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ASSINATURA MENSAL: Capital – R$ 7,50 Interior – R$ 10,00 O JORNAL DE MAIOR CIRCULAÇÃO E TIRAGEM DO RIO GRANDE DO SUL FUNDADO EM DE OUTUBRO DE 1895 Impresso simultaneamente nos parques gráficos de Porto Alegre, Carazinho e São Sepé. Transmissão digital por satélite. ANO 103 – Nº 286 R$ 0,50 PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 13 DE JULHO DE 1998 Nas ruas do Brasil, o choro do pequeno torcedor O listão dos aprovados no vestibular da Ulbra / Prova em Canoas,cabeça na França Páginas 20 a 22 O ‘carrasco’ Zinedine Zidane mereceu erguer a Taça Fifa Ele não tinha marcado nenhum gol na Copa. E ficou dois jogos por ter sido suspenso pela Fifa. Mas, ontem, o camisa 10 da França e terceiro melhor jogador do mundo em 97 – atrás apenas dos brasileiros Ronaldi- nho e Roberto Carlos – foi o principal responsável pela vitória de 3 a 0 dos franceses sobre a Seleção Brasilei- ra, que determinou a conquista da Copa de 98. Zinedine Zidane marcou os dois primeiros gols da França, ambos na etapa inicial, e comandou seu time. Ele marcou, armou e ainda concluiu as jogadas. Zidane sonhava há muito tempo em conquistar o Mundial. Em todas as entrevistas que concedia, mos- trava uma segurança quase insultante e não duvidava de que sua seleção iria erguer a Taça Fifa. Tanto havia sonhado com a final que quis guardar seus gols para o jogo decisivo. E realizou o sonho marcando dois gols. Desde o início, Zidane mostrou sua vontade e suas qualidades. Antes do primeiro gol, ele havia deixado o único atacante francês do jogo, Guivarc’h, de cara para o gol. Mas o centroavante do Auxerre desperdiçou. Aí o próprio Zidane decidiu o jogo em dois gols de cabeça em cobranças de escanteio. Zidane marcou dois gols e comandou sua seleção A França conquistou ontem seu primeiro título de Copa do Mundo ao vencer por 3 a 0 uma irreconhecível Seleção Brasilei- ra, no estádio da França, em Saint-Denis. Mais do que a surpre- endente facilidade com que o Brasil foi derrotado, os milhares de torcedores que tiveram que adiar para o próximo século o sonho do pentacampeonato tentam desvendar o mistério sobre a esca- lação do atacante Ronaldinho. Em um primeiro momento, ele não figurava na escalação divulgada pela Fifa, sendo substituído por Edmundo. No entanto, quando faltavam 45 minutos para o início da partida, a comissão médica da Seleção Brasileira infor- mou que o jogador poderia atuar. Segundo o médico da Seleção, Lídio Toledo, o atacante foi levado a um hospital após sentir en- jôos, que mais tarde passaram. Os próprios jogadores da Seleção, que deixaram de fazer o aquecimento em campo, realizado antes de todas as partidas, revelaram que Ronaldinho realmente pas- sou mal horas antes da partida, chegando a vomitar. Porém, uma nota oficial da Fifa afirmou que o jogador foi ao hospital para fa- zer exames no tornozelo. O técnico Zagallo disse que “Ronaldinho teve problemas em um dos pés e um mal-estar”. Os motivos que levaram o jogador a ser escalado são outro mistério. Após a derrota, Zagallo chegou a declarar que o atacan- te “não reunia condições de jogo”. Quando um jornalista lhe per- guntou por que Ronaldinho jogou assim mesmo, Zagallo perdeu a compostura e, irritado, encerrou a entrevista. Algumas versões indicavam que o presidente da Confederação Brasileira de Fute- bol, Ricardo Teixeira, teria ido ao vestiário um pouco antes da fi- nal e pressionado para que o atacante atuasse. Também especu- la-se que o atleta tivesse tomado algum medicamento que pode- ria ser detectado no antidoping, conforme supôs a noiva do joga- dor, Suzana Werner, surpresa ao ser informada de que ele não jo- garia. Zagallo, por sua vez, garantiu que foi o próprio Ronaldinho que pediu para entrar em campo. O atacante Bebeto reconheceu que o episódio envolvendo Ro- naldinho pode ter influenciado na atuação da equipe diante dos franceses. O capitão Dunga também considera que “o problema pode ter afetado os jogadores no início da partida, mas não pode servir de álibi”. Ele preferiu não co- mentar muito o assunto. “Eu e meus companhei- ros não somos médicos, temos ética profissional e não vamos comentar um problema desses; não é a minha área.” Conforme Roberto Carlos, compa- nheiro de quarto de Ronaldinho, o craque passou mal, com enjôos e tonturas, por sentir o peso da responsabilidade. “Ele é um garoto, sentiu o es- tresse e passou mal.” Segundo ele, “Ronaldinho estava ansioso para jogar”. Mistério na derrota que adiou o sonho do penta TELEFOTOS AFP / CP Zagallo perdeu a compostura ao falar da escalação de Ronaldinho Apesar da derrota da Seleção, o presidente Fernando Henrique Cardoso pediu aos brasileiros para receberem os jogadores com entusiasmo e carinho. Amanhã pela manhã, ele irá se encontrar com os jogadores em Brasí- lia. O presidente lembrou que, mesmo sem ganhar a Co- pa da França, o Brasil ainda é a melhor seleção do sécu- lo, com quatro títulos mundiais. A atuação da equipe na partida de ontem foi elogiada pelo presidente. Para ele, a vitória só não veio por falta de sorte. “Houve alguns erros na defesa, mas quem é que sabe, na hora em que você es- tá lá, naquela tensão imensa?”, observou. Para o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, “é uma pena a Seleção não trazer a taça, mas não vamos esquecer que o Brasil é vice-campeão, que é o se- gundo melhor do mundo”. Lula confessou que sofreu com a derrota, mas não culpou Zagallo ou os jogadores. O roteiro da viagem de retorno da delegação brasileira está man- tido, garantiu ontem o supervisor de Seleção, Américo Faria. A equi- pe deve desembarcar em Brasília terça-feira, por volta das 6h, mas a programação ainda não está fechada. Hoje, o cerimonial do Palá- cio do Planalto irá definir o esquema de segurança para a chegada dos jogadores e o encontro com Fernando Henrique. Como Brasília será o primeiro ponto de desembarque no país, os atletas deverão passar pelo serviço de imigração e alfândega na capital federal. Em Paris, a tristeza e a decepção dos torcedores brasileiros con- trastavam com a euforia dos franceses, que festejavam o inédito tí- tulo conquistado por sua seleção. Mais de 1 milhão de pessoas saí- ram às ruas, após o jogo, para comemorar. O principal ponto de concentração foi o Arco do Triunfo e a avenida Champs Elysèes, que ficou intransitável. A calçada em frente ao Museu do Louvre tam- bém foi tomada por outra multidão em festa, que teve como tema musical a Marselhesa, o hino francês. Páginas 24 a 26 e última Presidente pede carinho na recepção aos jogadores Franceses fazem a festa junto ao Arco do Triunfo após a maior conquista de seu futebol

