Convergência e Divergência Na Análise Do Urbano

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  • Revista Geogrfica de Amrica Central

    Nmero Especial EGAL, 2011- Costa Rica

    II Semestre 2011

    pp. 1-14

    CONVERGNCIA E DIVERGNCIA NA ANLISE DO URBANO

    Tnia Maria Fresca1

    Resumo

    O trabalho aborda a complexidade da organizao espacial, vinculando sua

    anlise ao uso dos processos de convergncia e divergncia como uma possibilidade de

    compreenso de diferentes caminhos da evoluo de centros urbanos. Os processos

    referidos apresentam poder explicativo para as complexas mudanas que envolvem as

    transformaes espaciais. Convergncia e divergncia so processos que coexistem,

    constituindo-se ainda em trajetrias que conduzem a resultados distintos, j que

    decorrentes da dinmica econmica, poltica e social, permitindo-se identificar as

    dinmicas relacionais e contraditrias entre as tendncias homogeneizadoras e

    diferenciadoras.

    Palavras-chave: organizao espacia; convergncia; divergncia

    Introduo

    O presente trabalho analisa a organizao espacial do ponto de vista do urbano,

    atravs do uso dos conceitos de convergncia e divergncia como um caminho terico e

    metodolgico em direo compreenso das diferentes evolues de cinco centros

    urbanos: Osvaldo Cruz, Inbia Paulista, Jacarezinho, Cornlio Procpio e Cianorte. Os

    dois primeiros localizados no interior do estado de So Paulo e os demais no Norte do

    estado do Paran. Estes centros urbanos foram analisados por Fresca (1990 e 2004) sob

    outro contexto analtico, mas no presente trabalho utiliza-se outros conceitos e

    perspectivas para a compreenso da diferenciao evolutiva dos mesmos atravs dos

    conceitos de convergncia e divergncia.

    1 Profa. Dra. do Departamento de Geocincias. Universidade Estadual de Londrina PR - Brasil. E-mail:

    [email protected]

    Presentado en el XIII Encuentro de Gegrafos de Amrica Latina, 25 al 29 de Julio del 2011

    Universidad de Costa Rica - Universidad Nacional, Costa Rica

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    Organizao espacial: algumas consideraes

    Organizao espacial uma temtica ampla, complexa e fundamental na

    geografia, suscitando muitos debates acerca de seus fundamentos e pressupostos

    tericos e metodolgicos, importantes para o avano da cincia. Com base em Corra

    (1987 e 1995), entende-se que organizao espacial tem vrios sinnimos como espao

    do homem, a organizao espacial da sociedade, espao socialmente produzido, espao

    geogrfico, espao. Importante esta referncia para que no se faa rapidamente

    vinculaes desta expresso com uma matriz terica. Para o autor citado, a organizao

    espacial constitui-se em uma objetivao de ver a totalidade social e ao mesmo tempo

    uma materialidade social, posto que fruto da ao humana, simultaneamente social,

    poltica, econmica e histrica, sendo muito complexa. De acordo com Corra (1987) a

    organizao espacial prpria sociedade espacializada, oriunda do trabalho humano

    acumulado ao longo do tempo. Neste sentido sua produo por classes sociais e

    distintas fraes no sistema capitalista deve garantir condies necessrias para sua

    reproduo e ao mesmo tempo entender que a organizao espacial resultado do

    trabalho social.

    A anlise e compreenso da organizao espacial, ou simplesmente espao, pode

    ser realizada atravs de diversos caminhos caminhos tericos e metodolgicos, mas

    destaca-se aqui a relao dialtica entre estrutura, processo, funo e forma, categorias

    estas utilizadas por Milton Santos (1985). O uso destas categorias analticas permite

    uma compreenso mais abrangente das complexas e mutveis relaes existentes entre

    arranjos dos elementos naturais e artificiais, cristalizados no espao social que esto no

    cerne do processo de mudana.

