9
1. INTRODUÇÃO Coube a Freud o mérito de ter sido o primeiro a identificar e a descrever o fenómeno da contra- transferência. Dos seus comentários sobre este assunto, procederam correntes divergentes que caracterizaram o pensamento e a teorização sub- sequentes. A sua sistematização, efectuada por Kernberg (1985), Jacobs (1999), e por nós corroborada, comporta duas abordagens. A clássica, que tem como base a tese central de Freud – que remete para a noção de que a contratransferência actua como um impedimento à compreensão (uma forma de resistência in- consciente do analista, um obstáculo – a ser re- movido) e bloqueia o progresso (e a credibilida- de da psicanálise enquanto disciplina científica). Como expoentes principais desta abordagem evidenciam-se autores como: Reich, Glover, Fliess e, com algumas reservas, Gitelson. E a perspectiva oposta, que advoga o seu uso técnico como instrumento de compreensão do in- consciente do paciente, indispensável no trata- mento analítico. Aqui encara-se a contratransfe- rência como um fenómeno «total», uma reacção emocional total do psicanalista para o paciente, durante a situação terapêutica. Ilustram-se como autores principais: Cohen, Fromm-Reichmann, Heimann, Racker, Weigert, Winnicott e, em parte, Thompson. Enquanto Little, ao defini-la, se aproximou da abordagem clássica, o uso que esta autora deu à contratransferência, acercou-se mais da ala «radical» da segunda abordagem supra re- ferida. Menninger e Orr ocupam uma posição intermédia. Distintamente, Louise de Urtubey (1994, cit. in Duparc, 2001) propõe uma organização teó- rica que discrimina quatro grupos principais de teorias. O primeiro corresponde às teorias clássicas – a contratransferência é vista com incredulidade e considerada como um resíduo não analisado do analista, que deve ser controlado através da neu- tralidade e do silêncio. Aqui englobam-se auto- res como: Glover, Numberg, Ida Macalpine, An- nie Reich, Robert Fliess, Greenson, Schafer e Sandler. O segundo, no qual a contratransferência é vista como a totalidade das emoções e sentimen- tos que o paciente faz surgir no analista. Estas permitem-lhe compreender o paciente. Os seus protagonistas, para além de Ferenczi, são maiori- tariamente autores britânicos, tais como: Strachey, Balints, Winnicott, Bion, Searles e, em particular, Grinberg (um extremista desta posição). 175 Análise Psicológica (2003), 2 (XXI): 175-183 Contratransferência: Uma revisão na literatura do conceito LEOPOLDO GONÇALVES LEITÃO (*) (*) Licenciado em Psicologia na Área de Clínica pe- lo Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa.

Contratransferência - Uma Revisão Na Literatura Do Conceito

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Contratransferência - Uma Revisão Na Literatura Do Conceito

1. INTRODUÇÃO

Coube a Freud o mérito de ter sido o primeiroa identificar e a descrever o fenómeno da contra-transferência. Dos seus comentários sobre esteassunto, procederam correntes divergentes quecaracterizaram o pensamento e a teorização sub-sequentes.

A sua sistematização, efectuada por Kernberg(1985), Jacobs (1999), e por nós corroborada,comporta duas abordagens.

A clássica, que tem como base a tese centralde Freud – que remete para a noção de que acontratransferência actua como um impedimentoà compreensão (uma forma de resistência in-consciente do analista, um obstáculo – a ser re-movido) e bloqueia o progresso (e a credibilida-de da psicanálise enquanto disciplina científica).Como expoentes principais desta abordagemevidenciam-se autores como: Reich, Glover,Fliess e, com algumas reservas, Gitelson.

E a perspectiva oposta, que advoga o seu usotécnico como instrumento de compreensão do in-consciente do paciente, indispensável no trata-mento analítico. Aqui encara-se a contratransfe-

rência como um fenómeno «total», uma reacçãoemocional total do psicanalista para o paciente,durante a situação terapêutica. Ilustram-se comoautores principais: Cohen, Fromm-Reichmann,Heimann, Racker, Weigert, Winnicott e, em parte,Thompson. Enquanto Little, ao defini-la, seaproximou da abordagem clássica, o uso que estaautora deu à contratransferência, acercou-se maisda ala «radical» da segunda abordagem supra re-ferida. Menninger e Orr ocupam uma posiçãointermédia.

Distintamente, Louise de Urtubey (1994, cit.in Duparc, 2001) propõe uma organização teó-rica que discrimina quatro grupos principais deteorias.

O primeiro corresponde às teorias clássicas –a contratransferência é vista com incredulidade econsiderada como um resíduo não analisado doanalista, que deve ser controlado através da neu-tralidade e do silêncio. Aqui englobam-se auto-res como: Glover, Numberg, Ida Macalpine, An-nie Reich, Robert Fliess, Greenson, Schafer eSandler.

