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A complexa remontagem das torres de transmissão em casos de intempéries e vandalismo Eletronorte Corrida contra o tempo ANO XXX- Nº 218 - JANEIRO/FEVEREIRO-2008 A REVISTA DA ELETRONORTE

Corrente Contínua 218

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A revista da Eletrobras Eletronorte

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A complexa remontagem das

torres de transmissão em casos de intempéries

e vandalismoEletronorte

Corridacontrao tempo

ANO XXX- Nº 218 - JANEIRO/FEVEREIRO-2008 A REVISTA DA ELETRONORTE

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Conselho Editorial: Diretor-Presidente - Carlos Nascimento - Diretor de Planejamento e Engenharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone - Diretor Econômico-Financeiro - Astrogildo Quental - Diretor de Gestão Corporativa - Manoel Ribeiro - Gerentes Regionais - Coordenação de Comunicação e Relacionamento Empresarial: Zenon Pereira Leitão - Gerência de Imprensa: Alexandre Accioly - Ediçãoe Reportagem: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566-DF) - César Fechine (DRT 9838-DF) - Érica Neiva(DRT 2347- BA) - Michele Silveira (DRT 11298-RS) - Viviane Vieira (DRT 543-RO) - Núcleos de Comunicação das unidades regionais - Arte da contra-capa: Alexandre Velloso - Fotografi a: Rony Ramos, Roberto Francisco, Alexandre Mourão, Núcleos de Comunicação das unidades regionais - Tiragem: 10 mil exemplares

SCN - Quadra 06 - Conjunto A Bloco B - Sala 305- Entrada Norte 2- CEP: 70.716-901 - Asa Norte

Brasília - DF.Fones: (61) 3429 6146/ 6164e-mail: [email protected]: www.eletronorte.gov.br

Prêmios 1998/2001/2003

MEIO AMBIENTEOs rios que guardam energiaPágina 34

TECNOLOGIACriatividade, o dom que aprimora produtos, equipamentos e processos empresariaisPágina 12

TRANSMISSÃOTime afi nado vence corrida contra o tempo para reconstruir torres derrubadasPágina 25

RESPONSABILIDADESOCIALInserção regional e cooperativismofazemreviver o “rendáua-catú”Página 3

ENERGIA ATIVAO futuro que nasce dos sonhos empreendedoresPágina 17

CORRENTE ALTERNADAOs guerreiros da pazPágina 41

AMAZÔNIA E NÓSPágina 44

CORREIO CONTÍNUOPágina 46

FOTOLEGENDAPágina 47

CIRCUITO INTERNOEducação empresarial: instrutoria interna promove multiplicação do conhecimentoPágina 21

SUM

ÁRIO

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Inserção regional e cooperativismofazem reviver o “rendáua-catú”

Byron de Quevedo

Quem procura o que não guardou quando encontra não conhece. Enderece a sua prece ao santo especializado. Quem se pega em lamúrias de toda natureza e espécie, o Divino aborrece pela falta de postura. Expropriados todos somos, de algum lugar ou recanto, de algum desejo ou encanto, que o progresso nos cobrou. Quando o pedido é justo, é atendido ao seu tempo, já o exagerado é lento, pois as soluções cruzadas o vento as embaralham entre mágoas e intentos. Deus não sofre de demência e sabe dos que sofrem sem clemência: e é fruto da união e luta intensa, um dia serem lembrados.

Benza Deus, está melhor agora, mas não tem sido fácil. A luta dos povos por uma vida melhor se faz através dos tempos e é sem-pre jogo duro. A Usina Hidrelétrica Tucuruí, a maior fábrica de energia genuinamente nacional, iniciou as suas obras em 1975, num tempo de controvérsias. Na ocasião, o Estado realizava o desenvolvimento, inclu-sive por meio das estatais recém-criadas. Para construir a Hidrelétrica foi necessário transferir vilas e pessoas, indenizá-las, e continuadamente desenvolver ações que mi-nimizassem os efeitos da edifi cação da obra. Desde o início desta década a Eletronorte está revisando essas mega-tarefas, tão delicadas e complexas, desenvolvidas ao longo dos últimos 24 anos, notadamente as ações dos

RESP

ONSA

BILI

DADE

SOC

IAL

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planos de Inserção Regional dos Municípios da Montante de Tucuruí - Pirtuc, e de Inser-ção Regional dos Municípios à Jusante de Tucuruí - Pirjus, mais o Programa Social para os Expropriados de Tucuruí - Proset.

Rever esta escalada de providências mi-tigadoras ouvindo os seguimentos humanos envolvidos é um aprendizado. E é ferramen-ta útil no momento em que o País persegue a auto-sufi ciência energética, inclusive com leilões de novos empreendimentos hidrelé-tricos e seus sistemas de transmissão. Ouvir também os expropriados dos municípios do entorno de Tucuruí, que, em conjunto com a Eletronorte, encontraram no cami-nho das ações sociais e do cooperativismo esperanças para o “rendáua-catú”, que em linguagem das tribos indígenas locais signifi ca “lugar de gente feliz”, uma síntese apropriada aos novos tempos que surgem para a região.

Elevação - Para operar a segunda casa de força da Usina, a partir de abril de 2003, a Eletronorte precisou elevar a cota do lago da barragem de Tucuruí de 72 metros para 74 m. Este é um dos últimos eventos da constru-ção e operação de Tucuruí, cujas duas casas de força somam uma potência instalada de 8.370 MW. Além de garantir energia fi rme e renovável para o desenvolvimento da Região

Norte, a usina é parte essencial do Sistema Interligado Nacional - SIN, permitindo a preservação de reser-vatórios hidrelétricos em outras re-giões durante o período hidrológico favorável no Rio Tocantins.

A elevação do nível das águas gerou a inundação de terras das ilhas do lago da Hidrelétrica, ocu-padas irregularmente ao longo dos anos, e novamente se fi zeram necessárias ações compensató-rias para os habitantes das novas áreas inundadas, inclusive alguns

já contemplados com indenizações da cha-mada Primeira Etapa.

A Empresa idealizou, então, um progra-ma de inserção regional para os municípios situados a montante da barragem de Tucu-ruí, com investimentos previstos de R$ 2 bilhões em 20 anos, sendo R$ 200 milhões de responsabilidade da Eletronorte. Segun-do o superintendente de Meio Ambiente da Eletronorte, Antônio Coimbra (foto acima), o plano funciona assim: os municípios de

Tucuruí, Breu Branco, Goianésia, Nova Ipixuna, Novo Repartimento, Itupiranga e Jacundá apresentam suas demandas, que são submetidas à aprovação de conselhos gestores antes de serem encaminhadas à Eletronorte.

“Em 2002 a Eletronorte começou a fazer estudos também para os municípios a jusante da barragem, que culminaram com o Pirjus, cuja sistemática e fi losofi a de atuação é semelhante ao Pirtuc e aten-de aos municípios de Baião, Mocajuba, Cametá, Limoeiro do Ajurú e Igarapé Miri. Por meio dos dois programas, a Eletronorte já custeou a construção de escolas, postos de saúde, obras de infra-estrutura como

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tratamento de água e esgoto, asfalto e lazer. Tem ainda a agricultura familiar, inclusão digital, ações de apoio à produção e milha-res de novas ligações, por meio do Programa Luz para Todos”, adianta Coimbra.

Quando o reservatório de Tucuruí en-cheu, os moradores desapropriados foram devidamente indenizados após análise de 5.200 processos. Como posteriormente a esse processo novas demandas foram apresentadas, foi criada, em 1995, uma co-missão conduzida pelo Ministério de Minas e Energia, que concluiu os casos procedentes. Em 2003, mesmo após a Eletronorte ter entregado cópias comprobatórias de todos os processos indenizatórios, os expropriados

fi zeram uma nova reivindicação e ocuparam uma parte da Vila Residencial de Tucuruí. Para atender ao novo pleito, a Eletronorte criou um programa de geração de renda denominado Proset.

De acordo com Coimbra, “não existem novos expropriados, os reivindicantes são os mesmos. Pelo Proset eles receberão, cada um, vinte parcelas mensais de R$ 200,00 reais, totalizando R$ 4 mil; e mais R$ 3 mil para o desenvolvimento de uma ação produ-tiva. Posteriormente 2.334 famílias recebe-ram mais dez parcelas de R$ 200,00, fruto de novos 3.200 processos. E deu-se o início ao desenvolvimento de projetos produtivos para os expropriados, nas cooperativas dos

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Tucuruí: pólo regional produtorde energia

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municípios. Cada uma delas recebeu R$ 3 mil por processo de cada cooperativado. Os acordos são acertados com uma comissão designada pelos expropriados, que também elegem as diretorias das cooperativas”.

Avaliação séria - O assunto é complexo. Para detalhá-lo, nada melhor que um time de profi ssionais (foto abaixo): o superintendente

de Assuntos Fundiários, Imobiliário, Logística e de Material da Eletronorte, Allan Arruda de Castro; o gerente de Assunto Fundiários, Gilberto Ferreira; e os advogados da Divisão de Contenciosos Fundiários e Imobiliários, Jakeline Rangel e Bernardo Fusco.

Segundo Allan, antes do alteamento da segun-da etapa, a Eletronorte avaliou as terras, identifi cou os proprietários, verifi cou in loco as benfeitorias reprodutivas (plantações) e as não reprodutivas (instalações) nos terrenos, identifi cou os mora-dores e seus pertences, tirou fotos de satélites para confi rmar os dados - as ortofotocartas - fez o GPS localizando os pontos, fotografou e avaliou os direitos de cada proprietário e os pagou se-gundo uma pauta de valores pré-estabelecida.

As pessoas foram indenizadas pela ativida-de que exerciam e que deixaram de ter em decorrência do alteamento. Há alguns casos onde não se achou dono da terra, em virtude do azimute duplo, ou seja, sobreposições de áreas, ou avanços sobre áreas já indeniza-das. Verifi caram-se erros cartoriais, duplas escrituras e situações em que as famílias simplesmente sumiram.

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Em 2004, com o propósito de dar prosse-guimento às indenizações, fi cou estabelecido que não haveria as revistorias, decorrentes de contestações, salvo pendências formais constantes no termos de acordo amigável de indenizações e conseqüentemente dos seus respectivos termos de solução de agregação indenizatória. As culturas, a exemplo das pastagens que eram medidas a partir de imagens aerofotogramétricas, passaram a ser mensuradas in loco, com o auxílio de GPS. As equipes responsáveis pelas vistorias em campo passaram a ser compostas por cinco membros: um fi scal, dois auxiliares de cam-po, um motorista e um barqueiro, liderados por detentores de conhecimentos específi cos sobre o lago.

“Os dados verifi cados in loco foram sub-metidos a uma varredura da área com o au-xílio do sistema de ortofotocarta, que permite observar se as coordenadas acertadas no processo não confl itam com outros processos já pagos ou cancelados, ressaltando-se que no caso de divergência prevalece os dados buscados no campo. Decidiu-se também

pela manutenção do acervo documental com 5.119 mil processos, dos quais há um remanescente. São pleitos anteriores e alguns são novos, mas que estão de acordo com a política da Eletronorte de receber todos os pleitos”, enfatiza Allan.

Segundo Gilberto Ferreira, mesmo tudo tendo sido feito de forma transparente, técni-ca e legal, ainda existem pessoas que recla-mam que não receberam o devido. Segundo ele, “na primeira etapa foi preciso encarar os desafi os e as defi ciências de infra-estrutura da Amazônia. Se tivéssemos que fazê-lo hoje teríamos outros instrumentos, outros recursos técnicos. Mas foi bom para época e é bom até hoje. No caso do aumento da cota ainda tem a agravante de que a água se espraia mais nos terrenos planos. Foi muito trabalho, pois o reservatório tem três mil km², com mais de duas mil ilhas. Algumas ilhas são de particulares, mas a maioria são terras da União. Ou seja, a União as cedeu para se fazer o reservatório. A pauta de valores que usamos se tornou referência em casos de desapropriação”.

Da década de 80 aos dias de hoje, Breu Branco é exemplo indiscutível de desenvolvimento

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Por último, Bernardo Fusco explica que a prescrição de processos é um instituto, um direito civil. Não há como pagar reivin-dicações 27 anos após o ocorrido. “O que a Constituição brasileira prevê é o direito de petição; ou seja, o direito que cada um tem de requerer, a qualquer momento os seus direitos. A lei estipula o prazo de 20 anos para que o interessado entre com o pedido. Mas mesmo prescritos nunca deixamos de re-analisar casos pendentes”.

Cooperativismo - Cícero Vieira do Nascimento, o Bodão (foto ao lado), é presidente da cooperativa de Breu Branco. Ele era feitor de concreto na Usina e teve terras expropriadas. “O nosso movimento foi considerado pela ministra Dilma Roussef como mais pacífi co do Bra-sil. São 359 famílias representando os cooperativados de Breu Branco e Goianésia. Hoje vemos esses mo-vimentos violentos, mas nós nunca

precisamos quebrar nem uma torneira de ninguém! Duvidávamos de muitos valores pagos. Então fi zemos um movimento em abril de 2000, conseguimos ver os nossos processos e, de fato, havia valores errados. Então fomos à luta. Protestamos por três anos até conseguirmos o Proset. O nosso projeto é voltado para a agricultura familiar. Hoje já temos 200 hectares de terra, trator, cami-nhão, grades para arar, adubadeira e uma plantadeira. Temos uma sede na cidade e o projeto de hortifrutigranjeiros, onde também criamos galinhas, porcos, plantamos arroz,

feijão, mandioca, frutas nativas e milho. Próximo passo: a fábrica de ração e fubá e a criação de peixes. Hoje entendemos o que é o cooperativismo”.

Raimundo Preto (foto ao lado), lavrador, casado, doze fi lhos é o presidente da coope-rativa de Novo Re-partimento. Após tantos anos de luta, se considera um homem satisfeito. “Tô cheio de es-peranças e feliz. Vamos colher 12 mil toneladas de cacau (foto abaixo à esquerda). Nossa terra é de primeira, nem precisa adu-bo. É só plantar. Montaremos a primeira fá-brica de chocolate na região. Vamos trabalhar também com a compra e venda de gado de corte e horta comunitária; e construiremos um frigorífico para abate de frango. Mas temos outros planos: seremos a primeira cooperativa agro-industrial dos expropriados do lago de Tucuruí. Vamos fazer as barras de chocolate, manteiga de cacau, aproveitar as cascas para fazer sabão e produziremos outros insumos básicos para as indústrias de chocolate. A cooperativa não é só um jeito de ganhar dinheiro, ela faz com que as pessoas se aproximem. Queremos dar emprego para os expropriados, seus fi lhos e netos. Somos 759 fi liados, considerando as famílias vai para mais de duas mil pessoas. Hoje existe seriedade por parte da Eletronorte e da nossa cooperativa”.