    Assim, estrutura deve ser entendida como a inter-relao de todas as partes de

    um todo, o modo de organizao ou de construo, permitindo compreender o modo

    pelo qual os objetos esto inter-relacionados. Para Santos (1985) o conceito de

    formao socioespacial o mais adequado ao estudo da sociedade e espao, j que

    expressa a totalidade espacial em seu movimento, como uma potencialidade e uma

    realidade. Estudar as formaes socioespaciais permite o [...] conhecimento de uma

    sociedade na sua totalidade e nas suas fraes, mas sempre um conhecimento

    especfico, apreendido num momento de sua evoluo (SANTOS, 1982, p. 12), j que

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    historicamente determinado. Formao social, em outras palavras, compreende uma

    estrutura tcnico-produtiva expressa geograficamente por uma certa distribuio de

    atividades de produo correlacionada produo propriamente dita, circulao,

    distribuio e consumo (SANTOS, 1982).

    Processo por sua vez, pode ser entendido como uma ao contnua ou

    descontnua, desenvolvendo-se em direo a um resultado esperado, implicando

    conceitos de tempo continuidade e descontinuidades e mudana (SANTOS, 1985, p.

    50). Os processos adquirem uma dimenso temporal fornecendo possibilidades de

    compreenso da organizao espacial. Funo sugere tarefa, atividade necessria para a

    existncia e reproduo humana, sendo instvel e em constante movimento

    (CHEPTULIN, 1982), enquanto a forma corresponde a um receptculo no qual funes

    so realizadas, assumindo dimenses empricas ou no. A relao entre forma e funo

    direta, j que a primeira sempre comporta uma reciprocidade de contedos. Uma

    forma sem contedo no tem existncia real, no concreta (LEFEBVRE, 1969, p. 83),

    porque o que sempre se apresenta anlise a unidade entre forma e contedo.

    Por isso,

    Forma, funo, estrutura e processo so quatro termos

    disjuntivos, mas associados, a empregar segundo um contexto

    de mundo de todo dia. Tomados individualmente, representam

    apenas realidades parciais, limitadas do mundo. Consideradas

    em conjunto, porm, e relacionados entre si, elas constroem uma

    base terica e metodolgica a partir da qual se pode discutir os

    fenmenos especficos em sua totalidade (SANTOS, 1985, p.

    52).

    Este um caminho atravs do qual a anlise da organizao espacial pode ser

    elaborada, pois permite compreender, alm dos pontos j colocados, que em cada etapa

    histrica da produo, sua realizao pressupe um lugar prprio, dotado de

    especificidades que atendem melhor produo ou frao desta, permitindo ao lugar ser

    dotado de uma significao particular pois a cada momento alterar-se- o uso produtivo

    deste segmento do espao.

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    Convergncia e divergncia na anlise geogrfica

    A anlise da organizao espacial em uma de suas mltiplas dimenses e escalas

    - que pode ser a de uma cidade, de uma rede urbana, de uma rea agrcola, etc. - pode

    ser realizada mediante o uso dos conceitos de convergncia e divergncia, que possuem

    poder explicativo para as complexas mudanas que envolvem as transformaes da

    organizao espacial. Convergncia e divergncia so, na interpretao de Bessa (2007),

    processos que coexistem, constituindo-se ademais em trajetrias que conduzem a

    resultados distintos, j que decorrentes da dinmica econmica, poltica e sociocultural.

    Estes processos existem em quatro combinaes possveis, considerando-se um

    dada formao socioespacial, intervalo de tempo e durao indeterminada:

    convergncia-divergncia; divergncia-convergncia; convergncia-convergncia e

    divergncia-divergncia. A convergncia originando-se de situaes distintas gera

    resultados similares, enquanto a divergncia originando-se de uma mesma situao gera

    resultados diferentes. Tais combinaes deixam em evidncia condies de

    homogeneidade e diferenciao, demonstrando o movimento e o ritmo das mudanas.

    Dessa maneira, a organizao espacial crescentemente diferenciada e

    complexificada:

    passa a ser submetida a tenses numerosas e profundas que se

    impem sobre sua estrutura e funcionamento, levando a

    mudanas, por vezes, lentas, orientando-se por uma

    continuidade especiosa; por vezes, rpidas, fundamentadas em

    princpios diferentes dos anteriores; e, no raro, brutais,

    rompendo com os padres precedentes. Trata-se,

    respectivamente, de mudanas com continuidade e mudanas

    com descontinuidade, posto que a cada momento histrico e a

    cada contexto espacial, tem-se o embate entre tais processos,

    caracterizando a incessante renovao da sociedade e, por

    conseguinte, a recriao constante de diferencialidades espaciais

    (BESSA, 2009, n. p. )

