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7ª edição Revista, ampliada e atualizada.

2014

Controle deConstitucionalidade

TEORIA E PRÁTICA

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Sobre o autor

• Juiz Federal da Seção Judiciária da Bahia. Doutor em Direito Constitucional pela PUC--SP.

• Mestre em Direito Econômico pela UFBA.

• Pós-graduado em Direito pela Universidade Lusíada (Porto/Portugal) e pela Fundação Faculdade de Direito da Bahia.

• Ex-Promotor de Justiça do Estado da Bahia (1992-1995).

• Ex-Procurador da República (1995-1999).

• Professor Adjunto IV (concursado) de Direito Constitucional e dos Cursos de Mestrado e Doutorado da Universidade Católica do Salvador (UCSAL).

• Professor Adjunto I de Direito Constitucional dos Cursos de Graduação, Mestrado e Doutorado em Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

• Professor-Visitante do Mestrado da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

• Professor-Conferencista de Direito Constitucional da Escola da Magistratura do Estado da Bahia (EMAB), da Fundação Escola Superior do Ministério Público da Bahia (FES-MIP), da Escola Judicial do TRT da 5ª Região (Bahia) e TRT da 19ª Região (Alagoas).

• Professor-Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Direito do Estado da Faculdade Baiana de Direito e do Curso Juspodivm. Professor de Direito Constitucional e Adminis-trativo dos Cursos Juspodivm. Professor e Coordenador do Núcleo de Direito do Estado da Faculdade Baiana de Direito.

• Membro da Associação Brasileira de Constitucionalistas Democratas (ABCD).

• Membro do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional (IBDC).

• Presidente fundador do Instituto de Direito Constitucional da Bahia (IDCB).

• Autor de diversos artigos publicados em obras coletivas e revistas especializadas e dos livros “Curso de Direito Constitucional” (Editora Juspodivm); “Controle Judicial das Omissões do Poder Público” (Editora Saraiva); “Controle de Constitucionalidade” (Edi-tora Juspodivm); “Direito Penal-parte geral” (Editora Juspodivm), “Curso de Direito Administrativo” (Editora Juspodivm) e “EC 45/2004: Comentários à Reforma do Poder Judiciário” (em co-autoria com Carlos Rátis) (Editora Juspodivm).

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Nota à sétima edição

Cumpre-me, com imensa alegria e satisfação, agradecer a grande acolhida que teve esta obra Controle de Constitucionalidade junto aos alunos, acadêmicos e profi ssionais do Direito, cujas edições anteriores lograram atingir o seu maior pro-pósito, motivado a suscitar no leitor o interesse pelo estudo e discussão do tema, sobretudo em razão da íntima vinculação que ele mantém com a compreensão teórica e importância prática da Constituição.

Reitero o objetivo do livro. Dispondo sobre a origem, os antecedentes históricos, a legitimidade democrática e os diversos modelos de Controle de Constitucionalidade, o trabalho apresentado preocupou-se em traçar uma evolução do Controle de Cons-titucionalidade no Brasil, sempre comparando-o com os sistemas jurídicos de outros Países, para, ao fi nal, defi nir o sistema vigente a partir da atual Constituição Federal brasileira, que reforçou signifi cativamente os modelos adotados, em especial am-pliando e fortalecendo o controle concentrado realizado pelo Supremo Tribunal Fe-deral, com a extensão da legitimidade ad causam e ampliação do objeto da ADI; com a previsão dos efeitos vinculantes das decisões; a adoção de técnicas de modulação dos efeitos da decisão; e criação de duas novas ações diretas, a saber, a ADPF e ADC.

A 7ª edição segue os passos das anteriores, sendo fi el ao propósito de contribuir com o acesso e o amplo conhecimento do leitor no estudo científi co, teórico e prático do Controle de Constitucionalidade no Brasil e no direito comparado.

