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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Fundada em 18 de Fevereiro de 1808 Monografia Correlação Clínico-Radiológico- Patológica das Vasculites ANCA- Associadas com Envolvimento Pulmonar Camila Tavares Joau e Silva Salvador (Bahia) Junho, 2012

Correlação Clínico-Radiológico- Patológica das Vasculites ... Tavares... · Monografia: Correlação Clínico-Radiológico-Patológica das Vasculites ANCA-Associadas com Envolvimento

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de Fevereiro de 1808

Monografia

Correlação Clínico-Radiológico-Patológica das Vasculites ANCA-

Associadas com Envolvimento Pulmonar

Camila Tavares Joau e Silva

Salvador (Bahia)

Junho, 2012

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária de Saúde, SIBI - UFBA.

S586 Silva, Camila Tavares Joau e

Correlação clínico-radiológico-patológica das vasculites ANCA-associadas com envolvimento pulmonar / Camila Tavares Joau e Silva. – Salvador, 2012.

90 f.

Orientador: Prof. Dr. Jorge Luiz Pereira e Silva Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) –

Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Medicina da Bahia, 2012.

1. Medicina. 2. Vasculites. 3. Saúde. I. Silva, Jorge Luiz Pereira e. II. Universidade Federal da Bahia. III. Título.

CDU 616

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de Fevereiro de 1808

Monografia

Correlação Clínico-Radiológico-Patológica das Vasculites ANCA-

Associadas com Envolvimento Pulmonar

Camila Tavares Joau e Silva

Professor-orientador: Jorge Luiz Pereira e Silva

Monografia de conclusão do componente curricular MED-B60, do currículo médico da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), apresentada ao Colegiado do Curso de Graduação em Medicina da FMB-UFBA.

Salvador (Bahia), 2012

iii

Monografia: Correlação Clínico-Radiológico-Patológica das Vasculites ANCA-Associadas com Envolvimento Pulmonar. Camila Tavares Joau e Silva

Professor-orientador: Jorge Luiz Pereira e Silva

COMISSÃO EXAMINADORA Membros Titulares:

• Jorge Luiz Pereira e Silva (Presidente), Professor Associado do Departamento de Medicina Interna e Apoio Diagnóstico, FMB-UFBA.

• César Augusto de Araújo Neto, Professor Assistente do Departamento de Medicina Interna e Apoio Diagnóstico, FMB-UFBA.

• Antônio Raimundo Pinto de Almeida, Professor Associado do Departamento de Medicina Interna e Apoio Diagnóstico, FMB-UFBA

Salvador (Bahia), 2012

iv

Dedico este trabalho aos meus pais: à minha

querida mãe, Isabella Amaral Tavares Joau e

Silva, médica competente e inspiradora, mãe

amorosa e grande incentivadora de sua filha; e

ao meu querido pai, Sérgio Augusto Pereira

Joau e Silva, meu maior exemplo de ser

humano e verdadeiro orientador para a vida.

À minha família, avós, tios, primos e, em

especial, à minha irmã Giulia e a Marcelio, a

minha gratidão e o meu reconhecimento por

todo o apoio e carinho.

AGRADECIMENTOS

À Faculdade de Medicina da Bahia (FMB), professores e funcionários da

Universidade Federal da Bahia (UFBA), com especial destaque para a

Professora Dra. Lorene Louise Silva Pinto , Diretora da FMB, bem como a

todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desta

obra, o meu muito obrigado pelos ensinamentos e orientações.

Ao estimado Professor Dr. José Tavares-Neto, Coordenador do Núcleo de

Formação Científica da FMB-UFBA, pela criteriosa orientação e irrestrito apoio.

Ao querido Professor Dr. Jorge Luiz Pereira e Silva da FMB-UFBA, estimado

amigo, orientador e grande incentivador, pelo estímulo, partilha de saber e

apoio dados na elaboração deste meu trabalho.

Aos estimados Professores Doutores César Augusto de Araújo Neto e

Antônio Raimundo Pinto de Almeida , Professores do Departamento de

Medicina Interna e Apoio Diagnóstico, FMB-UFBA, pela anuência e honrosa

participação na banca examinadora deste trabalho.

Aos funcionários da FMB-UFBA por seus préstimos, em especial ao senhor

Antônio Damasceno e ao dedicado pessoal da Biblioteca, em especial à

senhora Rita , pelo apoio constante.

Aos colegas e amigos de turma do curso de Medicina da UFBA pelas

demonstrações de apreço, amizade e consideração, bem como pelo rico

aprendizado, fruto da sadia convivência ao longo de todo o curso.

Aos meus pais, companheiros e fiéis revisores desta obra, pela paciência e

pelo apoio incondicional e incentivo.

Finalmente, ao Deus da minha fé que guarda os meus dias e ilumina os meus

caminhos. A todos, o meu muito obrigado!

RESUMO

Esta monografia aborda a correlação clínico-radiológico-patológica das

vasculites ANCA-associadas (VAA) com envolvimento pulmonar. O objetivo do

trabalho é, a partir do estudo das vasculites sistêmicas e das VAA com

envolvimento pulmonar, verificar a importância da abordagem integrada clínico-

radiológico-patológica no diagnóstico e tratamentos dessas doenças. A

metodologia adotada comportou uma pesquisa bibliográfica, documental e

exploratória, predominantemente fundamentada em livros e periódicos, visando

a obter o adequado embasamento teórico para o estudo em tela. Mediante a

apresentação de casos ilustrativos bem-documentados, este estudo discorre

sobre as vasculites sistêmicas e suas características clínicas; descreve os

fundamentos da classificação atual e dos critérios diagnósticos das vasculites

sistêmicas; e apresenta os aspectos clínicos, radiológicos e histopatológicos

das VAA, com especial atenção ao acometimento pulmonar. Os principais

tópicos são: definição e classificação das vasculites sistêmicas e a sua

perspectiva histórica; vasculites dos grandes, médios e pequenos vasos; e a

epidemiologia, etiologia e patogênese, manifestações clínicas, características

histopatológicas e radiológicas, diagnóstico, prognóstico e o tratamento das

VAA. A conclusão demonstra a importância da combinação dos aspectos

clínicos, radiológicos, laboratoriais e histopatológicos particulares de cada

doença para o correto diagnóstico das vasculites, em especial das ANCA-

associadas com envolvimento pulmonar, o que confirma a hipótese da autora

da imprescindibilidade dessa abordagem integrada, não apenas para o

adequado diagnóstico, mas também para o eficaz tratamento dessas doenças.

Como corolário dessa conclusão, afirma, ainda, que as VAA estudadas,

embora guardem entre si algumas características comuns, podem ser

diferenciadas com base na correlação multidisciplinar.

Palavras chave: Vasculites. Vasculites sistêmicas. Vasculites ANCA-

associadas. Síndrome de Churg-Strauss. Poliangiite granulomatosa (Wegener).

Poliangiite microscópica.

ABSTRACT

This monograph addresses the clinical-radiologic-pathologic ANCA-associated

vasculitis (AAV) with pulmonary involvement. This work is based on the study of

systemic vasculitis and AAV with pulmonary involvement. It verifies the

importance of an integrated clinical-radiologic-pathologic correlation in

diagnosis and treatment of these diseases. The methodology involved a

literature review, documentary and exploratory, predominantly based on books

and periodicals in order to achieve adequate theoretical basis for this study.

Upon the presentation of well-documented illustrative cases, this study

discusses the systemic vasculitis and their clinical characteristics, describes the

principles of the current classification and diagnostic criteria of systemic

vasculitis, and presents the clinical, radiological and pathological findings of the

AAV, particularly with pulmonary involvement. The main topics are: definition

and classification of systemic vasculitis and its historical perspective; vasculitis

of large, medium and small vessels, and the epidemiology, etiology and

pathogenesis, clinical manifestations, histopathological and radiological

features, diagnosis, prognosis and treatment of AAV. The conclusion

demonstrates the importance of the combination of clinical, radiological,

laboratory and histopathology individual features of each disease for the

diagnosis of vasculitis, particularly the ANCA-associated with pulmonary

involvement, which confirms the author’s hypothesis about the indispensability

of this integrated approach, not only suitable for diagnosis, but also for the

effective treatment of these diseases. As a corollary of this conclusion, this work

also states that the AAV, although keep common characteristics, can be

differentiated based on a multidisciplinary correlation.

Keywords: Vasculitis. Systemic vasculitis. ANCA-associated vasculitis. Churg-

Strauss syndrome. Granulomatosis with polyangiitis (Wegener). Microscopic

polyangiitis.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADRO 1

FIGURA 1

Classificação das Vasculites ...................... .................................... 15

ANCA-C por imunofluorescência indireta ............ ......................... 27

FIGURA 2 ANCA-P por imunofluorescência indireta . .................................... 28

TABELA 1

TABELA 2

FIGURA 3

Tipos de ANCA associados com as Vasculites Primária s de

Pequenos Vasos .................................... .......................................... 29

Manifestações Clínicas da SCS ..................... ................................. 35

Imagem de biópsia (pneumonia eosinofílica e granulo ma

extravascular) .................................... ............................................... 38

FIGURA 4

FIGURA 5

FIGURA 6

FIGURA 7

FIGURA 8

QUADRO 2

QUADRO 3

TABELA 3

FIGURA 9

FIGURA 10

FIGURA 11

FIGURA 12

FIGURA 13

FIGURA 14

FIGURA 15

QUADRO 4

FIGURA 16

TABELA 4

FIGURA 17

Imagem de biópsia (capilarite necrosante) ......... .......................... 39

Radiografia torácica de paciente com SCS .......... ......................... 40

Tomografia computadorizada de tórax de paciente com SCS .... 41

Tomografia computadorizada de tórax de paciente com SCS .... 41

Tomografia computadorizada de tórax de paciente com SCS .... 42

Critérios do ACR de 1990 para a Classificação de SC S ............... 43

Five-Factor Score (FFS) – Escore de Cinco Fatores . ................... 47

Principais Manifestações da PAG ................... ............................... 52

Radiografia torácica de paciente com hemorragia alv eolar

secundária a PAG .................................. .......................................... 53

Capilarite e hemorragia pulmonar em PAG ........... ........................ 54

Nariz em sela em paciente com poliangiite granuloma tosa ........ 55

Fotomicrografia de biópsia renal (GNRP) de paciente com PAG 56

Imagem de biópsia (arterite granulomatosa e venulit e) em PAG 57

Imagem de biópsia (microabscesso e granuloma necros ante) em

PAG ................................................................................................... 58

Exemplos de manifestações radiológicas da PAG ..... .................. 59

Critérios do ACR de 1990 para a classificação da PA G ............... 60

Características histológicas da PAG ............... .............................. 62

Manifestações clínicas da PAM ..................... ................................. 66

Imagem de biópsia de tecido renal (glomerulonefrite necrosante

segmentar) em PAM ................................. ........................................ 67

FIGURA 18

FIGURA 19

FIGURA 20

QUADRO 5

TABELA 5

Imagem de biópsia pulmonar (hemorragia alveolar e c apilarite

neutrofílica) em PAM .............................. ......................................... 68

Radiografia torácica de paciente com PAM .......... ........................ 68

Tomografia computadorizada de tórax de paciente com PAM ... 69

Quadro comparativo entre as VAA com envolvimento pu lmonar 71

Avaliação da gravidade das vasculites e tratamento ................... 72

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACG

ACR

ALC

ANCA

-

-

-

-

Arterite de Células Gigantes

American College of Rheumatology

Angiite Leucocitoclástica Cutânea

Anticorpo Anticitoplasma de Neutrófilos

Anti-MBG

ASN

AT

-

-

-

Anticorpo Anti-Membrana Basal Glomerular

Sociedade Americana de Nefrologia

Arterite de Takayasu

CCH - Consenso de Chapel Hill

CG - Catepsina G

DK - Doença de Kawasaki

ELISA - Enzyme-Linked Immunoabsorbent Assay

EULAR - Liga Européia contra o Reumatismo

EUVAS - European Vasculitis Study Group

FR - Fator Reumatóide

FFS - Five-Factor Score

FMB - Faculdade de Medicina da Bahia

GN

GNRP

HAD

HAS

H&E

HLA

HLE

IFI

-

-

-

-

-

-

-

-

Glomerulonefrite

Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva

Hemorragia Alveolar Difusa

Hipertensão Arterial Sistêmica

Hematoxilina e Eosina

Human Leucocyte Antigen

Elastase

Imunofluorescência Indireta

IgA

IgE

IgG

IgM

-

-

-

-

Imunoglobulina A

Imunoglobulina E

Imunoglobulina G

Imunoglobulina M

LBA - Lavado Broncoalveolar

LF - Lactoferrina

MPO - Mieloperoxidase

PAG - Poliangiite Granulomatosa

PAM - Poliangiite Microscópica

PAN - Poliarterite Nodosa

PAS

PCR

-

-

Periodic acid-Schiff (do inglês) Proteína C Reativa

PHS

PR3

-

-

Púrpura de Henoch-Schönlein

Proteinase 3

SCS - Síndrome de Churg-Strauss

SHE - Síndrome Hipereosinofílica

TC

TCAR

-

-

Tomografia Computadorizada

Tomografia Computadorizada de Alta Resolução

UFBA - Universidade Federal da Bahia

VAA

VAS

VC

VHS

-

-

-

-

Vasculites ANCA-associadas

Vias Aéreas Superiores

Vasculite Crioglobulinêmica

Velocidade de Hemossedimentação

1

1

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 03

2 AS VASCULITES SISTÊMICAS ................................................................... 05

2.1 VASCULITES SISTÊMICAS: DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO ................... 05

2.2 VASCULITES SISTÊMICAS: PERSPECTIVA HISTÓRICA DAS

CLASSIFICAÇÕES ................................................................................................... 07

2.2.1 Vasculites dos Grandes Vasos .................................................................. 09

2.2.1.1 Arterite de Células Gigantes (Arterite Temporal) ........................................... 09

2.2.1.2 Arterite de Takayasu ..................................................................................... 10

2.2.2 Vasculites de Vasos de Médio Porte ......................................................... 11

2.2.2.1 Poliarterite Nodosa ........................................................................................ 11

2.2.2.2 Doença de Kawasaki ..................................................................................... 12

2.2.3 Vasculites de Pequenos Vasos .................................................................. 13

2.2.3.1 Púrpura de Henock-Schönlein ....................................................................... 14

2.2.3.2 Vasculite Crioglobulinêmica .......................................................................... 15

2.2.3.3 Síndrome do Anticorpo anti-Membrana Basal Glomerular ........................... 16

2.2.3.4 Vasculites ANCA-Associadas ........................................................................ 17

3 VASCULITES ANCA-ASSOCIADAS ............................................................... 20

3.1 SÍNDROME DE CHURG-STRAUSS ................................................................. 20

3.1.1 Epidemiologia ................................................................................................. 21

3.1.2 Etiologia e Patogênese .. ................................................................................ 22

3.1.3 Manifestações Clínicas .................................................................................. 24

3.1.4 Achados Histopatológicos ............................................................................ 28

3.1.5 Apresentação Radiológica .. .......................................................................... 30

3.1.6 Diagnóstico . .................................................................................................... 33

3.1.7 Prognóstico .. .................................................................................................. 36

3.2 POLIANGIITE GRANULOMATOSA............... ................................................... 38

3.2.1 Substituição do Epônimo .............................................................................. 39

3.2.2 Epidemiologia .. ............................................................................................... 39

3.2.3 Etiologia e Patogênese .................................................................................. 41

3.2.4 Manifestações Clínicas .................................................................................. 41

2

2

3.2.5 Achados Histopatológicos .. .......................................................................... 47

3.2.6 Apresentação Radiológica . ........................................................................... 48

3.2.7 Diagnóstico .. ................................................................................................... 50

3.2.8 Prognóstico .. .................................................................................................. 53

3.3 POLIANGIITE MICROSCÓPICA ....................................................................... 54

3.3.1 Epidemiologia ................................................................................................. 54

3.3.2 Etiologia e Patogênese .. ................................................................................ 55

3.3.3 Manifestações Clínicas .................................................................................. 55

3.3.4 Achados Histopatológicos ............................................................................ 56

3.3.5 Apresentação Radiológica .. .......................................................................... 58

3.3.6 Diagnóstico . .................................................................................................... 59

3.3.7 Prognóstico .. .................................................................................................. 61

3.4 TRATAMENTO DAS VASCULITES ANCA-ASSOCIADAS ............................... 62

4 CONCLUSÃO ................................................................................................... 65

REFERÊNCIAS ................................................................................................. 67

3

1 INTRODUÇÃO

“As vasculites pulmonares primárias são doenças raras e seus diagnósticos estão entre os mais desafiadores da medicina, por serem os sinais e sintomas inespecíficos e comuns a diversas outras doenças, (...); o diagnóstico das vasculites depende, sobretudo, do reconhecimento de combinações de características clínicas, radiológicas, laboratoriais e histopatológicas particulares” (tradução livre).