    Assim, os conceitos de convergncia e divergncia abrem a perspectiva de

    compreenso de transformaes da organizao espacial, cujo recorte na perspectiva da

    geografia urbana pode ser uma rede urbana ou centros urbanos de uma rede. Isto porque

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    os centros urbanos de uma determinada rede urbana, mesmo considerando-se elementos

    genticos similares podem mostrar-se profundamente diferenciados entre si,

    respondendo a distintos processos de evoluo. Alguns permanecem fortemente ligados

    suas heranas histricas no demonstrando significativas mudanas em sua evoluo;

    outros demonstram lenta alterao em sua dinmica econmica e social em direo a

    novas inseres na diviso territorial do trabalho; outros passam ainda por abruptas

    mudanas em razo de descontinuidades, que podem ser oriundas de fatores internos ou

    externos.

    Na lgica capitalista, onde processos tem tendncia geral homogeneizao, o

    que se verifica a diferenciao vinculada a contingncia e vicissitudes, como prticas e

    estratgias de diferentes agentes sociais, a diversidade territorial dos lugares, as

    implicaes do tempo, dentre outros, ratificando desequilbrios e descontinuidades no

    contnuo processo de transformao social.

    Para Bessa (2007, p. 36) ao se utilizar a convergncia e divergncia na anlise da

    evoluo de centros urbanos, uma das questes fundamentais que pode ser evidenciada

    :

    a identificao da dinmica relacional e contraditria entre

    processos igualizadores, inerentes aos imperativos

    universalizantes e com forte tendncia homogeneizao por

    meio de efeitos convergentes, e processos diferenciadores,

    surgidos no interior das formaes socioespaciais, com

    tendncia diversidade, por meio de efeitos divergentes.

    Alguns exemplos de convergncia e divergncia na evoluo de centros urbanos

    Aqui resgata-se estudos anteriores (FRESCA, 1990 e FRESCA, 2000), mas em

    outra perspectiva analtica, incorporando os processos de convergncia e divergncia.

    Em realidade revisita-se experincias passadas trazendo tona os mesmos centros

    estudados anteriormente, porm em outra perspectiva.

    Osvaldo Cruz, Inbia Paulista, Jacarezinho, Cornlio Procpio e Cianorte

    configuram-se em cinco ncleos urbanos que tiveram evolues bastante diferenciadas,

    refletindo e ratificando mudanas na organizao do espao. Os dois primeiros,

    configuram-se em pequenas cidades, mas de tamanhos diferentes, da rede urbana de

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    Marlia, no Oeste Paulista, enquanto os demais esto inseridos na rede urbana norte-

    paranaense, apresentando-se como centros com nvel mdio de centralidade. Estas

    cidades cujas gneses esto compreendidas entre 1920-1950, apresentaram elementos

    comuns, e cumpriram as funes para as quais foram criados. Mas a partir dos anos de

    1960/70, processos de diversas ordens criaram diferenciaes na evoluo dos mesmos,

    isto , divergncias, que resultaram para cada um, caminhos distintos em sua evoluo.

    Estes centros urbanos apresentam entre si, alguns elementos genticos comuns:

    foram criados no contexto da expanso das frentes pioneiras no Oeste Paulista e Norte

    do Paran entre os anos de 1920-1950, com exceo de Jacarezinho que teve sua gnese

    a partir de 1880 articulado ao processo de apropriao de terras por mineiros, praticando

    uma agricultura de subsistncia e atividades criatrias de pouqussima expresso

    econmica, social e espacial. Sua evoluo foi discreta at por volta da dcada de 1920,

    quando a dinmica das frentes pioneiras atingiu a poro leste do norte do Paran e

    Jacarezinho adentrou em nova etapa de seu desenvolvimento, apresentando a partir de

    ento, caractersticas bsicas da economia cafeeira. Osvaldo Cruz, Inbia Paulista,

    Cornlio Procpio e Cianorte foram todas criadas como parte integrante do processo de

    incorporao das terras economia cafeeira por intermdio dos loteamentos rurais,

    assentados em pequenas e mdias propriedades adquiridas por ex-colonos, imigrantes

    de primeira, segunda ou terceira gerao. Mesmo Cianorte, a mais recente dentre as

    cinco, cuja gnese de 1948/49, manteve as caractersticas destes empreendimentos

    fundirios. O ncleo urbano neste contexto era condio fundamental do

    empreendimento fundirio de empresas estrangeiras, nacionais ou homens de negcios

    que para tal no constituram empresas, a desempenhar funes cruciais aos habitantes e

    atividades produtivas: comrcio varejista, servios bsicos, beneficiamento e

    comercializao da produo rural, transporte, dentre outras.

