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Ano 44 • Nº 443 • Janeiro - Fevereiro 2012 CORREIO FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA ISSN 2176-2104 Acesse nossa loja virtual Livros com desconto! www.correiofraterno.com.br/loja A psicografia na mira de um pesquisador O que ‘Cardeq’ faz na obra de Guimarães Rosa? O renomado autor brasileiro conheceu um espírita que o influenciou para o resto da vida. Ele é citado várias vezes em sua obra Grande Sertão: Veredas. E sabe onde morava esse compadre, o Quelelém? Leia na página 7. Mediunidade, auto- -obsessão, o preparo da casa espírita para o trabalho mediúnico. Veja o que diz a reconhecida médium mineira. Págs. 4 e 5. Entrevista: Suely Caldas Schubert A notícia sobre sua desencarnação, em outubro, passou silenciosa pelo meio espírita. Osmar Ramos Filho, grande pesquisador da obra de Honoré Bal- zac, era graduado em psicologia e, embora familiarizado com os principais postulados do espiritismo, não era um estudioso da doutrina. Ao ter em mãos o livro psicografado Cristo espera por ti, de autoria atribuída a Balzac, debruçou-se sobre os livros do escritor francês, e por sete anos, analisando e comparando sua obra, antes e depois da morte, acabou por prestar um dos maiores serviços à divul- gação da doutrina. O trabalho mereceu os elogios do também escritor e pesquisador Herminio Miranda, que enfatiza que “nunca se fez análise tão profunda e convincente de um livro mediúnico”. Um exemplo de visão aberta, sem preconceitos, que pode alavancar o progresso em qualquer área do conhecimento humano. “Osmar provou que os mortos também podem escrever livros geniais para os vivos. E os vivos, obras não menos geniais sobre os mortos.” Leia nas páginas 8 e 9. Área Q Filme de ficção espiritualista chega aos cinemas em abril Apostando na diversidade cada vez maior do público que se interessa pelo tema, produ- toras nacionais e internacionais se unem e lançam o longa-metragem que inova no seg- mento ao fazer uso da ficção. Leia na pág. 3 Escritor francês Honoré Balzac

Correio Fraterno 443

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Correio Fraterno, um dos mais conceituados veículos de informação espírita do Brasil.

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Page 1: Correio Fraterno 443

A n o 4 4 • N º 4 4 3 • J a n e i r o - F e v e r e i r o 2 0 1 2

CORREIOFRATERNO

SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA

ISSN

217

6-21

04

Acesse nossa loja virtualLivros com desconto!

www.correiofraterno.com.br/loja

A psicografi a na mira de um

pesquisador

O que ‘Cardeq’ faz na obra de Guimarães Rosa?

O renomado autor brasileiro conheceu um espírita que o infl uenciou para o resto da vida. Ele é citado várias vezes em sua obra Grande Sertão: Veredas. E sabe onde morava esse compadre, o Quelelém? Leia na página 7.

Mediunidade, auto--obsessão, o preparo da

casa espírita para o trabalho mediúnico. Veja o que diz

a reconhecida médium mineira. Págs. 4 e 5.

Entrevista:Suely

Caldas Schubert

A notícia sobre sua desencarnação, em outubro, passou silenciosa pelo meio espírita. Osmar Ramos Filho, grande pesquisador da obra de Honoré Bal-zac, era graduado em psicologia e, embora familiarizado com os principais

postulados do espiritismo, não era um estudioso da doutrina. Ao ter em mãos o livro psicografado Cristo espera por ti, de autoria atribuída a Balzac, debruçou-se sobre os livros do escritor francês, e por sete anos, analisando e comparando sua obra, antes e depois da morte, acabou por prestar um dos maiores serviços à divul-gação da doutrina.

O trabalho mereceu os elogios do também escritor e pesquisador Herminio Miranda, que enfatiza que “nunca se fez análise tão profunda e convincente de um livro mediúnico”. Um exemplo de visão aberta, sem preconceitos, que pode alavancar o progresso em qualquer área do conhecimento humano.

“Osmar provou que os mortos também podem escrever livros geniais para os vivos. E os vivos, obras não menos geniais sobre os mortos.” Leia nas páginas 8 e 9.

Área QFilme de fi cção espiritualista chega

aos cinemas em abrilApostando na diversidade cada vez maior do público que se interessa pelo tema, produ-toras nacionais e internacionais se unem e

lançam o longa-metragem que inova no seg-mento ao fazer uso da fi cção. Leia na pág. 3

Escritor francês Honoré Balzac

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2 CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2012

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EdItORIAL

Cada edição do jornal Correio Frater-no é sempre uma surpresa para nós. Preocupados em fazer um jornalis-

mo espírita de forma atual, acompanhan-do as notícias em todos os segmentos e procurando contextualizá-las sob a visão da doutrina, nosso desafi o é surpreendente-mente compensador, porque sabemos que a mensagem editorial anda de mãos dadas com o Bem.

Quando trabalhamos a edição, perce-bemos que a doutrina espírita é realmente um campo imenso de pesquisa, estudo e prática, que conversa sem cerimônia com os mais diversos aspectos da vida. Como disse Kardec (Viagem de 1862) cabe aos espíritas uma “gloriosa missão” – muito mais que pregar por palavras, pregar por exemplos. E deu na ocasião dicas valiosas para a divulgação espírita, ao orientar, por

exemplo, que toda publicação concernen-te ao espiritismo fosse revista com o maior cuidado, no sentido de se eliminar tudo quanto fosse inútil e pudesse produzir um mau resultado.

É o que sempre tentamos fazer: um jornal que enalteça a temática espírita, sem exageros, e que desperte o interesse pela vida espiritual, levando conhecimento, es-perança, alegria.

Esta edição é um bom exemplo dessa diversidade de conteúdos: mediunidade com Suely Caldas Schubert, ecologia com André Trigueiro, Balzac com Herminio Miranda, a paranormalidade de Guima-rães Rosa, a identidade dos centros espí-ritas, um novo fi lme nacional de fi cção espiritualista, artigos, leitura e ainda muito humor e entretenimento com Laurinha. A edição está imperdível. Aproveite!

CORREIO DO CORREIO Espiritismo de baseQue bom que a Editora Correio Fraterno está resgatando obras de antigos autores, como Herminio C. Miranda. Muitos deles andam meio esquecidos. É uma pena que estejam sen-do substituídos por outros, nem sempre com tanto conhecimento sobre o espiritismo...

Adriano Henrique, Caruaru, PE

Correio na internetGostei muito do site de vocês. Gosta-ria de receber mensagens sobre evan-gelização, pois trabalho com crianças de 3 a 11 anos. Abraços fraternos e obrigada.

Marlene Balieiro, por e-mail

Envio de artigosEncaminhar por e-mail: [email protected] Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfi ca e pequena apresentação do autor.

CORREIOFRATERNO

JORNAL CORREIO FRATERNOFundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel

www.laremmanuel.org.br

Diretor: Raymundo Rodrigues EspelhoEditora: Izabel Regina R. Vitusso

Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686)Apoio editorial: Cristian FernandesEditor de arte: Hamilton Dertonio

Diagramação: PACK Comunicação Criativawww.packcom.com.br

Administração/fi nanceiro: Raquel MottaComercial: Magali Marcos

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Impressão: Lance Gráfi ca

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Periodicidade bimestralPermitida a reprodução parcial de textos,

desde que citada a fonte.As colaborações assinadas não representam

necessariamente a opinião do jornal.

Editora Espírita Correio FraternocNPJ 48.128.664/0001-67

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Presidente: Izabel Regina R. VitussoVice-presidente: Tânia Teles da MotaTesoureiro: Vicente Rodrigues da Silva

Secretária: Ana Maria G. CoimbraAv. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955

Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP

Uma ética para a imprensa escrita

Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Cor-reio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação:

• A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências.

• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.

• Discussão, porém não disputa. As in-conveniências de linguagem jamais ti-veram boas razões aos olhos de pessoas sensatas.

