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Instituto Homeopático Jacqueline Peker Jane Maria Leite da Rocha Controle pela MTC dos sinais clínicos e recidiva de urolitíase em um cão da raça Schnauzer: estudo de caso Campinas 2012

Controle pela MTC dos sinais clínicos e recidiva de ... · Esse trabalho é o relato de um caso clínico, em cão com vários episódios de cistite, disúria e estrangúria devido

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Instituto Homeopático Jacqueline Peker

Jane Maria Leite da Rocha

Controle pela MTC dos sinais clínicos e

recidiva de urolitíase em um cão da raça

Schnauzer: estudo de caso

Campinas

2012

Instituto Homeopático Jacqueline Peker

Controle pela MTC dos sinais clínicos e recidiva

de urolitíase em um cão da raça Schnauzer:

estudo de caso

Jane Maria Leite da Rocha

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Acupuntura Veterinária no Instituto Jacqueline Peker para obtenção do título de Especialização em Acupuntura Veterinária. Orientador: Profª Dra. Márcia Rizzo Scognamillo

Campinas

2012

Controle pela MTC dos sinais clínicos e

recidiva de urolitíase em um cão da raça

Schnauzer: estudo de caso

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Acupuntura Veterinária no Instituto Jacqueline Peker para obtenção do título de Especialização em Acupuntura Veterinária. Orientação; Profª Dra. Márcia Rizzo Scognamillo

Campinas

2012

Jane Maria Leite da Rocha

Controle pela MTC dos sinais clínicos e recidiva de urolitíase em um cão

da raça Schnauzer: estudo de caso

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Acupuntura Veterinária no Instituto Jacqueline Peker para obtenção do título de Especialização em Acupuntura Veterinária. Orientador: Profª Dra. Márcia Rizzo Scognamillo

Acupuntura Veterinária

Data da Apresentação: / /

Resultado : --------------------------------------------------------------

Banca Examinadora:

assinatura------------------

Dedicatória

Ao Lucas (em memória) para sempre presente e fundamental em meu

caminho.

Ao Otávio, meu maior orgulho.

Ao Atlas (em memória), Pastor Alemão maravilhoso, pioneiro das

minhas agulhadas.

Ao Boomer, cãozinho nobre e paciente que suportou e colaborou com

toda a paciência do mundo as sessões.

Aos animais, fontes de inspiração e vontade.

Agradecimentos

À Prof.ª Dr.ª Márcia Valéria, querida orientadora pela amizade, incentivo e solidariedade

durante a confecção desse trabalho.

Ao Dr. Sebastião G. Prata, diretor do instituto Homeopático Jacqueline Peker (IHJP), pela

compreensão e dilatação do prazo de entrega desse trabalho.

Aos professores do curso de Acupuntura do IHJP, pelos valiosos conhecimentos transmitidos

durante o curso de Acupuntura.

A minha irmã e amiga Ana Maria pela cuidadosa leitura e correções.

Ao Sr. Helio e Sra. Ieda Santos, proprietários dedicados do Boomer pelo apoio e crédito ao

tratamento proposto.

Aos meus pacientes, caninos e felinos e aos seus proprietários por aceitarem e colaborarem

com meu aprendizado.

A Cecília, amiga de muitos anos, pelo companheirismo e carinho nos momentos difíceis.

Aos colegas do curso de Acupuntura do Instituto Homeopático Jacqueline Peker pelos bons

momentos passados juntos.

A secretária Renata e demais funcionários do IHJP por toda colaboração prestada durante

nossa passagem no Instituto.

Há momentos para tudo. O que importa é não desistir nunca. Acreditar sempre

Resumo

A Medicina Tradicional Chinesa, que encontra na Acupuntura e na Fitoterapia um de seus

recursos, tem sido cada vez mais praticada como terapia complementar ou como terapia

única. Esse trabalho é o relato de um caso clínico, em cão com vários episódios de cistite,

disúria e estrangúria devido à formação intermitente de cálculos vesicais que foi tratado pela

MTC como adjuvante na manutenção da qualidade de vida do animal e controle das recidivas

do quadro.

Summary

The Traditional Chinese Medicine (TCM) finds in techniques such as acupuncture and herbal

medicine one of its resources that has been increasingly practiced as complementary or as

single therapies. This work is a report of a clinical case in a dog with multiple episodes of

cystitis, dysuria and strangury due to the intermittent formation of bladder stones treated by

TCM as an adjunct to maintain the quality of life of the animal and control of relapses.

1

Sumário

1. Introdução

2. Objetivo

3.Metodologia

4. Revisão de Literatura

4.1. Etiologia e patogenia da urolitíase em cães

4.2.Classificação das urolitíases

4.3. Aspectos clínicos, diagnóstico e tratamento das urolitíses vesicais

4.4. Teorias aplicadas a Medicina Tradicional Chinesa (MTC)

4.4.1. Yin e Yang

4.4.2. Oito Princípios

4.4.3. Cinco Movimentos

4.4.4. Sistemas Internos (Zang-Fu)

5. Caso Clínico

5.1. Descrição

5.2. Tratamentos anteriores realizados e evolução

5.3. Resposta ao tratamento com MTC

5.4. Resultados

6. Discussão

7. Conclusões

8. Referências Bibliográficas

2

1. Introdução

Existem várias patologias que acometem o trato urinário de cães e gatos, dentre elas

tem-se a formação de cálculos, de diferentes naturezas, que são denominados de

urólitos.

Os urólitos são caracterizados por concreções minerais dentro do trato urinário. Os mais

comuns são os urólitos dentro da vesícula urinária (urocistólitos ou cálculos vesicais) e

dentro da uretra (uretrólitos). Aqueles que se encontram nos rins (nefrólitos) são menos

comuns e correspondem a mais ou menos 4% a 5% dos urólitos (1, 2).

A urina canina é uma solução complexa na qual, sais (tais como oxalato de cálcio,

fosfato de amônia e magnésio) podem permanecer em solução sob condições de

supersaturação. Isso pode determinar a precipitação desses sais com o surgimento de

cristais (cristalúria) e formação de urólitos se aqueles se agregarem e não forem

excretados na urina.