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ASSINATURAMENSAL:

Capital – R$ 7,50Interior – R$ 10,00

O JORNAL DE MAIOR CIRCULAÇÃO E TIRAGEM DO RIO GRANDE DO SUL — FUNDADO EM 1º DE OUTUBRO DE 1895Impresso simultaneamente nos parques gráficos de Porto Alegre, Carazinho e São Sepé. Transmissão digital por satélite.

ANO 103 – Nº 286 R$ 0,50PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 13 DE JULHO DE 1998

Nas ruas do Brasil, o choro do pequeno torcedor

O listão dos aprovados no vestibular da Ulbra / Prova em Canoas, cabeça na FrançaPáginas 20 a 22

O ‘carrasco’ Zinedine Zidane mereceu erguer a Taça Fifa

Ele não tinha marcado nenhum gol na Copa. E ficoudois jogos por ter sido suspenso pela Fifa. Mas, ontem,o camisa 10 da França e terceiro melhor jogador domundo em 97 – atrás apenas dos brasileiros Ronaldi-nho e Roberto Carlos – foi o principal responsável pelavitória de 3 a 0 dos franceses sobre a Seleção Brasilei-ra, que determinou a conquista da Copa de 98.

Zinedine Zidane marcou os dois primeiros gols daFrança, ambos na etapa inicial, e comandou seu time.Ele marcou, armou e ainda concluiu as jogadas.

Zidane sonhava há muito tempo em conquistar oMundial. Em todas as entrevistas que concedia, mos-trava uma segurança quase insultante e não duvidavade que sua seleção iria erguer a Taça Fifa. Tanto haviasonhado com a final que quis guardar seus gols para ojogo decisivo. E realizou o sonho marcando dois gols.

Desde o início, Zidane mostrou sua vontade e suasqualidades. Antes do primeiro gol, ele havia deixado oúnico atacante francês do jogo, Guivarc’h, de cara parao gol. Mas o centroavante do Auxerre desperdiçou. Aí opróprio Zidane decidiu o jogo em dois gols de cabeça emcobranças de escanteio.

