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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Engenharia Mecânica CESAR GARCIA MENDONÇA DA COSTA Contribuição à base de Conhecimento sobre a Logística Reversa de Veículos Comerciais Pesados CAMPINAS 2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Engenharia Mecânica

CESAR GARCIA MENDONÇA DA COSTA

Contribuição à base de Conhecimento sobre a Logística Reversa de Veículos Comerciais

Pesados

CAMPINAS 2018

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CESAR GARCIA MENDONÇA DA COSTA

Contribuição à base de Conhecimento sobre a Logística Reversa de Veículos Comerciais

Pesados

Orientador: Prof. Dr. Antônio Batocchio

CAMPINAS

2018

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica, na Área de Materiais e Processos de Fabricação.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃOFINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO CESAR GARCIA DA MENDONÇA COSTA, E ORIENTADA PELO PROF. DR. ANTÔNIO BATOCCHIO.

..................................................................

ASSINATURA DO ORIENTADOR

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MANUFATURA E MATERIAIS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ACADÊMICO

Contribuição à base de Conhecimento sobre a

Logística Reversa de Veículos Comerciais Pesados

Autor: Cesar Garcia Mendonça da Costa Orientador: Prof. Dr. Antônio Batocchio A Banca Examinadora composta pelos membros abaixo aprovou esta Dissertação: Prof. Dr. Antônio Batocchio, Presidente DEMM/FEM/UNICAMP Prof. Dr. Robert Eduardo Cooper Ordoñez DEMM/FEM/UNICAMP Prof. Dr. Gustavo Nucci Franco Franco Arbeit Engenharia

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Campinas, 23 de outubro de 2018.

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Dedicatória

Dedico este trabalho ao meu Orientador Prof. Dr. Antônio Batocchio que ao longo desta

jornada sempre me apoiou totalmente, assim como acreditou na minha pesquisa, e,

obviamente também na minha capacidade e determinação para concluir um dos meus maiores

desafios pessoais.

Também o dedico aos demais mestres da UNICAMP que de algum modo me ajudaram na

composição deste texto analítico, e se tornaram fonte inspiradora para o meu crescimento

acadêmico.

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Agradecimentos

O transcurso dos últimos meses me mostrou o quão importantes algumas pessoas são em

minha vida, fundamentais no processo diário, pois nunca me abandonaram e não deixaram,

nos momentos mais difíceis, que eu abandonasse meu sonho.

À minha esposa Renata, que teve paciência e compreensão durante este período e me apoiou

incondicionalmente, assim como à minha família, em especial mãe, pai, irmã e avó, que

entenderam minha ausência, ensinando sempre que todos nós somos capazes de superar os

obstáculos.

Ao meu amigo Maurício, que com suas qualidades como educador e mestre, me fez aprender

que a maior qualidade do homem não se mede pela quantidade de moedas que possuímos e

sim pela troca de experiências, e sabedoria que adquirimos.

Os meus mais profundos agradecimentos ao meu amigo e professor da vida João Domingos,

uma pessoa iluminada que de maneira simples e carinhosa me influenciou e me motivou a

terminar esta etapa acadêmica, proporcionando o apoio e acolhimento devido.

Demais parentes e amigos queridos que, no transcurso deste período de estudo, contribuíram e

torceram para que eu pudesse concluir esta dissertação.

Administrar trabalho versus estudo muitas das vezes requer um exercício baseado em

abdicação e foco, revestido de fatores complexos e influências externas. De maneira geral,

gostaria, ainda, de agradecer a todos que de alguma maneira me ajudaram durante a minha

vida acadêmica dentro da Unicamp.

Finalmente, preciso agradecer à força divina que me mostra todos os dias que, por meio do

amor, do trabalho árduo e da persistência somos capazes de superarmos todos os desafios

nesta vida.

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Resumo

O conceito de Logística Reversa (LR) passou a ser considerado importante para mitigar

resultados nefastos decorrentes da degradação ambiental, resultante da ação do próprio

processo de produção. Este trabalho nasceu da inquietação de discutir quais os critérios

impactantes para a realização da Logística Reversa em Veículos Comerciais Pesados. Para

tanto, foi efetuada análise dos aspectos econômicos do bem, com base no conceito de Valor

Presente Líquido (VPL), na emissão de poluentes e na eficiência energética, considerados

também os aspectos de segurança e a legislação aplicada. Também se apresentou um estudo

de caso de empresas parceiras aonde já vem sendo realizado tal procedimento, para as quais a

questão da sustentabilidade é fundamental. Apresenta também as principais lições aprendidas

em práticas internacionais construídas com base na Logística Reversa de forma sólida e

consorciada entre empresas, governo e sociedade, demonstrando os ganhos ambientais e na

melhoria da segurança nas rodovias, com a realização da Logística Reversa no momento

oportuno.

Palavras Chave: Logística Reversa, Sustentabilidade, Setor automotivo, Economia.

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Abstract

Reverse Logistics (RL) concept has come to be considered important to mitigate harmful

results due to environmental degradation, resulting from the action of the production process

itself. This work was born through the concern of discussing the impact criteria for

performing Reverse Logistics in Heavy Commercial Vehicles. To do so, the economic aspects

of the asset were analyzed based on the concept of Net Present Value (NPV), pollution

emissions and energy efficiency, considering also the safety aspects and the legislation

applied. We also presented a case study of partner companies where such a procedure has

already been carried out, for which the question of sustainability is fundamental. It also

presents the main lessons learned in international practices built on the basis of RL, in a solid

and joint manner between companies, government and society, demonstrating the

environmental gains and improving road safety with RL realization in a correct time.

Key Words: Reverse Logistics, Sustainability, Automotive Industry, Economy.

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Lista de Ilustrações

FIGURA 1 – RECOVERY AND RECYCLING RATE FOR END-OF-LIFE VEHICLES…..…..18

FIGURA 2 – MATRIZ DE TRANSPORTES DO BRASIL ...................................................... 25

FIGURA 3 – MAPA DAS RODOVIAS FEDERAIS NO BRASIL ............................................ 26

FIGURA 4 – EMISSÕES VEICULARES DE GEE NO ESTADO DE SÃO PAULO EM 2016 27

FIGURA 5 – GRÁFICO DE TRANSPORTES E EMISSÕES DE POLUENTES .................... 28

FIGURA 6 – FLUXO DE SUPPLY CHAIN ............................................................................ 30

FIGURA 7 – CANAIS DE PÓS-VENDA E PÓS-CONSUMO ................................................ 32

FIGURA 8 – CAMINHO DO VEÍCULO NA RECICLAGEM................................................... 40

FIGURA 9 – DETALHE DO PROCESSO DE DESMONTAGEM .......................................... 43

FIGURA 10 – MODELO DE SEPARAÇÃO DE PEÇAS PARA RECICLAGEM .................... 44

FIGURA 11 – DESTINAÇÃO DOSPRODUTOS QUE CHEGAM AO FIM DE VIDA ............. 52

FIGURA 12 – COMPARATIVO DE TIPOS DE MOTORES NA FROTA (2013) .................... 57

FIGURA 13 – CONSUMO DE ENERGIA DOS EUA POR SETOR E FONTE DE ENERGIA,

2013 ................................................................................................................................. ...60

FIGURA 14 – EMISSÕES DE GASES COM EFEITO DE ESTUFA PELO TRANSPORTE .. 61

FIGURA 15 – ESTRATÉGIAS DE IMPLANTAÇÃO DO PRONCOVE PARA VCP ............... 62

FIGURA 16 – EVOLUÇÃO DOS LIMITES DE EMISSÃO PARA VCP ................................. 62

FIGURA 17 – EMISSÃO DE VEÍCULOS PESADOS COM MOTORES DO CICLO DIESEL 62

FIGURA 18 – PADRÃO EUROPEU DE EMISSÕES ............................................................ 63

FIGURA 19 – EMISSÃO DO DIESEL: CENÁRIO PÓS 2012 ............................................... 64

FIGURA 20 – COMPARATIVO DE EMISSÕES ENTRE AS FASES EURO ........................ 64

FIGURA 21 – EMISSÃO DE NOX POR CATEGORIA DE VEÍCULO ................................... 67

FIGURA 22 – EMISSÕES GLOBAIS DE CO2 RELACIONADAS COM A ENERGIA, 2000-

2017................. .................................................................................................................... 70

FIGURA 23 – PAÍSES COM > NÚMEROS NO TRÂNSITO, EM 2010 ................................. 73

FIGURA 24 – 10 MAIORES CAUSAS DE MORTE DE PESSOAS DE 15 A 29 ANOS ........ 76

FIGURA 25 – MATRIZ RODOVIÁRIA DE CARGAS ............................................................ 76

FIGURA 26 – DISTRIBUIÇÃO ANUAL DE ACIDENTES ENVOLVENDO CAMINHÕES ..... 78

FIGURA 27 – DISTRIBUIÇÃO DE VÓRTICES EM UM VCP BIARTICULADO .................... 80

FIGURA 28 – SIMULAÇÃO DE CUSTOS DE FRETE PARA O TRANSPORTE DE CARGAS

............................................................................................................................................ 83

FIGURA 29 – INDICADORES DE DESEMPENHO DA LOGÍSTICA REVERSA .................. 86

FIGURA 30 – CUSTO DO CAPITAL PRÓPRIO ................................................................... 87

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FIGURA 31 – CUSTO DO CAPITAL DE TERCEIROS ........................................................ 88

FIGURA 32 – CUSTO MÉDIO PONDERADO DO CAPITAL ................................................ 89

FIGURA 33 – CUSTOS DE MANUTENÇÃO DO VCP – 10 ANOS ...................................... 93

FIGURA 34 – DEMONSTRAÇÃO DO CUSTO ANUAL DE UM VCP ................................... 93

FIGURA 35 – CUSTOS OPERACIONAIS DO CAMINHÃO ................................................. 98

FIGURA 36 – VPL DO CAMINHÃO ZERO QUILÔMETRO .................................................. 99

FIGURA 37 – VPL DO CAMINHÃO COM 1 ANO DE USO* ............................................... 100

FIGURA 38 – VPL DO CAMINHÃO COM 3 ANOS DE UTILIZAÇÃO ................................ 100

FIGURA 39 – VPL DO CAMINHÃO COM 5 ANOS DE UTILIZAÇÃO ................................ 101

FIGURA 40 – VPL DO CAMINHÃO COM 10 ANOS DE UTILIZAÇÃO .............................. 101

FIGURA 41 – COMPARATIVO ENTRE VPL ..................................................................... 102

FIGURA 42– GRÁFICO VPL ............................................................................................. 102

FIGURA 43 – CUSTOS DE MANUTENÇÃO DO VCP – 10 ANOS .................................... 103

FIGURA 44 – CUSTO $ X TONELADA TRANSPORTADA ................................................ 104

FIGURA 45 – CÓDIGO DE CONDUTA VOLVO ................................................................ 118

FIGURA 46 – TEMAS PRIORITÁRIOS DA EMPRESA ...................................................... 119

FIGURA 47– CONCEITO TOTAL DO NEGÓCIO .............................................................. 120

FIGURA 48 – OBJETIVO SOCIAL DA EMPRESA ESTUDADA ........................................ 121

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Lista de Abreviaturas e Siglas

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis

ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestre

ATA – America Trucking Association (Associação Nacional Americana de Caminhões)

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Social

CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

CNT – Confederação Nacional do Transporte

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

CONATRAN – Conselho Nacional de Trânsito

DENATRAN –Departamento Nacional de Trânsito

EPR – Extended Producer Responsability (Responsabilidade Estendida ao Fabricante)

EUROSTAT – Gabinete de Estatísticas da União Europeia

FAT – Associação de Pesquisa para Tecnologia Automotiva

FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas

GEE – Gases de efeito Estufa

IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IEA – Agência Internacional de Energia

INEE – Instituto Nacional de Eficiência Energética

ISO – International Organization for Standardization (Organização Internacional de

Normalização)

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ONU – Organização das Nações Unidas

PIB – Produto Interno Bruto

PROCONVE – Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores

PRONAR – Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar

RNTRC – Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas

SCM – Supply Chain Management (gestão da cadeia de abastecimento)

SGA – Sistemas de Gestão Ambiental

SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente

TRC – Transporte Rodoviário de Cargas

VCP – Veículo Comercial Pesado

VDA – Associação Alemã da Indústria Automotiva

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Sumário

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 14

1.1 Justificativa do Trabalho ......................................................................................................... 19 1.2 Objetivos .................................................................................................................................. 22 Objetivo Geral ............................................................................................................................... 22 1.3 Metodologia Científica ............................................................................................................ 22 1.4 Estrutura da Dissertação .......................................................................................................... 23

2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................................. 25

2.1 Considerações Iniciais ............................................................................................................. 25 2.2 Logística .................................................................................................................................. 28 2.2.1 Logística Reversa ................................................................................................................. 31 2.2.2 Atual estágio da Logística Reversa no Brasil e no mundo ................................................... 34 2.2.3 Logística Reversa no Setor Automotivo ............................................................................... 38 2.2.4 Principais obstáculos para a Logística Reversa .................................................................... 41 2.3 Reciclagem .............................................................................................................................. 42

3 MÉTODO PARA DETERMINAÇÃO DA VIDA ÚTIL DE UM VCP .................................... 47

3.1 Considerações Iniciais ............................................................................................................. 47 3.2 Definição de um Veículo Comercial Pesado – VCP ............................................................... 48 3.3 Critérios para definição do fim de vida útil ideal de um VCP ................................................ 50 3.3.1 Indicadores Legais (legislação) .......................................................................................... 51 3.3.2 Indicadores Ambientais – Emissão de Poluentes e Eficiência energética .......................... 57 a) Emissão de Poluentes ......................................................................................................... 59 b) Eficiência energética........................................................................................................... 68 3.3.3 Indicadores de Segurança ................................................................................................... 72 3.3.4 Indicadores Econômico-Financeiros .................................................................................. 81 a) Critérios econômico-financeiros – Valor Presente Líquido (VPL) .................................... 81 b) Indicadores de Produtividade ............................................................................................. 90 4.1 Considerações Iniciais ............................................................................................................. 95 4.2 Fases da Proposta de Aplicação............................................................................................... 96

5 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 107

Recomendações e Sugestões para pesquisas Futuras .................................................................. 108

ANEXO A – Produção X Logística Reversa em um grupo empresarial..................................... 118

A.1 Empresa de primeiro nível – VOLVO .................................................................................. 118 A.2 Empresa de segundo nível – DEX ........................................................................................ 121

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1 INTRODUÇÃO

À medida que o tempo passa, a sociedade contemporânea vai se tornando mais

consciente das limitações dos recursos naturais extraídos para atender à demanda da

população atual, com vistas às necessidades das futuras gerações. O desenvolvimento

sustentável, para além dos lucros financeiros, vem se tornando um norteador das

organizações em seu processo de produção, operação e comercialização de bens e

serviços. HIRSCHFELD

Os modelos teóricos disponíveis apresentam um conjunto de critérios de

avaliação e análise como custo operacional, (HIRSCHFELD, 1994) desempenho da

manutenção e segurança (HSU, 2015) e meio ambiente dos caminhões e de seus

implementos (CHEN-FU, 2014). Entretanto, identificou-se a ausência de um modelo

que reúna os principais critérios e auxilie na tomada de decisão de compra, troca ou

encaminhamento para a Logística Reversa de um Veículo Comercial Pesado (VCP).

O Conselho Nacional de Trânsito (CONATRAN) em sua resolução n. 396 de

dezembro de 2011, define como Veículos Pesados os ônibus, micro-ônibus, caminhões,

caminhões-tratores, tratores de rodas, tratores mistos, chassis-plataforma, reboques ou

semirreboques e suas respectivas combinações, acima de 3.500kg.

Assim, reunir um maior número de informações necessárias que auxiliem neste

momento decisório, motivou a escolha do tema deste trabalho de pesquisa.

Além da avaliação econômica, dos indicadores de produtividade do ativo, faz-se

necessário inclusão de outros aspectos envolvidos na operação, a saber:

• Legislação aplicada – cumprimento às leis e normas vigentes;

• Vida Econômica – Valor Presente Líquido (VPL)

• Meio Ambiente – Emissão de Poluentes e Eficiência Energética

• Segurança nas Estradas – fatores intrínsecos ao Veículo Comercial

Pesado

Durante as últimas décadas órgãos públicos, reguladores da indústria nacional

vem desenvolvendo e aplicando novas legislações para minimizar os impactos

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ambientais gerados pelos processos produtivos. Algumas leis referentes à proteção do

meio ambiente já foram desenvolvidas e implantadas no Brasil desde o início da década

de 80, a exemplo da Lei número 6.938, de 31 de agosto de 1981 – Política Nacional do

Meio Ambiente. Esta lei define a poluição como a degradação da qualidade ambiental

resultante das atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e

o bem-estar da população; criem condições adversas as atividades sociais e econômicas;

afetem desfavoravelmente o conjunto de seres vivos de um ecossistema; afetem as

condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e lancem matérias ou energia em

desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (BRASIL, 1981).

As empresas, como se sabe, buscam resultados financeiros em suas operações de

modo a perpetuarem seus negócios e também tem a preocupação com a eficiência

energética e atenção às normas vigentes. Quanto melhor atende a estes quesitos, mais

aumenta a satisfação de todos os agentes envolvidos. Assim, quando, por meio de um

eficiente sistema de Logística Reversa, são capazes de tornar processos complexos e

custosos em resultados que agreguem vantagens competitivas ao negócio, os resultados

econômicos são muito bem-vindos, assim como os ganhos para o meio ambiente,

sociedade e seus respectivos clientes e consumidores (GOVINDAN ET al, 2015).

Em uma primeira visão, se pode considerar a Logística Reversa (LR) como sendo

o oposto da logística tradicional, ou seja, é o retorno dos produtos aos seus produtores.

Porém, trata-se de algo mais complexo à medida em que se faz necessário definir o

momento de providenciar o retorno de um determinado produto, sendo que o tempo,

quantidade retornada de produtos, suas características físicas e condições de retorno são

incertos.

Para Almeida e Marins (2010), a partir da década de 1990, a logística vai

adquirindo uma conformação de divisão autônoma dentro das organizações e passa a

atrair interesse de estudo por parte das entidades acadêmicas. Assim, o SCM – Supply

Chain Management passa a integrar as informações entre fornecedores, indústria,

distribuidores, varejistas, atacadistas e consumidores finais, de forma a ordenar,

racionalizar e aperfeiçoar a produção e a distribuição dos produtos, conferindo maior

controle nos processos logísticos, desde a compra e recebimento da matéria-prima, sua

aplicação no processo produtivo e no controle da entrega dos produtos acabados para o

cliente final.

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Do ponto de vista econômico, este assunto tem se tornado importante dentro das

organizações ao redor do mundo. Neste sentido o conceito de Logística Reversa passou

a ser estudado visando a sua adaptação em um mercado altamente competitivo. Além do

aumento da eficiência e da competitividade das empresas, a mudança na cultura de

consumo por parte dos clientes também tem incentivado a Logística Reversa a ser um

elo importante de fidelidade entre empresas e consumidores (HERNANDEZ, MARINS,

CASTRO, 2012).

No entanto, os autores afirmam que muitas são as dificuldades encontradas para a

aplicabilidade da Logística Reversa. Torná-la viável para todas as partes envolvidas

neste processo é um desafio que precisa encontrar um denominador comum para todos.

Governantes, indústrias e sociedade necessitam trabalhar em conjunto para garantir que

os produtos em fim de vida encontrem seu destino adequado, seja ele a reciclagem,

reaproveitamento ou descarte correto sem risco para o meio ambiente.

As características da frota circulante influenciam diretamente na emissão de

poluentes, veículos mais novos, como descrito a seguir, são menos poluidores devido a

introdução de novas tecnologias e limites de emissão mais restritivos, porém veículos

seminovos sem manutenção podem emitir mais poluentes do que veículos antigos

conservados e com a manutenção em dia (WENZEL ET al, 2000).

Para o autor, com isso os automóveis mais velhos vem se tornando o ponto de

atenção, pois de maneira geral são deficientes tecnologicamente no que diz respeito ao

controle de emissões de gases, geralmente estão com as peças desgastadas e em muitos

casos tem a manutenção precária, sendo mais poluidores.

A indústria automotiva possui uma representatividade significativa na economia

global, e passa pela geração de impactos ambientais, desde a coleta de matéria-prima até

o descarte final dos veículos, ainda não tem soluções coerentes e adequadas para a

sociedade e governos, sem que sejam devidamente responsabilizadas por seus produtos

que continuam sendo sucateados ou descartados de qualquer maneira, pelo que se

espera políticas públicas mais rigorosas e que todas as entidades envolvidas se

apresentem para de fato conferir efetividade à Logística Reversa.

Dentro de uma cadeia em “loop” entende-se que o bem possa ser produzido e

reconhecido como um produto “berço para berço” e que será capaz de maximizar sua

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vida útil e minimizar os impactos ambientais porque seu descarte será nulo ou mínimo

os resíduos decorrentes do processo serão reaproveitados na cadeia produtiva de novos

produtos ou na produção de produtos equivalentes.

O Eurostat (2010), o serviço estatístico da União Europeia (UE), situado em

Luxemburgo, emite o relatório “Energy, transport environment indicators”. Este

serviço tem como tarefa fornecer à UE estatísticas de abrangência continental, que

permitem comparações entre países e regiões da Europa. Segundo o relatório, os

Estados-Membros da UE deveriam garantir um mínimo de 85% de reutilização e

recuperação e um mínimo de 80% de reutilização e reciclagem até 01 de Janeiro de

2006. Além disto, os Estados-Membros teriam também que cumprir a meta de 95% de

reutilização e recuperação e 85% de reutilização e reciclagem até 01 de janeiro de 2015.

