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1 UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO CURSO DE RÁDIO, TV E INTERNET ANA PAULA VICENTINI ANDRÉ BRAVIM BRENO DOS SANTOS GABRIELA NAZÁRIO GUILHERME TAVARES JULIA BUENO LOPES LUCAS PELON MICHEL GENTIL ALCÂNTARA COSPLAY Muito mais que uma fantasia. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2013

COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

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Projeto Integrado no curso de graduação à Universidade Metodista de São Paulo, Faculdade de Comunicação, curso de Rádio, TV e Internet, 1º semestre/2013. Este trabalho de conclusão de semestre tem como objetivos verificar o modo de vida da subcultura conhecida como Cosplay. Os participantes deste grupo, composto por pessoas de diversas faixas etárias, assumem a personalidade de um personagem, real ou fictício. Toda a pesquisa foi baseada nos conceitos aprendidos em sala de aula e por meio da prática da etnografia.

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

CURSO DE RÁDIO, TV E INTERNET

ANA PAULA VICENTINI

ANDRÉ BRAVIM

BRENO DOS SANTOS

GABRIELA NAZÁRIO

GUILHERME TAVARES

JULIA BUENO LOPES

LUCAS PELON

MICHEL GENTIL ALCÂNTARA

COSPLAY Muito mais que uma fantasia.

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2013

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ANA PAULA VICENTINI

ANDRÉ BRAVIM

BRENO DOS SANTOS

GABRIELA NAZÁRIO

GUILHERME TAVARES

JULIA BUENO LOPES

LUCAS PELON

MICHEL GENTIL ALCÂNTARA

COSPLAY Muito mais que uma fantasia

Projeto Integrado no curso de graduação à Universidade

Metodista de São Paulo, Faculdade de Comunicação, curso

de Rádio, TV e Internet, 1º semestre/2013.

Área de concentração:

Orientação: Profº Diego Franco

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2013

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Dedicamos esse trabalho aos nossos amigos e

colegas que contribuíram para a execução

deste trabalho. Bem como às amizades feitas

com diversos cosplayers ao longo do projeto.

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AGRADECIMENTOS

À união dos amigos e colegas de classe.

Ao comprometimento e dedicação de todos do grupo.

Ao nosso orientador Diego Franco.

Aos professores que nos auxiliaram e possibilitaram a execução do

trabalho.

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“Resgatem o seu lado lúdico! O seu lado lúdico

é responsável pela sua criatividade, pela sua

felicidade, pelo seu momento de emoção e neste

universo [cosplayer] você encontra pessoas

com este lado extremamente aflorado, mesmo.”

~ Pietro Progetti

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RESUMO

Este trabalho de conclusão de semestre tem como objetivos verificar o modo de

vida da subcultura conhecida como Cosplay. Os participantes deste grupo, composto

por pessoas de diversas faixas etárias, assumem a personalidade de um personagem, real

ou fictício. Toda a pesquisa foi baseada nos conceitos aprendidos em sala de aula e por

meio da prática da etnografia.

Palavras-chaves: cosplay, cosmaker, customing, mangá, anime, antropologia, estudo

etnográfico.

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO............................................................................................................. 9

2. OBJETIVOS .................................................................................................................... 6

2.1. OBJETIVOS GERAIS .......................................................................................................... 6

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................... 10

3. METODOLOGIA............................................................................................................ 11

4. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 6

5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................................... 6

5.1. ANTROPOLOGIA E ETNOGRAFIA ..................................................................................... 6

5.2. FILOSOFIA ........................................................................................................................ 6

5.3. SUBCULTURA NA MÍDIA .................................................................................................. 6

6. PERFIL DA SUBCULTURA ................................................................................................ 6

6.1. SÍMBOLOS E CARACTERÍSTICAS VISUAIS ......................................................................... 6

6.2. REFERÊNCIAS AUDIOVISUAIS .......................................................................................... 6

6.2.1. Fotografia ................................................................................................................ 6

6.2.2. Filmes e TV .............................................................................................................. 6

7. RELATÓRIO DE PESQUISA DE CAMPO ............................................................................. 6

7.1. OBSERVAÇÕES ................................................................................................................ 6

7.1.1. Anime Party ............................................................................................................. 6

7.1.2. Parque da Juventude .............................................................................................. 6

7.2. PERFIL DOS ENTREVISTADOS .......................................................................................... 6

7.2.1. Lendro Bueno .......................................................................................................... 6

7.2.2. Everton Rezende Berestran .................................................................................... 6

7.2.3. Paulo Segalla Pinto ................................................................................................. 6

7.2.4. Pietro Progetti ......................................................................................................... 6

7.3. ENTREVISTAS ................................................................................................................... 6

7.3.1. Leandro Bueno ....................................................................................................... 6

7.3.2. Everton Rezende Berestran .................................................................................... 6

7.3.3. Paulo Segalla Pinto .................................................................................................. 6

7.3.4. Pietro Progetti ......................................................................................................... 6

8. AUTORIZAÇÃO DO USO DA IMAGEM .............................................................................. 6

9. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 12

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1 APRESENTAÇÃO

Escolhemos esse tema, pelo fato de ser um tema recente e pouco explorado,

além do mesmo nos ter interessado. O termo “Cosplay” diz respeito à caracterização

feita pelos integrantes da tribo, no qual fazem isso por vontade própria, sem vínculo

com um modo de vida específico.

Na maior parte das vezes, os integrantes da tribo interpretam algum personagem

fictício, no qual possui certa ligação com um filme ou desenho, este último de maioria

japonesa. A grande parte deles possui uma cultura elevada em relação à mídia em geral,

visto que são bons entendedores de música, bem como de livros.

O grupo não sustenta algum tipo de preconceito, contudo, há pequenas rixas;

todavia, isto é apenas uma pequena rivalidade relacionada à disputa por melhor

caracterização e fidelidade ao personagem representado. Em geral, eles são um dos

grupos sociais mais receptivos na atualidade, bem como possuem hábitos incomuns às

outras pessoas, pelo fato de adquirirem os costumes e gírias presentes em seus filmes e

desenhos favoritos. Porém, aos que desconhecem a tribo, acham interessante a

diversidade de costumes e culturas estrangeiras deles.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivos Gerais.

Observar e estudar a subcultura urbana denominada cosplayers, focando

compreender os costumes e funcionamento da mesma.

2.2 Objetivos Específicos.

Registrar, fazendo uso dos conceitos aprendidos nas aulas de fotografia,

de forma fiel a que os fatos se apresentarem, imagens que representem a sub

cultura; desde suas vestimentas características, até seus locais de encontro.

Expor, por meio de uma fundamentação teórica, todos os conceitos de

Antropologia, Etnografia, Filosofia, e como a sociedade é vista na mídia,

aprendidos ao longo do semestre.

Obter registros que relatem o perfil da subcultura estudada, como seu

histórico, seus símbolos materiais e imateriais e suas referencias de mídia, onde

podem ser encontrados filmes, documentários, programas de TV, fotografias etc.

Observar o subgrupo em questão, por meio de observação participante e

entrevistar os integrantes do grupo, para podermos melhor retratar como

funciona esta subcultura.

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3 METODOLOGIA

O nosso grupo realizou um estudo sobre a subcultura urbana Cosplay. Mais

precisamente sobre os praticantes dessa subcultura, nos quais são denominados

cosplayers.

Para que pudéssemos realizar o nosso trabalho, contamos com alguns itens

essenciais para chegar ao objetivo final da nossa pesquisa. Sendo eles:

Dividimos o nosso grupo, segundo os itens da pasta de produção, para que cada

integrante ficasse encarregado de uma tarefa;

Realizamos pesquisas em sites, revistas, documentários e entrevistas;

Visitamos o evento de cosplayers “Anime Party 2013”, onde fizemos

observações iconográficas a respeito da subcultura;

Analisamos o comportamento dos cosplayers em pontos de encontro do grupo;

Fizemos entrevistas com praticantes dessa subcultura urbana;

Contamos com a orientação dos professores de cada modulo.

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4 JUSTIFICATIVA

Um profissional da área da comunicação precisa, acima de tudo, conhecer o

público com quem estará em contato durante cada projeto, pois somente assim é

possível criar, para cada grupo social, produtos e serviços que atendam seus interesses e

necessidades culturais.

Visando formar grandes comunicadores, o curso de Rádio, TV e Internet, da

Universidade Metodista de São Paulo, propõe-nos o contato direto com o público com a

aplicação do Projeto Integrado (P.I), fazendo-nos colocar em prática os conteúdos

aprendidos durante as aulas de cada módulo.

Como tema deste primeiro semestre, o P.I pede para contarmos a história de uma

subcultura urbana, expondo nela traços comuns nas personalidades de seus membros.

Para atender às normas do projeto, escolhemos como objeto de estudo a

subcultura do Cosplay, que vêm ganhando bastante popularidade no Brasil desde a

década passada. Conhecer esta subcultura, ainda em formação, é de grande auxílio à

nossa compreensão sobre as diferentes manifestações culturais presentes no interior de

uma mesma sociedade. Em relação ao Cosplay, ainda temos a chance de ver a influência

da mídia no modo de vida destas pessoas, percebendo o quão é importante e poderosa

nossa área de comunicação.

Sendo esta subcultura a prática de “transformar-se” em seus personagens

preferidos, ela é apontada como a fuga dos problemas encontrada por seus praticantes.

Este trabalho acadêmico, porém, busca instruir o leitor de como surgiu e como funciona

hoje a subcultura do Cosplay, sem pretensão de criar, no leitor, ideias a favor ou contra

a prática; buscando apenas diminuir preconceitos.

Esperamos, com este projeto, dar uma pequena base aos futuros pesquisadores

deste tema, para que possam com isso, desenvolver trabalhos que enriqueçam de

qualidade, a lista de materiais educativos sobre este grupo.

Ainda assim, nosso maior objetivo na realização deste trabalho, é aproveitar dele

cada pequena experiência que tivemos em seu desenvolvimento. Desde a aplicação dos

métodos etnográficos em pesquisa de campo, até a representação do tema, através de

recursos visuais, nos quais foram extraídos de sala de aula, para desenvolver no trabalho

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a melhor história que se pode ser contada, desta nossa experiência com o Cosplay,

assim como sempre teremos que fazer, porquanto quisermos ser comunicadores.

A realização do P.I é ainda uma das maiores avaliações que o corpo docente de

RTVI tem sobre o aproveitamento, desempenho e produtividade de nós alunos durante

este primeiro semestre; sendo a nota deste trabalho responsável por grande parte em

nossas menções finais. Portanto, a realização com êxito neste trabalho, será convertida

em nossa promoção para um patamar mais elevado do mundo profissional da

comunicação.

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5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.

Nesta parte do trabalho se encontra a fundamentação teórica, que expõem todos

os conceitos aprendidos em aula durante o semestre.

A fundamentação teórica esta dividida em três partes: Antropologia e Etnografia,

onde se encontram os conceitos básicos para o estudo de um grupo; Filosofia, onde é

expostas as concepções de ideologia, suas ferramentas e sua relação com o subgrupo

estudado; Subcultura na mídia, onde mostramos alguns conceitos de visibilidade e

também como o subgrupo é visto pela mídia da sociedade em que se encontra.

5.1 ANTROPOLOGIA E ETNOGRAFIA.

A Antropologia surgiu em meados do século XIX, na Europa, e tinha como

objetivo estudar povos de origem não ocidental ou como denominado por eles “povos

primitivos” ou “selvagens”, e por serem denominadas como tal, sempre eram encarados

como inferiores ao padrão do Eurocentrismo, mas com o avanço do capitalismo estes

povos foram desaparecendo, acabando com o objeto de estudo desta ciência recém

formada, que por sua vez não teve escolha à não ser se adaptar, mudando seu objeto de

estudo para o homem inteiro em todas as sociedades, o que levou a integração de novas

áreas de estudo, entre elas a antropologia biológica, antropologia pré-histórica,

antropologia linguística, antropologia psicológica e a antropologia social e cultural

também conhecida como etnografia que estuda tudo o que forma uma sociedade e busca

compreender todos os elementos que constituem esta sociedade, e entre estes elementos

se encontram os grupos sociais ou subculturas, que são um objeto valido de estudo

Antropológico e Etnográfico (PRAUN,2013; LAPLANTINE, 1988, pg.7 a 11 ).

Para realizar este projeto integrado fizemos uso da metodologia funcionalista,

apresentado por Bronislaw Malinowski, onde se vê um grupo como um todo, no qual

cada parte exerce uma função vital para o funcionamento do mesmo, portanto é

importante que cada parte deste grupo seja encarada de forma que possa se encaixar em

um coletivo de outras partes totalizando-o, outro fator importante do funcionalismo é

que o pesquisador nunca deve ir a campo com uma opinião pré-formada, seja esta

opinião boa ou ruim, para que seu julgamento não atrapalhe o estudo, que deve ser

transparente, somente retratando os todos os elementos que consistem o grupo. Outro

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fator importante é que os etnólogos se consideram aluno do seu objeto de estudo, afinal,

após seu convívio com eles, você acaba por aprender muito sobre eles e sobre si mesmo.

(LAPLANTINE, 1988, Pg.149 a 151.)

Também foi utilizada a observação participante que consiste em estudar um

grupo ou cultura, que diferente dos primeiros modelos de antropologia, que mandavam

viajantes coletarem informações para que os estudiosos pudessem fazer relatos, é feita

por meio de uma observação minuciosa por parte do próprio pesquisador, dando

importância para todos os detalhes (vestimentas, gestos, costumes, o meio em que

vivem) por menor que pareçam, são importantes para o entendimento do grupo.

Parafraseando Laplantine, de fato não se é possível estudar um homem o examinando

como uma planta em um jardim botânico, a única maneia de se fazer isso, é

comunicando se com eles, o que supõe que compartilhe de sua existência, e não

somente coletar informações de uma forma intuitiva, mas “impregnar-se dos temas

obsessionais de uma sociedade, de seus ideais, de suas angústias.” (LAPLANTINE,

1988, Pg.149).

Imagem retirada de http://oscar.library.yale.edu/omeka/items/show/7 .

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Para se obter bons resultados o pesquisador, como visto na imagem acima, que

mostra Malinoski em uma de suas viagens exploratórias para a escrita de seu livro

argonautas do pacífico ocidental, deve alem de observar, participar da rotina do grupo

estudado ao vestir-se, alimentar-se, comunicar-se como eles, só assim podendo

efetivamente ser uma parte deles pode se entender como vivem, e em alguns casos desta

forma também é possível conquistar a confiança dos membros mais céticos, que podem

conter informações importantes para o entendimento do grupo, já que cada pequeno

detalhe é de grande importância para o estudo etnográfico (PRAUN, 2013,

LAPLANTINE, 1988, p.150). Os conceitos acima podem ser confirmados pela seguinte

frase de Laplantine:

“O etnógrafo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a

tendência principal da cultura que estuda. Se, por exemplo, a sociedade tem

preocupações religiosas, ele próprio deve rezar com seus hospedes.”

(LAPLANTINE, 1988, p. 150)

Segundo Malinowski, o pesquisador deve sair de sua zona de conforto, aderindo

e questionando os costumes e hábitos do grupo estudado, deixando de lado nossos

conhecimentos de convívio social, correndo o risco de voltar com seus valores

alterados, pois ao se personificar como parte do grupo ele passa a enxergar o mundo do

ponto de vista deles, mas é um risco que o pesquisador deve estar disposto a correr

(LAPLANTINE, 1988, p. 150).

As subculturas podem ser consideradas “anormais” pela sociedade, por

possuírem costumes e hábitos diferentes, mas para seu estudo, temos que deixar de lado

estes julgamentos sociais, pois se trata apenas de uma cultura diferente que também

deve nos ver como tal (LAPLANTINE, 1988, P. 12 e 13). Como dito por Laplantine:

“A experiência da alteridade leva-nos a ver aquilo que nem teríamos

conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar no que nos é habitual,

familiar, cotidiano, e que consideramos ‘evidente’. Aos poucos notamos que o

menor de nossos comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas)

não tem realmente nada de ‘natural’. ”(LAPLANTINE, 1988, P. 12-13).

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O conceito de alteridade deve ser levado em conta, ao se olhar para qualquer

subcultura, pois como dito antes o pesquisador não deve deixar suas opiniões pessoais e

os preconceitos da sociedade influenciarem em seu estudo, devemos considerá-los

apenas como pessoas com cultura diferente, anotando os fatos de forma fiel a que se

apresentarem.

Etnógrafos atuais dizem que em relação a teoria funcionalista de Malinowski , as

instituições formadas pelo grupo tem como função satisfazer as necessidades biológicas

de seus membros, e onde os membros se organizam de forma a melhor atender estas

necessidades. Estes conceitos eram usados para o estudo de povos antigos, onde

realmente era necessário se satisfazer necessidades biológicas, mas em uma subcultura

urbana, os grupos se focam em satisfazer necessidades psicológicas de seus membros,

como a necessidade de se relacionar, de estar em um círculo de amigos, de apoiar um

membro quando ele se depara com algum problema. Seguindo este conceito, nos

procuramos entender dentro do grupo subcultural, quais são as necessidades que eles

possuem o que também pode nos dizer o motivo de eles estarem se reunindo, e se o

grupo tem esta organização necessária para ajudar seus membros e apoiá-los quando

necessário. (MARANHÃO, 2012)

Enfim podemos, podemos dizer que um bom etnólogo se coloca de corpo e alma

em seu estudo, e se for extremamente atencioso a detalhes e não tiver medo de se

entregar completamente ao estudo, poderá fazer uma boa pesquisa.

