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C&P185_web

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Publicação divulgada pela Superintência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, formada por artigos sobre a conjuntura econômica da Bahia, resenhas de livros, ponto de vista de especialistas e entrevistas. Além dos textos, a publicação utiliza gráficos, tabelas e indicadores que traduzem o comportamento da economia.

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  • capa_c&p_185.pdf 1 26/03/15 16:46

  • capa_c&p_185.pdf 2 26/03/15 16:46

  • 185 out./dez. 2014

  • Entrevista

    Artigos

    27 Complexos elicos e impactos ambientais: uma leitura preliminar da experincia baianaTatiana Pinto Costa Pimenta, Jos ngelo Sebastio Arajo dos Anjos, Laumar Neves de Souza

    47 Anlise regional de trs mesorregies da Bahia no incio do sculo xxi: os coeficientes de redistribuio e reestruturaoRafaela Evangelista Campos

    37 Crescimento do comrcio eletrnico: novas perspectivas para a repartio tributria do iCmsJorge Tadeu D. Caff, Zlia Abreu Gis

    sumrio

    ExpedienteGOVERNO DO EsTADO DA BAHiARui CoSTA

    sECRETARiA DO PLANEJAmENTOJoo LEo

    sUPERiNTENDNCiA DE EsTUDOs ECONmiCOs E sOCiAis DA BAHiAELiANA BoAvENTuRA

    CONsELHO EDiTORiALAndra da Silva Gomes, Antnio Alberto valena, Antnio Plnio Pires de Moura, Celeste Maria Philigret Baptista, Csar Barbosa, Edmundo S Barreto Figuera, Gildsio Santana Jnior, Jackson ornelas Mendona, Jorge Antonio Santos Silva, Jos Ribeiro Soares Guimares, Laumar Neves de Souza, Paulo Henrique de Almeida, Ranieri Muricy, Rosembergue valverde de Jesus, Thiago Reis Ges

    DiRETORiA DE iNDiCADOREs E EsTATsTiCAsGustavo Casseb Pessoti

    COORDENAO GERALLuiz Mrio Ribeiro vieira

    COORDENAO EDiTORiALElissandra Alves de BrittoRosangela Conceio

    EQUiPE TCNiCAMaria Margarete de Carvalho Abreu PerazzoMercejane Wanderley SantanaZlia GisThasa Raiana Pires Silva (estagiria)Thiago Lima Silva (estagirio)

    COORDENAO DE BiBLiOTECA E DOCUmENTAO/ NORmALiZAOEliana Marta Gomes Silva Sousa

    COORDENAO DE DissEmiNAO DE iNFORmAEsAugusto Cezar Pereira orrico

    EDiTORiA-GERAL Elisabete Cristina Teixeira Barretto

    REVisOChristiana Fausto (Linguagem)Ludmila Nagamatsu (Padronizao e Estilo)

    DEsiGN GRFiCO/EDiTORAO/iLUsTRAEsNando Cordeiro

    FOTOsSecom/ba, Stock XCHNG

    imPREssOEGBA Tiragem: 800

    Colaborou com este nmero a jornalista Aline Cruz Cardoso.

    Carta do editor

    5

    7 Desempenho da economia baiana no terceiro trimestre e perspectivasBruno Neiva, Carla do Nascimento, Elissandra Britto, Jorge Tadeu D. Caff

    Economia em destaque

    20 ENTREVisTA GERALDO REis

    62 Desafios econmicos e sociais na BahiaArmando Castro

    55 Economia dos municpios Baianos 2002-2012Joo Paulo Caetano Santos, Karina M das Graas C. Silva, Simone Borges Medeiros Pereira

    Ponto de vistas

    65 A geoinformao como ferramenta de gesto pblica e de apoio tomada de decisoCludio Pelosi

  • Conjuntura & Planejamento / Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia. n. 1 (jun. 1994 ) . Salvador:SEi, 2015.n. 185TrimestralContinuao de: Sntese Executiva. Periodicidade: Mensal at o nmero 154.iSSN 1413-1536

    1. Planejamento econmico Bahia. i. Superintendnciade Estudos Econmicos e Sociais da Bahia.

    CDu 338(813.8)

    indicadores conjunturais

    investimentos na Bahia

    Resenha

    67 integrao internacional da Bahia Edgard Porto

    Livros80

    os artigos publicados so de inteira respon-sabilidade de seus autores. As opinies neles emitidas no exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEi). permi-tida a reproduo total ou parcial dos textos desta revista, desde que seja citada a fonte.Esta publicao est indexada no Ulrichs International Periodicals Directory e no sistema Qualis da Capes.

    95 indicadores econmicos

    103 indicadores sociais

    113 Finanas pblicas

    74 O estado da Bahia dever gerar cerca de 47 bilhes em investimentos at 2016Fabiana Karine Santos de Andrade

    Av. Luiz viana Filho, 4 Avenida, 435, CAB Salvador (BA) Cep: 41.745-002

    Tel.: (71) 3115 4822 Fax: (71) 3116 1781www.sei.ba.gov.br [email protected]

    71 possvel pensar em um novo ciclo de crescimento econmico para a Bahia?Gustavo Casseb Pessoti

    78 Os impactos da urbanizao turstica em reas litorneas Francisco Emanuel Matos Brito

    82 Conjuntura econmica baiana

  • Carta do editorO terceiro trimestre de 2014 marcado por um cenrio de moderado desempenho das economias brasileira e baiana. A anlise do nvel de atividade revela que, a despeito do momento de fragilidade verificado ao longo dos ltimos meses, nesse terceiro trimestre, a economia brasileira sinalizou recupe-rao. Essa conjuntura, bem como as nuances que permeiam o desempenho da economia, retratada na edio 185 da revista Conjuntura & Planejamento (C&P).

    Na avaliao da equipe de anlise conjuntural, a economia brasileira j evidencia sinais de recuperao no ritmo de atividade. Apesar do ndice de Atividade Econmica do Banco Central (IBC-Br) apresentar desacelerao nos trs trimestres de 2014, a taxa anualizada de 0,6% indica crescimento. Outro aspecto, observado pelos tcnicos, refere-se aos resultados do PIB nacional divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), para o terceiro trimestre de 2014, que aumentou 0,1% ante o trimestre abr.-jun./2014, com reduo de 0,6% no trimestre anterior.

    Na seo Entrevista, o ex-diretor da SEI e atual secretrio de Justia, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social, Jos Geraldo Reis Santos analisa os ltimos oito anos de sua gesto na instituio. Na sua avaliao, a instituio evoluiu, ampliando o seu espectro de atuao como, por exemplo, o projeto de Atualizao dos Limites Intermunicipais da Bahia. Esse projeto representa um marco na produo de geoinformao na Bahia e no Brasil e dever resultar na gerao de 2.414 folhas topogrficas.

    No Ponto de Vista, os diretores de rea Edgard Porto, Cludio Pelosi, Armando Castro Neto e Gustavo Casseb Pessoti deram, respectivamente, as suas contribuies, explanando sobre diversos aspectos que vo desde a integrao internacional, geoinformao, desafios econmicos e sociais, a ciclo de crescimento econmico para a Bahia. Nesse mbito, os referidos colaboradores apresentaram ideias que ampliam o campo de conhecimento dos leitores.

    Na seo Artigos, tm-se trabalhos como o de Tatiana Pinto Costa Pimenta, Jos ngelo Sebastio Arajo dos Anjos, e Laumar Neves de Souza, intitulado Complexos elicos e impactos ambientais: uma leitura preliminar da experincia baiana Nesse trabalho, os autores discutem os impactos de natureza ambiental de ordem socioeconmica e biofsica. Outro trabalho o de Jorge Tadeu D. Caffe Zlia Abreu Gis com o tema Crescimento do comrcio eletrnico: novas perspectivas para a repartio tributria do ICMS. Nessa abordagem, os autores chamam ateno para o comportamento do varejo eletrnico ou , ressaltando o crescimento registrado nos ltimos anos no Brasil.

    Na seo Resenha, Francisco Emanuel Matos Brito faz uma anlise do trabalho de Telma Maria Souza dos Santos, intitulado Turismo e Urbanizao em Espaos Litorneos. Um olhar sobre Praia do Forte Bahia. Segundo Brito, a escritora Santos apresenta os conceitos de turismo na viso de vrios autores e como esta atividade se tornou um instrumento de promoo da comercializao, do meio ambiente e da cultura das localidades tursticas.

  • 6 Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.6-19, out.-dez. 2014

    Desempenho da economia baiana no terceiro trimestre e perspectivasEconomia Em dEstaquE

  • Desempenho da economia baiana no terceiro trimestre e perspectivas

    Bruno Neiva*Carla do Nascimento**

    Elissandra Britto*** Jorge Tadeu D. Caff****

    A economia americana cresceu mais do que o previsto no terceiro trimestre, confirmando a reativao iniciada no segundo trimestre, com um crescimento que a separa da estagnada zona do euro e do Japo. De acordo com a segunda estimativa do Departamento de Comrcio, o Produto interno Bruto (PiB) dos Estados Unidos teve uma alta anualizada de 3,9% no perodo julho-setembro, evidenciando recuo em relao taxa do segundo trimestre que foi de 4,6%.

    * Graduado em Cincias Econmicas pela Universidade Salvador (Unifacs). Tcnico da Supe-rintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI). [email protected]

    ** Mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e graduada em Cincias Econmicas pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Tcnica da Superin-tendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI). [email protected]

    *** Mestre em Economia e graduada em Cincias Econmicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Tcnica da Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI). [email protected]

    **** Graduado em Cincias Econmicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Analista tcnico da Secretaria do Planejamento do Estado da Bahia (Seplan). [email protected]

    7Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.6-19, out.-dez. 2014

    Economia Em dEstaquE

  • Do outro lado, a economia dos pases da zona do euro registrou, no terceiro trimestre deste ano, um cresci-mento mais forte do que o esperado, segundo dados divulgados pelo Departamento de Estatsticas da Unio Europeia (Eurostat). Porm, o bloco continua enfraque-cido e precisando de mais estmulos. De acordo com estimativas preliminares, a economia dos 18 pases que adotam a moeda comum cresceu 0,8%, entre julho e setembro passado, em comparao com o mesmo trimestre do ano anterior.

    A economia brasileira apresentou sinais de recupe-rao no terceiro trimestre, com leve aumento da ativi-dade econmica, apesar de ainda se observar reduo da produo industrial, impactando diretamente no consumo de bens e servios. O ndice de Atividade Econmica do Banco Central (IBC-Br), utilizado como uma referncia para o PIB, apresentou desacelerao nos trs trimestres deste ano com taxas de, respectivamente, -1,9%, -1,5% e -0,2%, na comparao com o mesmo trimestre do ano anterior. Mas ainda evidencia cresci-mento de 0,6% na taxa anualizada (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2014a).

    O ndice Nacional de Preos ao Consumidor Amplo IPCA, em novembro, apresentou variao de 0,51%, maior do que a taxa de 0,42% de outubro. Considerando o ano, o acumulado fechou em 5,58% e ficou acima dos 4,95% de igual perodo de 2013. Na perspectiva dos ltimos doze meses, o ndice foi para 6,56%, um pouco abaixo dos 6,59% relativos aos doze meses

    imediatamente anteriores (NDICE NACIONAL DE PREOS AO CONSUMIDOR AMPLO, 2014).