Em 2010, quatro Estados-Membros cumpriram o escopo de reutilização:

Alemanha (106,2%), Áustria (96,5%), Holanda (95,3%) e Finlândia (95,0%).Outros dez

membros atingiram sua meta em 2015 de 85% para reutilização e reciclagem:

Alemanha(95,5%), Dinamarca (90,5%), Bélgica (89,0%), Bulgária (88,9%),Polônia

(88,8%), Eslovênia (88,6%), Eslováquia (88,4%), Lituânia(88,1%), Letônia (85,7%) e

Luxemburgo (85,0%), conforme Figura 1, a seguir.

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Figura 1 – Recovery and recycling rate for end-of-life of vehicles Fonte: Eurostat. Environmental Data Center on Waste, 2010

Modelos de reciclagem veicular vem sendo implantados em todo o mundo, de

maneira constante, assim como novas tecnologias vem sendo desenvolvidas nos

produtos e nos processos de reciclagem. A União Europeia é referência no mundo e

vem alcançando níveis de reaproveitamento de materiais consideráveis, por ter

estabelecido metas para a reutilização, reciclagem e recuperação do fim da vida de

veículos, desde 2006.

A cadeia de suprimentos e produção de veículos vem se reestruturando, por meios

de novas tecnologias, eliminando substâncias perigosas e acelerando a evolução de

processos de reciclagem, beneficiando assim toda a sociedade (PAMPLONA ET al,

2016).

No caso dos veículos de transporte, outros critérios são levados em conta, de

forma isolada ou conjunta, tais como: capacidade de gerar receitas, despesas

operacionais e de manutenção, obsolescência tecnológica, aspectos de segurança,

poluição, bens substitutos, entre outros.

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Assim, neste trabalho, serão apresentados cálculos econômico-matemáticos com

base no Valor Presente Líquido (VPL) do bem de uso, cálculo de produtividade e de

eficiência e ainda tratada a questão da emissão de Poluentes (CO2), da Produtividade e

da Eficiência energética, cujos impactos ao bem de uso e à sociedade são relevantes,

pois dizem respeito à sua vida econômica, sua influência social, sua relação com o meio

ambiente e sua relação com a segurança.

Embora muitos dados utilizados tenham fontes fidedignas, como por exemplo, as

informações referentes à emissão de poluentes, é importante frisar que a ausência de

dados confiáveis, em nível nacional, em outros quesitos, como por exemplo, números

relativos a acidentes de trânsito, suas vítimas e impactos financeiros decorrentes, não

permite a comparação com os dados recolhidos em pesquisas em trabalhos

internacionais.

1.1 Justificativa do Trabalho

Segundo o relatório ‘Sondagem’ da Confederação Nacional dos Transportes

(CNT), a matriz brasileira do transporte de carga é composta por 61,1% do modal

rodoviário, 20,7 % do modal ferroviário, 13,6% do modal aquaviário, 4,2% do modal

dutoviário e 0,4% do modal aéreo.

Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT, afirma que o setor

rodoviário transporta diversos tipos de cargas em diferentes composições, sendo que o

formulário proposto para a sondagem especificou os seguintes tipos de cargas:

• Fracionada – variadas mercadorias de diferentes clientes em um mesmo

caminhão;

• Granel sólido – cereais, fertilizantes e outros, abrangendo também o transporte

de produtos britados ou em pó;

• Granel líquido – água, leite, óleos alimentícios, vinho e outros;

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• Química ou produtos perigosos – oxidantes, corrosivos, petroquímicos,

substâncias tóxicas e/ou venenosas e produtos que estejam sujeitos a normas

específicas;

• Outras.

Esclarece-se aqui que para fins desta pesquisa, utilizou-se dados de caminhões de

transporte de produtos a granel, sólidos, em transporte de geografia pouco acidentada,

como o trajeto entre o estado produtor de grãos Mato Grosso, para algum porto da

região sul ou sudeste. Tal segmento foi elencado tendo em vista a regularidade deste

tipo de transporte, independentemente da situação econômica do país, uma vez que se

trata de transporte de commodities de comercialização frequente.

Em janeiro de 2017, o Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN

estimou o total da frota registrada no país, incluindo veículos de todos os tipos – ônibus,

caminhões e automóveis, veículos de coleções, veículos especiais e de corrida e tratores,

em 96.329.863 (era de 42.071.961 em 2005), sendo 2.684.041 caminhões de até 4 eixos,

responsáveis pelo transporte das cargas descritas nos parágrafos anteriores.

Ainda segundo o DENATRAN, 27.224.570 veículos em circulação no país tem

seu ano de fabricação entre 1970 e 2000, índice que se aproxima de dados coletados em

2008, por Navieiro e Medina (2008) que afirmavam que cerca de 32% dos veículos no

Brasil tem mais de 15 anos de uso e 47,11% tinham mais de 10 anos, o que é

considerado muito elevado para as categorias de ônibus e caminhões.

Esta pesquisa encontrou no mesmo sítio, 479.928 veículos com data de fabricação

anteriores a 1970, porém acredita-se que sejam veículos de coleções, especiais e até

mesmo veículos abandonados em pátios do complexo sistema de trânsito brasileiro.

Referentemente à quantidade de pessoas cujas rendas estão relacionadas à

indústria de reciclagem veicular, não foram encontrados dados assertivos ou

comprobatórios, mas pode-se afirmar que esta atividade tem efeito expressivo de

reaproveitamento de matéria-prima em termos ambientais e econômicos para a

sociedade e governos.

Sabe-se que a implantação de operações de Logística Reversa de resíduos pós-

consumo é impulsionada no Brasil, principalmente, pelo desenvolvimento legislatório

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sobre o tema e pela atração dos consumidores por ações voltadas à sustentabilidade, mas

é importante ressaltar a existência de diferenças no nível de maturidade da cadeia

reversa nos diversos países do mundo, conforme dados apresentados na introdução.

Soluções inovadoras, eficientes em termos de recursos e sistemas eficazes de

gerenciamento de resíduos capturam valor nos negócios e contribuem para a

sustentabilidade. No entanto, devido às responsabilidades dispersas de gerenciamento

de resíduos na indústria de veículos e à orientação do gerenciamento de operações e

ferramentas enxutas, que focam principalmente em melhorias de tempo de

processamento e de tempo de trabalho, a exigência de um método colaborativo para

incluir a eficiência de resíduos de material no desenvolvimento operacional é

identificado. Kurdve at al. (2015), afirmam que o gerenciamento de operações e o

gerenciamento ambiental podem ser integrados em um nível operacional e incluir a

cadeia de suprimentos de gerenciamento de resíduos, sendo que este frequentemente

envolve vários atores e organizações.

Fica evidenciado nas discussões sobre como e onde os resíduos de produção de

veículos são descartados e/ou reciclados, sendo, portanto, importante discutir as

mudanças necessárias na área de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos no país, no

desenvolvimento de setores relacionados ao tema.

Tais fatos justificam o aprofundamento no tema, a elaboração de pesquisa nos

diversos canais e a proposição de modelos que colaborem no convencimento dos

diversos agentes sociais, como empresa, governo e até mesmo motoristas autônomos de

veículos de transportes de cargas no Brasil.

A importância de tratar deste assunto traz, a esta dissertação, a preocupação não

só de continuar a jogar luz sobre as questões ambientais, pois este fator a cada ano tem

tomado grande atenção por parte dos acadêmicos, políticos e a sociedade, mas

maximizar a tomada de iniciativas e medidas que reduzam os impactos gerados pela

ação do homem, e ainda assim tente garantir sua permanência sobre o planeta.

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1.2 Objetivos

Objetivo Geral

Efetuar levantamento de critérios qualitativos e quantitativos mais adequados para

a realização da Logística Reversa em Veículos Comerciais Pesados (VCP).

1.3 Metodologia Científica

A elaboração das questões envolvidas na composição desta dissertação teve por

base um cronograma de atividades com vistas ao atingimento dos propósitos. O

planejamento envolveu também a pesquisa e desenvolvimento bibliográfico para

apresentar os conceitos teóricos da Logística Reversa, considerando as questões

ambientais e de segurança, cuja preocupação permeia todo o texto.

Foram determinados os fatores fundamentais referenciados na definição de

critérios que auxiliem na definição do momento ideal para encerramento do ciclo de

vida do VCP.

Define-se “critérios”, para fins desta pesquisa, como linhas gerais para avaliar o

comportamento de um veículo, para posteriormente decidir sobre a ação ou não-ação da

Logística Reversa.

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Silva e Menezes (2005) estabelecem quatro maneiras de categorizar uma pesquisa

científica. Assim, a seguir, classifica-se esta dissertação:

Neste sentido, a pesquisa é classificada como exploratória e qualitativa, uma vez

que objetiva gerar conhecimentos conceituais sobre a Logística Reversa, analisando,

ainda, dados e recursos gerados por pesquisa quantitativa.

A consulta bibliográfica foi levada a termo, procurando abranger os aspectos

econômico, social, ambiental e segurança que envolvem o tema e se deu por meio de

consulta de livros, compêndio legislativo, jornais, dissertações e teses, periódicos, em

meio eletrônico e impresso.

Complementando e comprovando as argumentações dos diferentes autores, foi

possível obter dados por meio de entrevistas, conversas informais e observações em

tempo real com executivos e trabalhadores das empresas aqui tratadas. As pessoas

entrevistadas foram sempre muito receptivas e confiantes ao fornecer dados e relatos

que corroboraram para confirmar informações advindas da pesquisa bibliográfica.

1.4 Estrutura da Dissertação

Esse trabalho está estruturado em 5 partes.

A primeira parte – Introdução, apresenta os elementos introdutórios do trabalho

acadêmico, como a justificativa para a elaboração do trabalho, a definição do problema,

o objetivo, assim como a metodologia da pesquisa.

A parte 2 – Revisão Bibliográfica, apresenta um dos principais conceitos e

autores a serem tratados nesta pesquisa, onde estão definidos os conceitos de Logística

Reversa, dados sobre o uso de VCP, as questões sociais, de preservação ambiental e

segurança nas estradas.

Na parte 3 – Método para Determinação de Vida Útil de um VCP, tratou de

eleger os critérios mais significativos para a realização da Logística Reversa em

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Veículos Comerciais Pesados, nas vertentes ‘econômica’, ‘social’, ‘ambiental’ e

‘segurança’.

Na parte 4 – Aplicação do Método, apresenta-se, essencialmente, a avaliação dos

critérios mais relevantes observados sobre o tema proposto, e, a partir da análise das

informações coletadas, apresenta-se os cálculos e um micro modelo econômico-

matemático que pode ser usado para decidir sobre realizar a Logística Reversa do VCP

no momento ideal, com vistas a reduzir o impacto ambiental, preservar condições de

segurança, considerados os riscos e manter a performance ideal econômica do ativo.

Na Conclusão, procurou-se reunir conceitos associados às especificidades

tratadas neste estudo, apresentar a argumentação final e as proposições de novos

estudos.

O Anexo A – Estudo de Caso, apresenta a parceria entre duas empresas atuantes

no mercado automotivo, sendo a primeira empresa uma indústria e a segunda, uma

empresa que atua no mercado de peças renovadas para caminhões e ônibus, e na

reciclagem de materiais.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Considerações Iniciais

Neste capítulo estão descritos os conceitos mais relevantes para a investigação:

questões a estudar, as fontes de informação, os instrumentos de coleta de dados e as

variáveis. Isto, de forma a apresentar um modelo teórico e uma forma de calcular, de

modo a fornecer critérios que podem ser utilizados por aqueles que necessitam/desejam

manter sua frota produtiva e eficiente.

A base da matriz de transporte brasileira é responsável pelo movimento

significativo do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e é composta pelo transporte

rodoviário realizado praticamente pelos mais de 2 milhões de caminhões, sendo que a

matriz rodoviária responsável por 62 % do volume de carga transportada, segundo a

Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), conforme Figura 2 a seguir.

Figura 2 – Matriz de Transportes do Brasil Fonte: CNT/ANTT, 2015

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A partir desta informação, identifica-se que o transporte rodoviário no Brasil é o

principal sistema logístico do país e a malha rodoviária é composta de conta com uma

rede de 1.751.868 quilômetros de estradas e rodovias nacionais, sendo a 4ª. maior do

mundo, conforme Figura 3, abaixo.

De acordo com a pesquisa ‘Custos Logísticos no Brasil’, da Fundação Dom

Cabral, a malha rodoviária é utilizada para o escoamento de 75% da produção no país,

seguida da marítima (9,2%), da aérea (5,8%), da ferroviária (5,4%), da cabotagem (3%)

e da hidroviária (0,7%). Por este motivo, uma greve de caminhoneiros como a que

aconteceu em maio deste ano (2018) pode realmente parar o país e provocar uma

enorme crise de abastecimento, conforme noticiado à época, por órgãos nacionais e

internacionais.

Figura 3 – Mapa das Rodovias Federais no Brasil Fonte: site Ministérios do Transportes

Este é um sistema muito poluente. No Estado de São Paulo, por exemplo, a

CETESB – Companhia Ambiental do Estado de são Paulo, informa que as emissões de

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Gases de Efeito Estufa (GEE) ficam divididas em cerca de 50% para as categorias

automóveis, comerciais leves e motocicletas e 50% para os caminhões e ônibus, ainda

que estes correspondam a apenas 3,6% da frota. O segmento tratado por esta pesquisa,

Veículos Comerciais Pesados, representam 25% do total dos veículos elencados pelo

CETESB.

Figura 4 – Emissões veiculares de GEE no estado de São Paulo em 2016 Fonte: CETESB (2016)

Voltando à questão da malha viária, é preciso considerar também as condições de

conservação das estradas brasileiras e ao analisar o escoamento da safra agrícola – por

exemplo – focado no modal rodoviário, verifica-se que a infraestrutura de transportes,

essencial para o crescimento e dinamismo da produtividade do setor tornou-se

ineficiente.

No intuito de calcular as ineficiências do modal rodoviário para longas distâncias

e alta densidade de cargas, Bartholomeu (2006) considerou o consumo de diesel para

transportar, via rodovia, uma tonelada de carga por 100 km, observando que os trajetos

em piores condições de conservação demandam mais combustível, sendo 63% menos

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eficientes energicamente que aqueles realizados em vias conservadas. É possível

perceber que tal fato provoca também impactos relevantes na estrutura física dos VCP, e

quanto maior a idade do veículo, maior o impacto no custo médio da tonelada

transportada. De acordo com o autor, os resultados da quantificação dos impactos

econômicos e ambientais decorrentes do estado de conservação das estradas brasileiras

mostram que as rotas consideradas "melhores" apresentam economia de 5,07% de

combustível, em relação a "pior" rota.

Tais dados são significativos à medida em que o setor de transportes é apontado

como o terceiro maior poluidor no Brasil e no mundo. Em 2005, o setor foi responsável

por 6,4% e 13,5% das emissões, respectivamente, sendo que o modal rodoviário

contribui com a maior parte (88,6%) dos gases lançados pela atividade de transportes na

atmosfera brasileira. A Figura 5, a seguir relaciona a matriz dos modais de transportes e

suas respectivas contribuições à Matriz de Emissões.

Figura 5 – Gráfico de Transportes e Emissões de Poluentes Fonte: adaptado de Bartholomeu, 2006

2.2 Logística

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Logística, em seu conceito mais básico, é o processo que envolve a movimentação

de produtos. Sua citação data do final do século dezenove, feito por militares no campo

de batalhas, como sendo uma estratégia de estocagem, distribuição dos equipamentos,

alimentos, produtos e tropas durante a guerra (KRUMWIEDE, SHEU, 2002).

No final do século dezenove e início do século vinte, o aumento da produção por

meio da revolução industrial, levou as empresas a buscarem meios mais eficientes para

distribuir seus bens e produtos. Foi dentro deste desafio que políticas públicas

favoreceram a construção de rodovias que facilitaram o deslocamento de pessoas e

produtos.

Na segunda fase da Revolução Industrial ocorrida nos Estados Unidos da América

com o desenvolvimento do modelo de produção em série desenvolvido por Henry Ford,

a partir de 1913 – a indústria automobilística é bastante simbólica por se tratar da

indústria mãe do que hoje se conhece como logística, houve uma valorização da

logística nas indústrias manufatureiras por todo o mundo.

Como se sabe, no decorrer do século vinte ocorreram duas Grandes Guerras

Mundiais, sendo que neste período da história, a logística teve papel fundamental e

estratégico, aumentando ainda mais sua importância.

Com o fim da Segunda Grande Guerra Mundial, as indústrias reconstruídas na

Europa, tinham como principal alvo fazer com que seus produtos chegassem às mãos

dos clientes finais da maneira rápida e com menor custo.

No mesmo período, no Japão, algumas indústrias criam um novo conceito de

manufatura, focada na eliminação de desperdício e melhorando a qualidade final dos

produtos, processo que ficou conhecido mundialmente como sistema de Manufatura

Enxuta. O conceito de Lean Manufacturing ou Manufatura Enxuta, surgido na Toyota

Motor Company, tem como princípio combinar técnicas gerenciais com equipamentos e

processos de produção mais sofisticados para produzir mais com menos recursos,

resultando em um novo modelo de sistema de produção. O termo "Lean" foi cunhado

originalmente no livro "A Máquina que Mudou o Mundo" (The Machine that

Changedthe World) de WOMACK, JONES E ROOS, publicado nos EUA em 1990.

Segundo Grundey e Rimiene (2007), foi na década de 60 que a logística teve seu

conceito mais refinado e se tornou sinônimo de distribuição física de produtos por meio

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da comercialização dos bens de consumo e produção já globalizada. Nesse momento a

logística passa assumir relevância no resultado da indústria.

Em 1985 foi cunhado o termo Supply Chain Management – SCM (gestão da

cadeia de abastecimento) como ferramenta de gestão de inventário com o intuito de

desenvolver vantagens competitivas para as empresas e à gestão de inventário se torna

uma área de negócios dentro da área de vendas (GRUNDEY, RIMIENE, 2007).

Figura 6 – Fluxo de Supply Chain

Fonte: www.genco.com

Para Guernieri (2011), diversos são os motivos que tornam a logística um assunto

tão relevante nos dias atuais, principalmente no que tange à Logística Reversa, e dentre

eles se destacam: a redução do ciclo de vida mercadológico dos produtos, o surgimento

de novas tecnologias e de novos materiais em suas constituições, sua obsolescência

precoce, obsolescência programada pelo próprio fabricante, a ânsia descontrolada dos

consumidores por novos lançamentos e os altos custos de reparos dos bens diante de seu

preço de mercado.

Embora represente um pequeno percentual do montante movimentado na logística

direta, a logística reversa tem sua devida importância, pois além de gerar retorno

econômico, contribui para a sustentabilidade do planeta, uma vez que os resíduos

simplesmente abandonados são passivos ambientais. Além disso, a necessidade do

gerenciamento destes resíduos, através da logística reversa é, ainda, mais importante

quando consideramos a recente Lei 12.305/10 que trata da Política Nacional dos

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Resíduos Sólidos, a qual dentre vários aspectos estabelece a responsabilidade

compartilhada entre os atores envolvidos na geração de resíduos sólidos, como se segue.

2.2.1 Logística Reversa

Um primeiro olhar pode considerar a Logística Reversa de forma oposta ao da

logística tradicional, ou seja, é o retorno dos produtos aos seus produtores. Porém, trata-

se de algo mais complexo, na medida em que se faz necessário definir o fim de vida de

um determinado produto, cujo tempo, quantidade retornada de produtos, suas

características e condições de retorno são incertos.

A Logística Reversa tem dois objetivos: realizar o retorno dos produtos em fim de

vida e realizar o retorno de produtos do pós-venda que não foram utilizados, produtos

pouco utilizados ou produtos com problemas de qualidade. Seus processos reversos tem

como fim a redução do consumo de recursos naturais, por meio da reciclagem,

recuperação dos produtos retornados pelo pós-venda ou realizar a disposição correta dos

resíduos sólidos (STOCK, 1992 apud MAIA et al., 2009).

Para Salles (2015) a Logística Reversa também foi definida como a área da

logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas

correspondentes ao retorno dos bens de pós-venda e pós-consumo ao ciclo de negócios

ou ciclo produtivo, por meio de canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de

diversas naturezas; econômico, ambiental, legal, logístico e imagem corporativa.

Desde o fim da década de 1970, as suas aplicações, na prática, foram adquirindo

uma nova dinâmica, envolvendo alguns acadêmicos e líderes empresariais. Algumas das

escolas de pensamento que estão na base do conceito são: Design Regenerativo,

Economia de Desempenho, Ecologia Industrial, Biomimética e Blue Economy.

Leite (2009) descreve as duas vertentes dos canais reversos: pós-venda e pós-

consumo. Para ele, o canal pós-venda se caracteriza pelos produtos que são devolvidos

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por eventuais problemas de qualidade, produtos trocados que não foram consumidos. Já

os produtos pós-consumo são produtos em final de vida que devem ser recolhidos pelo

fabricante para que seja feito uma destinação ambientalmente correta e/ou

reaproveitamento econômico das matérias-primas ali existentes.

O autor acrescenta uma subdivisão no canal pós-consumo dividindo-o em canais

de reuso e reciclagem, cujas características do canal estão especificadas na Figura 7 a

seguir.

Figura 7 – Canais de pós-venda e pós-consumo Fonte: Adaptado de Leite (2009)

Para a autora, do ponto de vista da rentabilidade, todos os agentes envolvidos no

processo de reciclagem devem ter condições mínimas de rentabilidade nos processos em

que são demandados, pois a falta de economia de escala gera ineficiência em certas

cadeias reversas prejudicando um ou mais elos que necessitam de subsídios externos,

mas que bem regido, o retorno de valores que ocorre por meio de canais de distribuição

reversos podem agregar receita para as empresas.

Segundo Peixoto et al. (2010), a Logística Reversa também conhecida como

logística verde, envolve o caminho inverso da logística direta, ou seja, o produto parte

do consumidor e realiza o percurso de volta para seu centro de produção, podendo ser

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novamente reaproveitado de forma parcial ou completar, bem como descartado de

maneira ambientalmente correta.