5.2 FILOSOFIA.

A Filosofia, como apresentado por historiadores, teve inicio entre o final do século

VII A.C. e o começo do século VI A.C., nas colônias gregas da Ásia menor, mais

especificamente na cidade de Mileto. Teve como seu primeiro objeto de estudo a

cosmologia, nada mais é que o estudo do mundo, e com o tempo ampliou seu campo de

estudo, e passou a ter como objetivo explicar a origem e causa do mundo, das ações

humanas e até de seus pensamentos. (CHAUI, 2000, Pg. 28)

A palavra filosofia foi somente atribuída a esta ciência em V antes de Cristo pelo

filosofo Pitágoras de Samos. Como mencionado em textos de Marilena Chauí, Pitágoras

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Afirmava que: “[...] a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os

homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.” (CHAUI, 2000, Pg. 19).

Etimologicamente a definição de filosofia é amar a sabedoria, e segundo

Pitágoras, um filosofo não possuí conhecimento real, só deve apreciá-lo. Também dizia

que qualquer mudança no mundo, por qualquer razão que fosse, deveria ser apreciadas,

julgadas e avaliadas. (CHAUI, 2000, Pg. 19).

Os filósofos também têm como objeto de estudo as ideias, o que torna a

Ideologia, por também usar ideias como seu principal conceito, um objeto válido ao

meio filosófico. A primeira concepção de ideologia foi dada pelo francês Destutt de

Tracy em 1801, quando pretendia formar uma ciência que estudasse nossa forma de

pensamento e a forma como nossas ideias se formavam, portanto a encarava como uma

ciência que estudava as ideias. Destutt inicialmente apoiava o líder político e militar

Napoleão Bonaparte, pois o considerava como um revolucionário liberalista, até sendo

nomeado como um senador por Bonaparte, enquanto o mesmo se encontrava no poder,

que posteriormente se mostrou simpatizante do antigo regime, o que ia contra os ideais

de Destutt, que se opôs as leis estabelecidas por Napoleão, sendo expulso de seu cargo.

O sentido da palavra ideologia foi mudado por conta de um discurso feito por Napoleão

no qual descrevia os ideólogos como “tenebrosos metafísicos” (CHAUI, 1980, Pg.11),

ou seja, como manipuladores de ideias e fatos. Após o discurso feito por Napoleão deu-

se a entender que ideologia é um conjunto de ideias com poder persuasivo capaz de

controlar grandes massas, também podendo ser entendido como uma maneira de

distorção da realidade. Contudo, este não passou a ser um significado oficial para a

palavra ideologia, pois a mesma não tem um significado fixo, e também podia ser

encarada como uma “visão de mundo”, e entre varias outras concepções, que dependem

do ponto de vista do ideólogo ou estudioso. (CHAUI, 1980, Pg.10,11).

Ao se falar de ideologia no sentido de manipulação, não podemos deixar de citar

Karl Marx, que entendia a ideologia, mais especificamente a ideologia alemã a qual ele

critica, como uma falsa consciência, usada pelo estado ou por que possuísse poder,

como ferramenta de controle social, um exemplo que pode ser dado, é o de que as

classes dominantes, que já são chamadas como tal por causa de uma falsa consciência,

impõem seus pensamentos e ideais as classes “dominadas”, fazendo com que continuem

sendo encaradas como dominantes, e ainda mais, fazendo com que tudo o que seja

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produzido pelas classes dominadas, sejam mais valiosos que seus próprios produtores, e

de propriedade de quem possui o poder. Os fatos apresentados pelos ideólogos também

são apresentados de forma não integral, seja com uma concepção distorcida ou usando

somente um ponto de vista (o que melhor convir a que estiver no controle), criando não

um fato em si, mas uma versão de fato que é apresentada ao publico como realidade.

(CHAUI, 1980, Pg.14,15).

A ideologia marxista também pode impor regras, normas ou leis que se julgue

necessário, de forma que os que estejam sobre regime das mesmas, não percebam que

elas estejam sendo implementadas e ainda sintam que as tais normas, são justas e estão

lá somente para ajudar em um melhor convívio social. (CHAUI, 2000, Pg.220 a 222).

Outra ferramenta importante de uso da ideologia é a inversão de causa e

consequência, onde manipulamos os fatos, seja por meio da omissão de parte dele, ou

por sua distorção, onde perdemos a causa que originou a tal consequência,

transformando a mesma em uma causa. (CHAUI, 2000, Pg.220 a 222).

Estas ferramentas ideológicas funcionam com ajuda de um conceito Hegeliano

adotado por Marx, o conceito da alienação, e diz que a ideologia só pode funcionar em

uma sociedade onde o povo esteja alienado, ou seja, uma sociedade onde o povo não

procura se informar e aceita tudo o que lhes é dito sem questionar, seja por falta de

informações ou por falta de interesse, uma sociedade alienada é mais fácil de controlar.

Em sua teoria de alienação Marx utilizou conceitos apresentados pelo filosofo

Feuerbach, que encarava a religião como a mais poderosa ferramenta de alienação

humana, onde se tinha a figura de um deus, figura criada pelo próprio homem, como um

ser supremo capaz de controlar por meio do medo - também uma ferramenta de controle

muito poderosa – os atos de uma sociedade, o que também tornou a igreja, por ser a

representante de deus, um poder inquestionável por vários séculos, a alienação aqui

presente se dava por aceitação dos povos da época ao que era apresentado a eles como

fato. Apesar de Marx utilizar estes conceitos em sua tese, discordava de Feuerbach,

achava que a forma mais poderosa de alienação era a alienação do trabalho, onde como

já dito acima, o trabalhador não se reconhecia como produtor do produto produzido por

ele. Isso se dava pois o trabalhador se via em uma empresa privada, comandada por um

proprietário, que por ser dono da matéria prima e contratante do serviço de um

trabalhador, dizia ser o verdadeiro produtor do produto final. (CHAUI, 1980, Pg.22)

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Após rever todos estes conceitos e observar de perto as relações existentes no

subgrupo estudado, podemos identificar que alguns dos elementos da ideologia estão

fortemente presentes no dia-a-dia dos integrantes deste grupo e no grupo em si. Em

relação a manipulação e distorção de informações como forma de controle social, não se

encontram muitos exemplos dentro do subgrupo, a não ser boatos de que competições

realizadas em reuniões deles tem seus resultados manipulados para favorecer algum

candidato em particular, ainda quanto a manipulação, nós pudemos identificar vestígios

mais fortes dela, não dentro do subgrupo, mas na maneira como ele é encarado, de

forma preconceituosa, por não se enquadrarem dentro do padrão da sociedade atual, e

por muitas vezes serem difamados por entidades religiosas que julgam seus costumes e

seus gostos como errado.

Dentro do subgrupo, não se encontra uma relação de dominância entre seus

integrantes, pois não há nenhum tipo de patente entre eles, a não ser pelos chamados

organizadores dos eventos que podem ditar regras a de comportamento a serem seguidas

pelos integrantes, para melhor organização dos eventos.

Por normalmente serem pessoas com ao menos um melhor acervo cultural,

mesmo que não seja de cultura nacional, estão sempre atentos aos fatos que ocorrem a

seu redor, os fazendo alvos difíceis à alienação, seja ela vinda de dentro ou de fora do

grupo.

5.3 SUBCULTURA NA MÍDIA.

Nos dias de hoje, tudo o que fazemos é de alguma maneira exibido na mídia,

incluindo as ações de grupos subculturais, mas antes de poder dizer como o grupo que

esta sendo estudado por nós é retratado na mídia de hoje, é necessário entendermos

alguns conceitos básicos de visibilidade.

Visibilidade nada mais é que o ato de ser visto. Obviamente, o que é visível pode

ser visto, e o invisível não, e o conceito de visibilidade em seu primórdio está

relacionado a isto. A capacidade de ver tudo o que esta em nossa visão, levando em

conta o alcance em que enxergamos as condições de iluminação de um local, e até

questões temporais - por exemplo, só está em nossa visão algo que está no presente –

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definem se algo esta visível, e caso esteja, é uma visibilidade recíproca, na qual uma

pessoa pode ver e ser vista. (THOMPSON, 2008, pg.20)

Este tipo de visibilidade era algo importante aos imperadores e reis da

antiguidade, pois era a única maneira de serem vistos por seus súditos, mesmo que não

de forma recíproca, em grandes discursos, coroações e outros eventos públicos. Porem

raramente podiam ser vistos por grandes multidões, sendo mais comum conferencias

particulares, se tornando visível apenas aos presentes em tais conferencias.

(THOMPSON, 2008, pg.21 e 22)

Com a criação de novas formas de mídia, um novo tipo de visibilidade surgiu, a

chamada visibilidade mediada, ou seja, com um meio transmissor entre seus receptores,

desconsiderando vários dos princípios apresentados pela teoria da visibilidade original.

Agora a visibilidade diz que algo não necessita mais estar dentro de seu campo de visão

para se estar visível, pois poderia muito bem ser visto a grandes distancia por meio de

uma foto ou emissão televisiva, nem mesmo necessita ser um ocorrido no presente, pois

por meio das mesmas ferramentas, se torna visível, portanto, não estamos mais presos a

uma noção de espaço e tempo para ver. (THOMPSON, 2008, pg.20 e 21)

Com novos conceitos de visibilidade, também vieram novas utilidades para a

mesma, já que com o uso dos meios de comunicação foi possibilitado atingir grandes

massas da população. Políticos fizeram uso da mesma para que seus discursos, agora

emitidos pela televisão, atingissem milhares e ainda de forma mais pessoal que

discursos feitos a grandes multidões, dando ao telespectador mais afinidade ao político

em questão. As indústrias também fazem uso da visibilidade desde a revolução

industrial, pois para que seus produtos atinjam maior percentual de venda, o que melhor

que o promover ao publico? Nada. Fazendo o uso primeiramente de panfletos

impressos, e mais tarde com o avanço da tecnologia anúncios nas mídias de radio e

televisivas, foi possível grande aumento em suas vendas. (THOMPSON, 2008, pg.22,

24 e 25)

Como pudemos ver, a visibilidade esta diretamente ligada com a imagem que

um indivíduo tem dentro da sociedade, seja esta imagem produzida por ele próprio ou

por outra pessoa,

Page 21: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

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O subgrupo estudado por nos, os cosplayers, não tem muita visibilidade nos

meios de TV e radio, mesmo que estejam ganhando um pouco de espaço nestes meios,

ainda não são muito visíveis. Em um programa da rede Record, chamado Programa da

Tarde, no dia 3 de março de 2013 foi feita uma matéria de cerca de vinte minutos,

envolvendo as cosplayers gêmeas Thamara e Tarcila Ramos, e outra cosplayer chamada

Alessandra Fernandes, onde o termo Cosplay foi mencionado brevemente, não sendo

nem o assunto principal da matéria. Isto foi usado somente como um exemplo da falta

de visibilidade que os cosplayers têm dentro da televisão e do radio. (RAMOS, 2013.)

A informação acima foi tirada de um blog criado por uma das gêmeas, Thamara

Ramos. Por não haver muito espaço nas mídias televisivas para os cosplayers, muitos

deles possuem blogs ou paginas na Internet como um meio para se tornarem visíveis.

Para inserirmos estes blogs ou páginas no meio da visibilidade, é necessário mais uma

breve explicação sobre a mesma.

Com o surgimento de uma nova mídia de transmissão, a Internet, criaram-se

ainda mais meios de se tornar visível dentro da sociedade, porem, por ser um meio de

transmissão livre do controle político que os outros meios sofrem, muitas vezes é usado

para passar uma imagem de alguém à sociedade, sem o consentimento da mesma,

podendo ser alguma informação que não traga nenhum beneficio ou até danos a imagem

da pessoa. Mas ainda há um lado positivo nesta nova mídia, pois por ser uma mídia

livre, todos podem por si próprios se tornar visíveis de alguma forma. (THOMPSON,

2008, pg.22, 24 e 25)

Dito isto, podemos considerar que grande parte da visibilidade dos cosplayers

vem de blogs e páginas de sua própria autoria, onde pode ser encontrados fatos sobre

suas próprias vidas, sobre seus futuros planos de Cosplay, e até fotos de Cosplay feitos

por eles no passado.

Além de paginas próprias dos cosplayers, ainda existem páginas dedicadas a

expor fotos de eventos, realizados por eles, assim como datas de futuros eventos, a

reuniões feitas pelo grupo, resultados de competições entre várias outras funções, sendo

publicado periodicamente por alguém que se encarregou de criar um espaço que

tornasse o grupo mais visível. A foto a seguir foi retirada do site cosplaybr, como forma

de ilustrar o falado acima:

Page 22: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

22

Fonte da imagem: http://www.cosplaybr.com.br/site/index.php/Fotos-Nova-Galeria/Anima-Recife-Dia-

20-02-Domingo-/Anima-Recife-2011-27910.html

Como pudemos observar, ao expor sua imagem, uma pessoa está se colocando a

julgamento do público, e isto define como serão vistos pela sociedade, mas é claro que

isto depende do ponto de vista de cada pessoa, por exemplo, pessoas mais

conservadoras podem julgar esta subcultura como completamente perturbada ou ao

menos fora dos padrões, o que já causa muito preconceito em relação a este grupo em

especifico, já pessoas mais abertas a novas experiências podem aceitar eles como sendo

pessoas com costumes diferentes, como dito antes, isto depende somente do ponto de

vista de cada um.

6 PERFIL DA SUBCULTURA

Embora o termo Cosplay tenha realmente sido inventado no Japão, sua prática é

uma adaptação direta (para não dizer que é a mesma coisa), das Masquerades

americanas. Para entender o desenvolvimento do Cosplay até os dias atuais, precisamos

estabelecer a relação entre a cultura nipônica e norte americana na criação deste

movimento, traçando sua linha do tempo desde o inicio do século XX, quando

começaram a se manifestar.

Page 23: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

23

Marcado no mundo pela Grande Depressão e pelos conflitos que antecederam a

Segunda Guerra Mundial, os anos 30 foram também tempos de muita expressão para a

Ficção Científica nos Estados Unidos. Foi nesta década que as publicações de Hugo

Gernsback começaram a dar seus frutos, contudo, não do jeito que o escritor esperava.

A revista Amazing Stories1, publicada por Gernsback em 1926, reunia textos de

grandes autores da Ficção Científica, como H. G. Wells, Edgar Rice Burroughs e Jules

Verne. O objetivo era usar as “histórias fantásticas2” para atrair jovens rapazes ao

estudo da engenharia. Entretanto, a maior parte de seus leitores não sentia vontade em

se tornar engenheiro, mas sim escritores de ficção, como os da revista que liam.

(B.SMITH, 1999).

Com o sucesso de Gernsback em criar um público, mesmo que pequeno, para a

Ficção Científica, o gênero conquistou seu lugar entre as grandes produções do maior

meio de comunicação de massa da época, o rádio. Baseado em uma história de H. G.

Wells, o radialista Orson Wells transmitiu um dos melhores programas de rádio da

história, “A Guerra dos Mundos”; que é, até hoje, conhecida por ser uma das obras mais

impactantes da comunicação.

Enquanto os exércitos Axis realizavam invasões em três continentes, os Estados

Unidos estava sendo invadido por seres tecnologicamente avançados de Marte,

desembarcando em Nova Jersey, cortesia de H. J. Wells, Orson Welles, e daquele

ultimo modo de comunicação, a rede nacional de transmissão de rádio.

(FRANKLIN,1982, p. 38, tradução nossa)

Mesmo com maior veiculação na mídia, a Ficção Científica não foi bem aceita pela

cultura americana, que a considerava um tanto esquisita. De fato, as novas produções

atraíram um leque de fãs, além de inspirarem ainda mais os antigos adeptos do estilo.

Contudo, eles apenas formavam um pequeno grupo com os gostos diferentes do resto da

população. Por isso, muitos fãs de ficção científica se sentiam deslocados na vida

cotidiana e social. (B.Smith, 1999)

Dividindo a concepção que pertenciam a um grupo isolado, Damon Knight,

Donald Wollheim, Fred Pohl e Virginia Kidd, assumiram o pequeno salário de

escritores, editores e produtores de revistas de Ficção Científica. Uma vez profissionais

da área, dividiram com seus fãs o dever de manter a “literatura estranha”, que tanto

1 Amazing Stories foi a primeira revista americana a abordar o tema da Ficção Científica.

2 Literatura Fantástica, ou Literatura Esquisita (Fantastic Literature ou Weird Literature), é como

chamavam os textos de ficção científica e outros gêneros, antes de terem uma denominação própria, segundo Camille Bacon-Smith.