O Livro foi revisto, atualizado e ampliado, sobretudo em razão das novas emen-das constitucionais e da recente edição da Lei nº 12.562, de 23 de dezembro de 2011, que regulamentou o inciso III do art. 36 da Constituição Federal, para dispor sobre o processo e julgamento da representação interventiva perante o Supremo Tribunal Federal, trazendo um amplo e seguro disciplinamento legal a essa importante ação de controle concentrado de constitucionalidade.

Ademais, o Livro foi ampliado em decorrência das novas decisões do Supremo Tribunal Federal sobre o vasto e riquíssimo tema ao qual se propôs discorrer.

Agradeço as sugestões apresentadas pelos amigos e alunos, esperando que esta edição obtenha a mesma receptividade e o sucesso que tiveram as edições anteriores.

Com o meu abraço cordial,Salvador, abril de 2014.

Dirley da Cunha Júnior

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CAPÍTULO IX

Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva

(representação interventiva)

1. ORIGEM, CONCEITO E FINALIDADE

A ação direta de inconstitucionalidade interventiva foi originada da Constituição Federal de 1934, com a designação de representação interventiva, confi ada ao Pro-curador-Geral da República e sujeita à competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal (art. 12, V, § 2º), nas hipóteses de ofensa, pelos Estados-membros, aos prin-cípios consagrados no art. 7º, I, alíneas a a h daquela Constituição (chamados pela doutrina de princípios constitucionais sensíveis)1.

Apesar de ter sido suprimida pela Carta de 1937, foi restabelecida pela Consti-tuição de 1946 e mantida nas Constituições que se seguiram. Hodiernamente, tem fundamento constitucional assentado no art. 36, inciso III, da Constituição de 1988, segundo o qual a decretação da intervenção da União nos Estados e no Distrito Fe-deral dependerá, na hipótese do art. 34, VII – isto é, para assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais sensíveis: forma republicana, o sistema re-presentativo e o regime democrático; os direitos da pessoa humana; a autonomia municipal; a prestação de contas da administração pública, direta e indireta; a apli-cação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde –, de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República.

Cumpre ressaltar que, nos termos do art. 34 da Constituição Federal de 1988, a intervenção da União nos Estados e no Distrito Federal é medida excepcional (pois a regra é a não intervenção), que somente pode ocorrer nas seguintes e taxativas

1. “Art 12 - A União não intervirá em negócios peculiares aos Estados, salvo: (...) V - para assegurar a observância dos princípios constitucionais especifi cados nas letras a a h , do art. 7º, nº I, e a execução das leis federais; (...) § 2º - Ocorrendo o primeiro caso do nº V, a intervenção só se efetuará depois que a Corte Suprema, mediante provocação do Procurador-Geral da República, tomar conhecimento da lei que a tenha decretado e lhe declarar a constitucionalidade.”

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hipóteses: (I) manter a integridade nacional; (II) re pelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra; (II I) pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; (I V) garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação; (V) reorganizar as fi nanças da unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fi xadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei; (VI ) prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; e, por fi m, (VI I) assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis.

A ação direta de inconstitucionalidade interventiva, conquanto fi gure nesse con-texto amplo e complexo da intervenção federal, apresenta-se como uma condição para a União intervir nos Estados e no Distrito Federal quando a fi nalidade da inter-venção for assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis, viola-dos por algum ato ou alguma omissão dos órgãos e autoridades daquelas unidades federadas.

Não obstante a denominação de representação, que vem desde a Constituição de 1934, não há dúvida de que se trata de verdadeira ação, concebida para instaurar a jurisdição constitucional concentrada do Supremo Tribunal Federal destinada à reso-lução de grave confl ito federativo entre as entidades da Federação (União x Estados--membros ou União x Distrito Federal). Assim, embora corresponda a uma ação de controle concentrado de constitucionalidade, a ação direta de inconstitucionalidade interventiva não inaugura um mecanismo abstrato de fi scalização da constituciona-lidade dos atos estaduais, pois não enseja o exame de lei ou ato normativo em tese. Cuida-se de um controle concreto, haja vista o seu objeto concernente à composição de um confl ito, embora não se reconduza a um controle incidental2.