Porém, Leite (2009) afirma que os caminhos reversos possuem uma complexidade

maior que a logística direta, exigindo das empresas um maior conhecimento das práticas

e aplicações, tais como:

• Ter clareza dos objetivos estratégicos na implantação da Logística

Reversa.

• Observar as características peculiares dos produtos retornados.

• Mapear os processos em todas as etapas do retorno.

• Usar benchmark, ou seja, aproveitar a experiência em outros processos.

• Implantar procedimentos adequados em cada caso de retorno.

• Treinar especialistas na seleção de destino dos produtos retornados.

• Estabelecer normas gerais de operações.

• Utilizar sistema de informações para o planejamento e controle dos

fluxos e custos.

• Identificar recursos adequados às operações reversas.

• Planejar a rede de Logística Reversa (localização dos pontos de coleta,

consolidação ou armazenagem, localização dos processos industriais de

reaproveitamento se necessários, modais de transportes adequados), tanto

quanto possível em conjunto com a rede logística direta.

Atualmente, em mercados mais competitivos e um público consumidor mais

exigente com relação aos impactos gerados pelas indústrias, a Logística Reversa surge

como uma possibilidade de agregação de valor econômico, ecológico e legal para as

organizações por meio de estratégias direcionadas para a redução de custos e melhoria

de imagem da marca (PORTUGAL et al., 2012).

Para Hernandez, Marins e Castro (2011), os objetivos podem ser de ordem

econômico, socioambientais ou regidos por lei e para Koga e Pereira (2006), as

principais razões que levam as empresas a atuarem na Logística Reversa são: legislação,

benefícios econômicos e a crescente conscientização ambiental dos consumidores.

Complementando estas motivações, há também os aspectos sociais, ligados diretamente

aos aspectos ambientais, e de imagem corporativa, conforme Peixoto et al (2010) e

Salles (2015).

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Para Rogers e Tibben-Lembke (1998), autores que pesquisaram uma empresa

varejista que obtinha 25% de seus lucros derivados de um melhor gerenciamento de sua

Logística Reversa, a mesma é definida como:

“o processo de planejamento, implementação e

controle do fluxo eficiente e de baixo custo de matérias-

primas, estoque em processo, produto acabado e

informações relacionadas, desde o ponto de consumo até

o ponto de origem, com o propósito de recuperação de

valor ou descarte para coleta e tratamento de lixo”.

Caldwell (1999), entre outros casos, cita textualmente a conhecida empresa da

área de cosméticos que conseguiu uma economia de US$ 30 milhões em produtos que

ela deixou de jogar fora (cinqüenta por cento do volume anterior) com a implementação

de sua Logística Reversa. Segundo o autor, o desenvolvimento do sistema proprietário

custou US$ 1,3 milhão, recuperado já no primeiro ano apenas com a economia em mão-

de-obra que lidava com as devoluções de produtos.

Outros autores também citam grandes economias de custos nas empresas que

implementaram o controle do fluxo reverso. Não foram encontrados dados precisos

sobre o valor que os custos com Logística Reversa representam na economia do Brasil.

Por este motivo este trabalho não se propôs a levantar os custos totais da Logística

Reversa, de forma que há ausência de teorias comprováveis ou sistemas que permitam

levantamento mais robusto.

Os canais reversos estão em desenvolvimento em muitos países, seja para atender

à demanda de pós-venda ou a necessidade de realizar a retirada do mercado de produtos

pós-consumo.

2.2.2 Atual estágio da Logística Reversa no Brasil e no mundo

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Segundo Leite e Brito (2005), o retorno de pós-venda do setor editorial nos

Estados Unidos tem um volume médio de retorno de produtos na ordem de 60 %, ou

seja, de todas as entregas em pontos de distribuição realizadas, mais da metade é

recolhida por meio da Logística Reversa. Algo semelhante acontece no setor editorial

brasileiro, que mesmo que o volume editorial seja diferente, possui uma taxa de retorno

equivalente a encontrada no mercado americano.

Para sobreviver no mercado competitivo e mutável de hoje, as empresas precisam

não apenas se envolver em seus produtos e / ou serviços, mas também se concentrar no

gerenciamento de toda a cadeia de suprimentos. O gerenciamento e o balanceamento

efetivos da lucratividade e interconexão de cada participante e função na cadeia de

suprimentos, incluindo as novas tendências, melhorarão a cadeia de suprimentos como

um todo e o lucro individual. Logística é uma função importante dos sistemas de

negócios modernos. A consideração dos aspectos ambientais e econômicos no design da

cadeia de suprimentos é necessária para reduzir os impactos negativos sobre o meio

ambiente causados pelos crescentes níveis de industrialização. Gechevski at al. (2016).

Para os autores, além disso, as razões pelas quais as empresas optam por "tornar-

se verdes" é que isso dá à empresa uma vantagem competitiva, já que os clientes estão

exigindo agora que os negócios fiquem verdes. Neste artigo, uma visão geral das novas

tendências, como logística reversa e logística verde, como parte da cadeia de suprimento

verde, é dada com a análise de sua importância nos sistemas modernos.

A preocupação com o meio ambiente e com a qualidade de vida das futuras

gerações é um dos maiores desafios mundiais, portanto a Logística Reversa tem como

uma de suas premissas uma solução para um problema gerado pelos veículos

automotores. No momento a indústria automobilística está em constante aprimoramento

e estudo para o desenvolvimento dos “carros verdes”, ou seja, estes carros devem sair de

“fábricas verdes”, onde todo o ciclo produtivo destes veículos de vida do produto é

planejado e gerenciado de forma a minimizar os impactos ambientais durante sua vida

útil e após o caminho reverso quando este atingir seu fim de vida (NAVIEIRO,

MEDINA, 2008).

Na França, o L’ADEME – L’agencefrançaise de l’environnementet de La

maitrise de l’énergie (Ministério do Meio Ambiente e a Agência do Meio Ambiente e

Energia) vem desenvolvendo, há mais de 15 anos o estudo da Análise de Ciclo de Vida

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nos projetos de produtos e serviços industriais. Por meio deste projeto, governo e

setores industriais vem criando e desenvolvendo novas tecnologias para que seus

produtos gerem menos impactos ambientais.

O governo espanhol, em parceria com uma seguradora espanhola, após a Diretiva

EU 2000/53/CE desenvolveu o Centro de Experimentacion y Seguridad Vialque

(Centro de Experimentação e Segurança Viária) que administra um Centro Autorizado

de Tratamento (CAT) gerenciado pelo governo nacional, responsável por todas as

etapas do tratamento dos veículos em fim de vida. (MAIA et al., 2013).

Ainda segundo os autores, na Itália são processados aproximadamente 15 % de

todo o volume de automóveis em fim de vida da Europa, por meio de 1800 instalações

autorizadas e 29 centros de trituração em 2008. Este processo partiu de iniciativas entre

governo e a Associação Nacional de Montadoras, concessionárias e instalações de

reciclagem de iniciativa privada. Os processos de Logística Reversa de veículos em fim

de vida possuem as seguintes etapas:

• Despoluição do veículo como drenagem de fluídos e outros líquidos;

• Desmontagem de peças que serão vendidas;

• Desmontagem de peças metálicas para serem vendidas como restos;

• Desmontagem de fios e partes elétricas;

• Desmontagem de rodas, pneus, vidros e demais partes não metálicas a

serem recicladas, incineradas (produção de energia) ou descartadas de maneira

correta no meio ambiente.

Por meio do Programa Fiat Auto Recycling (FARE) ou Programa FIAT de

reciclagem automotiva, a mesma já cadastrou mais de 150 centros de reciclagem na

Itália e um no Brasil – em Minas Gerais, em parceria com seus fornecedores como

Belgo e Gerdau.

Segundo Szopa (2014), nos Estados Unidos da América o mercado de produtos

remanufaturados na indústria automobilística está estimado em aproximadamente 60

milhões de unidades comercializadas por ano. Na Europa Ocidental este mercado

movimenta 15 milhões unidades de peças remanufaturadas.

No Brasil, o desenvolvimento e implementação da Logística Reversa sendo

desenvolvidos lentamente, muitas oportunidades de melhoria da proteção do meio

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ambiente e de ganhos financeiros por parte da indústria produtora dos bens de produto

assim como para o crescimento e amadurecimento da indústria de reciclagem.

Segundo Fernando (2015), no Brasil, existem mais de mil empresas atuando na

reciclagem de materiais plásticos, um mercado em expansão e pleno desenvolvimento,

que já emprega aproximadamente 20 mil trabalhadores.

A reciclagem das embalagens de alumínio que vem gerando excelentes resultados

do ponto de vista ecológico e financeiro, pois já vem reduzindo consideravelmente os

volumes importados de matéria-prima, colocando a indústria deste setor entre os

maiores recicladores de alumínio do mundo (DAHER, SILVA,FONSECA, 2006).

Este exemplo segue a Resolução n. 416/09 do CONAMA trata da prevenção a

degradação ambiental causada por pneus inservíveis e sua destinação ambientalmente

adequada, que esclarece em seu art. 1, que fabricantes e importadores de pneus novos,

com peso unitário superior a 2,0 kg, ficam obrigados a coletar e dar destinação

adequada aos pneus inservíveis existentes no território nacional, na proporção definida

nesta Resolução, cuja proporção é definida pela fórmula:

MR = (P + I) – (E + EO) (2)

Onde:

MR = mercado de reposição de pneus;

P = total de pneus produzidos;

I = total de pneus importados;

E = total de pneus exportados;

EO = total de pneus que equipam veículos novos.

Como fundamento da proposta está o princípio da responsabilidade

compartilhada, expresso de forma clara pelo art. 30 da Lei no. 12.305/10:

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Art. 30. É instituída a responsabilidade

compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a

ser implementada de forma individualizada e

encadeada, abrangendo os fabricantes,

importadores, distribuidores e comerciantes, os

consumidores e os titulares dos serviços públicos

de limpeza urbana e de manejo de resíduos

sólidos, consoante as atribuições e procedimentos

previstos nesta Seção (Brasil., 2010).

E revigorado pelo caput do art. 33 do mesmo diploma legal:

Art. 33 – São obrigados a estruturar e implementar

sistemas de Logística Reversa, mediante retorno

dos produtos após o uso pelo consumidor, de

forma independente do serviço público de limpeza

urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os

fabricantes, importadores, distribuidores e

comerciantes de (Brasil., 2010).

2.2.3 Logística Reversa no Setor Automotivo

Como vimos anteriormente, em outubro de 2000, o parlamento europeu aprovou a

Diretiva 2000/53/CE que responsabiliza os fabricantes de veículos pelos resíduos

gerados pelos automóveis durante todo seu ciclo de vida, até o momento do descarte.

Esta iniciativa favoreceu a aplicabilidade de Logística Reversa no setor automotivo na

Europa (MAIA et al., 2013). Tal documento estabeleceu a responsabilidade das

montadoras pela reciclagem e tratamento final dos resíduos provenientes de veículos em

fim de vida. Outro regulador importante criado, na sequência, na comunidade europeia

foi a Política Integrada de Produtos (PIP), cujo propósito principal é favorecer o

desenvolvimento de um mercado de produtos sustentáveis, ou “produtos verdes”. De

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acordo com a PIP, empresas recicladoras são favorecidas e devem contribuir para o

reaproveitamento dos produtos em fim de vida.

Sob o ponto de vista logístico, a vida de um produto não termina com sua entrega

ao cliente. Produtos que se tornam obsoletos, danificados, ou que não funcionam,

devem retornar ao seu ponto de origem para serem adequadamente descartados,

reparados ou reaproveitados. O ciclo de vida do ponto de vista ambiental se refere na

forma de avaliar quais são os impactos de um produto sobre o meio ambiente, durante

toda a sua vida (GOTO, KOGA, PEREIRA, 2006).

No século XX, a indústria automobilística foi um dos setores mais importantes da

econômica mundial para o desenvolvimento econômico e social. Foi por meio da

geração de empregos, inovações tecnológicas e por uma melhoria na qualidade de vida

da sociedade que os automóveis revolucionaram a maneira da sociedade viver em nosso

planeta (MEDINA, GOMES, 2002).

Porém, como consequência, também há o aumento da frota de veículos em fim de

vida que estão circulando no mundo e gerando um passivo relacionado aos altos índices

de poluição gerados, a falta de recursos de segurança atuais e a baixa eficiência

energética de seus motores realizados apontam para um aumento crescente de veículos

em fim de vida. (Andersen et al.2008 apud STOYANOV, 2012).

Neste contexto, a Logística Reversa possui fundamental importância para o setor

automotivo, que a cada ano está aprimorando seus fluxos reversos desde a gestão de

qualidade e prestação de serviço por meio do pós-venda até o devido recolhimento de

resíduos com alto teor de contaminação como óleo, diesel, líquidos de arrefecimento,

gases do ar condicionado retirados de eventuais reparos na oficina que podem

contaminar o solo e afetar a qualidade do meio de vida da sociedade (SMOLNIK,

2014).

A Logística Reversa dentro do setor automobilístico envolve o fluxo de

planejamento, implantação e o controle da entrada dos veículos em final de vida que

tem início no cliente final e segue para os processos reversos. Os processos reversos

são: remanufatura ou reforma de componentes, reciclagem e o descarte ambientalmente

correto.

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Assim, os fornecedores de autopeças, responsáveis por atender as especificações

técnicas dos fabricantes de veículos automotores estão, em conjunto, desenvolvendo

peças com materiais recicláveis, prevendo que estes veículos sejam facilmente

desmontados e tenham uma capacidade cada vez maior de reciclagem (MEDINA,

GOMES, 2002).

Por meio da crescente cobrança da sociedade e de entidades públicas relacionadas

aos impactos ambientais gerados, a indústria automotiva está criando e aprimorando um

novo processo de desenvolvendo de produto chamada Ecodesign, que tem por escopo

produzir de forma ecológica com o menor impacto ambiental possível. No

desenvolvimento do Ecodesign existe um indicador denominado Ecoeficiência, que se

refere ao desempenho econômico e ambiental, que aponta performances econômicas e

ambientais corretas de produtos e serviços no mundo. (SILVA, MORAES e

MACHADO, 2015).

Quanto aos novos processos produtivos na indústria automotiva é necessário

considerar o Design for Environment (DFE) ou Design for Recycling (DRF). Novos

projetos vem sendo implantados de acordo com os conceitos acima, de forma que os

produtos possam ser facilmente montados e desmontados e que, por meio de uma

Logística Reversa capaz, identificada por meio de um modelo apresentado na Figura 8,

a seguir, possa prover o processo de retorno interessante do ponto de vista econômico e

ambientalmente sustentável.

Figura 8 – Caminho do Veículo na Reciclagem Fonte: Adaptação de Henry Joseph Jr. (retirado do artigo de Medina, 2003)

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2.2.4 Principais obstáculos para a Logística Reversa

Estão no continente europeu, mais precisamente a Europa Ocidental, os países

mais avançados com relação aos processos de reciclagem dos veículos automotores em

final de vida. A cada ano que segue, mais empresas estão identificando oportunidades

na coleta, reciclagem, reaproveitamento de peças e na comercialização da matéria-prima

secundária. Um dos maiores desafios da indústria reversa é a distribuição e localização

dos centros de reciclagem nestes países, pois os custos de transporte da Logística

Reversa são significativos dentro da análise de rentabilidade desta indústria (SCARLAT

ET al, 2018).

A falta de espaço físico para o descarte de resíduos sólidos é um dos desafios,

para todo o mundo. Eventualmente se noticia manchetes sobre a ‘exportação’ de lixo

para o chamado ‘terceiro mundo’. No momento atual, o alto custo para a manutenção e

abertura de novos aterros sanitários, aliado a limitação de espaço físico próximo aos

grandes centros consumidores gera uma acelerada corrida rumo ao desenvolvimento de

produtos e empresas sustentáveis para minimizar os impactos ambientais gerados pelo

consumo da sociedade.

No momento, atual o responsável pela reciclagem de automóveis não são as

montadoras, pois o principal articulador responsável por coordenar a rede de reciclagem

cabe aos produtores de materiais como siderúrgicas, metalúrgicas e indústrias de

material plástico. São estas indústrias responsáveis pela coleta, separação, recuperação

de materiais até a obtenção da matéria-prima secundária para então empregá-la na

produção de novos materiais a serem reintegrados no ciclo produtivo de diversas

indústrias, porém não há efetivo controle sobre tais processos.(MEDINA, 2003).

O poder público está distante de identificar uma solução adequada para que o

setor automobilístico encontre uma solução razoável para a realização da Logística

Reversa dentro do Brasil. No momento a situação dos veículos em fim de vida estão

sendo descartados de maneira inadequada sem controles ambientais e com baixo

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controle dos processos documentais, pois este fato torna o produto em fim de vida

objeto de procura por entidades corruptas, que tornam o documento de determinado

chassi objeto de atos ilícitos de veículos roubados ou adulterados.

Embora a maior parte da indústria automotiva presente no Brasil possui as

matrizes e tecnologia de países desenvolvidos da Europa e dos Estados Unidos da

América, e isto quer dizer que novos produtos estão sendo desenvolvidos por meio de

processos mais limpos do ponto de vista ecológico, com veículos com maior eficiência

enérgica e criados para serem facilmente desmontados, para reaproveitamento da

matéria-prima ou venda de peças para o mercado secundário, e isto já é um avanço, o

caminho da Logística Reversa do setor automotivo no Brasil possui desafios peculiares

ao setor. Talvez o avanço tecnológico das montadoras, aqui citados, possam ser uma

alternativa para a antecipação desta realidade.

2.3 Reciclagem

Reciclagem é o processo pelo qual se transforma materiais usados e sobras de

produção em novos produtos, possibilitando sua reutilização. É um termo que tem sido

cada vez mais utilizado, como alerta para a importância da preservação dos recursos

naturais.

Latinhas de alumínio e garrafas PET são os produtos mais comuns no mundo da

reciclagem, mas muitos outros artigos podem ter um destino mais adequado que o aterro

sanitário mais próximo. Na lista desses produtos que podem ser reaproveitados estão

itens como caminhões – os pesos-pesados do mundo da reciclagem.

Reportagem do Jornal ‘Gazeta do Povo’, publicou em 05/05/2014 uma matéria de

Katia Brembatti sobre a DEX, empresa uruguaia-brasileira, sediada em Curitiba, que faz

reciclagem dos caminhões VOLVO.

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O Anexo A traz mais informações sobre as empresas DEX e Volvo e apresenta

maior detalhamento sobre o reuso de peças remanufaturadas.

Para a empresa, esse processo evita que o veículo acabe no mercado clandestino

ou abandonado a céu aberto. Em escala industrial, a empresa consegue recuperar

veículos que são inviáveis até para as seguradoras. Segundo o artigo, 60 caminhões

foram reciclados em 2013. A Figura 9, a seguir, apresenta detalhes do processo de

desmontagem.

Figura 9 – Detalhe do Processo de desmontagem

Fonte: Jornal Gazeta do Povo, Curitiba-PR, 2014

A reciclagem dos veículos automotores no mundo é dividida praticamente em três

macroprocessos dentro do fluxo de processos de Logística Reversa. O primeiro

processo é o reaproveitamento das peças ativas dos veículos em final de vida para o

mercado. O segundo se refere às peças que necessitam ser remanufaturadas ou

reformadas. Por fim, o terceiro processo se refere ao sucateamento e separação dos

metais e não-metais que serão reaproveitados na indústria siderúrgica ou encaminhados

para outras indústrias ou direcionados para aterros (ALSAADI,FRANCHETTI, 2016).

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Para isto, entram em ação os Centros de Reciclagem Veicular (CRV),

fundamentais no processo de tratamento de veículos em final de vida. Estes centros são

responsáveis por receber os veículos, tratá-los e desmontá-los, de forma a garantir que

todos os seus materiais tenham um destino ambientalmente seguro e economicamente

favorável. Um modelo de separação de peças segue apresentado na Figura 10.

Figura 10 – Modelo de separação de peças para reciclagem

Fonte: Novakoski

Durante o seu tratamento, os veículos atravessam várias fases onde partes

específicas são processadas, sendo que as quatro principais etapas para a realização do

processo de reciclagem são:

Pré-Tratamento

Nesta fase são drenados todos os fluidos, que devem ser recolhidos e separados

por tipo de material e armazenados adequadamente e retirados componentes

ambientalmente perigosos(como os combustíveis e óleos de motor– transmissão,

diferencial, direção hidráulica, amortecedores); fluido de freio; líquido de arrefecimento

e do limpador de para-brisa, gás refrigerante, líquido de bateria etc.

Desmontagem

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Na desmontagem será feita a remoção de peças e componentes passíveis de serem

reciclados como pneus, bateria etc., cuja seleção de peças a serem desmontadas do

veículo seguem o processo de:

a) Facilidade de acesso e desmontagem;

b) Composição do material: componentes produzidos com um único material são

mais recicláveis que componentes com dois ou mais tipos de materiais;

c) Potencial tecnológico e econômico para o aproveitamento das matérias-primas.

Picotamento

Na fase de picotamento é feita a trituração dos veículos e a separação da fração

metálica (ferrosa e não ferrosa). Após a despoluição e a desmontagem do veículo, o

restante, também chamado Hulk (carcaça semidesmontada), vai para a estação de

picotamento, o Shredder. O Shredder é um sistema utilizado em escala industrial para

reduzir as dimensões dos veículos em final de vida, de forma a facilitar a sua

reciclagem. Por meio do picotamento da carcaça semidesmontada do veículo, a fração

metálica, ferrosa e não ferrosa podem ser separadas e recuperadas e encaminhadas para

as usinas siderúrgicas para a reciclagem.

Tratamento pós-SHREDDER

O material residual não reciclado chama-se “shredder-fluff” que poderá ser

incinerado para geração de energia, reciclado ou aterrado. Tal material é composto

principalmente por polímeros, sendo alguns possíveis de reciclagem ou devido ao seu

alto teor calórico residual pode ser encaminhado para usinas termoelétricas para a

produção de energia ou encaminhado para uma destinação ambiental correta.