Page 24: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

24

adoravam, tornando-a mais que um gênero literário, sua própria cultura, onde eles

criariam seu próprio conteúdo.

Com isso, foram criados pequenos clubes de Ficção Científica, onde muitos fãs

começaram a produzir suas próprias fanzines3. Entre si, trocavam histórias originais e

opiniões sobre o que haviam lido, ou descoberto sobre seu universo. Editores e

escritores de revistas profissionais, também abriram linha de comunicação com os fãs,

através de cartas, onde transmitiam suas opiniões sobre as fanzines e recebiam

comentários sobre suas próprias publicações.

Este universo de aproximação estabelecido entre fãs e produtores, levou à ideia

de criar convenções de Ficção Científica, onde o público e produtores poderiam ter

contato direto para debater suas ideias, além de se distrair em diversas salas temáticas.

Foi assim que, em 1939, nasceu a primeira World Science Fiction Convention

(Worldcon), que dentre outras coisas, foi marcada pela presença de Forrest J. Ackerman

e Myrtle R. Douglas. Os jovens amigos decidiram participar da convenção, fantasiados

como personagens futurísticos, Forrest com o traje de piloto espacial que apelidou de

“Futuricostume” e, Myrtle, com um vestido que inspirou no figurino do filme “Things

to Come”, baseado em um livro de H. G. Wells. Sendo os únicos caracterizados num

público de 185 pessoas, os dois causaram tanta empolgação que no ano seguinte,

diversas pessoas apareceram na Worldcon caracterizadas de algum personagem, dando

origem assim, à tradição chamada Costuming. (FRANÇA, 2008)

O Costuming, embora pouco conhecido fora das convenções de Ficção

Científica, ficou tão popular dentro delas, que virou uma competição que elegia a

melhor fantasia do evento. Em 1941, na Worldcon de Denver, o escritor Robert A.

Heinlein competiu fantasiado de Adam Stink, “o robô mais realista do mundo”, fazendo

uma paródia de Adam Link4. (LOTECKI, 2012)

Ao longo do tempo, o Costuming ainda originou a Masquerade, competição que

não só premiava a melhor fantasia, mas também a melhor apresentação criada pelo

participante, o que deixou as convenções ainda mais interessantes; mas, não fez a

prática mais conhecida fora das convenções. (França, 2008)

Em 1984, quando o fundador e escritor japonês da Studio Hard, Nobuyuki

Takahashi, visitou a Worldcon de Los Angeles, ficou tão impressionado com a

3 Adotamos neste trabalho o termo FANZINE, como histórias de ficção, ou pequenas revistas

desenvolvidas e publicadas por fãs. 4 Personagem robô que possuía características humanas. Protagonizava uma série de pequenas histórias

criadas por Eando Binder, publicadas na Amazing Stories a partir de 1939. (ADAM, s.d)

Page 25: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

25

apresentação de Masquerade, que, chegando ao Japão, descreveu tudo o que vira, em

suas revistas, onde atribuiu à prática ao termo Cosplay. (LOTECKI, 2012)

Naquele ano, os fãs que estavam na Worldcon vestiam os trajes de seus

personagens favoritos (LOTECKI, 2012), com isso, Takahashi acabou definindo a

prática como a caracterização e interpretação de um personagem. A ideia era poder

tornar-se o próprio personagem, adotando além de suas vestes, seu jeito de falar,

bordões, modo de andar e expressões em geral.

Se o Costuming não teve campo para se popularizar nos Estados Unidos, o

Cosplay não enfrentou barreiras para se tornar febre no Japão, devido à grande

influência dos mangás e animes na cultura do país.

Representando uma das maiores indústrias japonesas, os mangás são histórias

em quadrinhos de origem nipônica que abordam diversos temas e assuntos, sendo

popular em todos os gêneros e idades. Já os animes, são animações também japonesas,

em maior parte baseadas, ou adaptadas dos Mangás e, assim como os quadrinhos, fazem

enorme sucesso no Japão, desde a sua criação.

Os personagens dessas histórias (mangás e animes) foram os reais responsáveis

pela popularização do Cosplay, pois, diferente das HQ’s e cartoons ocidentais, os

protagonistas japoneses possuem vida particular, onde enfrentam problemas comuns ao

cotidiano, que nem sempre são superados. Somados à cronologia presentes nestas

narrativas, este traço dá aos personagens grande aproximação à realidade, fazendo com

que o público identifique características do personagem, em suas próprias vidas.

(Coelho Junior; Silva, 2006)

A identificação do público japonês com os personagens dos mangás/animes e a

ideia de que eles poderiam se “tornar” esses personagens por alguns momentos, fez do

Cosplay muito popular no Japão. Em pouco tempo, feiras de mangás, como a Comiket,

em Tókio, começaram a contar com a presença de diversos cosplayers. O crescimento

da popularidade desta prática propiciou no país a criação de uma indústria voltada para

a área. Em pouco tempo, o Japão já estava repleto de lojas, revistas e eventos

desenvolvidos para o universo Cosplay.

Durante a década de 90, quando o anime começou a fazer grande sucesso em

diversas partes do mundo, o Cosplay, que pegou carona em sua fama, causou impacto

tão grande entre os fãs dos animes que, mesmo nos Estados Unidos, muitos acharam

que a ideia de toda esta prática havia nascido no Japão, sem sequer saberem da

existência das Masquerades. Devido a esta confusão, mais tarde os Estados Unidos

Page 26: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

26

começaram a chamar de Cosplay apenas as caracterizações de personagens japoneses,

voltando a atribuir o nome Costuming aos outros personagens.

Como no Brasil, a chegada do Cosplay se deve pela popularização dos animes,

podemos afirmar que a grande responsável por trazê-lo foi a extinta Rede Manchete,

primeira emissora a transmitir animes na TV aberta de nosso país. Com a reprodução de

Os Cavaleiros do Zodíaco em 1994, a Manchete alcançou seus maiores picos de

audiência, o que levou ela e outras emissoras, a também apostar no gênero, trazendo

animes como Pokémon, Samurai Warriors, Sailor Moon, Yu Yu Hakusho e Dragon

Ball.

Outra peça importante para o Cosplay no Brasil foi a editora ABRADEMI, que

lançou a revista AnimeClub, onde incentivava seu público a praticar o Cosplay. Em

1996, a editora promoveu em São Paulo, o primeiro evento de animes da América do

Sul, onde contou com a participação, já esperada, de diversos cosplayers; realizando,

então, o primeiro concurso Cosplay do país.

Mostrando-se sempre promissores, a ABRADEMI continuou realizando este

tipo de evento, onde além de mangás, revistas e Cosplayers, começou a reunir também,

dubladores e cantores de aberturas de animes.

Contudo, a criação do Anime Friends em 2003, que se iniciou o “boom” do

Cosplay no Brasil. A convenção que veio a se tornar o maior evento multitemático da

América Latina, sempre contou em seu repertório com atrações internacionais que

trazem em seu repertório, diversas músicas de animes, ou da cultura pop japonesa. Além

disso, o evento apresenta grandes atrações da música nacional, diversas salas temáticas,

competição de games, estandes de lojas, além é claro, do concurso Cosplay.

Em 2007, a Yamato Cosplay Cup, promoveu no Anime Friends, o maior

concurso nacional de Cosplay, contando com participantes de todo o Brasil. Em 2008, a

competição ganhou cunho internacional, com participantes de cinco Países da América

Latina. Hoje, a Yamato Cup representa uma das mais importantes competições do

circuito internacional e, seus finalistas, concorrem ao torneio mundial que ocorre no

Japão.

Desde a década de 1990, até hoje, o Cosplay atingiu os mais variados tipos de

público, sendo que seus participantes são de todas as faixas etárias, e inspiram-se nos

mais diversos tipos de personagens, sejam eles do mundo dos quadrinhos, das

produções do Hollywood, ou até mesmo um artista. Estamos a 30 anos da criação do

Page 27: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

27

termo Cosplay e, pelo visto, ainda veremos esta cultura por mais 30 anos; onde, com

certeza, ela se tornará ainda mais popular.

6.1 SÍMBOLOS E CARACTERÍSTICAS VISUAIS

Neste grupo as pessoas se caracterizam normalmente com fantasias bem

trabalhadas de algum personagem que se identificam de algum modo.

Usualmente as fantasias usam cores vivas e quentes, como o vermelho, amarelo,

laranja etc. Dentre os itens que compõe a fantasia estão acessórios como: lente de

contato, perucas, máscaras, colares e etc.

Para completar a caracterização, eles abusam do uso de maquiagem,

possibilitando, assim, a fidelidade e similaridade ao seu personagem.

Durante os encontros há o Mupy, que é a bebida preferida dos praticantes de

Cosplay. E também é muito comum ter plaquinhas para designar uma caravana, um

encontro ou até mesmo enquetes, como nas fotos abaixo:

(acima: Libriana Voadora,2010) | (abaixo: Nick Clons,2011)

É importante lembrar que esses

símbolos não fazem parte do dia-a-dia

dos praticantes de Cosplay, essas

fantasias e acessórios são utilizadas

eventualmente em reuniões, eventos,

concursos e qualquer outra ocasião

desta prática.

Page 28: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

28

Alguns acessórios, como bottons e chaveiros de animes são usados muito em

mochilas. Muitos cosplayers têm o costume de guardar os ingressos e flyers dos eventos

mais importantes.

6.2 REFERÊNCIAS AUDIOVISUAIS

6.2.1 Fotografia

O Cosplay é um público muito explorado no ramo da fotografia, mas pouco

encontrado, pois, a fotografia Cosplay

se baseia não só em expressar um

sentimento, emoção ou ambiente, e sim

em mostrar o personagem, seus trajes, e

seus poderes e/ou habilidades. Um dos

fotógrafos mais importantes com este

foco, é Omi Gibson que explora a

dramatização e a fotografia com uma

boa composição, de acordo com Dady

(2013):

Suas fotos são bem dramáticas e de vários planos de fundo

interessantes, trabalhando tanto em estúdio como ao ar livre, suas

composições são bem interessantes e faz a foto ficar espetacular. Essa

é a principal diferença pra um verdadeiro fotógrafo Cosplay, ele tem a

técnica de fotógrafo e aplica para a “realidade” do personagem.

(DADY, 2013)

Existem outros profissionais no ramo, e ainda

há sites para fotógrafos com ênfase em Cosplay. O

site tem o nome de Cosplay Photographers’

(cosplayphotographers.com) e segundo os criadores,

o site possui um objetivo: criar um lugar para os

fotógrafos de todas as habilidades para compartilhar,

ensinar, inspirar e ser inspirado e aprender mais da

Page 29: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

29

fotografia cosplay”. O site possui galerias de fotos, tópicos de noticias e dicas para

novos fotógrafos.

Os fotografados também colaboram muito com o trabalho, eles entram no

personagem e fazem poses, caras e bocas, ajudando o trabalho do fotografo parecer

mais real.

6.2.2 Filmes e TV

Neste tópico, tivemos um pouco de dificuldade para encontrar filmes que

retratassem a cultura Cosplay, porém encontramos entrevistas e séries que abordam o

assunto.

Há uma série de anime chamada

Kosupure Complex ("Cosplay Complex"), que

conta a história de garotas do colegial que

praticam o Cosplay e tem o sonho de ir a um

campeonato de cosplayers, fazendo de tudo para

realizarem este sonho. Esta série retrata na ficção,

o que os verdadeiros praticantes de Cosplay

vivem, porém, em forma de anime.

Vimos também, entrevistas com

praticantes dessa subcultura em programas de

televisão como “A Liga”, da rede bandeirantes,

onde eles acompanharam de perto a caracterização

de um Cosplay , e a realidade em que vivem .

(KIMURA, Shinichiro, 2002, Cosplay Complex DVD)

7. RELATÓRIO DE PESQUISA DE CAMPO

Baseado no método etnográfico de pesquisa de campo, neste item serão expostas

as etapas de “Observação”, “Perfil dos entrevistados” e “Entrevista” da pesquisa sobre

Cosplayers.

O relatório está dividido em três subitens: “Observação”, que expõe as visões e

impressões do grupo sobre o cotidiano dos entrevistados, na qual buscamos observar a

maneira como as características culturais da subcultura Cosplayer se manifestam nos

Page 30: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

30

símbolos materiais e imateriais dos entrevistados; “Perfil dos entrevistados”, no qual se

expõe detalhes sobre a individualidade de cada entrevistado, além de conter um perfil e

entrevista com um especialista em Cosplayer; e por fim, “Entrevistas”, a íntegra

transcrita das entrevistas com os personagens e o especialista.

7.1 OBSERVAÇÕES

7.1.1 Anime5 Party.

Evento realizado no dia seis de abril de 2013, em São Paulo

Iniciamos nossa pesquisa de campo visitando um evento de Cosplays chamado

de “Anime Party” que foi realizado durante todo o dia 06/04/2013, no Colégio Santa

Amália, Avenida Jabaquara nº 1.673, próximo à estação Saúde do metrô. Do grupo,

participaram da atividade os alunos André e Michel. Chegamos ao evento por volta das

onze horas da manhã. No percurso entre a estação e o colégio notamos a euforia de

alguns jovens que saiam da estação em direção ao evento, alguns já com a fantasia de

Cosplays e outros com grandes sacolas plásticas carregando as fantasias que iriam usar

mais tarde. Na entrada do colégio existiam duas filas que davam a volta ao redor dos

muros do colégio. De um lado eram as pessoas que já tinham ingresso e do outro quem

iria comprar. Nas duas filas, a entrada era preferencial para quem estava fantasiado.

Dentro do colégio a maioria do público era jovem, formado por pessoas com

fantasia de Cosplay e simpatizantes da cultura. As dependências do local foram usadas

de forma bem criativa, com destaques para os seguintes espaços.

Quadra esportiva aberta, usada para o que eles denominam ‘Batalha

campal’, onde duas pessoas lutavam usando como armas espadas de borrachas.

Quadra esportiva coberta, toda ocupada com pequenos estandes que

vendiam produtos relacionados ao mundo Cosplay que ia de camisas a mangás6.

Salas de aula, cada uma com uma temática diferente, que variavam de

Harry Potter a The Walking Dead. Uma das salas ficou reservada para a troca de

fantasia dos Cosplayers;

Auditório, usado para competições.

5 Qualquer desenho animado produzido no Japão.

6 Histórias em quadrinhos japonesas.

Page 31: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

31

Na área das lanchonetes o dinheiro era trocado pelo dinheiro oficial do

evento, nos quais eram notas de um, cinco e dez de cores diferentes, impressas com

personagens de animes.

O som ambiente variava entre rock internacional, J-pop e J-rock (os dois últimos

gêneros musicais japoneses), com exceção das salas temáticas que tocavam um som

relacionado ao tema retratado.

As fantasias de Cosplays eram bem variadas, indo das mais produzidas e cheias

de detalhes às mais simples, que eram vendidas no evento e consistiam de uma máscara

em espiral cor-de-abóbora e uma capa preta com nuvens vermelhas da “Akatsuki”, do

personagem Tobi do anime Naruto7.

Conversando com alguns cosplayers percebemos que eles se dividem em três

grupos. O primeiro tem o Cosplay como profissão e está ali só pela competição - que

distribui prêmios em dinheiro. O segundo está ali pelo prazer de exibir a fantasia – e

tem o Cosplays como uma cultura. Já o terceiro grupo é uma mistura dos dois já citados.

Independentes de quais grupos os presentes façam parte, todos eles pareciam gostar de

atender ao público e tirar fotos. Decidimos pegar o contato do segundo e terceiro grupo

para possibilidade de futura entrevista.

A quantidade de Cosplay feminino superava o masculino. A maioria das

meninas era menor de idade e tinha vergonha de conversar. O único contato que

conseguimos foi de uma moça que veio do interior de São Paulo especialmente para o

evento.

Os cosplayers geralmente baseiam suas fantasias levando em consideração certa

semelhança com o personagem caracterizado, pois quanto maior os detalhes das roupas

e a semelhança entre o personagem e a pessoa que se fantasia, maior a identificação e a

empatia do público e dos jurados das competições para com o fantasiado. O preço das

fantasias, tanto para quem confecciona, quanto para quem compra em lojas

especializadas, gira entre duzentos a mil reais em média. A maioria das fantasias de

Cosplay é inspirada em animes japoneses. Vimos uma que destoava das outras por se

tratar do Jason, da cultuada série de filmes de terror norte-americana, Sexta-feira 13.

7 Desenho japonês, baseado no mangá de mesmo nome.

Page 32: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

32

Foto tirada no evento Anime Party (Leandro Bueno com o seu Cosplay de Jason, posando para foto.)

Foto: Michel Gentil (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

No caso da fantasia não ser baseada em nenhum personagem famoso ou

existente o que conta é a criatividade para chamar a atenção dos presentes no evento.