O segundo, no qual a contratransferência évista como a totalidade das emoções e sentimen-tos que o paciente faz surgir no analista. Estaspermitem-lhe compreender o paciente. Os seusprotagonistas, para além de Ferenczi, são maiori-tariamente autores britânicos, tais como: Strachey,Balints, Winnicott, Bion, Searles e, em particular,Grinberg (um extremista desta posição).

175

Análise Psicológica (2003), 2 (XXI): 175-183

Contratransferência: Uma revisão naliteratura do conceito

LEOPOLDO GONÇALVES LEITÃO (*)

(*) Licenciado em Psicologia na Área de Clínica pe-lo Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa.

Page 2: Contratransferência - Uma Revisão Na Literatura Do Conceito

O terceiro grupo é o da teoria da contratrans-ferência neurótica mas útil. Enfatiza a auto-aná-lise como um factor essencial no processo ana-lítico. Louise de Urtubey deu exemplo de autorescomo: Margaret Little, Harold Searles e Pontalis.

O quarto grupo é o preferido da autora e, se-gundo esta, da maioria dos autores franceses e demuitos autores da América do Sul, da actuali-dade. A contratransferência é considerada umacomponente do campo analítico. Não é umproblema, ou total, ou algo que deve ser subme-tido primeiro a auto-análise. Mas serve paracompreender a situação analítica. Transferência econtratransferência são elementos que consti-tuem uma unidade, um processo de trabalhoque deve ser levado a cabo em conjunto.

2. FREUD: A GÉNESE DO CONCEITO

Apesar de não ter chegado a elaborar umateoria da contratransferência, Freud (1910) refe-riu, pela primeira vez, a palavra «contratransfe-rência» que descreveu como a resposta emocio-nal do analista aos estímulos que provêm do pa-ciente. Em «As perspectivas futuras da terapiapsicanalítica»1, advertiu para as limitações daprópria neurose do analista e para a necessidadeimprescindível deste superar os seus «pontos ce-gos» (Etchegoyen, 1989; Jacobs, 1999), apresen-tando uma solução que reforçou mais tarde em«Análise terminável e interminável»2 (1937):«(...) nenhum psicanalista avança para além doquanto lhe permitem os seus próprios complexose resistências internas; e nós, consequentemente,requeremos que ele inicie a sua actividade poruma auto-análise, aprofundando-a continuada-mente, enquanto esteja a realizar as suas obser-vações nos seus pacientes» (Freud, 1910, p.145)3.

Em «Conselhos ao médico sobre o tratamentopsicanalítico»4, para além de Freud (1912) terinstituído a análise didáctica, podem encontrar-se ainda as origens da contratransferência comoum fenómeno «total». Reconheceu que a análiseenvolve comunicação. Desta forma, a transmis-são contínua e encoberta das mensagens incons-cientes (em ambos os sentidos), entre os doisparticipantes, constituiu para este autor, umaparte essencial do processo analítico. Ao enten-der que o analista: «(...) deve voltar o seu próprioinconsciente, como um órgão receptor, na di-recção do inconsciente transmissor do paciente(...)» e que «(...) deve ajustar-se ao paciente co-mo um receptor telefónico se ajusta ao micro-fone transmissor (...)» (Freud, 1912, pp. 115--116)5, abriu caminho e permitiu a Heimann su-por que «(...) o inconsciente do analista compre-ende o do paciente (...)» (1949, p. 82)6.

3. 40 ANOS NA «PENUMBRA»

Depois de Freud, e durante alguns anos, acontratransferência ocupou um lugar periféricona psicanálise e a teoria da intuição assumiu umpapel de destaque com Ferenczi em 1919, Sternem 1924, Deutsch em 1926, e outros (Etche-goyen, 1989; Zimerman, 1999). A eficácia doanalista dependia da harmonia entre as transfe-rências de ambos os intervenientes e a sua abor-dagem devia ser comedidamente centrada nacompreensão cognitiva. Só assim se permitia queos seus sentimentos e fantasias surgissem emsintonia com os do paciente, de modo a conse-guir captar as comunicações inconscientes deste.A importância dada à consciência intuitiva dospacientes para com as respostas emocionais doanalista, conduziu alguns autores (Ferenczi,

176

1 «The future prospects of psycho-analytic therapy».2 «Analysis terminable and interminable».3 «(...) No psycho-analyst goes further than his own

complexes and internal resistances permit; and weconsequently require that he shall begin his activitywith a self-analysis and continually carry it deeperwhile he is making his observations on his patients(…)».

4 «Recommendations to physicians practissing psy-cho-analysis».

5 «(...) He must turn his own unconscious like a re-ceptive organ towards the transmitting unconscious ofthe patient. He must adjust himself to the patient as atelephone receiver is adjusted to the transmitting mi-crophone (…)».

6 «(...) The analyst’s unconscious understands thatof his patient (…)».