Uma vez formados, os urólitos lesam o uroepitélio podendo levar a inflamações com

variados sinais clínicos tais como, hematúria, polaciúria, disúria, estrangúria chegando

até obstrução caso um desses cálculos se aloje em ureteres ou uretra. É comum o

desenvolvimento de infecção bacteriana acompanhando esses quadros.

A presença de urólito (único ou múltiplo) sempre acarretará danos à saúde do animal

exigindo, portanto, uma solução antes do desenvolvimento de patologias que acabem

comprometendo a função urinária.

3

2. Objetivo

Avaliar o controle dos sinais clínicos e diminuir a probabilidade de recidiva de

urocistólitos em um cão da raça Schnauzer após a 2ª cistotomia utilizando técnicas da

MTC (acupuntura e fitoterapia).

3. Metodologia

Foram utilizadas nesse trabalho, as técnicas de acupuntura e uso de Fitoterapia

Chinesa com acompanhamento da evolução clínica do caso.

4. Revisão Bibliográfica

4.1. Etiologia e Patogenia dos urólitos.

A etiologia dos urólitos, em particular os urocistólitos, está ligada aos fatores que

contribuem para a cristalização dos sais presentes na urina. Dentre eles, alta

concentração urinária, tempo prolongado de urina no trato urinário, ph urinário favorável,

existência de matriz de nucleação também chamada de ninho (precipitação de sais ao

redor de um núcleo orgânico pré-formado), e diminuição de inibidores de cristalização

na urina (2).

Também é considerado que, uma alimentação rica em minerais e proteínas associado à

capacidade dos cães produzirem uma urina altamente concentrada, contribui para a

supersaturação urinária com sais. Da mesma forma, a diminuição da reabsorção tubular

(cálcio, cistina, ácido úrico) ou o aumento da produção, secundária à infecção

bacteriana, de íons, amônia, fosfato também contribuem para a supersaturação urinária

(2).

Existem várias teorias quanto à patogenia dos urólitos. Na teoria da precipitação-

cristalização, a supersaturação da urina com sais é considerada o fator primário

responsável por iniciar a formação do ninho e consequente desenvolvimento dos

4

cálculos. Quanto maior a concentração de sais na urina e menor eliminação urinária,

que pode ser até conseqüência de menor aporte de água, maior é a chance de

formação de urólitos. Outras teorias creditam à formação de urólitos a presença de

substâncias na urina, capazes de inibir ou promover a formação de cristais. Nesse caso

na teoria da nucleação da matriz, uma substância matricial orgânica na urina promoveria

a formação inicial do núcleo, essa substância poderia ser a albumina, globulina,

mucoproteína de Tamm-Horsfall ou uma proteína imunologicamente única, deficiente

em hidroxiprolina, chamada substância matricial A (SMA). A SMA poderia prover uma

superfífcie para o depósito, ligação e retenção urinária dos sais urinários facilitando a

cristalização dos mesmos.

Por outro lado, a ausência de um inibidor crítico da formação de cristais é considerada

como fator primário que permite a formação inicial do núcleo. Os exemplos de inibidores

da cristalização são citratos, glicosamino-glicanos e pirofosfatos. Concentrações

diminuídas dessas substâncias poderiam, portanto, facilitar a cristalização espontânea e

o desenvolvimento dos urólitos. Em síntese, a supersaturação dos sais seria a causa de

base da urolitíase, mas, para que a cristalização ocorra dependeria da presença das

substâncias promotoras ou inibidoras desse processo, embora ainda se desconheça a

extensão do envolvimento dessas substâncias em cães.

4.2. Classificação dos urólitos

Segundo a classificação do College of Veterinary Medicine of the University of

Minnesota 50% dos urólitos caninos são de estruvita (fosfato de amônio e magnésio);

33% são de oxalato de cálcio; 8% são de uratos; 1% de silicato; 1% de cistina; e, 7%

são mistos, ou seja, contém menos de 70% de apenas um tipo de mineral (2). Os

agregados cristalinos constituem 95% dos urólitos, sendo 5% constituído de matriz

orgânica de complexos de proteína e muco proteína. Os fatores que contribuem para a

avaliação da composição dos cálculos vesicais estão resumidos na tabela 1.1 .

5

.

Tabela 1.1. Fatores que contribuem para a formação de cálculos

vesicais (2)

I.T.U D pH I.T.U S R I

Estruvita 2,5 N/A Comum F Schnauzer (S) 1-8

Bichon (B)

Cocker (C)

Poodle (P)

Oxalato de 3,0 Ac/N Rara M S,B,P 5-12

Cálcio Yorkshirre (Y)

Lhasa Apso(LA)

Shitzu (SZ)

Urato 1,0 Ac/N Incomum M Dálmata (D) 1-4

English bulldog (EB)

S, Y

Cistina 1,5 Ac Rara M Teckel (T) 1-7

Basset hound

EB,Y, Irish Terrier (IT)

Rottweiler (R)

Chiuhauhau

Mastiff (M)

Tibetan Spaniel(TS)

Silicato 2,5 Ac/N Incomum M Pastor Alemão (PA) 4-9

Golden Retriever (GR)

Labrador (L)

Old E S Dog (OES)

Legenda: I.T.U. infecção do trato urinário; D : densidade; S: sexo; R: raça; I: idade; A: ácido;

Ac: alcalino; N: neutro

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4.2.1. Urólitos de estruvita : chamados também de fosfato de amônio e magnésio são

os mais comuns nos caninos e constituem-se basicamente desses dois elementos

embora possam também ter uma pequena quantidade de fosfato de cálcio

(hidroxiapatita) ou carbonato de cálcio. Esse tipo de cálculo tem importante correlação

com as infecções no trato urinário (UTI) sendo os patógenos Staphylococcus sp e

Proteus sp os mais frequentemente associados uma vez que, ambos são agentes

produtores de urease a qual degrada a uréia (hidrólise) em amônia e dióxido de carbono

formando os íons de amônia e hidroxila. Como resultado tem-se uma urina alcalina (pela

diminuição dos íons hidrogênio) levando a menor solubilidade da estruvita. É importante

destacar que, altas concentrações de amônia na urina podem alterar o metabolismo dos

glicosaminoglicanos que previnem à adesão de bactérias a mucosa urinária. Além disso,

infecção bacteriana em bexiga (cistite) oferece “debris” orgânicos para servirem como

superfície para a cristalização. Fêmeas caninas são mais frequentemente acometidas

do que machos e também cães jovens apresentam mais frequentemente cálculos de

estruvita associados a ITU. Nos felinos nem sempre ocorre ITU e atribui-se esse fato,

provavelmente a maior capacidade de concentrar urina dos felinos e conseqüente maior

grau de supersaturação. Deve-se considerar ainda que, urinas com pH alto (causado

por drogas, dietas ou distúrbios tubulares renais) também podem desenvolver cálculos

de estruvita independente da presença de ITU.