Royalties - Municípios que cederam suas terras para a formação de lagos de hidre-létricas tem, por lei, que receber royalties(compensação financeira) pelo uso de seus recursos hídricos. Neste sentido, a Eletronorte recolhe e repassa 6,75% do que arrecada com a geração de energia elétri-ca. Deste total, 0,75% vai para a Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel e dos 6% restantes, 45% vão para os municípios, 45% para os estados. 6% para os ministé-rios do Meio Ambiente e de Minas e Energia e 4% para o Fundo Nacional de Desenvolvi-mento Científi co e Tecnológico. Entretanto, a Lei não estabelece como estes recursos devem ser aplicados nem mecanismos de controle.

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Armênio Oliveira Barreirinhas (foto abai-xo), o Barreirinhas, três fi lhos frutos de três casamentos, nasceu em Portugal e é o atual prefeito de Breu Branco. Segundo ele, a Usina trouxe muitos benefícios. “Financeiramente a obras trouxeram bastante lucro para parte

da comunidade. Eu era um empregado e virei patrão. Que a obra traz desen-volvimento, isto é indiscutível. Fui o primeiro prefeito de Breu Branco.Na ocasião a cida-de tinha sete mil habitantes e qua-tro mil eleitores. O município fez 16

anos de emancipação em 2007, com 40 mil habitantes e 26 mil eleitores”.

Sobre os programas sociais, Barreirinhas elogia o Proset: “Foi uma medida acer-tada, algo que deu valor ao ser humano. Com este projeto, em Breu Branco já foi comprada a sede das associações rural e urbana, temos um trator e um caminhão

para dar apoio às famílias carentes e foram montadas cooperativas. Eu acredito que a Eletronorte está participando com mais responsabilidade social e preservando a vida de muitas pessoas”.

Mas sobre os royalties, Barreirinhas diz que é querer jogar os movimentos sociais contra as prefeituras. “Eu recebo cerca de R$ 3,5 milhões de royalties por ano. Quanto maior a extensão de terras invadidas pelas águas, maior a arrecadação. O grande devedor dos municípios é o governo do Estado do Pará. Ou seja, nós damos uma arrecadação ao Estado, e nós não temos o retorno. Só para se ter uma idéia, em 2006 os sete municípios receberam mais de R$ 46 milhões. O estado recebeu a mesma quantia. De uma forma ou de outra, os nos-sos R$ 46 milhões estão dentro dos nossos municípios. Mas os que fo-ram para o estado não voltaram”.

O prefeito de Tucuruí, Cláudio Furman (foto acima, à direita) casa-do, três fi lhos, empresário, é um dos grandes incentivadores da construção da Hidrelétrica. Ele acha estranho quando vê pessoas dizendo

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O sorriso confi ante de quem acredita na força docooperativismo

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Éramos sós: ovelhas desgarradasMas achamos um lugar onde até nos mais sofridosA esperança nunca feneceHoje somos felizes? CertamenteVencedores? Quem sabe até sem sentir somosDores, amores e fi lhos...Nasce o dia. O trabalho nos enobreceVem a noite e em nossa casa iluminada, vem a prece.E logo o sol nos traz um novo dia, que por ser novo, rejuvenesce.Mas há aquele se torna deserto e nos esqueceHá os que se tornam abrigos, estes sim, já nos merece!Ora guerra, ora paz, união: sorrisos, entre amigos,O destino assim se tece

que Tucuruí impactou negativamente pesca-dores e moradores “Muito pelo contrário. Nós não tínhamos uma alimentação consistente, não havia carne, posto de gasolina, éramos quase uma corruptela. Hoje Tucuruí é um pólo regional. Tudo que se previa de desastroso para Tucuruí não se confi rmou. Tudo foi desmistifi -cado. Os peixes se multiplicaram; a colônia de pescadores que não passava de cem pessoas, agora tem mais de seis mil; o lago possibilitou a implantação da piscicultura com a criação em tanque redes, que vão proporcionar a produ-ção de quase 200 toneladas/dia. Os royaltiestambém são signifi cativos. Temos a Hidrelétrica como São Paulo tem uma GM, uma Wolkswa-gem. Somos produtores do insumo básico que estas fábricas precisam: a energia”.

Rendáua-catú - Enfim, Tucuruí mudou Tucuruí, mudou o Pará, mudou o Brasil: a Usina trouxe luz para o desenvolvimento e hoje garante parcela signifi cativa da ener-gia distribuída pelo Sistema Interligado Nacional - SIN em todo o Brasil. E nem tudo são relações ten-sas entre a Usina e a população. O gerente da Regional de Produ-ção e Comercialização de Tucuruí, Antônio Augusto Pardauil, tem sempre uma boa no-tícia, sejam os cur-sos de engenharia do campus avançado da UFPA, ou as dezenas de programas de pre-servação ambiental, ou ainda o resgate da história e da cultura da região.

Um exemplo é o recém-inaugurado Centro Cultural Ren-dáua-catú. “Estamos contando a história da estrada de ferro do Tocantins. Lá terá mostras permanen-tes de nossos progra-mas ambientais e já está fi cando pronto

o Centro de Inclusão Digital, para pessoas de baixa renda. Haverá um espaço onde qualquer artista poderá mostrar os seus trabalhos. Vamos criar um grande centro cultural, com cine-teatro e escolas de artes. Também estamos trabalhando na implantação do Pólo de Turismo de Tu-curuí, pois somos um cartão-postal belo e único. O Pólo vai criar uma nova vertente econômica, explorando o turismo de aven-tura, lazer, técnico e científi co. Já estamos criando as condições para que tudo isto venha acontecer e diminuir as lacunas no relacionamento empresa-sociedade”, anima-se Pardauil.

“Rendauá-catu”: esta aí um bom titulo para uma poesia fechar esta reportagem e homenagear aqueles que com talento, técnica e perseverança ajudam a iluminar a vida de outras pessoas:

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Está tramitando na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 1270/07, do deputado Laurez Moreira (PSB-TO), que aumenta de 6% para 8,75% o percentual dos royal-ties, ou a chamada compensação fi nanceira a ser paga a estados e municípios pelo uso de seus recursos hídricos. Este percentual é pago pelas concessionárias de energia elétrica, que exploram hidrelétricas, com a formação de reservatório ou não, nos referidos municípios.

Hoje, o percentual atende a uma legislação da Aneel, mas o projeto mantém a distribuição dos índices de com-pensação atuais. Entretanto, mesmo o deputado Laurez Moreira considerando injusto o critério vigente, por não levar em conta que estados e municípios são os maiores afetados com a construção das usinas, o seu projeto em nada altera no que concerne à grita geral relacionada ao uso dos royalties: hoje são gastos ao bel prazer de prefeitos e governadores, pois não há mecanismo de controle nem legislação que especifi que como e onde estes recursos devem ser investidos.

O presidente da Comissão e Minas e Energia da Câmara dos Deputados, deputado José Otávio Germano (PT- RS), que vai se debruçar agora sobre um outro projeto seme-lhante, só que relativo à exploração de jazidas e minas, do deputado José Fernando Aparecido de Oliveira (PT- MG), é contrário a este aumento dos índices, por considerá-los danosos à nossa economia. Segundo o deputado, existe hoje no Brasil um excesso de tributos com relação ao setor produtivo, onde se inclui o Setor Elétrico e o mineral.

José Otávio acredita que deveria haver maior transpa-rência no que diz respeito à aplicação desses recursos por estados e municípios. “Deve-se criar uma legislação onde se determine em que setores os prefeitos e governadores podem ou devem aplicar esses recursos, que hoje são usados sem nenhum tipo legal de cobrança e fi scalização. Este seria um aprimoramento da legislação sobre a ques-tão: disciplinar os percentuais para se aplicar em saúde, educação, saneamento básico, recuperação do solo, meio ambiente e assim por diante”.

Compensação por geração hidrelétrica pode aumentar, mas não resolve

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Compensações pagas aos municípios do entorno da Usina Hidrelétrica Tucuruí

Compensações pagas pelas hidrelétricas operadas pela Eletronorte

Ano UHE Tucuruí UHE Samuel UHE Coaracy Nunes UHE Curuá Una Total2007 R$ 42.875.005,38 R$ 1.198.392,93 R$ 631.835,20 R$ 341.461,51 R$ 45.046.695,02 2006 R$ 47.745.516,75 R$ 1.273.054,20 R$ 719.645,46 R$ 354.939,58 R$ 50.093.155,99 2005 R$ 37.643.327,89 R$ 895.330,78 R$ 457.709,84 R$ 281.835,91 R$ 39.278.204,42 2004 R$ 32.051.052,15 R$ 865.598,21 R$ 461.573,81 R$ 260.883,69 R$ 33.639.107,86 2003 R$ 24.305.948,52 R$ 869.234,67 R$ 496.526,31 R$ 204.800,86 R$ 25.876.510,36 2002 R$ 20.980.327,34 R$ 607.812,52 R$ 368.667,75 R$ 196.594,75 R$ 22.153.402,36 2001 R$ 18.174.963,35 R$ 626.542,67 R$ 344.170,34 R$ 179.996,49 R$ 19.325.672,85 2000 R$ 9.608.209,88 R$ 256.632,14 R$ 185.369,17 R$ 105.869,09 R$ 10.156.080,281999 R$ 8.618.576,31 R$ 355.012,34 R$ 164.154,08 R$ 67.802,92 R$ 9.205.545,65 1998 R$ 9.047.576,69 R$ 311.256,86 R$ 150.573,38 R$ 64.344,65 R$ 9.573.751,58 1997 R$ 10.324.130,31 R$ 385.510,74 R$ 165.826,63 R$ 96.729,28 R$ 10.972.196,96 TOTAIS R$ 261.374.634,57 R$ 7.644.378,06 R$ 4.146.051,97 R$ 2.155.258,73 R$ 275.320.323,33

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César Fechine

Ganhar o mundo sempre foi o desejo do paraibano Tiago Cândido Neto. “Eu tenho que ir embora, conhecer novas coisas. Eu falava isso pra todo mundo”, diz o hoje em-pregado da Eletronorte. Em 1975, aos 23 anos, ele deixou as pequenas plantações nas quais trabalhava com os pais em Paulista, na Paraíba, e foi parar em Porecatu, no Paraná, seguindo um tio e um primo que arranjaram emprego na Usina Capivara, divisa com o Estado de São Paulo.

O convite era para trabalhar na área de montagem de equipamentos da empresa de engenharia Tenenge. “Em Capivara eu trabalhei em várias áreas: ofi cina, subesta-ção, vertedouro, tomada d´água. A Tenenge acabou sendo incorporada pela Odebrecht, que fez toda a parte de montagem da pri-meira etapa de Tucuruí”, diz o hoje auxiliar técnico de engenharia.

Começaram então as mudanças na vida de Tiago (foto abaixo), como é comum para os empregados de toda grande empresa de engenharia. De Porecatu, ele foi para Araxá, Minas Gerais, trabalhar numa fábrica de fertilizantes. De lá para Goiás, trabalhar na Hidrelétrica São Simão. “Eu trabalhei na subestação, com operação e manutenção de transformadores. De São Simão fui para Foz do Iguaçu, trabalhar em Itaipu, logo no início das obras, onde fi quei por um ano”.

Após Itaipu, o destino foi o Recife, em 1978, para trabalhar na subestação More-

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OLOG

IA Criatividade, o dom que aprimora produtos, equipamentos e processos empresariais

no II, da Chesf. Lá, a surpresa do coração: “em Recife, eu conheci Alda, minha esposa, com quem tive dois fi lhos. Hoje, minha fi lha está com 27 anos e formou-se em Turismo. Meu fi lho, com 26, está se formando em Zootecnia”.

O Pará surgiria na vida de Tiago em 1980, quando houve a transferência para a subestação Guamá, em Belém, e o trabalho com os transformadores, seccionadores e barramentos. Após dois anos, fi nalmente, Tucuruí. “Eu cheguei em Tucuruí no dia 5 de abril de 1982 para trabalhar na montagem das máquinas, como mecânico ajustador.”

Depois disso, o auxiliar técnico trabalhou na subestação, com os geradores, com as máquinas da subestação blindada e com os transformadores e, em 1987, surgiu a oportunidade de entrar para o quadro efetivo da Eletronorte.

Inovação - Tanto tempo trabalhando com equipamentos diversos rendeu conhecimento a Tiago. E a muitos outros empregados da Ele-tronorte que hoje colaboram para a melhoria dos produtos, equipamentos e processos com os quais estão envolvidos no dia-a-dia, nas mais diversas áreas da Empresa.

Essas melhorias e todas as atividades referentes às áreas da gestão do conhe-cimento e da inovação tecnológica foram apresentadas na I Semana Eletronorte do Conhecimento e Inovação - Seci (foto acima), realizada em novembro de 2007 em Cuiabá

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- MT. A Seci reuniu o XIII Painel Integrado da Qualidade - PIQ, o II Prêmio Muiraquitã e a II Feira de Inovação Tecnológica.

“Este evento integra várias áreas da Empresa e tem como objetivo incentivar os empregados a produzirem melhorias em produtos e processos, que possam ser apli-cados na Empresa e também em todo o Setor Elétrico”, explica Francisco Fernandes Neto (foto acima), gerente de Suporte à Gestão do Conhecimento e coordenador da I Seci.

No total foram inscritos 87 trabalhos e distribuídos R$ 172 mil em prêmios para projetos diversos nas áreas de operação e manutenção de equipamentos, tecnologia da informação, preservação e mitigação de impactos socioambientais, ensaios quí-micos, sistemas elétricos, ferramentas e dispositivos de segurança, entre outros.

Durante a I Seci, a II Feira de Inovação Tecnológica mostrou alguns trabalhos de-senvolvidos por colaboradores das unida-des regionais da Eletronorte, concorrentesao Prêmio Muiraquitã. Essas inovações estão possibilitando a redução e a eliminação de diversos custos para a Empresa, gerando uma economia estimada em R$ 27,2 mi-lhões/ano.

Vários desses trabalhos têm registro de patente solicitado junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual - Inpi, conforme prevê o Programa Eletronorte de Proprieda-de Intelectual - Pepi.

“Hoje, a Eletronorte está na quinta posição entre as empresas do Setor Elétrico brasileiro em número de pedidos de patentes junto ao Inpi. A Empresa tem 46 pedidos de patentes e seis de registro de direito autoral científi co de software”, informa Neusa Lobato, gerente de Articulação com a Indústria Nacional.

Multicoletor - Um dos trabalhos apresen-tados durante a I Seci, desenvolvido por Tia-go e uma equipe de colaboradores da Usina Hidrelétrica Tucuruí, foi o “multicoletor a distância de óleo isolante de transformadores de potência para análise físico-química”.

Em Tucuruí já ocorreram alguns sinistros com explosões de transformadores. “Esses acidentes seriam fatais se houvesse alguém por perto. Diminuir os riscos e aumentar a segurança foram os principais fatores motivadores do projeto”, explica Paulo Rubens Paraense de Azevedo (foto abaixo) - paraense até no nome, que também par-ticipou do desenvolvimento do projeto do multicoletor.

