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ANO XXX - Nº 219 - MARÇO/ABRIL - 2008 A REVISTA DA ELETRONORTE Uma gota, um riacho, um rio, um lago, um mar... Nos reservatórios hidrelétricos, qualidade e usos múltiplos Eletronorte A água que corre para nós, corre o risco de secar corrente contínua corrente contínua

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ANO XXX - Nº 219 - MARÇO/ABRIL - 2008 A REVISTA DA ELETRONORTE

Uma gota, um riacho, um rio, um lago, um mar...

Nos reservatórios hidrelétricos, qualidade e usos múltiplos

Eletronorte

A água que corre para nós, corre o risco de secar

corrente contínuacorrente contínua

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Conselho Editorial: Diretor-Presidente - Carlos Nascimento - Diretor de Planejamento e Engenharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone - Diretor Econômico-Financeiro - Astrogildo Quental - Diretor de Gestão Corporativa - Manoel Ribeiro - Gerentes Regionais - Coordenação de Comunicação e Relacionamento Empresarial: Zenon Pereira Leitão - Gerência de Imprensa: Alexandre Accioly - Edição e Reportagem: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566-DF) - César Fechine (DRT 9838-DF) - Érica Neiva (DRT 2347- BA) - Jéssica Souza (DRT 1807-PA) - Márcia Oliveira (DRT 1.116-MT) - Michele Silveira (DRT 11298-RS) - Viviane Vieira (DRT 543-RO) - Núcleos de Comunicação das unidades regionais - Fotografi a: Alexandre Mourão, Roberto Francisco, Rony Ramos, Núcleos de Comunicação das unidades regionais - Foto da capa: Rony Ramos - Arte da contracapa: Sandro Santana - Tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral

SCN - Quadra 06 - Conjunto A Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2

CEP: 70.716-901Asa Norte - Brasília - DF.

Fones: (61) 3429 6146/ 6164e-mail: [email protected]: www.eletronorte.gov.br

Prêmios 1998/2001/2003

TRANSMISSÃOEnergia de Tucuruí chegará a Manaus e MacapáPágina 3

ENTREVISTAEdson Lobão, ministro de Minas e EnergiaPágina 28

ENERGIA ATIVAPágina 34

CORRENTE ALTERNADAPágina 12 e 41

CIRCUITO INTERNOQualidade de vida no trabalhoPágina 42

TECNOLOGIASoluções bioenergéticasPágina 48

AMAZÔNIA E NÓSPágina 56

CORREIO CONTÍNUOPágina 58

FOTOLEGENDAPágina 59

SUM

ÁRIO

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MEIO AMBIENTESede de quê? - Página 14

GERAÇÃOAs custosas termelétricasPágina 22

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Energia de Tucuruí vai tirar Manaus e Macapá da dependência termelétrica

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César Fechine

Finalizada em 2006, a Usina Hidrelétrica Tucuruí continua a sua expansão para garan-tir o suprimento de energia elétrica ao Siste-ma Interligado Nacional - SIN. A Agência Na-cional de Energia Elétrica – Aneel publicou no dia 31 de março de 2008 o edital para a lici-tação da linha de transmissão Tucuruí-Maca-pá-Manaus, necessária à interligação energé-tica dos sistemas isolados do extremo norte, e para diminuir o elevado custo dos parques termelétricos. A sessão pública de realização do leilão ocorrerá no dia 27 de junho de 2008, às 10 h, nas instalações da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.

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O projeto da interligação faz parte do Pro-grama de Expansão de Transmissão – PET 2008-2012, elaborado a partir de estudos de planejamento desenvolvidos pelo Minis-tério de Minas e Energia, por intermédio da Empresa de Pesquisa Energética – EPE, que reúne o conjunto de instalações planejadas na rede básica e demais instalações de trans-missão a serem incorporadas ao SIN.

O PET é desenvolvido em conjunto com as empresas concessionárias do Setor Elétrico, com o objetivo de relacionar as obras neces-sárias à expansão da rede básica, buscando o atendimento com confi abilidade, segurança e menor custo.

O projeto do “linhão” Tucuruí-Macapá-Manaus também integra o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, criado pelo Governo Federal para incentivar os in-vestimentos em infra-estrutura, estimular os setores produtivos e levar benefícios sociais para todo o Brasil.

Os estudos preliminares sobre a viabilida-de da interligação de Tucuruí a Manaus (AM), contemplando o Estado do Amapá, surgiram no fi nal da década de 80. Mas somente com a aprovação do Plano Estratégico para o De-senvolvimento da Região Amazônica Susten-tada, pela Diretoria Executiva da Eletronor-te, em abril de 2003, eles prosseguiram. O Plano deu início aos trabalhos de campo e à elaboração dos primeiros relatórios sobre a viabilidade da interligação energética da Hi-drelétrica Tucuruí com os sistemas isolados de Manaus e Macapá.

Os estudos continuaram em 2004, quan-do foram aprovadas as leis nº. 10.847 e nº. 10.848, que instituíram o novo marco regula-tório do Setor Elétrico. A EPE foi efetivamente constituída em 2005, quando o governo reto-mou o planejamento e os estudos de expan-são dos sistemas elétricos. Em 2007, o pro-jeto do linhão foi retomado e apresentado ao MME, EPE e Aneel.

As empresas que integram o Grupo Eletro-brás, o Grupo Rede e consultorias contratadas junto a instituições tais como a Universidade de Brasília (UnB) foram parceiras dos estu-dos. “O trabalho foi desenvolvido pela Ele-tronorte, com contribuições importantes dos colegas de Furnas, da Chesf e de especialis-tas de outras instituições e exigiu, sobretudo, grandes esforços da nossa equipe”, diz João Neves Teixeira Filho, superintendente de Pla-nejamento de Expansão da Eletronorte.

Viabilidade - Desde então foram desenvol-vidos quatro relatórios. O primeiro refere-se ao estudo de viabilidade técnico-econômico; o segundo ao detalhamento das alternativas, que compreende os transitórios eletromag-néticos, curtos-circuitos e condutores eco-nômicos; o terceiro estudo é a caracterização e análise socioambiental, com dados sobre o corredor estudado; e o quarto é o relatório que descreve a rede existente e as necessida-des de novas instalações.

Esses quatro relatórios compõem o estudo de viabilidade da interligação Tucuruí-Maca-pá-Manaus, que prevê o seguinte: a linha terá 1.472 quilômetros de extensão em tensão de 500 kV, circuito duplo; e 339 quilômetros de linhas em 230 kV, também em circuito duplo, que são as derivações para abastecer o Ama-pá, totalizando 1.811 quilômetros.

A capacidade de transporte da linha é ini-cialmente de 1.730 MW, podendo ser expan-dida para 2.530 MW. Isso se deve ao fato de o estudo prever a utilização da tecnologia da compensação série, que permitirá um ganho de 800 MW, o que equivale à construção de um terceiro circuito sem nenhum impacto ambiental.

Os investimentos totais previstos para a implantação da linha são da ordem de R$ 3 bilhões. “A linha vai se pagar em pouco

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mais de um ano, pois só o custo com com-bustível fóssil passa de R$ 2 bilhões por ano nos sistemas Manaus e Macapá, além de o fornecimento passar a ser feito, predominan-temente, com energia limpa e renovável”, ex-plica João Neves.

A licitação do “linhão” ocorrerá em três lo-tes. O primeiro lote inclui as linhas de trans-missão Tucuruí II-Xingu, de Tucuruí a Alta-mira, no Pará, orçada em R$ 402,4 milhões, com 264 quilômetros de extensão e tensão de 500 kV. Esse lote inclui também a linha Xingu-Jurupari, na margem esquerda do Rio Ama-zonas, ao custo de R$ 405,5 milhões, com 257 quilômetros, mais as subestações Xingu e Jurupari.

O segundo lote será formado pela linha Jurupari-Oriximiná, no Estado do Amazonas, com 370 quilômetros de extensão em 500 kV e investimentos de R$ 560,2 milhões. Este lote também contempla os trechos Jurupari-Laranjal, no Amapá, com 95 quilômetros em 230 kV e custo estimado de R$ 76,9 milhões; Laranjal-Macapá, com 244 qui lômetros e cus-to de R$ 182,7 milhões, além das subesta-ções Oriximiná, Laranjal e Macapá.

O terceiro lote será formado pelas linhas Oriximiná-Itacoatiara, com 370 quilômetros

em tensão de 500 kV, e custo de R$ 560,2; e Itacoatiara-Cariri, em Manaus, com 211 quilô-metros e custo de R$ 343,1 milhões, mais as subestações associadas Itacoatiara e Cariri.

Alternativas - Os cuidados com a preservação ambiental e o detalhamento das diversas alternativas para o traçado da li-nha foram as principais preocu-pações dos técnicos envolvidos com o projeto. Os profi ssionais da Eletronorte participaram du-rante o ano de 2007 de diversas apresentações e debates sobre o projeto da linha com a Aneel e o Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS. A Aneel contratou uma consultoria da Universidade de São Pau-lo – USP, que fez muitas indagações sobre os estudos. “Esses questionamentos foram todos respondidos e alguns valores foram agregados aos estudos, buscando uma convergência de idéias”, relata João Neves (foto acima).

Nessas reuniões foram esclarecidas ques-tões referentes à travessia do Rio Amazonas, à tecnologia a ser empregada para essa traves-

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Seminário debate implantação da parcela variável

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sia, o porquê do circuito duplo, a contraparti-da de geração elétrica em Manaus, a contra-partida de fornecimento de gás em Manaus, o efetivo a ser considerado, entre outras. Após os debates, a Aneel entendeu que há de fato a viabilidade da linha de transmissão e enca-minhou o projeto ao Tribunal de Contas da União – TCU, como de rotina, para uma análi-se crítica sobre a questão ambiental e sobre a viabilidade econômica do empreendimento. A demanda foi deferida pelo Tribunal.

Os custos do estudo de viabilidade da linha são estimados em R$ 2 milhões, que deverão ser ressarcidos pelo concessionário que arre-matar o empreendimento em leilão.

Além de várias horas de sobrevôos, foram realizadas análises de mapas cartográfi cos, imagens de satélites, que constituem uma verdadeira radiografi a da região, buscando consistência para se chegar à alternativa me-nos impactante. “A maioria dos estudos foi feita em nosso laboratório de geoprocessa-mento”, informa o geólogo Gustavo Chedid de Oliveira Lima, da Gerência de Estudos e Projetos Ambientais para Sistemas de Ge-ração de Energia Elétrica da Eletronorte. Ele participa desde 2003 dos estudos de carac-terização e análise socioambiental.

Os técnicos utilizaram uma matriz em que foram ponderados os fatores positivos e nega-tivos para o traçado da linha. O que se buscou foi eliminar as alternativas menos atrativas, como trechos de corredor sem apoio logísti-co, que foram descartados. Na Amazônia, há trechos de fl oresta em que se percorre cen-tenas de quilômetros sem qualquer estrada e sem qualquer apoio logístico. Esses desafi os,

todavia, foram contornados com o aprofunda-mento dos estudos.

Inicialmente foram consideradas seis al-ternativas para o traçado da linha. O tipo de vegetação e o uso do solo foram pontos relevantes na defi nição das alternativas. Por exemplo, se havia uma alternativa em que a linha se confrontava com a fl oresta ou com várzea, e outra em que havia pasto ou capo-eira, a opção era sempre pela última.

Observar fatores como a exposição ao risco no ge-renciamento de ativos, fazer do gerenciamento da ma-nutenção uma estratégia empresarial e procurar a efi ci-ência da logística de manutenção e a disponibilidade de equipamentos na melhoria do desempenho do sistema elétrico. Essas são algumas das constatações do Semi-nário Internacional de Gerenciamento de Ativos, Manu-tenção da Transmissão e Desempenho do Sistema Elé-trico – Sigamt, realizado em Brasília, sob a coordenação da Eletronorte.

O evento reuniu mais de 300 profi ssionais de empre-sas públicas e privadas do Setor Elétrico, órgãos regula-dores, centros de pesquisas, universidades, fabricantes e representantes de diversas instituições da América do Sul, propiciando o intercâmbio de informações. “As experiências apresentadas vão ajudar as empresas a buscar melhorias na gestão dos seus processos empre-sariais e na operação e manutenção”, afi rmou Josias Matos de Araújo, superintendente de Engenharia de

Manaus - à esquerda e Macapá - à direita: potencial de Tucuruí: se expande pela Amazônia

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Corredor de estudo - A prioridade do traçado foi dada às áreas em que havia estradas ou zo-nas urbanas. “Sempre que possível, foi coloca-da como diretriz preferencial que o traçado da linha de transmissão passasse próximo a estra-das, cidades, portos e seguisse o contorno dos grandes rios, onde balsas possam chegar com equipamentos pesados”, informa Gustavo.

Quando se observava a interferência em áreas legalmente protegidas, tais como terras

indígenas e unidades de conservação, busca-va-se alterar o traçado.

Os fatores constantes da matriz que bali-zou os estudos também foram considerados para se fazer os desvios necessários e, nos trechos de fl orestas densas, está prevista a utilização de torres alteadas e de helicópteros durante a etapa construtiva. “Eu diria hoje que essa alternativa é inquestionável, porque nós observamos os aspectos econômico, téc-

Operação e Manutenção da Transmissão da Eletronorte e coordenador-geral do Sigamt.

O tema recorrente entre os palestrantes foi a im-plantação da Resolução nº 270 da Aneel, que trata da chamada Parcela Variável, a ser efetivamente adotada a partir de junho de 2008. A Parcela estabelece as dis-posições relativas à qualidade do serviço prestado pelas empresas de transmissão, associada à disponibilidade das instalações integrantes da rede básica. A preocupa-ção com os impactos da resolução mobiliza as empre-sas do Setor Elétrico.

Durante o evento, o diretor de Produção e Comercialização da Eletronorte, Wady Charone, defendeu no evento o gerenciamento estratégi-co da manutenção da transmissão para superar os desafi os. “Eu diria que, agora, nós estamos encarando algo muito importante: quais são os nossos riscos? Temos um cenário no Setor Elé-trico que impõe novas regras e mudanças, tais como a parcela variável. E temos que investir na mudança de comportamento, de cultura”, disse.

A Parcela Variável, conforme explica Josias, foi um dos temas motivadores do evento. “Sempre que um equipamento fi car indisponível, a empre-sa será penalizada. Então, nós queremos com-partilhar experiências com outras empresas de

transmissão para juntos melhorarmos as nossas práticas e os nossos resultados.”

Roberto Gomes, diretor de Administração do Serviço de Transmissão do Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS ressalta que, com a vigência da Resolução, as empresas preci-sarão aumentar os investimentos na engenharia de manutenção e nas técnicas de monitoramento e prevenção. “O que nos in-teressa é trabalhar para que o sistema não caia. A meta ideal é trabalharmos com uma disponibilidade de 100%. Não quere-mos penalizar o transmissor. O que precisamos, todos, é prestar um serviço adequado para a sociedade brasileira”, esclarece.

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nico, mas, sobretudo a questão ambiental”, reforça João Neves.

Os investimentos previstos para mitigar os impactos ambientais e preservar o meio ambiente na implantação do “linhão” são da ordem de R$ 190 milhões, incluídos os cus-tos de implantação de infra-estrutura e outros necessários para minimizar esses impactos.

O relatório de caracterização ambiental considerou um corredor de estudo com 20 quilômetros de largura, o que possibilita uma análise detalhada e uma representação numa escala adequada das grandezas da Amazô-nia. A diretriz da linha será planejada dentro desse corredor de estudo e o licenciamento ambiental deverá ser feito pelos concessioná-rios vencedores dos leilões.

Travessia - Um dos pontos fundamentais

nos estudos diz respeito à travessia dos rios da Amazônia. Há determinados pontos em que o Rio Amazonas tem até dez quilôme-tros de largura, mas há pontos mais estreitos, com ilhas no meio. A alternativa contemplada no projeto do “linhão” prevê a travessia pela Ilha de Jurupari, próximo à foz do Rio Xingu, à margem esquerda do Amazonas. Neste tre-cho, há um vão de 1,6 mil metros até a Ilha. A linha passará por ela, alcançando a margem esquerda do Amazonas após uma travessia de dois mil metros.

A alternativa prevista no projeto conside-rou também a densidade de circuitos por ex-tensão de corredor. No futuro, com a explo-ração de outros potenciais energéticos, há a probabilidade de se acrescentar um terceiro circuito à linha, usando o mesmo corredor

de estudo e diminuir a extensão da área de servidão, evitando desmatamentos ou cortes seletivos.

Os investimentos necessários para as tra-vessias dos rios são estimados em R$ 150 milhões. Além do Amazonas, destaca-se a necessidade de outras grandes travessias, tais como as dos rios Trombetas e Uatumã. No Rio Trombetas, a travessia também será feita por meio de uma ilha com dois vãos de 950 metros e quase 1,2 mil metros. Já a dis-tância a ser vencida no Rio Uatumã é de cer-ca de 2,2 mil metros.

O estudo prevê que as travessias serão fei-tas ponto a ponto, com um vão único de uma margem a outra. Neste caso, as torres pode-rão alcançar cerca de 220 metros de altura – equivalente a um prédio com 73 andares, com o objetivo de permitir a navegação plena nos rios.

Mas há outra alternativa, conforme foi feito pela Eletronorte há 23 anos no Rio Guamá, na linha que sai de Vila do Conde para Be-lém. São 1,8 mil metros de travessia, feita com uma torre intermediária dentro do leito do rio. Hoje, com as tecnologias modernas de ligas de alumínio e cabos fl exíveis, é possí-vel projetar linhas de transmissão com vãos ainda maiores. “Por exemplo, se houver um vão de dois mil metros, pode-se usar duas torres intermediárias a 500 metros de cada uma das margens, encurtando o vão princi-pal para cerca de mil metros”, opina Neves.

Regionalização - Outro aspecto levantado nos estudos é a chamada regionalização, que vai consumir recursos da ordem de R$ 180

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milhões. Esses são os custos adicionais para se instalar os equipamentos e a infra-estru-tura da linha na região amazônica. Ou seja, apesar de utilizar o que já existe na região, sempre é preciso fazer algumas estradas, es-truturas de portos, aeroportos, pequenas vi-las e pequenos hospitais, que fi carão para as comunidades. São investimentos que estão embutidos no custo da obra, comenta João Neves, mas que serão transformados em be-nefício para a Amazônia.

Nos estudos houve também grande pre-ocupação dos especialistas com os aspectos socioeconômicos e de se fazer a interligação de modo sustentado. Será criada toda uma infra-estrutura na região que passa por Al-tamira, pelo Rio Xingu, pela Ilha Jurupari e

desce pela margem esquerda do Amazonas, na região chamada de Calha Norte, passando por Almeirim, Alenquer, Monte Alegre, Orixi-miná, Faro, Itacoatiara e Manaus.

A previsão é que a interligação ocorra no fi nal de 2011. A carga prevista para Manaus e o Amapá naquele ano será de 1,6 mil MW. A geração da região, considerando o gás na-tural e a conversão das máquinas térmicas, é estimada em cerca de 800 MW. Mesmo que seja implantada uma nova planta de ci-clo combinado de 240 MW, ainda haveria um défi cit da ordem de 600 MW, que só poderia ser atendido com combustível fóssil.

Com a entrada em operação da interliga-ção, grande parte dos sistemas isolados da Região Norte estará conectada ao SIN, per-

Para atravessar

os rios, ilhas e elevados

serão usados na instalação

das torres

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mitindo a substituição da energia gerada pela queima de combustíveis fósseis por energia de origem principalmente hidráulica, de me-nor custo e limpa.

A interligação dos estados do Amazonas, Amapá e oeste do Pará vai gerar uma eco-nomia para o País com a redução da Conta de Consumo de Combustíveis -CCC dos sis-temas isolados em cerca de R$ 2 bilhões por ano em valores de hoje, pois a queima de combustível líquido será 100% superada. A CCC é um encargo setorial arcado por todos os consumidores brasileiros, cuja destinação é subsidiar a geração termelétrica nos siste-mas isolados da Região Norte. (ver matéria na página 22)

A eliminação do consumo de combus-tível fóssil vai corresponder a cerca de três milhões de toneladas de carbono que serão seqüestrados da atmosfera. Com o preço colocado hoje no mercado internacional em cerca de 20 euros por tonelada de carbono, o concessionário que vencer a licitação poderá obter recursos com a negociação de créditos de carbono estimados em cerca de R$ 150 milhões por ano.