Em suma, a Constituição Federal de 1988, no art. 34, inciso VII, autoriza a União, excepcionalmente, a intervir nos Estados-membros e no Distrito Federal, para assegurar a observância dos princípios constitucionais que elenca – que são doutrinariamente denominados, em face de sua extrema relevância, de princípios constitucionais sensíveis – que compreendem, reitere-se, a forma republicana, o sis-tema representativo e o regime democrático; os direitos da pessoa humana; a auto-nomia municipal; a prestação de contas da administração pública, direta e indireta; a aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreen-dida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

Entretanto, para que a intervenção federal se efetive, é necessário, previamente, que a ação direta interventiva (a Constituição de 1988 designa, no art. 36, III, de

2. Clèmerson Merlin Clève, A fi scalização abstrata da constitucionalidade no Direito brasileiro. 2ª ed. rev. atual. amp., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 125.

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representação), proposta pelo Procurador-Geral da República, seja julgada proce-dente pelo Supremo Tribunal Federal.

Nesse contexto, ela tem por fi nalidade a resolução, num caso concreto, de um confl ito de natureza federativa, envolvendo, de um lado, a União Federal e, de ou-tro, os Estados-membros ou o Distrito Federal, que pode culminar na decretação da intervenção daquela pessoa política central nestes entes políticos regionais. Isso signifi ca afi rmar que tal ação direta não se presta apenas à declaração, quer abstra-ta, quer concreta, de inconstitucionalidade de um ato ou omissão estadual. A sua principal fi nalidade é sancionar politicamente o Estado ou o Distrito Federal, com a intervenção federal e a consequente supressão temporária de sua autonomia política, em razão da violação dos chamados princípios constitucionais sensíveis.

Sendo assim, não se tem aqui um processo objetivo (próprio das ações diretas de inconstitucionalidade e constitucionalidade), mas verdadeiro processo subjetivo, por envolver um litígio ou um confl ito de interesses entre as unidades políticas da Federação. Não se visa declarar, repita-se, a inconstitucionalidade do ato estadual violador dos chamados princípios constitucionais sensíveis. Uma vez julgada pro-cedente a ação interventiva, “nem por isso estará nulifi cado o ato estadual. Logo, a consequência da decisão não é a nulidade do ato inquinado, mas a decretação da intervenção federal no Estado”.3

Não se pode negar, contudo, que necessariamente deve haver uma declaração de inconstitucionalidade do comportamento (comissivo ou omissivo) do Estado, como único meio, aliás, de reconhecer a não observância, por este, dos princípios consti-tucionais sensíveis.

Mas é preciso exaltar que, na ação direta interventiva, a fi nalidade é a interven-ção federal e esta somente pode ocorrer, em caso de procedência da ação, com o decreto do Presidente da República, que (a) especifi cará a amplitude, o prazo e as condições de execução da medida interventiva e que, se couber, nomeará o inter-ventor; ou (b) limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa me-dida bastar ao restabelecimento da normalidade. Na primeira hipótese, o decreto de intervenção será submetido à apreciação do Congresso Nacional, no prazo de vinte e quatro horas; na segunda hipótese, contudo, a Constituição dispensa a apreciação pelo Congresso Nacional.

Ademais da ação direta interventiva (representação), de âmbito federal e de competência do Supremo Tribunal Federal, cuja a fi nalidade é a intervenção da União nos Estados e no Distrito Federal, para assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis indicados na Constituição Federal no art. 34, VII, cum-pre anotar que a Constituição de 1988 também prevê uma ação direta interventiva

3. Clèmerson Merlin Clève, op. cit., p. 130.

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(representação) de âmbito estadual, de competência do Tribunal de Justiça do Esta-do, cujo o objetivo é a intervenção dos Estados-membros em seus Municípios, para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual.

Recentemente foi publicada a Lei nº 12.562, de 23 de dezembro de 2011, que regulamentou o inciso III do art. 36 da Constituição Federal, para dispor sobre o processo e julgamento da representação interventiva perante o Supremo Tribunal Federal. Anote-se que, antes desta Lei, a ação interventiva vinha sendo disciplinada pela Lei nº 4.337, de 1º de junho de 1964, e pela Lei nº 8.038, de 28 de maio de 1990 (arts. 19 a 22).