Doutora Eva Castañer, Membro do Serviço de Radiologia do Hospital del Parc Taulí de Sabadell, Espanha (CASTAÑER, 2010).

O termo vasculite compreende uma série de condições clínicas

heterogêneas, caracterizadas por um processo inflamatório destrutivo

acometendo a parede dos vasos sanguíneos. Diferentes tipos de vasos em

diversos órgãos podem estar envolvidos, podendo afetar artérias, arteríolas,

capilares, vênulas e veias, isto é, vasos de grande, médio e pequeno calibres.

Dessa forma, costumam apresentar-se com manifestações clínicas variadas,

com sinais e sintomas determinados pelo tipo, tamanho e localização dos

vasos acometidos.

As vasculites podem ser secundárias a condições subjacentes, como

infecções, drogas, distúrbios de hipersensibilidade, doenças do tecido

conjuntivo e doenças neoplásicas, sendo a inflamação vascular, nestes casos,

uma manifestação da doença de base. Nas situações em que a vasculite é o

processo primário, são denominadas de vasculites primárias. Estas são

doenças sistêmicas raras e de etiologia desconhecida, sendo classificadas de

acordo com o calibre dos vasos predominantemente acometidos.

As vasculites paucimunes ANCA-associadas1 são classificadas como

vasculites de pequenos vasos e caracterizadas por inflamação necrosante

afetando principalmente capilares, vênulas, arteríolas e pequenas artérias. No

cenário das vasculites sistêmicas, o envolvimento pulmonar é mais freqüente

nesse subgrupo, foco principal desse estudo. Além da baixa prevalência, seu

diagnóstico representa um grande desafio devido à baixa especificidade dos

sinais e sintomas, por vezes sobrepostos e facilmente confundidos com os de

outras condições. Dessa forma, o diagnóstico das vasculites baseia-se na

1 Anticorpos anticitoplasma de neutrófilos, ou ANCA, são imunoglobulinas dirigidas contra

enzimas constituintes dos grânulos citoplasmáticos de neutrófilos. Sua presença está associada a determinado grupo de vasculites (mais informações a respeito serão detalhadas ao longo do trabalho).

4

correlação entre os achados clínicos, radiológicos, laboratoriais e

histopatológicos peculiares a cada uma dessas entidades, que requer um alto

índice de suspeição diagnóstica.

O presente trabalho foi elaborado por meio de uma pesquisa

bibliográfica e exploratória, predominantemente fundamentada em livros e

periódicos, com base na seguinte premissa: o diagnóstico específico das

vasculites ANCA-associadas (VAA) depende fundamentalmente de um alto

índice de suspeição diagnóstica fundamentado na correlação clínico-

radiológico-patológica, complementada por exames laboratoriais específicos.

Mediante a apresentação de casos ilustrativos bem-documentados, este

estudo aborda o tema vasculites ANCA-associadas com envolvimento

pulmonar, considerando os aspectos clínicos, radiológicos e histopatológicos

destas doenças; bem como discorre sobre as vasculites sistêmicas e suas

características clínicas; descreve os fundamentos da classificação atual e dos

critérios diagnósticos das vasculites sistêmicas; apresenta os aspectos clínicos,

radiológicos e histopatológicos das VAA, com especial atenção ao

acometimento pulmonar; e advoga a importância da correlação clínico-

radiológico-patológica para o diagnóstico específico das VAA com

envolvimento pulmonar.

Embora haja outros tipos de vasculites de pequenos vasos com

acometimento pulmonar, no presente trabalho serão abordadas apenas as

vasculites ANCA-associadas: síndrome de Churg-Strauss (SCS), poliangiite

granulomatosa (PAG) e poliangiite microscópica (PAM).

No desenvolvimento desta monografia, o primeiro capítulo após a

introdução é dedicado ao estudo das vasculites sistêmicas (definição e

classificação). A seguir, no Capítulo 3, são apresentadas as VAA, com

destaque para a epidemiologia, etiologia e patogênese, manifestações clínicas,

características histopatológicas e radiológicas, diagnóstico, prognóstico e

tratamento das mesmas. Finalmente, são apresentadas conclusões que

permitirão ao leitor perceber como a abordagem integrada clínico-radiológico-

patológica ao paciente com vasculite, em especial as ANCA-associadas com

envolvimento pulmonar, é de fundamental importância para o seu adequado

diagnóstico e, dessa forma, entender a sua imprescindibilidade no tratamento

dessas doenças.

5

2 AS VASCULITES SISTÊMICAS

2.1 VASCULITES SISTÊMICAS: DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

As vasculites sistêmicas compreendem um grupo de doenças

caracterizadas por um processo inflamatório que acomete vasos sanguíneos,

acompanhado de destruição das paredes vasculares e necrose tecidual

(ARAS, 2011). O termo vasculite compreende diversas entidades nosológicas

(QUADRO 1), que podem ser secundárias a condições subjacentes - como

infecções, uso de drogas, distúrbios de hipersensibilidade, doenças do tecido

conjuntivo e enfermidades neoplásicas (BARBAS, 2005) - sendo a inflamação

vascular, a manifestação preponderante da doença de base. Nas situações em

que a vasculite é o processo fundamental, elas são denominadas vasculites

primárias.

CLASSIFICAÇÃO DAS VASCULITES

VASCULITES IDIOPÁTICAS PRIMÁRIAS

Grandes vasos: Arterite de células gigantes Arterite de Takayasu

Médios vasos: Poliarterite nodosa Doença de Kawasaki

Pequenos vasos: Síndrome de Churg-Strauss Poliangiite granulomatosa Poliangiite microscópica

VASCULITES PRIMÁRIAS MEDIADAS POR IMUNOCOMPLEXOS Púrpura de Henoch-Schönlein Vasculite Crioglobulinêmica Síndrome de Goodpasture

VASCULITES SECUNDÁRIAS Doenças autoimunes:

Lúpus eritematoso sistêmico Artrite reumatóide Polimiosite, dermatomiosite Esclerose sistêmica progressiva

6

Síndrome de anticorpos antifosfolípidas Doença inflamatória intestinal Reação medicamentosa Síndromes paraneoplásicas Infecções

Quadro 1 – Classificação das Vasculites

Fonte: Castañer, 2010.

As vasculites primárias, por sua vez, são doenças sistêmicas raras e de

etiologia desconhecida. Diferentes tipos de vasos em diversos órgãos são

envolvidos, podendo afetar artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias, cuja

distribuição preponderante constitui a base da classificação das vasculites de

grande, médio e pequeno calibre (WIIK, 2003). As manifestações clínicas são

variadas, com sinais e sintomas determinados pelo tipo, tamanho e localização

dos vasos acometidos. As apresentações clínicas normalmente incluem sinais

e sintomas constitucionais - como febre, mialgia, artralgia, mal-estar geral -

acompanhadas de manifestações locais de isquemia ou sangramento, bem

como de sintomas sistêmicos que refletem o comprometimento vascular.

A classificação das vasculites sistêmicas mais amplamente utilizada diz

respeito ao calibre dos vasos afetados. Os grandes vasos geralmente denotam

a artéria aorta e seus principais ramos, sendo as principais vasculites deste

grupo a arterite de células gigantes (ACG) e arterite de Takayasu (AT). Os

vasos de médio calibre dizem respeito às artérias viscerais (por exemplo:

artérias renais, hepáticas, mesentéricas e coronárias), estando compreendidas

neste grupo, dentre outras, a poliarterite nodosa (PAN) e a doença de

Kawasaki (DK). E, por fim, os pequenos vasos, incluindo pequenas artérias,

arteríolas, vênulas e capilares. Integram este último grupo as vasculites

mediadas por imunocomplexos – púrpura de Henoch-Schönlein (PHS) e a

vasculite crioglobulinêmica (VC) –, a angiite leucocitoclástica cutânea (ALC), as

associadas ao anticorpo anti-membrana basal glomerular (anti-MBG) e as

chamadas vasculites paucimunes ou ANCA-associadas – síndrome de Churg-

Strauss (SCS), poliangiite granulomatosa (PAG) e poliangiite microscópica

(PAM).

7

2.2 VASCULITES SISTÊMICAS: PERSPECTIVA HISTÓRICA DAS

CLASSIFICAÇÕES

Desde as primeiras descrições da poliarterite nodosa, por Kussmaul e

Maier em 1866 (KUSSMAUL e MAIER, 1866), muitos buscaram desenvolver

uma nomenclatura unificada e um sistema de classificação para as vasculites

sistêmicas. No entanto, as definições e classificações propostas são ainda

objeto de controvérsia. Estudos epidemiológicos e um maior entendimento

acerca das características clínicas, do prognóstico e da resposta terapêutica

destas doenças ficavam, por conseguinte, comprometidos, em face da

dificuldade em se realizar estudos científicos frente à ausência de uma forma

padronizada para classificá-las (KALLENBERG, 2008).

A classificação empregada inicialmente considerava o tamanho dos

vasos acometidos e achados histopatológicos na biópsia da lesão vascular

(BRUCE e BELL, 1997). Era, todavia, bastante abrangente, por vezes

admitindo dúvidas quanto ao diagnóstico específico, não sendo incomum que

diferentes nomes fossem usados para se referir a uma mesma doença

(JENNETTE e FALK, 1994). Fazia-se necessária, portanto, uma classificação

mais uniforme e eficaz, que definisse critérios apropriados a serem preenchidos

para o estabelecimento do diagnóstico adequado da doença.

Dois principais sistemas de classificação foram então propostos – os

critérios do Colégio Americano de Reumatologia (American College of

Rheumatology, ACR) de 1990 e o Consenso de Chapel Hill (CCH) de 1994 –,

permanecendo amplamente utilizados por muito tempo (LIU, 2008).

Os critérios do ACR de 1990 surgiram a partir da análise de um vasto

número de casos de vasculites, baseada em características clínicas e exames

complementares (BRUCE e BELL, 1997). Foram concebidos notadamente com

o intuito de apresentar uma abordagem diagnóstica padronizada e eficaz que

permitisse a realização de estudos epidemiológicos (HUNDER, 1990). Apesar

de oferecer grande valor discriminatório entre uma síndrome vasculítica e

outra, não se adequava, porém, para distinguir vasculite de outras doenças.

Além disso, deixava de incluir algumas doenças, como a poliangiite

microscópica, tampouco considerava os anticorpos anticitoplasma de

neutrófilos (ANCA) nos critérios de classificação (LANE, 2002).

8

O Consenso de Chapel Hill (CCH) para a Nomenclatura das Vasculites

Sistêmicas, realizada na cidade americana de Chapel Hill, no estado da

Carolina do Norte (EUA), em 1992 e publicada em 1994, contou com a

participação de um grupo seleto de clínicos e patologistas de seis países e de

diversas especialidades, tais como reumatologistas, nefrologistas e

imunologistas, com vasta experiência no diagnóstico de vasculites (JENNETTE

e FALK, 1994). O documento que resultou desse encontro multidisciplinar tinha

por objetivo determinar um sistema unificado de nomenclatura aliado a

conceitos relacionados aos principais tipos de vasculites (JENNETTE e FALK,

1994). Como principal limitação, não estabelecia critérios diagnósticos, fato que

restringia o seu uso na prática clínica (KALLENBERG, 2008). Outro avanço

apresentado pelo Consenso de Chapel Hill foi o reconhecimento da importância

do ANCA para o diagnóstico das chamadas vasculites paucimunes (WATTS,

2007), ou vasculites ANCA-associadas (VAA), o principal escopo deste

trabalho, que serão pormenorizadas no próximo capítulo.

Posteriormente, a Nova Classificação Européia, atualmente utilizada,

surgiu sob a forma de algoritmo para o diagnóstico específico das vasculites

sistêmicas. Esta combinava os critérios do ACR, os conceitos do Consenso de

Chapel Hill e os critérios de Lanham2 para a síndrome de Churg-Strauss

(WATTS, 2007). Este algoritmo trouxe vantagens, destacando sua classificação

clínica simplificada para as VAA e para a poliarterite nodosa (PAN)3

(KALLENBERG, 2008), facilitando assim a realização de estudos

epidemiológicos e comparativos, e sua aplicação clínica (LIU, 2008). De acordo

com Liu et al, com o algoritmo de Watts, reduzir-se-ia o número de casos que

permaneceriam sem classificação definida, bem como a ocorrência de

sobreposição de diagnósticos.

2 Critérios de Lanham: critérios clínicos publicados em 1984 por Lanham et at para o diagnóstico clínico da síndrome de Churg-Strauss. Os pacientes analisados em seu estudo possuíam o diagnóstico de SCS, porém não era possível classificá-los segundo os critérios da ACR nem pelos critérios do CCH (LANHAM, 1984; REID, 1998). Mais informações sobre os critérios retro mencionados constam do subitem 3.1 - Síndrome de Churg-Strauss, deste trabalho. 3 Poliarterite nodosa (PAN): esta foi incluída no algoritmo de Watts devido a ocorrência de sobreposição de diagnósticos. Pacientes classificados como PAN, de acordo com os critérios do ACR, eram considerados como portadores de poliangiite microscópica, segundo os conceitos do CCH.

9

A seguir, são apresentadas considerações sobre cada grupo das

vasculites de grandes, médios e de pequenos vasos.

2.2.1 Vasculites dos Grandes Vasos As grandes artérias elásticas, a saber, a aorta e seus grandes ramos,

contribuem para estabilizar o fluxo sanguíneo, tornando-o mais uniforme e,

assim, contribuindo para manter a pressão arterial e a perfusão tecidual. Estas

artérias são as principais acometidas nas vasculites que compõem este grupo.

As principais vasculites dos vasos de grande calibre - a arterite de células

gigantes e a arterite de Takayasu - são caracterizadas pela presença de

inflamação granulomatosa com células gigantes acometendo a aorta e seus

ramos principais.

2.2.1.1 Arterite de Células Gigantes (Arterite Temp oral)

A arterite de células gigantes (ACG), também conhecida como arterite

temporal, é uma vasculite sistêmica que acomete artérias de médio a grande

calibres, na presença de inflamação granulomatosa nas paredes vasculares

(WANG, 2008). Com incidência de 200casos/1.000.000/ano, é considerada a

vasculite primária mais comum (SAVAGE, 2000). Sua ocorrência está

relacionada à idade, sendo rara em indivíduos com menos de 50 anos, e

predomina no gênero feminino e na raça branca, especialmente na

Escandinávia e populações norte-americanas (SMITH, FIDLER e PINALS,

1983). Além da artéria temporal, outras são frequentemente acometidas, como

as ciliares, a oftálmica e a artéria central da retina.

O aparecimento de cefaléia é o sintoma mais frequente desta condição e

possui caráter variável, constante ou intermitente, lancinante ou pulsátil.

Também são comuns sintomas constitucionais - febre, perda ponderal, fadiga,

sudorese noturna e anorexia - além de claudicação da mandíbula, disfunção da

língua e otalgia (CALAMIA, 1980). Perda visual permanente, acidentes

vasculares cerebrais isquêmicos e aneurismas de aorta torácica e abdominal

são complicações temidas da ACG.

10

Possui importante associação com a polimialgia reumática, síndrome

clínica caracterizada por dor e rigidez no pescoço e nas cinturas escapular e

pélvica, estando presente em 50% dos pacientes com ACG e, portanto,

contribuindo para o diagnóstico (EVANS, 2000).

O diagnóstico é confirmado por meio de biópsia da artéria temporal,

demonstrando vasculite com infiltrado predominantemente mononuclear ou

granulomas, geralmente com células gigantes multinucleadas. O tratamento é

realizado com corticosteróides em altas doses, devendo ser iniciado no

momento do diagnóstico (CALVO-ROMERO, 2003).

2.2.1.2 Arterite de Takayasu

Doença sem pulso, tromboaortopatia oclusiva ou síndrome de Martorell,

como também é conhecida a arterite de Takayasu (AT), é uma arterite

inflamatória crônica que afeta os grandes vasos, com particular predominância

a aorta e seus principais ramos. A inflamação dos vasos acometidos leva ao

espessamento da parede, possibilitando o aparecimento de estenoses,

obstruções e a formação de trombos (JOHNSTON, LOCK e GOMPELS, 2002).

É uma doença rara, afetando mais frequentemente mulheres jovens.

Possui distribuição mundial, porém predomina no Japão, sudeste asiático, Índia

e México (LANDE, 1976).

A apresentação clínica é variável, com sintomas que refletem o

comprometimento da perfusão orgânica secundária às estenoses e formações

trombóticas. Alguns achados, observados com maior freqüência, são: pulsos

com amplitude diminuída ou impalpáveis, claudicação de membros inferiores e

sopros arteriais. Manifestações não específicas também são comuns e incluem

febre, sudorese noturna, perda ponderal, artralgia, mialgia e anemia moderada

(HALL, 1985).