Por meio deste modelo, os materiais terão uma destinação ambientalmente segura

e sustentável. A atuação dos CRV deve ser fiscalizada e controlada dentro das normas

técnicas e ambientais vigentes e com permanente incorporação da evolução tecnológica

(AEA, 2014).

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A necessidade de um método mais simples de proceder a Logística Reversa é

fundamental para a realização de um processo sustentável e a melhoria dos processos de

desmontagem dos veículos e a capacidade de reciclagem dos componentes extraídos dos

veículos em fim de vida.

Cury (2008) aponta que, quando as médias mensais de materiais recicláveis são

analisadas individualmente, as quantidades levantadas nas diversas oficinas não

representam volumes nem físicos nem monetários representativos. Porém, uma vez

consolidadas, as quantidades podem se tornar significativas.

Em relação aos materiais que exigem “necessidades da coleção especial”, pode-se

avaliar que representam em torno de 22% do número total de componentes comumente

trabalhados. As peças componentes e os líquidos lubrificantes ainda não vem sendo

utilizados, de forma sistemática, como fonte adicional de renda.

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3 MÉTODO PARA DETERMINAÇÃO DA VIDA ÚTIL DE UM VCP

3.1 Considerações Iniciais

No capítulo anterior foi apresentada a revisão bibliográfica de conceitos estudados

e trabalhados nesta pesquisa, como a Logística, Logística Reversa, Reciclagem de

Produtos, entre outros.

Este capítulo apresenta a relação existente entre estes conceitos, analisando os

principais benefícios e vantagens obtidas pela implementação da Logística Reversa,

num determinado momento ideal, com vistas aos benefícios gerados aos diversos atores

do processo.

Por meio da literatura pesquisada é possível observar uma quantidade razoável de

trabalhos que relacionam os conceitos citados e os apontam como provável caminho

para a sustentabilidade. Ao analisar as potencialidades da logística reversa e mostrar a

sua capacidade e seus benefícios na sociedade e ao meio ambiente, podemos citar Capra

(2002), para quem “acadêmicos, líderes comunitários e ativistas do mundo inteiro já

estão formando coalizões eficientes para exigir que ‘viremos o jogo’, propondo

maneiras concretas de fazer isto”.

O presente estudo vem demonstrando conceitos fundamentais para a mudança de

paradigma, quando se trata de encaminhar um VCP para a desmontagem e reciclagem

dos componentes. Para encontrar o momento ideal para o fim de vida útil de um

caminhão, foram estudadas as variáveis mais relevantes para a utilização do modelo de

Logística Reversa, como as questões legais, ambientais, econômico-financeiras e

aquelas que envolvem a segurança das pessoas, todas alinhadas à produtividade e

lucratividade do VCP.

Em última instância, estes conceitos estão amalgamados, sempre visando a

viabilidade econômica, de maneira sustentável.

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A partir das preocupações citadas e teorias referenciadas, vem desenhando uma

proposta, que, embora possa apresentar pontos a desenvolver, ainda assim, pode

esclarecer como pode funcionar, na prática, a Logística Reversa.

3.2 Definição de um Veículo Comercial Pesado – VCP

De forma a esclarecer o objeto de estudo deste item, define-se aqui o que é VCP.

O atual Código de Trânsito Brasileiro classifica os veículos automotores quanto à sua

tração em seu artigo 96. No entanto, em seu Anexo I (“Dos conceitos e definições”)

apresenta uma clara conceituação, considerando com veículo automotor:

“todo veículo a motor de propulsão que circule por seus

próprios meios, e que serve normalmente para o

transporte viário de pessoas e objetos, ou podem ser

utilizados pela tração viária com a mesma finalidade”.

Conforme vimos na Introdução, o Conselho Nacional de Trânsito (CONATRAN)

em sua resolução n. 396 de dezembro de 2011, são considerados no conceito de

Veículos Pesados os Ônibus, micro-ônibus, caminhões, caminhões-tratores, tratores de

rodas, tratores mistos, chassis-plataforma, motor-casas, reboques ou semirreboques e

suas respectivas combinações, acima de 3.500kg.

Quanto maior a idade destes veículos, maiores são os impactos ambientais

gerados, seja na quantidade de combustível e lubrificantes consumidos, quanto na

quantidade de emissões geradas. As externalidades negativas são maiores de acordo

com a idade da frota circulante, quanto mais antiga for a frota circulante, maior serão os

impactos negativos na vida e saúde da sociedade. (VASCONCELLOS e LIMA, 1998).

Os VCP, assim como outros bens de produção possui um ciclo de vida inerente a

sua capacidade de gerar riqueza por um determinando período. Um VCP tem a função

de transportar produtos e movimentar a economia de um país por meio das rodovias. Os

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proprietários dos VCP podem ser desde um motorista autônomo até uma grande

empresa de transporte que possui muitos caminhões.

Neste contexto, define-se um VCP e seus respectivos impactos com relação ao

consumo de combustível, poluição e segurança nas rodovias foi adicionado um

indicador econômico, o Valor Presente Líquido (VPL), um método matemático-

financeiro capaz de determinar o valor presente de pagamentos futuros, depois de

descontados a uma taxa de juros apropriada e menos o custo do investimento inicial.

Para Oro (2013), no que se refere à vida econômica, algumas variáveis possuem

elevada importância para a decisão de adquirir ou não um determinado bem,

demonstrando sua evolução no tempo e representatividade nas receitas e despesas,

definindo conceitos relacionados como o Valor Presente Líquido (VPL): custos e

definição de capital próprio e de terceiros, Custo médio ponderado de capital, taxas de

desconto ou de atratividade.

Para Zot e Castro (1996), o VPL é um cálculo padrão em contabilidade e finanças

que visa considerar o conceito de valor do dinheiro no tempo, apoiando processos

decisórios de, por exemplo, aplicar um valor no mercado financeiro ou adquirir um bem

de uso e se beneficiar dos rendimentos produzidos por ele.

O valor presente líquido é um método simples, muito útil para os gestores, e temas

seguintes vantagens:

• Facilidade de cálculo, uma vez conhecida a taxa de atualização apropriada;

• Considera a totalidade dos fluxos e custo de oportunidade do capital utilizado;

• Método simples de aplicar, uma vez parametrizado.

Para além das questões mensuráveis, existem situações imponderáveis que não

serão consideradas nos cálculos, como o fato de que ao longo dos anos, o VCP vai se

desgastando e as manutenções e revisões vão se tornando mais frequentes e despendem

maiores investimentos financeiros para que os caminhões sejam eficientes e tenham

uma produtividade e disponibilidade próximas de um veículo novo. Também podem

sofrer avarias mecânicas e por este motivo, ocasionar acidentes em maior número do

que os veículos novos.

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Partindo destas premissas relacionadas à legislação, produtividade, meio ambiente

e segurança nas rodovias foi desenvolvido um cálculo, com vistas a demonstrar qual o

momento ideal para o fim de vida do VCP, encerrando seu ciclo de vida, ainda rodando.

3.3 Critérios para definição do fim de vida útil ideal de um VCP

A análise de qual o tempo de vida útil de um bem pode ser efetuada levados em

conta uma série de fatores, de forma isolada ou conjunta, tais como: capacidade de gerar

receitas, despesas operacionais, obsolescência tecnológica, aspectos de segurança e

impactos ambientais negativos, como a poluição. Estas questões serão melhor

examinadas a partir de quatro fatores relevantes ao se considerar o impacto do uso dos

VCP na sociedade:

• Indicadores Legais – cumprimento às leis e normas vigentes

• Indicador Econômico – Valor Presente Líquido (VPL)

• Indicadores Ambientais – Emissão de Poluentes e Eficiência Energética

• Indicadores de Segurança – para mitigação de riscos de acidentes

ocasionados por VCP.

Importante ressaltar que foram encontrados alguns fatores limitantes, a exemplo

da divergência de dados entre os diversos órgãos oficiais que efetuam pesquisas

relativas ao trânsito, segurança nas estradas e poluição. Além disto, não foram

encontradas pesquisas acadêmicas que pudessem fornecer um corpo teórico relevante.

A falta de controles internos e divergência de opiniões relativas aos assuntos aqui

tratados, dentro das empresas estudadas, também foram dificultadores ao entendimento

mais amplo do processo, relativamente à produtividade, à manutenção e disponibilidade

dos VCP.

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3.3.1 Indicadores Legais (legislação)

Para Leite (2011) afirma que as legislações pertinentes compõe um dos fatores

modificadores que tem a função de alterar as condições de contexto do mercado e

acredita que o desenvolvimento da Logística Reversa foi acelerado no mundo quando

normas e regras de políticas governamentais foram criadas para proteger o meio

ambiente e a sociedade.

A sociedade moderna possui características consumistas que tornam prematura a

obsolescência de produtos e para suprir a demanda, as indústrias precisam inovar

constantemente, lançando novos produtos em intervalos de tempos cada vez menores.

Partindo dessa conjuntura, há um aumento na extração de insumos naturais e um

aumento significativo na quantidade de materiais residuais gerados pelos produtos

consumidos e descartados, fato que vem assumindo proporções inéditas, tornando a

destinação de resíduos um desafio ambiental (GONÇALVES-DIAS et al., 2015).

Os autores acreditam que, com isto, a legislação ambiental mundial está sendo

cada vez mais efetiva no intuito que ocorra um desenvolvimento econômico crescente e

sustentável no planeta, responsabilizando as empresas pelo controle do ciclo de vida de

seus produtos, e pelos impactos ambientais gerados por seus produtos.

Na Europa, a legislação ambiental é responsável pelo avanço da Logística Reversa

está transformando a indústria automotiva de diversas maneiras, desde o aprimoramento

e desenvolvimento dos automóveis, tornando os veículos mais eficientes do ponto de

vista do controle de emissões, durante toda a vida útil, até a maneira de realizar a

desmontagem dos automóveis.

Um dos primeiros países na Europa a atentar-se aos problemas socioambientais

gerados pelas indústrias, em meados da década de 80 e início da década de 90, foi a

Alemanha. Este país foi pioneiro nas primeiras legislações sobre descarte de produtos

consumidos (SARDENBERG, BASTOS, 2013).

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A Holanda também se adiantou no pioneirismo das leis referentes a

obrigatoriedade das empresas serem responsáveis pelos veículos que produzem até o

fim de sua vida útil, legitimando a responsabilidade da indústria e revendedores em

auxiliar na realização da reciclagem dos mesmos, com um modelo de processo e

viabilidade da Logística Reversa para países pequenos: O Auto RecyclingNetherlands –

ARN, que foi reconhecido pela Comissão Europeia como o sistema de reciclagem mais

eficaz. O ARN é responsável pela coleta, desmembramento de aproximadamente

300.000 veículos em fim de vida anualmente.(STOYANOV, 2012).

A Diretiva 2008/98/C estabelece os conceitos e definições básicos relacionados

com a gestão de resíduos, e define quando os resíduos deixam de ser resíduos e se

tornam uma matéria-prima secundária. Exige ainda que os resíduos sejam geridos sem

pôr em perigo a vida e, em particular, sem riscos para a água, o ar, o solo, as plantas ou

os animais. A legislação e a política de resíduos dos Estados-Membros da União

Europeia aplicam como ordem prioritária de gestão de resíduos, a hierarquia descrita na

Figura 11, a seguir:

Figura 11 – Destinação dos produtos que chegam ao fim de vida Fonte: Adaptado de Directive 2008/98/EC

A Diretiva EU 2000/53/EC estabeleceu na Comunidade Europeia, medidas que

têm como primeira prioridade a prevenção da formação de resíduos provenientes de

veículos e, além disso, a reutilização, reciclagem e outras formas de valorização dos

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veículos em fim de vida e seus componentes, de forma a reduzir a quantidade de

resíduos a eliminar, bem como a melhoria do desempenho ambiental de todos os

operadores econômicos intervenientes durante o ciclo de vida dos veículos e, sobretudo,

dos operadores diretamente envolvidos no tratamento de veículos em fim de vida.

Esta diretiva foi essencial para se encontrar uma maneira sustentável para manter

a indústria renovada na maneira de produzir para atender a legislação da Extended

Producer Responsability – EPR, onde a mesmo é responsável pela reciclagem de seus

veículos, que devem ser 95% recicláveis de acordo com a legislação vigente na

Comunidade Europeia (SMOLNIK, 2014).

O EPR foi citado e adotado pelo Parlamento Europeu em 2000 (EC, 2000)

especificando pela primeira vez a necessidade de tratar os veículos em fim de vida

parados ou em circulação dentro daquela Comunidade.

No Japão, seu governo introduziu a lei sobre reciclagem de veículos em fim de

vida a partir de 2005. Naquele país, as indústrias automotivas e importadores são

obrigados a coletar e realizar o descarte ambientalmente correto para o sistema de air

bag e fluídos contaminantes, antes de enviar os veículos para o compactador de

veículos.

O principal propósito da legislação japonesa é criar um novo sistema de

reciclagem com processo bem definido para que o descarte dos veículos em fim de vida

tenha um fluxo correto e os recursos derivados da reciclagem sejam reaproveitados pela

mesma indústria ou mesmo em outras indústrias.

Como se vê, a despeito do crescente consumismo, por outro lado cresce a

conscientização mundial ambiental que vem provocando a criação de novas legislações

ambientais tanto em países desenvolvidos, como naqueles em desenvolvimento. Desde

1997, o poder público brasileiro, por meio de políticas federais setoriais ambientais está

criando normas e leis que possuem a finalidade de proteger o meio ambiente, a exemplo

da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei Federal n. 9.433/1997), Política

Nacional de Educação Ambiental (Lei Federal n. 9.795/1999), Sistema Nacional de

Unidades de Conservação (Lei Federal n. 9.985/2000) – uma das partes constituintes

das políticas florestais e dos espaços protegidos – e Política Nacional sobre Mudança do

Clima (Lei Federal n. 12.187/2009).

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O marco regulatório destinado a enfrentar a problemática dos resíduos sólidos no

Brasil é a Lei Federal n. 12.305/2010, a qual instituiu a Política Nacional de Resíduos

Sólidos – PNRS, desenvolvida e formalizada contendo cinco pilares principais em sua

estrutura. São eles:

• Planejamento público dos resíduos em geral;

• Resíduos da produção e planejamento privado deles;

• Resíduos de consumo a cargo do Poder Público;

• Gestão integrada dos resíduos e seus respectivos fluxos e;

• Resíduos perigosos.

O artigo 3, inciso XII, desta Lei definiu o termo “Logística Reversa” como:

“Instrumento de desenvolvimento econômico e

social caracterizado por um conjunto de ações,

procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a

restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para

reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos

produtivos, ou outra destinação final ambientalmente

adequada.”

Embora no atual estágio da Lei ainda não tenham sido definidos parâmetros e

controles para o setor automotivo, alguns estados da federação, de maneira

independente, já iniciaram movimentos para a realização da Logística Reversa. O

governo do Estado da Minas Gerais, por exemplo, já concluiu alguns estudos e iniciou

um modelo piloto de Logística Reversa, para que governo e indústria possam trabalhar

em conjunto para minimizar os impactos ambientais gerados pelos veículos em fim de

vida.

Em muitos casos a legislação está sendo fator predominante para o

desenvolvimento da Logística Reversa em muitos setores da economia brasileira e

mundial. Não obstante, sabe-se que os órgãos reguladores pouco monitoram e cobram,

das empresas montadoras de veículos automotores, ações efetivas de recolhimentos dos

veículos que produziram, quando já se encontram em fim de vida.

Segundo Leite (2012), a PNRS traz para a indústria nacional um enorme impacto

para a Logística Reversa , ampliando as oportunidades de prestação de serviços de todas

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as categorias e especialidade e de negócios em geral envolvendo o equacionamento do

retorno de produtos, desde então sob a responsabilidade da cadeia produtiva dos

mesmos.

A PNRS, em sua concepção, está fundamentada em dois pilares técnicos. Um

pilar trata dos aspectos preventivos, desde os processos produtivos e da maneira pela

qual as empresas devem realizar seus processos produtivos, de forma a evitar a geração

de resíduos que possam gerar danos ao meio ambiente e à sociedade.

O segundo pilar se refere a gestão dos resíduos sólidos, indicando como o poder

público, empresas e sociedade irão administrar e controlar o descarte de resíduos sólidos

de maneira ambientalmente correta ou que gere menor dano ambiental possível. Neste

pilar encontram-se as instruções e orientações para a realização da Logística Reversa

como fator importante para minimizar os impactos ambientais de produtos em fim de

vida.

Após a lei de PNRS ser sancionada, alguns ajustes e melhorias estão sendo

desenvolvidos por meio de decretos e normas. Os decretos explicitam a preocupação

justificável em definir com muita precisão os diversos sistemas de implementação e

operacionalização da Logística Reversa de determinados setores.

Por este motivo, a Resolução CONAMA 403/2008 estabeleceu que a fase P-7 de

motorização, conhecida como o controle de emissões de poluentes EURO V adotado

pela União Europeia, seja mais restritiva para as indústrias fabricantes de caminhões e

ônibus com relação à quantidade dos poluentes acima citados, gerados pelos motores a

diesel.

Vale ressaltar que o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA é o órgão

consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, foi

instituído pela Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente.

Entre suas atribuições, estão estabelecer, normas e padrões nacionais de controle

da poluição causada por veículos automotores, aeronaves e embarcações e estabelecer

normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio

ambiente, com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, sempre em parceria com

os Ministérios competentes.

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Cabe ao órgão também determinar a realização de estudos das alternativas e das

possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos

órgãos federais, estaduais e municipais, e entidades privadas, informações, notadamente

as indispensáveis à apreciação de Estudos Prévios de Impacto Ambiental e respectivos

Relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental.

Em maio de 1986, o CONAMA, por meio da Resolução nº 18, criou o Programa

de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores – PROCONVE, coordenado

pelo IBAMA, e que veio definir os primeiros limites de emissão para veículos leves, e

contribuir para o atendimento aos Padrões de Qualidade do Ar instituídos pelo

PRONAR (Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar).

Em 1993, a lei nº 8.723 passou a cobrar a redução dos níveis de emissão dos

poluentes de origem veicular, contribuindo para estimular o desenvolvimento

tecnológico dos fabricantes automotivos e seus correlatos –combustíveis, motores e

autopeças – exigindo que veículos nacionais e importados, passassem a atender aos

limites estabelecidos, assim como estabeleceu critérios de aferição.

Além disso, o PROCONVE também impõe a certificação de protótipos e o

acompanhamento estatístico em veículos na fase de produção (ensaios de produção),

produção e uso de combustíveis alternativos, recolhimento ou reparo de veículos e

motores em desconformidade com a produção ou projeto, assim como a proibição da

comercialização de modelos de veículos não homologados.

A homologação de protótipos é o maior sustentáculo do PROCONVE, e faz com

que as montadoras apliquem, já nos projetos, conceitos que assegurem um baixo

potencial poluidor aos veículos novos, e uma taxa de emissões ao longo de sua vida útil

tão baixa quanto possível.

Ainda assim, como se pode ver na Figura 12, a seguir, a frota brasileira ainda está

defasada com relação à frota europeia, no que concerne à fases mais atualizadas na

construção de motores menos poluentes.

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Figura 12 – Comparativo de Tipos de Motores na Frota (2013)

Fonte: CONAMA

Os aspectos legais aqui apresentados tem fundamental importância para que a

Logística Reversa seja praticada, de forma a amenizar os impactos ambientais gerados

pelas empresas, serão mais detalhados a seguir.

3.3.2 Indicadores Ambientais – Emissão de Poluentes e Eficiência energética

O meio ambiente se tornou assunto de interesse mundial no início da década de

70, quando alguns países se reuniram em Estocolmo, em 1972, com a finalidade de

identificar, mensurar e encontrar alternativas para criar as primeiras políticas

governamentais para reduzir os impactos ambientais gerados pelas indústrias, serviços e

sociedade. O resultado deste congresso foi a criação da primeira declaração mundial,

chamada de Declaração de Estocolmo sobre o Ambiente Humano, com a finalidade

destes países encontrarem soluções para minimizarem os impactos ambientais gerados

em seus países.

Empresas estão aderindo à ideia da sustentabilidade, criando produtos de baixo

impacto ambiental. Com isto, novas tecnologias vão sendo agregadas aos processos e

aos produtos que vem sendo desenvolvidos, em busca de menores impactos ambientais,

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não apenas com intuito de atender ao público consumidor, mas também com o intuito de

mitigar o desgaste ambiental, sobretudo devido à crescente produção diante da limitação

de recursos.

Porém, com o surgimento cada vez mais acelerado de novas tecnologias, diversos

produtos se tornam rapidamente obsoletos e geram toneladas de lixo, por conseguinte,

contribuem para muitos dos problemas ambientais existentes na atualidade. Devido ao

aumento crescente de produtos descartados e aumento na produção de lixo, a

preocupação com a reforma por meio da remanufatura, reforma, reciclagem ou o correto

descarte desses materiais vem aumentando gradativamente ao longo dos últimos anos e

décadas (VALANDRO, SILVA e SILVA, 2014).

A responsabilidade ambiental é cada vez mais importante dentro das indústrias e

das empresas que comercializam seus produtos. Os fluxos reversos são direcionadores

responsáveis e contribuintes para minimizar de maneira correta os impactos ambientais

gerados pelos processos produtivos e comerciais das empresas.

De acordo com Cruvinel, Pinto e Granemann (2012), veículos com idade acima de

30 anos pode consumir 45% mais combustível e lubrificantes do que um caminhão de

até 10 anos de idade. Isto ocorre devido as tecnologias mais modernas de motorização

que são mais eficientes energeticamente, precisam de menos combustíveis para realizar

mais torque e na composição estrutural do caminhão, onde são utilizados componentes

mais leves e eficientes, capazes de construir caminhões menos pesados e mais seguros.