Já a ação direta interventiva (representação) de âmbito estadual é disciplinada pela Lei nº 5.778, de 17 de maio de 1972.

2. LEGITIMIDADE AD CAUSAM

Desde a origem até a vigente Constituição, a legitimidade para propositura da ação interventiva (representação interventiva) perante o Supremo Tribunal Federal constitui monopólio do Procurador-Geral da República, que decide com larga discri-cionariedade acerca do ajuizamento da ação.

Para nós, o Procurador-Geral da República, na ação direta interventiva, atua como substituto processual, agindo em nome próprio, mas na defesa de toda a cole-tividade4.

A ação direta interventiva é proposta contra o Estado ou o Distrito Federal res-ponsável pela violação a um dos princípios constitucionais sensíveis previstos no art. 34, VII, da Constituição Federal, recaindo sobre ele a legitimidade passiva da ação, a despeito da Lei 12.562/2011 referir-se a órgãos ou autoridades responsáveis pela prática do ato questionado. A representação judicial da unidade federada acionada será exercida pela respectiva Procuradoria-Geral, nos termos do art. 132 da Consti-tuição Federal. Entretanto, quando o pedido de intervenção federal compreender o Poder Legislativo do Estado ou do Distrito Federal, a representação judicial, relati-vamente a este Poder, caberá ao Procurador do órgão.

Tratando-se de ação interventiva (representação interventiva) perante o Tribunal de Justiça, a legitimidade para sua propositura constitui monopólio do Procurador--Geral de Justiça do Estado (chefe do Ministério Público estadual), que também decide com larga discricionariedade acerca do ajuizamento da ação. Apesar de a

4. Nesse sentido, Alfredo Buzaid, Da ação direta de declaração de inconstitucionalidade no direito brasileiro, p. 107. Contra, entendendo que o Procurador-Geral da República age como representante judicial da União, Gil-mar Ferreira Mendes, Controle de Constitucionalidade, op. cit., p. 218 e Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, Teoria das Constituições rígidas, op. cit., p. 192.

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Constituição de 1988 não se referir ao legitimado da representação interventiva esta-dual, a Lei nº 5.778/72, que regulamenta a referida ação, expressamente menciona, no seu art. 2º, o chefe do Ministério Público estadual. Ademais, por simetria, se a propositura da ação interventiva no Supremo Tribunal Federal constitui monopólio do Procurador-Geral da República (chefe do Ministério Público da União), a propo-situra da ação interventiva perante o Tribunal de Justiça estadual constitui monopó-lio do Procurador-Geral de Justiça do Estado (chefe do Ministério Público estadual). A legitimidade passiva recai sobre o Município que violou, por suas autoridades e órgãos, os princípios constitucionais sensíveis indicados na Constituição do Estado.

3. COMPETÊNCIA

Tratando-se de intervenção federal, ou seja, de intervenção da União no Estado ou no Distrito Federal, a competência para processar e julgar a ação direta de incons-titucionalidade interventiva é exclusiva do Supremo Tribunal Federal, nos exatos termos do art. 36, III, da Constituição Federal5.

Todavia, cuidando-se de intervenção do Estado em seus Municípios, a com-petência para julgar a ação direta interventiva, proposta pelo Procurador-Geral de Justiça do Estado contra o Município, para assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis indicados na Constituição do Estado, será exclusivamente do Tribunal de Justiça, nos termos do art. 35, IV, da Constituição Federal6.

4. PARÂMETRO E OBJETO

Como já se afi rmou, a ação direta interventiva é proposta em desfavor da unidade federada com o fi m de assegurar a observância dos chamados princípios constitucio-nais sensíveis, violados em face da ação ou omissão daquelas entidades políticas.

