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Departamento de Direito COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL ENTRE O BRASIL E OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA Aluno: Rafael Salomão Safe Romano Aguillar Orientadora: Daniela Trejos Vargas I – Apresentação A presente pesquisa teve por objetivo a averiguação do estado em que se encontrava a cooperação jurídica internacional entre o Brasil e os Estados Unidos da América. Em 2004, uma emenda constitucional alterou a distribuição de competência do Judiciário brasileiro quanto a alguns instrumentos relacionados ao tema, o que ensejou a necessidade de se verificar se o novo órgão responsável estava atuando corretamente em suas novas incumbências. Passados mais de seis anos desde a alteração, eis que pareceu oportuno a realização desse estudo de maneira circunscrita aos EUA, tendo em vista a existência de tratados internacionais multilaterais de que fazem parte o Brasil e este país, sua reconhecida importância e relevância no cenário global e recentes episódios litigiosos em destaque na mídia, tal como o caso do menino Sean Goldman, que atraem atenção para o assunto. Todos esses tópicos, bem como os resultados finais da pesquisa, serão por nós detidamente apreciados a seguir. II – Introdução ao tema da Cooperação Jurídica Internacional O processo de globalização, juntamente com os avanços tecnológicos nas áreas de transporte e de telecomunicação, possibilitou-nos um mundo inacreditavelmente integrado. Vivenciamos uma era de fluxos migratórios e de intercâmbios culturais e comerciais sem precedentes, que conecta as partes mais longínquas do planeta. Em uma interessante tentativa de se definir essa nova realidade, cunhou-se a expressão aldeia global [1], que busca traduzir a “compressão” subjetiva que nossa sociedade experimentou, ao ver o mundo cada vez “menor”. Esses avanços, no entanto, trazem consigo novos desafios e fazem surgir novas necessidades. Como promover um combate eficiente ao crime organizado, que agora se internacionaliza? Como garantir maior rapidez e eficácia às decisões judiciais, agora que temos litigantes residindo em diferentes países e continentes, com patrimônios por lá espalhados? Como evitar conflitos de competência e violação de prerrogativas de outros Estados? Como proteger internacionalmente matrimônios e filiações? Eis algumas dificuldades com as quais devemos lidar hoje. É exatamente nesse contexto que o instituto da Cooperação Jurídica Internacional adquire crescente importância hodiernamente. De acordo com difundido conceito, esta é o “intercâmbio internacional para o cumprimento extraterritorial de medidas processuais do Poder Judiciário de outro Estado” [2]. Trata-se do uso de meios adequados e eficientes pelos Judiciários dos Estados para que, em mútua assistência, possam conferir maior eficácia às

COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL ENTRE O BRASIL … · Vivenciamos uma era de fluxos migratórios e de intercâmbios culturais e comerciais sem ... que já foi dito em nosso relato

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COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL ENTRE O BRASIL E OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Aluno: Rafael Salomão Safe Romano Aguillar Orientadora: Daniela Trejos Vargas

I – Apresentação A presente pesquisa teve por objetivo a averiguação do estado em que se encontrava a

cooperação jurídica internacional entre o Brasil e os Estados Unidos da América. Em 2004, uma emenda constitucional alterou a distribuição de competência do Judiciário brasileiro quanto a alguns instrumentos relacionados ao tema, o que ensejou a necessidade de se verificar se o novo órgão responsável estava atuando corretamente em suas novas incumbências. Passados mais de seis anos desde a alteração, eis que pareceu oportuno a realização desse estudo de maneira circunscrita aos EUA, tendo em vista a existência de tratados internacionais multilaterais de que fazem parte o Brasil e este país, sua reconhecida importância e relevância no cenário global e recentes episódios litigiosos em destaque na mídia, tal como o caso do menino Sean Goldman, que atraem atenção para o assunto.

Todos esses tópicos, bem como os resultados finais da pesquisa, serão por nós detidamente apreciados a seguir.

II – Introdução ao tema da Cooperação Jurídica Internacional O processo de globalização, juntamente com os avanços tecnológicos nas áreas de

transporte e de telecomunicação, possibilitou-nos um mundo inacreditavelmente integrado. Vivenciamos uma era de fluxos migratórios e de intercâmbios culturais e comerciais sem precedentes, que conecta as partes mais longínquas do planeta. Em uma interessante tentativa de se definir essa nova realidade, cunhou-se a expressão aldeia global [1], que busca traduzir a “compressão” subjetiva que nossa sociedade experimentou, ao ver o mundo cada vez “menor”.

Esses avanços, no entanto, trazem consigo novos desafios e fazem surgir novas necessidades. Como promover um combate eficiente ao crime organizado, que agora se internacionaliza? Como garantir maior rapidez e eficácia às decisões judiciais, agora que temos litigantes residindo em diferentes países e continentes, com patrimônios por lá espalhados? Como evitar conflitos de competência e violação de prerrogativas de outros Estados? Como proteger internacionalmente matrimônios e filiações? Eis algumas dificuldades com as quais devemos lidar hoje.

É exatamente nesse contexto que o instituto da Cooperação Jurídica Internacional adquire crescente importância hodiernamente. De acordo com difundido conceito, esta é o “intercâmbio internacional para o cumprimento extraterritorial de medidas processuais do Poder Judiciário de outro Estado” [2]. Trata-se do uso de meios adequados e eficientes pelos Judiciários dos Estados para que, em mútua assistência, possam conferir maior eficácia às

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suas tutelas jurisdicionais, prestando, destarte, um melhor e mais ágil serviço. Essa aproximação tem sido, ultimamente, favorecida pela celebração de tratados internacionais e pela legislação interna de cada país; o que atesta a relevância da matéria.

III – Das Cartas Rogatórias O principal instrumento para a concretização da Cooperação Jurídica Internacional é,

certamente, a carta rogatória. Esta pode ser definida como o veículo para a transmissão de pedidos judiciais, cíveis ou penais, entre os Judiciários dos Estados [3].

As cartas rogatórias podem destinar-se ao cumprimento de diversas medidas processuais, tais como a citação e notificações em geral; sendo nesses casos classificadas como ordinatórias. Elas podem, outrossim, objetivar a coleta de provas ou a oitiva de testemunhas; sendo então classificadas como instrutórias. Podem, por fim, objetivar a tomada de medidas restritivas de direitos, como cautelares para bloquear bens; sendo classificadas como executórias nessas situações.

As cartas rogatórias são adjetivadas como ativas, quando vistas da perspectiva do Estado rogante da diligência, e como passivas, se nos encontramos sob a ótica do Estado rogado. Seu trâmite obedece à legislação interna de cada país, bem como à eventual tratado internacional existente entre os Estados envolvidos na cooperação.

Em nosso último relatório, relativo à conclusão da primeira fase da presente pesquisa, tivemos a oportunidade de expor em detalhes os procedimentos estabelecidos pela legislação brasileira para o trâmite das cartas rogatórias em nosso país. Nesta segunda fase, uma vez que foram focados os Estados Unidos da América, conforme explicitaremos adiante, não nos deteremos em reexaminar o ordenamento e os procedimentos nacionais, remetendo-se o leitor porventura interessado para aquilo que já foi dito em nosso relato passado; cumprindo, deste modo, o que determinam os mandamentos da conveniência e da praticidade.

Além das cartas rogatórias, outros métodos para o exercício da Cooperação Jurídica Internacional são o chamado auxílio direto; que é o uso de atribuições legais por uma autoridade nacional para atender uma demanda externa, como se interna fosse; a homologação de sentenças estrangeiras, que confere eficácia no ordenamento interno de um país às decisões proferidas pelo Judiciário de outro; e a prestação de informações acerca do direito nacional de um Estado para outro. O objeto de nossa pesquisa, entretanto, limitou-se ao amplo estudo das cartas rogatórias, conforme justificaremos em seguida.

IV – Do Objeto e da Metodologia da Pesquisa Para analisar a conjuntura da Cooperação Jurídica Internacional entre o Brasil e os

Estados Unidos da América, entendemos que o melhor método, por ser mais acessível e possibilitar resultados mais concretos, seria a realização de um levantamento, quantitativo e qualitativo, das cartas rogatórias trocadas por ambos os países. O material seria coletado e sistematizado em gráficos e tabelas, de modo a prover dados estatísticos e a facilitar buscas posteriores, respectivamente.

Na primeira fase de nossa pesquisa, concluída em 2011, em completa obediência ao escopo e metodologia inicialmente proposta, fomos capazes de levantar todos os dados ambicionados relativos às cartas rogatórias passivas. Por intermédio de uma extensa pesquisa de jurisprudência no sítio eletrônico do Superior Tribunal de Justiça (STJ) [4], o órgão

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responsável por examinar as cartas no Brasil, conferindo-lhes ou não executoriedade para que possam ser cumpridas, conseguimos esquematizar todas as rogatórias passivas oriundas dos Estados Unidos. Foram objeto de nossa análise, naquela ocasião, os pedidos das cartas, seus respectivos estados de origem, se foram ou não deferidas, de qual matéria tratavam e de quando estavam datadas. Os interessantes resultados, cristalizados em gráficos e estatísticas, podem ser encontrados em nosso relatório passado, ao qual, uma vez mais, respeitosamente remetemos o estimado leitor.

A princípio, almejávamos, já neste segundo ano de pesquisa, realizar o mesmo levantamento com as cartas rogatórias ativas. A intenção original era a de repetir o método anteriormente utilizado, examinando-se, desta vez, a base de dados estadunidense, para que se averiguasse o trâmite de cartas rogatórias ativas oriundas do Brasil. Desejávamos, destarte, obter informações paralelas, correlatas àquelas que foram auferidas durante a primeira fase, para posterior comparação e extração de conclusões.