A linha cria também uma sinergia com ou-tros aproveitamentos e potenciais da Amazô-nia, sem muitos custos adicionais. O poten-

cial remanescente de geração de energia na região amazônica é estimado hoje em cerca de 100 mil MW. Apenas o aproveitamento de Belo Monte, no Rio Xingu, chega a 11 mil MW. O potencial do Rio Tapajós é estimado em nove mil MW. Cachoeira Porteira no Rio Trombetas pode gerar 1,4 mil MW e há vários outros aproveitamentos na região. “A sinergia de que falamos é que a linha vai passar próxi-ma a esses sítios e não haverá a necessidade de se implantar nem um quilômetro de linha a mais”, declara João Neves.

Isso sem falar do grande potencial mineral da região. A mineração Rio do Norte, por exem-plo, instalada próximo a Oriximiná, no Amazo-nas, faz a exploração de bauxita e transporta o minério para o Maranhão e a África, onde faz a transformação de alumina em alumínio, pois falta o insumo básico que é a energia. A demanda para que a transformação ocorra no Amazonas é da ordem de 480 MW.

Trata-se, enfi m, de um projeto estruturan-te, visto por muitos técnicos do Setor Elétrico como uma espécie de coluna vertebral para o desenvolvimento sustentado da Amazônia, permitindo que as gerações futuras possam usufruir de melhores condições de vida e de todos os benefícios que esse empreendimen-to energético possibilitará.

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Investimentos na transmissão somam R$ 350 milhões em 2008Cerca de 38 empreendimentos constantes do pla-

nejamento da expansão da transmissão da Eletronor-te serão energizados neste ano. “Cinco empreendi-mentos foram concluídos até o momento”, informa o superintendente de Expansão da Transmissão, Carlos Alberto Pires Rayol (foto abaixo).

Em fevereiro foi energizada a Subestação Santa Rita, no Amapá, em tensão de 69/13,8 kV, garantin-do o suprimento de energia à cidade de Macapá, em substituição à antiga subestação Macapá I, com in-vestimentos de aproximadamente R$ 16 milhões.

Em março, 29 dias antes do prazo concedido pela Aneel, foi energizado o segundo autotransformador 230/138/13,8 kV - 100 MVA da subestação Miranda II, no Maranhão, com seus respectivos equipamen-tos de conexão, onde foram investidos cerca de R$ 11,7 milhões.

Miranda II é muito importante, por ser responsável pelo suprimento de energia elétrica para o abaste-cimento de água potável de São Luís. “A colocação desse equipamento também alivia a carga que existia sobre outro transformador e promove maior confi abili-dade ao sistema, o que se traduz por um serviço com menor risco de interrupção”, afi rma Rayol.

Ainda no primeiro semestre de 2008 serão energi-zados no Maranhão os transformadores das subesta-ções Peritoró, Porto Franco e Imperatriz, de 100 MVA, e Presidente Dutra, de 50 MVA, todos com tensão de 230 kV. O investimento em cada um desses empreen-dimentos é de cerca de R$ 12 milhões.

Como resultado do leilão da Aneel, realizado em novembro de 2007, já foram iniciados no Maranhão os trabalhos visando à implantação da linha em 230 kV ente São Luís II e São Luís III e da subestação São Luís III, com energização prevista para março de 2009 (seis meses antes da data fi xada pela Ane-el), com investimentos que totalizam cerca de R$ 30 milhões.

Em Mato Grosso o destaque é para o transformador de 230 kV, de 100 MVA, empreendimento emergen-cial solicitado pelo Ministério de Minas e Energia que está sendo implantado pela Eletronorte na subesta-ção Coxipó, em Cuiabá. Esse empreendimento está sendo executado para suprir a falta de gás da Bolívia, com data prevista de energização para o mês de abril de 2008, antecipando o prazo concedido pela Aneel.

Mais linhas - No Acre foram ener-gizadas a linha de transmissão Rio Branco I-Epitaciolândia, com 200 qui-lômetros, e a nova subestação Epita-ciolândia, além da ampliação da Rio

Branco. Os investimentos nesses empreendimentos somam R$ 63 milhões.

Ainda no Acre estão sendo inauguradas a linha Rio Branco-Sena Madureira, com 150 quilômetros em 69 kV, juntamente com a nova subestação Sena Madu-reira, totalizando assim 350 quilômetros de novas li-nhas de transmissão no estado.

Para que haja a integração do Sistema Acre/Ron-dônia ao Sistema Interligado Nacional, a Eletronorte também está construindo a linha em 230 kV no tre-cho Ji-Paraná-Pimenta Bueno-Vilhena, em Rondô-nia, com 278 quilômetros, bem como a implantação das subestações Pimenta Bueno e Vilhena, além da ampliação da Ji-Paraná. Esses investimentos somam cerca de R$ 167 milhões.

Em Roraima a Eletronorte está concluindo a linha em 69 kV Boa Vista - Distrito Industrial, com 26 km, juntamente com a nova subestação Distrito Industrial. Os investimentos somam R$ 29 milhões e a meta de energização é junho. O empreendimento, segundo Rayol, viabilizará a instalação de empresas no Distrito Industrial de Boa Vista e o suprimento de energia a várias localidades do interior de Roraima.

Finalmente, no Pará, a implantação de um ban-co de reatores 500 kV na subestação Marabá é um

empreendimento de grande relevância para o Sistema Interligado Nacional, uma vez que, por ela, é escoada parte considerável da energia gerada na Usi-na Hidrelétrica Tucuruí. Esses reatores proverão o suporte de reativos para o controle de tensão e qualidade ao su-primento de energia. São investimen-tos da ordem de R$ 22 milhões.

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Revitalizando a história rondonienseCO

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População prestigiou a reinauguração

Viviane Assis

Imagine na década de 50, uma praça no coração da Amazônia com um majestoso lago e uma pequena ponte sobre ele. Imagine, dentro do lago, moleques se refrescando na água límpida e brilhante sob o sol caloroso da Região Norte. Depois, se for possível, imagi-nem, nesse cenário paradisíaco, de uma hora para outra, fi lhotes de jacarés e peixes pora-quês! Pois é, as crianças de Porto Velho que estavam acostumadas a brincar no lago da Praça Aluízio Ferreira não conseguiram divi-dir a área de lazer com os animais. A Prefei-tura teve que acabar com a alegria das duas partes, reconhecendo a impossibilidade des-sa convivência. O lago artifi cial foi destruído e em seu lugar surgiu um modesto parque com balanços e escorregadores. Assim a praça que já era denominada ‘da família’, voltou a ser freqüentada por adultos e crianças.

Quem relembra a história pitoresca é o carnavalesco e jornalista Sílvio Santos, o Zé Katraca. Ele era um dos meninos que brinca-va nas águas do lago da Aluízio Ferreira, uma das cinco praças históricas de Rondônia. Cada uma com sua denominação específi ca,

aquela bem conhecida das cidades interiora-nas. Havia a praça da família – a Aluízio Fer-reira, a dos cinemas – a Marechal Rondon; a dos taxistas – a Jonathas Pedrosa e as duas dos namorados – a das Três Caixas d’Águas e a da Ferrovia Madeira-Mamoré. Foi com as lembranças de menino que Zé Katraca (foto ao lado) acompanhou a reinauguração da Aluízio Ferreira, em 22 de março deste ano. Quase 60 anos depois, o espaço considerado patrimônio histórico e localizado no primeiro bairro de Porto Velho, passou por moderniza-ção.

“A praça fi cou ma-ravilhosa. Esta foi mais uma brilhante inserção social que a Eletronor-te fez em nosso estado. Primeiro reformando a Casa de Cultura Ivan Marrocos e agora revita-lizando uma parte de nossa história”, afi rmou animado o carnavalesco.

“A Aluízio Ferreira é um dos poucos lu-gares que gosto de levar minha família para

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passear. Trabalho a semana toda na fazenda e no sábado e domingo quero ver meus fi -lhos brincando e correndo à vontade. Aqui já era muito bom, agora fi cou melhor”, comenta Edmilson Gonçalves, brincando com os fi lhos Isac e Tiago, na companhia da esposa, Maria Gonçalves (foto acima).

A cerimônia de reinauguração contou com a presença do prefeito, Roberto Sobrinho; da senadora Fátima Cleide (PT); do deputado federal, Eduardo Valverde (PT); do represen-tante do senador Valdir Raupp, o vereador Assis Raupp; e do representante do gerente regional da Eletronorte, Edgard Temporim Fi-lho, Fernando Inácio Borges da Silva Bastos, coordenador da ISO 14001.

Valorização cultural - A praça tem lugar cativo no coração do porto-velhense. Ela está na região central, próxima de uma tradicional escola pública – a Carmela Dutra - e do lado do ginásio de esportes Cláudio Coutinho. Seu nome é uma homenagem a um dos políticos mais infl uentes de Rondônia, o paraense Alu-ízio Ferreira, responsável pela nacionalização da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, e que também foi governador e deputado federal.

A Aluízio Ferreira faz parte do projeto de revitalização do centro histórico de Porto Ve-lho. A Eletronorte é mais uma empresa do Setor Elétrico a abraçar o processo que está

dando cara nova à região do Complexo Hi-drelétrico do Rio Madeira. A praça das Três Caixas d’Águas (estrutura responsável pelo abastecimento de água da vila de Porto Velho no período ativo da ferrovia) foi reformada por Furnas. No mesmo período, a Eletronorte pre-senteava a cidade com os bens imateriais da exposição Alma do Norte. Foi no lançamen-to dessa exposição que o diretor de Gestão Corporativa, Manoel Ribeiro, representando o diretor-presidente, Carlos Nascimento, fi rmou parceria com o prefeito, Roberto Sobrinho, para recuperar o espaço estratégico para a cultura e o comércio local.

Com a revitalização, a praça que sempre foi palco de manifestações culturais ganhou um espaço maior para artistas e público, sem atrapalhar os mais de 50 vendedores de artesanatos e comidas típicas da Feira do Porto. Todos os sábados, das 16 às 23 horas, os visitantes percorrem as barracas e são atraídos pelo cheiro forte do jambú no tacacá, da galinha picante, da tapioca ou simplesmente tentam escolher uma das centenas de peças artesanais dispostas nos balcões. As pequenas tendas na cor azul atendem a uma solicitação antiga da Asso-ciação dos Barraqueiros: a de padronizar a Feira do Porto, incluída no investimento de mais de R$ 431 mil da Eletronorte, com con-trapartida da Prefeitura.

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Se a resposta for água ela pode signifi carenergia, alimento e até biotecnologia

Sede de quê?

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Michele Silveira

A água tem cheiro. E às vezes a cor do céu e a cor do breu. E é claro que tem gos-to. Aquela história de incolor, insípida e ino-dora só cabe nos livros. Porque na vida real ela tem o cheiro da chuva, do rio, das mãos em concha antes do sol aparecer. E faz falta. Muita falta.

E mesmo assim, pode acreditar: o brasilei-ro gasta, em média, 40 litros de água a mais que o total de 110 litros per capita recomen-dado pela Organização das Nações Unidas

- ONU. Além disso, diariamente nas capitais brasileiras, o desperdício de água potável equivale a 2.500 piscinas olímpicas (cerca de 2,5 milhões de litros de água), resultado de vazamento nas redes de abastecimento, submedição e fraudes. Isso seria sufi ciente para abastecer 38 milhões de pessoas. Os dados, que fazem parte de um relatório do Instituto Socioambiental – ISA indicam ainda que a maioria das capitais – 15 das 27 – per-de mais da metade da água produzida. Porto Velho, capital de Rondônia, é a campeã em desperdício, com 78,8% de perda. As cida-

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des de Rio Branco, Manaus e Belém também têm índices superiores a 70%.

Não bastasse o desperdício, a poluição tornou 70% das águas dos rios, lagos e lago-as do Brasil impróprias para o consumo. Um relatório editado pela organização não-gover-namental Defensoria da Água, traz dados do período 2004-2008 e envolveu 423 pesqui-sadores, 830 monitores de campo e cerca de 1.500 voluntários, que identifi caram 20.760 áreas de contaminação em todo o País. Em relação à primeira edição do documento, di-vulgado em 2004, a contaminação das águas superfi ciais cresceu 280%. De acordo com o relatório, a mineração, a produção de suco de laranja e de derivados da cana-de-açúcar são os principais atores nesse processo, causan-do problemas ambientais provocados pelo descarte inadequado de resíduos industriais e pelas conseqüências sociais ligadas aos empreendimentos.

Bom exemplo – Diferentemente do que o

censo comum possa imaginar, no Setor Elé-trico são encontrados bons exemplos de va-lorização e uso sustentável da água. A pre-ocupação em manter a qualidade e garantir os usos múltiplos é reconhecida pela Agência

Nacional das Águas - ANA. “O Setor Elétrico conseguiu evoluir e se modernizar mais ra-pidamente no que se refere à utilização da água”, avalia o superintendente de Usos Múl-tiplos da ANA, Joaquim Gondim. Segundo ele, é indiscutível a evolução que a legislação brasileira atingiu em relação à gestão de re-cursos hídricos. “Essa questão que começou com o Código das Águas, em 1934, evoluiu muito. Ainda temos muito pela frente, mas hoje o Brasil já possui uma legislação moder-

Recurso hídrico

imprescindível ao homem

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na, que traz diretrizes para a gestão de usos múltiplos”, explica Gondim (foto abaixo).

De acordo com o Ministério do Meio Am-biente, a informação sobre qualidade de água no País ainda é insufi ciente, e muitas vezes inexistente, em várias bacias. Apenas nove estados brasileiros possuem sistemas de mo-nitoramento da qualidade da água conside-

rados ótimos ou muito bons, cinco possuem sistemas bons ou regu-lares, e 13 apresentam sistemas fracos ou inci-pientes. Mesmo assim, a importância da quali-dade da água está bem conceituada na Política Nacional de Recursos Hídricos que defi ne, entre seus objetivos, “assegurar à atual e às futuras gerações a ne-cessária disponibili dade de água, em pa drões de qualidade ade quados aos respectivos usos”.

Além disso, também determina “a gestão sis-temática dos recursos hídricos, sem dissocia-ção dos aspectos de quantidade e qualidade e a integração da gestão dos recursos hídri-cos com a gestão ambiental”.

Na Eletronorte, um exemplo é o monito-ramento limnológico na Usina Hidrelétrica Tucuruí. As ações começaram ainda no perí-odo de 1980 a 1984, com os primeiros dados obtidos pela equipe do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - Inpa, com o objeti-vo de conhecer as condições limnológicas do Rio Tocantins, onde o reservatório viria a ser formado.

O programa começou de fato em 1985, com o enchimento do reservatório. De acordo

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com sua coordenadora, a engenheira quími-ca Carmen Rocha, os resultados são armaze-nados em um banco de dados, o qual permi-te a emissão de boletins periódicos, que são sistematizados anualmente e condensados em um relatório técnico consolidado, encami-nhado ao órgão licenciador, no caso a Secre-taria de Meio Ambiente do Estado do Pará.

O analista ambiental da Eletronorte, Ru-bens Ghilardi Junior, destaca que o monitora-mento é essencial para que sejam estabeleci-dos os zoneamentos para os diferentes usos da água. “Além disso, é de fundamental im-portância conhecermos a dinâmica ecológica da área, os usos humanos e a biodiversidade aquática”, explica.

De acordo com Carmen, as análises têm demonstrado que o reservatório tende a um novo equilíbrio limnológico. “Nesses 20 anos de monitoramento é possível perceber que o percentual de oxigênio absorvido se estabili-zou e a quantidade de nutrientes diminuiu, ou seja, a qualidade da água melhorou”, explica. Apesar de ser um processo natural, o equilíbrio deve ser monitorado para, caso haja algum retrocesso, ser identifi cado e per-mitir a ações corretivas.

Monitoramento - Mas, aqui, um parêntese: e o que é a limnologia? Sem a pretensão cien-tífi ca, um breve resumo da Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro –UFRJ, explica que, em virtude da etimologia da palavra (limne, palavra grega que signifi ca lago) e pelo fato de as primeiras pesquisas terem sido reali-zadas quase que exclusivamente em lagos, a limnologia foi inicialmente conhecida como a ciência que estuda os lagos. No entanto, decidiu-se, no primeiro Congresso Internacio-nal de Limnologia (1922), ampliar o campo de atuação dessa ciência, incluindo outros ecossistemas aquáticos continentais, tais

Coletas e análises garantem a qualidade da água

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Os usos múltiplos na década da água

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como lagunas, açudes, lagoas, represas, rios, riachos, águas subterrâneas e estuários. Por isso pode ser defi nida como o estudo eco-lógico dos diversos ecossistemas aquáticos continentais, focalizando a física, a química, a geologia e a morfometria, a ciclagem de materiais e o fl uxo de energia, a ecologia e biologia dos organismos e a recuperação e a utilização racional desses ambientes.

No lago de Tucuruí, o programa de mo-nitoramento inclui também o acompanha-mento da ocupação de macrófi tas aquáticas no reservatório mediante a análise de ima-gens de satélite. Logo após o enchimento do lago da Hidrelétrica, foi estruturado um laboratório para atender às análises físico-químicas e biológicas da água. Sete esta-ções coletoras foram colocadas a jusante e

“Água pra beber, água pra lavar, água que faz toda semen-te brotar/se ela vem do céu, do rio ou do mar/doce ou salga-da, é a melhor coisa que há”. O ‘versinho’ seria mais um na retórica da conscientização, não fosse o tom melodioso com que sai das pequenas boquinhas de uma turminha escolar orgulhosa de vestir roupa azul e dizer que são os “defensores da água”. Formada por pequenos com média de três a quatro anos, a turminha nem imagina, mas nasceu na Década Brasi-leira da Água. Sim, há um decre-to que assim defi niu: Art. 1º: Fica instituída a Década Brasileira da Água, a ser iniciada em 22 de março de 2005. Art. 2º: A Déca-da Brasileira da Água terá como objetivos promover e intensifi car a formulação e implementação de políticas, programas e proje-tos relativos ao gerenciamento e uso sustentável da água, em todos os níveis, assim como as-segurar a ampla participação e cooperação das comunidades voltadas ao alcance dos objetivos contemplados na Política Nacional de Recursos Hídricos ou estabelecidos em convenções, acordos e resoluções, a que o Brasil tenha aderido.

Quando a Década da Água acabar, em 2015, a turminha já vai ter virado quase gente grande, e o que ela aprender até lá, é que vai fazer a diferença. “Hoje é cada vez maior a preocupa-ção com o uso da água. E essa não pode ser uma ação apenas de governo, mas uma conscientização individual, que começa na casa de cada um”, alerta o superintendente de Usos Múlti-plos da Agência Nacional das Águas – ANA, Joaquim Gondim.

Com a Lei nº 9.433, de 1997, o princípio dos usos múlti-plos foi instituído como uma das bases da Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH. Os diferentes setores usuários de água passaram a ter igualdade no direito de acesso a esse bem. A única exceção, já estabelecida na própria lei, é que em situações de escassez, a prioridade de uso da água no Brasil é o abastecimento público e a dessedentação de animais. Os

demais usos, tais como, geração de energia elétrica, ir-rigação, navegação, abastecimento industrial, turismo e lazer, dentre outros, não têm ordem de prioridade defi ni-da. A hidróloga Cíntia de Lima Vilas Boas (foto à esquer-da), da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, conhecida como Serviço Geológico do Brasil – CPRM, afi rma no artigo que “o uso múltiplo de reservatórios” que, “dentro do moderno conceito de Gestão das Águas, os assuntos que envolvem o planejamento de uso, con-trole e proteção dos recursos hídricos assumem grandes proporções, devido às interações entre o aproveitamento racional da água e o uso do solo”.

Usos múltiplos - No que diz respeito aos possíveis confl itos, Cíntia cita o autor Antônio Eduardo Lanna, en-genheiro civil doutor em Planejamento e Gestão de Re-cursos Hídricos. Segundo ele, “o uso múltiplo dos recur-sos hídricos não é uma opção que o planejador faz, mas uma realidade que ele enfrenta com o desenvolvimento econômico. A alternativa existente é integrar estes usos de uma forma harmônica, em que pese a complexidade da administração, ou deixá-los de uma forma desinte-grada enfrentando, como conseqüência, confl itos entre os usuários que comprometem a efi ciência do uso”.

Não bastasse a disputa, o desafi o é também adequar a questão dos usos múltiplos à preservação e sustenta-bilidade. É aí que reside, segundo Gondim, o diferen-cial que a ANA tem mantido nas disputas naturais das demandas dos usos múltiplos. Segundo ele, a Agência tem conseguido, na maioria das vezes, mediar os con-fl itos chegando a um consenso. “Um dos casos muito

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nove a montante. Já no processo de licen-ciamento ambiental da segunda etapa de implantação da Usina, o sistema de monito-ramento foi reestruturado com base no vo-lume de dados já produzido, e considerando as características limnológicas de cada re-gião amostrada. Nas estações a equipe faz as coletas na coluna d’água e na superfície, além da medição da transparência, fi xação

do oxigênio e coleta de fi toplâncton. A etapa seguinte é alimentar o banco de dados para geração e análise dos boletins.