Assim, a ação interventiva tem por parâmetro os princípios constitucionais sen-síveis. Tratando-se de ação direta destinada a viabilizar a intervenção federal nos Estados ou no Distrito Federal, esses princípios sensíveis estão previstos no art. 34, inciso VII, da Constituição Federal (a forma republicana, o sistema representativo e o regime democrático; os direitos da pessoa humana; a autonomia municipal; a pres-tação de contas da administração pública, direta e indireta; a aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de

5. “Art. 36. A decretação da intervenção dependerá: (...) III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal”.

6. “Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, (...) exceto quando: (...) IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.”

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transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde); cuidando-se, porém, de ação direta visando a intervenção do Es-tado em seus Municípios, os princípios sensíveis são aqueles indicados na respectiva Constituição Estadual.

Constitui, por outro lado, objeto da ação direta interventiva toda ação ou omis-são, normativa ou não-normativa, administrativa ou concreta, jurídica ou material, que viola os princípios constitucionais sensíveis7. Nesse sentido, a Lei 12.562/2011 prevê, como objeto da ação interventiva, o ato normativo, o ato administrativo, o ato concreto ou a omissão, desde que imputados a órgãos ou autoridades do Estado ou do Distrito Federal8.

Em face da excepcionalidade e gravidade da intervenção federal, o Supremo Tribunal Federal consolidou a sua jurisprudência no sentido de julgar procedente a representação interventiva somente nos casos de manifesto propósito das autorida-des do Estado e do Distrito Federal violarem os princípios constitucionais sensíveis e da permanência dos graves fatos que ensejaram a propositura da ação. Assim, para a Corte, “enquanto medida extrema e excepcional, tendente a repor estado de coisas desestruturado por atos atentatórios à ordem defi nida por princípios constitucionais de extrema relevância, não se decreta intervenção federal quando tal ordem já tenha sido restabelecida por providências efi cazes das autoridades competentes”9.

7. Vide IF nº 114-5/MT, Rel. Min. Néri da Silveira, DJU de 27.09.96: “Representação do Procurador-Geral da República pleiteando intervenção federal no Estado de Mato Grosso, para assegurar a observância dos “direi-tos da pessoa humana”, em face de fato criminoso praticado com extrema crueldade a indicar a inexistência de “condição mínima”, no Estado, “para assegurar o respeito ao primordial direito da pessoa humana, que é o direito à vida”. (...) Representação que merece conhecida, por seu fundamento: alegação de inobservância pelo Estado-Membro do princípio constitucional sensível previsto no art. 34, VII, alínea b, da Constituição de 1988, quanto aos “direitos da pessoa humana”. (...) Hipótese em que estão em causa “direitos da pessoa hu-mana”, em sua compreensão mais ampla, revelando-se impotentes as autoridades policiais locais para manter a segurança de três presos que acabaram subtraídos de sua proteção, por populares revoltados pelo crime que lhes era imputado, sendo mortos com requintes de crueldade. Intervenção federal e restrição à autonomia do Estado-Membro. Princípio federativo. Excepcionalidade da medida interventiva. No caso concreto, o Estado de Mato Grosso, segundo as informações, está procedendo à apuração do crime. Instaurou-se, de imediato, in-quérito policial, cujos autos foram encaminhados à autoridade judiciária estadual competente que os devolveu, a pedido do delegado de polícia, para o prosseguimento das diligências e averiguações. Embora a extrema gra-vidade dos fatos e o repúdio que sempre merecem atos de violência e crueldade, não se trata, porém, de situação concreta que, por si só, possa confi gurar causa bastante a decretar-se intervenção federal no Estado, tendo em conta, também, as providências já adotadas pelas autoridades locais para a apuração do ilícito. Hipótese em que não é, por igual, de determinar-se intervenha a polícia Federal, na apuração dos fatos, em substituição à polícia civil de mato grosso. Autonomia do Estado-Membro na organização dos serviços de Justiça e segurança, de sua competência (CF, arts. 25, § 1º; 125 e 144, § 4º)”. Vide, também, o RMS 14.691, Rel. Min. Victor Nunes Leal, DJU de 16.06.65.

