6
INTENÇÃO ÉTICA E NORMA MORAL Situação-Problema Seja, por exemplo, o caso seguinte: alguém tem em seu poder um bem alheio que lhe foi confiado em depósito pelo seu dono, que entretanto faleceu sem que os seus herdeiros saibam nem possam vir a saber nunca desse depósito. (…) O possuidor desse depósito, exactamente nessa altura, caiu na ruína total, vendo a sua família, mulher e filhos aflitos e cheios de privações, e sabendo que ao apropriar-se do depósito poderia livrar-se de privações num abrir e fechar de olhos. Além disso, suponhamos que o nosso homem é filantropo e caritativo, enquanto que os herdeiros são ricos e egoístas, e de tal modo gastadores que acrescentar o depósito à sua fortuna seria como atirá-lo directamente ao mar. Se se pergunta agora sem tais circunstâncias seria permitido o uso do depósito em benefício próprio, sem dúvida se deveria responder: «Não!» E em vez de evocar todo o tipo de justificações, dir-se-ia tão-somente: «É injusto», isto é, opõe-se ao dever. Kant A dimensão ética do ser humano. “O ser humano pode agir segundo orientações resultantes de códigos de conduta exteriores – códigos jurídicos em vigor e padrões sociais adoptados pelo seu grupo de pertença (dimensão social) ou agir segundo orientações auto-impostas (dimensão ética). A dimensão ética é, portanto, o domínio da acção humana orientado por valores ético-morais, como bem/mal, justo/injusto, correcto/incorrecto, propostos pela consciência moral que é a capacidade interior de orientação, de avaliação e de crítica da nossa conduta. Esta vivência guiada por valores e normas auto-impostas pela consciência moral define o indivíduo como um ser ético-moral. Um ser ético-moral: a) considera imparcialmente os seus interesses e os alheios; b) reconhece princípios éticos de conduta; c) não se deixa guiar por impulsos, mas escuta a razão; d) delibera com autonomia, independentemente das pressões; c) age em função de valores e ideais que reconhece como certos – bons – para se tornar melhor ser humano. Acção moral é a acção realizada pelo agente, de acordo com as orientações da sua consciência. A moralidade é o esforço para orientar a nossa conduta por princípios racionalmente justificados, tendo em conta tanto os nossos interesses como os interesses de todos os que serão afectados oelas nossas acções.

Cp5 ficha nº 2

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Page 1: Cp5   ficha nº 2

INTENÇÃO ÉTICA E NORMA MORAL

Situação-Problema

Seja, por exemplo, o caso seguinte: alguém tem em seu poder um bem alheio que lhe foi confiado em depósito pelo seu dono, que entretanto faleceu sem que os seus herdeiros saibam nem possam vir a saber nunca desse depósito. (…) O possuidor desse depósito, exactamente nessa altura, caiu na ruína total, vendo a sua família, mulher e filhos aflitos e cheios de privações, e sabendo que ao apropriar-se do depósito poderia livrar-se de privações num abrir e fechar de olhos. Além disso, suponhamos que o nosso homem é filantropo e caritativo, enquanto que os herdeiros são ricos e egoístas, e de tal modo gastadores que acrescentar o depósito à sua fortuna seria como atirá-lo directamente ao mar. Se se pergunta agora sem tais circunstâncias seria permitido o uso do depósito em benefício próprio, sem dúvida se deveria responder: «Não!» E em vez de evocar todo o tipo de justificações, dir-se-ia tão-somente: «É injusto», isto é, opõe-se ao dever.

Kant

A dimensão ética do ser humano.

“O ser humano pode agir segundo orientações resultantes de códigos de conduta exteriores – códigos jurídicos em vigor e padrões sociais adoptados pelo seu grupo de pertença (dimensão social) ou agir segundo orientações auto-impostas (dimensão ética).

A dimensão ética é, portanto, o domínio da acção humana orientado por valores ético-morais, como bem/mal, justo/injusto, correcto/incorrecto, propostos pela consciência moral que é a capacidade interior de orientação, de avaliação e de crítica da nossa conduta. Esta vivência guiada por valores e normas auto-impostas pela consciência moral define o indivíduo como um ser ético-moral.

