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2018 COORDENAÇÃO ROGÉRIO SANCHES CUNHA RICARDO DIDIER Carreiras Jurídicas Magistratura Federal Juiz Federal 6ª edição Revista, ampliada e atualizada 1368 QUESTÕES COMENTADAS alternativa por alternativa por autores especialistas Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 3 19/05/2018 16:58:58

COORDENAÇÃO ROGÉRIO SANCHES CUNHA RICARDO … · ROGÉRIO SANCHES CUNHA RICARDO DIDIER Carreiras Jurídicas Magistratura Federal Juiz Federal 6ª edição ... da prisão, ressalvada

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2018

COORDENAÇÃOROGÉRIO SANCHES CUNHA

RICARDO DIDIERCarreiras Jurídicas

Magistratura Federal

Juiz Federal

6ª ediçãoRevista, ampliada e atualizada

1368 QUESTÕES COMENTADAS alternativa por alternativa por autores especialistas

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 3 19/05/2018 16:58:58

Direito Constitucional • Questões 35

Direito Constitucional

Paulo Lépore

TABELA DE INCIDÊNCIA DE QUESTÕES

Distribuição das questões organizada

por ordem didática de assuntos

Assunto Número

de Questões

Peso

1. CONSTITUIÇÃO. CONCEITO. CLASSIFICAÇÃO. APLICABILIDADE E INTERPRETA-ÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS. SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO. PODER CONSTITUINTE. CONCEITO, FINALIDADE, TITULARIDADE E ESPÉCIES. REFORMA DA CONSTITUIÇÃO. CLÁUSULAS PÉTREAS.

12 8,89%

2. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA 1 0,74%

3. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 4 2,96%

3.1. DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS, COLETIVOS 7 5,19%

3.2. AÇÕES OU REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS 2 1,48%

3.3. DIREITOS SOCIAIS 1 0,74%

3.4. DIREITOS DA NACIONALIDADE 4 2,96%

3.5. DIREITOS POLÍTICOS E SISTEMAS ELEITORAIS 5 3,70%

4. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO 1 0,74%

4.1. ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA 5 3,70%

4.2. ENTES FEDERADOS E DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS. 10 7,41%

4.3. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 3 2,22%

4.4. SEPARAÇÃO DOS PODERES 0 0,00%

4.4.1. PODER LEGISLATIVO 7 5,19%

4.4.1.1. PROCESSO LEGISLATIVO 13 9,63%

4.4.2. PODER EXECUTIVO 7 5,19%

4.4.3. PODER JUDICÁRIO 14 10,37%

4.5. FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA 4 2,96%

5. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 8 5,93%

5.1. CONTROLE DIFUSO 2 1,48%

5.2. CONTROLE CONCENTRADO 14 10,37%

6. DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS 2 1,48%

6.1. SEGURANÇA PÚBLICA 1 0,74%

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 35 19/05/2018 16:59:43

Paulo Lépore36

7. TRIBUTAÇÃO, FINANÇAS E ORÇAMENTO 1 0,74%

8. ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA 5 3,70%

9. ORDEM SOCIAL 2 1,48%

Total 135 100%

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 36 19/05/2018 16:59:43

Direito Constitucional • Questões 37

Direito Constitucional

Paulo Lépore

QUESTÕES

1. CONSTITUIÇÃO. CONCEITO. CLASSIFICA-

ÇÃO. APLICABILIDADE E INTERPRETAÇÃO DAS

NORMAS CONSTITUCIONAIS. SUPREMACIA DA

CONSTITUIÇÃO. PODER CONSTITUINTE. CON-

CEITO, FINALIDADE, TITULARIDADE E ESPÉ-

CIES. REFORMA DA CONSTITUIÇÃO. CLÁUSU-

LAS PÉTREAS.

01. (Cespe – Juiz Federal – TRF 5/2017) A Consti-tuição Federal de 1988 veda a instituição de impostos sobre patrimônio, renda ou serviços relacionados às finalidades essenciais dos partidos políticos, dos sin-dicatos e das instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei. De acordo com a classificação tradicional da eficácia das normas constitucionais, tal norma é de aplicabilidade

a) imediata, embora de eficácia contida.

b) diferida, pois de eficácia limitada.

c) diferida, pois de eficácia contida.

d) imediata, pois de eficácia plena.

e) imediata, embora de eficácia limitada.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “a”: responde todas

as demais alternativas. Para responder à questão, é necessário ter conhecimento sobre a eficácia das

normas constitucionais. De modo geral, as normas de eficácia plena são aquelas que, desde que entram em vigor, têm aplicabilidade imediata, direta e inte-gral. Portanto, são autoaplicáveis, visto que têm em si o potencial para produzirem e atingirem todos os efeitos pretendidos. As normas de eficácia contida, por sua vez, são aquelas que têm aplicabilidade imediata, direta e não integral, porque têm alcance reduzido em relação às normas de eficácia plena. Isto porque contém em si potencial para futura atuação restritiva pelo Poder Público por meio de legislação infraconstitucional. Por fim, as normas de eficácia limitada são aquelas que

possuem aplicabilidade indireta, mediata e reduzida (não direta, não imediata e não integral), pois exigem norma infraconstitucional para que se materializem na prática. No caso em questão, a aplicabilidade da norma é imediata (vedação a instituição de impostos), porém sua eficácia é contida porque pode ser objeto de futura atuação do Poder Público.

02. (TRF 2 - Juiz Federal Substituto 2ª região/2017)

Assinale a opção que, corretamente, classifica a Consti-tuição Federal em vigor:

a) Dogmática, promulgada, rígida e analítica.

b) Rígida, popular, não dogmática e originalista.

c) Flexível, popular, histórica e formal.

d) Democrática, formal, semi-flexível e originalista.

e) Semi-flexível, promulgada, dirigente e nominalista.

COMENTÁRIOS .

Alternativa “a” (responde as demais): As cons-tituições podem ser dogmáticas ou históricas: dogmá-ticas quando fruto de trabalho legislativo específico e históricas quando fruto da evolução histórica. Quanto à origem, deve-se identificar se há legitimidade democrá-tica, classificando-se as constituições em promulgadas (ou democráticas), quando contam com a participação popular em sua elaboração, ou outorgadas, quando impostas pelo agente que detém o poder político. Quanto à estabilidade do texto, as constituições podem ser rígidas (procedimento complexo para a modificação do texto constitucional, mais trabalhoso que a criação de legislação infraconstitucional), flexíveis (modificação por procedimento equivalente à edição de norma infra-constitucional) ou semirrígidas (normas materialmente constitucionais alteradas mediante procedimento com-plexo, e demais modificadas pelo legislador ordinaria-mente). Quanto ao conteúdo, classificam-se as consti-tuições quanto ao grau de minúcia empregado no texto constitucional, dividindo-se em sintéticas (constituições que trazem diretrizes gerais da organização e funciona-mento do Estado e da sua relação com os cidadãos) e analíticas (princípios são pormenorizados, e o conteúdo tende a ser extenso). (BARROSO, Luís Roberto. Curso de

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Paulo Lépore38

Direito Constitucional Contemporâneo: Os conceitos fun-damentais e a construção do novo modelo. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 104-105). Alternativa correta: letra “a”.

03. (TRF 2 – Juiz Federal Substituto 2ª região/2017) Assinale a opção correta:

a) A antinomia entre e lei complementar e lei ordinária se resolve ou com a inconstitucionalidade ou com a inaplicabilidade desta última.

b) Quando o Presidente da República sanciona o pro-jeto de lei, convalida-se o vício derivado da usurpa-ção de iniciativa, se esta cabia ao executivo.

c) Cargos públicos do executivo federal apenas podem ser criados e extintos por lei de iniciativa do Presidente da República, mas isso não impede que, sem aumento de despesa, o regime jurídico desses servidores seja disciplinado por lei de iniciativa par-lamentar.

d) No sistema pátrio, não há empecilho constitucional à edição de leis sem caráter geral e abstrato, provi-das apenas de efeitos concretos e individualizados.

e) As Comissões Parlamentares de Inquérito podem, no seu mister constitucional e preenchidos os pres-supostos, determinar a busca e apreensão domici-liar.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “d”: assertiva consoante ao entendimento do STF: “Não há empecilho constitu-cional à edição de leis sem caráter geral e abstrato, pro-vidas apenas de efeitos concretos e individualizados. Há matérias a cujo respeito à disciplina não pode ser con-ferida por ato administrativo, demandando a edição de lei, ainda que em sentido meramente formal. É o caso da concessão de pensões especiais.” (RE 405386, rel. Min. Ellen Gracie, rel. acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 26/02/2013).

Alternativa “a”: o STF entende pela inexistência

hierarquia entre lei complementar e lei ordinária. A distinção delas se dá em face da CF, considerando--se o campo de atuação de cada uma. Nesse sentido, ver: RE 377.457, rel. min.  Gilmar Mendes, julgado em 17/08/2008.

Alternativa “b”: “A sanção do projeto de lei não convalida o vício de inconstitucionalidade resultante da usurpação do poder de iniciativa. A ulterior aquies-cência do chefe do Poder Executivo, mediante sanção do projeto de lei, ainda quando dele seja a prerrogativa usurpada, não tem o condão de sanar o vício radical da inconstitucionalidade. Insubsistência da Súmula 5/STF”. (STF. ADI 2.867, rel. min. Celso de Mello, j. 3-12-2003, P, DJ de 9-2-2007).

Alternativa “c”: regime jurídico dos servidores é matéria cuja iniciativa é reservada ao chefe do

Poder Executivo (art. 61, § 1º, inciso II, alínea “c”, da

CF). Nesse sentido: ADI 5091 MC, rel. min. Dias Toffoli, julgado em 04/02/2015).

Alternativa “e”: as Comissões Parlamentares de Inquérito têm poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. Entretanto, não poderá realizar

atos para os quais haja reserva de jurisdição. Nesse sentido, jurisprudência pacificada no STF: “o princípio constitucional da reserva de jurisdição – que incide sobre as hipóteses de busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), de interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII), e de decretação da prisão, ressalvada a situação de flagrância penal (CF, art. 5º, LXI) – não se estende ao tema da quebra de sigilo, pois, em tal matéria, e por efeito de expressa autoriza-ção dada pela própria Constituição da República (CF, art. 58, § 3º), assiste competência à CPI, para decretar, sem-pre em ato necessariamente motivado, a excepcional ruptura dessa esfera de privacidade das pessoas” (MS 23652, rel. min. Celso de Mello, julgado em 22/11/2000).