• A história da doutrina espírita, de al-guma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos forneceráuma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos.

• Os princípios da doutrina são os de-correntes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos.

• Não responderemos aos ataques diri-gidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que po-dem degenerar em personalismo. discu-tiremos os princípios que professamos.

• Confessaremos nossa insufi ciência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicita-mos. Serão um meio de esclarecimento.

• Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião indivi-dual que não pretenderemos impor aninguém. Nós a entregaremos à discus-são e estaremos prontos para renunciá--la, se nosso erro for demonstrado.

Esta publicação tem como fi nalidade ofe-recer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que com-preendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envie seus comentários para [email protected]. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

ISSN 2176-2104

com o Bemde mãos dadas

Mais histórias de LaurinhaEu adorei o livro Tem espíritos no banheiro (da personagem de “Coisas de Laurinha”). Aprendi muita coisa sobre o espiritismo com este livro. Gostaria de saber onde pos-so encontrar outros para eu ler.

Júlia Kirchheim, Cascavel, PR

Olá Júlia. Que bom que gostou. Aguar-de, pois estamos preparando novidades da Laurinha com novas histórias. Um abraço para você!

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JANEIRO - FEVEREIRO 2012 CORREIO FRATERNO 3

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Chega em 13 de abril nas telas do cinema do país Área Q, um novo filme nacional com temática espi-

ritualista, que terá como protagonistas o norte-americano Isaiah Washington (do seriado Grey´s Anatomy) e os globais Muri-lo Rosa e Tania Khallil.

Apostando numa história de ficção, o longa-metragem não traz diretamente os fundamentos espíritas, mas faz refletir so-bre a vida extrafísica, utilizando-se de boa dose de licença poética para falar de eman-cipação da alma, existência de mundos pa-ralelos, transição planetária, defesa da vida, extraterrestres e abduções.

“A arte em si não pode ser controlada por nenhuma causa ou ideologia”, avisa o diretor do filme, Gerson Sanginitto, espíri-ta carioca que mora em Los Angeles. “Ela pode abrir possibilidades, incentivando o pensar, mas não impor”, complementa, assumindo-se pertencer a uma geração que embarcou na ficção, na Era Spielberg.

Área Q faz referência à região das cida-des cearenses Quixadá, Quixeramobim, Quixelô e Quixeré, local conhecido como um centro de aparições de ovinis. O pro-jeto é fruto de uma parceria entre produ-tores norte-americanos e brasileiros. (Reef Pictures Inc., ATC Entretenimentos, Es-tação Luz Filmes e Boa Vontade Filmes) e tem roteiro e produção de Gerson Sangi-

AcONtEcE

Por IZABEL VItUSSO

nitto e Halder Gomes. A história baseia-se no desafio

e nas descobertas de um repórter de uma revista americana que atra-vessa problemas pessoais e acaba vindo para o Brasil fazer uma reportagem sobre a região. Descrente das notícias sobre aparições e curas milagrosas, o jornalista inicia suas bus-cas e vê sua vida mudar de forma inesperada.

Sidney Girão, diretor executivo da Es-tação Luz Filmes, empresa que está à frente dos festivais do cinema transcendental rea-lizados em Brasília e no Nordeste do país, lembra que o principal motivo da Estação Luz, criada em 2004, está voltado à disse-minação de uma mensagem de paz. “Os caminhos religiosos levam a isso, à paz, à humanização, independentemente de ser espírita ou não”. Para ele, aí está a impor-tância do cinema transcendental: permear a mensagem por todas as religiões, arregi-mentando um maior número de pessoas para o bem. “Nosso objetivo é fazer com que o entretenimento leve as pessoas a re-fletirem sobre suas possibilidades de ações imediatas, de mudanças, independente-mente de influências externas, de extra-terrestres”. Segundo ele, o roteiro foi bem aceito por ufólogos e também pela FEB, que vai dar também apoio à divulgação.

Para Sanginitto, Área Q vai trazer uma mensagem de respeito ao próximo, de pre-

ocupação com o planeta, com o meio ambiente, alertando para a necessidade da união en-tre todos. “A doutrina espírita já nos desperta para tudo isso... Mas e os outros? Um ateu, por exemplo, não pode ser desper-tado para essas questões com uma ficção, um entretenimen-to?” reflete.

O diretor de comunicação da Estação Luz Filmes, Fer-nando Lobo, explica que a cultura do bem é mesmo a grande tarefa da Estação Luz. “Acreditamos que muitas pessoas podem ser tocadas através da arte. Daí porque somos envolvidos com peças de teatro, ex-posições, lançamento de livros e cinema”. Ele diz ser difícil pensar em expectativa de público, mas a torcida é para que o filme estoure nas bilheterias, para o que prepa-ram uma ampla divulgação, a fim de lotar as cinquenta salas de exibição nas primeiras duas semanas de lançamento.

Os números do cinema nacional real-mente apresentam grandes diferenças de público, constituindo-se as recentes pro-duções nacionais de cunho espiritualista

Filme nacional de ficção estreia

em abril

em verdadeiras caixas de surpresa. “Tudo depende da divulgação. Os filmes que a Globo divulgou, apoiou, como Nosso Lar e Chico Xavier, levaram para os cinemas, respectivamente quatro milhões e duzen-tos e três milhões e meio de pessoas. Já os filmes sem apoio da emissora – As mães de Chico Xavier e O filme dos espíritos – conta-ram com 521 mil e 320 mil expectadores”, assinala Sidney Girão, que considera os nú-meros “excelentes” para o cinema brasilei-ro, que apresenta mudanças importantes. “A média de público para filmes nacionais, até 2008, era de três mil expectadores por filme; a partir de 2010, esse número pulou para 22 mil”, observa.

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4 CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2012

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ENtREVIStA

Suely: Cabe-nos propiciar a essas pessoas os temas mais sérios acerca do espiritismo, saindo-se um pouco dessa ideia de fazer o povo rir, ou só de autoajuda. Claro que não sou contra a abordagem que se refere à autoajuda, ela tem muito valor, principal-mente quando fundamentada nos escla-recimentos doutrinários, mas a doutrina é profunda e apresenta os assuntos magnos que afetam e avassalam os seres humanos, evidenciando como enfrentá-los, especial-mente a partir do conhecimento da reen-carnação, da lei de ação e reação e a pro-posta da transformação moral à luz dos ensinos de Jesus.

Fala-se pouco hoje na casa espírita sobre a auto-obsessão, tema que você aborda tão bem em sua obra. Quais os cuidados que se deve ter?Suely: A casa espírita necessita ter em suas

equipes pessoas conhecedoras da doutrina e conhecedoras dos assuntos relacionados à obsessão, caso deseje manter atendimen-to nessa área. Vejo, todavia, que isso é raro nos dias atuais. E, quando tem esses tra-balhadores, logo inventam tantas novida-des, muitas delas esquisitas, sem o menor fundamento doutrinário, que me preocu-pam os rumos do nosso movimento. E, no entanto, o espiritismo é simples, embora profundo, mas é assim mesmo, as coisas grandiosas e belas são simples, claras, lumi-nosas. Revejam Kardec, meditem, obser-vem a simplicidade que permeia o trabalho de Chico Xavier, Yvonne Pereira, Divaldo Franco: nada de modismos, de práticas estranhas, bizarras até algumas delas, hoje lançadas por centros espíritas que desejam atrair adeptos e vão inventando estas coi-sas. Não falo isto criticando, falo carinhosa-mente. Devemos amar a doutrina espírita e amarmo-nos uns aos outros. É cada vez maior o número de pes-soas com quadro de depressão. Isso quer dizer que a obsessão, in-terferência espiritual, está aumen-tando? Suely: Quanto à depressão, levemos em conta o aumento proporcional ao aumen-to da população e, é claro, aos assédios es-pirituais negativos, porque as pessoas estão muito materialistas, priorizando a vida fí-sica, os prazeres, que buscam avidamente, sem ética, sem respeito a si mesmo e ao próximo, sem Deus em suas vidas, afinal é esse quadro mundial que vemos acontecer em nossos tempos. O que falta é o ser hu-mano conscientizar-se de que é um espírito imortal e que a vida verdadeira é a espiri-

tual, esta, a vida física, é uma breve passa-gem, impermanente e muito breve diante da imortalidade que nos é própria.