O objetivo do trabalho é possibilitar a cole-ta de óleo isolante a uma distância segura e sem a necessidade de parada da máquina, isto é, realizar o serviço com o transformador de 500 kV energizado, por meio de tubos de inox de ¼ que são conectados a uma caixa coletora. O transformador fi ca na cota 26,60 metros e os pontos de coleta foram transferidos para a cota 18,40 metros, o que possibilita que o óleo escorra pelo efeito da gravidade.

O multicoletor é composto de quatro blo-cos com quatro válvulas isoladoras na parte superior e com quatro adaptadores perma-nentes na parte inferior. Um sistema elétrico comanda as válvulas solenóides que fi cam nos pontos de saída do equipamento.

Essa coleta é necessária para a realização de análises de gascromatografi a e físico-química do óleo isolante, que permitem acompanhar a vida útil dos equipamentos de alta tensão.

O cálculo do custo evitado para a Eletronor-te, agora que a coleta é realizada com o equi-

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pamento energizado, é feito multiplicando-se a potência de cada máquina (350 MW), pelo tempo de coleta (1 hora) e pelo custo do MW em reais (R$ 70,00), o que dá R$ 24,5 mil por máquina. A economia anual é estimada em R$ 1.127.000,00, considerando-se as duas coletas semestrais feitas nas 23 máquinas de Tucuruí.

Bancada - Outro importante invento que saiu do “chão de fábrica” de Tucuruí é a “bancada para montagem e desmontagem de macaco hidráulico de disjuntor tipo FB3”. À frente do projeto, o auxiliar técnico de engenharia Pedro Virgulino da Silva (foto acima), 62 anos, diz que quem trabalha na ofi cina da Usina sempre recebe solicitações dos colegas. “A turma pergunta pra gente: será que dá para melhorar isso aqui, dá para fazer alguma coisa ali? E a gente, dentro do possível, vai fazendo o que pode.”

Antes da invenção da bancada, a manu-tenção do macaco hidráulico do disjuntor de 500 kV mobilizava vários trabalhadores. “Esse equipamento é pesado, tem uns 150 quilos e era preciso um batalhão de gente para transportar, segurar e desmontar o eixo. Na hora da manutenção, o pessoal discutia e chegava até a brigar”, lembra Seu Pedro.

Observando as difi culdades dos colegas, ele pensava numa forma de fazer a manu-tenção do equipamento próximo ao local da instalação e de facilitar a desmontagem do eixo do pistão dos macacos hidráulicos dos disjuntores, que integram as 12 máquinas da primeira etapa de Tucuruí. No total, são 36 equipamentos, pois cada máquina tem três fases, cada uma com um disjuntor.

Começou a surgir, então, o projeto da bancada para facilitar a fi xação e a des-montagem das porcas do equipamento e de possibilitar o trabalho junto aos disjuntores, sem a necessidade de transportar o ma-caco hidráulico. “Fomos desenvolvendo o projeto da bancada, que foi confeccionada com o nosso próprio material e hoje temos muitas melhorias”, diz Seu Pedro.

O tempo médio para manutenção do equipamento caiu em 60% e o trabalho é feito agora por apenas dois homens. O tempo de parada de máquina ocasionada por manutenção dos macacos hidráulicos também diminuiu, com o conseqüente ganho na geração. A estimativa é de que a redução da indisponibilidade de energia possibilitará uma economia para a Empresa de R$ 792 mil/ano. A Eletro-norte já pediu o registro de patente da ferramenta.

Seu Pedro é só orgulho. “Eu tenho muito orgulho de ter contribuído com a construção da hidrelétrica. Mas o mais im-portante agora é poder ajudar as pessoas e também a Empresa com essas melhorias”, declara.

Gavião - Edson Ferreira de Barros (foto abaixo) trabalha na manutenção civil da subestação Tartarugalzinho, no Amapá, e desenvolveu um trabalho simples, porém efi caz, para espantar as andorinhas que causavam danos ao sistema de proteção da subestação: o “espantalho-gavião”.

“A gente achava até bonita aquela re-voada de andorinhas, mas chegou um momento em que o pessoal da operação e manutenção pediu o nosso auxílio na limpeza dos equipamentos. Eu questionei o porquê da limpeza e soube que as fezes das andorinhas acarretavam um problema muito sério para a Eletronorte. A sujeira era enorme”, relata Edson.

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O problema é que as fezes das ando-rinhas contêm uma acidez muito alta e quando depositadas nos equipamentos das subestações, principalmente no perí-odo de chuvas, prejudicavam a cadeia de isoladores, chegando a causar curtos-cir-cuitos. Edson conta que os equipamentos chegavam a fi car indisponíveis por seis horas ou mais. “Às vezes, o impacto era tão grande que danifi cava os equipamen-tos, como ocorreu com seccionadoras e pára-raios, e era preciso que os operadores fi zessem a manobra de remanejamento da carga.”

O trabalho para espantar as andorinhas teve início com o uso de rojões, mas passa-dos dois dias elas retornavam. Em seguida, uma empresa foi contratada para espantar as andorinhas com produtos químicos, mas algumas aves apareceram mortas.

Edson, que é químico por formação, reparou que os gaviões espantavam as an-dorinhas e pensou: “se os gaviões estão de dia, porque não vêm de noite”? E começou a pensar no projeto.

Quando houve um desligamento na subestação para a troca dos isoladores e de outros equipamentos foi implantado o projeto do gavião, que é um boneco de iso-por, com estrutura metálica. “E até hoje não tivemos mais a presença das andorinhas na subestação Tartarugalzinho, que fi ca entre Macapá e Calçoene”, conta Edson.

A inovação será replicada para todas as áreas da Eletronorte que têm este tipo de problema e o pedido de registro de patente do invento já foi feito junto ao Inpi. O resul-tado para a Eletronorte é um ganho com

manutenção da ordem de R$ 276 mil/ano, sem falar no ganho ambiental, pois as an-dorinhas são aves migratórias que contam com proteção internacional.

Enxofre corrosivo - Lotado no Centro de Tecnologia da Eletronorte, em Belém, Au-gusto César Saraiva (foto ao lado) é químico, com mestrado em energia e meio ambiente e doutorado em engenharia elétrica. “Eu entrava no Instituto de Pesquisa da Ama-zônia para fazer pesquisas na biblioteca e saía andando pelos laboratórios, olhando aqueles vidrinhos. Eu fi cava fascinado e desde a época do ginásio determinei que queria estudar química”, relembra.

O químico já participou de vários tra-balhos de pesquisa e desenvolvimento na Eletronorte e o seu projeto mais recente tem como objetivo a “identifi cação do enxofre corrosivo nos óleos isolantes por meio da técnica de gascromatografi a e detecção de massa (GC-MS) para evitar explosões nos reatores e transformadores.

O projeto começou após o Comitê Brasi-leiro de Óleo Mineral Isolante (Cobei) - que faz as normas técnicas referentes a óleo mineral isolante e aos trabalhos executados em transformadores e outros equipamentos de potência - do qual Augusto faz parte, ter começado a discutir as falhas nesses equipamentos.

Após um seminário, o fabricante de di-benzildissulfeto (DBDS), que é um compos-to adicionado ao óleo dos transformadores e dos reatores com o objetivo de estabilizar a oxidação, admitiu a presença de enxofre corrosivo em seu óleo. “A partir daí, a gente começou a desenvolver um método para mudar a temperatura do óleo e detectar o enxofre corrosivo”, diz Augusto.

O trabalho começou a ser desenvol-vido em 2005, mas só em 2006 é que a Eletronorte adquiriu o equipamento para analisar o DBDS, ao custo de R$ 650 mil. Foi comprovado que o enxofre existente neste composto se decompõe com a alta temperatura, deteriorando o cobre dos equipamentos e transforman-do-se num condutor. Augusto relata que “com isso ocorrem explosões nos equi-pamentos. Houve 19 casos no Brasil de reatores que explodiram e a Eletronorte tem muitos equipamentos nos quais o óleo está sendo trocado por causa desse composto”.

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“Nós não temos no Brasil a cultura da propriedade industrial e estamos fazendo um trabalho para disseminar esse assun-to nas escolas de nível médio, de nível superior e outras instituições. Tudo para valorizar e proteger o nosso bem, as nossas invenções, as nossas idéias.” Quem afi rma é Maria do Socorro Mendonça Campos (foto abaixo, à direita), que trabalha há 32 anos com propriedade intelectual e inova-ção tecnológica no Instituto Nacional da Propriedade Industrial - Inpi. Ela já atuou na área de análise de patentes, trabalhando atualmente como examinadora de contratos de tecnologia, e participou da I Seci realiza-da pela Eletronorte.

O Inpi é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, responsável por regis-tros de marcas, concessão de patentes, averbação de contratos de transferência de tecnologia e de franquia empresarial. A instituição também faz os registros de pro-gramas de computador, desenho industrial e indicações geográfi cas, de acordo com a Lei da Propriedade Industrial, a Lei n.º 9.279/96.

Segundo Socorro, o Instituto iniciou um trabalho de reestruturação, empreendido sobretudo a partir de 2004, com a criação da Ouvidoria e da Diretoria de Articulação

e Informação Tecnológica, facilitando o acesso às informa-ções tecnológicas disponíveis e disseminando a cultura da propriedade intelectual.

O processo de informatização pelo qual a instituição passa teve grande avanço com o lançamento do e-marcas, sistema que permite que os pedidos de marcas possam ser feitos e enviados pela Internet, por meio de formulário eletrônico. “Esse sistema, acrescido à contratação de 60 novos exami-nadores, deverá reduzir o prazo para concessão de marcas em 80%”, informa Socorro.

O Inpi também procura consolidar os seus laços com instituições, tais como a Confederação Nacional da Indústria - CNI, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Em-presas - Sebrae, universidades públicas e privadas, agências de desenvolvimento e diversas instituições internacionais, entre outros, para fortalecer os programas de capacitação relacionados à propriedade intelectual.

Outro importante pro-jeto que está sendo de-senvolvido é a busca da integração na área de propriedade industrial no Mercosul, que ganhou força com o projeto de criação de um banco de dados comum para pes-quisa de marcas e pa-tentes, oferecendo um resultado mais amplo para as buscas feitas nos escri-tórios nacionais.

“Pela valorização das nossas idéias”

Hoje, a equipe do Centro de Tecnologia está analisando os equipamentos das em-presas do Grupo Eletrobrás. “Nós já moni-toramos todas as subestações da Eletronorte e percebemos que há cerca de 150 equipa-mentos contaminados”, informa Augusto.

Esse trabalho já gerou uma economia de R$ 8,9 milhões para a Eletronorte. O cálculo é feito de acordo com o valor do óleo que está sendo trocado, pois de outra forma a Empre-sa teria que arcar com esse custo. Segundo o químico, quando a Eletronorte prova o risco que esse aditivo pode causar, a responsabi-lidade passa a ser do fornecedor.

Os prejuízos que a Empresa poderia ter com sinistros causados por esse aditivo em seus equipamentos são estimados em R$ 150 milhões. Atualmente, 80 milhões de toneladas de óleo são distribuídos no Brasil com enxofre corrosivo.

Valores - Criatividade, curiosidade e pró-atividade parecem ser algumas das carac-terísticas comuns dos nossos inventores. “A gente vem trabalhando ao longo do tempo e fi ca observando os equipamentos, pensan-do: eu acho que se fi zesse isso, melhorava aqui. Se eu melhorasse isso, poderia ter este rendimento. Então, são coisas que a gente aprende no dia-a-dia”, ensina Tiago.

A observação, a prática, o dia-a-dia, tudo isso conta muito para vencer as difi culda-des. E para melhorar o negócio empresarial. “A energia é o nosso foco principal. A gente tem que garantir a energia pra todos, que é a nossa principal atividade”, conclui Seu Pedro. O que vai ao encontro de alguns dos valores da Empresa, que são estimular a criatividade, a iniciativa, a produtividade e o alinhamento com os objetivos empresariais, com eqüidade e segurança das pessoas.

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Viviane Assis

Era início de 1984 e todo o interior do Es-tado de Rondônia ainda padecia com a falta de energia elétrica. A população era formada, em sua maioria, por imigrantes que haviam vindo de cidades onde a questão energética já não era tão defi ciente e esperava a chega-da de uma energia confi ável para garantir a segurança dos investimentos. A instabilidade desse abastecimento causava prejuízos diá-rios e, em protesto ao serviço inefi ciente, um grupo de moradores do município de Cacoal destruiu a sede das Centrais Elétricas de Rondônia - Ceron e da Prefeitura, o Palácio do Café.

A paulista Paulina Barbosa Pereira Lima (foto ao lado) chegou em Cacoal - cujo nome é resultado da mistura das duas principais pro-duções agrícolas da região, o cacau e o café - em 1978. Ela era funcionária do município e relembra o episódio nas páginas do livro “Memória da Energia Elétrica de Rondônia”, lançado pela Eletronorte em 2006: “Estáva-mos sem o fornecimento de energia elétrica

O futuro que nasce dos sonhos empreendedores

há uns dois meses. A população se revoltou. Os comerciantes que lidavam com venda de alimentos perdiam produtos diariamente. Uma noite, umas pessoas se reuniram, que-braram móveis e colocaram fogo no prédio da Ceron. Depois eles seguiram para o Palácio do Café. Como moro três quarteirões depois da prefeitura, de casa dava para ver a multidão gritando e as coisas sendo destruídas. Nós, trabalhadores da pre-feitura, fi camos com medo de sair de casa e também sermos vítimas da revolta. O único objeto que escapou do incêndio no prédio administrativo do municí-pio (foto abaixo) foi um cofre. O prefeito Josia-no Brito entrou em contato com o governador Jorge Teixeira. No dia seguinte, Teixeirão estava na cidade. Ele prometeu reconstruir o Palácio do Café em seis meses. Assim surgiu a estrutura de alvenaria que o Estado entre-gou todo mobiliado. Durante algum tempo,

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o abastecimento melhorou, nosso trabalho foi imenso. Uma unidade regional do Banco do Brasil cedeu uma sala e recomeçamos a abrir a contabilidade do município. Todos os funcionários foram às residências realizando o recadastramento dos imóveis. Medimos todos os terrenos novamente, mesmo assim muitos moradores fi caram com espaços maiores do que o original”.

Pimenta Bueno - Dez anos depois, os moradores do município vizinho de Cacoal, Pimenta Bueno, presenciariam uma mani-festação semelhante pela falta de energia elétrica. “Começamos a assistir a semifi nal da Copa do Mundo, nos Estados Unidos. O Brasil jogava contra a Holanda quando ouvimos um estouro. Todos correram para as ruas e viram o fogo e a fumaça saindo na direção do prédio da Ceron”, explica o comerciante Jacó Bocker (foto abaixo). O gaúcho da cidade de Venâncio Aires adotou Pimenta Bueno como moradia, em 19 de março de 1986. A data é relembrada com exatidão porque foi o começo de uma vida estável. Naquela época ele vislumbrou uma excelente oportunidade de crescimento profi ssional. Poucas vindas na cidade como representante de uma grande empresa de parafusos lhe deram a certeza que foi reforçada com uma boa ajuda do destino. Um cliente estava com uma pequena loja à venda, Jacó não pensou uma vez. Fechou o negócio. Hoje, 21 anos depois, desfruta o investimento. Sua loja é referência em várias cidades ao longo da BR-364. Foi vice-pre-sidente da Câmara de Lojistas de Pimenta

Bueno durante três anos e espera ansioso pela entrada de Rondônia no Sistema Inter-ligado Nacional - SIN, através da interligação com Jauru -MT.