04. (TRF 5 – Juiz Federal Substituto 5ª região/2015) Com relação aos critérios constitucionais de aplicação das leis no tempo, assinale a opção correta à luz da dou-trina e da jurisprudência do STF pertinentes a esse tema.

a) Terá eficácia retroativa média a lei nova que atingir apenas os efeitos dos atos anteriores produzidos após a data em que ela entrar em vigor.

b) A União pode invocar a proteção do direito adqui-rido contra lei federal que suprima direitos da pró-pria União.

c) De acordo com a jurisprudência do STF, uma lei pro-cessual que altere o regime recursal terá aplicação imediata, incidindo inclusive sobre os casos em que já haja decisão prolatada pendente de publicação.

d) A CF não positivou expressamente a regra de que as leis não podem atingir fatos ocorridos no passado, adotando, na verdade, a teoria subjetiva de prote-ção dos direitos adquiridos em face de leis novas.

e) O servidor público tem direito adquirido à manu-tenção dos critérios legais de fixação do valor da remuneração.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “d”: o direito adqui-rido não se encontra positivado de forma explícita no ordenamento jurídico, todavia, é certo que o instituto encontra-se implícito na ordem constitucional. Desse modo, segundo ensinamentos de Uadi Lammêgo Bulos, “o direito adquirido funciona como elemento estabili-zador para proteger prerrogativas incorporadas e sedi-mentadas no patrimônio de seus titulares, almejando o ideário da segurança jurídica. No Brasil, ainda que de modo implícito, o princípio da segurança jurídica possui assento constitucional, como um desdobramento do pórtico do Estado Democrático de Direito (art. 1º, caput). Aliás, o ditame da segurança jurídica vem disciplinado, parcialmente, no plano federal, pela Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999 (art. 2º)” (Curso de Direito Constitucio-

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Direito Constitucional • Questões 39

nal. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 634). Em matéria de direito intertemporal e direito adquirido, a Constituição brasileira, de acordo com a jurisprudência do STF, aderiu à chamada teoria subjetiva, que veda a retroatividade das leis e a incidência de normas de ordem pública sobre efeitos futuros de negócios jurídicos celebrados no passado. No RE 441.409, julgado em 2007 e rela-tado pelo Ministro Gilmar Mendes, restou consignado que: “A discussão sobre direito intertemporal assume delicadeza ímpar, entre nós, tendo em vista a disposi-ção constante do art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição, que reproduz norma tradicional do direito brasileiro. Os princípios constitucionais do direito adquirido e do ato jurídico perfeito não se mostram aptos a proteger as posições jurídicas contra eventuais mudanças dos institutos ou dos próprios estatutos jurídicos previa-mente fixados. Na lição de Moreira Alves, domina, na nossa tradição, a teoria subjetiva do direito adquirido. É o que se lê na seguinte passagem do voto proferido na ADI nº 493, verbis: “Por fim, há de salientar-se que as nossas Constituições, a partir de 1934, e com exce-ção de 1937, adotaram desenganadamente, em matéria de direito intertemporal, a teoria subjetiva dos direitos adquiridos e não a teoria objetiva da situação jurídica, que é a teoria de ROUBIER. [...] É certo, outrossim, que a dimensão constitucional que se confere ao princípio do direito adquirido, entre nós, não permite que se excepcionem da aplicação do princípio as chamadas regras de ordem pública. Daí concluir Moreira Alves que o princípio do direito adquirido “se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva” [ADI nºo 493, Relator Ministro Moreira Alves, RTJ 143, p. 724 (746)]. O problema relativo à modificação das situações subjeti-vas em virtude da mudança de um instituto de direito não passou despercebido a Carlos Maximiliano, que assinala, a propósito, em seu clássico O Direito Inter-temporal, verbis: “Não há direito adquirido no tocante a instituições, ou institutos jurídicos. Aplica-se logo, não só a lei abolitiva, mas também a que, sem os eliminar, lhes modifica essencialmente a natureza. Em nenhuma hipótese granjeia acolhida qualquer alegação de retro-atividade, posto que, às vezes, tais institutos envolvam certas vantagens patrimoniais que, por equidade, o diploma ressalve ou mande indenizar”. (MAXIMILIANO, Carlos. Direito Intertemporal, cit. p. 62). Essa orientação básica, perfilhada por nomes de prol das diferentes cor-rentes jurídicas sobre direito intertemporal, encontrou acolhida na jurisprudência do Supremo Tribunal Fede-ral. Assentou-se que a proteção ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito não obstava à modificação ou à supressão de determinado instituto jurídico. Em acór-dão mais recente, proferido no RE nº 94.020, de 4 de novembro de 1981, deixou assente a Corte, pela voz do eminente Ministro Moreira Alves: “em matéria de direito adquirido vigora o princípio – que este Tribunal [...]tem assentado inúmeras vezes – de que não há direito adquirido a regime jurídico de um instituto de direito. Quer isso dizer que, se a lei nova modificar o regime jurídico de determinado instituto de direito (como é o

direito de propriedade, seja ela de coisa móvel ou imó-vel, ou de marca), essa modificação se aplica de ime-diato”. [RE nº 94.020, Relator Ministro Moreira Alves, RTJ 104, p. 269 (272)]. Esse entendimento tem sido reiterado pelo Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido, arrolo os seguintes precedentes: RE nº 105.137, Relator: Ministro Cordeiro Guerra, RTJ 115, p. 379; ERE nº 105.137, Relator Ministro Rafael Mayer, RTJ 119, p. 783; RE nº 105.322, Relator Ministro Francisco Rezek, RTJ 118, p. 709. Por-tanto, a CF não positivou expressamente a regra de que as leis não podem atingir fatos ocorridos no passado, adotando, na verdade, a teoria subjetiva de proteção dos direitos adquiridos em face de leis novas.

Alternativa “a”: há três níveis de retroatividade: máxima, média e mínima. A retroatividade máxima ou restitutória se dá na hipótese em que a norma nova pre-judica coisa julgada ou fatos jurídicos já consumados. A retroatividade média ocorre no caso de a norma nova atingir efeitos pendentes de atos verificados antes dela. A retroatividade mínima, temperada ou mitigada se verifica quando a norma nova atinge apenas os efeitos de fatos anteriores, verificados após a data que ela entra em vigor (tudo conforme a ADI 493, julgada pelo STF em 1992 e relatada pelo Ministro Moreira Alves). Desse modo, terá eficácia retroativa mínima (e não média) a lei nova que atingir apenas os efeitos dos atos anteriores produzidos após a data em que ela entrar em vigor.

Alternativa “b”: a União não pode invocar a prote-ção do direito adquirido contra lei federal que suprima direitos da própria União. Nessa esteira, vale lembrar o teor da Súmula 654, do STF: “A garantia da irretroativi-dade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da constituição da república, não é invocável pela entidade estatal que a tenha editado”.

Alternativa “c”: a regra recursal válida é aquela da data da decisão prolatada. Desse modo, não seria cor-reto afirmar que a aplicação da regra processual que altera o sistema recursal segue a regra da aplicação imediata. Isso porque, poderíamos nos deparar com situações em que a aplicação não seria imediata. Se, por exemplo, uma nova lei extingue um recurso existente na época em que a decisão foi prolatada, mas ainda não publicada, o direito de recorrer ainda assistirá à parte sucumbente. Por sua vez, caso surja novo recurso, abrangendo decisão que até então não era recorrível, depois da prolação da decisão, não terá a parte sucum-bente o direito de recorrer, tendo em vista que a regra do recurso é a regra vigente na época da prolação da decisão. Portanto, há de se concluir que a regra que altera o sistema recursal não possui aplicação imediata. Nesse sentido, entende o STJ que: “Para a aferição da possibilidade de utilização de recurso suprimido ou cujas hipóteses de admissibilidade foram restringidas, a lei a ser aplicada é aquela vigente quando surge para a parte o direito subjetivo ao recurso, ou seja, a partir da emissão do provimento judicial a ser impugnado” (STJ. AgRg no AgRg no AgRg nos EREsp 1114110, julgado em 2014 e relatado pelo Ministro Og Fernandes).

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 39 19/05/2018 16:59:43

Paulo Lépore40

Alternativa “e”: de acordo com o entendimento do STF, o servidor público não tem direito adquirido à manutenção dos critérios legais de fixação do valor da remuneração. Nesse sentido, RE 364317, julgado em 2003 e relatado pelo Ministro Carlos Velloso. Precedente confirmado no MS 31704, relatado pelo Ministro Edson Fachin e julgado em 19/04/2013.

05. (TRF 5 – Juiz Federal Substituto 5ª região/2015) A prática constitucional brasileira, por se tornar a cada dia mais complexa, exige o incremento do estudo da teoria da Constituição com o objetivo de se compreen-der e justificar a atuação cada vez mais proeminente do Poder Judiciário. Acerca desse assunto, assinale a opção correta.

a) De acordo com o positivismo de Hans Kelsen, a escolha de uma interpretação dentro da moldura de possibilidades proporcionada pela norma jurí-dica realiza-se segundo a livre apreciação do tribu-nal, e não por meio de qualquer espécie de conhe-cimento do direito preexistente.

b) Para Ronald Dworkin, princípios constitucionais são conceituados como mandamentos de otimização que conduzem à única resposta correta.

c) A corrente doutrinária denominada não interpre-tacionismo defende que os juízes, ao decidirem questões constitucionais, devem limitar-se a fazer cumprir as normas explícitas ou claramente implí-citas na Constituição escrita.

d) A teoria da Constituição dirigente, por conceber um projeto bastante ambicioso e totalizante da Constituição, implica a adoção de uma concepção procedimentalista do papel institucional das cortes constitucionais.

e) Segundo a teoria substancialista, o Poder Judiciário deve decidir os casos constitucionais de maneira estreita e rasa, utilizando-se apenas dos argumen-tos estritamente necessários para a solução do lití-gio, deixando de parte questões morais controver-sas.

COMENTÁRIOS .

Nota do Autor: a questão é de cunho puramente teórico, exigindo do candidato conhecimentos aprofun-dados da teoria do Direito Constitucional.

Alternativa correta: letra “a”: de acordo com o positivismo de Hans Kelsen, a escolha de uma inter-pretação dentro da moldura de possibilidades propor-cionada pela norma jurídica realiza-se segundo a livre apreciação do tribunal, e não por meio de qualquer espécie de conhecimento do direito preexistente. Por conta da abstração e indeterminação da norma jurí-dica, ela deve ser como uma moldura, de modo que a sua interpretação deve ocorrer sob a ótica desse molde. Além disso, dado o seu ideal positivista, Kelsen defende que não há vinculação de qualquer espécie de conheci-mento do direito preexistente.

Alternativa “b”: para Robert Alexy (e não Ronald Dworkin), princípios constitucionais são conceituados como mandamentos de otimização que conduzem à única resposta correta a uma interpretação efetivadora da de normas atinentes a determinadas situações jurídicas.

Alternativa “c”: a corrente doutrinária denomi-nada interpretacionista (e não a corrente não-inter-pretacionismo) defende que os juízes, ao decidirem questões constitucionais, devem limitar-se a fazer cum-prir as normas explícitas ou claramente implícitas na Constituição escrita.

Alternativa “d”: acerca da teoria da Constituição dirigente, idealizada pelo jurista português Canotilho, Uadi Lammêgo Bulos nos ensina que aludida teoria “Significa que o texto constitucional seria uma lei mate-rial, para preordenar programas a serem realizados, objetivos e princípios de transformação econômica e social. A ideia de constituição dirigente, muito própria dos juristas de inspiração ideológica socialista, por-tanto, diverge daquela visão tradicional de constituição, que a concebe como lei processual ou instrumento de governo, definidora de competências e reguladora de processos” (Curso de Direito Constitucional. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 109-110).

Alternativa “e”: segundo a teoria substancia-lista, cabe à Constituição impor ao cenário político um conjunto de decisões valorativas que se consideram essenciais e consensuais. Contrapõe a percepção pro-cedimentalista, em que cabe à Constituição apenas garantir o funcionamento adequado do sistema de par-ticipação democrático, ficando a cargo da maioria, em cada momento histórico, a definição de seus valores e de suas políticas.

06. (TRF 1 – Juiz Federal Substituto 1ª região/2015) A respeito da ordem constitucional brasileira, assinale a opção correta.

a) Não se considera o município entidade federativa, embora se reconheça que ele dispõe de capacidade de auto-organização, autogoverno e autoadminis-tração.

b) As formas de Estado e de governo adotadas na CF são consideradas, devido a previsão expressa, cláu-sulas pétreas.

c) Quanto ao modo de elaboração, a CF é uma Consti-tuição dogmática, na medida em que se apresenta como produto escrito e sistematizado por um órgão constituinte, a partir de valores predominantes em determinado momento histórico.

d) A matéria constante de proposta de emenda cons-titucional rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser novamente apresentada na mesma legis-latura.

e) As normas presentes no ato das disposições consti-tucionais transitórias, pelo seu caráter temporário, são dispositivos hierarquicamente inferiores às nor-mas constantes do corpo principal da CF.