Hipertensão arterial sistêmica (HAS), muitas vezes presente, geralmente

reflete a estenose da artéria renal, vista em cerca de 38% dos pacientes. A

HAS é, com frequência, grave e pode levar à insuficiência cardíaca congestiva

e até à encefalopatia hipertensiva (KERR, 1994). Demais complicações

importantes são a formação de aneurismas de aorta, resultante da destruição

da camada média arterial, retinopatia e envolvimento neurológico.

11

A angiografia permanece como método de referência para o diagnóstico,

enquanto o tratamento é feito com corticosteróides e/ou agentes

imunossupressores.

2.2.2 Vasculites de Vasos de Porte Médio

Acometem predominantemente vasos de médio calibre, as artérias

viscerais principais, como as coronárias, hepática e mesentérica, e os seus

ramos. As duas principais categorias são a poliarterite nodosa e a doença de

Kawasaki (EDGELL e JENNETTE, 2002). Ambas as entidades causam arterite

necrosante aguda que pode ser complicada por trombose e hemorragia

(JENNETTE E FALK, 2005).

2.2.2.1 Poliarterite Nodosa

A poliarterite nodosa (PAN) é, por definição adotada no Consenso de

Chapel Hill de 1994, uma vasculite caracterizada por inflamação necrosante

das artérias de pequeno ou médio calibres, sem glomerulonefrite ou vasculite

nas arteríolas, capilares ou vênulas (JENNETTE e FALK, 1994).

Doença relativamente rara, de etiologia e patogenia desconhecidas, é

mais comum em homens, entre 40 e 60 anos de idade, atingindo uma

proporção de cerca de 2:1 em relação às mulheres (NEVES, 2001).

São descritos numerosos casos de associação de PAN com hepatite

pelo vírus B (GUILLEVIN, 2005). Segundo McMahon et al., esta associação é

uma complicação séria e com risco de morte que ocorre no início do curso de

uma infecção pelo vírus B, descrevendo melhora com terapia

imunossupressora e possibilidade de prevenção pela vacina contra o vírus

(MCMAHON, 1989).

O quadro clínico é variável, geralmente contemplado por sintomas

gerais, como febre, astenia e emagrecimento, além de demais sintomas, dentre

eles: articulares, neurológicos, cutâneos, digestivos, renais e cardíacos,

refletindo o acometimento sistêmico da doença.

Comprometimento articular, com artralgia ou artrite, está presente em

cerca de 50% dos casos, sendo a mais frequente a poliartrite assimétrica das

12

grandes articulações de membros inferiores (VALENTE e CONN, 2000).

Neuropatia periférica pode ser observada em 50 a 75% dos casos e, por vezes,

como uma manifestação inicial da doença. A apresentação mais comum é sob

a forma de mononeurite multiplex (polineuropatia assimétrica) (NEVES, 2001).

Em 60 a 80% dos casos, observa-se comprometimento renal, havendo

isquemia, hemorragia ou infarto renal, podendo levar à insuficiência do rim

afetado e até à hipertensão maligna. Raramente é descrita a ocorrência de

glomerulonefrite ou de sintomas pulmonares como hemoptise ou hemorragia

alveolar difusa. Tais achados, por sua vez, sugerem o acometimento de vasos

de pequeno calibre, denotando, portanto, uma vasculite de pequenos vasos,

como a poliangiite microscópica (PAM) ou a poliangiite granulomatosa (PAG)

(GUILLEVIN e LHOTE, 1995), síndromes vasculíticas estas que serão

discutidas posteriormente.

O diagnóstico é baseado na presença de aneurismas arteriais na

angiografia das circulações hepática, renal ou esplênica. A biópsia do músculo

ou do nervo afetado pode confirmar a presença de vasculite (SAVAGE, 2000).

Se não tratada, a PAN é fatal na maioria dos casos, geralmente pela

insuficiência renal crônica ou por complicações da hipertensão. O tratamento é

realizado com corticosteróides e agentes imunossupressores, como a

ciclofosfamida, resultando em sobrevida maior que 5 anos em 80% dos casos

(SILVA JUNIOR, 2010).

2.2.2.2 Doença de Kawasaki

A doença de Kawasaki (DK) apresenta-se como uma condição febril

aguda, com inflamação difusa das mucosas, rash cutâneo e linfadenopatia

cervical, sendo observada mais frequentemente em crianças menores de cinco

anos de idade (KAWASAKI, 1967; BURNS, 1996). Considerada uma das

principais causas de doença cardíaca adquirida em crianças nos Estados

Unidos e no Japão, é mais comum em meninos, exibindo relação de 1,5:1

(DAJANI, 1993; TAUBERT, 1994).

É uma síndrome vasculítica de etiologia desconhecida, que acomete

principalmente artérias de pequeno a médio calibres, em especial as

coronárias. Dentre suas principais complicações, destacam-se a formação de

13

aneurismas, oclusão trombótica, progressão para doença isquêmica miocárdica

e aterosclerose precoce, sendo o infarto do miocárdio a principal causa de

morte (KATO, 1986).

2.2.3 Vasculites de Pequenos Vasos

As vasculites de pequenos vasos distinguem-se das demais por

apresentarem manifestações clínicas que refletem o envolvimento capilar,

como a glomerulonefrite, a púrpura ou a capilarite alveolar. No entanto, diferem

entre si quanto à predominância da localização dos vasos acometidos. Como

consequência, diferentes padrões de manifestações clínicas são reconhecidos,

que se traduzem nas diversas síndromes que compõem este grupo

(JENNETTE e FALK, 2005).

Constituem este grupo as vasculites mediadas por imunocomplexos – a

púrpura de Henoch-Schönlein e a vasculite crioglobulinêmica –, a angiite

leucocitoclástica cutânea, as associadas ao anticorpo anti-membrana basal

glomerular (anti-MBG) e as chamadas vasculites paucimunes, ou ANCA-

associadas.

As vasculites que são denominadas paucimunes não apresentam

evidências de acúmulo de imunoglobulinas na parede vascular. São também

conhecidas como vasculites ANCA-associadas (VAA), por estarem

habitualmente associadas aos anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA),

fazendo deste um útil marcador diagnóstico. Incluem a síndrome de Churg-

Strauss (SCS), a poliangiite granulomatosa (PAG)4 e a poliangiite microscópica

(PAM) (EDGELL e JENNETTE, 2002).

As VAA são caracterizadas por vasculite necrosante, afetando

principalmente os capilares (especialmente os capilares alveolares e

glomerulares), vênulas (vênulas dérmicas pós-capilares) e arteríolas e

pequenas artérias (pequenas artérias epineurais e viscerais). O envolvimento

renal e pulmonar é mais freqüente nas mesmas, enquanto o envolvimento renal

4 Poliangiite granulomatosa é a denominação atualmente recomendada para a Granulomatose de Wegener. Em novembro de 2010, um consenso entre o Colégio Americano de Reumatologia (ACR), a Sociedade Americana de Nefrologia (ASN) e a Liga Européia contra o Reumatismo (EULAR) recomendou que o termo “granulomatose de Wegener” fosse gradualmente substituído por “poliangiite granulomatosa (Wegener)”, abreviado como PAG.

14

e cutâneo (síndrome cutâneo-renal) é mais comumente observado nas

vasculites por imunocomplexos.

À microscopia óptica, as vasculites ANCA-associadas não são

claramente distinguidas das vasculites por imunocomplexos; no entanto, a

imunohistoquímica distingue as duas, demonstrando a presença de

imunocomplexos nas paredes vasculares nas últimas.

2.2.3.1 Púrpura de Henoch-Schönlein

A púrpura de Henoch-Schönlein (PHS) é uma vasculite sistêmica de

pequenos vasos, de etiologia até então desconhecida, caracterizada por

depósito predominantemente de IgA perivascular, acometendo tipicamente

pequenos vasos cutâneos, renais e intestinais. Afeta tipicamente crianças,

podendo, no entanto, manifestar-se em qualquer idade.

O quadro clínico inclui o aparecimento de púrpura palpável associada a

uma combinação variável de sintomas, como artralgia, nefrite e dor abdominal;

sintomas estes pouco específicos por serem também encontrados nos demais

tipos de vasculites de pequenos a médios vasos. O envolvimento cutâneo está

quase sempre presente, sendo encontrado em cerca de 90% dos pacientes,

enquanto o acometimento renal, principal determinante prognóstico, ocorre na

metade dos casos (JENNETTE e FALK, 1997; ALMEIDA, 2007).

Dessa forma, baseando-se apenas em sinais clínicos, o diagnóstico de

PHS pode não ser facilmente percebido, havendo risco de insuficiência renal

crônica de instalação insidiosa principalmente para aqueles pacientes que

permaneceram sem o diagnóstico e que, por conseguinte, não receberam

tratamento adequado (DAVIN, 2003).

Para o diagnóstico de PHS, é condição sinequa non o achado de

depósitos de IgA na parede dos vasos associado a sinais característicos de

vasculite de pequenos vasos (DAVIN, 2003). Assim, biópsia de pele deve ser

realizada para estudos histológicos e de imunofluorescência para que o

diagnóstico seja definido no momento do aparecimento dos sintomas e da

suspeita clínica. Na histopatologia, encontra-se angiite leucocitoclástica dos

vasos sanguíneos superficiais, lesão não específica que pode estar presente

em qualquer tipo de vasculite de pequenos vasos (JENNETTE e FALK, 2005).

15

Finalmente, pela imunofluorescência encontra-se depósito de IgA, padrão

granular, na parede dos vasos da pele.

2.2.3.2 Vasculite Crioglobulinêmica

Vasculite crioglobulinêmica é uma vasculite sistêmica mediada por

imunocomplexos que acomete predominantemente pequenos vasos,

comprometendo, também, em alguns casos, vasos de médio calibre

(JENNETTE e FALK, 1994; CARSON, 1998). Consoante o próprio nome indica,

é acompanhada de crioglobulinemia5, condição na qual estão presentes no

sangue proteínas anormais (crioglobulinas) que se precipitam em baixas

temperaturas. Como resultado, ao serem expostos ao frio, alguns pacientes

experimentam sintomas como artralgia, púrpura, fenômeno de Raynaud,

cianose e até ulcerações e necrose cutâneas, embora existam aqueles que se

mantenham assintomáticos (BROUET, 1974).

Quanto a sua etiologia, a crioglobulinemia pode ocorrer sem uma

condição subjacente identificável (crioglobulinemia “essencial”) ou em

associação com um distúrbio definido (crioglobulinemia secundária), como

doenças autoimunes, doenças linfoproliferativas ou em resposta a infecções.

São classificadas em tipos I, II e III. A crioglobulinemia do tipo I contém

anticorpos monoclonais (IgG ou IgM), sem presença de fator reumatóide (FR).

Estão associadas a algumas doenças hematológicas malignas, como o

mieloma múltiplo. Já a crioglobulinemia dos tipos II e III são consideradas

formas mistas, por conterem anticorpos IgG e IgM. O componente IgG é

sempre policlonal, enquanto o IgM pode ser tanto monoclonal (tipo II) quanto

policlonal (tipo III). Em ambas, o FR é positivo. Ocorrem em associação a

doenças como hepatite C, síndrome de Sjögren e lúpus eritematoso sistêmico

e podem causar vasculite de pequenos a médios vasos, resultante da

deposição de imunocomplexos nas paredes vasculares e ativação do

complemento (LAMPRECHT, 1999; D’AMICO, 1998).

5 Crioglobulinemia: Crioglobulinas são proteínas séricas anormais que se precipitam em

condições de baixa temperatura, dissolvendo-se após serem aquecidas. Sua presença no sangue (crioglobulinemia) é usualmente associada com diversas condições sistêmicas, podendo levar a complicações que incluem as vasculites.

16

A detecção de crioglobulinas no sangue confirma a crioglobulinemia,

porém não necessariamente indica a existência da doença clínica. Havendo a

doença vasculítica, na análise imunohistoquímica, serão demonstrados

depósitos de IgG e IgM na parede vascular, diferentemente da púrpura de

Henoch-Schönlein (na qual são observados imunocomplexos de IgA), e da

poliangiite microscópica (na qual não são observados imunocomplexos).

Hipocomplementenemia é também um achado importante na vasculite

crioglobulinêmica, encontrado em 90% dos pacientes, e que ajuda a distinguí-la

das vasculites ANCA-associadas, nas quais o complemento está normal ou há

hipercomplementenemia (MONTI, 1995).

2.2.3.3 Síndrome do Anticorpo anti-Membrana Basal G lomerular

A síndrome do anticorpo anti-membrana basal glomerular (anti-MBG) foi

inicialmente descrita pelo patologista norte-americano, Ernest Goodpasture, em

1919 (GOODPASTURE, 1919), tornando-se posteriormente também conhecida

pelo epônimo Síndrome de Goodpasture (SG) (STANTON & TANGE, 1958).

Esta síndrome pode apresentar-se como doença limitada aos rins

(glomerulonefrite anti-MBG) ou como uma síndrome pulmão-rim (KELLY,

1994), com glomerulonefrite rapidamente progressiva e hemorragia pulmonar,

caracterizando a SG.

Sua incidência ocorre geralmente em dois picos de idade (FISCHER,

2006), com o primeiro entre as segunda e terceira décadas de vida, havendo

predominância no sexo masculino e maior frequência de hemorragia pulmonar.

O segundo pico é nas sexta e sétima décadas, com predominância em

mulheres e da doença limitada aos rins.

O diagnóstico é feito por meio da detecção de anticorpos anti-MBG

circulantes e da demonstração de deposição linear de anticorpos IgG ao longo

da membrana basal glomerular pela imunofluorescência, na amostra de biópsia

renal (LIM, 2011).

17

2.2.3.4 Vasculite ANCA-associadas

Anticorpos anticitoplasma de neutrófilos ou ANCA são imunoglobulinas

dirigidas contra enzimas constituintes de grânulos citoplasmáticos de

neutrófilos. São principalmente direcionadas contra as enzimas proteinase 3

(PR3) e mieloperoxidase (MPO), sendo, porém, outras enzimas – como

elastase (HLE), lactoferrina (LF) e catepsina G (CG) – também descritas

(FREIRE, 1997).

Os ANCA foram primeiramente descritos em 1982 por Davies et al. ao

demonstrarem pela imunofluorescência indireta (IFI) coloração granular com

padrão citoplasmático em neutrófilos (ANCA-C) fixados com etanol, em

pacientes com glomerulonefrite e sinais de hemorragia alveolar difusa

(DAVIES, 1982). Dois anos mais tarde, Hall et al. confirmaram este achado em

quatro pacientes com vasculite de pequenos vasos (HALL, 1984). Hoje, são

reconhecidos dois padrões clássicos de ANCA, pela IFI: o padrão

citoplasmático (ANCA-C) e o perinuclear (ANCA-P) (Figuras 1 e 2).

Figura 1 - ANCA-C. Anticorpos Anticitoplasma de Neutrófilos, padrão citoplasmático, por imunofluorescência indireta. O citoplasma aparece corado, enquanto o núcleo multilobulado

não apresenta reação. A maioria tem Granulomatose de Wegener. Fonte: SAVIGE, 2000.

18

Figura 2 - ANCA-P. Anticorpos Anticitoplasma de Neutrófilos, padrão perinuclear, por imunofluorescência indireta. O corante se restringe à porção perinuclear, enquanto o

citoplasma é não-reativo. Outras enfermidades sem vasculites podem apresentar ANCA-P (+) por outros anticorpos.

Fonte: SAVIGE, 2000.

Estudos posteriores de Van der Woude et al. e Falk et al. demonstraram

que o ANCA estaria intimamente associado a três principais síndromes

vasculíticas de pequenos vasos – a síndrome de Churg-Strauss, a poliangiite

granulomatosa e a poliangiite microscópica (VAN DER WOUDE, 1985; FALK,

1988). Estas formas de vasculites foram posteriormente agrupadas devido a

sua positividade para este anticorpo, sendo atualmente referidas como

vasculites ANCA-associadas (VAA) (KALLENBERG, 1994).

A pesquisa de ANCA é, atualmente, um exame indispensável na

investigação de casos suspeitos de vasculites. Positividade para ANCA é

encontrada em 75 a 95% dos casos de poliangiite granulomatosa e poliangiite

microscópica em atividade (JENNETTE, 1997; SAVAGE, 1997), sendo a

sensibilidade aumentada conforme a atividade da doença Tabela 1

(FINKIELMAN, 2007).

19

Tabela 1 – Tipos de ANCA associados com as Vasculites Primárias de Pequenos

Vasos

Fonte: Castañer, 2010.