Ontem, espiritismo com missioná-rios, expoentes: Chico, Eurípedes, Bezerra, Batuíra etc, Hoje já cami-nhamos com mais maturidade no movimento espírita, sem a neces-sidade da ‘tutela’, de líderes espiri-tuais expressivos como eles?Suely: Em verdade, esses vultos nunca tutelaram ninguém; os missionários se so-bressaem pelos exemplos que transmitem para os demais. Não fazem alarde de si mesmos, são humildes, doam-se e, mesmo sem procurar notoriedade, acabam por se destacar, então pessoas passam a admirá-los e muitos, não raramente, a endeusá-los. Creio que isto é natural. Quem não admi-ra e ama dr. Bezerra? Eu digo que ele é uma unanimidade nacional. Mas vemos isto em outras áreas. São os ídolos que o povo elege e que às vezes não passam bons exemplos. Quanto à maturidade do movimento espí-rita, vamos caminhando...

Você tem acompanhado em Juiz de Fora-MG amigos nossos reali-zando pesquisas científicas sobre a mediunidade, em âmbito inclusive internacional. Como analisa esse momento do espiritismo nas aca-demias? Suely: Gosto muito quando tomo conhe-cimento das pesquisas científicas, feitas com seriedade, por pessoas competentes. São necessárias, no momento atual. Cito aqui o dr. Alexander Moreira, nosso ami-go, e a equipe com a qual ele trabalha, pois

Por IZABEL VItUSSO E ELIANA HAddAd

com quatorze livros publicados, a oradora mineira de carangola, MG, Suely Caldas Schubert, está entre as mais requisitadas no meio espírita para proferir palestras, principalmente quando o assunto diz respeito à mediunidade. Sua experiência em reuniões de desobsessão já soma mais de 50 anos. Além dos livros publicados e palestras, no Brasil e no exterior, Suely participa da Sociedade Espírita Joanna de Ângelis, ins-tituição por ela fundada há 26 anos, em Juiz de Fora, cidade em que reside. Sua vinda a São Paulo motivou-nos à realização desta interes-sante entrevista:

com a profundidade que ele merece

Suely, você sempre aborda com bastante propriedade sobre o tema mediunidade e há bastante tempo. Há algum fato que a levou a se interessar acentuadamente pelo tema? Suely: Não sei precisar quando comecei a me interessar pelo tema mediunidade, creio que desde sempre. É uma certeza que trago na minha vida, assim como a própria doutrina, que está acima de qualquer coisa para mim. É prioridade mesmo.

Vivemos tempos diferentes do mo-vimento espírita vivido por nossos pais e avós. A impressão que se tem é que muitas pessoas chegam às casas espíritas e permanecem num superficial ‘consumo’ do espi-ritismo. Estamos preparados para essa demanda?

EspiritismoSuely Caldas Schubert: “Mediunidade: uma certeza que trago em minha vida”

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ENtREVIStA

realizam pesquisas importantes. Ele é de Juiz de Fora, médico psiquiatra e eminente professor na Universidade Federal de nossa cidade e faz parte de importante grupo de cientistas de várias nacionalidades, todos voltados para o mesmo objetivo. O espiritismo tem hoje nos even-tos e palestras um dos seus prin-cipais meios de divulgação. O que acha disso? Suely: Creio que é uma forma bastante po-sitiva de divulgar a doutrina, especialmente quando os eventos são realizados em locais de acesso ao público em geral. Programas de TV e de rádio alcançam grande audiên-cia e sei, por experiência própria, porque participo de um programa, na Rede Boa Nova, Mediunidade, caminho para ser feliz, há dez anos, juntamente com nosso amigo, José Maria de Medeiros Souza. Em minhas viagens, por todo o país, para proferir pa-lestras e seminários, fi co surpresa com o carinho das pessoas que dizem assistir ao programa, que me abraçam e dão seus de-poimentos sobre assuntos que abordamos, enfi m, é gratifi cante. O mesmo ocorre com o programa Transição, que também tem grande audiência. Ressalto a impor-tância dos congressos, que atraem grandes públicos, alguns reunindo dez, quinze mil pessoas.

O Brasil, no passado, foi benefi -ciado pela cultura dos povos eu-ropeus, na corrente imigratória. Hoje somos nós, brasileiros, que levamos as ideias espíritas para o exterior. Como você avalia essa di-nâmica?Suely: Como uma grandiosa programação espiritual. Com referência ao advento do espiritismo, sabemos que isto se daria na França, celeiro, à época, da cultura mun-dial, o que propiciaria ao professor Rivail,

Allan Kardec, o ambiente adequado para que a promessa do Consolador, feita por Jesus, ali se concretizasse. Essa é a dinâmi-ca da vida, que abre horizontes novos para todos. Mas os princípios espíritas estão sen-do disseminados por toda parte e aí vemos a confi rmação da resposta dos Espíritos à questão 798 de O livro dos espíritos. Não temos aí fi lmes, livros, pesquisas, com te-máticas espíritas?

A auto-obsessão1

“Alguns estados doentios e certas aberrações que se lançam à conta de uma causa oculta derivam do Espírito do próprio indivíduo.”2

tais pessoas estão ao nosso redor. São doentes da alma. Percorrem os con-sultórios médicos em busca do diagnóstico impossível para a medicina ter-rena. São obsessores de si mesmos, vivendo um passado do qual não con-seguem fugir. No porão de suas recordações estão vivos os fantasmas de suas vítimas, ou se reencontram com os a quem se acumpliciaram e que, quase sempre, os requisitam para a manutenção do conúbio degradante de outrora.Esses, os auto-obsidiados graves e que se apresentam também subjugados por obsessões lamentáveis. São os inimigos, as vitimas ou os comparsas a lhes baterem às portas da alma.Mas existem também aqueles que portam auto-obsessão sutil, mais difícil de ser detectada. É, no entanto, moléstia que está grassando em larga es-cala atualmente.Um médico espírita disse-nos, certa vez, que é incalculável o número de pessoas que comparecem aos consultórios, queixando-se dos mais diversos males — para os quais não existem medicamentos efi cazes — e que são tipicamente portadores de auto-obsessão. São cultivadores de “moléstias fantasmas”. Vivem voltados para si mesmos, preocupando-se em excesso com a própria saúde (ou se descuidando dela), descobrindo sintomas, dra-matizando as ocorrências mais corriqueiras do dia-a-dia, sofrendo por ante-cipação situações que jamais chegarão a se realizar, fl agelando-se com o ci-úme, a inveja, o egoísmo, o orgulho, o despotismo e transformando-se em doentes imaginários, vítimas de si próprios, atormentados por si mesmos.Esse estado mental abre campo para os desencarnados menos felizes, que dele se aproveitam para se aproximarem, instalando-se, aí sim, o desequilí-brio por obsessão.

1Obsessão e desobsessão, profi laxia e terapêutica espíritas, Suely Caldas Schubert, FEB.2Obras Póstumas, Allan Kardec, “Manifestações dos espíritos”, item 58, FEB.3Idem.

O mercado editorial espírita nunca esteve tão produtivo, com uma di-versidade de temas e abordagens por diversos autores. Isso ajuda ou atrapalha? Por quê?Suely: Depende do conteúdo dessas obras. Pode ajudar sim, mas também, em certos ca-sos, algumas obras antidoutrinárias confun-dem, alguns livros são ditados por espíritos pseudossábios, então é necessário muito estu-do. Ele é imprescindível, além disso, Kardec recomenda tudo submeter ao crivo da razão e observarmos a universalidade do ensino dos espíritos. Em caso de dúvida, ele recomenda seguir o critério da maioria, conforme a intro-dução 2 de O evangelho segundo o espiritismo.Mas acima de tudo lembremo-nos da reco-mendação do Espírito de Verdade: “Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; ins-truí-vos, eis o segundo.” (O evangelho segundo o espiritismo, cap. 6)

Cabe-nos propiciar os temas mais sérios acerca do

espiritismo, saindo-se um pouco da ideia de fazer o povo rir.”