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 40 19/05/2018 16:59:43

Direito Constitucional • Questões 41

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “c”: quanto ao modo de elaboração, uma Constituição pode ser: 1. Dogmática: sistematizada a partir de ideias fundamentais; 2. Histó-rica: de elaboração lenta, pois se materializa a partir dos costumes, que se modificam ao longo do tempo. A CF de 1988 é uma Constituição dogmática, na medida em que se apresenta como produto escrito e sistematizado por um órgão constituinte, a partir de valores predomi-nantes em determinado momento histórico.

Alternativa “a”: os Municípios são considerados entes federativos. A República Federativa do Brasil

(RFB), formada pela união indissolúvel dos Estados

e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamen-tos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político (art. 1º da CF). Segundo dispõe o artigo 18, da CF, a organização polí-

tico-administrativa da República Federativa do Bra-

sil compreende a União, os Estados, o Distrito Fede-

ral e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. Nesta esteira, vale destacar o que se denomina federalismo de terceiro grau, que é o nome que se dá à Federação que também confere autonomia aos Municípios. No Brasil, o federalismo de terceiro grau passou a existir apenas a partir da Constituição Federal de 1988, momento em que os Municípios ganharam autonomia.

Alternativa “b”: apenas a forma de Estado adotada na CF é considerada expressamente cláusula pétrea (art. 60, §4º, I, da CF). Quanto à forma de governo, há o entendimento de que se trata de limitação implícita do poder de reforma. Conforme aduz Nathalia Masson: “Parece-nos impossível harmonizar a forma monárquica com as cláusulas pétreas referentes à separação de poderes, ao voto periódico e à isonomia. Nesse sentido, seria hoje a forma republicana de Governo definitiva” (MASSON, Nathalia. Manual de direito constitucional. Sal-vador: Juspodivm, 2013, p. 143).

Alternativa “d”: A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão

legislativa (e não legislatura), em consonância com o disposto no §5º, do artigo 60, da CF.

Alternativa “e”: as normas presentes no ato das disposições constitucionais transitórias, não são dispo-sitivos hierarquicamente inferiores às normas constan-tes do corpo principal da CF. Não há hierarquia entre as normas da Constituição e as normas do ADCT. São normas Constitucionais. De acordo com Luís Roberto Barroso, “[...] hierarquia, em Direito, designa o fato de uma norma colher o seu fundamento de validade em outra, sendo inválida se contravier a norma matriz. Ora bem: não é isso que se passa na situação aqui descrita. Pelo princípio da unidade da Constituição, inexiste hie-rarquia entre normas constitucionais originárias, que jamais poderão ser declaradas inconstitucionais umas

em face das outras. A proteção especial dada às normas amparadas por cláusulas pétreas sobreleva seu status político ou sua carga valorativa, com importantes reper-cussões hermenêuticas, mas não lhes atribui superiori-dade jurídica”. (Curso de direito constitucional contempo-râneo. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 167).

07. (Cespe – Juiz Federal Substituto 5ª região/2013)

Acerca do conceito, dos elementos e da classificação das Constituições, assinale a opção correta.

a) As Constituições classificadas, quanto ao modo de elaboração, como Constituições históricas, ape-sar de serem juridicamente flexíveis, são, normal-mente, politicamente rígidas.

b) De acordo com a concepção que a define como um processo público, a Constituição consiste em uma ordem jurídica fundamental do Estado e da socie-dade, não se caracterizando, portanto, como Cons-tituição aberta, ou seja, como obra de um processo de interpretação.

c) Entendida como um programa de integração e representação nacionais, a Constituição deve con-ter apenas matérias referentes a grupos particula-rizados e temas passíveis de alterações frequentes, de modo a propiciar a durabilidade e a estabilidade do próprio texto constitucional.

d) Conforme a concepção política, a Constituição é a soma dos fatores reais de poder que regem o país.

e) São denominados elementos limitativos das Cons-tituições aqueles que visam assegurar a defesa da Constituição e do estado democrático de direito.

COMENTÁRIOS .

Nota do Autor: os autores clássicos, a exemplo de José Afonso da Silva, nunca deixam de ser lembra-dos. Assim, além da doutrina contemporânea, o estudo também deve abarcar livros clássicos.

Alternativa correta: “a”: na lição de José Afonso da Silva, “As constituições históricas são juridicamente flexíveis, pois podem ser modificadas pelo legislador ordinário, mas, normalmente, são política e socialmente rígidas. Raramente são modificadas” (Curso de direito constitucional Positivo. 6. Ed. São Paulo: Malheiros, 1990, p. 42).

Alternativa “b”: consoante lição de Peter Häberle, Constituição aberta é aquela interpretada em qual-

quer espaço, e não apenas por juristas no bojo dos processos.

Alternativa “c”: na Concepção pluralista de Gus-tavo Zagrebelsky, a Constituição deve ser dotada de princípios universais. Deve caracterizar-se pela capa-cidade de oferecer respostas adequadas ao nosso tempo ou, mais precisamente, da capacidade da ciência constitucional de buscar e encontrar essas respostas na constituição.

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 41 19/05/2018 16:59:43

Paulo Lépore42

Alternativa “d”: Conforme a concepção socioló-

gica de Ferdinand Lassale, a Constituição é a soma dos fatores reais de poder que regem o país. A concepção política de Carl Schimitt é aquela segunda a qual a Constituição decorre de uma decisão política funda-mental, e se traduz na estrutura do Estado e dos Pode-res, e na presença de um rol de direitos fundamentais.

Alternativa “e”: São denominados elementos de

estabilização constitucional das Constituições aque-les que visam assegurar a defesa da Constituição e do estado democrático de direito. Os elementos limitati-

vos referem-se aos direitos fundamentais, que limitam a atuação do Estado, protegendo o povo.

08. (CESPE – Juiz Federal Substituto 1ª região/2013)

Considerando a hermenêutica constitucional, assinale a opção correta com base na doutrina de referência.

a) Norma constitucional de eficácia contida incide direta e imediatamente sobre a matéria respectiva.

b) Norma constitucional de eficácia limitada ou redu-zida somente produz efeitos mediante intervenção do Poder Judiciário.

c) Norma constitucional de eficácia plena tem aplica-ção direta e imediata, mas não integral.

d) A aplicação de norma constitucional de eficácia reduzida prescinde de lei em sentido material.

e) Norma constitucional de eficácia plena exige lei reguladora, ou integradora, para produzir efeitos jurídicos.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: “a”: normas de eficácia con-tida ou restringível são aquelas que têm aplicabilidade direta, imediata, mas não integral, pois admitem que seus conteúdos sejam restringidos por normas infra-constitucionais, o que ocorre, por exemplo, com o enun-ciado que garante o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissio-nais que a lei estabelecer (art. 5º, XIII, da CF). Para ilus-trar: a função de advogado, somente pode ser exercida atendida a qualificação profissional de ser bacharel em direito, aprovado no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (art. 8º, IV, da Lei 8.906/94).

Alternativa “b”: normas de eficácia limitada ou reduzida são aquelas que possuem aplicabilidade indi-reta, mediata e reduzida (não direta, não imediata e não integral), pois exigem complementação para que se materializem na prática (e não a intervenção judi-

cial). Entretanto, apesar de não se realizarem sozinhas na prática, elas são dotadas de eficácia jurídica, pois revogam as leis anteriores com elas incompatíveis; vin-culam o legislador, de forma permanente, à sua realiza-ção; condicionam a atuação da administração pública e informam a interpretação e aplicação da lei pelo Poder Judiciário.

Alternativa “c”: normas de eficácia plena são aquelas dotadas de aplicabilidade direta, imediata e

integral, pois não necessitam de lei infraconstitucional para torná-las aplicáveis e nem admitem lei infraconsti-tucional que lhes restrinja o conteúdo. Em outras pala-vras: elas trazem todo o conteúdo necessário para a sua materialização prática. São entendidas como de aplica-bilidade direta, imediata e integral, pois não necessitam de lei infraconstitucional. Exemplo: Brasília é a Capital Federal (art. 18, § 1º, da CF).

Alternativa “d”: segunda a classificação de José Afonso da Silva, a aplicação de norma constitucional de eficácia limitada ou reduzida imprescinde de lei (exige lei) em sentido material.

Alternativa “e”: norma constitucional de eficácia plena não exige lei reguladora, ou integradora, para produzir efeitos jurídicos, conforme explicação da alter-nativa “c”.

09. (Cespe – Juiz Federal Substituto 1ª região/ 2011)

Acerca do poder constituinte, da CF e do ADCT, assinale a opção correta.

a) As normas que versam sobre a intervenção federal nos estados e no DF, bem como dos estados nos municípios, incluem-se entre os chamados elemen-tos de estabilização constitucional.

b) O poder constituinte originário dá início a nova ordem jurídica, e, nesse sentido, todos os diplomas infraconstitucionais perdem vigor com o advento da nova constituição.

c) Consideram-se elementos socioideológicos da CF as normas que disciplinam a organização dos pode-res da República e o sistema de governo.

d) O ADCT não tem natureza de norma constitucional, na medida em que dispõe sobre situações excep-cionais e temporárias.

e) Segundo disposição literal da CF, os estados e muni-cípios dispõem do chamado poder constituinte derivado decorrente, que deve ser exercido de acordo com os princípios e regras dessa Carta.

COMENTÁRIOS .

Nota do Autor: a questão exige conhecimento sobre os Elementos das Constituições, tema abordado na clássica doutrina de José Afonso da Silva. Na parte das dicas o amigo leitor encontrará um resumo sobre o tema.

Alternativa correta: letra “a”: as normas que ver-sam sobre a intervenção federal nos estados e no DF, bem como dos estados nos municípios, incluem-se entre os chamados elementos de estabilização consti-tucional, que segundo José Afonso da Silva, são aque-les que asseguram a solução de conflitos institucionais entre Poderes, e também protegem a integridade do Estado e da própria Constituição.

Alternativa “b”: o poder constituinte originário dá início a nova ordem jurídica, mas todos os diplomas infraconstitucionais presumem-se de acordo com a

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Direito Constitucional • Questões 43

nova ordem constitucional e continuam em vigor e gerando efeitos válidos até que sejam revogados e percam a vigência, ou sejam declarados não recepcio-nados/revogados e percam a validade.

Alternativa “c”: consideram-se elementos orgâ-

nicos da CF as normas que disciplinam a organização dos poderes da República e o sistema de governo. Os elementos socioideológicos são aqueles que revelam o compromisso do Estado em equilibrar os ideais liberais e sociais ao longo do Texto Constitucional.

Alternativa “d”: o ADCT tem natureza de norma constitucional, e sua particularidade é dispor sobre situ-ações excepcionais e temporárias. José Afonso da Silva classifica o ADCT como um elemento formal de aplica-

bilidade da Constituição.

Alternativa “e”: apenas os Estados dispõem do chamado poder constituinte derivado decorrente, e isso não está disposto de modo literal na CF. O art. 25, da CF, versa sobre o tema da seguinte forma: “Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição”.