Não obtivemos, contudo, êxito nessa empreitada. Explicamos. Os Estados Unidos, ao contrário do Brasil, não possuem um procedimento centralizado,

e concentrado em um órgão específico, para a concessão de exequatur às cartas rogatórias, para além do fato de que seus tribunais não disponibilizam o conteúdo de suas decisões em sítios eletrônicos na internet, tal como o faz nosso Superior Tribunal de Justiça. Mesmo que essas decisões estivessem disponíveis, todavia, nossa busca teria de ser limitada, pois não seria possível esgotar e pesquisar em absolutamente todas as cortes americanas, deveras numerosas que são.

Com efeito, em virtude desses óbices, tivemos, para proceder às pesquisas, de lançar mão de uma ferramenta privada de busca, disponibilizada por nossa orientadora, assinante do serviço. Assim, o referido mecanismo, por nós utilizado, foi o site Westlaw [5], usado por juristas e estudantes estadunidenses em seus trabalhos e investigações.

Superado esse entrave, entretanto, deparamo-nos, ainda, com outra dificuldade, esta tendo se revelado intransponível, o que nos obrigou, finalmente, a alterar a metodologia e os objetivos originários da pesquisa. Nos Estados Unidos, as cartas rogatórias não são autuadas como processos autônomos, de modo que não há, portanto, registro de sua tramitação tal como ocorre no Brasil, mormente porque alguns procedimentos desenvolvem-se, inclusive, ex parte, quer dizer, sem a participação do interessado, conforme explicitaremos adiante. A conseqüência imediata disso foi a impossibilidade de realizarmos o mesmo levantamento que conseguimos obter outrora com as cartas passivas, forçando-nos, ultimamente, a alterar a metodologia de nossa pesquisa.

Chegou-se a ventilar a possibilidade de se pesquisar na base de dados brasileira, isto é, nas ferramentas eletrônicas de busca de jurisprudência dos tribunais brasileiros, mas, para além de ser este um empreendimento excessivamente trabalhoso, os resultados seriam incertos. A uma porque as cartas rogatórias ativas podem ser expedidas por qualquer órgão do poder judiciário, não sendo, portanto concentradas apenas no STJ, como no caso das passivas, o que dispersaria a pesquisa em demasia. A duas porque os resultados dependeriam tão somente de que a expressão “carta rogatória” estivesse mencionada nos relatórios das sentenças e dos acórdãos dos tribunais, quando estes, na verdade, costumam ser omissos em relação a esse mero detalhe, integrante da conjuntura probatória ou de comunicação dos processos, na esmagadora maioria dos casos. Isso para não mencionar que alguns sites de

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tribunais apenas permitem a busca de palavras-chave na ementa de suas decisões ou só disponibilizam decisões de segundo grau, o que nos confirmou, em definitivo, a inviabilidade desta hipótese de solução.

Reunindo-nos para discussão, tomamos, então, a decisão conjunta de converter a pesquisa em um estudo dos casos mais interessantes encontrados, bem como na promoção de uma detida análise da legislação estadunidense pertinente ao tema da cooperação e da tramitação das rogatórias. É o que passamos a expor a seguir, a título de resultados.

V – A Legislação Estadunidense O Direito estadunidense pertence à tradição costumeira-insular, mais simplesmente

referida como Common Law, pelo que algumas diferenças sistêmicas são esperadas em relação ao Direito brasileiro, integrante, por sua vez, da árvore romano-continental, a Civil Law. No que diz respeito, em especial, aos procedimentos atinentes à cooperação jurídica internacional, peculiarmente às regras de processo de civil, a sutil distância que separa os sistemas revela-se particularmente assaz acentuada, conforme veremos infra.

Conquanto presentes e existentes, essas diferenças não impediram que ambos os países assinassem e ratificassem a Convenção Interamericana Sobre Cartas Rogatórias, “internalizada” no Brasil, conforme a práxis de nosso Direito Internacional Público, pelo Decreto nº 1.899/96. A convenção oferece determinações mais específicas para o trânsito das cartas, objetivando uma padronização e facilitação para a sua circulação entre os signatários, de modo a favorecer a cooperação e a integração entre as Américas.

Uma de suas facilidades é a possibilidade de transmissão dos exortos via as chamadas “autoridades centrais”. Com efeito, dispõe a convenção em seu artigo 4º:

As cartas rogatórias poderão ser transmitidas às autoridades requeridas pelas próprias partes interessadas, por via judicial, por intermédio dos funcionários consulares ou agentes diplomáticos ou pela autoridade central do Estado requerente ou requerido, conforme o caso.

[Grifos nossos]

As autoridades centrais, portanto, são órgãos dos países signatários incumbidos da função de dar andamento aos pedidos de auxílio e às rogatórias trocadas. Por especializarem-se e por estarem habituadas aos procedimentos próprios da cooperação, a expectativa é de que as autoridades centrais agilizem e facilitem o trâmite das cartas. A convenção incumbiu cada uma de suas partes da tarefa de indicar qual organismo seu exerceria o papel de autoridade central.Trata-se, no Brasil, do Ministério da Justiça, por meio de seu Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) e, nos Estados Unidos, do Departament of Justice e seu Office of International Judicial Assistence, Civil Division.

A convenção aplica-se às cartas rogatórias de natureza instrutória e ordinatória, de acordo com a expressa redação de seus artigos 2º e 3º, abaixo colacionados, respectivamente:

Esta Convenção aplicar-se-á às cartas rogatórias expedidas em processos relativos a matéria civil ou comercial pelas autoridades judiciárias de um dos Estados Partes nesta Convenção e que tenham por objeto:

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a) a realização de atos processuais de mera tramitação, tais como notificações, citações ou emprazamentos no exterior; b) o recebimento e obtenção de provas e informações no exterior, salvo reserva expressa a tal respeito.

Esta Convenção não se aplicará a nenhuma carta rogatória relativa a atos processuais outros que não os mencionados no artigo anterior; em especial, não se aplicará àqueles que impliquem execução coativa.

[Grifos nossos]

Apesar de ser essa a extensão proposta da convenção, os Estados Unidos fizeram reserva à alínea b do artigo 2º, de modo que a convenção não pode ser usada para a troca de rogatórias instrutórias com aquele país. Isto não impede, evidentemente, que cartas com pedido de produção de material probatório sejam enviadas aos Estados Unidos; ocorre apenas que elas não poderão tramitar via convenção. Eis o texto da reserva americana ao tratado, disponibilizado pela página eletrônica da Organização dos Estados Americanos (OEA):

Pursuant to Article 2(b) of the Inter-American Convention on Letters Rogatory, letters rogatory that have as their purpose the taking of evidence shall be excluded from the rights, obligations and operation of this Convention between the United States and another State Party.[6]

O Brasil, por sua vez, não realizou nenhuma reserva à convenção, sendo-lhe esta, pois, plenamente aplicável.

Muito embora a convenção exista e seja aplicada, a legislação estadunidense não exige a sua aplicação. Senão vejamos.

Os Estados Unidos da América constituem-se, desde a promulgação de sua Constituição no ano de 1787, em uma federação, na qual os seus estados membros gozam de singular autonomia. Tudo aquilo que não fora proibido ou reservado à União pela própria Constituição cabe aos estados legislar sobre. Com efeito, não é outra a redação da X Emenda à Constituição americana, integrante do chamado Bill of Rights, de 1791, que consagra indubitavelmente este entendimento:

The powers not delegated to the United States by the Constitution, nor prohibited by it to the States, are reserved to the States respectively, or to the people.

Uma vez que a Constituição estadunidense silenciou acerca da Cooperação Jurídica Internacional, temos, como corolário desse princípio, que cada estado americano possui autonomia para estabelecer suas regras e procedimentos próprios relativos a ela. Disto resulta que, teoricamente, 50 diferentes regulamentos para a Cooperação Jurídica Internacional coexistiriam nos EUA, se pressupormos que cada estado integrante da federação americana possui um diploma reservado ao assunto.

Felizmente, o Poder Judiciário americano não é completamente difuso e disperso por seus Estados, porquanto a Constituição americana houve por bem estabelecer uma Justiça Federal, dotando-a de caráter nacional, a fim de que atendesse a conflitos específicos por ela e pela Lei determinados. Assim, lemos no Artigo III, § 2º, cláusula 1ª, daquela Carta Magna:

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The judicial Power shall extend to all Cases, in Law and Equity, arising under this Constitution, the Laws of the United States, and Treaties made, or which shall be made, under their Authority;--to all Cases affecting Ambassadors, other public Ministers and Consuls;--to all Cases of admiralty and maritime Jurisdiction;--to Controversies to which the United States shall be a Party;--to Controversies between two or more States;-- between a State and Citizens of another State,--between Citizens of different States,--between Citizens of the same State claiming Lands under Grants of different States, and between a State, or the Citizens thereof, and foreign States, Citizens or Subjects.

Apesar dessa extensa enumeração, Richard D. Freer observa que a Constituição não conferiu essas competências automaticamente para a Justiça Federal, de modo que, conforme entendimento pacífico, cabe ao Congresso definir, pela forma da Lei, o quanto de jurisdição será exercida pelas cortes federais. Por óbvio, o Congresso somente lhes pode atribuir competências que estejam listadas na Constituição, mas em não o fazendo, portanto, elas não podem exercer jurisdição sobre tudo o quanto está nela listado. [7]

É chegado o momento, então, de fazermos nossa primeira referência ao chamado Code of Laws of the United States of America ou, como é mais simplesmente conhecido, The United States Code, doravante abreviado como USC. Trata-se de uma consolidação, dividida por matéria, das principais leis federais dos Estados Unidos, editada a cada seis anos pelo Office of the Law Revision Counsel, da Câmara dos Deputados estadunidense. O título 28 desta vasta compilação reúne as regras atinentes ao Direito Processual Civil americano, válidas para toda a Justiça Federal.