Page 3: Contratransferência - Uma Revisão Na Literatura Do Conceito

Balint & Balint, 1939, cit. in Jacobs, 1999, entreoutros) a defenderem a auto-revelação e, porisso, a distinguirem-se das posições críticas deFreud7, de Greenson, que chega a referir-se aoanalisando como o «(...) ‘psicanalista júnior’,uma caricatura de uma aliança de trabalho (...)»(1972, p. 216)8, ou de Matos (1978).

Tal como Ferenczi, foram muitos mais os au-tores que contribuíram para antecipar algunsdos problemas, ainda actuais, acerca da contra-transferência. Em 1926, Deutsch mencionou omodo como o analista devia receber e utilizar omaterial do paciente. Defendia que as associa-ções do paciente se deveriam tornar numa expe-riência interna para o analista. Para este autor,processar o material deste modo, dava azo a quesurgissem no analista fantasias, memórias, queseriam a base de toda a intuição, no entanto, in-suficiente para que o analista examinasse o ma-terial do paciente, através do seu inconsciente.Ele também devia processar os dados, de formaintelectual, de modo a alcançar a compreensãonecessária.

Actualmente, esta posição polémica aindaconquista adeptos (como Arlow) e opositores(como Renik), (Jacobs, 1999). Fliess, por exem-plo, em 1942, usou o conceito de identificaçãoexperimental9 que reflecte actualmente uma ideiaimportante para a nossa compreensão dos pro-cessos internos do analista.

Até à Segunda Guerra Mundial, embora mui-tas e diferentes suposições possam justificar es-te hiato, muitos factores vieram mudar este ce-nário10. A experiência durante a Segunda GuerraMundial, permitiu aos analistas contactarem comuma grande variedade de problemas mentais fo-ra do território estritamente neurótico, o que lhesproporcionou experimentar emoções extrema-

mente perturbadoras. Foi, em parte, como resul-tado desta experiência que alguns autores, ins-pirados nos conceitos kleinianos, começaram areferir os fenómenos contratransferenciais.

Em 1947, Rosenfeld referiu apenas ter con-seguido entender uma paciente psicótica atravésdos seus próprios sentimentos (Zimerman, 1999)e, em 1949, Winnicott dá um primeiro passo aopublicar «Ódio na contratransferência» onde in-formava sobre a sua técnica. Não se refere à con-tratransferência, se a considerarmos estritamentecomo instrumento técnico, mas mais a certossentimentos reais que podem aparecer no analis-ta, especialmente o ódio. Enfatizou o importantepapel que a contratransferência negativa desem-penha no tratamento de pacientes muito pertur-bados (em particular psicóticos e psicopatas) edemonstrou que a evocação de tais sentimentos éuma parte necessária e essencial do tratamento(Etchegoyen, 1989; Jacobs, 1999).

4. REDEFINIÇÃO DO PROCESSO ANALÍTICO:A CONTRIBUIÇÃO DE HEIMANN E OUTROS

Pela mesma altura, a importante contribuiçãode Paula Heimann (1949) afirmou-se como oponto da viragem. Heimann «(...) lançou as ba-ses da utilização analítica da contratransferência(...)» (Matos, 1978, p. 32).

Contrariamente a Racker, Heimann, ao utili-zar o conceito de identificação projectiva, nosentido de Klein (pelo menos até às suas últimaspublicações em 1978), enfatizou, como nenhumoutro autor, o valor positivo da contratransferên-cia como ajuda diagnóstica essencial (Thomä eKächele, 1989). Assim, postulou que «a contra-transferência do analista é um instrumento deinvestigação para os processos inconscientes dopaciente» (Heimann, 1949, p. 81)11 e evidencioua necessidade premente do analista consultar asua resposta emocional como a «chave» paraaceder ao inconsciente do paciente. Caso contrá-rio, as suas interpretações seriam pobres. Melhordizendo, «(...) o inconsciente do analista entendeo do seu paciente. (...) Na comparação entre os

177

7 «(...) Experience does not speak in favour of anaffective technique of this kind (...)» (1912, p. 118).

8 «(...) ‘Júnior psychoanalyst’, a caricature of aworking alliance (...)».

9 «Trial identification».10 De acordo com o PEP Archive CD-ROM, antes

de 1950, apenas estavam registados 90 artigos refe-rentes ao tema da contratransferência, actualmente, ereferente ao período pós 1950, estão inscritos 3685artigos (cit. in Hinshelwood, 1999).

11 «(…) The analyst’s counter-transference is an ins-trument of research into the patient’s unconscious».

Page 4: Contratransferência - Uma Revisão Na Literatura Do Conceito

sentimentos nele despertados, com as associa-ções e o comportamento do paciente, o analistaobtém o melhor meio para verificar se por acasoentendeu ou não o seu paciente» (Heimann,1949, p. 82)12. Isto é, o analista «(...) conhece oinconsciente do analisando pela resposta que lhedá» (Matos, 1978, p. 32).