10. (Cespe – Juiz Federal Substituto 3ª região/ 2011)

Com relação a poder constituinte originário, tipologia das constituições, hermenêutica e mutação constitucio-nal, assinale a opção correta.

a) Quanto ao conteúdo, considera-se constituição formal aquela dotada de supremacia, que, como norma fundamental e superior, regula o modo de produção das demais normas do ordenamento jurí-dico.

b) As normas constitucionais são espécies de normas jurídicas, e, como tal, sua interpretação baseia-se em conceitos e elementos clássicos da interpreta-ção em geral, não sendo possível afirmar, portanto, que, no campo hermenêutico, as normas constitu-cionais apresentam especificidades que as diferen-ciam das demais normas.

c) A mutação constitucional ocorre por interpretação judicial ou por via de costume, mas não pela atu-ação do legislador, pois este age apenas editando normas de desenvolvimento ou complementação do texto constitucional, dentro dos limites por este imposto.

d) Conforme determinação expressa do Ato das Dis-posições Constitucionais Transitórias, cabe aos estados, ao DF e aos municípios exercer o poder constituinte decorrente, entendido como a capaci-dade desses entes federativos de se auto – organi-zarem de acordo com suas próprias constituições, respeitados os princípios impostos, de forma explí-cita ou implícita, pela CF.

e) O poder constituinte originário é a expressão das decisões soberanas da maioria de um povo, em dado momento histórico; esse poder se manifesta em uma assembleia constituinte soberana, respon-sável por inaugurar uma nova ordem jurídica.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “a”: quanto ao conte-údo, considera-se constituição formal aquela dotada de supremacia, que, como norma fundamental e supe-rior, regula o modo de produção das demais normas do ordenamento jurídico. Resumindo, pode-se dizer que a Constituição formal é aquela que se traduz em um documento solene que tem posição hierárquica de des-taque no ordenamento jurídico.

Alternativa “b”: as normas constitucionais são espécies de normas jurídicas, mas sua interpretação não se baseia em conceitos e elementos clássicos da interpretação em geral, sendo possível afirmar, portanto, que, no campo hermenêutico, as normas constitucionais apresentam especificidades que as diferenciam das demais normas. Eventual colisão nor-mativa ocorrida em âmbito constitucional não pode ser considerada na mesma perspectiva do conflito entre leis ordinárias, (também chamadas de “regras”), ou seja, como um “conflito aparente de normas” para cuja solução seriam utilizados os critérios cronológico, hierárquico ou da especialidade, na forma do “tudo ou nada” (“all or nothing”), em que só se aplica um docu-mento normativo daqueles que aparentemente con-flitavam. Essa solução é inaplicável aos princípios, que não se sujeitam a esses critérios apontados pela dou-trina, tampouco podem ser afastados uns em razão de outros. Assim, em toda colisão de princípios deve ser respeitado o núcleo intangível dos direitos fundamen-tais concorrentes, mas sempre se deve chegar a uma posição em que um prepondere sobre outro (mas, sem eliminá-lo). A colisão deve ser resolvida por ponderação ou concordância prática (Konrad Hesse), com aplicação do princípio da proporcionalidade (tradição alemã) ou pela dimensão de peso e importância (Ronald Dworkin), com aplicação do princípio da razoabilidade (tradição norte-americana).

Alternativa “c”: segundo Luís Roberto Barroso,

a mutação constitucional pode ocorrer por inter-

pretação, pela atuação do legislador e por via de

costume. A mutação constitucional por via de interpre-tação “consiste na mudança de sentido da norma, em contraste com entendimento preexistente”. Já a muta-ção pela atuação do legislador ocorrera “quando, por ato normativo primário, procurar-se modificar a inter-pretação que tenha sido dada a alguma norma consti-tucional. É possível conceber que, ensejando a referida norma mais de uma leitura possível, o legislador opte por uma delas, exercitando o papel que lhe é próprio, de realizar escolhas políticas. A mutação terá lugar se, vigendo um determinado entendimento, a lei vier a alterá-lo. Suponha-se, por exemplo, que o § 3º do art. 226 da Constituição – que reconhece a união estável entre homem e mulher como entidade familiar – viesse a ser interpretado no sentido de considerar vedada a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Se a lei ordinária vier a disciplinar esta última possibilidade, chancelando as uniões homoafetivas, terá modificado o sentido que vinha sendo dado à norma constitucional”.

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 43 19/05/2018 16:59:43

Paulo Lépore44

Por fim, a mutação por costume é aquela que altera uma prática historicamente considerada válida. “Há outro exemplo expressivo contemporâneo, relacionado com as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). Nos últimos anos, uma prática política persistente expandiu os poderes dessas comissões e redefiniu suas compe-tências. Passou-se a admitir, pacificamente, a determi-nação de providências que antes eram rejeitadas pela doutrina e pela jurisprudência, aí incluídas a quebra de sigilos bancários, telefônico e fiscais” (BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâ-neo. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 128-135).

Alternativa “d”: cabe apenas aos Estados o exer-cício do poder constituinte decorrente (capacidade desses entes federativos de se auto – organizarem de acordo com suas próprias Constituições, respeitados os princípios impostos, de forma explícita ou implícita, pela CF), e esta conclusão se extrai do art. 25, da CF, e não do ADCT.

Alternativa “e”: não necessariamente o poder constituinte originário é a expressão das decisões soberanas da maioria de um povo, em dado momento histórico. Isso porque, o poder constituinte pode ser autoritário, representando a ideia de um líder não eleito democraticamente. Ademais, também não neces-

sariamente, esse poder se manifesta em uma assem-bleia constituinte soberana, responsável por inaugurar uma nova ordem jurídica. A organização e a forma de expressão do poder constituinte originário são livres, incondicionadas, não sendo exigível uma assembleia constituinte.

11. (TRF 4 – Juiz Federal Substituto 4ª região/ 2010)

Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta.

I. Havendo colisão entre o princípio da liberdade de imprensa e o direito à privacidade, prevalecerá aquela, porque informada pelo interesse público.

II. A colisão entre dois princípios constitucionais, cal-cados em direitos fundamentais, resolve-se pela supressão de um em favor de outro.

III. Relativamente ao direito que possui a imprensa de informar, deve-se conferir maior proteção à priva-cidade e à imagem de pessoas públicas do que às pessoas privadas.

IV. O conflito aparente de princípios constitucionais se resolve pelas regras da ponderação e da razoabili-dade.

a) Está correta apenas a assertiva I.

b) Está correta apenas a assertiva IV.

c) Estão corretas apenas as assertivas I e II.

d) Estão corretas apenas as assertivas III e IV.

e) Estão corretas apenas as assertivas I, II e III.

COMENTÁRIOS .

Nota do Autor: a questão pede conhecimento sobre a Colisão de Direitos Fundamentais, tema recor-rente nos concursos para a Magistratura Federal (vide questão anterior, do concurso da 3ª Região). A colisão ocorrida em âmbito constitucional, não pode ser con-siderada na mesma perspectiva do conflito entre leis ordinárias, (também chamadas de “regras”), ou seja, como um “conflito aparente de normas” para cuja solu-ção seriam utilizados os critérios cronológico, hierár-quico ou da especialidade, na forma do “tudo ou nada” (“all or nothing”), em que só se aplica um documento normativo daqueles que aparentemente conflitavam. Essa solução é inaplicável aos princípios, que não se sujeitam a esses critérios apontados pela doutrina, tam-pouco podem ser afastados uns em razão de outros. Assim, em toda colisão de princípios deve ser respei-tado o núcleo intangível dos direitos fundamentais concorrentes, mas sempre se deve chegar a uma posi-ção em que um prepondere sobre outro (mas, sem eli-miná-lo). A colisão deve ser resolvida por ponderação ou concordância prática (Konrad Hesse), com aplicação do princípio da proporcionalidade (tradição alemã) ou pela dimensão de peso e importância (Ronald Dworkin), com aplicação do princípio da razoabilidade (tradição norte-americana).

Alternativa correta: letra “b”

Assertiva “I”: havendo colisão entre o princípio da liberdade de imprensa e o direito à privacidade, preva-

lecerá aquele cuja manutenção se apresentar como

mais razoável no caso concreto. Não existe solução predeterminada para a colisão de direitos fundamen-tais.

Assertiva “II”: a colisão entre dois princípios cons-titucionais, calcados em direitos fundamentais, resol-ve-se por ponderação e não pela supressão de um em favor de outro.

Assertiva “III”: como dito na assertiva “I”, não existe solução predeterminada para a colisão de direi-tos fundamentais.

Assertiva “IV”: o conflito aparente de princípios constitucionais se resolve pelas regras da ponderação e da razoabilidade, consoante lições das tradições alemã e norte-americana (vide nota do autor).

12. (TRF 4 – Juiz Federal Substituto 4ª região/ 2010)

Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta.

I. A tese de que há hierarquia entre normas consti-tucionais originárias, dando azo à declaração de inconstitucionalidade de umas em frente às outras, é incompatível com o sistema de constituição rígida.

II. As cláusulas pétreas podem ser invocadas para sus-tentar a inconstitucionalidade de normas constitu-cionais originárias que lhe são inferiores.

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 44 19/05/2018 16:59:43

Direito Constitucional • Questões 45

III. Não havendo hierarquia entre as normas constitu-cionais, é inadmissível a declaração de inconstitu-cionalidade de norma introduzida na Constituição Federal por emenda.

IV. Tanto as normas materialmente constitucionais e como normas formalmente constitucionais pos-suem a mesma eficácia, não havendo hierarquia entre elas.

a) Estão corretas apenas as assertivas I e III.

b) Estão corretas apenas as assertivas I e IV.

c) Estão corretas apenas as assertivas II e III.

d) Estão corretas todas as assertivas.

e) Nenhuma assertiva está correta.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “b”

Assertiva “I”: a tese de que há hierarquia entre nor-mas constitucionais originárias, dando azo à declaração de inconstitucionalidade de umas em frente às outras, é incompatível com o sistema de constituição rígida, em que o processo para a alteração de qualquer de suas normas é mais difícil do que o utilizado para criar leis. Isso porque, sob o ponto de vista hierárquico, nas cons-tituições rígidas todas as normas constitucionais devem ter o mesmo status normativo, privilegiando a estabili-dade constitucional.

Assertiva “II”: as cláusulas pétreas não podem ser invocadas para sustentar a inconstitucionalidade de normas constitucionais originárias que lhe são inferio-res, pois todas as normas de uma Constituição rígida (CF/88, por exemplo) têm o mesmo nível hierárquico, de modo que nenhuma pode ser paradigma de validade para outra. Ademais, não há que se falar em controle de constitucionalidade de norma originária.

Assertiva “III”: apesar de não existir hierarquia entre as normas constitucionais, é admissível a decla-ração de inconstitucionalidade de norma introduzida na Constituição Federal por emenda. Apenas as normas constitucionais originárias são insuscetíveis de controle de constitucionalidade.

Assertiva “IV”: as normas materialmente consti-

tucionais e as normas formalmente constitucionais

possuem a mesma eficácia, não havendo hierarquia entre elas. Isso porque, não importa se a norma é ape-nas formalmente constitucional ou também material-mente constitucional: todas as normas dispostas na Constituição são dotadas do mesmo nível hierárquico.

2. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA CONSTITUI-

ÇÃO BRASILEIRA

13. (TRF 4 – Juiz Federal Substituto 4ª região/ 2010)

Assinale a alternativa correta.

a) A exploração de portos fluviais e lacustres compete aos Estados.

b) A Federação Brasileira é composta pela União, Esta-dos e um Distrito Federal, ao passo que os muni-cípios somente têm autonomia em temas de seu particular interesse, nos termos da respectiva lei orgânica.

c) Como Federação, o Brasil conta com autonomia legislativa dos Estados sem que existam limites a essa autonomia.

d) Como República, o Brasil conta com o exercício do poder político em caráter eletivo, transitório e com responsabilidade.

e) É de competência privativa estadual a legislação sobre desapropriação no âmbito de cada Estado.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “d”: curiosamente o examinador se valeu do conceito do tributarista Roque Carrazza para definir República: “é o tipo de governo, fun-dado na igualdade formal das pessoas, em que os deten-tores do poder político exercem-no em caráter eletivo, representativo (de regra), transitório e com responsabi-lidade” (Curso de Direito Constitucional Tributário. 11ª. edição. São Paulo: Malheiros, 1998). Apesar de pitoresca a fonte (para uma prova de direito constitucional) a defini-ção do autor é precisa e justifica a correção da alternativa.