Destarte, interessa-nos, para o âmbito deste trabalho, o que dispõem os §§ 1331 e 1332 do título 28 do US Code. Em lacônica epítome, esses dispositivos estipulam as duas mais relevantes competências da Justiça Federal americana. São elas respectivamente: tratar de questões que envolvam discussões acerca da Constituição americana ou de lei federal ou de tratado internacional, do qual os EUA sejam parte, e tratar de casos em que as partes sejam cidadãs de estados ou de países diferentes. Note-se que, para esta segunda hipótese, há um valor de alçada mínimo de 75 mil dólares, de modo que não basta tão somente que uma das partes seja estrangeira ou cidadã de outro estado para tornar a corte federal competente. O valor da causa deverá, outrossim, exceder a referida quantia.

Cumpre-nos, ainda em relação à competência das cortes federais, acrescentar uma última e imprescindível informação, qual seja, a de que sua jurisdição não é, salvo exceções legais, exclusiva. Isto quer dizer que, muito embora a Constituição e a Lei permitam que determinada ação seja ajuizada na Justiça Federal americana, nada impede que esta mesma ação seja proposta em uma corte estadual igualmente competente. Nesse sentido, o sempre didático dizer de Richard D. Freer, que aduz:

“Interestingly, however, from our earliest days as a nation, the states courts have been expected to decide cases arising under federal law. This is shown by the fact that § 1331 does not grant exclusive federal jurisdiction.” [8]

Um exemplo de exceção a essa regra são os processos de falência, nos quais a Justiça Federal detém competência originária e exclusiva (28 USC § 1334, a).

Nos casos em que a jurisdição federal não é exclusiva, todavia, o §1441 (a), do título 28 do US Code, permite que o réu de uma ação proposta contra si em uma corte estadual faça uso

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do instituto do “Removal Jurisdiction”, de modo que o processo seja transferido para uma corte federal. Em outras palavras, sempre que o réu requerer e conseguir demonstrar que uma ação ajuizada contra si em uma Justiça Estadual poderia ter sido proposta numa corte federal, a ação será transferida para esta.

Não coaduna com os escopos deste ensaio um desmedido aprofundamento no estudo das complexas regras de competência americanas, as quais renderiam uma fecunda monografia que porventura lhes fosse dedicada. Não nos deteremos, portanto, em analisar as intermináveis doutrinas e jurisprudências acerca deste assunto. Ao revés, contentamo-nos em remeter o prezado leitor a nossa bibliografia, a qual, mesmo estando longe de esgotar o assunto, fornecer-lhe-á um proveitoso material propedêutico em que se poderá basear.

Assim sendo, após esse parêntese, retornamos ao nosso ponto de início. Dizíamos, então, que a legislação americana não exigia a aplicação da Convenção Interamericana Sobre Cartas Rogatórias e sequer demandava, na verdade, o uso dessas cartas para a efetivação de seus provimentos judiciais no exterior. A fim de comprovar essa assertiva, demos notícia, a princípio, de que cada estado americano possuía sua própria legislação relativa à Cooperação Jurídica Internacional e de que, somada a essas legislações, havia ainda a regulamentação federal a respeito, aplicável às cortes da União. Assim, tendo em vista que (i) seria desarrazoado promover um estudo de cada um dos corpos legislativos de cada um dos 50 estados federados americanos e que (ii) a maioria dos litígios que envolvem estrangeiros e a necessidade de se usar os instrumentos da Cooperação Jurídica Internacional transcorrem na Justiça Federal, podendo inclusive ser a esta transferidos no caso de virem a ser ajuizadas em uma corte estadual; daremo-nos por satisfeitos em examinar apenas as disposições do US Code sobre a matéria, mormente porque a legislação dos estados costuma repetir as suas disposições a respeito.

Hodiernamente, são 94 as cortes federais existentes nos Estados Unidos, também chamadas de “cortes distritais”. Essas cortes são agrupadas em 12 circuitos regionais, dotados, cada qual, de uma “corte de apelação”, para a qual as partes podem recorrer das decisões proferidas pela corte distrital. [9] O mapa abaixo ilustra esta configuração:

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A todas essas cortes aplica-se, portanto, o título 28 do US Code. O Estado estrangeiro, ao emitir uma carta rogatória, pode optar entre mandá-la diretamente para uma dessas cortes ou enviá-la ao Departament of State, que se encarregará de efetuar essa transmissão para o distrito ou órgão apropriado. Eis o que dispõe o § 1781, do 28 USC:

(a) The Department of State has power, directly, or through suitable channels— (1) to receive a letter rogatory issued, or request made, by a foreign or

international tribunal, to transmit it to the tribunal, officer, or agency in the United States to whom it is addressed, and to receive and return it after execution; and

(2) to receive a letter rogatory issued, or request made, by a tribunal in the United States, to transmit it to the foreign or international tribunal, officer, or agency to whom it is addressed, and to receive and return it after execution.

(b) This section does not preclude— (1) the transmittal of a letter rogatory or request directly from a foreign or

international tribunal to the tribunal, officer, or agency in the United States to whom it is addressed and its return in the same manner; or

(2) the transmittal of a letter rogatory or request directly from a tribunal in the United States to the foreign or international tribunal, officer, or agency to whom it is addressed and its return in the same manner.

Não se olvide, entretanto, que o Estado estrangeiro poderá, igualmente, a seu critério, enviar a carta diretamente para uma corte estadual ou não fazer uso de uma rogatória, conforme demonstraremos de imediato.

Abordaremos, em seguida, de modo apartado, dois aspectos diferentes da Cooperação Jurídica Internacional, uma vez que são eles, igualmente, tratados em separado no US Code. São eles: a obtenção de provas e a citação.

Destarte, comecemos por este último. O § 1696, do 28 USC, trata da citação. Apreciemo-lo, pois:

(a) The district court of the district in which a person resides or is found may order service upon him of any document issued in connection with a proceeding in a foreign or international tribunal. The order may be made pursuant to a letter rogatory issued, or request made, by a foreign or international tribunal or upon application of any interested person and shall direct the manner of service. Service pursuant to this subsection does not, of itself, require the recognition or enforcement in the United States of a judgment, decree, or order rendered by a foreign or international tribunal.

(b) This section does not preclude service of such a document without an order of court.

Segundo este estatuto, um tribunal estrangeiro pode emitir uma carta rogatória ou um mero requerimento para que uma corte distrital americana ordene a citação de uma pessoa que resida em seu respectivo distrito. O requerimento pode ser feito, da mesma forma, por qualquer pessoa interessada na citação, quer dizer, o proponente da ação, por exemplo, possui autonomia para demandá-la independentemente de qualquer manifestação do tribunal no qual deu início ao processo.

O dispositivo em análise adverte, ainda, que a ordem de citação não importa no reconhecimento de qualquer decisão estrangeira, a qual deverá passar por posterior processo

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de homologação para produção de efeitos nos EUA. Não há disposições federais acerca da homologação de sentenças estrangeiras nos EUA. As decisões alienígenas devem ser submetidas ao rito ordinário de uma ação civil nas cortes estaduais ou federais; nestas somente se tiverem competência na forma do que já descrevemos supra (28 USC § 1332) e naquelas de acordo com o que dispuser a legislação estadual pertinente.

O mais interessante, contudo, é o que atesta a alínea (b) do § 1696. Com efeito, diz ela que a citação prescinde de uma ordem legal da corte americana. Em outras palavras, qualquer método de citação, levado a efeito pelo próprio demandante, por uma entidade particular especializada ou pelo correio, por exemplo, são considerados plenamente válidos. As únicas precauções a serem tomadas diriam respeito à entrega dos documentos devidamente traduzidos para o inglês, para que se evite ulteriores alegações de violação ao devido processo legal, e à permissibilidade do meio escolhido para a citação conforme a lei do fórum.

Essa liberal tradição da common law é certamente a responsável pelo fato de que muitos brasileiros são citados ou coagidos a produzir provas no Brasil sem o uso, legalmente exigido de cartas rogatórias. Como não exigem rogatórias para que sejam citados, pensam, da mesma forma, não precisarem delas para citar estrangeiros. Com efeito, a regra 4(f) das Federal Rules of Civil Procedure estadunidense dispõe:

(f) Serving an Individual in a Foreign Country. Unless federal law provides otherwise, an individual—other than a minor, an incompetent person, or a person whose waiver has been filed—may be served at a place not within any judicial district of the United States:

(1) by any internationally agreed means of service that is reasonably calculated to give notice, such as those authorized by the Hague Convention on the Service Abroad of Judicial and Extrajudicial Documents;

(2) if there is no internationally agreed means, or if an international agreement allows but does not specify other means, by a method that is reasonably calculated to give notice:

(A) as prescribed by the foreign country's law for service in that country in an action in its courts of general jurisdiction;

(B) as the foreign authority directs in response to a letter rogatory or letter of request; or

(C) unless prohibited by the foreign country's law, by: (i) delivering a copy of the summons and of the complaint to the individual

personally; or (ii) using any form of mail that the clerk addresses and sends to the

individual and that requires a signed receipt; or (3) by other means not prohibited by international agreement, as the court orders.

