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Corujão – Rede de Transporte Noturna de Campinas Autores: César Augusto ; Pedro Meloni de Oliveira; Camilo Silva de Oliveira Coelho; EMDEC – Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas S.A. Diretoria de Desenvolvimento de Transporte e Infra-Estrutura Viária – Gerência de Planejamento de Transporte – Departamento de Programação do Transporte Público Endereço: Rua Salles de Oliveira, 1028 – Vila Industrial – Campinas / São Paulo CEP: 13035-270 Telefone: (19)3772-4083 Endereços eletrônicos: [email protected] ; [email protected] ; [email protected] ; RESENHA Este trabalho apresenta o Sistema de Transporte Noturno de Campinas – Corujão, abordando suas características técnicas e operacionais, bem como sua função social na cidade de Campinas. O corujão cumpre o importante papel de conectar os equipamentos públicos que funcionam durante a madrugada, formando uma rede de atendimento que garanta o acesso a estes serviços a toda população. Além disso, atende também a demanda de usuários que se deslocam buscando serviços noturnos como: bares, restaurantes e boates, bem como aos trabalhadores dos mesmos. INTRODUÇÃO Cada vez mais, as discussões sobre mobilidade urbana vêm ganhando espaço na nossa sociedade, à medida que esta se defronta com o desafio de adequar suas cidades às necessidades do Século XXI. No centro destas discussões estão os sistemas de transporte coletivo, que cada vez mais se configuram como os grandes promotores da mobilidade na cidade contemporânea. Os sistemas de Transporte devem garantir a mobilidade dos habitantes nas mais diversas situações, não somente se preocupando com os grandes períodos de movimentação de pessoas. Para que um sistema seja completo ele deve oferecer um serviço ininterrupto, inclusive nos horários de menor concentração de demanda, mas não menos importantes para os que nestes precisam se deslocar. Tendo este conceito como uma das premissas básicas, o recente contrato de concessão do Serviço de Transporte Urbano de Campinas determinou que fosse criada uma Rede de Transporte Noturna. Estrutura do sistema de transporte Na cidade de Campinas nove grandes vias são as principais responsáveis pela circulação, esses eixos viários são fundamentais a partir dos quais o município se articula. Para o transporte estes eixos são os estruturadores do sistema; por eles circulam aproximadamente 90 % do total de passageiros transportados diariamente. Dada à característica radial do sistema viário, estes eixos estruturais convergem para o Anel Viário central, conhecido como Rótula, que contorna o núcleo da região central. A partir do Rótula os usuários do sistema de transporte conseguem se deslocar a pé com relativa facilidade para boa do centro da cidade, por isso diversas linhas troncais circulam por este anel.

Corujão – Rede de Transporte Noturna de Campinas · Na cidade de Campinas nove grandes vias são as ... Dada à característica radial do sistema viário, estes eixos estruturais

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Corujão – Rede de Transporte Noturna de Campinas Autores: César Augusto; Pedro Meloni de Oliveira; Camilo Silva de Oliveira Coelho; EMDEC – Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas S.A. Diretoria de Desenvolvimento de Transporte e Infra-Estrutura Viária – Gerência de Planejamento de Transporte – Departamento de Programação do Transporte Público Endereço: Rua Salles de Oliveira, 1028 – Vila Industrial – Campinas / São Paulo CEP: 13035-270 Telefone: (19)3772-4083 Endereços eletrônicos: [email protected] ; [email protected] ; [email protected] ; RESENHA

Este trabalho apresenta o Sistema de Transporte Noturno de Campinas – Corujão, abordando suas características técnicas e operacionais, bem como sua função social na cidade de Campinas. O corujão cumpre o importante papel de conectar os equipamentos públicos que funcionam durante a madrugada, formando uma rede de atendimento que garanta o acesso a estes serviços a toda população. Além disso, atende também a demanda de usuários que se deslocam buscando serviços noturnos como: bares, restaurantes e boates, bem como aos trabalhadores dos mesmos. INTRODUÇÃO

Cada vez mais, as discussões sobre mobilidade urbana vêm ganhando espaço na nossa sociedade, à medida que esta se defronta com o desafio de adequar suas cidades às necessidades do Século XXI. No centro destas discussões estão os sistemas de transporte coletivo, que cada vez mais se configuram como os grandes promotores da mobilidade na cidade contemporânea.