Alternativa “a”: compete à União (e não aos Esta-dos) a exploração de portos fluviais e lacustres compete aos Estados, consoante art. 21, XII, “f”, da CF.

Alternativa “b”: a Federação Brasileira é composta pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, nos termos do art. 1º, caput, da CF.

Alternativa “c”: como Federação, o Brasil conta com autonomia legislativa dos Estados, que encontra

limites na Constituição Federal (art. 25, § 1º, da CF).

Alternativa “e”: compete privativamente à

União legislar sobre desapropriação, de acordo com o art. 22, II, da CF.

3. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

14. (TRF 2 – Juiz Federal Substituto 2ª região/2017) Analise as proposições e, ao final, marque a opção correta:

I. No exercício da jurisdição, como fundamento para apreciação de pedido, o juiz federal pode declarar a inconstitucionalidade de lei, mas não a inconstitu-cionalidade de emenda constitucional.

II. No sistema brasileiro de controle de constitucionali-dade, cabe exclusivamente aos Poderes Legislativo e Executivo a realização de controle preventivo de constitucionalidade da lei, reservando-se ao Judici-ário função repressiva.

III. Os direitos e garantias fundamentais enunciados na maioria dos incisos do artigo 5º da Constituição são normas que produzem seus efeitos típicos indepen-dentemente da atuação do legislador infraconstitu-cional.

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 45 19/05/2018 16:59:43

Paulo Lépore46

IV. O direito ao exercício de profissão (inciso XIII do artigo 5º da Constituição) é clássico exemplo de norma cuja eficácia não pode ser contida, conforme amplamente decidido nos vários litígios que envol-vem os Conselhos de fiscalização da profissão.

a) Estão corretas apenas as assertivas I, II e III.

b) Estão corretas apenas as assertivas II e III.

c) Está correta apenas a assertiva III.

d) Estão corretas apenas as assertivas II e IV.

e) Estão corretas apenas as assertivas III e IV.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “c”

Assertiva I: a cláusula de reserva de plenário, con-tida no art. 97 da CF, não se aplica ao juiz singular, de modo que este pode declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou de emenda constitucional.

Assertiva II: proposta legislativa pretensamente inconstitucional pode ser impugnada por meio de

mandado de segurança individual manejado por

parlamentar sob o argumento de vulneração às cláu-sulas pétreas e violação ao direito líquido e certo de participação de um processo legislativo hígido (STF. MS 20.257, julgado em 1981 e relatado pelo Ministro Décio Miranda). Ao apreciar mandado de segurança dessa

natureza, o Poder Judiciário estará realizando con-

trole prévio ou preventivo de constitucionalidade.

Assertiva III: os direitos e garantias fundamentais contidos no art. 5º da CF têm aplicabilidade direta e imediata, aptas a produzirem efeitos. De acordo com

o art. 5º, § 1º: “as normas definidoras de direitos e

garantias fundamentais têm aplicação imediata”. Assim, cabe ao Poder Público apenas conceder-lhes a maior eficácia possível. (Destaca-se, portanto, a lição de Ingo Wolfgang Sarlet às páginas 270-271 de sua obra: A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011.)

Assertiva IV: o direito contido no art. 5º, inciso XIII, da CF se refere à liberdade de exercício da profissão e tem eficácia contida, posto que a própria Constituição

prevê que o exercício desse direito deve atender às

qualificações previstas em lei. Portanto, sendo uma norma de eficácia contida, é apta a produzir efeitos desde a sua criação, porém pode ter seus efeitos restri-tos por atuação do Poder Público. Não tem, consequen-temente, aplicação integral, ainda que imediata (SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucio-nais. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2001).

15. (TRF 2 – Juiz Federal Substituto 2ª região/2017) Marque a opção correta:

a) O direito fundamental à isonomia não é ferido pelos certames públicos para cargos de carreira policial, de escrivão, de agente de segurança e de carcereiro,

entre outros, que exigem altura mínima de 1 metro e 60 cm como condição para o ingresso.

b) A proteção constitucional à liberdade de consciên-cia e de crença assegura o direito de não ter religião, e impede que o Poder Público embarace o funcio-namento de qualquer culto, sendo inconstitucional exigência de que instituições religiosas se subme-tam a limites sonoros em suas reuniões.

c) Todos os brasileiros têm assegurado o direito de receber dos órgãos públicos informações de seu interesse ou interesse geral, salvo nos casos em que decretado o segredo de justiça.

d) O direito constitucional de petição pode ser con-dicionado ao pagamento de custas módicas ou no máximo razoáveis, daí ser inconstitucional, como já decidiu o STF, o estabelecimento de taxa judici-ária cobrada sobre o valor da causa, sem limitação expressa.

e) O fato de ser livre a expressão de atividade inte-lectual, artística, científica e de comunicação não impede que tal direito seja limitado pelo legislador, permitindo-se, por exemplo, a proteção da reputa-ção das demais pessoas, da segurança nacional, da ordem pública e da saúde.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “e”: o disposto na alter-nativa se encontra em conformidade com o texto do art. 13 da Convenção Americana de Direitos Humanos: “1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito inclui a liberdade de procu-rar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, sem considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha. 2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito à censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para assegurar: a) o respeito dos

direitos e da reputação das demais pessoas; b) a pro-teção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral públicas”.

Alternativa “a”: segundo jurisprudência do STF, a isonomia é ferida quando há exigência de altura

mínima para cargos nos quais a altura é irrelevante. Nesse sentido: “Em se tratando de concurso público para escrivão de polícia, é irrelevante a exigência de altura mínima, em virtude das atribuições do cargo. Precedentes”. (AI 384050 AgR, rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, julgado em 09/09/2003)

Alternativa “b”: apesar de a CF assegurar a prote-ção ao livre exercício de cultos religiosos, tal proteção não é ilimitada e irrestringível. Deste modo, deve-se sopesar a liberdade de culto com outros direitos funda-mentais, inclusive de terceiros alheios ao culto.

Alternativa “c”: tal direito, contido no art. 5º, inciso XXXIII, da CF, encontra óbice caso as informações

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Direito Constitucional • Questões 47

sejam sigilosas para garantir a segurança da sociedade e do Estado.

Alternativa “d”: não se deve confundir “direito

de petição” com “direito de ação”. O primeiro é gra-tuito e se encontra disposto no art. 5º, inciso XXXIV, alínea “a”, da CF, caracterizando-se por ser meio não jurisdicional na busca da defesa de direito individual ou coletivo e não se submete ao pagamento de taxa. O segundo se refere ao direito de provocar o Judiciário. Para o exercício do direito de ação devem ser preenchi-das as condições da ação e os pressupostos processuais.

16. (TRF 5 – Juiz Federal Substituto 5ª região/2015) Com relação aos direitos e garantias fundamentais, assi-nale a opção correta conforme o entendimento do STF.

a) Viola as garantias do livre exercício do trabalho, ofí-cio ou profissão a exigência, pela fazenda pública, de prestação de fiança para a impressão de notas fiscais de contribuintes em débito com o fisco.

b) A proibição de liberdade provisória nos processos por crimes hediondos veda o relaxamento da prisão processual por excesso de prazo.

c) O direito a ampla defesa não engloba o acesso aos documentos em procedimento investigatório reali-zado por órgão com competência de polícia judici-ária.

d) Deve ser resguardado o nome do servidor público na publicitação dos dados referentes a sua remu-neração, porquanto tal divulgação viola a proteção constitucional à intimidade.

e) No âmbito processual criminal, a garantia do juízo natural impede a redistribuição de processos na hipótese de criação de varas especializadas em razão da matéria.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “a”: viola as garantias do livre exercício do trabalho, ofício ou profissão a exigên-cia, pela fazenda pública, de prestação de fiança para a impressão de notas fiscais de contribuintes em débito com o fisco. Conforme entendimento do Supremo Tri-bunal Federal, constante do Informativo nº 748: “A exi-gência, pela Fazenda Pública, de prestação de fiança, garantia real ou fidejussória para a impressão de notas fiscais de contribuintes em débito com o Fisco viola as garantias do livre exercício do trabalho, ofício ou pro-fissão (CF, art. 5º, XIII), da atividade econômica (CF, art. 170, parágrafo único) e do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV). Com base nessa orientação, o Plenário deu provimento a recurso extraordinário para restabele-cer sentença, que deferira a segurança e assegurara o direito do contribuinte à impressão de talonários de notas fiscais independentemente da prestação de garantias. O Tribunal declarou, ainda, a inconstituciona-lidade do parágrafo único do art. 42 da Lei 8.820/1989, do Estado do Rio Grande do Sul (“A Fiscalização de Tri-butos Estaduais, quando da autorização para impressão

de documentos fiscais, poderá limitar a quantidade a ser impressa e exigir garantia, nos termos do art. 39, quando a utilização dos referidos documentos puder prejudicar o pagamento do imposto vincendo, ou quando ocorrer uma das hipóteses mencionadas no art. 39”). Discutia-se eventual configuração de sanção polí-tica em decorrência do condicionamento de expedição de notas fiscais mediante a oferta de garantias pelo con-tribuinte inadimplente com o fisco. No caso, a Corte de origem dera provimento parcial à apelação interposta pelo Fisco para reconhecer a constitucionalidade da Lei gaúcha 8.820/1989. Dessa forma, autorizara a impressão de talonários de notas fiscais de contribuinte em mora somente após a prestação, pelo devedor, de fiança idô-nea, garantia real ou outra fidejussória capaz de cobrir obrigações tributárias futuras decorrentes de opera-ções mercantis presumidas” (STF. RE 565048/RS, julgada em 2014 e relatada pelo Ministro Marco Aurélio).

Alternativa “b”: nos termos da Súmula 697, do STF, a proibição de liberdade provisória nos processos por crimes hediondos não veda o relaxamento da prisão processual por excesso de prazo.

Alternativa “c”: nos termos da Súmula Vinculante 14, é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já docu-mentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. Portanto, o direito a ampla defesa engloba o acesso aos documen-tos em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária. Entretanto, a aplicação da Súmula Vinculante 14 é afastada quando autos de inquérito policial se encontram indisponíveis em razão de pendência de realização de diligência sigilosa (Rcl 25012 AgR, rel. min. Edson Fachin, julgado em 14/03/2017, DJe 27/03/2017). Ademais, não se aplica a procedimentos cíveis ou administrativos, apenas à esfera penal (nesse sentido: Rcl 10771 AgR, rel. min. Marco Aurélio, julgado em 04/02/2014, DJe 18/02/2014; e Rcl 8458 AgR, rel. min. Gilmar Mendes, julgado em 26/06/2013, DJe 19/09/2013).

Alternativa “d”: no ARE 652777, julgado em 2015 e relatado pelo Ministro Teori Zavascki, em que se reco-nheceu repercussão geral, o STF entendeu ser legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos nomes dos seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias.

Alternativa “e”: no âmbito processual criminal, a garantia do juízo natural não impede a redistribuição de processos na hipótese de criação de varas especia-lizadas em razão da matéria. Nesse sentido, já se pro-nunciou a jurisprudência do STF: HC 108749, julgado em 2013 e relatado pela Ministra Cármen Lúcia; HC88660, julgado em 2008 e relatado pela Ministra Cármen Lúcia.