“Teremos certamente, agora, uma energia confi ável, dá para perceber pela estrutura que está sendo montada”, afi rma o sempre animado Jacó. E com razão, afi nal até 1988 o município de Pimenta Bueno dividia a pouca energia elétrica produzida em fonte térmica com Cacoal. Somente em 2005, a cidade passou a contar com a energia gerada na Usina Hidrelétrica Samuel.

Quem não esquece também a fase sem energia é a empresária rondoniense Lisane Odiesel Santos Silva. Dona do mais tradicional hotel de Pimenta Bueno conta com um sorriso largo as desventuras da época. “A cidade, como a maioria que nasceu ao longo da BR-364, está dividida em duas. Por isso, a energia chegava nas casas e comércio da direita e es-querda da BR, de três em três horas. Das 19h às 22h era fácil manter os hóspedes ocupados conversando e contando piadas, mas depois das 23 h não dava certo. Ninguém queria to-mar banho de água fria para ir dormir”, conta, sempre com um sorriso nos lábios.

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Linha futurista - O temperamento extrover-tido, a determinação da família em prosperar acompanhando o crescimento da cidade levou o hotel de 13 quartos a crescer para 52 quartos, amplos e com todo o conforto visto nos grandes centros, e que hoje não consegue atender a demanda. De olho no futuro planeja novas ampliações. “Até 2015 iremos construir mais 12 quartos. Esta linha de transmissão que está sendo construída para mim é futurista! Ela é a base para tudo de bom que irá ocorrer no Estado. Com ela

virão investidores e tenho esperança que não será bom apenas para o setor comercial, mas para todos os outros e principalmente para a comunidade”, afi rma Lisane (foto acima). Orgulhosa, destaca ainda que de seus quatro fi lhos, as duas meninas já estão se preparan-do para este mercado de trabalho promissor. “A mais velha cursa Gestão de Cooperativa e a mais nova foi aprovada no vestibular de Arquitetura, na Universidade Federal de Viçosa (MG)”, vibra a empresária.

Se os moradores dos municípios di-retamente e indiretamente inseridos na construção da linha de transmissão de 230 kV no trecho Ji-Paraná-Pimenta Bueno-Vilhena estão otimistas e esperançosos, os trabalhadores da obra não deixam escon-der aquela sensação gostosa de participar e contribuir com um marco no futuro do Estado. É um orgulho que relembra bem a competência e a paixão de toda a força de trabalho da Eletronorte. José de Arimatéia Castro e Anselmo Schroder compartilham esse privilégio.

José de Arimatéia Castro (foto ao lado), tem o nome que merece. Ele realmente faz você recordar aquela passagem bíblica do homem bondoso que resgatou o corpo de Jesus Cristo na cruz para o sepultamento. Tem 54 anos, 29 de dedicação exclusiva ao Setor Elétrico, é natural de Tubarão (SC), entretanto, fez do Norte sua moradia desde 1978. Seu primeiro trabalho na região foi através da empresa Camargo Corrêa na fase inicial da Usina Hidrelétrica Tucuruí, coração da Eletronorte, onde fez a contratação de muitos trabalha-dores. Em 1983 foi chamado para o setor

A hoje iluminada Ji-Paraná

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de análise econômica da Usina Hidrelétrica Samuel, localizada no Rio Jamari, a poucos quilômetros da capital Porto Velho.

Arimatéia analisava os contratos das empreiteiras, era funcionário da empresa Sondotécnica, responsável pela obra. Acom-panhou a construção de várias subestações em Rondônia e no Acre. Depois cuidou do setor de licitação da Superintendência de Engenharia de Rondônia por dez anos. De 84 a 86 foi administrador da Vila Re-sidencial da Eletronorte, em Porto Velho. Em 2005 recebeu uma nova missão: fazer o controle de qualidade da construção da linha de transmissão Ji-Paraná/Pimenta Bueno/Vilhena. Uma obra com mais de 350 trabalhadores.

O serviço prazeroso exige sacrifícios im-pensáveis para muitos. Ele é pai do casal Le-onardo e Daniela, e avô de Paulo Henrique, e vive a maior parte do ano longe da família. São 520 quilômetros de distância de Pimenta Bueno a Porto Velho e muitas saudades que são compensadas em apenas quatro dias, duas vezes ao mês. “Não é fácil, no entanto, a gente precisa fazer esses sacrifícios. Já foi bem pior, em 2002 fi quei um ano longe, só os visitava a cada 45 dias”, diz. Quando José de Arimatéia chegou em Pimenta Bueno, há três anos, encontrou um velho amigo de estrada: Anselmo Schroder, tecnólogo em Gestão Ambiental, natural de Laranjeiras do Sul (PR). Outro profi ssional com uma

bagagem invejável no setor. Trabalham juntos e nas ho-ras de folga cuidam de uma plantação de macaxeira - a mandioca da Região Norte -, banana e amendoim, na frente do escritório regional (foto ao lado).

Respeito à natureza - An-selmo é o homem do meio ambiente da linha de trans-missão. Diariamente per-corre a obra para ver se a empreiteira está obedecen-do às diretrizes ambientais da Eletronorte e à legislação do Ibama e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Rondônia - Sedam. A ordem é degradar o míni-mo possível e recuperar o máximo. Além de fi scalizar,

ele ainda é responsável pelo recebimento de material.

A longa experiência permite que, hoje, An-selmo analise os 278 km de extensão da linha de transmissão Ji-Paraná-Pimenta Bueno-Vi-lhena - principalmente o reaterro das torres da linha com agilidade, mas muito critério. Não passa nenhuma não-conformidade por sua avaliação. Ele é extremamente metódico e disciplinado. Sua carreira começou em uma subestação de Itaipu, onde trabalhou com um equipamento vindo da Suécia. A experiência lhe rendeu um convite para receber peças e ajudar na montagem das turbinas 1 e 2 da Hidrelétrica Samuel. Em 1988, foi respon-sável pelo setor de suprimentos da Usina e, em 2004, foi transferido para o escritório da Regional de Planejamento e Engenharia, em Pimenta Bueno.

Apesar da distância da família, que tam-bém reside em Porto Velho, ele não deixa de falar das conquistas da única fi lha: Gra-zieli, secretária executiva trilíngue, formada na Faculdade Internacional de Curitiba. A esposa, Nancy, farmacêutica e bioquímica compartilha a opinião do marido há mais de duas décadas. “Pedra que muito rola não cria limo” e escolheu carinhosamente o Estado de Rondônia para fi xar residência. Agora es-peram, juntamente com mais de um milhão e meio de rondonienses, um futuro repleto de energia confi ável e por que não futurista, como disse a empresária Lisane!

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Érica Neiva

O ser humano sempre está em busca de algo novo a descobrir... Esse conhecimento pode tornar-se um bem comum ou um ins-trumento de poder monopolizado por poucos. Dar condições materiais e apoio intelectual para que todos tenham acesso ao mundo do saber é compartilhar um patrimônio que engrandece não apenas o homem como indi-víduo isolado, mas como componente de uma engrenagem maior que considera o corpo social como um todo.

Nesse processo de socia-lização do conhecimento, a Eletronorte se apresenta como uma Corporação que investe sobremaneira no empregado, por meio de ações educacionais e treina-mentos. “Trabalhar na área de educação é uma missão de vida, porque nós esta-mos lidando com pessoas, expectativas, necessidades empresariais e a busca de

Educação empresarial: instrutoria internapromove multiplicação do conhecimento

resultados. A Eletronorte investe muito em educação, fortalecendo esta nossa missão”, destaca a superintendente de Desenvolvi-mento e Educação Empresarial, Eden Brasília Damasceno.

Segundo Eden, a Eletronorte tem recorrido à instrutoria interna como mola propulsora de boa parte de seus treinamentos. Esse fato não apenas provoca redução nos custos das atividades, como também possibilita aos empregados serem agentes na transmissão dos diversos conhecimentos. “É de grande

importância não só na eco-nomia proporcionada, que é um objetivo estratégico, mas também com relação à con-textualização do conteúdo à nossa realidade”, avalia a co-ordenadora de treinamento, Maria Edite de Faria Santos (foto ao lado).

Desde 2004, a Empresa sistematiza ações educa-cionais utilizando instruto-ria interna. Dessa forma, as despesas com treinamentos

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Auditório lotado em mais uma

ação educativa

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sofreram considerável diminuição. “Em 2004, tivemos uma economia aproximada de R$ 400 mil; em 2005 de R$ 480 mil; em 2006 de R$ 800 mil; e até meados de novembro de 2007, em média, R$ 1,8 milhão”, contabiliza Eden.

Ação de vanguarda - No setor técnico-ope-racional, cerca de 95% da consultoria é in-terna. “Nesta área os resultados contribuem para uma maior confi abilidade dos sistemas elétricos, por exemplo. Essa credibilidade é conseqüência de um menor número de des-ligamentos, de acidentes, entre outros fatores críticos de sucesso”, refl ete o coordenador de treinamento, Orlando Benedito Zarlenga.

O curso da Norma Regulamentadora (NR-10) é um dos grandes exemplos onde toda

a instrutoria foi originária da área técnica da Eletronorte. O objetivo é capacitar as pessoas que trabalham em áreas de risco e também no sistema elétrico de potência e em suas proxi-midades, de forma que possam exercer suas funções de maneira mais segura. Foi realizado com a Fundação Comitê de Gestão Empresarial - Funcoge, que colocou à disposição o material didático do curso básico e complementar.

Em 2007 foram capacitados 661 empre-gados no módulo básico e 2.563 no módulo complementar, totalizando 3.224 participa-ções. Somente neste curso, a participação da instrutoria interna proporcionou uma econo-mia aproximada de R$ 690 mil. A Empresa é a única do Setor Elétrico que já capacitou mais de duas mil pessoas entre técnicos e engenheiros voltados para área de risco, tanto no módulo básico quanto no complementar.

O desenvolvimento de pessoas ten-de a trazer só resultados positivos, que é o crescimento profi ssional e também pessoal. Eu sou encantada pela área de treinamento porque per-cebo o desenvolvimento das pessoas dia a dia. É muito gratifi cante traba-lhar com educação .

Cláudia Maria Andrade- coordenadora de treinamento.

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No campo e em sala de aula, a participaçãoda instrutoria interna

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De acordo com o raciocínio de investi-mento no próprio corpo funcional, a Eletro-norte oferece os recursos necessários na formação do empregado e depois o utiliza na disseminação de suas atividades. Tal fato pode ser observado no comportamento de todos aqueles que passam por uma ação educativa. Muitos se tornam multiplicadores do conhecimento, como Carlos Hermógenes de Souza Rocha, treinando da NR-10. “Para nós, técnicos de segurança do trabalho, o processo de implantação e a conseqüente participação na capacitação dos demais empregados foi algo singular. Multiplicar conhecimento é dar um pouco do que temos e receber o que não temos. Não apenas re-passamos, mas recebemos aprendizado. É uma troca mútua, ambos os lados acabam ganhando”.

Mestres - Na especialização em Gestão Empresarial, parceria da Eletronorte com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), das 19 disciplinas oferecidas, cinco delas foram ministradas por instrutores da Empresa. É o primeiro curso de especiali-zação onde cinco mestres formados pela Eletronorte se tornaram professores. Assim, houve uma redução de 20% nas despesas. “São mestres formados pela Empresa que estão retornando com o conhecimento como professores. Tudo isso com um im-pacto muito grande na redução de custos e no repasse de conhecimento”, ressalta Maria Edite.

Na década de 90, a Eletronorte aderiu ao Programa Brasileiro de Qualidade e Produti-vidade, cujo um dos principais objetivos era a capacitação interna de pessoal. Naquele período, a Empresa iniciou o processo de capacitação com uma primeira turma de 50 multiplicadores. “Começou, assim, a preocu-

pação com a melhoria da qualidade, a visão de cliente, de processo, de resultado, e a minha experiência com instrutoria e como multiplicador da qualidade na Eletronorte. Foi um trabalho muito bonito. Confesso que gostei muito”, afi rma o mestre e também as-sessor de Planejamento Empresarial, Marcos Barbosa.

A partir de 1996, os programas foram reciclados e passou-se a pensar não apenas em qualidade, mas em excelência da ges-tão. Houve a transição no modelo do Setor Elétrico, com o surgimento de um ambiente competitivo. Neste momento, investiu-se muito na preparação das pessoas para que tivessem conhecimento de mercado. A Ele-tronorte apoiou a formação de mestres por meio do custeamento dos cursos. “Agradeço muito à Empresa porque este curso era um sonho que eu tinha. Posso aplicar todo o conhecimento que obtive no mestrado na própria Eletronorte”, destaca Marcos.

Conhecimento a distância - Desde 2002, a Eletronorte começou a implantação do programa de educação a distância na Sede e nas regionais. O número de oferta de cur-sos e de participações aumenta a cada ano. Em 2007, foram 15 cursos ofertados, 2.421 participações distribuídas em 12 turmas. São trabalhados temas como informática básica,

O curso de especialização em Gestão Empresarial foi muito importante para a minha vida profi ssional, pois contribuiu de forma signifi cativa para melhorias no desempenho das minhas atividades, além dos avanços atingidos nos rela-cionamentos a distância .

Carmo Gonçalves - aluno

Todos os treinamentos de que participei foram muito importantes para minha formação profi ssional na Empresa. Com eles pude conhecer melhor a Eletronorte, qual o seu papel e contexto no Setor Elétrico brasileiro. O treinamento, na NR-10, capacitou-me a exercer minhas tarefas de forma segura, para mim e para com meus colegas .

Alfredo José Azevedo Corrêa - aluno.

A gestão pela excelênciaé marca daEletronorte

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redação empresarial, desenvolvimento de equipes, licitação e contrato, entre outros. “Os resultados são satisfatórios no sentido de que a educação a distância é muito abrangente. Essa cultura na Empresa já está bem estru-turada e difundida; e o resultado tem sido muito positivo”, enfatiza a coordenadora de treinamento, Marizete das Dores Sousa.

Na Educação a Distância - EAD, há outro instrumento que deve ser destacado, a TV Educativa. Ela é uma parceria da Eletronorte com a Rede Dtcom, iniciada em 2005. Ofe-rece aos empregados, mensalmente, uma

grade de programação de cursos nas áreas de autodesenvolvimento de gestão pública e de gestão corpora-tiva. Posteriormente, o aprendizado é complementado pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem - AVA.