Com Heimann, os sentimentos contratransfe-renciais originam-se no analista como produtosdo paciente: «(...) a contra-transferência do ana-lista não é apenas parte essencial da relação ana-lítica, como também é a criação do paciente, elaé parte da personalidade do paciente» (1949, p.83)13.

Outra contribuição de grande influência sur-giu pouco tempo depois. Pioneira ao explorar acontratransferência em maior profundidade,Little, em 1951, destacou a tendência do analistarepetir o comportamento dos pais do paciente esatisfazer certas necessidades pessoais, mais doque as do analisando, dando ênfase à identifica-ção complementar de Racker (Matos, 1978).Por esta altura, aludiu ainda para o facto de arelação conter fatalmente uma mistura de ele-mentos normais e patológicos, derivados da psi-cologia de ambos os intervenientes – paciente eanalista. Assim, reforçou a ideia de que o suces-so da análise dependia da qualidade do trabalhocentrado na patologia do analista.

Little, foi ainda a proponente mais importantedo uso da contratransferência como material aser comunicado ao paciente (Kernberg, 1985).

Os trabalhos de Winnicott, Heimann e Littletiveram uma influência substancial no futurodesenvolvimento do conceito de contratransfe-rência e das suas diferentes concepções, em par-ticular em Inglaterra, mas também na América

do Sul e em alguns países europeus (Jacobs,1999).

A influência de Melanie Klein teve um rápidocrescimento na Inglaterra do pós-guerra. Namesma linha de Freud, sempre sustentou, e porvezes calorosamente (chegando a hostilizarPaula Heimann e Little, pelos pontos de vistaque defenderam nos seus trabalhos de 1949 e1951, respectivamente), que a contratransferên-cia era um obstáculo para a análise, uma vez queela corresponderia a núcleos inconscientes doanalista, insatisfatoriamente analisados e, comotal, poderia servir como desculpa para que osanalistas atribuíssem as causas das suas própriasdeficiências aos pacientes (Hinshelwood, 1999).Em linguagem kleiniana: «a transferência nãoanalisada do analista para com o paciente» (Bott--Spillius, 1983, cit. in Thomä & Kächele, 1989).

Em 1946, descreveu o fenómeno que ela de-nominou como identificação projectiva que, jun-tamente com a sua conceptualização dos proces-sos dissociativos (splitting), propiciou um me-lhor entendimento dos mecanismos primitivosque participam no fenómeno contratransferencial(Zimerman, 1999).

Outro autor kleiniano a referir, Money-Kyrle,no seu único trabalho de 1956, introduziu oconceito de contratransferência normal, isto é,algo que se apresenta regularmente e que inter-vém com características próprias no processopsicanalítico. Esta linha de trabalho investigouos mecanismos base da empatia – a projecção(pelo paciente) e a introjecção (pelo analista). Oprocesso normal consistiria em ciclos destesmecanismos (Hinshelwood, 1999). Assim, cha-mou de contratransferência normal à do analistaque assume um papel parental, complementar aodo paciente. Este critério é oposto ao de Racker,já que atribuiu a maior empatia a uma transfe-rência do tipo complementar (Etchegoyen,1989).

Em 1967, Bion preferia entender o fenómenotransferencial-contratransferencial pelo seu mo-delo da interacção continente-conteúdo, de modoa valorizar sobretudo a função continente doanalista (Thomä & Kächele, 1989). Ao contradi-zer a orientação de Kyrle, assumiu a posição deque a contratransferência é um fenómeno in-consciente e, portanto, não pode ser usada cons-cientemente pelo analista, pelo menos durante asessão, o que vai ao encontro da tese de Segal

178

12 «(...) The analyst’s unconscious understands thatof his patient. (…) In the comparison of feelings rou-sed in himself with his patient’s associations and be-haviour, the analyst possesses a most valuable meansof checking whether he has understood or failed tounderstand his patient».

13 «(...) The analyst’s counter-transference is notonly part and parcel of the analytic relationship, but itis the patient’s creation, it is a part of the patient’spersonality».

Page 5: Contratransferência - Uma Revisão Na Literatura Do Conceito

(1977, cit. in Zimerman, 1999) quando refereque «a parte mais importante da contratrans-ferência é inconsciente e somente pudemos re-conhecê-la a partir de seus derivados conscien-tes» (o sono, o tédio, etc.).

Em França, em 1966, Lacan derivou a suaperspectiva da contratransferência da posiçãoclássica freudiana: afirmou que interfere directa-mente no paciente e, simultaneamente (da mes-ma forma que Heimann), rejeitou o princípio daneutralidade técnica, (Hinshelwood, 1999). Sus-tentava que a transferência se iniciava quando acontratransferência obstruía o desenvolvimentodo processo analítico. (Etchegoyen, 1989). Refe-riu-se ainda aos efeitos da contratransferênciaindirecta (de Racker).