Além disto, por meio de processos conscientes para captação de produtos em fim

de vida também se pode obter, dentro do ciclo produtivo, uma alternativa sustentável

sem comprometer a qualidade dos produtos e garantir menor impacto ambiental

evitando a extração da matéria-prima da natureza e o descarte precoce de produtos em

fim de vida em aterros. (MAIA et al., 2013).

A partir das leituras, pesquisas realizadas e entrevistas, foram identificados dados

e informações sobre o potencial gerador de poluição para cada uma das partes do VCP,

que serão explicitados a seguir.

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a) Emissão de Poluentes

O motor a diesel comparado a motores que utilizam outras fontes energéticas é o

motor que apresenta maior tempo de vida útil, menor custo de manutenção e maior

robustez. Fatores que tornam este motor ideal para serem utilizados por locomotivas,

navios e caminhões.

Quanto ao ciclo de combustão, o motor a diesel possui um processo simples de

funcionamento e é dividido em quatro estágios: Indução, Compressão, Ignição e

Exaustão, sendo que nesta última os gases gerados na fase anterior são expelidos do

interior do cilindro pelo movimento ascendente do pistão.

Os motores a diesel vem sendo aprimorados constantemente pelas indústrias

multinacionais, que continuamente implementam melhorias em suas respectivas

matrizes, o que se reflete em sua eficiência energética e ambiental. Com isto, também se

dissemina as inovações tecnológicas em todos os países onde há unidades de negócios,

estimulando, inclusive, a concorrência, a também avançar neste sentido.

Relatório preparado pela agência do governo dos Estados Unidos – 2014, Vehicle

Technologies Market Report, afirma que em 2013, o setor de transporte utilizou 27,1

quatrilhões de BTU de energia, o que representou 28% do total dos EUA. Quase toda a

energia consumida neste setor é petróleo (92%), conforme Figura 13, a seguir.

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Figura 13 – Consumo de energia dos EUA por setor e fonte de energia, 2013 Fonte: Administração de Informações sobre Energia, (Monthly Energy Review), da EIA

U.S. Energy Informations Administrations

O óleo diesel é um combustível líquido derivado de petróleo, composto por

hidrocarbonetos com cadeias de 8 a 16 carbonos e, em menor proporção, nitrogênio,

enxofre e oxigênio. É basicamente utilizado nos motores ciclo Diesel, de combustão

interna e ignição por compressão, em veículos rodoviários, ferroviários e marítimos e

em geradores de energia elétrica.

Sabe-se que os gases gerados pela queima de combustíveis fósseis dos veículos

automotores podem acarretam doenças, a exemplo do monóxido de carbono que ao

reagir com a hemoglobina do sangue, gera danos às pessoas anêmicas, às que possuem

problemas cardíacos e àquelas que detém problemas pulmonares crônicos. Os

hidrocarbonetos, que reagem com o dióxido de nitrogênio e podem causar danos

respiratórios para a maioria das pessoas.

Na Europa, ainda segundo o relatório “Energy, transport and environment

indicator”, a emissão total de CO2 é de 926.442 mil toneladas, sendo o transporte

rodoviário de cargas responsável por 874.506 mil toneladas, ou seja, 94% de toda a

emissão, conforme Figura 14, abaixo.

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Figura 14 – Emissões de gases com efeito de estufa pelo transporte (por modo de transporte, 2011 (mil toneladas de CO2 equivalente) Fonte: Eurostat , relatório ‘Energy, transport and environment indicator’

Em relatório de 2011 (Emissões relativas de poluentes do transporte motorizado

nos grandes centros urbanos brasileiros), o IPEA – Instituto de Pesquisa Aplicada,

observou que o transporte de pessoas e de mercadorias sempre esteve associado à

geração de alguma forma de poluição, seja atmosférica, sonora ou visual nos centros

urbanos, independente do modal predominante.

Segundo o Boletim Ambiental do Programa Despoluir (CNT, 2011) apud in

(CRUVINEL, PINTO, GRANEMANN, 2012) a frota de caminhões brasileira

representa 44 % de todas as emissões de CO2 no transporte rodoviário, segundo cálculos

realizados na pesquisa utilizando a proporção da frota de caminhões, obteve uma

geração de CO2 em 2008 de 41 milhões de toneladas na nossa atmosfera.

No intuito de limitar a emissão de poluentes nos grandes centros urbanos aliado

com políticas ambientais avançadas, já utilizadas no exterior, o governo brasileiro criou

em 6 de maio de 1986, a Resolução n.18 que, implementou o Programa de Controle da

Poluição do Ar por Veículos Automotores (PRONCOVE), com o escopo de definir os

limites de emissões dos veículos automotores. Assim, os fabricantes de motores e de

combustíveis, assim como as montadoras foram direcionados a melhorar os níveis de

emissões gerados por seus motores a combustão.

É possível descrever as fases dos motores da seguinte maneira, conforme Figuras

15, 16 e 17, a seguir:

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Figura 15 – Estratégias de implantação do PRONCOVE para VCP Fonte: PRONCOVE

Figura 16 – Evolução dos limites de emissão para VCP Fonte: IBAMA

Figura 17 – Emissão de veículos pesados com motores do ciclo diesel Fonte: site CETESB (2016)

Enquanto o Brasil ainda se adapta às novas normas do Proconve – Programa de

Controle da Poluição por Veículos Automotores, que se baseiam nas regras de restrição

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à emissão de poluentes Euro 5 para veículos pesados movidos a diesel, os países

europeus já entram numa era mais avançada, a Euro 6. A diferença é que o Euro 6 é

mais rígido, impõe limites para que a poluição seja menor ainda, e conta com

tecnologias mais complexas.

Outra questão importante é que a cada versão, se reduz a emissão dos gases

tóxicos, como se pode ver na Figura 18, a seguir.

DIESEL Data CO HC HC+NOx NOx Particulado

Euro I 1992 2.72

(3.16) -

0.97 (1.13)

- 0.14 (0.18)

Euro II 1996 1.0 - 0.7 - 0.08

Euro II 1996 1.0 - 0.9 - 0.10

Euro III 2000 0.64 - 0.56 0.50 0.05

Euro IV 2005 0.50 - 0.30 0.25 0.025

Euro V 2009 0.50 - 0.23 0.18 0.005

Euro VI 2014 0.50 - 0.17 0.08 0.005

Figura 18 – Padrão europeu de emissões

Fonte: adaptado pelo autor

No Brasil, "Cerca de 33% da frota é responsável por 80% da poluição", afirma

Henry Joseph Junior, presidente da Comissão de Energia e Meio Ambiente da Anfavea,

referindo-se à porcentagem de veículos com mais de 15 anos de uso. "E um carro com

mais de 15 anos de rodagem, se não estiver bem regulado, polui ainda mais."

Hoje, a idade média dos automóveis com placas de São Paulo, por exemplo, é de

12,7 anos, média puxada para cima pelos caminhões em circulação na cidade, cuja

média é de 17,1 anos. As informações da Figura 19, a seguir, demonstram que os

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veículos com padrão de Euro 0 a II, são responsáveis pela maior e pior emissão de

gases.

Figura 19 – Emissão do Diesel: Cenário pós 2012 Fonte: site IVECO

Para que se tenha um melhor termo de comparação, a figura a seguir demonstra

que apenas um caminhão, sem as tecnologias evolutivas da versão Euro V, conforme

Figura 20, a seguir, tem um potencial de poluição 8 vezes maior no que se refere à

emissão de CO e à emissão de NOx, e 50 vezes maior no que se refere à emissão de

material particulado.

Figura 20 – Comparativo de emissões entre as fases EURO Fonte: site ANFAVEA, 2009

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É comum a associação da poluição à circulação de veículos grandes e velhos, pois

quanto maior a quantidade destes veículos no trânsito urbano, maior é a percepção de

poluição nas cidades. Para o IPEA, isso ocorre porque em geral tais veículos emitem

mais fumaça preta que os demais, que é o poluente mais visível no ambiente urbano. O

problema nesse tipo de pensamento é a consideração de apenas um tipo de poluente,

material particulado, e a desconsideração da capacidade e produtividade dos veículos

nessa avaliação subjetiva.

Durante todo este trabalho, se observa que um assunto ‘Poluição’ se impõe, em

conexão com todos os outros conceitos. O termo poluição deriva do latim poluere, que

significa sujar. Grosso modo, poluição é a degradação das características físicas ou

químicas do ecossistema, por meio da remoção ou adição de substâncias.

A poluição pode causar alterações das proporções ou das características de um dos

elementos que formam o próprio meio ambiente. É o caso do aumento da concentração

do dióxido de carbono ou gás carbônico, que naturalmente já estão presentes na

atmosfera.

De acordo com a World Bank (1996) apontam que o custo da poluição seria algo

equivalente a 0,4% do PIB dos países e os custos relacionados aos acidentes de trânsito

seria responsáveis por aproximadamente 2% do PIB.

A poluição gerada pelos veículos automotores implica danos à saúde da sociedade

que vive principalmente nos grandes centros econômicos ao redor do mundo, porém os

prejuízos que a poluição gera para governos e sociedades como despesas com

tratamento médico e internações não podem ser reconhecidos ou facilmente apontados

como problemas originados pela poluição. (VASCONCELLOS, LIMA, 1998).

Principais gases nocivos gerados pelos caminhões:

CO2 – dióxido de carbono, não é considerado um gás poluente, mas é um dos

principais causadores do efeito estufa, portanto, é um gás que diretamente está mudando

as condições climáticas do planeta, podendo gerar grandes impactos na economia

mundial decorrente do atual e futuro aquecimento global.

Como o CO2 e água (H2O) serem elementos resultantes da queima de

combustíveis fósseis, não existe alternativa para redução a médio e longo prazo devido a

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matriz energética ainda ser a base de combustível fóssil, portanto, a única maneira a

curto prazo é a utilização de caminhões mais eficientes que são capazes de transportar

mais carga utilizando e queimando menos combustível.

Caso seja possível reduzir o consumo nacional anual de óleo diesel em um bilhão

de litros, a emissão de CO2 seria reduzida neste período em quase três milhões de

toneladas de CO2 por ano (CRUVINEL, PINTO, GRANEMANN, 2012).

O CO – monóxido de carbono é um gás incolor, inodoro, inflamável e perigoso

devido ao seu teor tóxico e um asfixiante químico, sendo que as fontes geradoras podem

ser naturais, como atividades vulcânicas, porém a atividade humana também gera CO

por meio da queima de carvão vegetal e mineral, e de combustíveis fósseis.

Quanto aos óxidos de nitrogênio conhecidos como NOx – são compostos com

átomos de nitrogênio e oxigênio. Dos gases existentes, apenas dois são poluentes – o

dióxido de nitrogênio (NO2) e o óxido nítrico – NO (monóxido de nitrogênio), que são

nocivos ao meio ambiente e a saúde humana, podendo gerar sequelas irreversíveis, e

dependendo da exposição e frequência, podem gerar a morte por asfixia.

A principal origem dos gases NOx é a queima de combustíveis fósseis gerada pela

combustão dos veículos automotores. A indústria automotiva, por meio de

regulamentações estão reduzindo a quantidade de emissões destes gases com a inclusão

de sistemas internos nos veículos denominados catalisadores, com a função de acelerar

as reações químicas transformando os gases poluentes em gases menos prejudiciais,

antes que sejam lançados na troposfera. Os catalisadores é o dispositivo antipoluente

acoplado ao escapamento dos veículos automotores que após termino da combustão que

não acontece por completo no motor. Estes gases emitidos pela queima de combustível

fóssil são filtrados por uma estrutura em forma de colmeia que libera substancias

químicas para reagir aos gases nocivos à saúde e meio ambiente CO, HC e NOX e os

convertendo-os em vapor de água e outros gases não tóxicos, como gás carbônico (CO2)

e Nitrogênio (N2).

A Figura 21, a seguir, mostra o padrão de emissões por categoria de veículo.

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Figura 21 – Emissão de NOx por categoria de veículo Fonte: CONAMA (2009)

Na figura anterior, vê-se que os caminhões pesados e semipesados são

responsáveis por 50% da emissão de NOx, em 2013.

Estes gases tem forte relação com a qualidade de vida da sociedade,

principalmente nos grandes centros econômicos, pois quanto maior o contato das

pessoas com a poluição, maior serão os custos da saúde pública do governo, em especial

com o tratamento respiratório (CRUVINEL, PINTO, GRANEMANN, 2012).

Passados 23 anos de sua criação, os resultados alcançados pelo PROCONVE

mostram que a estratégia para sua implantação foi acertada, e isto se deve às medidas

cada vez mais restritivas do programa, tornando-o um dos mais bem sucedidos em

termos de políticas para o setor ambiental. Desde o início das exigências para os

veículos pesados, as reduções foram da ordem de 80%, com grandes benefícios para o

ar das regiões metropolitanas, detentoras de grandes frotas de ônibus e caminhões.

Os destaques tecnológicos decorrentes do Programa se deram através da

introdução nos veículos de catalisador, injeção eletrônica de combustível e melhorias

nos combustíveis automotivos. A continuidade e o sucesso do Programa têm agora que

se voltar para a identificação real dos ganhos para o ambiente, traçando uma correlação

clara entre a definição de novas fases tecnológicas e de restrição das emissões, com o

monitoramento da qualidade do ar nas grandes cidades brasileiras.

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b) Eficiência energética

Segundo o Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), cujo alvo é

promover o aumento da eficiência na transformação e na utilização de todas as

modalidades de energia em benefício da economia, do meio ambiente e da maior

segurança quanto ao acesso à energia e bem estar da sociedade, qualquer atividade em

uma sociedade moderna só é possível com o uso intensivo de uma ou mais formas de

energia.

Dentre as diversas formas de energia interessam, em particular, aquelas que são

colocadas à disposição dos consumidores como a eletricidade e os combustíveis.

Os equipamentos e sistemas transformam a energia, mas parte é perdida para o

meio ambiente durante esse processo. Pode-se avaliar a eficiência de um automóvel

dividindo a quantidade de energia que o veículo proporciona com o seu deslocamento

pelo combustível utilizado. Assim, um veículo parado em um engarrafamento está

usando mais energia do que a necessária por conta do tempo que fica parado no

congestionamento.

Por definição ‘Eficiência’ significa fazer mais com menos, mantendo o conforto e

a qualidade. Em termos de Energia, temos que ‘eficiência energética’ significa gerar a

mesma quantidade de energia com menos recursos naturais ou realizar o mesmo

trabalho, com menos energia.

Para Larsson (2009), nos próximos anos, o poder político e financeiro se deslocará

esforços consideráveis na direção de indivíduos, empresas e nações que possam usar a

energia de maneira mais eficiente. Afirma que esse desafio e apresenta um caminho

pelo qual podemos alcançar o propósito de aumentar a eficiência energética nas

diferentes áreas que precisam mudar, para a manutenção da sustentabilidade do planeta.

Com relação ao consumo de combustível por veículos, com o desgaste pelo uso, a

eficiência energética se torna baixa. O aumento da frota de veículos em fim de vida que

estão circulando no mundo, além de gerar um passivo relacionado aos altos índices de

poluição gerados, falta de recursos de segurança, contribuem para a baixa eficiência

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energética de seus motores realizados apontam para um aumento crescente de veículos

em fim de vida. (Andersen et al.,2000 apud STOYANOV, 2012).

Para o Ministério do Meio Ambiente – MMA eficiência energética é definida

como “a relação entre a quantidade de energia empregada em uma atividade e aquela

disponibilizada para sua realização. A promoção da eficiência energética abrange a

otimização tecnológica e racionalização do uso dos recursos energéticos, desde suas

fontes primárias até seu aproveitamento, mantidas as condições de conforto, de

segurança e de produtividade dos usuários, contribuindo, adicionalmente, para a

melhoria da qualidade do transporte e para a mitigação dos impactos ambientais”.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), a eficiência energética

é definida como “o nível de energia consumida para se realizar determinado serviço”.

Para ser mais eficiente, precisa utilizar menos energia para realizar o mesmo trabalho.

Em estudos desta Agência, as emissões globais de CO2 relacionadas à energia

aumentaram 1,4% em 2017, um aumento de 460 milhões de toneladas (Mt), e

alcançaram uma alta histórica de 32,5 Gt. O crescimento do ano passado veio depois de

três anos de emissões planas e contrasta com a redução acentuada necessária para

cumprir as metas do Acordo de Paris sobre mudança climática.

O aumento das emissões de carbono foi resultado do robusto crescimento

econômico global de 3,7%menores preços de combustíveis fósseis e um relativo

afrouxamento dos esforços para melhor eficiência energética. Estes três fatores

contribuíram para elevar a demanda global de energia em 2,1, em 2017, conforme

Figura 22, a seguir.

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Figura 22 – Emissões globais de CO2 relacionadas com a energia, 2000-2017 Fonte: Global Energy & CO2 Status Report 2017- IEA

A tendência de crescimento das emissões, no entanto, não foi universal. Enquanto

a maioria das principais economias viu um aumento nas emissões, alguns outros

experimentaram declínios, como os Estados Unidos, o Reino Unido, o México e Japão.

O maior declínio veio dos Estados Unidos, onde as emissões caíram 0,5%, ou 25 Mt,

para 4.810 Mt de CO2, marcando o terceiro ano consecutivo de declínio.

O relatório ‘Sondagem’ 2015, da Confederação Nacional do Transporte – CNT,

acima referenciado, permitiu também conhecer melhor quais são as perspectivas dos

empresários do setor de transporte rodoviário de cargas, no Brasil, quanto ao tema

eficiência energética. Foram avaliados o uso e o conhecimento de novas tecnologias por

parte das empresas entrevistadas, bem como a existência de políticas empresariais e

expectativas de investimentos no setor.

Com relação às políticas empresariais para o meio ambiente, verificou-se que

apesar de a maioria das empresas possuir sistemas de monitoramento de velocidade

média e de informações geo-referenciadas (GPS) em seus veículos, poucas são as que

possuem acompanhamento do uso de combustível em tempo real. Isso indica que elas

podem buscar a eficiência pela operação humana, capacitando funcionários, além de

monitorar seus veículos, contudo, o investimento em eficiência por meio de acessórios e

componentes próprios para a redução de consumo de combustível é menos usual.

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A eficiência energética do transporte está fortemente ligada à utilização completa

da capacidade dos veículos e muitos são os fatores que interferem na eficiência

energética do transporte rodoviário de cargas. Variáveis operacionais como velocidade

média, distância percorrida, presença de monitoramento da frota, circulação de veículos

sem carga, tipo de vias utilizadas e funcionamento do veículo sem movimentação

influenciam diretamente no consumo de combustível e, nos custos operacionais.

O estudo mostra que 79,2% das operações das empresas entrevistadas ocorrem,

predominantemente, em vias rurais e 20,8%, em vias urbanas.

A caracterização das vias utilizadas para o transporte é variável relevante para a

compreensão das operações e formatação de um programa de eficiência energética para

o setor.

A evolução tecnológica na fabricação de veículos a diesel, aliada ao avanço na

legislação ambiental, tem contribuído com do setor de transporte. Com o avanço da

idade do veículo, as manutenções tendem a ser mais frequentes e a eficiência energética

do veículo, menor.

A renovação da frota traz melhorias para a eficiência energética, além dos reflexos

positivos também nas operações logísticas, além de segurança, menores riscos de

acidentes e menores índices de poluição emitida. Esta é uma das motivações pela qual a

renovação de frota é recomendada tanto às empresas quanto aos caminhoneiros

autônomos.

O estudo ‘Sondagem’ CNT de Eficiência Energética no Transporte Rodoviário de

Cargas mostrou que das empresas entrevistadas, a maioria dos entrevistados (38,3%)

realiza a renovação da frota entre três e seis anos, sendo que apenas 11,0 % renovam sua

frota quando os veículos possuem idade superior a nove anos.

Com relação às políticas empresariais para o meio ambiente, verificou-se grande

potencial de crescimento dos Sistemas de Gestão Ambiental – SGA e certificação ISO

14000. Apesar de muitas empresas possuírem metas de redução e realizarem a

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manutenção preventiva dos veículos, e possuir sistemas de monitoramento de

velocidade média e de informações georeferenciadas (GPS) em seus veículos, poucas

são as que possuem acompanhamento do uso de combustível em tempo real.

Ainda assim, as empresas investem em sistemas de monitoramento de maneira a

atender às suas necessidades. Isso indica que elas tendem a buscar a eficiência pela

operação humana, capacitando funcionários, além de monitorar seus veículos.

Passarros (2017) oferece soluções práticas para abordar a eficiência energética

como sendo um termo de cláusula dentro do próprio contrato de fretamento. Para isso,

sob um reflexo do ofício normativo, analisa os principais conceitos de jurisprudência e

discute-os em conjunto com os princípios comerciais e econômicos.

A partir de uma visão abrangente e interdisciplinar do processo de fretamento,

apresenta uma nova abordagem para a salvaguarda dos investimentos em eficiência

energética. A estrutura desenvolvida abrange um tópico que tem sido largamente

negligenciado até hoje, foi baseada na teoria dos jogos e aplicada com sucesso para

demonstrar a importância de incluir um termo de cláusula na negociação de contratos

para obter proteção contra um mercado incerto e um ambiente de embarque ainda mais

desafiador.

3.3.3 Indicadores de Segurança

Em relatório de 2015, a Organização Mundial da Saúde – OMS informa que os

custos e perdas relacionadas aos acidentes de trânsito ultrapassam os US$500

bilhões/ano. Dado ainda mais impactante mostra que aproximadamente 1,25 milhão de

pessoas ao redor do mundo morrem vítimas destes acidentes, sendo que 90% destes

óbitos são oriundos de países de baixa renda ou países em desenvolvimento.

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No Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, o

número de mortos e feridos graves envolvidas em acidentes de trânsito superam o

número de 150 mil pessoas e que os custos totais para a sociedade/governo atingem

R$28 bilhões/ano.

Bacchieri e Barros (2011) afirmam que nos EUA, 25 caminhoneiros morrem em

acidentes rodoviários por ano, a cada grupo de 10.000. Já no Brasil esta taxa é de 281.