    Nesse ambiente, com a inflao elevada, o Comit de Poltica Monetria (Copom) do Banco Central aumentou a taxa bsica de juros (Selic) em 0,5 p.p. para 11,75% na ltima reunio do Copom de 2014, declarando que a poltica monetria se mostrar intensamente vigilante com intuito de impedir avanos da inflao (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2014b).

    Os resultados do PIB nacional divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), para o terceiro trimestre de 2014, evidenciaram leve recuperao do ritmo da atividade econmica. O PIB do terceiro trimestre aumentou 0,1% ante o trimestre abr.-jun./2014, aps reduzir 0,6% no trimestre anterior. Destaque para o aumento de 1,7% da Indstria e para o acrscimo de 0,5% do setor de servios. Houve crescimento no consumo do governo e na formao bruta de capital fixo de 1,3% em relao ao trimestre anterior. Na comparao com o mesmo trimestre do ano anterior, a taxa foi de -0,2%, no segundo trimestre havia sido de -0,9%. No acumulado dos trs primeiros trimestres, o PIB brasileiro cresceu apenas 0,2%, taxa menor que a observada no acumu-lado at o segundo trimestre (0,5%) (CONTAS NACIONAIS TRIMESTRAIS, 2014).

    Nesse contexto, o cenrio macroeconmico interno e internacional continua demonstrando incertezas, com uma inflao acima da meta estabelecida pelo governo e os indicadores gerais de consumo retrados.

    Na Bahia, a atividade econmica, no terceiro trimestre de 2014, aumentou 0,6% em relao ao mesmo perodo do ano anterior, de acordo com dados divulgados pela Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI). Na comparao do terceiro trimestre com o segundo trimestre de 2014, o PIB estadual apresentou queda de 1,7%, levando-se em considerao a srie com ajuste sazonal. Na comparao com o mesmo perodo do ano anterior, a Agropecuria apresentou crescimento de 7,2% e o setor de Servios cresceu 1,9%, com altas no Transporte (5,8%) e Alojamento e alimentao (2,8%). Por sua vez, a Indstria apresentou queda de 3,1%, puxada pela retrao da Indstria de transformao

    Com a inflao elevada, o Comit de Poltica Monetria (Copom) do Banco Central aumentou a taxa bsica de juros (Selic) em 0,5 p.p. para 11,75% na ltima reunio do Copom de 2014

    8 Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.6-19, out.-dez. 2014

    Desempenho da economia baiana no terceiro trimestre e perspectivasEconomia Em dEstaquE

  • (-5,6%) e da Construo civil (-4,1%). Na taxa anualizada, acumulado dos ltimos quatro trimestres, a atividade econmica baiana registrou acrscimo de 0,6%, em comparao com o mesmo perodo anterior. O destaque entre os grandes setores econmicos ficou por conta da Agropecuria, acumulando, no perodo, expanso de 10,3%. A Indstria recuou 2,9% e os Servios cresceram 2,0% (ATIVIDADE..., 2014).

    As prximas sees apresentam o desempenho setorial da economia baiana ao longo dos trs trimestres de 2014.

    SAFRA DE iNvERNo NA BAHiA No CoRRESPoNDE S EXPECTATivAS

    A safra baiana de gros apresenta expectativa de alta de 25,3%, que corresponde a uma produo de 7,6 milhes de toneladas ante as 6,1 milhes de toneladas em 2013, segundo o Levantamento Sistemtico da Produo Agrcola (LSPA) (2014) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), apresentado na Tabela 1. A safra de soja tem sido a principal cultura para o bom desempenho dos gros na Bahia, pois est perto de fechar com mais de 3,2 milhes de toneladas, 0,5 milho a mais que em 2013. O milho apresenta um incremento de pouco mais de 40% em relao a 2013, o que d cerca de 0,8 milho de toneladas a mais, porm provvel que esse nmero caia devido falta de chuvas nessa segunda safra.

    Outro destaque, s que negativo, fica a cargo da terceira safra de feijo (-0,7%) que apresentava dados otimistas, entretanto sofreu grandes alteraes, as quais resul-taram em estimativas negativas para essa cultura para a safra de 2014. Outro ponto fica a cargo da safra de cana-de-acar, pois foi a nica cultura que perma-neceu o ano todo com estimativa de queda em sua produo e tem a maior taxa negativa com -1,5% conforme a Tabela 1.

    Na Bahia, a atividade econmica, no terceiro trimestre de 2014, aumentou 0,6% em relao ao mesmo perodo do ano anterior, de acordo com dados divulgados pela Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI)

    Tabela 1 Estimativa de produo fsica, reas plantada e colhida e rendimento Bahia 2013/2014

    Produtos/safrasProduo fsica (mil t) rea plantada (mil ha) rea colhida (mil ha) Rendimento (kg/ha)

    2013 (1) 2014 (2) Var. (%) 2013 (1) 2014 (2) Var. (%) 2013 (1) 2014 (2) Var. (%) 2013 (1) 2014 (2) Var. (%)

    Mandioca 1.852 1.996 7,8 183 296 61,2 178 183 2,8 10.404 10.908 4,8

    Cana-de-acar 6.754 6.650 -1,5 124 132 6,4 118 121 3,0 57.455 54.938 -4,4

    Cacau 158 179 13,4 551 568 3,2 533 547 2,7 297 327 10,4

    Caf 162 206 27,1 179 175 -2,3 160 166 3,4 1.015 1.247 22,9

    Gros 6.101 7.645 25,3 2.745 3.059 11,5 2.544 2.842 11,7 2.399 2.923 21,9

    Algodo 925 1.164 25,9 296 342 15,6 294 341 15,8 3.141 3.414 8,7

    Feijo 248 246 -0,7 460 518 12,6 374 445 19,0 663 553 -16,5

    Milho 2.115 2.972 40,5 678 832 22,7 571 697 22,1 3.706 4.265 15,1

    Soja 2.766 3.206 15,9 1.211 1.276 5,4 1.211 1.276 5,4 2.283 2.512 10,0

    Sorgo 47 56 18,1 99 91 -8,9 93 82 -11,4 509 679 33,3

    Total - - - 3.783 4.231 11,9 3.532 3.859 9,2 - - -

    Fonte: IBGE - Levantamento Sistemtico da Produo Agrcola (LSPA) (2014).Elaborao: SEI/Distat/CAC.(1) LSPA/IBGE previso de safra 2013.(2) LSPA/IBGE previso de safra 2014 (Out/14).(3) Rendimento = produo fsica/rea colhida.

    9Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.6-19, out.-dez. 2014

    Economia Em dEstaquEBruno Neiva, Carla do Nascimento, Elissandra Britto, Jorge Tadeu D. Caff

  • Para o milho o cenrio bom. A primeira safra, com acrscimo de 74,2%, foi significativa, pois pela primeira vez superou a marca de 2 milhes de toneladas produ-zidas. Entretanto os nmeros da segunda safra no foram bons, j que apresentou retrao de quase 30%, chegando a quase 490 mil toneladas e com perspec-tiva de queda j que a colheita da segunda safra s acaba em dezembro. Totalizando 3 milhes de tone-ladas na produo total da cultura, ou seja, 40,5% de incremento, importante notar que o milho apresenta forte expanso tambm devido base depreciada do ano passado.

    Na produo de algodo, que encerrou colheita no ms de agosto, esperada alta de 25,9% ante o ano anterior, ou seja, 1,2 milho de toneladas produzidas. Aps dois anos seguidos de queda e de perda de produo, o algodo teve uma recuperao signifi-cativa, embora ainda esteja abaixo do patamar regis-trado em 2011. A melhora na produo foi devido ao aumento de 19 mil ha tanto na rea plantada como na rea colhida, contribuindo para rendimento superior ao ano anterior, cerca de 8%. Tambm foram fatores decisivos, para o aumento de rea, os preos elevados e o mercado aquecido.

    A mandioca apresenta uma produo total com 2 milhes de toneladas, o que equivale ao crescimento de 8% em relao a 2013. A produo de mandioca parece ter recuperado dois anos seguidos de queda. As boas chuvas fizeram os produtores aumentarem a rea plantada (61%) visando recuperar as perdas dos anos anteriores.

    O caf apresenta forte expanso na produo, com 27%, uma boa recuperao em relao safra de 2013. O mercado est auferindo ganhos maiores ao produtor, cujos preos esto elevados por conta da quebra de safra em pases produtores da frica. Alm disso, o caf mostrou que as poucas chuvas no crescimento dos frutos no foi fator determinante para o insucesso da produo. O caf tem a expectativa de produzir mais de 200 mil toneladas nessa safra.

    O cacau est se recuperando aos poucos da grande queda de produo ocorrida nos anos noventa, a safra

    de 2014 registra alta de 13,4% ante o ano anterior. Os preos elevados so um atrativo e um grande estmulo para a produo, porm a dificuldade de cultivo dessa cultura, que necessita de clima e solo favorveis, ainda parece restringir esse aumento da produo.

    A safra de feijo apresentou queda no perodo, aps apresentar, durante todo o ano, uma expectativa de 317 mil toneladas, chegando a 27,9% de crescimento perante 2013, ano que apresentou um forte perodo de seca, o feijo vai terminar, ao que parece, o ano abaixo da produo de 2013. A primeira safra deste ano apresentou resultado positivo com crescimento de 131%, chegando a 92 mil toneladas. A segunda safra de feijo, considerada terceira safra comparando ao calendrio nacional, ocorreu sem nenhum percalo, a qual apresentava expectativa de grande expanso, chegando a 224 mil toneladas. Porm, embora as chuvas de abril tivessem animado os produtores, elas no aconteceram no desenvolvimento dessa cultura. Assim a safra de inverno (principal dessa cultura) passou a registrar queda de 20% em relao a 2013. No total, a queda de apenas 0,7%, mas o problema que a comparao com um ano que tambm no apre-sentou uma boa produo, logo esses -0,7% repre-sentam uma perda maior.

    Dados da cana-de-acar apontam para uma retrao da produo de 1,5%, chegando a 6,6 milhes de tone-ladas. As usinas esto atravessando um perodo de mudanas, com a necessidade de melhores prticas de reduo de custos de produo. Esse decrscimo tambm vem influenciando a queda na gerao de empregos nessa cultura.

    Para o milho o cenrio bom. A primeira safra, com acrscimo de 74,2%, foi significativa

    10 Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.6-19, out.-dez. 2014

    Desempenho da economia baiana no terceiro trimestre e perspectivasEconomia Em dEstaquE

  • Por fim, a soja desponta como o melhor desempenho dentre as principais culturas do estado. A safra atual tem aumento de 0,5 milho de toneladas ante 2013. Essa produo representa um aumento de 16% perante o ano de 2013.

    Os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tambm confirmam o bom momento da safra esse ano, conforme ilustrado na Tabela 2. Ressalta-se que os dados da Conab seguem metodologia diversa da adotada pelo IBGE, uma vez que so considerados em relao ao ano safra, que vai de outubro de 2012 a setembro de 2013. O IBGE considera o ano civil.

    De acordo com dados da Conab, o aumento da soja de 22,9% a mais que o ano passado, o que representa uma produo total de 3,3 milhes de toneladas. Apesar de ter um aumento de apenas 2,4% da rea plantada, o rendimento foi alto, chegando a 20% de crescimento, conforme observado na Tabela 2.

    J o milho mostrou que seu crescimento seria bom e j estava garantido pela primeira safra. A segunda safra apenas dimensionou o tamanho dessa expanso. As duas safras de milho apresentaram um incremento de 67%, o que representa 1,2 milho de toneladas a mais que o produzido em 2013.