4.2.2. Urólitos de oxalato de cálcio : ainda não são conhecidos os fatores envolvidos

na patogenia desses cálculos, mas frequentemente encontra-se um aumento na

concentração de cálcio na urina. Em cães a hipercalciúria ocorre mais comumente pós-

prandial e em associação a um aumento da absorção de cálcio pelo intestino. Outra

causa potencial é a reabsorção alterada de cálcio pelos túbulos renais. Também a

hipercalemia decorrente de hiperparatireoidismo primário, neoplasia ou intoxicação por

vitamina D pode levar a hipercalciúria secundária. Tratamento com certas drogas

(glicocorticóides, furosemida) assim como a suplementação com cálcio (medicamentoso

ou na dieta) ou cloreto de sódio também podem levar a hipercalciúria. Semelhante aos

7

inibidores de estruvita, a diminuição da concentração dos glicosaminoglicanos e citratos

também pode aumentar a concentração urinária de oxalato de cálcio.

Vários outros fatores podem aumentar o risco para urolitíase de oxalato de cálcio, sendo

os mais destacados a obesidade, o hiperadrenocorticismo e o uso excessivo de rações

acidificantes nos últimos anos.

Machos parecem ser mais afetados que fêmeas e isso poderia ser atribuído ao aumento

da produção hepática de oxalato mediada pela testosterona. Em fêmeas caninas os

estrógenos podem aumentar a excreção de citratos e esses agiriam como inibidores da

cristalização dos oxalatos.

Os urólitos de oxalato de cálcio frequentemente ocorrem em cães mais velhos e não

parece estar associado a ITU. A solubilidade do oxalato de cálcio é aumentada na urina

com pH acima de 6,4 enquanto que, pH urinário menor que 6,5 parece favorecer sua

formação.

4.2.3. Urólitos de Urato : a maioria desses urólitos é formada por urato ácido de

amônia, aqueles compostos 100% por ácido úrico e urato de sódio são relativamente

raros. O ácido úrico é derivado da degradação metabólica de ribonucleotídeos

endógenos dos ácidos nucléicos oriundos da dieta. Nos cães da raça Dálmata, acredita-

se, teoricamente, que o transporte hepático de ácido úrico é defeituoso, o mesmo é

válido para os Buldogs Inglês porque a conversão de ácido úrico em alantoína é

diminuída nessas duas raças, apesar das atividades da uricase dos hepatócitos serem

geralmente adequadas (Quadro 01 ). O decréscimo da produção de alantoína observada

nessas raças vai resultar em excreção urinária aumentada de ácido úrico. A alantoína é

o principal metabólito gerado durante o metabolismo de purina e em comparação com o

ácido úrico, é solúvel na urina.

Nos Dálmatas, além da diminuição do metabolismo hepático do ácido úrico, a

reabsorção tubular proximal do ácido úrico também está diminuída. Isso também

aumenta as concentrações urinárias desse ácido e de urato de sódio (que são os sais

de ácido úrico da urina). Apesar disso, apenas alguns cães Dálmatas desenvolvem

cálculos de urato sendo mais comum em machos do que fêmeas. Aproximadamente

60% dos urólitos de urato ocorrem nos Dálmatas e cerca de 75% dos cálculos nos

8

Dálmatas são de urato. Os Buldogs Inglês também apresentam incidência aumentada

de urólitos de urato.

Independente da raça, qualquer cão que apresente diminuição da excreção renal de

uratos de amônia, devido a insuficiência hepática por cirrose, desvio portossistêmico

(DPS) entre outras pode desenvolver cálculos de uratos ácidos de amônia. Como o DPS

é mais comum em Schnauzers, Yorshires e Pequineses encontra-se também nestas

raças, maior incidência de urólitos de urato ácido de amônia.

As ITUs, especialmente aquelas causadas por bactérias produtoras de urease, podem

facilitar a cristalização de urato ácido de amônia devido ao aumento das concentrações

de amônia na urina. Também a ITU pode ocorrer secundariamente a irritação causada

pelos urólitos na mucosa vesical. A cristalização do ácido úrico é facilitada em ph ácido

enquanto que pH alcalino favorece mais a cristalização de urato de amônia.

4.2.4. Urólitos de Cistina : A cistina plasmática é filtrada livremente através dos

glomérulos e é ativamente absorvida pelas células epiteliais do túbulo proximal dos rins

de cães normais. Alguns cães podem apresentar um defeito dessa reabsorção e

também dos aminoácidos precursores de cistina tais como cisteína, glicina, ornitina,

carnitina, arginina e lisina, levando a cistinúria o que é a causa primária da formação de

urólitos de cistina. A cistina é relativamente insolúvel na urina. Urinas ácidas favorecem

a formação desse tipo de urólitos enquanto as alcalinas conseguem algum grau de

solubilidade para a cistina.

Observa-se mais comumente urólitos de cistina em cães acima de três anos de idade

enquanto que, por razões desconhecidas, não encontramos esse tipo de cálculos em

cães jovens. As ITUs podem estar presentes mas não desempenham papel primário na

patogenia dos urólitos de cistina.