Os sistemas de Transporte devem garantir a mobilidade dos habitantes nas mais diversas situações, não somente se preocupando com os grandes períodos de movimentação de pessoas. Para que um sistema seja completo ele deve oferecer um serviço ininterrupto, inclusive nos horários de menor concentração de demanda, mas não menos importantes para os que nestes precisam se deslocar. Tendo este conceito como uma das premissas básicas, o recente contrato de concessão do Serviço de Transporte Urbano de Campinas determinou que fosse criada uma Rede de Transporte Noturna. Estrutura do sistema de transporte Na cidade de Campinas nove grandes vias são as principais responsáveis pela circulação, esses eixos viários são fundamentais a partir dos quais o município se articula. Para o transporte estes eixos são os estruturadores do sistema; por eles circulam aproximadamente 90 % do total de passageiros transportados diariamente. Dada à característica radial do sistema viário, estes eixos estruturais convergem para o Anel Viário central, conhecido como Rótula, que contorna o núcleo da região central. A partir do Rótula os usuários do sistema de transporte conseguem se deslocar a pé com relativa facilidade para boa do centro da cidade, por isso diversas linhas troncais circulam por este anel.

Eixos estruturadores dos deslocamentos no município de Campinas:

� Eixo Sudeste / Rua da Abolição � Eixo Amarais / Avenida Brasil � Eixo Ouro Verde / Avenida das Amoreiras � Eixo Campo Grande / Avenida John Boyd Dunlop � Eixo Viracopos / Rodovia Santos Dumont � Eixo Padre Anchieta / Avenida Lix da Cunha � Eixo Barão Geraldo / Rodovia Milton Tavares de Souza � Eixo Anhumas / Rua Paula Bueno � Eixo Sousas-Joaquim Egídio / Rodovia Heitor Penteado

Características da rede noturna

Atualmente composto por oito linhas, que trafegam pelos principais eixos-estruturais de Campinas e realizam ponto final juntas no Terminal Mercado (região central) o sistema transporta pouco mais de 11 mil passageiros por mês. Com frota de 01 veículo e realizando quatro viagens por dia, as linhas têm os mesmos horários de partida no centro, garantindo que o usuário de uma determinada linha transfira-se para outra, neste terminal, tendo o dispêndio de uma única tarifa e aguardando um breve intervalo devido ao sincronismo da programação horária. O sistema é operado por microônibus de uma porta, os veículos possuem o layout do sistema, porém com cores exclusivas para diferenciá-los. A tarifa é igual à rede convencional inclusive aceitando-se o bilhete único. Correspondência entre as linhas do corujão e os Eixos estruturadores:

� Linha 199 - T. Vida Nova / T. Mercado (Eixo Ouro Verde); � Linha 289 - T. Itajaí / T. Mercado (Eixo Campo Grande); � Linha 179 - Jd. São Domingos / T. Mercado (Eixo Viracopos); � Linha 299 - Nova Aparecida / T. Mercado (Eixo Padre Anchieta); � Linha 489 - Pq. Jambeiro / T. Mercado (Eixo Sudeste); � Linha 339 - Cidade Universitária / T. Mercado (Eixo Barão Geraldo); � Linha 309 - Pq. Cidade / T. Mercado (Eixo Amarais); � Linha 339 - Cidade Universitária / T. Mercado (Eixo Anhumas); � Linha 399 - Joaquim Egídio / T. Mercado (Eixo Sousas);