É por isso que o trabalho dos três técnicos do laboratório, uma bióloga e um químico, além de Carmen, faz a diferença. Hoje, esse trabalho pode dar respostas que ainda não são encontradas na ciência; mas que estão a caminho.

comuns é dos setores hidroviário e elétrico, que pode-mos citar como exemplo Tucuruí, que por muito tempo esperou a conclusão das eclusas para garantir a nave-gabilidade do Rio Tocantins. Hoje, mais próximo da con-clusão, reforçamos a importância das eclusas para o uso múltiplo”, avalia o superintendente.

De acordo com a ANA, a Superintendência de Usos Múltiplos é também responsável pelo desenvolvimento de ações que preconizem a revitalização de bacias hi-drográfi cas, bem como a conservação e a racionalização do uso da água. É uma estratégia para proteger e res-taurar a qualidade ambiental e, conseqüentemente, os ecossistemas aquáticos. Essa abordagem baseia-se na constatação de que muitos dos problemas de qualida-de e quantidade de água são evitados ou resolvidos de maneira efi caz por meio de ações que focalizem a bacia hidrográfi ca como um todo, as atividades desenvolvidas em sua área de abrangência e os atores envolvidos.

É também essa Superintendência que defi ne as ope-rações de fi scalização das condições de operação dos re-servatórios e faz a gestão de projetos como o de tanques-rede desenvolvidos pela Eletronorte em parceria com outras instituições. Em Rondônia, por exemplo, a Empre-sa, em parceria com o governo estadual e o Ibama, de-senvolveu em Candeias do Jamari o projeto de Aproveita-mento de Águas Improdutivas para Criação de Tambaqui em Tanques-rede (foto acima à esquerda), benefi ciando cerca de 500 famílias de pescadores ribeirinhos. Entre os principais objetivos estão a redução da pressão sobre os estoques pesqueiros naturais, a geração de emprego e renda, e a profi ssionalização dos pescadores.

Em Tucuruí, mais de dez mil pescadores produzem seis mil toneladas de pescado por ano (foto acima). Lá o Programa de Pesca e Ictiofauna busca alcançar o desenvolvimento sus-tentável e a melhoria da qualidade de vida das comunidades de pescadores no reservatório e no Rio Tocantins, a jusante da Usina. Além de programas de capacitação e gerenciamento pesqueiro, o Programa envolve conservação das espécies de peixes e de seus habitats e distribui alevinos de espécies re-gionais para projetos de criação de peixes em tanques-rede.

Hoje o Brasil é o 22º maior produtor de pescado do mundo, com cerca de 1,1 milhão de toneladas/ano. De acordo com dados da Secretaria de Aqüicultura e Pesca - Seap, o País pode ser considerado a nova fronteira aqüícola do mundo, com 8.400 km de costa; 3,5 milhões de hectares de águas públicas represadas e outros 5 milhões de ha de águas pri-vadas represadas. A demanda adicional de 90 milhões de toneladas nos próximos 25 anos só poderá ser suprida via aqüicultura e o Brasil poderá ser produtor de 21 milhões de toneladas de pescado.

Em agosto de 2007 a parceria entre a Eletronorte e Seap anunciou a primeira etapa da demarcação do Parque Aqüícola de Tucuruí. A partir dos estudos entregues pela Empresa, a Seap deu início à demarcação do parque, que será o terceiro do País – já estão demarcados os parques aqüícolas de Itaipu, no Paraná, e Castanhão, no Ceará. A demarcação delimita as áreas do reservatório destinadas à piscicultura e identifi ca tam-bém quantas famílias poderão ser benefi ciadas e a quantidade de peixe produzida nos tanques-rede a serem instalados no lago. A parceria entre as instituições continua e deve realizar os estudos para o zoneamento dos reservatórios de Balbina, no Amazonas, Samuel, em Rondônia, e Coaracy Nunes, no Pará.

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Genoma - O projeto Genoma Ambiental do Reservatório da Usina Hidrelétrica Tucuruí, coordenado pelo professor Artur Silva, da Uni-versidade Federal do Pará-UFPA (foto abai-xo), será mais um ator no processo. De acor-do com o professor, pode parecer um pouco incomum imaginar que um lago possua um genoma, porque é o genoma o responsável pelas características hereditárias dos seres vivos. É nele que estão escritas todas as ins-truções de funcionamento de uma célula, um tecido e de todo o organismo. Sim, mas afi nal o que é o genoma de um lago? Segundo Ar-tur, pode existir um genoma, ou muitos geno-mas, até mesmo numa gota d’água. “Uma gota de água, um lago, um punhado de areia, são lugares onde vivem muitos micróbios. Assim, quando falamos do genoma do lago de Tucuruí, estamos nos referindo à população de microorganismos que coloni-zam este gigantesco corpo de água”, explica.

O projeto iniciou-se há 14 meses, gerando muitos da-dos e processando grande quantidade de informações. A parceria com a Eletronorte viabilizou recursos para que o laboratório tivesse o único

equipamento na América Latina com confi gu-ração para realizar a separação de linhagens bacterianas por DHPLC (Cromatografi a Líqui-da Desnaturante de Alta Performance).

Esta é a primeira vez que abordagens ba-seadas na genética genômica são aplicadas em um ambiente de águas interiores tropicais e revela-se uma complexa estrutura ecológi-ca dos microorganismos que fazem parte do ecogenoma do reservatório. Além do professor Artur, fazem parte do projeto Rubens Ghilardi Jr, a professora Maria Paula Cruz Schneider, também da UFPA, e o acadêmico Paulo Ro-berto Miranda, bolsista CNPq pela UFPA.

A naturezaemociona,mas tambémalerta ohomem

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A história do uso da água no Brasil

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O primeiro objetivo do estudo é identifi car a composição de micróbios do lago. “Com isso poderemos identifi car o seu potencial biotecnológico e monitorar da melhor forma possível a qualidade de suas águas”, ex-plica o coordenador. O segundo objetivo é ajudar a entender qual a real participação do reservatório na produção de gás meta-no, um dos principais gases na formação do efeito estufa. Também faz parte do trabalho estudar uma bactéria muito abundante em Tucuruí, que realiza fotossíntese e produz oxigênio; além de obter e identifi car genes que produzem uma classe de enzimas, as celulases, que possuem alto interesse na sociedade moderna na indústria de biocom-bustíveis. Outro objetivo é formar recursos humanos em sofi sticadas e efi cientes tec-nologias agregando valor à biodiversidade brasileira.

A região de coleta, estação montante de Repartimento, faz parte do conjunto de loca-lidades usadas pelo Centro de Proteção Am-biental –CPA, da Eletronorte no Programa de Monitoramento Limnológico e de Qualidade de Água. Para Carmen, a questão da medição de metano, por exemplo, é um passo importan-te para a pesquisa. “Hoje muitos dizem que há níveis elevados de metano em reservató-rios. Mas precisamos de bases comparativas. Com o projeto Genoma poderemos conhecer as bactérias que temos no meio aquático e identifi car quais as que consomem, quais produzem, e então produzir tecnologia para proliferar as que consomem mais metano, por exemplo”, avalia a coordenadora.

O professor Artur concorda. Segundo ele, as análises hoje são parciais porque levam em consideração apenas as bactérias que produzem o metano, sem considerar a infl u-ência das que o consomem. “Uma análise correta e séria é a que levará em conside-ração todo o processo. Queremos saber de fato qual o balanço que existe no lago, sem analisar apenas a quantidade, mas também o consumo. E isso só podemos fazer com téc-nicas genômicas”, explica. Falando assim, a biotecnologia que pode resultar de programas como o Genoma parece simples e pode caber numa conchinha de mãos, num reservatório ou num pote. Sim, um pote como o descrito por Rubem Alves: “O importante no pote é aquilo que não existe: o vazio que está dentro dele. A cerâmica só tem a função de segurar o vazio... Porque é do vazio que a gente pre-cisa. É o vazio que contém a água”.

Sobre imagens de chafarizes, monjolos e pescadores de uma São Paulo das casas de banho, a Agência Nacional das Águas está escrevendo sobre como os brasileiros do período colonial lidavam com os recursos hídricos; ou como a água era usada para o desenvolvimento na época do Império. O livro “A História do Uso da Água no Brasil – do Descobrimento ao Século XX” começou a ser preparado ainda em 2007 e chega agora em sua versão preliminar. No site da ANA é pos-sível contribuir com a obra por meio da doação de gravuras, pinturas, fotografi as e a cessão de relatos históricos acerca do uso da água desde a chegada de Cabral. O livro fi ca pronto no primeiro trimestre de 2009.

Logo nas primeiras páginas, é também o texto Água, de Ru-bem Alves, que faz as honras da introdução: “Difícil era tomar banho. Especialmente no tempo de frio. Era preciso esquentar água no fogão de lenha, e como não havia banheiro e chu-veiro dentro de casa, o jeito era tomar banho de bacia, com canequinha. Complicado. O que signifi ca que não se tomava banho todo dia. Banho diário é invenção moderna, felicidade não conhecida naqueles tempos. O que se usava, mesmo, era lavar os pés numa bacia. Foi assim durante milhares de anos. Jesus lavou os pés dos seus discípulos. Muitas vezes eu lavei os pés do meu pai”.

Acompanhado de reproduções do século passado, cedidas por museus brasileiros, o texto começa a contar as conseqü-ências da colonização e das migrações no Brasil. “(...) Ocor-reu uma gradativa perda da infra-estrutura e dos sistemas de vida (usos e costumes) nas primitivas formas de apropriação dos recursos hídricos para os mais diversos usos, (abasteci-mento público, dessedentação de animais, irrigação, geração de energia mecânica etc.) onde algumas subsistiram como patrimônio histórico (chafariz, aquedutos, açudes, monjolos, castelos) e outros ainda como único recurso alternativo de subsistência, tais como cacimbas, jegues, cântaros e morin-gas”. Para conhecer mais sobre a História do Uso da Água no Brasil acesse: http://historiadaagua.ana.gov.br/

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GERA

ÇÃO A complexa operação dos parques

termelétricos da Amazônia

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Bruna Maria Netto

Gerar e fornecer eletricidade na imponên-cia da Amazônia Legal em nada se equipara à maneira das grandes hidrelétricas, como Tucuruí. Mas, enquanto o Sistema Integrado Nacional – SIN não chega em todos os esta-dos nortistas, são as usinas termelétricas que enfrentam desafi os diários, desde a custosa operação e manutenção das máquinas até as mais diversas animosidades próprias da Amazônia, para garantir o abastecimento de eletricidade, um insumo essencial para toda a sociedade.

A Eletronorte é responsável pela operação de sete usinas termelétricas em três sistemas isolados na Região Norte (AC, RO e AP), mais o parque térmico da Manaus Energia. Geran-do energia nas capitais – a dos municípios e

Sistemas isolados queimam petróleo 24 horas por diade outras cidades fi ca por conta das conces-sionárias estaduais – os parques termelétricos da Eletronorte somam 1.042,66 megawatts de potência instalada, sendo 599,26 MW de geração própria e 443,40 de produtores inde-pendentes de energia.

O engenheiro João Valeriano de Camar-gos (foto ao lado), gerente de Engenharia de Operação e Manutenção da Geração Térmica da Eletronorte, explica que as di-fi culdades começam pelos diferentes tipos de equipamentos instalados: “Temos desde máquinas muito avançadas - como turbi-nas a gás - até motores diesel com versões bastante antigas, por conta das diferentes demandas encontradas em cada canto da Amazônia”.

Somente o fato de se operar termelétricas no ambiente amazônico já é uma difi culdade

Logísticacomplexa, operação complicada

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muito grande, a começar pela distância dos grandes centros produtivos e fornecedores de insumos básicos. Quando uma máquina – que é importada - quebra, ela tem de retor-nar a operar o mais rápido possível para evi-tar racionamento. Miraelson Pereira Barbosa, operador da Termelétrica Santana (AP) há 14 anos explica o drama: “Quando pára alguma máquina o empenho de todos é grande, não atendemos telefone, não fazemos outra coi-sa até normalizar o funcionamento para não deixar ninguém sem energia”.

Caso o componente avariado não esteja pre-visto no estoque de pe ças sobressalentes, a usina terá de lidar com a difi cul-dade de repô-lo com rapi-dez, o que obriga, em al-gumas situações, a terem um grande estoque de peças extras, gerando um custo muito elevado. “Já no Sul-Sudeste, a malha de transportes permite

que uma peça seja embarcada no caminhão e chegue rapidamente ao ponto que a deman-da, enquanto na Amazônia, algumas vezes a única via possível é a fl uvial”, completa.

Quando o problema é muito complexo, a ajuda externa é imprescindível. “Para fazer-mos a recuperação geral de uma turbina a gás temos que enviá-la para a Alemanha ou Estados Unidos em contêineres de dez me-tros de comprimento, do tamanho de um ca-minhão. A manutenção é feita fora do Brasil porque internamente não temos empresas com tecnologia ou estruturadas para isso, mas temos mão-de-obra qualifi cada, infeliz-mente em quantidade insufi ciente”, lamenta João Valeriano.

Segundo ele, assim como as máquinas, o combustível usado nos sistemas isolados também enfrenta um duro caminho até seu destino fi nal. “Ele chega por meio de cami-nhão-tanque ou por balsa-tanque. O óleo que chega à usina Rio Madeira em Porto Velho, por exemplo, é deslocado por meio de balsa, vinda de Manaus, e faz uma viagem de uma semana até chegar à capital, onde é distri-buído por caminhão-tanque. Dependendo da época do ano e do grau de pluviosidade, cria-se uma logística de suprimento de óleo, pois muitas vezes a seca não permite transi-tar de barco. Em 2006 tivemos um problema de abastecimento quando o nível do Rio Ma-

deira fi cou tão baixo que a balsa-tanque não conseguiu passar, e por isso foi preciso fazer um comboio de caminhão-tanque saindo de Paulínia, em São Paulo” (foto acima).

Clima x manutenção – O clima da região é outro fator preponderante para a operação das máquinas térmicas. O calor reduz a perfor-mance e o rendimento do equipamento, pois como ele já trabalha com a temperatura eleva-da, esta sobe ainda mais e a máquina acaba se desgastando com facilidade. A umidade causa pouco prejuízo na efi ciência do equi-pamento, mas a máquina em si sofre grandes avarias. Quando o combustível é queimado, uma parcela de enxofre é liberada e entra em contato com a água da umidade depositada sobre a superfície metálica, formando o ácido sulfúrico, que provoca corrosão nos equipa-mentos. Além disso, a água da umidade con-densada dentro dos tanques de combustível, por ser mais pesada, se separa do óleo, fi can-do depositada no fundo dos tanques, tendo que ser drenada dia e noite, a cada 12 horas, num processo contínuo (foto abaixo).

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Usina Térmica Rio Madeira:exemplo de responsabilidade ambiental

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“Apesar da drenagem, sempre sobra um resíduo que acaba indo para o nosso equi-pamento podendo provocar uma avaria, a curto, médio ou longo prazo. Isso ocorre em qualquer local, mas se fosse em Brasí-lia, por exemplo, onde a umidade algumas vezes chega a 30%, seria bem diferente. Na Amazônia, quando a umidade cai mui-to, chega no máximo a 70%”, afi rma Va-leriano.

Conta de todos - Com tantas difi culdades enfrentadas, a solução para o atendimento dos grandes centros consumidores é a inter-ligação ao SIN, mas em pequenas localida-des as termelétricas ainda farão a diferença por muitos anos, apesar de consumirem um combustível que além de poluente é muito caro. Com um milhão e meio de litros de óleo gastos por dia, pode-se imaginar o custo da luz na Região Norte. Ao consumidor fi nal, o

Em julho de 1987 entrava em operação – em caráter emer-gencial para evitar o racionamento de energia na cidade de Porto Velho - a Usina Termelétrica Rio Madeira. A complexa montagem e os testes das três grandiosas turbinas LM 2500 mobilizaram dezenas de técnicos da Eletronorte, que se reve-zaram em plantões, dia e noite, mudaram a rotina das famílias da comunidade do bairro Nacional e representou um marco na história da Eletronorte em Rondônia.

Hoje, 21 anos depois, continua operando somente em situ-ações emergenciais, sendo fundamental para o abastecimen-to de energia elétrica na capital de Rondônia e para o Sistema Rondônia-Acre. Em fevereiro deste ano, suas quatro máqui-nas foram acionadas por 30 dias a fi m de possibilitar a manu-tenção das máquinas da Termonorte – produtor independente contratado pela Eletronorte. Além de sua importância opera-cional e da competência do capital humano que a opera, a Usina Rio Madeira coleciona certifi cações e reconhecimentos únicos no Setor Elétrico brasileiro e mundial: a certifi cação na Norma Ambiental ISO 14001 que fez dela a única térmi-ca do País a conquistar o ‘Selo Verde’, e o de Excelência em Gestão pelo Japan Institute of Plant Maintenance, na meto-dologia de Manutenção Produtiva Total (TPM), compartilhada apenas com outra usina da Eletronorte, a Térmica Santana, no Amapá. A instalação da Usina proporcionou o crescimento populacional e atraiu investimentos públicos: escolas, postos de saúde, policiamento e ruas asfaltadas. Hoje, mais de 21 mil pessoas moram na região do seu entorno.

O trabalho árduo do passado, de engenheiros, técnicos eletricistas, de manutenção, de segurança no trabalho, opera-dores e outros profi ssionais que faziam plantões de até 12 ho-ras para manter as turbinas em operação, garantindo energia elétrica aos porto-velhenses, foi reconhecido. Oportunidades de crescimento profi ssional não faltaram. A informatização nas usinas térmicas e hidráulicas possibilitou a saída desses profi ssionais, anteriormente em tempo integral, das máquinas e subestações para a pesquisa, inventos e melhorias.

Exemplo disso foi a transformação, em 2000, de uma área de 56 metros quadrados degradada por resíduos de óleo diesel em

dois parques ambientais permanentes: o Antônio Onildo – em homenagem a um falecido colaborador da usina e o Várzea dos Buritis. O local, contaminado por 15 anos, em apenas quatro já comprovava sua recuperação. Espécies de peixes como a jatuarana e os da família dos bagres – bioindicadores de qualidade ambiental-, se reproduzem nos lagos dos parques: “A usina toda se mobilizou para o trabalho de recuperação”, relembra o técnico em Se-gurança no Trabalho, Adison Lino (foto ao lado). O piauien-se de Cristalândia chegou a Rondônia para exercer a atividade de armador de fer-ragem, pela construtora Nor-berto Odebrecht, na Usina Hidrelétrica Samuel. Em 1981, ingressou na Eletronorte atuando no controle de manu-tenção da Usina Fausto Guimarães. Em seguida passou a integrar a equipe da Rio Madeira substituindo um colega que se aposentava na área da segurança.

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acesso à energia é garantido porque brasi-leiros de todas as outras regiões contribuem com a Conta de Consumo de Combustível - CCC, um subsídio pago juntamente com a conta de luz que ajuda a saldar o alto preço da energia elétrica das regiões eletricamente isoladas.

“É um subsídio muito inteligente, elogiado por pessoas de outros países, e interessante por fazer uma equalização de desenvolvimen-

to social e econômico. Como energia elétrica é um insumo básico para a sociedade, não deixa de ser um subsídio justo, o que não sig-nifi ca que nós brasileiros tenhamos que con-viver com isso eternamente”, afi rma Hamilton Antônio da Rocha, gerente de Comercializa-ção de Energia da Eletronorte. Segundo ele, sem a CCC – que neste ano foi orçada em R$ 3,0 bilhões, nenhuma empresa conseguiria se manter. “Se não houvesse a CCC, a Eletro-

O primeiro passo para o projeto ambiental na Usina partiu de um curso que Adison e o coordenador da ISO 14001, Fernando Inácio Borges da Silva Bastos, parti-ciparam, em Porto Alegre, sobre recuperação de área poluída por produtos químicos. A idéia foi abraçada pelo gerente da Térmica, Roberto Tomio Tomotani e o geren-te Regional, já falecido, Fernando Manoel Fernandes da Fonseca. Daí, para os demais trabalhadores aderirem ao desafi o foi do dia para a noite. “Todos queriam contribuir com as atividades. Era sempre um e outro aparecendo no tempo vago para ajudar”, relembra Adison.