4.2.5. Urólitos de Silicato : os fatores responsáveis pela patogenia dos uratos de

silicato são ainda desconhecidos, mas provavelmente estão relacionados à ingestão de

sílica, ácido silícico ou silicato de magnésio. Sílica está presente em grande abundância

em glúten de milho ou cascas de soja e associa-se esse tipo de urólitos ao consumo

exarcebado desses alimentos. O freqüente formato esférico desses cálculos pode

9

confundir com os de estruvita e de amônia. Urina alcalina parece aumentar a

solubilidade de silicato e a ITU secundária pode ocorrer devido a irritação da mucosa

causada pelas projeções rombas desses urólitos.

4.3. Aspectos clínicos, diagnóstico e tratamento da s urolitíases vesicais

Os aspectos clínicos são dependentes do tamanho, quantidade e qualidade dos

urocistólitos. Normalmente os cães desenvolvem cistites que caminham de hematúria,

polaciúria, disúria e estrangúria. A irritação da mucosa pode tornar-se grave e em cães

machos, pequenos urocistólitos podem passar pela uretra causando obstrução parcial

ou completa que, se não corrigido rapidamente, pode levar a um quadro de azotemia

pós renal (depressão, anorexia e vômito) chegando mesmo, em alguns casos, a ruptura

vesical.

A urolitíase vesical é diagnosticada combinando-se os sinais clínicos com exames

radiográficos e/ou ultra som abdominal.

Em casos de obstrução, o tratamento consiste em imediatamente reverter para a

condição urinária normal, o que, em geral, obtem-se através de passagem de sonda

uretral com ou sem lavagem retrógrada para a descompressão da bexiga. Se não for

possível utiliza-se a cistocentese para esse objetivo.

Após a recuperação da função urinária, trata-se a ITU quando houver e institui-se

tratamento medicamentoso e/ou cirúrgico para a remoção ou a dissolução dos cálculos.

Também deve-se fazer fluidoterapia como suporte sempre que necessário. Nos casos

sem obstrução também se opta ou pelo tratamento medicamentoso ou pela cirurgia. A

escolha do tipo de tratamento vai depender de vários fatores tais como, o tipo de

cálculo, o número e tamanho deles, o estado de saúde geral do animal e a

disponibilidade do proprietário.

A dissolução medicamentosa será voltada para a diminuição da concentração de sais

calculogênicos na urina, aumento da solubilidade dos sais na urina e aumento do

10

volume urinário que levará o aumento consequentemente da diurese e diminuição da

concentração urinária.

A opção pela cistotomia, normalmente é a mais indicada e praticada, pois, além de

resolver mecanicamente o problema ainda permite a correta análise e conhecimento da

natureza do cálculo vesical. No entanto, além de ser um procedimento invasivo com

maior risco para o animal, não impede recidivas.

Essa patologia também pode ser abordada e tratada através da Medicina Tradicional

Chinesa (MTC) com a utilização de acupuntura e/ou fitoterapia chinesa. Na MTC a

presença de urólitos vesicais pode significar um quadro de estagnação determinado por

fatores patogênico externos normalmente relacionados a CALOR e UMIDADE-CALOR

na bexiga. O sucesso do tratamento ou seja manter o animal livre dos incômodos que

os cálculos determinam e a submissão a novas cistotomias, depende do correto

diagnóstico baseado nos princípios que norteiam a MTC os quais serão discutidos no

item 5.3 desse trabalho.

4.4. Teorias Aplicadas à Medicina Tradicional Chine sa (MTC)

4.4.1 Yin e Yang

O conceito de Yin e Yang , junto com o conceito do Qi, tem permeado toda a filosofia

chinesa e se estendido à medicina chinesa. Esse conceito difere totalmente dos

conceitos filosóficos ocidentais que tem por base a idéia dos opostos onde a verdade de

um exclui o outro.

O Yin é oposto ao Yang, mas apesar disso, eles se complementam e um se transforma

no outro de tal forma que, só podemos entender o Yin caminhando até tornar-se Yang e

vice versa em um movimento cíclico e dinâmico (3). Possivelmente esse conceito surgiu

a partir da observação da natureza onde, por exemplo, o dia (Yang) inicia e atinge seu

pico máximo ao meio dia (Yang dentro do Yang ) e começa a decair deixando surgir

aos poucos o Yin (Yin dentro do Yang ) até atingir seu pico máximo a meia noite (Yin

11

dentro do Yin ). Dessa forma todos os fenômenos naturais acontecem dentro da

interação entre o Yin e o Yang sempre observando que, a manifestação de um trará

obrigatoriamente substituição pelo outro que já vem implícito no outro.

O conceito de Yin e Yang abriga os aspectos de oposição, interdependência, consumo

mútuo e transformação e são esses aspectos que, quando em desequilíbrio, levam as

doenças de forma que, essas são as manifestações da permanência da preponderância

de um sobre o outro trazendo quadros patológicos de Deficiência de Yin, Deficiência de

Yang, Excesso de Yin ou Excesso de Yang. Sob essa ótica, temos que, os tratamentos

das diversas patologias podem basear-se nas seguintes premissas: tonificar o Yin ou

Yang ou eliminar o excesso (sedar) de Yin ou de Yang.

Apesar de aparentemente claro, ao tratarmos uma patologia, nem sempre conseguimos

definir um quadro de Deficiência de Yin ou Excesso de Yang e o mesmo para Excesso

de Yin ou Deficiência de Yang. Ocorre que, na Deficiência de Yin (desequilíbrio primário)

o Yang aparenta estar em excesso, mas é uma patologia de deficiência. No Excesso de

Yin (desequilíbrio primário) o Yang aparenta estar deficiente (porque Yin consome o

Yang), mas é uma patologia de excesso. No entanto, apesar de fundamental para

compreensão dos processos patológicos, os conceitos de Yin e Yang, sozinhos,

dificilmente são capazes de estabelecer um tratamento. Devemos considerá-los

juntamente com as outras teorias desenvolvidas ao longo dos anos e que fazem parte

do todo da MTC (3).