    O algodo mostrou que, aps um ano trgico marcado pela falta de chuvas e, principalmente, pela praga da lagarta do milho, recuperou-se no ano de 2014, com crescimento de quase 37%.

    Segundo Conab, o feijo tem boas perspectivas e mostra que seu crescimento continuar em mais um ano. Aps ter uma excelente arrancada, na segunda safra do ano passado, o feijo apresentou timo crescimento (80%) na primeira safra e teve uma boa produo para a terceira safra (+20%). Isso totaliza 259 mil toneladas de produo e um incremento de 36,6%. Embora esse dado esteja alinhado com o do IBGE, a safra do ano passado na Conab foi menor.

    Tabela 2Estimativa de produo fsica, reas plantada e colhida Bahia 2013/2014

    Produtos/safrasrea plantada (mil ha) Rendimento (kg/ha) Produo fsica (mil t)

    2013 (1) 2014 (2) Var. (%) 2013 (1) 2014 (2) Var. (%) 2013 (1) 2014 (2) Var. (%)

    Gros 2.725 3.046 11,8 2.098 2.660 26,8 5.717 8.104 41,8

    Algodo 271 319 17,7 3.330 3.870 16,2 904 1.236 36,8

    Feijo 456 465 1,9 415 556 34,1 189 259 36,6

    Feijo 1 safra 229 252 9,9 229 375 63,8 53 95 80,0

    Feijo 3 safra 227 213 -6,2 603 771 27,9 137 164 20,0

    Milho 628 813 29,3 3.022 3.917 29,6 1.899 3.182 67,6

    Milho 1 safra 387 545 40,7 3.616 4.550 25,8 1.399 2.478 77,0

    Milho 2 safra 241 268 11,0 2.071 2.630 27,0 500 705 41,0

    Soja 1.282 1.313 2,4 2.100 2.520 20,0 2.692 3.308 22,9

    Sorgo 87 137 57,4 371 867 133,7 32 119 268,1

    Fonte: Acompanhamento de Safras de Gros do Brasil (2014a).Elaborao: SEI /CAC.(1) Dcimo segundo levantamento da safra de gros (set. 2013).(2) Dcimo segundo levantamento da safra de gros (set. 2014).

    [Para Conab,] as duas safras de milho apresentaram um incremento de 67%, o que representa 1,2 milho de toneladas a mais que o produzido em 2013

    11Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.6-19, out.-dez. 2014

    Economia Em dEstaquEBruno Neiva, Carla do Nascimento, Elissandra Britto, Jorge Tadeu D. Caff

  • O ano de 2014 foi, sem dvidas, o melhor desde que ocorreu a seca drstica entre 2011 e 2013. No ano de 2011, a produo conseguiu ser excelente, a ponto de a soja apresentar safra recorde e os gros ultrapassarem a marca de 7,5 milhes de toneladas. Para 2015, a expecta-tiva reside no s em ultrapassar a barreira de 8 milhes de toneladas, como ficar prximo ou acima da barreira dos 9 milhes. Com a continuidade das boas chuvas que esto acontecendo na poca de plantio, aliada baixa incidncia de pragas na produo, bem provvel que essas marcas sejam alcanadas.

    Outros fatores que tm atrado bastante a confiana dos produtores o mercado crescente de crdito e a concorrncia entre bancos estatais e privados para o fornecimento de crdito e de garantias ao produtor. No obstante tambm a cotao do dlar chama a ateno para os produtores, principalmente os produtores de algodo e soja que tm boa parte de sua produo voltada para o mercado externo.

    No segundo levantamento feito pela Conab com proje-es das produes de gros para o ano de 2015, apre-sentados na Tabela 3, os dados so bastante otimistas, embora estejam alinhados com a projeo liberada para o Brasil no LSPA de novembro pelo IBGE. preciso, porm, ressaltar que, na agricultura, alguns fatores devem ser levados em considerao: esse levantamento o inicial e apresenta apenas a inteno dos produtores,

    no significando a sua realizao; bem como existe a interferncia da natureza: o clima e possveis pragas.

    ATiviDADE iNDuSTRiAL E EXPoRTAES MANTM RiTMo DE QuEDA

    Em 2014, no acumulado do perodo de janeiro a setembro, a taxa de crescimento da produo industrial baiana recuou 5,4%. Setorialmente, houve decrscimo de 5,9% na transformao industrial e expanso de 2,5% na indstria extrativa mineral. O pfio desempenho na transformao industrial decorreu principalmente dos segmentos Veculos (-40,4%), Equipamentos de inform-tica, produtos eletrnicos e pticos (-41,4%), Metalurgia (-5,9%) e Couros, artigos para viagem e calados (-4,4%), refletindo a reduo da demanda interna e externa, principalmente por veculos, bens durveis e produtos metalrgicos, bem como o encerramento de atividades, em 2013, em indstrias de produtos de informtica e de calados. Os segmentos de Produtos qumicos (4,6%), Produtos derivados do petrleo e biocombustveis (2,3%), Extrativo (2,5%) e Produtos alimentcios (0,2%) apresen-taram taxas positivas no perodo (PESQUISA INDUSTRIAL MENSAL, 2014).

    O terceiro trimestre foi marcado por nova retrao da produo de Veculos atribuda, sobretudo, queda na demanda externa da Argentina, mas tambm ao alto

    Tabela 3 Estimativa de produo fsica, reas plantada e colhida Bahia 2014/2015

    Produtos/safrasrea Plantada (mil ha) Rendimento (kg/ha) Produo fsica (mil t)

    2014 (1) 2015 (2) Var. (%) 2014 (1) 2015 (2) Var. (%) 2014 (1) 2015 (2) Var. (%)

    Gros 3.046 3.031 -0,5 2.660 2.969 11,6 8.104 8.997 11,0Algodo 319 295 -7,5 3.870 4.091 5,7 1.236 1.209 -2,2Feijo 465 447 -3,8 556 541 -2,8 259 242 -6,5 Feijo 1 safra 252 234 -7,0 375 377 0,5 95 88 -6,5 Feijo 3 safra 213 213 0,0 771 721 -6,5 164 153 -6,5Milho 813 799 -3,3 3.917 4.448 13,6 3.182 3.554 11,7 Milho 1 safra 545 531 -5,0 4.550 5.318 16,9 2.478 2.823 14,0 Milho 2 safra 268 268 0,0 2.630 2.725 3,6 705 730 3,6Soja 1.313 1.352 3,0 2.520 2.860 13,5 3.308 3.867 16,9Sorgo 137 137 0,0 867 923 6,5 119 127 6,4

    Fonte: Acompanhamento de Safras de Gros do Brasil (2014b).Elaborao: SEI/CAC.(1) Dcimo segundo levantamento da safra de gros (set. 2014).(2) Segundo levantamento da safra de gros (nov. 2014).

    12 Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.6-19, out.-dez. 2014

    Desempenho da economia baiana no terceiro trimestre e perspectivasEconomia Em dEstaquE

  • volume dos estoques das montadoras e concession-rias de veculos. De janeiro a setembro, a Bahia vendeu 12.044 veculos, queda de 4,3% ante o mesmo perodo do ano passado, segundo dados da Federao Nacional de Distribuio de Veculos Automotores (2014), o que contribuiu para a ampliao dos estoques do setor. O recuo dessa atividade tambm prejudicou a perfor-mance de outros segmentos, como o de Borracha e plstico, que cresceu apenas 0,5% no perodo, como tambm culminou no encerramento de atividades de algumas empresas.

    Por outro lado, a principal contribuio positiva, no perodo, coube ao segmento de Produtos qumicos, beneficiado pela demanda externa e domstica por petro-qumicos, sendo a ltima influenciada pelo bom desem-penho de atividades relacionadas a bens de consumo no durveis como bebidas e pelo setor de infraestrutura. Outro segmento que apresentou desempenho positivo no perodo foi Refino de petrleo, que, de janeiro a setembro, segundo dados da Agncia Nacional do Petrleo (2014), processou 13,05 bilhes de metros cbicos de derivados de petrleo, volume superior em 2,9% ao processado no mesmo perodo de 2013.

    Por sua vez, o comrcio exterior baiano continua atra-vessando perodo difcil em 2014. No perodo de janeiro a outubro, a balana comercial da Bahia apresentou supervit de apenas US$ 410 milhes, ante US$ 1,278 bilho no ano anterior, de acordo com as estatsticas do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio

    Exterior (MDIC) (BRASIL, 2014a), divulgadas pela SEI (BOLETIM DE COMRCIO EXTERIOR DA BAHIA, 2014). No pas, foi observado um dficit de US$ 1,87 bilho no perodo, resultado da queda de 4,2% nas expor-taes e do decrscimo de 4,2% nas importaes. A queda nos preos das commodities no mercado inter-nacional e a retrao dos embarques de manufaturados contriburam fortemente para esse desempenho do comrcio exterior.

    A lenta retomada da crise mundial tem sido o principal fator para a queda das exportaes. As exportaes baianas, at outubro, registraram queda de 7,0%, alcan-ando US$ 7,9 bilhes. Pesaram ainda, no desem-penho do perodo, a queda generalizada dos preos das commodities no mercado internacional e a reduo nas vendas de produtos industrializados, principalmente automveis para a Argentina, petroqumicos para os EUA e metalrgicos para a China.

    Ao contrrio das exportaes, as importaes baianas, at outubro de 2014, atingiram US$ 7,52 bilhes e cres-cimento de 3,7% frente a igual perodo do ano passado. Apesar do arrefecimento da produo industrial, sobre-tudo nos dois ltimos trimestres, que reduziu as impor-taes de bens intermedirios em 9,5%, at outubro, e de bens de capital, -4,1%, prevaleceu, no perodo, o aumento das compras de combustveis em 33,0%.

    Portanto, os indicadores de comrcio exterior permitem evidenciar que os efeitos da crise internacional ainda no cessaram e podem continuar a interferir no setor indus-trial, ainda instvel, somado s incertezas com relao ao ambiente econmico externo futuro.

    CRESCiMENTo MoDERADo NAS vENDAS vAREJiSTAS

    Em 2014, a elevao no nvel de preos, as condies financeiras mais rgidas, e a desconfiana quanto situao da economia, por parte do consumidor, emerge como potencial inibidor do consumo e, consequente-mente, como um limitador do nvel de crescimento das vendas no varejo. Entretanto, a despeito dessa conjuntura, o setor dever encerrar o ano mantendo a sua trajetria

    De janeiro a setembro, a Bahia vendeu 12.044 veculos, queda de 4,3% ante o mesmo perodo do ano passado, segundo dados da Federao Nacional de Distribuio de Veculos Automotores (2014)

    13Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.6-19, out.-dez. 2014

    Economia Em dEstaquEBruno Neiva, Carla do Nascimento, Elissandra Britto, Jorge Tadeu D. Caff

  • de crescimento, tendo em vista os efeitos das novas medidas de incentivo adotadas pelo governo federal, que retiraram alguns entraves para concesso de crdito. Nos ltimos anos, a modalidade de crdito consignado foi um dos lderes do ciclo de expanso. Essa ampliao sustentada, em grande parte, pela manuteno da renda elevada, mas recentemente apresentou arrefecimento.

    De janeiro a setembro de 2014, o volume de vendas na Bahia foi de 5,6% em relao a igual perodo do ano anterior, superior ao nacional que registrou a variao de 2,6% na mesma base de comparao. Na Bahia, os segmentos que registraram destaque no perodo foram Combustveis e lubrificantes (9,4%), Hipermercados, super-mercados, produtos alimentcios, bebidas e fumo (3,6%), Artigos farmacuticos, mdicos, ortopdicos, de perfu-maria e cosmticos (18,4%), Outros artigos de uso pessoal e domstico (16,8%) e Mveis e eletrodomsticos (1,8%).