8. De fato, estabelece o seu art. 3o, que a petição inicial deverá conter, entre outros requisitos, a indicação do ato normativo, do ato administrativo, do ato concreto ou da omissão questionados.

9. STF, Pleno, IF 5179/DF, Rel. Min. Cesar Peluso (Presidente), julgado em 30/06/2010, DJe de 08/10/2010: INTERVENÇÃO FEDERAL. Representação do Procurador-Geral da República. Distrito Federal. Alegação da existência de largo esquema de corrupção. Envolvimento do ex-governador, deputados distritais e suplentes. Comprometimento das funções governamentais no âmbito dos Poderes Executivo e Legislativo. Fatos graves objeto de inquérito em curso no Superior Tribunal de Justiça. Ofensa aos princípios inscritos no art. 34, inc. VII, "a", da CF. Adoção, porém, pelas autoridades competentes, de providências legais efi cazes para debelar

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Assim, ainda que efetivamente ocorra a violação a algum dos princípios consti-tucionais sensíveis, é fundamental, para a procedência da representação interventiva, que os fatos confi guradores da lesão permaneçam e subsistam quando do julgamento da ação, em razão da demonstrada omissão das autoridades estaduais ou da inefi cá-cia das medidas politico-jurídicas eventualmente adotadas. Quer dizer, dissolvido a quadro revelador da grave crise que a representação interventiva estaria preordenada a remediar, perde todo o sentido a intervenção.

5. PROCEDIMENTO. A LEI Nº 12.562/2011

O procedimento da ação direta de inconstitucionalidade interventiva, quando se tratar de intervenção federal, está disciplinado na Lei nº 12.562, de 23 de dezembro de 2011. A ela também se aplica a Lei nº 8.038, de 28 de maio de 1990 (arts. 19 a 22) e o Regimento Interno do STF (arts. 350 a 354). Cumpre advertir que não mais se aplica a esta ação a Lei nº 4.337, de 1º de junho de 1964.

A petição inicial da representação, que será proposta pelo Procurador-Geral da República, deverá conter: (I) a indicação do princípio constitucional sensível que se considera violado; (II) a indicação do ato normativo, do ato administrativo, do ato concreto ou da omissão questionados; (III) a prova da violação do princípio consti-tucional sensível; e (IV) o pedido, com suas especifi cações.

É imperioso esclarecer que a petição inicial da representação deve expor os fun-damentos de cada pedido, apresentando a motivação sufi ciente à procedência e à necessidade e proporcionalidade da intervenção. Se o pedido de intervenção federal compreender mais de um Poder do Estado-membro ou do Distrito Federal, deve o Procurador-Geral da República fundamentar o pedido em relação a cada Poder, es-pecifi cando, relativamente a cada um, a necessidade da intervenção, bem assim a sua amplitude, prazo e medidas que entender relevantes e indispensáveis.

A petição inicial será apresentada em 2 (duas) vias, devendo conter, se for o caso, cópia do ato questionado e dos documentos necessários para comprovar a impugna-ção (Lei nº 12.562/11, art. 3º).

A petição inicial será indeferida liminarmente pelo relator, quando não for o caso de representação interventiva, faltar algum dos seus requisitos acima indicados ou for inepta. Desta decisão cabe agravo para o plenário, no prazo de 5 (cinco) dias (Lei nº 12.562/11, art. 4º).

a crise institucional. Situação histórica consequentemente superada à data do julgamento. Desnecessidade re-conhecida à intervenção, enquanto medida extrema e excepcional. Pedido julgado improcedente. Precedentes. Enquanto medida extrema e excepcional, tendente a repor estado de coisas desestruturado por atos atentatórios à ordem defi nida por princípios constitucionais de extrema relevância, não se decreta intervenção federal quan-do tal ordem já tenha sido restabelecida por providências efi cazes das autoridades competentes.