4.4.2. Oitos Princípios

Com o avanço dos conceitos de Yin e Yang, desenvolveu-se um sistema utilizado na

MTC que foi chamado de Os Oito Princípios (4). Esses norteiam as patologias quanto à

qualidade , quantidade e localização e são:

- Conceito de Yin e Yang que dá a característica da doença

- Conceito de Interior e Exterior que localiza a doença

- Conceito de Frio e Calor que também qualifica a doença

- Conceito de Deficiência e Excesso que quantifica a doença

12

As doenças Yin podem estar relacionadas à Deficiência ou ao Excesso assim como

aquelas doenças Yang. Geralmente as condições Yin estão mais relacionadas à Frio.

No entanto não se pode esquecer da possibilidade de todas as condições possíveis nas

diferentes patologias.

Deve-se também considerar, junto aos Oito Princípios, os aspectos ambientais que

também podem afetar os animais, chamados de Fatores Patogênicos Externos (FPE) e

constituem-se em vento, calor, frio, umidade, secura e canícula.

4.4.3. Os Cinco Movimentos

A teoria dos cinco movimentos foi desenvolvida pela mesma escola que desenvolveu o

sistema de Yin e Yang. Na concepção chamaram-se Cinco Elementos representados

respectivamente pela Água, Madeira, Fogo, Terra e Metal. Deve-se ter claro que na

China antiga os médicos contavam com seus sentidos e para diagnosticar e tratar as

doenças, não havia tecnologia moderna e, portanto os médicos partiam da observação

dos fenômenos naturais e tentavam fazer associações com o que se passava no corpo

humano. A partir da observação das modificações dos animais, das plantas, do solo,

dos rios, enfim da natureza ao longo das estações do ano, eles criaram a Teoria dos

Cinco Elementos que passou a se chamar Cinco Movimentos, uma vez que é um

sistema onde cada fase tem seu crescimento, apogeu e decréscimo sendo substituída

pela fase seguinte que é exatamente a idéia de movimento e interligação entre as

diversas etapas do ciclo da natureza. Assim que, a Água, está ligada à movimentação

dos líquidos e ao inverno. Ela umedece e representa o movimento em descendência e

está associada aos Rins e a Bexiga. A Madeira é o movimento em expansão, para o

exterior e é a fase do nascimento, da primavera e está ligada à árvore dos processos

tóxicos associada ao Fígado e Vesícula Biliar. O Fogo representa o movimento em

ascendência, é a fase de crescimento, do verão e está associada ao Coração e Intestino

Delgado. A Terra representa a fase de descanso, de maturidade está associada aos

processos de digestão e, portanto ao Estômago e Baço/Pâncreas. O Metal representa o

movimento contraído e interior, do outono e liga-se a respiração e eliminação e é

associada aos Pulmões e Intestino Grosso.

13

Cada movimento está em conformidade com uma estação do ano, exceto o movimento

Terra, ele é neutro e pertence aos últimos períodos de cada estação. O Classics of

Categories (3) coloca: “o Baço (Pi) pertence à Terra, a qual pertence ao centro, cuja

influência se manifesta por 18 dias até o fim de cada uma das estações, e não pertence

a nenhuma estação por si mesma”. O Discussion of Prescriptions from the Golden Chest

220 d.C (3) diz: “..o Baço é suficientemente forte para resistir aos fatores patogênicos

durante os últimos dias de cada estação”. Com isso temos que, na concepção dos

antigos chineses, ao fim de cada estação, as energias celestiais retornam à Terra para

serem reabastecidas, portanto, a Terra pode corresponder ao Verão, Outono, Inverno e

Primavera anteriores.

Os Cinco Movimentos se relacionam entre si e refletem a forma com que os sistemas

internos, subordinados a eles, se relacionam. Não só os sistemas, mas os órgãos,

tecidos, sabores, cores e demais aspectos de cada movimento, também interagem em

equilíbrio, na saúde, e em desequilíbrio, nas doenças. O Quadro 2 apresenta, de forma

esquemática, os 3 ciclos representativos das relações entre os Cinco Movimentos.

14

Quadro 2 : Representação esquemática dos Cinco Movi mentos

Água Metal

Shen/Pangguang Fei/Dachang

Fogo

Xin / Xiaochang

Madeira

Gan/Dan

Terra

Pi/Wei

15

4.4.4. Os Sistemas Internos

Na MTC se considera os órgãos internos (Zang) e as vísceras (Fu) como um sistema de

amplo relacionamento e dependência funcionais entre as diversas partes de um

organismo. A teoria dos Zang-Fu é a que melhor expressa o pensamento que norteia a

MTC porque não analisa, de forma isolada, os diversos órgãos dos seres vivos e sim

considera-os como partes de sistemas internos onde o funcionamento implica numa

profunda interação entre todos os fatores orgânicos, emocionais e ambientais dos

indivíduos. Dessa forma, a MTC olha as patologias de uma forma globalizada e não

fragmentada como na medicina ocidental. A etiologia do mau funcionamento de um

órgão não está necessariamente no próprio órgão. Dessa forma não é o órgão que está

doente, mas sim o indivíduo.

Existem dois tipos de Sistemas Internos: os Yin (Zang ) que promovem a síntese, a

transformação e o armazenamento das substâncias puras e os Yang (Fu) que

recepcionam e transformam os alimentos e líquidos para produção das substâncias

vitais, além de excretar os produtos não úteis ao organismo, portanto o Sistema Yang

comunica-se com o exterior. Além disso, cada Zang tem o seu correspondente Fu, ou

seja, as funções de um são complementadas pelo outro.

As funções e relações dos Zang-Fu estão resumidas no quadro 3 .

16

Quadro 3: Relações entre os Zang

Fu

Zang Fu Funções Orgãos do sentido Emoções Clima

Fei Dachang Governa o Qi e Olfato e nariz Tristeza Secura

a respiração

Controla a pele

e manisfesta-se

nos líquidos cor

póreos.

Shen Pangguang Armazena Jing e Audição e ouvidos Medo Frio

controla todo o

Desenvolvimento

dos indivíduos.

Controla os ossos

e manifesta-se nos

Cabelos

Gan Dan Armazena e regula Visão e olhos Raiva Vento

o fluxo de Xue.

