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1 Coralizando: um guia para colaboração na economia criativa Primeiro boneco de impressão 06/05/2014 http://corais.org/colabor

Coralizando: um guia para colaboração na economia criativa · mas que satisfazem os desejos do comum, representam sua própria tentativa de se superar. Todo trabalho criativo precisa

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Coralizando: um guiapara colaboração naeconomia criativa

Primeiro boneco de impressão06/05/2014

http://corais.org/colabor

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Qualidade de uma organização, ferramenta, ou atividadeem relação ao seu meio ambiente. Se é abert@, permite ofluxo de substâncias, informações, pessoas, ideias, etc.Se é fechado, não.

É aquela comprometida com a criação de algo novo, nãosó para uma pessoa, mas para várias, ou seja, queproduza algum valor para o comum Quando váriaspessoas criam juntas, todas se tornam criativas, aindamais do que se estivessem sozinhas.

Crédito e responsabilidade pela criação de algo. A autoriaé o contrato social que garante a autoridade do autorsobre suas obras.

São os bens intangíveis, imateriais. O conhecimento é umbem não rival, que pode ser compartilhado e com isso,ganhar ainda mais possibilidades de vida, ser ainda maisdivulgado, remixado, reinventado, complementado.

Autoria compartilhada resultado de cocriação. Os créditose responsabilidades são compartilhados entre os queparticiparam diretamente da cocriação.

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Colaborar é algo que precisa ser aprendido, mas não épossível ensinar a colaboração da maneira tradicional. Acolaboração também precisa ser criada por quemcolabora. Só é possível compreender a colaboração,colaborando.

Coisas compartilhadas que as pessoas podem iragregando novas relações e construindo coletivamentealgo maior que elas.

Coleção de licenças para liberar o direito de uso sobreobras criativas seguindo restrições mínimas.

A criatividade é contínua pois nada começa do zero.Começa quando as ideias são colocadas para fora dacabeça. A cocriação ocorre de fato pela ocorrênciasucessiva de criação atrás de criação. Uma coisa nova éposta no mundo, que serve como insumo para pensar,discutir, mexer e recriar a coisa.

Terceirizar uma tarefa para uma multidão de pessoasinteressadas, sem vínculos empregatícios. As pessoascontribuem ou por uma recompensa na forma de umprêmio ou pela satisfação de contribuir para uma grandecausa (ex: ).

Ou cibercultura. Em uma definição restrita, mais técnica, éa cultura dos dispositivos digitais presentes no cotidiano

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de nossas vidas. Já em uma visão mais ampla, refere-seao cultivo de relações sociais em um espaço virtual.

Normas jurídicas que regulan o monopólio comercial parauma obra literária ou artística. Garantem o direito dosautores de ser reconhecidos pela sua autoria, e oprivilégio de fazer cópias e comercializar a obra.

Na economia criativa a geração de valor acontece quandoo conhecimento é criado e aplicado, simultaneamente.São dois lados da mesma moeda: o conhecimento écriado enquanto é aplicado, e vice-e-versa. Sendo assim,o aprendizado é a maneira como a economia criativa geravalor a partir de um conhecimento que já tem, visandonovos conhecimentos.

O Conceito de Economia Solidária, muitas vezesidentificado pela sigla #EPS (Economia Popular Solidária)e #ECOSOL, prediz que a troca de bens e serviços paraas necessidades de sobrevivência, criação, lazer, etc, sejaobtida através de trocas que não necessariamenteobedecem à ordem economica vigente baseada nacompetitividade e maximização dos lucros para fins deacumulo de capital. Os principais meios de operação deprocessos economicos na economia solidária, são osbancos comunitários, as cooperativas e incubadoras decooperativas e a articulação em rede de diversasinstituições e agentes individuais.

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Sistema operacional livre iniciado por LinusTorvalds e construido por dezenhas de milhares depessoas ao redor do globo. Com base no , váriasdistribuições são desenvolvidas: Ubuntu, Slackware,Debian, etc.

GNU is not Unix. Uma fundação que se pretendia a criarum sistema operacional livre, mas cuja principalcontribuição acabou sendo a criação de licenças parasoftware livre.

General Public License, criada para licenciar softwarelivre, garantindo que as liberdades fundamentais nãosejam feridas pela apropriação do código. Trata-se deuma proteção do comum.

Regula a participação e precisa de muito dinheiro ououtros meios para poder se alimentar de ideias de outros,e também para convencer (ou controlar) as pessoasatravés do .

Abre os processos criativos para o público, divulgandoetapas e resultados, convidando as pessoas de fora paraparticipar. Isso não só enriquece a possibilidade de novasrelações, como também promove a instituição como umacultivadora de . A inovação aberta se realiza emsua plenitude quando existem processos sustentáveis decocriação, processos que estabelecem relaçõesduradouras e vantajosas para ambos os criadores.

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Conceito de inovação aberta para escolas, empresas eoutros tipos de organizações. O laboratório vivo promoveexperimentos de longa duração com participantes de forada organização que não estão sob controle dospesquisadores. O resultado destes experimentos sãovivências que transformam os participantes.

Sistema comunitario de troca de bens e serviços, atravesda utilização de um sistema digital de anúncios eregulações.

com código aberto, ou seja, não compilado. Épossível não só rodar o programa como também ver ocódigo que está por trás do programa.

Terceirizar uma tarefa para uma outra organização.

Ferramentas e insumos educacionais produzidos para usona educação sem restrições, geralmente liberados sobuma licença de conteúdo aberto.

O é uma forma de acessar a consciência coletiva,onde todas as ideias aparecem conectadas, parte de umtodo maior do que qualquer indivíduo pode perceber.Consiste em se apropriar de um material cultural e dar aele um novo significado, trazê-lo para um outro território,desafiando as fronteiras estabelecidas entre arte e

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ciência, jornalismo e permacultura, eletricidade e paixão.Trata-se de uma combinação de elementos nunca antescombinados, utilizando materiais originais quandolegalmente possível.

Um movimento social que vai mais além de uma simples(ou eficaz) alternativa a pirataria. Quando falamos em umdeterminado ele carrega consigo toda umalógica de construção colaborativa e contribuições para oconhecimento universal. Nos dias atuais isto é bastanteimportante, principalmente com os novos paradgimasimpostos sobre a propriedade intelectual.

Toda atividade precisa de um sustento, seja ele financeiro,motivacional, afetivo, material, que é gerado pela. Asustentabilidade é a preocupação com esse sustento.

É caracterizado pelo desenvolvimento da criatividade emgrupo, aproveitando os diversos dons, talentos, visões demundos, repertórios e conhecimentos de cada pessoa.Pode não resultar em obras que impressionem o mundo,mas que satisfazem os desejos do comum, representamsua própria tentativa de se superar.

Todo trabalho criativo precisa se basear no resultado dacriatividade de outros para poder existir, e isto podefuncionar de duas maneiras: a abertura de ideias para acriação e a adaptação das ideias ao meio. As duas sãoessenciais para que o trabalho criativo das pessoas ou

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grupos tenha razão de existir. A primeira tem a ver comideias fornecidas por outros como matéria prima para acocriação, e pode ser ao longo da história; a segunda érelacionada com a função da sociedade para valorar asinovações de outros e aplicá-las em seu meio, paraaceitar a criação como valiosa e útil.

Termo para designar sitios com conteúdo dinámico eplataformas de colaboração no Internet.

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Este é um livro sobre colaboração escrito de maneiracolaborativa. 17 pessoas ao redor do mundo seencontraram para escrever esse livro. Ao invés derepresentar a opinião de uma pessoa, este livrorepresenta conversas de uma comunidade.

Esta comunidade é formada por ativistas, professores,artistas, pesquisadores e empresários que acreditam nacolaboração como um modo de produção viável para aeconomia criativa. Todos são empreendedores, poistrabalham em projetos práticos para a transformação dasociedade, produzindo bens culturais comuns,compartilhados e abertos.

O espaço desta comunidade e o lugar onde foi escritoeste livro é a Plataforma Corais, um sistema quepermite o trabalho colaborativo a distância, sem dependerde um chefe ou qualquer outra estrutura hierárquica. Aplataforma conta com uma série de ferramentascolaborativas baseadas em que ajudam aspessoas a se organizarem com poucos recursos iniciais.Desde que foi lançada em 2011, a Plataforma Corais foiutilizada para organizar vários tipos de projetos:universidade livre, padronização de dados, reforma deprédio, televisão inteligente e muitos outros! As pessoasentram na plataforma, definem uma série de coisas afazer e quem pode fazer, faz. Depois outros dãoe continuam o trabalho. Assim, as pessoas vãocolaborando, ou como esta comunidade prefere dizer, vão"coralizando".

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Este livro explica os conceitos que estão por trás daprática de "coralizar". A colaboração não é algo queacontece por acaso. Existe um pensamento por trás, queserá recuperado ao longo de quatro temas: cocriação,aprendizado, economia e gestão. Esses temas serãoabordados de diferentes maneiras.

Diversidade é a palavra chave para compreender umrecife de corais e não poderia ser diferente nestaplataforma . Para manter esse valor, o livro foiescrito desta forma colaborativa. Ao invés de oferecer umavisão integrada dos assuntos tratados, o livro se parecemais com uma colcha de retalhos, com várias ideiasdesenvolvidas. A colcha de retalhos é resultado demúltiplas colaborações que não aconteceram ao mesmotempo, nem com as mesmas pessoas. Cada pessoacontribuiu com um pouquinho, sem se preocupar emcapturar o livro em sua totalidade. Ninguém se dispôs aimpor uma visão totalizante que desse conta dacomplexidade aqui apresentada. O resultado é que o livronão terá um texto consistente nem homogeneizado.

A edição do livro foi muito cuidadosa em manter essadiversidade, removendo apenas as sentençasdiscriminatórias e taxativas deixadas pelos colaboradores.

São quatro capítulos, cada um sobre um tema

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fundamental para a colaboração na economia criativa:cocriação, aprendizado, economia e gestão. Por criar algojuntos, as pessoas aprendem algo novo peloconhecimento que é compartilhado, de naturezainterdisciplinar. A continuidade e sustentabilidade dessesprocesso de cocriação e aprendizado levam a pensar amicro-economia, as implicações do trabalho colaborativono sustento da vida. Por fim, surge a questão da gestão,ou melhor, da autogestão ou cogestão. O trabalhocolaborativo não depende de um chefe, líder carismáticoou qualquer outra estrutura hierárquica. Cada um é chefee líder de si mesmo, porém, trabalhando para cultivar umbem comum.

A escrita de cada capítulo seguiu uma metodologiacomum dividida em quatro eixos: 1) Conceitos, 2)Técnicas, 3) Estudos de caso e 4) Ferramentas no Corais.

Na primeira parte é discutida uma série de conceitos, taiscomo o de economia criativa, economia solidária,autogestão, coautoria, cocriação, cogestão, processoscolaborativos, entre outros, com o cuidado decontextualizá-los com as transformações que estãoocorrendo na sociedade atual. Em seguida, sãoapresentados estudos de caso que demonstram técnicasbaseadas nesses conceitos que podem ser aplicadas paraapoiar essas transformações sociais. Essas técnicaspodem ser aplicadas com qualquer tipo de ferramenta,porém, neste livro a prioridade foi apresentar asferramentas da Plataforma Corais, pois foram criadas combase nos conceitos e técnicas descritas anteriormente,tendo como premissa a apropriação da tecnologia livrepelos grupos e pessoas dispost@s a agir

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colaborativamente. Cada capítulo, portanto, explica asrazões e os sentimentos por trás da Plataforma Corais.

Os seres humanos racionais vivem preementemente emcomunidade. Para fazer a comunidade, suas estruturas eseus valores perdurarem, precisam cotidianamentecolaborar entre si, pois compartilham do bem comum queé subsistir em sociedade. No caso dos processoscoalborativos, seja nas artes, na educação ou natecnologia, encontrar um bem comum é a motivaçãoprincipal que faz as pessoas colaborarem.

No livro encontram-se possibilidades de como montar umgrupo, como convidar pessoas, encontrar uma causarelevante, alinhar objetivos, apresentar um projeto,explicar como usar a ferramenta, dinâmicas deapresentação, seleção de ferramentas relevantes.

A ideia de que a pessoa tem controle ou propriedade dasideias é uma invenção dos últimos séculos. Isto é porquea pessoa sempre tem precisado de outros para poder criare desenvolver, e porque as ideias tem trocado de ser umjeito de participar em comunidade a ser um mito dacelebração da individualidade. A verdade é que todosprecisam colaborar, e ainda aqueles que foramenamorados pelo mundo da indústria e negócio, vãodespertando do sonho logo que suas práticas parecemnão ter sustentabilidade para o futuro.

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Hoje em dia podemos ver as consequências de fechar oscódigos e as pseudo-limitações das ideias protegidas pelacultura individualista. As pessoas, a organização coletiva,os governos, a indústria, etc., vão gradualmentereconhecendo a necessidade de aprender a trabalhar comoutros, e de criar espaços intelectuais e comerciais paragarantir a sustentabilidade intelectual. Além disso, pormeio do surgimento de tecnologias baseadas no trabalhoem rede, a colaboração tem tomado um papel importanteao demonstrar que a criação sem comunidade é o mesmoque cantar sem ter ninguém para escutar: não possuipoder nem impacto.

Novas perspectivas econômica surgem quando as formassociais de organização predominantes refletem apenasanseios de pequenos grupos oligárquicos. Estasperspectiveas buscam uma forma mais justa de fluir açõese ideias dos indivíduos, respondendo ao que o serhumano valoriza, empoderando as pessoas para atomada de decisões e procurando benefícios para asminorias que não estavam sendo representadas.

Na economia em que vivemos, a economia de mercado, avalorização é individual, restritiva, acumulativa e deretençãol; o que importa é a produção e venda demercadorias. Os valores humanos tendem a deixar de fluire os números são mais importantes que o resultado final,os objetivos se invertem, e o resultado do trabalho de uma

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pessoa deixa de ser valorizado em prol da escassez ousuposta necessidade social. Há especulação com bens enecessidades básicas, o que gera riqueza somente paraaqueles que historicamente monopolizam os recursospara a produção de bens e serviços.

Os sistemas macro dominantes não são capazes deresponder aos anseios de forma imediata, podendo sermodificados a partir de pequenas ações locais de longoprazo. Não adianta esperar por pacotes econômicos oudecisões macro-políticas. O indivíduo é capaz de proporsoluções para instituições e outras formas de organizaçãopara atender melhor às demandas de toda a sociedade,não apenas de pequenos grupos detentores do capitaleconômico. Pode ser que a sociedade ainda não estejacondenada, mas esteja precisando de uma tomada deconsciência, de gerir a si mesma, atenta às suas reaisnecessidades, seus limites e possibilidades e criar novasbases comuns.

Buscar novas ideias para organizar a sociedade nãosignifica necessariamente destruir tudo e esperar o que setem agora acabar, para só depois reconstruir um regimenovo.

Talvez a ideia que melhor se aproxime desta proposta sejaa de um regime comunitário, mediante à autogestão, sema necessidade da interferência de instituiçõesintermediadoras. Uma gestão coletiva, sem perder aindividualidade, utilizando-se de ferramentas quepermitam que todos tenham acesso aos debates, semanifestem e participem das decisões. Os modelospolíticos institucionais que habitualmente estamos

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inseridos não têm permitido este tipo de relações. Érestrita a possibilidade de manifestar a opinião, a não seratravés do poder de compra e, eventualmente, através dovoto.

Temos diversos sinais de que as formasinstitucionalizadas de práticas, de conhecimentos e deeconomia não estão conectadas com os interesses reaisdas pessoas: pais e comunidade educando filh@s fora daescola. Sociedades se unindo para buscar soluçõesmicroregionais conjuntas. Grupos minoritários buscandoseus direitos. União de pessoas por interesses eafinidades, buscando organização através de açõeslimitadas, mas de efetivo resultado e satisfação.Envolvimento através da ação local. São diversas asformas de trabalho voluntários que se une e organiza,repensando o que é localidade, se o número de pessoas éuma limitação ou até que ponto a formalização énecessária.

Estas pequenas ações vão se unindo e necessitam deuma forma organizada de se propagar. É o caso da

, que busca novos sentidos para umaeconomia que desloca seu centro para a produção econsumo de bens intelectuais e culturais, e também deuma perspectiva ainda mais eficaz e profunda, da

, que entre suas técnicas propõe asmoedas sociais digitais, que trazem novas formas decontabilizar o valor do trabalho de cada pessoa e mediartrocas de bens e serviços, mais justas e adequadas aosobjetivos de valorização de uma comunidade.

Um exemplo simples: ao invés de esperar que alguém

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venha e resolva o problema, um grupo local assume amanutenção de uma praça abandonada. Além de requerercriatividade para ideias de como fazê-lo, necessita daação direta, do trabalho voluntário, efetivo, que é muitomais sobre engajamento social, pois com o engajamentosocial surge naturalmente a força do trabalho. Depoisdisso, o prazer de desfrutar de uma praça passa a sermuito maior, porque todos sabem o valor de manter umlocal público em prol de todos. Surgem as mais diversasinterações sociais e satisfações públicas. E háresponsabilidade social de todos, pela relação depertencimento e de propriedade comum que se elabora. Oesforço coletivo gera tal valor, que o prazer de usufruir dapraça se torna pequeno diante da força das multidõesunidas pelo trabalho colaborativo.

Neste caso, seria necessário uma forma de medir evalorar o trabalho individual para que não haja injustiça naproporção? Se fôssemos medir o valor do trabalho decada pessoa na recuperação da praça, ou esperar que aspessoas contribuam motivadas apenas por um valor,talvez a espontaneidade se perca. Por outro lado, quandocresce o esforço em torno de algo em comum crescetambém a necessidade de trocar a força do trabalho poroutros bens em outras comunidades.

As práticas colaborativas atravessam a história do serhumano. Chama a atenção as formas como elas se

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estabelecem em diferentes lugares e momentoshistóricos: a pintura renascentista "Escola de Atenas"imagina o ambiente de colaboração entre filósofos epensadores gregos, onde as ideias floresciam e eramdiscutidas de forma livre e conjunta; as garagensamericanas onde se reuniam informalmente jovensacadêmicos também trouxe a tona muitas ideias queformaram a ideia de computação pessoal, antes, é claro,de se tornarem empresas corporativas; maisrecentemente, no Brasil, temos o caso da Usina Catendeem Pernambuco, quando os agricultores assumiram amassa falida da usina e passaram a geri-lacolaborativamente.

Estes casos históricos de estímulo e promoção dotrabalho colaborativo ajudam a compreender queculturalmente se estabeleceu, em diferentes momentos,como prática da formação de oficinas colaborativas.