LIVROS & CIA.

Intelítera EditoraTel.: (11) 2369-5377www.intelitera.com.br

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6 CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2012

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QUEM PERGUNtA QUER SABER

Por cRIStIAN FERNANdES

Primeiramente, vamos lembrar que a re-lação entre mentores e nomes de centro nem sempre são as mesmas. A escolha

do mentor nunca é daqui para lá, do encar-nado para o plano espiritual. O trabalho para a constituição de uma casa espírita é um en-contro espiritual que começa bem antes da

Como se escolhe o mentor de uma casa espírita?

Gostaria de entender melhor como se

escolhe o mentor de uma casa espírita? Tem a ver com o nome da

instituição? Pergunta de Lucia Maria Bezzi,

por emailsua construção material. Os mentores se en-contram muitas vezes com os encarnados que serão responsáveis pela Casa, em desdobra-mento, nos momentos de sono. Há uma pre-paração muito maior do que posssamos ima-ginar para a constituição de uma casa espírita.

É natural que um centro com o nome de

um espírito tenha grande chance de atraí-lo. Outro ponto é que a escolha de um nome para o centro possa também ter sido desenca-deada por um processo intuitivo, porque esse

espírito já havia se ligado aos encarnados por sintonia de seus pensamentos e sentimentos, suas tarefas e ideias. Jamais com a intenção de ser homenageado, mas para poder colaborar.

O espírito que dá nome ao centro, por-tanto, pode até ter ligação com o centro, mas não que ele seja o mentor da Casa. Isso não tem a menor necessidade para ele. Aliás, muitos centros podem ter, por isso, o mesmo nome, originados de processos diversos, que podem também ser da intenção das pessoas de colocar um nome ao centro, sem terem ligação com aquele espírito, ou pelo interes-se de sentirem alguma ligação com ele. Algo é certo: não somos nós que escolhemos os mentores; eles é que nos escolhem.

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JANEIRO - FEVEREIRO 2012 CORREIO FRATERNO 7

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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ!Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: [email protected].

alo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, espe-ranto, um pouco de russo; leio:

sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dia-letos alemães; estudei a gramática: do hún-garo, do árabe, do sânscrito, do lituânio, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do tcheco, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espí-rito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito a compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e dis-tração.” (Comentário de Guimarães Rosa a uma prima numa entrevista).

Ao longo da história humana são muitos os autores que reconhecem uma participa-ção estranha a eles próprios na produção de seus trabalhos. Na arte e na cultura em ge-ral, seja escultura, teatro, pintura, literatura, muitos relatam sentir, sonhar, intuir, imagi-nar, estar em um estado alterado de consci-ência enquanto produzem. Com Guimarães Rosa, considerado por muitos críticos o maior escritor brasileiro da segunda metade do século 20, não foi diferente.

Ao iniciar sua carreira como médico, em Itaguara, MG, pequena cidade às margens da atual rodovia Fernão Dias, o escritor co-nheceu um espírita que de algum modo o

BAÚ dE MEMÓRIAS

influenciou para o resto de sua vida. Esse amigo é citado várias vezes em sua consa-grada obra Grande sertão: Veredas como uma espécie de conselheiro distante. É o perso-nagem Riobaldo, quem diz algumas de suas reflexões muito interessantes sobre vida e morte. (É o compadre Quelemém, que é de Cardeq, escrito assim mesmo no livro).

João Guimarães Rosa, nasceu em Cor-disburgo, MG, em 27 de junho de 1908 e ficar encantado’ (expressão usada por ele no lugar de morrer) em 19 de novembro de 1967, no Rio de Janeiro. Em 1938, foi nomeado cônsul adjunto em Hamburgo, e seguiu para a Europa, lá conhecendo Aracy Moebius de Carvalho (Ara), que viria a ser sua segunda mulher. A superstição e o misticismo acompanhariam o escritor por toda a vida. Ele acreditava na força da Lua, respeitava curandeiros, feiticeiros, a um-banda, a quimbanda e o ‘kardecismo’. Di-zia que pessoas, casas e cidades possuíam fluidos positivos e negativos, que influíam nas emoções, nos sentimentos e na saúde de seres humanos e animais. Aconselhava os filhos a terem cautela e a fugirem de qualquer pessoa ou lugar que lhes causasse algum tipo de mal-estar.

Mas, é no livro Tutameia (Ed. Nova Fronteira) que vemos a sua paranormalida-de, em suas próprias palavras, cujos trechos transcrevemos aqui:

“ – Minha vida sempre e cedo se teceu de sutil gênero de fatos. Sonhos premonitó-rios, telepatia, intuições, séries encadeadas fortuitas, toda sorte de avisos e pressenti-mentos.”“ – Talvez seja correto eu confessar como tem sido que as estórias que apanho dife-rem entre si no modo de surgir. “À Buriti” (Noites do sertão), por exemplo, quase in-teira ‘assisti’, em 1948, num sonho duas noites repetido.”“ – Conversa de bois” (Sagarana), recebi-a, em amanhecer de sábado, substituindo-se a penosa versão diversa, apenas também sobre viagem de carro-de-bois e que eu considerava como definitiva ao ir dormir na sexta.”“ – Quanto ao Grande sertão: Veredas, forte coisa e comprida demais seria tentar fazer crer como foi ditado, sustentado, protegido – por forças ou correntes muito estranhas.”Pode ser que não seja fácil para as ge-

rações futuras lerem Guimarães Rosa, com

seus escritos num ‘mineirês’ arcaico, embora ainda conhecido por quem mora nos sertões das Gerais. Com o correr do tempo, num mundo cada vez mais globalizado, é mais que provável que esse regionalismo se perca com o retorno à vida espiritual daqueles que ainda o conhecem. E com essa perda, talvez se perca também um modo único de ver e sentir a vida. Mas, como escreveu Guima-rães Rosa “Às vezes, quase sempre, um livro é maior que a gente.” (idem)

Apesar de ambientadas no sertão de Mi-nas, as histórias ou estórias de Guimarães Rosa têm contéudo universal. Não por acaso o ex-jagunço Riobaldo diz ao seu interlocu-tor, no Grande sertão: Veredas, que ‘o sertão está em toda parte’. Este livro em particular apresenta uma forma nova de ver e sentir o amor. E a história de amor entre Riobaldo e Diadorim ainda vai render muita conversa!

Paulo Santos é articulista, professor na cidade de Divi-nópolis, MG.

Por PAULO R. SANtOS

Guimarães RosaA paranormalidade em sua obra

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“F“Às vezes,

quase sempre, um

livro é maior que a gente.” – Guimarães

Rosa

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8 CORREIO FRATERNO

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ESPEcIAL

O pesquisador que identificou a presença de

BALZAC

Por HERMINIO c. MIRANdA

Comovido com a notícia sobre o desenlace do pesquisador Os-mar Ramos Filho em outubro último, Herminio Miranda ela-borou este texto, onde analisa a trajetória do estudo que des-vendou os bastidores da obra de Honoré Balzac desencarnado. Tudo começou em 1964, ano em que o médium Waldo Vieira psicografa a obra Cristo espera por ti, ditada pelo escritor fran-cês Balzac. curioso e descrente, Osmar Ramos se aprofunda em análise meticulosa da obra, se impressiona com a semelhança dos estilos e escreve sua grande obra: O avesso do Balzac con-temporâneo, que ganhou destaque, em forma de filme, no Fes-tival de Gramado.