Destino - O destino brincou sério com a vida do enge-nheiro de manutenção, Antonio César Gomes dos Santos (foto à esquerda). O mineiro de Itambacuri, por muito pou-co não fez parte da história da Usina Rio Madeira. O pior, é que se ele não estivesse por lá muitas atividades podiam não ter acontecido com a rapidez e efi ciência necessária. A entrada em operação da turbina III foi uma delas.

Em 1985, um amigo de Antonio César – o Geraldo, o inscreveu no concurso público da Eletronorte. O amigo

fez a inscrição sem consultá-lo porque ele trabalhava em tem-po integral em uma mineradora como instrutor de treinamento, e não estava muito interessado em concursos. Por isso, nem se lembrou do dia da prova. Outra vez, o Geraldo teve que lhe dar aquele empurrão. Foi atrás da gerência da mineradora para conseguir uma licença para os dois prestarem o concurso. Adi-vinhem quem passou?! O Antonio César, sem estudar, tirou nota máxima. Mas, quem disse que ele queria assumir o cargo!? Foi preciso a vida dar aquela reviravolta para ele começar a trabalhar na Empresa que precisava urgentemente de um engenheiro com sua qualifi cação.

No ano seguinte, ele e Roberto Tomio Tomotani viajavam para os Estados Unidos para fazer um treinamento na General Eletric, com objetivo de aprender a trabalhar com as máqui-nas LM 2500. O conhecimento adquirido foi primordial para a montagem e funcionamento das turbinas. “Ajudei os técnicos a montar as máquinas. Trabalhamos direto, dia e noite, a fi m de garantir a geração de energia elétrica para a cidade”, re-lembra o engenheiro. A experiência também possibilitou sua participação na montagem das turbinas das usinas térmicas de Santana (AP) e Rio Acre, em Boa Vista.

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norte iria gerar energia, pois há demanda, mas não conseguiria vender para nenhuma distribui-dora. Se não houvesse deman-da, a Empresa nem sequer ins-talaria usinas térmicas por lá”.

Hamilton (foto ao lado) tam-bém adianta que “a Eletronorte está providenciando uma licita-ção internacional, a fi m de obter preços mais baixos do combus-tível utilizado em suas termelétri-cas. Adicionalmente, está imple-

mentando ações de manutenção, operação e melhoria de efi ciência de suas máquinas, para obter melhor performance e rendimento dos equipamentos com o combustível empre-gado”.

A estrutura que dá suporte aos sistemas isolados, oriunda do Grupo Técnico Opera-cional da Região Norte – GTON, faz um pla-nejamento com as empresas, resultando no Plano de Operação dos Sistemas Isolados, que prevê quantas usinas estarão operan-do, quantas localidades serão atendidas e o quanto de combustível será gasto, além de elaborar o Plano Anual de Combustível. A partir da aprovação do GTON e da Aneel é es-tabelecido o valor da CCC - cuja contribuição paga o volume de combustível a ser consu-mido mensalmente pelas empresas respon-sáveis pelos sistemas isolados.

Insubstituível e impagável - Se não hou-

vesse esse recurso, a conta de energia elé-trica dos consumidores da Região Norte seria impagável, não apenas por conta do poder aquisitivo deles - um dos grandes motivos da inadimplência nas empresas distribuidoras - mas pelo custo do MWh. O valor da conta seria pelo menos dez vezes maior daqueles benefi ciados com a energia hidráulica, por

exemplo. O técnico Aguilar Ferrari (foto ao lado), que auxilia Hamil-ton, exemplifi ca: “Eu moro num apartamento pequeno e pago a primeira taxa de tarifa, que é de R$ 306,00 o MWh. Então imagi-na esse valor duplicado em dez vezes: um consumidor da Região Norte pagaria por volta de R$ 3.000,00 o MWh, em um aparta-mento pequeno, como o meu. Lá ainda tem a agravante do clima, em que a pessoa depende de um ar condicionado ou pelo menos

um ventilador em quase toda parte do tempo. Em Tucuruí, por exemplo, o valor do MWh é bem menor, por volta de R$ 90,00”.

Outra especifi cidade da Amazônia fi ca por conta de comunidades que sequer dispõem de dinheiro para pagar a conta de luz, literal-mente. “Elas praticam o escambo, com peixe, especiarias etc., uma realidade invisível para muitas pessoas, que não sabem que ainda existem comunidades muito isoladas que vivem de extrativismo e da caça, não tendo renda fi xa que permita pagar uma conta de energia mensalmente”, afi rma Ferrari.

A Eletronorte assumiu a operação de par-que termelétricos das capitais de Rondônia, Acre, Amapá, Amazonas e Roraima a par-tir de 1984, por determinação do Governo Federal. No entanto, mesmo após pesados investimentos em expansão e melhorias, a Empresa paga um custo muito alto para operá-los. Hoje, fora do subsídio da CCC, para cada MWh gerado, a Eletronorte paga a tarifa do equivalente hidráulico – um va-lor arbitrado pela Aneel, que hoje é de R$ 63,14, além do ICMS do combustível usado nas termelétricas. Na Usina Termelétrica Rio Acre, por exemplo, o MWh custa R$ 728,00. Dessa parte, o ICMS e o equivalente hidráu-lico, mais o custo de manutenção da máqui-na, além da amortização do investimento do empreendimento que compõe o custo total, é pago pela Empresa.

“Se essa energia for da Manaus Energia, nós pagamos ainda mais R$ 80,00 por MWh como tarifa fi xa da disponibilidade das má-quinas colocadas à disposição da Eletronor-te. Com o MWh vendido por R$ 100,00, da substancial diferença surge o nosso prejuízo, somado aos desperdícios por conta da inefi -ciência das máquinas e das perdas comer-ciais geradas pelo consumidor que não tem condições de pagar a conta e faz ligações clandestinas, por exemplo”, enfatiza Ferrari. Esse prejuízo diário aos cofres da Eletronorte somente será sanado com a interligação ao SIN, o que deve ocorrer até 2011 (veja maté-ria na página 3)

José Serafi m Sobrinho, superintendente da Comercialização e Geração de Energia, lembra de mais benefícios trazidos pelo SIN: “Com apenas três ligações, Mato Grosso com Rondônia e Acre, e Tucuruí com Manaus e Amapá já se reduziria em mais de 70% a CCC, que fi caria no máximo em R$ 800 mi-lhões ao ano, dando um real na conta de luz de cada consumidor. Já nas pequenas

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regiões é mais barato subsidiar do que fazer uma usina para atender 100 pessoas. Hoje, a gente opera e compra o diesel não porque queremos e sim por ser uma condição se-torial que é imposta a nós, porque a partir do momento em que houver e interligação, nós poderemos competir mais no mercado, vender energia por um preço mais baixo e ter muito menos prejuízo”.

Velhos tempos – Se hoje a situação é com-plexa nos sistemas termelétricos da Amazô-nia, no passado já foi pior, com os raciona-mentos que duravam até 12 horas diárias nas principais capitais, inclusive Belém. Eduardo Celso Carramaschi, superinten-dente de Engenharia de Opera-ção e Manutenção da Geração da Eletronorte, conta que já teve de se adaptar a um cotidiano onde energia não era tão farta: “Eu morei em Belém entre 1979 e 1980, quando os edifícios eram vendidos com geração própria e todos tinham um grupo gerador para a falta de luz”. Hoje, Belém já não precisa mais desses gera-dores. Aliás, nem 99% do resto das demais regiões do País. Por meio do SIN, as hidrelétricas são ligadas às áreas de consu-mo por linhas de transmissão, permitindo que a energia gera-da em Tucuruí seja recebida em Salvador, por exemplo.

Também dos velhos tempos são lembra-das histórias pitorescas, como desligamentos causados pelos animais que convivem entre a fl oresta e as cidades. João Valeriano conta uma: “Embora cercadas, as máquinas, alia-das ao ambiente quente e úmido, atraem al-guns animais, principalmente nas usinas que fi cam próximas à mata. Quando as máquinas paravam sem explicação, averiguávamos o que era e aparecia um gambá, e como se sabe gambá não entende de eletricidade, e ao tocar em dois fi os o circuito era fechado, desligando tudo. Muitos desligamentos eram provocados por gambás, cobras e outros ani-mais. Isso é bem típico da Região Norte”.

Comunidadeparticipa para diminuir aridez de uma termelétrica

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Edison Lobão, ministro de Minas e Energia

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Hoje, energia é pauta prioritária de fóruns de discussão da socioeconomia em todo o mundo. O Brasil e o modelo atual do Setor Elétrico estão no caminho certo? O atual aparato institucional, legal e de agen-

tes, não apenas do Setor Elétrico mas de todo o setor energético brasileiro, permite acompa-nhar e ordenar o atendimento das necessidades energéticas crescentes do País com a partici-pação da iniciativa privada. Isso se dá por meio dos leilões que vão garantir a infra-estrutura necessária à expansão da oferta de energia, buscando o equilíbrio, de modo transparente, entre a modicidade tarifária e a atratividade dos investimentos, inclusive para o longo prazo assegurado pelos contratos que seguem o lei-lão. Acredito que o atual arranjo institucional, equilibrado e claro, é a resposta madura que o desenvolvimento do Brasil tanto ansiava e os resultados são visíveis e incontestes.

O modelo atual do Setor Elétrico apóia-se nas leis nº 10.847 e nº 10.848, de 15 de março de 2004, e no Decreto nº 5.163, de 30 de julho de 2004. O novo arranjo institucional trouxe clareza ao setor energético. O governo retomou sua função indelegável de planejador. Para isso criou a Empresa de Pesquisa Energética – EPE, voltada à realização de estudos de planejamento para subsidiar o Poder Público em sua atuação estratégica; o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico – CMSE, mecanismo para avaliar permanentemente a segurança do suprimento de energia elétrica; e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE, organização para dar continuidade às atividades do Mercado Atacadista de Energia - MAE, relativas à comercialização de energia elétrica no sistema interligado.

Nesse contexto, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ressalta a instituição do Plano Decenal de Expansão de Energia, um dos principais instrumentos de planejamento energético, que apresenta um programa de obras de referência no horizonte decenal, atualizado anualmente e do Plano Nacional de Energia - PNE, com visão estratégica de até 30 anos,

complementados pelo planejamento e acompanhamento sistemático para ajustes de curto prazo, o que assegura satisfatório encaminhamento da oferta de energia no País.

Afora isso, foram instituídos dois ambientes para celebração de contratos de compra e venda de energia: o Ambiente de Contratação Regulada - ACR, e o Ambiente de Contratação Livre – ACL. O primeiro, destinado ao atendimento do consumidor comum, com garantia de contratação de 100% da demanda com antecedência de três a cinco anos, conta com a participação de agentes de geração e de distribuição de energia elétrica. Do segundo participam agentes de geração e comercialização, importadores e exportadores de energia, além de consumidores de grande porte.

“É fato que o arranjo institucional da indústria de energia, não só aqui, mas em todo o mundo, tem suscitado discussões e análises das mais diversas orientações e matizes. Após percalços e sucessos decantou-se o arranjo que, acreditamos, melhor se adequa a um país de porte continental como o Brasil”, afi rma o Ministro. Confi ra a íntegra da entrevista:

A matriz energética brasileira é fundamentada na hidreletricidade, mas a intenção é diversifi car cada vez mais as fontes de geração. O Brasil deve continuar explorando seu potencial hidrelétrico ou vai investir maciçamente em fontes alternativas, como a eólica e a solar?Essa é o tipo de questão que o PNE se pro-

põe a responder. Sempre que nos debruça-mos sobre a matriz energética brasileira, em que pese o porte do País, chamam a atenção não só a participação da energia renovável (45.1% em 2006), mas também a diversida-de de fontes de energia e recursos. A matriz de energia elétrica, considerando-se a natu-reza das importações, alcança impressionan-tes 89% de participação renovável e igual diversidade. Poucos países possuem tantas possibilidades para a oferta de energia. Dis-pomos de um potencial hidrelétrico imenso,

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bem como possibilidades invejáveis para ge-ração elétrica a partir de várias outras fontes de energia tradicionais, como gás, energia nuclear e carvão, assim como as ditas ener-gias alternativas. Em decorrência da enorme vantagem comparativa da hidreletricidade, tanto em termos de custos quanto de ou-

tras externalidades, em relação a outras fontes de energia ditas tradicio-nais, a geração elétrica a partir da energia eólica e da solar serão, por hora, complementares à ge-ração hidráulica, nuclear e de carvão mineral, por exemplo. No Brasil, a ge -ração hidráulica ain da é a que proporciona meno-res tarifas ao consumidor e, portanto, tem prio-ridade nos estudos de expansão. Observe que o potencial hidrelétrico remanescente não apro-veitado no Brasil situa-se em torno de 173 GW segundo o PNE 2030, o que signifi ca mais de duas vezes a capacidade instalada atual.

Em relação aos sistemas de transmissão, o Brasil tem um modelo ímpar no mundo, que é o Sistema Interligado Nacional - SIN. Fale sobre a importância da interligação dos sistemas isolados Acre-Rondônia-Mato Grosso e Tucuruí-Macapá-Manaus. O SIN é singular porque com as inter-

ligações regionais que aproveitam a diver-sidade hidrológica entre as regiões, conse-gue-se um expressivo ganho energético da ordem de 6.900 MW médios, isto é, cer-ca de 13,7% de toda a energia produzida pelo sistema interligado, permitindo que a energia gerada seja importada e exporta-da entre as regiões brasileiras, de acordo com as condições e necessidades de cada região. Os sistemas isolados são supridos por energia elétrica cuja base de geração é fundamentalmente térmica, subsidiada pela Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis - CCC. Com as novas interligações dos estados de Rondônia e Acre ao siste-ma Sudeste/Centro-Oeste e dos estados do Amazonas e Amapá por meio da interliga-

ção Tucuruí-Macapá- Manaus, o Brasil con-tará com todos seus estados conectados ao SIN, exceto – ainda - o Estado de Roraima. Nesse cenário, haverá uma redução signifi -cativa na CCC da ordem de 80%.

A situação dos sistemas isolados é preocupante do ponto de vista operacional e econômico. A federalização das concessionárias e geradoras da Região Norte vai levar a uma solução? A CCC vai continuar existindo depois da interligação? A Conta de Consumo de Combustíveis

Fósseis dos Sistemas Isolados CCC-ISOL é o encargo do Setor Elétrico brasileiro, cobra-do nas tarifas de uso dos sistemas elétricos de distribuição e transmissão dos consu-midores de energia elétrica, para cobrir os custos anuais da geração termelétrica, pro-duzida nos sistemas isolados do Norte do Brasil. Exceto as empresas CEA, do Amapá, e CER, de Roraima, as demais estatais que atuam na região, nos estados do Acre, Ron-dônia, Amazonas e Boa Vista já são federais. A Eletrobrás aportou muitos recursos a es-sas empresas com pouco êxito, e o que se busca agora é rever a forma de gerir essas empresas para melhorar seu desempenho. Algumas concessionárias acabam arcando com certas difi culdades, por atender grande número de localidades remotas e de difícil acesso no imenso território da Amazônia. Essas condicionantes são importantes para o desempenho técnico e fi nanceiro das em-presas empenhadas no enfrentamento des-ses problemas. A interligação com o SIN vai diminuir signifi cativamente o uso da CCC nos sistemas isolados. Contudo, algumas locali-dades continuarão isoladas, demandando recursos da CCC-ISOL.

Que outras soluções podem ser dadas para resolver a insolvência das concessionárias estaduais e o prejuízo que esse sistema causa aos cofres da Eletronorte?Em valores correntes, estima-se uma eco-

nomia da ordem de R$ 1 bilhão com a interli-gação do Sistema Acre-Rondônia e da ordem de R$ 2,5 bilhões, com a interligação dos sistemas do Amapá e de Manaus, pela linha Tucuruí-Macapá-Manaus, embora boa parte desses recursos continuará a ser arrecada-da para cobrir os custos da sub-rogação dos projetos que ajudaram a reduzir a CCC quan-

“Dispomos de um potencial hidrelétrico imenso, bem como possibilidades invejáveis para geração elétrica a partir de várias outras fontes de energia tradicionais, como gás, energia nuclear e carvão, assim como as ditas energias alternativas”.

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do o sistema era isolado, conforme previsto em lei. Além disso, encontra-se em estudo a elaboração de regras para integração dos sistemas isolados ao SIN, em que o princípio do respeito aos contratos para produção de energia existentes nas localidades que forem interligadas deverá ser preservado, devendo essas apenas se ajustarem para operar de acordo com as regras do SIN e com menores gastos de combustível. A situação fi nanceira das empresas é ditada não só pelo equilíbrio entre receita e despesas, mas também pela efi ciência da gestão empresarial, com des-taque para a melhoria na arrecadação das contas de energia faturada, pela redução das perdas técnicas e dos furtos de energia. As perdas de energia, de origem elétrica ou co-mercial, que comprometem grande parte da receita, precisam de cuidados redobrados para alcançar valores razoáveis. As despesas também necessitam ser controladas com to-das as ferramentas disponíveis, otimizando tudo o que estiver ao alcance da administra-ção. O custo da energia comprada ou produ-zida pela própria empresa, com exceção da questão dos altos custos provocados pelos combustíveis fósseis, merece atenção no que se refere ao parque térmico gerador existen-te, com vistas à sua modernização, em espe-cial para as localidades que permanecerão isoladas por tempo ainda indefi nido.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, sem vetos, a Lei 11.651, decorrente da Medida Provisória 396, que amplia a área de atuação da Eletrobrás, permitindo à empresa participações majoritárias em empreendimentos, maior fl exibilização nos negócios e a atuação no exterior. Esse ato vai proporcionar maior competitividade ou o Estado volta a ser grande investidor, com capacidade de infl uenciar os resultados dos leilões? A nova lei fortaleceu o Grupo Eletrobrás e

a sua atuação, muito à imagem do sucesso da Petrobrás. O que a impulsionou foi a pos-sibilidade de fortalecer o laço com o capital privado e a construção do convívio empresa-rial mais produtivo no Setor Elétrico brasilei-ro, bem como realizar novos projetos, tanto nacionais como internacionais. A parceria com o capital empreendedor e a enverga-dura da Eletrobrás possibilitarão concretizar projetos antes considerados impossíveis, pois os custos de oportunidade e de organização

eram muito altos para o capital privado. Com isso, projetos importantes e lucrativos, alguns transnacionais, que benefi ciariam comunida-des e integrariam o continente, redesenhan-do a geopolítica regional, não eram execu-tados. Não se tratando, tampouco, de uma volta do Estado como gran-de investidor do setor. A Eletrobrás será um novo player na região, assim como a Petrobrás e muitos outros players no mundo. Reger-se-á pelo conceito de parce-ria com o capital privado. Embora a Lei permita que haja uma participa-ção da estatal e de suas subsidiárias nos empre-endimentos energéticos majoritariamente ou até de 100% (anteriormen-te limitada a 49%), isso só ocorrerá, na ausência de propostas dos empre-sários, ou seja, quando se tratar de um projeto estratégico. Nesse caso, a Eletrobrás poderá as-sumi-lo sem limitações, respeitando, claro, o in-teresse dos acionistas. Com isso, a atuação da Eletrobrás será no domí-nio econômico. Portanto, não há que se falar de infl uência de preços ou de competição predatória. Há conselhos de administração, legislação constituída e controles administra-tivos e externos que trazem transparência aos processos de governança de uma empresa do porte da Eletrobrás.

Como será a nova Eletrobrás após a edição da Lei? Quais outros empreendimentos de vulto estão previstos para os próximos anos?As possibilidades são muito boas. O espí-

rito da Lei é dar dinamismo e envergadura à atuação da Eletrobrás. Dessa combina-ção surgirá uma empresa com presença e capacidade empresarial para levar adiante vários projetos, em conjunto com a iniciati-va privada. O novo quadro legal de atuação, por exemplo, facilitará a obtenção de fi nan-ciamento junto aos bancos em modelos de

“A situação fi nanceira das

empresas é ditada não só pelo

equilíbrio entre receita e

despesas, mas também pela

efi ciência da gestão empresarial, com

destaque para a melhoria na arrecadação

das contas de energia faturada,

pela redução das perdas

técnicas e dos furtos de energia”

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project fi nance antes vetado às empresas estatais, que, por exemplo, atualmente parti-cipam de consórcios para o investimento no complexo do Madeira junto a empresas pri-vadas, minoritariamente. No plano interna-cional há boas oportunidades na Argentina, como Garabi e Corpus, e na Bolívia, com empreendimentos como Cachuela Esperan-za, no Rio Beni, e a binacional Guajará-Mi-rim, na fronteira com o Brasil, no Rio Ma-moré, que se junta com o Rio Beni e forma o Rio Madeira. Imagino que se pode apenas intuir o imediato, mas as possibilidades futu-ras são imensas.