Ora, o estatuto não poderia conter mensagem mais clara. Ele estabelece que, na prática, qualquer método de citação razoável e que não seja expressamente proibido pelo país de destino pode ser validamente usado, de acordo com a lei do fórum. O entendimento que prevalece é que, para que não haja a citação no modelo americano, não basta que o país destinatário não preveja em sua lei determinada forma de citação; esta deverá ser expressamente interditada pela sua lei ou o país, sendo parte de uma convenção internacional, como a da Haia, por exemplo, deverá ter declarado abertamente que não aceita determinado

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procedimento citatório. Adiantamos que o Brasil não faz parte da Convenção da Haia sobre Citação e que não fez qualquer declaração de caráter internacional inadmitindo certos tipos de citação. Assim, pela lei do fórum americano, uma citação enviada por correio, com aviso de recebimento, para um réu residente no Brasil é plenamente válida e conduziria a um julgamento à revelia em caso de não comparecimento deste.

Não é de se surpreender, portanto, que no caso Liberty Media Holdings, LLC v. Vinigay.com, julgado em 2011 pela corte do Arizona, uma empresa brasileira tenha sido citada por e-mail, porquanto o autor não possuía o endereço físico do demandado, apenas o eletrônico...

É evidente, no entanto, que uma decisão em revelia proferida nos Estados Unidos em um processo no qual não tenha havido citação por carta rogatória jamais será homologada para produzir efeitos no Brasil, uma vez que a citação válida é um dos requisitos essenciais para a homologação de sentenças estrangeiras. A Resolução nº 09 de 2005 e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o órgão incumbido de homologar as sentenças estrangeiras no Brasil (CF art. 105, I, i) após a emenda constitucional nº 45 de 2004, são inequívocas nesse sentido:

Resolução nº 09/05:

Art. 5º. Constituem requisitos indispensáveis à homologação de sentença estrangeira: [...] II - terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia;

SEC nº 879, de relatoria do Ministro Luiz Fux:

PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA. HOMOLOGAÇÃO. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO.

1.Sentença estrangeira que condenou seguradora brasileira em cota de retrocessão, consoante negócio jurídico inquinado de invalidade, posto firmado por agente incapaz, indicado em consórcio de empresas assinado por quem não detinha poderes mercê da manutenção da higidez da personalidade jurídica de cada uma das empresas.

2. Alegação que contaminou a cláusula de eleição de foro e, a fortiori, a competência do juízo.

3. Citação irregular levada a efeito em face de pessoa jurídica que não detinha poderes para receber a comunicação processual.

4. A homologação de sentença estrangeira reclama prova de citação válida da parte requerida, seja no território prolator da decisão homologanda, seja no Brasil, mediante carta rogatória, consoante a ratio essendi do art. 217, II, do RISTJ.

5. Deveras, é assente na Suprema Corte que:"A citação de pessoa domiciliada no Brasil há de fazer-se mediante carta rogatória, não prevalecendo, ante o princípio direcionado ao real conhecimento da ação proposta, intimação realizada no estrangeiro. Inexistente a citação, descabe homologar a sentença.(...)" (SEC 7696/HL, Relator Ministro Marco Aurélio, DJ de 12.11.2004)

6. Precedentes jurisprudenciais do STF: SEC 6684/EU, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 19.08.2004; SEC 7570/EU, Relatora Ministra Ellen Gracie, DJ de 30.04.2004 e SEC 7459/PT, Relator Ministro Nelson Jobim, DJ de 30.04.2004.

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7. In casu, consoante destacado pelo Procurador-Geral da República às fls. 496/499, "a própria requerente na peça inicial informa que a citação da requerida fora "efetivada através do serviço postal dos Estados Unidos da América, após haver a C.T. Corporation" informado por carta, "que ela não havia sido contratada pela requerida para prestar este serviço de recepção de citações judiciais" (fls. 5)". Ademais, nem mesmo a requerida compareceu, voluntariamente, ao juízo processante. Domiciliada em território brasileiro, a requerida deveria ser citada por carta rogatória e não à luz da formas processuais anglo-americanas. Assim, não houve citação da empresa brasileira, nem esta compareceu ao tribunal estrangeiro, razão por que não há como emprestar validade à decretação da revelia.

8. Outrossim, o acordo cujo descumprimento fundou a condenação, não restou firmado por signatário habilitado, sendo certo que a requerente não esclareceu quem detinha poderes, na época da assinatura do contrato, para em nome do grupo de Empresas Seguradoras Brasileiras, comprometer a participação da empresa requerida no referido contrato, nem trouxe aos autos qualquer comprovante que autorizasse tal gestão, muito embora instado a fazê-lo por determinação advinda de cota do Parquet Federal.

9. Deveras, a legitimação para firmar o contrato não restou suprida por administradora do consórcio, porquanto, à luz do negócio, restou hígida a individualidade e personalidade jurídica das empresas, e que contaminou o compromisso e, a fortiori, a competência eleita. Precedentes do STF: SEC6753 / UK - Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, Relator Ministro Maurício Corrêa, DJ de 04.10.2002, por isso que a ação deveria ter sido proposta no foro do domicílio do réu.

10. Destarte, posto matéria de ordem pública, conhecível de ofício, vislumbra-se nítida nulidade, ante a ausência de motivação da decisão homologanda, em afronta ao art. 216, RISTF e 17 da LICC que assim dispõe:"As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes." Nesse sentido são uníssonas a doutrina e a jurisprudência: (SEC 2521, relator Ministro Antônio Neder).

11. Homologação indeferida (art. 217, I e II e 216, RISTF c/c 17 da LICC). [Grifos nossos]

Se o citado, entretanto, possuir bens nos Estados Unidos, deverá comparecer ao julgamento, pois não poderá alegar, em defesa de suas propriedades em território americano, que a citação foi inválida.

O § 1608 do 28 USC, todavia, estipula uma exceção para a regra geral americana de citação no exterior. De acordo com este dispositivo, Estados estrangeiros, bem como suas eventuais divisões políticas, como estados e províncias, e seus órgãos ou agências, devem ser citados na forma de acordos ou tratados internacionais porventura existentes entre os dois países. Somente na falta destes é que o estatuto permite e prevê procedimentos alternativos. Assim sendo, se uma corte federal ou estadual americana pretender citar a República Federativa do Brasil, um estado brasileiro ou uma agência governamental brasileira, esta citação deverá, obrigatoriamente, se dar pelo uso de uma carta rogatória, tendo em vista que ambos os países são signatários e ratificaram a Convenção Interamericana Sobre Cartas Rogatórias.

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Eis as detalhadas estipulações do 28 USC § 1608:

(a) Service in the courts of the United States and of the States shall be made upon a foreign state or political subdivision of a foreign state:

(1) by delivery of a copy of the summons and complaint in accordance with any special arrangement for service between the plaintiff and the foreign state or political subdivision; or

(2) if no special arrangement exists, by delivery of a copy of the summons and complaint in accordance with an applicable international convention on service of judicial documents; or

(3) if service cannot be made under paragraphs (1) or (2), by sending a copy of the summons and complaint and a notice of suit, together with a translation of each into the official language of the foreign state, by any form of mail requiring a signed receipt, to be addressed and dispatched by the clerk of the court to the head of the ministry of foreign affairs of the foreign state concerned, or

(4) if service cannot be made within 30 days under paragraph (3), by sending two copies of the summons and complaint and a notice of suit, together with a translation of each into the official language of the foreign state, by any form of mail requiring a signed receipt, to be addressed and dispatched by the clerk of the court to the Secretary of State in Washington, District of Columbia, to the attention of the Director of Special Consular Servicesand the Secretary shall transmit one copy of the papers through diplomatic channels to the foreign state and shall send to the clerk of the court a certified copy of the diplomatic note indicating when the papers were transmitted.

As used in this subsection, a notice of suit shall mean a notice addressed to a foreign state and in a form prescribed by the Secretary of State by regulation.

(b) Service in the courts of the United States and of the States shall be made upon an agency or instrumentality of a foreign state:

(1) by delivery of a copy of the summons and complaint in accordance with any special arrangement for service between the plaintiff and the agency or instrumentality; or

(2) if no special arrangement exists, by delivery of a copy of the summons and complaint either to an officer, a managing or general agent, or to any other agent authorized by appointment or by law to receive service of process in the United States; or in accordance with an applicable international convention on service of judicial documents; or

(3) if service cannot be made under paragraphs (1) or (2), and if reasonably calculated to give actual notice, by delivery of a copy of the summons and complaint, together with a translation of each into the official language of the foreign state

(A) as directed by an authority of the foreign state or political subdivision in response to a letter rogatory or request or

(B) by any form of mail requiring a signed receipt, to be addressed and dispatched by the clerk of the court to the agency or instrumentality to be served, or

(C) as directed by order of the court consistent with the law of the place where service is to be made.

(c) Service shall be deemed to have been made (1) in the case of service under subsection (a)(4), as of the date of transmittal indicated in the

certified copy of the diplomatic note; and (2) in any other case under this section, as of the date of receipt indicated in the certification,

signed and returned postal receipt, or other proof of service applicable to the method of service employed. (d) In any action brought in a court of the United States or of a State, a foreign state, a political

subdivision thereof, or an agency or instrumentality of a foreign state shall serve an answer or other responsive pleading to the complaint within sixty days after service has been made under this section.

(e) No judgment by default shall be entered by a court of the United States or of a State against a foreign state, a political subdivision thereof, or an agency or instrumentality of a foreign state, unless the claimant establishes his claim or right to relief by evidence satisfactory to the court. A copy of any such default judgment shall be sent to the foreign state or political subdivision in the manner prescribed for service in this section.

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Feito esse breve parêntese sobre as regras estadunidenses para a citação no exterior, retornamos ao objeto deste ensaio, que são os pedidos de cooperação ativos provenientes do Brasil. Com efeito, julgamos restar claro, agora, que a legislação americana não demanda o uso de cartas rogatórias para que se proceda à citação dos que lá residem.