Na atualidade, temos espaços diferentes da academia edas garagens, pois a colaboração pode ter, como espaçode oficina, o ambiente digital. Hoje podemos utilizar asnovas ferramentas da web 2.0 para promover acolaboração, que trazem diversos benefícios: quebra dacentralização que leva a autoria individual, soluções parao problema da distância e do tempo, com ferramentas quepermitem novas formas de se reunir e interagir, e queoferecem uma plataforma para colaboração de muitaspessoas ao mesmo tempo, de modo síncrono eassincrono. Com estas possibilidades, o trabalho semantém contínuo, seja por mutirões de colaboração emque diversas pessoas se unem para rapidamentecolaborar e encontrar uma solução de um projeto, ou pela

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estratégia "devagar e sempre", onde grandes projetos sãolevantados pelo trabalho acumulado de todos, com cadaum colaborando pouco a pouco, quando pode.

Entretanto, o digital também trás algumas contradições.Profissionais de áreas como as do design, arte,programação e outros campos técnicos, até pouco tempoatrás, possuiam poucas opções de softwares, que sãosuas ferramentas de trabalho. Mais complicado ainda: amaior parte dos softwares precisavam ser comprados,pois eram proprietários, o que implica que, ao comprar osoftware, compra-se apenas o direito de usá-lo, mas nãode te-lo realmente, e poder revendê-lo ou modificar-lo,aprimorar a ferramenta.

Com o software proprietário, é necessário pagar umalicença ou você sempre seria considerado um criminosopor usar software pirata, pelo conceito da lei proteger aautoria até as últimas consequências. Esse sistema queprotege o autor, tortura a coletividade, dificultando oestabelecimento de práticas colaborativas, pois os meiospara o trabalho (as ferramentas) não podem sercompartilhadas. Uma vez que não possibilita o uso doobjeto do autor para fins livres que tragam boasconsequências coletivas, tudo é visto como um crime,inclusive o uso e os benefícios sociais de uma obra.

Uma das iniciativas que se opõe a esse cerceamento daliberdade é o Software Livre, especialmente com osistema operacional Linux e com o trabalho da FreeSoftware Foundation, de Richard Stallman, que começoua reescrever - do zero - diversos softwares necessáriosapra um sistema operacional. Posteriormente ele

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conheceu Linus Torvalds, da Universidade de Hellsink,que tinha feito um kernel livre chamado Linux), mas foionde percebi as ideias claras de trabalho colaborativolivre. O software livre é concebido como um movimentosocial que vai mais além de uma simples (ou eficaz)alternativa à pirataria. Quando falamos em umdeterminado software ele carrega consigo toda uma lógicade construção colaborativa e contribuições para oconhecimento universal. Nos dias atuais isto é bastanteimportante, principalmente com os novos paradigmasimpostos sobre a propriedade intelectual. Hoje, quandotrabalhamos com tecnologia para web, é quase impossívelnão existir uma alternativa livre para que você não sejaconsiderado um criminoso executando o seu trabalho dodia a dia, o que é uma ideia deplorável, ser um criminosoporque usa uma ferramenta de trabalho. E todo esteresultado veio para todos na forma de trabalhocolaborativo livre. Não estamos falando somente de umainiciativa informal, mas até legislação e licenças existempara comprovar a liberdade daquilo que foi criado para ocoletivo, como as licenças GPL, MIT, Commons Creative etodas que legalizam e mantém o trabalho livre.

Assim, foi possível então que as pessoas criassem obrasa partir de trabalho coletivo, mesmo que para usoindividual ou restrito, mas espalhando as ideias detrabalho colaborativo livre sem serem considerad@scriminos@s. O protecionismo e a autoria ainda são fortes,porque todos acabam chegando a conclusão que aliberdade total criaria uma insegurança quanto a garantiade suas necessidades básicas, ou seja, o mundo ainda étrabalho + esforço individual = dinheiro => sobrevivência.Com a recriação de todas essas ferramentas, liberadas da

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autoria exclusivista e postas como ferramentas livres, foipermitido que novas práticas de colaboração fossemsustentadas, criando espaços de liberdade e coabloração,e permitindo a elaboração de ferramentas mais úteis ecomplexas.

Parece que o trabalho coletivo e as ideias que rodeiamesta discussão precisam de uma quebra deste paradigmapara que possam ser levadas ao seus reais benefícios.Mas já sabemos, pela história, que quem fez isto aoextremo, sofreu sérias represálias, vide a Guerra deCanudos, quando um povoado do sertão da Bahia sereuniu para suprir suas necessidades dentro da própriacomunidade, sofrendo dura represália do governorepublicano no final do século XIX.

De fato existem vários sistemas opressores que dificultama colaboração, mas eles não são perfeitos nem eficientes.Sempre haverão brechas, e pelas brechas é possívelefetivar a transformação do sistema, pouco a pouco,sempre com o cuidado para não reconstruir, com um novoformato, a mesma estrutura opressora que se desejasuperar.

Corais é uma plataforma para desenvolvimento deprojetos colaborativos. Assim como um recife de coraisoferece infraestrutura propícia para diferentes formas devida marinha, esta plataforma visa a proliferação de

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projetos colaborativos que contribuam para o bem comum.

O Instituto Faber-Ludens criou essa plataforma em 2011para apoiar o desenvolvimento de qualquer classe deprojetos abertos em outras organizações, semnecessariamente haver vínculos formais com o Instituto,seguindo a estratégia de Inovação Aberta. Em 2012, oCorais tornou-se independente do Instituto Faber-Ludense, em 2013, mudou-se para o Instituto Ambiente emMovimento. No IAM, a plataforma é desenvolvida porFrederick van Amstel.

O Corais é um Living Lab filiado à Rede Europeia deLiving Labs. Living Lab é um espaço de desenvolvimentode projetos compartilhado por várias organizaçõespúblicas e privadas que desejam colaborar para inovar emconjunto. O Living Lab facilita a troca de conhecimento eoferece infraestrutura para cocriação e teste de novosprodutos. O Living Lab enfatiza que os produtos sejamcriados e testados em contextos reais, não emlaboratórios antissépticos, por isso o nome living (vivo) elab (laboratório). O Corais é, portanto, um ecossistemaque envolve laboratórios, salas de aula, comunidades estartups que acreditam no aprender fazendo, fazeraprendendo.

No Corais tudo que é postado no sistema fica disponívelpara os participantes do projeto e também para qualquerpessoa que esteja logada no Corais, criando assim umabase de conhecimento para futuras consultas, a tãoaclamada documentação exigida pelos gerentes deprojetos gerada instantaneamente com o desenvolvimentodo projeto.

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Além disso, pessoas fora do projeto podem contribuir comcomentários ou se juntar ao projeto e contribuir maisativamente. A cada atualização no projeto os membros dogrupo recebem uma notificação por e-mail, mantendo umadinâmica colaborativa em que todos estão a par do queestá acontecendo.

Existem várias ferramentas colaborativas no mercado,mas elas não promovem a formação de comunidades. Oconteúdo fica fechado atrás de uma senha, com direitosautorais reservados pela empresa que oferece aferramenta. Ninguém pode descobrir esse conteúdo e setornar eventualmente um colaborador.

Através da Plataforma Corais é possível conhecer novaspessoas e se valer da experiência delas. Além disso,como o código-fonte é livre, novas ferramentas sãodesenvolvidas constantemente. Atualmente não existenenhuma outra plataforma que ofereça o mesmo mix deferramentas que o Corais: blog, moeda social, cursos àdistância, gestor de tarefas, chat, calendário e muito mais,tudo integrado e classificado por taxonomia.

A plataforma permite que projetos aconteçam mesmo queas pessoas envolvidas não possam se encontrarpessoalmente e mesmo que não hajam recursosfinanceiros disponíveis. Cada pessoa participa quandopode, no seu horário livre. As tarefas podem ser geridashorizontalmente, sem que uma pessoa tenha que carregara cruz de dizer o que precisa ser feito. Quando o projetodescobre que pode gerar valor, é possível habilitar aferramenta de moeda social. Em suma, o Corais é feitopara projetos que geram ou que fortalecem uma

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comunidade.

O Corais é uma combinação de vários módulos de Drupalque se encontram disponíveis para download no site doprojeto. Na medida em que outros desenvolvedores foremse juntando a equipe do Corais, será possível evoluir aplataforma numa distribuição de Drupal própria com todosos módulos e customizações feitas. Se você tem interesseem ajudar a tornar isso realidade, contribua com aplataforma através do projeto Metadesign. Por enquanto,está disponível apenas uma lista com todos os módulosutilizados e o código-fonte cru no GitHub.

Até a redação deste livro, a plataforma contava com 167projetos públicos e 1894 membros. Esperamos que oleitor torne-se também um membro e traga seus projetoscolaborativos para à plataforma. Seja bem vindo e fique àvontade!

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Todo trabalho é uma atividade criativa, pois visa criar algode valor para alguém. Quando o trabalho é divididosocialmente e cada pessoa cria apenas uma parte de umproduto, sem contribuir para sua integração conceitual notodo, o potencial criativo do trabalho é ignorado. Enquantoalguns criam, outros executam.

Essa é uma estratégia típica para manter a concentraçãode propriedade e o poder sobre a geração de valor.Quando as pessoas participam da criação de algo, elas sesentem donas do que fizeram juntas, o que para certasorganizações hierárquicas não é desejável.

O desafio atual a estas organizações é que a criatividadeestá se tornando cada vez mais um valor agregado aoproduto. No caso da economia criativa, a criatividade é oúnico valor. As pessoas buscam a criatividade no queconsomem, pois esperam que ao consumir se tornemmais criativas.

Quando as pessoas colaboram para criar algo, elasdinamizam a economia pelo estabelecimento de novasrelações e habilidades. Ao invés de competir numa escalaconhecida, a economia criativa colabora para expandirconstantemente o universo do possível. A saúde daeconomia criativa não se baseia na competição, mas simna colaboração.

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Enquanto o trabalho repetitivo, fragmentado e chato perdeseu valor a ponto de ser substituível por máquinas, otrabalho criativo ganha proeminência. As primeirastentativas das empresas em se adaptarem a essarealidade foi o investimento em inovação, incentivandoseus funcionários a serem mais criativos no trabalho. Paramanter o controle sobre as inovações, porém, asempresas registram patentes e assinam contratos desigilo com seus funcionários, obrigando-os a ceder osdireitos de uso sobre suas ideias.

Ao invés de dinamizar a economia criativa, a inovaçãofechada emperra seu desenvolvimento. O resultado dacriatividade fica guardado a sete chaves e muitas vezesnem é utilizado. A grande mentira dentro dos círculosrelacionados com a economia criativa baseada no capitalintelectual é, que a fim de gerar valor agregado para oresultado, é importante manter o controle da autoria paragarantir o sucesso no desenvolvimento. Considerando quea geração de valor na economia criativa se dá peloestabelecimento de novas relações, esta prática deprotecionismo prejudica a todos em longo prazo.

Qual é o futuro de uma economia criativa baseada empatentes e outros direitos autorais? Um futuro sombrioonde uma pessoa perde a oportunidade de salvar a vidada outra só porque a inovação que já existe foi patenteadae não está disponível, ou ironicamente, precisa de muitodinheiro apesar de ser barato e estar em toda parte. Nãohá nada de criativo nisso, pelo contrário, é destrutivo.

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A criatividade avança pelo desenvolvimento do ,coisas compartilhadas que as pessoas podem iragregando novas relações e construindo coletivamentealgo maior que elas. Se alguém põe uma cerca em voltado , essas contribuições param de acontecer.Mesmo que uma empresa justifique que vai cuidar bem do

, não há legislação que garanta isso. Além domais, trata-se de um roubo do que foi construído com aboa vontade de muitas pessoas.

Isto significa que todo trabalho criativo precisa se basearno resultado da criatividade de outros para poder existir, eisto pode funcionar de duas maneiras: a abertura de ideiaspara a criação e a adaptação das ideias ao meio. As duassão essenciais para que o trabalho criativo das pessoasou grupos tenha razão de existir. A primeira tem a ver comideias fornecidas por outros como matéria prima para acocriação, e pode ser ao longo da história; a segunda érelacionada com a função da sociedade para valorar asinovações de outros e aplicá-las em seu meio, paraaceitar a criação como valiosa e útil.

A diferença entre os processos de inovação aberta oufechada são fundamentais aqui. A inovação fechadaregula a participação e precisa de muito dinheiro ou outrosmeios para poder se alimentar de ideias de outros, etambém para convencer (ou controlar) as pessoas atravésdo . Em vez disso, a inovação aberta abre osprocessos criativos para o público, divulgando etapas eresultados, convidando as pessoas de fora para participar.Isso não só enriquece a possibilidade de novas relações,como também promove a instituição como umacultivadora de .

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Uma das ações mais comuns hoje em inovação aberta é aorganização de concursos culturais para criação delogomarcas e outros objetos simbólicos. Apesar de serempúblicos e de permitir a participação externa, estesconcursos não promovem a colaboração e sim acompetição entre os participantes. Eventualmente, podemser vistos como uma forma de mais barato eque gera mídia espontânea, o chamado . Aqualidade das peças vencedoras demonstra o quãolimitada é essa modalidade de inovação aberta.

A inovação aberta se realiza em sua plenitude quandoexistem processos sustentáveis de cocriação, processosque estabelecem relações duradouras e vantajosas paraambos os criadores. Os criadores se juntam para gerarum valor que não conseguiriam sozinhos.

A criatividade na economia criativa é muitas vezesabordada como um fim em si mesma, como algo que deveser feito porque está na moda, porque é legal. Além disso,ainda se propaga a noção de criatividade como um talentoque apenas algumas pessoas possuem. Esse mito precisaser desconstruído para que haja progresso na economiacriativa.

Todos as pessoas são criativas. O fator limitante é quenem todas as atividades são cria-atividades. Umaatividade criativa é aquela comprometida com a criação de

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algo novo, não só para uma pessoa, mas para várias, ouseja, que produza algum valor para o . Se umapessoa cria sozinha, ela pode se sentir super-criativa, masse as demais pessoas ao apreciar o trabalho não veemvalor no resultado, essa atividade não será consideradauma cria-atividade. O que para uma pessoa é novo podeser velho para outra e assim por diante.

A maneira mais interessante de explicitar o valor da cria-atividade é incluir as pessoas no processo criativo.Quando as pessoas participam da criação de algo elasentendem os desafios, problemas e dificuldades que sãoenfrentados, permitindo assim melhor avaliar as soluçõesencontradas.

Para que uma atividade seja uma cria-atividade o melhorcaminho é a cocriação. Quando várias pessoas criamjuntas, todas se tornam criativas, ainda mais do que seestivessem sozinhas. Tal colaboração torna o trabalhomuito mais prazeiroso, pois o e a apreciaçãomútua é constante.

A sociedade, de uma forma ou de outra, se torna parte doprocesso de criação de valor da cria-atividade. Quandooutros leem este livro e recomendam para outros, porexemplo, dão valor as ideias no livro e acrescentam assuas.

O trabalho colaborativo, portanto, é caracterizado pelodesenvolvimento da criatividade em grupo, aproveitandoos diversos dons, talentos, visões de mundos, repertóriose conhecimentos de cada pessoa. Pode não resultar emobras que impressionem o mundo, mas que satisfazem os

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desejos do , representam sua própria tentativade se superar.

A cria-atividade não é um momento, ela é contínua, afinalde contas, nada começa do zero.

Outro mito que ameaça a economia criativa é quecriatividade não deve ter limites. Sem regras, umaatividade não se torna uma cria-atividade, pois falta umestímulo de superação. A regra ajuda a criar umareferência para a criação, um caminho, uma guia, nãonecessariamente o ponto de partida nem o ponto dechegada. Além disso, a existência de uma regra nãosignifica que ela não possa ser questionada ou alterada.Na verdade, seu questionamento é uma das coisas que jáproduz em si um valor social, pois regras estão por toda aparte e as pessoas querem saber como lidar com elas. Oque vale a pena seguir, o que está desatualizado e o quepode ser mudado.

As regras ajudam a manter a coesão social,estabelecendo critérios explícitos para avaliar a condutade cada um. Se estas regras forem construídas pelocoletivo e estiverem sob seu controle, elas irão contribuirpara manter as pessoas unidas, servindo como umarepresentação da relação de cada um com o ,aquilo que está sendo construído em conjunto.

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O precisa de regras para ser protegido, docontrário, eventualmente haverá pessoas colhendo maisdo que se planta, enfim, abusando da boa vontade detodos, a famosa tragédia dos . A tragédia dos

, proposta por Garrett Hardin, dita que semregras para proteger o recurso comum e sem consciênciadas consequências de suas ações, as pessoas quecompartilham o recurso agem sob interesses próprios eacabam com todo o recurso disponível. Hardin listouproblema com um exemplo clave: os pastores naInglaterra levam ovelhas a um campo sabendo que avegetação é um recurso que gera benefício a todos. Amedida que mais ovelhas são introduzidas ao campopelos interesses egoístas dos pastores para gerar maisbenefício individual, o recurso vai ser depletado e ao final,todos perdem.

As regras da cocriação devem estabelecer ainviolabilidade do . Assim como as florestas e aspraias devem ser protegidas para garantir que outrospossam desfrutar delas, o deve ser protegidoda proteção autoral e de atividades que dificultam acocriação.

É possível criar, desde que a criação não destrua o que jáfoi construído anteriormente. A economia capitalista tendea destruição criativa, pois o acúmulo de capital gerainércia no mercado. É preciso que haja crises e guerras -destruição - para que haja novos investimentos einovações - cria-atividade.

A economia criativa desafia tal tendência pela volatilizaçãodo capital, que não consegue mais ser acumulado. O

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capital criativo na verdade escorre pelas brechas daacumulação.

Outro ponto essencial é o respeito mútuo. Quando umapessoa ou uma organização se acha no direito de imporuma palavra de ordem sobre as demais sem que suadignidade seja preservada, as relações com o comum serompem. Uma vez quebrada a relação de respeito é muitodifícil restabelecer a igualdade na conversa. Sem respeito,a criatividade dá lugar a destruição num piscar de olhos.

A pior das destruições, entretanto, é a destruição daesperança. Quando uma pessoa propõe uma ideia numgrupo e essa ideia é recusada, ridicularizada, omitida oumanipulada, a pessoa pode perder a esperança naconstrução do comum. Mesmo que ela continuetrabalhando para sua manutenção, ela será a primeira aabandonar o barco quando uma dificuldade surgir. Para alongevidade do é importante que a crença nopossível seja preservada a todo custo! Tudo é possível, sónão se sabe ainda como.

A cria-atividade começa quando as ideias são colocadaspara fora da cabeça. Enquanto elas estão sendomatutadas, seu desenvolvimento tende ao

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aperfeiçoamento, não a criação. A cocriação ocorre defato pela ocorrência sucessiva de criação atrás de criação.Uma coisa nova é posta no mundo, que serve comoinsumo para pensar, discutir, mexer e recriar a coisa. Oprocesso criativo é gradual e não se restringe ao momentodo .