Controla os tendões

E manifesta-se nas unhas

Xin Xiaochang Governa o Xue e os Língua e a fala Alegria Calor

vasos sanguíneos

Abriga a mente e

manifesta-se na compleição

. dos indivíduos

Pi Wei Governa o Qi Paladar e boca Preocupação Umidade

dos alimentos

Mantem o Xue dentro

dos vasos

Manifesta-se nos

músculos e lábios

17

5. Caso Clínico 5.1. Descrição Animal de nome Boomer , da espécie canina, raça Schnauzer, data de nascimento

junho de 1998, sexo masculino, ainda não castrado durante os contatos iniciais.

Primeiro contato foi em 2002 e a queixa inicial foi “problema urinário” desde filhote com

vários episódios de disúria e hematúria, estando novamente em curso com os mesmos

sinais clínicos. O exame de Urina tipo I mostrou um quadro de cistite bacteriana, pH

urinário alcalino (8), e cristalúria por fosfato triplo (estruvita).

5.2. Tratamentos anteriores realizados e evolução

O tratamento instituído ao primeiro contato (2002) foi antibioticoterapia sistêmica,

acidificantes urinários e mudança de dieta alimentar para rações de controle de pH

urinário. Também foi orientado o uso do medicamento homeopático Cantharis

vesicatória na dinamização 6CH como estimulante de micção e de não agregação de

cristais urinários. Concomitante a isso, foi indicado maior ingestão de líquidos e de

alimento úmido, ao menos em uma das refeições, além de controle mensal do pH

urinário.

Foi obtido por dois anos estabilidade do quadro clínico. O animal retornou para novas

consultas clínicas por outros fatores (vacinas, diarréias esporádicas e processos

alérgicos de pele).

No início de 2005, voltou a apresentar o mesmo quadro anterior, com exame de urina

tipo I semelhante aos anteriores, só que com pH urinário ácido de 5 e presença de

cristais sugestivos de Oxalato de Cálcio. Ao exame de Ultra Som (US) constatou-se uma

formação intra-vesical, sugestiva de coágulo ou neoplasia. Foi tratado com

antiinflamatório não esteroidal contendo enzimas (tripsina e quimiotripsina) na tentativa

de dissolução do possível coágulo vesical. Mudamos o manejo alimentar para rações

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“meio a meio” de controle de pH urinário ácido e alcalino. Novo US abdominal, pós 15

dias de tratamento, mostrou desaparecimento da formação.

Voltou a apresentar quadro semelhante 3 meses após esse último tratamento e o US

abdominal mostrou a presença de vários microcálculos vesicais (0,35 cm) e em trajeto

de uretra prostática, além de hiperplasia prostática (HP). Foi indicado, para a resolução

da HP, a orquiectomia que só foi realizada em 2007 por razões que fogem aos objetivos

deste trabalho. Tentamos controlar a HP com o fitoterápico Prostem® que é um extrato

da planta Pygeum africanum, utilizada em humanos para várias patologias

genito/urinárias dentre elas, HP. A presença dos urólitos vesicais foi tratada com

medicação homeopata (Cantharis.ves . associado a Cannabis sativa ambos na

dinamização 12 CH). Também foi utilizado várias vezes o Plus de Cantharis ves. (forma

de fornecer a medicação homeopata, diluída e a cada 15 minutos) o que trazia alívio

temporário no quadro das crises agudas de disúria .

Durante os dois anos seguintes, o animal desenvolveu Hipercolesterolemia acentuada e

insuficiência de válvula Mitral de grau leve e foi iniciado terapia adequada na medicina

veterinária ocidental com Bezafibrato e Cloridrato de Benazepril .

Em meados de 2007, ele apresentou o primeiro quadro de obstrução urinária total que

foi momentaneamente resolvido através de sondagem com retro fluidificação e realizado

a primeira cistotomia para retirada de urólitos vesicais. Esses eram de composição

mista, porém todos os componentes típicos de pH alcalino (carbonato de cálcio, fosfato

de cálcio). Na ocasião o cão foi orquiectomizado. Voltou-se a ração com acidificantes e

instituiu-se controle com US abdominal a cada 3 meses.

Em 2009, sofreu a segunda cistotomia, de emergência após grave quadro de disúria e

obstrução total. Cinco dias pós cirurgia foi percebido por controle de US um urólito em

uretra membranosa (proximal ao osso peniano), não visualizado antes da cirurgia. Esse

cálculo foi reconduzido à vesícula urinária por sondagem e fluido no contra fluxo,

utilizando-se sonda de número 8. Esse cálculo apresentou por volta de 0,6 cm de

diâmetro. Após esse episódio, foi proposto e iniciado o controle/tratamento da formação

de cálculos vesicais através das técnicas de MTC.

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5.3 - Resposta ao tratamento com MTC .

Segundo a filosofia da MTC, o tratamento foi dirigido para eliminar Calor, secar a

Umidade e resolver a Estagnação. Para tanto, utilizou-se de pontos de acupuntura

associados com uso de Medicação Fitoterápica da MTC (fórmulas magistrais) e

mudança de dieta alimentar.

Os pontos praticados inicialmente foram:

Para acalmar :

- Vg16

Cinturão Renal (para melhorar o Jing)

- Bexiga (B) 23* ; 52 - Vesícula Biliar (VB) 25 - Vaso Concepção (VC) 6* - Vaso Governador (VG) 4 Pontos de Imunomodulação: - B 40: - Baço/Pâncreas (BP) 6: - Estômago (E) 36 - VG 14 Mais: - B28 ponto de assentimento da bexiga - Vaso Concepção (VC) 3** ponto de Alarme da bexiga - R3*** ponto Fonte, usado em distúrbios urogenitais - B60 ponto para remover obstrução ao longo do canal Para a cicatriz cirúrgica (cicatriz tóxica) a parti r da 6ª sessão Oito agulhas em volta da cicatriz Realizou-se duas sessões de acupuntura por semana e também se iniciou a terapia com as seguintes fórmulas magistrais (ou compostos) chinesas, 20 gotas 3 vezes ao dia. - Ba Zhen San para purificar calor, sedar fogo, promover diurese. - Shi Wei San para eliminar cálculos urinários, também promover a diurese, aliviar disuria, eliminar a umidade e dispersar calor

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Na ocasião, o caso foi relatado em aula e a orientação (Profª Drª Marcia Valéria

Scognamillo) foi que a cicatriz abdominal, recente e com fibrose local, é considerada

cicatriz tóxica. Na sexta sessão, começou-se a acupuntura voltada a dissolução de

cicatriz pós cirúrgica. O ponto VC 3 estava localizado exatamente sobre a cicatriz tóxica

então trabalhou-se no sentido de removê-la para ajudar no fluxo de energia do canal do

VC. Para tanto, circundamos com agulhas o entorno da cicatriz utilizando agulhas

pequenas e em ângulo de 45 graus..