Cabe-nos ressaltar, não obstante, que esse permissivo não é de real utilidade para os que propõem ações no Brasil. Não sabemos qual seria a reação de um tribunal brasileiro ao ver que o autor citou por conta própria o réu mediante a contratação de uma empresa, por exemplo. Se o réu não comparecesse espontaneamente ao julgamento ou contestasse a ação, o tribunal proferiria uma decisão à revelia? Cremos que não. A sistemática brasileira já está impregnada pelo uso histórico e costumeiro das cartas rogatórias. Um tribunal brasileiro jamais expediria uma carta de citação pelo correio para um país estrangeiro, por mais que este o admitisse ou mesmo o incentivasse. Nesse sentido, dispõe expressamente o Código de Processo Civil (lei nº 5.869/73) que...

Art. 200. Os atos processuais serão cumpridos por ordem judicial ou requisitados por carta, conforme hajam de realizar-se dentro ou fora dos limites territoriais da comarca [respectivamente].

Art. 201. Expedir-se-á [...] carta rogatória, quando dirigida à autoridade judiciária estrangeira; [...].

[Grifos nossos]

Destarte, o uso de cartas rogatórias não só traz maior segurança jurídica para o litigante como também se constitui em um imperativo legal do nosso ordenamento jurídico. As facilidades da lei americana não nos são aplicáveis, portanto.

Vista a citação, passemos, conforme o prometido, para a análise da sistemática americana de obtenção de provas. Sua regulamentação pode ser encontrada no 28 USC § 1782, verbis:

(a) The district court of the district in which a person resides or is found may order him to give his testimony or statement or to produce a document or other thing for use in a proceeding in a foreign or international tribunal, including criminal investigations conducted before formal accusation. The order may be made pursuant to a letter rogatory issued, or request made, by a foreign or international tribunal or upon the application of any interested person and may direct that the testimony or statement be given, or the document or other thing be produced, before a person appointed by the court. By virtue of his appointment, the person appointed has power to administer any necessary oath and take the testimony or statement. The order may prescribe the practice and procedure, which may be in whole or part the practice and procedure of the foreign country or the international tribunal, for taking the testimony or statement or producing the document or other thing. To the extent that the order does not prescribe otherwise, the testimony or statement shall be taken, and the document or other thing produced, in accordance with the Federal Rules of Civil Procedure. A person may not be compelled to give his testimony or statement or to produce a document or other thing in violation of any legally applicable privilege.

(b) This chapter does not preclude a person within the United States from voluntarily giving his testimony or statement, or producing a document or other thing, for use in a proceeding in a foreign or international tribunal before any person and in any manner acceptable to him.

Assim, visualizamos o seguinte procedimento:

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Primeiro, o tribunal estrangeiro ou internacional deve submeter um pedido de produção de provas para a corte distrital na qual reside o destinatário da ordem judicial alienígena. Mais uma vez, a legislação americana frisa a desnecessidade do uso de uma carta rogatória para este escopo, porquanto a petição pode ser feita diretamente à corte distrital pertinente pelo tribunal rogante. É de se notar também o fato de que qualquer indivíduo interessado pode tomar esta iniciativa, recorrendo diretamente à corte do distrito para tal.

À corte estrangeira é dada a prerrogativa de eleger o procedimento que deverá ser seguido para a colheita das provas solicitadas, aplicando-se o método americano na falta desta indicação.

O requerimento para a produção de provas é realizado ex parte, isto é, sem a participação dos interessados, de modo que a corte não ouve oposições ao pedido. No caso In re Braga, por exemplo, o destinatário da ordem de produção de provas alegou que fora surpreendido injustamente (“unfair surprise”), ao que a corte distrital do sul da Florida respondeu que ninguém pode ser surpreendido por uma determinação legal, que, por definição, é pública e acessível a todos.

Recebida a solicitação, a corte distrital avaliará se o 28 USC § 1782 é aplicável ao caso, deferindo ou não o pedido.

Os fatores que usualmente são avaliados pelas cortes distritais na hora de decidir se acatarão ou não o pedido formulado são aqueles presentes no leading case Intel Corp. v. Advanced Micro Devices, Inc., julgado pela Suprema Corte americana em junho de 2004.

Este caso tem suas origens numa denúncia oferecida por Advanced Micro Devices, Inc. contra Intel Corp., sua concorrente, no Diretório-Geral de Competição da Comissão Europeia. A denunciante sustentava que a denunciada desrespeitara as leis antitruste da União Europeia e recomendava que a Comissão requisitasse documentos produzidos num processo de objeto semelhante que transcorrera numa corte distrital do Alabama, nos Estados Unidos. Uma vez que a Comissão não solicitou os tais documentos, Advanced Micro Devices demandou a corte distrital pertinente do estado da Califórnia, com fulcro no 28 USC § 1782, para que Intel Corp produzisse-os.

O pedido foi indeferido pela corte distrital, mas a decisão foi reformada pela respectiva Court of Appeals, sendo, posteriormente, mantida pela Suprema Corte americana. Essencialmente, eram quatro os pontos que estavam em discussão nesse caso. O primeiro era se a comissão poderia ser considerada como um “tribunal”, porquanto o § 1782 autorizaria a produção de provas somente para uso em tribunal estrangeiro ou internacional. Entendeu-se que aquela entidade administrativa, por deter relevante poder decisório, possuiria uma natureza “quasi-judicial”, o que permitiria o uso do estatuto. Mesmo porque, alegou-se, os procedimentos preparatórios da Comissão costumam findar em processos judiciais e as suas decisões atuariam como as de uma primeira instância judicial.

O segundo ponto dizia respeito à qualificação da solicitante como “pessoa interessada”, sob a ótica do 28 USC § 1782. Como não havia um processo em andamento, do qual a solicitante pudesse auferir a qualidade de litigante, suscitou-se a dúvida se a mesma teria direito a requerer a descoberta de documentos com base no 28 USC § 1782. O argumento, contudo, não prosperou. Conquanto a denunciante não fosse, de fato, uma “litigante”, ela possuía uma miscelânea de direitos à participação nos procedimentos da Comissão Europeia, de modo que a qualidade de interessado ser-lhe-ia adequada.

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O terceiro ponto discutido era relativo ao fato de que, segundo argumentação da Intel, a cooperação sob o 28 USC § 1782 somente poderia ser concedida em casos de julgamento pendente ou iminente e apenas em “processos”, não em “investigações”, como as do Diretório europeu. A fim de desconstruir esta argüição, a corte lançou mão de uma interpretação histórica da lei, porquanto o termo “pending”, anteriormente presente na redação do § 1782, foi suprimido do estatuto em uma reforma legislativa de 1964. Além disso, uma emenda de 1996 adicionou a expressão “including criminal investigations conducted before formal accusation” ao § 1782 (a), de modo que restou clara a possibilidade de se usar o dispositivo também para investigações.

O quarto e derradeiro fator está ligado a uma alegação da Intel de que o 28 USC § 1782 estaria limitado à provas que poderiam ser produzidas na jurisdição estrangeira, pois isso, supostamente, evitaria ofensas a governos estrangeiros e manteria a paridade de armas no processo. Ademais, alegou-se que corte deveria observar se a prova requisitada seria produzível em um processo doméstico corrente nos Estados Unidos, pois, caso não o fosse, ela não poderia ser colhida. Todas essas sustentações foram recusadas pela Suprema Corte americana.

Com efeito, não há nada na redação do estatuto que fundamente a teoria de que somente o que poderia ser produzido no exterior é passível de ser obtido por meio do 28 USC § 1782. As justificativas da tese são igualmente falhas. A manutenção da paridade no processo pode ser objeto da análise da corte distrital no momento de deferir ou não o pedido de cooperação em um caso concreto, mas não é motivo para se vedar o uso do § 1782 in abstrato e o fato de um tribunal estrangeiro limitar certas provas, por motivos adstritos ao seu ordenamento jurídico, cultura ou costumes, não significa que os Estados Unidos estariam ofendendo seu país ao produzi-las. Isso também não significa que aquele tribunal seja contrário ao recebimento de ajuda provinda de uma corte estadunidense. No mais, o § 1782, do título, 28 do US Code, é destinado a prover ajuda para tribunais alienígenas. Ele não requer que as cortes distritais americanas debrucem-se em análises comparativas entre os procedimentos estrangeiros e o nacional para determinar se aquela determinada prova poderia ser produzida em um processo doméstico análogo. Demasiadamente desarrazoado seria entender o contrário.

São esses, pois, os quatro fatores que costumam ser apreciados pelas cortes distritais americanas a fim de decidir pela aplicação ou não do 28 USC § 1782.

Se o pedido for indeferido, há a possibilidade de se recorrer da decisão para a respectiva Court of Appeals.

Uma vez deferido o pedido, o requerente obtém o direito de emitir uma subpoena, quer dizer, uma ordem judicial determinando a produção das provas solicitadas, sob as penas da lei americana para o caso de descumprimento injustificado [10]. É nesta altura do processo que o destinatário da ordem aufere sua primeira oportunidade de manifestar-se. Com efeito, a lei garante-lhe a prerrogativa de requerer o não cumprimento de uma subpoena se esta lhe violar qualquer direito ou garantia individual, como, por exemplo, se ela lhe exigir a entrega de uma informação privilegiada protegida pela lei, sem que haja uma exceção legal autorizando-a.