    Os desempenhos das atividades esto relacionados s campanhas promocionais realizadas pelos empres-rios do ramo, em funo de datas comemorativas. No caso do segmento de Hipermercados, supermercados, produtos alimentcios, bebidas e fumo, a atividade foi favorecida pelo alvio da inflao em alguns produtos

    comercializados pelo setor. Na Bahia, chama ateno o comportamento do segmento de Combustveis e lubri-ficantes determinado pelo efeito base, j que no ano passado o segmento registrou comportamento negativo at o ms de setembro de 2013.

    O segmento de Mveis e eletrodomsticos apresentou, ao longo dos ltimos meses, um comportamento arrefecido

    O segmento de Mveis e eletrodomsticos apresentou, ao longo dos ltimos meses, um comportamento arrefecido nas vendas, frustrando as expectativas dos analistas de mercado quanto aos estmulos da realizao da Copa do Mundo e do programa Minha Casa Melhor

    Tabela 4 Volume de vendas do comrcio varejista Bahia jul./set. 2014

    AtividadeMensal (1)

    Ano (2) Acumulado 12 meses (3)Julho Agosto Setembro

    Comrcio Varejista 2,7 2,3 2,8 5,6 5,61 - Combustveis e lubrificantes 10,1 11,5 6,2 9,4 9,02 - Hipermercados, supermercados, produtos alimentcios, bebidas e fumo 3,9 -0,4 -1,2 3,6 3,1 2.1 - Hipermercados e supermercados 3,9 -0,4 -2,0 4,1 3,83 - Tecidos, vesturio e calados -2,1 -3,5 4,7 -1,5 -0,34 - Mveis e eletrodomsticos -8,7 -10,2 -2,3 1,8 4,8 4.1 - Mveis -6,2 -12,4 3,1 -1,0 1,6 4.2 - Eletrodomsticos -9,8 -9,1 -4,9 3,6 7,35 - Artigos farmacuticos, mdicos, ortopdicos e de perfumaria 10,1 16,3 16,0 18,3 17,66 - Equipamentos e material de escritrio, informtica e comunicao -25,4 -19,7 -22,9 -17,7 -21,37 - Livros, jornais, revistas e papelaria 11,1 2,4 -15,1 12,3 15,58 - Outros artigos de uso pessoal e domstico 11,7 17,2 16,8 16,8 14,8Comrcio Varejista Ampliado (4) -1,3 -2,0 2,0 1,7 2,09 - Veculos, motos, partes e peas -9,7 -10,8 1,6 -6,0 -5,710 - Material de construo -2,3 -7,0 -4,1 -2,0 1,5

    Fonte: IBGE - Pesquisa Mensal do Comrcio (2014).(1) Compara a variao mensal do ms de referncia com igual ms do ano anterior.(2) Compara a variao acumulada do perodo de referncia com igual perodo do ano anterior.(3) Compara a variao acumuada nos ltimos 12 meses em relao aos 12 meses anteriores.(4) O indicador do comrcio varejista ampliado composto pelos resultados das atividades numeradas de 1 a 10.

    14 Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.6-19, out.-dez. 2014

    Desempenho da economia baiana no terceiro trimestre e perspectivasEconomia Em dEstaquE

  • nas vendas, frustrando as expectativas dos analistas de mercado quanto aos estmulos da realizao da Copa do Mundo e do programa Minha Casa Melhor. Com exceo ao ms de maio, em que as vendas do subgrupo de eletrodomsticos foram impulsionadas em funo dos apelos para que os consumidores adquirissem novos televisores, nos meses subsequentes os negcios reali-zados pelo ramo perderam a intensidade, alando, em setembro, a taxa negativa de 2,3%.

    No varejo ampliado, que inclui Veculos, Motos, partes e peas e Material de Construo, o ritmo de cresci-mento foi comprometido pelos resultados negativos do segmento de Material de construo (-2,0%), e principal-mente do segmento de Veculos, motos, partes e peas, que apresentou consecutivos resultados negativos, acumulando variao negativa de 6,0% no perodo. A desacelerao nas vendas j era esperada, em funo do retorno escalonado do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

    A intensidade na desacelerao econmica reflete numa perspectiva aptica quanto ao comportamento da economia brasileira nos prximos meses. No que diz respeito ao comrcio varejista, espera-se, em 2015, que as vendas do varejo apresentem um quadro moderado de crescimento com tendncias decli-nantes ao longo do perodo. A razo para essa viso se justifica pelas sucessivas decepes com o ritmo da atividade neste ano.

    Na avaliao de Jos Francisco de Lima, economista--chefe do Banco Fator, medida que os dados vo mostrando essa piora, os modelo de previso vo incorporando e jogando a deteriorao para frente (FEDEROWSKI, 2014). Na Bahia, apesar das vendas posi-tivas no primeiro trimestre de 2014, impulsionadas pelas campanhas promocionais, como a Liquida Salvador, reali-zada no ms de maro, a expectativa para os primeiros meses de 2015 que as vendas no comrcio varejista se apresentem em ritmos moderados.

    No que diz respeito ao comportamento das atividades que compem o setor, a expectativa que atividades como a de Hipermercados, supermercados, produtos alimentcios, bebidas e fumo, que a de maior peso para

    o Indicador do Comrcio Varejista, dever apresentar ritmo de crescimento moderado em funo do quadro de inflao elevada e sem arrefecimento no mdio prazo, e do comprometimento da renda, em decorrncia de um mercado de trabalho mais restrito.

    No comrcio varejista ampliado, o segmento de veculos dever apresentar reduo nas vendas. De acordo com a Anfavea, entidade que representa as montadoras instaladas no pas, a expectativa que os descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automveis sejam retirados na virada do ano, tendo a recomposio tributria um impacto de 4,5% no preo do carro popular (LAGUNA, 2014). Assim, embora ainda no se possa definir os rumos do Comrcio Varejista, em 2015, a trajetria descrita at o momento revela que, nos prximos meses, as decises sobre poltica econmica vigente no pas sero decisivas para manter ou mudar a trajetria apresentada pelo setor em 2014.

    CoNJuNTuRA RECENTE No MERCADo DE TRABALHo BAiANo

    Apesar da queda do emprego formal (-6.207), em outubro de 2014, o mercado de trabalho continuou produzindo nmeros relativamente favorveis no acumu-lado do ano em anlise. Portanto, nos dez primeiros meses do ano, foram contabilizados 36.2121 novos empregos celetistas na Bahia. Esse resultado negativo, em outubro do ano corrente, teve precedentes em outubro de 2012 e 2013, nos quais se constataram quedas no mercado de trabalho da ordem de 4.886 e 2.419, respectivamente. As razes explicativas para o desempenho negativo do mercado formal de trabalho baiano, particularmente no ms de outubro de 2012, 2013 e 2014, talvez estejam na queda simultnea dos saldos da Agropecuria e da Construo civil, que por natureza se caracterizam por fatores sazonais, no mbito dos quais a Agropecuria procura reduzir a demanda de trabalho na entressafra e a Construo civil, termi-nado o ciclo da obra, termina o trabalho.

    1 Dados sujeitos a retificao com a futura incluso de informaes fora do prazo do MTE.

    15Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.6-19, out.-dez. 2014

    Economia Em dEstaquEBruno Neiva, Carla do Nascimento, Elissandra Britto, Jorge Tadeu D. Caff

  • Regionalmente, o saldo negativo na gerao de emprego foi distribudo da seguinte forma: Regio Metropolitana de Salvador (RMS) com menos 5.393 postos e o Interior com menos 814 postos.

    Referente aos municpios baianos com mais de 30 mil habitantes, que obtiveram saldos negativos de empregos celetistas, no ms em referncia, desta-caram-se: Salvador (-3.305 postos), Lauro de Freitas (-1.291 postos) e Camaari (-1.188 postos). Por outro lado, os municpios de Brumado, Alagoinhas e Dias dvila sobressaram-se na gerao de novas oportunidades de trabalho formal, com saldos positivos de 406; 356 e 177 postos, respectivamente.

    Setorialmente, as atividades econmicas que contribu-ram com saldos negativos no ms de outubro foram: Construo Civil (-3.313 postos), Servios (-1.780 postos), Agropecuria (-1.358 postos), Indstria de Transformao (-918 postos), Extrativa Mineral (-103 postos), Servios Industriais de Utilidade Pblica (-72 postos) e Administrao Pblica (-59 postos). A exceo ficou por conta, unicamente, do setor Comrcio (1.396 postos).

    No que se refere taxa de desemprego total da Regio Metropolitana de Salvador (RMS), divulgadas pela SEI (PESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO, 2014), a mesma caiu 0,5% em setembro comparativamente a julho de 2014. A taxa de desemprego aberto tambm decresceu 0,5% (abaixando de 13,3% para 12,8%) e a do desemprego oculto ficou estvel (mantendo-se em 4,7%). Em termos absolutos, o contingente de desempregados alcanou 325 mil trabalhadores, 10 mil a menos que em agosto, em razo do aumento na ocupao ter sido superior ao crescimento na Populao Economicamente Ativa (PEA).

    Faltando dois meses (novembro e dezembro) para completar o ano, o prognstico para o desempenho do mercado de trabalho, ao final de 2014, dever seguir a trajetria de crescimento do emprego formal no estado, embora em ritmo mais moderado. Ademais, dezembro tem sido o ms dos saldos negativos na gerao de empregos celetistas h mais de uma dcada ininterrupta, de 2003 a 2013, na Bahia (Grfico 7).

    40

    30

    20

    10

    0

    -10

    (%)

    Out. de 2014 Acum. 2014

    -6,207

    36,212

    Grfico 1 Crescimento do mercado de trabalho formal Bahia 2014

    Fonte: Caged Brasil (2014b).

    RMS Interior

    -5393 -814

    Grfico 2 Participao da RMS e do Interior no saldo de empregoBahia out. 2014

    Fonte: Caged Brasil (2014b).

    Servios

    Agropecuria

    Ind. transf.

    Extr. mineral

    Serv. util. publ.

    Adm. publ.

    Comrcio

    -2000 -1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 2000

    Grfico 3Distribuio setorial do emprego formal Bahia out. 2014

    Fonte: Caged Brasil (2014b).

    16 Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.6-19, out.-dez. 2014

    Desempenho da economia baiana no terceiro trimestre e perspectivasEconomia Em dEstaquE

  • Assim, tomando-se por fundamento essa evidncia hist-rica, presume-se uma nova queda do saldo de emprego, em dezembro de 2014, fato que dever influenciar o saldo acumulado do ano.

    CoNSiDERAES FiNAiS

    A economia brasileira continua a mover-se em ritmo lento neste terceiro trimestre de 2014. A indstria ainda no apresentou retomada mais forte da produo, e tambm continua afetando o desempenho do comrcio e dos servios. Alm do mais, contriburam fortemente para o desempenho pfio: a baixa demanda do setor automotivo, o menor dinamismo da construo civil, as expectativas quanto s eleies e a queda dos indi-cadores de confiana dos mais variados segmentos de atividade.

    O perodo janeiro a setembro de 2014 evidenciou, para a economia baiana, perspectivas desfavorveis para o crescimento anual, pautadas principalmente no desempenho negativo da Indstria e no baixo ritmo do Comrcio exterior. O setor de Servios apresenta desempenho modesto, ancorado no Comrcio varejista, que tem mostrado ritmo moderado de crescimento no estado, apesar da pouca confiana do consumidor e das incertezas do mercado quanto atividade econ-mica de modo geral.