TIPOS DE ANCA ASSOCIADOS COM AS VASCULITES PRIMÁRIA S DE PEQUENOS VASOS

VASCULITES DE PEQUENOS VASOS

TIPO DE ANCA COMENTÁRIOS

Poliangiite granulomatosa (PAG)

ANCA-C (anti-PR3) Sensibilidade de 85%-90% para PAG ativa generalizada Sensibilidade de 60% para doença pulmonar limitada Sensibilidade de 40% para doença em remissão

Síndrome de Churg-Strauss

ANCA-P (anti-MPO) Sensibilidade de 35%-50%

Poliangiite microscópica ANCA-P (anti-MPO) Sensibilidade de 35%-70%

É importante lembrar que positividade para ANCA é também encontrada

em algumas outras enfermidades, como doenças inflamatórias intestinais,

doenças hepáticas e reumatológicas. Sendo, portanto, pouco específico,

resultados positivos do exame devem ser interpretados em conjunto com

achados clínicos, radiológicos e histológicos.

A IFI é considerada o melhor método de triagem para a pesquisa de

ANCA, utilizando, como substrato, neutrófilos humanos normais fixados em

etanol. Pela IFI, são identificados dois padrões clássicos: ANCA-C, ou padrão

citoplasmático, e ANCA-P, ou perinuclear. Em casos dúbios, um teste positivo

deve ser confirmado pela pesquisa dos anticorpos específicos anti-PR3

(ANCA-C) e anti-MPO (ANCA-P), por meio de imunoensaio enzimático

(ELISA). O ANCA, por conseguinte, atua como importante marcador

diagnóstico para as vasculites sistêmicas. No entanto, seu papel como

marcador prognóstico, para avaliação de recidivas e para definir a manutenção

do tratamento, ainda é objeto de controvérsia.

Os capítulos que seguem serão destinados às supracitadas vasculites

associadas aos anticorpos anticitoplasma de neutrófilo (ANCA).

20

3 VASCULITES ANCA-ASSOCIADAS

3.1 SÍNDROME DE CHURG-STRAUSS

Em 1951, os médicos Jacob Churg e Lotte Strauss autopsiaram treze

pacientes que apresentavam em comum quadro semelhante de asma grave,

febre e eosinofilia, juntamente com manifestações sistêmicas de uma vasculite

necrosante. Apresentaram, então, o que seria o primeiro relato de uma

interessante síndrome vasculítica, a qual denominaram de angiite

granulomatosa alérgica (CHURG e STRAUSS, 1951). Mais tarde, a síndrome

tornou-se mais conhecida pelos nomes de seus descobridores, e o termo

“síndrome de Churg-Strauss” (SCS) passou a ser o título aceito desta distinta

forma de vasculite sistêmica.

A SCS é uma vasculite necrosante sistêmica incomum, que envolve

preferencialmente pequenos vasos sanguíneos dos pulmões, pele, nervos

periféricos e, menos frequentemente, do coração e do trato gastrointestinal

(ABRIL, 2003), podendo acometer também vasos de médio calibre.

Caracteriza-se histologicamente pela presença de infiltrado inflamatório

extravascular rico em eosinófilos com formação de granulomas e vasculite

necrosante. Clinicamente, é caracterizada pela presença de rinossinusite de

longa data e asma de início tardio, eosinofilia importante em sangue periférico

e sintomas sistêmicos da vasculite (ROSE, 1957). Os pulmões geralmente são

acometidos, exibindo lesões no parênquima pulmonar à imagem radiográfica.

Mais recentemente, foram descritas formas frustas da síndrome de Churg-

Strauss, em que a reação eosinofílica encontra-se atenuada pelo uso de

corticóide sistêmico dirigido à asma e à rinossinusite alérgica.

Cerca de 40% dos pacientes apresentam ANCA positivo, geralmente

com o padrão perinuclear (ANCA-P) e especificidade ao antimieloperoxidase

(anti-MPO). A apresentação clínica dos pacientes ANCA-positivos pode diferir

significativamente daqueles pacientes ANCA-negativos, podendo apresentar

com maior freqüência mononeurite multiplex e glomerulonefrite no primeiro

(SABLÉ-FOURTASSOU, 2005; SINICO, 2005).

O manejo terapêutico depende principalmente da terapia com

corticosteróides e, quando necessário, normalmente para pacientes com

21

quadros mais graves, lança-se mão do tratamento combinado com drogas

imunossupressoras, especialmente a ciclofosfamida. O tratamento da SCS é

semelhante ao das outras VAA, razão pela qual as considerações sobre este

assunto serão feitas no subitem 3.4 - Tratamento das Vasculites ANCA-

associadas.

3.1.1 Epidemiologia

A SCS tem sido cada vez mais reconhecida durante as últimas décadas,

no entanto, são poucos os estudos epidemiológicos exclusivos a esta

síndrome, a maioria deles a respeito das vasculites sistêmicas primárias em

geral. Por outro lado, até recentemente pouco se sabia acerca da incidência e

prevalência das vasculites, no entanto os estudos epidemiológicos têm

aumentado nos últimos anos, principalmente na Europa (WATTS, 2005).

Sendo uma das mais raras vasculites, a SCS ocorre em média na quinta

década de vida, podendo ocorrer em todas as idades (GUILLEVIN, 2004). Há

relatos em crianças desde os quatro anos de idade (LOUTHRENOO, 1999); no

entanto, permanece incomum na faixa pediátrica e, quando ocorre, parece

seguir curso mais agressivo com graves manifestações pulmonares e

cardiovasculares (ZWERINA, 2009). Não há diferença significativa entre os

gêneros, embora alguns estudos indiquem uma ligeira predominância em

homens (HARROLD, 2005; CHUMBLEY, 1977).

Em relação as três vasculites ANCA-associadas, a SCS é a menos

comum (KEOGH, 2006), com uma prevalência na população geral variando de

10,7 a 13 casos por milhão de habitantes (MAHR, 2004; HAUGEBERG, 1998)

e uma incidência anual de 0,5 a 6,8 casos novos por milhão de habitantes

(MARTIN, 1999; WATTS, 2000; WATTS, 2005), variando com a localização

geográfica e com os critérios de classificação adotados em cada estudo

(DUNOGUÉ, 2011).

22

3.1.2 Etiologia e Patogênese

Nos últimos anos, diversos estudos foram realizados a respeito da

patogenia da SCS. No entanto, os mecanismos patológicos e a etiologia da

doença ainda permanecem desconhecidos, com várias teorias propostas,

sugerindo, dessa forma, uma natureza multifatorial.

ASSOCIAÇÃO COM FÁRMACOS

Na década de 1990, foram relatados casos de SCS após o tratamento

com antagonistas de leucotrienos6 em pacientes com asma, sendo a

associação entre a terapia da asma e a SCS amplamente discutida desde

então (WELLER, 2001). Observou-se, no entanto, que em 88% dos pacientes,

os sintomas apareceram quando corticosteróides orais estavam sendo

reduzidos ou interrompidos. Uma das teorias para o desenvolvimento da

síndrome nessa situação considera que a redução ou a interrupção da terapia

com corticóides a partir do controle efetivo da asma poderia propiciar o

surgimento dos sinais e sintomas da vasculite sistêmica previamente

mascarados (WELLER, 2001; KNOELL, 1998; WECHSLER, 1998; D’CRUZ,

1999).

ASMA E ATOPIA

A associação com asma e atopia é típica, sugerindo uma possível

etiologia alérgica. No entanto, nem todos os pacientes apresentam o curso

clássico da doença, havendo casos descritos em que não há história de asma

prévia (LANHAM, 1990; CHEN, 1992). Há também sugestões de que um

agente etiológico infeccioso ou um antígeno exógeno, possivelmente inalado,

poderia desencadear resposta alérgica inflamatória em indivíduo

geneticamente suscetível, levando ao desenvolvimento de rinossinusite e

asma, seguido de infiltração tecidual de eosinófilos (GUILLEVIN, 1991).

6 Antagonistas de leucotrienos são antagonistas específicos que competem com os receptores

para cisteinil-leucotrienos, e têm efeito agonista ao efeito dos corticosteróides, assim como a teofilina e o salmeterol, sendo usados em associação com o corticóide inalatório no tratamento da asma.

23

EOSINÓFILOS e EOSINOFILIA

Alguns estudos sugerem que a presença de grande número de

eosinófilos depositados nos vasos e nos tecidos de pacientes com SCS teria

um papel direto na patogênese da vasculite (HALL, 1993; COTTIN, 1995).

Devido aos seus efeitos pró-inflamatórios e citotóxicos (MARTIN, 1999),

estariam relacionados aos mecanismos responsáveis pelos danos teciduais

(NOTH, 2003). No entanto, os mecanismos patogênicos dos eosinófilos não

foram completamente elucidados.

ANCA

Devido à associação com o ANCA, também tem sido aventada a

participação deste na gênese das síndromes vasculíticas a ele associadas.

Alguns estudos sugerem um mecanismo patogênico pelo qual os ANCA

causariam, ou ao menos facilitariam, a ativação neutrofílica, a adesão às

células endoteliais e a consequente lesão e destruição do endotélio vascular

(SAVIGE, 1999; SUNDY, 1995). Especula-se que esses autoanticorpos

poderiam ativar neutrófilos que, então, promoveriam a apoptose e necrose das

células endoteliais. Além disso, a adesão endotelial com consequente ativação

de leucócitos conduz à inflamação vascular e ao processo inflamatório nos

vasos, levando ao processo vasculítico necrosante nos órgãos e sistemas

afetados (NOTH, 2003). No entanto, uma vez que cerca de um terço dos

pacientes não apresentam esses autoanticorpos, acredita-se que estes não

constituam uma causa primária da síndrome (NOTH, 2003).

GENÉTICA

Vaglio et al propuseram a existência de uma predisposição genética

para o desenvolvimento da SCS, ao identificarem o gene HLA-DRB4 como um

fator de risco genético para a doença (VAGLIO, 2007).

Embora avanços tenham sido feitos no entendimento da patogenia da

SCS, nenhum mecanismo patogênico único foi estabelecido. Ressalta-se,

dessa forma, a possível existência de diferentes padrões patogênicos,

representando a heterogeneidade histológica, clínica e biológica da SCS.

24

3.1.3 Manifestações Clínicas

A história natural da doença consiste tipicamente em três fases

parcialmente sobrepostas (LHOTE, 1995; LANHAM, 1984). Um quadro inicial

de rinossinusite e/ou asma, com sintomas inicialmente leves e que se agravam

progressivamente, por vezes, refratários ao tratamento. Essa seria a primeira

fase da doença, ou fase prodrômica. Pólipos nasais e sinusite recorrentes

também podem estar presentes nesta fase inicial. Manifestações mais graves,

como perfuração nasal e rinorréia purulenta ou sanguinolenta, são raras na

SCS, estando, no entanto, mais associadas a poliangiite granulomatosa

(LANHAM, 1984). Esta fase prodrômica é comum e pode durar vários anos. A

asma, quando presente, precede o aparecimento da vasculite em uma média

de 3 a 8 anos, com relatos de intervalo de tempo de até 30 anos (CHUMBLEY,

1977; FRUSTACI, 1998; ERZURUM; 1989). A rinite alérgica é também uma

característica comum desta primeira fase, estando presente em 70% dos casos

(CHUMBLEY, 1977).

Segue-se, então, uma segunda fase – eosinofílica –, caracterizada por

eosinofilia periférica e infiltração eosinofílica de tecidos, especialmente nos

pulmões e no trato gastrointestinal (LANHAM, 1984). A taxa de eosinófilos no

sangue periférico é geralmente superior a 10% do total de leucócitos, ou

superior a 1500 células/mm3 (MASI, 1990; LANHAM, 1990).

Por fim, geralmente anunciada por sintomas constitucionais

inespecíficos – febre, mal-estar, cansaço e perda de peso –, surge a fase de

vasculite (LANHAM, 1990; TRAVIS, 1996). A fase vasculítica é caracterizada

por manifestações diversas de vasculite sistêmica acometendo vasos de

pequenos e médios calibres.

A Tabela 2 ilustra algumas manifestações sistêmicas da SCS com sua

freqüência de acometimento.

25

Tabela 2 – Manifestações Clínicas da SCS

Fonte: BROWN, 2006.

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS FREQUENCIA

(%)

ASMA 98-100

SINTOMAS CONSTITUCIONAIS (febre, perda de peso,

mialgia)

70-80

NEUROLÓGICA (mononeurite multiplex, hemorragia

cerebral)

50-80

CUTÂNEA (púrpura, urticária, nódulos subcutâneos,

exantema)

50-80

RINOSSINUSITE 20-70

CARDÍACA (pericardite, insuficiência cardíaca, vasculite

coronariana)

35-50

GASTROINTESTINAL (diarréia, sangramento digestivo,

colite, dor abdominal)

30-60

RENAL (proteinúria, hematúria) 10-50

MANIFESTAÇÕES PULMONARES

O envolvimento pulmonar é quase universal na SCS. A asma, presente

em 98 a 100% dos pacientes, geralmente precede a vasculite sistêmica em

aproximadamente oito a dez anos, podendo ocorrer após ou até

simultaneamente (GUILLEVIN, 1999). A idade média de início da asma é

tardia, normalmente em adultos jovens (SABLÉ-FOURTASSOU, 2005). Muitas

vezes é grave, corticosteróide-dependente e associada com manifestações de

vias aéreas superiores, especialmente a rinossinusite (70%) com obstrução e

polipose nasal (62,5%) (GUILLEVIN, 1999). Com o desencadeamento da fase

vasculítica, a gravidade da asma e o número de exacerbações por vezes

sofrem um aumento.

A hemorragia alveolar secundária à vasculite de pequenos vasos

pulmonares é uma manifestação grave, porém menos comum, ocorrendo em

4% dos casos (GUILLEVIN, 1999). Ocorre predominantemente entre os anti-

26

MPO e ANCA-positivos (SINICO, 2005). É caracterizada por hemoptise,

anemia e infiltrados alveolares aos exames de imagem.

Finalmente, as manifestações pleurais existem, mas são raras e de

pouca expressão clínica. Derrames pleurais são assintomáticos e

caracterizados principalmente por exsudato rico em eosinófilos (LANHAM,

1990).

MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS

O sistema nervoso é, com freqüência, envolvido, sendo especialmente

acometidos os nervos periféricos em 50 a 70% dos pacientes (MOORE, 1994;

SEHGAL, 1995). A vasculite da SCS tipicamente envolve o vasa vasorum dos

nervos periféricos, resultando em mononeurite multiplex, apresentação mais

comum da neurite periférica nesta doença (OLIVEIRA, 2005). Pacientes podem

manifestar fraqueza súbita, juntamente com déficits sensoriais na distribuição

de um ou mais nervos distais. Menos comumente, uma polineuropatia também

pode estar presente, sendo reconhecida nos critérios para SCS, os quais serão

apresentados a seguir no tópico destinado ao diagnóstico (CHUMBLEY, 1977).

O envolvimento do sistema nervoso central é, por sua vez, pouco

freqüente, ocorrendo em 25% dos casos com sintomas neurológicos (ABRIL,

2003). Acidentes vasculares cerebrais isquêmicos e hemorrágicos são os mais

comuns, constituindo importante causa de morbidade e mortalidade.

(CHUMBLEY, 1977).

MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS

O aparecimento de lesões cutâneas é comum na fase vasculítica e está

presente em 40% a 70% dos casos, apresentando-se de formas diversas, com

lesões eritematosas, máculo-papulares, pústulas ou nódulos (RODRIGUES e

ARAÚJO, 2011). Púrpura é descrita em cerca de metade dos casos e afeta

predominantemente os membros inferiores. Nódulos subcutâneos contendo

granulomas extravasculares estão presentes em cerca de um terço dos

pacientes com SCS. Clinicamente, são nódulos vermelhos ou violáceos, às

vezes dolorosos, preferencialmente nas superfícies extensoras do cotovelo,

dedos e couro cabeludo (GUILLEVIN, 1999).

27

MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS

A infiltração eosinofílica da parede do intestino pode produzir sintomas

semelhantes aos de uma gastroenterite eosinofílica, com dor abdominal (30 a

60%), náuseas, vômitos, diarréia e até sangramento digestivo. (LANHAM,

1990). Qualquer porção do trato gastrointestinal pode ser afetada, inclusive a

vesícula biliar (LIE, 1993). Além disso, a ocorrência de vasculite acometendo

vasos mesentéricos acarreta lesões ulcerativas isquêmicas, podendo ser

grave, com complicações potencialmente fatais de hemorragia e perfuração

intestinal (GUILLEVIN, 1999).

MANIFESTAÇÕES CARDÍACAS

As complicações cardíacas respondem por aproximadamente 50% das

mortes causadas pela doença (ERZURUM, 1989; TRAVIS, 1996; DEREMEE,

2002), devendo-se principalmente a infarto agudo do miocárdio, pericardite

aguda ou constritiva (BARROS, 2005). Não é incomum o desenvolvimento de

insuficiência cardíaca congestiva, presente em 25% dos casos, secundária à

miocardite eosinofílica ou à vasculite coronariana (CHUMBLEY, 1977).