    Enquanto um negcio, as cidades foram criadas a partir de plantas urbanas

    previamente desenhadas no formato de tabuleiro de xadrez. Mesmo Cianorte, a mais

    bem planejada dentre todas, no sentido de desenho urbano, associa a forma

    quadrangular com a elptica, em decorrncia de sua acomodao topografia.

    Atendendo demandas da populao rural e urbana e da produo agrcola (caf,

    gneros alimentcios, matrias primas), estas cidades foram capazes de um

    desenvolvimento em que pode-se afirmar que houve o atendimento das funes para as

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    quais foram criadas. Evidente que entre elas havia diferenas em termos de tamanhos e

    complexidade das atividades desempenhadas.

    Tanto assim que Inbia Paulista com cerca de 2500 habitantes em 1990, foi

    criada em 1942 para atender as demandas da populao rural composta por pequenos

    proprietrios e seus familiares em elevado nmero, como dos trabalhadores das grandes

    propriedades. Assim, nos anos de 1950, este pequeno ncleo urbano apresentava uma

    comrcio varejista representado por armazns de secos e molhados comercializando

    desde gneros alimentcios at produtos agrcolas para a agricultura. As atividades

    industriais eram inexistentes, exceto as mquinas de beneficiamento de cereais, pois as

    cafeeiras estavam no interior das fazendas. Os servios eram por sua vez bastante

    escassos, obrigando a populao a recorrer queles presentes em Osvaldo Cruz. Esta

    ltima por sua vez j se apresentava bastante diferenciada em relao a anterior,

    contando com uma populao de cerca de 27.000 habitantes em 1950. Com uma

    estrutura fundiria assentada sobretudo nas pequenas propriedades, contava com

    elevado nmero de proprietrios a consumir e investir suas rendas fundirias na cidade.

    Nesta se fazia presente um comrcio varejista bastante diversificado, que ia dos

    armazns de secos e molhados revendas de mquinas diversas e carros; um comrcio

    atacadista ligado comercializao da produo rural e gneros alimentcios, bem como

    servios mdicos, educacionais, bancrios, transporte. Tais atividades realizadas por

    agentes locais, garantiam para Osvaldo Cruz uma importante centralidade na rede

    urbana naquele momento.

    Jacarezinho por sua vez era a principal cidade do Norte Velho do Paran nos

    anos de 1950, graas a um importante comrcio varejista, atacadista e prestao de

    servios e atividades industriais, oriundos da ao de agentes locais que atendiam as

    demandas da populao rural local e dos municpios localizados ao sul do mesmo.

    Contando com cerca de 35 mil habitantes em 1950, era com base nesta atuao regional

    que estava o elevado mercado consumidor para tais atividades, porque a maior parte de

    sua rea agrcola era composta por grandes propriedades, nas quais era elevado o

    nmero de colonos. Este proprietrios em sua maioria residiam no estado de So Paulo,

    realizando a extrao da renda fundiria sem correspondente reinvestimentos no local.

    Cornlio Procpio teve sua gnese como ponta de trilhos em 1930 - conhecida

    inicialmente como km 125 - associando loteamento rural e urbano, caracterizando-se

    por uma estrutura dimensional assentada em pequenas propriedades rurais. Na condio

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    de um centro sub-regional da rede urbana do norte do Paran, a cidade apresentava o

    quarto maior comrcio varejista da rede e o stimo maior comrcio atacadista,

    desempenhados por agentes locais, enquanto a atividade industrial ligada

    transformao da produo rural era significativa. Sua atuao, mediante estas

    atividades, envolvia rea expressiva de seu entorno, representada sobretudo por ncleos

    urbanos de menor centralidade. Acrescente-se ainda as importantes ligaes que

    estabelecia com So Paulo via importaes para o comrcio varejista e atacadista e

    exportao de produtos rurais.