Um ser ético-moral: a) considera imparcialmente os seus interesses e os alheios; b) reconhece princípios éticos de conduta; c) não se deixa guiar por impulsos, mas escuta a razão; d) delibera com autonomia, independentemente das pressões; c) age em função de valores e ideais que reconhece como certos – bons – para se tornar melhor ser humano.

Acção moral é a acção realizada pelo agente, de acordo com as orientações da sua consciência. A moralidade é o esforço para orientar a nossa conduta por princípios racionalmente justificados, tendo em conta tanto os nossos interesses como os interesses de todos os que serão afectados oelas nossas acções.

Boas acções são as que convêm à nossa condição de seres racionais, isto é, as que promovem a nossa humanidade e a de todos. Más acções são as que não nos convêm, por serem contrárias àquilo que devemos ser.

Intenção e Norma

Para a moralidade de uma acção não basta o acordo externo com a norma (ou seja, a regra socialmente estabelecida); é fundamental a intenção, isto é, o julgamento íntimo que cada um faz do que é permitido e do que é proibido, pois, só toma uma decisão ética (faz uma opção moral) o indivíduo que se «obriga» a si mesmo a respeitar o fim que definiu como bom, visando o seu aperfeiçoamento, ainda que só ele saiba qual a verdadeira intenção da sua opção.

No domínio da moralidade, ainda que haja pressão social, a única autoridade que guia cada indivíduo e perante a qual tem de prestar contas é a própria consciência, e é também ele o único responsável pelos seus

Page 2: Cp5   ficha nº 2

actos, uma vez que a acção foi uma escolha sua. A liberdade (a obrigação da pessoa de se orientar pela própria consciência moral) e a responsabilidade moral (reconhecimento da autoria da acção e a obrigação de responder perante a própria consciência) são duas características da acção moral.

Moral e Ética

Embora muitas vezes se usem as palavras moral e ética como equivalentes, elas não significam o mesmo.

Moral ÉticaÉ o conjunto de condutas e normas que costumamos aceitar como válidas. Responde à questão «que devo fazer» ou como devo agir em tal circunstância concreta, designando o conjunto das normas obrigatórias (imperativos e interditos) estabelecido no interior de um grupo, sociedade ou cultura, para orientar a acção.

É a reflexão sobre o porquê de considerarmos morais as nossas acções. Reflecte sobre os princípios que devem orientar a vida humana e sobre as finalidades que lhe dão sentido. Analisa os princípios que regem a constituição das normas orientadoras da acção e os respectivos fundamentos (razões justificadoras).”

A dimensão pessoal e social – o si mesmo, o outro e as instituições

O ser humano é um ser social, por isso, a sua existência individual só se realiza e ganha sentidona vivência partilhada com os outros e a realização de cada um supõe a realização de todos os outros. Assim,

a acção moral tem de adoptar um posicionamento não apenas individual mas comunitário, colocando-se na perspectiva da universalidade do agir.

Juízos éticos.

Os juízos éticos (isto é, as proposições que expressam uma avaliação das acções a partir da adopção de um determinado padrão ou critério valorativo), têm que ter em conta tanto os nossos interesses como os interesses de todos os outros.

A ética deve definir princípios universais reguladores da convivência social que privilegiem o altruísmo em vez do egoísmo, a solidariedade em vez da competição, a cooperação em vez da hostilidade e o bem-estar colectivo em vez do benefício pessoal; estabelecer os direitos e os deveres de cada um; propor fins para a realização pessoal e social do indivíduo.

Funções e importância da consciência moral

É esta vivência social humana que permite a formação da consciência moral que é uma capacidade interior de orientação, de avaliação e de crítica do modo como vivemos.

O conceito de consciência inclui um sentido: a) apelativo para valores e normas ideais, funcionando como uma espécie de bússola orientadora da acção; b) imperativo, pois ordena uma acção compatível com os valores defendidos pelo agente; c) judicativo, pois assume-se como juiz dos actos e das intenções do agente; d) censório, pois elogia ou censura o agente conforme a acção obedece ou não aos ideais e valores por ele assumidos.

Fátima Alves/José Arêdes/José Carvalho, Caderno de Actividades PENSAR AZUL

ESCOLA SECUNDÁRIA DE SAMPAIOCURSO: EFA (Educação e Formação de Adultos)

Ano Lectivo: 2010/2011ÁREA DE

COMPETÊNCIAUNIDADE DE

COMPETÊNCIATEMA/

CONTEÚDOSCOMPETÊNCIAS

Page 3: Cp5   ficha nº 2

CP (Cidadania e Profissionalidade)

CP 5 – Deontologia e Princípios Éticos

Princípios fundamentais de

ética.- Ética, Doutrina,

Deontologia e Moral

. Articular responsabilidade pessoal e profissional, adoptando

normas deontológicas e profissionais.