Uma vez que as ideias estão fora da cabeça, elas podemser avaliadas, organizadas, priorizadas e modificadas deuma forma muito mais avançada do que é possívelmentalmente, pois a memória cognitiva é limitada. Quantomais crua a ideia for expressa, melhor, pois a própriaaparência dela indicará que não está finalizada eprecisará de complementação.

Nenhuma ideia deve ser jogada fora. Tudo deve serincorporado ao processo criativo, até o queaparentemente não presta pode ser um bom exemplonegativo do que não se deve fazer. Neste conceito quetodo rejeito, sendo orgânico é sempre um "bom adubo".Uma ideia a princípio inviável e desajeitada pode servir deinsumo para uma ideia muito melhor, que se desenvolvepela antítese. Por isso, é importante começar cedojogando ideias sem pudor para romper com a inércia. Nãohá nada mais opressor a cria-atividade como um papel embranco. Contra o branco qualquer rabisco já serve. Tudotem um começo.

Com o tempo, é claro, algumas ideias irão ganhar maioradesão entre os participantes, o que também irá atrairmais contribuições. Estas ideias, mesmo que polêmicas enão completamente resolvidas, devem receber prioridadepois revelam uma questão pertinente para o grupo. Uma

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maneira prática de lidar com elas é derivar propostasconcretas do que pode ser feito hoje.

Se uma pessoa se opõe a uma ideia ou não a considerabacana, pode sempre fazer um comentário ou parêntese.Não se trata de rejeitar ou apagar a ideia, mas decomplementar e apresentar contrapontos.

Quando se trabalha em grupo, entretanto, é precisoatravessar fronteiras linguísticas, organizacionais,culturais e econômicas. Os criadores precisam serflexíveis e ter a mente aberta para perceber que umafronteira está sendo cruzada e que, a partir dali, nãoestarão mais em ambiente familiar. O improviso, acuriosidade e a capacidade de diálogo são habilidadesessenciais para cruzar fronteiras. Esse percurso, emborapedregoso, é o mais rico para estabelecer novas relações.

Uma das práticas de fronteira mais interessantes é o. Se apropriar de um material cultural e dar a ele um

novo significado, trazê-lo para um outro território,desafiando as fronteiras estabelecidas entre arte eciência, jornalismo e permacultura, eletricidade e paixão.Trata-se de uma combinação de elementos nunca antescombinados, utilizando materiais originais quandolegalmente possível. O é uma forma de acessar aconsciência coletiva, onde todas as ideias aparecemconectadas, parte de um todo maior do que qualquerindivíduo pode perceber.

O risco do espírito de porco se manifestar na cocriaçãoexiste, como em todo processo de manutenção de um

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. A técnica mais utilizada para minimizar suacapacidade destrutiva é a de manter um histórico deversões de um documento, que permite que qualqueralteração seja revisada e revertida. Se alguém apaga tudoo que foi construído pelo grupo, é possível com baixoesforço recuperar de volta e ainda banir o espírito deporco, retirando suas permissões de acesso aosdocumentos do grupo. Com um eficiente histórico, não háa necessidade de fazer filtro prévio de moderação. Amoderação pode acontecer em caráter de pós moderação,através da análise coletiva do grupo após a postagem deuma nova contribuição.

Em março de 2011, o Ministério do Planejamento,Orçamento e Gestão deu início a construção colaborativado que viria a ser a INDA. Considerando o relacionamentoentre os temas, convidou os participantes dos grupos detrabalho da e-PING (Padrões de Interoperabilidade deGoverno Eletrônico) e interessados de outros órgãos parapensar e definir quais seriam as ações voltadas aconstrução de um ecossistema de dados abertos doexecutivo federal para os próximos dois anos.

No mês seguinte, constatado o grande interesse socialdemonstrado pelas comunidades em participar ativamentedessa construção histórica, decidiu-se dar um passoadiante na promoção de abertura e colaboração. A equipe

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responsável decidiu abrir a participação na INDA nãoapenas para servidores públicos, mas de forma extensivaa qualquer cidadão interessado, sem nenhuma restrição.Daí em diante, todas as reuniões da INDA passaram a serabertas a participação de qualquer cidadão, tantopresencial quanto virtualmente. Além da divulgaçãohabitual em sítio governamental, as reuniões eramanunciadas em grupos de e perfis de redes sociais.A primeira reunião de planejamento da INDA após aoficina inicial, em abril de 2011, já contou com transmissãode vídeo ao vivo para a ( ).

Um dos casos de maior sucesso e mobilização dentre asatividades de colaboração da INDA foi o desenvolvimentodo seu mais importante produto, o Portal Brasileiro deDados Abertos, cuja história de desenvolvimentocolaborativo atingiu repercussão internacional.

As reuniões de planejamento de atividades se davam daseguinte forma: as tarefas de desenvolvimento eramselecionadas por um processo de desenvolvimento ágil,no qual os presentes registravam em pequenos bilhetesas ideias do que achavam necessário fazer. Ao final darodada, os bilhetes eram agrupados, categorizados epriorizados. Ao final de cada reunião, os acontecimentosregistrados numa de acesso público, e as tarefasnum gerenciador também publicamente visível.

O desenvolvimento e aperfeiçoamento do portal contoucom a participação de pessoas da sociedade civil e deservidores públicos engajados, que colaboraram dediversas formas. Algumas pessoas participaram desde oinício, enquanto outras deram contribuições pontuais

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apenas em determinados momentos. Tivemoscontribuições na forma de desenvolvimento de ,

, arquitetura da informação, entre outros. Estaúltima foi iniciada com um experimento de “ ”realizado com os participantes do evento Campus Party2012, em São Paulo.

O momento de maior mobilização em torno desse trabalhofoi durante a realização da chamada pública paraproposição e escolha da logo do portal. Em poucos dias,foram submetidas um total de 26 propostas de logoenvolvendo aproximadamente 200 votantes quepontuaram, via ambiente , as logos e provas deconceito propostas. Esse trabalho coletivo de priorizaçãoacabou por gerar uma nova rodada de contribuições quebuscaram redesenhar os aspectos principais do logovencedor, misturando os elementos das propostas maispriorizadas, numa lógica de liberdade de informação erecombinação própria das cibercomunidades.

O dados.gov.br teve, na data de lançamento, 78 conjuntosde dados com 849 recursos. Esses foram catalogados, emsua maior parte, a partir de um levantamento de dadosque órgãos públicos já disponibilizavam na t, masque até então estavam espalhados e não tinham um pontocentral de acesso onde o cidadão pudesse encontrá-los.São, todavia, a ponta do do que há para sedisponibilizar em formatos abertos e reprocessáveis, emrelação aos dados públicos no Brasil.

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Quando várias pessoas trabalham juntas em cria-atividades, surge logo a discussão sobre autoria.Perguntas tais como "Posso usar isso depois sozinho?","Posso modificar?" ou "Quem vai ganhar dinheiro com omeu trabalho?"

O motivo pelo qual a autoria dos projetos colaborativos écomplicada e confusa é porque as leis de propriedadeintelectual em vigor foram feitas para um propósitodiferente de projetos colaborativos. Enquanto apropriedade intelectual procura gerar valor para o criadore centralizar a criação, os projetos colaborativos procuramgerar valor através da participação da comunidade.

Os direitos autorais, por exemplo, foram instalados paragarantir privilégios econômicos para as empresaseditoriais e para proteger a indústria local da "invasão" dacompetição estrangeira. Isto implica duas coisas: aprimera é que os responsáveis pela cria-atividade devemincorrer nos custos do desenvolvimento do conteúdo; asegunda é que eles tem o controle de quem podedesfrutar dos benefícios da criação de conteúdos.

Esta noção de propriedade, baseada na ideia de que ohomem deve ser reconhecido e recompensado comoproduto de seu trabalho tem tido discutida pelos últimos200 anos. Thomas Jefferson comenta em uma famosacarta a Isaac McPherson que ideias podem se propagar eser úteis para todos igualmente sem medo de que vão seacabar:

- "quem recebe uma ideia de mim, recebe instruções semdegradar as minhas, como quem acende a sua vela da

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minha, recebe luz sem obscurecer a minha. O fato de queas ideias deveriam ser compartilhadas livremente depessoa a pessoa ao redor do mundo, para a instruçãomoral e mútua dos homens e a melhora da sua condição,parece ter tido peculiar e benevolentemente projetadopela natureza, quando ela os fez como o fogo,expansíveis pelo espaço, sem atenuar sua densidade emnenhum ponto, e como o ar que respiramos, movemos etemos o nosso ser físico, incapazes de confinamento ouapropriação exclusiva. As invenções não podem, nanatureza, ser sujeitas de propriedade".

http://press-pubs.uchicago.edu/founders/documents/a1_8_8s12.html[1]

O Brasil, assim como muitos outros países do mundo, éparte de uma rede de acordos internacionais depropriedade intelectual que dirigem a proteção de criaçõesconforme as suas características. Isto quer dizer que todacriação está sujeita a sua direção em relação aos direitosque atribui as pessoas que são consideradas comoautores.

O direito autoral brasileiro reconhece autoria de uma obrano momento da criação e não precisa do registro (LEI Nº9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998). Isto quer dizerque a criação é reconhecida enquanto é fixada em um

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meio como papel ou um computador. Uma obra pode termais de um autor. Um autor é considerado como a pessoaque contribui com elementos fixos que podem serutilizados de maneira independente.

Pela maneira que a lei funciona, as pessoas procuramcriar obras com a menor quantidade de coautorespossíveis. O trabalho colaborativo é, portanto, contra-intuitivo em relação com as leis de propriedade intelectual,e precisam, a maioria das vezes, de licenças especiaispara o seu sucesso.

Falar de um tema tão extenso como a propriedadeintelectual precisaria, sem dúvida, de um outro livro paradiscutir tudo. Porém, vale a pena mencionar algumasrecomendações que podem ser mencionadas para apreparação de um ambiente colaborativo cujas criaçõespodem ser livremente comunicadas.

Osdireitos relacionados ao reconhecimento de suacolaboração para a cocriação podem se relacionar aos"direitos morais", que são direitos básicos dos indivíduos.É importante reconhecer o trabalho feito por todos osmembros da comunidade, especialmente aquelesmembros que participam pouco, com a meta de estimular

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a participação em comunidade. Algumas boas práticas deatribuição são, por exemplo, gerar e compartilhar uma listados coautores da obra (isto quer dizer, aqueles quecolaboraram substancialmente e de colaboradores (aspessoas que participam junto aos autores na revisão oedição). Também é importante atribuir as ideias tomadasde outros autores e que foram usadas para a obra.

Para uma visão comunitária da criação, toda cria-atividaide precisa que os artistas trabalhem como umaequipe. É importante também a comunicação dentro dacomunidade durante a tomada de decisões em conjunto,gerando documentação em toda etapa do processo. Otrabalho feito dentro e fora da comunidade deve monitorara criação de obras derivadas (extensões da obra,adaptações, traduções, etc.), buscando agregá-las aoempreendimento.

No caso dosprojetos colaborativos, a meta destes é o benefíciomesmo da comunidade em vez do benefício direto para osautores o das organizações que apoiam o projeto. Paragarantir o interesse genuíno por gerar valor à sociedade,muitos projetos de cocriação liberam o conteúdo para opúblico através de licenças abertas ou como, porexemplo, GNU/GPL ou para obrasliterárias ou criações físicas. Garantem as liberdades paracopiar, modificar ou comercializar, assim como o direito deatribuição pelas ideias contribuídas. Os colaboradores ecoautores devem sobrepor o desejo de criar valor para acomunidade sobre o desejo pessoal de ganhar dinheiro oufama. Estes benefícios podem se manifestar

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posteriormente, mas não são o ponto de chegada.

Um dos benefícios de utilizar licenças abertas, éque os cocriadores que participam renunciam aos direitosde suas ideias em benefício da coletividade, e em muitoscasos, estas ideias podem ser utilizadas por outros comobase para a criação de obras derivadas.

Para trabalhar em conjunto comoutros é necessário produzir conteúdo que seja abertopara a comunidade. A melhor maneira de fazê-lo é atravésde licenças que solicitam aos autores que "transfiram"alguns dos seus direitos obtidos na criação da obra, paraque os outros autores e outros usuários possam utilizar oconteúdo sem medo. É recomendável que os autoressejam advertidos previamente da licença da obra dacriação. Utilizando uma obra textual como exemplo, duasalternativas para a publicação textual são:

- GNU/FDL: . Limita osdireitos dos criadores para que todo o conteúdo possa serutilizado, copiado e modificado sem a possibilidade dereverter a licença da obra nem dos derivativos, garantindoque a obra fique no domínio público.- http://www.gnu.org/copyleft/fdl.html [2]

: Esta é uma licença mais flexível,que permite aos criadores decidir as liberdades quequiseram para a suas obras, decidindo se os usuáriospodem compartilhá-la, utilizá-la comercialmente o criarderivativos.

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- http://creativecommons.org.br/ [3]

A licença "Todos os direitos reservados" não é possívelpara um projeto na Plataforma Corais. Por que isso? APlataforma Corais é um serviço gratuito e comunitário.Quando alguém utiliza esta plataforma, estáautomaticamente contribuindo para a comunidade comconteúdo licenciado via Creative Commons. A próximapessoa pode aprender com os projetos e, caso a licençapermita obras derivadas, criar novos projetos baseados naideia original. Projetos com direitos reservados nãopermitem esse tipo de interação. Se eles fossempermitidos, novos projetos iriam se valer da experiênciados projetos anteriores, sem no entanto dar qualquerretorno à comunidade.

Na Plataforma Corais, o criador do projeto precisaescolher uma das seguintes licenças:

Esta licença permite que outros distribuam, remixem,adaptem ou criem obras derivadas, mesmo que para usocom fins comerciais, contanto que seja dado crédito pelacriação original.

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Esta licença permite que outros remixem, adaptem, ecriem obras derivadas ainda que para fins comerciais,contanto que o crédito seja atribuído ao autor e que essasobras sejam licenciadas sob os mesmos termos.

Esta licença permite a redistribuição e o uso para finscomerciais e não comerciais, contanto que a obra sejaredistribuída sem modificações e completa, e que oscréditos sejam atribuídos ao autor.

Esta licença permite que outros remixem, adaptem, ecriem obras derivadas sobre a obra licenciada, sendovedado o uso com fins comerciais.

Esta licença permite que outros remixem, adaptem ecriem obras derivadas sobre a obra original, desde quecom fins não comerciais e contanto que atribuam créditoao autor e licenciem as novas criações sob os mesmosparâmetros.

Permite apenas a cópia e a distribuição, sem modificaçõese, claro, mencionando os créditos.

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Para que a colaboração seja efetivada é preciso não só seapropriar do discurso da receptivade para participar, mastambém criar as condições necessárias para a que todosos membros do coletivo consigam de fato co-criar. APlataforma Corais oferece várias ferramentas para isso.

Os comentários disponíveis em todas as páginas auxiliambastante do ponto de vista da co-criação, pois é lá que asideias são acrescentadas, além de permitir contribuiçõesmais deslocadas no tempo. Mesmo que a pessoa nãoesteja presente numa reunião, pode opinar depois, desdeque se registre tudo o que se passou nos dias que ousuário não esteve na reunião.

Para encontros informais, corriqueiros e eventuais ogeral do Corais está sempre disponível para usuárioslogados. Há uma sala pública aberta e pode-se conversarindividualmente com as pessoas que estão . Alémdisso, existe uma ferramenta avançada devideoconferência, disponibilizada apenas sob demanda.

A Plataforma Corais dispõe de algumas ferramentas queviabilizam processos de co-criação ou . Aferramenta Texto Colaborativo é uma das mais notáveis,pois não é apenas útil para produzir materiais textuaisassincronamente, ou seja, cada pessoa entrando emdiferentes momentos, mas também pode ser utilizada emtempo real, por exemplo, como apoio para reuniões. Ostextos colaborativos contém uma sala de bate-papoprópria (separado do geral da plataforma). Pode-se

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fazer uma reunião em que a pauta e o material aser produzido estejam escritos no enquanto osparticipantes se articulam no . Vários tipos de textopodem ser produzidos, tais como capítulos de livros ouartigos científicos, criação de roteiros, formulação decontratos, propostas para editais de cultura, e todo tipo detexto que possa se beneficiar de cocriação.

Quanto a imagem, pode-se fazer o massivo deimagens na ferramenta galeria de imagens,disponibilizando juntamente seus arquivos abertos, quealguém pode abrir e continuar expandindo a ideia. É muitopopular, por exemplo, o compartilhamento de imagens emformato PNG juntamente com os arquivos abertos emformato SVG, gerados pelo , um editor deimagens vetoriais avançado.

Antes de abrir um e dispender tempo fazendoum desenho detalhado, talvez seja interessante definirmelhor o conceito com a participação dos envolvidos. Aoinvés de ficar só nos comentários textuais, na PlataformaCorais é possível fazer comentários em formato dedesenho, um rabisco despretensioso que ilustra a ideia.Abaixo de cada desenho feito dessa forma tem umpara "Continuar este desenho", ou seja, o código éreplicado e a próxima pessoa pode continuar onde a outrapessoa terminou. Assim pode-se ir desenhando por váriasmãos até que o conceito esteja definido e possa serimplementado por uma mão mais habilidosa noou outro gráfico.

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Quando se deseja desenvolver uma ideia de formaestruturada, a ferramenta de mapa mental é uma boapedida. Ela permite colocar ideias em formato de árvore,com itens e subitens. Quando se abre um novo mapamental, ele já aparece um item de exemplo. Paramodificar seu conteúdo, basta clicar duas vezes em cima.Para acrescentar um subitem, basta clicar no botão + nolado direito do item. Os itens podem ser arrastados de umlado para o outro da árvore, mas não é possível deixaritens soltos, sem conexão com a árvore. Esta ferramentanão funciona em tempo real, portanto, se dois usuários aeditarem ao mesmo tempo, conflitos de conteúdo podemocorrer. Para resolver isso, uma possibilidade é osparticipantes combinarem previamente em dado espaço -que pode ser o dos comentários e, a cada nova ação deedição, o editor registar primeiro, avisando aos demais.Lembre-se de salvar depois de fazer o mapa, pois não éautomático.

Uma maneira relaxada de começar um processo decocriação é habilitar a ferramenta de cocriação e avisartodo mundo via que ela está disponível. Osparticipantes podem apresentar suas ideias comosugestão e os demais podem votar "jóia" (mão pra cima)ou "não gostei" (mão pra baixo). Essa votação rápida éusada para criar um de ideias, auxiliando nadefinição de prioridades do grupo. Também é possível (erecomendável) enviar comentários nas sugestões para darprosseguimento à ideia.

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Conhecimento é a base da economia criativa, porém, qualtipo de conhecimento? Existem vários tipos, como oconhecimento filosófico, teórico, prático, acadêmico,cultural, do senso comum, que podem ser acumulados earmazenados como informações.

