“Dessa barranca do rio, ninguém me tira”: Costumes, estratégias e resistências da população das “vilas de malocas” de Porto Alegre (décadas de 50 a 70)

Autor: Vinícius Reis Furini

Bolsista de Iniciação Científica FEE/FAPERGS

Orientadores: Rodrigo de Azevedo Weimer e Álvaro Antonio Klafke

Porto Alegre/RS – 2017

Introdução:

O que será trabalhado?

O projeto analisa os costumes, estratégias e resistências dos habitantes das “vilas de maloca”, no contexto de remoções, nas décadas de 1950 e 1970, a fim de verificar como noções de direito dos moradores ligaram-se a concepções morais.

O que são as “vilas de malocas”?

As “vilas de malocas” são conjuntos de casas em condições precárias, em áreas irregulares, sem infraestrutura básica, desenvolvidas em Porto Alegre por meio da marginalização da população pobre e do inchaço populacional ocorridos no século XX.

Objetivos:

O trabalho tem como objetivo discutir e apresentar como as concepções de justiça e direito da população das “vilas de malocas”, condicionadas através de suas experiências históricas, estão ligadas a uma questão moral, vinculada ao costume.

Parâmetros Teóricos:

• História Social;

o Edward P. Thompson

Economia Moral;

Experiência histórica.

• Micro-história

o Giovanni Levi

Estratégia

Fontes e metodologia: • As fontes serão analisadas de forma qualitativa. Por meio da leitura dos documentos procuraremos apreender experiências e concepções dos habitantes.

Museu da Comunicação Social Hipólito José da Costa:

• Reportagens dos jornais Correio do Povo e Diário de Notícias (recorte quinquenal);

Arquivo Histórico de Porto Alegre:

MORAES, Aldovan de Oliveira. Poder público municipal e habitação de interesse social em Porto Alegre. DEMHAB, 2011, 2 volumes.

Correio do Povo, 21 de outubro de 1948, p.7.

Diário de Notícias

12 de junho de 1958, p. 12

Resultados parciais:

Por meio de vários exemplos estudados, dos quais selecionamos um, constatei que a população das “malocas” tinha códigos morais justificativos de sua presença.

Por que a Doca das Frutas?

Selecionei para a exposição a Doca das Frutas, por sua significação para o projeto. Ela apresenta bem os objetivos propostos e seus resultados, ao concentrar no mesmo lugar espaços de moradia e trabalho.

“É uma covardia, a gente trabalha aqui há 40 anos e já é uma tradição a doca nesse local.” São vendidas no local principalmente laranjas e bergamotas.” (Zero Hora 07-10-1972 apud MORAES, 2011, p.272)

“É o fim para a Doca das Frutas? Pedro: “Não mesmo. Eles não me dobram. Dessa barranca do rio, agora saio apenas se eles me indenizarem. Ninguém vai me tirar daqui. Comecei a trabalhar nesse rio com 16 anos. Também tenho os meus direitos, embora não saiba escrever.” (Zero Hora 15-12-1972 apud MORAES, 2011, p.275)

Conclusões:

• A relação moral com o território faz com que estes sujeitos sociais assumam uma postura ativa (resistências, estratégias) frente ao processo de remoções;

• Permanência associada a uma noção de direitos

adquiridos pela antiguidade territorial e aos usos dos

recursos naturais para suas atividades profissionais.

Obrigado!

Referências bibliográficas:

LEVI, Giovanni. A herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

MORAES, Aldovan de Oliveira. Poder público municipal e habitação de interesse social em Porto Alegre. Porto Alegre, DEMHAB, 2011, 2 volumes. Arquivo Histórico de Porto Alegre.

THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. – São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

__________________________. A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma crítica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.