. Identifica factores éticos de promoção do desenvolvimento institucional.

Ficha de Trabalho nº 2 (Módulo 5)

1. Considere a situação-problema apresentada por Kant (1724-1804)1.1.O que está em jogo na tomada de posição do indivíduo que tem o depósito em seu poder?

Esta em jogo ele organizar a sua vida ou fazer o que é correcto que é devolver o dinheiro.

1.2.Se só ele (e o legítimo proprietário entretanto falecido) sabe da existência do dito depósito, por que não apropriar-se dele?

Não se deve apropriar dele seja ele rico ou pobre mesmo que o dinheiro pertença a uma família rica e aguista o dinheiro deve ser devolvido porque lhes pertence apesar de eles não saberem que o dinheiro esta na conta de outra pessoa. Para além de que se depois acontecer alguma coisa ficar com o peso na consciência para o resto da vida por não ter agido correctamente ainda que na altura tenha dado jeito. Se bem que se alguém transferir dinheiro para a conta de outra pessoa e depois o amigo trai-lo e dizer que o dinheiro não é dele e não houver nada escrito que o comprove ou alguma prova dificilmente esse alguém recupera o dinheiro a não ser que o amigo se arrependa e decida devolve-lo.

1.3.A quem terá de prestar contas?

Terá sempre que prestar contas aos proprietários do dinheiro que neste caso é a família do falecido que vai querer saber como é que o dinheiro foi parar a conta dele e porquê.

1.4.Por que razão conclui Kant que seria injusto ele apropriar-se do depósito?

É injusto porque ao apropriar-se do depósito o individuo não esta a agir correctamente e estava-se a opor ao dever que no caso seria devolver o dinheiro aos donos

2. O que se entende por dimensão ética do agir?

Dimensão ética do agir é agir segundo orientações auto-impostas ou seja o individuo age segundo aquilo que ele quer e aquilo que ele impôs a ele mesmo. É a capacidade interior de orientação, de avaliação e de crítica da nossa conduta

3. O que é um ser ético-moral?

Um ser ético-moral é uma pessoa que tenta fazer tudo que tenta agir da melhor maneira possível da maneira que é a mais correcta e que ouve a razão

Page 4: Cp5   ficha nº 2

4. O que se entende por liberdade e responsabilidade moral?

Liberdade é a pessoa orientar-se por si mesma e escolher/fazer o que para ela é o mais correcto na sua consciência moral. A responsabilidade moral é a obrigação de responder perante a sua consciência o reconhecimento da autoria da acção

5. Muitos autores usam os termos moral e ética como sinónimos; contudo, para outros, os dois conceitos têm significados diferentes. Esclareça essa distinção.

Moral – é um conjunto de normas que costumamos aceitar como validas designa o conjunto das normas obrigatórias estabelecido no interior de um grupo, sociedade ou cultura, para orientar a acção.

Ética – é quando reflectimos sobre porque é que consideramos morais as nossas acções Reflecte sobre os princípios que devem orientar a vida humana e sobre as finalidades que lhe dão sentido.

6. O que significa viver de acordo com padrões éticos?

Significa viver segundo princípios universais reguladores da convivência social, significa cumprir os seus direitos e os seus deveres como cidadão. Significa cumprir as leis de local onde se encontra.

7. O que é a consciência moral? Como se constitui?

Consciência moral é uma capacidade interior de orientação, de avaliação e de crítica do modo como vivemos. Constitui-se apelativo para valores e normas ideais, imperativo ordena uma acção compatível com os valores defendidos pelo agente, judicativo assume-se como juiz dos actos e das intenções do agente, censório elogia ou censura o agente conforme a acção obedece ou não aos ideais e valores por ele assumidos.

8. Refira as funções da consciência moral.

As funções da consciência moral são tornar os valores morais mais claros para a pessoa e é também para repreender os nossos actos conduzindo ou à consciência tranquila ou ao sentido de arrependimento.

A professora

Lurdes Sá

Page 5: Cp5   ficha nº 2