O Setor Elétrico é um dos que mais investem em pesquisa e desenvolvimento. Como o senhor pretende incentivar projetos de P&D e fazer que eles sirvam para alavancar o desenvolvimento do País?O Setor Elétrico sempre investiu muito,

principalmente após entrar em vigor a Lei nº 9.991/2000, pela qual as concessionárias e

permissionárias de servi-ços públicos de distribui-ção de energia elétrica fi -cam obrigadas a aplicar, anualmente, o montante de, no mínimo, setenta e cinco centésimos por cento de sua receita operacional líquida em pesquisa e desenvol-vimento e, no mínimo, vinte e cinco centésimos por cento em programas de efi ciência energética no uso fi nal. Existem os fundos setoriais, entre eles um voltado à ener-gia, o CT-Energ, gerido pelo Ministério de Ciên-cia e Tecnologia. É um fundo destinado a fi nan-ciar programas e projetos na área de energia, com especial ênfase em efi ci-ência energética no uso fi nal, bem como fontes alternativas. Juntamente

com os mecanismos de incentivo à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) adotado pela Ane-el nos contratos de concessão, amplia sua abrangência setorial. No caso, as empresas concessionárias de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica repassam ao

fundo um percentual variável de 0,75% a 1% da receita operacional líquida. Os investimen-tos anuais das empresas do Setor Elétrico são da ordem de R$ 150 milhões em P&D (investimento direto pelas concessionárias) e pouco mais de R$ 300 milhões em efi ciência energética (investimento direto pelas conces-sionárias).

Avanços também têm sido alcançados na área de meio ambiente e responsabilidade social. O que fazer para demonstrar ao mundo e aos brasileiros que hidrelétricas e sistemas de transmissão podem ser feitos em consonância com a preservação da natureza e com o desenvolvimento sustentável? É inequívoco que toda interferência do

homem no ambiente pode resultar em da-nos, além dos benefícios que se pode pre-tender. Os empreendimentos hidrelétricos não são exceção, embora entendamos que, nesse caso, o saldo é amplamente positivo. O Setor Elétrico tem-se comportado com res-ponsabilidade diante das questões ambien-tais. Prima pelo planejamento e investe em pesquisa. A legislação ambiental brasileira é bem completa e abrangente e, em resposta, o MME mantém ações permanentes de ava-liação das diretrizes ambientais para o se-tor, com adoção de metodologias cada vez mais adequadas e próximas à realidade das nossas atividades. Soma-se a esse esforço o bom relacionamento com os diversos seg-mentos sociais e a transversalidade no Go-verno Federal. Por exemplo: muito freqüen-temente destaca-se como maior impacto ao meio ambiente a interrupção da migração de peixe e o deslocamento de populações ribeirinhas para formação do lago. Para li-dar com esses problemas, existem diversos procedimentos adotados pelo Setor Elétrico visando a minimizar e compensar tais inter-ferências.

A demora na expedição das licenças ambientais ainda atrapalha o planejamento do Setor Elétrico?O MME vem atuando fortemente para

estabelecer, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente, políticas e medidas de compatibilização das atividades de geração e preservação do ambiente a fi m de se promo-ver o desenvolvimento sustentável. Assim, internalizamos o conceito de usos múltiplos

“A legislação ambiental brasileira é bem completa e abrangente e, em resposta, o MME mantém ações permanentes de avaliação das diretrizes ambientais para o setor, com adoção de metodologias cada vez mais adequadas e próximas à realidade das nossas atividades”

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no que concerne ao compartilhamento dos recursos hídricos, aprimoramos os meca-nismos de regulação e a integração das po-líticas governamentais. Isso signifi ca que o tratamento ambiental ganhou em detalhe e atenção. Também é verdade que, em razão da atenção ambiental que a sociedade hoje acalenta, muitos empreendimentos sofreram com atrasos. No período de 2003 a 2006 fo-ram concedidas, no âmbito do licenciamento ambiental federal, 17 licenças ambientais para novas usinas hidrelétricas, totalizando um incremento na matriz energética da or-dem de 1.940 MW, referentes às usinas que entraram em operação nesse período. Em 2007 somente duas licenças foram emitidas para usinas hidrelétricas pelo órgão federal de licenciamento ambiental, referentes ao complexo do Madeira e à Simplício. Consi-derando as metas de crescimento econômi-co e a necessidade de incremento da matriz energética da ordem de 4.800 MW/ano, em média, há algo a ser feito para compatibilizar esses cronogramas. Um exemplo interessan-te é o estudo realizado pelo Banco Mundial, segundo o qual a emissão de uma licença prévia tem levado em média 1.188 dias, en-quanto a norma legal preconiza que se faça isso em até um ano. É claro que isso decorre tanto da complexidade da matéria, quanto da insufi ciência de recursos, bem como do aparato legal correspondente, que perma-nece complexo e envolve diversos atores e instâncias.

Na área de petróleo, fale sobre as descobertas de novos campos petrolíferos pela Petrobras.Em novembro de 2007 a Petrobras anun-

ciou ao Conselho Nacional de Política Ener-gética - CNPE a existência de uma nova e signifi cativa província petrolífera no Brasil, com grandes volumes recuperáveis estima-dos de óleo e gás natural, denominada de pré-sal. A análise e a interpretação dos dados obtidos nos poços perfurados pela Petrobras naquela área, integradas a um trabalho de mapeamento com base em dados geofísicos e geológicos, permitiram à empresa situar essa área entre os estados de Santa Catarina e Espírito Santo, nas bacias do Espírito Santo, de Campos e de Santos. A área delimitada possui cerca de 800 quilômetros de extensão e até 200 quilômetros de largura, em lâmina d’água que varia entre 1,5 mil e três mil me-tros de profundidade. Os testes indicaram a

existência de grandes volumes de óleo leve de alto valor comercial (30º API), com grande quantidade de gás natural associado. Nessa província, desde então, foram anunciadas as descobertas de Tupi, com reservas estimadas de cinco a oito bilhões de barris de petróleo, e as de Júpiter. Essas descobertas denotam um potencial imenso para a área do pré-sal e colocam o País sob nova perspectiva em termos de reservas de petróleo e gás natural, podendo situá-lo entre as dez maiores reser-vas mundiais.

E a área de minas, como o governo pode incentivar a exploração de minérios e fortalecer o setor?O Brasil é um País privilegiado em recur-

sos minerais. A última consolidação de inves-timentos em mineração no Brasil aponta para US$ 32 bilhões nos próximos cinco anos, com o protagonismo do seg-mento de minério de fer-ro, responsável por cerca da metade desses inves-timentos. Os estados de Minas Gerais e Pará são os líderes nacionais em produção mineral e em investimentos. O Brasil se destaca em minera-ção por sua posição no ranking de produção mundial, merecendo citação: ferro (1º), nió-bio (1º), manganês (1º), bauxita (2º), grafi ta (3º), rochas ornamentais (4º), amianto (4º), magnesita (4º) e caulim (5º). Nos próximos anos, com os investimentos em curso, o País será também importante produtor de níquel e cobre. Gos-taria de destacar um importante segmento da mineração brasileira que muitas vezes é rele-gado ao esquecimento. Refi ro-me à pequena mineração, que não pode ser colocada em se-gundo plano. Esse segmento representa mais de 70% do número de empresas de minera-ção do País, 25% da mão-de-obra contratada (considerando a informalidade, alcança 40% dos trabalhadores do setor) e predomina na produção de argila para fabricação de tijolos e telhas, areia e brita para a construção ci-vil, ardósia, calcário, gemas, gipsita, granito, diamante, feldspato, mica, quartzito e outros bens minerais.

“Considerando as metas de crescimento

econômico e a necessidade de incremento da

matriz energética da ordem de 4.800 MW/ano, em média,

há algo a ser feito para compatibilizar

esses cronogramas”

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Márcia Oliveira

Aos 64 anos, a cidade já viveu da extra-ção do ouro, da borracha, da pecuária e da madeira. Teve certa riqueza em dois momen-tos pontuais que surgiram como promessas de um futuro próspero. Mas, as experiên-cias foram antagônicas. Assim como trou-xeram dinheiro fácil e em abundância, lega-ram traumas e a deixaram, por duas vezes, às portas da agonia. Hoje, ainda na fase de crescimento, Aripuanã, que fi ca a 1.095 qui-lômetros de Cuiabá, capital de Mato Grosso, e é acessada de forma mais rápida por um vôo de três horas, tem um novo alento, um sopro de vida para ganhar forças e recuperar a esperança de crescer. Porém, dessa vez de forma sustentável. A novidade chegou com a construção do Aproveitamento Hidrelétrico Dardanelos, coordenado pela empresa Ener-gética Águas da Pedra, da qual a Eletronorte faz parte.

Dardanelos é oriunda do Leilão nº 004/2006 , realizado pela Aneel em 10 de outubro de 2006, de cujo consórcio a Eletronorte partici-pa com 24,5%. A Neo Energia tem 51% de participação e a Chesf outros 24,5%.

As obras começaram em setembro de 2007 e estão em fase adiantada, com pre-visão de início de geração para janeiro de 2010, um ano antes do previsto. A receita estimada do empreendimento é da ordem de R$ 240 milhões por ano. “As escavações co-muns e em rocha do canal de adução, da to-mada d’água, dos condutos forçados da casa de força e do canal de fuga estão bastante adiantadas, algumas dessas estruturas já se encontram praticamente na cota fi nal de es-

Dardanelos: um sopro de esperançanas cachoeiras de Aripuanã

cavação”, afi rma o gerente de Planejamento e Engenharia de Mato Grosso, Hélio Monti..

A previsão é que até o início de 2011 toda a potência de 261 MW seja transmitida pelo Sistema Interligado Nacional - SIN. “Darda-nelos tem sido muito estimulante para a Ele-tronorte porque trouxe à Empresa, depois de muitos anos, o desafi o de iniciar e concluir a construção de uma importante hidrelétrica. A Empresa segue fi rme com o objetivo de ga-nhar novos leilões de usinas e linhas, rumo a um futuro promissor, garantindo sua con-tribuição para o crescimento sustentável do País”, adianta Hélio.

Tecnologia – Dardanelos será uma usina a

“fi o d’água”, o que elimina a necessidade de se construir um reservatório e, conseqüente-

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mente, prejudicar as cachoeiras do Rio Ari-puanã. A partir da entrada em operação da primeira turbina, a cada três meses entrará em operação uma nova unidade geradora até completar o cronograma de funcionamento, que contempla quatro grupos de 58 MW e um de 29 MW totalizando a produção de 261 MW. Essa produção será direcionada para o SIN. O traçado do linhão irá acompanhar grande parte das margens das rodovias MT 420 e 208. A linha terá tensão nominal de operação de 230 kV, podendo ter seu cabo pára-raios utilizado nas telecomunicações em geral, viabilizando projetos empresariais, o aumento da oferta de emprego e a melhoria da qualidade de vida da população.

Desde o início das obras, o comércio da ci-dade de Aripuanã, que estava paralisado e em

crise com o fechamento de madeireiras ilegais e a perda de metade dos 30 mil habitantes, volta a dar sinais de ânimo. O aceno simples e concreto da investida positiva do empreen-dimento na cidade pode ser notado, segundo a presidente da Associação Comercial de Ari-puanã, Seloir Peixes Reghin, no número de reformas e construções feitas nos últimos cin-co meses. Foram ao menos vinte. São hotéis, restaurantes, supermercados e lojas de pres-tação de serviços, que melhoram a fachada, ampliam as instalações e redobram cuidados para atender à demanda da empresa e dos cerca de 800 trabalhadores que aportaram na cidade para construir a hidrelétrica.

“O comércio estava em agonia desde a Operação Curupira, da Polícia Federal, que fechou várias madeireiras ilegais. Essas em-

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presas, mesmo irregulares, empregavam e fa-ziam o dinheiro circular. Sem elas, entramos novamente numa fase de estagnação que está sendo alterada com a vinda da obra”, afi rma a comerciante que tem uma vídeolo-cadora, uma fl oricultura e uma loja de pre-sentes. Nas próprias lojas, Seloir afi rma que as vendas subiram 16% desde que os traba-lhos começaram. “Mesmo não tendo todos os produtos, as vendas aumentaram. E com os pedidos de alguns que são mais exigentes, também estou diversifi cando e melhorando a oferta. A cidade com certeza mudou para melhor”, avalia.

A secretária de Educação do município, Gladis Fabris, lembra que as expectativas da população com a presença do empreen-dimento são as melhores, pois, ela já teria passado por “altos e baixos”. “Quando eu vim para cá, como professora, na década de 1970, a principal atividade era o garimpo. Fa-ziam-se compras de mercadoria com pepitas, para se ter uma idéia. Paralelo a isso tinha a atividade de extração de borracha, que nun-ca foi forte. No início dos anos 80, à medida que o ouro se acabava, a cidade também se defi nhava. Mas a migração de sulistas que passaram a explorar a madeira em paralelo com a pecuária, trouxe uma nova esperança. Com a extração de madeira a cidade voltou a crescer, porém o crescimento foi pautado em estruturas frágeis, mas agora estamos nova-mente esperançosos”.

Gladis conta que para a Educação a contri-buição da Energética Águas da Pedra foi uma parceria que garantiu o treinamento de 660 professores em técnicas pedagógicas, com um grupo de educadores do Rio de Janeiro. O mesmo treinamento será estendido tam-bém para os professores da zona rural.

Arrecadação - Fora as alterações visíveis na cidade, José Piccolli Neto, diretor-presi-dente da Águas da Pedra (foto abaixo), lem-bra que a partir do momento em que a usina começar a produzir energia, o município terá um acréscimo de 20% a 25% na sua atual arrecadação anual, hoje em R$ 17 milhões. “Isso apenas com o pagamento do ISS e das compensações pela área alagada (royalties). Mas com a fi nalização da obra, a cidade e a região fi carão mais atrati-vas para os investidores. Temos informações que a empresa Votorantin pretende se instalar aqui para explorar uma jazida de zinco. A produção de energia na região atuará como um chamariz para empreendimentos. Com isso, o local precisará melhorar sua infra-es-trutura de estradas para escoar produtos, e de hotelaria para atender ao turismo, entre outras atividades. A econo-mia como um todo será fomentada”, avalia Piccolli.

O prefeito de Aripuanã, Ednilson Luiz Fait-ta (PP), afi rma que a obra é vista como um trampolim para o desenvolvimento e que após o funcionamento das máquinas, a cidade terá

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maior capacidade administrativa para investi-mentos. “Penso que o município poderá ser um pólo de desenvolvimento da região, prin-cipalmente se a Votorantin decidir se instalar aqui. Atualmente a empresa faz um estudo

de viabilidade econômica para a atividade e caso o negócio seja concretiza-do, teremos vários outros impulsos”.

Atualmente, com apo-io da Águas da Pedra, o município trabalha o Pla-no Diretor da cidade. É no documento que fi ca-rão estabelecidas as leis, regras e normas le gais para o uso e ocupação

do solo, para o cuidado com o meio ambien-te, a coleta de lixo, entre outros, de forma a permitir a expansão planejada do município. O Prefeito (foto acima) afi rma ter consciência que a cidade contará com o auxílio concreto do comércio durante a construção da usina, e, depois, maior capacidade econômica com o aumento da receita, mas que para se desen-volver de verdade, terá que fazer o dever de casa. Nele estão incluídas a urbanização do município, a criação do Parque das Cachoeiras das Andorinhas, a pavimentação do aeroporto e a melhoria de infra-estrutura turística.

Meio ambiente - O Presidente da Águas da Pedra lembra que 60% da mão-de-obra que atua no empreendimento é local e que haverá trabalho por dois anos e meio. Ao fi nal, estará capacitada para atuar em trabalhos similares e na construção civil. Além disso, a empresa já desenvolve ou dá corpo a 31 programas, descritos no Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima), nas áreas socioambiental e de saúde. Entre eles está o Programa de Con-servação da Flora, que consiste na coleta de sementes de árvores e plantas nativas para a criação de mudas. Com essa atividade, até o fi nal de 2007 dez mil mudas foram criadas e atualmente são doadas para instituições que têm interesse no plantio. Há também o Programa de Monitoramento da Ictiofauna, que estuda as espécies e o ciclo de vida dos peixes nativos; o Programa de Monitoramento da Avifauna, que monitora as atividades dos andorinhões que habitam as quedas d’água e das aves da fl oresta; e o Programa de Mo-nitoramento de Herpetofauna, que estuda os anfíbios.

Todos os programas têm a intenção de evi-tar a morte ou qualquer atividade que preju-dique a vida e a reprodução da fauna e da fl ora locais. “Desde que chegamos apoiamos várias ações do município nas áreas de saú-de e meio ambiente, e mesmo ações sociais fi lantrópicas, como a da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionaisb - Apae, instituição para a qual doamos um furgão para auxiliar no transporte dos alunos. Até então, 20 crian-ças eram atendidas, depois, o serviço foi am-pliado para 60 e a população local também se sensibilizou e passou a apoiar o trabalho da Apae”, relata.

Piccolli lembra que até a estrutura do Ban-co do Brasil, que tinha o piso de chão batido,

Ritmo das obras

impressiona

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melhorou após a chegada da Águas da Pe-dra. E que na cidade, a pista de pouso que também é de chão e cascalho, já tem possi-bilidade de receber asfaltamento.

Mudança de vida - Para a trabalhadora Claudete de Fátima Leal da Silva, a chegada da empreiteira em Aripuanã teve efeito ime-diato para a sua sobrevivência. Separada do marido e desempregada há três meses, desde que a madeireira em que trabalhou por 12 anos foi fechada, ela foi uma das primeiras a chegar no canteiro de obras, logo que conseguiu uma vaga de zeladora. O novo emprego foi decisivo para os rumos que sua vida iria tomar, pois caso não tives-se sido contratada para trabalhar na cons-trução de Dardanelos, a saída para conti-nuar sustentando seus dois fi lhos e a mãe, seria seguir o caminho de vários de seus colegas e abandonar a cidade em busca de sustento. “Eu já pensava na possibilidade de deixar a cidade e morar em outro lugar. Aqui o comércio tinha parado, as pessoas estavam sem esperança e minha última tentativa foi procurar emprego nos hotéis. Tive tanta sorte no dia que fui, um trabalha-

dor da obra que fazia contratações estava lá e pedi uma vaga, ele aceitou e graças a Deus pude fi car”.

Claudete trabalhou por três meses como zeladora e quando os outros 800 trabalhado-res que atuariam direto na obra chegaram, foi promovida a líder da equipe das 50 mulheres que fariam os serviços gerais. “No começo foi difícil, a maioria é de homens e eu, como a maioria das pessoas, nunca tinha trabalhado num canteiro de obras. Mas recebemos ca-pacitação, treinamento para entender melhor de relacionamento humano e hoje me sinto uma pessoa iluminada. Tive a oportunidade e a segurei”, reconhece.

A trabalhadora, assim como seus colegas, sabe que o trabalho atual terá duração defi -nida de dois anos e meio, se corresponderem às expectativas da empresa. E se diz prepa-rada para encarar novos desafi os quando a obra terminar. “Sabemos que esse trabalho não é para sempre e acreditamos que a cida-de voltará a crescer. As coisas já começaram a mudar. Muita gente que deixou a cidade em função da crise das madeireiras já retorna e também acredita que teremos um novo im-pulso de crescimento”, avalia.

Aripuanã passa por mais uma transformação

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Construção do amanhãUm ciclo de crescimento está marcando o ano de

2008 em Mato Grosso, com várias ampliações do sistema elétrico sob a responsabilidade da Eletronorte, com destaque para a subestação Barra do Peixe. Várias são as frentes de trabalho, e o sol, a chuva, o frio e o calor intenso não incomodam tanto. “Há quem afi rme que já se acostumou às intempéries, mas o clima goiano de Ribeirãozinho requer superação, pois de dia é quente e à noite bate um ventinho gelado”, relata José Evaldo Costa da Silva, operador da sub-estação. Na verdade o Rio Araguaia contribui para a brisa noturna trazer novos ventos.

A obra – Está sendo implantado um arranjo de-fi nitivo da instalação com duas barras, disjuntor de interligação de barras, seccionamento da linha Rio Verde/Rondonópolis, circuito II, passando a ser a Rio Verde/Barra do Peixe, circuito I com banco de capaci-tor série no terminal de Barra do Peixe e a linha Barra do Peixe/Rondonópolis, circuito I, com banco de ca-pacitor série também no terminal de Barra do Peixe. A linha Barra do Peixe/Rondonópolis, circuito I passará a ser a Barra do Peixe, circuito II e com banco de capacitor série no terminal de Barra do Peixe. Para proporcionar essa ampliação foram instaladas duas salas de relés com sistemas de proteções digitaliza-dos. Difícil de entender? Leia novamente, releia. Na verdade o importante é saber que a subestação Barra do Peixe está sendo ampliada e essa ampliação pos-sibilitará maior confi abilidade na transmissão de en-ergia elétrica.