    Positivamente, aparecem os resultados do setor Agropecurio, que tem apresentado estimativas bastante significativas de produo de gros para a safra de 2014, bem acima das esperadas no incio das plantaes, e tem

    18,5

    18,0

    17,5

    17,0Jul. Ago. Set.

    (%)

    17,5

    18,0 18,1

    Grfico 4Desemprego Total RMS 2014

    13,8

    13,4

    13,0

    12,6Jul. Ago. Set.

    (%)

    12,8

    13,313,2

    Grfico 5Desemprego Aberto RMS 2014

    5,0

    4,9

    4,8

    4,7

    4,6Jul. Ago. Set.

    (%)

    4,74,7

    4,9

    Grfico 6Desemprego Oculto RMS 2014

    Tabela 5Taxas de Desemprego, por tipo de desempregoRegio Metropolitana de Salvador (RMS) jul.-set. 2014

    (em %)

    Ms Total Aberto Oculto

    Julho 18,0 13,3 4,7

    Agosto 18,1 13,2 4,9

    Setembro 17,5 12,8 4,7

    Fonte: PED-RMS Convnio SEI, Setre, Dieese, Seade, MTE/FAT, 2014.

    0

    -5000

    -10000

    -15000

    -20000

    -7891 -5187 -5791 -6815

    -3944

    -15255

    -4254

    -17303 -15069

    -16273

    -10237

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    2011

    2012

    2013

    Grfico 7 Saldos de empregos formais Bahia dez. 2003/2013

    Fonte: Caged (BRASIL, 2014b).

    17Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.6-19, out.-dez. 2014

    Economia Em dEstaquEBruno Neiva, Carla do Nascimento, Elissandra Britto, Jorge Tadeu D. Caff

  • se beneficiado dos preos no mercado internacional. Em resposta a esse cenrio, o mercado de trabalho apre-senta-se com perspectivas de estabilidade tanto para o nvel de emprego como para a ocupao, ao mesmo tempo em que os salrios reais tendem a perder o ritmo de crescimento.

    O ndice do Banco Central Regional (IBCR) registrou para a Bahia acrscimo de 2,7% no perodo de janeiro a setembro de 2014 em relao ao mesmo perodo do ano anterior. Para o Nordeste, a elevao foi de 3,9%, enquanto para o pas ficou nulo (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2014a). Esses resultados evidenciam que a Bahia e o Nordeste mostram desempenho favorvel e acima do observado para a economia nacional.

    Neste contexto, considerando-se os fatores positivos para a retomada da atividade no ltimo trimestre, tem-se a recuperao dos EUA, que apresentou acrscimo anualizado de 3,9% no PIB do terceiro trimestre; estabili-dade no crescimento da China; reduo nos preos dos alimentos; entre outros. Por outro lado, como entraves recuperao, observa-se o fraco desempenho na economia da Amrica Latina; estabilidade do desem-prego nas regies metropolitanas; ausncia da confiana empresarial e de investimentos; alta dos juros; menor dinamismo do consumo das famlias.

    REFERNCiAS

    ACOMPANHAMENTO DA SAFRA BRASILEIRA DE GROS: safra 2013/14. Braslia: CONAB, v. 1, n. 12, p. 1-96, set. 2014. Disponvel em: . Acesso em: 20 nov. 2014.

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    AGNCIA NACIONAL DO PETRLEO. Dados estats-ticos mensais. Disponvel em: . Acesso em: 12 dez. 2014.

    ATIVIDADE econmica baiana cresce 0,6% no terceiro trimestre de 2014 e estimativa da SEI para o ano 1,5%. Informativo PIB Trimestral, Salvador, v. 5, n. 3, jul./set. 2014. Disponvel em: . Acesso em: 12 dez. 2014.

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    BOLETIM DE COMRCIO EXTERIOR DA BAHIA. Salvador: SEI, out. 2014. Disponvel em: . Acesso em: 11 dez. 2014.

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    Desempenho da economia baiana no terceiro trimestre e perspectivasEconomia Em dEstaquE

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    19Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.6-19, out.-dez. 2014

    Economia Em dEstaquEBruno Neiva, Carla do Nascimento, Elissandra Britto, Jorge Tadeu D. Caff

  • Geraldo ReisA SEI se faz

    indispensvel hoje para o estado

    Geraldo Reis socilogo, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professor daUniversidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Ainda jovem, se envolveu nos movimentos estudantis, iniciando uma trajetria ligada poltica no estado. Em Vitria da Conquista, foi secretrio de Expanso Econmica, entre 1997 e 2000, e coordenador institucional do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, em 2003, sendo tambm

    20 Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.20-25, out.-dez. 2014

    A SEi se faz indispensvel hoje para o estadoEntrEvista

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  • C&P Como o senhor avalia os ltimos oito anos de gesto na sEi? Qual a relevncia e visibili-dade do rgo hoje?Geraldo Reis Ao final desses oitos anos frente da SEI, avalio que a instituio deu um salto de qualidade e ampliou seu espectro de atuao, oferecendo ao Governo e socie-dade um instrumental relevante e mais aderente s necessidades de se planejar a Bahia. Como gestor, aprendi muito nesse processo. Desde meu primeiro dia como diretor-geral da SEI dediquei-me a aprender sobre os contedos temticos e procurei valorizar a cultura e as especificidades desta autarquia, tendo sido possvel manejar as pautas internas e externas do rgo, mantendo sua legitimidade e respeito frente s instituies pares e agentes econmicos. Hoje, posso afirmar que me sinto orgulhoso de ter feito parte de uma equipe que cultiva o esprito pblico e o dever tcnico, uma equipe competente e cada vez mais reconhecida. Acredito estar entregando a instituio melhor do que ela estava h oito anos, com algumas conquistas consolidadas e antigas demandas atendidas. A SEI cresceu em sua importncia dentro do Governo do Estado, est mais integrada, permitindo um maior apro-veitamento dos trabalhos que realiza para subsidiar o Planejamento.

    C&P A sEi ampliou os estudos e pesquisas em diversas reas. Quais os principais projetos reali-zados que contriburam, neste perodo, para um melhor plane-jamento do estado?

    GR Em cada rea de atuao da SEI, tivemos avanos relevantes. Sem dvida, o projeto de Atualizao dos Limites Intermunicipais da Bahia um marco e um legado deixado para o estado, pois resolve um problema complexo que vinha se intensificando desde a ltima lei de diviso territo-rial, que data de 1953. Ampliamos o volume e o escopo de pesquisas e estudos nas diversas reas, com a criao de novos indicadores siste-mticos, a exemplo do ndice de Confiana do Empresariado Baiano. Temos a nova Cartografia, realizada para 70% do territrio. Fizemos, tambm, avanos nas reas de Contas Regionais e no arcabouo de insumos para conhecermos melhor a economia baiana, a exemplo da Matriz Insumo e Produto, da Tabela de Recursos e Usos, e de traba-lhos de estimao do PIB pela tica da demanda, que est servindo de base para a cenarizao da Seplan. Investimos,ainda, no acompanha-mento de indicadores sociais e de populao.

    o projeto de Atualizao dos Limites Intermunicipais da Bahia um marco e um legado deixado para o estado, pois resolve um problema complexo que vinha se intensificando desde a ltima lei de diviso territorial

    responsvel por implementar um dos mais exitosos programas de microcrdito do Brasil, o Banco do Povo. Possui diploma de estudos avanados (DEA) na rea de Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade Salvador (Unifacs)/Universidade de Barcelona, tendo publicado vrios artigos nas reas de Planejamento, Gesto e Desenvolvimento Regional. Em 2007, foi nomeado diretor-geral da Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI), autarquia da Secretaria do Planejamento do Estado da Bahia (Seplan) e rgo oficial de estatstica e pesquisa do estado, tendo se aprofundado em temas relativos conjuntura e economia, entre outros. Em 2015, assumiu o cargo de secretrio de Justia, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS).

    21Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.20-25, out.-dez. 2014

    EntrEvista

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  • C&P O Projeto de Atualizao da Base Cartogrfica da Bahia foi alvo de grandes investimentos pelo Governo do Estado nos ltimos oito anos. Como este projeto se reverte em benefcios para a Bahia?GR O projeto de Atualizao Cartogrfica do Estado conside-rado um marco na produo de geoinformao na Bahia e no Brasil. O trabalho resultar na geraode 2.414 folhas topogrficas nas escalas de 1:10.000, 1:25.000 e 1:50.000. Inicialmente foram adquiridas imagens de sensor orbital com reso-luo de 5m para todo o estado para atender demanda de mapeamentos temticos, a exemplo de vegetao, uso atual da terra entre outros. Simultaneamente, foram execu-tados voos aerofotogramtricos para gerao dos produtos Modelo Digital de Superfcie, Ortofotos e gerao de Curva de Nvel. Com esses produtos, esto sendo geradas as folhas topo-grficas. Temos hoje 70% do terri-trio registrado por aerolevantamento. Este um passo importantssimo, servindo de exemplo ao Brasil, que possui enorme atraso em termos de conhecimento e mapeamento de seu territrio. Este era um sonho antigo de especialistas, cartgrafos, gestores pblicos e, tambm, da iniciativa privada, pois de fundamental impor-tncia para os diversos ramos de atividade humana, em especial para o setor pblico, contribuindo para o adequado gerenciamento e implan-tao de obras de infraestrutura e logstica. Os mapas so essenciais para as atividades econmicas e industriais, a proteo ambiental e o adequado planejamento territo-rial. So beneficiados, inicialmente,

    projetos de gesto ambiental de recursos hdricos, os setores do petrleo e gs, agronegcio, mine-rao e transportes, a proteo de reas de conservao e o planeja-mento pblico das prefeituras muni-cipais, entre outros segmentos estra-tgicos para o desenvolvimento.

    C&P A sEi ousou propor e coor-denar o projeto de Atualizao dos Limites intermunicipais da Bahia, trabalho que despertou polmica entre prefeituras e demandou um grande esforo de mediao e conciliao por parte dela. Ao final deste trabalho, como o senhor avalia os resul-tados obtidos? GR Sem nenhum ufanismo, podemos afirmar que a atualizao das divisas intermunicipais da Bahia representa um novo marco na induo de gestes municipais mais raciona-lizadas e modernas, a ponto dessa experincia estar se tornando reco-nhecida nacionalmente sendo, inclu-sive, referncia para trabalhos seme-lhantes no Maranho e Mato Grosso.

    Esta ser uma grande contribuio da gesto Wagner para o estado da Bahia. O projeto de Atualizao das Divisas Intermunicipais da Bahia j conta com 14 novas leis sancio-nadas pelo Governo do Estado, bene-ficiando as populaes de 228 muni-cpios, em 14 territrios de identidade. Os resultados alcanados at agora comprovam a efetividade da metodo-logia e procedimentos adotados pelas equipes da SEI e IBGE, pautados na consistncia tcnica, imparcia-lidade, interesse pblico e, sobre-tudo, valorizao do sentimento de pertencimento das populaes em reas de conflito, alm da base legal para que fosse desenvolvido, atravs da Lei n 12.057, de janeiro de 2011, de autoria do deputado Joo Bonfim, que contou de pronto com o apoio poltico do governo. O trabalho pe fim a conflitos por territrio, especial-mente por interesses econmicos, que dizem respeito localizao de empreendimentos que geram tributos, royalties para as munici-palidades ou mesmo contagem da populao para clculo de repasses.