O AVA é o local onde estes concei-tos introdutórios são amadurecidos, ou seja, os empregados continuam os cursos em seus próprios compu-tadores, no ambiente de trabalho. Vale frisar que eles escolhem os cur-sos que querem fazer. “É uma área de formação humana muito boa, de

muitas perspectivas. Gosto de trabalhar com EAD pela autonomia que ela proporciona às pessoas, para que escolham a trilha que querem seguir”, discorre outra coordenadora de treinamento, Ana Celina Fernandes.

Sinto-me gratifi cada por participar do Programa Brasil Alfabetizado. Vejo como um direito que as pessoas não tiveram e agora está sendo recuperado. Mesmo com todas as difi culdades, eles resgataram a cidadania, que é um dos direitos fundamentais do homem .

Solange Maria da Silva - coordenadora do treinamento

Transformando vidas - Paixão por leitura, curiosidade por descobrir coisas, saber ex-plicações para alguns fatos e fenômenos que acontecem. Isso levou Hélcio Barbosa (foto ao lado, abaixo), norte-riograndense, residente há dez anos no Distrito Federal, a dar passos na estrada da aprendizagem.

Sua experiência com a EAD se iniciou em 2002, quando cursou a especialização téc-nica para agentes e assistentes administra-tivos. Esse treinamento durou cerca de dois anos e trabalhou temas diversos - noções de Internet, ambiente de escritório, redação empresarial, desenvolvimento de equipes, entre outros. “Eu não tinha especialização ou curso técnico algum, este veio preencher alguma coisa que estava faltando. O que fi cou foi um aprendizado muito proveitoso. Acredito que estou neste novo setor da Eletronorte devido a este curso. As pessoas viram meu interesse, minha vontade em aprender”.

Quando entrou na Empresa, em 1998, Hélcio trabalhou cinco anos na área de ser-viços gerais. Hoje é auxiliar administrativo do Sistema de Avaliação de Treinamento. “Quando fi z o curso tinha uma expectativa de crescer pessoal e profissionalmente. Essa expectativa foi superada, mudou muito a minha maneira de ver as coisas. Minha auto-estima aumentou e melhorou o meu relacionamento com as pessoas”. O treina-mento não fi cou como algo vago e distante da realidade de Hélcio. No seu dia-a-dia, ele utiliza o que aprendeu, como noções de relacionamento interpessoal e programas de computadores.

Hélcio não parou de trilhar seu caminho na busca do saber. Começou a fazer cur-sos pela TV Educativa e já participou de 70 deles, que abordaram temáticas como comunicação por e-mail, administração de fi nanças pessoais, noções de auditoria e matemática fi nanceira. “A Empresa está colocando nesse processo alguns dos seus valores que são o respeito às pessoas e as oportunidades pra todos. O curso a dis-tância depende muito de cada aluno. Eu mesmo aproveito bastante, vou interessado em fazer o melhor”.

A estrada do saber parece mesmo muito longa, sinuosa, infi nita: “Como diz a música de Gonzaguinha, somos eternos aprendi-zes. Quero continuar caminhando”, refl ete Hélcio.

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O diploma na mão,

conhecimentoa serviço da

empresa

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Bruna Maria Netto

Quem nunca passou pela frustração de ter a energia elétrica cortada justamente num momento decisivo da novela ou partida de futebol? Se as maiores paixões nacionais são algumas das afetadas por essa falta de luz, na Região Norte uma grande equipe é mobilizada para que a energia seja retomada o quanto antes. Caso o motivo tenha sido a queda de uma das torres de transmissão de energia - estruturas que sustentam os cabos condutores de energia elétrica e de fi bras ópticas - seja pela ação da natureza, ou por atos de vandalismo, mal se imagina o tamanho da equipe escalada para que a reconstrução dessas estruturas seja feita no menor tempo possível. Afi nal, o breve retorno do fornecimento de energia além de atender às necessidades de hospitais, escolas, comércio e lares, faz com que a novela e o futebol voltem a ser apreciados com a tranqüilidade que o cotidiano pede. A convocação desses técnicos é digna de um dream team, em que o elenco é formado por médicos, administradores, jornalistas, eletricistas e é claro, engenheiros, fazendo com que o conserto das torres se torne tão emocionante quanto uma partida fi nal de futebol.

E o dream team da Eletronorte pode ser considerado uma verdadeira seleção brasi-leira, com todos os craques a que se tem direito, tendo em vista que os trabalhadores da Empresa são responsáveis por tomar conta de nada menos que 25 mil torres de transmissão - cujo tamanho varia de 17 a 65 metros de altura - distribuídas ao longo de dez mil quilômetros de linhas de transmissão. Jogam nessa seleção desde o operador que detecta a falta de fornecimento de energia, no Centro de Operações Local - COL, até a diretoria. E o esquema de ataque, além de

Time afi nado vence corrida contra o tempo para reconstruir torres derrubadas

TRAN

SMIS

SÃO

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infalível, é minuciosamente detalhado. Assim como os centroavantes e zagueiros de um time de futebol, cada trabalhador sabe muito bem o papel que deve desempenhar para ga-rantir uma vitória de goleada, com a energia restabelecida no menor tempo possível.

Esquema tático - Quem “forne-ce o ouro” e explica o esquema tático desta equipe é o engenheiro Eugênio Pacelli Antunes (foto ao lado), da Gerência de Engenharia de Manutenção da Transmissão. Eugênio desenvolve metodologias de trabalho com novas técnicas de serviço, procurando diminuir a atuação do homem e colocando a máquina para trabalhar, “nos dan-do mais tempo para pensar mais e comandar”, completa. Empregado

da Eletronorte há 21 anos, Pacelli já sentiu de perto a apreensão de ter que reestruturar o quanto antes uma torre de transmissão: “Temos de estar preparados para qualquer que seja o motivo da queda da torre: uma

árvore, helicóptero ou avião podem ter caído em cima da linha, uma ação de sabotagem ou até mesmo um fato como o ocorrido em novembro de 2007, quando índios folgaram os parafusos da base de uma torre derruban-do-a, no Maranhão. Na hora dá um deses-pero momentâneo, por conta da grandeza do estrago, mas temos a certeza de que, ao fi nal do dia, a torre estará de pé e a energia seguirá novamente por sua linha. Sabemos que é um trabalho árduo, mas sempre temos em mente que ele será feito no menor tempo possível”.

E uma torre de transmissão é tão frágil assim? Eugênio explica que a torre é uma estrutura forte, planejada para durar pelo menos trinta anos, resistindo a ventos de até 150 km/hora. Por ser feita em aço gal-vanizado, a torre traz resistência mecânica e proteção contra a corrosão. No entanto, esse metal oferece pouca durabilidade quando confrontado com fogo, como ocorre com qualquer outra estrutura do mesmo material. “O aço galvanizado é um dos materiais mais resistentes considerando sua relação cus-

Linha VerdeMaria Orly de Matos tem 71

anos. Com essa idade deveria apenas se preocupar com sua aposentadoria, se não fosse pre-sidente do bairro Dr. Fábio, na cidade de Cuiabá - MT. Lá, seu maior inimigo era o lixo depositado ao longo da faixa de servidão das li-nhas de transmissão: “As pessoas jogavam tudo embaixo da linha, de sofá velho a animais mortos. Com isso, a população fi cava doente, com dengue ou hanseníase, sem contar o cheiro, que era horrível. As crianças brincavam no lixo e to-mavam banho na lagoa próxima”. Por outro lado, na Eletronorte, Cristina Souto Melo, coordenado-ra de comunicação e responsabilidade social da Regional de Transmissão de Mato Grosso, era procurada pela equipe de linha de transmissão para criar uma maneira de sensibilizar a comunidade dos bairros Dr. Fábio e São João Del Rey - por onde passa a linha de transmissão Coxipó/Sinop, de 230 kV - sobre a importância de manter o lugar limpo, que, além de poupar cerca de R$ 12 mil por ano na limpeza da área, ainda ajudaria na manutenção das torres de transmissão.

A vida de Cristina se cruza com a de Maria em 2004, quando a Eletronorte decidiu ouvir os moradores dos bairros na tentativa de resolver o problema. “Fizemos uma pesquisa local e identifi camos que nesses locais havia muito desemprego e carência de boa alimenta-ção. Vimos que essa população estava interessada na ajuda da Empresa. Foram várias reuniões para que juntos optássemos pela implantação de uma horta

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to/benefício. Como as torres são treliçadas, o que fazemos é, dependendo da região e da severidade de seus ventos, aumentar a espessura das treliças, mas como não po-demos deter o desmatamento do local, em pouco tempo a falta dos obstáculos naturais antes existentes modifi ca a condição local

de ventos. Quanto ao fogo, não conhecemos qualquer material que resista tanto, mas seu contato com o aço, que é sólido, o enfraque-ce, mudando-o de estado.”.

Jogadas ensaiadas - O time da Eletronorte não entra em campo sem conhecer o adver-

consumidos e R$ 8,6 mil comer-cializados. “Com o projeto aten-demos a 12 famílias, que hoje estão capacitadas para produzir, consomem alimentos orgânicos e saudáveis, e auxiliam a comu-nidade com doação, deixando de serem apenas receptores de ajuda. A Eletronorte, por sua vez, agora investe apenas R$ 6 mil, mas não com limpeza e sim com

uma ação social. Se antes eles tinham o lixão como referência, agora eles têm a horta”, relata Cristina.

Maria (foto acima à direita), agora também agricultora, conta como o projeto melhorou a vida do bairro: “Depois que a horta foi implantada, a população teve um ganho na alimentação, pois o povo daqui não comia verduras e legumes. Há meses em que ganho até R$ 400,00 com a venda dos produtos. A horta mudou meu cotidiano, além de ter sido uma conquista social, pois o apoio da Eletronorte proporcionou uma melhoria para a comunidade como um todo, já que depois da horta, as famílias do bairro passaram a se alimentar melhor”.

A partir de 2008 o projeto “Linha Verde, Implantação de Horta Comunitária”, vencedor no Painel Interno de Qualidade - PIQ da I Semana Eletronorte do Conhecimento e Inovação - Seci, deixa de ser da regional de Mato Grosso e passa a ser corporativo, com orientação da direção da Eletronorte para que as outras regionais da Empresa o implantem nos trechos de faixa de servidão.

comunitária”, conta Cristina (foto acima à esquerda), hoje coordenadora do projeto Linha Verde, que nasceu com o objetivo de reduzir a zero a agressão ao meio ambiente e promover a melhoria da qualidade de vida no entorno da faixa de servidão.

A primeira horta foi implantada em 2006. No pro-jeto, fi cou defi nido que a população faria a produção de hortaliças, em regime de comodato, na faixa de servidão. A Eletronorte faz a cessão da área, a aquisi-ção de material necessário para trabalhar a horta e a gestão do projeto. Para organizar as famílias e evitar problemas de relacionamento, um estatuto foi criado, e no contrato fi ca estabelecido que a comunidade faz a montagem da horta, o plantio, comercialização e doação de 10% da produção para instituições sociais auxiliadas pela Empresa.

Em 2007, a horta do Dr. Fábio produziu 6,6 mil maços de hortaliça. Desses, foram doados 1.072 maços, 1,4 mil

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sário. Com um esquema tático minuciosa-mente planejado e aperfeiçoado ao longo dos anos, a reposição do sistema de transmissão é vitória na certa. Eugênio explica que há um plano de emergência na área do atendimento de contingência que está sempre pronto para entrar em ação no momento exato em que ocorre o desligamento da linha. “A partir daí o operador da subestação recebe um sinal no COL, onde tem o registro do desligamen-to da linha, e se não conseguir religá-la, é caracterizado o desligamento permanente e acionada a equipe de linha de transmissão para percorrer todo o trajeto e fazer um diagnóstico da falha”.

No plano de emergência podem ser esca-lados dois preparadores físicos que ajudam a criar as jogadas ensaiadas na reestruturação das torres. No time de Mato Grosso, estado em que ocorre o maior número de quedas de torres de transmissão, um dos escalados é Marcelo Damasceno, que está na equipe da Eletronorte desde 1989. Engenheiro da Divisão de Transmissão de Rondonópolis, Marcelo é coordenador do Centro de Plane-jamento de Manutenção. Juntamente com o engenheiro Wilson da Silva Malheiro, criou um plano de contingência para atendimento de ocorrências em linhas de transmissão, que em 2007 ganhou a faixa ouro na Seci, Sema-na Eletronorte do Conhecimento e Inovação (veja matéria na página 12).

Em sua pesquisa, Damasceno e Malheiro (foto acima) mostram que nos últimos seis anos, por conta do aprimoramento de técni-cas utilizadas especifi camente na queda de torres de transmissão, o tempo de reestrutu-ração caiu pela metade, levando em média

seis horas para uma torre ser levantada; e o tempo de localização de falhas nas linhas de transmissão diminuiu em 75%, gastan-do apenas uma hora para tal. E com uma habilidade que não teria outro adjetivo para defi ni-la senão fenomenal, se necessário, a equipe monta acampamento e atravessa a noite enfrentando chuvas e ventos fortes, apenas saindo do local quando a torre estiver novamente cumprindo seu papel.

O projeto dessa dupla nasceu em 1996. “Foi quando chegamos na Regional e a equi-pe de linha de transmissão já tinha um plano de emergência. Eu e o Malheiro notamos que o plano poderia ser melhorado pelo histórico de quedas de torres que se apresentava, sendo a maior incidência de queda causada pela ação dos ventos. Com uma vegetação majoritariamente composta por soja e algo-dão, sem nenhuma árvore, a única resistência encontrada pelo vento é a própria torre de transmissão”, lembra Marcelo. Como esse

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plano norteia as demais regionais, voltemos a falar sobre a metodologia de conserto das torres também sob os olhos de Damasceno. De acordo com o engenheiro, logo que o desligamento da linha é detectado, aciona-se o gerente da divisão a que a linha pertence. Depois, localiza-se o gerente da instalação, e em seguida entra uma seqüência até chegar na equipe de manutenção, que detecta exa-tamente o local do sinistro. Marcelo conta que para percorrer a linha, uma equipe pré-esta-belecida procura o erro tanto por terra como pelo ar. São seis os jogadores, ou melhor, eletricistas, que participam desta partida, de forma que dois percorrem a linha por via aérea e quatro se dividem em duas viaturas.

Jogos amistosos - É a partir da iden-tifi cação da torre danifi cada que outro time de técnicos da Eletronorte entra em campo, literalmente. Até que a linha volte a transmitir energia, eles trabalham de oito a dez horas seguidas, sem descanso. “Temos a consciência do transtorno que é a falta de luz para a sociedade, e por isso, cada um já está ciente do seu papel na responsabilidade de recompor a es-trutura”, lembra Damasceno. No entanto, diferentemente de uma Copa do Mundo ou de qualquer campeonato altamente competitivo, aqui as equipes se integram para trabalhar juntas, e o vencedor é a sociedade. Tanto Eugênio como Damas-

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Cada um está ciente de seu papel na responsabilidadede recompor a estrutura

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ceno afi rmam que quando o time de uma regional precisa de reforços, as turmas das demais localidades não penduram as chuteiras: “Sempre que necessário outros colegas saem das demais regionais, nos encontramos no local da ocorrência e colocamos em prática o plano de ação, tra-balhando com segurança principalmente”, lembra Eugênio, que já participou de três ocorrências, e em nenhuma delas houve qualquer acidente.