Os operadores – Eles são categóricos: “Não é fácil não, tanta gente trabalhando ao mesmo tempo e nós operando a pleno vapor”. O recorde estimado foi de 200 pessoas no pátio da subestação. Um detalhe: com a subestação energizada. Para quem está acos-tumado ao dia-a-dia pacato de Ribeirãozinho, é movi-mento garantido. O emocional às vezes fi ca à fl or da pele, mas eles sabem contar até dez, respirar fundo e realizar todas as atividades com precisão. “Vem muita gente animada para cá, trabalha o tempo todo bem-humorada, elevando o astral da turma, mas sem perder de vista o comprometimento e as metas a ser-em cumpridas. Uns contam piadas, outros cantam... será que dá para adivinhar quem são, pois a gente conta a estória, mas não conta o santo?”, brinca um colaborador anônimo.

A segurança – Promover a segurança é dever de

todos e esta é uma tarefa que os operadores estão sempre ligados. Olhar atento, procurando e procu-rando para nenhuma condição insegura existir. Não

são super- homens, mas a visão tem que ser de raio X. “Temos que nos superar para ‘cuidar’ de tantas vi-das expostas a riscos”, diz Wesley Oliveira Berigo, que completa: “O bom é que o trabalho está sendo realiza-do em equipe e todos têm um espírito de integração”.

A cidade – Localizada quase na divisa de Mato Grosso com Goiás, Ribeirãozinho, distante 595 km de Cuiabá, tem 2.096 habitantes, um hospital – in-stalações cedidas pela Eletronorte após a implanta-ção da subestação em 1993 -, o Rio Araguaia, que é lindo de se ver pela paz que transmite, é opção certa de lazer. As cachoeiras são um caso à parte “O trança-trança de homem é diferente, carro da Elet-ronorte para cá, carro da Eletronorte para lá. Toda vez que tem obra a cidade se transforma. Há quem ache muito bom”, avalia Fernando da Silva Monteiro, morador da cidade. “Nosso hotel agora é concorrido, tem até lista de espera, o que é renda certa no fi nal do mês. O investimento para o futuro tem que ser feito agora”, afi rma Jean da Silva Matos, do Thenda’s Hotel. Nos restaurantes, na pizzaria da Dona Catulé, nas lanchonetes, nas padarias, o empregado da Elet-ronorte, ou quem trabalha como terceiro para a Em-presa, é o rei. O restaurante campeão de bilheteria no horário do almoço é o do Seu Alfredo, na rodoviária, pode acreditar! Mas também tem o Thenda´s Hotel, mais conhecido como da Lilinha; nos outros, só por encomenda. No Seu Alfredo, a melhor pedida é o co-mercial, fartura e bom preço. Um cuidado é impre-scindível: à noite tem um bichinho, tipo besourinho, que pode te molhar, o pior é que queima. Nada de fi car ao relento e muito menos apertá-lo. Dica de quem sempre vai para lá.

O comissionamento - A hora é de se concentrar em pensamentos positivos e a torcida silenciosa é para que tudo que foi checado e testado, por dias ou até meses, se mostre perfeito na prática. Descrito como o momento mais crítico e tenso do trabalho, a

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energização dos equipamentos de uma subestação é também a hora de verifi car se o comissionamento, o teste fi nal de qualidade, cumpriu seu propósito. É exatamente nessa fase que trabalham pelo me-nos 25 técnicos e engenheiros no pátio da subesta-ção Barra do Peixe, no município de Ribeirãozinho. Depois de obras de engenharia, montagem de eq-uipamentos, planejamento e várias reuniões, o mo-mento é do ajuste fi nal, de fazer o trabalho que exige atenção, cuidado, capacidade técnica e precisão. E muita precisão, pois uma falha não identifi cada, de-ixada para trás ou ignorada, pode causar explosões, acidentes ou simplesmente, muita frustração: os eq-uipamentos podem não funcionar!

A hora da verdade - Mas, mesmo diante de toda a

minúcia, das horas diárias de trabalho, da distância da família, os técnicos e responsáveis pelo comiss-ionamento em Barra do Peixe afi rmam que o trab-alho é prazeroso. “É neste momento, eu sempre digo para a minha equipe, que é hora de aprender. Pois no comissionamento temos tempo de checar, testar, conversar com o fabricante, tirar dúvidas. É um tra-balho gostoso quando feito de forma planejada e organizada”, afi rma o coor-denador da equipe de eletromecânica, o técnico José Gonçalves da Costa. Ele lembra que a tensão da energização se justifi ca muitas vezes pelo tempo dedi-cado a um equipamento e por aquela ser ‘a hora da verdade’. “Com uma equipe de até três pessoas, às vezes levamos 15 dias para comissionar um transformador, o principal equipamen-to de uma subestação. Ele é o que nos toma mais tempo. São vários itens para checar, verifi car. E só sabemos com certeza se está tudo bem, ao energi-zarmos o equipamento”. Desde que começaram os comissionamentos, os técnicos e responsáveis pelo trabalho já energizaram cinco etapas, ou seja, já concluíram defi nitivamente a maior parte do trabalho. Agora faltam duas, das quais a fi nal está prevista para ser concluída neste mês de abril.

A equipe - Além da equipe de ele-tromecânica, num comissionamento atuam a de linha, que é responsável por testar a prontidão e efi cácia das estruturas de barramentos aéreos, as estruturas metálicas e ao fi nal, energi-zar. E também, a equipe de sistema de proteção, automação, comando e con-trole (SPCS), que testa as estruturas as

quais permitem o comando e o controle da subesta-ção, do local e a distância, e como diz o nome da equipe, também checa todo o sistema de proteção. “O trabalho é muito puxado e corrido. A localidade é de difícil acesso e para transportar as peças e mes-mo o pessoal demanda um pouco de trabalho. Mas, já energizamos um vão, ao todo são cinco”, conta o coordenador da equipe de SPCS, Marcos Roberto Nonato. A equipe de linha é a penúltima e também a última a entrar na subestação. Depois de comis-sionar as estruturas de barramento aéreo e a das torres, ela volta após a equipe do SPCS terminou o seu trabalho, para fi nalmente, energizar. “Cabe a nós fazer o fecho do trabalho. Ligamos um cabo a outro com as mãos, ligando a estrutura antiga à nova, sem desligar o abastecimento de energia. E quando tudo isso dá certo, vemos no rosto de cada um o sorriso de missão cumprida. É uma responsabilidade muito grande, logo, quando tudo dá certo, vem o alívio”, re-lata o coordenador da equipe de linha, Wilson da Silva Malheiro.

(Colaborou Cristina Souto Melo, da Regional de Transmissão de Mato Grosso)

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ADA Eletronorte é parceira em projeto

que viabiliza inclusão digital no ParáInfra-estrutura da Empresa vai facilitar as ações do governo estadual e ajudar no comércio de excedentes em telecomunicaçõesJéssica Souza

Uma das etapas do projeto Navega Pará, desenvolvido pelo governo do estado em par-ceria com a Eletronorte, terá uma de suas fases inaugurada neste mês de abril, em Marituba, que está entre as cidades a serem benefi ciadas pelo Programa Digital Paraense. A ação marca a interiorização e o início concreto das ativida-des previstas pelo projeto de inclusão digital, o qual não teria grandiosidade e viabilidade não fosse a infra-estrutura disponibilizada pela Ele-tronorte. Os trabalhos iniciaram-se em 2007 e estão em fase acelerada de instalação.

O projeto de parceria começou a partir da proposta feita pelo diretor de Produção e Comercialização da Eletronorte, Wady Cha-rone, ao governo paraense na perspectiva de se aproveitar melhor o potencial óptico da Empresa a partir da instalação de um supersistema digital com densa capacidade de transmissão de luz e ondas: o DWDM. De acordo com Carlos Nylander (foto abaixo), gerente da Divisão de Telecomunicações da Regional de Transmissão do Pará, em troca do investimento, o governo poderá ampliar o seu projeto lançando mão da malha de fi bras ópticas dos sistemas de transmissão da Em-presa, enquanto a Eletronorte comercializará o excedente da capacidade instalada.

Atualmente, a Eletronorte dispõe de 36 fi os de fi bras ópticas instaladas ao longo das linhas que interligam as subestações de Be-lém, Santa Maria, Vila do Conde, Tailândia, Tucuruí, Jacundá e Marabá; e 24 nas subes-tações do Tramo-Oeste - Pacajá, Altamira, Uruará, Rurópolis, Santarém e Itaituba, sendo que estas são oriundas de negociação com a Celpa. O papel que caberá à Empresa será o de alugar canais de telecomunicações para clientes como Vivo, Embratel, Oi e Brasil Tele-com, ampliando a potencialidade de inclusão digital no Pará. Direta e indiretamente, 20% da população dos 64 municípios nas proxi-midades por onde passa o sistema de trans-missão da Eletronorte serão benefi ciados. Do

total de quase sete milhões de habitantes, a intenção é chegar inicialmente a pelo menos dois milhões.

“Concluímos que tanto a Eletronorte, quan-to o governo estadual, economizaram conside-rável valor para desenvolver um projeto que, com certeza, trará muitos resultados para a população dos municípios envolvidos nessa grande ação de inclusão digital e também do ponto de vista social”, afi rma Nylander. O pro-jeto prevê ainda a construção de infovias e a instalação de telecentros para uso geral e de negócios, dentre os quais a teleducação e a democratização do acesso à Internet.

De acordo com o cronograma de ativida-des da Eletronorte, a entrega da instalação do sistema DWDM deve ocorrer até setembro de 2008. Desde dezembro de 2007, quando a Empresa assinou o convênio de cooperação técnica com o governo do Pará, até hoje, a Eletronorte já desenvolveu ações como as de vistorias e levantamentos em campo, bem como as de elaboração e entrega dos ma-nuais de instrução sobre os equipamentos. Nesse momento, os empregados da Empresa passam por treinamento preparatório. A ins-talação propriamente dita do sistema deve se iniciar a partir do mês de maio de 2008.

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O Programa de Qualidade de Vida traz benefícios pessoais e profi ssionais para os empregados

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Érica Neiva

Uma música leve sereniza o ambiente onde ocorre parte das atividades do Progra-ma Bem-Viver - ação de qualidade de vida da Eletronorte -, conhecido como Espaço Azul. Além deste espaço, os empregados são benefi ciados em suas próprias salas de tra-balho. Em 2007, o Programa realizou 8.590 atendimentos, cujo objetivo é a prevenção de doenças, promovendo o bem-estar físico e psíquico dos trabalhadores.

As atividades começaram em 2000. Po-rém, em 2003 foi desenvolvido um trabalho com os técnicos de saúde da Sede da Eletro-norte e profi ssionais da Universidade de Bra-sília- UnB, a Pesquisa de Qualidade de Vida e Estresse. A consulta buscou a complementa-ção e o levantamento de informações sobre a saúde, estilo de vida e hábitos do empregado. É importante destacar que um dos indicado-res considerados, o índice de absenteísmo por doença, ou seja, a falta do empregado ao serviço por problema de doença, que era de 2,36% em 2004, em 2007 foi de apenas 1,0%, na Sede da Empresa.

O empenho da Eletronorte na busca de atividades que visam a promover a saúde e a reduzir o estresse do empregado foi re-conhecido, em 2004, quando o Programa Bem-Viver fi cou como primeiro colocado, na categoria Empresa Pública, na premia-

ção da Associação Brasileira de Qualidade de Vida - ABQV.

O importante é contar com uma força de trabalho saudável para que o nível de produti-vidade seja satisfatório. “Precisamos de em-pregados em condições de saúde integrais, para que o nosso planejamento estratégico não seja comprometido. Não adianta pensar em redução de prejuízos e atingir metas, se não há o principal elemento de uma empresa, que é o ser humano com qualidade de vida. O entusiasmo, a felicidade e o bem-estar do empregado são elementos que contribuem para melhor atuação do colaborador e para que ele venha para o trabalho mais feliz”, destaca o gerente de Promoção da Qualidade de Vida, José Alberto Mascarenhas.

O Programa Bem-Viver compreende 15 atividades: massoterapia; ginástica laboral; re-embolso-academia; teatro amador; coral; yoga; cinesioterapia laboral; educação postural; cir-cuito inteligente de energia; ofi cinas de quali-dade do sono – insônia e apinéia; reeducação alimentar; educação e prevenção do diabetes mellitus; controle do tabagismo; e educação e prevenção da hipertensão arterial.

Um sopro de vida - Uma respiração ple-na... O corpo executa movimentos e se molda em posturas que garantem não apenas oe-quilíbrio físico; a mente busca aquietação e tranqüilidade dos pensamentos para que se

Yoga: reaprendendo a respirar

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possa entrar em contato com o a essência e profundidade de cada ser. Esse é o propósito da yoga, prática e fi losofi a indiana que surgiu no ano 8.000 a.C. Para Patañjali Yoga, mestre que organizou esse conhecimento, “yoga é a cessação das fl utuações da mente”.

Na Eletronorte essa atividade teve início em 2007. Hoje conta com quatro instrutores e cinco turmas. A instrutora Aida Cruz reco-nhece que os alunos alcançam uma melhor qualidade de vida no aspecto físico e men-tal. “Durante as aulas, percebemos que as pessoas estão fi cando mais alongadas, com menos problemas de saúde. É importante essa busca pela yoga, pois isso signifi ca que a pessoa, internamente, quer uma mudança. Alguma coisa dentro dela está pedindo para ser transformada”, afi rma a instrutora.

Yoga quer dizer união. Seu elemento prin-cipal é o ato de respirar. “O primeiro sopro de vida é a respiração. À medida que respira-mos, tomamos consciência de nós mesmos. Ao respirarmos bem, vivemos bem. Somos aquilo que pensamos e a respiração tem uma ligação direta com nossos pensamentos”, en-fatiza Aida.

A instrutora relata o caso muito interessan-te de uma aluna que sempre tentava fazer uma determinada postura da yoga, conheci-da como postura da vela, mas o corpo dela não conseguia subir. “Era uma luta entre ela e seu próprio corpo. Há alguns dias, ela con-seguiu. A sala toda come-morou, pois é um trabalho de superação das pequenas difi culdades. É como uma criança que começa a dar os primeiros passos. Ela vai cair e continuar novamente tentando”, conta Aida.

O biólogo William Kata-giri (foto acima) trabalha há pouco mais de um ano nas ações socioambientais dos empreendimentos da Ele-tronorte. Tal trabalho já o possibilitou conhecer vários lugares na Região Norte, aproximando-o de hábitos, culturas e costumes diversifi cados. Ele sem-pre buscou atividades que trabalhassem os aspectos mental e físico. Crises de asma o le-varam a fazer opção por melhor qualidade de vida. Começou com corridas e, hoje, também adotou a yoga para auxiliar na parte respira-tória, força física e alongamento.

Apesar de praticar os exercícios há ape-

nas dois meses, o biólogo já percebe signifi -cativas mudanças no seu corpo. “A yoga tra-balha grupos musculares que, geralmente, não são exercitados. Permite percebermos melhor o nosso corpo. Ainda estou na fase de aprendizado, no entanto, sinto-me mais fl exível; o problema de coluna e as dores ós-seas melhoraram. Também permite aumento da concentração. Com o tempo, sei que vou conseguir extrair mais benefícios da ativida-de”, expõe William.

Ginástica laboral (foto acima) - São 8h45. Uma equipe de trabalho composta por dois educadores físicos e seis estagiários sai a campo. Em seus uniformes, uma combina-ção das cores vermelha e azul, percorrem as salas da Sede da Eletronorte. A função desses rapazes e moças é levar a ginástica laboral

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Malhação e arte

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diretamente ao local de trabalho. A atividade começou em 2005, com a proposta de pre-venção de doenças ocupacionais.

Os exercícios físicos aplicados no local de trabalho duram entre sete e dez minutos, e decorrem de um plano de aula padronizado para toda a Empresa. Essa padronização pos-sibilita que os resultados possam ser medidos e se tornem mais concretos. Em 2007, a mé-dia diária de participação foi de 700 empre-gados. Para o educador físico Márcio Falcão, a ginástica laboral não é apenas uma maneira

de prevenir doenças ocupacionais. “Trabalha também a interação entre colaboradores, sem atrapalhar a sua rotina. Alcançamos bons resultados com relação à diminuição de atestados e afastamentos por problemas os-teomoleculares, sem contar que as pessoas relatam mais conforto no trabalho e redução de dores”.

Outra característica importante da ginás-tica laboral é a participação de estagiários. São selecionados estudantes do último ano do curso de Educação Física que permane-

O reembolso-academia diz respeito à parte do valor mensal (60% do va-lor, limitado a R$ 70,00) pago pela Eletronorte ao empregado para que este pratique exercícios físicos na academia de ginásti-ca de sua preferência. O programa teve início em agosto de 2005 e hoje atende um total de 433 empregados. As pessoas que apresentam algum fator de risco devem reali-zar exames e acompanha-mento nutricional a cada seis meses; para os que não possuem nenhum fator de risco, o acompa-nhamento é anual.

Desde o começo do programa, há um gru-po de controle composto por 30 empregados que possuíam pelo menos um fator de risco - pressão arterial, índice de massa corporal, colesterol, triglicérides ou glice-mia. Constatou-se, na última avaliação, que 12 deles não apresentavam mais nenhum fator de risco e que o restante possuía melhorias no resultado dos exames.

Coral - O Programa Bem-Viver abrange também ativida-des artísticas para proporcionar ao empregado da Eletro-norte maior contato com seu talento e sensibilidade.

O coral da Eletronorte surgiu em 1978. Fez importan-tes exibições, viajou, participou de festivais e encontros.

Apresentou-se para o ex-presidente da República João Figueiredo, ministros e o Papa João Paulo II. Hoje reúne um coro de 50 vozes e encontra-se sob a regência do Maestro Deyvison Silva de Miranda.

Por sua vez, em 1997, houve a primeira apresentação do teatro amador da Empresa. A peça intitulada Ser Mãe e Trabalhar na Eletronorte é... foi escrita, dirigida e encenada por colaboradores. Narrava a trajetória de uma emprega-da, desde seu período de estágio na Empresa até sua apo-sentadoria, destacando seu desenvolvimento profi ssional e pessoal. A partir daí, o grupo de teatro não parou mais.

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cem na Eletronorte por um ano. Para a estu-dante da Universidade Católica de Brasília, Juliana Natalhie de Ávila, 24 anos, o traba-lho em equipe permite aprimorar seus co-nhecimentos e, conseqüentemente, atender melhor aos empregados. “Sinto que nosso trabalho é valorizado. Algumas pessoas que não faziam a aula passaram a fazê-la, ad-quirindo a consciência da importância dos exercícios no seu dia-a-dia. O estágio é im-portante, pois me permite praticar o que aprendo na faculdade. Assim, estarei mais bem preparada para ingressar no mercado de trabalho”.

Circuito Inteligente de Energia – O termo

Circuito Inteligente de Energia não é apenas uma analogia à atividade desenvolvida pela Eletronorte. Ele também diz respeito aos exercícios físicos que são realizados em um circuito dividido em estações e composto por cama elástica, step, aparelho de abdominal, corda, pesos, extensores de elástico, bola suíça, estacas para demarcar corridas, en-tre outros. “São materiais simples e de baixo custo, o que viabilizou a implementação dos exercícios. Alcança o mesmo objetivo que uma academia oferece no tocante ao condi-cionamento físico”, esclarece o professor de Educação Física Márcio Falcão.

O objetivo da atividade foi retirar o empre-gado do sedentarismo, tornando-o mais ativo, com melhor condicionamento físico. O cum-primento desse propósito leva a adoção de alguns cuidados com a segurança do aluno. O primeiro deles reza que todos passem por uma avaliação multidisciplinar com fi siotera-peuta, nutricionista, profi ssional de Educação Física e cardiologista para o teste cardiorres-piratório.

Os exercícios, praticados duas vezes por semana du-rante 30 minutos (foto ao lado), são alternativa para as pessoas que não têm tempo para realizar atividades físi-cas fora da Empresa. Os re-sultados dos primeiros testes de reavaliação detectaram melhora nos índices de co-lesterol e também emagre-cimento de alguns alunos. “Um dos objetivos da Edu-cação Física é a promoção de saúde. Estamos no am-biente de trabalho realizando

um programa de atividade física. Isso é algo novo nas empresas e a Eletronorte é uma das pioneiras”, avalia Falcão.

