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1 dialogo@com I Barulhista Lecy Pereira

Conversando com barulhista

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Um papo fragmentado com o músico brasileiro Barulhista.

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dialogo@com

I

Bar

ulh

ista

Lecy Pereira

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O meio oprime ou somos sapos com medo de saltar?

Então, Barulhista, olhando os arredores (quintais) de onde

residimos por questões circunstanciais, embora isso não

signifique muita coisa em termos de formação cultural,

posto que nem sempre é o meio que nos teleguia, fica

essa tal dúvida na cabeça.

Será que esse meio está preparado para nos absorver ou,

em outras palavras, nos dissolver?

Por que não nos saborear ou ter a curiosidade de

investigar o conteúdo, aquilo que emana de si como

artista de si mesmo?

Ao longo do tempo temos travado diálogos pontuais e

tais diálogos sempre se transmutaram em produtividade,

mesmo em situações adversas para ambas as partes.

Tabulações criativas sempre ativam dínamos que nem

sempre sabemos onde em nós reside.

Sem esse negócio de falsa modéstia. Os caminhos

midiáticos nos tem formado cada um com seu talento ou

sua verborragia semântica. Nossos arcabouços culturais

vão sendo insuflados com o nosso natural desassossego

existencial – e aqui um hiato para juntar rimas previsíveis:

natural, existencial, essencial, descomunal, social...

Falando em existencial, por que aquilo que de alguma

forma criamos ganha mais respaldo distante de onde

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estamos geograficamente? Será que vale aquela síndrome

da cegueira da aldeia? Pode algo de bom sair de onde

ninguém nunca esperou coisa alguma? Não sei se

respostas resolvem questionamentos. É possível que

questionamentos se satisfaçam com outros

questionamentos de igual envergadura ou, ainda, maior.

Por outro lado ou olhando por outro prisma ou

observando de helicóptero, essa “conversa mole” de

opressão não estaria meramente ligada a fatores

monetários? A boa ou má sorte circunstancial de nascer

numa família X num país Y e, a partir daí, o provável

talento individual ser colocado à prova dos nossos

próprios recalques, da nossa compreensível fragilidade

humana, da falta de bagagem nossa e também alheia, de

pais e/ou mães (depende da estrutura familiar)

despreparados para lidar com o novo que cada filho

significa?

Quando saímos do lugar comum, da nossa condição de

sapos, descobrimos que em outros lugares as coisas

parecem funcionar para além da eterna dicotomia

dialética bolchevique e menchevique, proletária ou

pequena ou imensamente burguesa, para além da

macumba terceiro-mundista ou qualquer tipo de visão

condicionalmente colonialista. Não quero aqui, ainda,

entrar no mérito ou demérito religioso americano do sul

(esse é outro ringue no qual o indefeso indivíduo

talentoso terá que subir para ser massacrado ou

ovacionado dependendo da circunstância ou da sua

própria astúcia).

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A falta de tato (deixe-me encontrar outra palavra), a falta

de tirocínio cultural tem inibido os talentos do local em

que moramos, Barulhista? Pergunto-lhe isso também por

saber que a forma logística de lidar com o artista em

outras delimitações geográficas costuma ser

absolutamente diferente. Por exemplo, eu tenho

informações de que o estado do Pará vive uma

efervescência cultural praticamente desconhecida do

resto do país. A forma de lidar com as manifestações

culturais in loco confere dignidade aos agentes dessa

cultura? A ação do estado (quando existe essa ação),por

meio de suas leis de incentivo, promove ou verticaliza,

dissemina ou engessa a cultura num modelo partidário de

resultados? Fica a impressão de que o proponente se

transforma numa espécie de refém da captação (após a

fila burocrática da aprovação). Se não captar, já era. Seu

projeto deixa de existir porque falta dinheiro.

Como você pode notar, Barulhista, a metralhadora não é

israelense, mas é especialista em festim. Alguns temas

abrem links para verdadeiros ensaios, embora isso não

solucione a questão primaz. O seu trabalho artístico

(música também é arte) está aqui, mas um olhar atencioso

sobre ele parece estar em outro lugar, além do aspecto

self made man que é uma espécie de lugar comum abaixo

e um pouco acima da Linha do Equador. O artista é a

plataforma de si mesmo e, por vezes, a sua principal

plateia.

Para não estender ainda mais o drama do sapo e a

opressão promovida e patrocinada pelo “Protocolo dos

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Sábios de Sião” e pelos privilegiados do “Clube

Bilderberg” também pela sanha sádica dos Illuminatis,

encerro esse tópico tropical com um poema do poeta e

amigo Diovani Mendonça: “Nem sapinho num brejão/

Nem sapão num brejinho/ De fato desde o parto/ Prefiro

é ser girino/ Que Sequer sabe o destino”.

Lecy Pereira

https://www.facebook.com/lecypereira

https://www.facebook.com/barulhista