Zidane marcou dois golse comandou sua seleção

A França conquistou ontem seu primeiro título de Copa doMundo ao vencer por 3 a 0 uma irreconhecível Seleção Brasilei-ra, no estádio da França, em Saint-Denis. Mais do que a surpre-endente facilidade com que o Brasil foi derrotado, os milhares detorcedores que tiveram que adiar para o próximo século o sonhodo pentacampeonato tentam desvendar o mistério sobre a esca-lação do atacante Ronaldinho. Em um primeiro momento, elenão figurava na escalação divulgada pela Fifa, sendo substituídopor Edmundo. No entanto, quando faltavam 45 minutos para oinício da partida, a comissão médica da Seleção Brasileira infor-mou que o jogador poderia atuar. Segundo o médico da Seleção,Lídio Toledo, o atacante foi levado a um hospital após sentir en-jôos, que mais tarde passaram. Os próprios jogadores da Seleção,que deixaram de fazer o aquecimento em campo, realizado antesde todas as partidas, revelaram que Ronaldinho realmente pas-sou mal horas antes da partida, chegando a vomitar. Porém, umanota oficial da Fifa afirmou que o jogador foi ao hospital para fa-zer exames no tornozelo. O técnico Zagallo disse que “Ronaldinhoteve problemas em um dos pés e um mal-estar”.

Os motivos que levaram o jogador a ser escalado são outromistério. Após a derrota, Zagallo chegou a declarar que o atacan-te “não reunia condições de jogo”. Quando um jornalista lhe per-guntou por que Ronaldinho jogou assim mesmo, Zagallo perdeua compostura e, irritado, encerrou a entrevista. Algumas versõesindicavam que o presidente da Confederação Brasileira de Fute-bol, Ricardo Teixeira, teria ido ao vestiário um pouco antes da fi-nal e pressionado para que o atacante atuasse. Também especu-la-se que o atleta tivesse tomado algum medicamento que pode-ria ser detectado no antidoping, conforme supôs a noiva do joga-dor, Suzana Werner, surpresa ao ser informada de que ele não jo-garia. Zagallo, por sua vez, garantiu que foi o próprio Ronaldinhoque pediu para entrar em campo.

O atacante Bebeto reconheceu que o episódio envolvendo Ro-naldinho pode ter influenciado na atuação da equipe diante dosfranceses. O capitão Dunga também considera que “o problema

pode ter afetado os jogadores no início da partida,mas não pode servir de álibi”. Ele preferiu não co-mentar muito o assunto. “Eu e meus companhei-ros não somos médicos, temos ética profissional enão vamos comentar um problema desses; não éa minha área.” Conforme Roberto Carlos, compa-nheiro de quarto de Ronaldinho, o craque passoumal, com enjôos e tonturas, por sentir o peso daresponsabilidade. “Ele é um garoto, sentiu o es-tresse e passou mal.” Segundo ele, “Ronaldinhoestava ansioso para jogar”.

Mistério na derrota queadiou o sonho do penta

TELEFOTOS AFP / CP

Zagallo perdeu a compostura ao falar da escalação de Ronaldinho

Apesar da derrota da Seleção, o presidente FernandoHenrique Cardoso pediu aos brasileiros para receberemos jogadores com entusiasmo e carinho. Amanhã pelamanhã, ele irá se encontrar com os jogadores em Brasí-lia. O presidente lembrou que, mesmo sem ganhar a Co-pa da França, o Brasil ainda é a melhor seleção do sécu-lo, com quatro títulos mundiais. A atuação da equipe napartida de ontem foi elogiada pelo presidente. Para ele, avitória só não veio por falta de sorte. “Houve alguns errosna defesa, mas quem é que sabe, na hora em que você es-tá lá, naquela tensão imensa?”, observou.

Para o candidato do PT à Presidência da República,Luiz Inácio Lula da Silva, “é uma pena a Seleção não trazer a taça,mas não vamos esquecer que o Brasil é vice-campeão, que é o se-gundo melhor do mundo”. Lula confessou que sofreu com a derrota,mas não culpou Zagallo ou os jogadores.

O roteiro da viagem de retorno da delegação brasileira está man-tido, garantiu ontem o supervisor de Seleção, Américo Faria. A equi-pe deve desembarcar em Brasília terça-feira, por volta das 6h, masa programação ainda não está fechada. Hoje, o cerimonial do Palá-cio do Planalto irá definir o esquema de segurança para a chegadados jogadores e o encontro com Fernando Henrique. Como Brasília

será o primeiro ponto de desembarque no país, os atletas deverãopassar pelo serviço de imigração e alfândega na capital federal.

Em Paris, a tristeza e a decepção dos torcedores brasileiros con-trastavam com a euforia dos franceses, que festejavam o inédito tí-tulo conquistado por sua seleção. Mais de 1 milhão de pessoas saí-ram às ruas, após o jogo, para comemorar. O principal ponto deconcentração foi o Arco do Triunfo e a avenida Champs Elysèes, queficou intransitável. A calçada em frente ao Museu do Louvre tam-bém foi tomada por outra multidão em festa, que teve como temamusical a Marselhesa, o hino francês. Páginas 24 a 26 e última

Presidente pede carinhona recepção aos jogadores

Franceses fazem a festa junto ao Arco do Triunfo após a maior conquista de seu futebol