Uma das fantasias que nos chamou a atenção foi a do Paulo, que se fantasiou com um

uniforme preto, correntes como pulseiras e uma espada em forma de facão que

carregava nas costas e ultrapassava seu tamanho. Quando perguntado em qual

personagem tinha se inspirado, ele relatou que não copiava nenhum personagem e usava

sua imaginação para criar a fantasia. Pegamos o seu contato e ele nos indicou um

encontro de Cosplayers que aconteceria no Parque da Juventude, na estação Carandiru

do metrô, numa data próxima.

Outra Cosplay que nos chamou a atenção foi Maria, que observamos pela

primeira vez nas catracas da estação indo para o evento, não só por acharmos sua

fantasia muito bem feita e portar uma foice preta bem maior do que ela, mas pelo jeito

despojado e boca-suja que chegou, gritando com os amigos que a estavam esperando na

estação. No evento seu comportamento continuava o mesmo, o que nos pareceu que ela

já participa de eventos como este há muito tempo. Conversamos com ela no decorrer do

evento e tiramos fotos dela de Cosplay. Pegamos o seu contato para uma futura

entrevista e a mesma também nos indicou o parque da juventude, como próximo local

de encontro de alguns deles no dia vinte e um de abril.

Durante o evento, os Cosplayers dificilmente saem do personagem e todos

tentam “incorporar” a fantasia que estão representando, seja através da voz ou através

Page 33: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

33

dos movimentos. A lista de personagens que os Cosplayers se baseiam é ampla e

diversificada, os mais famosos entre o público jovem que vimos foram: os animes

Naruto e Cavaleiro do Zodíaco e a série de games e filmes Resident Evil8.

A bebida mais vendida e que se esgotou antes do final do evento é o Mupy, um

tipo de suco de diversos sabores que vem em um saquinho plástico, acompanhado com

um canudinho. Outro símbolo dos Cosplayers, que também é vendida no evento por dez

reais e nos chamou a atenção, foi uma plaquinha branca que vem com uma caneta piloto

azul, nesta placa a pessoa escreve uma pesquisa, geralmente entre dois animes ou dois

personagens famosos e passa o evento exibindo a placa. Os presentes que quiserem

votar nos seus animes preferidos anotam sua preferência na placa. A caneta piloto vem

com um pequeno apagador embutido, então o dono da placa pode fazer diversas

pesquisas, animando o evento. Outras utilidades que vimos para a plaquinha foi a de um

rapaz tímido que a usou para flertar com as garotas e a de um engraçadinho pedindo

dinheiro para comprar um ticket de metrô.

Não conseguimos reservar uma câmera profissional na universidade a tempo do

evento, por isto tiramos algumas fotos usando nossas câmeras, o que resultou em fotos

de menor qualidade.

Como primeiro contato, achamos que foi bem produtivo e até mesmo lúdico

imergir neste universo de fantasia que os Cosplayers tentam transpor para a realidade.

7.1.2 Parque da Juventude

Encontro realizado no dia 21 de abril de 2013, em São Paulo.

Seguimos para o Parque da Juventude para participarem de Cosplayers. Do

grupo foram: André, Breno e Michel. Dentro do vagão do metrô linha azul sentido a

estação Tucuruvi, encontramos, que já tínhamos vistos anteriormente no Anime Party.

Ele estava fantasiado de Cosplay e estava indo para o encontro de Cosplay no parque da

juventude, mas não poderia ficar muito tempo, pois iria encontrar com um grupo de

Cosplayers lá, para irem todos juntos num evento de Cosplay na cidade de Guarulhos.

Na estação Carandiru do metrô, que fica ao lado do parque, encontramos Alan,

um Cosplayer que estava vestindo uma capa preta e maquiava o rosto para fazer

8 Jogo de terror, onde o objetivo é atirar contra zumbis.

Page 34: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

34

Cosplay do personagem Tobi, do seriado Naruto. Ele nos contou que aquela era a

primeira vez que fazia Cosplay e não conseguia esconder a emoção. Logo que ele

colocou a máscara, característica do personagem e ficou com o Cosplay completo, as

pessoas ao redor e as que saiam do metrô o olhavam com estranheza. Algumas crianças

o encaravam sorrindo e assustadas, reconhecendo o personagem. Alan, por sua vez,

encarnou o personagem, imitando seus gestos e poses.

Enquanto conversamos com Alan, Maria e seus amigos saíram do metrô e nos

cumprimentaram. Todos eles estavam de Cosplay, Maria com um Cosplay mais simples

do que o usado no Anime Party.

Fomos até o local do encontro, numa área mais reservada do parque. Por ser um

domingo o parque estava cheio, mas mesmo assim o grupo de Cosplay se destacava

pelas fantasias. Estes encontros são combinados pela rede social facebook e neste dia

durou até às seis horas da tarde. No momento mais movimentado do encontro

calculamos umas cinquenta pessoas, a maioria de Cosplay.

O Parque da Juventude foi construído no local onde antes havia o presídio

Carandiru e a mistura de área verde com estruturas grandes e incompletas de concreto

abandonadas e pontes de ferro propiciam um ar de fantasia ideal para um encontro

Cosplay.

O ambiente do encontro nos pareceu um pouco mais informal que o evento que

fomos anteriormente, porém o comportamento dos Cosplayers de “entrar” no

personagem continua tão forte como antes. Além disto, não havia tantas pessoas

querendo tirar foto: apenas nós, um casal que tem um site voltado para o universo

Cosplay e algumas pessoas que passeavam pelo parque.

Um fato importante que não havíamos notado no evento anterior foi que eles se

tratam pelos nomes dos personagens que a pessoa está usando no dia, ou pelo nome do

personagem mais marcante que a pessoa já fez.

Um símbolo forte neste dia foi o jogo “movie magic”, um RPG (role-playing

game, ou Jogo de Interpretação), onde os jogadores disputam cartas com poderes,

durante todo o encontro havia um grupo de pessoas jogando.

No decorrer do evento encontramos Leandro, que faz Cosplay do personagem de

filmes de terror Jason. Ele estava um pouco afastado do local do encontro, onde havia

umas colunas altas de concreto e fazia posse para a câmera de um casal de estrangeiro.

Já tínhamos visto ele no Anime Party, mas desta vez puxamos uma conversa e, durante

Page 35: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

35

a mesma, chegamos à conclusão que ele seria uma pessoa interessante para entrevistar.

Pegamos o seu contato e tiramos algumas fotos dele.

Novamente Cosplay dos personagens do anime Naruto e do jogo Resident Evil

se destacavam ante os demais.

Quase no final do encontro houve uma pequena competição entre os Cosplayers,

onde eles imitavam uma cena ou um jargão famoso do seu personagem enquanto os que

estavam ao redor aplaudiam e gravavam a cena usando celulares com câmeras. No final,

um pequeno júri elege a melhor performance. Esta competição tenta imitar, de uma

forma informal, as competições profissionais que ocorrem nos eventos de Cosplay.

Nossa impressão deste encontro foi a de que ele serve como uma reunião entre

amigos, onde eles conversam, brincam e trocam informações sobre o que há de novo no

universo Cosplay para futuras fantasias e também, um local para criar novos laços e

aumentar laços antigos e no meio deste processo fortificar a cultura Cosplay.

Encontro Cosplay no Parque da Juventude.

Foto: Breno dos Santos (aluno do 1º semestre de Rádio e TV)

Page 36: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

36

7.2 PERFIL DOS ENTREVISTADOS

7.2.1 Leandro Bueno

Leandro, 30, encontrou-nos na estação Conceição do metrô no horário

combinado, estava todo de preto, usando uma camisa do seu personagem preferido,

Jason, da série de filmes de terror, sexta-feira 13. Ele nos convidou a ir até a sua casa,

que fica a poucos minutos da estação.

Impressiona quem vê pela primeira vez o seu quarto, pequeno, com espaço

suficiente para uma cama e um armário estreito e alto. Este pequeno espaço reflete a

importância que Leandro dá ao universo de fantasia. Com dois modelos em tamanho

natural dos personagens, Espantalho e o Ghostface da Jill Roberts. Uma assassina

mascarada do filme de terror Pânico 4 - para deixar claro que era um personagem

feminino, Leandro colocou seios postiços na fantasia, tal qual a personagem do filme.

Dois outros fatos saltam a vista: Os pôsteres de filmes de terror contrastam com

as de modelos seminuas de revista masculinas e à quantidade de bonecos de action

figures9 que cobrem as prateleiras na parte superior das paredes. Os action figures são

variados, a maioria de filmes de terror. Notamos algumas bonecas da Barbie

transfiguradas, que transformou em monstros, colocando chifres, quatro braços de látex

e costelas soltas pintadas com tinta vermelha, remetendo a sangue. Ele não possui idéia

da quantidade exata de action figures que tem e de quantos já gastou com eles, nos disse

apenas que o boneco que mais gosta é um action figure de uma edição limitada do

Jason, pelo qual pagou quatrocentos reais.

Leandro mora com os pais e está desempregado, foi demitido do seu último

serviço de auxiliar de estoque. Ele reveza os dias de semana entre entregar currículos,

trabalhar - eventualmente - em eventos usando suas fantasias e confeccionar suas

fantasias. Está trabalhando em duas fantasias no momento. Um uniforme de policia para

o personagem Mathias, do filme Tropa de Elite e um molde do rosto do ator Arnold

Schwarzenegger, para sua fantasia do Exterminador, do primeiro filme da série

Exterminador do Futuro.

9 Action figures ou figuras de ação: bonecos de plásticos, que simulam personagens de filmes,

videogames, seriados, entre outros.

Page 37: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

37

7.2.2 Everton Rezende Berestran

Encontramos com Everton na entrada da Galeria do Rock, ele estava com duas

amigas. Vestia uma jaqueta preta e uma lente azul no olho, na nossa ingenuidade

perguntamos para ele qual era o Cosplay que ele usava: “Nenhum, hoje estou sem

Cosplay.” Desfeito o engano seguimos para o último andar da Galeria do Rock, onde a

entrevista foi realizada.

Everton tem 19 anos, mora com os pais e uma irmã mais nova e é estudante do

curso de Sistema de Informação. Ele

trabalha como vendedor e faz

Cosplay porque se sente feliz

fazendo.

Foto: André Bravim (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

Fonte do desenho: http://inuxbokuss.wikia.com/wiki/Soushi_Miketsukami

7.2.3 Paulo Segalla Pinto

É difícil a figura de Paulo Segalla, 18, passar despercebida. Alto 1.85, cabelo

castanho escuro comprido, vestindo: coturno, calça e camisa na cor preta e assessórios

como braceletes em couro com elementos pontiagudos na cor prata. Este personagem

chama a atenção de quem passa. Ele parece não se importar muito com isto, gosta de

“quebrar o comum”, como nos relatou na entrevista realizada no shopping da estação

Santa Cruz do metrô. Atualmente com 18 anos, cursa engenharia aeronáutica e trabalha

com o seu pai na marcenaria da família que fica próximo da estação, onde também

reside.

Nos intervalos do trabalho imagina suas próximas fantasias e ao contrario da

maioria dos Cosplayers não copia os personagens de nenhum anime ou jogo, prefere

criar seus próprios personagens partindo do zero.

Page 38: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

38

O ofício o ajuda na confecção das armas de compesado (laminas de MDF) e

destas maquinas da marcenaria saem modelos de armas e espadas de todos os tipos e

formatos que ele incorpora aos seus personagens e também comercializa para outros

Cosplayers.

Encontramos Paulo Segalla duas vezes antes da entrevista. A primeira no evento

“Anime Party” realizado no Colégio Santa Amália. A segunda dentro de um vagão do

metrô linha azul. Neste dia íamos para um encontro de Cosplayers que seria realizado

no Parque da Juventude, estação Carandiru do metrô– seguindo uma dica do próprio

Paulo – esta coincidência de encontrá-lo com capa preta e uma adaga negra, com quase

o dobro do seu tamanho e a reação de espanto das pessoas dentro do vagão do metrô, só

reforçou nosso desejo de fazer a entrevista.

Foto: Breno dos Santos (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

7.2.4 Pietro Progetti

Pietro, 26, nos encontrou numa praça, próxima a estação Liberdade do metrô.

Ele está desempregado e no momento está no 4º ano do curso de Direito. Entusiasta e

conhecedor do universo Cosplay, ele já se fantasiou, mas hoje em dia dá dicas para

quem quer ser Cosplay e é coordenador de um evento Cosplay que ocorre na Região do

Page 39: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

39

ABC. Um pouco agitado e gesticulando muito com as mãos durante a entrevista ele se

esforçou para evitar uma conversa muito técnica e ao mesmo tempo ressaltar a

importância do Cosplay para a sociedade.

Conversa com Pietro.

Foto: André Bravim (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

7.3 ENTREVISTAS

7.3.1 Leandro Bueno

Entrevista realizada no dia 24 de Maio de 2013, no período da manhã.

Pode nos dizer seu nome e idade?

Meu nome é Leandro Bueno tenho 30 anos de idade.

Pode nos contar um pouco como foi a sua adolescência?

Minha adolescência?... Ah, minha adolescência foi altos e baixos, coisas boas e

coisas ruins. Cresci assistindo animes, partes boas assim da escola. Parte chata era a

parte de briga, sempre tinha na escola, bullying principalmente que eu era gordo. Era o

segundo mais gordo da escola, dai o pessoal tinha um certo preconceito com isto e por

Page 40: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

40

causa do óculos também, porque me chamava de quatro olhos, mas tirando isto minha

infância foi ótima.

Como sua família ajudou você nesta questão do bullying?

Ah, não eu não contava para eles.

Não contava?

Não contava por medo, quem acabou descobrindo depois foi outra pessoa que já

faleceu, o professor Mário. Ele viu tudo acontecendo, isto foi logo na quarta série. Ele já

deu um basta em tudo.

Você terminou seus estudos?

Terminei, só faculdade que por enquanto eu não estou pensando em qual área

atual ainda.

Esta experiência do bullying te afeta de alguma forma hoje em dia?

Acredito que sim porque deixam aquelas lembranças ruins sim. Eu vejo

acontecendo com outras pessoas, principalmente na TV vem aquela lembrança. Eu não

sou do tipo de pessoa vingativa, mas estas pessoas que fizeram isto comigo no passado

eu nem tenho amizade mais. Eu vejo eles na rua até hoje, muitos estão casados. Para

mim é como uma pessoa que eu não conheço.

Você mora com quem?

Com os meus pais. Com o meu pai e minha mãe.

Você trabalha ou estuda?

Então, até o mês passado estava trabalhando de auxiliar de estoque, dai fui

mandando embora e no momento estou desempregado.

Você saiu do serviço por quê?

Na verdade me mandaram embora. Acharam que eu não servia mais para a firma

porque eu estava sem disponibilidade de horário para fazer hora extra.

Que tipo de trabalho você acha que seria ideal?

Page 41: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

41

Qualquer profissão que eu esteja lidando com o público sabe e que não seja

vendas. Eu não gosto muito de vendas porque tem este negócio de atingir meta, às vezes

um acaba tendo rivalidade com outro, não tem aquela harmonia no serviço. Agora

estando trabalhando com o público. O melhor trampo na minha vida foi numa banca de

jornal, por incrível que pareça. Trabalhava na rua conversando com todo mundo,

acabava de chegar quando via já era hora de fechar a banca. Era um serviço que eu

trabalhava com prazer sabe. Agora neste último serviço eu trabalhava num lugar

fechado, não vi nada nem ninguém, ruim demais.

Leandro no portão da sua casa.

Foto: Michel Gentil (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

Com relação a arrumar serviço, existe alguma cobrança por parte dos seus

pais? Para você arrumar um serviço?

Ah, por enquanto não né, porque eu estou conseguindo o seguro desemprego,

também estou ajudando em casa.

Como é o seu relacionamento com os seus pais?

Harmonia total, não tem briga nem nada.

Leandro, como você gasta o seu dinheiro?

Page 42: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

42

Eu gasto com algumas besteirinhas e com algumas coisas mais responsável, tipo

ajudar em casa. Com o Cosplay eu confesso que gasto bastante, com material,

confecção, action figures também.

Action figures?

São os bonecos da minha coleção [aponta para os bonecos que cobrem a

prateleira da parede].

Leandro e sua coleção de Action Figures.

Foto: Michel Gentil (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

Você tem ideia de mais ou menos, quantos bonecos você tem?

Nunca parei para contar, mas se for para jogar no “chutometrô” deve ter uns

duzentos e pouco.

E o que os bonecos representam para você?

Muitos deles representam minha infância. São personagens antigos que eu cresci

assistindo na TV. Jason, Predador, Jaspion. Épico assim sabe. É uma coisa que eu

compro para poder guardar para sempre.

Page 43: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

43

Tem algum projeto de vida que você ainda não realizou Leandro?

Projeto de vida assim eu não costumo sonhar alto, mas o que eu gostaria de ter é

uma casa própria sabe, para sair do aluguel... Uma independência financeira para mim

poder sustentar a casa, sabe assim.

Tem algum ídolo ou alguém que admire?

Ah, ídolo assim para falar a verdade não.

Que meios de comunicação utiliza para se para se manter informado?

O Facebook.