Balzac: escritor francês, considerado o fundador do Realismo na literatura moderna

Osmar Ramos: o grande pesquisador do romancista francês

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JANEIRO - FEVEREIRO 2012 CORREIO FRATERNO 9

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Embora de família espírita, e sem rejeitar sumariamente os postulados doutriná-rios, Osmar Ramos Filho não foi espí-

rita militante. Deixou, contudo, à posteridade uma obra única no gênero, no conteúdo, na qualidade e no arrojo, criada em torno de uma temática mediúnica. Seu estudo deverá levar algum tempo para ser apreciado em suas ver-dadeiras dimensões e alcance.

Seu trabalho é de espantosa erudição, escri-to numa linguagem elegante, criativa e correta.

Merece amplamente, a meu ver, um doutorado póstumo. Que, se não existe, deveria ser criado.

Para nos situarmos no tempo e na temática, levan-tei alguns dados que nos per-mitam um mínimo de visão na contemplação do vasto espaço por ele ocupado no

contexto da cultura internacional. Tudo começou quando ele recebeu, numa

visita a um centro espírita, um livro de autoria de Honoré de Balzac, o genial criador francês de A comédia humana. O livro chamava-se Cris-

O pesquisador que identificou a presença de

BALZAC

O empenho de um pesquisador

Osmar Ramos Filho foi dos mais lúcidos pensadores espíri-tas da atualidade. Porém, seu envolvimento com o espiritismo sempre ocorreu de maneira transversa. Ainda jovem, estu-dante de filosofia na Universidade do Brasil, por seus conheci-mentos de alemão, foi selecionado para trabalhar como intér-prete do célebre parapsicólogo Andrija Puharich. Viajou com ele para Congonhas, MG, para uma série de encontros com José Arigó, onde presenciou, dentre tantas curas, a do pró-prio pesquisador. Ao final do trabalho, havia se tornado gran-de amigo de Puharich e dele recebeu de presente uma má-quina infravermelha (ampariscópio) que, nos idos de 1950, já permitia ao olho humano ver no escuro, o que era muito útil para os pesquisadores de fenômenos de materialização. Esse aparelho posteriormente foi emprestado a Luciano dos Anjos, que testemunha ter presenciado alguns fenômenos autênti-cos de materialização e muitas fraudes desmascaradas.

Foi durante seus estudos para o doutoramento em psicolo-

gia clínica, em Louvain, Bélgica, que Osmar teve contato mais profundo com os textos de Balzac por meio de uma amiga portu-guesa que fazia sua tese sobre um romance do escritor francês. Ali, Osmar começava a se preparar para o trabalho de sua vida, O avesso de um Balzac contemporâneo, com o qual seria reconhecido por Paulo Rónai, como a pessoa mais versada em Balzac que ele havia conhecido. como Rónai, além de grande balzaquista, conheceu profundamente os mais importantes estudiosos de Balzac de sua época, essa de-claração equivale a chamar Osmar de o maior conhecedor de Balzac de seu tempo. Não é pouco.

Se se levar em conta que tudo ele aprendeu sobre Balzac foi a partir de um texto atribuído ao espírito do escritor (o romance Cristo espera por ti) sua façanha toma ares sobre-naturais.

Alexandre M. Rocha

1964 – Waldo psicografa o livro, no perío-do inverno e primavera.

1965 – O livro é publicado pela IDE, editora de Araras.

1969 – Osmar, já graduado em psicologia, ganha bolsa de estudos e parte para Louvain, Bélgica, em busca do mestra-do, com o qual foi agraciado no tempo devido. Foi lá que, o c a s i o -nalmente, se interessou pela temática do pasticho – texto com o qual um escritor procura imitar o estilo de outro – que usa-ria mais tarde no tratamento de sua pes-quisa, a fim de não trazer para o bojo de seu estudo a conotação mediúnica, sempre rejeitada aprioristicamente.

1983 – Já de volta ao Brasil, Osmar des-cobre o livro de Balzac ‘morto’, ou melhor, o livro descobre Osmar e Osmar começa a pesquisa.

1994 – Osmar publica o re-sultado de sua pesquisa sob o título O avesso de um Balzac contemporâneo, pela Editora Lachâtre.

2007 – O livro intitulado Cristo espera por ti é relançado – já com notas e comentários de Osmar – pela Editares, do Grupo liderado por Wal-

do Vieira, em Foz do Iguaçu, PR.

2011 – (Outubro) – Antes de viajar para Caxambu, MG, onde costumamos passar o verão, ligo para Osmar, em Va-lença, RJ, para um dos nossos longos e costumeiros bate-papos. Entre outras coisas, pergunto-lhe como vai a pes-quisa que ele e Virginia, sua dedicada esposa e competente companheira de trabalho, deram o título provisório de

Dicionário. Resposta: a obra está praticamente conclu-ída, aí pela página número 1330! Isto precisa de uma explicação adicional. Ele descobrira, na França, um site antoló-gico que oferece à consulta de estudiosos pelo mundo afora toda a obra de Balzac digitalizada. Era ali que ele punha em con-fronto o texto em português do Cristo es-pera por ti com a vastíssima obra original do genial autor. Além disso, em mais um de seus achados, havia adquirido mais uma edição completa dos livros de Balzac no original francês. Essa preciosa raridade bi-bliográfica era ilustrada e Osmar resolveu consultar o site francês sobre as gravuras e lá encontrou novos dados comprobató-rios ao seu estudo. Esta é a história muito abreviada de um trabalho intelectual sobre o qual o Cristo ficará também à espera de que as men-tes daqueles que o lerem se abram e se

convençam de que os chamados ‘mortos’ também escrevem para os ‘vivos’. Afinal de

contas, vivos estamos todos nós, tanto des-te lado da vida como do outro.

***Antes do ponto final a este pobre testemunho de afeto e respeito a Osmar e à sua incansável Virginia, é preciso informar que, a despeito do vulto financeiro do que investiram nesse trabalho, jamais receberam qualquer remune-ração sobre a impressionante obra realizada. É preciso lembrar, ainda, que o cineasta brasi-leiro Geraldo Sarno produziu um primoroso documentário sobre o trabalho de Osmar: O último romance de Balzac. Levado ao Festival de Gramado, esse filme foi distinguido com honroso e merecido destaque – Prêmio Espe-cial do Júri e prêmio de Melhor Direção de Arte – e suscitou amplo debate do qual par-ticipou Osmar. Por fim, aqui fico eu, ainda um tanto sufocado pelas emoções, sem saber o que mais dizer ao querido amigo que par-tiu e à sua Virginia que ficou por aqui mais algum tempo. Estou certo, porém, de que, ao nos reencon-trarmos do lado de lá, ele dirá, como dantes, com sua bem modulada voz: “E aí?” E eu não terei nada a dizer, senão expressar-lhe, mais uma vez, a amizade, a admiração e respeito pela pessoa que ele é e por sua obra imortal. Estou até a imaginar que Balzac talvez se encontre ao lado dele a sorrir, feliz, porque Osmar provou que os mortos também po-dem escrever livros geniais para os vivos. E os vivos, obras não menos geniais sobre os mortos.

Para situar os eventos no tempo, elaborei a seguinte tabela cronológica:

to espera por ti, fora escrito por Balzac, ‘morto’, pelas mãos do doutor Waldo Vieira, médium espírita, destacado componente da comunida-de que girava em torno de Chico Xavier, em Uberaba, MG. Osmar achou o título meio piegas. Além disso, era um livro mediúnico! A curiosidade, contudo, venceu a rejeição inicial. E, ainda com algumas reservas, começou a fo-lhear a obra. Mal sabia ele que ali estava à sua espera o trabalho de uma vida inteira.