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 47 19/05/2018 16:59:43

Paulo Lépore48

17. (Cespe – Juiz Federal Substituto 3ª região/ 2011)

No que se refere a direitos e garantias fundamentais, instrumentos de tutela desses direitos e inafastabili-dade do controle judicial, assinale a opção correta.

a) O MP deve acompanhar a ação popular, cabendo--lhe apressar a produção de provas e promover a responsabilidade civil ou criminal dos que nela inci-direm, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado.

b) O texto constitucional determina que a lei não pode excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, seja ela proveniente de ação ou omissão de organizações públicas, seja originada de conflitos privados; como corolário do princí-pio da inafastabilidade do controle judicial, a CF garante, de modo expresso, o direito ao duplo grau de jurisdição em todos os feitos e instâncias.

c) O direito de petição é direito fundamental de cará-ter universal, assegurado à generalidade das pes-soas físicas, brasileiras ou estrangeiras, de modo individual ou coletivo, mas não às pessoas jurídicas, que não dispõem de legitimidade para valer – se desse instrumento de defesa de interesses próprios ou de terceiros contra atos ilegais ou praticados com abuso de poder.

d) A jurisprudência do STF considera que o princípio do direito adquirido se impõe a leis de direito pri-vado, mas não a leis de ordem pública, pois estas se aplicam de imediato, alcançando os efeitos futuros do ato jurídico perfeito ou da coisa julgada.

e) O brasileiro nato, o brasileiro naturalizado e o estrangeiro não podem ser extraditados por crime político ou de opinião, mas, no que tange à prática de crime comum, a CF veda por inteiro apenas a extradição de brasileiro nato ou naturalizado, admi-tindo-a para o cidadão estrangeiro.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “a”: nos exatos termos do art. 6º, § 4º, da Lei 4.717/65 (Lei da Ação Popular), o Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a responsabi-lidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo--lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores.

Alternativa “b”: o texto constitucional determina que a lei não pode excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV, da CF), mas não especifica que a lesão pode ser prove-niente de ação ou omissão de organizações públicas, ou de conflitos privados. Ademais, a CF não garante, de

modo expresso, o direito ao duplo grau de jurisdição em todos os feitos e instâncias. No bojo do RHC 79785, julgado em 2002, o STF se pronunciou no sentido de que o duplo grau de jurisdição não seria uma garantia constitucional. Já em 2007, no HC 88.420, julgado em 2007, a Suprema Corte relativizou a negativa, passando

a entender aplicável o duplo grau de jurisdição como uma garantia constitucional implícita, que decorre da previsão da existência e competência dos Tribunais para apreciação de decisões proferidas em instâncias inferio-res. Vale ainda destacar que a existência de processos com instância única ou originária (AP 470, sobre o Men-salão, v.g.) faz parte da lógica constitucional, impondo uma ponderação de valores. Nos casos de instância única, não se aplica o duplo grau, mas isso não signi-fica que ele deixa de existir como uma garantia implí-cita. Nesse sentido, o Informativo nº 719 do STF traz trecho de voto do Ministro Luiz Fux sobre o duplo grau: “não se pode alcançar o duplo grau de jurisdição a um patamar que não lhe seria ínsito (...) o STF já rejeitou o caráter constitucional dessa prerrogativa, ao afastar sua incidência nos processos de competência originária dos tribunais superiores”.

Alternativa “c”: o direito de petição é direito fun-damental de caráter universal (art. 5º, XXXIV, da CF), assegurado à generalidade das pessoas físicas, brasi-leiras ou estrangeiras, de modo individual ou coletivo e também às pessoas jurídicas. Assim já se pronun-ciou o STF: “O direito de petição, presente em todas as Constituições brasileiras, qualifica-se como importante prerrogativa de caráter democrático. Trata-se de ins-trumento jurídico-constitucional posto à disposição de qualquer interessado – mesmo daqueles destituídos de personalidade jurídica –, com a explícita finalidade de viabilizar a defesa, perante as instituições estatais, de direitos ou valores revestidos tanto de natureza pessoal quanto de significação coletiva. Entidade sindical que pede ao PGR o ajuizamento de ação direta perante o STF. Provocatio ad agendum. Pleito que traduz o exercí-cio concreto do direito de petição. Legitimidade desse comportamento.” (ADI 1.247, julgada em 2005 e rela-tada pelo Ministro Celso de Mello).

Alternativa “d”: segundo a jurisprudência do STF, “[...] no Brasil, sendo o princípio do respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada de natureza constitucional, sem qualquer exceção a qual-quer espécie de legislação ordinária, não tem sentido a

afirmação de muitos – apegados ao direito de países

em que o preceito é de origem meramente legal – de

que as leis de ordem pública se aplicam de imediato,

alcançando os efeitos futuros do ato jurídico per-

feito ou da coisa julgada, e isso porque, se se alteram os efeitos, é óbvio que se está introduzindo modifica-ção na causa, o que é vedado constitucionalmente.” (Rp 1451, julgada em 1988 e relatada pelo Ministro Moreira Alves).

Alternativa “e”: o brasileiro nato, o brasileiro natu-ralizado e o estrangeiro não podem ser extraditados por crime político ou de opinião, mas, no que tange à prática de crime comum, a CF veda por inteiro apenas a extradição de brasileiro nato, admitindo-a para o

naturalizado, desde que seja por crime praticado antes da naturalização ou por comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; e para o cidadão estrangeiro (art. 5º LI e LII, da CF).

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 48 19/05/2018 16:59:44

Direito Constitucional • Questões 49

3.1. DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS, COLE-

TIVOS

18. (TRF 2 – Juiz Federal Substituto 2ª região/2014)

Assinale a opção correta:

a) a tutela da inviolabilidade do domicílio, oriunda da Magna Carta, apenas admite o ingresso na casa de alguém mediante o seu consentimento ou em caso de flagrante delito ou, ainda, a qualquer hora, mediante prévia determinação judicial.

b) a tutela da inviolabilidade do domicílio é garan-tia constitucional segundo a qual ninguém pode penetrar em qualquer casa sem consentimento de seu proprietário, salvo para prestar socorro ou, durante o dia, por determinação judicial.

c) a tutela da inviolabilidade do domicílio inclui quar-tos de hotel em que o indivíduo se hospeda e até mesmo compartimentos privados não abertos ao público onde alguém exerça a sua profissão ou ati-vidade.

d) a inviolabilidade do domicílio é garantia constitu-cional segundo a qual ninguém pode penetrar em qualquer casa, empresa individual ou microem-presa sem consentimento do proprietário, salvo em caso de flagrante delito, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.

e) a inviolabilidade do domicílio é destinada a pro-teger a moradia, ainda que precária, e também se aplica, nesse diapasão, a quartos de hotel, mas não a locais onde se exerça atividade com intuito lucra-tivo.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “c”: de acordo com a posição do STF no HC 93.050, julgado em 2008 e rela-tado pelo ministro Celso de Mello, para os fins da pro-teção jurídica a que se refere o art. 5º, XI, da CF, “o con-

ceito normativo de ‘casa’ revela-se abrangente e, por estender-se a qualquer compartimento privado não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou ati-vidade (CP, art. 150, § 4º, III), compreende, observada essa específica limitação espacial (área interna não acessível ao público), os escritórios profissionais, inclusive os de contabilidade. Sem que ocorra qualquer das situações excepcionais taxativamente previstas no texto consti-tucional (art. 5º, XI), nenhum agente público, ainda que vinculado à administração tributária do Estado, poderá, contra a vontade de quem de direito (‘invito domino’), ingressar, durante o dia, sem mandado judicial, em espaço privado não aberto ao público, onde alguém exerce sua atividade profissional, sob pena de a prova resultante da diligência de busca e apreensão assim executada reputar-se inadmissível, porque impregnada de ilicitude material. O atributo da autoexecutoriedade dos atos administrativos, que traduz expressão concre-tizadora do ‘privilège du preálable’, não prevalece sobre a garantia constitucional da inviolabilidade domiciliar,

ainda que se cuide de atividade exercida pelo Poder Público em sede de fiscalização tributária.”

Alternativa “a”: o ingresso na casa de alguém mediante prévia determinação judicial não pode ocor-

rer a qualquer hora, mas apenas durante o dia (art. 5º, XI, da CF).

Alternativa “b”: de acordo com o art. 5º, XI, da CF, a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.

Alternativa “d”: a inviolabilidade do domicílio pro-tege o morador, não o proprietário (art. 5º, XI, da CF).

Alternativa “e”: a inviolabilidade do domicílio é destinada a proteger a o morador (não a moradia), e também se aplica, nesse diapasão, a quartos de hotel e

a locais onde se exerça atividade com intuito lucra-

tivo, pois, segundo o STF, “o conceito normativo de

‘casa’ revela-se abrangente e, por estender-se a qual-

quer compartimento privado não aberto ao público,

onde alguém exerce profissão ou atividade” (HC 93.050, julgado em 2008).

19. (Cespe – Juiz Federal Substituto 5ª região/2013)

Acerca dos direitos e garantias individuais e dos direi-tos constitucionais dos trabalhadores, assim como dos direitos relativos a família, educação e cultura, assinale a opção correta.

a) Como somente a lei pode restringir a publicidade dos atos processuais, é proibido aos tribunais vedar, por exemplo, a degravação de sustentação oral para divulgação em livro acadêmico.

b) Apesar de livre a associação sindical, o aposentado filiado não tem direito de ser votado nas organiza-ções sindicais.

c) É direito dos trabalhadores urbanos e rurais a remu-neração do trabalho noturno superior à do diurno, majoração essa não devida, na base de cálculo remuneratório, se houver escala de revezamento.

d) O princípio da gratuidade do ensino público não impede a exigência de taxa instituída, por univer-sidade pública, como condição para a efetivação da matrícula do estudante.

e) O mandado injuncional é ação constitucional com a específica função de impedir que a mora legislativa frustre o exercício de direitos, liberdades e prerro-gativas outorgados pela CF, não havendo, nesse caso, legitimidade coletiva.

COMENTÁRIOS .

Nota do Autor: essa questão deixa clara a neces-sidade de o candidato manter-se atualizado quanto à jurisprudência do STF.

Alternativa correta: “a”: de acordo com o infor-mativo 421 do STF, “Concluído julgamento de recurso

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 49 19/05/2018 16:59:44

Paulo Lépore50

ordinário em mandado de segurança interposto contra acórdão do STM que negara aos impetrantes o acesso aos registros fonográficos de julgamentos ocorri-dos naquele Tribunal, mediante o qual se pretendia a degravação das sustentações orais de diversos

advogados para posterior divulgação em livro – v. Informativo 144. A Turma, por maioria, deu provi-

mento ao recurso. Inicialmente, afastou-se a evo-

cação do Estatuto da OAB ou de outras normas

processuais referentes ao exercício da advocacia,

haja vista que, embora os ora recorrentes fossem

advogados, eles atuavam como pesquisadores em

busca de dados históricos para a produção de obra

literária. Tendo em conta a previsão constitucional

de que a lei somente poderá restringir a publicidade

dos atos processuais quando a defesa da intimidade

ou o interesse social o exigirem (art. 5º, LV) e, ainda,

a recente Instrução Normativa 28 do STF – que auto-

riza, em seu art. 1º, o fornecimento, por escrito,

em áudio, vídeo ou meio eletrônico, de cópia de

sustentação oral proferida no Pleno ou nas Turmas

–, entendeu-se que a autoridade tida por coatora

apenas poderia limitar o acesso à informação reque-

rida desde que agisse nos limites objetivos da lei. Ademais, asseverou-se que, para negar-se o mencio-nado pleito, não se poderia inferir da norma adotada (inciso I do Provimento 54 do STM) restrição ao direito à informação, bem como não seria cabível dar-se a uma norma interpretação ampliativa para restringir direito fundamental. Vencido o Min. Maurício Corrêa, relator, que negava provimento ao recurso por considerar que tais gravações seriam de uso exclusivo do mencionado Tribunal, uma vez que teriam por finalidade auxiliar internamente a elaboração dos acórdãos. RMS provido

para cassar o acórdão recorrido e garantir aos impe-

trantes o acesso e cópia das gravações requisitadas

à autoridade coatora e, ainda, determinar a devo-

lução das fitas apreendidas. Precedentes citados: MI 284/DF (DJU de 26.6.92); MS 25832 MC/DF (DJU de 20.2.2006).RMS 23036/RJ, rel. orig. Min. Maurício Corrêa, rel. p/ o acórdão Min. Nelson Jobim, 28.3.2006. (RMS-23036)

Alternativa “b”: de acordo com o art. 8º, VII, da CF, o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais.