    C&P Outro esforo da gesto foi a realizao do primeiro concurso pblico da sEi. Pode-se dizer que a instituio est mais fortalecida? GR Sem dvida. Vejo a SEI, hoje, mais respeitada dentro da adminis-trao pblica, melhor entendida no seu papel e com mais reconheci-mento pelo seu valor. A realizao do primeiro concurso pblico da SEI, ainda que numa dimenso menor do que o pleito inicial, uma demonstrao disso. claro que quem governa o estado precisa ter uma viso global das necessidades

    A atualizao das divisas intermunicipais da Bahia representa um novo marco na induo de gestes municipais mais racionalizadas e modernas, a ponto dessa experincia estar se tornando reconhecida nacionalmente sendo, inclusive, referncia para trabalhos semelhantes no Maranho e Mato Grosso

    22 Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.20-25, out.-dez. 2014

    A SEi se faz indispensvel hoje para o estadoEntrEvista

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  • e urgncias da sociedade nesse sentido, as prioridades muitas vezes no so aquelas que ns gosta-ramos. Mas o concurso uma realidade e agora aguardamos a nomeao de todos os aprovados.

    C&P Quais os desafios para a sEi na prxima gesto?GR Acredito que a SEI deva continuar buscando seu fortalecimento institu-cional, buscando conquistar sua sede prpria, ampliar seu quadro prprio de servidores e investir nas carreiras e nos projetos, pesquisas, estudos e indi-cadores de relevncia para o melhor entendimento da realidade socioeco-nmica da Bahia. Trabalhos como o de Contas Regionais, Matriz Insumo e Produto, toda a rea de cartografia e geoprocessamento, as linhas de estudos sobre pobreza, renda e popu-lao so alguns exemplos de traba-lhos indispensveis hoje para instru-mentalizar o Governo do Estado, os agentes econmicos e toda a socie-dade. A SEI se faz indispensvel hoje para o estado.

    C&P Ao longo desse perodo, a sEi acompanhou muitas mudanas na conjuntura. Quais os novos vetores dinmicos da economia baiana para os prximos anos?GR A nova agenda de investimentos estruturantes da Bahia pautada na diversificao e descentralizao espacial, representando um esforo de avanar na reduo das desigual-dades regionais. Alm de um conjunto diversificado de investimentos nos modais de transporte ferrovirio e rodovirio, e da construo, ampliao ou modernizao de 10 aeroportos (Paulo Afonso, Barreiras, Lenis,

    Bom Jesus da Lapa, Feira de Santana, Salvador, Ilhus, Guanambi, Vitria da Conquista e Porto Seguro), os inves-timentos previstos na construo e ampliao dos Distritos Industriais e as Zonas de Processamento de Exportao (ZPEs) podero atrair novos investimentos e aumentar a competitividade da economia baiana.

    Os novos investimentos previstos, at 2020, permitem vislumbrar grandes possibilidades de agregao de valor produo local, capazes de viabi-lizar relevante nmero de negcios, tanto no setor industrial como no de servios. Em relao a esses projetos de investimentos que j esto no plano da efetivao, os trs que merecem especial destaque so o Polo Naval, situado no Recncavo da Bahia, o complexo acrlico, situado no Polo Petroqumico de Camaari, e o Parque Elico, espalhado em todo o interior

    do estado, com previso de mais de 50 projetos com perspectiva de trans-formar a Bahia no principal parque elico do Brasil at finais de 2015. Esses investimentos podem modificar a feio da indstria de transformao do estado na direo da to sonhada industrializao de bens finais.

    O complexo acrlico, por exemplo, pode promover uma verticalizao na cadeia petroqumica. Alm de estimular uma cadeia de indstrias a jusante, o complexo estimular a integrao com a indstria petro-qumica a montante. A fbrica da BASF ser a primeira do Brasil e da Amrica Latina a produzir insumos petroqumicos, anteriormente impor-tados dos Estados Unidos. As pers-pectivas, portanto, para uma verti-calizao da cadeia petroqumica so realmente muito promissoras e podem reestimular uma alavancagem na gerao de valor adicionado indus-trial, fazendo a indstria retornar a patamares maiores na agregao de valor ao PIB da Bahia.

    O Polo Naval outro exemplo de investimento muito importante para essa nova dinmica industrial do estado da Bahia entre 2015 e 2020, pois se trata de uma indstria de bens finais importante para a desconcen-trao regional e com uma demanda potencial alta. Trata-se, pois, de uma indstria de elevado valor agregado e que pode apresentar grandes reflexos na pauta de exportaes do estado.

    Vale destacar o papel que as novas universidades federais devem conti-nuar tendo nas cidades mdias como elemento dinmico e polarizador no sentido da desconcentrao.

    O complexo acrlico, pode promover uma verticalizao na cadeia petroqumica. Alm de estimular uma cadeia de indstrias a jusante, o complexo estimular a integrao com a indstria petroqumica a montante. A fbrica da BASF ser a primeira do Brasil e da Amrica Latina a produzir insumos petroqumicos, anteriormente importados dos Estados Unidos

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    EntrEvistaGeraldo Reis

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  • C&P A Bahia o principal estado do Nordeste. possvel recuperar o protagonismo perdido para Cear e Pernambuco?GR Sem dvida, mesmo tendo esses dois estados apresentado, nos ltimos anos, taxas de crescimento acima do PIB da Bahia, ns continu-amos sendo a principal economia do Nordeste, com 28% do PIB da regio. Ao mesmo tempo, o crescimento do Cear e Pernambuco ajuda na desconcentrao econmica, pois, entre 2002 e 2012, a participao do Nordeste cresceu muito pouco em relao ao PIB do Brasil, passando de 13,0% para 13,6%. O protagonismo da Bahia ser recuperado com esse processo e com os investimentos previstos na indstria e em infraestru-tura para os prximos anos, tornando nossa economia mais competitiva e interligada com a economia nacional e mundial nos fluxos de mercadorias e servios.

    C&P Qual o papel da infra-estrutura e da logstica nesse processo?GR Entre 2003 e 2013, crescemos ocupando a capacidade ociosa da economia e a demanda agregada puxada pelo consumo. Esse ciclo est em fase de esgotamento. Agora o crescimento passa pelos inves-timentos em infraestrutura fsica e tambm na qualificao da mo de obra, j que a taxa de investimento em relao ao PIB se encontra em nveis muitos baixos, prximo de 18%. Para que possamos crescer acima de 3,0% necessrio investir acima de 20%. A construo de novas ferrovias e a adequao da malha ferroviria j existente proporciona o fortalecimento destes fluxos e viabiliza o escoamento

    da produo do Oeste Baiano e das novas reas de explorao de minrios no interior do estado. No sentido Norte-Sul, a adequao da malha da FCA e a proposta de concesso anunciada para a ligao ferroviria Salvador-Recife promo-vero um intercmbio comercial ainda maior entre a economia baiana e as regies Nordeste e Sudeste, arti-culadas com o complexo porturio da Baa de Todos os Santos.Ao se considerar os projetos da Hidrovia do So Francisco e a requalificao das ferrovias da FCA, nos seus ramais de Salvador para Minas Gerais e Salvador para Juazeiro, e agregar os projetos de plataformas logsticas na Macrorregio de Salvador-Feira de Santana, em Juazeiro, em Itabuna e em Vitria da Conquista, compre-ende-se que est sendo construda uma grande rtula de articulao dos fluxos econmicos. Isto , dotando a Bahia de maior infraestrutura e consi-derando como vlidos os preceitos das teorias de localizao industrial, pode-se assistir a um verdadeiro ciclo de crescimento econmico, alicer-ado na complexificao, diversifi-cao e aumento do valor adicionado nas atividades econmicas, principal-mente no interior do estado.

    C&P Em sua opinio, quais os principais fatores que levaram o Brasil a ser hoje uma economia de classe mdia, com mais de 60% da populao nesse estrato de renda?GR A poltica de transferncia de renda, juntamente com os aumentos reais do salrio mnimo, associados ainda com as polticas de crdito e estmulo ao consumo fomen-taram a demanda agregada no

    Brasil, especialmente nas regies mais pobres. Primeiramente houve aquecimento nos setores de pres-tao de servios e comrcio em razo da ampliao da renda dos mais pobres. O efeito multiplicador atingiu cadeias inteiras, ampliando o emprego e elevando, portanto, a massa de rendimentos. Essa dinmica permitiu um crescimento econmico via expanso do mercado interno em um momento em que o mundo viveu uma crise contundente, com forte reduo de demanda externa. Na Bahia, com um repasse anual de R$ 5 bilhes do Programa Bolsa Famlia (PBF) e do Benefcio de Prestao Continuada (BPC), esse processo foi mais intenso quando comparado com a mdia nacional. Como resposta desses movimentos, houve cresci-mento exponencial da classe mdia, pelas elevadas taxas de crescimento do volume de vendas do comrcio baiano, pela expanso do emprego ter se dado com mais intensidade nas pequenas e micro empresas, no interior do estado, principalmente nos setores de comrcio e servios.

    C&P mesmo com essa condio, ainda continuamos a ter um alto grau de concentrao de renda, que medidas podem ser adotadas para reduzir essa desigualdade histrica, no segundo mandato da presidente Dilma? Para alguns economistas, uma das causas do nosso baixo crescimento est ligada questo da produ-tividade, como o senhor v essa questo?GR Embora concorde em parte com essa informao, os fatores que explicam essa baixa produti-vidade esto relacionados com a

    24 Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.20-25, out.-dez. 2014

    A SEi se faz indispensvel hoje para o estadoEntrEvista

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  • baixa qualificao de nossa mo de obra e a deficincia em nossa infraestrutura produtiva. Atrelado a isso, tambm, houve uma forte dimi-nuio dos investimentos ao longo dos ltimos anos na economia brasi-leira, segundo os dados do IBGE. De alguma forma, o governo tem tentado compensar essa diminuio dos investimentos privados, com importantes obras do PAC de inte-grao dos modais de transporte e de infraestrutura para o escoamento da produo, mas, obviamente, sem o apoio da iniciativa privada no ser possvel fazer crescer a produtividade da economia, uma vez que depen-demos de importantes investimentos em tecnologia que precisam ser feitos para um reaparelhamento de nossa indstria. Alm disso, necessrio melhorar constantemente a educao bsica e profissional e potencializar o chamado capital humano do pas. No adianta ter intensividade tecno-lgica se o trabalhador no souber como operacionalizar uma mquina de produo. Por isso, as iniciativas do Pronatec so to importantes, pois oferecem qualificaes perma-nentes para o trabalho profissional em diferentes reas. Elevao de produtividade est associada a esses dois fatores elucidados e certamente podem possibilitar um incremento no crescimento da economia brasi-leira, com gerao de maior valor

    adicionado e ganhos nas relaes internacionais. Por isso impor-tante que o governo cuide da pasta de cincia, tecnologia e educao profissional com certo protagonismo, tanto de planejamento quanto de oramento.