    Cianorte na contrapartida, era o mais novo dentre todos os ncleos aqui

    referidos, cuja gnese de 1948/49 a partir da ao da Companhia Melhoramentos

    Norte do Paran, que criou condies para o sucesso do loteamento rural composto

    majoritariamente, em termos absolutos e relativos, por pequenos estabelecimentos;

    construo de estradas rodovirias no pavimentadas; dotao de infraestrutura urbana

    rodoviria, hotis, escritrio de comercializao das terras; telefone, aeroporto, escola,

    servio de abastecimento de gua e luz, hospital, etc. Com poucos anos de existncia e

    populao de apenas 8.480 habitantes neste momento, a cidade manifestava forte

    dinmica econmica e social atravs de elevado nmero de estabelecimentos

    comerciais, prestadores de servios e indstrias que atendiam as necessidades do

    elevado nmero de proprietrios rurais locais e dos municpios adjacentemente

    localizados.

    Desta maneira pode-se afirmar que estes ncleos urbanos de sua gnese at por

    volta dos anos de 1950, caminharam em sentido de uma convergncia, entendida aqui

    como a capacidade de cumprir os papis e as funes para os quais foram criados, em

    direo a tendncias igualizadoras. Mas aqui no se deve entender estas tendncias

    como igualdade em sentido lato, j que os processos sociais edificados sobre um

    espao-tempo movem-se em todas as direes, podendo ser direcionais ou no, lineares

    ou no, podem ser simplesmente aleatrios e caticos (BESSA, 2007). Assim,

    igualizadores como tendncias em direo a condies similares na evoluo dos

    ncleos urbanos, mas realizados singularizadamente. Muito pequenos, pequenos, mais

    antigos, muito jovens, estabeleceram uma relao de plenitude entre forma e funo,

    mediante processos diversos, oriundos da estrutura capitalista de ento. Assim colocado,

    a convergncia torna-se um caminho atravs do qual possvel identificar similaridades

    na geografia.

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    Tendo em vista que convergncia e divergncia so processos que coexistem e

    que no h mecanismos capazes de garantir a continuidade ou primazia do primeiro, a

    divergncia o [...] resultado mais provvel, visto que a assincronia, a descontinuidade

    e a no linearidade esto na base da dinmica evolutiva socieconmica e,

    consequentemente, da organizao espacial, cuja diversidade est associada s

    instabilidades e s mutabilidades dos vastos processos sociais (BESSA, 2007, p. 28).

    Desta maneira, transformaes econmicas, sociais, jurdicas, tecnolgicas ao

    atingirem uma cidade, uma rede urbana, apresentam inmeras possibilidades de serem

    capturados e singularizados, onde condies de diversas ordens o permitem. Condies

    que se referem noo de contingncia, entendida como a seleo de uma das inmeras

    necessidades de realizao de processos gerais, levando-se em conta as heranas do

    passado, o envolvimento de agentes internos e externos ao lugar, a capacidade de

    atitudes e investimentos, dentre outros. Estes agentes podem, por intermdio de suas

    aes, valorizar e dar maior importncia e rumos diferentes para as cidades.

    Se a convergncia foi o processo que mais que se destacou na evoluo das

    cidades em tela, a partir de um outro momento, o destaque foi a divergncia com

    diferenciaes entre esses centros. A partir dos anos de 1960/1970, transformaes

    gerais emanadas do desenvolvimento do brasileiro em seus aspectos econmicos,

    sociais, polticos, etc. possibilitaram uma outra organizao espacial na qual houve

    privilegiamento de alguns centros em detrimento de outros. Eventos de diversas ordens

    tanto externos como interno aos lugares, criaram condies diversas para suas

    evolues, pois passaram a responder por relaes socieconmicas distintas.

    A figura 1 a seguir permite verificar as complexas relaes de convergncia-

    divergncia das cidades de Osvaldo Cruz, Inbia Paulista, Cornlio Procpio, Cianorte

    e Jacarezinho. Num primeiro momento, tem-se a gnese de Jacarezinho que caminha em

    direo a convergncia; situao similar ocorre com as demais, ressaltando-se que as

    demais tiveram fundaes suas gneses entre 1920-1950. Mas a partir dos anos de

    1960/1970 houve rupturas nas evolues das cidades aqui referidas, manifestando

    divergncia e diferenciao entre elas.