Mais algum?

Facebook e a TV também, só.

Se pudesse mudar algo no Brasil ou no mundo o que seria?

Nossa tanta coisa que tem para mudar viu. Tem uma lista enorme,

principalmente o desemprego, nesta parte daí está terrível. Pessoal não da oportunidade

para quem não tem experiência na carteira tal. Eu vejo muita gente competente que não

tem experiência na carteira e que não consegue serviço e muitas pessoas entre aspas

“incompetentes”, não querendo xingar, que não sabem fazer nada, mas tipo comprou a

carteira, comprou o registro. Chega lá na onde trabalha e não consegue fazer.

O que você faria para mudar esta questão do desemprego?

Dar mais oportunidade né. Tipo cursos gratuitos para as pessoas se

profissionalizarem seria uma boa. Nem todo mundo tem capacidade de pagar um curso.

Leandro você tem alguma religião ou dogma?

Eu sou católico... Praticante, vou para missa todos os domingos. Quem vê eu

assim com as coisas aqui no quarto de terror não imagina... Última coisa que eles vão

imaginar é que eu tenha religião.

Mas acha que tem algum preconceito por você usar fantasia e ser católico?

Page 44: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

44

O preconceito tem em relação a eu fazer personagem de terror. Pessoal acha que

eu faço algum tipo de apologia a violência, falam que o Brasil já está tão ruim por causa

da violência, acha que por eu fazer isto vai piorar, muito pelo contrário, tipo a violência

cinematográfica não tem nada a ver. A violência real é muito pior que o que acontece no

cinema, mil vezes pior.

Você prefere a cultura de qual país?

Eu gosto da cultura japonesa, oriental em geral. Admiro muito o Japão.

E em questões de filmes, desenhos, estas coisas?

Filmes os americanos são os melhores, eles imperam. Agora desenho os animes

são os japoneses em primeiro lugar.

Qual o seu filme preferido?

Filme preferido não vou ter... Para falar a verdade meu favorito de todos que me

marcou mesmo foi Exterminador do futuro 2, com o [Arnold] Schwarzenegger. Este é

um filme que eu assisto até hoje, é que nem Chaves eu não consigo enjoar. Às vezes eu

estou no guarda-roupa mexendo nos meus DVDs vejo ele lá e falo: “vou colocar para

ver.” Ai começo a ver de novo.

Como surgiu o interesse pelo Cosplay?

Então, para falar a verdade eu não conhecia este mundo do Cosplay. Comecei

fazendo Jason para diversão mesmo, para serviço tal, daí eu conheci o Roberto, Roberto

Alves Costa. Ele fazia Cosplay do Hidana10

naquela época e teve a Virada Cultural de

2010. Ele marcou um encontro Cosplay lá no Parque da Juventude, eu fui e vi um

monte de gente tudo fantasiado, Cosplay né, diferente. De lá se arrumamos e fomos para

a Virada, ai tinha um fotógrafo junto, Alexandre, ele registrou tudo. A partir daí eu

comecei a participar dos eventos junto com ele e não parei mais, peguei gosto pela

coisa.

Qual a importância desta cultura hoje para você?

10

Personagem do anime Naruto.

Page 45: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

45

Para mim eu encaro como um meio de diversão. Eu não tenho outra diversão

para falar a verdade. Esporte que eu pratico só musculação. O pessoal se reúne para

poder jogar futebol, eu não curto futebol.

Por que você não gosta de futebol?

Nunca gostei. Nunca chegou a me atrair este esporte. Acho um esporte muito

bruto, muito violento. Apesar de eu curtir assistir MMA (Mixed Martial Arts, ou Artes

Marciais Mistas), mas no futebol eu vejo muita briga acontecendo. Principalmente por

parte dos torcedores, uns matando os outros por causa de time. Este é um dos motivos

de eu não gostar de futebol. Só Copa do Mundo mesmo.

O fato de você entrar para este grupo afetou o seu dia a dia de que forma?

Posso dizer que afetou positivamente. Aumentou muito mais meu círculo de

amigos porque aqui onde eu moro não conheço ninguém. Todo mundo trabalhando,

todo mundo mais velho do que eu. Daí eu conheci muitas pessoas na minha idade,

inclusive a gente marca role no final de semana, todo final de semana praticamente. São

vizinhos, tipo um mora no Jabaquara o outro mora na Vila Mariana, mas vizinho que

mora na mesma rua não tem ninguém.

Seus pais gostam das suas fantasias?

No início eles se irritavam, mas depois eles começaram a gostar. Eles achavam

que era coisa de doido, coisa de maluco, mas depois que eles viram que não era bem

isto começaram a gostar.

Tanto no evento que nós fomos quanto no encontro do grupo a maioria das

pessoas presentes é de uma faixa etária bem mais jovem. Você sente algum tipo de

preconceito em relação a isto?

Eu acredito que não porque além de mim tem outras pessoas mais velhas que

também fazem Cosplay, ás vezes tem uma piadinha entre um e outro, mas é piadinha de

brincadeira. Mas tem muitos deles que são mais novos do que eu, mas estão a mais

tempo do que eu. Começaram bem antes de mim. Eu comecei em 2009, tem gente que

começou muito antes, tem mais experiência do que eu para falar a verdade.

Que tipo de piada?

Page 46: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

46

Tipo tiozinho, vovozinho. É tudo na brincadeira.

Com que idade você usou sua primeira fantasia?

Eu usei em 2009, dia 14 de julho de 2009. Foi a primeira vez.

Você tinha quantos anos?

Vamos calcular [contando com os dedos] Vinte e cinco.

E qual foi a sensação?

Então, no início foi um espanto. Eu saia de casa já montado com o Cosplay, daí

eu só tirei a máscara, peguei o metrô. Todo mundo tirando foto de mim na estação,

vindo para colocar a máscara. Ai cheguei na Paulista, veio aquela multidão de

fotógrafos. Para mim isto foi satisfatório, gratificante. O pessoal gostou do meu

trabalho, acho que a melhor parte do Cosplay é esta, a gratificação pelo trabalho, tanto é

que eu participo dos desfiles não pensando na premiação. Eu vejo o público gritando,

vibrando para mim isto é o melhor prêmio de qualquer Cosplay.

Qual foi o seu primeiro Cosplay?

O Jason.

E esta primeira sensação que você teve, mudou alguma coisa de lá para cá?

Mudou que eu era um cara mais tímido. Hoje eu estou mais solto sabe?

Antigamente eu não conseguia conversa direito com as pessoas, ficava meio

envergonhado. Hoje mudou totalmente, porque Cosplay tem um pouco de atuação.

Você fez algum curso de teatro? Algum curso de interpretação?

Não.

De onde vêm as inspirações nas escolhas de um personagem para se

fantasiar?

Eu escolho mais personagens de filmes, para mim eles são bem inspiradores.

Cosplayer de filme são poucos que tem, eu já preferi mais atuar nesta parte mesmo,

principalmente de terror.

Page 47: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

47

Quantas fantasias você tem?

Comprei o Predador agora, cinco, com o Mathias seis. Seis personagens.

Qual a sua preferida?

Continua sendo o Jason mesmo. Apesar de eu nunca ter usado o Predador ainda,

para mim continua sendo o Jason ainda. Ele ta passando por constantes mudanças, umas

evoluções ai.

Que tipo de mudança?

Mais detalhes, para ficar o mais real possível. Porque antigamente a roupa era

simples, agora tem ossos, carne passando pelo corpo inteiro, roupas rasgadas, cabelo.

Inclusive o último detalhe que falta agora é a lente de contato para poder fazer aquele

olhar bem malvado mesmo que ele faz. E máscaras novas também, eu sempre faço

máscaras novas.

Por que a maioria dos seus personagens usam máscaras?

Então, a máscara me ajuda a solta mais ainda o lado do personagem, não deixa

ficar tão tímido, se bem que o meu próximo Cosplay, que é o Mathias do Bope do Tropa

de Elite, eu vou estar sem máscara. Espero que eu não fique muito envergonhado no dia,

mas eu acredito que não, que eu vou estar entre amigos lá, tudo conhecidos.

Já passou por algum constrangimento usando a fantasia?

Constrangimento assim... Constrangimento que você fala é tipo?

Alguma situação diferente, engraçada, ou triste?

Situação engraçada foi aquela que aconteceu no Anime Dreams11

, que eu fui

apresentar no palco. Tinha três saídas, era para sair por uma, mas eu fiquei meio

perdido. Eu fiz a apresentação e na hora de sair o rapaz do microfone falou: “Para

esquerda” Eu fui para a esquerda e ele: “Não, a outra esquerda”, e eu tipo

desorientado. Todo mundo começou a rir na hora, mas foi engraçado né. Agora umas

piadinhas maldosas também acontecem do personagem, algumas pessoas que não

conhecem começam a fazer piadas bem chatas. No próprio Parque da Juventude, estava

11

Evento de Cosplay.

Page 48: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

48

de Jason. Terceira vez que escuto esta piada: “Ah, que nada a ver! Jason não usa um

‘corta pizza gigante’, Jason usa facão.” Para mim entrou por um ouvido e saiu pelo

outro, mas quando é no evento eu respondo.

“Corta pizza gigante” é o quê?

Por causa da roçadeira. Esta roçadeira aqui [Leandro se vira e aponta para uma

cópia de uma roçadeira em tamanho real] eu fiz baseado no sétimo filme que foi

lançado em 89. O pessoal não conhece o personagem e começa a fazer umas piadinhas

bobas. No facebook mesmo, nossa tem muita piadinha assim, mas não é aquelas

piadinhas de brincadeira é piada maldosa mesmo. Começa a falar que eu não faço

direito, nada a ver o Jason não usa cortador de pizza gigante, outros falam motosserra,

não é nem motosserra é roçadeira. Inclusive eu fiz questão de ripar12

uma parte do filme

e jogar no youtube para o pessoal vê, para usar como referência para o pessoal conhecer

mais um pouco.

Estas opiniões te chateiam?

Eu acho legal aquela crítica construtiva, se tem alguma parte do meu Cosplay

que eu possa melhorar, a pessoa chega: “Ah, faz isto aqui, para poder ficar melhor.” Eu

acho legal, agora aquelas piadinhas infame eu não gosto não, acho muita infantilidade

sabe. Aquelas pessoas que não encaram o Cosplay como diversão, encara como uma

coisa, sei lá, rivalidade um com outro.

Qual a importância de ser fotografado nos eventos?

Para mim é uma satisfação muito grande, ter uma divulgação do meu trabalho.

Para mim esta é a melhor parte, segunda melhor parte. A primeira parte é estar com os

amigos, segunda melhor parte. Fotografia mesmo, principalmente os ensaios.

Você tem muitos amigos fora do universo Cosplay?

Tenho dos meus serviços anteriores principalmente.

E o que eles acham de você usar fantasia?

12

Extrair faixas de música e vídeo para outros tipos de mídias.

Page 49: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

49

Alguns se afastaram porque não conhecem bem o que é, cortou a amizade, mas

outros já encaram numa boa.

Por que você acha que eles se afastaram?

Por preconceito mesmo, acham que é coisa de doido, coisa de retardado. Eles

falam abertamente mesmo: “Coisa de louco, não sei o que”. Já chegaram até a falar isto

num chat, me xingando, me ofendendo no chat. Inclusive eu tinha um amigo de infância

que cresceu junto comigo, não vou citar nome porque eu acho mancada fazer isto, mas

eu achei ele no facebook, adicionei ele, daí tipo ele mandou uma mensagem que não ia

me aceitar por causa deste negócio que eu faço, acha que eu não cresci o suficiente.

Já deixou de fazer algo importante por causa do personagem?

Não. Eu sempre deixei o meu trabalho em primeiro lugar. Tanto é que os

eventos eram sempre no dia de folga que caia.

Como você acha que a mídia e a sociedade, classificam pessoas que usam

fantasias?

Então, no início eles falavam muitas coisas negativas. Teve uma revista japonesa

que eu vi uma vez, não sei que revista que era. Saiu uma foto de um evento de Cosplay,

antes de eu fazer isto daí, na época da Manchete, todo mundo com o seu personagem,

tinha um personagem do Darkstalke’s13

, lembro até hoje, do Street Fighter14

. Depois

colocaram a foto assim: “Vejam só que coisa mais bizarra.” Eu nem sabia o que era

aquilo, todo o pessoal fantasiado eu pensei assim: “Deve ser alguma propaganda de

alguma coisa”. Postaram esta foto na revista, estava lá assim. Eu não lembro qual

revista que era, mas eu me lembro até hoje, inclusive eu devo ter ela aqui, eu vou ter

que procurar para poder achar esta revista. Com o passar do tempo a televisão começou

a mostrar uma coisa positiva perante a isto, tanto é que a Globo estava no Anime Party,

fez uma matéria legal, a Record estava no Anime Dreams também. Eles estão fazendo

uma cobertura dos eventos para divulgar mais para o mundo, para o Brasil, para o

pessoal saber que não é uma coisa estranha. Virou uma cultura para falar a verdade.

Existe alguma relação de amizade ou rixa com outros grupos?

13

Jogo de luta produzido pela Capcon. 14

Jogo de luta.

Page 50: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

50

Ah, rixa tem muito! Muita, muita mesmo. Principalmente quando a pessoa faz o

mesmo personagem que o seu, que nem eu vi uma rivalidade com o próprio Predador

mesmo, aconteceu uma rixa com o pessoal do grupo ai, também não vou citar nomes,

por causa dos meus personagens, tanto é que o meu eu vou usar uma vez só, mas não é

por causa de rixa nem nada, mas pela satisfação do personagem mesmo. Agora quanto a

mim não tenho rivalidade nenhuma, tanto é que eu encontrei o Ricardo, que faz o Jason

na versão Freddy vs Jason, na minha opinião o melhor Jason do Brasil. Na hora que eu

vi ele lá já chamei ele na hora para poder para poder fazer foto comigo no estúdio da

Cosplay Brasil. Deu vontade de reunir todos os Jasons dos eventos para poder fazer um

exército de Jasons no Zumbi Walking.

Qual a sua fantasia mais cara?

A do Predador.

Quanto você pagou?

900 reais.

Você só compra as fantasias ou monta também?

É que para falar a verdade o Predador foi o meu primeiro Cosplay comprado, eu

comprei do Everton Nogueira. Ele faturou cinco prêmios com este Cosplay, só que ele

vai fazer outro Predador e resolveu me vender ele. Os outros foi eu mesmo que fiz,

montei tudo. Desde as máscaras até as roupas.

Dá muito trabalho?

Dá principalmente as máscaras, o látex dá muito trabalho. Tem que fazer o

molde em massa Clay15

, aliás, o modelo em massa Clay, depois tirar o molde com

gesso. Isto demora semanas.

Existe algum símbolo que define vocês?

Símbolo? Eu acho que não.

Pode nos descrever como é o ambiente em um evento Cosplay?

15

Massa de modelagem e escultura.

Page 51: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

51

Depende do evento, da localidade, das pessoas que estão. Pessoas que criam o

ambiente em si, tanto é que o pior evento que eu fui, foi o Cosplay Rock Fest, tinham

muitos Cosplayers de nariz empinado, rival, um querendo ser melhor do que o outro.

Achei muito ruim, por ser um evento pequeno não foi muita gente. Eu era a única

pessoa de fora, teve casos que eu fui cumprimentar e estendi a mão e a pessoa me

ignorou.

Por que você acha que ela teve esta atitude?

Quer ser melhor: “Ah, você é pior do que eu, é lixo! Não quero falar com você.”

Tem muito pessoal que tem preconceito, existe aquela categoria que chamam de

“Cospobre”, tanto é que o Anime ABC está fazendo um desfile, alias todo evento do

Anime ABC tem este desfile, desfile do Cospobre, Cosplay, ano passado teve do

terceiro que era de zumbis. O primeiro foi a categoria Cospobre, pessoal faz o Cosplay

lá normal. Tem muita gente que tem preconceito com isto, eu não tenho preconceito eu

vejo o pessoal lá, tiro foto com todo mundo, não tiro sarro, muito pelo contrário.

Onde você se vê daqui a dez anos?

Onde eu me vejo eu não sei dizer, mas eu prefiro imaginar uma vida melhor,

minha casa própria, sustentar minha casa também, uma independência financeira.

E ainda com as fantasias?

Acredito que sim, gostaria de ganhar um dinheiro com isto. Hoje em dia eu

consigo faturar um dinheirinho com o Cosplay. Alguns eventos fechados: bifes, bienal

do livro, pessoal me chama para fazer algum trampo.

Qual a melhor coisa em fazer parte deste grupo?

A melhor coisa é a amizade mesmo. É muita gente que eu nunca tinha visto na

vida e a gente consegue uma amizade para ficar para sempre, até hoje. Sai junto, tiram

às fotos na rua, zueira total, acho legal esta parte de amizade, o ciclo de amizade que a

gente consegue. Tanto é que eu tenho Orkut até hoje, dai eu resolvi fazer o face mais

por conta do Cosplay, eu sou novo no facebook, tem um ano que eu fiz o meu e só tem

Cosplayers no meu facebook. A maioria dos meus amigos, acho que 90%, 98% dos

amigos são todos desta área de Cosplay.