Com dois meses de duas sessões semanais iniciou-se com uma vez por semana e as

fórmulas para uma vez ao dia.

Como ele manteve-se estável por dois meses instituiu-se a prática de acupuntura

quinzenal. Permanecemos assim por quatro meses. Pedimos controle com US

abdominal que mostrou (8/1/10) bexiga de paredes finas, com uma região em parede

cranial com micro cristais e ou calcificação de parede (região de cicatriz cirúrgica). Além

disso, havia algumas partículas em suspensão, sendo uma delas de até 0,91 cm de

diâmetro, compatível com litíase vesical.

O animal estava, clinicamente, bem e foi suspenso o tratamento.

Um mês após a suspensão do tratamento, ele teve episódio de diarréia com sangue de

forma acentuada. O parasitológico de fezes nada mostrou e o animal apresentava

temperatura normal. Quanto à urina, mantinha-se clara, sem disúria. Foi tratado

sintomaticamente com Metronidazol e Próbioticos.

Os episódios de diarréia com sangue tornaram-se intermitentes e causavam grande

desconforto ao animal que ficava irriquieto, inapetente sugerindo dor abdominal além de

intensa flatulência. A colonoscopia com coleta de material para histopatológico mostrou

que ele apresentava um quadro de Colite Linfoplasmocítica discreta (auto imune).

Iniciamos tratamento ocidental com Prednisona e reiniciamos sessões de acupuntura

modificando a Fórmula inicial para :

- B23; B52; VB25; VG4 - B40; BP6; VG14 - B28; R3; B60

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Retiramos os seguintes pontos : VG16; VC6; E36; BP6 Nenhuma agulha em volta da cicatriz Introduzindo os seguintes pontos: - Yin Tang : diminuir a ansiedade - B 25 : assentimento de intestino Grosso - VG 1 ou Ho Hai regulação intestinal -F8 nutre o sangue, alivia umidade/calor e umidade/frio indicado para calor no trato genito urinário - R7 elimina calor dos rins e bexiga - BP9 transforma umidade/estagnação O tratamento com as fórmulas manteve-se de forma intercalada, com o cão recebendo

uma vez ao dia cada uma das duas fórmulas durante 15 dias e parando 15 dias até

meados de setembro de 2010, quando se indicou suspender a fitoterapia devido à

presença da erva Mutong na fórmula Ba Zhen San, que pode levar à insuficiência renal

e outras complicações se ingerida durante longos períodos (Prof. Chujing Shen ,

comunicação pessoal durante o Curso de Especialização em Acupuntura Veterinária da

Universidade de Dingzhou, China, setembro,2010 ) .

*Os pontos de Assentimento (pontos Shu) são aqueles que transportam o Qi para o órgão doente, são especialmente usados nas doenças crônicas para reequilibrar o órgão. **Os pontos de Alarme (pontos Mu) são aqueles que, além de servirem como ajuda no diagnóstico, também levam energia para os órgãos. Costumam estar bem sensíveis quando o órgão está doente. ***Ponto Fonte são aqueles relacionados com o Qi original, tonificam Yin. 5.4. Resultados O paciente está controlado, sem nenhum episódio de disúria desde o início do

tratamento na MTC. Episódios esporádicos de urina “cor de rosa” são relatados, no final

da micção. No último US abdominal, realizado há 6 meses (janeiro/2011) do término

desse relato, apresentava bexiga com paredes finas, espessada em região ventral

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(possível área de fibrose cicatricial) e presença de microcálculos de até 0,18 cm em

suspensão. Não foi observado presença de cristais aderidos a cicatriz assim como a

presença da litíase observada no US de janeiro/2010 .

Quanto à função intestinal, encontra-se também controlada, recebendo 0,5 mg /kg de

Prednisona 1 vezes por semana (pulsoterapia).

O paciente é mantido com uma sessão de acupuntura quinzenal até a presente data do

término desse trabalho (julho de 2011).

5. Discussão Sabe-se que, pela MTC, a Bexiga é encarregada de transformar e excretar os fluidos

“impuros” recebidos após a separação deles em “puros” e “impuros” pelo Intestino

Delgado, utilizando para isso o Qi recebido dos Rins. A Deficiência da Bexiga,

frequentemente resulta da Deficiência do Yang do Rim e como os Rins não apresentam

padrões de excesso, as patologias de excesso do sistema urinário são decorrentes dos

padrões de excesso da Bexiga.

Dentre os padrões de excesso, temos que o mais comum deles é o decorrente do

acúmulo de Umidade sendo os de maior gravidade aqueles de Umidade-calor.

As situações de Umidade envolvem sempre, além dos meridianos do Rim e do Coração,

os do Baço/Pâncreas e Fígado. Condição de Calor resulta de uma deficiência de Fluidos

e/ou de Yin.

Umidade-Calor é normalmente decorrente da Deficiência do Yang do Rim que acaba

afetando Baço fazendo com que ele não consiga processar a umidade dos alimentos

“encharcando” os tecidos, causando sensação de peso e intumescimento. A Umidade

obstrui o fluxo suave dos fluidos porque dificultam o Fígado em sua ação de movimentá-

los levando-os a tendência de afundarem para as partes baixas do corpo, podendo

então, ocorrer estagnação em Bexiga.