    Assim, tanto Inbia Paulista como Jacarezinho se caracterizam por uma

    atividade agropecuria apoiada nas pastagens e cana-de-acar; com concentrao

    fundiria em favor de grandes estabelecimentos com esvaziamento demogrfico do

    campo. Em Inbia Paulista cerca de 50% da populao ativa passou a trabalhar como

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    bias-frias, enquanto nas atividades urbanas, seu maior representante agora uma

    cooperativa de consumo com expressiva rea de atuao, sob o controle de um grande

    proprietrio fundirio local, sendo esta a maior geradora de empregos urbanos, seguido

    por aqueles da prefeitura municipal. Este pequeno ncleo urbano mediante rupturas

    originadas do contexto nacional, foram singularizadas de tal forma que transformou-se

    em reservatrio de fora de trabalho para o complexo agroindustrial sucroalcooleiro.

    Jacarezinho tornou-se uma cidade de perda do excedente socialmente criado no local. A

    expanso do cultivo de cana de acar, presena dois complexos agroindustriais

    sucroalcoleiros de origem extra-local, consubstanciam-se em caminhos para a drenagem

    da renda fundiria e empregam elevado nmero de bias-frias locais e das cidades

    adjacentemente localizadas. Ocorreu expanso da rea de pastagens alcanando cerca de

    50% das terras municipais; presena de agroindstria avcola de capital internacional.

    FIGURA 1

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    Estas empresas agropecurias tem suas sedes externas cidade e inseridas na

    lgica de produo e reproduo do capital no estgio atual, de ampliao da

    concentrao e centralizao do capital, tem suas decises emanadas de outros centros

    urbanos nacionais e internacionais; as empresas e a produo propriamente dita

    funcionam praticamente independentes da cidade de Jacarezinho, a no ser pela

    necessidade de mo-de-obra, normalmente aquela sem qualificao e especializao,

    enquanto as vinculaes, lucros e rendas so direcionados para outros lugares.

    Do ponto de vista das atividades urbanas, o nico destaque so os servios

    educacionais de nvel superior, mediante presena de quatro faculdades estaduais, que

    passaram a movimentar expressivo nmero de alunos em variados cursos, gerando

    aumento na demanda por residncias e servios diversos. De outra parte, a cidade reflete

    a excluso social na presena de duas favelas envolvendo cerca de 3 mil habitantes.

    Jacarezinho e Inbia Paulista, embora com tamanhos diferentes, passaram a apresentar

    uma dinmica econmica e urbana pouco significativa, j que suas participaes na

    diviso territorial do trabalho agroindustrial sucroalcoleira e avcola no apresentam

    ligaes diretas importantes com a cidade onde se realiza a produo. Igualmente so

    cidades onde ocorre a extrao da renda e mais-valia gerada localmente.

    Diferente Osvaldo Cruz e Cianorte que foram capazes, mediatizadas por

    agentes locais, de incorporar processos externos e internamente encontrou outros

    caminhos para sua evoluo. Embora desenvolvam uma agropecuria submetida

    lgica da produo e reproduo do capital, representada pela cana e soja

    respectivamente nos dois municpios, que tenham apresentado concentrao fundiria, o

    destaque ficou para a produo industrial. Cianorte tornou-se especializada na produo

    industrial confeccionista, respondendo por parte significativa da produo paranaense

    de jeans e outras peas, em um gnero pulverizado na escala nacional. Esta atividade

    alm de ser a principal geradora de empregos locais e tributao aos cofres pblicos,

    coloca-se como responsvel por interaes espaciais de longo alcance na escala

    nacional, inserindo-se no roteiro de eventos da moda nacional. Toda esta atividade de

    origem local, envolvendo elevado nmero de indstrias, dentre as quais algumas j

    conquistaram mercado nacional por intermdio de grifes prprias, que se expandem a

    partir de franquias nas principais cidades brasileiras. Em Osvaldo Cruz a produo

    industrial seguiu caminho da diversificao de gneros, principiando pela indstria

    moveleira, no segmento de sofs e alcanou o patamar de ser uma das mais importantes

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    do estado de So Paulo. De origem local no final dos anos de 1960, a produo foi

    expandida cuja comercializao realizada na escala nacional, envolvendo uma gama

    mais diversificada de produtos como mveis de madeira racks, estantes, mesas, etc.,

    sendo um forte gerador de empregos nas duas unidades produtivas.