Nos Estados Unidos, em 1965, Otto Kernbergassinalou que a reacção contratransferencialocorre como um contínuo em relação à psicopa-tologia do paciente. Assim, quanto mais regres-sivo for o paciente, maior será a sua contribuiçãona relação contratransferencial do analista. Poresta altura, Kernberg, concordando geralmentecom Racker, descreve um caso especial de po-sições contratransferenciais: a fixação contra-transferencial crónica que Bion traduz pelo«ataque aos vínculos» e a consequente formaçãode conluios inconscientes (Etchegoyen, 1989;Zimerman, 1999).

Preocupada com as ideias contrárias à sua, ex-pressas nos trabalhos de alguns colegas (durantea década de cinquenta), Annie Reich tentou cla-rificar em 1951, 1960 e 1966 a posição prevale-cente entre os analistas clássicos. A influênciados seus trabalhos e da corrente tradicionalistados anos sessenta foi enorme, nos Estados Uni-dos. Durante duas décadas a visão de Reich, dacontratransferência, foi aceite em silêncio pelamaioria dos analistas tradicionais deste país.Gitelson, entre outros, em 1952, veio quebraresse silêncio e exibiu, nos trabalhos que apre-sentou, o seu cada vez maior conservadorismo,no modo de olhar a contratransferência (Etche-goyen, 1989; Jacobs, 1999).

Em Inglaterra e noutros países fortemente in-fluenciados pelo pensamento kleiniano, o modode perspectivar o tema era diferente. Os paísesda América do Sul eram disso exemplo.

5. AS CONTRIBUIÇÕES DE RACKER EGRINBERG

O analista Argentino, nascido na Polónia,Heinrich Racker foi o autor que mais consistentee sistematicamente estudou e divulgou ofenómeno contratransferencial promovendo, talcomo Heimann, uma mudança de paradigma. Aocontrário de Heimann, Racker publicou umasérie de trabalhos, onde foi estudando aspectosimportantes da contratransferência que chegou aarticular numa teoria coerente e ampla (Etche-goyen, 1989; Zimerman, 1999). Apesar disso, oseu falecimento súbito em 1961 impediu-o dedesenvolver muitas das suas concepções que, noentanto, tiveram um profundo impacto no pensa-mento da sua época e estimularam as reflexões,investigações e teorizações consequentes (Ber-nardi, 2000).

Racker definiu o processo analítico em funçãodos seus dois participantes e propôs um conceitorigoroso: a neurose de contratransferência, quecaracteriza como a expressão patológica da con-tratransferência. Assim, a tomada de consciên-cia, por parte do analista, dos seus processos psi-copatológicos, torna-se premente.

De forma similar ao modelo freudiano sobre atransferência, Racker (1960) afirmou que a con-tratransferência operava de três formas. Simul-taneamente, como obstáculo (identificação com-plementar) e como instrumento técnico (identi-ficação concordante). E ainda como campo emque o analisado pode realmente adquirir uma ex-periência viva e diferente da que «crê» que teveoriginalmente.

De acordo com Etchegoyen (1989), Rackerdescreveu a neurose de contratransferência apartir de três parâmetros. No primeiro parâmetro,Racker (1960) distingue entre as reacções con-tratransferenciais directas e indirectas. As pri-meiras são aquelas que são estimuladas pelo pa-ciente, provêm dele. Pelo contrário, quando oobjecto que mobiliza a contratransferência não éo analisado, mas outro, fala-se de contratrans-ferência indirecta. Estas, surgem como um fenó-meno mais complexo. Representam as reacçõesemocionais do analista para com os seus super-visores, professores, colegas ou outros indiví-duos significativos (inclusivamente indivíduosque pertencem ao mundo do paciente), que exer-

179

Page 6: Contratransferência - Uma Revisão Na Literatura Do Conceito

cem uma influência no seu modo de perceber etrabalhar com o paciente (Jacobs, 1999).

No segundo parâmetro, Racker (1960) consi-derou que os diferentes modos de identificação,que surgem entre analista e paciente, conduziama duas formas de contratransferência: a contra-transferência concordante ou homóloga e a con-tratransferência complementar – nomenclaturautilizada por Deutsch, em 1926.

Na primeira, mecanismos de introjecção eprojecção permitem ao analista identificar o seuego, de forma concordante, com o ego, o id e osuperego do analisando, nas suas diferentes fa-cetas, experiências, impulsos e defesas. Pressu-põe processos de ressonância e reconhecimentoentre o que pertence a ambos os intervenientes.Estas identificações são, em geral, empáticas eexpressam a compreensão do analista que actuacomo intérprete. No entanto, o autor adverte ain-da que quanto maiores forem «(...) os conflitosentre as próprias partes da personalidade doanalista, tanto maiores serão as dificuldades pa-ra realizar as identificações concordantes na suatotalidade (...)» (Racker, 1960, p. 161)14.