O conhecimento científico é o mais sistematizado.complexo, abrangente e mantém certo distanciamento daspessoas em geral, nos usos práticos. Isso pode ser umempecilho para a cocriação se este conhecimento forpriorizado, em detrimento de outros. Quem supostamentedetem mais leituras acaba exercendo a autoridade noassunto, o que favorece certa hierarquia nas relações.Esta precisa ser bem administrada, sendo debatida enegociada, a fim de que tod@s se percebam importantese únicos no processo.

A experiência prática diversificada leva a conclusão deque não existe um conhecimento melhor do que o outro.Tem conhecimentos diferentes e todos os conhecimentopodem ser válidos. Seu valor dependerá dos objetivos deuso contextuais das pessoas ou grupos.

Na economia criativa, a geração de valor acontecequando o conhecimento é criado e aplicado,simultaneamente. São dois lados da mesma moeda: oconhecimento é criado enquanto é aplicado, e vice-e-versa. Sendo assim, o aprendizado é a maneira como aeconomia criativa gera valor a partir de um conhecimentoque já tem, visando novos conhecimentos.

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Ao observar o crescimento da economia criativa,percebemos que as instituições educacionais, com suasdisciplinas, tempos, conteúdos, regramentos e avaliaçõesmedidoras, vem perdendo sua função ou utilidade, naformação e desenvolvimento integral dos aprendizesneste mundo novo que emerge. As escolas que persistemno modelo instrucional fabril caminham para a obsolência.As instituições educativas foram criadas para formarprofissionais para uma economia de produção em massa,na qual o trabalhador se concentrava em executar apenasuma parte ínfima do processo, alienando-se do todo.

Analisando o processo educacional vigente, visualisamoso reflexo do modelo industrial aplicado, com as escolascondicionando @s aprendizes a concentrar-se apenas empassar de ano ou em prova de vestibular, como se nãotivessem outro papel. Nesse contexto, aprendizes sãopeças de engrenagem, sem identidade. O conhecimento éintrojetado em forma de perguntas e respostas commúltiplas alternativas, já dadas previamente, nas quaisnão o há sequer um mínimo de expressão do que foiapreendido.

O fortalecimento da economia criativa requer a reinvençãoda educação, abrindo novos horizontes aos futurosprofissionais, para que estes não apenas armazenem oconhecimento, mas principalmente, o criem.

Embora esta seja uma causa nobre, não há porqueesperar que as instituições educacionais se atualizempara fortalecer o aprendizado na economia criativa.Apesar de existir esforços - por parte de algumas gestõesescolares, para “atualizar” a escola com novas tecnologias

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(projetores multimídia, salas de informática, lousasinterativas, tabletes, , notebooks paraprofessor@s e aprendizes), o corpo docente não é“atualizado” para práticas educativas que façam usodestes recursos. Tampouco o conhecimento d@sprópri@s professor@s é aproveitado para essaatualização.

Assim, mesmo que os currículos escolares mudem, querecursos tecnológicos sejam implantados e queprofessor@s compreendam e comecem a considerar efalar da importância da criatividade, isso não garantenecessariamente que as pessoas, os aprendizes sejammais criativos. Pode entrar por um ouvido e sair pelooutro, como muitos conteúdos despejados em cima d@saprendizes pensados como um final: uma prova e umanota, aprovação e reprovação.

O modelo tradicional de escola já não atende asdemandas de aprendizados, a começar pela designaçãod@ discente, como alun@. Essa designação costuma serentendida como uma posição hierárquica, de professor@scomo iluminados pelo saber, e alun@s como aqueles quenão tem luz, que não tem conhecimento. O objetivo dessaestrutura é transmitir o conhecimento ausente, sem levarem conta o que @s aprendizes já sabem.

Esse conhecimento tem relações muito distantes com arealidade local dessas pessoas, pois seguem currículosnacionais e globais de educação. Para garantir que talconhecimento seja transmitido, toda uma estruturahierárquica e opressora é montada, transformando aspessoas em alun@s que precisam aprender, nem que

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seja "na marra".

Não é de estranhar que, neste contexto, os processos decolaboração sejam escassos ou, pior, enrustidos, e que aescola seja um local desinteressante para a maioria daspessoas.

Num esforço para manter sua relevância na sociedadeatual, das poucas iniciativas de colaboração promovidasna escola, várias aparecem através de maior carga de“trabalhos em grupo”, projetos instrucionais com pontos dechegada previamente delimitados pelos docentes ouainda, seminários e correlatos, que – muitas vezes – sãoapenas cópias superficiais de conteúdos encontrados na

, realizados apenas para simular a colaboração.

@ professor@ não instiga, não explica como trabalhar emgrupo, não dá suporte, não participa dos grupos e nãoavalia e incentiva a colaboração. Isso fica evidente emdivergências e conflitos de ideias, interesses, etc., ematividades grupais, quando @ professor@ decide, sevalendo da autoridade. Assim perde oportunidades deinstigar resoluções horizontais, pela coletividade, o quefortalece sentimentos de pertença e corresponsabilidadepotencializadores da colaboração. Toma apenas oresultado final do trabalho em grupo, como evidência,desconsiderando o processo, que pode ser tão, ou maisimportante que o produto.

É claro que, ao invés de colaborar, muitos aprendizes seorganizam apenas para entregar o resultado final com omínimo de esforço, já que a motivação não vem delespróprios. O trabalho é fragmentado em partes que depois

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precisam ser juntadas por uma pessoa mais responsávelque as outras, que eventualmente perderá toda sua boavontade no trabalho colaborativo. Resumindo: algunsaprendem algumas partes e um escolhido, que redige umtrabalho escrito, tem ciência do contexto geral do trabalhoentregue.

Colaborar é algo que precisa ser aprendido, mas não épossível ensinar a colaboração da maneira tradicional. Acolaboração também precisa ser criada por quemcolabora. Só é possível compreender a colaboração,colaborando.

Passamos por profundas transformações societárias,sendo impactados fortemente pela cibercultura, a culturadas tecnologias digitais presentes no entorno e que, namaioria das escolas brasileiras, são subutilizadaspedagogicamente. Ainda que inúmeras escolaspermaneçam autoexcluídas da cultura digital, aprendizestornam-se interagentes ativos dos novos meios decomunicação e tem acesso as informações, antes vindasd@ professor@, que era a figura central do processo deensino e aprendizagem na sociedade de produçãoindustrial.

Na sociedade da informação, vários questionamentos sãolevantados. Será que as escolas podem ser espaçosdemocráticos, participativos, colaborativos e

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autogestionados? A escola precisa ser capaz de mediar acoconstrução de saberes complexos, úteis ao mundo davida. E, para isso, a formação cidadã precisa empreenderações e criar propostas educativas contextualizadas,significativas, instigantes, desafiadoras, interativas,participativas, colaborativas, solidárias e coautorais. Destamaneira, pode ser criado um ambiente favorecedor decoaprendizagens libertárias, emancipatórias deenriquecimento do conhecimento coletivo.

Estas novas práticas requerem novos modos deprofessorar, com novas competências multirreferenciais.@s professor@s precisam ser parceiros deaprendizagens, coaprendizes – ainda que com maisleituras e conhecimento.

Professor@s que reproduzem acriticamente situações deensinagem vivenciadas agem assim porque não sabemfazer diferente do que está posto, não ousam questionarvalores educativos estabelecidos.

Em frente as novas práticas colaborativas, torna-seobsoleto o modelo de formação bancário e centralizado nafigura d@ professor@ como detentor do saber, sem ritmopara acompanhar novas vivências e experiências. @sprofessor@s precisam se perceber e se colocar comocoaprendentes, pois carecem de letramento midiático einformacional – em maior ou menor escala, bem como darevisão das teorias educacionais que sustentam suaprática, para serem mais capazes de mediar aapropriação crítica das informações, transformando asúteis, relevantes, em conhecimentos.

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Para a escola instigar o pensamento reflexivo,instrumentalizar @s aprendizes para o diálogo, anegociação, as tomadas de decisão e posicionamentos,em questões coletivas no seu território, @ professor@precisa trabalhar com projetos colaborativos, em torno deproblemas reais, em laboratórios vivos, favorecendo quetodos aprendam fazendo & façam aprendendo.

Neste novo mundo, tentar prever os saberes necessáriospara atuar em profissões ainda não inventadas é inócuo,daí a necessidade de uma educação que favoreça odesenvolvimento de habilidades e competências voltadasaos 4 pilares da Educação de Delors, a saber: o aprendera aprender, o aprender a fazer, o aprender a ser e oaprender a conviver.

Mesmo que a escola não ofereça uma educação libertária,ou menos hierárquica, ou apenas voltada para ovestibular, @s professor@s precisam romper com estaslógicas, intervindo e o seu espaço primeiro, asala de aula e ainda, irem além, ultrapassando os murosda escola para as ruas, o mundo. @ profess@r deve seruma figura que conecta @ aprendiz ao borbotão deinformações da sociedade atual, ajudando-@s a absorver,filtrar e transformar as informações em conhecimentospara a vida. @ profess@r mediando o pensamento crítico,criativo e colaborativo, em meio as informações e asexperiências dos alunos, articulando e contextualizando asala de aula com o mundo da vida.

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Como vimos, aprendizado não depende de educaçãoformal. Existem várias formas de aprender além daescola, através das tradições familiares, sociais, culturais,religiosas, profissionais, etc. Essas formas de aprendizadopodem implicar também algum tipo de educação, mais oumenos estruturada, porém, seu objetivo não é transmitirum conhecimento e sim integrar a pessoa numa prática, aprática tradicionalizada. Muitas vezes a escola descartacompletamente este tipo de aprendizado, solapando ricasexperiências.

Na resolução de problemas do cotidiano, e nosempreendimentos criativos, são necessários vários tiposde conhecimento que uma pessoa só não pode dar conta.É preciso ter um corpo multidisciplinar composto porpessoas engajadas, colaborativas e assim dispostas acompartilhar e aprender com @s colegas de trabalho.

As tecnologias da informação e da comunicação permitemque as pessoas se conectem com outras, próximas edistantes, compartilhando interesses de aprendizado. Ascomunidades virtuais representam um tipo diferente deaprendizado, em rede. Apesar de ser possívelcompartilhar o conhecimento através da troca deinformações nestas comunidades, a estrutura em geralnão leva em conta a constituição total da pessoa, tudo oque ela é. Focam apenas um de seus interesses ouaspectos.

É preciso reinventar a educação com cuidado para nãocair na armadilha de se criar um ambiente supostamenteinovador, com tecnologias da informação e comunicação,mas que preserve a mesma essência da escola formal,

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com todos os aspectos deficitários já discutidos. Ummodelo eficiente deve buscar enfatizar a distribuição doconhecimento, conectando pessoas pessoas para queelas troquem conhecimentos que já saibam, formandouma rede de troca de experiências, vivências e saberes. Enão criando uma sala de aula virtual que reproduz a salade aula convencional.

Enfim, a educação precisa se reinventarpedagogicamente, experienciando novos modelos,convergentes com a filosofia de abertura, a aprendizagemcolaborativa, a cultura do , do beta perpétuo, dacibercultura. O aprendizado em rede segue o interessedas pessoas conectadas, imersas na 2.0. Propostasassim alcançam os novos sujeitos sociais, interagentesativos, mais colaborativos, comunicativos e autorais.Atuando em cenários disruptivos, que potencializam aconstituição e manutenção de redes de colaboraçãoaberta contribuem para a melhoria da vida da coletividadeglocal, via empreendimentos sustentáveis e inovadores,próprios da economia criativa, pautada em bensintangíveis, imateriais, de valor simbólico. A própria éum bom exemplo do poder da colaboração que vem sereinventando a cada dia através dos seus usuários.

Além da web, existe o exemplo exitoso da prática daRobótica Livre, idealizada sob o conceito de Pedagogia daSucata, na qual os alun@s poderiam aprender assuntosnormalmente "chatos" no dia a dia da escola, como fazercontas usando fórmulas de física. O mais importante éque estes assuntos são apresentados de formacontextualizada, com problemas que serão resolvidos emconjunto e de forma criativa. A Robótica Livre se utiliza de

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sucatas (a maioria de resíduos eletroeletrônicos)transformadas em artefato, fomentando o conhecimento, apreocupação ambiental e a criatividade. Os artefatoscontemplam desde a área de exatas (programação,eletrônica) até a área de humanas (artes, literatura).

A necessidade de alguma especialização para mercadode trabalho faz com que @s aprendizes procuremformação em contra turnos escolares, seja em idiomas,informática, etc. Na maioria desses espaços, há umarepetição do modelo escolar, com todos os seus vícios:rigidez, disciplina, regramentos, horários e transferênciade conteúdos. Poucos espaços de formação oferecemnovas metodologias de aprendizado em que o aprendizseja protagonista do próprio aprendizado.

A Recife+Art foi uma produtora oriunda do Centro deRecondicionamento de Computadores do Recife. Teveseu início e atividades em 2011, através de uma oficinaministrada por Pedro Jatobá.O público-alvo da oficina foram @s aprendiz@s eegress@s do Centro Marista Circuito Jovem - CMCJ, doRecife. O perfil da maioria era serem moradores da zonanorte do Recife e provenientes de famílias com baixopoder aquisitivo. A ideia da oficina foi a criação de umaprodutora cultural colaborativa no CMCJ, que pudessetrazer contribuições para a vida dos envolvidos.

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Apesar da Recife+Art ter encerrado suas atividades noinício de 2012, diversas contribuições valem a pena serrelembradas. Como conclusão da oficina a ProdutoraRecife+Art, foi produzido um evento cultural no dia 24 denovembro de 2012. A atividade, que foi realizada naEscola Pernambucana de Circo, localizada no bairro daMacaxeira – zona norte do Recife, contou com oficinas deinformática, desenho e fotografia, apresentações de grupode capoeira, karatê, e bandas. A Recife+Art filmouo evento e, como moeda de troca pelo espaço, fez aedição do vídeo e deu a Escola Pernambucana de Circo.Mais informações em:http://sites.marista.edu.br/crcrecife/2012/12/13/recifeart-realiza-evento-cultural-na-escola-pernambucana-de-circo/[1]

As oficinas de produção colaborativa contaram com oCorais, ferramenta colaborativa que teve bastanteinfluência no trabalho da Recife+Art, seja paraorganização e documentação, como para omonitoramento, pelo oficineiro - que em vários momentosestava viajando, mas, mesmo assim, não ficava “ausente”do processo. O Evento na Escola de Circo foi todoorganizado via plataforma corais e pode ser lido aqui:http://www.corais.org/recifemaisart [2]

Todas as produções da Recife+Art foram feitas através douso de Livre. Foram usados deedição de imagem, áudio e vídeo, como , ,

e . O uso destes livrou aprodutora de possíveis gastos com licenças ou deincentivo a pirataria.

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O ano de 2013 iniciou um novo ciclo e com ele, muitosdos aprendiz@s envolvidos com a Recife+Art tomaramcaminhos diferentes. Mesmo com o desmembramento daProdutora ficaram exemplos positivos da Recife+Art comoo trabalho colaborativo, a tecnologia social e o uso do

livre. Com alguns aprendiz@s, que fizeram parteda Recife+Art, surge o Coletivo Marista de TecnologiasLivres – CMTL – que tem como objetivo desenvolver efomentar tecnologias sociais através conhecimento livre.O CMTL tem suas atividades construídas de formacolaborativa, como tomadas de decisão. Utiliza uma listade discussão para diálogo e para seus projetos faz uso daferramenta Corais. O Corais do CMTL pode ser acessadoem: http://www.corais.org/cmtl/ [3]

Já que a vida está em constante dinâmica, as criações doser humano não podem ser estáticas. Acima vimos que omodelo de escola formal busca o engessamento doconhecimento que, dominado por um professor, étransferido ao aluno. Transformações sociais não brotamde um modelo cinzento e estático, é preciso vida, épreciso espaço, criatividade e transforma-ação.

A educação libertária traz uma visão de transformaçãosocial por meio da educação, onde os alunos são, junto àescola, coautores de sua história. Nenhuma experiênciade vida é descartada e somam-se para práticasautogestionárias buscando autonomia. Os assuntos sãoaprendidos de acordo com o interesse dos alunos e o

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professor torna-se um facilitador fazendo a ponteconteúdo-experiências.

Neste contexto a escola se torna um laboratório onde aregra geral torna-se: experimentação. As experiências dosindivíduos se cruzam e, nas diferenças, todos seconhecem um pouco melhor. São criados mapeamentosde interesses, afinidades são construídas e o coletivotorna-se solidário. Estes espaços devem ser abertos,todos tem algo com o que colaborar, os saberescaminham juntos.

As práticas dos " vivos" estão atreladas com apedagogia de projetos e, abertamente, é feita uma fartadocumentação como exercício da escrita de história.

Santarém é um caso diferenciado de implantação de umapolítica pública de informática educativa, pois omovimento de cultura digital foi da comunidade para aescola e do encontro entre professor@s, aprendiz@s eativistas de livre, começou um processo deplanejamento participativo, onde as bases quefundamentaram as ações foram a participação d@sprofessor@s e aprendiz@s a partir dos princípios da éticacolaborativa: conhecimento, colaboração e liberdade.

Após a criação do Núcleo de Informática Educativa da

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SEMED em Santarém, começarem a ser desenvolvidasdiversas formações tecnológicas com livres decomunicação com professor@s que replicavam essasoficinas com aprendiz@s, utilizando conteúdoscurriculares. A partir do uso dessas tecnologias livres @sprofessor@s começaram a despertar para a necessidadede colaborar uns com os outros e a entender que aimportância do uso do livre vai além do fato deser um programa gratuito e sim, por ser construçãocolaborativa. Esse debate era levado para outrosprofessor@s e também compartilhado com @saprendiz@s. A partir dessa visão ocorreu um movimentode migração pessoal, em que @s própri@s professor@scomeçaram a usar concomitantemente os dois sistemasoperacionais nas máquinas pessoais. Com isso, puderam

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perceber que a grande diferença entre um eoutro está na filosofia proprietária do e nacolaborativa do GNU-Linux. O movimento tem tomadocorpo e, com os apoios locais, tem buscado criar umambiente propício ao cultivo de uma inteligência coletiva,capaz de construir conhecimento a partir da apropriaçãodas ferramentas de comunicação digital dentro da escolae no seu entorno.

Alguns pontos são fundamentais para o êxito nodesenvolvimento do trabalho. Destacamos a formaçãocontinuada e a melhor remuneração d@s professor@smultiplicadores, que fazem um trabalho de “alfabetizaçãodigital”, junto aos discentes das escolas em Santarém.Realizam um trabalho de mediação ao aprendizado detécnicas informacionais digitais e, também, debateideológico, pedagógico e filosófico, contributivo para a

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uma discussão em torno da educação que se pretendealcançar em Santarém. A articulação da rede comunitáriade comunicação escolar também é um ponto importante aser destacado uma vez que ela promove o intercâmbio desaberes, e a produção de conteúdos, a partir da realidadede cada comunidade, saindo do repasse deconhecimentos, para o aprender e ensinar juntos. Oconhecimento na produção social passou a ser mediadotecnologicamente. A cultura também se descolou, nomomento em que essa mediação tecnológica deixou deser apenas instrumental para ser estrutural.

