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A Cooproaf (Cooperativa de Produção e Comercialização da Agricultura Familiar do Sudoeste da Bahia), é uma iniciativa de um grupo de moradores do município de Manoel Vitorino, na região sudoeste da Bahia, que hoje fabrica de forma artesanal 48 produtos a partir do beneficiamento do umbu, um fruto muito abundante na região. O primeiro passo para o surgimento da cooperativa se deu em 2005, quando o IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada) realizou uma capacitação de beneficiamento de fruta do sequeiro com foco no umbu, que visava dar vazão ao enorme potencial não aproveitado da região de Manoel Vitorino, visto que toda a fruta colhida era comprada por atravessadores. Na ocasião, participaram do curso um grupo de 45 pessoas, e algumas delas resolveram levar adiante o que aprenderam, fazendo doces e outros derivados do umbu para vender. No início, o trabalho era feito de forma improvisada na cantina do Educandário Monteiro Lobato, uma escola municipal da cidade. Além de beneficiar a fruta e preparar os doces, elas também iam catar o umbu na roça, já que não havia dinheiro para comprá-lo na mão de outras pessoas. Algum tempo depois o IRPAA deu continuidade a capacitação, realizando um curso mais longo com as pessoas que não desistiram da primeira vez. Elenita Souza, uma das diretoras da cooperativa, fala das dificuldades na época do curso: ‘’Vieram os cursos, mas parte do pessoal não quis fazer por medo de perderem o bolsa família, já que eles pediram o número do benefício. Ficamos desapontadas, mas não podíamos deixar por isso mesmo então corremos atrás de gente para completar uma turma, até que ficamos só as 13 mulheres que começaram a Cooproaf, assim continuamos’’. A falta de estrutura dificultou bastante o trabalho. Marilda dos Santos, hoje presidente da cooperativa, conta que foi preciso usar os documentos da associação dos feirantes, da qual elas faziam parte, para poder tocar o trabalho com os Bahia Ano 6 | nº 948 | Novembro | 2012 Manoel Vitorino - Bahia Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Cooproaf gera renda agregando valor ao umbu 1 A Cooproaf fabrica e comercializa seus produtos no mes- mo local Mostruário dos produtos, entre doces, geléias e compotas

Cooproaf gera renda agregando valor ao umbu

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Page 1: Cooproaf gera renda agregando valor ao umbu

A Cooproaf (Cooperativa de Produção e Comercialização da Agricultura Familiar do Sudoeste da Bahia), é uma iniciativa de um grupo de moradores do município de Manoel Vitorino, na região sudoeste da Bahia, que hoje fabrica de forma artesanal 48 produtos a partir do beneficiamento do umbu, um fruto muito abundante na região.

O primeiro passo para o surgimento da cooperativa se deu em 2005, quando o IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada) realizou uma capacitação de beneficiamento de fruta do sequeiro com foco no umbu, que visava dar vazão ao enorme potencial não aproveitado da região de Manoel Vitorino, visto que toda a fruta colhida era comprada por atravessadores.

Na ocasião, participaram do curso um grupo de 45 pessoas, e algumas delas resolveram levar adiante o que aprenderam, fazendo doces e outros derivados do umbu para vender. No início, o trabalho era feito de forma improvisada na cantina do Educandário Monteiro Lobato, uma escola municipal da cidade. Além de beneficiar a fruta e preparar os doces, elas também iam catar o umbu na roça, já que não havia dinheiro para comprá-lo na mão de outras pessoas.

Algum tempo depois o IRPAA deu continuidade a capacitação, realizando um curso mais longo com as pessoas que não desistiram da primeira vez. Elenita Souza, uma das diretoras da cooperativa, fala das dificuldades na época do curso:

‘’Vieram os cursos, mas parte do pessoal não quis fazer por medo de perderem o bolsa família, já que eles pediram o número do benefício. Ficamos desapontadas, mas não podíamos deixar por isso mesmo então corremos atrás de gente para completar uma turma, até que ficamos só as 13 mulheres que começaram a Cooproaf, assim continuamos’’.

A falta de estrutura dificultou bastante o trabalho.Marilda dos Santos, hoje presidente da cooperativa, conta que foi preciso usar os

documentos da associação dos feirantes, da qual elas faziam parte, para poder tocar o trabalho com os

Bahia

Ano 6 | nº 948 | Novembro | 2012Manoel Vitorino - Bahia

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Cooproaf gera renda agregando valor ao umbu

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A Cooproaf fabrica e comercializa seus produtos no mes-mo local

Mostruário dos produtos, entre doces, geléias e compotas

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derivados do umbu. Não existiam também equipamentos adequados, a maior parte era ou emprestada ou da cozinha das próprias casas.

Dificuldades a parte, o apoio de algumas pessoas e órgãos foi fundamental para o desenvolvimento da Cooproaf. Com o apoio inicial da prefeitura, o trabalho deu seus primeiros passos. Depois surgiu o apoio do ISFA (instituto de Formação Cidadã São Francisco de Assis), que foi fundamental na organização administrativa da cooperativa.

A criação de um produto em especial marcou a cooperativa: o Nego Bom. O produto, que foi inspirado no doce de banana, caiu no gosto dos consumidores e ajudou a popularizar a Cooproaf, que passou a participar de feiras, eventos e exposições em todo o estado. Marilda fala com orgulho do produto que ajudou a criar:

‘’Usamos a criatividade e criamos o Nego Bom, que hoje é o nosso carro chefe. Olha que isso nós nem aprendemos no curso, tanto que depois nossos professores vieram tomar curso com a gente sobre ele’’.

Com o aumento das vendas, pouco a pouco a renda do grupo foi aumentando, e a estrutura melhorou a ponto de hoje a cooperativa possuir sede própria, onde são fabricados e vendidos os produtos feitos a base do umbu e também de outras frutas.

Mais recentemente, a Cooproaf vem recebendo apoio do Projeto Gente de Valor, da CAR (Companhia de Desenvolvimento e Ação Social), que i rá invest i r em mini- fábr icas de beneficiamento de umbu. A expectativa é gerar trabalho e renda para dezenas de pessoas além dos cooperados e cooperadas (de 13 mulheres, o número saltou para mais de 40, envolvendo também homens), em Manoel Vitorino e Mirante, um município próximo .

Hoje o grupo de Marilda, Elenita, Léia, Nilva, Inácia e outras é referência na região. Vendem seus produtos para órgãos do governo como a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), tem parcerias com associações de moradores e outras cooperativas da região e ajudam a promover o festival anual do umbu, onde as ‘’umbuzetes’’, como são conhecidas as mulheres da Cooproaf, são atrações a parte. E tudo isso foi conquistado, como elas mesmo dizem, com muita determinação. ‘’Foram muitas pedras no caminho, muitas tempestades, mas nada fez com que desistíssemos de nossos sonhos’’.

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Etapa do processo de fabricação

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Apoio:

Programa Cisternas

Parte da equipe da Cooproaf fabricando o ‘Nego Bom’