Alternativa “c”: É direito dos trabalhadores urba-nos e rurais a remuneração do trabalho noturno supe-rior à do diurno (art. 7º, IX, da CF). Ademais, de acordo com a Súmula 213 do STF, “é devido o adicional de serviço noturno, ainda que sujeito o empregado ao

regime de revezamento.”

Alternativa “d”: nos termos da súmula vinculante 12, a cobrança de taxa de matrícula nas universida-

des públicas viola o disposto no art. 206, IV, da Cons-tituição Federal.

Alternativa “e”: apesar de não haver previsão constitucional, o STF admite o Mandado de Injunção

Coletivo (MI 102, julgado em 1998 e relatado para acór-dão pelo Ministro Carlos Velloso). Por sua vez, com o

advento da Lei nº 13.300/2016, o mandado de injunção coletivo passou a ter disciplina legal expressa. Vale ano-tar que, consoante o disposto no art. 12 de referida lei, o mandado de injunção coletivo pode ser promovido: I – pelo Ministério Público, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a defesa da ordem jurí-dica, do regime democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis; II – por partido político com representação no Congresso Nacional, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus integrantes ou relacionados com a finalidade partidá-ria; III – por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totali-dade ou de parte de seus membros ou associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização espe-cial; IV – pela Defensoria Pública, quando a tutela reque-rida for especialmente relevante para a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal.

20. (Cespe – Juiz Federal Substituto 5ª região/2013)

A respeito do direito de propriedade e de sua função social e de desapropriação, assinale a opção correta.

a) A caracterização de esbulho possessório no imóvel desapropriando não se mostra capaz de suspen-der o processo expropriatório para fins de reforma agrária.

b) Em ação de desapropriação, direta ou indireta, a taxa dos juros compensatórios incidentes é, atual-mente, de 12% ao ano.

c) Visando a criação de reservas, o Estado pode negar o pagamento de indenização ao particular dono de imóvel cuja exploração econômica tenha sido afe-tada pela finalidade florestal.

d) Restrições administrativas preexistentes à aquisi-ção do terreno justificam, em favor do proprietário, o direito à indenização em face da fazenda pública.

e) Na desapropriação para fins de reforma agrária, é proibido indenizar computando-se o valor da cobertura vegetal, já que tal bem não é passível de exploração econômica.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: “b”: essa é a redação da Súmula 618 do STF.

Alternativa “a”: de acordo com o STF, “o esbulho possessório – mesmo tratando-se de propriedades ale-gadamente improdutivas – constitui ato revestido

de ilicitude jurídica. Revela-se contrária ao direito, porque constitui atividade à margem da lei, sem qual-quer vinculação ao sistema jurídico, a conduta daqueles que, particulares, movimentos ou organizações sociais, visam, pelo emprego arbitrário da força e pela ocupação

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 50 19/05/2018 16:59:44

Direito Constitucional • Questões 51

ilícita de prédios públicos e de imóveis rurais, a cons-tranger, de modo autoritário, o poder público a promo-ver ações expropriatórias, para efeito de execução do programa de reforma agrária. O processo de reforma

agrária, em uma sociedade estruturada em bases

democráticas, não pode ser implementado pelo uso

arbitrário da força e pela prática de atos ilícitos de

violação possessória, ainda que se cuide de imóveis alegadamente improdutivos, notadamente porque a Constituição da República, ao amparar o proprietário com a cláusula de garantia do direito de propriedade (CF, art. 5º, XXII), proclama que ‘ninguém será privado (...) de seus bens, sem o devido processo legal’ (art. 5º, LIV). O respeito à lei e à autoridade da Constituição

da República representa condição indispensável

e necessária ao exercício da liberdade e à prática

responsável da cidadania, nada podendo legitimar a ruptura da ordem jurídica, quer por atuação de movi-mentos sociais (qualquer que seja o perfil ideológico que ostentem), quer por iniciativa do estado, ainda que se trate da efetivação da reforma agrária, pois, mesmo esta, depende, para viabilizar-se constitucionalmente, da necessária observância dos princípios e diretrizes que estruturam o ordenamento positivo nacional. O esbulho possessório, além de qualificar-se como ilícito civil, também pode configurar situação revestida de tipicidade penal, caracterizando-se, desse modo, como ato criminoso (CP, art. 161, § 1º, II; Lei 4.947/1966, art. 20). Os atos configuradores de violação possessória, além de instaurarem situações impregnadas de inegável ili-citude civil e penal, traduzem hipóteses caracteriza-

doras de força maior, aptas, quando concretamente

ocorrentes, a infirmar a própria eficácia da declara-

ção expropriatória. Precedentes.” (ADI 2.213-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 4-4-2002, Plenário, DJ de 23-4-2004).

Alternativa “c”: segundo a jurisprudência do STF, “Recurso extraordinário – Estação ecológica – Reserva florestal na Serra do Mar – Patrimônio nacional (CF, art. 225, § 4º) – Limitação administrativa que afeta o conte-údo econômico do direito de propriedade – Direito do proprietário à indenização – Dever estatal de ressarcir os prejuízos de ordem patrimonial sofridos pelo particu-lar – Recurso extraordinário não conhecido. Incumbe ao Poder Público o dever constitucional de proteger a flora e de adotar as necessárias medidas que visem a coibir práticas lesivas ao equilíbrio ambiental. Esse encargo, contudo, não exonera o Estado da obrigação de

indenizar os proprietários cujos imóveis venham

a ser afetados, em sua potencialidade econômica,

pelas limitações impostas pela administração

pública. A proteção jurídica dispensada às coberturas vegetais que revestem as propriedades imobiliárias não impede que o dominus venha a promover, dentro dos limites autorizados pelo Código Florestal, o adequando e racional aproveitamento econômico das árvores nelas existentes. A jurisprudência do STF e dos tribunais

em geral, tendo presente a garantia constitucional

que protege o direito de propriedade, firmou-se

no sentido de proclamar a plena indenizabilidade

das matas e revestimentos florestais que recobrem

áreas dominiais privadas objeto de apossamento

estatal ou sujeitas a restrições administrativas

impostas pelo Poder Público. Precedentes. A circuns-tância de o Estado dispor de competência para criar reservas florestais não lhe confere, só por si – conside-rando-se os princípios que tutelam, em nosso sistema normativo, o direito de propriedade –, a prerrogativa de subtrair-se ao pagamento de indenização compensató-ria ao particular, quando a atividade pública, decorrente do exercício de atribuições em tema de direito flores-tal, impedir ou afetar a valida exploração econômica do imóvel por seu proprietário. A norma inscrita no art. 225, § 4º, da Constituição deve ser interpretada de modo harmonioso com o sistema jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula que, proclamada pelo art. 5º, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis a atividade estatal. O preceito consubstanciado no art. 225, § 4º, da Carta da República, além de não haver convertido em bens públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que obser-vadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias a preservação ambiental. A ordem constitu-cional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade (CF/1988, art. 5º, XXII). Essa proteção outorgada pela Lei Fundamental da República estende-se, na abrangência normativa de sua incidência tutelar, ao reconhecimento, em favor do dominus, da garantia de compensação financeira, sempre que o Estado, mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel particular afetado pela ação do Poder Público esteja localizado em qualquer das áreas referidas no art. 225, § 4º, da Constituição. Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado: a consagração constitu-cional de um típico direito de terceira geração (CF, art. 225, caput).” (RE 134.297, Rel. Min. Celso de Mello, julga-mento em 13-6-1995, Primeira Turma, DJ de 22-9-1995.)

Alternativa “d”: conforme entendimento reite-rado do STJ, é “[...] as limitações administrativas pree-

xistentes à aquisição do imóvel não geram indeni-

zação pelo esvaziamento do direito de propriedade, principalmente quando o gravame narrativo é antece-dente à alienação e à ciência do adquirente”. Preceden-tes citados: AgRg no REsp 769.405-SP, DJe 16/4/2010; EAg 404.715-SP, DJ 27/6/2005, e EREsp 254.246-SP, DJ 12/3/2007. REsp 1.168.632-SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/6/2010.

Alternativa “e”: a jurisprudência do STF é firme no sentido de que, “A inexistência de qualquer indeni-

zação sobre a parcela de cobertura vegetal sujeita a

preservação permanente implica violação aos pos-

tulados que asseguram o direito de propriedade e a

Revisaco -Magistratura Federal-6ed.indb 51 19/05/2018 16:59:44

Paulo Lépore52

justa indenização (CF, art. 5º, XXII e XXIV).” (RE 267.817, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 29-10-2002, Segunda Turma, DJ de 29-11-2002.)

21. (TRF 3 – Juiz Federal Substituto 3ª região/2013)

A respeito do princípio da proteção judiciária, também chamado pela doutrina como princípio da inafastabili-dade do controle jurisdicional, marque a assertiva que exprime as determinações constitucionais:

a) fundamenta-se no princípio da separação dos poderes, incluindo as garantias de independência e imparcialidade do juiz, a garantia do juiz natural ou constitucional, o direito de ação e de defesa e o direito a uma duração razoável do processo. Quanto a esse último, cabe ao Congresso Nacional promover alterações na legislação federal objeti-vando tornar mais amplo o acesso à Justiça e mais célere a prestação jurisdicional;

b) fundamenta-se no princípio da separação dos poderes, incluindo as garantias de independência e imparcialidade do juiz, a garantia do juiz natural ou constitucional, o direito de ação e de defesa e o direito a uma duração razoável do processo. Quanto a esse último, cabe aos tribunais, exclusivamente, a tarefa de adequar sua estrutura, de modo a garantir o cumprimento do desígnio constitucional;

c) inclui o monopólio judiciário do controle jurisdi-cional (“a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”),no direito de ação e de defesa (“aos litigantes, em processo judi-cial e administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”), o direito ao devido processo legal (“ninguém será privado da liberdade sem o devido processo legal”) e a duração razoável do processo (“a todos são asseguradas, no âmbito judicial e administrativo, a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”);

d) inclui o monopólio judiciário do controle jurisdi-cional (“a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão a direito”), o direito de ação e de defesa (“aos litigantes, em processo judicial e admi-nistrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”), o direito ao devido pro-cesso legal (“ninguém será privado da liberdade sem o devido processo legal”) e a duração razoável do processo (“a todos são asseguradas, no âmbito judicial e administrativo, a razoável duração do pro-cesso e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”);

e) inclui o monopólio judiciário do controle jurisdi-cional (“a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão a direito”), o direito de ação e de defesa (“aos litigantes, em processo judicial e admi-nistrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e

recursos a ela inerentes”), o direito ao devido pro-cesso legal (“ninguém será privado da liberdade sem o devido processo legal”) e a duração razoável do processo (“a todos são asseguradas, no âmbito judicial, a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”).

COMENTÁRIOS .

Nota do Autor: mais uma vez a doutrina de José Afonso da Silva é lembrada nas provas para Juiz Federal.