Horário cronometrado. Às 6h30, a assis-tente de Processamento de Dados da Eletro-norte, Lucimar Nunn (foto acima), sai de casa com as fi lhas de 8 e 11 anos; deixa-as na es-cola e segue para a Empresa. Meio-dia retorna à escola para apanhá-las e, freqüentemente, depara-se com engarrafamentos. Ao chegar em casa, almoça rapidamente e retorna para concluir mais um dia de trabalho.

Nesta vida corrida de dupla jornada, onde Lucimar tem que se desdobrar como profi s-sional, mãe e mulher, as atividades do Pro-grama Bem-Viver, entre elas a do circuito e yoga, surgem como uma oportunidade para se permitir conceder um pouco de atenção a si mesma. “Os exercícios signifi cam um momento de relaxamento, quando estou em sintonia comigo mesma. Nossa vida é tão corrida que, às vezes, não tiramos um tempo para nós. No caso do circuito, são 30 minutos dedicados a mim. Isso é muito importante, pois é uma forma de harmonizar a vida de nós mulheres e também aumentar a nossa auto-estima”, refl ete Lucimar.

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Ofi cinas preventivas – O Programa Bem-Vi-ver também é composto por ofi cinas educati-vas cuja marca é a multidisciplinaridade entre as diferentes áreas – Nutrição, Serviço Social, Psicologia, Fisioterapia, Medicina, Educação Física e Odontologia. Entre elas podemos ci-tar a ofi cina de qualidade do sono; educação e prevenção do diabetes mellitus; educação e prevenção da hipertensão arterial; controle do tabagismo e reeducação alimentar; totali-zando a participação de 170 pessoas.

Um dos grandes objetivos das ofi cinas é apostar na prevenção de doenças. “Sempre fui muito a favor deste tipo de programa, seja em empresas ou no serviço público de

saúde, pois acho que enquanto não investir-mos em prevenção, pior fi ca. Os dados de obesi-dade, hipertensão, dia-betes, ta bagismo, entre outros, são alarmantes. Por tanto, medidas que enfocam a prevenção são essenciais e devem ser a prioridade de todo e qualquer serviço”, des-taca a nutricionista Aida Ribeiro.

Desde 1976, o admi-nistrador Afrânio Rodri-gues (foto acima) tra-

balha na biblioteca da Eletronorte. Durante esse período, a biblioteca passou por grandes transformações, porém sua paixão pelo tra-balho permanece a mesma. “Não sou forma-do em biblioteconomia, mas sempre trabalhei em bibliotecas. Há 32 anos estou na Empre-

sa. É um trabalho que faço com prazer. O que mais me encanta é o aprendizado das pesso-as, o saber e a vontade de aprender mais e mais”, admite Afrânio.

Se a vida profi ssional de Afrânio é marcada pela satisfação e realização, a vida pessoal foi palco de algumas turbulências. Ao se deparar com os resultados dos exames periódicos, to-mou um grande susto quando o médico per-guntou se ele queria suicidar-se. “A maneira como o médico falou mexeu muito comigo. Ele foi radical, pois eu estava desatento com a minha qualidade de vida”, refl ete.

Diante do susto pregado pelos exames, Afrânio fi cou um pouco desanimado, mas conscientizou-se e tomou uma atitude para superar os problemas de saúde. Procurou a ofi cina de reeducação alimentar e, sem hesitação, inscreveu-se. Hoje tem certeza de que a sua iniciativa e força de vontade foram fundamentais para reverter o quadro de saúde.

Ele torna-se visivelmente entusiasmado ao falar dos resultados. “Foi excelente sabermos o que podemos, ou não, comer. Chegava ao supermercado e pegava o produto mais bara-to. Hoje, olho no produto as calorias, se con-tém açúcar, e também a questão da validade. Cheguei a emagrecer mais de quatro quilos. Na época, elogiaram-me, pois fui o partici-pante da ofi cina que perdeu mais quilos. Le-vei a sério mesmo. Agora tenho mais disposi-ção, faço caminhadas e durmo bem. Foi uma mudança de 180º”, relata o administrador.

Cinesioterapia laboral – Em setembro de

2007 foi feita uma pesquisa na Eletronorte para saber quantas pessoas sentiam algum

desconforto ósseo-muscular. A partir daí, abriram-se as inscri-ções para os interessados em participar de uma atividade vol-tada para atenuar essa dor ou desconforto. Iniciou-se, assim, a cinesioterapia laboral que se constitui na prática de exercícios preventivos, orientados e super-visionados por uma fi sioterapeu-ta e educadores físicos, voltados para a região lombar, cervical, torácica e membros superiores (foto ao lado).

As aulas acontecem duas ve-zes por semana, durante 20 mi-nutos. A atividade compreende 15 sessões, em que também

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são passadas informações com relação à postura e atividades do dia-a-dia – como regular o banco do carro, realizar a limpeza da casa sem prejudicar a coluna, carregar peso, entre outras. Há orientações referen-tes ao ambiente de trabalho – regulação da cadeira, posicionamento correto do monitor, teclado e mouse. A fi sioterapeuta respon-sável pelo plano de aula da cinesioterapia, Leane Faria Carvalho, frisa que a fi nalida-de da atividade não é a cura. “O objetivo é educar as pessoas e dar orientações para evitar que o problema evolua. Inicialmen-te, começamos trabalhando a respiração abdominal; depois fazemos alongamento para a região com dor e também exercícios posturais e de fortalecimento. No fi nal é re-alizado o relaxamento”.

O analista de suprimentos, Cleyber Cu nha (acima), faz parte da turma que está con-cluindo a série de 15 sessões. Ele procurou a atividade por sentir dores na cervical e está satisfeito pelo resultado obtido. “Desde o iní-cio da cinesioterapia senti grande melhora. As dores na cervical diminuíram conside-ravelmente, ou melhor, quase não as sinto. Outro ponto positivo foi a minha postura na estação de trabalho com o posicionamento correto do computador e a regulagem ade-quada da cadeira”.

A realização de um sonho – Em 1994, não passava pelos planos da massoterapeuta Eline T. F. Acampora vir morar em Brasília. Ela residia no Rio de Janeiro e acompanha-va as primeiras notícias sobre a aplicação da massagem em ambientes de trabalho nos Estados Unidos, Japão e China. Punha-se a questionar quando essas experiências seriam vivenciadas no Brasil.

Dois anos se passaram e, em 1996, Eli-ne mudou-se para o DF. Em 2000, tornou-se uma das pioneiras na prática da masso-terapia na Eletronorte. No início, a prática da massagem dava-se nas próprias salas de trabalho. “No começo, eu saía nas salas oferecendo massagem e as pessoas fi cavam encantadas e questionando se o serviço seria descontado no salário. Com o passar do tem-po, a equipe foi crescendo. As pessoas foram experimentando e vendo que era grande o benefi cio tanto pessoal, quanto profi ssional”, destaca Eline.

A massoterapia (abaixo) possibilita às pes-soas terem maior consciência do seu corpo e da própria respiração. “Ela ajuda a relaxar, amenizar o estresse, melhorando a nossa qualidade de vida. Conseqüentemente, au-mentamos a nossa produtividade na Empre-sa”, afi rma o assistente administrativo que recebe massagens há sete meses, Douglas Faria dos Santos. Em 2007 foram realizadas 4.827 massagens, o que demonstra uma mé-dia de 402 massagens por mês.

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Fim do petróleo = crise energética? Que nada! Cientistas provam que estamos cercados de boas energias e apenas começamos a descobrir o admirável universo das fontes renováveis

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Byron de Quevedo

O petróleo chegou a US$ 110,00 o barril e o mundo está menos em pânico hoje do que há quase 40 anos, durante a primeira cri-se mundial de abastecimento deste insumo, quando o barril não ultrapassava US$ 48,00: países chegaram a ir à guerra pelo chamado ouro negro. Entretanto, o alarme dos anos 70 mostrou que, se algo não fosse feito com ur-gência, várias nações entrariam em colapso, principalmente se fi cassem a depender ex-clusivamente dos países exportadores de gás e petróleo. Governos, empresas e cientistas voltaram então as suas atenções para outras soluções viáveis.

A Eletronorte, uma empresa geradora e transmissora de energia, de origem hidrotér-

mica, logo percebeu que fontes alternativas deveriam vir a se somar ao potencial do seu parque gerador, hoje na ordem de 9.737 mil MW, tendo em vista a crescente demanda por eletricidade no País. Nesse sentido, passou a montar equipes de estudo e a desenvolver programas de pesquisa e desenvolvimento que antecipadamente apresentassem solu-ções viáveis para a Amazônia, sua área bási-ca de atuação.

Ércio Muniz Lima, gerente de Desenvolvi-mento Energético em Comunidades Isoladas da Eletronorte, apresenta os inventos, pro-cedimentos e processos implantados ou em implantação que ajudarão o Brasil atravessar este que já sendo chamado de “O Século da Energia”. Conversamos também com o quí-mico e cientista Camillo Machado, 88 anos,

Soluções bioenergéticas: bem-vindos ao século da energia!Soluções bioenergéticas: bem-vindos ao século da energia!

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um dos pioneiros nos estudos de fontes reno-váveis de energia no mundo. Seus primeiros inventos sobre o tema são anteriores aos anos 40, época dos carros devoradores de gaso-lina. Ele inaugurou o ciclo de pesquisas na Eletronorte, em 2000, com uma palestra para cientistas e técnicos da Empresa sobre bio-combustíveis.

Atualmente, seu olhar paira além dos ho-rizontes energéticos. Ele investiga o potencial de germinação das plantações e, com sua tese “Envelhecimento Precoce da Terra”, já vislumbra a possibilidade de que, com as co-lheitas em massa de vegetais para produção dos biocombustíveis, áreas improdutivas pre-cisarão ser recompostas precocemente para que as produções não decaiam por safras contínuas.

Bateria de microorganismos - Um dos pri-meiros inventos do Dr. Camilo, ainda inician-do a carreira de cientista da energia, ultrapas-sou as expectativas do próprio autor da idéia, que a relegou a segundo plano há quase 60 anos, como se fosse um invento menor, sem perceber que este poderia vir a ser uma so-lução energética amplamente estudada pelos centros de pesquisa em energia no mundo, neste novo século. Hoje há, inclusive, semi-nários internacionais específi cos para acom-panhamento de pesquisas sobre o assunto. Trata-se da Bateria de Microorganismos, uma descoberta intrigante.

Camilo investigou os sucos de carnes apo-drecidos e verifi cou que além de uma intensa atividade bacteriológica, havia a liberação de eletricidade. A experiência foi apresentada ao grande público, pela primeira vez, na I Feira Nacional de Ciência, no Pavilhão São Cristo-vão, Estado da Guanabara, em setembro de 1969. O seu simples artefato mostrou que era possível gerar uma diferença de potencial de 1,8 Volt e, assim, acender uma microlâmpa-da. Tratava-se de uma reação química de oxi-dorredução, na qual elétrons são extraídos de um dado meio orgânico.

“Ficou evidente que na decomposição acontecia um processo com energia possível de captação. Sua aplicabilidade ainda pre-cisa voltar a ser mais bem estudada, mas a tese, como princípio, funciona. E agora, com as novas tecnologias, há a possibilidade de produção de grandes volumes de energia em campos putrefáticos. Talvez estejamos perdendo milhares de megawatts por não utilizarmos o potencial energético dos lixões.

Deixei essa invenção de lado, pois os biocom-bustíveis e os estudos do envelhecimento precoce da terra não me deixavam dormir”, comenta Dr. Camilo.

O mundo gera mil toneladas de lixo por se-gundo. Algo tem que ser feito com urgência. Camilo Machado adverte que as liberações de eletricidade em lixões não reduzem a ge-ração de gases, já usados inclusive para a ge-ração de energia elétrica. Atualmente o tema tem sido objeto de vários trabalhos científi cos onde se procura obter fontes alternativas de energia a partir da atuação de determinadas bactérias em esgotos, produção de energia em microeletrônica, alimentação de marca-passos etc. Um dado importante: bactérias geram energia 24 horas por dia.

Camilo e Ércio:

históriasdiferentes,

objetivoscomuns

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Sobre a bateria de microorganismos, Ércio Muniz esclarece que são processos bioquí-micos e fi sioquímicos e, ao contrário do que pensa o Dr. Camilo, o assunto não estagnou e as alternativas biológicas já contemplam um vasto campo de conhecimentos acumulados. “A Universidade de São Paulo, por exemplo, usa células fotovoltaicas com pigmentos de plantas; ou seja, é a repetição em laboratório do processo da fotossíntese, com pigmentos que recebem a energia do sol e gera eletrici-dade. Ao invés de passar os raios do sol por placas de silício, cientistas já estão usando o processo orgânico: pigmentos de plantas, como o cupuaçu, que recebem a luz do sol e geram eletricidade. Este é um processo de acumulação de conhecimentos sobre energia que começou com pioneiros como o Dr. Ca-milo, sem dúvida”.

Energia da madeira - Na Eletronorte, dois importantes trabalhos estão sendo desenvol-vidos no Acre: o levantamento das oleagino-sas nativas e o inventário de resíduos fl ores-tais, verifi cando-se o potencial de sobras de madeira para fi ns de produção de eletricida-de. “Nos projetos de manejo ofi ciais e nas serrarias, levantamos o material disponível para gerar energia. Temos várias áreas de manejo controlado no estado, em Cruzeiro do Sul, Rio Branco, Carauacá e Assis Brasil, com madeireiras licenciadas geradoras de resídu-os: folhas, cascas de árvores, serragem, to-cos, raspas, lascas e sobras de madeira, que hoje se tornaram um passivo ambiental com utilidade”, afi rma Ércio.

Dr. Camilo, entretanto, adverte que a quei-ma de sobras de madeiras para a geração de eletricidade acarreta uma emissão de CO² na atmosfera, o que exige um processo de

limpeza da fumaça e, mais uma vez, sugere um dos seus inventos simples e efi cazes: os tanques de sucção, pois de nada adiantaria resolver o problema da energia e da elimina-ção de sobras, e por outro lado contaminar ainda mais a atmosfera. Ele recomenda o uso de exaustores intermediários nas chaminés, com dutos fazendo a sucção dos gases para tanques preparados, por exemplo, com hi-dróxido de potássio (as cinzas da serragem das próprias serralherias diluídas em água), o que converteria o CO² em sais minerais para vários usos industriais

“Toda combustão industrial provoca emis-sões. Temos que saneá-las antes de liberar os gases nocivos na atmosfera. Neste caso, po-demos fazer canalizações obrigando que os gases retornem e passem por processos que os convertam em outras substâncias. No caso da passagem do CO² através do hidróxido de potássio, obtemos um sal de potássio: o car-bonato de potássio, ao mesmo tempo em que formamos outros elementos que compõem uma boa adubação”, explica o cientista.

Envelhecimento precoce da terra - Tanto

para áreas em comunidades isoladas, como para grandes plantações, haverá sempre um momento em que se esgotarão os sais mine-rais e a terra necessitará de ter sua adubação recomposta. Nesse sentido o Dr. Camilo tem uma patente nova denominada “Envelhe-cimento precoce da terra”. Ele explica que nem sempre os vegetais encontram o sódio, o potássio, o fósforo (o NPK, o adubo perfeito) pronto para absorver. A partir dessa premis-sa, ele criou o CMV, um quelador que traz de volta a fertilidade. CMV signifi ca Camilo Ma-chado e Maria Vilma, em homenagem à sua esposa (foto ao lado).

Esse quelador é um substrato natural que reduz as substâncias, favorecendo a absor-ção pelas plantas, e atua facilitando a ação do nitrogênio. O produto foi testado em plan-tações e demonstrou ser um excelente recu-perador de áreas degradadas: nas fi leiras de feijão com o quelador, por exemplo, o vigor e o crescimento dos vegetais chamaram a aten-ção seis meses depois do plantio. “Creio que até em áreas desérticas, se tivermos água, ele será capaz de recuperá-las”, diz Camilo. Segundo ele, é possível reverter uma terra in-fértil num período de até dois anos. “Com o meu quelador esee tempo diminui para três meses. Isto acontece porque a terra precisa de tempo para a acumulação de nutrientes.

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Mulher de cientista

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Se os elementos químicos já estiverem próxi-mos às raízes, as plantas os absorverão eco-nomizando energia e crescendo mais rápido. Ao ganhar tempo nas colheitas consegue-se o tempo necessário para se evitar o desabas-tecimento de vegetais, tanto para a produção de combustíveis quanto para a geração de alimentos”.

O cientista explica melhor: “Temos que envelhecer a terra precocemente para que ela possa receber as sementes, produzir e restabelecer o equilíbrio ecológico. E por

outro lado, aumentar as áreas verdes. As plantas, pela fotossíntese, ajudarão a eli-minar os excessos de poluidores aéreos. Se não resolvermos estas questões, distúrbios ecológicos sérios poderão acontecer. Na atmosfera temos 78% de nitrogênio, 20% de oxigênio e 2% de gases nobres: argônio, xenônio, capitólio, neônio, radônio e o hé-lio. Eles não combinam e não temos como produzi-los. Se diminuir o oxigênio e os ga-ses nobres se rarifi zerem, os efeitos serão sentidos. Entre outras funções, eles agem

No dia 8 de março comemorou-se o Dia Internacional da Mulher. Como forma de homenageá-las falamos com a virtuosa pianista e esposa do Dr. Camilo Machado, Ma-ria Vilma Dau Machado, sobre a sua vida ao lado de um cientista, um homem controvertido e com contribuições para o Brasil e o mundo. Dizem que atrás de todo ho-mem brilhante existe uma grande mulher. Mas no caso de Camilo e dona Vilma, foi diferente, ela sempre este-ve atrás, ao lado e a maior parte das vezes à frente do seu homem. Eles foram como o sol, a terra e satélites em órbitas que se interagem em seus abraços siderais. E hoje, após uma pequena eternidade de meio século juntos, o universo continua conspirando a favor dessa família feliz.

Vilma conheceu o jovem Camilo ainda meninota, como ela mesma gosta de dizer, quando vinha do co-légio de freiras, e viu muita gente em volta de um rapaz falante numa praça. “O que se passa?” – perguntou. “Aquele moço ali está fazendo uma gasolina inventada por ele!” – responderam alguns descrentes. Nunca ima-ginaria que o inventor viria a ser um dia o seu marido. Coisa do destino. Engraçado que aquele não era o ca-minho normal dela ir para a escola: era um atalho. Só depois de muito tempo voltaram a se encontrar. Foi um namoro a distância, pois ele morava em Goiânia e ela em Franca (SP), mas se correspondiam.

- Valeram à pena todos estes anos vida juntos?- Tem sido muito bom, porque com o Camilo conheci

pessoas eminentes, cientistas, que não são de minha área, mas que eu aprendi a gostar. Eu estou sempre acompanhando-o. Não sei se dei alguma contribuição, mas fui aquela companheira constante. As experiências dele no fundo do quintal já me queimaram muitas vasi-lhas, recipientes, colheres, que eu gostava, mas tudo bem, pois ele lançou mão do material disponível no mo-mento. Tivemos momentos difíceis como uma vez que eu queria ir ao cinema, que eu adorava, e ele nunca po-dia ir comigo, pois estava sempre lecionando ou pesqui-sando. Então telefonei para o colégio que ele lecionava

dizendo que ele estava doente. E começamos a nos arrumar para sair. De repente toda a escola estava na porta de minha casa para visitá-lo. Eu chorei muito e ele correu para cama para se fi ngir de doente. Muitos alunos tinham pais médicos e foi uma situação muito engraçada, mas estressante. De qual-quer forma, sinto-me orgulhosa por ter um marido inteligente. Ele é muito modesto, mas eu sei o quanto é culto. Nossa união tem sido muito abençoada. Temos quatro fi lhos maravilhosos. Um engenheiro da Nasa, há alguns anos, assistiu uma ex-periência sobre biocombustíveis do Camilo e queria nos levar todos nóspara os Estados Unidos, com tudo pago, mas ele disse que preferia desenvolver seus inventos no Brasil.

- O que a senhora diria para as mocinhas de hoje em dia?- Digo que se o pretendente for uma pessoa boa, não tem

problema se casar com um cientista. Principalmente se as invenções não alterarem uma outra parte da pessoa. Camilo sempre foi um companheiro íntegro, honesto e com nobreza de sentimentos. E o que mais me conquistou nele foi o caráter. Eu o escolhi por ser um homem bom. Hoje em dia os amores parecem tão inconstantes, não é?