Page 52: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

52

Leandro com o molde de gesso.

Foto: Michel Gentil (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

Fonte da Figura: http://cinezencultural.com.br/site/2009/06/07/exterminador-do-futuro-o/

7.3.2 Everton Rezende Berestran

Entrevista realizada no dia 24 de Maio de 2013 no período da tarde

Everton na Galeria do Rock. Foto: Michel Gentil (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

Lembra de algum fato marcante da sua infância?

Ah sim, com certeza! Ainda mais com relação aos animes. Eu tinha muito

brinquedo do Digimon, Pokémon; naquela época era febre. Hoje eu tenho 19 anos,

então há 10 anos atrás, até 15 anos atrás era uma febre. Todo mundo conhece a

Beyblaid16

, todo mundo já teve aquele peãozinho que giravam. Então foi importante,

todo mundo brincava com isto. A gente assistia demais, era muito legal.

Com quem mora?

Eu moro com a minha mãe, com meu pai e com a minha irmã.

Sua irmã é mais nova ou mais velha que você?

É mais nova.

Brigam muito?

Não, a gente é tranquilo lá.

16

Mangá e anime baseado em brinquedo de mesmo nome.

Page 53: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

53

Como é o seu relacionamento com os seus pais?

Olha, eu gosto muito dos meus pais. Eles nunca me proibiram de fazer nada,

nem de sair. São bem flexíveis quanto a isto. Eu acho que eles têm a mente mais aberta.

Eu faço os meus Cosplays e eles nunca me mandaram parar, às vezes a minha mãe até

me ajuda, eu acho legal.

Está estudando no momento?

Sim, eu faço faculdade. Eu faço sistema de informação.

Por que este curso?

Porque eu me identifico muito com informática. Eu sempre gostei desta área,

então eu achei legal fazer.

Quais seus planos assim que se formar?

Então, eu pretendo me formar e talvez depois fazer logo em seguida uma Pós e

pretendo já entrar na área o mais rápido possível. Meu intuito é ser um analista de

sistema.

Everton você trabalha?

Page 54: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

54

Sim, atualmente eu trabalho como vendedor.

Você gosta deste trabalho?

Olha, eu não tenho nada contra, não tenho nada a reclamar dele. É um trabalho

que por enquanto está suprindo minhas necessidades. Eu consigo fazer as minhas

coisas, não tenho nada a reclamar não.

Mas qual seria o trabalho ideal para você?

Ah, o que me der mais dinheiro (risos).

E de que forma você gastaria este dinheiro?

Olha, eu sempre coloquei no papel o quanto eu posso gastar e o quanto eu devo

juntar. Eu sempre pensei para frente, futuramente a gente sempre vai precisar ter alguma

coisa, se alguma coisa acontecer. Principalmente a gente que é novo precisa estar

economizando para a gente conseguir fazer a nossa vida, que não é fácil. Eu gasto com

as minhas coisas, com os meus passeios, com os meus Cosplays, com jogo, com

qualquer coisa, com bala, mas eu sempre tenho intuito de economizar uma parte.

Qual a melhor coisa em morar em São Paulo?

Para mim São Paulo é o melhor lugar que eu poderia morar. Eu não penso em

sair de São Paulo. Eu gosto de viajar. Eu gostaria de ir para outros países, mas só para

passear mesmo. Eu gosto muito de São Paulo porque aqui tem tudo, tudo que a gente

precisa. Eu também gosto muito por causa dos eventos, a galera que eu já conheço os

lugares que tem para a gente ir, são muitos. Então para mim esta é a melhor coisa.

Tem alguém que você admira?

Meu pai. Admiro muito meu pai porque tudo que ele me ensinou referente a

caráter, estas coisas ele me ensinou pelo exemplo. Então hoje eu vejo o meu pai como o

meu herói. Então eu olho para o meu pai e penso assim: “No futuro eu quero ser igual

ele”.

Seu pai incentiva você a usar fantasias?

Não, na verdade ele não expressa nenhuma opinião nem a favor nem contra. Ele

não liga.

Page 55: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

55

Você se considera uma pessoa bem informada?

Bom depende do assunto. Para certo tipo de assunto eu sou meio alienado. Por

exemplo, política. Se você for falar de política comigo eu não vou saber responder nada.

Agora tem certos assuntos que eu sou bem informado sim.

E que meios você utiliza para se informar?

Internet, às vezes a conversa aqui teti-a-teti. A gente está conversando a gente

troca informação, livros, qualquer coisa que a gente lê hoje.

Se pudesse mudar algo no mundo o que seria?

Olha, tem muitas coisas que eu acho que precisa mudar no mundo. Agora o que

eu acho que é essencial é o respeito, respeito em relação à cultura, respeito em relação

ao próximo. Porque tem muita gente que ela simplesmente não respeita, pelo fato de

você ser diferente da sociedade. Hoje a gente tem um padrão que todo mundo pensa

igual. Então quando as pessoas vêem algo diferente elas se assustam e muitos deles não

respeitam. Eu acho que isto ai é uma coisa que se eu pudesse mudar no mundo eu

mudaria.

Everton, você segue alguma religião?

Não! Nenhuma.

Mas gosta de alguma? Da filosofia de alguma?

Olha, eu tenho assim... Eu nem consigo explicar muito bem no que eu acredito.

Porque eu acho que é tão meu que assim eu não consigo mostrar para ninguém. Eu

acredito um pouquinho em energia, quando você faz alguma coisa boa você troca uma

energia boa, consecutivamente você recebe outra energia boa. Muitas pessoas elas

falam: “Puxa, minha vida está uma bosta!”, mas às vezes esta pessoa só pensa negativo

e quando você pensa negativo você traz uma energia ruim ao seu redor. Então, com

certeza, tudo que você fizer de negativo vai ter uma consequência negativa. É meio que

lógico né, mas é isto ai que eu acredito.

Como o Cosplay surgiu na sua vida?

Page 56: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

56

A primeira vez eu fui num evento era 2010 e quando eu fui e olhei assim todo

mundo eu falei: “Nossa!” Achei maravilhoso. Eu vi os personagens que eu gostava,

tirei foto com todo mundo. Eu sempre gostei e ai eu falei: “Bom, acho que eu vou fazer

também.” Fiz o primeiro não ficou tão bom, mas assim o que vale é a diversão, o

espírito da coisa é este.

Você se prepara de que maneira para assumir um personagem?

Quando a gente se identifica com o personagem, a gente está lá assistindo o

anime e vê um personagem que você olha e fala: “Nossa, ele se parece comigo!”

Talvez o jeito, a aparência, ai eu me identifico com ele, ai a gente se inspira neste

personagem assistindo e tal e tenta fazer o mais próximo possível.

Everton, o que você sabe sobre esta cultura?

Cultura japonesa? Eu acho muito interessante na cultura japonesa a forma que

eles lidam com problemas, tirando fora os animes, falando da cultura mesmo em si. A

gente viu que um tempo atrás teve um terremoto no Japão que ele causou um grande

estrago, terremoto não! Desculpa tsunami. Ele causou um grande estrago lá e a forma

que eles lidam com este problema é de se admirar. No Brasil, não só no Brasil, em

qualquer lugar você vê as pessoas desesperadas por talvez qualquer coisa e eles

passaram por um desastre natural e você viu que eles mantiam [sic] a calma. Eles

procuravam se ajudar um aos outros. Eu acho que isto é um exemplo de sociedade.

Tem muitos amigos que usam fantasias?

Sim, muitos amigos.

Como começou estas amizades?

A maioria delas foi mesmo na interação Cosplay. A gente estava fazendo um

personagem que o outro conhece e começa a conversar. Nos eventos a gente conversa

com muita gente, então foi mais assim que fui conhecendo todo mundo.

Existe alguma relação de poder ou controle entre vocês?

Não.

Onde se reúnem?

Page 57: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

57

A gente costuma combinar os encontros Cosplays, onde todo mundo vai para

descontrair, para conversar, para se ver. A gente costuma definir lugares como parque,

às vezes Ibirapuera, às vezes Parque Água Branca, Parque da Juventude. São locais que

dá para tirar foto e a gente acha legal.

Existiu alguma mudança na sua vida após entrar para este grupo?

Sim existiu. A partir do momento que você faz uma coisa que você se identifica,

que você se sente bem, a sua própria autoestima melhora. A forma como você vê as

coisas melhora. Você está sentindo bem consigo mesmo.

Seus pais ou algum amigo já recriminaram você por fazer parte deste

grupo?

Meus pais não, mas tem pessoas que eu conhecia antes de eu começar a fazer e

que hoje elas não aceitam tanto. Elas falam: “Nossa você é louco, você se fantasia”

Tem pessoas que elas não têm a mente tão aberta para estas coisas.

Qual visão que você acha que a sociedade tem de pessoas que usam

fantasias?

A gente chega neste ponto que divide a sociedade em dois grupos. O grupo das

pessoas que elas têm a mente mais aberta e o grupo das pessoas mais conservadores.

São as pessoas mais antigas geralmente, que elas acham loucura. Elas vêem e acham um

absurdo. Tem gente que não, tem muita gente que já é o grupo das pessoas que eu acho

que tem a mente mais aberta que acham legal. Tem pessoas que vem trocam uma idéia,

tira foto, pergunta, acha interessante, acha legal.

Em sua opinião a mídia ajuda ou atrapalha esta visão da sociedade?

Depende do que a mídia for falar sobre isto, porque eu já vi muitos programas

que mostraram uma visão legal do Cosplay. Então levaram, fizeram uma matéria,

falaram como funciona e tal para quem está interessado e existe aquelas mídias que elas

são mais, elas procuram degradar a imagem que eu acho errado.

Vi que uma amiga sua lhe chamou de Izaya17

. É algum código?

17

Personagem do anime Durarara!!.

Page 58: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

58

A gente tem estes apelidos, meio que virou o meu nome, por exemplo, Izaya é

um personagem do anime que eu faço Cosplay, só que este daí eu me identifiquei muito

por que se parece muito comigo fisicamente. Sem eu estar de Cosplay. Eu sem Cosplay

pareço muito com este personagem, ai pegou o apelido.

Qual a importância de ser chamado pelo nome do personagem?

Acho legal porque a partir do momento que a gente se identifica com um

personagem as pessoas reconhecem a gente como este personagem. Eu acho muito

interessante.

Gosta de ser fotografado nos eventos, Everton?

Sim eu acho que o intuito da gente fazer Cosplay é para ser fotografado mesmo.

Tem gente que vai no evento e fica com vergonha, talvez de chamar o Cosplay e falar:

“Posso tirar uma foto com você?” Mas não precisa nem ter vergonha. A gente faz

Cosplay exatamente para o pessoal tirar foto porque se não, a gente ficava em casa.

Fazia o Cosplay em casa e não saia.

Qual a sensação a primeira vez que foi fantasiado num evento?

Foi muito legal porque você vê que as pessoas reconhecem o personagem e fala:

“Olha ali o personagem!” Falam o nome, as pessoas vêm tirar fotos, isto para a gente é

muito legal, é a melhor coisa.

Este sentimento você ainda tem hoje em dia?

Com certeza, eu acho que este sentimento desde o início a gente mantém sempre

né. O espírito Cosplay é este, a gente se sentir bem se caracterizando num personagem

que a gente gosta e os outros reconhecerem, acharem legal. Então, ás vezes, a pessoa

está num evento ela vê um personagem que ela gosta: “Viu, deixa eu tirar uma foto?”

Depois ela mostra para outras pessoas, então é legal.

Acha que vai ter daqui a 20 anos ainda vai ter este sentimento?

Com certeza, até penso em Cosplays que eu vou fazer quando ficar velho (risos).

7.3.3 Paulo Segalla Pinto

Entrevista realizada no dia 20 de Abril de 2013 no período noturno

Page 59: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

59

Pode nos dizer seu nome e idade?

Bom, meu é Paulo e eu tenho 18 anos.

Com quem você mora Paulo?

Moro ainda com os meus pais e minha irmã também.

Como é o seu dia a dia?

Meu dia a dia até onde eu saiba é normal. Embora eu tenha um certo tipo de

vestimentas diferentes, utilize bracelete. O pessoal fica olhando meio estranho para

mim. É um dia a dia normal, sem muita adrenalina.

E onde o Cosplay entra nesta sua rotina?

Entraria mais na parte do lazer. Quando eu estou nas horas vagas estou sem nada

o que fazer e eu começo a pensa no meu próximo Cosplay, ou no próximo evento que

eu usarei ele.

Por que você começou a fazer Cosplay?

Bom, porque eu comecei a ver o pessoal fazendo Cosplay. Achei interessante

eles fazendo a pose para tirar foto, ou imitando os personagens de animes, de jogos

também e eu achei interessante e resolvi entrar, digamos assim, de paraquedista nesta.

E o que sua família acha de você fazer Cosplay?

Acham normal, acham que faz parte da idade e que faz totalmente o meu perfil,

embora eu não tenha demonstrado isto para eles. Eles sempre acham que é a minha cara

e de certa forma é a minha cara. Eu gosto de quebrar o comum, então veio bem a calhar.

E quando eles te vêem com a fantasia de Cosplay, o que eles falam?

Eles acham interessante. Falam que gostaram e até dão alguma idéia para poder

dar uma melhorada no Cosplay.

Você já usou a fantasia em público?

Page 60: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

60

Um dia eu usei no Ibirapuera quando eu estava procurando um pessoal para

poder ir para um evento. Ai eu estava andando com uma lança de dois metros e meio

nas costas e uma espada de dois metros.

E qual foi à reação das pessoas?

Todas olhavam com um olhar esquisito para mim, pois eu estava usando uma

capa preta pesada em pleno dia de sol do meio dia. Vejamos uns trinta graus e eu lá de

boa andando como se nada estivesse acontecendo.

Estas fantasias você compra ou confecciona?

Dá para fazer os dois modos. Como eu, por assim dizer, sou um Cosmarker, uma

pessoa que fabrica coisas para o Cosplay. Então, eu costumo fazer minhas próprias

fantasias, meus próprios Cosplays, mas da para comprar também não vou dizer que não.

Eu até comprei um acessório ou outro, mas normalmente eu costumo fazer. Roupa eu

não faço, eu posso até fazer o desenho dela, deixar tudo certinho. Posso até comprar o

material se for preciso, mas eu não costumo fazer. O que eu faço mais é a arma, a arma

branca, armas fora de série que não existem isto eu costumo fazer, é o que eu gosto de

fazer também.

Fale-me um pouco sobre seu processo de fazer as fantasias, as armas.

Quanto custa? Como é feito?

Bom, a capa que eu costumo usar é de minha autoria e ela saiu 250,300 reais

aproximadamente. Na verdade foi 300 reais porque eu pedi que fosse feita em uma

semana, ai o preço subiu, mas se fosse feito no prazo normal sairia 250 reais. As armas

elas variam muito de armas para armas, tem algumas que eu consigo fazer barato, uma

adaga de sessenta centímetros, pode sair em torno de 40 reais a 100 reais, tudo depende

do nível de complexidade dela, se vai muita tinta, se eu vou deixar ela com acabamento

impecável, se eu vou fazer bainha, porque isto interfere muito no orçamento e o tipo de

lâmina. Se eu for fazer uma lâmina comum, se eu for fazer uma lâmina curva, ou até

mesmo essas espadas de videogame, tipo a do SoulCalibur18

, que uma das espadas tem

um olho no meio! Ai interfere demais, cada detalhe interfere muito no preço.

18

Jogo de luta.

Page 61: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

61

Paulo, quais são os seus interesses além do Cosplay?

Bom, eu tenho duas metas. A primeira é minha meta de vida, deixar minha

marca na história, fazer com que as pessoas pelo menos quando forem mais a fundo na

história me encontrem lá no meio como um marco diferente. A segunda, digamos

assim, filosofia seria... Conhecer mais gente, porque sempre vem mais gente para

eventos. Pessoas que nos não conhecemos ai eu gosto de conhecer este pessoal.

De que forma você acha que o Cosplay contribui na construção da sua

personalidade?

Bom, eu não posso dizer na construção da minha personalidade, porque a minha

personalidade já está praticamente definida. Uma coisa ou outra altera sim, mas eu

também gosto de me basear muito em personagens que eu gosto, os animes,

personagem de jogo. Digamos assim, interpretar o personagem na vida real, utilizar às

vezes até jargões do próprio personagem na vida real. Tipo um anime famoso para

caramba, Lucky Star19

, são cinco colegiais que elas ficam apenas numa vida cotidiana

normal, mas elas ficam usando alguns termos que até nos mesmo desconhecemos. Eu e

mais a metade dos Otakus gostamos de pegar estes termos e trazer para o dia a dia.

Você prefere o mundo real ou o universo Cosplay?