O último “amistoso” que reuniu equipes de diversas regionais ocorreu em agosto de 2007 em Mato Grosso, onde três torres da linha de transmissão Nobres/Sinop caíram no município de Lucas do Rio Verde, dei-xando cerca de 300 mil mato-grossenses de 24 cidades do norte do estado sem energia (veja box na página 32). “Por conta da queda dessas três estruturas, foi deslocada uma equipe composta de 120 pessoas. Nesse momento, além da união de todos os

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No meio da fl oresta o

empenho dos trabalhadores

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envolvidos no processo, há um intercâmbio promovido entre as empresas para que o religamento da linha seja o mais breve pos-sível. Em Mato Grosso a Cemat e a Eletrosul colaboraram nos dando suporte”. Esse muti-rão de técnicos designados para a atividade descrita por Eugênio foi responsável pela energização das estruturas em um tempo bem melhor que o estimado, completando o serviço em menos de três dias.

E se alguém imagina que os jogadores amarelam em alguma hora, engana-se, pois se há algum temor, ele não passa dos instantes iniciais do primeiro tempo: “A primeira sensação é chocante, o que logo pensamos é: por onde começar? A impressão que temos ao ver a torre caída é que encontraremos muito trabalho pela frente, porém quando vermos que tudo foi reconstruído e está funcionando fi camos muito gratos pelo serviço desempenhado. A Eletronorte conta com uma equipe técnica muito boa, e isso facilita muito os trabalhos”, ressalta Eugênio.

Marcelo Damasceno também pensa da mesma forma. Foi em 1997, perto de Rondonópolis, que participou do conserto da estrutura pela primeira vez. “Na época eu fazia parte da equipe que foi procurar o defeito, e saí para fazer o patrulhamento, à noite. Na hora que cheguei e vi a torre tombada tive essa dúvida de ‘como eu vou resolver isso?’ Mas depois fi quei tranqüilo porque sabia que estava em uma equipe com bastante experiência. À noite mesmo fi zemos uma reunião para no dia seguinte entrarmos com nosso plano de ação. Mas a primeira sensação mesmo é de destruição.

Os cinco primeiros segundos são de afl ição, e só a interatividade e o compromisso das pessoas é que garantem o trabalho bem feito, sem dúvida. Hoje em dia, mesmo com mais experiência, não posso dizer que é algo cotidiano, até porque quando há uma ocorrência dessas e vemos o estrago que o vento fez na torre, fi ca a impressão de que passou um furacão pelo local”.

No campo do adversário- No Maranhão, apesar de não ter de enfrentar tantas ocor-rências como em Mato Grosso, por conta dos ventos, as torres reconstruídas são, às vezes, derrubadas por grupos indígenas. O time maranhense é formado por um enge-nheiro eletricista, um auxiliar técnico e 31 eletricistas, entre eles o assistente técnico de engenharia José Ribamar Feitosa Lima (foto acima), que trabalha como especialista de manutenção de linha de transmissão. Natural de Barra do Corda, cidade a 462 quilômetros da capital São Luís, foi lá que Feitosa tomou gosto pelas alturas. Desde então trabalha com manutenção das linhas,

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inclusive na reconstrução das duas torres derrubadas por índios, uma em fevereiro de 1997, quando os Krikati atearam fogo e derrubaram duas torres do circuito I e uma do circuito II, em Montes Altos; e outra em 2007, quando os Guajajara também derru-baram duas torres, dessa vez por folga de parafusos.

Em aldeias indígenas, ocorrem atrasos nas manutenções programadas, falta de confi abilidade no sistema, aumento nos ris-cos de acidentes e desconforto para todos os envolvidos”, lembra o técnico. Se com máquinas a torre leva um dia para ser mon-tada, manualmente este tempo sobe para quatro ou cinco dias, como ocorreu nesta última ocorrência. “Nós tivemos de remon-tar a torre manualmente, sem o auxílio de guindastes, porque na hora não encontramos um com quarenta metros de altura, que são os 31 da torre mais os cabos da linha de transmissão”. Ao fi nal da partida, o time de 41 pessoas pôde saborear a recompensa: “A satisfação de ver um dever cumprido, e que todos estão usufruindo uma energia de qualidade, é extremamente gratifi cante para o nosso trabalho”, ressalta.

Time entrosado - A equipe de Damasceno é tão sintonizada que um telefonema do engenheiro já diz muitas coisas: “O pessoal até brinca porque quando o celular toca e vê que é meu número ou o da Empresa já sabe que lá vem uma torre no chão. Eu ainda brinco com eles falando que quando eu ligo já podem vestir a bota e a calça para atender a uma emergência”. E a equipe de linha está mais que preparada. Todos incor-

Gol de placaEm um contexto que levaria qualquer equipe a uma

derrota histórica, o time da Eletronorte terminou mais uma partida com um belo gol de placa. O jogo aconteceu há cerca de três anos, em Lucas do Rio Verde - MT, cidade por onde passa a linha de transmissão entre Cuiabá e Si-nop. Lá, as condições climáticas eram as piores possíveis, com tempo frio e muito vento. Por ação de vandalismo, a queda de três torres causou um blecaute na região por dois dias: “A linha de Lucas do Rio Verde é de impor-tância altíssima, pois é uma linha única que abastece cerca de 300 mil pessoas, e sua queda acarretou em um transtorno imenso, já que todo norte do estado fi cou no escuro”, relembra Marcelo Damasceno, que estava na reconstrução das torres: “Fomos avisados do incidente às três horas da tarde de um dia e só paramos dois dias depois, emendados, às duas da manhã”. De acordo com Damasceno, a agilidade e o estabelecimento da função de cada um contou muito para que a energia voltasse o quanto antes: “Nós sempre procuramos colocar um téc-nico no local de qualquer jeito, seja de avião, de bicicleta, para que ele passe a informação do local corretamente. Uma das primeiras funções naquele dia foi defi nir quem fala com quem e quem faz o que, e daí a ação fl ui rapi-damente Quando chegamos ao local do defeito, cada um já sabia o que fazer: o líder da montagem, por exemplo, só fala de montagem, ele não conversa com a imprensa

poram a missão, além de ter a consciência e o comprometimento de realizar um trabalho que demanda muita rapidez em tão pouco tempo. “Eles sabem que quando são cha-mados para uma emergência, tem que vestir a camisa, pois terão de dar o máximo de si para isso”, completa Damasceno.

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e não resolve problemas administrativos, ele só fala de montagem”.

E com o time entrosado, a vitória só poderia ser por goleada, com direito a virada no tempo: “Não é surpresa a equipe não querer parar, se agarrar ao tra-balho. Problemas existiram, mas até o tempo ajudou, o sol apareceu, o vento diminuiu. Como o objetivo é comum, as equipes se integram com facilidade e depois corremos para o abraço”, lembra Marcelo.

José Galantini (foto acima) também estava neste episódio, e foi um dos técnicos que fi cou no chão, coordenando a montagem da torre: “Essa foi a pior

ocorrência de reestruturação de torre, pois estava em Rondo-nópolis participando de um treinamento, e de repente chega a informação de que havia a suspeita de queda de torre no Sistema Norte. Foi aquela correria, eu fui ao aeroporto e me desloquei para a cidade mais próxima possível da queda de torre, e de lá só saí com a energia reestruturada”.

Josias Matos de Araújo, superintendente de Engenharia de Operação e Manutenção da Transmissão, reconhece o esforço da equipe. “O espírito forte de equipe, integra-ção, solidariedade, empenho, compreensão e esforço da comunidade, mostram que a Eletronorte tem uma grande força de trabalho e sua marca é forte. Mato Grosso está de parabéns, esse trabalho deve ser disseminado, pois é referencial para todas as áreas da Empresa”.

E o gol de placa fi ca por conta do tempo de reestrutura-ção das torres, em 48 horas, bem menos do que os cinco dias pré-estabelecidos no início da operação. Àquelas 120 pessoas das três torres em Mato Grosso, Paulo César No-buo Kojima, gerente da Regional de Transmissão de Mato Grosso, deu seu recado: “Em nome de todos os gerentes e coordenadores de equipe parabenizo e agradeço a todos que direta ou indiretamente colaboraram e torceram pelo sucesso alcançado no restabelecimento, em tempo recorde, do fornecimento de energia para os 300 mil mato-grossenses afetados pela queda das três torres. Em especial, agradeço a todos os eletricistas de linhas pela maneira como encaram e superam desafi os, dando mais uma vez exemplo do que é estar comprometido, trabalhar em equipe e superar os seus próprios limites em prol de uma causa maior”.

José Galantini Neto faz parte dessa equipe que fi ca no alto das torres em Mato Grosso. Contratado em 1986 para atuar na linha de transmissão na cidade de Rondonópolis, ele conta que trabalhar em linhas energizadas e desenergizadas é gratifi cante, mas quando se fala em queda de torres a situação fi ca diferente. Dependendo de cada caso, Ga-lantini se reveza nas funções, assim como um lateral direito que por vezes se faz de atacante, tendo em mente passo a passo o que se deve fazer. “Às vezes fi co no alto, na montagem da torre, ou no chão fazendo ater-ramento temporário. No solo há mais servi-ços, pois começa na preparação do material e deslocamento para o local da ocorrência, e quando esse material chega, começa o pro-cesso de escalar as torres. Após a montagem, a última ação a ser feita é o deslocamento para retirar os aterramentos, isto signifi ca que o sistema será restabelecido”.

E se a partida vai bem, isso se deve tam-bém àqueles que trabalham nos bastidores que, entrosados com os craques, fornecem o suporte técnico necessário. É a equipe de

apoio logístico, essencial para o andamento do trabalho: “Eles levam alimentação para o pessoal, providenciam transporte, moradia e toda condição que os técnicos necessitam para recuperar a torre. Para que esses técni-cos tenham êxito na recuperação das torres, o apoio dado ao serviço deles é essencial”, lembra Eugênio.

Todo o material necessário fi ca preparado na subestação: são kits e torres de emer-gência, caixas com ferramentas e materiais. “Isso é utilizado apenas em situações de emergência, quando esse material, que já fi ca pronto, é colocado nos caminhões e chega ao local da ocorrência para que os técnicos adiantem o serviço, como por exem-plo, remover a torre inutilizada. Além disso, o técnico não precisa se preocupar com água, alimentação, se vai contratar hotel, se vai chamar ambulância com médicos. Quando se trabalha à noite existe o auxílio dos kitsde iluminação, que dá condições de trabalho até o amanhecer. Por ser um trabalho árduo e contínuo, sem interrupção, esse apoio é muito relevante para o nosso sucesso”.

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Os rios queguardam energia

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Michele Silveira

Para quem apostava na morte, a surpresa da vida. Para quem chega no Rio Tocantins e espera ver um rio escasso, de águas polu-ídas, com peixes boiando ou corroído pela ocupação humana, a decepção é grande. Lá a água é monitorada, há projetos de desenvolvimento sustentável e unidades de conservação diferenciadas, restritas para pesquisa ou de uso sustentável. Onde rio e lago são uma água só, meio ambiente e geração de energia elétrica convivem em harmonia: é em Tucuruí, maior usina hidrelé-trica brasileira, que o rio fi ca mais imponente. Não é qualquer rio que se dá ao luxo de gerar cerca de 10% da energia consumida no Brasil inteiro. E pensar que o gauchinho que liga o computador lá na fronteira com o Uruguai para saber o que aconteceu com o Tocantins depois da Usina, recebe energia de Tucuruí. Pois é, amiguinho curioso, o rio não morreu.

Na tela do computador, uma defi nição objetiva: o Rio Tocantins nasce depois da união dos rios Maranhão, no Estado de Goi-ás, com o Paranã, no Estado do Tocantins. Depois de percorrer 2.600 km, desemboca na foz do Rio Amazonas. Faz parte da bacia Araguaia-Tocantins, que ocupa cerca de 921.000 km², aproximadamente 11% do território do Brasil. Cobre todo o Estado de Tocantins e abrange parte do território dos estados de Goiás, Mato Grosso, Maranhão, Pará e Distrito Federal. As usinas hidrelétri-cas já construídas para aproveitar o poten-cial hidrelétrico da bacia possuem 11.522

Nas bacias hidrográfi cas da Amazôniaestudos de inventário e viabilidade

identifi cam os berços de hidrelétricas

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A Eletronorte e o TocantinsEra uma tarde de quinta-feira do início do ano de 2007.

Num auditório lotado, os novos colaboradores aprovados no concurso da Eletronorte assistiam a um vídeo institu-cional. Na tela, um personagem peculiar: o Rio Tocantins. Naquele dia o tom era a força do rio e a paixão com que ele próprio narrava a sua história. E junto com ela, a trajetória da maior usina hidrelétrica brasileira.

Os meses se passaram e cada colaborador na sua área foi percebendo que o Tocantins não era personagem ape-nas de documentário. Na área de meio ambiente lá está ele no programa de limnologia e qualidade da água, ou no mosaico de unidades de conservação, ou nos progra-mas de qualifi cação e desenvolvimento da piscicultura. Na engenharia, o Aproveitamento Hidrelétrico Marabá já rouba a cena nos estudos de viabilidade e desponta com um dos grandes empreendimentos hidrelétricos da região. Aliás, é nesse momento que se aprende algo importante: a implantação de uma usina hidrelétrica não tem só uma face. “Um empreendimento como esse causa modifi cações, é claro. E essas modifi cações pre-cisam ser identifi cadas e avaliadas para que possamos

megawatts instalados, o que corresponde a 15,7 % da potência instalada no Brasil. É nela que está localizada a província mineral de Carajás. Além de garantir a energia da Usina Tucuruí, o Rio Tocantins, em razão do reservatório de outra hidrelétrica, Serra da Mesa, tem uma boa regularização em seu regime hidrológico, o que permite a operação a fi o d’água das usinas a jusante: Peixe Angical, Cana Brava e Luís Eduardo Magalhães. Um minuto. A defi nição é da Aneel, mas para o jovem pesquisador fi cou uma dúvida: a jusante? Sim, a jusante, ou seja, rio abaixo.

Nessa bacia correm outros rios não menos importantes, como o Sono, o Claro, o Vermelho. E tem o das Almas e o das Mortes. Ah, e também o Tocantinzinho. Não que seja o fi lho caçula, mas o início daquele que já virou poesia, lenda e energia. Não é por acaso que o Tocantins batiza a maior bacia hidrográfi ca inteiramente situada em

território nacional.De acordo com a Agência Na-

cional de Águas - ANA, no Plano Estratégico de Recursos Hídri-cos da bacia dos rios Tocantins e Araguaia, o grande potencial hidrelétrico regional encontra-se no próprio Tocantins e em outros 16 cursos d’água. Os 16.758 MW do rio correspon-dem a 64% de todo o potencial estimado para o conjunto da região hidrográfi ca.

