exemplos em (8)-(10), a contração da preposição é opcional

quando o seu complemento é uma sentença:

(8) a. A idéia de o João comprar o livro.

b. A idéia do João comprar o livro.

(9) a. A idéia de o João e a Maria comprarem o livro.

b. *A idéia de o João e de a Maria comprarem o livro.

(10) a. A idéia do João e a Maria comprarem o livro.

b. A idéia do João e da Maria comprarem o livro.

Mostrei no capítulo 5 que a preposição não sofre contração com o artigo

em (8a) e (9a) porque o núcleo C interfere na adjacência entre os dois elementos.

Esse não é o único caso em que C interfere na adjacência. Apresentei alguns

dados do alemão, mostrando que C também interfere na adjacência entre um

!55

Page 166: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

núcleo de negação e o determinante kein, bloqueando uma das potenciais

interpretações da sentença. Mas precisamos explicar, então, por que é que as

sentenças (8b), (9b) e (10b) são aceitáveis. Ou seja, se C bloqueia adjacência e se a

contração é resultado da operação concatenar, seguida de fusão, como é possível

que essas operação possam estar acontecendo nessas sentenças?

Partindo do princípio de que elementos sem matriz fonética precisam ser

apagados em algum ponto da derivação, propus que se o núcleo C for apagado

antes de a operação concatenar ser aplicada, então, a preposição e o artigo

estarão adjacentes e a contração acontece, como ilustrado em (11). No entanto, se

o núcleo C for apagado depois de a operação concatenar ser aplicada, então, a

adjacência estará bloqueada e a contração não acontece, como ilustrado em (12):

(11) a. A idéia de C o João comprar um livro. [apagamento dos elementos

U sem matriz fonética]

b. A idéia de o João comprar um livro. [aplicação de concatenar e

U fusão]

c. A idéia do João comprar um livro.

(12) a. A idéia de C o João comprar um livro. [aplicação de concatenar.

JJ Como não há adjacência, concatenar não acontece.]

b. A idéia de o João comprar um livro. [apagamento dos elementos sem matriz fonética]

Pelo que foi exposto até agora, podemos concluir que é apenas quando a

operação concatenar acontecer no primeiro termo coordenado, que a morfologia

terá motivação (pelo Requerimento de Paralelismo), para copiar a preposição e

!56

Page 167: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

inseri-la no segundo termo coordenado, de modo que a operação concatenar

pode acontecer ali também. Desse modo, a sentença (9b), em que a preposição

está repetida sem estar contraída, é inaceitável.

Para os casos em (3), repetido abaixo em (13), propus que a preposição

precisa estar presente nos dois termos coordenados por exigência dos pronomes,

que precisam ser fortes para serem coordenados, segundo a proposta de

Cardinaletti e Starke (1999). Argumentei que o pronome mim é um pronome

fraco e precisa da presença da preposição para se tornar forte e propus, então,

que a preposição pode tornar o lugar de CN e tornar um pronome frote em fraco.

(13) a. *A Ana saiu sem mim e você.

b. A Ana saiu sem mim e sem você.

Analisando casos de coordenação, mostrei que na derivação de urna

sentença corno (13b) acima, mesmo os pronomes que são opcionalmente fortes ou

fracos precisam entrar na derivação corno pronomes fracos, para que a estrutura

possa ser coordenada, pois se o pronome você, por exemplo, entra na derivação

corno pronome forte, sua estrutura será um CPN, enquanto que a estrutura do

pronome mim é um PP. Esses dois objetos não podem ser coordenados, segundo

o Requerimento de Paralelismo. Corno resultado, temos que a estrutura de um

pronome preposicionado é corno (14) abaixo. Essa estrutura pode ser forte,

157

Page 168: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

quando for coordenada, por exemplo, ou fraca, quando tiver um referente [-

humano], por exemplo.

(14) pp ~

po l:PN ~

l:N° DP ~

DO NP

Essa proposta pode ser comprovada pelo fato de que quando a coordenação é

sujeito de uma oração complemento da preposição, está não pode ser repetida no

segundo termo coordenado, como mostra (15):

(15) a. A idéia de eu e você comprarmos o livro.

b. *A idéia de eu e de você comprarmos o livro.

A segunda preposição não pode estar presente na sintaxe, senão a

concordância não poderia acontecer. Mas também não pode ser inserida na

morfologia porque não há motivação para copiá-la do primeiro termo

coordenado, já que a operação concatenar não aconteceu no primeiro termo

coordenado.

!58

Page 169: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

A análise proposta nesta dissertação leva11ta ao menos dois pontos

importantes para a teoria: (i) a existência de um Requerimento de Paralelismo

atuante não só na sintaxe e na semântica, mas também na morfologia; e (ii) a

possibilidade de cópia e inserção de termos na morfologia. Os dois pontos foram

motivados independentemente com exemplos em outras línguas, mas limites

precisam ser impostos tanto ao Requerimento de Paralelismo, quanto à cópia e

inserção na morfologia para evitarmos a supergeração de sentenças, um

resultado indesejável. Desse modo, é preciso garantir que cópia e inserção sejam

sempre motivadas, e no nosso caso, é o Requerimento de Paralelismo que as

motiva. Mas isso não é o bastante. Provavelmente não podemos copiar qualquer

elemento, ou ao menos não podemos inserir qualquer elemento. O exemplo que

apresentamos com wanna contraction é um caso em que a cópia não pode

acontecer para tornar a sentença possível:

(??) a. *I wanna dance and to sing.

b. I want [ to dance l and [ to sing ]

Nessa sentença, o verbo want não pode ser copiado e inserido ao lado da

preposição no segundo termo coordenado, corno propomos para a coordenação

de preposições no português. No capítulo 4 sugeri que a exclusão dessa

derivação seja de ordem econômica, já que a contração não é obrigatória e,

portanto, a derivação sem contração é menos custosa do que a derivação com a

!59

Page 170: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

contração. É possível também que um verbo, devido à sua natureza, não possa

ser copiado. Portanto, outros fatores podem estar atuando para excluir sentenças

indesejáveis.

O fato é que as orações coordenadas estão sujeitas a um certo

Requerimento de Paralelismo que impõe que nossa interpretação, percepção e

produção atribua modelos semelhantes aos dois termos coordenados. Pode bem

ser que o sistema articulatório-perceptual também imponha a atuação desse

Requerimento do mesmo modo que Hornstein e Nunes (2002) propõem que o

sistema conceptual-intencional impõe a atuação do Requerimento de Paralelismo

na sintaxe. Esse ponto fica em aberto para pesquisa futura.

160

Page 171: Contração de Preposição em Estruturas Coordenadas

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