Acreditamos que para que esse novo território garanta suacontinuidade, para além de políticas de governos, sejanecessário criar, por força de lei municipal, amparo asiniciativas em curso. E que este projeto de lei contemple aforma de funcionamento, bem como os princípiosnorteadores, para o cultivo de uma educação tecnológicadigital libertadora, com base na filosofia do movimento de

e livre. O propósito dessas intervenções nosistema de ensino aprendizagem das escolas quepossuem laboratórios de informática tem como propósitouma transformação social positiva, que a partir do cultivode uma autonomia individual e coletiva, posso refletir emuma melhor qualidade de vida e justiça social.

A criação de coletivos de cultura digital, produtorascolaborativas livres, estúdio livres, rádios livres e gruposde programadores de computador comunitários, apontamuma possibilidade de mudança econômica para a cidadede Santarém, que dentro desse movimento de educação ecultura digital pode almejar para si a potencialidade de emmédio prazo se tornar um centro de excelência na área

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das tecnologias na educação e na produção de conteúdose de livres.

Algumas ferramentas são bastante importantes nestadocumentação, como o caso dos . Quando adotadopel@ professor a ferramenta pode trazer diversosbenefícios a aprendizagem d@s aprendiz@s, fortalecendoa interação social tanto na sala de aula (professor-aprendiz@s, aprendiz@s-aprendiz@s) como também forada sala, onde @ professor pode acompanhar experiênciasfora da escola. Um fator chave na interação é apossibilidade colaborativa dos que podem seradministrados por mais de um aprendiz, fomentando umaaprendizagem coletiva. A velocidade, facilidade eversatilidade das postagens incentivam a apropriação derecursos tecnológicos presentes no dia a dia( , por exemplo), que podem ser usados naprodução de conteúdo multimídia contextualizado com arotina e percepção d@ aprendiz como sujeito de um lugar(bairro, comunidade, etc.)

Na plataforma Corais temos a ferramenta "TextoColaborativo" que permite a escrita simultânea pordiversos autores. A escrita colaborativa traz mais interaçãoentre os autores pois eles tem que buscar formas decomunicação e sobre o texto que está sendo produzido.

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No Corais, geralmente, cada autor assume uma cor que éligada ao seu nome. Durante o texto regras sãoestabelecidas entre os autores, elas variam de grupo paragrupo, cada grupo escolhe suas regras de produção.Há um ao lado para comunicação entre os autoresonde explica-se o que foi feito, porque foi feito e tambémdiscussão de ideias. O uso desta ferramenta se difere do

devido a rapidez com a qual o texto é criado. Comoexemplo, trazemos o manifesto: Epístola DigitalDescentralizada, que foi um texto redigidocolaborativamente utilizando ferramenta igual a do corais.O texto foi assinado por várias pessoas e coletivos e foientregue a Ministra da Cultura Marta Suplicy, depois queela assumiu o cargo.

A Árvore do Conhecimento da Corais armazenaconhecimentos disponíveis para execução de projetos, deforma colaborativa, como em um Todos podemcontribuir e expandir o conhecimento da comunidade sejaacrescentando ou corrigindo as informações disponíveis,bem como criar novos conhecimentos. O formatopermite o mapeamento, a auto e a cogestão das tradiçõescoletivas, mesmo que um projeto se acabe. Ao utilizar umdos métodos da árvore em um projeto, é criado umque adiciona o método como referência no projeto. @susuári@s marcam entre as opções "estou estudando", "jáestudei" ou "sou especialista". Um exemplo de uso daárvore é o que a comunidade de design fez: osum baralho de cartões de conhecimento para projetarexperiências do usuário (UX).

Os cartões possuem validação prática e ficam visíveis nos

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perfis, compondo a identidade cognitiva de indivíduos egrupos, valorizando seus conhecimentos e potencial paracolaborar. Como forma de estímulo a produção osparticipantes ainda ganham pontos na comunidade.Sendo público, os projetos na plataforma Corais se tornamuma espécie de portfólio para @s pessoasparticipantes, expondo os trabalhos de forma rápida. Ogrande diferencial deste portfólio gerado pelo Corais é quetodo o processo criativo que levou aos resultados éexibido. Esse processo cria uma base de exemplos deforma orgânica para cada um dos métodos disponíveis naÁrvore do Conhecimento, dando maior respaldo apesquisa e concepções realizadas no decorrer dotrabalho, com tudo documentado automaticamente.

A Árvore do Conhecimento enseja uma nova possibilidadede construção de uma nova sociedade: aprendente,redemocratizada, imbricada ao conhecimento emperpétuo, a partilha, ao , a cocriação, ascoaprendizagens e a inovação, na economia criativa.

As ferramentas citadas acima podem ser utilizadas deforma isolada ou em conjunto, como em uma rede social -no caso da Corais: de coLabor-ação. Vivendo em umasociedade com um grande e dinâmico fluxo deinformações, pesquisadores defendem o uso de redes,por que favorecem as aprendizagens sociais, coletivas.Algumas experiências práticas bem sucedidas vemdemonstrando que as redes sociais podem ser interfaces

de aprendizagens interativo-colaborativas, com ouso pedagógico de suas ferramentas, para incentivar acomunicação, a colaboração, a autoria e a criatividade em

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sala de aula, potencializando aprendizagens.

de Redes Sociais proprietárias sendo mantidaspela publicidade, apresentam vários pontos de distração.Na tentativa de minimizar o 'problema', docentescostumam empregar configurações de privacidade epermissões restritas e hierárquicas. Isso tira a autonomiados indivíduos, que ficam reféns das decisões doadministrador (@ professr@). Alguns arranjos resultamem salas de aula virtuais travestidas de inovadoras, masque não alteram a metodologia de ensino.

O Corais possui uma interface rica em recursos eferramentas favorecedoras ao desenvolvimento ecogestão de projetos de trabalho e aprendizagemcolaborativos. Ela pode ser usada como uma rede social,mas coLabor-ativa de fato, oferecendo inúmeros recursose ferramentas para a interatividade comunicacionalsíncrona e assíncrona, a exemplo de para trocasem tempo real e ferramentas de videoconferência. Aplataforma, reconhecida pelos usuários como uma redesocial coLabor-ativa, é bem mais completa e adequadapara objetivos de aprendizado, constituindo ambientepropício para o desenvolvimento de trabalhos coletivos,potencializando a criatividade, além de incentivar aautonomia dos indivíduos, contabilizar pontos departicipação e trabalhar tomadas de decisãoautogestionárias.

[1]http://sites.marista.edu.br/crcrecife/2012/12/13/recifeart-

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Trabalho é uma atividade natural do ser humano. Todapessoa trabalha para realizar algo, mesmo que outraspessoas não reconheçam como trabalho. Caso o trabalhonão seja reconhecido por outras pessoas, a realização dotrabalho não tem valor algum. Sem valor, não é possível atroca e nem a economia, pois o valor que se dá aotrabalho é a base de qualquer economia.

Existem economias que se baseiam no valor de uso doque é produzido pelo trabalho. Nesse caso, o valor de umsaco de feijão é a satisfação de comer um alimentonutritivo e gostoso. Um saco de feijão pode ser trocadopor um saco de arroz, pois ambos tem um valor de usosimilar; porém também é possível trocar um saco de feijãopor uma roupa, caso uma pessoa precise comer e a outraprecise se vestir.

Existem também as economias baseadas no valor detroca. O feijão passa a se tornar uma possibilidade detrocar por outra coisa: um saco de feijão pode ser trocadopor um saco de arroz ou por uma roupa, mas também poruma série de outras coisas que possuem o mesmo valorde troca. Eventualmente, se há pouco feijão disponível(oferta) e muitas pessoas querendo comer feijão(demanda), esse valor sobe mesmo que o valor de uso -encher a pança - continue o mesmo.

Se uma pessoa é capaz de produzir tudo o que elaprecisa, ela não precisa se preocupar com o valor de troca

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do produto de seu trabalho, porém, raramente isso épossível. Eventualmente ela vai precisar produzir algovisando a troca, nem que seja uma parcela de suaprodução. Ela vai ter que produzir algo que não precisapara obter algo que precisa, que ela não consegueproduzir diretamente. Porém, se ninguém precisar do queela produzir, também não conseguirá trocar a produção,pois não terá valor.

Aqui mora a origem da cisão entre o fazer o que se gosta(que tem um valor de uso) e o fazer o que alguém precisa(que tem um valor de troca). Essas duas possibilidadespodem acontecer ao mesmo tempo, no caso de alguémque gosta de fazer o que os outros precisam, porém,assim como as demandas e ofertas, o valor de uso e ovalor de troca mudam constantemente. A pessoa podeeventualmente deixar de gostar de fazer o que alguémprecisa ou essa necessidade pode simplesmentedesaparecer.

Para ter maior estabilidade no sustento, o ser humano seassocia a outros para trabalhar. Surge então umaorganização do trabalho, que define a parte que cabe acada um. Uma vez associada, a pessoa precisa produzir oque irá trazer maior robustez ao grupo, nãonecessariamente o que ela gostaria de fazer, pois estegrupo precisa competir com outros grupos. Com o tempo,a pessoa passa a produzir apenas para os outros e deixade produzir para si mesmo, gerando apenas valor detroca.

O valor de uso se torna dependente do valor de troca, poissó consegue usar o que já trocou. A consequência é a

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dependência da troca para se ter sustento.

Esse é o modelo de sustentabilidade da economiacapitalista: o valor de troca é o que sustenta tudo. O valorde uso é secundário e pode mesmo chegar a zero, comopor exemplo, na destruição da produção para inflar ouesvaziar o valor de troca no mercado. Já imaginou isso?Produzir toneladas de um produto e depois queimar toda aprodução, como fez Getúlio Vargas, só para aumentar ovalor do café no mercado internacional.

A economia capitalista é uma economia baseada naescassez: tem, outr@s não. Isso traz consequênciasenormes para a geopolítica, a distribuição de renda e aqualidade de vida, porém, o foco deste livro é no trabalho.A primeira implicação da escassez na organização dotrabalho é a divisão entre quem tem alguma propriedadeprivada e quem não tem nenhuma. Quem não tempropriedade não pode produzir para si e é obrigado aproduzir para o outro, ou seja, o seu trabalho ficacompletamente sujeito ao valor de troca.

Isso pode não parecer um problema a princípio, paraquem está satisfeito em receber o valor de troca por seutrabalho. A pessoa aceita fazer algo que não gosta, umtrabalho repetitivo, chato, ou mesmo perigoso, em trocado dinheiro do salário, que será usado para fazer outrascoisas que gosta, totalmente dissociadas do trabalho. Issopode funcionar por um tempo, mas eventualmente apessoa se cansará do trabalho e começará a produzirapenas o mínimo necessário para receber o salário, semse preocupar com a melhoria da qualidade e daprodutividade.

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Essa reflexão também tem a ver com o sentido dotrabalho: para que e porque trabalhamos? O trabalhoserve para satisfazer nossas necessidades humanasvitais, que não são apenas alimentar-se e vestir-se, mastambém relacionar-se com as pessoas e com o mundo. Otrabalho possui uma dimensão essencial para a vidahumana, para a auto-realização, como prática diária decriar e reproduzir a existência humana, não só individual,mas social, como elemento central da sociabilidadehumana. E é nesse sentido que podemos aproximar otrabalho e a cultura, é por meio do trabalho que o serhumano transforma a natureza e cria cultura, transforma asi mesmo e se realiza.

Mas quando se trabalha pela produtividade, pelasjornadas de trabalho, pelo trabalho pago em salário, issotambém acontece? Quando é o consumo que passa aregular a produção e não mais a satisfação dasnecessidades humanas do conjunto da sociedade, otrabalho perde essa dimensão qualitativa de produção devalor de uso. É quando escapa apossibilidade de definir como será a produção, quantoserá produzido e isso passa a ser regulado pelo consumo,pelo mercado. Nesse contexto o ser humano deixa deatribuir um significado pessoal, individual, subjetivo esocial ao trabalho. El@ está lá para cumprir uma cargahorária e produzir algo que muitas vezes desconhece paraquem e por quanto será vendido. A essência criadora dotrabalho e sua dimensão fundamental da vida social ficamdiluídas, perdem-se, é quando o valor de troca sesobrepõe ao valor de uso.

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A capacidade de tomar decisão em processos econômicosparece estar inversamente proporcional a dimensão destaeconomia. Quando as pessoas olham apenas para simesmas e vão agregando família, sócios, vizinhos,conterrâneos, vão, aos poucos, se afastando dacapacidade de inferir e decidir sobre os processoseconômicos que estão diretamente ligados. Apesar deeste ser um fato real e facilmente perceptível nas relaçõessociais, as pessoas estão acostumadas a debater muitomais a macroeconomia do que as possibilidades práticasde melhorar processos econômicos locais.

Se um governo decide comprar de um determinadoprodutor, ou se a multinacional vai produzir com insumoslocais ou importados são decisões que parecem estarmuito distantes da opinião das pessoas, a não ser quandoaparecem em uma mesa de bar ou em uma analiseacadêmica. O fato é que o modelo representativo atualnão privilegia processos participativos, mas não impedede as pessoas tentarem criar instâncias menores deorganização local e através delas, fortalecer produtoreslocais e nesta microeconomia decidir coletivamente asregras de funcionamento.

Este tipo de visão não é nenhuma novidade na históriahumana, mesmo antes de processos de globalização eacesso a tecnologias da informação e a , as redeseram limitadas por barreiras territoriais e se organizarlocalmente era a grande alternativa econômica para asustentabilidade.

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A capacidade de romper barreiras e de aproximar mundosdistantes através de logística, comunicação e economiaglobalizadas fez com que a interação com @ vizinh@fosse tratada com o mesmo peso de negociar com umempresário chinês. O preço baixo de produtos importadosde qualidade duvidosa se tornou um atrativo maior do quea relação de localidade e até mesmo a durabilidade ematéria prima local adotada nos produtos.

O bem estar econômico local, a garantia desustentabilidade pela oferta a seus próximos, aestabilidade de saúde, segurança, alimentação, roupas eutensílios pode ser mais facilmente alcançada através deuma organização em micro escala do que em macro. Se épossível incluir economicamente @s diferentesprodutor@s de um mesmo território e garantir que acirculação de seus principais produtos seja valorizada noseu território de produção, e trocada por outrasnecessidades básicas dest@s produtor@s, consegue-se,com o excedente, gerar uma receita que pode ser melhoradministrada, criando duas rendas complementares, aeconomia interna do território e a externa.

A organização econômica local ao longo da históriaremete a organização de associações de moradores,assembleias de bairro, organização de feiras comunitáriase chega a questões mais ligadas a esfera pública nasexperiências dos orçamentos participativos (OP), que sepopularizaram em diversos governos estaduais emunicipais.

A questão do OP é mais uma vez emblemática em relaçãoa limitação de autonomia na area econômica na medida

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em que ampliamos o território. Apesar de terem sidoconsideradas um sucesso em caráter municipal, asiniciativas sempre lidaram com uma porcentagem pífia doorçamento público e o modelo nunca foi ampliado paraestados ou para a federação. O que pode ser consideradocomo um paralelo nas esferas estaduais e federais são osfóruns consultivos organizados que podem ou não derivarem ações práticas pois não possuem poder deliberativo,apenas possiblitando a socieade civil expressar seu pontode vista.

Ao sair de uma esfera macro e mergulhar em uma reuniãode bairro, estão pessoas que possuem o território comoum e que podem juntas deliberar sobre açõesconcretas do seu cotidiano, e dividir responsabilidadespara executar ajustes econômicos locais.

Outro ponto importante sobre a economia local é aquestão da fuga de capitais e a possibilidade de seorganizar caixas coletivos para apoiar diferentes ações esetores da economia de um território. A capacidade demanter todos na comunidade com recursos é quepossibilita a um maior ambiente de paz. É justamente adesigualdade que gera distorções questionáveis a razãohumana. Pensar a economia de forma micro possibilitatentar garantir uma oferta local equilibrada e que todospossam ofertar livremente sua produção em licençaslivres.

Uma boa organização da economia local possibilita queprodutor@s comunitári@s consigam oferecer seusprodutos e serviços em pé de igualdade com produtor@sextern@s mesmo quando o valor do produto externo é

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mais barato que o valor local de produção, pois é possívelvalorizar diferenciais como suporte e manutenção,flexibilizar pagamentos e aceitar outros tipos de créditosolidário. A impossibilidade de igualdade de oportunidadecom produtor@s externos é que faz com que um territóriodeixe de ser autônomo em determinado tipo de produção,pois abdica de fortalecer locais paradepender da produção de outro local.

Um dos setores mais interessantes de analisar em umamicroeconomia é o setor criativo, pois existem diferentespossibilidades de arranjos e cadeias produtivasenvolvendo a cultura, educação, comunicação etecnologia. A capacidade de pensar em cocriação einovação nestes setores e o potencial de trocasenvolvidas localmente possibilitam diversas organizaçõesautônomas.

Na medida em que o capitalismo passa a englobar aprodução cultural e intelectual, surge a chamadaeconomia criativa. O êxito em garantir um valor de troca aprodução intangível acompanha o fracasso da privação dovalor de uso. A produção criativa tem a capacidade únicade poder ser fruída, consumida, degustada, enquanto éproduzida, isso sem comprometer nenhuma de suasqualidades para o valor de troca. Na verdade, o valor deuso desse tipo de produção aumenta o valor de troca,quando este é percebido e enfatizado como argumento de

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venda.

Na economia criativa, a regra da escassez já não é maistão eficiente, apesar de que ainda funcione largamente. Ovalor de uso ganha cada vez mais espaço diante daabundância de ofertas e da consequente desvalorizaçãoda troca. Fala-se de uma economia de custo-zero parabens intelectuais e culturais. Se uma pessoa faz umamúsica e a compartilha ou vende, não a perde, muito pelocontrário, ela se multiplica. Se uma pessoa repassa oconhecimento a alguém, diferente de dar o carro, nãoperde o conhecimento, este ganha ainda maispossibilidades de vida, pode ser ainda mais divulgado,remixado, reinventado, complementado. Os bensintangíveis e imateriais, próprios da cultura, são bens não-rivais, ou seja, não acabam ao ser consumidos. Escutaruma música não é como beber uma xícara de café.

Na medida em que esses bens intelectuais e culturais setornam infraestruturais para outros setores da economia,transformações ocorrem também na produção tradicionalbaseada na escassez. A inovação se torna essencial paraa produtividade, mas o salário e os bônus por si só nãoconseguem fazê-la acontecer.

O trabalho colaborativo se torna relevante para umaeconomia capitalista cansada, de baixa produtividade einovação, organizada globalmente e desvinculada dolocal. O trabalho colaborativo é o retorno a produção parasi, só que agora compartilhada.