    A atividade industrial a partir dos anos de 1990 foi expandida com a presena de

    uma indstria de produtos para ballet sapatilhas, meias, calas, saias, etc. tornando-

    se grande exportadora brasileira para Europa e Estados Unidos. Recentemente

    implantou uma unidade produtiva na Amrica Central, a partir da qual ampliar as

    exportaes. De origem local, a unidade industrial constituda em sociedade, gerou a

    separao da mesma e formao de outra similar; ambas geram elevado nmero de

    empregos e inserem a cidade em interaes espaciais bastante amplas. Tem-se ainda

    unidade industrial de esmagamento de soja na cidade, resultante de reorganizao de

    anterior empresa que esmagava amendoim e caroo de algodo com unidades dispersas

    por vrias cidades da rede urbana de Marlia, e que foram a partir dos anos de 1990,

    unificadas em uma nica indstria, esmagando soja. Outras indstrias ainda se fazem

    presentes, mas so de menor porte, como o caso uma unidade produtora de tanquinhos

    - mquinas de lavar roupas sem a presena do equipamento de centrifugao. No caso

    destas ltimas unidades, trata-se de grupos sociais emergentes que mediante suas

    habilidades tcnicas e empresariais foram capazes de inserirem a cidade em outras

    lgicas evolutivas.

    Isto significa que no bojo dos processos que impuseram fortes mudanas, em

    Osvaldo Cruz e Cianorte a realizao dos mesmos foi em direo a uma singularidade

    funcional, a partir de outra e mais complexa participao na diviso territorial do

    trabalho. Tratam-se agora de cidades com especializao funcional industrial, que

    conferem diferenciao em relao economia nacional e ao mesmo tempo integrao a

    esta economia (CORRA, 1999), tendo suas centralidade ampliadas mediante tambm,

    importante comrcio varejista (incluso filiais de redes nacionais de mveis e

    eletrodomsticos, franquias) e prestao de servios que atendem demandas reais ou

    criadas.

    Cornlio Procpio por sua vez, seguiu outro caminho em sua evoluo. Trata-se

    de um ncleo urbano profundamente articulado produo agrcola moderna, realizada

    tanto em pequenas, mdias e grandes propriedades, mediante cultivo de soja, trigo e

    milho, atendendo demandas em termos de produtos, insumos, mquinas e equipamentos

  • Convergncia e divergncia na anlise do urbano

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    em escala regional, juntamente com sistema bancrio nacional e cooperativo a controlar

    a produo. Filiais de transnacionais e cooperativa local disputam a aquisio da

    produo, mas com ganhos em favor da segunda numa rea onde o cooperativismo

    expressivo. Trata-se do que Santos (1993) denominou de cidade do campo, como

    referncia capacidade das mesmas em atender as exigncias da produo agrcola e

    neste caso do complexo agroindustrial da soja-trigo, tanto a montante como a jusante.

    De outra parte, a atividade industrial tambm expressiva com a produo de caf

    solvel, cuja empresa criada nos anos de 1960, tornou-se filial de corporao

    transnacional japonesa, que ampliou a produo voltada para o mercado externo e

    interno, gerando elevado nmero de empregos, e interaes espaciais bastante

    longnquas.

    Consideraes finais

    Analisar a complexa e multifaceta organizao espacial a partir de ncleos

    urbanos, utilizando-se os processos de convergncia e divergncia, permite

    compreender os inmeros caminhos de similaridade e diferenciao estabelecidas

    diacronicamente, mas em contnua tenso e coexistindo em direo ao constante

    movimento. Evidencia ainda a enorme diversidade de situaes evolutivas dos ncleos

    urbanos a partir de rupturas que ocorreram em determinados momentos histricos;

    modificaes geradas pela elite local ou emergncia de outros grupos e fraes de

    classes a implantarem atividades produtivas no local; evidencia processos de forte

    extrao da renda fundiria gerada localmente e investidas ou consumidas em outros

    lugares; fortes processos de excluso social, dentre outros, mediante a complexificao

    da diviso territorial do trabalho.

    Referncias

    BESSA, Kelly C. F. De O. Convergncias e divergncias da urbanizao em reas

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  • Convergncia e divergncia na anlise do urbano

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