As segundas, produzem-se quando o analistase identifica com os objectos internos (transfe-renciais) do analisando. Isto é, o analisando tra-ta o analista como um objecto interno, fazendocom que este se sinta tratado enquanto tal. Noentanto, para Racker – tal como para Deutsch(cit. in Ferreira, 1998) – a identificação comple-mentar não resulta só das projecções do paciente.Resulta também da reactivação da neurose in-fantil do analista que faz com que este evite daruma resposta concordante e o conduza a umaidentificação complementar com o objecto rejei-tante do paciente (Bernardi, 2000). Pelo queRacker refere «(...) uma estreita conexão com odestino das identificações concordantes: pareceque na medida em que o analista fracassa nes-tas, e as recusa, intensificam-se determinadasidentificações complementares (...)» (1960, p.162)15.

O terceiro parâmetro reporta-se a duas classesdistintas de vivências contratransferenciais. As«ocorrências contratransferenciais» que não im-plicam, em geral, um grande envolvimento doego – o analista encontra-se de repente a pensarem algo que não se justifica racionalmente nocontexto em que aparece ou que não parece rela-cionado com o analisando. As associações deste,um sonho ou acto falho, entretanto, mostram arelação (Etchegoyen, 1989). A respeito destasvivências, Racker considera perigoso «(...) quenão se faça uso delas para a compreensão eeventual interpretação (...)» (1960, p. 170)16.

As «posições contratransferenciais», a outraclasse, que de forma distinta reflectem o envol-vimento profundo do ego do analista visto a ex-periência contratransferencial ser «(...) vividapor ele com maior intensidade e como realidade(...)» (Racker, 1960, p. 171)17. É o caso do analis-ta que reage com raiva, ira, angústia ou preo-cupação frente a um determinado paciente. Àsvezes, esse aspecto da neurose de contratrans-ferência é muito sintónico e passa completa-mente inadvertido.

Um outro autor da América do Sul, LeónGrinberg, vai basear-se no pensamento de Ra-cker e continua-o. Diferentemente deste, Grin-berg tem muito em conta a identificação projec-tiva. Estabelece uma graduação que vai da con-tratransferência concordante à complementar,para chegar à contra-identificação projectivaque entende produzir-se «como resultado deuma excessiva identificação projectiva do ana-lisado, que não é percebida conscientemente pe-lo analista e que, como consequência, se vê “le-vado” passivamente a desempenhar o papel que,de forma activa – ainda que inconsciente – oanalisado “forçou dentro de si”» (1958, cit. inEtchegoyen, 1989).

180

14 «(...) los conflitos entre lás próprias partes de lapersonalidad del analista, tanto maiores serán lás di-ficultades para realizar lás identificaciones concor-dantes en su totalidad (...)».

15 «(...) Una estrecha conexión con el destino de lásidentificaciones concordantes: parece que en la me-dida en que el analista fracasa en éstas, y lás recha-za, se intensifican determinadas identificaciones com-plementarias (...)».

16 «(...) En que no se haga uso de ellas para la com-prensión y eventual interpretación (...)».

17 «(...) Vivida por él con mayor intensidad y comorealidad (...)».

Page 7: Contratransferência - Uma Revisão Na Literatura Do Conceito

Num trabalho mais recente (1982), Grinbergdepura e precisa seu pensamento anterior, e inte-gra-o numa concepção interaccional, superandoalgumas falhas. Agora, a contra-identificaçãoprojectiva passa a oferecer ao analista «a pos-sibilidade de vivenciar um espectro de emoçõesque, bem compreendidas e sublimadas, podemconverter-se em instrumentos técnicos utilíssi-mos para entrar em contacto com os níveis maisprofundos do material dos analisados, de um mo-do análogo ao descrito por Racker e por PaulaHeimann para a contratransferência» (Grinberg,1982, cit. in Etchegoyen, 1989).

Nos finais dos anos setenta, nos Estados Uni-dos, por inúmeros factores intervenientes, o ce-nário alterou-se abruptamente e a literatura ficourepleta de artigos sobre o tema da contratrans-ferência. O trabalho de Racker, a escola inglesadas relações de objecto e os autores kleinianostornaram-se mais familiares e estimularam o in-teresse pela contratransferência.

6. DEPOIS DOS ANOS 70

Em 1971, o trabalho de Kohut surge muitocriticado pelos analistas clássicos. Na sua pers-pectiva, e também na de Greenson (1959), a em-patia é o elemento chave do instrumento analí-tico e é dependente da capacidade introspectiva edo sentido de identidade do analista. Kohut des-tacou que a empatia possibilitava a condição deo analista «se colocar no lugar do outro», pro-piciava uma «vivência emocional compartilha-da» e possibilitava no paciente uma «interna-lização transmutadora» (Zimerman, 1999). As-sim, indirectamente, enfatizou o papel indis-pensável que a contratransferência desempenhano trabalho analítico mas, alertou para o facto deo narcisismo patológico se constituir como umdos principais obstáculos para o uso da empatia.