    C&P Quais as perspectivas para o Brasil e a Bahia em 2015, dado o cenrio externo ainda de baixo crescimento?GR As perspectivas para ambos j esto dadas. A economia brasi-leira dever crescer aproximada-mente 0,8% enquanto a economia baiana dever ter um desempenho muito parecido com 2014, com

    um crescimento prximo a 1,5%. Algumas medidas de austeridade fiscal e monetria podem devolver a credibilidade para a atual equipe econmica do Governo Dilma e criar um ambiente mais seguro para o investimento. O problema que, em curto prazo, tais medidas vm acompanhadas de elevao de taxas de juros e diminuio de gastos pblicos em todas as pastas, criando poucas perspec-tivas para uma retomada consis-tente dos investimentos dentro desse curto prazo compreendido entre o ano 2015 e o primeiro semestre de 2016, quando deve ser esperada a convergncia da meta de inflao para patamares mais baixos. A partir da, espera-se uma recuperao da economia brasileira e uma retomada mais consistente dos investimentos produtivos. A depender do tamanho dessas mudanas, as repercusses regionais podem ser maiores ou menores. No caso da Bahia, inves-timentos protocolados nas reas de minerao, indstria elica, parque acrlico, automotivo, polo naval, alm de importantes obras de infraestru-tura devem estar a pleno vapor, o que nos faz acreditar que a Bahia passar por esse perodo de forma menos turbulenta e com perspec-tivas de manter o descolamento em relao ao crescimento econmico esperado para o pas.

    No adianta ter intensividade tecnolgica se o trabalhador no souber como operacionalizar uma mquina de produo. Por isso, as iniciativas do Pronatec so to importantes, pois oferecem qualificaes permanentes para o trabalho profissional em diferentes reas

    25Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.20-25, out.-dez. 2014

    EntrEvistaGeraldo Reis

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  • 26 Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.26-35, out.-dez. 2014

    Complexos elicos e impactos ambientais: uma leitura preliminar da experincia baianaArtigos

  • Complexos elicos e impactos ambientais: uma leitura preliminar da experincia baiana1

    Tatiana Pinto Costa Pimenta*Jos ngelo Sebastio Arajo dos Anjos**

    Laumar Neves de Souza***

    Embora a matriz eltrica nacional seja predominante-mente baseada nas hidreltricas, o Brasil possui um grande potencial de fontes de energia renovvel (PiTA, 2011). Visando promover a diversificao dessa matriz e atender ao aumento da demanda por energia eltrica, o governo brasileiro, atravs do Decreto n 5.025, de 2004 (BRAsiL, 2004), instituiu o Programa de incentivo s Fontes Alternativas de Energia Eltrica (PROiNFA), que, a partir de 2009, passou fomentar o desenvolvimento de fontes de energias alternativas (elica, biomassa, fotovoltaica e PCHs), no sistema Eltrico interligado Nacional (siN).

    * Graduada em Engenharia Ambiental e Sanitria e mestranda em Desenvolvimento Regional e Urbano pela Universidade Salvador (Unifacs). [email protected]

    ** Doutor e mestre em Engenharia Mineral pela Universidade de So Paulo (USP). Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do mestrado em Energia da Universidade Salvador (Unifacs). [email protected]

    *** Doutor em Cincias Sociais e mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Coordenador do Programa de Ps-graduao em Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador (Unifacs). [email protected]

    1 Este artigo uma verso ligeiramente modificada do Trabalho de Concluso de Curso (TCC) apresentado por Tatiana Pinto Costa Pimenta ao Curso de Engenharia Ambiental e Sanitria da Universidade Salvador (UNIFACS), que teve como orientador e co-orientador, respectiva-mente, os professores Jose ngelo Sebastio Arajo dos Anjos e Laumar Neves de Souza.

    27Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.26-35, out.-dez. 2014

    Artigos

  • Dessa forma, a matriz elica, que, em 2003, totalizava seis usinas, passou a contar com 90 usinas, em 2013 (BRASIL, 2014). Segundo o Atlas Elico Bahia (SCHUBERT, 2013), tal estado apresenta o expressivo potencial elico de 195 GW de energia (com ventos cuja velocidade mdia de 9,5 m/s (superiores mdia mundial2)) e desponta no cenrio nacional como o primeiro estado em potncia contratada nos leiles de energia elica da Agencia Nacional de Energia Eltrica (ANEEL).

    Os ventos que sopram no semirido baiano so conside-rados excepcionais por serem unidirecionais e constantes, o que garante uma excelente capacidade de gerao elica. Isso se deve ao fato da Bahia estar localizada em uma regio de transio entre regimes distintos de ventos, com predominncia ao Norte de ventos alsios e ao Sul da interao das incurses de massas polares e dos centros de altas presses de anticiclone subtropical (SCHUBERT, 2013).

    Segundo a Empresa de Pesquisa Energtica (2014), a Bahia possui 528 MW de capacidade de energia instalada em operao comercial. Grande parte desta capacidade instalada est concentrada nos municpios de Caetit, Guanambi e Igapor, onde esto localizados o maior nmero de complexos elicos do estado.

    2 A velocidade mdia mundial dos ventos para torres de 100 m de altura de 7m/s (ANEEL).

    Em que pese existncia desse potencial elico, para que o planejamento ambiental da regio que rene os referidos municpios seja eficiente necessrio realizar um conjunto de anlises com vistas a compreender/mensurar os impactos ambientais decorrentes da implan-tao e operao de tais complexos. , pois, dentro dessa perspectiva que se enquadra o presente esforo de investigao, na medida a que se prope a fornecer uma viso preliminar acerca dos aludidos impactos que esto sendo identificados nos municpios de Caetit, Guanambi e Igapor, em funo da presena dos mencio-nados empreendimentos energticos.

    Para efeito de conceituao do que venha a ser impacto ambiental, adotou-se o que consta na Resoluo CONAMA n001/ 86 (BRASIL, 1986), no seu artigo 1:

    Artigo 1 Para efeito desta Resoluo, considera-se

    impacto ambiental qualquer alterao das proprie-

    dades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente,

    causada por qualquer forma de matria ou energia

    resultante das atividades humanas que, direta ou indi-

    retamente, afetam:

    I a sade, a segurana e o bem-estar da populao;

    II as atividades sociais e econmicas;

    III a biota;

    IV as condies estticas e sanitrias do meio

    ambiente; e

    V a qualidade dos recursos ambientais.

    Dessa forma, todos os impactos que os complexos elicos produzem so classificados por essa Resoluo como ambientais. No obstante, visando uma melhor organizao didtica das ideias apresentadas neste estudo, optou-se por expor alguns impactos ambien-tais ocasionados pelos supracitados empreendimentos em duas sees distintas. Uma na qual so elencados os impactos ambientais de ordem socioeconmica e outra em que se revelam os impactos de natureza biof-sica. Antes dessas duas sees, porm, so fornecidos alguns traos socioeconmicos e biticos da Regio Econmica da Serra Geral. Na ltima parte do estudo, como de praxe, so esboadas as consideraes finais.

    Feitos esses esclarecimentos, cabe mencionar que os dados contidos neste trabalho foram coletados

    A Bahia possui 528 MW de capacidade de energia instalada em operao comercial. Grande parte desta capacidade instalada est concentrada nos municpios de Caetit, Guanambi e Igapor

    28 Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.26-35, out.-dez. 2014

    Complexos elicos e impactos ambientais: uma leitura preliminar da experincia baianaArtigos

  • por meio de pesquisa bibliogrfica, que, inicialmente, buscou extrair informaes sobre o atual quadro da energia elica na Bahia. Para tal, recorreu-se ao Atlas de Energia Eltrica do Brasil (AGNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELTRICA, 2013), ao Atlas Elico Bahia (SCHUBERT, 2013) e ao Plano Decenal de Expanso de Energia, elaborado para o perodo que compreende os anos de 2011 a 2020.

    Em um segundo momento, a pesquisa bibliogrfica objetivou a caracterizao socioeconmica e biofsica da regio de estudo, sendo utilizada a diviso territo-rial da Bahia em Regies Econmicas. Em razo do desenvolvimento econmico das regies detentoras dos complexos ser diferenciado, priorizou-se a anlise dos impactos ocorridos na Regio Econmica de Serra Geral, por ela abrigar justamente os municpios de Caetit, Guanambi e Igapor.

    Aps definir o permetro de estudo e inteirar-se das caractersticas da regio, a pesquisa bibliogrfica se concentrou na procura de dados sobre os impactos referentes implantao e funcionamento dos parques elicos nos municpios estudados. Nesse estgio, foram analisados Estudos de Impactos Ambientais (EIA,) com seus respectivos Relatrios de Impactos Ambientais (RIMA), bem como Relatrios Ambientais Simplificados (RAS) de alguns complexos, alm de teses e dissertaes que tinham como objeto de anlise a discusso de questes relacionadas problemtica dos impactos ambientais.

    Outra forma de prospeco de dados utilizada foi a pesquisa documental, sendo explorados documentrios como Energia Elica: injustias e conflitos ambientais (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR, 2012) e Energia Elica: a caada pelos ventos (BAUER, 2013).

    Com o intuito de compreender o processo do licencia-mento dos complexos elicos, que permitiram a gerao de alguns impactos, foi revisado o arcabouo regulatrio, incluindo as mudanas estabelecidas na Norma Tcnica do Conselho Estadual de Meio Ambiente (CEPRAM) NT- 01/2011, que dispe sobre o processo de Licenciamento Ambiental de Empreendimentos de Gerao de Energia Eltrica, a partir de fonte elica no Estado da Bahia.

    H dois aspectos a serem enfatizados acerca da meto-dologia adotada: o primeiro se refere ao fato de no ter sido realizada pesquisa de campo, sendo, portanto, utili-zados como mtodos de obteno de dados a pesquisa bibliogrfica e documental. O segundo aspecto, por seu turno, se relaciona com a dificuldade na obteno de bibliografia acerca dos diagnsticos ambientais para os municpios estudados e com a inacessibilidade aos pareceres tcnicos sobre o licenciamento ambiental.

    ALGuNS TRAoS SoCioECoNoMiCoS E BioTiCoS DA REGio ECoNMiCA DA SERRA GERAL

    A caracterstica peculiar dos complexos elicos baianos o fato de se concentrarem nas reas de Preservao Permanente (APPs) de topo de morro do semirido, distribudos em doze municpios, inseridos em cinco Regies Econmicas:

    Regio Econmica da Serra Geral: municpios de Caetit, Guanambi, Pinda e Igapor.

    Regio Econmica da Chapada Diamantina: muni-cpios de Brotas de Macabas e Bonito.

    Regio Econmica de Piemonte da Diamantina: municpio de Morro do Chapu.

    Regio Econmica do Baixo Mdio So Francisco: municpios de Casa Nova, Sobradinho e Sento S.

    Regio Econmica Irec: municpios de Gentio do Ouro e Xique-xique.

    A pesquisa bibliogrfica se concentrou na procura de dados sobre os impactos referentes implantao e funcionamento dos parques elicos nos municpios estudados

    29Conj. & Planej., Salvador, n.185, p.26-35, out.-dez. 2014

    ArtigosTatiana Pinto Costa Pimenta, Jos ngelo Sebastio Arajo dos Anjos, Laumar Neves de Souza

  • Tratando especificamente da Regio Econmica da Serra Geral, tem-se que ela situa-se no sudoeste da Bahia e abrange uma rea total de 32.354,6 Km, dividida em 29 municpios. Alm disso, abriga uma populao de, aproximadamente, 565.037 habitantes, estando 43,4% fixada na zona urbana e os 56,6% restantes na zona rural, sendo esta a parcela da populao passvel de ser diretamente impactada pelas atividades dos parques elicos, uma vez que estes se concentram na zona rural.