Derrame pericárdico também é comum, podendo causar sintomas constritivos.

(CONRON e BEYNON, 2000). Além disso, outras manifestações cardíacas,

como hipertensão arterial sistêmica e alterações eletrocardiográficas, são

também relatadas (LANHAM, 1984).

MANIFESTAÇÕES RENAIS

O envolvimento renal é menos frequente do que nas demais vasculites

ANCA-associadas e normalmente não é grave (DEREMEE, 2002). Apesar de

evidência laboratorial de doença renal ser comum, com elevação de creatinina

e uréia séricas, proteinúria e hematúria microscópica, geralmente há boa

resposta aos corticosteróides, sendo incomum a evolução para insuficiência

renal (LANHAM, 1990; CHUMBLEY, 1977).

MISCELÂNEA

O comprometimento ocular é raro na SCS. Manifestações oculares

incluem episclerite, nódulos conjuntivais (composto de granulomas

28

extravasculares), ceratite, uveíte posterior, paralisias oculares, e neuropatia

óptica isquêmica (SOLANS, 2001). Manifestações otológicas foram também

relatadas, com otorréia recorrente, mastoidite e até perda auditiva, as quais

geralmente respondem bem aos corticosteróides (ISHIYAMA, 2001).

3.1.4 Achados Histopatológicos

As alterações patológicas típicas incluem vasculite necrosante de

pequenos vasos, infiltrado celular rico em eosinófilos e granuloma necrosante,

podendo ocorrer em qualquer órgão (LIE, 1990; LANHAM, 1990). Os

granulomas caracterizam-se por um centro necrótico envolto por histiócitos em

paliçada e células gigantes multinucleadas, como observados na Figura 3

abaixo (CHURG e STRAUSS, 1951; RODRIGUES, 2011). Este achado, no

entanto, não é considerado patognomônico da doença, nem sempre sendo

encontrado (LIE, 1990; JENNETTE, 1997).

Figura 3 - Imagem ampliada de amostra obtida por meio de biópsia por videotoracoscopia mostrando espaços alveolares preenchidos por eosinófilos (setas, pneumonia eosinofílica).

Pequeno granuloma extravascular (cabeças de seta) constituído de histiócitos e células gigantes multinucleadas. Hematoxilina e eosina; ampliação original em 100x.

Fonte: CHUNG, 2010.

A coexistência dos três tipos de lesões características da doença –

vasculite ou capilarite necrosante (Figura 4), infiltração eosinofílica e

29

granulomas extravasculares – é rara, não sendo mandatória para o diagnostico

histológico (LANHAM, 1984; LHOTHE, 2008).

Figura 4 - Imagem ampliada de amostra obtida mediante biópsia por videotoracoscopia

mostrando espessamento bronquiolar devido ao infiltrado inflamatório celular (eosinofílico e linfocítico) (setas) e hiperplasia folicular linfóide (cabeça de seta). Capilarite necrosante (setas,

paredes espessadas com infiltração eosinofílica e necrose) nas paredes alveolares. Hematoxilina e eosina; ampliação original em 100x.

Fonte: CHUNG, 2010.

Alterações histopatológicas características pulmonares incluem

bronquite asmática, pneumonia eosinofílica e granulomas extravasculares.

Demais alterações pulmonares comuns à doença incluem a bronquite

asmática (hialinização da membrana basal, aumento de secreção mucosa e

infiltrado eosinofílico nas paredes brônquicas), pneumonia eosinofílica

(alvéolos preenchidos por eosinófilos, macrófagos e células gigantes

multinucleadas, podendo encontrar cristais de Charcot-Leyden,

microabscessos eosinofílicos e infiltrado inflamatório intersticial, com

arquitetura pulmonar geralmente preservada) e granulomas extravasculares

(CHURG e STRAUSS, 1951; ABRIL, 2003).

Churg e Strauss, em 1951, observaram ainda inflamação eosinofílica

das paredes vasculares com progressivo espessamento e evolução para

30

fibrose, resultando em diminuição e até obliteração do lúmen (CHURG e

STRAUSS, 1951).

A presença de eosinófilos no interior das paredes vasculares pode

ocorrer em outras formas de vasculites. No entanto, a presença de eosinófilos

nos tecidos extravasculares é mais específica para a SCS (MASI, 1990). Deve

ser realizada biópsia preferencialmente nos supostos órgãos afetados, estando

as manifestações histológicas da SCS mais comumente localizadas na pele

(67,4%), nos nervos (65,7%) e nos músculos (47,9%) (LHOTHE, 2008).

3.1.5 Apresentação Radiológica

Alterações à radiografia torácica estão presentes em cerca de 60% dos

pacientes e incluem opacidades segmentares e infiltrados pulmonares

transitórios bilaterais multifocais, sem distribuição lobar ou segmentar

específica (Figuras 5 e 6) (LANHAM, 1984). Os infiltrados pulmonares ocorrem

com maior freqüência na periferia dos campos pulmonares, geralmente são

assimétricos, e, ocasionalmente, nodulares (LHOTE, 1995).

Figura 5 - Síndrome de Churg-Strauss em paciente do gênero feminino, 63 anos. Radiografia

torácica em projeção frontal mostra opacidades pulmonares extensas bilaterais. Ambos os ápices estão relativamente poupados.

Fonte: CHUNG, 2010.

31

Figura 6 - Síndrome de Churg-Strauss em uma mulher com 63 anos de idade. Imagem de TC com janela para pulmão mostrando opacidades em vidro fosco extensas e irregulares,

grosseiramente simétricas, ocupando a região medular de ambos os pulmões. Fonte: CHUNG, 2010.

A presença de nódulos pulmonares múltiplos é eventual (Figuras 7 e 8)

(LANHAM, 1984), sendo mais comum, no entanto, na poliangiite

granulomatosa. Estes nódulos, ao contrário do que acontece na PAG,

raramente apresentam escavações.

Figura 7 - Síndrome de Churg-Strauss em paciente masculino, 51 anos. TC com janela para pulmão mostrando espessamento de paredes brônquicas, árvore em brotamento (setas) e

opacidades em vidro fosco (cabeças de seta) em ambos os pulmões. Fonte: (CHUNG, 2010).

32

Figura 8 - Síndrome de Churg-Strauss em paciente do sexo masculino, 51 anos. TC repetida após nove meses de acompanhamento, evidenciando doença recorrente em ambos os pulmões, com áreas de consolidação, opacidades em vidro fosco e lesões nodulares.

Fonte: CHUNG, 2010.

As anormalidades radiográficas de tórax em pacientes com SCS são

diversas e incluem (CHOI, 2000; ERZURUM, 1989; BUSCHMAN, 1990;

WORTHY, 1998):

• Opacidades transitórias e irregulares (75% dos pacientes), sem

distribuição lobar ou segmentar;

• Opacidades simétricas em distribuição periférica e axilar;

• Opacidades irradiando-se do hilo com linfonodomegalia hilar;

• Opacidades intersticiais difusas ou com padrão miliar;

• Hemorragia pulmonar causando vidro-fosco difuso;

• Nódulos bilaterais não escavados; e

• Derrames pleurais, encontrados em 30% dos casos, geralmente

exsudatos eosinofílicos.

Achados típicos da tomografia computadorizada de alta resolução

(TCAR) na SCS incluem: infiltração peribroncovascular, espessamento septal,

e opacidades difusas e irregulares. Estes achados, apesar de não serem

específicos para a SCS, podem orientar a escolha do local para a biópsia de

pulmão, além de caracterizar a extensão da doença. (BUSCHMAN, 1990).

33

3.1.6 Diagnóstico

Critérios diversos têm sido propostos para o diagnóstico da SCS. Os

critérios diagnósticos descritos por Churg e Strauss, em 1951, baseados

principalmente em séries post-mortem, não mais serviam à prática clínica.

Dentre as novas classificações propostas, as mais comumente utilizadas são:

os critérios de Lanham e os critérios do Colégio Americano de Reumatologia

(ACR), sendo o último utilizado preferencialmente (LANHAM, 1984; MASI,

1990).

Lanham et al estabeleceram três critérios que baseavam-se na presença

de manifestações clínicas: (1) asma, (2) eosinofilia em sangue periférico

(eosinófilos acima de 1500 células/mm3 ou acima de 10% da contagem total de

leucócitos) e (3) evidência de uma vasculite sistêmica envolvendo dois ou mais

órgãos extrapulmonares (LANHAM, 1984). No entanto, esta definição sofreu

algumas críticas, como o fato do quadro clínico nem sempre apresentar-se de

forma clássica. Além disso, o quadro de vasculite, apesar de apresentar uma

clínica característica, pode ser difícil confirmá-lo sem a realização de biópsia.

Alguns anos mais tarde, um grupo de especialistas em vasculites do

ACR estabeleceu seis critérios que indicariam o diagnóstico de SCS em um

paciente com quadro de vasculite já estabelecido (MASI, 1990). A presença de

quatro ou mais destes seis critérios, observados no Quadro 2 abaixo, tem

sensibilidade de 85% e especificidade de 99,7% para a SCS.

CRITÉRIOS DEFINIÇÃO

ASMA História de sibilância ou constatação de sibilos

expiratórios agudos e difusos.

EOSINOFILIA Eosinófilos >10% da contagem total de

leucócitos.

MONONEUROPATIA OU

POLINEUROPATIA

Desenvolvimento de mononeuropatia, incluindo

mononeurite multiplex, ou polineuropatia

atribuível a vasculite.

INFILTRADOS

PULMONARES

TRANSITÓRIOS

Infiltrados pulmonares migratórios ou transitórios

à radiografia de tórax.

34

ANORMALIDADE EM

SEIOS PARANASAIS

História de rinossinusite aguda ou crônica ou

opacificação de seios paranasais à radiografia.

EOSINOFILIA

EXTRAVASCULAR

Biópsia de artéria, arteríola ou vênula mostrando

acumulação de eosinófilos em áreas

extravasculares.

Quadro 2 – Critérios do Colégio Americano de Reumatologia de 1990 para a Classificação de

Síndrome de Churg-Strauss.

Fonte: ACR, 1990.

Novos critérios diagnósticos atualmente em discussão incluem o ANCA

ou anti-MPO, além de redefinições clínicas e biológicas da SCS (DUNOGUÉ,

2011).

A suspeita diagnóstica da SCS é, geralmente, estabelecida clinicamente.

Asma e/ou rinossinusite associada à eosinofilia periférica e sintomas

sugestivos de vasculite é um quadro bastante sugestivo. No entanto, a análise

histopatológica por meio de biópsia dos locais afetados (geralmente, pulmão,

pele ou nervos periféricos), bem como uma avaliação complementar mais

detalhada, fazem-se fundamentais para a confirmação diagnóstica e avaliação

do quadro clínico geral do paciente.

A confirmação do diagnóstico, no entanto, é por vezes dificultada. Além

das manifestações clássicas da doença, descritas anteriormente, nem sempre

estarem presentes, algumas delas podem se apresentar de forma isolada, anos

antes do surgimento de características típicas adicionais. Ademais, os sintomas

facilmente se confundem com os de outras doenças, e até mesmo de outras

vasculites sistêmicas, principalmente as associadas ao ANCA.

Os achados histológicos clássicos – vasculite necrosante, infiltrado

eosinofílico e granulomas extravasculares –, por sua vez, embora bastante

sugestivos de SCS, nem sempre são encontrados (ROUFOSSE, 2003). Além

disso, não são patognomônicos da doença (REID; 1998), vez que também

podem ser encontrados tanto em outras vasculites, como a poliangiite

granulomatosa, quanto em algumas doenças autoimunes.

35

LABORATÓRIO

A avaliação laboratorial revela tipicamente uma anemia normocítica e

normocrômica, leucocitose, trombocitose e uma resposta de fase aguda com

aumento da proteína C reativa (PCR) e da velocidade de hemossedimentação

(VHS) (SOLANS, 2001). A eosinofilia é observada em praticamente todos os

pacientes, assim como os níveis de IgE que encontram-se elevados em 75%

dos casos. Pode ainda haver fator reumatóide positivo, porém em baixos

títulos.

Cerca de 40 a 60% dos pacientes com SCS possuem ANCA positivo,

geralmente com padrão de coloração perinuclear (ANCA-P) (HASLEY, 1990;

SINICO, 2005). Embora o padrão citoplasmático também possa ser visto, é

pouco comum. A maioria dos pacientes ANCA-positivos, entre 70 a 75%,

apresenta anticorpos dirigidos contra a mieloperoxidase (KEOGH, 2003;

SINICO, 2005).

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

O diagnóstico diferencial da SCS é amplo e variável conforme os

sintomas manifestados pelo paciente. As principais doenças a serem

consideradas são a pneumonia eosinofílica crônica, a aspergilose

broncopulmonar alérgica e a síndrome hipereosinofílica, bem como as outras

vasculites ANCA-associadas (PAG e PAM) (DUNOGUÉ, 2011; COTTIN, 2005).

A síndrome hipereosinofílica (SHE) também é uma condição clínica que

pode ser de difícil diferenciação com a SCS. Na primeira os pacientes podem

apresentar neuropatia, embora a mononeurite multiplex seja rara, cardiopatia e

sintomas respiratórios, sendo a presença de infiltrados pulmonares e/ou asma

pouco comum (CHURG e STRAUSS, 1951). Alguns achados, que falariam

mais a favor da SCS são: positividade para o ANCA, surgimento de

manifestações de vasculite ou a identificação de granulomas. Além disso, a

eosinofilia da SHE é geralmente refratária à terapia com corticosteróides.

A pneumonia eosinofílica crônica, por sua vez, é mais comum em

mulheres, está limitada aos pulmões, não se associando a vasculite sistêmica

ou a presença de granulomas. Entretanto, cerca de 50% dos casos de

pneumonia eosinofílica crônica têm asma associada, a distribuição periférica e

36

o caráter recidivante das opacidades pulmonares são variáveis que se

superpõem ao quadro de SCS.

A aspergilose broncopulmonar alérgica também tem características de

asma, manifesta-se por opacidades pulmonares fugazes e eosinofilia no

sangue periférico e em secreções respiratórias; no entanto, não causa

acometimento sistêmico.

A asma é em si uma doença associada com eosinofilia, porém menos

pronunciada que na SCS. Valores acima de 800 células/mm3 não são

frequentes na asma, e por isso mais sugestivos de SCS. Convêm, contudo,

lembrar que os eosinófilos circulantes podem ser suprimidos pela corticoterapia

(NOTH, 2003).

Quando os sintomas de vasculite se tornam evidentes, os principais

diagnósticos diferenciais passam a ser as outras vasculites sistêmicas,

especialmente as ANCA-associadas. PAG e PAM costumam acometer os

pulmões, todavia, a presença de asma e de eosinofilia de grande monta são

achados típicos da SCS, sendo incomuns nas demais.

Compartilhando numerosas particularidades clínicas com a PAM, como

a mononeurite multiplex e sintomas gastrointestinais, a SCS é, mais uma vez,

sugerida na vigência de asma, história de atopia, eosinofilia e infiltrados

pulmonares.

Pacientes portadores de PAG também podem apresentar sintomas

comuns à SCS, como a rinossinusite crônica e sintomas respiratórios; no

entanto, a presença de asma, eosinofilia, envolvimento não-destrutivo dos

seios paranasais, mononeurite multiplex, e, quando presentes, ANCA-P ou

anti-MPO (ANCA-C ou anti-PR3 na PAG), favoreceria o diagnóstico de SCS.

Em cada caso, detalhes do quadro clínico devem ajudar a distinguir

todas estas entidades da SCS.

3.1.7 Prognóstico

Antes do emprego de terapia imunossupressora, a taxa de mortalidade

da SCS era cerca de 50% em três meses após o diagnóstico da vasculite

(LANHAM, 1984; MASI, 1990). Após o estabelecimento da terapêutica com

corticosteróides, a sobrevida aumentou consideravelmente, passando para

37

90% em um ano, 62 a 75% em cinco anos, e 50% em sete anos (CHUMBLEY,

1977). Hoje, a sobrevida geral em 5 anos pode chegar a 97% (BOURGARIT,

2005).

No entanto, nem todos os pacientes com SCS partilham o mesmo

prognóstico, o qual, por sua vez, depende do grau inicial da extensão da

doença e do envolvimento de órgãos vitais.

AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE

Um sistema foi desenvolvido para avaliar a gravidade da doença em

pacientes com SCS: o Five Factor Score (FFS)7, ou “Escore de Cinco Fatores”,

visto no Quadro 3 (GUILLEVIN, 1996; GAYRAUD, 2001). Este sistema de

pontuação tem apresentado forte associação com prognóstico, incluindo

mortalidade, sendo, portanto, útil para orientar a terapêutica inicial

(GUILLEVIN, 1996).