Neste novo clima, os analistas sentiram-semais confortáveis para explorar as suas reacçõescontratransferenciais e escrever sobre elas.Agora, o analista passou a ser visto como umparceiro na jornada analítica. A análise tornara-se num projecto que, utilizando as experiênciassubjectivas de ambos os intervenientes, lhespermite trabalhar, em conjunto, para desencobriro núcleo das fantasias inconscientes e construir

uma verdade narrativa (Spence, 1982, cit. inJacobs, 1999).

O trabalho original e criativo de Ogden é dis-so um testemunho. Com base no conceito klei-niano de identificação projectiva, desenvolveu oconceito de «terceiro analítico»18 que define co-mo «(...) um produto de uma dialéctica únicagerada por (entre) as diferentes subjectividadesdo analista e analisando dentro do setting ana-lítico» (Ogden, 1994, p. 4)19. Desta forma, pôdeperceber como é que paciente e analista, comosujeito e objecto (transferência e contratransfe-rência) interdependentes que são, se juntam paraformar um terceiro objecto (Hinshelwood,1999). Ou seja, aquelas ideias, crenças e imagi-nações criadas juntas e partilhadas por ambos, eque afectam as percepções e o pensamento dosdois.

Também uma figura-chave da actualidade,Owen Renik, é um autor controverso. Defendeque a subjectividade do analista é inerente aoprocesso analítico. Sendo assim, e para este au-tor, o conceito de contratransferência não temsignificado, torna-se redundante. O analista, emvez de tentar a tarefa impossível de monitorizar econtrolar a sua subjectividade, deve torná-laparte do processo analítico. Assim, pensa que oanalista deve partilhar algumas das suas ideias epercepções com os pacientes de forma a que es-tas possam ser discutidas abertamente, durante otratamento (Jacobs, 1999).

7. CONCLUSÃO

A contratransferência, um dos conceitos fun-damentais do campo analítico, a sua conceptua-lização é uma das mais complexas e controver-sas entre as diferentes correntes psicanalíticas e,ainda hoje, permanece problemática.

Geralmente aceite como o «conjunto das reac-ções inconscientes do analista à pessoa do ana-lisado e mais particularmente à transferência

181

18 «Analytic third».19 «(...) A product of a unique dialectic generated by

(between) the separate subjectivities of analyst andanalysand within the analytic setting (…)».

Page 8: Contratransferência - Uma Revisão Na Literatura Do Conceito

deste» (Laplanche & Pontalis 1998, p. 102)20,cada vez mais, os analistas a reconhecem comouma entidade complexa que contém elementosderivados das projecções do paciente, da psico-logia do analista (incluindo aspectos da sua per-sonalidade e história) e da relação transferencial--contratransferencial no aqui-e-agora.

Nesta perspectiva – que se apoia fortementena noção de formação de compromisso e noprincípio do funcionamento múltiplo – que étambém a que nos parece mais razoável, a con-tratransferência é uma criação que utiliza os di-ferentes componentes, de uma forma dinâmica,como resposta ao desenvolvimento do processoanalítico, alterando a psicologia do analista.

Nos últimos cinquenta anos, investigaçõessobre a contratransferência e sobre a mente doanalista tiveram um impacto significativo nasperspectivas contemporâneas: expandiram anossa compreensão do processo analítico e per-mitiram uma tomada de posições mais conscien-te (Jacobson, 1999).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bernardi, B. L. (2000). The countertransference: Alatin american view. International Journal of Psy-choanalysis, 81, 331-351.

Duparc, F. (1999). The countertransference scene inFrance. International Journal of Psychoanalysis,82, 151-169.

Etchegoyen, R. H. (1989). Fundamentos da técnicapsicanalítica (2ª ed.). Porto Alegre: Editora ArtesMédicas Sul.

Freud, S. (Ed.). (1910). The Complete PsychologicalWorks: Five Lectures on Psychoanalysis, Leonardda Vinci and other works (Vol. XI). London: Ho-garth Press.

Freud, S. (Ed.). (1911-1913). The Complete Psycholo-gical Works: The Case of Schreber, Paper onTechnique and other works (Vol. XII). London:Hogarth Press.

Freud, S. (Ed.). (1937-1939). The Complete Psycholo-gical Works: Moses and Monotheism, an outline ofPsycho-Analysis and other works (Vol. XXIII).London: Hogarth Press.

Ferreira, T. (1998). As identificações na contratrans-ferência. Revista Portuguesa de Psicanálise, 17,43-62.