A subpoena está regulamentada pela Regra nº 45 do compêndio das Federal Rules of Civil Procedure, que lhe estatui seus requisitos, forma e conteúdo. Neste diploma, encontramos as hipóteses em que seu destinatário pode solicitar o seu descumprimento ou

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requerer uma alteração do seu conteúdo. Destarte, o intimado pode, exemplia gratia, requerer que a corte anule uma subpoena que lhe exigira a revelação de um segredo comercial (Rule 45, c, 3, B, i) ou solicitar a modificação de uma subpoena que não lhe oferecera, em seus termos originais, um prazo razoável para cumprimento (Rule 45, c, 3, A, i). Se o intimado não for parte no processo, o estatuto confere-lhe até mesmo a possibilidade de requerer a anulação ou modificação da subpoena se o mesmo tiver de viajar mais de 100 milhas para cumpri-la (Rule 45, c, 3, A, ii c/c Rule 45, c, 3, B, iii).

Da decisão que anula ou modifica uma subpoena pode-se recorrer para a respectiva Court of Appeals.

Se o requerente demonstrar a imprescindibilidade da prova a ser produzida e garantir que o requerido será devidamente compensado, a corte pode, ao invés de anular ou modificar a subpoena, estabelecer termos e condições especiais para o seu cumprimento no caso concreto. É o que permite o item (C), do número 3, da alínea c, da Regra 45 das Federal Rules of Civil Procedure.

Por fim, uma última e interessante observação sobre o requerimento de material probatório diz respeito à alínea b, do § 1782, do título 28, do US Code, que acabamos de analisar. Este dispositivo admite expressamente que nada impede que um residente nos Estados Unidos da América forneça espontaneamente seu testemunho, depoimento ou documento para uso em um tribunal estrangeiro ou internacional. Para tanto, basta que concorde e o faça voluntariamente. Trata-se de mais um atestado legal da inexigibilidade de cartas rogatórias pela sistemática jurídica americana.

Muito embora isso possa, na prática, acontecer tranquilamente no Brasil, nós não dispomos de nenhum aparato legal que contenha semelhantes termos. Pelo contrário, entende-se que nenhum brasileiro possa dar seu testemunho para tribunal estrangeiro em nosso território senão perante um magistrado brasileiro e mediante requisição via carta rogatória devidamente deferida pelo Superior Tribunal de Justiça.

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal já teve a oportunidade de se pronunciar contrariamente a este tipo de procedimento, por ocasião do julgamento da CR 8577, quando ainda era o órgão competente para dirimir essa sorte de questões, id est, antes da Emenda Constitucional nº 45 de 2004. O Ministro Celso de Mello entendeu ser ofensiva à ordem pública e à soberania nacional essa atitude, conforme lemos abaixo em trecho por nós selecionado de sua decisão monocrática:

Não se revela constitucionalmente viável o acolhimento do pedido rogatório em questão. É que nele se pretende a localização de Wilson Roberto dos Santos, para que as autoridades brasileiras o “façam comparecer perante a Embaixada Argentina nesse país e/ou Consulado Argentino da cidade brasileira na qual for o mesmo encontrado (...), para que este Tribunal fique constituído no local e o requerido preste depoimento pessoal” (fls. 6).

Sob tal aspecto, o pedido formulado pelo Juízo rogante ofende a soberania nacional e desrespeita a Constituição da República que atribui, à magistratura federal brasileira de primeira instância, competência para promover, em nosso País, “a execução de carta rogatória, após o exequatur...” (CF, art. 109, X).

Revela-se lesiva à soberania brasileira, e transgride o texto da Lei Fundamental da República, qualquer autorização, que, solicitada mediante comissão rogatória emanada de

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órgão judiciário de outro País, tenha por finalidade permitir, em território nacional, a inquirição, por magistrados estrangeiros, de testemunha aqui domiciliada, especialmente se se pretender (como no caso ocorre) que esse depoimento testemunhal - que deve ser prestado perante magistrado federal brasileiro (CF, art. 109, X) - seja realizado em Missão Diplomática mantida pelo Estado rogante junto ao Governo do Brasil.

Feitas essas considerações acerca da legislação federal estadunidense sobre a Cooperação Jurídica Internacional, passamos ao nosso prometido estudo dos casos mais relevantes e interessantes que foram encontrados ao longo da pesquisa.

VI – Estudo de Casos Um primeiro caso que se revelou assaz interessante envolvia a companhia de turismo

brasileira CVC. Conquanto fosse um caso de cooperação passiva do ponto de vista do Brasil, portanto excluído do objeto original desta segunda fase, julgamos pertinente mencioná-lo.

Uma empresa das Bahamas, Quail Cruises, que opera cruzeiros turísticos, adquiriu o navio M/V Pacific, por meio de uma compra de ações de Templeton International, outra companhia bahamense. Essas ações eram originalmente de propriedade de Flameck International SA, uma empresa uruguaia controlada pela CVC.

Ocorre que, logo após a compra da embarcação por mais de 10 milhões de euros, Quail foi surpreendida por uma fiscalização não programada de Lloyd's Register North America, uma sociedade de classificação de navios, cujos trabalhos são reconhecidos pela comunidade marítima, e que havia chancelado o negócio. Subitamente, o cruzeiro, que supostamente estava em excelente estado de conservação quando da celebração do negócio, segundo a própria Lloyd’s, revelou-se em péssimas e impróprias condições, resultando em um prejuízo imensurável para a compradora. Eis, então, que esta decide processar todos os envolvidos no negócio na corte distrital da Florida, em especial a CVC e seu presidente, Valter Patriani, que intermediara diretamente a aquisição, por fraudes societárias, má fé, indução a erro, entre outras acusações.

No que concerne ao escopo deste trabalho, interessa-nos o detalhe processual acerca da citação da CVC. Enquanto a Convenção Interamericana Sobre Cartas Rogatórias foi usada para se promover a citação do presidente Patriani [11], a citação da CVC deu-se por meio da notificação de uma prestadora de serviços que opera os seus pacotes turísticos na Flórida, qual seja, Alltour of America. A CVC ofereceu uma manifestação preliminar (“motion to strike”) acerca da invalidade desta citação, porquanto ela não fora citada, mas sim uma contratada sua, que não a representava juridicamente. A corte não apenas rejeitou essa tese, ratificando que a citação fora válida, como também recebeu a manifestação como uma “motion to dismiss” e estatuiu que todas as demais defesas possíveis estariam preclusas, uma vez que a CVC silenciou acerca delas em sua manifestação inicial. Tratou-se de uma violação ao princípio da eventualidade, segundo o qual toda matéria de defesa deve ser produzida na primeira oportunidade permitida. Este entendimento causou grande prejuízo para a CVC, pois sua posterior defesa de que a corte distrital da Flórida não era competente para julgar o caso não foi sequer conhecida.

Outro caso que nos chamou a atenção foi Lopes vs. Lopes, também transcorrido na Flórida. Tratava-se de um processo de divórcio, em curso na 2ª vara de família e sucessões de São Paulo, no qual uma carta rogatória foi emitida solicitando que a corte americana

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fornecesse dados acerca do patrimônio do marido, a ser partilhado com sua ex-mulher. O juiz pedia informações sobre eventuais contas e valores mobiliários em nome do marido no Delta National Bank and Trust Company, de Miami, e requeria que 50% dos valores porventura encontrados fossem bloqueados. A esposa, então, com base no 28 USC § 1782, conseguiu obter uma subpoena determinando a entrega de dados bancários do marido, tanto do Delta quanto também do Safra National Bank of New York, que não fora mencionado na carta do magistrado brasileiro, mas que possuía uma filial em Miami.

O marido, então, tentou anular a subpoena, porém não obteve sucesso, mesmo em sede recursal na Court of Appeals. Em síntese, ele alegou que, como era parte no processo, estaria submetido à jurisdição brasileira, de modo que o § 1782 não poderia ser aplicado. Além disso, sustentou-se que a corte teria feito um julgamento ultra e extra petita, uma vez que fora concedido mais e coisa diversa do que fora pedido. Em outras palavras, a informação pedida dizia respeito a apenas um banco, o Delta, e o termo “informação” não se confundiria com os “bank records” do marido, de modo que a corte teria se excedido e dado além do que fora solicitado.

Os argumentos não prosperaram porque os destinatários do 28 USC § 1782 eram os bancos, e não o marido, de modo que o estatuto lhes era plenamente aplicável. Ademais, o propósito do juiz brasileiro ao pedir ajuda era o de descobrir a verdade acerca do real patrimônio daquele cônjuge, e a extensão do pedido original ao banco Safra estaria de acordo com esse intuito. A corte de apelação entendeu que, uma vez provocada, a corte do distrito possuía discricionariedade para coletar material de outros bancos, promovendo-se, assim, a economia processual. Desnecessário mencionar, outrossim, que a corte não acatou a fraquíssima tese de que “information”não seria sinônimo de “bank records”...

Já no caso In re Request for International Judicial Assistance (Letter Rogatory) from the Federative Republic Of Brazil, julgado pela corte distrital do sul de Nova York, discutiu-se um dos fatores que futuramente faria parte do leading case da Intel, qual seja, a necessidade de que o auxílio seja destinado a uso num tribunal estrangeiro.

Tratava-se de uma investigação acerca de possíveis fraudes fiscais perpetradas por Antonio Gebauer e a juíza federal Anna Maria Pimentel emitiu uma carta rogatória requisitando informações da Morgan Guaranty Trust Company, da qual Gebauer fora diretor, tendo sido condenado por crimes semelhantes naquela própria corte nova-iorquina. Como que o banco pretendeu entregar, após emitida uma subpoena, documentos relativos a seis empresas panamenhas, com sócios brasileiros, estes entraram com um pedido para anular a subpoena. Apesar de a subpoena estar endereçada ao banco, a corte entendeu que havia interesse jurídico por parte dos recorrentes para tentar anular a ordem judicial, de modo que eles possuíam legitimidade para propor a ação.