A estagnação é o foco onde deve ser prestado atenção. A possibilidade de formações

requer que os materiais fiquem estagnados o que, em combinação com Umidade-Calor

possibilitará então, a formação de cristais e consequentemente de cálculos. Na MTC dá-

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se o nome a essa condição de Umidade Calor Estagnante . O animal com

desequilíbrios entre Baço/Pâncreas, Fígado e Rins pode desenvolver essa condição.

Clinicamente, o animal, apresenta dor e poliúria evoluindo para disúria que, quanto

maior o Calor, maior disúria com conseqüente retenção de urina o que levará a mais

estagnação e possibilidade de desenvolvimento de areia, cristais e cálculos vesicais.

A evolução desse quadro é apresentação de hematúria, urina turva e de odor

desagradável. Os cristais ou cálculos causam inflamações podendo bloquear a uretra

aumentando a gravidade do quadro que, como já comentado na introdução, necessita

de intervenção urgente.

O paciente apresentava no início do tratamento com a MTC:

- 11 anos

- pulso superficial, fino e rápido

- língua pequena, seca, enrugada e pálida nas bordas

Pulso superficial pode indicar deficiência de fluido (Sangue ou Jin Ye) o que pode ser

corroborado pela qualidade de pulso fino. Além disso, pulso rápido poderia estar

relacionado à presença de calor (seja ele falso ou verdadeiro). As três condições podem

apontar para uma situação de calor falso, devido a uma deficiência de fluidos para

remover o fogo.

A língua enrugada e seca é uma condição que pode indicar deficiência de Yin do Rim e

a palidez nas bordas pode ser interpretada como deficiência de Xue do Fígado.

Além disso, esse paciente sempre apresentou como relatado na primeira ocasião em

que foi tratado, “problemas urinários”, desde filhote, portanto, possivelmente uma

deficiência de Jing pré celestial. Como observação aditiva, segundo Gouhg & Thomas

(5) os cães da raça Schnauzer miniatura, tem predisposição genética a formação de

urólitos.

Do ponto de vista dos Cinco Movimentos, Rins e a Bexiga são pertencentes ao

movimento Água e que, portanto controlam o movimento Fogo no qual pertencem o

Coração e Intestino Delgado (ciclo Ko ), temos então que, com uma condição deficiente

uma exacerbação do Fogo gerando mais Calor ao corpo. Com isso, a urina torna-se

mais concentrada e quente, causando queimação no interior da bexiga e uretra. Ocorre

a disúria e as complicações já comentadas anteriormente.

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Quando ao Calor junta-se a condição de Umidade-Calor, agrava-se o quadro porque

Baço e Fígado também estão comprometidos nas suas funções.

O Baço e Estômago, seu acoplado, são Movimento Terra , que são encarregados da

transformação e extração do Qi dos alimentos (Qi Nutritivo), fornecendo-o para todo o

organismo. Também controla o Movimento Água (ciclo Ko ), no sentido de evitar que os

fluidos se acumulem e “encharquem” os tecidos. As funções do Baço são controladas

pelo Movimento Madeira a qual pertence o Fígado e sua acoplada Vesícula Biliar, pois é

ele que governa o sangue e que deve manter todo o organismo lubrificado, umedecido e

funcional.

Portanto, todos devem trabalhar de forma harmônica para manter os organismos de

forma saudável.

Do ponto de vista dos princípios que norteiam a MTC, pode-se entender que o paciente,

iniciou uma patologia oriunda de uma deficiência de Yin do Rim, possivelmente

associada também pela própria deficiência de Jing. A deficiência de Yin do Rim é a

condição própria de Calor e inflamações vesicais. Essa condição foi-se agravando, até

chegar à estagnação e à formação de Massas (concreções vesicais).

O paciente agravou sua situação de Umidade-Calor com Estagnação desenvolvendo

outra patologia de Calor-Umidade que foi a Colite Auto Imune.

Ao mudar-se o tratamento para uma combinação de pontos que contemplassem

também os órgão/vísceras do Movimento Metal, foi possível obter-se a melhora e

estabilidade do quadro patológico em que ele se encontrava.

A questão que se coloca é porque a condição Umidade-Calor chegou ao Intestino

Grosso?

Possivelmente a Estagnação e o Calor ainda persistiam. O aumento da diurese,

provavelmente decorrente do tratamento com acupuntura (pontos de imunidade,

aproveitamento do Jing, fortalecimento do Yin do Rim dentre outros) assim como a

mudança de dieta e a Fitoterapia não permitiram que ocorresse a aglomeração dos

micros cristais. No entanto, o tratamento escolhido inicialmente não foi capaz de impedir

que a Umidade-Calor também se manifestasse no Intestino Grosso. A mudança de

fórmula visou controlar essa manifestação e manter o cão sob controle.

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7. Conclusões

1. O objetivo de melhora na qualidade de vida com uso da MTC foi alcançado.

2. A cura dificilmente seria alcançada em um animal com alteração de Jing, traduzida

aqui pela predisposição a patologias urinárias.

3. O uso de fármacos em doses mínimas ainda é necessário para a manutenção do

tratamento do referido paciente.

4. É possível que o uso crônico dos fármacos comprometa, a médio e longo prazo, a

melhora na qualidade de vida obtida com o tratamento com MTC.

5. A acupuntura foi capaz de aumentar a ingesta de água e, consequentemente, a

diurese, auxiliando na estabilidade do quadro apresentado.

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8. Referências Bibliográficas

1. Medicina Interna de Pequenos Animais. Darcy Shaw Ihle . ArtMed Ed. 1999 p. 375

2. Medicina Interna de Pequenos Animais. Richard W.Nelson e C.Guilhermo Couto 3ª

ed Elsevier Editora Ltda, 2006 p. 607

3. Os Fundamentos da Medicina Chinesa. Giovanni Masciocia 2ª Ed Roca 2007 p.3-34

4. Quatro patas Cinco Direções Cheryl Schwartz, Ícone ed. 2008 p. 43

5. Alex Gouhg e Alison Thomas no livro Predisposições a Doenças de acordo com as

diferentes raças de cães e gatos, ed. Roca, 2006 p. 127.