Greenson, R. (1959, July). Empathy and its vicissitudes.Enlarged version of paper presented at the 21stCongress of the International Psycho-AnalyticalAssociation, Copenhagen.

Greenson, R. (1972). Beyond transference and interpre-tation. International Journal of Psychoanalysis, 53,213-217.

Heimann, P. (1949). On counter-transference. Paperpresented at the 16th International Psycho-Ana-lytical Congress, Zürich, Switzerland.

Hinshelwood, R. D. (1999). Countertransference. Inter-national Journal of Psychoanalysis, 80, 797-818.

Jacobs, T. J. (1999). Countertransference past and pre-sent: A review of the concept. International Jour-nal of Psychoanalysis, 80, 575-594.

Kernberg, O. (1985). Borderline conditions and patho-logical narcissism. New Jersey: Jason Aronson.

Laplanche, J., & Pontalis, J-B. (1998). Vocabulaire dela psychanalyse (2ª ed.). Paris: PUF.

Matos, C. (1978, Outubro). A contratransferência comoresistência do analista e como material do proces-so analítico. Trabalho apresentado na Conferênciarealizada na Sociedade Portuguesa de Psicanálise,Lisboa.

Ogden, T. (1994). The analytic third: Working with in-tersubjective clinical facts. International Journal ofPsychoanalysis, 75, 3-19.

Racker, H. (1960). Estúdio V: La neurosis de contra-transferencia. In H. Racker (Ed.), Estúdios sobretecnica psicoanalitica (pp. 127-152). Buenos Ai-res: Editorial Paidos.

Racker, H. (1960). Estúdio VI: Los significados y usosde la contratransferencia. In H. Racker (Ed.), Estú-dios sobre tecnica psicoanalitica (pp. 153-202).Buenos Aires: Editorial Paidos.

Thomä, H., & Kächele, H. (1989). Contratransferencia.In H. Thomä, & H. Kächele (Eds.), Teoria y prác-tica del psicoanálisis: I Fundamentos (pp. 99--120). Barcelona: Editorial Herder.

Zimerman, D. E. (1999). Contratransferência. In D. E.Zimerman (Ed.), Fundamentos psicanalíticos: Teo-ria, técnica e clínica (pp. 347-358). Porto Alegre:Editora Artes Médicas Sul.

RESUMO

Neste trabalho, apresenta-se uma breve revisãodiacrónica do conceito de contratransferência. A mo-desta síntese dos autores apresentados permite apenasaludir ao seu percurso evolutivo, complexo e proble-mático. Caracterizada originalmente por Freud comoum obstáculo à compreensão, quarenta anos depoissurge como um instrumento de compreensão que tor-nou o analista mais responsável no seu trabalho. Faz-

182

20 «Ensemble des réactions inconscientes de l’ana-lyste à la personne de l’analysé et plus particulière-ment au transfert de celui-ci».

Page 9: Contratransferência - Uma Revisão Na Literatura Do Conceito

-se também alusão à mudança do clima analítico,após a Segunda Guerra Mundial, que veio promover are-emergência do conceito de contratransferência, dapenumbra.

Distinguem-se ainda autores como Heimann, Ra-cker e outros que, ao virem estabelecer um vínculo en-tre a ideia original de Freud e a ideia de Reik sobre aintuição como instrumento maior do analista, assegu-raram a sua organização como um corpo de doutrinacompleto. Finalmente, conclui-se que, apesar da suacontrovérsia se manter actual, a contratransferência éum conceito que tem vindo a adquirir, cada vez mais,uma certa permanência e estabilidade no léxico analí-tico.

Palavras-chave: Contratransferência, obstáculo,instrumento, intuição, identificação projectiva, contra-identificação projectiva, neurose de contratransferên-cia, contratransferência concordante e complementar,contratransferência directa e indirecta, empatia, o ter-ceiro analítico.

ABSTRACT

This work is a brief diachronic revision of the con-

cept of counter-transference. The modest synthesis ofthese authors covers only the concept’s evolutionary,complex and problematic process. Originally descri-bed by Freud as an obstacle to understanding, fortyyears later it emerged as an instrument of understan-ding that made the analyst more responsible in hiswork. Reference is also made to the changing analy-tical climate after World War II, as the concept ofcounter-transference began to re-emerge from obscu-rity.

Authors such as Heimann, Racker and others aredistinguished for having organised this doctrine into acomplete work by linking Freud’s original idea withReik’s idea about intuition as the analyst’s best ins-trument. Lastly, although still enveloped in controver-sy, the concept of counter-transference has been in-creasingly gaining a certain permanence and stabilityin the lexicon of analysis.

Key words: Counter-transference, obstacle, instru-ment, intuition, projective identification, projectivecounter-identification, counter-transference neurosis,concordant and complementary counter-transference,direct and indirect counter-transference, empathy, theanalytic third.

183