Fundamentação legal “Na maioria dos municípios brasileiros os sistemas de transporte público não são disponibilizados durante o período das 00h00 às 04h30, o que obriga muitas pessoas que não dispõem de outros meios de transporte a percorrer grandes distâncias a pé ou esperar por longas horas pelo início de operação dos serviços. Tal condição é inadmissível numa metrópole com mais de um milhão de habitantes, seja pela diversidade de atividades produtivas realizadas no período noturno, seja pela variedade de atrações noturnas que a cidade disponibiliza. (...) As linhas noturnas do INTERCAMP serão operadas durante todo o período de duração do contrato. A rede mínima será formada pelas linhas apresentas na tabela 2.8 e na figura 2.7, circulando nos eixos de transporte e serão integradas fisicamente no Terminal Central e / ou no Terminal da Nova Rodoviária e integradas tarifariamente pelo Bilhete Único. Para efeito do dimensionamento de referência admitiu-se a operação com frota de Miniônibus e tempos de ciclos reduzidos, adequados ao sistema viário livre durante a madrugada. Novas linhas noturnas poderão ser criadas mediante a identificação da existência de demanda que a justifique, bem como o tipo de veículo em operação poderá ser alterado, adequando-se à demanda.” Trecho do Edital de Concessão.

Mapa das linhas da rede Noturna

Histórico A primeira iniciativa de uma operação de transporte noturna em Campinas ocorreu em meados da década de 80. À época, foram escolhidas linhas diametrais que atendiam os bairros mais populosos da cidade, e estas passaram a operar durante a noite, realizando diariamente três partidas em média, sem que houvesse conectividade ou sincronismo de partidas entre elas. Naquele momento, a cidade não tinha as dimensões atuais; os bairros mais distantes do centro (e cada vez mais populosos) ainda não estavam consolidados. Esta operação foi encerrada em 1991, conforme mostram as ordens de serviço das antigas linhas. Pesquisas realizadas no período indicaram que o nível de utilização era baixíssimo; praticamente não havia demanda para nas linhas noturnas, e a cidade ficou sem o serviço de transporte público noturno até a implantação do sistema Intercamp, em 2005.

DIAGNÓSTICOS, PROPOSIÇÕES E RESULTADOS Fatores decisivos para o sucesso da rede noturna de Campinas

� Solução para remuneração dos operadores: Em 2005 o Corujão era operado pelas empresas concessionárias do sistema Intercamp, contudo os altos custos operacionais e baixa rentabilidade alteraram esta configuração. Buscando um melhor equilíbrio financeiro optou-se por transferir a operação do serviço para o sistema complementar. Desde então a rede é operada pela cooperativa Altercamp, que utiliza microônibus na operação destas linhas, mais adequados à demanda apresentada. Esse novo modelo recebe subsídio das concessionárias do sistema. A transferência da operação do serviço corujão das empresas concessionárias do sistema Intercamp para os permissionários da cooperativa Altercamp se deu por meio de termo aditivo ao contrato de concessão do transporte, no início de 2008. Este aditivo prevê que a remuneração dos operadores do sistema noturno seja formada pela compensação dos custos estimados de operação, acrescido de uma taxa de remuneração do capital investido para a operação de 12% ao ano. Esta remuneração é composta pelo valor arrecadado mediante pagamento de tarifa mais o subsídio necessário para que o operador tivesse, à época, uma arrecadação de R$ 7.506,11 (sete mil quinhentos e seis reais, e onze centavos). Cabe as empresas concessionárias repassar a EMDEC o valor necessário para subsidiar a operação de modo a atingir o valor acima; a EMDEC então repassa este valor aos operadores. Caso a receita do operador seja superior ao custo mensal mínimo estabelecido acima, não há subsídio e ele recebe proporcionalmente ao que arrecadou. Até o momento, a arrecadação dos operadores do sistema noturno, salvo em raras exceções, não foi suficiente para cobrir os custos operacionais, resultando na necessidade do subsídio da operação. Os dados de bilhetagem eletrônica indicam que, nas linhas 179, 199, 289 e 299, nos fins-de-semana, a demanda é satisfatória com diversas viagens transportando 40 ou mais passageiros pagantes. Contudo, nos dias úteis a demanda é baixa, não sendo compensada pela arrecadação do fim-de-semana. Os operadores do sistema noturno estão submetidos às mesmas obrigações dos demais operadores do sistema Intercamp. Os veículos devem estar em conformidade com as normas estabelecidas no edital; deve-se manter seguro de responsabilidade civil, bem como equipar os veículos com validadores eletrônicos e recolher os percentuais de arrecadação destinados à cooperativa ao qual pertencem, conforme discriminado no edital e no termo aditivo.