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10 CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2012

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ENSAIO

Quando Ariel, minha primei-ra filha, nasceu há quin-ze anos, me vi envolvido

em fraldas, chupetas e músicas do cancioneiro popular infantil que já ouvira antes, muito antes de ela nas-

cer. Algu-mas que até em-balaram os meus s onho s ,

já que não há como detectar o momento exato em que foram compostas, pois além de serem de autoria anônima, são continua-mente modificadas, adaptando-se à realidade do grupo de pessoas que as cantam. O que se pode afirmar é que as cantigas hoje conhecidas no Brasil têm origem europeia, mais especificamente em Portugal e Es-panha, e já se adaptaram tanto ao folclore brasileiro que são também o retrato deste país.Eis que agora, com o nascimento de Louize, minha segunda filha, vejo-me novamente entre fraldas, chupetas e as mesmas canções infantis de sempre, a despeito de novas composições que surgiram neste período, mas que não con-seguiram substituir o sonho de se ter uma rua só sua para ladrilhar com pedrinhas de brilhantes. Ou de suplantar o charme da barata que diz ter sete saias de filó, mas, na verdade, só tem uma. Ou, ain-da, por não conseguir fazer o sapo lavar o pé...É curiosa a indignação, aqui fi-gurada, causada pelo comporta-mento do batráquio: Ele mora na lagoa e não lava o pé! Mas por quê? Porque não quer! Se ficamos revoltados com o comportamento do sapo é porque não compreen-demos bem primeiramente o di-reito de escolha. O sapo está, ape-nas, exercendo seu livre-arbítrio, a escolha de não lavar o pé, por desconhecer os benefícios da hi-giene ou por achar desnecessário limpá-los, ainda que morando na

lagoa. Ele não é obrigado a lavar o pé, ele pode optar em não lavar. A escolha – e as consequências desta escolha – dizem respeito apenas ao sapo, ninguém mais.Devido a um entendimento equi-vocado da chamada lei de causa e efeito, estamos desenvolvendo um estranho comportamento baseado no “tenho que”. Tenho que amar ao próximo, tenho que perdoar meu inimigo, tenho que gostar de um filme ou de um livro só por-que se diz espírita, mesmo que o conteúdo seja duvidoso do ponto de vista doutrinário, e por aí vai... Acontece que não existe isso de ‘tenho que’. Não temos que acei-tar equívocos em nome do espiri-tismo e não existe lei que obrigue a alguém a amar ou perdoar. Mas e os dez mandamentos? Alguns pesquisadores informam que os tradutores da Bíblia se equivoca-ram (talvez de propósito) e utiliza-ram a expressão ‘mandamento’ no lugar de ‘palavra’, aqui utilizada no sentido de orientar. Ou seja, Moisés teria recebido as dez orien-tações de Deus. Outros estudiosos afirmam também que a tradução do original em hebraico está mais para ‘exercício’ do que ‘mandar’. Assim, Moisés teria recebido os dez exercícios de Deus para a hu-manidade desenvolver seu conhe-cimento, se conscientizar, pois é na consciência que a Lei de Deus está em nós, conforme a questão 621 de O livro dos espíritos. Pala-vra ou exercício fica mais palatá-vel do que mandamento, já que é difícil imaginar Deus exigindo que alguém ame (ou perdoe) por obrigação. O sentimento verda-deiro é aquele realizado por livre e espontânea vontade. Exercitado continuamente. E aqui entra a segunda questão para compreendermos a postura do sapo: A justiça da reencarna-ção. O que não se aprende pelo exercício nesta vida aprende-se em outra. E nem poderia ser diferen-

te, já que estamos em um planeta que abriga seres imperfeitos, a ca-minho do progresso. Talvez o sapo não lave o pé por desconhecer a importância da higiene. Ou tal-vez ele não lave por ser desleixado com seu corpo. Mas um dia ele vai aprender. Porém isso diz respeito a ele. Assim como nossas escolhas dizem respeito a nós. Fato é que, através do exercício contínuo, de encarnação em encarnação, vamos construindo nossa perfeição. Sem obrigações, mas com a consciên-cia do sentimento real, para então chegarmos ao verdadeiro amor ao próximo que Jesus nos ensinou, respeitando suas escolhas.Como a do sapo, que escolheu não lavar o pé porque não quer.

George De Marco é publicitário e radialista em São Paulo

O sapo

não lavao péPor GEORGE dE MARcO

Não temos que

aceitar equívocos

em nome do espiritismo e

não existe lei que obrigue

alguém a amar ou a perdoar”

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12 CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2012

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1ª Mostra de Filmes Espíritas e Espiritualistas em Londres

Numa parceria entre a União Britânica de Socie-dades Espíritas (BUSS) e o Conselho Espírita

Internacional (CEI), será realizada na Queen Mary University of London, na capital da Inglaterra, a 1ª Mostra de Filmes Espíritas e

Espiritualistas em Londres. A Mostra acontece de 21 a 25 de fevereiro e exibe fi lmes e documentários com temáti-ca espírita, realizados no Brasil, dentre eles: O Filme dos espíritos e As mães de Chico Xavier, Nosso Lar, Bezerra de Menezes – Diário de um espírito, As cartas psicografadas por Chico Xavier, Eurípedes Barsanulfo – Educador e Médium, Divaldo Franco – Humanista e médium espírita e Chico Xa-vier – O fi lme. A Mostra terá entrada gratuita e será seguida por debates. 327 Mile End Road, E14 NS – Mile End StationReservas antecipadas gratuitas: http://bit.ly/SpiritFilm E-mail: [email protected]

Curso para Educadores e Evangelizadores em ArarasDe 18 a 21 de fevereiro

Local: Instituto de Difusão EspíritaRua Emílio Ferreira, 177 - Centro - Araras- SP

Informações: [email protected]. Fone: 19 3543-2400

www.pedagogiaespirita.net.br

1º Encontro Luiz Sérgio de Mocidades Espíritas de São Bernardo

Dia 26 de fevereiro, das 8:00h às 18:30hLocal: Grupo Fraternal Dr. Bezerra de Mene-zes, rua Batuíra, 380, B. Assunção, São Ber-

nardo do Campo, SP.Inscrições até dia 19 de fevereiro.Tema: “Os miosótis voltam a fl orir”. Com atividades: tea-tro, música, poesia, palestra sobre drogas. www.encontroluizsergiosbc.com.br

II Festival de Cinema TranscendentalBrasília de 26 a 29 de março

Fortaleza: 9 a 12 de abrilOrganizado pela Estação da Luz, produtora dos fi lmes Chico Xavier, Bezerra de Menezes: o

Diário de um Espírito e As mães de Chico Xavier.Para a Mostra Competitiva de Curta-Metragem serão acei-tos vídeos com até 25min de duração, nas categorias Ficção, Animação e Documentário, e realizados nos formatos digi-tal e 35mm. Prazo fi nal para envio: 1º de março de 2012.Informações: 61 3964-8104 www.cinematrancedental.com.br

Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fi que atualizado sobre o que

acontece no meio espírita. Participe.www.correiofraterno.com.br

qualquer hora, em qualquer lugar

Local: Instituto de Difusão EspíritaRua Emílio Ferreira, 177 - Centro - Araras- SP

www.pedagogiaespirita.net.br

FEV

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de São BernardoDia 26 de fevereiro, das 8:00h às 18:30h

nardo do Campo, SP.

FEV

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II Festival de Cinema TranscendentalBrasília de 26 a 29 de marçoMAR

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ENIGMA

Quem é o autor da famosa frase: “fora da caridade não há salvação”?

CRIPTOGRAMA DO CORREIO

Resposta do Enigma:

Solução da Palavra Cruzada

Veja em:www.correiofraterno.com.br

O autor da frase é Allan Kardec, embora esta seja uma paródia da frase “fora da Igreja

não há salvação”, atribuída, a princípio,

a Santo Agostinho e que remonta aos

primeiros séculos do cristianismo.

Numa parceria entre a União Britânica de Socie-dades Espíritas (BUSS) e o Conselho Espírita FEV

21

Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

Resolva o desafi o e descubra o nome do fi lme inspirado em uma das obras da Codifi cação.

Jantar dançante benefi centeDia 11 de maio, às 20 horas

Local: Restaurante São Judas tadeu – na rota tradicional do “Frango com polenta”. Av. Maria Servidei Demarchi, 1749 – São Bernardo do Campo-SP.