Para os autores, as principais fontes dos acidentes de trânsitos ocorridos nas rodovias

brasileiras são os Boletins de Ocorrência – BO, Sistemas de Informações Hospitalares

do Sistema Único de Saúde – SIH-SUS e o Sistema de Informação de Mortalidade –

SIM. Apesar de serem fontes oficiais monitoradas por órgãos públicos, uma das

principais deficiências se refere à falta de comunicação entre os órgãos, gerando

dificuldades e discrepâncias na metodologia do cálculo das mortes ocasionadas por

acidentes de trânsito.

Dentro das estatísticas, dados colocam o trânsito como sendo a segunda principal

causa por mortes no Brasil, perdendo apenas para as doenças circulatórias relacionadas

ao coração. Em relação à frota existente, a taxa brasileira de mortes por grupo de um mil

veículos é de 0,66, neste caso, um índice 5,5 vezes superior ao norte-americano,

conforme Figura 23, a seguir.

Figura 23 – Países com > números no trânsito, em 2010

Fonte: Instituto Avante Brasil, PNUD, OMS, Datasus

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Ainda segundo os autores, de acordo com o Grupo Técnico de Prevenção de

Acidentes e Violência da Secretaria do Estado de Saúde de São Paulo durante o ano de

2005, os acidentes de trânsito estão diretamente e indiretamente relacionados por 17%

das internações nos hospitais e respondem por 22% dos gastos por causas externas,

valor estimado em R$34 milhões.

No mesmo estudo, em 2004, os acidentes de trânsito representavam a nona mais

importante causa de morte em todo o mundo, gerando aproximadamente 1,2 milhões de

vítimas. Os estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que até 2030 os

acidentes de trânsito irão representar a quinta principal causa de morte no planeta,

atingindo mais de dois milhões de pessoas.

Em 2006, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA e a Associação

Nacional de Transportes Públicos – ANTP realizaram um estudo para estimar os custos

e perdas gerados pelos acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras federais, dos mais

de 100 mil acidentes apontados, obtiveram um custo total estimado de R$6,5 bilhões em

2005. Deste custo 68 % se refere aos custos associados as pessoas envolvidas nos

acidentes de trânsito.

Perda de produção e cuidados em saúde foram os principais gastos, enquanto

custos associados aos veículos representam 31%. Neste período os acidentes de trânsito

nas rodovias brasileiras custam cerca de R$ 22 bilhões anualmente. Os custos anuais

dos acidentes de trânsito no Brasil ultrapassam a cifra de R$27,2 bilhões.

De acordo com informações Departamento de Informática do Sistema Único de

Saúde do Brasil – Datasus, em 2009 foram registradas 37,6 mil mortes no trânsito. No

triênio de 2012 a 2014 dados do DPVAT apontam uma média de 55 mil fatalidades

decorrentes de acidentes de trânsito.

Outro fator apontado como consequência no trânsito pelo Seguro de Danos

Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), é a

quantidade de pessoas lesionadas que recebem indenizações do governo devido aos

danos físicos ocasionados pelos acidentes de trânsito.

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No contexto dos transportes, a segurança designa as condições criadas para uma

circulação mais segura de veículos em quaisquer vias. No caso específico da circulação

de veículos na estrada, existe sinalização cujo escopo é incentivar os motoristas a

adotarem comportamentos adequados para que se evitem acidentes.

A segurança nas estradas envolve diversos fatores como motoristas, frota de

automóveis circulantes, tempo, qualidade das estradas e sinalização. Em 2009, a

Confederação Nacional dos Municípios realizou um mapeamento da situação e a

evolução da mortalidade no trânsito nos diversos locais do Brasil, utilizando com base

dados de mortes por acidentes de transportes terrestres do Ministério da Saúde.

Os acidentes de trânsito ocorridos em território nacional geram perdas econômicas

para famílias, empresas, meio ambiente e poder público, enfim, toda sociedade é

prejudicada pela falta de fiscalização, infraestrutura e um controle na qualidade dos

veículos que estão trafegando nas rodovias.

Um acidente em uma rodovia federal, por exemplo, envolvendo vítimas e

bloqueio, acarretam não apenas perdas econômicas com a destruição de um automóvel,

como a perda de vidas ou as perdas não mensuráveis de uma vida econômica ativa por

invalidez. Um acidente gera custos extras com o bloqueio da rodovia, motores

funcionando por mais tempo, mais combustível para se locomover na velocidade

mínima ou até mesmo ficar parados consumindo energia e deixando produtos, serviços

e pessoas aprisionadas até que a rodovia seja desbloqueada e liberada para o tráfego.

A Figura 24, a seguir, mostra que muitas vidas e a economia são prejudicadas por

acidentes causados pela falha mecânica dos caminhões e ônibus mais antigos. O

principal modal, o rodoviário, apresenta limitações que impedem uma melhor

desempenho social, ambiental e econômico que geram perdas financeira imensuráveis

por três motivos principais: quantidade e qualidade das rodovias, falta de fiscalização

das regras estabelecidas e pela idade média avançada da frota circulante dos veículos

comerciais pesados.

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Figura 24 – 10 maiores causas de morte de pessoas de 15 a 29 anos Fonte: WHO – World Health Organizations, Global Health Estimations, 2014.

Uma combinação perigosa aliada à falta de fiscalização das autoridades nas

estradas é o fato de veículos comerciais com idade de uso avançada realizarem viagens

com sobrepeso. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT é a

instituição responsável pela fiscalização nas rodovias federais, porém são poucos os

Postos de Pesagem de Veículos – PPV e a limitação de recursos humanos nestas

instalações fazem que aumentem os riscos de acidentes nas rodovias, embora a Matriz

de Transporte de Cargas no Brasil demonstre que o modal rodoviário detém 61% do

total, conforme Figura 25, a seguir.

Figura 25 – Matriz rodoviária de cargas

Fonte: CNT, 2014

O país incentiva a renovação da frota de caminhões por meio do Plano Nacional

de Renovação da Frota de Caminhões – RenovAr. Elaborado pela CNT, o Programa é

voltado aos caminhoneiros autônomos pelo fato de representarem 89,0% da frota com

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mais de 30 anos e que prevê a promoção de incentivos para que caminhoneiros

autônomos consigam adquirir caminhões novos, como a isenção de tributos, sistema de

certificação da reciclagem e maior facilidade na troca de veículos. Com isto, os veículos

antigos seriam retirados de circulação e encaminhados para a reciclagem – o

caminhoneiro autônomo entrega o seu veículo com mais de 30 anos a um centro de

reciclagem e recebe um crédito de 30 mil reais, que poderá ser usado para financiar um

caminhão novo com juros baixos e prestações que cabem no bolso.

A ANTT disponibilizou uma planilha que permite a simulação dos custos da

operação dos serviços de transporte rodoviário remunerado de cargas. Idealizada com

base na Resolução da ANTT nº 4.810/2015, que estabelece metodologia e publica

parâmetros de referência para cálculo dos custos de frete, a planilha tem a finalidade de

contribuir para que o transportador tenha um melhor entendimento da estrutura de

custos envolvidos na execução do transporte rodoviário de cargas. O documento foi

pensado para operações de transporte de carga lotação – quando uma única carga ocupa

a capacidade máxima do caminhão – e não assume o lucro do transportador ou outras

despesas indiretas incidentes na operação.

Alguns fatores relacionados à segurança na rodovias e ruas são difíceis de

quantificar. Um caso típico é o valor de uma vida perdida em um acidente de trânsito,

que devido à complexidade e fatores econômicos envolvidos no cálculo para medir e

quantificar monetariamente o quanto a sociedade e governo perdem quando ocorre um

óbito decorrente de um acidente de trânsito. Uma das alternativas possíveis para

contabilizar as perdas seria o valor de seguro de vida de uma pessoa, mas esta

informação é uma referência limitada, pois se trata apenas de um valor monetário para

compensar a família pela ausência do parente envolvido no acidente.

Nos EUA, a American Automobile Manufacturing Association – AAMA

(Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos), que reúne empresas como a

General Motors, Ford e a Chrysler, realiza um programa que anualmente recicla parte

dos 11 milhões de veículos americanos com idade superior a 10 anos de vida

(MEDINA, 2003), com o foco de reduzir o número de acidentes rodoviários.

Existe muita dificuldade dentro das organizações públicas brasileiras para se obter

informações oficiais relacionadas aos acidentes ocorridos nas rodovias, pois diferentes

fontes oferecem diferentes índices.

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Os dados da Figura 26, abaixo, são do Programa Volvo de Segurança no Trânsito

e indica o tamanho da acidentalidade nas rodovias federais brasileiras.

Figura 26 – Distribuição Anual de Acidentes envolvendo caminhões Fonte: atlasacidentesnotransporte.com (2017)

Em 2015, a Polícia Rodoviária Federal aplicou, em média, 75 multas por dia

a motoristas que trafegavam em veículos em mau estado de conservação, colocando em

risco a segurança viária. No ano foram mais de 27 mil autuações.

Assim, os ganhos ambientais se somam aos ganhos na segurança e que as novas

tecnologias são necessárias para a melhoria de todos os processos. Por isso os

investimentos em TI aumentam ano a ano, para incrementar os equipamentos que têm

por escopo melhorar o desempenho de funções que de forma direta ou indireta protegem

os operadores e o meio, bem como, ao bem ativo.

Hoje, os operadores dos VCP podem contar como itens ‘default’ de tecnologia

embarcada, os seguintes exemplos:

• Airbag é um sistema de bolsas que são infladas no momento de uma colisão por

meio da expansão de gases originadas de uma reação química muito rápida.

• FUPS – sistema de anti-colisão frontal é um sistema de proteção que evita que

veículos leves sejam esmagados pelo caminhão em caso de uma colisão frontal.

• Freio motor e Top Brake são sistemas que bloqueando a passagem dos gases no

coletor de escapamento do motor, criam uma força contrária ao movimento, o que

diminui a velocidade do caminhão.

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• Freio VEB (hidráulico), Freio EBS e Travões (Eletrônicos) são sistemas de freio

que melhoram a eficiência de frenagem global e aumenta a estabilidade do veículo.

• LKS e LDW alertam ao motorista se o caminhão sair da pista involuntariamente

– sistema de câmera que monitora o comportamento do caminhão entre as faixas da

rodovia. Caso o pneu do caminhão toque alguma faixa, o caminhão emite um sinal

sonoro, pois entende que o motorista está desatento.

• Alcohollock – é um bafômetro bloqueador de partida; que libera a ignição do

veículo, somente para pessoas não alcoolizadas.

• Retarder – sistema de frenagem auxiliar que atua na caixa de mudanças,

diminuindo a velocidade das rodas e do veículo.

• Articulação mecânica – é um sistema de articulação que evita o efeito “L” dos

caminhões, mantendo a estabilidade tanto em retas quanto em curvas. É um sistema

mecânico de proteção angular.

• ACC – piloto automático inteligente – além de manter a velocidade que se

deseja é capaz de identificar os veículos a sua frente e ajusta a velocidade do caminhão

ao fluxo do transito, freando e acelerando automaticamente o mesmo.

• DAS – detector de atenção – é um software adicional à câmera de

monitoramento de faixa de rodagem que serve para identificar o cansaço ou sonolência

do motorista, conforme a posição do caminhão entre as faixas.

Segundo o relatório Associação de Pesquisa para Tecnologia Automotiva (FAT),

para explorar como resistências de condução em veículos comerciais pesados podem ser

reduzidas no futuro. Esta Associação é parte da Associação Alemã da Indústria

Automotiva (VDA), que por sua vez é composta por mais de 620 empresas envolvidas

na produção para a indústria automotiva na República Federal da Alemanha.

A FAT lançou um projeto de fabricação cruzada sobre a “Análise potencial de um

‘trem de estrada’”, para fornecer informações sobre a conservação de recursos no

transporte rodoviário de forma que haja mais economia em termos de eficiência

energética no tráfego rodoviário e com este propósito realizou uma simulação de fluxo

de ar – vórtice (escoamento giratório do vento onde as linhas de corrente de ar

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apresentam um padrão circular ou espiral. São movimentos espirais ao redor de um

centro de rotação, no caso o caminhão) em um VCP biarticulado, conforme Figura 27, a

seguir.

Figura 27 – Distribuição de vórtices em um VCP biarticulado

Fonte: Associação de Pesquisa para Tecnologia Automotiva (FAT)

Nele, os potenciais aerodinâmicos destes “”trens rodoviários” foram testados, por

exemplo, em simulações de computador. Isto foi complementado por testes de fluxo em

túneis de vento com modelos de semi-reboque. A pesquisa mostrou que o maior

potencial de otimização da aero dinâmica existia no próprio semi-reboque. Por meio de

painéis laterais, portas traseiras e arremate descendente, aproximadamente 5% mais

combustível poderia ser conservado, e que também podem atingir redução significativa

de arrasto ao fechar o espaço entre a cabina e o reboque, aumentando consideravelmente

a segurança.

Para além deste e outros sistemas de proteção não citados, é preciso lembrar da

importância do Treinamento de Motorista – na direção econômica e defensiva – consiste

em transmitir conhecimento sobre a condução segura, responsável e de proteção ao

meio ambiente. Orientar o motorista sobre os recursos tecnológicos disponíveis no

caminhão, para que ele maximize os ganhos por meio da sua utilização correta desses

recursos. Também é importante o treinamento para que se dê uma rodagem econômica

ao veículo.

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3.3.4 Indicadores Econômico-Financeiros

Existem diversas razões para usar indicadores para avaliação do desempenho

logístico na empresa, entre elas estão a busca da melhoria contínua no desempenho do

seu negócio e ter números reais e precisos como suporte para a tomada de decisão.

O uso dos indicadores de desempenho está intimamente ligado à criação de

uma cultura de excelência pelos serviços prestados aos seus clientes, aliados à redução

de custos de investimento e operacionais.

a) Critérios econômico-financeiros – Valor Presente Líquido (VPL)

Na economia atual, um dimensionamento equivocado financeiro pode

rapidamente quebrar um negócio. Por este motivo, o equilíbrio entre os números, torna-

se cada vez mais importante, e deve fazer coro com os indicadores não-financeiros,

como a relação de causa e efeito das decisões tomadas, de acordo com parâmetros que

vimos estudando até aqui.

Os Indicadores financeiros são medidas de resultados alcançados e servem

também de embasamento para novos investimentos. Entre os principais indicadores,

temos:

• Custo Operacional Total

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O setor de serviços, onde se encaixa a modalidade de transporte rodoviário de

cargas, tem um custo operacional bastante alto, se comparado com a indústria e o

comércio. Por esse motivo é importante manter avaliações frequentes.

• Percentual da Mão de Obra no Custo Total

Índice de alta variabilidade é custo que mais impacta o custo operacional total.

• Percentual do Custo com Contratação de Terceiros.

Atualmente é frequente a contratação, pelas empresas, de caminhoneiros

autônomos para fazer fretes. O controle destes gastos deve ser acompanhado da mesma

forma como dever ser feito com funcionários contratados.

• Margem de Contribuição

Segundo Bornia (2002, p. 72), “a margem de contribuição é um indicador que

mostra quanto sobra, depois de tirar os custos variáveis. É sobre este valor, chamado de

lucro bruto, que se calcula impostos e se paga os custos fixos, os impostos. Se depois

disto, houver saldo positivo, será o lucro da empresa” (apud SCHERER, 2014, p.31).

• Resultado Operacional Total

Este é o item que mostra se um negócio é sustentável ou não. Importante salientar

que misturar as receitas e despesas operacionais com aquelas que não tem a ver com a

operação, como o pagamento do financiamento da frota por exemplo, pode alterar o

entendimento do fluxo financeiro.

• Retorno sobre o Investimento (ROI)

Em caso de frota, este cálculo deverá ser feito individualmente com cada

veículo da frota, e para a empresa inteira também.

O ROI é especialmente importante para o planejamento de um investimento,

como a compra de um novo caminhão por exemplo. Por meio deste indicador, é

possível simular qual será o percentual de retorno dentro de um período de tempo, e se

ele parece interessante ou não (MAGNANELLI ET al., 2016).

Gastos com Combustível em Relação ao Faturamento

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Sendo um dos maiores custos existentes em uma transportadora, os gastos

com consumo de diesel e outros combustíveis são fundamentais para equilibrar a

relação entre faturamento e custos. Na hipótese de aumento de combustível, é adequado

tentar aumentar os valores cobrados de frete, acompanhando a flutuação.

Outros custos estão associados ao negócio de transporte de cargas, como a

inadimplência, por exemplo, que precisa ser acompanhada par-e-passo.

Em relação às receitas, é fundamental conhecer o faturamento por quilo

transportado, veículo a veículo, uma vez que isto pode dar uma noção exata de qual

veículo está sendo mais produtivo, e qual tipo de veículo se demonstra mais

interessante. Com base em informações como essa, você pode por exemplo,

descontinuar o uso de algum tipo de caminhão na frota, focando naqueles que dão mais

resultado.

Vimos, acima, os custos que tem maior impacto na operação de um VCP, mas

considerando o foco na execução da Logística Reversa destes veículos, torna-se

necessário estudar seus custos, para, juntamente com outros indicadores, analisar o

momento ideal de recolher o VCP para tal prática.

Um modelo de cálculo do valor do frete é disponibilizado pela ANTT, onde se

pode preencher os espaços em branco com as informações do veículo e da operação de

transporte, sendo que uma vez preenchida, será possível identificar o cálculo final dos

custos por tonelada, por Km e por viagem, conforme Figura 28, a seguir.

Figura 28 – Simulação de custos de frete para o Transporte de Cargas Fonte: ANTT (2015)

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Como já discutido anteriormente, Logística pode ser definida como: “O processo

de planejamento, implementação e controle do fluxo e armazenagem eficientes e de

baixo custo de matérias primas, estoque em processo, produto acabado e informações

relacionadas, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o intuito de atender

aos requisitos do cliente”.

Logística Reversa engloba todos os processos descritos acima mas de modo

inverso. Para Rogers e Tibben-Lembke (1999) Logística Reversa é:

“O processo de planejamento, implementação

e controle do fluxo eficiente e de baixo custo de

matérias primas, estoque em processo, produto

acabado e informações relacionadas, desde o ponto

de consumo até o ponto de origem, com o propósito

de recuperação de valor ou descarte apropriado para

coleta e tratamento de lixo”.

Porém, como também já abordado anteriormente, Logística Reversa é um termo

bastante genérico. Em seu sentido mais amplo, significa todas as operações relacionadas

com a reutilização de produtos e materiais e às atividades logísticas de coletar,

desmontar e processar produtos e/ou materiais e peças usados a fim de assegurar uma

recuperação sustentável (amigável ao meio ambiente).

Como é uma área que normalmente não envolve lucro – ao contrário, envolve

mais custos), muitas empresas não empregam muita energia ao assunto e raramente

enquadram o tema como um dos tópicos tratados pela Administração.

Os aspectos econômicos resultantes da Logística Reversa são todas as ações

realizadas pelas empresas, tendo como alvo ganhos financeiros oriundos dos caminhos

reversos dos produtos de pós-venda ou pós-consumo. Em tese, a Logística Reversa

deveria provocar um retorno econômico atraente para as indústrias, gerando vantagens

competitivas e lucro. Porém, em grande parte das empresas o resultado da Logística

Reversa é ainda desfavorável do ponto de vista econômico.

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Por se tratar de uma área de negócio relativamente recente e com muitas

oportunidades de melhoria e desenvolvimento, seus indicadores são baseados na

logística direta ou tradicional, porém, à medida que se desenvolver Logística Reversa

em alguns setores demonstra novos ganhos e indicadores específicos destes processos

reversos. A Logística Reversa pode interferir no desempenho das organizações ao

introduzir uma prática de reaproveitamento do que foi produzido e descartado, ou seja,

geralmente possibilita ganhos econômicos interessantes em um cenário cada vez mais

competitivo entre as empresas (CONCEIÇÃO, PACHECO, 2012).

Assim, algumas organizações apontam uma nova maneira de calcular o valor

financeiro despendido com canais reversos. Neste sentido, o que deve ser considerado

são os valores dos resíduos que retornarão ao processo produtivo e os valores de

revenda de materiais recicláveis para outros fins, que não os da produção de origem.

Segundo Leite e Brito (2005), o bom gerenciamento, com controles e indicadores

eficazes dos processos de Logística Reversa podem trazer para as empresas resultados

econômicos significativos. Por meio da Logística Reversa, as organizações podem

conformar as oportunidades de recuperação de valor em seus processos produtivos.

Uma proposição do cálculo destes valores pode-se observar na expressão a seguir

(PORTUGAL et al., 2012):

CRP = VR + CLR – VR(1), onde:

CRP: Custo do retorno do produto;

VR: Valor do produto no mercado, se necessária a compra;

CLR: Custos com os trâmites reversos (transporte, mão-de-obra etc.);

VR: Valor recuperado, economizado por meio da reutilização do material no

processo produtivo.

Fatores econômicos são essenciais e atrativos para toda organização empresarial

que pretende realizar seus processos produtivos com a melhor qualidade e menor custo,

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além de outros ganhos colaterais apresentados no quadro de Hernandez et al. (2012),

Figura 29, a seguir.

Figura 29 – Indicadores de Desempenho da Logística Reversa Fonte: Adaptado de Hernandes et al. (2012)

Para Szopa (2014), muitas empresas encontram dificuldades para produzir o

retorno econômico esperado de seus processos reversos, o que pode acontecer por

dificuldade de entendimento destes processos, pouco interesse por parte daqueles

executivos com baixo grau de comprometimento com a sustentabilidade da empresa,

falta de um controle específico ou focado apenas na entidade de negócio da Logística

Reversa.

Devido à complexidade das estruturas de coleta, desmontagem, reciclagem,

reforma e eventual descarte dos componentes alguns países tem desenvolvido a prática

de terceirização da Logística Reversa dos veículos. Sabe-se que os custos de transporte

e controle dos processos são significativos para uma empresa administrar e a

terceirização da Logística Reversa pode-se conquistar um resultado operacional positivo

por meio da economia de escala.