Eu gosto dos dois, sempre precisamos ter o pé no chão o Cosplay é um mundo

da imaginação. Podemos dizer que os eventos de animes são a porta para um mundo

totalmente diferente onde nos criamos este mundo, então o Cosplay seria nós mesmo só

que neste mundo da imaginação. Ai o que eu gosto de fazer, ao invés de fazer como a

maioria das pessoas normais fariam, não colocando os Otakus, as pessoas normais que

vão a festas à fantasia e que separam fantasia do mundo real eu gosto de mesclar os

dois, em outras palavras, a mesma roupa que eu uso para o Cosplay algumas peças eu

uso na vida real e algumas peças da vida real eu uso para o Cosplay e assim misturando

para ter uma analogia comigo mesmo. Tipo a pessoa vê uma peça de roupa do meu

Cosplay de longe, só que no mundo real no dia a dia: “Ah, é o Paulo! Achei ele.” só que

nem está vendo o meu rosto.

19

Série de mangá transformada em anime.

Page 62: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

62

Como você acha que a mídia e a sociedade, classificam pessoas que usam

fantasias?

Hum, tem uma palavra perfeita que eu odeio que o pessoal usa. Eles classificam

de “infantis”, porque a maioria das pessoas ou pelo menos como a mídia põe acha que

vestir fantasia, fazer Cosplay e tudo o mais, eles costuma achar que isto é só para

criancinha que está no começo da vida e gosta de fantasiar, fazer estas coisas. Assim,

imaginaria que a pessoa, um homem de verdade não consegue fazer. Na minha opinião

eu acho que isto não é legal, pois cada um tem o seu jeito. Isto é um fato que não da

para discutir, logo quando falamos que alguém... Tipo algumas pessoas podem até me

considerar infantil, beleza, se eu sou infantil, eu e mais a metade do povo que vai lá para

a liberdade, também são infantis, assim como aqueles senhores que fazem Cosplay de

Darth Vader, de Luke [Skywalker], este pessoal também é infantil. Só que o cara tem 60

anos nas costas, vai me dizer que o cara é infantil? O cara tem um, como que é? Um

emprego, sei lá, um emprego na NASA, por exemplo, ele é infantil? Não da para nos

basear pela mídia, a mídia é totalmente furada, não vou dizer totalmente porque, às

vezes, eles colocam algum fundo real, mas grande parte, às vezes, é furada. Teve uma

série que eles chamam de Rebeldes, eles acabaram entrando no mundo do RPG. Eles

pegaram o clássico RPG, que é o RPG Dunger um grupo de pessoas, eles sentam na

casa de alguém, fazem uma reunião e começam a jogar, tem uma pessoa que conta uma

história aonde eles vivem, como eles vivem, que tipo de armas eles podem usar,

digamos assim “o mestre” da história e os jogadores desta novela, os rebeldes, o que

eles fizeram, pegaram estas mesmas pessoas que jogam RPG só que colocaram como

umas pessoas vândalas que saem pelas ruas pichando os muros, zuando as pessoas, só

que não é nada disto! Isto que eles fizeram, muitas pessoas que eu vi no facebook e

amigos meus eles ficaram furiosos com o que esta novela fez com o RPG, eles ficaram

furiosos e mandaram um monte de denúncia. Fizeram o que na verdade devia ser feito,

porque eles distorceram a realidade.

Por que você acha que a mídia tem esta visão?

Na minha sincera opinião? Controlar as pessoas. Eles não querem que as pessoas

abram os olhos para o que existe no mundo. Eles querem apenas, tipo: “Queremos que

as pessoas façam isto!” Então vamos bombardear todas as mídias com isto, ai o povo

vai fazer exatamente isto. É praticamente uma máquina manipuladora de pessoas.

Page 63: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

63

Seus Cosplays são baseados em quais animes?

Normalmente eu me baseio em tudo que eu vejo, eu me baseio em Naruto de

certa forma, eu me baseio no... Deixa eu ver, em animes de Mecha20

, em animes

futurísticos, basicamente os mais antigos que são os melhores. Hoje em dia eu acho que

não estão muito legais. Um anime que eu estou assistindo agora e vou pegar uma parte

os personagens, o anime se chama Zona of the Ends21

, é um anime antigo, acho que é de

93, 94, mas ele é totalmente futurística, tem Mechas, com viagens até marte e por ai vai

e um dos personagens é um robô de no mínimo dez metros de altura só que ele tem uma

personalidade e é uma personalidade totalmente calma, zen, quase uma criança de treze

anos para menos, só que quando ativa um sistema oculto este robô se transforma em

uma arma de destruição em massa, utilizando canhões que destroem cometas em

questão de segundos e armas com design bem interessante.

Então você não tem um personagem fixo? Você desenvolve através de uma

junção de personagens?

Sim, eu vou copiando aquilo que eu gosto do personagem. Aquilo que eu mais

gosto é criar, sair do zero, mas é muito, muito difícil isto, para usar a criatividade para

criar algo novo é muito difícil, porque fatalmente vamos nos basear em algo já

existente.

Existe algum símbolo que represente o universo Cosplay?

Ah, seria basicamente as pessoas fantasias, este seria o símbolo, não tem um

símbolo definido. Seria assim, um grupo de pessoas reunidas, fazendo uma posse

qualquer, independente se faz parte do personagem, ou não para se tirar foto. Este seria

o símbolo.

Paulo acha que daqui a 10 anos ainda vai ter o mesmo interesse pela cultura

Cosplay?

Olha, eu não vou dizer o que eu terei exatamente o mesmo interesse, pois eu

sempre vou mudar, mas eu ainda continuarei com uma forte tendência com o lado

Cosplay.

20

Robô gigante controlado por um piloto. 21

Vídeo game transformado em anime.

Page 64: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

64

Esqueci de perguntar, você trabalha ou estuda?

Eu trabalho com o meu pai. Atualmente ele tem uma marcenaria e trabalhamos

com móveis totalmente sobre medida. Até, às vezes, criamos moveis diferenciados para

determinados recintos e na parte do estudo eu faço curso de engenharia aeronáutica.

Já foi na faculdade usando Cosplay?

Ainda não, eu pretendo fazer isto mais para frente de Darth Vader, já que o

pessoal me apelidou de Darth Vader, mas o que eu costumo fazer é usar algumas partes

do meu Cosplay, como a capa, a gargantilha. Na verdade é a minha vestimenta normal e

eu ponho e vou para a faculdade normalmente.

E qual a reação dos seus amigos na faculdade?

Na primeira vez o pessoal achou que eu fosse um gótico (risos), ou então um

roqueiro, no caso um metaleiro, mas na verdade, a partir da segunda semana de aula o

pessoal foi descobrindo quem eu realmente era. Eles viram que eu não era uma pessoa

carrancuda, fechada, na verdade eu gosto de dar risada, nunca gostei de sair no braço e

eles viram que eu sou uma pessoa totalmente alegre, não sou fechado e gosto de quebrar

o comum, no começo eles acharam esquisito, mas depois eles foram se acostumando e

agora eu conheço um monte de gente, inclusive eu cumprimento pessoas que eu nem sei

o nome.

Qual a melhor coisa em fazer parte deste grupo?

É mais por diversão, nem por obrigação, e nem digamos assim, por uma religião

pagã, é mais por diversão, para descontrair, até depois sair na rua para algum evento

para algum mercado coisa assim, para comer alguma coisa, tomar. Entrar numa loja

totalmente séria e quando você olha tem um Shinigame22

, segurando uma foice, é mais

para se divertir, nos eventos existe esta coisa de competição, é um caso a parte, ai existe

um prêmio para quem é o primeiro colocado, mas fora isto tirando à parte do evento é

mais por diversão para descontrair, para dar uma quebrada no gelo.

Você acha que não existe um risco de ser um personagem para o resto da

vida?

22

Personagem do anime Bleach.

Page 65: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

65

Bom, quando fazemos o Cosplay nos imitamos um personagem. Eu faço muita

assimilação, pois um personagem, num anime, num jogo é uma pessoa normal, assim

como nós, como somos normais, então eu poderia dizer que sim. Eu não só corro este

risco, como está acontecendo, de eu virar este personagem para o resto da minha vida,

ser este personagem afinal a minha personalidade é a personalidade deste avatar, em

outras palavras, os dois... Nos dois somos os mesmo, então não importa se daqui a

20,30,40,60 anos, ou se eu viver ainda daqui a 100 anos, eu vou continuar sendo este

mesmo personagem. Posso ter outros? Sim, posso ter e ainda direi mais: serei outros,

mas todos estes outros serão partes de mim, será a minha pessoa em si.

Quer dizer mais alguma coisa?

Mais alguma coisa?... (risos) Da para dizer muitas coisas, mas assim, o principal

eu acho que já foi dito.

Ok, muito obrigado Paulo!

Boa tarde pode nos dizer seu nome e sua idade?

Meu nome é Pietro Progetti, eu tenho 26 anos.

7.3.4 Pietro Progetti

Entrevista realizada no dia 27 de Abril de 2013, no período da tarde

Pietro, qual a sua relação com o Cosplay?

Atualmente eu sou coordenador de concursos e também sou Cosplay e ajudo ai à

galera dando uma consultoria de vez em quando para o pessoal.

O que é Cosplay?

Ele é um termo que vem derivado do inglês que é costume play e este costume

play, o play tem dois significados que é tanto diversão quanto roleplay, que seria

interpretação. Então seria uma fantasia divertida, ou uma fantasia para se atuar e ele

surgiu no Japão depois de eles terem adotado um sistema que ocorreu no Worldcon23

nos

23

Convenção de ficção científica.

Page 66: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

66

anos 80, que a galera foi de Star Trek, Star Wars e no Japão reformularam isto trazendo

para os personagens de animes e mangás especificamente.

Como surgiu o Cosplay no Brasil?

No Brasil ele foi surgir pouco tempo depois nos anos 90, mais para a galera que

curtia HQ e Star Trek propriamente dito. Depois de uns anos veio à futura Yamato que

hoje é a mais conhecida aqui no país. Ela realmente trouxe os eventos por conta de um

boom que teve depois dos Cavaleiros do Zodíaco, Yu-Yu-Hakusho24

, a Manchete e a

Band foram as maiores responsáveis neste sentido, mas depois de 2002 é que realmente

isto estourou e o Brasil hoje nos eventos de anime você tem todo o pessoal que gosta de

HQ, seriados, que lá nos Estados Unidos são em eventos diferentes, aqui no Brasil

ocorre com mais força nos eventos de anime, tem pequenos nichos, mas eles não

chegam a fazer sucesso. Já o Cosplay não, nos eventos de animes você vê que eles

trouxeram isto e isto acabou sendo adotado pelo resto do mundo.

Você acha que o Cosplay tem alguma conotação política ou é mais uma

prática social mesmo?

Tem mais uma conotação social, político propriamente dito. Obviamente como

todo lugar tem uma política na infraestrutura mesmo, entre coordenadores, staffs, que

são os que ajudam. Isto não é bem visto tanto pelos Cosplayers até por alguns

organizadores, não é legal, mas o social é muito mais forte.

Quais são os símbolos principais do Cosplay, tanto material quanto

imaterial?

Símbolo, símbolo mesmo você não vê muito. Como o pessoal se identifica?

Então são por camisetas de algum anime, são por chaveiros, isto é muito comum, você

vê mochilas com “enes” chaveiros, às vezes o pessoal utilizando algum acessório de

algum anime, então quem conhece este anime fala: “Meu, este cara gosta”, então acaba

sendo até uma brincadeira um pouco mais secreta quando a galera usa com alguma

correntinha, algum símbolo então estes seriam os símbolos, mas um logo [tipo] não

existe realmente este logo [tipo] não existe.

24

Série de mangá transformada em anime.

Page 67: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

67

Existe algum censo de quantos Cosplayers existam hoje no Brasil?

Tem expectativas aproximadas ai de Cosplayers numa média por estado, São

Paulo e o pessoal mais do Sul são mais concentrados, mas você tem ai mais de dois mil

Cosplayers nesta região do sudeste e centro-oeste.

Tem uma noção da porcentagem de homens e mulheres?

Se eu fosse falar eu acho que teria mais mulheres do que homens, mas um

número propriamente dito não se tem. Nunca se foi levantando esta demografia dos

Cosplayers.

E por que você acha que existe esta predominância feminina?

Porque as mulheres na sociedade de antigamente, agora menos, mas elas tinham

um lance de uma vergonha tudo. Só que elas têm um lado artístico um pouco mais

aflorado do que o masculino, então como tem este lance da interação, acabou

aumentando o número e como aquelas mulheres mais tímidas, tem personagens tímidas

nos animes então elas fazem estes, são conhecidas como as moy ou otome, que é um

termo que está surgido agora - moy é um termo japonês e é para aquela garotinha mais

meiga, mais doce, mais pura que geralmente tem muita vergonha de si mesmo.

Qual a importância do Cosplay como uma cultura?

Nossa! Esta eu acho que é uma pergunta difícil porque ela engloba bastante

coisa, provavelmente cada pessoa vai dizer uma coisa, mas eu analisando a coisa não

como um Cosplay, falando como um observador é incrível porque como a pessoa

interage muito mais com as outras, mesmo quando ela tem vergonha, porque ela coloca

na cabeça um pouco que ela é o personagem, então ela vai e acaba interagindo, então

como cultura a gente acaba conhecendo uma outra cultura que é a japonesa. Os

japoneses em alguns animes eles englobam a cultura mundial, então você vê muito da

Alemanha principalmente, você vê da França em alguns momentos, mas principalmente

da tríplice da Segunda Guerra. Você vê muito mais a Itália e a Alemanha presente em

alguns animes, isto é muito interessante pelo ponto de vista histórico e quando você

pega um anime tem muito anime que pega mitologia de “enes” grupos, então

culturalmente é muito rico porque você pega desde algo místico como Hermes

Page 68: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

68

Trismegisto25

, como você pega mitologia grega que é o mais comum que é Cavaleiros

[do Zodíaco], então culturalmente fica difícil eu falar onde é o grande foco, mas cultura

social, vamos colocar, é nesta interação e nesta junção de grupos, inclusive o pessoal

mais excluído pela sociedade que hoje em dia tem um termo que é o bullying sofrem,

eles acabam se encontrando neste nicho porque você não vê preconceito, você vê rixa

como em qualquer sociedade, mas preconceito você não vê... Mesmo! Então

culturalmente eu acho que é isto, um exemplo a ser seguido e principalmente é um

pessoal que ele mantém o lado lúdico vivo até hoje, então são pessoas mais criativas,

estimulam isto. Engloba muita coisa, fica difícil eu te dar uma resposta especifica, você

me desculpa.

Qual a faixa etária do universo Cosplay?

Cara é incrível! Eu vou falar, oito que é a pessoa mais jovem que eu já vi

fazendo Cosplay, até a pessoa mais velha que tinha 52 anos.

Voltando a questão das pessoas excluídas que você citou, elas vão ao evento

para tirarem fotos ou fantasiadas de Cosplay?

Você vê dos dois, isto é legal. Enquanto ele está conhecendo você vê que ele vai

com uma camiseta do anime, então ele vai e tira foto, ele se sente bem ao abraçar aquele

personagem. Então você vê que ele vai adquirindo uma alta confiança, por menor que

seja e quando ele adquire o mínimo, você já vê que ele já faz um Cosplay, mesmo que

um Cosplay não tão bem feito, mas você já vê que ele se aventurou. Então ele vai

receber algumas criticas e ai ele começa a fazer, mas é muito bem dividido. Novamente

é difícil eu te trazer um numero exato.

Quais são os principais animes que fornecem base para os Cosplayers?

Olha, os principais aqui no País é Cavaleiro do Zodíaco, o Naruto, são os animes

que eu considero eterno, eles ultrapassam os 100 episódios, você vai ver tem animes de

12 episódios, tem animes de 4 temporadas, vão variar no máximo 100 episódios, isto é

muito bacana também no universo, tem esta delimitação. Animes eternos que

ultrapassam os 100 episódios nos temos: o Bleach26

, o Naruto, One Peace27

e os

25

Deus Grego, autor de um conjunto de textos sagrados. 26

Série de mangá transformada em anime. 27

Idem.

Page 69: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

69

Cavaleiros do Zodíaco, estes são os maiores nichos que você vai ver Cosplay, porque

eles começaram em 2004 e estão até hoje passando. Então eu vi o começo de Naruto, a

galera começando a ir de anime e isto era original e hoje é manjado e principalmente: o

que faz um novo Cosplay? São as temporadas no Japão que são por estações, então a

que eles apostam que vai ser o melhor da temporada a galera já começa a fazer Cosplay

e atualmente das ultimas duas temporadas foi Sword Art Online28

, você vê uma galera

de Kiroto29

, isto não é bem visto entre o universo, Cosplay repetido ou mal feito não é

bem visto.

Pietro, o Cosplay funciona como você assumir uma identidade que não é

sua, momentaneamente, mas você assume. Como não deixar isto influenciar na

vida real?