- O fato de ser ele um químico ajudou na química entre vocês?- Ele diz que um elemento é perfeito quando resiste aos pro-

cessos de fracionamento, apresenta constância nas suas pro-priedades e mantém as qualidades nas intempéries. E como ele sempre foi fi rme e com qualidades constantes, creio que combinamos quimicamente. Somos muito cordatos e vivemos harmoniosamente.

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Belém se prepara para receber um dos mais importantes centros de produção de biodiesel

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como os lubrifi cantes das vias respiratórias. Se, por exemplo, um recém-nascido fi -car num ambiente sem estes gases, após umas 500 respirações os seus narizes começarão a sangrar - são gases harmo-nizadores. Deus criou as suas dosagens certas e não podemos alterá-las. Manter os ecossistemas não é apenas uma ques-tão visual - belas paisagens, rios etc. -, é questão de sobrevivência”.

Dr. Camilo também sugere transformar poluentes em produtos de mais fácil assi-milação pela natureza. A presença de cloro, enxofre e outros poluentes de terras, rios e mares tem que ser eliminada. Ele criou cata-lisadores que podem retirar subprodutos no-bres de poluentes. De um pneu, por exem-plo, é possível extrair em torno de um litro de diesel, vários graxos, intercapa de asfalto e outros derivados, transformando-os em

A Eletrobrás está investindo na montagem de uma plan-ta-piloto em Belém (PA) para produzir biodiesel a partir da reação de óleo de dendê com etanol. A substância, que terá o selo de certifi cação da Agência Nacional de Petróleo - ANP, será testada como combustível de motores estacio-nários e como fonte de geração de energia elétrica. Desen-volvido pela Universidade Federal do Pará -UFPA, envol-vendo diversas parcerias, o projeto contará, somente na Região Norte, com investimentos de R$ 800 mil, chegando ao total de R$ 4,7 milhões, se somado o fi nanciamento que será destinado às demais regiões do País. A usina de bio-diesel de Belém já está em fase avançada de construção no laboratório de Engenharia Química da Universidade. A expectativa é a de que a usina entre em operação já em abril de 2008.

O incentivo à produção de biodiesel é de interesse do Governo Federal, que pretende se tornar menos depen-dente do petróleo como fonte de energia e se benefi ciar das vantagens garantidas pela utilização de combustíveis à base de ésteres graxos, entre elas as de preservação ambiental, fomento à agroindústria e ao desenvolvimento sustentável. O projeto da Eletrobrás conta com o apoio do Instituto Militar de Engenharia -IME e do Centro Tecnológi-co do Exército (Cetex).

A capacidade de produção será de sete mil litros de combustível por semana. A unidade do Pará deverá ser semelhante à implantada pela Empresa Brasileira de Pes-quisa Agropecuária - Embrapa em Rio Preto da Eva, no Es-tado do Amazonas. Além dos profi ssionais de engenharia química, coordenados pelo professor Luiz Ferreira de Fran-ça (foto acima), que acompanharão de perto o trabalho de produção do biodiesel, as pesquisas, na UFPA, envolverão o Departamento de Química, que fará o controle de quali-dade do produto, e o de Engenharia Mecânica, responsável pelos testes nos motores de produção.

Dendê - O óleo de dendê necessário para a produção do biodiesel será adquirido nas empresas produtoras da

região, como a Agropalma. Segundo explica o professor França, o combustível pode ser facilmente produzido tendo como matéria-prima qualquer planta oleagino-sa. No caso da Amazônia, são exemplos as árvores de andiroba, ucuúba e tucumã. Mas o projeto escolheu o dendê porque o Pará tem em suas proximidades cinco milhões de hectares de terra pronta para o cultivo desta espécie.

O Governo, inclusive, oferece incentivos fi scais para a exploração dessa palmeira, pois é a que traz mais van-tagens no que se refere às práticas do desenvolvimen-to sustentável na região. Já no Nordeste, por exemplo, o produto primário previsto no Programa Nacional de Produção de Biodiesel é a mamona, de modo que em outras localidades a matéria-prima escolhida também deve estar de acordo com as características regionais.

Outra substância indispensável para a produção do biodiesel na UFPA será o etanol, produto químico que entra em reação com o óleo vegetal. De acordo com o professor França, apesar de algumas empresas já utilizarem o metanol como matéria-prima no mesmo processo, a Eletrobrás incentiva a utilização do etanol

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componentes de preços com a redução dos custos deste tipo de diesel. “O catalisador é um substrato orgânico, que estando presen-te em uma reação e havendo calor, quebra a molécula, reage e transforma produtos em outros subprodutos. Ou seja, se a molécula é longa ela poderá gerar moléculas menores como metano, etano, propano, butano. Este catalisador pode quebrar também polímeros, como o óleo da mamona, plásticos e outros

produtos. Ou seja, ele pode gerar vários sub-produtos, inclusive gasolina. O etileno, por exemplo, pode-se polimerizar e se obter o polietileno. Se fi zermos esta mesma reação com o propileno, teremos o propilideno: um plástico”, enfatiza o cientista.

Mamonas divinas - Agora, quando se fala em surpreender nada bate a mamona. Questiona-dos sobre o que seria possível se fazer com

por este ser de caráter renovável e muito menos tóxico para o meio ambiente. Dessa forma, chega-se a uma mistura de ésteres graxos que substitui o óleo diesel comum como um combustível não muito poluente. “O CO2, principal gás causador do efeito estufa e da des-truição da camada de ozônio, quando produzido pela queima de óleo vegetal e etanol, é consumido pelas próprias plantas oleaginosas, criando um ciclo per-manente de produção e consumo que evita grandes agressões à natureza, já que provoca diminuição na concentração do dióxido de carbono na atmosfera”, explica o pesquisador.

O biodiesel produzido na usina do Laboratório de Engenharia Química terá certifi cação de qualidade de acordo com a Resolução nº 42 da ANP e poderá, em um futuro próximo, substituir totalmente o uso do combustí-vel comum no mercado brasileiro. “Aí entram em cena as demais vantagens econômicas e sociais da produção de biodiesel, que são, entre outras, a comercialização do álcool etanol para ser utilizado em veículos automo-tores e para geração de energia elétrica; e o incentivo à fi xação do homem no campo por meio do fomento à

agroindústria”, observa França. Sem falar, é claro, no ga-nho científi co e tecnológico que o Brasil inteiro receberá a partir do desenvolvimento das pesquisas.

Processo de produção - O dendê é uma palmeira ori-ginária da costa ocidental da África. A espécie chegou ao Brasil por volta do século XVII e se adaptou facilmente ao clima equatorial. O principal produto do dendezeiro é o óleo extraído industrialmente da polpa do fruto, o óleo de palma. No Brasil, a produção anual do óleo de palma está em tor-no de 80 mil toneladas. O País consome 280 mil toneladas de óleo de dendê e derivados e importa em torno de 180 mil toneladas. O maior potencial mundial para a produção do óleo é o brasileiro, sendo o Estado do Pará o responsável por 70% dessa produção em todo o Brasil.

Para se transformar em biodiesel, o óleo de palma pre-cisa entrar em reação com o etanol, ou demais ésteres graxos, de modo que passa por um processo denominado transesterifi cação, onde os lipídios (gordura) presentes na substância são modifi cados a partir da utilização de hidró-xido de sódio ou de potássio como catalisadores.

(Colaborou Jéssica Souza, da Regional de Transmissão do Pará)

Dendê: óleo de palma vira biodiesel

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a mamona, além dos bicombustíveis, Ércio e Camilo riram. Ércio apontou para um shopping center ao lado e disse: “Tirando os seres vi-vos, a água e o ar, tudo que tem no shopping, incluindo o próprio”. Já o Dr. Camilo foi mais além, e com o seu jeito de homem do interior apontou para o céu e para o chão e exclamou: “A mamona é polímero. Dela se faz os únicos lubrifi cantes não-congelantes para espaçona-ves, milhões de objetos e fl uidos e o melhor e mais ecológico combustível para se locomo-ver na terra. Mas seus produtos são melhores quando craqueados, ou seja, quando aqueci-dos, conduzidos à torre de craqueamento e subdivididos em vários subprodutos!”

Ércio completa: “Da mamona se consegue biocombustível pelo craqueamento ou por transesterifi cação. Os 40 bilhões de litros de diesel de petróleo que o Brasil consome por ano já recebem 2% de biodiesel. Este per-centual, embora ainda pequeno, evita que 800 milhões de diesel sejam consumidos. Sob o ponto de vista tecnológico, creio, pode-mos usar até 100% de biodiesel nos moto-res. Os laboratórios de motores Lactec, IME, IPT, Cope e Cepel são capazes de condenar o óleo vegetal que cause danos aos motores. Acompanhamos testes de 1.500 horas de funcionamento de motores movidos a biodie-sel e não vimos nenhuma perda de potência. Se tivermos produção sufi ciente para compor a matriz ‘óleo combustível x óleo para alimen-tação’, não haverá problemas desde que se usem os resíduos das oleaginosas para a pro-dução dos óleos vegetais”.

Entusiasmado sempre quando se fala em biocombustíveis o Dr. Camilo é ainda mais contundente: “Creio que estamos começando a perceber as coisas. Os países ainda desper-diçam insumos nobres com porcarias. Ima-gine fabricar pneus e solas de sapatos com látex de borracha, um produto nobilíssimo. Outro dia estava num seminário e quando eu disse que faço gasolina azul puríssima com o látex amazônico, todo mundo me olhou ad-mirado!”

A tecnologia permite aproveitamentos diferenciados

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Eletronorte estuda soluções

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A Eletronorte tem um acúmulo de conhecimentos sobre soluções tecnológicas e, em parceria com ou-tros atores regionais, participa de vários programas e políticas de governo, de projetos como o Programa de Desenvolvimento Energético de Estados e Muni-cípios- Prodeem, por meio do qual já implantou e mantém em funcionamento 2.700 sistemas de pai-néis solares para o atendimento de escolas, postos de saúde e igrejas, com recursos do Ministério de Minas e Energia.

“Mas ainda há na região amazônica 29 mil esco-las sem eletricidade, cadastradas pelo Ministério da Educação. O não-funcionamento delas por falta de energia, em nove estados, implica em deixar de fora da escola crianças de até sete anos de idade. Sem a escola elas irão trabalhar com os pais na pesca, na agricultura, nos serviços domésticos. O Prodeem ajuda a diminuir este défi cit”, informa Ércio Muniz.

Ele aponta alternativas energéticas inovadoras e não-poluentes. “Em Rio Branco, capital do Acre, por exemplo, temos o fogão ecológico (foto ao lado), um projeto em parceria com o governo do estado, Eletroacre e Embrapa. Em-presários estão sendo chamados a in-vestir numa fábrica desses fogões que são microusinas de eletricidade. Co-locamos madeira para queimar, e en-quanto se cozinha o almoço ou a janta, ele vai gerando energia. Temos 30 fo-gões já instalados e mais 70 a serem instalados em convênio com o governo estadual. Todo o processo está sendo experimentado no campo e monitorado

com os comentários das donas-de-casa. Ele funciona com vapor de uma pequena caixa d´água aquecida. A serpentina leva o vapor até um locomove - um motor de trem-de-ferro pequeno - que faz girar um dínamo de motor de automóvel – no caso, de um VW Brasília, que, por sua vez, gera a energia e a armazena numa bateria. A energia pode ser consumida em 110 ou 220 Volts acendendo até quatro lâmpadas e fazendo funcionar eletrodomésticos e microcomputadores”.

Craqueamento - “Nossa atuação no Acre tem sido

intensa. No Centro de Tecnologias Renováveis desen-volvemos o biocombustível com óleos regionais. Temos uma usina de craqueamento catalítico (foto abaixo) e outra de transesterifi cação, com a produção de 800 litros por dia, consumida pela frota de ônibus local;

levantamos a potencialidade energética das oleaginosas; construímos uma unidade de extração de óleos no interior do estado; fi zemos 11 mi-crocentrais de geração com capacidade de 500 a 1.000 quilowatts; duas pequenas centrais hidrelétricas de cin-co mil quilowatts cada; e com o Centro de Aprendizagem e Capacitação da Amazônia Le -gal fi zemos parceria para o plantio experimental de den-dê”, enumera Ércio.

Abelhas turbinadas -Quan-to à sua sintonia com a na-tureza, o biodiesel brasileiro surpreende a cada dia, por

não conter elementos nocivos como o enxofre e o chumbo. É um produto no-bre sob o ponto de vista ambiental. Ér-cio Muniz relata uma bela experiência: “Ano passado, viajávamos numa cami-nhonete movida a 100% de biodiesel pelas estradas do Acre. Ao pararmos para um café vimos muitas abelhas pousando no cano de escapamento do carro. Cremos que elas sentiram-se atraídas, pois o biodiesel é um produ-to tão natural que algo nele deve servir como alimento para as abelhas, nor-malmente arredias a qualquer produto tóxico. Abelhas bebendo os resíduos do biodiesel ninguém poderia prever: foi uma grata surpresa!”.

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AMAPÁA Eletronorte chegou ao Amapá em

1974, 13 meses depois de sua criação, com o objetivo de concluir as obras da Usina Hidrelétrica Coaracy Nunes, no Rio Araguari. Primeira usina da Em-presa na Amazônia, Coaracy Nunes foi inaugurada em janeiro de 1976, mar-cando o início da trajetória da Eletro-norte na região. A missão da Empresa é gerar e transmitir energia no sistema isolado do Estado, onde é representada pelas unidades regionais de Produção e Comercialização e de Planejamento e Engenharia.

A força de trabalho é formada por profi ssionais das mais diversas áreas, que trabalham pela melhor qualidade de vida dos amapaenses. Esse traba-lho tem sido reconhecido ao longo dos anos, tanto pela satisfação dos clientes e consumidores quanto pelas diversas premiações recebidas, devido à exce-lência da gestão empresarial. Essas conquistas são fruto da prática constan-te dos valores do Credo da Eletronorte: excelência na gestão, valorização das pessoas, comprometimento, aprendi za-do contínuo, empreendedorismo, éti ca e transparência.

RESPONSABILIDADE SOCIALNo Amapá, a energia distribuída pela Eletronorte benefi cia uma

população de cerca de 500 mil pessoas. Além desse benefício, a Empresa desenvolve atividades de responsabilidade social com as comunidades. Entre os projetos, destaca-se o de desenvolvimento da piscicultura como alternativa alimentar, de geração de renda e melhoria da qualidade de vida nas comunidades do entorno de Co-aracy Nunes. Em Ferreira Gomes, por meio de convênio com a As-sociação dos Produtores do Projeto Ferreirinha, a Empresa promove a abertura e a recuperação de estradas vicinais, proporcionando o escoamento da produção da comunidade e o acesso às políticas pú-blicas para o desenvolvimento local. A Eletronorte também participa de projetos de alfabetização e de inclusão social, que proporciona-ram o desenvolvimento de atividades socioeducativas, esportivas e de cidadania a 150 adolescentes.

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TRANSMISSÃOA energia gerada pela Eletronorte é distribuída pela Companhia de Eletricidade do Amapá - CEA. O sis-

tema de transmissão da Eletronorte no Amapá, estruturado a partir da entrada em operação de Coaracy Nunes, conta com 505 km de linhas de transmissão em 69 kV e 138 kV, dez subestações e capacidade de transformação de 690 MVA. A Empresa atende 12 dos 16 municípios do Amapá. Os outros são aten-didos por pólos de geração descentralizada da CEA.

MEIO AMBIENTEO respeito ao meio ambiente é prioridade para a

Eletronorte. No Amapá, uma prova do comprometi-mento da Empresa com o gerenciamento ambiental são dois circuitos da linha de transmissão Central/Santana, certifi cada com a ISO 14001. Essa linha, ao lado da Porto Velho/Abunã, operada pela Eletronorte em Rondônia, foi a primeira do Brasil a receber a certifi cação. No Amapá, outros empreendimentos da Eletronorte certifi cados com a ISO 14001 são as usinas Santana e Coaracy Nunes. Todos são acom-panhados de programas de educação ambiental, de saúde, de controle erosivo, de recuperação de áreas degradadas, de indenização e desapropriação.

A Empresa também promove ações de conscien-tização voltadas para a preservação do meio ambien-te, bem como para o adequado uso e ocupação das terras por parte das comunidades do entorno. Outra ação importante são as campanhas anuais contra queimadas, vandalismo e sabotagem, que resultam em redução do número de desligamentos no siste-ma, provocados por incêndios próximos às linhas de transmissão, e a conscientização quanto aos prejuízos causados por atos dessa natureza.

GERAÇÃONo Amapá, a Eletronorte dispõe de uma potência instalada de 234,8 MW, que corresponde a 92,7%

daquela efetivamente disponível no estado. O parque combina geração hídrica e térmica. Os 78 MW de po-tência instalada em Coaracy Nunes são complementados por 156,8 MW da Usina Termelétrica Santana. No período de seca no reservatório de Coaracy Nunes, entre setembro e dezembro, a Térmica Santana supre a necessidade de energia elétrica. No período chuvoso, quando a hidrelétrica opera a plena carga, a térmica atua como complemento de carga.

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“Excelente a nova Corrente Contínua. O editor e sua equipe estão de parabéns. Leva-mos exemplares da revista para uma reunião do Proset com as cooperativas e diversas instituições públicas, e a receptividade também foi muito boa”.

José Luís da Silva Pereira - Gerência de Ações Socioambientais e Assuntos Fundiários - Brasília - DF

“Meu caro Alexandre Accioly, mais uma vez parabéns pela edição da revista Corrente Contínua 218 ! Excelente a matéria do jornalista Byron de Quevedo”!

Humberto Rodrigues Gama - Gerência de Geotécnica e Estruturas - Brasília - DF

“Prezado jornalista César Fechine, confesso que me emocionei quando li a sua linda poesia que, de forma brilhante, fecha a edição número 218 da revista Corrente Con-tínua. Reportei-me ao cenário e vivi aquela situação ilustrada. Meus sinceros parabéns e continue a escrever assim sempre”.

Eduardo de Oliveira Lima- Superintendência de Tecnologia da Informação - Brasília - DF

“Cara jornalista Érica Neiva, gostaria de agradecer e parabenizá-la pela excelente reportagem da revista Corrente Contínua. Vocês souberam aproveitar bem as informa-ções, retratando nosso trabalho de forma clara e objetiva”.

Eden Brasilia de Assunção Damasceno - Superintendência de Desenvolvimento e Educação Empresarial - Brasília - DF

“Prezada jornalista Bruna Netto, gostaria de parabenizá-la pela matéria da revista Corrente Contínua, inclusive pela capa ‘Corrida contra o tempo’. A matéria retratou bem os assuntos tratados, mantendo coerência e leveza, pois tratando de tema tão sério quanto a perda de energia por vendavais ou atos de vandalismo, você conseguiu transmitir a mensagem de todo o esforço feito pelos colaboradores e o sucesso do aten-dimento de emergência. Parabéns!”

Eugênio Pacelli Antunes - Gerência de Engenharia de Manutenção da Transmissão - Brasília - DF “De ordem do deputado Paulo Rocha (PT-PA), agradeço o envio da revista Corrente

Contínua, edição 218, de janeiro/fevereiro de 2008”. Raquel Paz - Assessora parlamentar do deputado Federal Paulo Rocaha - Brasília - DF

“Prezados Senhores, recebemos e agradecemos pelo envio da publicação Corrente Contínua, de excelente qualidade gráfi ca e editorial. Informamos que é de grande valia para o acervo da Biblioteca do Iesam - Instituto de Estudos Superiores da Amazônia continuar a ser receptora de tão valiosa publicação”.

Clarice Silva Neta - Bibliotecária do Instituto de Estudos Superiores da Amazônia - Belém - PA

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Pai falô que mãe contô que tô virando mulherIsso acho que já sô até o vô me avisôDo cuidado no dizer, pois agora sô é moça

Vó dizia que palavra é igual canoaQuando tá pesada afunda à-toa, quando leve leva a genteNas águas rasa a onda é longa, na água funda, docemente

Às vezes sinto medo medonho... Tenho sonhos...Viver é bom, mas o que eu gosto é de gostarZé me pediu pra namoro... Credo!

Rio é feito é pra pescarO amor fi sga no ar o querer que senteLinha pode até quebrar, descer água, libertarMas o anzol fi ca na gente

A reza explica diferenteDiz que o tempo cura tudo,Fé em Deus e vamo em frente

Cê ta me olhando por quê, tá me achando esquisita?Pentearei meus cabelos do outro lado do rioNa vila agora tem luz e terá festaArrumada eu sou bonita! Texto: Byron de Quevedo

Foto: Rony Ramos

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