A Eletronorte sabe disso há muito tempo. Antes mesmo do início da construção de Tucuruí o então Comitê Coor-denador dos Estudos Energéticos da Ama-zônia - Eneram, recomendou à Eletrobrás que a Eletronorte coordenasse três estudos: o Araguaia, o Amazonas e o Tocantins. Era julho de 1972. De lá pra cá a tecnologia e as condições para realizar inventários e estudos de viabilidade mudaram muito. “Se hoje um trabalho de inventário já exige muito esforço e dedicação, é possível ima-ginar o que era esse processo na década de 70, em plena Amazônia”, conta Hélio Franco (foto acima), gerente de Estudos e Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas da Eletronorte.

Como num desses hiperlinks de pes-quisa na Internet, é preciso clicar na palavra inventário. A página que será aberta trará várias informações, mas é

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mitigar ou compensar os impactos. Por isso a etapa dos estudos de viabilidade inclui as pesquisas de campo para coleta de dados sobre fauna, fl ora, água, solo e atividades socieconômicas e culturais”, explica Silviani Froehlich (foto ao lado), gerente de Estudos e Projetos Ambien-tais da Eletronorte.

Atualmente na fase de estudo de via-bilidade, a Usina Marabá tem sido tema de várias audiências públicas. “Partici-pamos das audiências realizadas pelo Ibama e também promovemos outras. É natural que as pessoas queiram obter mais informações e o nosso objetivo é es-clarecer todo o processo”, afi rma Silviani. É através de um termo de compromisso entre a Eletronorte e a Construções e Comércio Camargo Corrêa que estão sendo feitos os estudos de viabilidade técnica, econômica e socioambiental do Aproveitamento Hidrelétrico Marabá. O estudo de engenharia envolve as estruturas, incluindo barragem, unidades geradoras e de-limitação da área do reservatório. Também faz parte desse estudo a análise econômico-fi nanceira, com levantamento dos custos de implantação do empreendimento.

Já na área ambiental são feitos o Estudo de Impacto Ambiental, conhecido como EIA, e o Relatório de Im-

pacto Ambiental, o Rima, constituídos pelo diagnóstico socioambiental da região, no qual são estudadas desde as formações rochosas até as atividades culturais das po-pulações locais. Além disso, também integra o chamado EIA/Rima a avaliação dos impactos socioambientais as-sociados ao empreendimen-to; o prognóstico ambiental, no qual são apresentados os cenários da região com a implantação do empreendi-mento e o planejamento dos programas e ações destina-

dos a eliminar, reduzir ou compensar os impactos negativos e maximizar os benefícios do empreendimento.

Nessa etapa também é realizado o estudo antropológico das populações indígenas para conhecer as comunidades da região, suas relações com a população não-indígena e suas interações com o meio ambiente; avaliando os impactos da implantação do empreendimento e propondo medidas para mitigação e compensação. É aqui que surge espaço para diferenciar a implantação de uma usina hidrelétrica sob o ponto de vista socioambiental. “Hoje a Eletronorte desenvolve projetos importantíssimos na área de pesquisa, como a Reser-va Biológica do Uatumã, que é exemplo no mundo; temos os programas indígenas Parakanã e Waimiri Atroari, comunidades que estavam morrendo, perdendo a sua cultura, e que hoje são independentes, aumentaram sua população e resgataram sua cultura; temos um laboratório para receber as sementes coletadas no Banco de Germoplasma de Tucuruí, sem falar em programas como o dos quelônios, mamíferos aquáticos, monitoramento das águas, educação ambiental e tantos outros. Mais do que cumprir o estabelecido em Lei pela chamada compensação ambiental, o diferencial é ir além, elaborar pro-jetos capazes de aliar desenvolvimento e sustentabilidade”, acredita Hélio Franco.

O engenheiro persiste na questão principal: “Hoje a enge-nharia brasileira é reconhecida mundialmente na construção de hidrelétricas. É a nossa matriz energética, é a vocação brasileira. É possível atingir o equilíbrio entre meio ambiente e empreendimento, como já mostramos tantas vezes”. E parece que o Tocantins sabe disso. É nele que estão localizados outros nove estudos de viabilidade para aproveitamentos hidrelétricos, além do de Marabá. Depois de concluídos, esses estudos serão submetidos à análise e avaliação dos órgãos competentes. Na seqüência serão realizadas audiências públicas pelo Ibama, onde são ouvidas as comunidades envolvidas. De posse do resultado de todo esse processo, o Ibama decidirá ou não pela viabilidade ambiental do empreendimento. Considerado ambientalmente viável, o Ibama emite uma licença prévia, que permite a continuidade dos estudos até as licenças para a construção e operação.

Sondagem para avaliar o AHE Marabá

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preciso debruçar-se sobre os estudos de inventário para a identifi cação de aprovei-tamentos hidrelétricos. Para quem ima-gina que basta barrar um rio a qualquer preço, outra decepção: um inventário pode identifi car dezenas de possíveis aproveitamentos; da mesma forma que pode, no momento seguinte, identifi cá-los como inviáveis sob os aspectos ambien-tal, social e econômico.

E como se inicia esse processo? Os “Es-tudos Tocantins”, acertados em julho de 1972, passaram às mãos da Eletronorte em janeiro de 74, sendo concluídos em julho de 1975. Esses estudos foram ainda mais longe do que o recomendado e levantaram o potencial da bacia e de seu maior afl uente, o Araguaia. Os técnicos identifi caram 22

aproveitamentos, entre eles o de Marabá, hoje previsto no Plano de Aceleração do Crescimento - PAC. Localizado a montante de Tucuruí, ou seja, Tocantins acima, o apro-veitamento vai mostrar porque esse rio é vital ao desenvolvimento do País: são mais 2.160 MW para não deixar o Brasil apagar.

O Meio - Mas e os povos da fl oresta? E os impactos ambientais e socioeconômicos? Para identifi cá-los, eliminá-los, mitigá-los ou compensá-los é que existem os estudos de viabilidade técnica, econômica e socio-ambiental. “A legislação ambiental brasi-leira é muito bem elaborada e exige uma adequação das obras. A preocupação com o meio ambiente foi a principal mudança desde os primeiros estudos de inventário e hoje tem presença fundamental no proces-so de implantação de um aproveitamento hidrelétrico”, explica Hélio Franco, citando exemplos de obras que conseguiram aliar a preservação da natureza com a implantação de hidrelétricas.

Dardanelos é um deles. Localizado no Rio Aripuanã, em Mato Grosso, o empreen-dimento foi concebido de modo a garantir a vazão remanescente do rio, permitindo a continuidade de fl uxo nos saltos das Ando-rinhas e de Dardanelos, incluindo o lazer do conhecido balneário Oásis. “Certamente toda ação humana causa um impacto. É por isso que técnicos estudam exaustivamente a região, incluindo inventários de fauna e fl ora. Todo esse trabalho que o Setor Elétrico pro-duziu ao longo dos últimos anos gerou um vasto volume de informações para pesquisa e produção científi ca”, afi rma Hélio.

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Nº Potência (MW) U.F. Rio Situação Atual

1 AHE Juruena 46 MT Juruena Viabilidade

2 AHE Cachoeirão 64 MT Juruena Viabilidade

3 AHE Toricoejo 76 MT Mortes Viabilidade

4 AHE Novo Acordo 160 TO Sono Viabilidade

5 AHE Verde 11 Alto 65 GO Verde Viabilidade

6 AHE Água Limpa 320 MT Mortes Viabilidade

7 AHE Arraias 93 TO Palma Viabilidade

8 AHE Barra do Palma 58 TO Palma Viabilidade

9 AHE Serra Quebrada 1.328 TO / MA Tocantins Viabilidade

10 AHE São Luiz I 6.000 PA Tapajós Inventário

11 AHE São Luiz II 3.000 PA Tapajós Inventário

12 AHE Itacaiunas 200 PA Itacaiunas Inventário

13 AHE Tabajara 350 RO Jiparaná Viabilidade

14 AHE Brejão 75 TO Sono Viabilidade

15 AHE Marabá 2.160 PA/TO/MA Tocantins Viabilidade

16 AHE Torixoreu 400 MT / GO Araguaia Viabilidade

TOTAL 14.395

É mais um pouco da vida do Tocantins. Pra falar dele é preciso falar de índios e ribeirinhos; de peixes e pescadores; de fauna, fl ora e água. Lá na fronteira, o gau-chinho pesquisador desliga o computador. Naquela noite fecha a torneira enquanto escova os dentes; desliga a TV enquanto não assiste; diz à mãe que nessa noite não precisa de luz acesa. De mãos juntinhas agradece pelo que aprendeu e pede bai-xinho que as pessoas e os rios continuem assim, gerando vida e energia.

Estudos de inventário e viabilidade em desenvolvimento pela Eletronorte Na água, no ar e em terra, as pesquisas produzem um

vasto volume de informações

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Imagine-se no meio da fl oresta amazônica no início da década de 70. Médicos, hospitais, transporte ou até mesmo luz elétrica só estão acessíveis a milhares de quilômetros. O vento sopra e na barraca montada à beira do rio, o lampião apaga. Mas não importa porque a chuva já é torrencial e espanta alguns mosquitos que insistem em dividir o espaço com as aves catalogadas durante o dia pelos técnicos que estudavam todos os detalhes do rio, da terra, das pessoas. O cenário poderia ser em qualquer dos estudos feitos pela Eletronorte. Mas peguemos o exemplo do Rio Xingu, cujos estudos do Aprovei-tamento Hidrelétrico Belo Monte já contam quase 30 anos. Iniciado em 1975 e concluído em 1979, o inventário identifi cou inicialmente quatro alternativas para possíveis aproveitamentos. O tempo passou a os estudos evoluíram. A área do reservatório de Belo Monte que antes ocupava cerca de 1.200 quilôme-tros quadrados, hoje é de 440 km². E o que mudou? Um estudo pode dizer que um empreendimento é inviável? Sim.

De 1979 pra cá surgiram cidades onde não havia pessoas. São Félix do Xingu, por exemplo, surgiu exatamente onde estava localizado um dos aproveita-mentos iniciais do Xingu. Os estudos de Belo Monte demonstram a evolução: em 2007 a Eletrobrás nova-mente encaminhou à Aneel os estudos de inventário do potencial hidrelétrico da Bacia do Rio Xingu, apontando Belo Monte como único aproveitamento, com potência instalada de 11.181 MW. As outras opções de aprovei-tamentos foram descartadas nos estudos devido aos contextos institucional, socioeconômico e energético.

Manual - Em dezembro de 2007 foi lançada a edi-ção revisada do Manual de Inventário Hidrelétrico de Bacias Hidrográfi cas, que apresenta um conjunto de critérios, procedimentos e instruções para a realiza-ção do inventário do potencial hidroelétrico de bacias hidrográfi cas. O manual é uma revisão atualizada do anterior, publicado em 1997 pela Eletrobrás, e repre-senta um avanço tanto na questão ambiental como no uso sustentável de bacias hidrográfi cas para fi ns energéticos.

Desde 1994, o Ministério de Minas e Energia contratou o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica - Cepel para fazer a revisão do Manual, que também recebeu o apoio do Banco Mundial, por meio do pro-jeto Estal - Energy Sector Technical Assistance Loan. Para a fi nalização do trabalho foi constituído um grupo de trabalho com a participação de técnicos de diver-sas instituições setoriais e empresas com experiência em realização de inventários e de representantes de associações de classe.

O Manual traz um conjunto de aproveitamentos, suas principais características, índices custo/benefício e índices socioambientais. De todo o trabalho realizado, faz parte dos estudos de inventário submeter os aproveita-mentos selecionados a um estudo de avaliação ambiental integrada, visando a subsidiar os processos de licenciamento. Esses aproveita-mentos passam então a ser incluí-dos no elenco de aproveitamentos inventariados do País, passíveis de compor os planos de expansão anteriormente descritos. As meto-dologias descritas no Manual fazem parte de um sistema computacional desenvolvido pelo Cepel e estão disponíveis na Internet: http://www.cepel.br. (Fonte: Eletrobrás)

Quando os estudos dizem não

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Coleta de água no Rio Xingu

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A imagem é forte. Não faz muito tempo o momento não seria fotografado por índios ou militares. Os Waimiri Atroari e o Exército brasileiro se encontraram de forma inusi-tada, numa manhã de sol no Amazonas, próximo ao município de Presidente Figuei-redo, onde fi ca a Reserva Indígena.

Eram pouco antes de 07h da manhã quando o telefone do consultor indigenista da Eletronorte, Porfírio Carvalho, tocou numa das aldeias onde ele passa boa parte do tempo. Do outro lado da linha, o que se imaginava ser um aviso: o Exército entraria na terra indígena para reconhecimento. A tensão dividia espaço com a expectativa, já que a história lembrava a cada minuto os confl itos entre militares e índios no fi nal de década de 60 durante a construção da es-trada BR-174, que liga Manaus a Boa Vista e atravessou o território deles ao meio.

Quem conta essa história são as imagens do dia e as palavras de Carvalho. Mas para compreender ainda mais a importância do momento é preciso falar rapidamente de outra história: durante a ditadura militar, Porfírio Carvalho era um nome - como ele mesmo diz - “complicado”. Foi processado várias vezes, preso e demitido da Funai em 1983, acusado de comunista e subversivo.

Teve os direitos políticos cassados e voltou para a Funai com mandado de segurança. Em 1983 saiu de vez.

Segurando uma miniatura de quelônio com as mãos sobre a mesa de trabalho, ele fala com a tranqüilidade de quem sabe que o tempo e o respeito permitiram o momento histórico. “Reunimos com o Exército e ex-plicamos a eles que aquela era uma terra Waimiri e que a situação tinha particulari-dades”, diz ele. Na entrada da aldeia, índios e índias, mesmo os menores, já estavam a postos para defender a sua terra. A surpresa veio nos gestos e nas palavras.

Com a condição de que estivessem de-sarmados, os militares foram convidados a conhecer a aldeia. Sem armas dos dois lados, o espaço é para a troca de conhe-cimento e experiências. “Esse foi um mo-mento ímpar na história dos Waimiri e do Exército”, afi rma Carvalho. Depois da visita, o almoço. Dos fogões de pedra os militares foram convidados a dividir o alimento. A partilha de conhecimento foi acompanha-da pela troca de símbolos. Com os índios fi caram insígnias; quem partiu, levou arco e fl echa. Se houvesse guerra, seria a celebra-ção da paz. Mas foi, de fato, a celebração do respeito.

Os guerreiros da paz

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História - Orgulhoso que é dos programas indígenas que coordena, Carvalho não é de falar muito de si mesmo. E nem precisa. Falar dessas tribos é falar da história desse espe-cialista nos Parakanã e nos Waimiri Atroari, a quem ajudou a salvar da extinção. Depois da primeira meia-hora de conversa, Porfírio lembra das histórias dos mais de 40 anos de convivência com os índios. Certamente não vai contar todas; mas passa por elas como o personagem que as fez capítulos da história dos índios no Brasil.