O debate central, então, girou em torno, da dúvida se haveria, de fato, um procedimento judicial em andamento no Brasil, que autorizasse a aplicação do 28 USC § 1782. Para o juiz americano, o texto da rogatória não deixou claro se se tratava de uma mera investigação ou não. O fato de a carta ter sido assinada por um juiz não bastava para elidir a dúvida, porquanto o magistrado americano desconhecia se, pela lei brasileira, o juiz tupiniquim teria a função de assinar indiscriminadamente qualquer rogatória a ele repassada por um órgão de investigação ou pelo Ministério Público, por exemplo. Este ponto, na época, era crucial, pois a redação

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então vigente do § 1782 ainda não continha a disposição que atualmente permite o uso do estatuto para investigações criminais.

A decisão a que tivemos acesso não dava conta de como terminou o caso. Impossibilitado de sanar sua dúvida, o juiz abriu prazo para as partes produzirem memorandos acerca da legislação brasileira, a fim de que ele pudesse, posteriormente, decidir-se pela aplicação ou não do estatuto da cooperação.

Por fim, encerramos com JB Custom, Inc. v. Amadeo Rossi, S.A., julgado pela corte distrital do norte de Indiana. Apesar de este também ser um caso de cooperação passiva do ponto de vista brasileiro e estar, portanto, fora do objeto proposto para esta segunda fase da pesquisa, julgamos igualmente interessante incluí-lo.

O caso tratava de violações de propriedade intelectual e duas empresas brasileiras precisavam ser citadas. A proponente, então, tomou a iniciativa de citá-las pelo correio, ao que as rés interpuseram uma “motion to dismiss” com fulcro na nulidade da citação.

A corte julgou procedente o pedido dos demandados, pois, no seu entender, a Regra 4 (f)(2)(C)(ii), das Federal Rules of Civil Procedure, autorizaria a citação por correio somente quando expedida pela própria corte, o que não ocorrera; sendo que o uso em si do 4 (f)(2) como um todo estaria permitido porque, embora o Brasil fosse signatário da Convenção Interamericana Sobre Cartas Rogatórias, esta possibilitaria a citação por outros meios, os quais não foram por ela especificados.

Criticável que seja essa interpretação, a corte aventou, outrossim, a possibilidade de se salvar o autor por meio da aplicação da Regra 4(f)(2)(A), que permite a citação tal como prescrita pela lei estrangeira para ações correntes em sua Justiça. Mas a que exatamente estaria fazendo menção essa regra? A um brasileiro que inicia uma ação no Brasil ou a uma lei específica do Brasil para citação de brasileiros em ações no exterior? A corte optou pela segunda interpretação, pois, na existência de tal lei, adotar a primeira postura seria um desrespeito à soberania do outro país. Como resultado, findou-se por considerar nula a citação, porquanto a lei brasileira exige que a mesma se dê por intermédio de carta rogatória, conforme demonstramos oportunamente alhures.

VII – Conclusões Ao longo de nossa pesquisa, conquanto tenhamos estudado casos e a legislação

estadunidense, tentamos, sempre visando os nossos escopos originais, entrar em contato com o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), do Ministério da Justiça, na expectativa de que este órgão fosse capaz de nos fornecer dados mais concretos acerca das cartas rogatórias ativas, que pudessem ser cotejados com as informações auferidas durante a primeira fase de nossos trabalhos.

Com efeito, em um primeiro contato por e-mail, o referido organismo da administração pública deu-nos ciência de que, de janeiro de 2004 a 30 de novembro de 2011, tramitaram, por aquele departamento, 2.560 pedidos de Cooperação Jurídica Internacional entre Brasil e os Estados Unidos. Ainda segundo o DRCI, desse total, 2.288 eram pedidos ativos.

Assim sendo, cumpre-nos, agora, fazer as observações que se seguem. Em primeiro lugar, cabe-nos notar que todos esses casos são cíveis. Ao delimitarmos,

ainda em sua primeira fase, o objeto da presente pesquisa, houvemos por bem restringi-la à cooperação jurídica internacional cível, conforme aduzimos em nosso primeiro relatório. A

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cooperação internacional em matéria penal segue ritos e possui peculiaridades assaz distintas da cível, aplicando-se-lhe, inclusive, uma legislação própria e diferenciada em todo o mundo. Para confirmar isso, basta a menção de que a Convenção Interamericana Sobre Cartas Rogatórias, verbi gratia, não a abrange, dizendo respeito apenas a cartas rogatórias cíveis ou comerciais.

Em segundo lugar, conquanto sejam os dados inegavelmente interessantes, úteis e auspiciosos, não podemos deixar de observar que não possuem um nível de detalhamento aprazível, quando em comparação com os nossos levantamentos anteriores. Indagado, o DRCI confirmou sua impossibilidade de ir além do que já informara, de modo que o seu bem recebido número não pôde ser por nós repartido, a fim de dar lugar ao nosso meticuloso exame estatístico, que dividia as cartas quanto aos seus pedidos, quanto aos seus respectivos estados de origem, quanto ao seu deferimento, quanto à matéria de que tratavam e quanto às suas datas.

Além de não ser um dado detalhado, como quiséramos desejar, a informação prestada referia-se a “pedidos de cooperação”, de maneira genérica. Isto significa que o DRCI não soube precisar se todos esses “pedidos” seriam, de fato, cartas rogatórias ou não. É sabido, e já o dissemos em sede de ambos os nossos relatórios, que a cooperação jurídica internacional abrange, mas não se limita às cartas rogatórias. É de se supor que a maioria incontestável destes “pedidos” seja de rogatórias, porém seria desonesto omitir este aviso e aplicar em nossa análise os números de “pedidos” como que sinônimos de carta rogatória. Daí o porquê desta nossa ressalva ao leitor.

Isso posto, vejamos o que esses números podem dizer-nos. No primeiro ano de nossa pesquisa, quando de nossa análise das cartas rogatórias

passivas vindas dos Estados Unidos para o Brasil, computamos um total de 242 cartas oriundas daquele país; no período que vai da promulgação da emenda constitucional nº 45 de 8 de dezembro de 2004, que atribuiu ao STJ a competência de conceder o exequatur às rogatórias, anteriormente pertencente ao Supremo Tribunal Federal (STF), até 1º de abril de 2011, data de fechamento de nossa pesquisa.

O período do dado fornecido pelo DRCI é um pouco mais extenso do que o nosso, indo de janeiro de 2004 a novembro de 2011; superando a marca de um ano de diferença, portanto. Neste período, a informação foi de que tramitaram no departamento 2.560 pedidos de cooperação entre o Brasil e os EUA, dos quais 2.288 seriam ativos. As regras mais básicas da aritmética permitem-nos deduzir, então, que um total de 272 pedidos foram de caráter passivo. Levando-se em consideração que o nosso corte temporal foi um pouco menor, podemos afirmar que estes dados estão de acordo com o que encontráramos em nossa primeira fase, quando contabilizamos 242 cartas rogatórias passivas.

Com efeito, constatamos que os pedidos no sentido Brasil-EUA são muito maiores e intensos do que os do sentido inverso, EUA-Brasil. Isso pode ser, talvez, um reflexo da própria legislação e mentalidade estadunidenses, que, conforme tivemos a oportunidade de verificar supra, não consideram as cartas rogatórias como um veículo obrigatório para a concretização de seus atos processuais de caráter internacional. Como que isto, contudo, não fosse bastante para justificar um contraste tão exacerbado entre os fluxos passivo e ativo, podemos cogitar, igualmente, que, talvez, o dado queira demonstrar que há, de fato, uma

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quantidade menor de litígios envolvendo brasileiros (pessoas jurídicas ou naturais) nas cortes americanas do que o oposto, conflitos envolvendo americanos no Brasil.

De qualquer forma, como uma conclusão global, após dois anos de pesquisa, podemos afirmar que há um ativo e saudável intercâmbio entre os judiciários do Brasil e dos Estados Unidos da América. Os mecanismos para a Cooperação Jurídica Internacional, tanto os comuns, a exemplo da Convenção Interamericana sobre Cartas Rogatórias, quanto os internos de cada país, com as respectivas peculiaridades de seus marcos legais, têm sido bem aplicados por ambas as nações, de um modo geral; o que representa um significativo avanço para o processo de integração multinacional e para a globalização.

Enfim, o prognóstico é promissor e salutar, principalmente quando se leva em consideração que cooperar atualmente não é mais mera questão de cortesia internacional, mas um verdadeiro dever entre os Estados, tendo em vista as sempre crescentes situações transnacionais que entrelaçam suas populações e negócios. Para encerrar, nunca é exagero lembrar que cooperar tornou-se, hoje, para o Brasil, um imperativo constitucional, constante do artigo 4º, inciso IX, da carta magna de 5 de outubro de 1988, que aduz:

Art. 4º. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

[...]

IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade

VIII – Referências

1 – MAGNOLI, Demétrio e ARAUJO, Regina. Projeto de Ensino de Geografia, Geografia Geral. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 2004. Pág. 293.

2 – ARAUJO, Nadia de, org. Cooperação Jurídica Internacional no Superior Tribunal de Justiça: Comentários à Resolução nº 9/2005. 1ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2010. Pág. 2.

3 – Ibid. Pág. 8.

4 – www.stj.jus.br/

5 – www.westlaw.com/

6 – http://www.oas.org/juridico/english/sigs/B-36.html/. Disponível em 31/12/2011.

7 – FREER, Richard D. Civil Procedure. 2nd ed. New York: Aspen Publishers, 2009. Pág. 157.

8 – Ibid. Pág. 196.