Permitindo uma contagem de 0 a dois, a pontuação zero é atribuída

quando nenhum fator está presente; um ponto para apenas um fator presente,

e dois para a ocorrência de dois ou mais fatores.

FIVE FACTOR SCORE (FFS) – ESCORE DE CINCO FATORES

Envolvimento cardíaco

Doença gastrointestinal (sangramento, perfuração, infarto ou

pancreatite)

Lesão renal (creatinina sérica >1,58mg/dL)

Proteinúria (>1g/dia)

Envolvimento do sistema nervoso central

Quadro 3 – Five-Factor Score (FFS) – Escore de Cinco Fatores

Fonte: MASI, 1990.

7 O Five-Factor Score (FFS) – Escore de Cinco Fatores - (GUILLEVIN, 1996) é um escore prognóstico obtido por meio de análises uni e multivariada de 342 pacientes com vasculites, incluindo 82 deles com SCS (GUILLEVIN, 1996). Constitui-se, este, um forte indicador prognóstico de mortalidade, como ficou demonstrado em pacientes com pontuações de 0, 1 e 2, os quais apresentaram diferentes taxas de mortalidade em 5 anos, sendo respectivamente de 12%, 26%, ou 46%. O FFS ajuda a identificar quais os pacientes possuem maiores riscos de recaída e mortalidade, exigindo, dessa forma, tratamento imunossupressor mais agressivo.

38

REATIVAÇÃO

Outra grande preocupação da SCS é a ocorrência de reativação da

doença. Embora 90% dos pacientes entrem em remissão, a taxa de recidiva

geral é cerca de 26%, atingindo até 73,8% em relação àqueles com

prognóstico pior (GUILLEVIN, 1999). A maioria das recidivas ocorre durante o

primeiro ano de acompanhamento (BOURGARIT, 2005; GUILLEVIN, 2010),

sendo geralmente precedidas por elevação da contagem de eosinófilos

(GUILLEVIN, 1999).

MORTALIDADE

A mortalidade é relacionada a complicações cardíacas, responsáveis por

46,7% dos casos de óbito, como insuficiência cardíaca, anormalidades de

condução e doença coronária secundária à vasculite. Complicações

gastrointestinais, especialmente infarto mesentérico (8,7%), constituem a

segunda causa mais comum (GUILLEVIN, 1999). Demais importantes causas

de óbito são atribuídas ao sangramento gastrointestinal, hemorragia cerebral,

estado de mal asmático e insuficiência respiratória.

3.2 POLIANGIITE GRANULOMATOSA

A poliangiite granulomatosa (PAG), também conhecida como

granulomatose de Wegener, é uma vasculite sistêmica de pequenos e médios

vasos, caracterizada por necrose e formação de granulomas. É a mais comum

dentre as vasculites ANCA-associadas, sendo tipicamente relacionada à tríade

clássica: envolvimento renal e dos tratos respiratórios superior e inferior

(CHUNG, 2010). Pode, no entanto, afetar praticamente qualquer órgão, com

variáveis graus de acometimento (HOFFMAN, 1992).

Cerca de 80 a 90% dos pacientes com PAG possuem ANCA positivo,

com especificidade para a proteinase 3 (PR3) em 80%, e em até 20%, para a

mieloperoxidase (MPO). Com a doença em atividade, sensibilidade e

especificidade podem chegar a 90% (HOMER, 1998). No entanto, o ANCA só é

detectado em metade dos pacientes com a forma limitada da doença (HAGEN,

1998).

39

O diagnóstico é desafiador devido ao quadro clínico inespecífico,

devendo ser realizado diagnóstico diferencial com diversas outras

enfermidades. Além disso, o diagnóstico precoce é de fundamental importância

e com implicação direta no desfecho clínico, exigindo, portanto, um alto grau de

suspeição do médico, bem como uma abordagem diagnóstica adequada.

O tratamento da PAG é semelhante ao das outras VAA, razão pela qual

as considerações sobre este assunto serão consolidadas no subitem 3.4 -

Tratamento das Vasculites ANCA-associadas.

3.2.1 Substituição do Epônimo

O termo poliangiite granulomatosa foi recentemente proposto em

substituição à denominação tradicional, granulomatose de Wegener, com a

ideia de que o epônimo seja gradualmente omitido com o passar do tempo.

Em novembro de 2010, um consenso entre o Colégio Americano de

Reumatologia (ACR), a Sociedade Americana de Nefrologia (ASN) e a Liga

Européia contra o Reumatismo (EULAR) recomendou que o termo

“granulomatose de Wegener” fosse substituído por “poliangiite granulomatosa

(Wegener)”, abreviado como PAG (FALK, 2011). A mudança foi motivada pela

evidência de que o Dr. Friedrich Wegener, o qual descreveu e estudou a

doença, fora membro do partido Nazista antes e depois da Segunda Guerra

Mundial (WOYWODT, 2006). Essa mudança reflete ainda a tendência de

substituir termos epônimos honoríficos por termos que descrevam a doença ou

que sejam etiologicamente relacionados.

3.2.2 Epidemiologia

INCIDÊNCIA NA POPULAÇÃO GERAL

Como visto anteriormente, a PAG é a mais comum dentre as vasculites

ANCA-associadas (KEOGH, 2006). Sua incidência na população geral vem

aumentando ao longo dos anos, com estimativas atuais de 4 a 12 casos por

milhão de habitantes (WATTS, 2004; KOLDINGSNES, 2000). Sua prevalência

na população geral é variável conforme a localização geográfica, sendo maior

nos países de mais altas latitudes, tanto ao norte quanto ao sul da linha do

Equador (GATENBY, 2009).

40

INCIDÊNCIA SEGUNDO IDADE E GÊNERO

A idade média no momento do diagnóstico é de cerca de 40 a 55 anos,

podendo ocorrer, no entanto, em qualquer faixa etária (GONZALEZ-GAY, 2001;

REINHOLD-KELLER, 2000). Além disso, a PAG é mais comum em

caucasianos (80-97%), sem haver predileção por gênero (LANGFORD, 1992).

FATORES AMBIENTAIS: INFECÇÃO

Alguns estudos sugerem um evento infeccioso relacionado à PAG,

devido a relatos circunstanciais do aparecimento da doença precedido por

infecção. Além disso, soma-se também ao fato da maior incidência de PAG

durante os meses de outono e inverno, estações com maiores taxas de

infecções respiratórias. No entanto, há controvérsia quanto a esta presumível

sazonalidade no início da doença (MAHR, 2006).

OCUPACIONAL e ESTILO DE VIDA

Exposição à sílica cristalina destaca-se como um convincente fator de

risco ambiental, conferindo um risco aumentado em duas a quatorze vezes

para as vasculites ANCA-associadas, SCS, PAG e PAN (NUYTS 1995;

HOGAN, 2007).

São ainda sugeridas outras associações para a PAG, incluindo a

pecuária, o contato com solventes orgânicos, a inalação de partículas e gases,

e a exposição ao chumbo, cádmio ou mercúrio (ALBERT, 2004). O papel das

exposições ocupacionais como fatores de risco, no entanto, é ainda

questionado, como em um estudo recente que não encontrou relação entre a

ocupação profissional e PAG (KNIGHT, 2010).

Haubitz et al. estudaram a associação do tabagismo com as vasculites

ANCA-associadas. Descreveram uma proporção de fumantes ativos

significativamente menor no grupo dos portadores de vasculites do que na

população geral, sugerindo que o fumo estaria relacionado a um risco

diminuído para as VAA (HAUBITZ, 2005).

41

3.2.3 Etiologia e Patogênese

A patogênese das vasculites ANCA-associadas não é completamente

compreendida. No entanto, há evidências de que os anticorpos anticitoplasma

de neutrófilos (ANCA) desempenhem um papel direto na indução ao dano

tecidual (JENNETTE, 1993).

A presença de granulomas e processo vasculítico sugere uma resposta

celular imune exagerada ou resposta de hipersensibilidade; todavia, nenhum

agente etiológico foi identificado (LANGFORD, 1999). Além disso, a

predisposição da doença em acometer tratos respiratórios inferior e superior

apóia a hipótese de que antígenos, provavelmente inalados, devem iniciar a

resposta celular imune.

Agentes infecciosos também têm sido implicados, mas em nenhum

deles ficou definitivamente comprovada a associação. Ainda apoiando uma

causa infecciosa, Stegeman et al. demonstraram que a presença de

colonização nasal crônica por Staphylococcus aureus em pacientes com PAG

estaria associada a uma maior taxa de recaídas. Este mesmo grupo também

relatou uma diminuição na taxa de recidivas de manifestações em via aérea

superior (orelha, nariz, orofaringe), mas não renal ou pulmonar, em pacientes

que recebem terapia antibacteriana crônica com sulfametoxazol-trimetoprima

(STEGEMAN, 1996).

3.2.4 Manifestações Clínicas

Sintomas constitucionais, os quais incluem febre (40%), emagrecimento

(70%) e astenia, podem estar presentes no início dos sintomas.

Até 40% dos pacientes manifestam, à apresentação inicial, envolvimento

renal. Todavia, cerca de 80 a 90% dos casos desenvolvem doença renal em

algum momento.

O ANCA padrão citoplasmático (ANCA-C) está positivo em mais de 90%

dos pacientes com a forma generalizada da PAG, mas só é detectado em

metade dos pacientes com a doença limitada.

Na Tabela 3 abaixo, estão as principais manifestações da poliangiite

granulomatosa, refletindo o amplo espectro de apresentação da doença.

42

Tabela 3 – Principais Manifestações da PAG

Fonte: LEHMANN, 1990.

SISTEMA ENVOLVIDO PRINCIPAIS SINTOMAS INCIDÊNCIA

Pulmões Dispnéia, hemoptise 85%

Cabeça e pescoço Epistaxe, rinossinusite, crostas

nasais, perda auditiva, estenose

subglótica

95%

Glomerulonefrite Edema, hematúria microscópica 80%

Musculoesquelético Artralgia, artrite, mialgia 70%

Olhos Episclerite, conjuntivite, granuloma

retrobulbar

- 60%

Sintomas gerais Febre, perda de peso, sudorese

noturna

> 50%

Pele Púrpura, necrose, nódulos - 50%

Polineuropatia Paralisia do nervo fibular, parestesia 20%

Sistema nervoso

central

Epilepsia, psicose < 10%

Gastrointestinal Hemorragia digestiva, tenesmo < 10%

MANIFESTAÇÕES PULMONARES

O envolvimento das vias aéreas inferiores e do parênquima pulmonar é

muito frequente, manifestando-se por tosse (habitualmente produtiva),

hemoptise, dispnéia, sibilância e desconforto torácico (GÓMEZ-PUERTA, 2009;

ANTUNES, 2005). Estes sintomas muitas vezes estão acompanhados de

estenose traqueal ou subglótica e derrame pleural, além de alterações

radiológicas, as quais são encontradas em mais de 70% dos casos durante

todo o curso da doença.

HEMORRAGIA ALVEOLAR DIFUSA

A hemorragia alveolar difusa (HAD), devido à capilarite da

microvasculatura pulmonar, é uma complicação da PAG ameaçadora à vida,

exigindo tratamento imunossupressor imediato e agressivo (LYNCH, 1997). Em

mais de 90% dos casos, está associada à glomerulonefrite rapidamente

43

progressiva (GNRP) (LYNCH, 1997; TRAVIS, 1990). São relatadas taxas de

mortalidade de 60%, seis vezes maior que a mortalidade da PAG em que não

ocorreu HAD (GREEN, 1996).

O diagnóstico é clínico, e pode ser estabelecido ao se observar infiltrado

alveolar bilateral difuso aos exames de imagem do tórax (Figura 9) e uma

redução do hematócrito (anemia), acompanhados ou não de hemoptise

(CHUNG, 2010). Na ausência de hemoptise, o lavado broncoalveolar (LBA)

persistentemente hemorrágico ou sero-sanguinolento (fase aguda), ou com

macrófagos repletos de hemossiderina (fase subaguda) consubstancia o

diagnóstico de hemorragia alveolar difusa.

Figura 9: Hemorragia alveolar secundária a poliangiite granulomatosa. Radiografia torácica em

incidência póstero-anterior de um indivíduo do gênero masculino, 67 anos, demonstrando infiltrado alveolar bilateral e difuso. Recuperação completa alcançada com corticosteróide e

ciclofosfamida.

Fonte: LYNCH, 2011.

A biópsia pulmonar cirúrgica é prescindível ao diagnóstico de

hemorragia alveolar difusa, mostrando achados inespecíficos de hemorragia e

inflamação alveolar e de necrose de capilares (Figura 10) (TRAVIS, 1990).

Além disso, a biópsia pode representar um grande risco, especialmente em

casos graves de HAD. Todavia, mostra-se útil na distinção entre PAG e PAM,

44

uma vez que somente a PAG costuma apresentar granulomas, ao lado da

necrose e vasculite.

Figura 10: Fotomicrografia. Capilarite e hemorragia pulmonar em poliangiite granulomatosa. (A) Numerosos neutrófilos sobre os capilares alveolares associados a recente hemorragia alveolar.

(B) Necrose fibrinóide precoce da parede alveolar associada a capilarite. (C) Hemorragia pulmonar com capilarite.

Fonte: TAZELAAR & LYNCH, 2011.

MANIFESTAÇÕES DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES

Sintomas de vias aéreas superiores (VAS) são frequentes, ocorrendo em

mais de 90% dos pacientes com a doença (GUBBELS, 2003). Comumente são

encontrados rinorréia, epistaxe, rinossinusite crônica, otite, úlceras mucosas e

até lesões ósseas destrutivas (JENNETTE e FALK, 1997), com anormalidades

na TC de seios da face em mais de 85% dos casos (HOFFMAN, 1992).

A ocorrência de nariz em sela (Figura 11), deformidade secundária à

destruição da cartilagem nasal e do vômer, é rara; no entanto, apesar de não

ser patognomônico, é bastante característico da PAG. Estas lesões são

frequentemente infectadas secundariamente por Staphylococcus aureus

(ANTUNES, 2005; JONES, 1999).

Figura 11: Nariz em sela em paciente com poliangiite granulomatosa.

Fonte: GOTTSCHLICH, 2006

Otalgia e otorréia também são bastante f

auditiva. Também podem estar presentes úlceras orais dolorosas e aumento

doloroso das glândulas submandibulares e parótidas

2005).

MANIFESTAÇÕES RENAIS

O acometimento renal ocorre em 70 a 85% dos pacientes durante o

curso da doença (LYNCH,

manifestações mais graves da doença, vez que pode evoluir rapidamente para

insuficiência renal, mesmo na ausência de sintomas (

clínico deve-se atentar em achados laboratoriais anormais, como proteinúria,

hematúria microscópica e cilindros hemáticos, bem como aumento da

creatinina sérica ou redução da taxa de filtração glomerular, que são, pois,

sugestivos de uma complicação renal

Figura 11: Nariz em sela em paciente com poliangiite granulomatosa.

2006.

Otalgia e otorréia também são bastante frequentes, assim como perda

auditiva. Também podem estar presentes úlceras orais dolorosas e aumento

doloroso das glândulas submandibulares e parótidas (SEO, 2004;

MANIFESTAÇÕES RENAIS

O acometimento renal ocorre em 70 a 85% dos pacientes durante o

(LYNCH, 2011). A glomerulonefrite (GN) é uma das

manifestações mais graves da doença, vez que pode evoluir rapidamente para

insuficiência renal, mesmo na ausência de sintomas (FAUCI, 1983). Assim, o

se atentar em achados laboratoriais anormais, como proteinúria,

hematúria microscópica e cilindros hemáticos, bem como aumento da

creatinina sérica ou redução da taxa de filtração glomerular, que são, pois,

uma complicação renal manifesta.

45

Figura 11: Nariz em sela em paciente com poliangiite granulomatosa.

requentes, assim como perda

auditiva. Também podem estar presentes úlceras orais dolorosas e aumento

2004; ANTUNES,

O acometimento renal ocorre em 70 a 85% dos pacientes durante o

2011). A glomerulonefrite (GN) é uma das

manifestações mais graves da doença, vez que pode evoluir rapidamente para

, 1983). Assim, o

se atentar em achados laboratoriais anormais, como proteinúria,

hematúria microscópica e cilindros hemáticos, bem como aumento da

creatinina sérica ou redução da taxa de filtração glomerular, que são, pois,

46

Os achados histopatológicas vão desde formas leves, como a

glomerulonefrite segmentar e focal, lesão renal característica da PAG (LYNCH,

1992; HOFFMAN, 1992), até a glomerulonefrite rapidamente progressiva com a

formação de crescentes (Figura 12), com frequência associada à insuficiência

renal dialítica.