Reprodução artística de um dos veículos do “Corujão ”

� Atendimento a pontos estratégicos

Conforme mostrado no mapa abaixo, as linhas do sistema noturno tocam ou passam próximas aos principais hospitais e postos de saúde 24 horas da cidade, bem como aos distritos policiais com serviços ininterruptos. Essa característica social da rede é fundamental, ao passo que garante aos cidadãos economicamente desfavorecidos acesso aos serviços de saúde e segurança pública nos horários de maior dificuldade de deslocamento.

� Conectividade da rede

A cidade de Campinas possui uma clara segregação sócio-espacial, dividindo-a em duas parcelas: De um lado da Rodovia Anhanguera, na região mais antiga e próxima do centro da Cidade, estão a maior parte dos pólos geradores de viagens, bairros de classe média e média alta, bairros com grande concentração de serviços, condomínios fechados de alto padrão, universidades e empresas; Do outro lado concentram-se “bairros-dormitório”, onde está localizada a maior parte da população de Campinas; Construir uma rede de linhas partindo de cada bairro populoso e liga-las às regiões que mais atraem viagens seria inviável pelo alto custo; Ao invés disso, na construção da rede noturna, aproveitou-se da característica radial do viário de Campinas, conectando todas as linhas em mesmo ponto no centro da cidade, o Terminal Mercado. Isto permitiu distribuir melhor os fluxos de passageiros, otimizando a integração. Para o sucesso deste conceito, foi fundamental sincronizar as partidas, minimizando o tempo de espera dos passageiros no terminal.

� Considerações importantes Apesar da utilização moderada do corujão, observa-se que no período do carnaval ocorre um grande crescimento da demanda das linhas do sistema, lembramos que nesta data acontece um grande evento gratuito promovido pela prefeitura, isso indica que quando da ocorrência de atividades noturnas populares a utilização da rede passa a ser significativa. Outro fator relevante é que algumas regiões que atualmente não são atendidas pela rede noturna constantemente solicitam o atendimento por esse serviço, o que nos mostra o grande interesse da população no sentido de ser beneficiada por este serviço. CONCLUSÕES Pode-se atribuir o sucesso do Corujão aos seguintes fatores:

� Oferecer uma rede confiável, graças ao sincronismo das partidas; � Objetividade nos deslocamentos, por percorrer os eixos estruturadores da cidade; � Acesso aos serviços públicos essenciais; � Baixo custo operacional, em função da racionalização dos recursos; � Embasamento jurídico estando contemplado no edital de concessão do serviço de

transporte; � Viabilidade econômica garantida pelo subsidio pago com recursos da arrecadação

global do sistema; Após cinco anos de operação observa-se que a o projeto de implantação do corujão foi bem sucedido, uma vez que, a população campineira atualmente pode contar com um serviço de transporte ininterrupto. Independente do fator econômico uma rede de transporte verdadeiramente coletiva deve oferecer atendimento ao usuário, mesmo em horários em que a demanda existente não é suficiente para suprir os custos operacionais. Podemos afirmar que, ao criar uma rede noturna sobrepujando os interesses financeiros de qualquer espécie, a Emdec provou ser uma empresa voltada a atender as reais necessidades da população campineira. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Campinas – Secretaria Municipal de Transportes. Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas. Edital de concessão do sistema de transporte de Cam pinas – Anexo II. Campinas, 2005, página 26. Campinas – Secretaria Municipal de Transportes. Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas. Termo aditivo de permissão. Campinas, 2008. Bicalho, M. P. Trilhos e Linhas . Campinas: Prefeitura Municipal de Campinas, Secretaria Municipal de Transportes – EMDEC, 2004. ANTP. Gerenciamento de Transporte Público Urbano , Instruções Básicas, 1.ª edição: São Paulo, 1990 Vasconcellos, E. A. A Cidade o Transporte e o Trânsito . São Paulo: Prolivros, 2005. EMPLASA. Pesquisa de Origem e Destino da Região Metropolitan a de Campinas . São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, Secretária dos Transportes Metropolitanos, 2003. Assembléia Constituinte. Constituição da República Federativa do Brasil , promulgada em 05 de outubro de 1988. São Paulo: Saraiva, 2006.