Segundo Oro (2013), para esta estimação será necessário definir, de antemão, uma

série de conceitos relacionados ao Valor Presente Líquido (VPL): custos e definição de

capital próprio (E) e de terceiros (D), Custo médio ponderado de capital (CMPC) e

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taxas de desconto/atratividade (TMA), cálculos demonstrados pelas Figuras 30, 31 e 32,

a seguir.

• Capital Próprio (E): Recursos do(s) sócio(s) ou acionista(s) envolvidos na

operação ou na empresa. Sua obtenção é dada por (ROSS, RANDOLPH, &

BRADFORD, 2008):

Re = Rf + βe x (Rm − Rf)

Onde:

Rf = Taxa livre de risco, aqui considerado uma Taxa Selic de 14,00% a.a. (2016),

segundo dados do Banco Central do Brasil.

Βe = Risco sistemático do ativo em relação à média, aqui considerado risco país

definido pelo EMBI+ Risco Brasil, cujo valor em 25/10/2016, era de 317 pontos.

Rm – Rf = Prêmio de risco, definido aleatoriamente em cada operação levando-se

em conta que quanto mais velho for o caminhão maior o risco que ele representa.

Figura 30 – Custo do capital próprio Fonte: Elaboração do autor

• Capital de Terceiros (D): Recursos obtidos por meio de financiamentos para a

empresa. Seu custo é expresso pela taxa de juros vigente na operação.

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Figura 31 – Custo do capital de terceiros Fonte: Elaboração do autor

• Custo Médio Ponderado de Capital: representa a média ponderada dos capitais

presentes na empresa (E + D), sua determinação é função dos custos de capitais e seus

respectivos pesos não só na estrutura de capital da empresa como na aquisição de bens.

Sua forma de obtenção é dada por (ROSS, RANDOLPH, & BRADFORD, 2008):

CMPC = �EV

X Re� + �DV

X Rd� x(1 − Tc)

Onde:

E = Volume de recursos próprios na operação ou na empresa;

D = Volume de recursos de terceiros na operação ou na empresa;

V = Total de recursos na operação ou na empresa (V = E + D);

Re = Custo do Capital Próprio

Ri = Custo do Capital de Terceiros

Tc = Alíquota do Imposto de Renda e Contribuição Social da Pessoa Jurídica

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Figura 32 – Custo médio ponderado do capital Fonte: Elaboração do autor

• Taxa de Desconto ou Taxa Média de Atratividade (TMA): Taxa de retorno

esperada na operação do equipamento ou empresa. Neste caso definido como a taxa do

capital próprio, variável para cada um dos cenários.

Observa-se que para a questão dos prazos para financiamentos de aquisição de

bens através de capital de terceiros, utilizar-se-á os maiores prazos disponíveis no

mercado, neste caso 84 meses, com6 meses de carência incluídos e, para a questão da

vida útil econômica do bem, utilizar-se-á o prazo máximo de 300 meses para estimação

dos fluxos de caixa.

Com estas informações e cálculos procura-se identificar até que momento é

vantajosa a manutenção de um bem na frota e, em que momento é mais viável sua

substituição. Damodaran (2007), afirma que por meio do VPL se pode definir o melhor

aproveitamento econômico de um bem e que a ferramenta mostra o valor presente de

uma série de fluxos financeiros futuros que indicam a viabilidade financeira de um

investimento, tendo, para todos os casos, três interpretações possíveis para o resultado,

sendo:

VPL > 0: investimento viável, pois o fluxo financeiro gerado, descontado à taxa

de juros solicitada pelo investidor (TMA) mostra-se positivo;

VPL = 0: investimento indiferente, pois o fluxo financeiro gerado iguala o

investimento efetuado. Em função do grau de incerteza das projeções do fluxo de caixa,

deve-se considerar, de maneira mais conservadora, esta possibilidade como não

adequada;

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VPL < 0: o fluxo de caixa gerado trazido a valor presente é inferior ao

investimento realizado tornando-o inviável financeiramente.

Quando consideradas as alternativas de investimento com VPL positivos, maior

será a atratividade daquele que apresentar valor superior aos demais.

O cálculo do VPL para um fluxo uniforme é dado pela seguinte fórmula:

VPL = ∑ FCt(1+i)t

nt=1 (3)

Onde:

FC = fluxo de caixa do período

t = período de tempo projetado

i = custo de capital

n = números de períodos ‘t’

Para o caso em questão, busca-se estimar a vida útil econômica de um Veículo

Comercial Pesado, respeitando sempre a melhor decisão econômica e considerando que

há necessidade de adequação para cada caso específico, com taxas de atratividade

diferentes e fluxos com características diferentes. As taxas de atratividade variam em

função do risco apresentado: quanto maior a idade do caminhão, menor será seu

potencial de geração de resultados, e, portanto, maior será a taxa de atratividade

solicitada.

b) Indicadores de Produtividade

Como vimos anteriormente, a evolução tecnológica que as indústrias vem

produzindo, estimuladas pela legislação, e pelos ganhos ambientais que passam a

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produzir, empurram uma mudança no processo de produção e melhoria na

produtividade. As organizações produzem veículos menos poluentes, mais produtivos e

com isto, chamam atenção a respeito da sustentabilidade. Prova disso são as centenas de

encontros e convenções realizadas por todo o mundo, onde companhias do segmento

(fornecedores, clientes e seus clientes, transportadoras etc.), em parceria, debatem

melhorias que em ultima instância se refletem na produtividade, assunto que discutimos

a seguir.

Pode-se entender produtividade, como sendo uma medida da eficiência de uma

pessoa, máquina, fábrica, sistema, etc., na conversão de entradas em saídas úteis.

Para Slack (2001), o uso do capital e da tecnologia, de tal forma que se estimulam

mutuamente, pode elevar os ganhos de produtividade na medida em que se eleva o nível

de automação de um sistema ou equipamento, inovando os processos de produção de

bens e serviços e melhorando os processos de tomada da decisão, uma vez que permite a

gestão otimizada da organização.

A produtividade é um determinante crítico da eficiência de custos e é calculada

dividindo a produção média por período pelo total de custos incorridos ou recursos

(capital, energia, material, pessoal) consumidos nesse período.

Quando se trata da manutenção de um Veículo Comercial Pesado, manter uma

produtividade alta é de fundamental importância para a lucratividade e para o fluxo de

abastecimento nacional. Fatores como paradas não programadas ou ineficiência de

combustível podem reduzir o tempo de atividade e prejudicar a confiança dos

stakeholders.

Segundo o relatório ‘Sondagem’ 2015, da Confederação Nacional do Transporte –

CNT, naquela ocasião havia cerca de 230 mil caminhões pesados com mais de 30 anos

em circulação no país.

Estes veículos possuem tecnologia ultrapassada, poluem mais, possuem limitações

de segurança limitadas como frenagem, detêm baixa disponibilidade e são caminhões

com baixa eficiência e produtividade, considerando-se a carga tonelada transportada x

consumo de combustível, comparativamente aos caminhões novos ou seminovos. O

relatório CNT afirma que estes veículos também contribuem para aumentar os riscos de

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acidentes e os congestionamentos porque tendem a apresentar defeitos mecânicos com

maior frequência.

O empenho neste tipo de análise deve ir além da consideração dos materiais

poluentes considerando a capacidade e produtividade dos veículos, mesmo sendo uma

avaliação subjetiva. Como se irá demonstrar adiante, o VCP a partir do 5º. ano de uso e

ao longo do tempo, tem sua produtividade reduzida devido aos custos operacionais com

manutenção – maiores ao longo do tempo e da quilometragem percorrida.

As desvantagens se tornam mais críticas quando se compara a produtividade e

disponibilidade dos caminhões mais deteriorados aos novos VCP, que são produzidos

pelas montadoras, com cada vez mais tecnologia para atender ao mercado e à legislação,

de forma que os VCP possam transportar mais produtos utilizando menos recursos

energéticos com menos problemas mecânicos, intensificando sua produtividade por

quilômetro percorrido.

Para embasar este estudo, foi utilizado um indicador de custo de manutenção do

VCP, desenvolvido em conjunto com o departamento responsável pelo controle e gestão

dos contratos de manutenção preventiva da Volvo do Brasil.

Por meio do histórico de quebras, trocas de componentes e durabilidade dos

componentes a empresa define parâmetros que apontam o momento ideal para que os

clientes realizem as trocas preventivas de peças nos VCP, por meio das revisões

periódicas, com datas predeterminadas. Abaixo, segue demonstrada a base de cálculo do

custo de manutenção do VCP que atua no segmento rodoviário, figura 33.

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Figura 33 – Custos de Manutenção do VCP – 10 anos

Fonte: elaboração do autor, a partir de dados da Volvo do Brasil (2018)

O custo médio anual ano de um VCP que roda 120.000 quilômetros por ano,

levando em consideração uma quilometragem média de 10.000 quilômetros por mês, na

configuração de um caminhão rodoviário com suas configurações físicas preparadas

para operar o transporte de grãos do centro-oeste do Brasil para algum porto na região

sul ou sudeste. Trata-se, tal roteiro, de apenas um exemplo de forma que se possa

configurar o cálculo apresentado na Figura 34, a seguir.

Figura 34 – Demonstração do custo anual de um VCP Fonte: elaboração do autor (2018)

Idade inicial Km inicial0 1.000

Uplifts:Transport type GraneleiroTransporte cycle Longa distânciaDriver factor Um turno - Um motorista fixoTransport company Empresa Transportadora Geographic area Todo BrasilRoad conditions RuimTopography Acidentada GCW FH/FM 61 - 78

Additional costs:Brake repair cost TamborTipo de Freio Motor VEB+ / EPGCRear axle combinati repair cost Standard ConfigurationGearbox repair cost AT2612F

Vehicle details:Vehicle type FH(4) 6X4T D13C Euro 5POC SeveroRear axle RTS2370AMileage/year 120000Contract duration 5Standard service interval SimSecondary air filter of engine, replace? NãoCharging regulator, replace? Não

Ano Distribuição Por ano Ano Acumulado1 1,61% 6.963,67 1 6.963,672 5,06% 21.840,61 2 28.804,293 7,85% 33.868,78 3 62.673,064 9,98% 43.048,16 4 105.721,225 11,45% 49.378,78 5 155.100,006 12,33% 53.177,14 6 208.277,147 12,62% 54.443,27 7 262.720,418 12,40% 53.493,67 8 316.214,089 13,02% 56.168,35 9 372.382,43 10 13,67% 58.976,77 10 431.359,20

Custo por km 0,36R$ Prestação linear 3.594,66R$

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Para os equipamentos de Transporte se considera a eficiência operacional ou

produtividade à relação de:

Ef(%) = �CRTCN� × 100, sendo:

Ef (%) = Eficiência Operacional

CRT = Carga Real Transportada (Tonelada)

CN = Carga Nominal (Tonelada)

DISPONIBILIDADE MECÂNICA – É o fator que afeta a produção da máquina

devido a problemas mecânicos do equipamento e paradas para manutenções preventivas

e corretivas, podendo ser calculado por:

DMec = Ht−Hd−HmHt

, sendo:

DMec= Disponibilidade Mecânica

Ht= Horas teóricas disponíveis em um ano

Hd = Horas paradas por defeito mecânico

Hm = Horas paradas para manutenção preventiva e corretiva

Segundo Lewis (1991), o reconhecimento do investimento de capital como

principal catalisador da produtividade, do crescimento econômico e da melhoria da

competitividade levam os tomadores de decisão a se perguntarem qual a melhor maneira

de encontrar o melhor retorno para tal capital investido.

As forças de mercado ajudam a buscar níveis lucrativos e produtivos para as

empresas e/ou o indivíduo, bem como os investimentos fazem uma contribuição líquida

para o Produto Nacional Bruto da nação.

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4 APLICAÇÃO DO MÉTODO

4.1 Considerações Iniciais

A natureza hipotética do conhecimento científico leva a crer que este deve ser

constantemente submetido a revisões críticas, com base na observação da lógica que

sustenta as teorias, na validade dos seus métodos e técnicas de investigação e na

evolução da tecnologia e do pensamento humano. (KÖCHE, 1999).

Porém, afirma o autor, é incontestável sua natureza histórica, uma vez que os

conhecimentos vão se sustentando, em grande parte, no aperfeiçoamento, na correção,

expansão ou até mesmo na substituição das ideias do passado. O que se observa no

conhecimento científico é uma retomada constante das teorias e problemas do passado e

do presente, por meio da crítica sistemática.

A partir das etapas de pesquisa que envolveram a relação entre pesquisador e

objeto do conhecimento, os conceitos, as teorias, os cálculos e as leis orientaram este

pesquisador na discussão em torno de qual seria – para atender ao problema apresentado

na introdução – o momento ótimo que se impõe como realidade, diante de algumas

variáveis, do encaminhamento de um VCP para a Logística Reversa.

Vimos que muitos VCP em circulação no país estão rodando com uma idade

média superior aos preceitos de boas práticas, no que se refere à segurança e aos

impactos ambientais negativos, assim também com custos financeiros elevados.

Vimos também que as leis brasileiras ainda não alcançam real situação do

transporte de cargas via terrestre, ou mesmo, que há, como agravante, o fato de que nem

mesmo as leis já existentes são respeitadas na íntegra.

Com relação à questão financeira, hipoteticamente, as empresas não se atém muito

demoradamente na análise do bem de uso, para sua tomada de decisões sobre a

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renovação da frota, assim como impacto de seus levantamentos financeiros ainda é

incipiente para a decisão de compra ou venda do bem, levando mais em conta a

oportunidade de negócio ou redução de perdas com a manutenção do bem.

Nos capítulos anteriores deste trabalho foi apresentado o referencial teórico

alusivo aos termos de Logística Reversa, focando em características de maior relevância

no segmento de transporte rodoviário executado por meio de VCP. O desafio do

segmento provém de fontes variáveis, como a pujança da economia, preço de

combustíveis, valor dos produtos transportados, principalmente no caso de commodities

perecíveis, tempo de rodagem vazio, e outros que naturalmente surgem de mudanças

nos ambientes de negócios.

Caldwell (1999) entrevistou várias empresas e mostrou como um pequeno

investimento no gerenciamento da Logística Reversa resulta em economias

substanciais. Ele cita um executivo da Sears que diz: “A Logística Reversa é a última

fronteira em redução de custos”. Assim, vemos que é importante não focar somente em

aumento de eficiência nos processos produtivos, mas também, em um gerenciamento

adequado em todos os níveis da cadeia produtiva, sendo este um segmento que recebe e

produz grande impacto de e para muitos outros setores da economia.

4.2 Fases da Proposta de Aplicação

A primeira fase consiste em um levantamento e análise de informação, incluindo

estudos anteriores, artigos científicos e recursos online. As análises apoiadas nestas

informações permitem definições e aplicação dos conceitos em empresas. Como

segunda atividade, foi selecionada uma empresa com características específicas

determinadas pelo pesquisador, que, para acompanhar o tema do trabalho, é do ramo

automotivo de produção de veículos comerciais pesados, e que tem, a ela agregada, uma

empresa que trata de remanufaturar componentes em diversas condições de reuso. Estes

requisitos foram necessários de forma que se pudesse estudar, na prática, os conceitos

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estudados no referencial teórico, e obter melhores resultados de análises, sugestões

futuras e adaptabilidade do estudo.

As atividades realizadas nesta fase foram:

• Caracterização da empresa – Coleta de dados e aquisição de informações, por

meio da análise da documentação das empresas e entrevista direta com representantes

da mesma, características do trabalho teórico-prático, identificando a situação atual da

empresa com seus processos e o nível de atuação no mercado. (ROTHER e SHOOK,

1998).

• Observações diretas do trabalho na linha de montagem.

Nesta segunda fase, foram realizadas pesquisas, entrevistas e visitas em empresas

de indústria e transporte de cargas, com o propósito de obter informações sobre os

dados básicos e possibilidade de programar operação de logística reversa e fluxos de

materiais, identificação dos pontos fracos, oportunidades de melhoria no processo e no

desempenho ambiental.

A análise dos dados desta coleta permitiu atingir ao objetivo formulado: “Efetuar

levantamento de critérios qualitativos e quantitativos mais adequados para Identificar o

momento ótimo para a realização da Logística Reversa em Veículos Comerciais

Pesados.

Nesta fase, identificou-se que para cada VPL encontrado há um fluxo que

contempla a aquisição do bem, por meio de financiamento, por se tratar de menor custo

de capital e seus respectivos fluxos descontados a taxas de atratividades maiores com o

passar do tempo, e foi também avaliando também os principais custos operacionais, as

receitas geradas e o valor do investimento realizado ao longo da vida do VCP.

Com estes dados foi possível estabelecer quais os resultados financeiros gerados

pelo VCP, indicando o momento ideal de retirada do mesmo de circulação, seja devido

à inviabilidade de manter a geração de receita alta, altos custos empresariais, ou outros

motivadores.

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4.2.1 Cálculo econômico-matemático (VPL) para apontar fim de vida do VCP

Todo proprietário de um bem de uso, no caso um caminhão, realiza cálculos

essenciais para verificar a capacidade do bem em produzir lucro (ou prejuízo).

Assim, esta pesquisa também pretende identificar e demonstrar isto, por meio de

cálculos matemático-financeiros utilizando o Valor Presente Líquido (VPL) que

contemplam o valor de aquisição, receitas geradas e custos operacionais e outras

despesas ocorridas ao longo da vida do caminhão – Figura 35, abaixo, isto para definir o

momento ideal para realizar a logística reversa de um VCP.

Figura 35 – Custos Operacionais do caminhão Fonte: elaboração do autor (2018)

De acordo com os dados e informações citadas anteriormente com relação a um

trajeto feito por transportadoras de cargas incluímos na tabela acima dados relacionados

à idade dos VCP, seus respectivos custos operacionais subtraindo o valor do custo total

das receitas geradas pelo VCP para identificarmos a capacidade do bem gerar riqueza e

por quanto tempo ele é economicamente viável. Necessário salientar que a partir do 15o

ano de vida, considerou-se que o proprietário é o motorista, portanto esta despesa esta

zerada.

Por meio de entrevistas com caminhoneiros, empresários do setor de transporte de

cargas e engenheiros de aplicação de produto vinculados a uma das empresas estudadas,

identificou-se que caminhões pesados com idade superior a 15 anos são conduzidos por

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motoristas autônomos, que executam eles mesmos o trabalho. Sem a necessidade de

pagar um motorista, identifica-se que isto reduz o custo operacional em relação a um

caminhão com menor tempo de rodagem, pois caminhões mais novos são utilizados por

transportadoras que pagam um salário fixo para o motorista contratado.

Além disto, o motorista/proprietário realiza seu trabalho de forma a maximizar a

rentabilidade do bem, para que este gere a menor custo possível, propiciando melhor

renda pessoal e garantindo maior tempo de vida útil.

Para a obtenção desse resultado utilizou-se o cálculo do VPL nos quadros a seguir

– Figuras 36, 37 e 38 – identificando o momento em que o VCP deixa de ser atrativo

economicamente e apontando o momento ideal por meio dos cálculos (planilhas nos

anexos) para definir o momento ideal para encaminhar este bem para a realização da

Logística Reversa.

Figura 36 – VPL do caminhão zero quilômetro Fonte: elaboração do autor

O cálculo considera que, como demonstra a figura, o custo com motorista abaixa a

partir dos 10 anos de uso do equipamento. O Custo de manutenção e pneus permanecem

até o final e o Veículo atinge seu auge econômico no mês 108 (9 anos).

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Figura 37 – VPL do caminhão com 1 ano de uso Fonte: elaboração do autor

Figura 38 – VPL do caminhão com 3 anos de utilização Fonte: elaboração do autor

Com base neste gráfico, o VCP pode atingir seu auge econômico

aproximadamente no 120º mês de sua vida útil. Porém, analisando o VCP no seu 3º ano

de uso, identifica-se que já a partir do 84º mês começa a ocorrer um declínio, como se

pode verificar na Figura 39, a seguir.

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Figura 39 – VPL do caminhão com 5 anos de utilização Fonte: elaboração do autor

Analisando o VPL no 5º ano de uso, temos que o VCP atinge seu auge econômico

aproximadamente no mês 60 de sua vida útil, porém neste momento o VCP está

gerando prejuízo econômico, mas consegue compensar esta perda devido ao valor do

bem de produção sendo consumido, conforme Figuras 40 e 41, a seguir.

Figura 40 – VPL do caminhão com 10 anos de utilização Fonte: elaboração do autor

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Figura 41 – Comparativo entre VPL Fonte: elaboração do autor

Como resultado, se chegou aos dados demonstrados na Figura 42, a seguir, que

indica que no momento em que o VPL zera, a vida útil econômica do caminhão é de

aproximadamente 168 meses, pouco mais de 14 anos.

Figura 42– Gráfico VPL Fonte: Elaboração do autor

Observa-se, ainda, que, o VPL é alto para um caminhão novo, tendendo a uma

queda por conta da depreciação imediata do bem ao sair da concessionária. Em seguida,

o VPL tende a voltar a crescer pelo ainda baixo custo operacional e alta performance do

veículo. Aproximadamente a partir do 5o. ano, seu custo operacional é maior, há mais

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incidência de paradas não planejadas, e seu desempenho energético começa a decair,

havendo então uma tendência de redução do VPL positivo. Isto também se dá porque o

valor do bem mantém uma certa estabilidade entre o 5o. e 10o ano, com baixo impacto

no resultado do VPL.