A noção básica de propriedade, tão importante para otrabalho competitivo, dá lugar a noção de apropriação.

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Mais importante do que ter a propriedade é fazer usodessa propriedade. As grandes nações, as grandescorporações, as grandes propriedades estão sefragmentando, estão sendo trazidas de volta para agestão local para permitir que áreas improdutivas ou debaixa produtividade sejam usadas de forma criativa.

A apropriação do espaço improdutivo gera um novo tipode propriedade: a propriedade coletiva. Todo mundo virapatrão, todo mundo faz o que gosta. Porém, para atingir apropriedade coletiva é preciso empreender.

O apelo inicial do trabalho colaborativo é inicialmentefazer o que gosta, mas com o tempo o trabalhocolaborativo acaba motivando a fazer as coisas que sãonecessárias para o coletivo.

No ano de 2012 foi criada a Produtora Colaborativa Livreem Belém (PC), reunindo pessoas ligadas as redes decultura digital e livre com o intuito de difundiroficinas de apropriação tecnológica junto a escolaspúblicas e grupos culturais da periferia de Belém. Atravésde uma parceria entre a PC e a Universidade Federal doPará (UFPA), um grupo de acadêmicos da universidadecomeçaram a fazer uma série de formações decomunicação e livre dentro da instituição deensino, para aprendizes acadêmic@s dos mais variados

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cursos e para a comunidade que mora nos bairros doentorno da universidade.Dentre as atividades realizadas, se destaca as oficinas demetareciclagem, de edição de áudio e criação de rádioslivres, oficina de vídeo, de edição gráfica, editoraçãoeletrônica, gerenciadores de conteúdos para , mapascolaborativos, além das palestras sobre cultura digital,desenvolvimento local e planejamento participativo deprojetos.

Foi criada uma lista de para articular @sparticipant@s das oficinas, possibilitando a publicação deinformes, a articulação de encontros e açõescolaborativas, além do compartilhamento deconhecimentos técnicos da área de livre. Atravésde uma parceria com o Projeto UFPA 2.0, coordenadopela Pró-reitoria de Relações Internacionais da UFPA,essas oficinas tem tido continuidade, inclusive sendoorganizadas para públicos específicos, como é o caso dosacadêmicos africanos que estudam em Belém. Nessesentido, foi realizado um planejamento colaborativo deprojetos para a criação de uma nova ProdutoraColaborativa Brasil-África, que deverá ser autogeridapelos próprios aprendizes.

Um dos principais objetivos da Produtora Colaborativa deBelém é formar multiplicador@s, para que através dosprojetos de extensão da universidade, os conhecimentostecnológicos livres e as metodologias colaborativaspossam ser capilarizados através da realização dessasatividades nas associações de morador@s e escolaspúblicas da cidade, fazendo com que @s jovens, artistas,artesãos, músicos e grupos culturais que hoje se

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encontram excluídos digitais, possam melhorar suacondição de produção cultural e sua qualidade de vida pormeio da apropriação dessas tecnologias sociais.

Quando existe esta iniciativa individual prática que se uneem coletividade criativa, surge a necessidade dasferramentas, como a moeda social. E não o contrário.Pode-se dizer aqui, que entre o ovo e a galinha, sim, háquem nasceu primeiro. Primeiro nasce a vontadePRÁTICA da pessoa que se une e forma coletividadecriativa. E somente depois surge a ferramenta que é amoeda social. E não o contrário. No capitalismo que seperdeu, acha-se que o valor do ouro surgiu primeiro, masnão, primeiro era o valor de desfrutar egoistamente dealgo que @s outr@s não tinham. Depois surgiu aferramenta de troca, o dinheiro. Talvez o dinheiro não sejatão ruim, visto como ferramenta, o problema jaz naorigem: a forma egoísta de desfrutar algo que outr@ nãotem...

Assim como o dinheiro não é ruim, a moeda social é boa eé uma forma de organizar a força do trabalho coletivo.

A questão principal talvez se fundamente no requisito detransformar a moeda em apenas uma ferramenta dasatisfação coletiva e individual. Quando pessoas se unem,criam uma força valorável, a moeda é apenas uma

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ferramenta de medição, e não o objetivo final. O consumoda praça aqui não é o objetivo final, porque senão a praçaseria dizimada. O que importa é estabelecer os dois ladosda roda: manutenção e uso. E medir o que cada um podedar para somar no coletivo e assim manter o social. Daísurge a aplicação, talvez não tão utópica, de um termomuito utilizado hoje em dia: sustentabilidade.

É difícil dar o primeiro passo, mas não há como criar umamoeda social sem que antes exista as bases da ação paraimpulsionar as pessoas. @s primeir@s que iniciam a açãode criar algo diferente passam pelo mais básico das ideiase depois, com a moeda já criada, proporciona-se que aação de novas pessoas é promovida pela ferramenta. Ouseja, um sistema precisa incentivar seus conceitosbásicos.

Uma moeda social precisa valorizar a ação das pessoas ea sua união. Não pode ser apenas a emulação dedinheiro. Ela precisa promover os anseios que outrasferramentas não o fazem mais. Assim, valorizar o coletivo,valorizar a prática, incentivar o engajamento social, amudança local, a solução para pequenos problemascoletivos, de forma livre e com a união do trabalho detod@s.É algo difícil de ser realizado, mas envolve aprendizadocontínuo e observação, tentativa e erro: ação, começar afazer.

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Um sistema financeiro tem como seu principal pilar defuncionamento a credibilidade junto a seus ,ou seja a capacidade de oferta de em umamoeda corrente. A principal ameaça para o funcionamentode um crédito solidário é quando ao aceitar este valorintermediário o mesmo não consegue trocar mais estevalor por algo que o mesmo tem interesse. Assim oacumulo do capital pela incapacidade de atender suasdemandas provoca uma crise de confiança no participanteque o leva a desistir de aceitar e integrar este sistema.

Um crédito solidário para ter confiança coletiva pode sergerido de forma pública e acessível a tod@s. A opção deutilizar um crédito digital possibilita este tipo de modelopois garante o acesso de tod@s, as informações de saldo,extrato e movimentação financeira.

Ao pensar um processo de gestão colaborativa de umsistema financeiro, pensamos na possibilidade de tod@sas pessoas de um determinado território terem o direito deaceitar moeda social, e ao fazer isso também ter o direitode decidir sobre os rumos deste sistema econômico que@s mesm@s estarão mantendo.

A gestão colaborativa do sistema financeiro requer porexemplo pensar em ações coletivas de adesão de novosmembros, bem como ações presenciais e eventoscomunitários para circulação de produtos e serviços.

Mais uma vez o impacto da tecnologia da informaçãoneste cenário é bem interessante pois através do sistemaé possível ter acesso a uma relação de integrantes comsuas respectivas ofertas e demandas, o que possibilita ter

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A gestão colaborativa de um crédito solidário podefuncionar baseada em dois modelos: o de sigilo ou o detransparência bancária. O modelo de transparência ébaseado em acesso coletivo a saldos e transações emcrédito social, o que permite uma auditoria coletiva daeconomia e a possibilidade de evidenciar possíveis errose distorções comuns nas transações cotidianas.

A popularização do meio digital possibilita um maioracesso a estas ferramentas através da rede, tendo entãomodelos comunitários e participativos um canal efetivo decolaboração quando a está disponível nestesespaços. A escolha do meio digital para o crédito não éalgo novo e no Brasil começou na década de 50 com ofuncionamento do cartão de crédito(http://pt.wikipedia.org/wiki/Cart%C3%A3o_de_cr%C3%A9dito) [1]. O meio digital evita a perda física do crédito emantém o registro de toda a movimentação financeira comeste crédito.

Para entender melhor os conceitos anteriores vamosdemonstrar como se cria um crédito solidário digitalutilizando uma base única de dados e com acessotransparente a saldos e transações financeiras utilizando aplataforma CORAIS.

Ao criar um projeto nesta plataforma é possível selecionar

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um tipo determinado Banco Comunitário que trazhabilitada a funcionalidade de moeda social e permite aassociação de uma conta de usuário a um fundocomunitário.

Na funcionalidade de moeda social é possível definir umsímbolo e um ícone a moeda bem como descrever suaorigem e relação comunitária.Ao selecionar a sigla existem algumas configuraçõesimportantes, elas aparecem no auxiliar, quando ocursor fica em cima do campo. Exemplos é a opção@minus para exibir valores negativos e @icon para exibiro ícone da moeda.

Existe um campo sobre regras de funcionamento damoeda social que permite descrever como a moeda operahttp://www.corais.org/sites/default/files/moedapropositoregra_0.jpg [2]

Outra configuração importante é a definição de valoresmáximos e mínimos de acumulo e divida por individuonesta economia o que permite evitar acumulo econcentração de capital e também o endividamentodemasiado por parte de algum do sistemafinanceiro.http://www.corais.org/sites/default/files/limitessaldo.jpg [3]

Ao configurar uma moeda social você pode tambémdefinir se a mesma aceita números fracionados e como éo formato de exibição desta fração.http://www.corais.org/sites/default/files/fraction.jpg [4]

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É possível também definir os tipos de transações aceitascomo doação, débito automático e pagamento comconfirmação. A doação é quando repassacréditos diretamente para outr@ sem a necessidade destepagamento estar relacionado a execução de uma tarefa(como uma prestação de serviço).http://www.corais.org/sites/default/files/tipotransacaopermitida_0.jpg [5]

A opção de débito automático permite a cobrança demensalidades e cobranças coletivas diretamente da contad@s usuári@s. Esta ação é limitada aos administradoresdo sistema e a operações com a conta-banco.

A opção de pagamento com confirmação possibilita ocrédito associado a uma tarefa executada no projeto.Através deste tipo de operação que a maioria dastransações financeiras são operadas.

Uma conta-banco possui uma diferença principal parauma conta de usuári@ regular que são seus limites deendividamento e acúmulo de créditos. Enquanto osvalores para o usuário comum são definidos peloadministrador do projeto na parte de configurações damoeda social, o limite da conta banco equivale ao lastroda moeda social em circulação.

http://www.corais.org/sites/default/files/contauserbanco_0.jpg [6]

Uma vez configurada a moeda é preciso então publicizar

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as atividades que podem ser remuneradas neste tipo decrédito solidário local.Neste sentido a plataforma CORAIS disponibiliza aferramenta de planilha que possibilita o usuário montaruma tabela contendo o código da atividade (que identificaunicamente aquele determinado tipo de tarefa) seu nome,breve descrição, periodicidade de execução e valor emcréditos sociais.http://www.corais.org/conchativa/node/76663 [7]

A mesma lógica se aplica a publicação das ofertas emmoeda social, ou seja o que a pessoa com este créditopode usufruir dentro desta economia local.Semelhante a tabela de demandas locais, a ferramentaadotada é a planilha eletrônica que possibilita cadastrar ocódigo da oferta, titulo, breve descrição, valor unitário emmoeda social e disponibilidade mensal do produto, serviçoou saber.http://www.corais.org/conchativa/node/76660 [8]

O cruzamento de ofertas e demandas em cada territóriopode gerar a oportunidade de identificarmos circuitoseconômicos onde a demanda de um produtor local seencontra com a oferta do outro produtor.Este tipo de inteligência econômica pode ser construídotambém através de ferramentas digitais que farejamoportunidades de escambo de acordo com os cadastrosde pontos de cultura realizados. Os sistemas doCIRANDAS.NET e do Espaço ESCAMBO oferecem estetipo de funcionalidade para seus usuários. Estes sistemasentretanto não realizam operações em moeda social,apenas oferecem divulgação e podem mediarnegociações entre usuários interessados em fazer

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escambo. No CORAIS são realizadas as atividadesreferentes a transação financeira com a moeda social oque complementa a operação realizada.www.escambo.org.br e www.cirandas.net

Quando existe uma moeda em circulação, e um pouco debom senso, existe algum tipo de valor correspondente quegarante a credibilidade deste crédito representativo, seja oformato do mesmo digital ou real. No modelo de bancocomunitário trabalhado na tecnologia das ProdutorasColaborativas, este valor representativo denominado delastro (total de créditos possíveis em circulação) écalculado na capacidade de oferta mensal de um produtorem produtos, serviços e saberes.

Desta forma se o coletivo tem capacidade de oferecercom qualidade um conjunto de serviços, produtos esaberes então o mesmo pode gerenciar este lastro paracircular seu próprio crédito solidário.

Um ponto importante ao se definir um crédito solidário é asua relação com outras moedas existentes. Como osmodelos trabalhados não permitem conversibilidade coma moeda corrente apenas entram nestes circuitoseconômicos locais os produtores interessadas nas ofertasexistentes nesta restrita cadeia produtiva local. A soma denovos produtores e a diversificação do que é aceito nestetipo de crédito permite a ampliação do lastro financeirodeste crédito possibilitando então pensar na gestãocolaborativa da moeda social por um conjunto deprodutores que garantam com suas ofertas a credibilidadedo crédito em circulação.

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Para calcular o lastro coletivo é preciso somar a ofertamensal de todos @s produtor@s que garantiram nosúltimos 3 meses a oferta de determinado produto, serviçoou saber em moeda social. Este modelo de cálculo nãoimpede a oferta imediata em moeda social por nenhumprodutor local, mas garante que o cálculo do lastrogarante a folga dos que estão iniciando a oferta na rede.Ao utilizar a plataforma CORAIS para gerenciamento localdo crédito solidário ao completar três meses consecutivosde oferta, esta quantidade ofertada e consequentementeseu respectivo valor em moedas sociais é agregado aocálculo de lastro coletivo. Para publicizar esta oferta atodos os integrantes do grupo basta incluir a mesma natabela de demandas local.

O Cálculo de um produto, serviço ou saber é importantepara evitar distorções de preço ou excesso de valoraçãode um pedaço da cadeia, causando a concentração derenda ou a exploração do trabalho humano. O objetivo devalorar é garantir a sustentabilidade do processo e issoinclui claro o pagamento devido aos profissionais queestão prestando um determinado serviço ou repassandoalgum tipo de conhecimento. A questão é manter o preçoaberto, ou seja exibir publicamente a composição dopreço de um determinado produto ou serviço e porque umpreço como este fica neste valor. Na composição de umpreço temos 3 tipos importantes de vetores: Insumos eMatéria - Prima, Profissionais Envolvidos, EquipamentosUtilizados, Caixa Coletivo, Custo Administrativo, eImpostos (se houver). Um modelo está disponível emlicença livre na plataforma CORAIS(www.corais.org/conchativa).

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Para começar a participar de um processo econômico épreciso que cada pessoa ou coletivo obtenha um registrojunto ao banco comunitário. Ao adotar uma moeda socialdigital, o crédito está associado a uma conta em um bancode dados que gerencia o crédito fornecido. No CORAISpara participar de um processo econômico basta ter umcadastro na plataforma e solicitar participar do projeto noambiente que gerencia as transações desta respectivamoeda social. Por exemplo, quem deseja pagar e receberna moeda social Tempo do Teatro Vila Velha precisa estarcadastrado no CORAIS e participar do projeto daUniversidade Livre de Teatro Vila Velha(www.corais.org/livre). Cada usuári@ possui um códigoidentificador único. Este código corresponde a sua contabancária. Através deste código outr@s usuári@s podemdirecionar doações e/ou pagamentos. Cada operação emuma conta é considerada uma transação financeira. Emum sistema transparente é importante que cada transaçãoseja possível de ser rastreada, incluindo quem a realizou,IP de acesso, horário e data, para mais do quesimplesmente reverter entender e tirar qualquer possíveldúvida.

As transações financeiras dentro do modelo propostopodem ser de três tipos: Pagamento direto, doações entreusuári@s e débito automático de contas. A diferença entreos tipos é como a operação de débito/crédito acontece equem é o causador da ação. Este tipo de modelo é decrédito comunitário que permite que todos os membrosoperem a moeda social e tenham acesso a todas as

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transações realizadas na moeda social que el@ opera eparticipa. Em operações de pagamento quem realiza opagamento é quem vai passar o valor para outra pessoa.Para completar a operação é preciso uma conta destino,uma atividade/motivo do pagamento e o valor que serápago. A doação é semelhante a anterior mas não existenecessidade de associar uma tarefa ou motivação, o valoré simplesmente compartilhado de paraoutr@ do grupo. A última é a de débito automático quepode ser realizada com consentimento d@ participante epermite que determinados pagamentos que o mesmoassumiu com terceiros possam ser debitados de sua contaem seus respectivos prazos de pagamento. Cadaoperação destas deve ser tratada de maneiraindependente o que permite corrigir erros sem impactarem contas e saldos de terceiros.

Em um modelo de gestão colaborativa de uma moedasocial é fundamental a transparência entre todos @senvolvid@s e garantia de que o elo que os une é o daconfiança mútua e evitar que a falta de comunicação eacesso a informações contamine o crédito de umprocesso econômico local. Neste sentido a proposta detransparência máxima proporciona ao grupo apossiblidade de saber o saldo em crédito solidário dequalquer participante, bem como o extrato de transaçõesde qualquer membro, de forma a entender como aqueleusuário constituiu determinado saldo em sua conta. Outraquestão importante é o extrato geral da moeda, querecupera todas as transações financeiras feitas em moedasocial por um determinado grupo econômico.

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Dentro de um processo de economia solidária é muitoimportante evitar acúmulo de capital por um grandeperíodo de tempo. Isso pode manter a moeda sem circulare fazer com que o banco precise colocar mais moeda emcirculação para estimular as trocas e circulação deprodutos locais. A solução para evitar o acúmulo éestabelecer um limite máximo de acúmulo de crédito para

do processo econômico. Esta mesma lógicapode ser aplicada na questão do endividamento, evitandoque alguém extrapole um limite possível de ser revertido.Outra solução é pensar em uma depreciação do valoracumulado, por exemplo se a cada três meses que umcrédito completar sem movimentação financeira o mesmose deprecia, o que motiva as pessoas a manter aeconomia circulando. Na plataforma CORAIS não existemferramentas para depreciação temporal de um créditosocial, a hora e data das transaçõesfinanceiras é registrad e público, o que permite aimplementação deste tipo de gatilho ou a operaçãomanual deste tipo de depreciação pela equipe de gestãodo banco comunitário. Em relação aos limites de máximoe mínimo o CORAIS permite estabelecer este tipo delimite para os membros do projeto e o sistema analisa osaldo do membro e estes limites antes de executartransações de pagamento, doação ou débito automático.