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Proposta a ação no Supremo Tribunal Federal, e recebida a inicial, o relator, que será sempre o Presidente do Tribunal (conforme RISTF, art. 352)10, tomará as provi-dências ofi ciais que lhe parecerem adequadas para remover, administrativamente, a causa do pedido (RISTF, art. 351). Isto é, se recebida a inicial, o relator deverá tentar dirimir o confl ito que dá causa ao pedido, utilizando-se dos meios que julgar neces-sários, na forma do regimento interno do Tribunal (Lei nº 12.562/11, art. 6º, § 2º).

Após, o relator solicitará as informações às autoridades responsáveis pela prática do ato questionado ou pela omissão lesiva a princípio constitucional sensível, que as prestarão em até 10 (dez) dias. Decorrido o prazo para prestação das informações, serão ouvidos, sucessivamente, o Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da República, que deverão manifestar-se, cada qual, no prazo de 10 (dez) dias (Lei nº 12.562/11, art. 6º). Ao Advogado-Geral da União cumpre o papel de defensor ou curador da presunção de constitucionalidade do ato questionado, não de represen-tante judicial da União. E ao Procurador-Geral da República foi reservada a função, nesta fase processual, de custos constitutionis, podendo, nesta condição, se manifes-tar livremente segundo suas convicções, inclusive, contra a própria ação que propôs.

Ao fi m da manifestação do Procurador-Geral da República, poderá o relator, se entender necessário, requisitar informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que elabore laudo sobre a questão ou, ainda, fi xar data para decla-rações, em audiência pública, de pessoas com experiência e autoridade na matéria. Ademais, poderão ser autorizadas, a critério do relator, a manifestação e a juntada de documentos por parte de interessados no processo (Lei nº 12.562/11, art. 7º).

Vencidos todos os prazos e, se for o caso, realizadas as diligências acima, o relator lançará o relatório, com cópia para todos os Ministros, e pedirá dia para julgamento da ação (Lei nº 12.562/11, art. 8º). Em que pese a omissão da Lei nº 12.562/11, na sessão de julgamento, fi ndo o relatório, poderão usar da palavra, na forma do Regimento Interno do Tribunal, o Procurador-Geral da República, susten-tando a arguição, e o Procurador dos órgãos estatuais interessados, defendendo a constitucionalidade do ato impugnado.

Tratando-se de intervenção do Estado em seus Municípios, o procedimento da ação direta de inconstitucionalidade interventiva está disciplinado na Lei nº 5.778, de 16 de maio de 1972, que, por sua vez, determina a aplicação da Lei 4.337/64 (que regulava a representação interventiva de competência do STF). A Lei 5.778/72, ademais, permite ao relator, a requerimento do chefe do Ministério Público estadual, suspender liminarmente o ato impugnado.

10. Muito embora o Regimento Interno do STF vincule a relatoria da representação interventiva ao Presidente do Supremo Tribunal Federal, a Lei nº 12.562/11 não faz essa vinculação, sugerindo que o relator da ação pode ser qualquer Ministro da Corte. A Lei nº 12.562/11 apenas estabelece que, caso seja julgada procedente a ação, cumpre ao Presidente do Supremo Tribunal Federal requisitar ao Presidente da República a decretação da intervenção federal ou a suspenção da execução do ato impugnado, conforme o caso (art. 11).

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6. DA MEDIDA LIMINAR

A Lei nº 12.562/11 inovou em relação à Lei nº 4.337/64, para prever a possi-bilidade de medida liminar, antes inexistente, na ação direta interventiva perante o Supremo Tribunal Federal.

Assim, na representação interventiva, poderá o Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, deferir o pedido de medida liminar, quando formulado e presentes os seus requisitos, que poderá consistir na determina-ção de que se suspenda o andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais ou administrativas ou de qualquer outra medida que apresente relação com a matéria objeto da ação (Lei nº 12.562/11, art. 5º). São requisitos da medida liminar o perigo da demora (periculum in mora) e a plausibilidade jurídica dos fundamentos da ação (fumus boni iuris).