Alternativa correta (responde a todas as alter-

nativas): “a”: segundo José Afonso da Silva, “o princí-pio da proteção judiciária, também chamado princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, constitui, em verdade, a principal garantia dos direitos subjetivos. Mas ele, por seu turno, fundamenta-se no princípio da separação de poderes, reconhecido pela doutrina como garantia das garantias constitucionais. Aí se junta uma constelação de garantias: as da independência e impar-cialidade do juiz, a do juiz natural ou constitucional, a do direito de ação e de defesa. Tudo ínsito nas regras do art. 5º, XXXV, LIV e LV” (Curso de direito constitucional posi-tivo. 6. Ed. São Paulo: Malheiros, 1990, p. 371). O direito à razoável duração do processo foi incluído no art. 5º da CF pela Emenda Constitucional 45/2004, a Emenda de Reforma do Judiciário que, dentre outros aspectos, traz elementos para uma reforma infraconstitucional que busque a celeridade processual.

22. (TRF 3 – Juiz Federal Substituto 3ª região/2013)

As cooperativas receberam atenção especial do consti-tuinte originário em diversos assuntos. A esse respeito é incorreta a seguinte afirmação:

a) a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas dependem de autorização, vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

b) o Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção econô-mico-social dos garimpeiros;

c) cabe à lei complementar estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, inclusive sobre o adequado tratamento tributário ao ato coopera-tivo praticado pelas sociedades cooperativas;

d) como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado, sendo que a lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras for-mas de associativismo;

e) o sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperati-vas de crédito, será regulado por leis complementa-

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Direito Constitucional • Questões 53

res que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram.

COMENTÁRIOS .

Alternativa certa (incorreta): “a”: consoante art. 5º, XVIII, da CF, a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funciona-mento.

Alternativa “b”: conforme art. 174, § 3º, da CF.

Alternativa “c”: consoante art. 146, III, da CF.

Alternativa “d”: de acordo com o art. 174, caput, da CF.

Alternativa “e”: nos exatos termos do caput, do art. 192, da CF.

23. (Cespe – Juiz Federal Substituto 3ª região/ 2011)

Considerando as disposições constitucionais sobre indenização por dano moral, direito à imagem, direito de invenção e sigilo de fonte e de dados, assinale a opção correta.

a) Não se reconhece a reparabilidade do dano à ima-gem social de pessoa jurídica, pois somente as pes-soas físicas detêm os atributos exteriores com base nos quais se apresentam na vida em sociedade.

b) Cumpre à lei assegurar aos autores de inventos industriais privilégio permanente para a sua utiliza-ção, bem como proteção com prazo indeterminado às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distinti-vos, tendo em vista o desenvolvimento tecnológico e econômico do país.

c) A proteção constitucional do sigilo da fonte impede que um jornalista seja submetido a sanções penais, civis ou administrativas por se negar a revelar o nome do informante ou o local onde conseguiu a notícia, mesmo que esta se caracterize como infor-mação maledicente e unilateral.

d) A jurisprudência do STF é pacífica em admitir que os sigilos bancário, fiscal e de registros telefônicos possam ser quebrados por comissões parlamenta-res de inquérito.

e) A indenização por danos morais cabe tanto em rela-ção à pessoa física como em relação à pessoa jurí-dica, mas não em relação às coletividades, já que os interesses difusos ou coletivos não são passíveis de ser indenizados.

COMENTÁRIOS .

Nota do Autor: no gabarito definitivo, o Cespe considerou duas alternativas como corretas.

Alternativas corretas: letras “c” e “d”

Alternativa “c”: a proteção constitucional do sigilo da fonte impede que um jornalista seja submetido a sanções penais, civis ou administrativas por se negar

a revelar o nome do informante ou o local onde con-seguiu a notícia, mesmo que esta se caracterize como informação maledicente e unilateral, pois a CF protege o sigilo da fonte independentemente da natureza da informação. Vale anotar o posicionamento do STF: “O art. 220 é de instantânea observância quanto ao des-frute das liberdades de pensamento, criação, expressão e informação que, de alguma forma, se veiculem pelos órgãos de comunicação social. Isso sem prejuízo da aplicabilidade dos seguintes incisos do art. 5º da mesma CF: vedação do anonimato (parte final do inciso IV); do direito de resposta (inciso V); direito à indenização por dano material ou moral à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas (inciso X); livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer (inciso XIII); direito ao resguardo do sigilo da fonte de informa-ção, quando necessário ao exercício profissional (inciso XIV). (...) Tirante, unicamente, as restrições que a Lei Fun-damental de 1988 prevê para o ‘estado de sítio’ (art. 139), o Poder Público somente pode dispor sobre matérias lateral ou reflexamente de imprensa, respeitada sempre a ideia-força de que ‘quem quer que seja tem o direito de dizer o que quer que seja’. Logo, não cabe ao Estado, por qualquer dos seus órgãos, definir previamente o que pode ou o que não pode ser dito por indivíduos e jornalistas. As matérias reflexamente de imprensa, sus-cetíveis, portanto, de conformação legislativa, são as indicadas pela própria Constituição, tais como: direitos de resposta e de indenização, proporcionais ao agravo; proteção do sigilo da fonte (‘quando necessário ao exer-cício profissional’); responsabilidade penal por calúnia, injúria e difamação; diversões e espetáculos públicos; estabelecimento dos ‘meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propa-ganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente’ (inciso II do § 3º do art. 220 da CF); independência e proteção remune-ratória dos profissionais de imprensa como elementos de sua própria qualificação técnica (inciso XIII do art. 5º); participação do capital estrangeiro nas empresas de comunicação social (§ 4º do art. 222 da CF); composição e funcionamento do Conselho de Comunicação Social (art. 224 da Constituição).” (ADPF 130, julgada em 2009 e relatada pelo Ministro Ayres Britto).

Alternativa “d”: a jurisprudência do STF é pacífica em admitir que os sigilos bancário, fiscal e de registros telefônicos possam ser quebrados por comissões par-lamentares de inquérito. Assim dispõe o seguinte jul-gado: “O princípio constitucional da reserva de jurisdi-ção – que incide sobre as hipóteses de busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), de interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e de decretação da prisão, ressalvada a situação de fla-grância penal (CF, art. 5º, LXI) – não se estende ao tema

da quebra de sigilo, pois, em tal matéria, e por efeito

de expressa autorização dada pela própria CR (CF,

art. 58, § 3º), assiste competência à CPI, para decre-

tar, sempre em ato necessariamente motivado, a

excepcional ruptura dessa esfera de privacidade das

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Paulo Lépore54

pessoas.” (MS 23.652, julgado no ano 2000 e relatado pelo Ministro Celso de Mello).

Alternativa “a”: se reconhece a reparabilidade do dano à imagem social de pessoa jurídica. Esse é o posi-cionamento do STF: “Não ofende o inciso X do art. 5º da CF/88 (“são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”) o reconhecimento, à pessoa jurídica, do direito à indenização por danos morais, em razão de fato considerado ofensivo à sua honra. Com esse entendimento, a Turma confirmou decisão do Min. Néri da Silveira, relator, que mantivera acórdão do Tribunal de Alçada do Estado de São Paulo que concedera à

autora, pessoa jurídica, o direito à indenização plei-

teada em ação de reparação de danos morais, pro-posta em face de banco que protestara contra a autora, indevida e injustamente, título cambial, o que causara consequências danosas à empresa como o comprome-timento de sua idoneidade financeira e sua reputação. (AG (AgRg) 244.072-SP, julgado em 2002 e relatado pelo Ministro Néri da Silveira).

Alternativa “b”: cumpre à lei assegurar aos auto-res de inventos industriais privilégio temporário (não permanente) para a sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnoló-gico e econômico do país (art. 5º, XXIX, da CF).

Alternativa “e”: conforme justificativa da alterna-tiva “a”, a indenização por danos morais cabe tanto em relação à pessoa física como em relação à pessoa jurí-dica. Ademais, também se admite o dano moral em

relação às coletividades. Apesar de ainda haver diver-gência (o que torna criticável o questionamento em prova objetiva), o STJ já admite o dano moral coletivo: “A concessionária do serviço de transporte público (recor-rida) pretendia condicionar a utilização do benefício do acesso gratuito ao transporte coletivo (passe livre) ao prévio cadastramento dos idosos junto a ela, apesar de o art. 38 do Estatuto do Idoso ser expresso ao exigir ape-nas a apresentação de documento de identidade. Vem daí a ação civil pública que, entre outros pedidos, plei-teava a indenização do dano moral coletivo decorrente desse fato. Quanto ao tema, é certo que este Superior Tribunal tem precedentes no sentido de afastar a pos-sibilidade de configurar-se tal dano à coletividade, ao restringi-lo às pessoas físicas individualmente conside-radas, que seriam as únicas capazes de sofrer a dor e o abalo moral necessários à caracterização daquele dano. Porém, essa posição não pode mais ser aceita, pois, o dano extrapatrimonial coletivo prescinde da prova da dor, sentimento ou abalo psicológico sofridos pelos indivíduos. Como transindividual, manifesta-se no prejuízo à imagem e moral coletivas e sua averiguação deve pautar-se nas características próprias aos interes-ses difusos e coletivos. Dessarte, o dano moral cole-tivo pode ser examinado e mensurado. Diante disso, a Turma deu parcial provimento ao recurso do MP esta-

dual. (REsp 1.057.274, julgado em 2009 e relatado pela Ministra Eliana Calmon).

24. (TRF 4 – Juiz Federal Substituto 4ª região/ 2010)

Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta.

I. Em face de sua natureza política, as Comissões Par-lamentares de Inquérito podem decretar imotiva-damente a quebra de sigilo bancário e telefônico.

II. Os escritórios e consultórios profissionais estão abrangidos no conceito de “casa” para fins da garantia constitucional da inviolabilidade.

III. Em razão de sua índole programática, as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais dependem, para que adquiram cogência e eficácia, de normas regulamentadoras.

IV. A União poderá intervir nos Estados, em caso de recusa à execução de lei federal, somente após provimento, pelo Superior Tribunal de Justiça, de representação do Procurador-Geral da República nesse sentido.

a) Está correta apenas a assertiva II.

b) Está correta apenas a assertiva IV.

c) Estão corretas apenas as assertivas I, II e III.

d) Estão corretas apenas as assertivas II, III e IV.

e) Estão corretas todas as assertivas.

COMENTÁRIOS .

Nota do Autor: a quebra de sigilo é matéria recorrente nos concursos para a magistratura federal. Fique ligado!

Alternativa correta: letra “a”

Assertiva “I”: em face de sua natureza política, as Comissões Parlamentares de Inquérito podem, motiva-

damente, decretar a quebra de sigilo bancário e tele-fônico. Essa é a orientação do STF: “O princípio consti-tucional da reserva de jurisdição – que incide sobre as hipóteses de busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), de inter-ceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e de decretação da prisão, ressalvada a situação de flagrância penal (CF, art. 5º, LXI) – não se estende ao tema da quebra de

sigilo, pois, em tal matéria, e por efeito de expressa

autorização dada pela própria CR (CF, art. 58, § 3º),

assiste competência à CPI, para decretar, sempre em

ato necessariamente motivado, a excepcional rup-

tura dessa esfera de privacidade das pessoas.” (MS 23.652, julgado no ano 2000 e relatado pelo Ministro Celso de Mello).

Assertiva “II”: de acordo com a posição do STF no HC 93.050, julgado em 2008 e relatado pelo ministro Celso de Mello, para os fins da proteção jurídica a que se refere o art. 5º, XI, da CF, “o conceito normativo de

‘casa’ revela-se abrangente e, por estender-se a qual-quer compartimento privado não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade (CP, art. 150, § 4º, III), compreende, observada essa específica limita-

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