Figura 12: Fotomicrografia. Biópsia renal percutânea de paciente do gênero masculino, 65 anos

de idade, com poliangiite granulomatosa, apresentando-se com hemorragia alveolar, glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP) e otite média serosa. Notar a típica formação

de crescentes indicativa da GNRP.

Fonte: LYNCH, 1989.

MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS

Manifestações cutâneas aparecem em até 50% dos pacientes durante o

curso da doença (LYNCH, 2011), e incluem úlceras, púrpuras palpáveis,

nódulos subcutâneos, pápulas e rash cutâneo. Pioderma gangrenoso e

fenômeno de Raynaud são raramente relatados. Nódulos granulomatosos

refletem a inflamação granulomatosa, enquanto púrpura, petéquias e lesões

hemorrágicas são indicativas do processo vasculítico (LYNCH, 2004).

A biópsia de pele pode mostrar vasculite granulomatosa com necrose;

no entanto, vasculite leucocitoclástica é um achado mais comum

(BARKSDALE, 1995). Lesões cutâneas na PAG estão associadas a uma maior

incidência de envolvimento renal e articular, comparativamente àqueles

pacientes sem alterações cutâneas (LYNCH, 2004).

47

3.2.5 Achados Histopatológicos

O estudo histopatológico na PAG é de fundamental importância para seu

manejo clínico adequado, vez que esta doença requer confirmação histológica

(LEAVITT, 1990). Os principais achados histopatológicos da PAG incluem uma

vasculite necrosante acometendo pequenos vasos, necrose “geográfica”

extensa e infiltrado inflamatório com formação de granulomas (Figura 13)

(TRAVIS, 2004).

Figura 13: Variedade de lesões vasculares na poliangiite granulomatos. (A) Arterite

granulomatosa com células gigantes multinucleadas no lúmen arterial (H&E, 100x). (B) Venulite com necrose fibrinóide da parede venosa (seta) (H&E, 200x). (C) Arterite com infiltrado linfocítico e hiperplasia proeminente da íntima (H&E, 100x). (D) Arterite com eosinófilos

presentes. (H&E, 200x). Fonte: FISHBEIN, 2011.

A necrose do parênquima pode apresentar-se sob a forma de

microabscessos neutrofílicos ou necrose “geográfica”. Os granulomas, por sua

vez, podem aparecer como dispersos aglomerados de células gigantes,

histiócitos em paliçada, células gigantes alinhadas envolvendo a área de

necrose geográfica ou microabscessos, como mostra a Figura 14 (TAZELAAR

& LYNCH, 2011).

48

Figura 14: Fotomicrografia. (A) Lesão característica de um microabscesso consistindo de

coleção de neutrófilos com células gigantes sobre fundo fibrótico. (B) Granuloma necrosante completamente desenvolvido com margens irregulares ("geográficas") envoltas por um fundo

fibrótico e com inflamação crônica com células gigantes. Fonte: TAZELAAR & LYNCH, 2011.

A PAG pode causar acometimento de arteríolas, vênulas e capilares,

apresentando paredes vasculares completamente ou parcialmente repletas de

infiltrado inflamatório composto de, em variadas proporções, neutrófilos,

linfócitos, macrófagos, células gigantes e eosinófilos (CHUNG, 2010).

3.2.6 Apresentação Radiológica

Alterações na radiografia simples de tórax são encontradas em até 85%

dos casos, sendo, com maior frequência, infiltrados pulmonares (67%) e

nódulos (58%), geralmente múltiplos e bilaterais, escavados em metade dos

casos (ZINCK, 2001). Na TC de tórax, segundo Lee et al., os achados mais

comuns à apresentação inicial também são nódulos e massas8, os quais foram

encontrados em 27 dos 30 pacientes (90%) por eles acompanhados (LEE,

2003).

Áreas de consolidação e vidro fosco são vistas em até 50% dos casos, e

podem seguir padrões variados (ANTUNES, 2005):

• Consolidação com distribuição peribrônquica;

• Consolidação focal, escavada ou não;

8 Massas versus nódulos: Massa é qualquer lesão expansiva pulmonar, pleural ou mediastinal maior que três centímetros, com contornos pelo menos parcialmente definidos. Nódulo, por sua vez, é uma opacidade arredondada, parcialmente delimitada, menor que três centímetros (PEREIRA-SILVA, 2005).

49

• Bandas parenquimatosas;

• Áreas de consolidação periférica (mimetizando infartos

pulmonares); e

• Áreas de vidro fosco difusas e bilaterais, em geral representando

hemorragia alveolar.

Alguns achados radiológicos comuns estão ilustrados na Figura 15.

Figura 15: Exemplos de manifestações radiológicas da PAG: (A e B) Radiografia simples de

tórax com massas escavadas, com velamento adjacente em B; (C a E): Tomografia computadorizada; (C) Áreas de vidro despolido; (D) Massa escavada; (E) Grande caverna com

nível líquido e duas massas escavadas coalescentes na região inferior; (F) Reconstrução bidimensional por tomografia computadorizada de vias aéreas, com evidência de estenose de

cerca de 50% da luz da traquéia

Fonte: ANTUNES, 2005.

50

Outras formas de apresentação compreendem nódulos pulmonares

isolados ou múltiplos, escavados ou não. Estas são relativamente frequentes,

enquanto linfonodomegalias e derrame pleural são menos comuns (5% a 20%

dos pacientes) (ABERLE, 1990).

3.2.7 Diagnóstico

O diagnóstico é desafiador devido ao quadro clínico inespecífico,

devendo ser realizado diagnóstico diferencial com diversas outras entidades.

Além disso, o diagnóstico precoce é de fundamental importância pelo impacto

que produz nos diversos desfechos clínicos, inclusive na mortalidade, para o

qual é necessário um alto grau de suspeição clínica, seguida de uma

abordagem diagnóstica adequada.

Os achados laboratoriais são os de uma doença inflamatória sistêmica,

com anemia normocrômica e normocítica, trombocitose e velocidade de

hemossedimentação elevada. Alterações nos níveis de uréia e creatinina e no

sedimento urinário (com proteinúria e hematúria) podem ocorrer na vigência de

envolvimento renal. Testes de função pulmonar podem mostrar padrões

obstrutivos, restritivos e até mistos (LYNCH, 2004).

O diagnóstico da PAG é determinado ao serem combinados

manifestações clínicas, radiológicas e achados anatomopatológicos, apoiando-

se ainda na análise do ANCA e de exames laboratoriais complementares.

Segundo os critérios do ACR de 1990, a presença de dois ou mais dos

fatores expostos no Quadro 4 estaria associada a uma sensibilidade de 88% e

especificidade de 92% para o estabelecimento do diagnóstico de PAG

(LEAVITT, 1990).

CRITÉRIOS DO

COLÉGIO AMERICANO DE REUMATOLOGIA (ACR)

ÚLCERAS ORAIS OU RINORRÉIA (purulenta ou sanguinolenta)

ACHADOS ANORMAIS NA RADIOGRAFIA DE TÓRAX (nódulos, cavernas,

infiltrados fixos).

SEDIMENTO URINÁRIO ANORMAL (cilindros hemáticos ou >5 hemácias por

campo)

51

INFLAMAÇÃO GRANULOMATOSA NA PAREDE ARTERIAL OU NA REGIÃO

PERIVASCULAR, OU EXTRAVASCULAR NA ANÁLISE HISTOLÓGICA DA

BIÓPSIA (presença de hemoptise, se biópsia não estiver disponível).

Quadro 4 – Critérios do Colégio Americano de Reumatologia de 1990 para a classificação da

poliangiite granulomatosa (ACR 1990)

Fonte: LEAVITT, 1990.

Segundo Leavitt et al., o diagnóstico da poliangiite granulomatosa seria

confirmado ao encontrar-se vasculite na amostra de biópsia ou à angiografia e

associando este dado com a presença dos critérios supracitados. (LEAVITT,

1990).

Posteriormente, surgiu a classificação européia, definindo um novo

algoritmo para o diagnóstico de PAG, o qual associa os critérios e conceitos já

estabelecidos pelo ACR e pelo CCH (WATTS, 2007). Foi sugerido que a

presença das seguintes manifestações poderia permitir o diagnóstico da PAG

na ausência de biópsia:

• Vias aéreas inferiores: evidência radiográfica de infiltrados pulmonares

fixos, nódulos ou cavernas por mais de um mês, ou estenose brônquica;

• Vias aéreas superiores: rinorréia sanguinolenta e crostas por mais de

um mês ou ulceração nasal, rinossinusite crônica, otite média ou

mastoidite por mais de três meses; massa retrorbitária, estenose

subglótica; nariz sela ou doença destrutiva nasal;

• Glomerulonefrite: hematúria associada a cilindros hemáticos ou >10

hemácias dismórficas por campo, ou hematúria ou proteinúria (duas

cruzes) utilizando dipsticks; e

• ANCA também foi incluído como um critério diagnóstico. Quando

positivo em paciente apresentando as supracitadas manifestações, pode

ser estabelecido o diagnóstico de PAG sem a realização de biópsia.

O uso deste algoritmo permitiu a classificação dos pacientes com uma

concordância interobservador de 91,5% (WATTS, 2007) e resultou em redução

do número de casos que ainda permaneciam sem classificação de acordo com

os critérios do ACR ou definições do CCH (LIU, 2008).

52

No entanto, não sendo preenchidos os supracitados critérios, porém

havendo cenário clínico compatível e após excluídas outras enfermidades (ver

tópico Diagnóstico Diferencial, a seguir), o diagnóstico pode ser confirmado

pela observação de vasculite, inflamação granulomatosa e necrose na amostra

de biópsia (WALTON, 1958), exemplificada na Figura 16.

Figura 16: Parênquima pulmonar demonstrando características histológicas da poliangiite

granulomatosa: necrose, inflamação granulomatosa e vasculite. Fonte: LANGFORD, 1999.

Estas características histológicas, por sua vez, geralmente apresentam

uma distribuição irregular, sendo a possibilidade de se obter uma biópsia

conclusiva influenciada pelo local onde foi realizada e, particularmente, pela

quantidade de tecido obtido na biópsia (TRAVIS, 1991).

A biópsia pulmonar cirúrgica é método ideal para se firmar um

diagnóstico de PAG com envolvimento pulmonar. Quando infiltrados

pulmonares focais ou nódulos estão presentes, a observação de vasculite e

granulomas necrosantes na amostra de biópsia é possível em mais de 90%

dos pacientes (TRAVIS, 2004; TRAVIS, 1991).

53

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

O diagnóstico diferencial da PAG baseia-se no conjunto das

manifestações clínicas apresentadas por cada paciente. Geralmente inclui

infecções, neoplasia, doenças do tecido conjuntivo e outras vasculites

sistêmicas (LANGFORD, 1999).

Havendo a presença de imagens nodulares escavadas à radiografia

torácica deve ser aventada a possibilidade de uma causa infecciosa, em

especial infecções micobacterianas e fúngicas, comuns em nosso meio. Ainda,

este achado de imagem também pode sugerir a possibilidade de metástases

escavadas ou uma forma multinodular do anteriormente denominado

carcinoma bronquioloalveolar (CHUNG, 2010).

Também é importante considerar outras doenças que cursam com

acometimento concomitante de rins e pulmões, como a leptospirose, a

síndrome do anticorpo anti-MBG, lúpus eritematoso sistêmico e as outras

vasculites ANCA associadas (PAM e SCS).

Devemos incluir ainda condições clínicas que cursem com lesões

destrutivas em face, como neoplasias (linfoproliferativas, em geral), infecções

micobacterianas e fúngicas e leishmaniose mucocutânea.

Em resumo, PAG, PAM e SCS, embora guardem entre si algumas

características comuns, é possível firmar o diagnóstico específico com base na

correlação clínico-radiológico-patológica com auxílio de exames laboratoriais

comprobatórios. A classificação da PAG baseada nas formas de apresentação,

restritas e difusas, permite estabelecer o prognóstico e definir o nível da

intervenção terapêutica.

3.2.8 Prognóstico

Uma vez que as medicações para o tratamento da PAG são

potencialmente tóxicas, por vezes, com efeitos adversos importantes, faz-se

necessário estabelecer o diagnóstico definitivo de forma precoce.

Após a introdução da ciclofosfamida na terapia imunossupressora,

remissão completa tem sido obtida em 70 a 90% dos casos, apesar de

recidivas ainda serem relativamente frequentes (LAMPRECHT, 2004). Um pior

prognóstico está associado à presença de hemorragia alveolar, dano renal

54

grave, idade avançada e proteinase 3 (PR3) positiva. A forma limitada da

doença apresenta melhor prognóstico que a forma difusa.

3.3 POLIANGIITE MICROSCÓPICA

A poliangiite microscópica (PAM) é uma vasculite necrosante sistêmica

paucimune caracterizada clinicamente por uma fase prodrômica de sintomas

constitucionais, seguida do desenvolvimento de glomerulonefrite necrosante

focal rapidamente progressiva, associada a envolvimento pulmonar em 30%

dos casos (FRANKEL, 2006). Em pacientes que desenvolvem doença

pulmonar, HAD com capilarite é a manifestação mais comum. Acometimento

de pele, articulações, sistema nervoso periférico e gastrointestinal também são

relativamente comuns.

Esta vasculite ANCA-associada acomete vasos de pequeno calibre,

predominantemente, e também vasos de médio porte, podendo causar arterite

necrosante histologicamente semelhante à causada pela poliarterite nodosa

(PAN). Inicialmente, inclusive, a PAM era reconhecida como uma forma

particular de PAN (DAVSON, 1948). Após o CCH em 1994, no entanto, ambas

foram reconhecidas como entidades distintas, diferindo, pela ausência de

vasculite acometendo veias em pacientes com PAN, bem como pela presença

de vasculite em vasos de pequeno calibre (arteríolas, vênulas e capilares),

presente na PAM (JENNETTE, 1994; WATTS, 1996).

O ANCA-P é positivo em 50 a 75% dos casos, com anti-MPO positivo

em 35 a 65%; porém, ANCA-C também pode ser encontrado em 10 a 15%

(JENNETTE, 2001). É histologicamente caracterizada por vasculite focal,

necrosante e segmentar, com infiltrado inflamatório misto, e ausência de

formação de granulomas, presentes na PAG (SANTOS, 2004).

3.3.1 Epidemiologia

É uma vasculite necrosante paucimune, relativamente rara na população

geral, com uma incidência anual variando entre 2,1 a 17,5 por milhão de

habitantes (GIBELIN, 2011).

Comumente acomete pacientes com média de idade de 50 anos, ao

início dos sintomas, embora possa ocorrer em indivíduos de qualquer idade

55

(SAVAGE, 1985; JENNETTE, 1997). Além disso, apesar de leve predomínio

em homens ter sido aventado, uma incidência relacionada ao gênero

permanece incerta (SAVAGE, 1985; D’AGATI, 1986). Algumas evidências

sugerem maior incidência da PAM em asiáticos, comparativamente a europeus

(FUJIMOTO, 2006; WATTS, 2008).

3.3.2 Etiologia e Patogênese

Alguns autores estudam uma etiologia infecciosa para as vasculites

sistêmicas, especialmente em relação às VAA, as quais possuem

acometimento pulmonar frequente. O desenvolvimento da doença justificar-se-

ia por infecções causadas por patógenos inalados (GIBELIN, 2011).

Devido a relação com o ANCA, também tem sido aventada a

participação deste na patogênese da PAM. No entanto, permanece ainda

incerto se estes anticorpos estão diretamente envolvidos na patogênese das

vasculites ou se seriam apenas um fenômeno associado (JENNETTE, 1994).

Fatores genéticos também tem sido implicados, especialmente durante

as últimas décadas. Em estudo realizado no Japão, foi relatada associação da

PAM com o alelo HLA-DRB1*0901; no entanto, este achado ainda carece de

novos estudos (TSUCHIYA, 2006).

3.3.3 Manifestações Clínicas

O rim é o órgão alvo mais frequentemente acometido e a

glomerulonefrite é um evento quase universal, sendo observada em 90% dos

pacientes (CHUNG, 2010). Está associada a envolvimento pulmonar em até

30% dos casos (AKIKUSA, 1997), sendo ambas as mais importantes causas

de morbidade e mortalidade da doença. Podem ocorrer ainda alterações

cutâneas (púrpura e nódulos cutâneos), neurológicas e gastrointestinais. Vias

aéreas superiores também são acometidas pelo processo vasculítico, sendo,

todavia, muito menos comum do que na PAG (GUILLEVIN, 1999). Ainda, a

hemorragia alveolar difusa é uma séria complicação da PAM, que ocorre

devido à capilarite pulmonar.

56

Algumas das principais manifestações clínicas da PAM estão listadas na

Tabela 4 abaixo, com suas respectivas frequências de acometimento.

Tabela 4 – Manifestações clínicas da poliangiite microscópica

Fonte: BROWN, 2006.