Uma etnia do tronco lingüístico Karib, cujo território imemorial de ocupação se localiza nas atuais regiões sul do Estado de Roraima e norte do Amazonas. Eram mais conhecidos como Crichanás, quan-do segmentos expansionistas da socie-dade envolvente brasileira travaram seus primeiros contatos com eles, sobretudo a partir do Século XIX. Aldeias inteiras foram dizimadas por expedições militares ou por matadores profi ssionais, porque sua população era tida como empecilho à livre exploração das riquezas naturais existentes nas terras que ocupavam.

Na década de 1960 foram iniciados, por parte do Serviço de Proteção ao Índio - SPI e em seguida pela Fundação Nacional do Índio - Funai, os trabalhos para atração e contato com os Waimiri Atroari, desenca-deando-se um processo de desagregação

cultural, através do qual a população foi exposta ao implacável expansionismo social e econômico da sociedade.

A intensificação do contato com os Waimiri Atroari acarretou-lhes, por aquelaépoca, conseqüências dramáticas, em termos de depopulação provocada por choques armados e surtos epidêmicos de doenças exógenas que debilitaram toda a comunidade, a ponto de as pessoas em idade produtiva não poderem mais caçar, pescar nem cultivar roças, fato que acabou por redundar num grave estado de inanição e desagregação social em várias de suas aldeias.

Foi com a construção da Usina Hidre-létrica Balbina que a história dos Waimiri Atroari começou a mudar. A primeira providência adotada foi a demarcação (em 1987), através de fi nanciamento pela Eletronorte, de uma terra com superfície de 2.585.911 ha, de conformidade com a proposta delimitatória apresentada por es-tudos antropológicos realizados por grupo técnico constituído pela Funai. A segunda foi a implantação do Programa Waimiri Atroari, em 1988, com ações múltiplas nas áreas de administração, saúde, educação, meio ambiente, apoio à produção, docu-mentação e memória.

O objetivo era de que os Waimiri pudessem preservar dinamicamente sua autonomia

A caça é divididaentre índios e soldados

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cultural, a partir de uma inserção social em bases equilibradas, no contexto da socie-dade nacional - o que, infelizmente, não ocorre com a maioria dos povos indígenas no Brasil.

O Programa Waimiri Atroari foi elaborado por uma equipe multidisciplinar e interins-titucional de técnicos, representando a Fu-nai, a Secretaria de Educação do Estado do Amazonas, o Instituto de Medicina Tropical de Manaus, a Universidade do Amazonas e a Eletronorte, que, além de alocar profi s-sionais, fi nancia todos os estudos e ações. O Programa encontrou os Waimiri Atroari enfrentando sérias difi culdades para so-breviver, num processo depopulacional grave: eram aproximadamente 1.500 em 1974 e em 1987 estavam reduzidos a 374 pessoas.

Conquistas - Vinte anos depois, os Wai-miri Atroari desfrutam hoje de melhores condições de vida, tanto se comparados com as demais etnias existentes no Brasil, quanto com a população não-índia dos interiores da Amazônia. A demografi a dos Waimiri Atroari, que, em 1987, era de 374 pessoas, atualmente está com “1169” (31 de dezembro de 2006) e seu índice de crescimento vegetativo atingiu, no fi nal de dezembro de 2006, 4,33% ao ano, um dos maiores do mundo.

Toda a comunidade indígena desfruta de atendimento médico primário que lhe assegura uma cobertura vacinal de 100%; de serviço de vigilância epidemiológica no entorno de toda a sua terra; de controle de doenças preveníveis - como malária, infecções respiratórias agudas, diarréias, verminoses e dermatoses. Esses procedi-mentos propiciaram uma signifi cativa dimi-nuição do seu índice de mortalidade geral. O número de aldeias aumentou para 19. Em nenhuma delas há registro de casos de alcoolismo nem de outras mazelas causadas por desajustes sociais.

Em 2006, havia entre os Waimiri Atroari um total de 729 alunos: 382 homens e 347 mulheres, entre crianças, adolescentes, adultos e idosos, correspondendo a 62,4% de sua população. A construção das es-colas obedece a padrões tradicionais de arquitetura, utilizando materiais extraídos da própria terra indígena. Todas as aldeias mantêm escolas funcionando com a parti-cipação de professores indígenas. Isso tem contribuído para uma maior efi ciência das atividades didático-pedagógicas, além de ser um passo importante para a afi rmação da autogestão. As escolas são bilíngües e o calendário escolar obedece as atividades culturais da comunidade. E isto é só nas ações de educação. Visite www.waimiriatro-ari.org.br e saiba mais sobre o Programa.

PorfírioCarvalhoconta a história

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ACREHISTÓRIAA Eletronorte chegou ao Acre em 1980. Em 1º de janeiro de 1981,

absorveu o parque gerador da Eletroacre e assumiu a geração de energia na capital, Rio Branco, que vivia constantes interrupções e períodos de racionamento que chegavam a 12 horas diárias.

Essa situação foi revertida em menos de um ano. A equipe pioneira teve a incumbência de fazer a transição do sistema, estruturando a Empresa desde as instalações físicas ao quadro de pessoal, com a absorção de colaboradores oriundos da con-cessionária estadual e a realização de concurso público para admissão da primeira turma, composta de 13 empregados, em fevereiro de 1981.

No Acre, a Eletronorte é representada pelas unidades re-gionais de Produção e Comercialização e de Planejamento e Engenharia, que têm como missão gerar e transmitir a energia distribuída para os acreanos. A força de trabalho é formada por profi ssionais das mais diversas áreas de conhecimento, que trabalham pela melhor qualidade de vida da população.

Esse trabalho tem sido reconhecido ao longo dos anos, tan-to pela satisfação dos clientes e consumidores quanto pelas diversas premiações recebidas, devido à excelência da gestão empresarial. Essas conquistas são fruto da prática constante dos valores do Credo da Eletronorte: excelência na gestão, valorização das pessoas, comprometimento, aprendizado contínuo,empreendedorismo e ética e transparência.

MEIO AMBIENTEO respeito ao meio ambiente é prio-

ridade para a Eletronorte no Acre. Os novos empreendimentos são acom-panhados de programas de educação ambiental, de saúde, de recuperação de áreas degradadas, de desapropriação e indenização. A preocupação com a natu-reza refl ete-se nas inspeções mensais e auditorias ambientais internas realizadas em todas as instalações. Em datas como o Dia Mundial do Meio Ambiente, Dia Mundial da Água e Dia da Árvore, a Em-presa promove eventos como palestras e projeção de fi lmes para conscientizar colaboradores, familiares e moradores das áreas dos empreendimentos para a preservação ambiental. Em parceria com o Instituto de Meio Ambiente do Acre, a Eletronorte realiza, há três anos, a Parada Ambiental, com a participação dos colaboradores, ocasião em que são distribuídas mudas de árvores nativas.

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RESPONSABILIDADE SOCIALNo Acre, a energia elétrica gerada e transportada pela

Eletronorte benefi cia cerca de 450 mil pessoas. A Empresa também desenvolve outras atividades junto à população. Destaca-se a participação dos empregados no Comitê de Combate à Fome e pela Vida, que realiza trabalhos em comunidades carentes por meio de palestras voltadas para o resgate da cidadania e preservação do meio ambiente. Anualmente são realizadas campanhas de arrecadação de alimentos para entidades assistenciais e prestação de servi-ços voluntários a crianças de instituições carentes, como o Educandário Santa Margarida e a Creche José Francisco.

GERAÇÃOQuando foi incorporado pela

Eletronorte, o parque térmico de Rio Branco tinha capacidade instalada de 5,5 MW. Hoje é de 83,38 MW, fornecidos por três usinas térmicas. Em 1994, com a instalação de duas geradoras térmicas, eliminou-se defi nitivamente o racionamento de energia elétrica imposto à cidade de Rio Branco.

TRANSMISSÃOA Eletronorte produz 75,88%

da energia elétrica gerada no Acre, distribuída por 370 quilô-metros de linhas de transmissão em 230 kV. O sistema conta ainda com três subestações e 382 MVA de capacidade de transformação. Desde 2002, o estado, que faz parte do sistema Acre/Rondônia, também é abastecido por uma linha de transmissão em 230 kV que liga Rio Branco à cidade de Abunã, em Rondônia. Além da capital, a energia transmitida pela Eletronorte supre os mer-cados interligados de Senador Guiomard, Plácido de Castro, Bujari, Porto Acre, Acrelândia, Redenção e Vila Campinas.

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“Recebemos o exemplar de aniversário da revista Corrente Contínua, em nosso gabinete, referente aos 34 anos da Eletronorte. Parabenizamos pela capa que retrata a verdadeira cultura de nosso País. Isso mostra que o compromisso e a responsabilidade social está em primeiro lugar. Parabéns e muito sucesso, que a Empresa continue trabalhando pelo desenvolvimento de energia em nosso País”.

Deputado Michel JK - PSDB-AP - Brasília - DF

“Eu gostei muito, achei a revista boa de A a Z. A Corrente Contínua sempre vem com matérias boas, mas esta está ‘toda’ muito boa. A gente anda carente de boas notícias da nossa Empresa, e essa edição deu ânimo novo. A opinião não é só minha, vi colegas aqui na área elogiando muito. A foto da trilha lembra um importante projeto que ainda não saiu: o Pólo de Turismo de Tucuruí. Parabéns pelo trabalho!”

Regina Caciamani - Brasília - DF

“Parabéns à jornalista Michele Silveira pela bela matéria que fez sobre uma das coisas que mais amo fazer. Ficou muito linda. Michele escreve muito bem e de forma bonita, além de mostrar intimidade com essa ciência tão pouco conhecida e divulgada. Sem dúvida essa matéria vai contribuir para difundir o assunto. Até repassei a versão eletrônica para outras pessoas da área que conheço. Gostei muito da menção sobre nossa interação com o agradável José Leal. Obrigado pelo reconhecimento. Continuem assim!”

João Marcelo de RezendeSuperintendência de Meio Ambiente - Brasília - DF

“A capa desta Corrente Contínua está demaiisss! Na verdade toda a revista parece ter fotos muito lindas, pa-rabéns para os nossos fotógrafos e demais colegas”.

Viviane Assis - Porto Velho- RO

“Parabéns pelo belo trabalho”!Sildemir Feitosa SantanaOperador de Produção - Subestação- Rurópolis - PA

“Excelente! Já mandei a revista Corrente Contínuapara meus familiares. Sei que, por enquanto, por meio eletrônico a disseminação fi ca limitada apenas à nossa rede de relacionamentos! Parabéns”!

José Carlos Vassalo Costa - Tucuruí- PA

“Prezados Senhores, agradecemos o envio da revista Corrente Contínua e solicitamos a atualização de nosso endereço”.

Assessoria de Comunicação do Ministério do Desenvolvimento Agrário - Brasília - DF

“Mais uma vez parabéns por mais uma matéria da área ambiental. Gostei muito do texto e do destaque dado para o trabalho realizado. Somado às diversas outras matérias que a revista Corrente Contínua tem con-tinuamente produzido sobre meio ambiente (unidades de conservação, germoplasma, Parakanã, piscicultura etc.) essa estratégia vem fortalecer a responsabilidade

e a consciência ambiental na Empresa e divulga para sociedade o que fazemos, com grande esforço e en-frentando desafi os para viabilizar empreendimentos ambientalmente sustentáveis. Desejo que em 2008 esta parceria - comunicação e meio ambiente - continue fi rme e forte”!

Rubens Ghilardi Jr -Superintendência de Meio Ambiente - Brasília - DF

“Meu nome é Caio e trabalho na unidade Areva em Itajubá, no sul do Estado de Minas Gerais. Também tra-balho como professor no curso técnico de eletrotécnica no Colégio de Itajubá na área de geração, transmissão e distribuição de Energia Elétrica. Gostaria de receber os exemplares da revista Corrente Contínua para apre-sentar aos nossos alunos além de manter-me atualizado profi ssionalmente”.

Caio Fernandes Lopes -engenheiro de Orçamentos da Areva T&D Brasil Itajubá- MG

“Recebemos e agradecemos a publicação CorrenteContínua, Ano XXX, Nº 217, de out./nov de 2007”.

Rozangela Zelenski de Lara PintoGerência de Documentação e Programas Especiais da

Universidade Federal de Mato Grosso - Cuiabá- MT

“Sou um eletricista autônomo e atualmente estou em formação num curso de eletricista predial, e tive conhecimento da vossa revista Corrente Contínua,na biblioteca da escola Senai de Rio Branco, Acre. Felicito a equipe que elabora a excelente revista, que tive o prazer de ler e demonstrei interesse nos artigos de geração de energia e de novas tecnologias das fi bras óticas. Desejando receber na minha residência se possível a partir desta data a revista impressa, fi co muito agradecido”.

Miguel Rodrigues - Rio Branco- Acre

“Gostaríamos de agradecer pelo envio da revista Corrente Contínua referente aos meses de outubro e novembro. Damos destaque principalmente pela reportagem realizada por Michele Silveira sobre as sementes da Amazônia”.

Thiago Silvestre Nomiyama de Oliveira -Revista Meio Ambiente

“Recebemos e agradecemos pelo envio da publica-ção revista Corrente Contínua de excelente qualidade gráfi ca e editorial. Ressaltamos ainda que é de grande valia para o acervo da Biblioteca do Iesam - Instituto de Estudos Superiores da Amazônia continuar a ser receptora de tão valiosa publicação”.

Clarice Silva Neta - bibliotecária do Iesam

“Acuso recebimento e agradeço o envio do exemplar Corrente Contínua - a revista da Eletronorte. Parabenizo a toda a equipe que compõe essa Empresa pelo com-promisso de responsabilidade social e de preservação do meio ambiente”.

Raimundo Angelim Vasconcelos -prefeito de Rio Branco- AC

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Dia aqui, nesse rio ao encontro do mar, começa sem pressaMas, depois do beiju, tarefas muitas me esperam: lavar, engomar,Pôr comida na travessa

Da minha casa na beira-rioVejo muita gente passarGente que passa curiosa Embarcação moderna e também morosaE até gente fotografando a gente

Nesse rio ao encontro do marPassa gente que apenas passaGente que vem passear, de longe,Faceira, gaiteira e com graçaE que não se sabe de onde

Às vezes, o olhar segue viajantesCom um desejo oculto de navegarPra longe, sem os afazeres ou deveresQue o cotidiano nos dáE que tanto aprisiona os seres

Entre mim e esse rio, ao encontro do mar, há cumplicidadeNessas águas, derramo desejos, semeio sorrisos, norteio a famíliaPra que correria da cidadeSe é aqui que me encontro de verdade?Que embalo os sonhos, meus diasE as mais íntimas fantasias?

Texto: César FechineFoto: Rony Ramos

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