De observar-se que a competência para decidir sobre o pedido de medida liminar não é do relator da ação, mas do plenário do Tribunal. No entanto, antes de subme-ter o pedido da medida liminar ao exame do plenário da Corte, o relator poderá, se entender conveniente, ouvir os órgãos ou autoridades responsáveis pelo ato questio-nado, bem como o Advogado-Geral da União ou o Procurador-Geral da República, no prazo comum de 5 (cinco) dias.

7. DECISÃO E EFEITOS

A decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a representação interventiva so-mente será tomada se presentes na sessão pelo menos 8 (oito) Ministros (Lei nº 12.562/11, art. 9º).

Todavia, cumprido o quórum mínimo de presença para a realização do julgamen-to (oito Ministros), a decisão pela procedência ou improcedência do pedido formula-do na representação interventiva dependerá da manifestação, num ou noutro sentido, de pelo menos 6 (seis) Ministros (Lei nº 12.562/11, art. 10º). Por isso mesmo, estan-do ausentes Ministros em número que possa infl uir na decisão sobre a representação interventiva, o julgamento será suspenso, a fi m de se aguardar o comparecimento dos Ministros ausentes, até que se atinja o número necessário para a prolação da decisão (seis Ministros).

Julgada a ação, far-se-á a comunicação às autoridades ou aos órgãos responsáveis pela prática dos atos questionados. Porém, se a decisão fi nal for pela procedência do pedido formulado na representação interventiva, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, após publicado o acórdão, levará a decisão ao conhecimento do Presidente da República para, no prazo improrrogável de até 15 (quinze) dias, dar cumprimento aos §§ 1o e 3o do art. 36 da Constituição Federal (Lei nº 12.562/11, art. 11º).

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DIRLEY DA CUNHA JÚNIOR

Dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado a partir do trânsito em julgado da de-cisão, a parte dispositiva será publicada em seção especial do Diário da Justiça e do Diário Ofi cial da União.

A decisão que julgar procedente ou improcedente o pedido da representação in-terventiva é irrecorrível, sendo insuscetível de impugnação por ação rescisória (Lei nº 12.562/11, art. 12º). Porém, é possível a interposição de embargos de declaração, nos casos de obscuridade, contradição ou omissão no julgado.

Em suma, julgada procedente a ação interventiva, o Presidente do Supremo Tri-bunal Federal imediatamente comunicará a decisão às autoridades ou aos órgãos responsáveis pela prática dos atos questionados e requisitará a intervenção ao Pre-sidente da República.

Ciente da decisão do Supremo Tribunal, o Presidente da República deverá, sob pena de crime de responsabilidade (conforme a Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, art. 12, nº 311), decretar a intervenção federal no Estado ou no Distrito Federal, exatamente para assegurar a observância, por parte dessas unidades federadas, do princípio sensível afrontado. Nesse caso, o decreto do Presidente da República es-pecifi cará a amplitude, o prazo e as condições de execução da medida interventiva e, se couber, nomeará o interventor. A intervenção pode incidir sobre qualquer dos Poderes do Estado e do Distrito Federal, embora seja mais comum recair sobre o Poder Executivo.

Decretada a intervenção federal, o decreto do Presidente da República será sub-metido à apreciação do Congresso Nacional, no prazo de vinte e quatro horas. Se o Congresso Nacional não estiver funcionando, far-se-á sua convocação extraordiná-ria, no mesmo prazo de vinte e quatro horas. O Congresso Nacional pode aprovar a intervenção federal ou imediatamente suspendê-la, nos termos do art. 49, IV, da Constituição12.

Todavia, prevê a Constituição que o decreto do Presidente da República limi-tar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao resta-belecimento da normalidade (CF/88, § 3o do art. 36), não havendo, no caso, razão para a intervenção. Por esse motivo, o decreto do Presidente da República não será submetido à apreciação do Congresso Nacional.

11. “Art. 12. São crimes contra o cumprimento das decisões judiciárias: (...) 3 – deixar de atender a requisição de intervenção federal do Supremo Tribunal Federal ou do Tribunal Superior Eleitoral.”

12. “Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: (...) IV - aprovar o estado de defesa e a inter-venção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;”. Grifos nossos.