Da mesma maneira que você faz teatro, que você joga um RPG. Aquilo é bom

por quê? Porque você vai se imaginar em situações que você nunca esteve e você vai

dirimindo e quando você faz com o personagem você fala: “Nossa, eu consigo fazer,

olha eu consigo conversar com as pessoas eu consigo interagir. Então perai, eu mudei,

eu evolui.” Isto tem muito. Obviamente isto acontece são doenças psicológicas, a

pessoa quer assumir um papel, mas isto não é bom, isto não é bem visto, isto no teatro

não é legal, isto no RPG não é legal e no Cosplay também não é legal. No Cosplay eu

nunca vi casos, RPG eu já vi casos nos Estados Unidos que a pessoa realmente ela tinha

um distúrbio mental e acabou adotando isto e quem não faz nada disto se torna um

psicopata e age falsamente. Então é da pessoa não é do nicho.

Como você acha que a sociedade de uma forma geral classifica o universo

Cosplay?

Vamos colocar, no Japão isto é muito bem visto porque é desestressante, nos

Estados Unidos havia uma galera que sofria bullying até o seriado Big Bang Theory30

começar a fazer muito sucesso, então este nicho passou a ser mais bem visto do que mal

visto e aqui no Brasil tem a galera que tem um preconceito, mas é aquela galera mais

ignorante da sociedade, vamos colocar assim, não tem tanto acesso. De resto as pessoas

tem mais curiosidade do que preconceito e quando descobre o universo acaba sendo

28

Romance em estilo mangá transformado em anime. 29

Personagem do anime Sword Art Online. 30

Série de TV americana, sobre um grupo de nerds.

Page 70: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

70

muito mais bem visto. Já vi mãe vindo me agradecer, tanto pelo filho jogar RPG, quanto

pelo filho começar a fazer um Cosplay. Porque ele fez uma apresentação na escola e

ninguém dava um real pelo cara, porque ele era o quieto e ele apresentou super bem,

falou super bem, você vê que ele já tem uma descontrariedade [sic.] muito maior do que

a galerinha na escola que acha que é boa e vai ver não é tão boa assim.

De que forma você acha que o Cosplay contribui para a construção de uma

personalidade?

Esses exemplos que eu até citei durante a entrevista. Então a pessoa acaba se

tornando mais desinibida, ela pega alguma coisa que ela gostaria de ser no personagem,

às vezes mais corajosa, mais desinibida, mais bondosa, mais ativa e ela por admirar ela

acaba colocando como: “Um dia eu serei assim.” e faz isto, então você vê pessoas que

são mais bondosas neste universo, pessoas que ajudam por ajudar, então é muito

bacana. Você pega alguns organizadores de eventos lá pela Região do ABC, o ingresso

além de ter uma contribuição com valor, você contribui com um alimento não perecível

e ai quando você vai atrás vai ver que não foi só uma instituição que esta galera ajudou,

foi mais de uma e você pode ir lá ver, então isto é muito bacana. Acaba contribuindo

para o enobrecimento da pessoa.

Você sabe se existe alguma rixa entre os Cosplayers ou entre os Cosplayers

e outros grupos?

Olha, existe. Principalmente aquela galera que vai num concurso só para

concorrer à grana, não interage, é um pouco chato para tirar foto. Eu acredito que a

missão do Cosplayer, como ele encarna o personagem, então ele é o personagem. Então

quando alguém vem tirar foto não se esqueça que você não é mais o João ou a Maria,

você é o fulano agora e esse fulano, não é só o seu herói, é o herói de muitas pessoas,

então haja como este herói agia. Vou trazer uma experiência própria, quando eu fazia o

Yusuke31

, ele é desinibido, ele zoa a pessoa chegava para tirar foto eu agarrava o

pescoço dela e fazia o “croc” e parava para a pessoa tirar foto, a pessoa ria: “Nossa eu

tirei foto com o Yusuke, eu tomei um ‘croc’ do Yusuke.” Então vem tirar foto eu parava

numa posição dele fugindo que era o que aconteceria, mas eu tiro a foto como: “Cara

eu tirei foto com o Yusuke, faz o lei-gun (que era o golpe)”, eu ia lá e fazia o lei-gun

31

Personagem principal do anime Yu-Yu-Hakusho.

Page 71: COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

71

que era o golpe. Você para de minuto em minuto e tira a foto, é legal, as pessoas vão se

sentir agradecidas tudo, entendeu? Então é muito bacana isto no universo. Você tem que

encarar como isto, então eu e muitas pessoas do nicho não gostamos de pessoas que, às

vezes, deixam de ser humildes, deixam de ser o personagem porque o Cosplay dela está

muito legal ela não quer tirar foto: “Não, vai quebrar!”. Meu, o pessoal tem cuidado, o

pessoal não é estabanado. É o que eu falei, a pessoa toma cuidado para andar num

evento, para não esbarrar num acessório de alguém, numa asa que é muito comum,

numa arma enorme. Então isto é mal visto e a rixa ocorre por causa disto. Outra rixa que

ocorre em grupos menores é quando o Cosplay é o repetido, ai ferrou: “O meu é

melhor, do outro é pior”. “Nossa eu estou assim”. Vamos supor, eu nunca vi um outro

Yusuke em um evento, então quando eu ver, se o meu estiver ruim eu vou ficar mal,

mas comigo mesmo. Então acaba sendo, vamos supor uma inveja positiva porque eu

quero melhorar e ficar tão bom quanto o do cara, ou melhor. Então acaba tendo uma

rivalidade, desta rivalidade acaba surgindo rixas, pois somos seres humanos e isto

ocorre, mais não é algo proposital.

E com algum outro grupo, fora do Cosplay?

Fora do Cosplay não, você não vê isto. Pelo contrário, você vê uma junção entre

a galera do HQ e do mangá e do anime e que não gosta do anime, começa a assistir e

gosta e o outro tem um preconceito. Então acaba tendo uma interação, rixa eu nunca vi

de grupos. Ocorre bullying que é normal, a galera que não conhece isto, pode ser a

pessoa sendo Cosplay, ou não, pelo fato da pessoa ser diferente. Hoje em dia na

sociedade tem este termo nos Estados Unidos que bullying vem de bully, que é o

“valentão” né e ai se trouxe isto e colocou como uma coisa. Eu acho que tem trabalhar a

alta estima das pessoas em cima disto, conversar com esta galera que monta em cima, é

muito do ser humano pisar no mais baixo, é um problema cultural ai de desde que o

mundo é mundo não é de hoje.

Qual a diferença entre os Otakus e os Cosplayers?

Praticamente nenhuma, porque o Otaku ele é um termo que ele vem do Japão e

que aqui no Brasil se adotou como algo positivo, mas no Japão quando alguém é demais

usa-se Otaku, então tem o Otaku anime, quem assiste anime demais; tem o Otaku

gamer, que é o cara que só joga; então Otaku é aquele termo utilizado para a galera

exagerado. Aqui no Brasil em alguns lugares, alguns estados, e nos Estados Unidos na

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72

Virginia adotou este sistema para quem gosta de anime, ou deste nicho. Então, todo o

Cosplayer é Otaku, mas nem todo Otaku é Cosplayer, essa seria a diferença.

E o termo Cosmarker, como surgiu?

O Cosmarker, por “increça que parível”, vamos colocar assim, ele surgiu aqui no

Brasil. O Cosplay antigamente ele era o cara que fazia o próprio Cosplay e interpretava,

de 2008 para cá isto começou a mudar, começou a ter costureiras, começou a ter um

cara que faz um acessório e ai tem um cara que fala: “Eu quero fazer o fulano, mas eu

não costuro, eu não faço, eu mando fazer.” Quem faz é o Cosmarker. Então o que antes

era um termo só que era o Cosplayer que era quem fazia e interpretava hoje se dividiu,

nos temos quem faz e quem interpreta, e temos quem faz os dois que era o antigo

Cosplayer.

Qual a importância das pessoas tirarem fotos no universo Cosplay?

A importância é justamente que nem você, sei lá, antigamente não tinha... Você

era da minha época que as meninas ficavam loucas pelos Back Street Boys32

, a gente

não suportava, mas elas gostavam e elas queriam fotos com estas pessoas, eram os

heróis delas. Então até com atores de novela a galera quer tirar foto, é aquela coisa:

“Meu, tenho foto com o meu herói.” É que nem a criança sentar no colo do Papai Noel,

nossa você é criança tem certeza que aquele velho é o Papai Noel, aquela coisa gigante

é o coelhinho da páscoa e você tirou foto com ele e aquilo foi sensacional. Este

sentimento- não infantil- este sentimento lúdico, ocorre constantemente no universo

Cosplay. Então você está tirando foto com o seu herói fala: “Nossa, está igualzinho!” ai

você vai lá e tira a foto, ou você está com Cosplay e a galera ta com outro Cosplay então

pronto, é a foto do grupo, naquele momento os dois personagens existe

momentaneamente. Então é uma coisa de trazer momentaneamente para o real, daquela

imaginação de quando você brincava com o seu pai, que você era o superman e ele era

um vilão. Então esta coisa lúdica um pouco mais reforçada por conta da fantasia do

Cosplay, do costumer. Então é você vivenciar da melhor maneira. Da mesma forma que

você lê um gibi e hoje você vê um filme e você fala: “Mano, que filme animal!”, ou

você lê um livro e pega o filme e você vê aqueles personagens vivos, é este lado lúdico,

imaginativo aflorescendo [sic] e você tem um registro disto, isto é muito sensacional:

32

Grupo musical, famoso na década de 90.

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73

“Cara eu vi o Yusuke!”. “Viu? Esta aqui!” Olha a foto a mesma coisa: “Nossa! Eu vi

um Naruto animal.”. “Sério?”. “Sério, olha aqui a foto.” Então esta é a importância,

quando você é um Cosplay e muitas pessoas tiram fotos e depois tem um dia que eu vou

ser bem sincero, eu quase chorei que a menina falou: “Cara, este cara é o Yusuke. Ele

faz as caretas, ele brinca, ele foge. Eu conheci o Yusuke pessoalmente.” Cara não tem

preço quando você lê o testemunho disto na foto da menina no álbum dela, que todas as

pessoas que conhece ela vão ver e nem sabe quem é você, isto é sensacional. Então a

grande importância é esta, você se sentir mesmo um herói.

Mas não conheceram o Yusuke e não você realmente?

Conheceram porque adiciona no face e começam a conversar, num importa!

Naquele momento eu fui o personagem e eu atuei bem, não é algo de ego, é algo que foi

divertido para mim. Foi tão divertido que a menina tem certeza que eu sou o Yusuke,

não importa eu Pietro. Eu Pietro tem uma vida social, tenho trabalho, tenho amigos e

acabo fazendo novos amigos que conheceram o Yusuke e agora querem conhecer o

Pietro.

Pietro, você organiza concursos Cosplayers, como funciona?

O nicho ele é bem bacana, porque assim como tem concurso de miss, como tem

concurso de melhor isto, melhor aquilo é o mesmo esquema. Então tem uma

infraestrutura, você tem que tomar conta de palco, entrada e saída, iluminação, som e o

principal: regras cara! Regras têm que estar muito bem redigidas todo mundo tem que

entender, você não pode colocar com uma linguagem absurdamente técnica tem que

colocar uma linguagem mais coloquial. Se colocar uma técnica, deixar disponível pra

quem não entender vir te perguntar, porque, às vezes, você tem que deixa algo, vamos

colocar assim “juridiquês” para ficar algo mais correlato, nossa! Mais sério e ai tem a

galera que não entende, porque meu, vai ter um cara de 12 anos querendo fazer um

Cosplay. Ele não vai entender esta linguagem, então esteja aberto para explicar as regras

sabe, deixar um arquivo em separado se num entendeu ter como te mandarem um e-

mail, isto é o mais trabalhoso, porque virão às mesmas dúvidas só que o que você faz

sendo inteligente, você seleciona estas maiores dúvidas e faz um FAQ [Frequently

Asked Questions, ou Perguntas Mais Freqüentes] para o próximo concurso, então acho

que o mais trabalhoso é isto. Outra coisa que eu acho que ocorrem, as panelinhas. Nos

meus concursos não ocorrem isto, por mais que o juiz queira dar uma vazão ele não vai

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conseguir, porque tem que ser inteligente, você sabe como a galera faz a panelinha, por

exemplo, se você for agora em junho no evento você vai ver como é que são as regras,

vai ver como que acontece, a nota sai na hora. Então se o juiz deu uma nota baixa para

quem o público achou que foi uma nota muito legal, o público vai vaiar este juiz, o juiz

não quer isto. Ele vai dar uma nota o mais justo possível, ele vai aumentar um

pouquinho a nota de quem ele conhece e tentar abaixar de quem ele não conhece, ele vai

tentar fazer isto, mas vai ser muito menos. Então a chance de ter uma panelinha é quase

ínfima, porque ele vai ser vaiado e ninguém quer isto e o juiz sendo vaiado eu como

coordenador já vou ficar esperto com ele, posso anular a nota dele eu sou o coordenador

e eu tenho o poder para isto. Então você vê o cara foi vaiado quatro vezes: “Pô! Não

meu.” A nota deste juiz já não é mais valida e todo mundo sabe, a nota vai aparecer

num telão, não é que se descobre no final do evento quem ganhou, não! A galera já tem

noção de quem vai ganhar assim que o último aparecer a nota. Então é muito diferente

você fazer isto, assim como é um concurso de miss, tem lá as cartas marcadas? Tem, só

que ai você vê que propositalmente uma miss foi mal maquiada. Aqui não tem isto,

quem se maquia são os Cosplayers! Eu não tenho isto nos meus concursos, não preciso

me preocupar com isto nos meus concursos, os Cosplayers vão prontos, o juiz só tem

que avaliar. É um universo semelhante, mas muito original neste sentido.

Pietro em sua opinião, qual é o futuro do Cosplay?

O futuro cara fica difícil te falar isto, mas eu acho que a tendência disto é cada

vez aumentar por conta desta positividade tá. Ser melhor aceito e, principalmente, eu

quero que futuramente as pessoas se espelhem nesta pequena sociedade que são os

Cosplayers, que o preconceito eu não vejo, rixa tem porque nos somos diferentes, mas a

aceitação é muito maior. Você vê pessoas que tem rixa se cumprimentam sem falsidade,

coisa que a gente vê numa empresa, você não gosta da pessoa mais tem que fazer a sala,

tem que fazer o social, neste universo não tem isto, então pessoal mais sincero que, às

vezes, chega: “Pietro por que você não gosta de mim?” “Poxa cara, você faz isto, isto

e isto.” Então a pessoa tem a oportunidade de evoluir e ela tem abertura porque ela sabe

que eu não gosto dela por algum motivo e ela quer saber este motivo e eu a mesma

coisa: “Por que você não gosta de mim?” Então a gente tem a oportunidade de evoluir

como ser humano dentro de uma sociedade e isto é muito difícil de a gente ver em

qualquer lugar da sociedade, você ter abertura para falar com alguém, porque que a

pessoa não gosta de você e esta pessoa ser sincera ao ponto de falar o porquê e você ter

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a oportunidade de evoluir. Então, no futuro eu quero que este tipo de comportamento se

alastre, mesmo. Que a sociedade se enobreça, dentro do nicho são Cosplayers cada vez

mais tecnológicos, hoje você vê Cosplay com luzes, com materiais dos mais inusitados

possíveis porque a galera é muito criativa, principalmente no Brasil, por conta das

coisas serem muito caras. Eu já fiz um estudo em cima disto, fazendo um Cosplay de

médio porte aqui eu consigo fazer um de alto nível no Japão, por conta da acessibilidade

de tudo, isto é incrível! Brasileiro é muito criativo neste sentido, mesmo. Japonês vai

fazer um negocio hitecno, brasileiro consegue fazer um negócio com a metade do

material que o japonês fez, mesmo. A gente tem a Thais que ela fez o Cosplay de

Samus33

, com leds e fibras de vidro e ficou sensacional e um japonês fez um igual e

gastou o dobro. O futuro é isto, são inovações mesmo, que vão ser utilizados e você já

vê casos sendo utilizadas em filmes.

Quer dizer mais alguma coisa Pietro?

Eu agradeço a entrevista. Acho muito legal vocês estarem fazendo um trabalho

deste nível que vai difundir, vai ensinar, vai aumentar culturalmente as pessoas, e eu

falo para todas as pessoas que forem ouvir isto, ou testemunhar isto: Resgatem o seu

lado lúdico! O seu lado lúdico é responsável pela sua criatividade, pela sua felicidade,

pelo seu momento de emoção e neste universo você encontra pessoas com este lado

extremamente aflorado, mesmo. Então vão conhecer, vão ver como que é. São eventos

accessíveis e você acaba descobrindo muita coisa, como eu falei, eu Pietro, hoje eu dou

aula de mitologia e palestras de mitologia graças aos cavaleiros do zodíaco, porque eu

quis saber de onde foi inspirado aquilo lá, daquilo parte da mitologia grega para a

nórdica e caramba a quatro. Hoje a cultura que eu tenho se deve a desenhos que foram

inspirados em mitologias. Tenho muito a agradecer o cara que fez os cavaleiros do

zodíaco, graças a ele hoje eu conheço e domino o assunto mitologia grega.

33

Protagonista da série de jogos Metroid.

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