Você se diverte e ainda colabora!Informações e convites: 11 4109-8938. site: www.laremmanuel.org.br

Dia 11 de maio, às 20 horasLocal: Restaurante São Judas tadeu – na rota tradicional do “Frango com

polenta”. Av. Maria Servidei Demarchi, 1749 – São Bernardo do Campo-SP.MAI

11

1. Descuidado, negligente

2. Uma das belezas da natureza

3. Filhos do mesmo pai

6. O que garante o maior conhecimento da doutrina

7. Pessoas que pertencem ao grupo da terceira idade

8. Profeta bíblico

9. Esperto

10. Brilho muito utilizado no carnaval (plural)

12. Conjunto de duas pessoas ou objetos (plural)

13. O Messias de Nazaré

14. Remissão de pena, desculpa

15. Qualidade do que é perfeito, sem defeitos

16. O espiritismo não adota como prática

17. Abalo, geralmente agradável, experimentado pela alma

18. _ _ _ _ _ _, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei

11. Precursor da magnetização

5. Autora de Mãe, ditado ao médium Chico Xavier

4. Personagem do livro Nosso Lar

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No trabalho de educação espí-rita, Laurinha e seus amigos

prestam atenção na educadora:– Nós estamos num planeta de pro-vas... Essas provas são para o nos-so crescimento. Elas nos preparam para sermos melhores.Aninha levantou a mão e pergun-tou:– Que tipo de prova?– As difi culdades, as adversidades da vida, desafi os que enfrentamos. Muitas vezes dentro de nossa pró-pria casa, como pais, fi lhos. Ou mesmo na profi ssão, sendo pro-fessor, pedreiro, médico, porque aprendemos muito quando nos re-lacionamos uns com os outros. São muitas as experiências que servem para nós evoluirmos, crescermos... André levanta a mão e fala:– Achei que fosse prova apenas

quando uma pessoa nasce com uma defi ciência ou quando passa por situações muito difíceis. E a professora muito atenciosa res-ponde: – André, podemos dizer que as pro-vas são as experiências gerais para o nosso amadurecimento e as ex-piações situações ou condições de aprendizados que nos ligam a uma ação não muito boa, no passado. São as experiências que nos ajudam a crescer, nos superarmos dia a dia.Laurinha levanta a mão e comenta:– Isso sem contar as provas de Matemática, Português, Geogra-fi a, História, Inglês ... Nós também aprendemos e nos superamos com elas, né?Os alunos riem e a professora expli-ca que não é bem dessas provas que ela está falando, mas que elas tam-

bém fazem parte do aprendizado. Assim, continua a explicação:– Vivemos num planeta de provas e expiações, com isso... Antes de a professora terminar a frase, Laurinha a interrompe com uma grande gargalhada e diz:– Ah, viu como era das provas da escola que estavam falando no Evangelho? Provas e expiações? E naquele tempo já existia cola, mas em vez de fazer papelzinho eles espia-vam as provas do ami-go. Espertinhos eles, hein?

LEItURA

cOISAS dE LAURINHA Por tAtIANA BENItES

Muitas vezes somos levados por impulso ou propositadamente a prometer coisas, fazer pedidos,

realizarmos proezas e até mesmo jurar que assumiremos determinadas atitudes, seja por inocência ou conveniência.

Tais atos manifestados aleatoriamen-

te ofuscam a visão de toda trajetória a ser desenvolvida, mediada e até infl uenciada por nossas promessas. O percurso de nossa existência será monitorado, dirigido e até mesmo modifi cado segundo aquilo que as-sumimos.

Incorporar e manter um jura-mento implica adotar uma pos-tura de aceitação, abnegação e de comprometimento. E essa, muitas vezes, difere de nossa própria von-

tade, de nossa busca pela felicidade e por realizações pessoais.

Toda promessa feita implicará alteração de hábitos, maneiras, costumes e sentimen-tos. E o desfecho disso pode ser negativo, tra-zer infelicidade, inclusive para as pessoas ao nosso redor, envolvidas nesse compromisso.

A importância do juramento ou da promessa está na conscientização de que

para fazê-los é preciso ter clareza do quanto podemos prosseguir levando adiante tudo o que foi prometido, o quanto isso irá in-terferir em nossa vida e na de outrem e o quanto estamos dispostos a renunciar e até mesmo nos sacrifi carmos em benefício do próximo.

O livro As quatro deusas da Babilônia, de Maria Augusta F. Puhlmann (Editora Correio Fraterno), narra a história de um rei e suas deusas, que unidos pelos laços de um juramento feito em tempos idos, con-vivem com todas as alegrias, tristezas, pai-xões mal resolvidas e sofrimentos oriundos de tal decisão.

Direta ou indiretamente, os frequenta-dores do palácio também são aprisionados nas teias desse compromisso e suas vidas são moldadas nem sempre como almejam, mas de acordo com os ditames resultantes dos mistérios que envolvem o rei e as deusas.

Somos agraciados durante a narrativa com a descrição da magnitude, esplendor e suntuosidade do palácio, onde o luxo e o extremo bom gosto imperam. Os Jardins Suspensos da Babilônia são uma constante, recordando-nos sua beleza e engenhosidade.

A trama enfoca o auge das conquistas do império em que o retorno do rei, após uma batalha vitoriosa, era festejado com mulheres bonitas, bebidas e muita diver-são. Em meio a tudo isso, uma organização chamada Confraria dos Filhos da Luz tem em seus seguidores peças fundamentais para elucidar a narrativa.

Entre o apogeu e a queda da Babilônia, fatos, particularidades envolvendo o rei, as deusas e todos no palácio direcionam a leitura e despertam a curiosidade do leitor.

Obra riquíssima em detalhes, agradável e que sugere a refl exão: Estamos prepara-dos para manter um juramento até o fi m?

A força de um juramentoPor SONIA M. c. KASSE

te ofuscam a visão de toda trajetória a ser desenvolvida, mediada e até infl uenciada por nossas promessas. O percurso de nossa existência será monitorado, dirigido e até mesmo modifi cado segundo aquilo que as-sumimos.

tade, de nossa busca pela felicidade e por realizações pessoais.

de provas e expiações,

Antes de a professora terminar a frase, Laurinha

Por tAtIANA BENItES

Provas e expiações

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14 CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2012

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pressentimento é uma in-tuição vaga das coisas futu-ras. Certas pessoas têm essa

faculdade mais ou menos desenvolvida; podem devê-las a uma espécie de segunda vista que lhes permite entreverem as conse-quências das coisas presentes .” (O livro dos médiuns, p. 184.)

A senhora muito distinta procurou seu médico para o tratamento.

O homeopata, preocupado não só com a enfermidade, mas também com a pessoa, descobriu-lhe um medo que a acompanha-

va desde há muito tempo. Era uma preo-cupação excessiva com uma de suas filhas, como se algo trágico pudesse lhe acontecer.

Seguiu o tratamento homeopático, curou-se da parte física e também superou seu medo. A preocupação excessiva com a filha deu lugar a um justo cuidar. Foi to-cando sua vida e os anos se passaram.

A filha, agora já na faculdade, também fazia tratamento homeopático com o mes-mo médico.

Durante a consulta, relatou um sonho que muito a impressionou. Sonhara que

FOI ASSIM

Não era um simples medoPor HAMILtON cAMARGO ROdRIGUES

estava num velório. Deitado no caixão, junto com seu padrinho já falecido, estava seu noivo querido. Despertou assustada, ficando muito preocupada com o sonho.

Na semana seguinte, viajou para o Rio de Janeiro com o noivo. Na volta, uma car-reta desgovernada invadiu a outra pista da via Dutra e bateu de frente com o carro dos jovens. O choque inevitável foi muito vio-lento. O veículo foi totalmente esmagado, e o casal morreu na hora. Esse fato aconte-ceu exatamente uma semana após o relato do sonho ao médico.

VOcÊ SABIA?

São inúmeros e muito coerentes en-tre si os estudos, artigos e livros que

tratam do que se convencionou chamar de “transição planetária”. Segundo afir-mação geral, a Terra passará por transfor-mação radical, de mundo de expiações e provas para mundo de regeneração e paz.