Por meio do histórico de quebras, trocas de componentes e durabilidade dos

componentes, a empresa define parâmetros que apontam o momento ideal para que os

clientes realizem as trocas preventivas de peças, nas revisões periódicas, com datas

predeterminadas. A figura 43, a seguir, traz o cálculo da média anual do custo de

manutenção do VCP que atua no segmento rodoviário e embasam o gráfico exposto na

figura a seguir, onde consta o somatório do custo de manutenção do bem ao longo de 10

anos. Pode-se notar que à medida em que o caminhão envelhece, o custo sobe,

considerando o input de preços de venda, pneus, recapagens, tempos estimado de

trabalho, salários, custo administrativo, combustível, lavagens, impostos, seguros,

despachantes etc. Com isto, o custo acumulado a partir do 8o ano é de aproximadamente

o valor de um novo caminhão e aos 10 anos já ultrapassou o referido valor.

Figura 43 – Custos de Manutenção do VCP – 10 anos Fonte: elaboração do autor

Por meio do custo operacional por tonelada transportada, demonstrado na Figura

44, demonstra-se que o VCP se torna menos eficiente ao longo dos anos, ou seja,

precisa de mais recursos financeiros para transportar a mesma carga. O custo

manutenção por km rodado prevê que o caminhão roda vazio 25%, em busca de

eventuais cargas de volta ou retorno sem carga. Assim, o fator de carga considerado é

de 75%.

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Este cálculo de eficiência é feito e utilizado pelas empresas de transporte

rodoviário, em aplicações reais, comparativo entre veículos de testes e de clientes, na

prática e por meio de softwares de simulação, para medir e acompanhar a geração de

lucro ou prejuízo que seu bem de produção esta realizando no decorrer de sua atividade

econômica.

Figura 44 – Custo $ x Tonelada Transportada Fonte: elaboração do autor

Neste trabalho, o estudo das motivações legais e ambientais, e das questões de

segurança e econômico-financeiras demonstrou que a Logística Reversa apresenta

vantagens para as empresas, de forma que contribui com a redução de custos e aumento

da produtividade, melhora significativa da segurança, em todos os níveis, além os

ganhos advindos com a redução de matéria-prima utilizada, da geração de resíduos.

Assim, identificar características de melhoria aplicáveis no processo é de fundamental

importância para todos os agentes.

Em alguns países da Europa, já se utiliza o conceito de Thirdparty Reverse

Logistics (Terceirização da Logística Reversa), com a finalidade de apoiar o processo de

Logística Reversados veículos em fim de vida sem a necessidade da administração das

montadoras de veículos.

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Desta maneira, estas empresas terceirizadas auxiliam as montadoras a manterem o

foco na produção, pois suas atribuições e responsabilidades legais são medidas na

capacidade de reaproveitamento das peças dos veículos em fim de vida

(MAHMOUDZADEH, MANSOUR, KARIMI, 2011).

Porém, levanta-se um limitador para esta pesquisa, ao se considerar que a revisão

da literatura produzida por Zhaoanjian e Yang (2014), concluiu, por meio de seus

achados empíricos realizados na China, que as empresas podem enfrentar algumas

barreiras para implementação de Logística Reversa. No estudo, duas empresas chinesas

e uma empresa alemã mostram que o gerenciamento logístico reverso enfrenta muitas

incertezas, e o problema comum é a falta de inspiração para alcançar soluções ‘verdes’.

Os autores citam também que os lucros não se refletem em um curto prazo,

fazendo com que a Logística Reversa automotiva não obtenha a atenção necessária das

empresas do segmento. Além disto, falhas de sistemas efetivos de informações

interrompem o fluxo favorável da Logística Reversa.

Porém, os dados demonstram que o VCP a partir do 5º. ano de uso e ao longo do

tempo, vai perdendo sua capacidade de gerar receita, sua produtividade começa a ser

reduzida devido aos custos operacionais com manutenção – maiores ao longo do tempo

e da quilometragem percorrida – e a eficiência energética referente ao consumo de

combustível se torna baixa devido ao desgaste pelo uso.

As desvantagens se tornam mais críticas quando se compara a produtividade e

disponibilidade dos caminhões mais deteriorados aos novos VCP, que são produzidos

pelas montadoras cada vez mais aperfeiçoados para atender ao mercado e à legislação,

com constantes melhorias tecnológicas para que os VCP possam transportar mais

produtos utilizando menos recursos energéticos com menos problemas mecânicos e

maior produtividade por quilômetro percorrido.

Como se está tratando, até este momento, apenas da parte econômica, há a

possibilidade teórica de um bem produzir resultado com um valor econômico mínimo.

Porém, bastará adicionar itens segurança e proteção ao meio ambiente para que se

apresente uma total inviabilidade dessa possibilidade.

O indicador obtido com base no conceito do VPL mostrou que o VCP utilizado

para transportar grãos do centro-oeste do Brasil para algum porto na região sul ou

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sudeste, tem uma vida útil de aproximadamente 14 anos, mas que, a partir do 10º ano

pode vir a gerar custos de manutenção para seu proprietário, porém não se

caracterizando ainda como prejuízo. Assim, considerando o momento ideal para a

realização da Logística Reversa de maneira eficiente do ponto de vista econômico, seria

desejável que após o período de 14 anos o VCP possa ser encaminhado ainda rodando,

em pleno funcionamento, para uma empresa especializada na desmontagem destes

veículos.

Após a coleta desses VCP em fim de vida, será possível a recicladora obter lucro

por meio do reaproveitamento das peças que podem ser recuperadas por meio de

reforma ou remanufatura até serem comercializadas para veículos que estão próximos

do fim de vida, com um custo acessível para o proprietário.

As demais peças e componentes destes VCP em fim de vida serão recicladas e o

resíduo gerado, agora muito menor, será devidamente encaminhado para a geração de

energia ou descartado de maneira correta.

Assim, vimos que na terceira fase da pesquisa, utilizou-se os dados e informações

coletadas, para a análise do momento ideal para a realização da Logística Reversa do

VCP, e também se demonstrou que já há empresas que vem se ocupando em produzir e

remanufaturar de forma mais sustentável para si, e para o meio ambiente.

Finalmente, a última fase se deu através da análise de todas as questões

envolvidas, como segurança, tecnologia, econômico-financeira e ambiental, permitindo-

se ainda sugerir as de estudo que não foram aqui detalhadas. Tornou-se importante

realizar um estudo sobre a segurança nas estradas e dos impactos ambientais, além dos

cálculos matemáticos. O intuito é estudar os pontos de vinculação presentes em seus

conceitos e ferramentas, de modo a determinar o melhor momento para realizar a

logística reversa de um VCP.

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5 CONCLUSÃO

Este trabalho teve o intuito de analisar conceitos e teorias ligados à Logística

Reversa e sua aplicação no setor automotivo de Veículo Comercial Pesado – VCP,

buscando contribuir com a base de conhecimento sobre a Logística Reversa e seus

reflexos na sociedade.

A partir do levantamento de critérios para a realização da Logística Reversa destes

veículos, buscou-se identificar o momento ótimo, e ainda apontar impactos ambientais e

sociais que a ausência da Logística Reversa acarreta em nossa sociedade e apontar

possíveis ações para minimizar os impactos ambientais e sociais gerados pelos VCP em

fim de vida. A preocupação dos governos e da sociedade com a limitação de recursos

naturais e com seus respectivos impactos ambientais gerados por veículos automotores

apontam a necessidade constante da renovação por meio de novas tecnologias e a

retirada de circulação de veículos menos eficientes e mais poluidores.

Para isto, utilizou-se os indicadores matemáticos (com base no conceito de VPL),

Produtividade, Emissão de Poluentes e Eficiência Energética, mais adequados para

idealizar aspectos da Logística Reversa dos Veículos Comerciais Pesados.

Com isto, foi possível indicar nesta pesquisa qual seria um possível momento

ideal, quando este bem de produção deveria ser retirado de circulação das rodovias e

encaminhado ainda rodando para uma empresa de reciclagem: deve ser anterior aos 14

anos de utilização.

Evidencia-se o envolvimento de VCP mais antigos em acidentes nas rodovias

brasileiras, pelas falhas de segurança e baixo nível de manutenção preventiva dos

caminhões mais rodados, o que gera prejuízos e prejudicam o desenvolvimento da

economia, considerando que os acidentes impedem ou bloqueiam rodovias por onde

circulam grande parte de tudo que é produzido no país. Além disto, tornando inválidas

pessoas economicamente, gerando custos incalculáveis para o país.

Também relevante é o fato de que os VCP mais antigos se tornam limitadores

para o desenvolvimento econômico, devido à sua baixa disponibilidade e produtividade

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nas rodovias, e que a quantidade elevada de emissão de poluentes devido às tecnologias

defasadas, gerando efeitos nocivos ao meio ambiente e às pessoas.

É necessário registrar que, devido à variabilidade de dados nas diversas fontes

pesquisadas, este estudo pode possuir distorções da realidade, considerada também a

volatilidade das taxas de juros, entre outros fatores que podem alterar as previsões, para

mais ou para menos.

O menor retorno econômico, corroborado pelos cálculos sobre produtividade e

custo da tonelada/km, e ainda os aspectos ambientais e de segurança indicam que a

economia relacionada ao bom gerenciamento da Logística Reversa, demonstra ter seu

ponto ótimo para a realização da Logística Reversa, tendo o VCP, no máximo 14 anos.

Porém, são dificultadores para a implantação da Logística Reversa, a cultura

vigente de utilização do bem até sua completa extenuação, a falta de uma política de

governo que monitore, fiscalize e controle a frota circulante nas rodovias. A ausência

de empresas recicladoras especializadas e a necessidade de um sistema integrado, entre

governo, indústria e consumidores tornam a Logística Reversa de VCP difícil a retirada

de circulação destes VCP antigos gerando alto custo para governos, sociedade e meio

ambiente.

Sugestões para Trabalhos Futuros

Após concluir a pesquisa e por meio da contribuição para identificar o momento

ideal para o fim do ciclo de vida econômico do VCP, o estudo pode ter continuidade e

ser aperfeiçoado, e para isso sugere-se realizar um estudo capaz de:

– Verificar a capacidade efetiva das empresas de reciclagem de veículos

automotores instaladas no Brasil de realizar a desmontagem dos veículos comerciais

pesados;

– Aprofundar os cálculos das perdas econômicas em produtividade no custo da

tonelada transportada para justificar o investimento de tempo e dinheiro na recuperação

de valor dos caminhões retirados de circulação;

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– Verificar os impactos ambientais mais detalhados gerados pelos VCP com mais

de 20 anos que prejudicam a qualidade do ar e geram transtornos ambientais

irreparáveis para o planeta;

– Qualificar e mensurar o custo total da LR x receita gerada para definir o ponto

de equilíbrio deste processo para transformação desta indústria em um empreendimento

rentável e atrativo do ponto de vista econômica.

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ANEXO A – Produção X Logística Reversa em um grupo empresarial

A.1 Empresa de primeiro nível – VOLVO

A indústria de primeiro nível aqui referida é a Volvo - em sueco AB Volvo, uma

empresa sueca, fundada em 1927, pelo engenheiro Gustav Larson e o economista Assar

Gabrielsson na cidade de Gotemburgo. Em latim, Volvo significa "eu rodo" ou, por

analogia, "eu guio".

Ao definir sua Missão e sua Visão, o Grupo Volvo sinaliza que as ações e os

negócios que envolvem a organização devem sempre estar alinhados a seus valores

fundamentais. Para a empresa, a geração de riqueza e a movimentação econômica só

deve ser feita a partir de princípios previstos como temas prioritários.

O código de Conduta Volvo preconiza que se busca zerar acidentes com seus

produtos, assim como expressa o compromisso de reduzir o impacto ambiental nas suas

operações e produtos, descritos na Figura 46, abaixo.

Figura 45 – Código de Conduta Volvo Fonte: Relatório de Sustentabilidade Volvo 2013/2014

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Este estudo demonstra como uma empresa de segundo nível, pode apoiar uma

grande indústria, em seus objetivos verdes, como produção sustentável, combater

mudanças negativas no meio ambiente e melhorar a segurança das pessoas, por meio de

ações internas, como por exemplo as descritas na Figura 47, abaixo.

Figura 46 – Temas prioritários da empresa

Fonte: Relatório de Sustentabilidade Volvo 2013/2014

O Grupo Volvo sabe que para atingir a liderança mundial em transporte

sustentável é essencial aprimorar continuamente a gestão da sua cadeia de valor. Nesse

sentido, busca realizar um trabalho conjunto com todos os parceiros que integram essa

corrente, visando o desenvolvimento de estratégias baseadas em uma visão integral do

ciclo de vida e dos impactos econômicos, sociais e ambientais dos seus produtos,

conforme Figura 48, a seguir.

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Figura 47– Conceito Total do Negócio

Fonte: Relatório de Sustentabilidade Volvo 2013/2014

Reciclagem e Remanufatura

O Grupo Volvo busca atuar de forma a minimizar os impactos causados por seus

produtos em todo o seu ciclo de vida – inclusive na etapa pós-uso. Assim, o Programa

Reman transforma peças usadas em outras equivalentes, com a mesma qualidade e

garantia de itens novos e por um custo menor (em comparação ao de uma peça nova).

Com isso, as mais variadas peças e componentes ganham um novo ciclo de vida,

sempre ajustados para o melhor desempenho e durabilidade.

O programa ajuda ainda a atenuar emissões atmosféricas poluentes, que como

visto nos capítulos anteriores, são perniciosas para pessoas e toda a vida no planeta. Há

também a questão do consumo de energia: a remanufatura de um motor, por exemplo,

economiza 80 % da energia necessária para produzir um novo, acarretando emissões de

dióxido de carbono e óxidos de nitrogênio significativamente menores.

Já o Programa Viking, criado em 1998, promove não apenas a compra e venda de

caminhões usados, como também a reciclagem dos caminhões sinistrados, cumprindo

um processo de Logística Reversa.

Sempre que o veículo pode ser reformado, ele recebe cabine e pneus novos, além

de ter todas as peças gastas substituídas. O caminhão volta para o mercado com o selo

de Seminovo Viking Plus, garantia de um ano ou 150 mil quilômetros, pacote de

lubrificação de um ano e todos os documentos regularizados. Esse processo de gestão

de reforma dos veículos, bem como das peças e componentes descartados, é realizado

pela DEX, empresa ligada ao Grupo Volvo.

Dessa forma, peças e componentes são enviados para empresas de reciclagem de

materiais homologadas pela Volvo. Por ser composto basicamente de metais, plásticos,

vidros e borrachas, um caminhão Volvo, segundo a empresa, apresenta um índice de

reciclabilidade de aproximadamente 90%. Componentes metálicos são transformados

em aço para construção civil; a sucata plástica é transformada em produtos como sacos

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de lixo e embalagens; e os demais resíduos, como óleo e lubrificantes, são enviados

para um processo de co-processamento e transformados em combustível para fornos de

empresas de cimento.

A.2 Empresa de segundo nível – DEX

A DEX Peças e Componentes para Veículos atua no mercado de peças renovadas

para caminhões e ônibus Volvo, e na reciclagem de materiais, fazendo a destinação

ambientalmente correta de resíduos.

Oficialmente a empresa se caracteriza pelo comércio a varejo de peças e

acessórios usados para veículos automotores e comércio varejista de lubrificantes.

Em seu contrato Social, a empresa, que tem como seus como suas controladoras a

VOLVO DEL URUGUAY SOCIEDAD ANÓNIMA e a VENDEBE TRADING S/A,

empresas uruguaias, que detém a totalidade do capital social desta sociedade anônima,

traça seus objetivos, descritos na Figura 49, a seguir:

Figura 48 – Objetivo social da empresa estudada Fonte: Contrato Social da DEX

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As peças DEX são comercializadas após um criterioso controle de qualidade, de

modo a preservar a segurança e sua perfeita aplicação, sendo esta mais uma maneira de

reduzir custos de manutenção e aumentar a rentabilidade.

A Dex classifica cada uma das peças com um dos três tipos:

PEÇAS RECICLADAS

Os itens reciclados são aqueles que foram desmontados de um veículo, ainda na

fábrica. Estes itens têm desgaste ou uma anomalia estética, mas ainda estão em

condições de funcionamento.

PEÇAS RENOVADAS

Itens renovados são uma alternativa de menor custo. São reconstruídos a partir de

peças retiradas de veículos usados, de acordo com as especificações originais da

montadora, em maquinário específico e por técnicos treinados.

PEÇAS EXCEDENTES

Essas peças representam a maior parte do inventário da empresa DEX e são

recebidas diretamente do centro de distribuição de peças VOLVO.

Quanto ao estado das peças, elas podem ser classificadas como:

Bom = O artigo apresenta notáveis sinais de uso, porém está em condições

funcionais.

Médio = Item tem sinais de operação médios, apresenta sinais de desgaste, mas

conserva a condição funcional e expectativa de vida média.

Melhor = Item tem sinais mínimos de uso, com baixo desgaste, boa condição

funcional e maior expectativa de vida útil.

A empresa segue o modelo Volvo nos princípios e processos produtivos, deste

seus respectivos relacionamentos com clientes, fornecedores e até a gestão de recursos

humanos.

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O modelo de negócio aplicado pela DEX busca gerar soluções logísticas,

ambientais para garantir e evitar que peças e produtos de serem descartados de maneira

incorreta no meio ambiente ou empresas utilize e comercialize peças genuínas Volvo

sem a devida reforma ou remanufatura comprometendo sua funcionalidade e podendo

gerar riscos para os motoristas e sociedade nas rodovias por onde circulam os

caminhões Volvo.

A DEX é responsável pelo recebimento de peças que estão sendo comercializadas

pelo departamento de pós-venda da Volvo. Diariamente a Volvo realiza uma análise no

inventário de peças de seu Centro de Distribuição localizado em São José dos Pinhais-

PR, PR e é apelidado dentro do grupo Volvo de “C3”. As peças identificadas como

peças sem giro são encaminhadas para a DEX pelos seguintes motivos:

– peça substituída por um novo modelo;

– não possui mais demanda ou que, por exigências legais, não se faz mais

necessária;

– peça com over stock e baixa movimentação;

– peça que não possui movimentação ou comercialização há mais de 24 meses.

Dentro da organização existe também uma parceria entre Volvo e DEX que

transformou perdas em receita. Toda peça rejeitada na linha de produção por motivo

estético, ou seja, um componente que não teve sua funcionalidade perdida em algum

eventual manuseio e foi avariado esteticamente, como um arranhão ou amassado é

diretamente encaminhado para a DEX que tem como responsabilidade receber, avaliar,

comercializar ou encaminhar este componente para reciclagem.

Anteriormente a Volvo anteriormente encaminhava estes componentes rejeitados

pelo departamento da qualidade para empresas de reciclagem, ou realizava o descarte

ambientalmente correto por meio do departamento de gestão de resíduos. À época, o

desperdício na linha de produção era grande e não gerava receita, porém, após a criação

desta parceria, o desperdício praticamente desapareceu e o valor pago pelos

componentes avariados minimizou o prejuízo e trouxe uma oportunidade de negócio

para a DEX, que comercializa peças com um custo relativamente menor do que uma

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peça genuína sem avarias. Assim, peças similares podem ser vendidas pela rede Volvo

com diferenças significativas entre seus preços.

A DEX não comercializa as peças diretamente para o mercado consumidor,

valendo-se da rede de concessionária Volvo.

Outra atividade de logística realizada na DEX se refere à gestão de peças

remanufaturadas, produzidas pelos mesmos fornecedores das peças genuínas. As

carcaças das peças inservíveis são enviadas pela rede de concessionárias Volvo por

meio da LR, e uma vez retornadas à DEX, esta realiza a inspeção de qualidade para

evidenciar quais carcaças estão aptas a serem encaminhadas para os respectivos

fornecedores e quais serão encaminhadas para as recicladoras responsáveis.

A seguir, exemplos da Lista de Peças Remanufaturadas comercializadas pela rede

de concessionárias Volvo em território nacional:

MOTOR

Cabeçote, Transmissão, Cárter do motor, Coletor de admissão e escape, Controle

automático de velocidade, Conversor catalítico e equipamento de emissões, Emissões

pós-tratamento, Filtros de ar e de óleo, Filtro de óleo, regulador de pressão dos gases de

escape, Silencioso e tubulação de escape, entre outros.

TRANSMISSÃO

Bloqueio comando do diferencial, caixa de mudanças automática, carcaça do eixo

traseiro, Eixo de transmissão, Embreagem mecânica, Resfriador de óleo, transmissão,

Juntas, Suporte da caixa de mudanças, Suporte de alavanca, seletor de marchas etc.

SUSPENSÃO

Inclui Amortecedores, Cubos e rolamentos, Equipamento de controle de

suspensão, Estabilizadores, Fole da suspensão, batente, Molas dianteiras e traseiras,

mola hidráulica, de gás, pneumática e foles, Montagem da roda reserva, Pneus, Câmaras

de ar, entre outros.

A parceria e a sintonia entre Volvo e DEX são elos que possibilitam a obtenção de

resultados financeiros atrativos por meio de uma gestão focada na Logística Reversa de

peças.

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Com isto, é possível identificar algumas alternativas viáveis para que uma

montadora de caminhões realize a Logística Reversa de seus produtos, de diversas

maneiras viabilizando uma gestão da cadeira produtiva, de forma a reduzir ao mínimo

suas perdas no processo, melhorar a eficiência do pós-venda por meio da

comercialização de peças com algum defeito estético.

São também aproveitados seus componentes e transformados em caminhões

seminovos com características de novo ou suas peças podem, ainda, ser reformadas e

vendidas como peças alternativas com desempenho similar às novas, com menor custo

de aquisição pelos proprietários de caminhões Volvo.

O exame contábil desta empresa demonstra que no período entre 2011 e 2016,

houve um crescimento financeiro de 160%. No ano de 2017, até o mês de agosto, o

crescimento do volume de vendas representando quase 5 milhões de reais, o que indica

um delta de 12% sobre o faturamento, em relação ao mesmo período do ano passado.

Neste modelo de negócio adotado por estas empresas, suas atividades

operacionais, como a montagem de caminhões, são fortalecidas pela redução das perdas

e as atividades associadas à Logística Reversa de peças e caminhões são administradas e

gerenciadas, à proteção do meio ambiente e à obtenção de resultados financeiros

positivos para os stakeholders.