A capacidade de oferecer produtos a quem não podepagar imediatamente em moeda social é que possibilita a

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inclusão social de diversas pessoas da comunidade emum processo econômico local. O crédito e oendividamento local entretanto deve ser monitorado pelagestão colaborativa da moeda e tentar evitar ter umnúmero significativo de participantes endividad@s oubloquead@s de realizar transações financeiras porqueatingiram o limite mínimo estabelecido. O funcionamentodo crédito em um banco comunitário é assim como osdemais pontos detalhados uma questão de modelo eprecisa garantir que o total de moeda em circulação nãoatinge um valor superior ao lastro coletivo cadastrado. Emum modelo de gestão colaborativa de uma moeda socialtodos podem emprestar para todos, ou até mesmo doarcréditos sem necessariamente ter necessidade de retorno.Para isso basta realizar uma operação financeira nestesentido. Quem deseja um empréstimo do bancocomunitário pode obter o mesmo ao consumir produtos eserviços da rede, respeitando o seu nível máximo pessoalde endividamento. Após atingir este nível não é maispossível realizar operações até que a situação de créditoseja regularizada.

[1]http://pt.wikipedia.org/wiki/Cart%C3%A3o_de_cr%C3%A9dito)[2]http://www.corais.org/sites/default/files/moedapropositoregra_0.jpg[3] http://www.corais.org/sites/default/files/limitessaldo.jpg[4] http://www.corais.org/sites/default/files/fraction.jpg

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[5]http://www.corais.org/sites/default/files/tipotransacaopermitida_0.jpg[6]http://www.corais.org/sites/default/files/contauserbanco_0.jpg[7] http://www.corais.org/conchativa/node/76663[8] http://www.corais.org/conchativa/node/76660[9] http://redemoinho.coop.br/)[10] http://redemoinho.coop.br/)

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A autogestão ou cogestão é o modelo de gestão dotrabalho colaborativo. Se as pessoas estão trabalhandojuntas, com objetivos alinhados, com um senso de comume responsabilidade, não há a necessidade de concentrar agestão nas mãos de uma pessoa só. Autogestão significaque todos participam da gestão ao mesmo tempo em quetodos gerem a si próprios.

O modelo de gestão centralizado, baseado na figura d@líder que representa um grupo, não favorece odesenvolvimento da autogestão. Cada pessoa precisa serordenada e organizada com as demais pel@ líder, que setorna o começo, meio e fim de cada projeto. Todosesperam por aquel@ para começar, executar e finalizaralgo. Mesmo que seja carismático e consiga administraras expectativas de todos, será sempre um ponto frágil naorganização. Caso se torne ausente por algum motivo, ogrupo pode não conseguir mais se organizar pela falta deuma personalidade substituta.

Além da fragilidade, a gestão centralizada pode implicarnuma competição pela posição de liderança, o que mina otrabalho colaborativo. A motivação pelo trabalho se desviado resultado do trabalho para o meio de trabalhar, ou seja,a pessoa passa a agir para obter a posição central. Acolaboração eventual que acontece nesse tipo de gestãopode esconder uma competição por posições.

Numa grande organização, existem vários centros, umdentro de outro, seguindo uma lógica de hierarquia. A

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hierarquia aliena as pessoas do fim pelo qual trabalham,transformando suas motivações em coisas a seremgeridas pelos líderes. A oferta mais comum é apossibilidade de "subir na vida" pela ocupação de umaposição de gestão e aumento salarial, porém, estasposições são escassas. A forma de organizaçãohierárquica justifica que nem todos possam ter umaposição confortável e instiga a competição entre aspessoas.

A hierarquia arranca o poder que cada pessoa tem defazer algo e concentra nas mãos de poucos querepresentam os demais. O risco de corrupção e abuso depoder é muito grande, já que a motivação por agir é acompetição. Além disso, frequentemente @ líder realizaatos que não representam @s pessoas liderad@s, que serevoltam e se recusam a seguir ordens. O modelohierárquico parece robusto, mas é na verdade muito frágil.

Além da hierarquia existem outras formas de organização.A heterarquia é a organização horizontal, de entidadesdiferenciadas que colaboram entre si, formando uma rededescentralizada. Ainda mais radical é a anarquia, querejeita a dinâmica de centralização-descentralização eafirma a autonomia de cada pessoa para agir.

A autogestão é um modelo de gestão típico da heterarquiae uma possibilidade para a anarquia. O prefixo autoimplica que todos têm autonomia, autoridade e liberdadeem suas ações. Isso não significa que as pessoas devemagir apenas para seus próprios interesses egoístas. Pelocontrário, a proposta é justamente que as pessoas ajampelo interesse coletivo, do comum pois não estão sendo

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forçadas a isso.

A autogestão permite que a colaboração aconteça deverdade, pois parte da escolha consciente de compartilharsua liberdade com um grupo de pessoas. Essecompartilhamento implica em assumir certasresponsabilidades, como por exemplo, fazer a sua parte ecuidar para que os demais não abusem do comum.

Direitos e deveres são essenciais para a autogestão. Elesdevem ser discutidos, modificados, lembrados eguardados em algum lugar público, para que todospossam se referir a eles. Autogestão não significadesordem, pelo contrário, significa que todos contribuempara a ordem, sem privilégios. É claro que isso significaque haverá diversos tipos de ordens em vigor, que devemser respeitadas e articuladas para coexistirem.

Uma maneira comum de organizar o trabalho baseado naautogestão é a formação de grupos de trabalho. Aspessoas são organizadas em grupos, por interessescomuns, com um responsável - que não é chefe, mas quefacilita a organização do grupo. Nessa forma deorganização não existe um grupo central a que os demaisprecisam se reportar ou acatar, na verdade, todos osgrupos estão no centro. (ex:http://corais.org/recifemaisart/node/52984) [1]

Para evitar a demagogia - dizer que todos estão no centro,enquanto apenas uns poucos estão, é importante que hajatransparência de todos os processos de gestão,propriedade compartilhada e coautoria. Esses são ospilares que vão permitir a emergência de um comum, que

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será o centro da organização. Para chegar nesse grau desintonia, é preciso primeiro compreender as diferentesexpectativas e alinhar os objetivos que cada pessoa temdentro do coletivo.

Uma vez que o grupo começa as suas atividades, surgemexpectativas sobre o alcance desses objetivos e sobre olugar de cada pessoa dentro da organização. Com odecorrer do tempo, novos objetivos serão traçados semque, necessariamente, estejam vinculados as expectativasde todos @s membros do grupo. Isso pode causar rachasna organização, caso não haja reflexão constante sobreos objetivos e expectativas dentro do grupo. Adotandoesta prática, diminui-se a frustração de alguns quepossam, porventura, estar insatisfeitos com os rumostomados pelo grupo.

Mesmo com essa prática, nenhum grupo está imune de,ainda assim, ocorrer frustrações pontuais, sobretudoquando determinados grupos ou atores individuais dentrodas organizações não são contemplados ou são "votovencido" na maioria das decisões. Neste caso, é precisopensar em que canais as pessoas ou minorias podemdemonstrar sua insatisfação e o que os demais podemfazer para que os insatisfeitos fiquem mais confortáveis nogrupo ou até se mantenham no grupo.

Uma das proposições seria abrir o espaço nas reuniõespresenciais, para que se faça objeções ou não sobre

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determinadas decisões. Para que haja real expressãodesta insatisfação é preciso que o tópico da avaliação dosobjetivos e expectativas seja constantes e que se use oscanais de interação presenciais ou virtuais que o grupoutiliza para tal.

Uma vez que os objetivos estão alinhados, surge algo queé cultivado, protegido, desenvolvido em comum, por todos@s envolvid@s. Isso pode acontecer durante umaquestão familiar, atividade escolar, reuniões decondomínio ou quando decidimos empreender junto comcolegas. Se as pessoas estão decidindo sobre algo éporque têm algo em comum. Quando a decisão impactauma ou mais pessoas é porque a mesma é algo que nosune é de certa forma uma questão coletiva, do comumcom impactos coletivos.

Como tomar decisões sem que alguém se sinta excluído?Muitas vezes, não é possível reunir todas as pessoas paraa tomada das decisões. Isso pode tornar o processo muitolento e burocrático. Por outro lado, se alguém sai tomandotodas as decisões sem consultar os demais, acabavirando de uma pessoa só. Esse é o dilema datomada de decisão.

Quando decidimos sobre algo é porque de certa formatemos propriedade sobre determinada questão. Este nívelde pertencimento a algo determina um certo direito sobrealgo, um direito adquirido sobre algum tipo de relação como objeto em questão. Decidir sobre algo geraria assimtambém algum tipo de dever? Se a decisão tem impactos

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positivos e negativos, seria de quem decidiu os louros eméritos ou o prejuízo e as consequências dos seus atos?

Quem cala consente? Qual o peso do não decidir? Vale apena chorar pelo leite derramado? Quando nos omitimosde um processo decisivo é porque tínhamos direito sobrealgo mas declaramos não ter interesse naquilo, ou por quenão temos conhecimento de causa e por isso delegamosessa decisão a outra(s) pessoa(s) mais experiente(s)?

E o que seria uma decisão? É simplesmente uma escolhaentre opções? Escolher dentre opções satisfaz o desejode participação de quem não participou da construção daopção? Os princípios democráticos são uma referênciaclássica, porém, sua aplicação prática no trabalho não éóbvia. Por trás de uma decisão dita democrática podehaver manipulação ou até mesmo violência velada. E sepor acaso alguém é contra uma decisão majoritária? Temque aceitar? Ou o grupo volta atrás e constrói uma opçãonunca antes considerada?

Estas são questões fundamentais para o trabalhocolaborativo que carecem de uma melhor explanação.Mais do que isso, esses tópicos devem ser debatidosexplicitamente pelas pessoas envolvidas, do contrário,podem acumular-se conflitos.

Do ponto de vista do grupo, deve-se refletir e identificar oque é um problema inerente ao processo de tomada dedecisões que o grupo está adotando em si ou se a parteinsatisfeita, por algum motivo, em algum momento doprocesso, acabou perdendo a identidade com o grupo.Esta é uma linha tênue, que levará o grupo aprimorar o

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seus métodos de avaliação dos processos internos.

Partindo da premissa que nem sempre a votação é oinstrumento mais adequado nos processos de tomada dedecisão, os comentários, possíveis de serem feitos emvárias destas ferramentas são bastante úteis e é comumque eles acabem por estimular decisões consensuais, porexemplo. O que reforça o argumento de que as decisõesnem sempre precisam ser hierarquizadas, nem sempreprecisam ser decididas por processo de votação. Nesteponto voltamos a necessidade de fazer a avaliaçãocontínua dos processos, objetivos e expectativas, paraque tenhamos uma melhor noção de qual metodologiaaplicar para uma tomada de decisão que contemple maisotimamente a@s colaboradores e sobretudo garanta afluência das ações do grupo.

Podemos concluir por ora, que o processo de avaliaçãodos objetivos e expectativas deve ser aprimoradocotidianamente dentro do coletivo, para que se diminua aincidência de casos de frustração e para que aoocorrerem esses casos, se esteja a par do processo paraque se possa identificar se é um problema do próprioprocesso de tomada de decisão do grupo ou da pessoainsatisfeita, que acabou perdendo a identidade com ocoletivo. Esta avaliação parece ser inerente a todas asorganizações, entretanto, ainda há grupos que focammuito os fins (as ações a serem realizadas) enegligenciam os processos cotidianos. No processo detomada de decisão, sobretudo os colaborativos, é precisofazer a avaliação constante dos objetivos e expectativas, afim de otimizar a interação e manter todos motivados aparticipar.

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Os processos de autogestão podem ser potencializadosatravés de metodologias que propiciam a tomada dedecisão coletiva e uma melhor gestão de recursos

pelo grupo. Entre as técnicas destacam-se asdinâmicas envolvendo a organização do esforço coletivo,organização de canais de comunicação informativos edeliberativos para que seja possível um melhor trabalhoem grupo.

Para circular as informações no coletivo e se deliberarsobre assuntos do , são organizadas reuniõesinternas do coletivo. Estes momentos são fundamentaispara que todos possam praticar sua liberdade de voz etomada de decisão que reafirmam o seu pertencimento aum determinado grupo. Em atividades de reunião coletivatambém são avaliadas ações anteriores e atividadesrealizadas pelos grupos de trabalho. Este momento étambém um processo de aprendizado onde o grupo temcomo aprender com erros anteriores e repensar oplanejamento das próximas ações visando otimizar seusrecursos.

Os encaminhamentos são então organizados em gruposde trabalho que focalizam estas atividades com prazosestabelecidos coletivamente. Este processo é definidocomo Planejamento do Grupo e visa garantir asincronização dos próximos passos. Após o acordocoletivo destas ações é fundamental também estabelecer

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bons canais de comunicação entre participantes visandoevitar gasto de tempo e energia por eventualidadescotidianas.

Através das reuniões coletivas se estabelecem asdemandas do grupo que devem ser categorizadas porprioridade e estabelecidos prazos que possibilitem aexecução destas ações pelos grupos de trabalho oucélulas focalizadoras. Estas células podem serorganizadas baseadas em diferentes critérios como:localização geográfica, interesse vocacional,disponibilidade em aprendizado. A escolha equilibradadestes critérios pode ser fundamental para um bomfuncionamento da célula, pois cada subgrupo precisaráser ainda mais coeso na comunicação e na capacidade detrabalhar juntos, uma vez que as responsabilidadesassumidas junto ao grupo maior estarão inteiramente sobresponsabilidade de cada célula e a falta de compromissopode comprometer ações estratégicas do coletivo.

Uma dinâmica importante estabelecida é garantir reuniõessemanais dos grupos de trabalho, sendo que o quantomais estas células tiverem condições de trabalharcotidianamente melhor para o funcionamento doorganismo como um todo. O grupo de trabalho podenestas reuniões planejar e avaliar as atividades sob suaresponsabilidade e também organizar informativos aosdemais participantes do coletivo sobre contratempos, boasnotícias ou necessidade de ampliação do prazo solicitado.

Tod@s integrantes devem ter autonomia para analisar oque estão fazendo ou de acompanhar tarefas de outras

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pessoas e sugerir novidades ao grupo. Para alcançar esteclima de confiança é preciso criar um ambiente propício ainovação e onde @s se motivem a incluirsuas ideias e colaborar em ideias já existentes. O desafiomaior é conseguir enxergar a visão global do coletivo eevitar sobrecarregar o grupo com mais inovações queonerem mais do que otimizem o funcionamento da atualestrutura. Uma das técnicas é a de crise e oportunidade,onde se analisam as demandas críticas do coletivo e seestimula a inovação nestas ações.

Nesse sentido, a possibilidade de receber uma inovaçãodurante uma etapa qualquer do processo produtivo poralgum integrante do seu grupo de trabalho ou de fora domesmo. Por isso um comentário propositivo pode sempreajudar para que o resultado fique mais redondo. Ou sejaem qualquer processo de autogestão é muito importanteestimular o comentário construtivo dentro de um processode trabalho colaborativo. Uma das maneiras de facilitareste processo é garantir no grupo a liberdade a acesso asinformações e a possibilidade de observar e/ou participarde tarefas através do apoio com informações,experiências, técnicas auxiliares ou no desenvolvimentode novas tecnologias.

Este modelo expõe para s participantes todas asinformações inerentes ao funcionamento do seu coletivo.Qualquer participante que coloque a credibilidade oumotivações do que estiver em andamento, seja capaz derealizar isso baseado em alguma evidência e não apenaspor suspeita e necessidade de quebra de sigilo deinformação. Não existiria necessidade de solicitarinformações em um modelo que as coloca acessível o que

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estão acontecendo na comunidade em torno do projeto,possibilitando a interatividade e a participação nastomadas de decisão.

O avanço das tecnologias da informação e apopularização das redes de dados como apermitem implementar novos modelos de gestão coletiva.Em locais onde a rede está disponível é possível atravésde sistemas livres de cultura digital utilizar as ferramentasque possibilitam divisão de tarefas, organização dereuniões virtuais, acervo de informações do grupo,questionários e calendário coletivo, produzir enquetes,comentar, catalogar e buscar nesta base de dados.

A plataforma Corais dispõe de algumas ferramentas quepossibilitam a efetivação dos canais de acompanhamentodo coletivo, bem como os de participação de quaisquerpessoa, o que contribui para o processo de tomada dedecisões. As Ferramentas , arquivo, tarefas, etapas,reunião, mapas mentais, planilha, calendário, sãobastante úteis no que diz respeito ao acompanhamento docotidiano do grupo, ficando todos assim cientes dosprocessos. Já do ponto de vista da colaboração comproposições, sugestões, participação que podemcontribuir para as tomadas de decisão, as ferramentasvotação, sugestão e texto colaborativo podem serbastante eficazes.

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Através da plataforma CORAIS é possível realizarreuniões virtuais utilizando uma ou mais ferramentascolaborativas. Uma das ferramentas é o , quepossibilita a reunião em tempo real via mensagens detexto entre duas pessoas diretamente ou de váriaspessoas através da sala pública.

Outro instrumento importante para apoiar reuniões virtuaisé o texto colaborativo, que oferece um lateral restritoapenas aos participantes da reunião e também ofereceum espaço para escrita coletiva de um texto que pode serutilizado para armazenar a ata da reunião ou osresultados produzidos durante o encontro de trabalho.

Uma opção avançada, disponível apenas sob demanda éa videoconferência, que permite a transmissão de áudio evídeo simultâneo para até 12 pessoas. Para ativar oserviço é preciso postar uma tarefa na comunidadeMetaDesign solicitanto o agendamento com até 72 horasde antecedência.

Um tipo de informação importante para processosautogestionários são as relações de atividades e reuniõesdo coletivo. O quanto mais acessível for esta informaçãomais participação dos membros terá o grupo. Através doCORAIS é possível gerenciar um calendário coletivo dogrupo e criar eventos com mais de um dia ou que serepetem periodicamente.

Um ponto importante em processos de autogestão são os

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momentos de tomada de decisão coletiva. Isso podeacontecer dentro de reuniões presenciais ou virtuais,assim como a falta de um consenso pode ocasionardebates intermináveis. Neste sentido através daplataforma CORAIS é possível criar votações com prazodeterminado ou aberto e com votação transparente. Apessoa/usuári@ que vota pode antes da votação estarencerrada cancelar seu voto a qualquer momento oualterar uma votação inicial. A opção de comentários podeser habilitada o que permite um debate sobre a votação,as opções disponíveis e novas possibilidades de voto.

Através do CORAIS é possível criar Etapas e Tarefas quepodem ser atribuídas a diferentes participantesresponsáveis. Ao criar uma tarefa o sistemaautomaticamente marca @ como moderador eresponsável mas o mesmo pode desmarcar a si mesmoe/ou marcar outras pessoas. Outros campos importantessão a data (ou período) em que a tarefa será executada,uma descrição da tarefa e a recompensa em moeda social(quando houver) que determinada tarefa quando realizadalocalmente.A diferença de Tarefa para Etapa, é que uma etapa écomposta de uma ou mais tarefas, o que permiteorganizar tarefas dentro de etapas. Uma etapa podeconter também uma ou mais etapas. O que possibilita aorganização de ações (Etapas) em grupos de trabalho(etapas) com suas respectivas atividades (tarefas).