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS INCIDÊNCIA

Glomerulonefrite rapidamente progressiva 100%

Pulmões (hemorragia, hemoptise) 10-30%

Sintomas constitucionais (febre, perda de peso, calafrios,

artralgia, mialgias)

70-80%

Pele (púrpura, urticária, exantema, nódulos subcutâneos) 50-65%

Sistema nervoso central (mononeurite multiplex) 15-50%

Gastrointestinal (dor, hemorragia digestiva, perfuração) 30-45%

Ocular (Conjuntivite, uveíte) 0-30%

Cardíaca 10-20%

Vias aéreas 0-15%

3.3.4 Achados Histopatológicos

Constituem o padrão anatomopatológico da PAM a vasculite necrosante

segmentar ou focal, associada a infiltrado inflamatório misto (neutrófilos e

monócitos), sem formação de granuloma, (SAVAGE, 2000).

Glomerulonefrite é observada em 90% dos pacientes (CHUNG, 2010),

sendo caracterizada por necrose focal, formação de crescentes e ausência ou

escassez de depósito de imunocomplexos (Figura 17).

57

Figura 17: Exame histológico de tecido renal demonstrando glomerulonefrite necrosante

segmentar (seta). (Coloração PAS; 200x) Fonte: Chung, 2010

Além disso, a biópsia de nervos periféricos ou de tecido muscular pode

revelar vasculite arterial necrosante. Em relação às lesões cutâneas, a mais

comum é a angiite leucocitoclástica acometendo vênulas dérmicas. Arterite

necrosante também pode ser observada (FALK, 1990).

Hemorragia pulmonar e capilarite neutrofílica também são achados

comuns (Figura 18). Em análise atenciosa, a capilarite pode ser identificada

pela presença de espessamento das paredes alveolares com infiltrado

neutrofílico (JENNETTE, 2001). Os neutrófilos muitas vezes exibem

cariorrexe9.

9 Cariorrexe: fragmentação do núcleo de uma célula.

58

Figura 18: Biópsia pulmonar obtida por videotoracoscopia mostrando hemorragia alveolar e

espessamento das paredes dos alvéolos com infiltrado inflamatório neutrofílico (setas). Detalhe no canto inferior esquerdo demonstrando capilarite neutrofílica e cariorrexe (H&E 100x).

Fonte: Chung, 2010.

3.3.5 Apresentação Radiológica

Inicialmente, o radiograma de tórax pode mostrar opacidades alveolares

bilaterais sugestivas de hemorragia alveolar (Figura 19) (CHUNG, 2010).

Figura 19: Poliangiite microscópica em paciente do sexo feminino, 33 anos. Radiografia

de tórax mostrando áreas extensas de consolidação bilaterais em zonas pulmonares médias e inferiores.

Fonte: CHUNG, 2010.

59

O uso da tomografia computadorizada é recomendado para aqueles

pacientes com suspeita de HAD ou para aqueles com queda aguda da função

renal. A TC tem sensibilidade elevada, comparativamente à radiografia;

pacientes sem achados anormais na radiografia torácica podem apresentar

imagens de vidro fosco difuso na TC (Figura 20) (LAUQUE, 2000).

Figura 20: Poliangiite microscópica em paciente do sexo feminino, 33 anos. TC com

janela para pulmão mostrando opacidades pulmonares extensas bilaterais, por vezes com o padrão de perfusão em mosaico. Nódulo mal definido (seta) é observado no lobo superior

esquerdo.

Fonte: CHUNG, 2010. 3.3.6 Diagnóstico

O diagnóstico de poliangiite microscópica pode ser estabelecido ao se

observar alterações histológicas características da doença em paciente com

quadro clínico compatível. Biópsia a céu aberto é o procedimento com maior

rendimento diagnóstico, sendo, todavia, associado com maior mortalidade

(CORDIER, 1996). Um teste positivo para o ANCA, com imunofluorescência indireta

indicando padrão perinuclear (ANCA-P) e confirmação da presença de

anticorpos antimieloperoxidase (anti-MPO) por ELISA, somando-se a um

quadro clínico compatível, também é altamente sugestivo de PAM

(O'SULLIVAN, 2002).

60

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

O diagnóstico diferencial da PAM é amplo, sendo importante realizar

uma abordagem clínico-radiológico-patológica, bem como análise laboratorial,

para que se estabeleça o diagnóstico específico.

A PAM deve ser diferenciada não somente das demais vasculites de

pequenos vasos, como também das vasculites de médios vasos, como a

poliarterite nodosa e a doença de Kawasaki.

A PAM pode causar arterite necrosante histologicamente semelhante a

causada pela PAN. O quadro clínico, bem como fatores epidemiológicos e

algumas particularidades histológicas, permitem a diferenciação entre ambas.

Assim, a ocorrência de glomerulonefrite e/ou hemorragia alveolar difusa,

sugestivas de capilarite renal e pulmonar, respectivamente, indicaria PAM, vez

que a PAN, por definição, não acomete capilares arteríolas e vênulas

(JENNETTE, 1994).

A ausência ou escassez de depósitos de imunocomplexos nas paredes

vasculares pode ajudar a diferenciar a PAM das vasculites de pequenos vasos

mediadas por imunocomplexos, como a púrpura de Henoch-Schönlein e a

vasculite crioglobulinêmica. Assim como a ausência de anticorpo anti-MBG,

que falaria contra a síndrome do anticorpo anti-MBG (ou síndrome de

Goodpasture).

A vasculite presente em pacientes com PAM é histopatologicamente

indistinguível da PAG ou da SCS. No entanto, a observação de inflamação

granulomatosa (ausente na PAM) e uma positividade para o ANCA-C

assinalaria PAG. Da mesma forma, se há evidência de inflamação

granulomatosa associada a quadro clínico de asma e eosinofilia, o diagnóstico

mais apropriado é de SCS.

A glomerulonefrite necrosante, ocasionada pela PAM, pode ser

observada em diversas doenças inflamatórias incluindo, além das vasculites

ANCA-associadas, a nefrite lúpica. Nesta última, no entanto, é observada

importante deposição de imunocomplexos, geralmente ausente na PAM.

O Quadro 5, a seguir, traz uma comparação entre importantes aspectos

das VAA.

61

Quadro 5 – Quadro comparativo entre as vasculites ANCA-dependentes com envolvimento

pulmonar

Fonte: PEREIRA-SILVA, 2011.

3.3.7 Prognóstico

A morbidade e mortalidade dependem diretamente da rapidez com a

qual foi instituída a terapia com corticosteróides (JENNETTE, 2001).

Mais de 25% dos pacientes vão a óbito durante o primeiro episódio de

hemorragia alveolar difusa, a despeito de tratamento adequado (SANTOS,

2004). Em relação aos demais que sobrevivem, exibem boa resposta

terapêutica, mas episódios recorrentes são esperados. Episódios recorrentes

de hemorragia alveolar difusa podem levar a importantes complicações

crônicas, tendo sido descritas a ocorrência de fibrose pulmonar e doença

pulmonar obstrutiva (MARVIN, 2000).

VARIÁVEIS PAG SCS PAM

VASCULITE NECROSANTE ++++ ++++ ++++

CAPILARITE +++ +++ ++++

GRANULOMAS ++++ +++ ----

VIAS AÉREAS SUPERIORES ++++ ++++ ----

RINS +++ ++ ++++

INFILTRADO EOSINOFÍLICO + ++++ +

EOSINOFILIA ---- ++++ ----

ANCA C (PR3) P (MPO) P (MPO)

62

3.4 TRATAMENTO DAS VASCULITES ANCA-ASSOCIADAS

O tratamento das vasculites ANCA-associadas é basicamente o mesmo,

sendo realizado com imunossupressores. Antes do emprego da terapia

imunossupressora, as taxas de mortalidade das vasculites sistêmicas

chegavam a 75% e o tempo médio de sobrevida era de cinco meses (BROWN,

2006).

Os principais objetivos da terapia são eliminar os sintomas da doença e

evitar ou minimizar danos orgânicos irreversíveis. A intensidade do tratamento

é determinada pela atividade da doença e gravidade das manifestações

presentes. Para se estabelecer a gravidade da doença ativa, são considerados

o número de órgãos acometidos, o grau de disfunção renal e a presença de

hemorragia alveolar difusa. Assim, um útil sistema de classificação clínica dos

pacientes com seus respectivos esquemas terapêuticos foi desenvolvido pelo

Grupo Europeu de Estudos sobre as Vasculites (EUVAS), exposto na Tabela 5

abaixo (JAYNE, 2000).

Tabela 5: Avaliação da gravidade das vasculites e tratamento

Fonte: BROWN, 2006.

CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA

SINTOMAS GERAIS

CREATININA SÉRICA

ÓRGÃO VITAL

AFETADO

OPÇÃO TERAPÊUTICA

Limitada Não < 1,4 mg/dL Não Corticosteróides ou metotrexato ou azatioprina

Inicial generalizada

Sim < 1,4 mg/dL Não

Ciclofosfamida ou metotrexato

+ Corticosteróides

Ativa generalizada Sim < 5,7 mg/dL Sim Ciclofosfamida

+ Corticosteróides

Grave Sim > 5,7 mg/dL Sim

Ciclofosfamida +

Corticosteróides +

plasmaferese

Refratária Sim Qualquer Sim Novas opções terapêuticas

63

O tratamento é geralmente dividido em duas etapas:

• Remissão-indução: Etapa inicial que objetiva o controle da atividade da

doença; e

• Manutenção: Etapa menos agressiva; objetivo de manter a doença em

remissão.

Durante a fase de remissão-indução de tratamento, em pacientes com

doença limitada, o tratamento pode ser feito com apenas uma droga. Já

naqueles que apresentam doença generalizada, com ou sem comprometimento

de órgão vital, a recomendação é utilizar a combinação de corticosteróides e

ciclofosfamida (BROWN, 2006).

Para as vasculites que apresentam evolução mais grave, preconiza-se o

tratamento combinado com corticosteróides em altas doses e ciclofosfamida,

com relatos de resposta superior a 90% para casos de PAG e PAM. O

esquema utiliza metilprednisolona intravenosa em doses de 1g/dia durante 3

dias consecutivos seguida de prednisona oral (0,75 a 1,0mg/Kg/dia),

concomitante à ciclofosfamida oral (2 mg/kg/dia) ou intravenosa (0,5 a 1 g/m2),

iniciada ao mesmo tempo que a metilprednisolona e repetida após 1 e 4

semanas (SCHWARZ, 2000). Ainda que a resposta terapêutica à

ciclofosfamida oral usada diariamente seja superponível à da aplicação mensal

intravenosa, a dose cumulativa é menor com a aplicação venosa do que oral,

com o potencial de causar menos efeitos adversos e complicações.

Em formas graves de vasculites, onde há dano renal acentuado ou

qualquer outra condição potencialmente fatal, a associação de plasmaferese à

combinação corticosteróides + ciclofosfamida tem se mostrado superior ao uso

de pulsoterapia com corticosteróides em altas doses no controle do dano renal

(GASKIN, 2001; FRASCA, 2003).

A plasmaferese terapêutica, por sua vez, deve ser reservada a casos

refratários ao tratamento com drogas imunossupressoras e a pacientes com

formas graves da doença, com ou sem disfunção renal rapidamente

progressiva.

A transição da fase de indução para a fase de manutenção costuma

ocorrer, em média, entre três e seis meses, devendo considerar sempre as

evidências clínicas de atividade de doença. A terapia da fase de manutenção,

cuja meta é manter o controle da doença, exige doses menores de

64

imunossupressores e está associada a menor incidência de efeitos adversos,

porém, deve se considerar o risco de recidivas (SCHWARZ, 2000).

Como regra geral, as dose de corticosteróides orais não devem ser

reduzidas até pelo menos um mês após a remissão da doença. Os esquemas

inadequados de tratamento costumam ser a principal causa de falência

terapêutica. Se não houver recidivas, o tratamento de manutenção deve ser

continuado por, pelo menos, doze a dezoito meses.

Em relação àqueles casos que não respondem ao esquema combinado

de corticosteróides + ciclofosfamida, são formas raras e comumente

relacionadas a quadros fulminantes. Para este grupo de pacientes, devem ser

consideradas novas modalidades de tratamento. Estas ainda estão sendo

melhor estudadas; incluem anticorpos antifator de necrose tumoral, anticorpos

anticélulas T ou células B, imunoglobulina intravenosa e outros agentes

quimioterápicos (FRANKEL, 2006).

COMPLICAÇÕES E RECIDIVA DA DOENÇA

É necessário manter o acompanhamento dos pacientes, com atenção

especial a possíveis complicações do tratamento, bem como a ocorrência de

reativação da doença. Pacientes que apresentem deterioração clínica devem

ser suspeitados de infecção, toxicidade por drogas, reativação da doença ou

um novo problema não relacionado (BROWN, 2006). Ainda que o ANCA não

se deva prestar para monitoração de atividade de doença, a tendência de

ascensão depois de um período de estabilidade clínica e laboratorial, alerta

para a possibilidade de recidiva de doença. Por outro lado, pacientes em

remissão clínica podem ter o ANCA persistentemente reagente.

65

4 CONCLUSÃO

O termo vasculite compreende uma série de condições clínicas

heterogêneas, caracterizadas por um processo inflamatório destrutivo

acometendo a parede dos vasos sanguíneos. Diferentes tipos de vasos em

diversos órgãos podem estar envolvidos, podendo afetar artérias, arteríolas,

capilares, vênulas e veias.

As vasculites podem ser secundárias a condições subjacentes de

infecções e outros distúrbios, sendo a inflamação vascular, nestes casos, uma

manifestação da doença de base. Nas situações em que a vasculite é o

processo primário, elas são denominadas de vasculites primárias.

Vimos, ao longo do presente trabalho, que a classificação mais

amplamente utilizada diz respeito ao calibre dos vasos afetados, os quais

podem ser grandes, médios ou pequenos. Dessa forma, costumam apresentar-

se com manifestações clínicas variadas, com sinais e sintomas determinados

pelo tipo, tamanho e localização dos vasos acometidos.

Nesse contexto, encontram-se as vasculites paucimunes ANCA-

associadas, classificadas como vasculites de pequenos vasos e caracterizadas

por inflamação necrosante afetando principalmente capilares, vênulas,

arteríolas e pequenas artérias. No cenário das vasculites sistêmicas, o

envolvimento pulmonar é mais freqüente nesse subgrupo, foco principal do

estudo elaborado. Além da baixa prevalência, seu diagnóstico representa um

grande desafio devido à baixa especificidade dos sinais e sintomas, por vezes

sobrepostos e facilmente confundidos com os de outras condições.

Embora haja outros tipos de vasculites de pequenos vasos com

acometimento pulmonar, o presente trabalho abordou apenas as vasculites

ANCA-associadas, onde é mais comumente visto, sendo elas a síndrome de

Churg Strauss (SCS), a poliangiite granulomatosa (PAG, antiga granulomatose

de Wegener) e a poliangiite microscópica (PAM), considerando os seus

aspectos clínicos, radiológicos e histopatológicos.

A epidemiologia, etiologia e patogênese, manifestações clínicas,

características histopatológicas e radiológicas, diagnóstico, prognóstico e o

tratamento das VAA apresentados no decorrer deste trabalho monográfico,

permitem asseverar que se tratam de doenças raras e cujo diagnóstico é

66

desafiador, devido ao quadro clínico inespecífico, que impõe a realização de

um diagnóstico diferencial com diversas outras entidades. Além disso, o

diagnóstico precoce é de fundamental importância pelo impacto que produz

nos diversos desfechos clínicos, inclusive na mortalidade, para o qual é

necessário um alto grau de suspeição clínica, seguida de uma abordagem

diagnóstica adequada.

Nesse contexto, desponta a importância da combinação dos aspectos

clínicos, radiológicos, laboratoriais e histopatológicos particulares de cada

doença para o correto diagnóstico das vasculites, em especial das ANCA-

associadas com envolvimento pulmonar, confirmando a hipótese da autora da

imprescindibilidade dessa abordagem integrada, não apenas para o adequado

diagnóstico, mas também para o eficaz tratamento dessas doenças.

Como corolário dessa conclusão, podemos afirmar que SCS, PAG e

PAM, embora guardem entre si algumas características comuns, podem ser

diferenciadas com base na correlação clínico-radiológico-patológica e auxílio

de exames laboratoriais comprobatórios.

Finalmente, as ideias que consubstanciam as conclusões apresentadas

e corroboram a hipótese desta monografia podem ser assim sintetizadas: a

abordagem do paciente com presumível vasculite é multidisciplinar; os padrões

radiológicos descritos, ainda que possam fornecer pistas diagnósticas, são

muitas vezes inespecíficos; e o esforço conjunto de clínicos, radiologistas e

patologistas é imprescindível para o adequado diagnóstico e tratamento das

VAA.

67

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