9 – O mapa e essas informações foram colhidos no site www.uscourts.gov/

10 – O não cumprimento de uma subpoena é considerado uma hipótese de “desacato” (contempt) à corte, na forma da Regra 45, e, das Federal Rules of Civil Procedure, podendo

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ensejar a aplicação de multas e até a prisão do inadimplente. Não custa lembrar que o objetivo dessas medidas não é punir, mas compelir o notificado a cumprir a ordem judicial.

11 – Trata-se da CR 4721, por nós listada durante a primeira fase da pesquisa.

IX – Bibliografia Básica

1 – ARAUJO, Nadia de. Direito Internacional Privado: Teoria e Prática Brasileira. 5ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2011. 660 p.

2 – ARAUJO, Nadia de, org. Cooperação Jurídica Internacional no Superior Tribunal de Justiça: Comentários à Resolução nº 9/2005. 1ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2010. 159 p.

3 – FREER, Richard D. Civil Procedure. 2nd ed. New York: Aspen Publishers, 2009. 838 p.

4 – www.westlaw.com/

5 – www.openjurist.org/

6 – www.stj.jus.br/

7 – www.law.cornell.edu/

X – Agradecimento Gostaríamos de agradecer ao advogado americano Theodore J. Folkman, autor do blog

Letters Blogatory (www.lettersblogatory.com/), com quem mantivemos intenso contato durante a pesquisa e que nos auxiliou e orientou em boa parte de nossos estudos acerca da Lei americana.

Tivemos o prazer de publicar dois artigos em seu blog ao longo da pesquisa, cujos links seguem abaixo.

1) http://lettersblogatory.com/2011/12/14/brazil-letters-rogatory/ e http://lettersblogatory.com/wp-content/uploads/2011/12/DOCS-614097-v1-Romano_Paper.pdf

2) http://lettersblogatory.com/2012/07/02/rafael-romano-brazil-lago-agrio-chevron/ e http://lettersblogatory.com/2012/07/02/the-lago-agrio-case-in-brazil-why/

O primeiro abordou os resultados de nossa primeira fase e o segundo, escrito a seu convite, tratou do caso “Lago Agrio” do Equador, cuja sentença se encontra atualmente no STJ, em processo de homologação. Ambos os artigos constam dos Anexos I e II a este Relatório.

Ao nome e ao blog de nosso colega Ted, deixamos, portanto, esta merecida menção.

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ANEXO I

Artigo sobre a primeira fase da pesquisa, publicado em 14 de dezembro de 2011 no blog “Letters Blogatory”, de Theodore J. Folkman

ROGATORIES IN BRAZIL

Brazil adopts a centralized procedure when it comes of receiving letters rogatories. Until 2005, when a constitutional amendment changed the matter, all rogatories before being executed were sent to the Supremo Tribunal Federal (STF) for a brief analysis. Nowadays this task belongs to the Superior Tribunal de Justiça (STJ), another federal court.

To see how this tribunal was dealing with its new duty we decided to run a research in its internet case database to put together some statistics. Before we present them though, here’s a short summary of the Brazilian procedure to enforce a rogatory:

First of all, the proceedings are not ex parte, which means that the first thing that happens is the service of the part to inform him of the foreign court request. The part has then a 15 days term to try to impugn the request and to try to avoid it. Note that the part can’t plea matters concerning the merit of the claim, which can only be discussed abroad. The only possible defenses are: the foreign court has offended the Brazilian Law and principles or the letters rogatory requirements, such as a Portuguese translation of the case, haven’t been complete or successfully fulfilled. After that, the federal judge will hear the Ministério Público (MP), the responsible organ for collective interest defense, such as prosecute criminal offenders and verify the due appliance of the law. Finally, a decision will be affirmed. The part will have then the right to appeal to a higher commission inside the STJ, in where a group of judges will give the tribunal’s final word. If the decision is negative, the rogatory will be returned unfulfilled to its origin. If the decision is positive, the rogatory will be sent to a correspondent federal district court to be enforced. It will then be returned to the STJ, who will give it back to the Mininstério das Relações Exteriores (the Brazilian Secretary of State), who will finally return it to the applicant country.

Just that simple… The following charts present the complete information of all the rogatories the STJ has

received from the United States since 2005.

[No original seguem os gráficos publicados no primeiro relatório da pesquisa]

PS: Important Observation Why does Florida have such significant results? Beside the fact that there are a lot of

Brazilians living, making business and traveling there, this is directly related to a 2007 aircraft accident in Sao Paulo national airport. The victims’ families decided to sue the airplane manufacturer in Florida, but the manufacturer alleged that the responsibility was on the Brazilian airport administration, namely the INFRAERO, a governmental company in charge of all the Brazilian airports. So, there were like 60 lawsuits against the aircraft manufacturer and in all of them rogatories were issued to serve INFRAERO, which clearly explains why Florida represents 40% of all Americans rogatories sent to Brazil.

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ANEXO II

Artigo sobre o caso “Lago Agrio”, publicado em 02 de julho de 2012 no blog “Letters Blogatory”, de Theodore J. Folkman

The Lago Agrio Case in Brazil: Why?

By Rafael Salomão Safe Romano Aguillar; on July 2, 2012 in Recognition and Enforcement

Rafael Salomão Romano is a fourth-year law student at the Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro. He has been an International Judicial Assistance scholar since 2010, working under Prof. Dr. Daniela Trejos Vargas. He is also an intern in the law department at the Globo Organization, Brazil’s largest media corporation.

Ecuadorians are currently seeking to enforce their national court’s decision in the Lago Agrio case in Brazil. As Ted noted in the previous post, both countries are parties to the Montevideo Convention. Now, what could possibly be ahead?

The proceedings are clear. The complaint was filed on Wednesday, June 27, 2012. Now, following the Superior Tribunal de Justiças (STJ) Resolution nº 09/2005, the court’s President Minister will serve the process and then Chevron will have 15 days to assert its defense. This defense is limited, in accordance with the Resolution, to the certification that all the recognition requirements were met and that the decision does not offend Brazilian Law. The Ministério Público (Brazilian Public Attorney) will give his or her non-biding opinion on the case, voting for or against recognition of the judgment. If Chevron does not present a defense, the President Minister is authorized to decide the case all by himself (some Brazilian authors understand that this clause is unconstitutional), and then an unsatisfied party may appeal to the court’s Órgão Especial. If Chevron files its defense, the judgment will be done directly at the Órgão Especial, composed of the court’s 15 most senior Ministers. From this decision, there would be only one tough-to-get appeal, the Recurso Extraordinário (“Extraordinary Appeal”) directly to the Brazilian Supreme Court, the Supremo Tribunal Federal (STF), on the grounds of a constitutional violation. Let’s see how far Chevron’s attorneys can get!

Now let us make some observations on the case. First, it’s very interesting to note that the complaint doesn’t mention the Montevideo

Convention. That’s quite symptomatic. Lawyers and even judges in this country are not familiar with the Brazilian treaties. In fact, as renowned professor Nadia de Araujo observes in her prestigious book (Direito Internacional Privado, 5º edição, Renovar, page 353) the Convention has never been used by the Brazilian Courts, and she finishes by stating that it will probably never be. Whatever the case may be, it doesn’t actually matter in practice, since Resolution nº 09/05, along with Decreto-Lei nº 4.657/1942, art. 15, sets virtually the same requirements as the Convention.

Apparently, according to the complaint that Ted made available in his last post, all the requirements were met by the plaintiffs, including the one that states that the court that entered the judgment must have been competent in the international sphere. The Brazilian understanding of this clause is that the foreign court will be always competent in deciding any

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question that under Brazilian law is not exclusively a question for the Brazilian courts. So if Brazil, under its own law, is not the only competent country to decide the matter (as it would be in a case involving real estate located in Brazil, for instance), the foreign courts will be always competent.

As far as I can see, besides trying to allege an intrinsic fraud in the judgment (which the STJ is commonly reluctant to recognize, since it says that the foreign court, not the STJ, should decide this issue), or an extrinsic fraud (which the court could recognize under the heading of a violation of Brazil’s ordre public), Chevron has maybe two good defense lines. The first one is related to the legitimacy of Chevron’s Brazilian branch. We are dealing with two different companies here: the one that caused the Ecuadorian disaster and the one existing in Brazil, which probably has nothing to do with all that. So what would the Ecuadorians’ attorneys try? Serve process on the Brazilian branch, but later seek to execute the judgment against the American “mother company” (in Brazil)? Theoretically, the Brazilian branch’s property can’t be taken to satisfy Chevron Inc.’s debts.

The second point is that there is no consensus in the Brazilian courts or among scholars about the acceptance by the Brazilian Law of the punitive damages doctrine. Many authors and judges understand that this American and common law institution is inapplicable in Brazil, due to the law itself and the country’s tradition. Regardless of the discussion, Chevron may try to reduce the amount due by its half if it manages to convince the STJ that the enforcement of the punitive damages would be an offense to the Brazilian ordre public.

Finally, it’s equally relevant to keep in mind that, following the Brazilian Civil Procedure Law, once the Ecuadorian decision is enforced (the correct words here would be “merely recognized”), Chevron won’t have to pay a thing! Well, at least not until the plaintiffs file an execution law suit in a federal court. This because the STJ is only competent to declare that a foreign decision is able to produce its effects in Brazil, and that’s all. In other words, the STJ can’t compel anyone to pay a debt. It only declares that the debt is valid and exists. It’s the plaintiffs’ duty to file another enforcement process, on the grounds of the now fully recognized foreign decision, to have their money paid, as it would be with any ordinary Brazilian decision.

Sixteen billion dollars. It wouldn’t be too dramatic or unrealistic to say that Chevron’s operations in Brazil will depend on the STJ‘s decision in the next months …