    Vale notar que a ocupao dessa regio teve incio no final do sculo XVIII, motivada pela atividade minera-dora e pelo cultivo de algodo (RIBEIRO, 2008). No contexto atual, alm das atividades agropecurias, a economia baseia-se na indstria, comrcio, servios e, principalmente, na minerao3, com destaque para o municpio de Caetit por abrigar a quinta maior jazida de Urnio do mundo e a terceira maior reserva de ferro do pas. Como aspectos comuns aos trs municpios estudados podem ser mencionados a pobreza, a baixa infraestrutura em servios bsicos e a fixao da popu-lao na zona rural.

    No que tange os aspectos biticos da Regio Econmica da Serra Geral, a cobertura vegetal predominante a caatinga, sendo encontrados tambm cerrados e floresta estacional com reas antropizadas (SCHUBERT, 2013). A fauna e a flora apresentam-se bastante diversificadas e com alto grau de endemismo, apesar de serem restrin-gidas em volume (MELO FILHO; SOUZA, 2006).

    Cabe informar, nesse ponto, que h no semirido uma grande diversidade de espcies de avifauna, totalizando 93 espcies, entre elas 33 espcies migratrias e 20 espcies ameaadas de extino (ACCIOLY et al., 2006). Quanto aos quirpteros (morcegos), a regio abriga diversas espcies, sendo a minoria hematfaga (sugadora de sangue) e a maioria nectarvora (sugadora de nctar), o que acentua sua grande importncia como polinizadores e dispersores de sementes (colonizao de plantas em clareiras florestais), estando algumas espcies de vegetais como o cacto completamente dependente destes para a sua reproduo (FALCO, 2005).

    3 Antes da chegada dos complexos elicos quase todos os investimentos para essa regio destinavam-se ao segmento mineral.

    Tambm so encontradas na regio trs das cinco espcies de candeos silvestres brasileiros: lobo-guar (chrysocyonbrachyurus), cachorro do mato (cerdocyon-thous), cachorro do mato vinagre (speothosventicus) (RAMOS; PESSITTI; CHIEREGATTO, 2003).

    iMPACToS AMBiENTAiS DE oRDEM SoCioECoNMiCA

    A ocorrncia de conflitos envolvendo a oposio dos moradores construo dos parques vem sendo bastante citada na literatura que procura vasculhar os impactos ambientais dos parques elicos que vem sendo implantados na Bahia. A aceitao da popu-lao implantao dos complexos envolve vrios fatores, tendendo a ser maior quando a comunidade devidamente instruda sobre os benefcios da utili-zao da energia limpa e quando obtm benefcios diretos com tais empreendimentos. De acordo com Improta (2008, p. 43), a ocorrncia destes conflitos ou de problemas semelhantes mostram a importncia da considerao dos aspectos sociais envolvidos nos projetos de energia renovvel.

    Outros impactos de ordem socioeconmica que devem ser considerados so o inchao populacional (eviden-ciando um impacto negativo) e um impulso no cresci-mento econmico (demonstrando) um impacto positivo (RIBEIRO, 2008).

    No que tange os aspectos biticos da Regio Econmica da Serra Geral, a cobertura vegetal predominante a caatinga, sendo encontrados tambm cerrados e floresta estacional com reas antropizadas

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    Complexos elicos e impactos ambientais: uma leitura preliminar da experincia baianaArtigos

  • Nesse ponto, cabe atentar para o fato de que as terras utilizadas para a implantao dos parques, geralmente, so arrendadas pelo perodo de 25 anos, representando uma fonte de renda a mais para os proprietrios que, via de regra, so pequenos agricultores. Estes recebem em mdia o valor de R$ 5 mil a R$ 6 mil por torre/ano, e em alguns casos parte da energia produzida (PITA, 2011)4.

    Tais arrendamentos, no entendimento desse autor, teoricamente no interferem nas atividades agrope-curias desenvolvidas pelo pequeno produtor local, geralmente agricultura de subsistncias, lavouras e criao de gado.

    Outro aspecto importante, que tambm destacado por (PITA, 2011), associado aos arrendamentos, diz respeito valorizao e a regularizao fundirias das terras, o que aquece a economia local e estimula a fixao do pequeno agricultor no campo. Atualmente, na regio existem mais de 300 projetos de regularizao fundiria.

    Essa valorizao e regularizao, que configuram priorita-riamente impactos positivos, tm sido motivo de conflito entre familiares que no chegam a um acordo sobre quem possui direito sobre a terra (ENERGIA..., 2013).

    4 Algumas propriedades que no abrigam parques elicos precisamente, mas que servem de rota de passagem para pessoas e equipamentos de construo para a implantao e operao dos parques, tambm so inde-nizadas em contratos bilaterais, renovados anualmente entre as empresas e os proprietrios (RIBEIRO, 2011).

    Outro aspecto importante relacionado com os arrenda-mentos de terra e que merece ser mencionado o fato destes constiturem os pilares dos impactos sociais mais graves. Depoimentos de moradores locais demonstram o nvel da insatisfao destes acerca dos empreendi-mentos elicos.

    Bauer (ENERGIA..., 2013) no documentrio Energia Elica: A caada pelos ventos apresenta uma srie de queixas dos moradores locais como a falta de informa-es claras sobre os arrendamentos, contratos abusivos, coibio do direito de ir e vir, trafego de veculos pesados, emisso de material particulado (poeira), desmatamentos, uso de gua sem outorga e at de grilagem de terra. Tais relatos demonstram um impacto social extremamente grave e negativo, envolvendo uma parcela da populao carente e com poucos recursos intelectuais.

    Segundo Joo Portella, secretrio municipal do Meio Ambiente de Caetit, em entrevista concedida a Bauer (ENERGIA..., 2013), com a chegada dos complexos ao municpio houve sem dvida um crescimento na economia representado pelo aumento do poder aqui-sitivo da sociedade local, fomentado pela maior oferta de oportunidade de ocupao e pelos arrendamentos. Porm, ocorreram inmeros impactos sociais, os quais ele classificou como complicados, tais como aumento da criminalidade e da prostituio, do custo de vida e da procura por imveis e bens essenciais. O depoimento dessa autoridade atesta, de maneira categrica, que um empreendimento do porte de um complexo elico traz inmeras consequncias para a sociedade local como: interferncia no cotidiano e na dinmica da populao, intensificao do trfego de veculos, crescimento da demanda por bens e servios, aumento da oferta de trabalho e at a proliferao de doenas.

    iMPACToS AMBiENTAiS DE oRDEM BioFSiCA

    Os impactos biofsicos atribudos instalao e funciona-mento dos parques elicos so bastante diversificados. Embora pesquisas apontem para poluio sonora e visual como os principais, uma avaliao mais meticulosa leva a outros problemas, como desmatamento, deslocamento

    As terras utilizadas para a implantao dos parques, geralmente, so arrendadas pelo perodo de 25 anos, representando uma fonte de renda a mais para os proprietrios

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    ArtigosTatiana Pinto Costa Pimenta, Jos ngelo Sebastio Arajo dos Anjos, Laumar Neves de Souza

  • da fauna e da flora locais, perturbaes das espcies de avifauna e mortandade dos quirpteros, alteraes no padro de drenagem e nas caractersticas hidrolgicas, aterramentos de lagoas, interferncias eletromagnticas, modificaes no clima local (gerando microclimas) e muitos outros (STUAT, 2011).

    Segundo Ribeiro (2011, p. 122), a produo do rudo est presente em todas as formas dinmicas de converso de energia. Os distrbios sonoros relacionados rotao das ps dos aerogeradores foram constantemente citados como um dos principais impactos da gerao de energia elica, durante as dcadas de oitenta e noventa. Entretanto, os modelos de aerogeradores atuais j miti-garam esse problema (TERCIOTE, 2008).

    O rudo dos aerogeradores tem origem mecnica ou aerodinmica. As turbinas atuais funcionam com um gerador eltrico multipolo (funcionam com baixa rotao) conectado diretamente ao eixo das ps, o que reduziu significativamente o rudo de origem mecnica, uma vez que no h mais vibraes mec-nicas transmitidas da caixa de engrenagem para a nacelle (TERCIOTE, 2008).

    Todavia, os rudos de origem aerodinmica, ocasio-nados pela velocidade do vento incidente na turbina elica, ainda esto em fase de estudo para posterior desenvolvimento de mquinas mais modernas, que mitiguem tal impacto. Atualmente, com a modernizao

    dos modelos de aerogeradores j se conseguiu uma diminuio significativa do rudo, porm no o suficiente para evitar a proibio da construo das usinas elicas a menos de 200 metros de distncia do morador mais prximo (TERCIOTE, 2008).

    A presena de um rudo de fundo, como o rudo carac-terstico dos ventos de velocidades mais elevadas, por exemplo, pode encobrir o rudo produzido pelos aero-geradores provocando uma falsa sensao de que os mesmo no o produzem. Outros aspectos que podem mascarar o rudo emitido pelos aerogeradores so: a absoro deste pelo ar e a disperso causada pelo aumento da distncia do aerogerador a comunidade mais prxima (WORLD ENERGY COUNCIL, 2010).

    Um tipo de impacto bastante discutido o visual. Estes, porm so de difcil quantificao, pois so subjetivos uma vez que parte da populao os interpreta como positivo, pois acham o complexo bonito, principalmente se o associam a energia limpa (TERCIOTE, 2008).

    O tamanho dos aerogeradores, associados altura e a localizao dos mesmos pode gerar o efeito sombra ou efeito Flicker, que ao produzir uma alternncia de inten-sidade luminosa (claro ou escuro) se torna um incomodo. Todavia, tal efeito pode ser mitigado com um planeja-mento adequado, relacionado com a localizao dos parques, de forma a no causar sombreamento em reas habitadas (INATOMI, 2011).

    Outro impacto advm das turbinas, que ao realizar movi-mento de rotao emitem ondas e como qualquer grande estrutura em movimento podem provocar interferncias eletromagnticas (IEM). O que ocorre que ao serem utilizados aparelhos eletrnicos como celulares, tele-viso e rdio recebem um sinal direto e um refletido, porm o movimento das ps dos aerogeradores altera o comprimento de onda dos sinais refletidos que so distorcidos, causando o mau funcionamento dos equi-pamentos (RIBEIRO, 2011).

    Para minimizar esses efeitos as turbinas atuais esto sendo fabricadas em fibra de vidro reforada com epxi, pois esta parcialmente transparente s ondas eletro-magnticas diminuindo o efeito da IEM (RIBEIRO, 2011).

    Os distrbios sonoros relacionados rotao das ps dos aerogeradores foram constantemente citados como um dos principais impactos da gerao de energia elica, durante as dcadas de oitenta e noventa

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    Complexos elicos e impactos ambientais: uma leitura preliminar da experincia baianaArtigos

  • A coliso da avifauna contra as ps do aerogerador outro impacto bastante discutido. As aves muitas vezes colidem contra as ps em movimento, outras vezes so foradas a modificar sua rota de migrao a fim de evitar a coliso, sendo as aves de rapina e os passeriformes as mais prejudicadas5 (STUAT, 2011). Todavia, relatrios do World Energy Council (2010) apontam que fora da rota de migrao os pssaros quase no so afetados pelo funcionamento dos aerogeradores.

    Com relao aos quirpteros o desequilbrio causado bastante acentuado, uma vez que estes desempenham papel estratgico na cadeia alimentar, ocupando vrios nveis trficos e realizando a funo de polinizadores, dispersores de sementes e de controladores da popu-lao de insetos (STUAT, 2011).

    Os quirpteros no entram em coliso com as torres. A mortandade ocorre por barotrauma6 uma vez que estes entram de forma abrupta na zon