A origem dessa conceituação encon-tra-se, sobretudo, na terceira bem-aven-turança do Sermão da Montanha, em que Jesus diz: “Bem-aventurados os man-sos, porque herdarão a terra” (Mt 5,5). Consoante à ideia vigente, nessa transição espiritual os violentos e delituosos serão

banidos para mundos inferiores ao nosso, ao passo que os mansos aqui encarnados, e outros espíritos mais evoluídos que para cá hão de vir, permanecerão na Terra, no gozo de muita paz e luz.

A nós, contudo, nos parece que nessa célebre bem-aventurança, Cristo não faz alusão à Terra, nosso planeta, mas à terra (com minúscula), à “terra prometida”, a sempre sonhada Canaã prometida por Deus a Abraão, e entre os judeus de então o símbolo mais difundido de paraíso ter-restre. E por isso ele afirmou que a “terra” seria herdada, não pelos bravos de espada,

mas pelos bons, pelos mansos, cuja man-suetude os tornaria felizes, e mais que isso, bem-aventurados.

Tanto é assim que dessa transição ideal já falavam os antigos, entre os quais Davi, autor do “Salmo 37”, versículo11, em que se lê: “Os mansos herdarão a terra e se de-leitarão na abundância e na paz”. No cele-bérrimo Êxodo, Moisés e seus seguidores perambularam durante quarenta anos pelo deserto na esperança de achar a “terra prometida” que, ao final, não acharam.

Ora, se a bem-aventurança em que Jesus repete o salmista se refere à propala-

da “terra prometida”, e não à Terra (com maiúscula), prejudica-se o conceito atual de transição planetária a que se referem os supracitados autores de artigos, estudos e livros. A Terra, cada vez mais aperfei-çoada pelo progresso técnico-científico, certamente continuará na sua feição cós-mica de mundo destinado às experiências evolutivas dos espíritos, sujeitos, por isso, às injunções do sofrimento determinado pela inexorável lei de ação e reação.

Ubiratan Rosa é escritor e orador espírita de Ca-çapava, SP

A terra que os mansos herdarão

Contabilidade – abertura e enCerramento de empresa – Certidões

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Por UBIRAtAN ROSA

“O A mãe, outrora temerosa de que um acidente pudesse ocorrer com a filha que-rida, pela primeira vez não se preocupou com sua saída, estava tranquila; sua filha e o noivo já eram adultos e muito prudentes.

A dor da perda teve que ser enfrenta-da pela mãezinha dedicada, o tratamento médico havia-lhe retirado o medo, mas a premonição da tragédia era real, e essa não pôde ser evitada.

Hamilton Camargo Rodrigues é médico, residente em Uberlândia, MG

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JANEIRO - FEVEREIRO 2012 CORREIO FRATERNO 15

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MUNdO SUStENtÁVEL

Por que o país campeão mundial de água doce necessita de investimen-tos urgentes para evitar o colapso no

abastecimento? Quais os principais desafi os do Brasil na era da Política Nacional de Resíduos Sólidos? É possível ser feliz sem se render aos apelos da sociedade de con-sumo? Onde o planejamento urbano faz a diferença em favor da saúde e do bem-estar? Onde a economia de baixo carbono já é rea-lidade? Como medir o valor monetário dos serviços ambientais prestados pelos ecossis-temas? Qual o papel da comunicação na construção de uma sociedade sustentável?

Essas e outras questões estratégicas e urgentes para nosso bem-estar coletivo e de nosso planeta estão presentes no novo livro que estamos lançando neste mês de fevereiro chamado Mundo sustentável 2: novos rumos para um planeta em crise. Era para ser uma versão revista e atualizada do livro Mundo sustentável – abrindo espaço na mídia para um mundo em transformação, lançado em 2005 e que mantinha-se vivo no mercado editorial com sucessivas reim-pressões. Mas o projeto foi além, alcançou vida própria e se transformou em um novo livro recheado de reportagens, artigos e co-mentários que resumem o que nos parece mais importante no universo socioambien-tal da atualidade.

Reunimos no livro os principais aspec-tos da maior crise ambiental da história da Humanidade e os caminhos que já estão sendo trilhados na direção de um novo mo-

Novos rumos para um planeta em crisePor ANdRÉ tRIGUEIRO

delo de civilização. Energia, biodiversidade, água, lixo, planejamento urbano, meios de produção e de consumo, saúde, educação e comunicação são alguns dos temas em des-taque. A característica-chave da publicação é a convergência de diferentes mídias no formato de um livro. Comentários feitos pelo rádio, artigos publicados em jornais ou na internet e reportagens de TV convivem lado a lado, transcritos com o cuidado de se respeitar os diferentes tons de linguagem originalmente adotados em cada veículo.

Em cada um dos oito capítulos temá-ticos, há textos de convidados muito es-peciais, entre eles, Adalberto Veríssimo,

Marcos Terena, Mi-riam Leitão, Paulo Saldiva, Roberto Schaeff er, Roberto Smeraldi, Samyra Crespo, Sérgio Abranches e Su-zana Khan. Por decisão do autor, 100% dos direitos autorais foram cedidos para o CVV (Centro de Valorização da Vida) que está completando 50 anos de serviço voluntário de apoio emocional e prevenção do suicídio (www.cvv.org.br)

Recomendo a leitura aos amigos do

Correio Fraterno, sempre muito gene-rosos na atenção dispensada neste espaço aos assuntos inerentes à qualidade de vida em nossa casa planetária. Será um honra encontrá-los pessoalmente nos lançamen-tos agendados no Rio de Janeiro e São Paulo.

Rio de Janeiro:Dia 6 de fevereiro, às 19h, na Livraria da Travessa – Shopping Leblon.

São Paulo: 13 de fevereiro, às 19h, na Livraria Cultura – Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073)

Talk-show ao vivo sobre o livro para a Rádio CBN

Por ter abraçado a causa em defesa do meio ambiente, da vida, o jornalista André Trigueiro há 20 anos realiza um tra-balho específi co de palestras sobre suicídio, um tema ainda repleto de tabus. Daí sua homenagem ao CVV – Centro e Valorização da Vida, que comemora 50 anos de fundação e a quem está direcionando os direitos autorais do novo livro. Interesse em sustentabilidade e formação acadêmica em Gestão Ambiental possibilitaram a trigueiro um verdadeiro mergulho investigativo, inclusive da relação do tema com o espiritismo, o que desencadeou outro sucesso editorial, Espi-ritismo e ecologia (Ed. FEB). Em entrevista concedida em 2009 ao correio Fraterno, a partir da qual começou a assinar carinhosamente a coluna “Mundo sustentável” do jornal, André lembra que a educa-ção para a sustentabilidade encerra princípios éticos e morais,

valorizados pela doutrina espírita. Segundo ele, a posição assumida pelo espiritismo em favor da vida– condenando o aborto, a eutanásia e o suicídio – alcança também a dimen-são planetária na condenação do ecocídio. ou seja, a capaci-dade de a Humanidade realizar escolhas que reduzam nossas possibilidades de existência nesse plano. “O mundo de rege-neração, como confi rma Santo Agostinho, é a condição de orbe mais evoluído ética e moralmente, entretanto, não há qualquer menção às qualidades ambientais deste mundo. Ou seja, podemos deduzir que os suprimentos de água limpa, solo fértil, ar puro, biodiversidade e as condições climáticas serão defi nidos a partir das escolhas que realizarmos agora.” Tudo é uma questão de equilíbrio, de usar e não abusar”.

Leia a entrevista e os textos completos de André Trigueiro publicados no jornal no nosso site (www.correiofraterno.com.br)

Compromisso com as causas sociais

aos assuntos inerentes à qualidade de vida em nossa casa planetária. Será um honra encontrá-los pessoalmente nos lançamen-tos agendados no Rio de Janeiro e São Paulo.

Rio de Janeiro:

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