Em processos de inscrição, consulta ou avaliativos aescrita de formulários e questionários opinativos pode ser

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muito útil. Além da construção lógica, diagramação eimpressão, este tipo de metodologia dependia ainda deum tempo para consolidar os resultados, tabulando eanalisando as informações preenchidas. Através daferramenta de questionários é possível criar Formulárioseletrônicos com perguntas objetivas ou descritivas ereceber estas informações tabeladas e em formato digitalde planilha eletrônica. A ferramenta de questionário docorais aceita diferentes tipos de entrada como caixas deseleção, opções de marcar, campos abertos, data, email,números e possibilita ainda quebra de página ouagrupamento de perguntas. Você pode configurar um oumais para serem notificados de novos cadastros.Para isso é preciso configurar esta opção informando oendereço do email e que informações do formulário desejareceber a cada cadastro. O sistema permite ainda aconfiguração de um de sucesso para ser exibido acada usuário que finalizar seu questionário.

As informações produzidas num projeto utilizandodiversas ferramentas podem ser agrupadas e organizadaspor grupos de trabalho utilizando a ferramenta detaxonomia.Ao clicar em Configurações > Navegação por Taxonomia,pode-se criar um vocabulário para grupos de trabalho edentro deste criar um termo para cada grupo de trabalho.Conforme os forem etiquetados por estes termos,eles aparecem no menu Navegar. A partir daí, estarãoorganizados por vocabulários e termos, todos osprocessos relativos ao projeto, facilitando consultasfuturas, criando banco de dados e catalogando as açõespermitindo a otimização da organização do grupo,

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podendo os membros num dado momento ir direto aotema o qual está diretamente ligado. Esta ferramenta,facilita a autogestão do projeto em si, por ter um arquivoorganizado e a autogestão de cada membro que podenavegar conforme suas necessidades e interesses.

O uso da plataforma Corais foi fundamental para arealização do evento de conclusão do curso de GestãoColaborativa e Produção Cultural Comunitária, realizadona Conha Acústica da UFPE, promovido pela produtoraColaborativa.pe. O nome do evento foi decidido através daferramenta de votaçãohttp://www.corais.org/conchativa/poll [2]. A votação foibastante acirrada, ela inicialmente continha as primeiras 4opções que pode ser conferida no . Através dasdiscussões em sala de aula, ficou decidida a criação deoutra opção, que sintetizava de certa forma o conceito detodas as opções anteriores. Portanto, o uso da ferramentafoi importante, mas a tomada de decisão não foi feita

baseada no resultado da votação, a votação nocaso desencadeou um processo que amadureceu oprocesso de decisão.

Outra ferramenta importante foi a das tarefas. Asprincipais tarefas foram para com o objetivo de fazer ocontato com os debatedores e definir as funções dos

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alunos do curso no dia do eventohttp://www.corais.org/conchativa/node/79611 [3]. Em salade aula, foi colocado que naturalmente estas funções nãoseriam estáticas, nem que uma pessoa designada parauma função fosse impedida de ajudar ou mesmo cobriruma eventual ausência no dia previsto para o evento. Astarefas foram cumpridas de maneira eficaz, a ponto de odebate não só ter sido formatado com dois dias deantecedência, bem como ter rendido de maneirasatisfatória no dia do evento, com a participação efetiva damediação, dos realizadores do filme e do públicopresente. A cobertura fotográfica também foi satisfatória,com os encarregados de fotografar postando as fotos nopróprio corais após o evento.

A experiência com também foi emblemática, poiso material de divulgação e o certificado para asdebatedoras (realizadoras do filme) foi emitido pela alunaÍris Regina, que na maior parte do tempo trabalhou ,tendo ido presencialmente há duas aulas, masparticipando efetivamente pela , com sugestõesde alguns presentes na concha e outros tambémparticipando . Deste processo foram feitos o cartazde divulgação, um cartaz de chamada para a exposiçãofotográfica e o certificado para os debatedores.

O evento foi organizado em 15 dias e apesar de ter sidoum exercício de conclusão de curso, se mostrou umevento digno da ocupação da concha acústica da UFPEpromovida pela produtora Colaborativa.pe e demaiscoletivos, pontos de cultura, telecentros e agentesculturais em rede. Um público estimado entre 100 e 120pessoas circularam pela concha neste dia e prestigiaram o

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evento.

O relato de todos os dias do curso também foi feito pelocoletivo Tear Audiovisual, como continuidade da políticado coletivo de compartilhar todos os cursos de formaçãofeito pelo coletivo no Corais. Esta política é adotada paraque os membros que não possam estar presencialmenteou diariamente nos cursos, acompanhem oprocesso e de certa forma se apropriem daqueleconhecimento, mesmo não estando matriculadosindividualmente As formações do Tear são sempreacompanhadas e de alguma maneira absorvidas portodos. Esta espécie de diário foi feita através daferramenta e pode ser acompanhada mais facilmenteatravés da taxinomia no caminho Tear Audiovisual >Navegar > Formação > Curso de Gestão Colaborativa eProdução Comunitáriahttp://www.corais.org/tear/taxonomy/term/342 [4]. O quedenota a eficiência da taxinomia para facilitar o acessonão só dos membros do coletivo, como de todos os quenavegam pelo Corais em ter um relato diário dasatividades do curso, oportunizando a apropriação doconhecimento.

[1] http://corais.org/recifemaisart/node/52984)[2] http://www.corais.org/conchativa/poll[3] http://www.corais.org/conchativa/node/79611[4] http://www.corais.org/tear/taxonomy/term/342

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Este é um livro sobre colaboração. Para o trabalhocolaborativo acontecer, é necessário mais do que umametodologia de como trabalhar em conjunto.

, uma vontade muito grandede fazer as coisas junto, pois quando essa atitude écompartilhada, cada esforço é significativo à partesinteressadas, retroalimentando a colaboração. Este livro éum produto da atitude de uma comunidade escrevendosobre a suas experiências e conhecimentos, utilizando osrecursos sociais disponíveis (pessoas, tempo,infraestruturas, dinheiro), para projetar um novo recurso(um livro aberto) em benefício comum a toda coletividade.

Na sociedadeda informação a dinâmica colaborativa permeia emovimenta o próprio capital, e corre-se o risco de misturaralhos com bugalhos se não for compreendido o que sequer dizer com o termo "trabalho colaborativo". Muitasempresas, por exemplo, falam em trabalho colaborativopara explorar os trabalhadores e trabalhadoras, pois nãovisa produzir um bem comum a todos - o colaborarapenas em benefício de alguns. Atualmente, ser umcolaborador@ de uma empresa muitas vezes é ser umtrabalhador@ precarizado, que vende sua força detrabalho como qualquer outra mercadoria, ajudando acolaborar com algo que não o beneficia. É certo que, porvezes, este colaborador@ tem "benefícios" como podetrabalhar em casa, tem mais flexibilidade de horários euma certa sensação de liberdade e autonomia que muitasvezes oculta os direitos perdidos, os riscos e inseguranças

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decorrentes disso: a previdência indo pro ralo, a cessãodos direitos autorais a empresa, a incerteza dacontinuidade do trabalho no próximo mês (trabalhotemporário) e a sensação de que nunca se para detrabalha e de que todos os momentos da sua vida sãopara o trabalho, pois nunca se para de 'colaborar' com aempresa. Colabora-se com a empresa, e o fruto desseesforço de colaboração fica com a empresa, não se tornaum bem comum.

No que mais trabalho colaborativo típico da economiasolidária distingue-se do trabalho colaborativo que serveas grandes corporações?

Pensemos na autogestão, quetem a tomada de decisões coletivas como premissa. Seráque todo trabalho colaborativo parte disso?

É importante considerar a ilusão de colaboração quando éfeita em um ambiente corporativo. Hoje em dia, porexemplo, há corporações que se utilizam dos seusclientes e usuários, sob a falsa ideia de uma colaboraçãono trabalho. Em verdade, estes são utilizados como meiopara a redução de custos de , o chamado

. Esse tipo de ilusão utiliza ferramentas decódigo fechado, ao invés de software livre, nãocompartilha os resultados com o público, as ideias nãoaproveitadas são perdidas e a criação é centrada nobenefício da empresa ao invés do bem comum.

É preciso focalizar nos diferenciais do trabalhocolaborativo. Seria a tomada de decisão coletiva um

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desses diferenciais? Quer-se pensar que sim! Mas éimportante qualificar melhor o que se quer dizer portomada de decisão coletiva. Quantas pessoasparticipando da tomada de decisão a torna coletiva?Quem tem mais 'voz' do que os demais, e porquê?Alguém pode dar a 'última palavra'? O conjunto daspessoas envolvidas com o empreendimento, ação, projetoou iniciativa é que torna esse processo legítimamentecoletivo.

Se o coletivo que toma decisão possui hierarquias epoderes diferenciados entre @s integrantes, a tomada dedecisão - mesmo envolvendo todas as pessoas dogrupo/ação, é coletiva? Contextos assimétricos, desiguaise hierarquizados minam e corrompem a base de qualquertomada de decisão coletiva. Para que a tomada dedecisões seja efetivamente coletiva, é preciso reunir oconjunto das pessoas envolvidas e afetadas pela questãode forma simétrica e com igualdade de condições.

O que a comunidade ganha com um modelo colaborativode produção? Qual a contribuição disso na vida de quemtrabalha? Quais os limites entre consumidor, produtor ecolaborador? Por que corporações adotariam estesmodelos? Como projetos colaborativos podem estimular eajudar novos empreendedores?

A resposta está na cocriação e cultivo de bens comuns.Todo trabalho visa a criação de algo, porém, o trabalhocolaborativo visa a criação de algo compartilhado, um bemcomum. A partir dessa noção, várias questões precisamser pensadas.

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Cocriação remete diretamente à questão da autoria.Identificar os autores individualmente é algo que vemsendo cultivado historicamente no campo das artes, daeducação e das patentes, conferindo prestígio, retornofinanceiro e status aos autores. Contudo, ao longo devários anos, muitas obras e projetos são de autoriacoletiva, ofuscados pela necessidade de competir e defazer melhor que o outro que a ambição por statusestimula.

Nos tempos atuais em que as distâncias físicas sãorelativizadas pela internet e que o conhecimento épropagado através de tutoriais, redes sociais e chats deinternet, em que as ferramentas são apropriadas porvárias pessoas com diferentes objetivos e o sample, arepaginação e a bricolagem são práticas cada vez maisusuais, o conceito de autoria se ressignifica. Onde antes afigura do "gênio" com capacidade individual era cultuada,com o passar do tempo a capacidade de contrubuir para otodo e de agir coletivamente é que agrega valor aoartesão, ao programador, ao agricultor. Até porque, osatores se apropriam de vários processos ao mesmotempo. O artista de fotografia por exemplo, não é apenasaquele que registra uma imagem. O fotográfo dos temposatuais é multimídia, capta a imagem, edita, lança nainternet, faz a curadoria das prórpias exposições.

Neste contexto, aquele que produz isoladamente,buscando uma aura de gênio tende a sucumbir nomercado, ao invés de viver da sua arte assumindo váriastarefas e se apropriando de várias ferramentas, tende aficar na rotina de trabalhar numa área que não é a sua efica sendo "gênio" pra seus amigos e familiares, porém,

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carregando a frustração de não utilizar sua arte para osustento próprio.

Compartilhar o momento de criação pode ser prazeroso ebastante enriquecedor, perceber a obra ao lado de outrapessoa é absorver uma outra concepção sobre a criaçãoque está surgindo. Trabalhar coletivamente é dividir oconhecimento com o outro, num processo de mútuoenriquecimento, em que falar e pensar coletivamenteacaba se tornanco uma prática de agir éticamente pelobem comum e se fortalecer para compartilhar matérias-primas, recursos, insumos e poder tranformar realidadeslocais dando exemplos para cidadãos de todas as partesde que é possível promover agudas transformações emqualquer localidade, naquela lógica do "agir localmente epensar globalmente", que estímula uma cadeia de atitudespro-ativas, autogestionárias e redentoras.

Escrever este livro foi uma experiência de conectar aspessoas, trocar conhecimentos, colocar as palavras nopapel e organizar a mente. Muitas das ideias aquidescritas já estavam sendo aplicadas em prática pormuitos anos, porém, não estavam escritas em lugaralgum. O livro representa uma tentativa de compartilharessa experiência rica, tão difícil de colocar em palavras.

O processo de escrita do livro foi bastante caótico edeixou várias incertezas. Nenhum dos colaboradores se

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sentia capaz de escrever livro de tamanha ousadiasozinho. Imagine, construir uma alternativa de trabalhodentro de um sistema financeiro e político que favorece acompetição? Aos poucos, o texto foi ganhando corpopelas contribuições pontuais, esporádicas e inconstantes.Quando uma pessoa ficava bloqueada, a outracontinuava. O plano de escrita era vago e não deixavaclaro onde se queria chegar. Havia muitas possibilidades.Os tópicos que sobreviveram e foram desenvolvidos nolivro cá estão pois despertaram interesse para váriaspessoas. A colaboração funcionou de certa forma comoum filtro de relevância.

Escrever não faz sentido sem ler. Ler não faz sentido semagir. Este guia não teve um começo nem um fim. Trata-sede um convite para continuar. Continuar a ler, escrever eagir.

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Se você colaborou com o livro de alguma forma, coloqueseu minicurrículo aqui, no formato de um parágrafo, de 2 a4 linhas.

Leo Guedes

Luana Vilutis

Sandro

Ana Laura Gomes

Julio Carraro

Frederick van AmstelFrederick van Amstel é editor do Usabilidoido ecoordenador da Plataforma Corais. Bacharel emcomunicação (UFPR) e mestre em tecnologia (UTFPR),atualmente vive na Holanda, onde realiza pesquisa dedoutorado sobre participativo (Universidade deTwente). Frederick foi jurado dos concursos IF

e Peixe Grande. Prestou consultoria emde Interação para empresas como Electrolux, InfoGlobo,Magazine Luiza, Tramontina e Duty Free Dufry.Atualmente integra o Instuto Ambiente em Movimento queé responsável pela manutenção da plataforma CORAIS.

Pedro Henrique Jatobá

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Mestrando em Gestão Social e Desenvolvimento deTerritórios pela Escola de Administração da UFBA.Bacharel em Ciência da Computação pela UniversidadeCatólica de Pernambuco (UNICAP). Diretor de açõesculturais do Instituto Intercidadania e Coordenador deFormação e Articulação do Pontão de Cultura DigitaliTEIA. Em 2009 foi bolsista do CNPq na ação CulturaDigital do Ministério da Cultura. Recebeu em 2010 oprêmio Tuxáua Cultura Viva pelo fomento da tecnologiasocial da Produtora Cultural Colaborativa na rede nacionalde Pontos de Cultura. Desde 2010 integra a coordenaçãoda Produtora Colabor@tiva PE em Recife. É cooperado daE.I.T.A. (Educação, Informação e Tecnologia paraAutogestão) onde desenvolve também atividadesenvolvendo economia solidária e cultura digital.

Carlos Eduardo Falcão LunaCarlos Eduardo Falcão Luna é bacharel em CiênciasSociais pela UFRPE (Universidade Federal Rural dePernambuco) e desempenha as atividades de articulação,comunicação, produção cultural e gestão de projetos nocoletivo Tear Audiovisual. Desempenha tambématividades ligadas ao movimento #ConchaAtiva junto aProdutora Colaborativa.pe e demais coletivos, telecentros,pontos de cultura, TV`s e Rádios Comunitárias inseridasna rede. Prestou serviços de pesquisa social para a IgrejaPresbiteriana do Pina (Recife/PE) e Noar Linhas Aéreas.Participou o grupo de pesquisa em economia solidária naUFRPE, foi monitor no projeto de extensão Arte eLinguagem na Zona da Mata Sul de Pernambuco e éextensionsta da Ciranda Filosófica, projeto ligado a pós-graduação em direitos humanos da UFPE.

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Isaac Fernando Ferreira FilhoIsaac "yzak" Filho é licenciado em Ciências Sociais(UFPE) e pesquisador independente em tecnologiaslivres. Atualmente é técnico em inclusão digital no Centrode Recondicionamento de Computadores do Recifetrabalhando com telecentros comunitários e conteúdos deformação em tecnologias livres. É idealizador do ColetivoMarista de Tecnologias Livres. É colaborador da rede PELivre, rede MetaReciclagem, coletivo TearAudiovisual eOxe HackLab. Ministra oficinas sobre tecnologias livres,metareciclagem e desconstrução de tecnologia.

Paula Ugalde (dos Santos) é Pedagoga (UNIJUI) e cursouespecialização em EaD (SENAC). É Aututora e estádiretora do Telecentro Info.com, de Santa Bárbara do Sul,RS, Brasil, onde coordena e desenvolve projetos decoaprendizagem aberta, voltados a Inclusão digital e aoLetramento Midiático e Informacional. É membro do GrupoColearners21, da Comunidade Internacional de PesquisaCoLearn OU-UK, e - recentemente, passou a integrar oGrupo ABED ABERTA. Participa da Corais.or desde 2012.É membro da Comunidade REA Brasil e atua naCampanha #MarcoCivilJá. Ciberativista pela inclusãodigital, democratização do conhecimento e cultura einternet como direito. about.me/paulaugalde/

Larissa Carreira é graduada em Comunicação Social -publicidade e propaganda (UFPA), mestranda deDesenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido(NAEA/UFPA), pesquisadora da Incubadora de PolíticasPúblicas da Amazônia (IPPA/UFPA) e coordenadora daProdutora Colaborativa (PA). Atua na área decomunicação comunitária, livre e cultura digital,

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através de pesquisa e extensão, com formaçõestecnológicas para alunos e professores de escolas e dauniversidade, dentro da UFPA, nos bairros de Belém e emmunicípios do Pará.

Jader Gama possui graduação em Processamento deDados pela Universidade Federal do Pará eEspecialização em Tecnologias em Educação (PUC-Rio).É mestrando do Programa de Pós-Graduação emDesenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido(PPGDSTU) do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos(NAEA/UFPA). Atualmente é pesquisador da Incubadorade Políticas Públicas da Amazônia (IPPA/UFPA). Temexperiência na área de Ciência da Computação, comênfase em Sistemas de informação, atuandoprincipalmente nos seguintes temas: livre, dadosabertos, cultura digital, inclusão digital, educação etransparência.

Emilio Velis é um engenheiro industrial graduado daUniversidade de El Salvador (FIA-UES), e pesquisador detecnologías e práticas abertas para o desenvolvimentosocial. Atualmente trabalha como parte do programa devoluntariado de HPH El Salvador, e faz parte de projetosde desenvolvimento tecnológico como Open Hardware ElSalvador e Fablab San Salvador. http://emiliovelis.com [1],[email protected], @dbsnp no .

Rodrigo Fresse GonzattoPesquisador em Design de Interação e professor naPUCPR (Curitiba), ministrando aulas de disciplinas deHipermídia e Novas Mídias nos cursos de Design Digital,Jornalismo e Publicidade. http://www.gonzatto.com/ [2]

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[1] http://emiliovelis.com[2] http://www.gonzatto.com/